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Um debate sobre cultura e identidade

No seu passado, anterior a colonização europeia, os povos indígenas no Brasil


viviam livres da influência do mundo então chamado civilizado e conservavam
autonomia para manifestar e expressar suas crenças, costumes e modo de
vida. Mantinham uma profunda noção de conexão e viviam sob a ideia de
respeito ao território e ao demais seres vivos, sendo esse juízo cultural uma
significante parte da educação de uma vida integrada com a natureza.
A transmissão de conhecimento e cultura, aqui balizados como todas as
técnicas, crenças, rituais e manifestações religiosas, sua história, expressão
artística e linguagem era talhada através de gerações, dos mais sábios e
experientes aos mais jovens, assim como suas concepções filosóficas e
pensamentos a respeito do mundo, reslumbrando uma natureza sapiente e
viva.
No vídeo em debate, o líder indígena chama atenção para o processo de
catequização que se seguiu a colonização, representando para os povos
indígenas uma tentativa de integração à sociedade nacional e, de forma mais
ampla, de violenta alienação cultural, sendo prosseguido pelo ensino de toda a
praxe e ciência colona e mais recentemente pelos projetos de aldeamento,
marca histórica e terrível de preconceito e cobiça.
A escola, até tempos recentes, se apresentava para esses povos como uma
tentativa de desapropriação identitária, até que, nos anos 80, a união,
organização e luta pelos direitos por parte de seus líderes alcançou uma
salvaguarda constitucional para essa cultura, ressignificando as instituições de
ensino como uma ferramenta para a defesa dos seus costumes e como um
plano de futuro para seus jovens.
Nos aspectos técnicos desse ensino, alguns fatores são de se destacar, como
a não utilização de livros didáticos na metodologia, bem como a transmissão de
um currículo mais útil aos seus costumes e modo de vida, visando a formação
de indivíduos coletivos com suficiente senso crítico e sensíveis as
necessidades da tribo, caracterizando um movimento de resistência e defesa
da sua cultura.
Através desta palestra, o líder e professor levanta inúmeras questões
perspicazes e propõe reflexões ingentes a respeito de identidade cultural, a
função do ensino, liberdade e até mesmo sobre a diferença que há entre o
necessário e o contingente, e reafirma a importância da escola como um
fenômeno da cultura.

Dayseane Cristina Salles

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