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FACULDADE SANTA MARIA

CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

BARRAGENS
CONTEUDISTA: MARIA APARECIDA BEZERRA OLIVEIRA

MÓDULO III

Conteudista: Maria Aparecida Bezerra Oliveira, Engenheira civil, Mestre, Doutoranda. contato: 000599@fsmead.com.br
BARRAGENS

No módulo anterior estudamos percolação nas barragens, de modo a


complementar a discursão, iremos iniciar nosso módulo III com o seguinte conteúdo:
Traçado da Rede de Fluxo. O estudo do fluxo bidimensional é facilitado pela
representação gráfica dos caminhos percorridos pela água e da correspondente
dissipação da carga. Esta representação é conhecida como Rede de Fluxo.
O conceito de rede de fluxo baseia-se na Equação da Continuidade, que rege as
condições de fluxo uniforme para um dado ponto do maciço terroso.

Uma rede de fluxo ou de percolação representa duas famílias de curvas ortogonais


entre si, as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais, que, respeitando as condições
de fronteira, constitui a solução gráfica para um problema de percolação
bidimensional.
As linhas de fluxo traduzem a trajetória das partículas de água no maciço terroso,
quando estas se deslocam de montante (nível de energia mais alto) para jusante
(nível de energia mais baixo).
As linhas equipotenciais são linhas ao longo das quais a carga hidráulica é
constante. Se for colocado um piezômetro em qualquer ponto de uma dada linha
equipotencial, a coluna de água no piezômetro sobe sempre até ao mesmo nível.

A fundamentação teórica para resolução de problemas de fluxo de água foi


desenvolvida pelo físico alemão Forchheimere difundida por Casagrande (1937). O
fluxo de água através do meio poroso é descrito por uma equação diferencial
(equação de Laplace), bastante conhecida e estudada, pois se aplica a outros
fenômenos físicos, como exemplo, fluxo elétrico.
BARRAGENS

O processo se deu através da realização de traçados, na região em que ocorre o fluxo,


dois conjuntos de curvas conhecidas como Linhas de Fluxo e Linhas Equipotenciais.

DETERMINAÇÃO GRÁFICA DAS REDES DE FLUXO

O método consiste no traçado, à mão livre, de diversas possíveis linhas de


escoamento e equipotenciais, respeitando-se a condição de que elas se
interceptem ortogonalmente e que formem figuras “quadradas”.

•Há que se atender também às “condições limites”, isto é, às condições de carga e de


fluxo que, em cada caso, limitam a rede de percolação.

•O método exige experiência e prática de quem o utiliza. Geralmente, o traçado baseia-


se em outras redes semelhantes obtidas por outros métodos.

Sugestões de Casagrande para o traçado das Redes de Fluxo

•Observar o aspecto das redes de fluxo bem desenhadas; quando a figura estiver
bem gravada, tentar reproduzi-la de memória;

•Para uma primeira tentativa, não traçar mais que 4 ou 5 vias de fluxo, pois a
preocupação com maior número poderá desviar a atenção de outros detalhes
importantes;

•Não tentar acertar detalhes antes que a rede, como um todo, se apresente
aproximadamente correta;

•Notar sempre que todas as transições, entre trechos retos e curvos das linhas, são
suaves e de forma elíptica ou parabólica. os “quadrados”, em cada via de fluxo,
mudam gradativamente de tamanho.

E quais são os métodos mais utilizados para determinação das linhas de fluxo?

1) Métodos Analíticos: resultantes da integração da equação diferencial do fluxo.


Somente aplicável em alguns casos simples, devido a complexidade do tratamento
matemático.
E quais são os métodos mais utilizados para determinação das linhas de fluxo?

2) Solução Numérica: aplicação de métodos numéricos para a solução da Equação


de Laplace através de programas de computador. Ex.: Método dos Elementos
Finitos: criada uma rede de elementos finitos, pode-se calcular com razoável
precisão a carga total em cada ponto. Alguns autores chamam de método
aproximado.

3) Modelos Reduzidos: consiste em construir num tanque com paredes


transparentes um modelo reduzido do meio que vai sofrer percolação.

4) Solução Gráfica: é o mais comum dos métodos (Rede de Fluxo).

Observação: os fluxos podem ser do tipo confinado e não confinado.

Fluxo confinado é quando se tem todas as condições de contorno conhecidas


para o fluxo, já em contra partida temos o fluxo não-confinado , ou seja, quando não
se tem todas as condições de contorno conhecidas para o fluxo.

Exemplo de Rede de Fluxo em Cortina de Estacas:


Exemplo de Rede de Fluxo sob Barragem de Concreto.
Análises de Percolação

Análise de percolação – Direções do fluxo:

É importante apresentar que a estrutura do solo é rígida, isto é, o solo não sofre
deformações e não há o carreamento de partículas durante o fluxo.

1) É válida a lei de Darcy e o fluxo é, portanto, laminar.

Lei de Darcy:

Onde:
Q = Vazão de água;
i = Gradiente hidráulico (Perda de carga total por unidade de comprimento);
A = Área da seção transversal do permeâmetro.
K = Coeficiente de Permeabilidade do solo (Mede a resistência viscosa ao
fluxo de água e varia numa faixa muito ampla de valores).

O fluxo da percolação pode acontecer das seguintes formas:

Fluxo Unidimensional: O fluxo de água ocorre em uma única direção ( Ex:


Permeâmetro – determinação de k);
Fluxo Bidimensional: O fluxo de água ocorre em duas direções (Ex: seção
de barragens de terra).

• Rede de Fluxo: Combinação de uma quantidade de linhas de fluxo e


equipotenciais. As redes de fluxo são construídas para o cálculo de fluxo freático e a
avaliação das cargas.

É importante destacar que as redes de fluxo são formadas por 2(duas) famílias de
curvas ortogonais entre si, que formam um reticulado, que são:

•Linhas de fluxo: São linhas ao longo da qual a partícula de água se desloca de


montante para jusante pelo solo permeável;
•Linhas equipotenciais: É a linha ao longo da qual a carga potencial tem o
mesmo valor em todos os pontos;
•As linhas equipotenciais interceptam as linhas de fluxo em ângulos retos;
•Os elementos de fluxo formados tenham a forma aproximada de um quadrado.

Analise de percolação de linhas e canais mediante as condições de contorno:


AB = Equipotencial – limite;
AD e BC = Linhas de fluxo – limite;
BC = Fluxo – limite: Linha de Saturação – Separa a parte quase saturada da parte
quase não saturada – Pressão neutra é nula nela;
CD = Linha – limite ou linha – livre;
BC e CD = Carga altimétrica.

Em analise a percolação por linhas e canais, é necessário apresentar as linhas de


saturação.
Linha de Saturação:
a) Ao longo dela a carga é puramente altimétrica;
b) A linha freática deve ser perpendicular ao talude de montante;

c) Na saída da água, a linha freática deve ser essencialmente tangente ao talude de


jusante;

passo a passo para montar o traçado da rede de fluxo.


passo a passo para montar o traçado da rede de fluxo.

Recomendações de traçado de rede de fluxo

✓Procurar determinar as linhas de fluxo e equipotenciais limites;


✓Usualmente é suficiente traçar a rede com número de canais de fluxo entre 3 e 5;
✓ Traçar as duas famílias de curvas ortogonais entre si que satisfaçam as
condições de fronteira e obtenham uma geometria “quadrada”;

✓Observar a aparência de toda rede de fluxo e sempre procurar corrigir detalhes;


✓ As transições são suaves, com formatos semelhantes aos de elipses ou de
parábolas. O tamanho dos diferentes quadrados devem ir mudando
gradualmente;

✓ Não se deve tentar convergir fileira incompletas em uma de quadrados através


de correções puramente gráficas, a não ser que, o que falta sobre na fileira
incompleta seja pouca. A mesma coisa se aplica aos canais de fluxo;

✓ Uma superfície de saída na rede em contato com o ar, se não é horizontal, não é
nem linha de fluxo, nem equipotencial, de forma que os quadrados limitados por
essa superfície podem ser incompletos;

✓ Há partes das redes de fluxo em que as linhas de fluxos devem ser


aproximadamente retas e paralelas;

✓Caso se deseje que as fileiras se apresentem quadradas( mesma perda de carga)


pode-se corrigir a rede mudando os canais de fluxo seja interpolando ou
refazendo.
CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETOS DE BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO

Até o momento já discutimos bastantes pontos importantes para o desenvolvimento


de um projeto de barragem e sua execução. O presente conteúdo tem como objetivo
servir de elo de ligação entre as considerações sintéticas sobre o arranjo geral de um
barramento, a interdependência entre o projeto de barragem de terra com as demais
estruturas do barramento, com os aspectos relativos aos dados básicos para o projeto
de uma barragem e o enfoque do projeto propriamente dito, suas concepções e seus
métodos de cálculo. Desta forma será apresentada a interdependência entre as
diversas concepções específicas de projeto.
O principio básico entre a concepção de uma barragem de terra, sua seção
transversal e respectivo tratamento de fundação, é que a introdução de cada detalhe,
beneficie o projeto como um todo. Por exemplo a utilização de um “cut-off” na
fundação de uma barragem visa controlar a percolação, com a redução de perda
d’água pela fundação e dos gradientes de saída, como conseqüente controle contra
“piping”, bem como, otimizar o talude de jusante, aumentando a estabilidade ao
deslizamento pela fundação através da redução da sub-pressão na fundação.

Fase de viabilidade

A etapa de viabilidade de uma barragem é estabelecido o arranjo geral do


aproveitamento, incluindo a disposição das estruturas, seções transversais típicas
com respectivos tratamentos de fundação, seqüência construtiva e cronograma
das obras.
Em situação que ocorre o desenvolvimento do projeto da barragem de terra, sua
localização, seção transversal, tratamento de fundação, é estabelecido visando o
custo mínimo do aproveitamento como um todo, o que não é necessariamente a
locação, seção transversal, tratamento de fundação que resultariam em custo
mínimo para a barragem de terra, isoladamente.
Por exemplo, a locação da barragem de terra é em geral ditada pela escolha da
melhor localização das estruturas de concreto, no que se refere às condições
geotécnicas para fundação e condições hidráulicas - operacionais. De fato, uma
premissa básica no estabelecimento do arranjo geral é favorecer as estruturas de
concreto com os melhores locais de fundação, sob o ponto de vista geológico –
geotécnico.
Fase de projeto básico

A fase de projeto básico, além do estabelecimento da seção típica e do


tratamento de fundação, são quantificados e especificados os referidos projetos,
de um modo a possibilitar a licitação da obra. Com os novos dados obtidos nesta
fase, através de investigações complementares, são otimizados, inicialmente, o
maciço e o tratamento de fundação de forma conjunta. Numa segunda etapa, o
maciço e o tratamento de fundação são otimizados separadamente, mantendo-se
as diretrizes estabelecidas anteriormente.

Requisitos básicos de projeto e método de análise

Que deve satisfazer uma barragem para que apresente segurança satisfatória.

1. Os taludes da barragem devem ser estáveis durante a construção e todas as


fases de operação, incluindo a de rebaixamento rápido;

2. O maciço não deve impor tensões excessivas à fundação;

3. A percolação através do maciço, fundação e ombreiras devem ser controladas


de tal modo que não ocorra “piping” ou remoção de material por solução.
Adicionalmente, a quantidade d’água perdida por percolação deve ser compatível
com a finalidade do projeto;

4. A crista da barragem deve ter uma elevação segura quanto ao transbordamento


por efeitos de ondas, bem como uma folga adicional referente aos recalques após
construção;

5. A capacidade de vazão do vertedouro deve ser de tal ordem a impedir o


transbordamento do reservatório sobre a barragem de terra.

Excluindo-se o item 5, os demais itens pertencem ao campo da engenharia


geotécnica, que, por sua vez, subdivide os problemas em três grupos.

Análise de tensões e deformações, no maciço e fundação, na condição de


equilíbrio limite.
Análise de tensão e deformação em regime elástico, linear ou não.
Estudos de percolação.
A análise superficial é isolada dos critérios acima, bem como a divisão usual dos
métodos de cálculo geotécnicos, tem conduzido a graves erros de projeto. Nos itens
subseqüentes é apresentada uma interpretação conjunta dos mesmos e sua
interdependência.
Dos requisitos básicos – Interpretação conjunta

É necessário considerar inicialmente, o que está implícito na sua formulação, que


os cinco critérios devem ser atendidos simultaneamente. A análise de estabilidade
do maciço e fundação, no regime de equilíbrio limite, não considera as deformações
cisalhantes necessárias à mobilização da resistência ao cisalhamento. Deste modo,
embora um talude possa apresentar uma segurança global ao deslizamento, suas
deformações podem não ser compatíveis com a segurança da obra.

O ponto 3 é onde ocorrem, com mais freqüência, interpretações erradas,


associando segurança ao “piping”, somente à redução dos gradientes de
percolação. A análise de segurança ao “piping”, de modo correta, deve contemplar a
comparação entre forças de percolação com forças de gravidade. Logo, o estudo
correto de “piping” envolve o estabelecimento do estado de tensões no maciço
durante as fases de operação da barragem, uma vez que, tanto a força atuante de
percolação, quanto a resistência, de gravidade, é função do estado de tensões.

A existência de zonas fraturadas no maciço ou de fraturas abertas devido à


percolação (fraturamento hidráulico) governa a distribuição da permeabilidade no
maciço e, conseqüentemente, a configuração dos gradientes hidráulicos. Quanto ao
item 4, os recalques do maciço e da fundação, provocam distribuição de tensões no
interior do maciço, com possíveis aberturas de trincas, que devem ser levadas em
consideração na análise do critério de projeto. Em síntese, as observações acima
servem para mostrar a interdependência entre os diversos critérios de projeto

Dos métodos de cálculo – Interpretação conjunta


É importante destacar que a engenharia geotécnica envolve a estimativa das
tensões e deformações tanto nas obras de terra como nas fundações. A fim de obter
esta estimativa de modo correto é necessário o conhecimento das equações
constitutivas dos solos, bem como a distribuição geométrica dos diversos tipos de
solos.
Mediante à impossibilidade da aplicação do procedimento correto acima exposto,
a engenharia geotécnica subdividiu o problema geral de tensões e deformações no
solo em dois grupos:
um associado à deformação
eo
outro referente a máxima tensão que poder ser imposta a uma massa de solo,
estado de ruptura.
Na realidade, o solo deforma de modo contínuo, desde seu estado inicial de tensões
até a ruptura. Muitos problemas têm ocorrido em projetos de barragem devido à
separação artificial e simplificada, do comportamento do solo, em estudos de
deformação, sem consideração de rupturas localizadas e estudos de ruptura, sem
consideração das deformações necessárias para a massa de solo atingir o estado de
ruptura.
A exposição anterior procura mostrar a interdependência real entre os problemas
de deformações e rupturas, bem como os riscos devido à aplicação indiscriminada da
referida subdivisão.

Exemplos de concepção conjunta Maciço – Fundação

Barragem de Terra – Enrocamento. Posição do Núcleo

As barragens de terra – enrocamento são constituídas por um núcleo de material


terroso impermeável, contido por espaldares de enrocamento, e com zonas de filtro e
transição entre o núcleo e o enrocamento. A posição do núcleo varia desde
extremamente inclinado, coincidindo com o talude de montante, até a posição
central, simétrica.

Sob o ponto de vista de estabilidade dos taludes, de fraturamento hidráulico do


núcleo e eficiência no contato núcleo-fundação, de um modo geral, função das
características de resistência e deformabilidade do material do núcleo e do
enrocamento, o núcleo moderadamente inclinado para montante constitui a posição
otimizada.

De maneira geral a “inclinação moderada” se refere a inclinação 0,4H:1V a 0,6H:1,0V


para a interface de jusante do núcleo de enrocamento, e 0,9H:1,0V a 1,0H:1,0V para a
interface de montante. O núcleo inclinado também apresenta vantagens de
cronograma, em locais de alta pluviosidade, por possibilitar construção de maior
volume do enrocamento de jusante, independente do núcleo.

Entretanto, condições específicas de determinados projetos podem levar a utilização


de outras seções típicas. Como pode ser a utilização do núcleo pouco inclinado ou
central visando a incorporação total da ensecadeira de montante. Ou a utilização do
núcleo extremamente inclinado devido às condições geológicas da fundação, e/ou
condições topográficas mais favoráveis.
Barragem Homogênea – Sistema interno de drenagem

Na figura abaixo é apresentada a evolução dos projetos de barragens de terra e


respectivos sistemas de drenagem. O estágio atual de projeto impõe a necessidade
de septo drenante total, a fim de evitar fluxo emergente no talude de jusante.
Deve-se observar as condições ideais de percolação, implícitas no conceito de rede
fluxo, e as condições reais, associadas a camadas mal compactadas, ao estado de
tensões do maciço e zonas fissuradas no maciço.

Outros exemplos de concepção de projeto

Regularização de fundação rochosa


É comum a existência de grandes irregularidades topográficas da superfície
rochosa no leito do rio, associadas a zonas de maior fraturamento da rocha, uma vez
que o rio “procura” as zonas de fraquezas estruturais da rocha para estabelecer o seu
leito.
Projetos de barragens de terra e/ou enrocamento em tais regiões, caracterizadas
por variações abruptas da superfície rochosa, exigem uma análise detalhada das
zonas potenciais de fissuras no maciço, devido às deformações diferenciais impostas
por estas irregularidades topográficas. Nestes casos, concepções de projeto
envolvem em geral uma ou mais das seguintes medidas.
a. Regularização da topografia da fundação, através da suavização das
irregularidades;
b. Fixação da seqüência construtiva de modo a reduzir os recalques diferenciais;
c. Adequação dos materiais do maciço e/ou respectivas especificações, de modo a
reduzir os recalques diferenciais, ou provir maior plasticidade ao solo nas zonas
solicitadas a tração;
d. Ampliação do sistema de drenagem interna nas zonas de fissuramento potencial.
A verificação e adequação das medidas de projeto acima indicadas são feitas pelo
método dos elementos finitos de forma paramétrica, ou seja, variando os diversos
parâmetros intervenientes.

Fundações em solos argilosos saturados moles – Soluções normalmente adotadas

Estes materiais caracterizam-se por baixa resistência ao cisalhamento, elevada


compressibilidade e baixa permeabilidade. Quando ao aspecto de resistência ao
cisalhamento tem sido adotado um ou mais dos seguintes procedimentos.

Remoção parcial ou total do material;


Aumento da resistência ao cisalhamento utilizando o procedimento da
construção por etapas associada ou não a aceleração do adensamento através de
drenos verticais de areia;
Diminuição da solicitação cisalhante da fundação mediante a adaptação da seção
transversal do maciço através da suavização dos taludes e/ou com emprego de
bermas de equilíbrio.

Quanto ao aspecto de elevada deformabilidade deve-se distinguir os casos de


recalques quase absolutos e de recalques diferenciais. O primeiro tipo de recalque
pouco freqüente, interfere no projeto somente no que refere a diminuição do bordo
livre, necessitando portanto, de uma sobre elevação da cota da crista da barragem
correspondente aos recalques após a construção.
Em relação aos recalques diferenciais, as soluções de projeto tem sido a adaptação
de seqüência construtiva visando uma redução dos recalques diferenciais e/ou
projeto de sistema de drenagem mais rigoroso, a espessura dos drenos deve ser de
tal ordem que não sejam secionados devido aos recalques diferenciais.

Durante a discursão sobre as fases de projeto, discutimos bastante sobre fundações,


portanto, iremos apresentar alguns pontos sobre esse serviço.

No projeto de uma grande barragem, dificilmente a solução será o abandono do


local de barramento por falta de condições adequadas de fundação, a menos que
haja um local próximo, com condições nitidamente melhores e com indiscutível
vantagem econômica.
Pode-se mesmo afirmar que é perfeitamente possível construir uma barragem de
terra sobre quase todo os tipos de fundações, desde que o projeto se adapte
convenientemente às condições oferecidas pelo sítio. Neste caso, é a análise
econômica das diversas alternativas, concebidas com o intuito de contornar os
problemas apresentados e garantir a funcionalidade e a segurança da barragem, que
apontará a solução definitiva do projeto. Caberá, então, otimizar, técnica e
economicamente, a solução adotada.
Embora possa haver superposição de duas ou mais características desfavoráveis
dos solos de fundação, serão aqui apresentadas três condições que, didaticamente
retratam toda a problemática envolvida.

1.Fundação em solos permeáveis – areias e cascalhos, onde interessa analisar a


quantidade de água perdida por percolação e a grandeza das forças de percolação.

2. Fundações em solos moles – argilas, areias argilosas e siltes argilosos, onde


interes assegurar a estabilidade contra a ruptura por cisalhamento e evitar o
aparecimento de trincas no maciço, devidas a recalques excessivos.

3.Fundações em solos porosos e colapsíveis – de elevada porosidade volumétrica e


baixo grau de saturação, onde interessa evitar ou minimizar os efeitos dos recalques
instantâneos desses materiais

VAMOS ANALISAR CADA SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA:

Fundação em solos permeáveis


Na engenharia civil, ao se tratar de problemas resultantes da presença
inconveniente de água, muitas vezes inevitável, deve-se ter sempre presente dois
preceitos elementares que orientem sua solução.

Evitar, tanto quanto possível, que a água penetre na região onde é indesejável;
Facilitar, até o “impossível”, a sua saída dessa região.

Em projetos de barragens, para atender ao primeiro preceito, costuma-se adotar


elementos ou medidas que visem a “impermeabilização” da fundação, como por
exemplo: substituição do material permeável ou construção de trincheiras vedantes,
cortina de estacas-prancha, paredes diafragma e tapetes impermeáveis a montante.
Para atender ao segundo preceito é usual utilizar-se tapetes drenantes associados
a filtros de pé, trincheiras drenantes e poços de alívio. Nestes casos o objetivo é
minimizar os efeitos, elevadas vazões e sub-pressões, da presença de água no trecho
de jusante das fundações da barragem.

Os métodos para o controle da percolação através das fundações de uma barragem


podem ser classificados pelo próprio efeito que tem sobre a percolação:

1.Eliminando-a, ou reduzindo-a a valores desprezíveis, através da construção


de“barreiras impermeáveis completas” até o horizonte impermeável;

2. Reduzindo-a, mediante a construção de uma “barreira impermeável incompleta”


que aumente as linhas de fluxo, proporcionando o aumento de perda de carga e
redução das sub-pressões, do gradiente hidráulico e da vazão;
3. Apenas controlando-a, mediante a construção de drenos, método este praticamente
imprescindível e que pode ser associado aos dois anteriores.

Dentro do primeiro método, quatro tipos de obras podem ser utilizadas, elas são:

a. Trincheiras impermeáveis (“cut-offs”) – obtidas compactando-se solo impermeável


em trincheiras escavadas na fundação permeável da barragem;

b. Paredes diafragma – estruturas impermeáveis delgadas que podem ser construídas


em concreto, solo-cimento ou lama;

c. Cortinas de estaca-prancha cravadas a partir da superfície do terreno – natural ou


escavada, não exigem, ao contrário dos tipos de obras anteriores, a substituição do
material da fundação;

d. Injeções de impermeabilização.

A adoção de uma barreira impermeável completa só deve ser descartada por


motivos de ordem econômica, quando, por exemplo, a espessura da camada
permeável for muito grande em relação à base impermeável da barragem.
As cortinas de estacas-prancha metálicas são atualmente pouco utilizadas,
principalmente no Brasil, tendo em vista o alto custo dos perfis metálicos. Só
constituirão solução vantajosa em circunstâncias muito especiais.
Também as paredes de concreto têm sido cada vez menos empregadas, por serem
muito caras e por oferecerem um inconveniente muito sério, sua elevada rigidez torna
o maciço da barragem, muito menos rígido, vulnerável ao fissuramento sob efeito das
deformações

Soluções de Eliminação – Trincheiras impermeáveis (“cut-offs”)

Esta solução tem sido mais intensamente utilizada, em vista da evolução dos
equipamentos de terraplanagem, que a têm tornado mais econômica para
profundidades cada vez maiores. Profundidades até 25 a 30 m são, hoje,
perfeitamente razoáveis.

A principal dificuldade de sua construção é dada pelo lençol freático que


exige, muitas vezes, onerosas instalações de rebaixamento,
Trincheira impermeável

Esta solução apresenta as seguintes vantagens:


• Permite a inspeção visual tanto das paredes como do fundo da escavação;


• Permite um bom preparo superficial da base da trincheira;
• Permite o uso dos equipamentos convencionais de escavação e terraplanagem;
• Possibilita o preenchimento da trincheira com materiais selecionados, compactados
sob controle tecnológico.

Esquema da escavação
abaixo do lençol freático

A trincheira impermeável é em geral posicionada sob a crista da barragem, onde a


maior compressão, proporcionada pelo peso do aterro, aumenta sua eficiência.
Porém, sua posição poderá ser condicionada pela geometria do topo impermeável,
ou seja, deverá situar-se de forma a minimizar as escavações. Em barragens de
enrocamento com núcleo de argila ela deverá estar, obrigatoriamente, sob a base do
núcleo impermeável.

É importante destacar que existe putros tipos de solução, porém, essa é a


mais utilizada e por isso esta sendo apresentada.
Fundações em solos moles

Analisando uma situação em que no local de barramento, já definido em função de


estudos técnico-econômicos que demonstram sua viabilidade, ocorrem solos de
baixa resistência e/ou elevada compressibilidade, o primeiro problema que se
impõe é o de melhorar o conhecimento geológico-geotécnico do local.
É necessário que se obtenha um perfil do terreno que retrate com fidelidade a
situação real. Aí devem estar representadas as espessuras das diferentes camadas,
cujas características de resistência e deformabilidade serão determinadas através
de ensaios “in-situ” e em laboratório.

As soluções técnicas discutidas passarão pelo crivo de uma análise econômica


que apontará a melhor solução. É, portanto, muito importante que as diversas
alternativas estejam “homogeneizadas” quanto à segurança e ao funcionamento
das obras.
O engenheiro projetista deverá conhecer as implicações de cada uma delas, desde
a adoção dos parâmetros geomecânicos das fundações, passando pelo método
teórico de cálculo, até a fase de construção, de forma a atribuir-lhes justo valor no
processo de escolha.

Uma alternativa que se impõe, quase como obrigatória, é a de remover totalmente


os solos que não oferecem condições adequadas de fundação. Porém, desde que se
possa conviver com esses solos, ou com parte deles, dentro dos critérios usuais de
segurança, isto nem sempre é economicamente vantajoso.

No estudo de fundações em solos moles, dois aspectos, em geral interligados,


devem ser considerados: ruptura de base e recalques excessivos.

A ruptura de base consiste no deslizamento de material da fundação e do aterro


com levantamento a uma certa distância. Ocorre quando as tensões cisalhantes,
provocadas pelo peso do aterro, igualam a resistência ao cisalhamento. Isto
acontece ao longo da superfície aproximadamente cilíndrica através do conjunto
maciço-fundação.
Em geral, as análises de estabilidade dos taludes seguem o conhecido método de
Fellenius e suas variantes como o método de Bishop, por exemplo. Pode-se também
partir de considerações de capacidade de carga aplicando as teorias de plasticidade
(Prandtl, Therzaghi, Housel) ou a teoria da elasticidade (Boussinesq, Newmark e
outros).

Quanto ao aspecto de recalques excessivos, devem ser estudados tanto os


recalques (totais, diferenciais e diferenciais específicos) como o tempo em que os
mesmos deverão processar-se.
Os recalques de fundação, ocorrendo de maneira desuniforme de ponto para ponto,
seja em função da desigualdade das tensões aplicadas, seja em função de mudanças
do próprio material, resulta em tensões adicionais que podem levar à ruptura da
barragem.
No que se refere ao tempo de recalque, é desejável que a maior parte deste ocorra
até o final da construção, razão pela qual pode-se, em alguns casos, acelerar o
processo de adensamento mediante sobrecargas ou drenos de areia.
Muitas vezes o solo mole é constituído por argilas sensíveis de baixa plasticidade e
baixa resistência ao cisalhamento no ensaio rápido. Nestes casos, os resultados de
ensaios de laboratório são geralmente falseados pelo inevitável amolgamento das
amostras, levando os resultados a erros apreciáveis.
Faz-se então necessária a realização de ensaios “in situ” que permitam avaliar a
resistência do solo a diversas profundidades, principalmente pretende-se adotar
soluções tais como bermas de equilíbrio, ritmo lento de construção ou drenos
verticais de areia.
É importante ressaltar que, na programação das investigações do sub-solo no local de
barramento, é preciso ter em conta que qualquer custo adicional, para determinar
elementos úteis ao projeto, é sempre muito menor que o preço de eventuais medidas
corretivas posteriores.
A seguir são apresentadas algumas soluções típicas de projeto e métodos
construtivos para fundações em solos moles.

Remoção do material mole e sua substituição total ou parcial por aterro


compactado
Nesta situação poderão ser empregados vários métodos construtivos tais como:
escavação mecânica, remoção por bombas de sucção, deslocamento por jatos d’água
e deslocamento pelo peso do aterro.
A remoção parcial é indicada quando o solo apresenta um aumento de resistência e
redução da compressibilidade com a profundidade.

Lançamento do aterro sobre o solo mole:


- Adensamento normal: Se a barragem for construída em seu ritmo normal, deve-se
esperar elevadas pressões neutras na fundação. Pode-se, então, abater os taludes da
barragem ou construir bermas de equilíbrio.
- Construção demorada: Se o cronograma de implantação do projeto permitir pode-se
adotar um ritmo lento de construção ou construção por etapas.
- Adensamento acelerado: Neste caso, como a intenção é antecipar a ocorrência dos
recalques, pode-se sobrecarregar a fundação mediante o alteamento do aterro, desde
que as pressões neutras na fundação não ponham em risco a estabilidade do aterro.
Pode-se também executar drenos verticais de areia, para acelerar um processo de
adensamento típico.
É importante lembrar que é de extrema importância o acompanhamento da
construção do aterro mediante instalação de instrumentos que permitam a
observação do comportamento da obra, principalmente de piezômetros e medidores
de recalques.
Uma instrumentação adequada possibilita, se necessário, a adoção de medidas
corretivas que garantam a segurança da obra, além de fornecer dados de grande
valia para projetos futuros que apresentem problemas análogos.

Fundações em solos porosos e colapsíveis

De maneira geral denomina-se, solos porosos aqueles que apresentam macroporos


visíveis a olho nu, com conseqüente alto grau de porosidade (e daí a denominação
poroso) e com baixo teor de umidade (em geral abaixo do limite de plasticidade),
resultando ainda em baixo grau e saturação. Tem uma estrutura complexa, a qual é
instável, pois em geral sofre colapso quando o solo é saturado e, quando isso
acontece, são denominados, também, como solos colapsíveis. São extremamente
compressíveis e muito pouco resistentes à erosão.

Esse tipo de solo é formado por uma espessa camada de solo superficial e
podem ser solos residuais típicos e solos coluviais. Provavelmente se originam
numa evolução pedogênica de solos superficiais preexistentes, quer sejam esses
residuais ou transportados. Tem-se conhecimento de camadas superficiais
porosas de solos nitidamente residuais, de solos coluviais e também de argilas
terciárias.
A fundação de barragens sobre camadas de solos porosos e colapsíveis está
associada a recalques acentuados, praticamente instantâneos, que se processam
com a construção do aterro e com o enchimento do reservatório. Durante a
construção, a pressão aplicada pelo peso próprio da barragem à camada de solo da
fundação é crescente no sentido dos pés dos taludes para a região do eixo e, sendo o
solo também muito compressível, é de se esperar recalques acentuados, crescentes
no mesmo sentido.
Sendo o solo de fundação colapsível, com o enchimento do reservatório o fenômeno
se processa no sentido inverso: os recalques serão maiores junto aos pés dos
taludes, onde as pressões atuantes, anteriormente à saturação, são menores.
Ao longo do eixo longitudinal da barragem, a carga aplicada pelo aterro à fundação
varia com a altura da barragem e a camada de solo poroso pode também ter
espessura variável. É de esperar, então, recalques diferenciais na seção longitudinal
que podem, eventualmente, provocar o aparecimento de trincas transversais, que
são as mais perigosas, pois podem comunicar a face de montante com a face de
jusante da barragem.
As principais características dos solos porosos são sua elevada porosidade
volumétrica e seu baixo teor de umidade, o que resulta em solo de baixo grau de
saturação. É comum observarem-se nesses solos porosidade volumétrica e grau de
saturação da ordem de 50% e 40%, respectivamente.

A Figura abaixo mostra faixas de curvas granulométricas de solos porosos típicos,


bem como apresenta valores da espessura da camada (1) onde esses solos ocorrem,
porosidade volumétrica média (n) e grau de saturação médio (S) correspondentes.

Faixas de curvas granulométricas de solos porosos

Os tratamentos requeridos para fundações constituídas por solos porosos e


colapsíveis são orientados pelas propriedades de compressibilidade do solo. Estas
são bem determinadas por ensaios de laboratório em amostras indeformadas e irão
indicar se os recalques pósconstrução submetidos à saturação serão significativos.
Para barragens pequenas (até 15m de altura), pode ser utilizado, preliminarmente,
um critério empírico, desenvolvido pelo “Bureau of Reclamation”, que correlaciona

D a h para níveis de carga limitado a essa barragem, sendo:

Caso a fundação esteja sujeita a recalques consideráveis pós-construção, devido ao


carregamento ou à saturação, é necessário um tratamento. Caso a camada de solo
“poroso” ou colapsível superficial seja pouco espessa, pode ser economicamente
vantajoso escavar o material e recolocá-lo como aterro compactado.

Se a camada de solo poroso foi muito espessa para uma remoção econômica, ou
constituir um tapete “impermeável” natural sobre uma camada subjacente muito
permeável, pode-se ter as seguintes situações:
1. O solo poroso é muito compressível, mas não colapsível. Neste caso, estudos de
recalque devem ser feitos visando, por exemplo, uma remoção parcial do solo, como
foi feito para a barragem de Promissão.

2. O solo poroso é colapsível. Neste caso devem ser tomadas medidas que assegurem
a ocorrência dos recalques da fundação durante a construção. Isto pode ser
conseguido por meio de uma pré-saturação do material de fundação.

FUNDAÇÕES EM ROCHA

As barragens de terra e/ou enrocamento, quando existentes, constituem sempre


uma das estruturas de um aproveitamento hidráulico. Como nas demais estruturas
do aproveitamento, a concepção e projeto das mesmas, deve visar a unidade e
otimização do aproveitamento como um todo. Esta meta quase sempre não é
alcançada, quando se deseja otimizar, isoladamente, técnica e economicamente,
cada estrutura. Em geral, existem três etapas de concepção e projeto:

Etapa I – Estabelecimento do arranjo geral, incluindo a disposição das estruturas,


fases de construção da obra, seqüência e tipo de desvio do rio, cronograma de
construção, apoio logístico necessário, etc

Etapa II – Interação técnica – econômica entre a estrutura e a fundação; concepção


integrada da estrutura e da fundação.
Etapa III – Detalhamento da estrutura e do tratamento da fundação propriamente dito.

Do exposto acima, verifica-se que:

- As etapas I e II constituem as premissas do projeto para a etapa III. Adicionalmente, a


etapa I é a premissa da etapa II.
- A importância da contribuição de cada especialista, em termos de benefício técnico
e econômico ao empreendimento, decresce, exponencialmente, da etapa I para a
etapa III.

Considerações sob o aspecto técnico

1. Escavações da fundação e ombreira, zona do núcleo – Dois importantes


parâmetros devem ser considerados, o ângulo entre a direção da depressão e o eixo
da barragem, e a altura da barragem sobre a fundação. Como conceito geral,
condições menos severas de projetos e especificações – taludes mais íngremes
podem ser aceitas no caso de retaludamento sub-paralelo ao eixo da barragem e no
caso de grande altura de aterro – pressões superiores a de pré-adensamento do solo –
pois, neste caso, não há possibilidade de abertura de fendas de tração ou por
fraturamento hidráulico.
2. Escavações das fundações e obreiras: barragens de Terra/Enrocamento, Zona de
enrocamento – Como os espaldares de uma barragem zoneada só têm função
estabilizante, somente os aspectos relativos à influência da resistência ao
cisalhamento e deformabilidade da fundação neste trecho devem ser considerados.

Tratamento superficial, área do núcleo

Qualidade da fundação – A obrigatoriedade constante em todas as especificações, de


apoio do núcleo sobre rocha sã, pode ser, em alguns casos, desnecessária.
Adicionalmente, os tratamentos superficiais em rocha sã, sempre conduzem a
trabalhos sensivelmente mais demorados, quando comparados com os necessários
para apoio do núcleo sobre solo.

Limpeza final – No caso de apoio em rocha, após a limpeza com jatos de ar e água, não
há necessidade de remoção manual adicional de fragmentos de rocha. O somatório de
pequenas exigências desnecessárias, como esta, pode atrasar o tratamento de
fundação em caminho crítico do cronograma.

Zona de juntas e falhas abertas ou preenchidas – As especificações que prevêem a


remoção do material de preenchimento até encontrar material são, ou que limitam a
espessura de material de preenchimento compressível a casa dos milímetros ou
mesmo de alguns centímetros, são muito conservadoras, e, em muitos casos,
impossível de serem cumpridas. De fato, os recalques que tais lentes provocam são
totalmente desprezíveis perante o vulto da obra.

Da utilização de concreto dental e recobrimento de grande área com concreto –


Concreto dental tem sido cada vez mais usado com a finalidade única de acelerar o
tratamento superficial da fundação. Em muitos casos o conceito de concreto dental
tem sido estendido a grandes áreas sob o núcleo formando uma verdadeira “laje
contínua de concreto”. Também tem sido usado em regiões de grande densidade de
fraturas, em substituição ao tratamento superficial constituído por preenchimento
individual de fratura por fratura. Este procedimento é tecnicamente eficaz quando o
traço do concreto é ajustado às condições de penetrabilidade nestas fissuras. No caso
de ocorrência de fraturas maiores, o lançamento de argamassa nas mesmas, deve ser
imediatamente antes do lançamento do concreto.

As vantagens da utilização de concreto dental têm sido ignoradas em algumas


especificações. De fato, é comum constar nestas especificações, o prévio
preenchimento de fissura por fissura, independente de sua espessura, antes do
lançamento da “laje de concreto”.
Tratamento superficial, filtro invertido na zona de enrocamento – Nos locais de falha
com materiais de preenchimento susceptíveis a erosão, tem sido utilizados filtros
invertidos, satisfazendo os rígidos critérios de filtro camada por camada. Como o
carregamento de partículas é função do balanço entre a força gravitacional restritiva
devido ao peso da barragem e a força de percolação, muitas vezes, uma camada de
material bem graduado, com a finalidade de melhor distribuir os esforços do
enrocamento, pode substituir com a mesma eficiência técnica as múltiplas camadas
de filtro.

Requisitos de compactação da primeira camada do núcleo – Em fundações rochosas é


freqüente a existência de áreas com infiltração, tornando necessários serviços
provisórios para captação destas águas, a fim de permitir o lançamento da primeira
camada de núcleo a seco. Adicionalmente, alguns destes serviços necessitam de um
tratamento posterior para não comprometer a obra em sua fase de operação.

Por outro lado, o lançamento das primeiras camadas com teores de umidade mais
elevados, acarretam somente um acréscimo de recalque nas mesmas, desprezível
perante o recalque de toda a barragem.
Assim sendo, especificações de compactação menos rígidas no que concerne ao teor
de umidade para as primeiras camadas podem reduzir consideravelmente estes
serviços provisórios de tratamento, além de conduzir, no conjunto, a uma melhor
solução.

Tratamento profundo, injeções rasas – Estas injeções visam evitar a migração de


material do núcleo para a fundação, reduzir a potencialidade de curto circuito
hidráulico por sobre a cortina de injeção e reduzir eventuais pressões de percolação
elevadas no contato fundação –maciço, no pé de jusante do núcleo.
Quanto à distribuição destas injeções, adota-se usualmente uma malha regular
(“critério geométrico”) ou condicionadas pelo fraturamento da fundação (“critério
geotécnico”). Um procedimento híbrido, com a seqüência adiante detalhada, é mais
eficiente e mais rápido: Realização de injeções segundo critério geométrico no início
dos trabalhos; correlação entre as absorções e respectivas feições geológicas;
prosseguimento das injeções somente naquelas feições geológicas que apresentam
absorções acima de determinados limites.
Tratamento profundo, injeções profundas – Este assunto é extremamente vasto
apresentando inúmeras facetas, que merece trabalho à parte. Entretanto, dentro do
espírito das presentes considerações, será escolhido somente um item para uma
abordagem mais detalhada: pressões de injeção.
As pressões de injeção são limitadas ao peso de material sobrejacente. Entretanto, a
prática tem indicado que em alguns casos pressões bem superiores àquelas do peso
de material sobrejacente não provocam levantamento do terreno. Em outros casos,
ocorre com pressões ligeiramente superiores aquelas.
Considerações construtivas

Injeções através do maciço – Em determinadas regiões as estações secas e chuvosas


são bem definidas. No caso em que os tratamentos profundos da fundação não
estiverem concluídos por ocasião do início da estação seca, a fim de não atrasar a
construção do maciço terroso ou núcleo, as injeções profundas devem ser
postergadas para o período chuvoso subseqüentemente realizando as mesmas,
através de perfurações ao longo do maciço.

Ainda existem certas restrições com relação à injeção ao longo do maciço,


associadas a problemas de fraturamento hidráulico provocado pelas pressões d’água
de perfuração. Esta preocupação, entretanto, deixa de existir quando é utilizada
perfuração a ar em lugar de avanço de perfuração por água sob pressão, ou
perfuração a seco.
Da atuação da fiscalização – Tratamento de fundação, de uma maneira geral, constitui
num exemplo típico em que a definição final do tratamento somente é obtida à
medida que os serviços vão sendo executados.

TRATAMENTO DE FUNDAÇÃO DE BARRAGEM DE TERRA ATRAVÉS DE CORTINA DE


INJEÇÃO

Tendo em vista os diversos tipos de tratamento a que são submetidas às fundações


das barragens de terra deve-se destacar as injeções de calda de cimento,
particularmente no caso de fundação em maciço rochoso fraturado. Esse tipo de
tratamento consiste em injetar na fundação uma mistura (basicamente água +
cimento) capaz de solidificar e obstruir os vazios (fendas, fraturas, etc.) do maciço
rochoso, dificultando a percolação d’água, ou seja, reduzindo a permeabilidade.
Em função da barragem de terra a principal finalidade das injeções é obstruir os
caminhos preferenciais de percolação do maciço rochoso, eliminando assim o risco de
carregamento de finos (sejam do aterro ou da fundação), com o que se evita o risco de
“piping”.
Para fundações muito permeáveis as injeções podem ser executadas visando não
apenas eliminar o risco de “piping”, mas também com a finalidade de reduzir as
vazões. Os maciços rochosos em geral são meios anisotrópicos, com caminhos
preferenciais de percolação onde há concentração de fluxos. As injeções têm pois a
finalidade de obstruir esses caminhos preferenciais, redistribuindo o fluxo, sendo
assim uma maneira de tornar o maciço mais homogêneo.
E QUANDO USAR ESSE TIPO DE TRATAMENTO?

A decisão quanto à necessidade ou não de injeções em uma fundação depende


fundamentalmente das características do maciço rochoso de fundação, bem como do
tipo de seção da barragem.
Em um maciço rochoso estanque ou com fraturas de pequena abertura as injeções
clássicas geralmente são desnecessárias e mesmo que executadas são totalmente
ineficientes. A maior dificuldade contudo é o conhecimento das reais características
do maciço rochoso, para que a decisão seja tomada. Em geral a decisão quanto à
necessidade e quantidade de injeções a serem executadas, é tomada em função da
permeabilidade do maciço rochoso, dado esse obtido através de ensaios de perda
d’água em furos de sondagens.

Basicamente tem-se considerada desnecessária a injeção em maciço rochoso com


permeabilidade inferior a 1x10-6m/s, não apenas por ser uma fundação
relativamente pouco permeável, mas também porque a injeção clássica terá muito
pouco ou nenhum efeito como redutor dessa permeabilidade.

A utilização do valor da permeabilidade como indicador da necessidade ou não de


injeções tem entretanto muitas ressalvas uma vez que os ensaios de perda d’água
não esclarecem sobre o estado de fraturamento do maciço rochoso, pois uma
determinada permeabilidade pode ser devida tanto a uma única fratura espessa que
deve ser injetada, como a diversas fraturas pouco espessas onde a injeção é
desnecessária ou ineficiente.
Dado às incertezas quanto às reais características do maciço rochoso, o melhor
método para avaliar a necessidade ou não de cortina de injeções é a execução de
furos exploratórios. Em função das absorções da calda de cimento nos furos
exploratórios toma-se a decisão quanto à necessidade ou não de execução da cortina.

Em geral as injeções exploratórias são executadas a cada 12m ou 24m, podendo


esse espaçamento ser maior ou menor em função do conhecimento que se tem do
maciço rochoso bem como do tipo de seção da barragem. Para uma seção de
barragem de enrocamento com núcleo argiloso as injeções assumem uma
importância maior, devido ao menor caminho de percolação e dificuldades de
intervenções futuras em caso de necessidade, motivo pelo qual o espaçamento deve
ser menor.
Uma cortina de injeção clássica é constituída por furos primários, secundários e
terciários, podendo essa cortina ser constituída por uma ou mais linhas de injeção. Em
geral inicia-se a cortina pelos furos primários, diminuindo-se o espaçamento com
furos intermediários (secundários), seguindo-se com furos terciários e mesmo
quaternários, até que as absorções de calda sejam inferiores aos limites pré-
estabelecidos.

o espaçamento final é função da absorção de calda nos furos precedentes, sendo a


cortina iniciada com espaçamento da ordem de 12m e chegando ao final com
espaçamento de 3m ou 1,5m
A Figura abaixo apresenta a disposição típica dos furos primários, secundários e
terciários em uma cortina de injeção.

Disposição dos furos da cortina de injeção em planta

Uma cortina pode ser constituída por uma única linha de furos pouco espaçados ou
por 2 ou mais linhas com furos mais espaçados. Um critério bastante utilizado, é o de
executar uma primeira linha e reforçá-la com uma 2ª ou mesmo 3ª linha nos trechos
onde as absorções de calda foram superiores aos limites pré-estabelecidos.
Como regra geral procura-se executar furos pouco espaçados nos primeiros metros
a partir do contato aterro x fundação onde os riscos de carregamento são maiores,
aumentando-se o espaçamento para furos mais profundos. Nesse critério são
programados furos intermediários ou adicionais sempre que:
1. O furo precedente tenha absorvido quantidade de sólidos superior a 25 ou 50
kg/m até 5 ou 10m de profundidade;
2. O furo precedente tenha absorvido quantidade superior a 100kg/m abaixo de 10m
de profundidade, e assim por diante.
Quanto à profundidade máxima da cortina tem-se adotado até 2/3 da altura da
barragem (2/3H), pelo menos para alguns furos exploratórios, mas a profundidade de
0,5H pode ser considerada como suficiente a menos que ocorram grandes cavidades
abaixo dessa profundidade.
E A PRESSÃO DA CALDA?
As pressões aplicadas variam de 25kPa por metro de profundidade (escola
americana) a 100kPa por metro de profundidade (escola européia). No caso da escola
americana a pressão aplicada equivale ao peso do terreno, de maneira que durante o
processo de injeção não ocorram deformações do maciço rochoso, sendo injetadas
apenas as fraturas com aberturas superiores a dimensão dos grãos de cimento. Na
escola européia, com aplicações de altas pressões, podem ser injetadas fraturas
menores que a dimensão dos grãos graças à abertura forçada dessas fraturas.
Por um lado as altas pressões favorecem a injeção de fraturas menores, podendo
ainda reduzir o número de furos pelo maior raio de alcance da calda, por outro lado
podem corresponder a um maior consumo de cimento que irá atingir distâncias
desnecessárias, além de poder danificar o maciço rochoso.

É importante destacar que para a aplicação da pressão devem ser levados em conta: o
peso próprio da calda, o nível do lençol freático e perdas de carga na tubulação.

A calda para injeções é constituída basicamente por uma mistura de água e cimento.
Eventualmente outros componentes podem entrar na mistura como areia, pozolana,
bentonita, etc., sejam para melhorar as características da calda ou mesmo como
medida de economia.
Antes do início das injeções as caldas devem ser dosadas procurando-se obter uma
relação água: sólidos que tenha boa fluidez ou seja boa capacidade de penetração nas
fraturas. Uma calda bastante fluida (rala) entretanto apresenta alto fator de
sedimentação (F.S.) ou seja uma maior facilidade de separação dos constituintes da
mistura, resultando o preenchimento apenas parcial dos vazios.
A calda ideal seria aquela que apresentasse baixa sedimentação e elevada
capacidade de penetração nas fraturas.

Para a obtenção da calda apropriada existem dois ensaios simples de laboratório,


que embora não representem as condições ideais de campo, podem ser utilizados
com sucesso. Esses ensaios consistem na obtenção do “Tempo de Escoamento” (T.E.)
e do “Fator de Sedimentação” (F.S.).
O “tempo de escoamento” é o tempo necessário para a passagem de 1 litro de calda
por um funil padrão. A calda escoada é coletada em uma proveta graduada, após 2
horas de repouso é obtido o “fator de sedimentação” que é a relação entre a coluna de
água limpa e a coluna da mistura assentada, expressa em porcentagem.

As caldas são preparadas no campo, em recipientes onde são agitadas a altas


velocidades para a separação dos grãos de cimento, sendo em seguida injetadas com
auxílio de bombas de pressão. Os furos para as injeções em geral são executados com
equipamentos a roto-percussão, eventualmente rotativos, com diâmetro mínimo de
63,5mm (2½”). Antes de iniciar-se a injeção os furos são limpos com jatos de ar e água,
até que a água saia isenta de impurezas.

O método de injeção mais comum e também mais econômico, é o ascendente, onde


a injeção é efetuada em trechos de 3 a 5m a partir do fundo do furo, com auxílio de
obturador para isolar o trecho a ser injetado. A injeção de um determinado trecho deve
ser contínua devendo somente ser suspensa quando for atingida a pressão
especificada e não ocorrendo mais
absorção da calda.

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