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Embora o modo de abordagem dos problemas correntes de Hidráulica seja feito através de
abordagens macroscópicas, para o estudo dos coeficientes globais de perda de carga ou para a
compreensão da forma de variação dos mesmos é imprescindível uma análise mais elaborada das
micro-estruturas que os regem, portanto, conceitos simples de Turbulência e Camada Limite deverão
ser abordados.
Os condutos com perímetro aberto são denominados Canais, e os de perímetro fechado são
denominados propriamente Condutos.
Quando o escoamento ocupa apenas uma parte da seção transversal de um conduto com
perímetro fechado e apresenta a superfície livre do líquido praticamente horizontal, estamos na
presença de um escoamento à Superfície Livre.
Todo escoamento de líquido que não ocorre em conduto forçado, ocorre à superfície livre.
A área (A) é a superfície em que escoa o líquido, traçada de tal forma que qualquer linha de
corrente seja a ela perpendicular. Na prática, a área é geralmente a seção transversal de um conduto.
D
Chama-se perímetro molhado (PM) a linha ao
longo da qual o escoamento toca as paredes do A
C
conduto.
É ao longo do perímetro molhado que ocorre o contato do fluido com as paredes das
canalizações, sendo, portanto, ao longo deste que a natureza do material que constitui o conduto
influencia o escoamento do líquido, ou seja, o efeito de resistência das paredes é proporcional à
extensão do perímetro molhado.
Denomina-se raio hidráulico 1 (RH) a relação entre a área da seção transversal e o perímetro
molhado: R H = A PM .
O raio hidráulico fornece uma ordem de grandeza da relação entre o volume de fluido que
escoa e a área de contato entre as diferentes superfícies: líquida e sólida. Um alto raio hidráulico
significa que a área de escoamento é muito grande em relação ao perímetro, ou seja, que há pouca
influência das paredes do conduto no escoamento.
1 O Raio Hidráulico não tem o mesmo valor do que o raio de um conduto circular cilíndrico, para este tipo de conduto o
( )
raio hidráulico será equivalente a R H = A PM = πR 2 2 πR = R 2 = D 4
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--
a vazão volumétrica associada a esta variação de volume é:
dl1
Q = ∫ dQ = ∫ dA1 .
dt ∫A
A A
= V1 .dA1 (2.3)
Conceitua-se velocidade média como sendo o quociente entre a vazão volumétrica e a área da
seção transversal. Desta forma, a equação (2.3) pode ser reescrita como:
Q 1
A A ∫A
VM = = V1.dA1 (2.4)
Para este perfil de velocidades (ver Figura 2.3 Cálculo da vazão e velocidade média
figura 2.3) determina-se a vazão e a
velocidade média como segue;
i) Cálculo da vazão
2 2 8
1
Q 8
Da equação (2.4) dividindo-se a vazão pela área, tem-se: VM = 2
= U centro
π.R 15
Na maior parte dos casos dos escoamentos reais, o regime é permanente somente em média,
pois suas propriedades em cada ponto podem variar com o tempo em torno do valor médio. A
invariabilidade tanto em média como em termos de valores instantâneos pode ocorrer somente quando
o escoamento for laminar, no caso de escoamento turbulento o regime só poderá ser permanente em
média.
Quando o regime é permanente, a velocidade em cada ponto é constante, mesmo para uma
seção transversal do escoamento. Como a seção transversal do escoamento é invariável (conduto
indeformável), a vazão através da seção transversal será constante (sempre considerando a média).
V2
an = (2.8)
R
2Linha de corrente é a linha formada pela união dos vetores velocidade do escoamento, num dado instante.
3Linha de trajetória é a linha formada pela trajetória das partículas ao longo do tempo.
4Linha de emissão é a linha formada pela união das partículas que passaram por um mesmo ponto ao longo do tempo.
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-- Em um trecho de trajetória retilínea, o raio de curvatura em todos os pontos é infinito e,
portanto, a aceleração normal é nula. Como conseqüência importante, quando as trajetórias médias são
paralelas temos:
* a variação de pressão na seção transversal é a mesma que ocorreria em uma superfície plana
mergulhada em um líquido em repouso, isto é, diz-se que a variação de pressão na seção
transversal é Hidrostática. Portanto, entre dois pontos A e B quaisquer da mesma seção
transversal é válida a expressão de Stevin5:
p A − p B = γ (Z B − Z A )
O escoamento em condutos sob pressão contém energia sob três formas: cinética, potencial de
posição e potencial de pressão. A soma de Bernoulli expressa a conservação destas formas de energia
do líquido em movimento sendo a equação assim denominada em homenagem a Daniel Bernoulli
(1700-=1782), matemático francês que obteve a primeira equação correlacionando energia cinética
com potencial de pressão.
Num escoamento em conduto com área da seção transversal A, a massa total que atravessa essa seção
& = ρ. V. A e a energia cinética total por unidade de tempo fica:
na unidade do tempo é m
EC 1 1 1
& 2 = ( ρ. V. A )V 2 = ρ. A. V 3
= mV
∆t 2 2 2
EC ρ.A.V 3 V2
•
= =
2.ρ.g.A.V 2.g
W
A energia de posição é a medida pela altura da localização da massa líquida acima de um plano de
referência, ou seja, é o trabalho necessário para elevar o fluido até aquela posição. Se a massa de água
é elevada até uma altura h, a energia requerida é o peso W = γ.V , onde V é o volume de fluído, vezes
a altura h, ou seja:
E PW = ρ.g.V.h
Expressando-se esta energia em relação à vazão em peso conduz a:
E PW ρ.g.V.h ρ.g.V.h
•
= = =h
ρ.g.A.V ρ.g.V
W
onde h é a distância medida desde o plano de referência até o centro de gravidade do conduto.
A energia potencial de pressão é a medida do trabalho feito pela força de pressão na massa
líquida. Se a pressão que atua na massa líquida é simbolizada por P, o empuxo total na seção
transversal é P.A. Na unidade de tempo, a massa líquida avança uma distância proporcional a V, que é
a velocidade média do escoamento. O trabalho efetuado pela força de empuxo, por unidade de tempo,
é dado por P.A.V:
E P = P.A.V
Da mesma forma das energias anteriores, a expressando em relação à vazão em peso conduz a:
EP P.A.V P.A.V P
•
= = = .
W ρ.g.A.V γ
W
A soma algébrica dessas três formas de energia, fornece a energia por unidade de peso contida
na água em escoamento através de uma dada seção do conduto.
V2 P
H =h+ + (2.9)
2g γ
Em uma seção transversal de um conduto forçado define-se a carga da seção transversal como
sendo a soma:
V2 P
H = Z+ +
2g γ
onde Z é a cota do centro de gravidade da seção transversal com relação a um plano de referência
horizontal arbitrário.
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--
Quando a curvatura dos filetes líquidos é muito pequena, de tal forma que é possível considerá-
los como retilíneos, paralelos e atravessando normalmente a seção transversal, a pressão varia na seção
hidrostaticamente. Assim, a cota piezométrica é a mesma para qualquer filete.
No que se refere à carga devida à velocidade, como a velocidade de cada filete é diferente, sua
energia cinética também será diferente. O cálculo dessa energia através da velocidade média do
escoamento produz um valor menor do que aquele calculado através da média das energias cinéticas
de cada filete líquido. Entretanto, pode-se introduzir um coeficiente de correção no valor da energia
cinética calculada a partir da velocidade média. Esse coeficiente de correção, chamado Coeficiente de
Coriolis (α), depende da forma da distribuição do perfil de velocidades que se desenvolve na seção
transversal do escoamento.
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Assim, a verdadeira carga em uma seção transversal, calculada a partir da velocidade média, se
escreve:
V2 P
H = Z +α +
2g γ
Como exemplo, supondo que o escoamento turbulento, num conduto circular cilíndrico, possa
ser expresso por um perfil do tipo Lei da Potência de Prandtl
17
r
u (r ) = U Centro 1 − (2.11)
R
onde: Ucentro é a velocidade máxima junto ao eixo do conduto, a velocidade média poderá ser
obtida por processo análogo ao empregado para o caso de escoamento laminar, ou seja:
2π R R 17
1 2U r
V=
π. R2 ∫0 ∫0 u( r)r.dr.dθ = Rcentro
2 ∫0 1 − R r.dr
que, integrando, resulta em:
17
98 u 120 r
V= U Centro ou = 1 − (2.12)
120 V 98 R
α ≈ 1,06
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Traçado geométrico das linhas de energia e piezométrica
hp
J= e L' = L cos δ L'
L δ hp
V2
e, por conseqüência, tem-se: 2.g
hp hp J.L J P2
tan δ = = = =
L' L cos α L cos α cos α P1 γ
2
γ
α = 0° tan δ = J
1 α
α = 45° tan δ = 1,414. J
Para
α = 60° tan δ = 2.J
L
α = 75° tan δ = 3,864.J
Figura 2.6 Traçado das linhas de energia e
piezométrica.
A figura 2.7 ilustra o traçado correto da linha de energia para dois trechos de um único conduto
com o mesmo comprimento L.
Linha de energia correta
Linha de energia incorreta
β
hp/2
β' hp/2
L
L
α=0
H0 H1 H2
α≠0
Figura 2.7 Traçado de uma linha de energia para um conduto único com diferentes declividades de
linha de eixo.
Apenas o cálculo analítico permite conclusões sobre o valor da carga, da cota piezométrica, da altura
piezométrica e da pressão em cada seção transversal de um escoamento
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Influência da velocidade de aproximação
Quando o conduto sob pressão parte de um reservatório, sendo a área deste muito grande em
relação às dimensões do conduto, o valor da velocidade de abaixamento do nível da linha d'água no
reservatório (velocidade da água no reservatório) poderá ser desprezada. A hipótese citada causará
uma variação no resultado insignificante, como pode se ver no exemplo, da figura, onde se determina a
vazão considerando ou não a velocidade de aproximação.
V1 2 V 2
hp=2,00m 20,0 + = 5,0 + 2 + 2,0
2g 2g
nestes casos a área do reservatório será 9 vezes maior do que a do conduto e a velocidade 9 vezes
menor, resultando numa energia cinética 81 vezes menor no reservatório que no conduto, logo,
desprezível.
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2.1.3. Escoamento Laminar e Turbulento
Reynolds (1842-=1912) através de análise experimental, constatou que o fluido num conduto
pode estar se movimentando em dois regimes distintos de escoamento, o laminar e o turbulento (figura
2.9).
A experiência de Reynolds pode ser descrita em rápidas palavras como segue: a partir de um
reservatório a nível constante, a água (ou um líquido de viscosidade conhecida) escoa por um conduto
de vidro. Através de uma entrada bem ajustada (cônica) e de uma manobra da válvula de controle feita
lentamente provoca-se um escoamento permanente dentro do conduto de vidro.
um primeiro tipo de escoamento, ordenado, onde o corante não se dispersava, que Reynolds
denominou Escoamento Laminar;
um segundo tipo onde o corante se dispersava com rapidez, aparentando desordem nas suas
linhas de corrente, que Reynolds denominou Escoamento Turbulento ;
e, entre os dois, Reynolds detectou uma zona de transição em que ocorre ora uma situação ora outra.
Injeção de corante
Escoamento Laminar
Válvula de
controle
Zona de transição
Entrada bem
ajustada
Escoamento turbulento
a) Para um diâmetro constante, com baixas velocidades ou fluido com viscosidade elevada, a dispersão
do corante não existirá em grande escala, permanecendo individualizado no interior do escoamento.
Este escoamento é constituído por linhas de corrente perfeitamente definidas, que se deslocam
paralelamente ao eixo do conduto sem se misturarem (escoamento laminar).
As três características acima mencionadas, indicam dois regimes distintos de escoamento: laminar e
turbulento, os quais podem ser identificados expressando as grandezas hidráulicas que os definem de
forma adimensional.Reynolds estabeleceu uma relação, que deu origem a um parâmetro adimensional,
relacionando as forças de inércia e os efeitos viscosos do escoamento, denominado em sua
homenagem de Número de Reynolds, definido pela seguinte relação:
Re = ρ.V .D ou Re = V .D (2.14)
µ ν
onde V = velocidade média do escoamento,
ρ = massa específica do fluido,
µ = coeficiente de viscosidade dinâmica,
ν = coeficiente viscosidade cinemática e
D = diâmetro do conduto.
Embora o número de Reynolds em que começa a haver escoamento turbulento não seja
perfeitamente definido, é possível estabelecer, com um bom grau de aproximação, um valor crítico
abaixo do qual o escoamento sempre será laminar, ou seja, mesmo que se introduza perturbação no
escoamento estas serão amortecidas pela viscosidade e o escoamento volta a ser ordenado.
A determinação analítica do número de Reynolds crítico não é simples de ser obtida; teorias
lineares7 resultam em números muito altos em relação aos valores experimentais, por exemplo no caso
de escoamento entre duas chapas planas obtêm-se como número de Reynolds Crítico o valor 5772 e,
através da experiência é notório que para valores próximos de 1000 pode se ter escoamento turbulento.
Teorias mais sofisticadas, não lineares, que levam em conta a presença de instabilidades secundárias,
se aproximando mais da realidade física, atingem valores de transição mais próximo dos valores
experimentais entretanto, mesmo estes modelos matemáticos mais sofisticados ainda não dão respostas
plenamente satisfatórias. Devido a isto tudo se utiliza, ainda, dados experimentais para definir a
transição.
7 O grau das instabilidades que levam a turbulência ainda não está perfeitamente determinado. Para uma abordagem
rigorosa e inicial do assunto ver SHERMAN, Frederick S. 1990, Viscous Flow. McGraw Hill 438-577 e para uma visão
amais física ver TRITTON, D.J. 1988. Physical Fluid Dynamics. Oxford Science Publications Capítulo 18.
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*que entre o escoamento laminar típico e o escoamento turbulento, haverá uma zona de
transição onde poderá ocorrer um ou outro tipo de escoamento. Esta zona poderá apresentar
escoamento laminar que, com fortes oscilações que poderão degenerar em turbulência caso o
conduto tiver comprimento suficiente para tal (para ReCRÍTICO TURBULENTO≈4700 a 5900 tem-se
um fator de intermitência8 da ordem da unidade e praticamente sem chance para existir
escoamento laminar para ReCRÍTICO TURBULENTO≈50000).
Para o caso de condutos circulares cilíndricos pode-se adotar como limites para a transição do
escoamento laminar para turbulento, em aplicações práticas, os seguintes valores:
Regime Laminar : ReCRÍTICO LAMINAR ≈ 2100
Regime Turbulento: ReCRÍTICO TURBULENTO ≈ 4500
Entre esses dois limites, tem-se a zona de transição, variando com outros parâmetros que não
estão representados no número de Reynolds.
Só o número Reynolds não é suficiente para descrever o escoamento turbulento num conduto
qualquer, para o caso de condutos de paredes9 onde a rugosidade é relativamente insignificante ante o
efeito da viscosidade junto às mesmas, eles sozinho serve para caracterizar as condições de
semelhança do escoamento em condutos sob pressão, porém, quando a rugosidade das paredes for
importante, para caracterizar o escoamento necessitando-se de outro parâmetro, a rugosidade relativa.
Mesmo supondo a priori um conhecimento teórico dos conceitos de camada limite, é necessário
uma introdução sobre as peculiaridades desta quando se trata de condutos forçados.
8 Fator de intermitência relaciona para uma dada região do espaço o tempo em o escoamento permanece em regime
turbulento com o tempo total do escoamento, fator de intermitência zero significa escoamento puramente laminar,e fator
unitário significa escoamento completamente turbulento.
9 Paredes hidraulicamente lisas.
10 Condição de não deslizamento.
11O conceito de escoamento de baixa viscosidade não implica diretamente na classificação dos fluidos em fluidos de alta
ou de baixa viscosidade, implica, isto sim, em um número de Reynolds alto, ou seja, para uma dada geometria, as
velocidades são preponderantes sobre a viscosidade do fluido.
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A vantagem da divisão do escoamento em duas regiões é que na região externa o
comportamento do fluido pode ser simulado por hipóteses de escoamento potencial sem que haja erros
significativos no seus cálculos que serão extremamente simplificados. Na região interna, a viscosidade
terá que ser levada em conta porém, como a espessura desta região é pequena, a pressão que nela atua
será igual à pressão obtida pelo cálculo da camada externa.
Este conceito de divisão do escoamentos de baixa viscosidade em duas regiões distintas foi
enunciado pela primeira vez por Ludwig Prandtl12 em 1904. Antes de ser postulada a teoria da camada
limite, as fronteiras entre a zona de influência da parede e a zona potencial não eram claros. A
simplificação introduzida pela teoria da camada limite permite a solução de escoamentos a altos
números de Reynolds através da adoção de hipóteses simples como a do comprimento de mistura, a
qual não exige modelos matemáticos complicados.
Perfil de escala vertical (y) exagerada
velocidades
U∞ U∞
Zona externa
y
x δ(x ) Zona interna u ( x , y)
12PRANDTL, Ludwig. 1904. Über Flüssigkeitsbewegung bei sehr kleiner Reibung. Proc. Third Intern Math. Congress,
Heidelberg, p484-91
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À medida que o escoamento evolui de montante para jusante, o perfil de velocidade junto à
camada limite (mais veloz longe da parede do que próximo a ela) provoca um avanço da crista das
ondas de Tolmien-Schlichiting em relação à cava da mesma onda. Este avanço criará uma componente
rotacional com eixo paralelo à superfície do contorno sólido. A tendência à rotação do escoamento cria
diferenças localizadas de pressão que tendem a ampliar as ondas de Tolmien-Schlichiting.
Planta baixa
Escoamento laminar
Vórtices tipo λ
Desde o início do escoamento na camada limite até o surgimento dos vórtices tridimensionais
tipo lambda o escoamento é inteiramente laminar, ou seja, é um escoamento ordenado e perfeitamente
previsível. A partir deste ponto é que começam a surgir, de forma intermitente no tempo e no espaço,
perturbações tridimensionais turbulentas.
O descrito no item anterior é válido para escoamentos externos sobre placas planas, entretanto
no caso de escoamentos confinados em condutos, onde o desenvolvimento da espessura dessa camada
fica limitado às dimensões do conduto e, no momento em que a camada limite já estiver plenamente
desenvolvida, às características dessa camada, será função somente de uma variável (distância à
parede).
Apesar das equações da camada limite serem mais simples no caso de escoamentos internos do
que nos externos, tem-se dificuldade na definição do ponto em que a influência da entrada do
escoamento não é mais atuante e também na descrição desta região. Enquanto o escoamento sofrer
influência das condições de entrada ele deve ser tratado como um caso tridimensional
δ δ= espessura da
Núcleo Potencial camada limite
δ Camada limite
Condutos muito curtos, onde L≈D, são estudados como bocais ou orifícios, permitindo a sua
solução mediante a aplicação de metodologias desenvolvidas para estes, ignorando-se por completo o
efeito das paredes na obstução do escoamento, tratando-se, em última instância, como uma
singularidade no escoamento.
Na segunda zona o efeito da viscosidade junto a parede (camada limite) não é suficiente para
atingir o eixo do conduto, mas o retardo do escoamento junto as paredes é de tal ordem que
causa uma aceleração significativa no centro, introduzindo uma queda na pressão dinâmica da
ordem de 0,1V2ρ a 1V2ρ nesta região.
Incremento da velocidade no núcleo
Denomina-se esta região de zona de
potencial devido a influência da camada
interações por deslocamento devido aos
efeitos na pressão e na tensão de
cisalhamentos causados pela a
aceleração do núcleo. O fim desta
região é função do tipo de escoamento,
sendo maior no caso de escoamento
laminar na entrada e menor no caso de
escoamento turbulento. Zona II
Figura 2.14. Perfil de velocidades na região do cone
potencial.
No caso de escoamento laminar estima-se o comprimento (lE) desta região a partir da entrada
do conduto, em função do número de Reynolds, em:
lE = 0,05.Re.D 0 (2.15)
este valor é resultado de uma aproximação assintótica onde o perfil atinge praticamente o perfil
totalmente desenvolvido.
Para um número de Reynolds da ordem de 2000 este valor atinge um comprimento de 100D0.
Para um número de Reynolds da ordem de 5x105 este valor atinge um comprimento da ordem
de 40D0, que é relativamente menor do que na caso laminar.
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Zona III: Zona de interação da camada limite
Para o caso de escoamento turbulento, no fim da zona II, a camada limite desenvolvida pelas
paredes se encontra no centro do conduto não causando mais acelerações, porém este encontro
criará interações, entre elas. Esta interação que se imaginava produzir efeitos exclusivamente
na camada externas da camada limite, pode provocar influência das paredes vizinhas (estrutura
global do escoamento) e até na sub-camada-viscosa, como se tem demonstrado em trabalhos
científicos mais recentes. Por este motivo à análise desta região não é muito conhecida.
τ
τ
Zona III
Figura 2.15. Perfil de velocidade média na região de interação da camada limite.
O comprimento desta região não está bem definido, porém medidas experimentais estimam em
30% a 40% o comprimento da Zona II, ou seja da ordem de 20D0. Nesta região a pressão varia num
primeiro momento de forma positiva e da sua metade para diante de forma negativa atingindo a
pressão de regime.
A Zona III, sob o ponto de vista de dimensionamento de condutos pode ser ignorada, pois o seu
efeito é muito pequeno em relação as alterações das zonas I e II.
A descrição acima feita tem por objetivo demonstrar que todo o desenvolvimento de cálculo de
perda de carga linear terá seu pleno sentido quando o comprimento da canalização for maior do que
150 a 200 diâmetros, pois a partir deste comprimento os efeitos da perda distribuída em relação aos
efeitos da entrada são completamente preponderantes. Para comprimentos menores do que estes, a
singularidade tem mais importância que o efeito da perda linear ao longo do conduto,, devendo-se dar
ênfase aos cálculos de perdas singulares quanto menor for o comprimento do conduto.
Após uma mudança de diâmetro (brusca ou gradual com ângulo forte) ou mudança de direção,
haverá também um efeito desta singularidade sobre o escoamento, criando entre dois regimes
estabelecidos uma zona de transição, que será tanto maior maior quanto for à diferença de diâmetros
ou mais abrupta fora mudança de direção.
Esta descrição também é importante no momento em que se instala um equipamento para medir
velocidade ou vazão num conduto fechado, devendo-se respeitar uma distância de no mínimo 40 a
50D0 em relação a qualquer singularidade.