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NARIZINHO NO REINO DAS AGUAS CLARAS (Som e Luz)

Personagens:

PERSONAGEM ALUNO SÉRIE


NARRADOR Arthur Augusto Silva 9A
DONA BENTA Ana Luíza Ribeiro 1B
NARIZINHO Laura Rodrigues Donadelli 7D
EMÍLIA Gabrielly Campos 9A
PRÍNCIPE ESCAMADO Heitor Campos de Oliveira 8A
MAJOR AGARRA Raissa Cintra Gianvechio 8D
GUARDA 1 Alícia Nobre de Souza 6C
GUARDA 2 Mariana Lara 6C
MOLUSCO 1 Ana Clara Magalhães 1B EM
MOLUSCO 2 Laura Ferreira 6A
MOLUSCO 3 Julia Fernanda Souza 6C
DONA OSTRA Maria Laura S. Martins 1B EM
DONA CAROCHINHA Mariah Bernardes Paula Oliveira 8D
PEQUENO POLEGAR Manuela Ferreira 6C
DONA ARANHA Luisa Saraiva Ticle Ferreira 8D
PAPAGAIO Laura Ferreira 6A
DOUTOR CARAMUJO Arthur Augusto Silva 9A
TIA ANASTÁCIA Mariana Lara 6C
MALABARISTA Ana Clara Magalhães 1B EM
CONTORCIONISTA Júlia Fernanda 6C

(Entra o narrador tocando o tema do sítio, dona Benta está sentada num canto do
palco, congelada)

NARRADOR: Boa noite, pessoal! Vocês conhecem essa música? Tenho certeza que a maioria
de vocês acabou de fazer uma viagem para o sítio mais amável que conhecemos. Isso mesmo!
O Sítio do Pica Pau Amarelo é famoso tanto no mundo de verdade como no chamado Mundo de
Mentira. O Mundo de Mentira, ou Mundo da Fábula, é como a gente grande costuma chamar a
terra e as coisas do País das Maravilhas, lá onde moram os anões e os gigantes, as fadas e os
sacis, os piratas como o Capitão Gancho e os anjinhos como Flor das Alturas. Mas o Mundo da
Fábula não é realmente nenhum mundo de mentira, pois o que existe na imaginação de milhões
e milhões de crianças é tão real como o que vamos contar nessa peça. O que se dá é que as
crianças logo que se transformam em gente grande fingem não mais acreditar no que antes
acreditavam.
Lá no sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma senhora de mais de sessenta anos. Chama-se dona
Benta.
(Benta ganha movimento quando ouve o seu nome e começa a reagir às falas do
narrador)
Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na
ponta do nariz, segue seu caminho pensando: Que tristeza viver assim tão sozinha neste
deserto...
DONA BENTA: Mas se engana quem pensa assim desse jeito, viu moça? Pode deixar que
daqui pra frente eu conto essa história! Eu sou a mais feliz das vovós, porque vivo em
companhia da mais encantadora das netas — Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou
Narizinho como todos dizem e também da tia Nastácia, que mora com a gente desde que Lúcia
era bem pequena, e Emília, a boneca de pano que foi feita por tia Nastácia. Aqui no sitio, no
fundo do pomar passa um ribeirão, todas as tardes Narizinho leva a boneca e pra passear à beira
d’água, onde se senta na raiz dum velho ingazeiro para dar farelo de pão aos lambaris., até que
tia Nastácia apareça no portão do pomar e grite na sua voz sossegada:
(Tia Nastácia grita da coxia) — Narizinho, vovó está chamando!...
Certa vez, depois de dar comida aos peixinhos, Lúcia sentiu os olhos pesados de sono. Deitou-
se na grama com a boneca no braço e ficou seguindo as nuvens que passeavam pelo céu e
acabou adormecendo.

PRINCIPE ESCAMADO: Olha só... uma montanha que mexe!


NARIZINHO: Não sou montanha nenhuma, peixinho. Sou Lúcia, a menina que todos os dias
vem dar comida a vocês. Não está me reconhecendo?
PRINCIPE ESCAMADO: Impossível reconhecê-la, menina. Vista de dentro d’água parece
muito diferente...
NARIZINHO:Posso até parecer, mas garanto que sou a mesma. E essa aqui é a minha amiga
Emília.
PRINCIPE ESCAMADO: Muito prazer Emília, eu sou o Príncipe Escamado, príncipe e rei ao
mesmo tempo!
NARIZINHO: Que legal! Sempre tive vontade de conhecer um príncipe-rei.
PRINCIPE ESCAMADO: Você me daria a honra, Narizinho, de apresenta-la o meu reino?
NARIZINHO:Pois vamos e já. Antes que tia Nastácia me chame.
(Os dois caminham pelo palco, Emilia segue atras e saem para a coxia. O Narrador retorna
tocando, alguns personagem cantam e dançam no palco, luz abaixa, fica escuro. Mudança No
Cenário: fundo do rio. Uma cadeira no proscênio onde dorme o Major Agarra)

Música: O Reino das Águas Claras (Jorge Vercillo)

Vim de lá
Trouxe a mais bela pérola do mar
Para te coroar
Vim de lá
Pela floresta de algas pude andar
Nem sei como eu vou contar

Lá no reino das águas claras


Mágico mundo de jóias raras
Meu passeio mais bonito
Tantos cardumes, que maravilha!
Dançando juntos como quadrilha
Onde as cores não tem fim
Todos os seres em harmonia
Tudo transborda alegria
Hoje é dia de festa
Dentro do palácio encantado
O príncipe escamado vai se coroar

PRINCIPE ESCAMADO: Chegamos. É aqui a entrada do meu reino


NARIZINHO (com medo): Muito escuro, príncipe. A Emília é uma grande medrosa.
(Princepe Escamado tira do bolso uma lanterna. As luzes do palco se acendem. Chuva de
balões, projeção, papel nacarado. Entram. Os personagens que dançavam no palco, passam
fazendo reverencia ao Rei, Major Agarra dorme no proscênio)
NARIZINHO: Quem construiu este maravilhoso portão de coral, príncipe?
PRINCIPE ESCAMADO: Foram os Pólipos, os pedreiros mais trabalhadores e incansáveis
do mar. Além do portal, construiram também o meu palácio, todo de coral rosa e branco.
NARIZINHO: É tão bonito que até parece um sonho.
PRINCIPE ESCAMADO: Parece que dona Emília está emburrada...
NARIZINHO:Não é burro, não, príncipe. A pobre é muda de nascença. Ando à procura de um
bom doutor que a cure.
PRINCIPE ESCAMADO: Há um excelente na corte, o célebre doutor Caramujo. Emprega
umas pílulas que curam todas as doenças, menos a gosma dele. Tenho a certeza de que o doutor
Caramujo põe a senhora Emília a falar pelos cotovelos.
NARIZINHO:Nossa, isso me faria muito feliz!
PRINCIPE ESCAMADO: Mas o que é isso? Não estou acreditando no que vejo, Narizinho... O
portão está aberto novamente! Já é a segunda vez que isso acontece. Aposto que o Major
Agarra-e-não-larga-mais está dormindo.
NARIZINHO:Mas é um sapo?!
PRINCIPE ESCAMADO: Sim. Pago-lhe cem moscas todos os dias para que guarde a entrada
do palácio e ele fica aí dormindo? Deixa ele comigo! (já se prepara para lhe dar um pontapé,
Narizinho o impede)
NARIZINHO: Espere príncipe! Eu tenho uma idéia muito boa. Vamos vestir este sapo com as
roupas da Emília, para ver a cara dele quando acordar.
(tiram as saias e a touca da Emília, que fica vestida com uma camisola e vestem, no Major)
PRINCIPE ESCAMADO: Ficou parecendo uma velha coroca!
NARIZINHO:Pronto, pode acorda-lo agora.
MAJOR AGARRA: Hum!... (geme o sapo, abrindo os olhos, ainda cego de sono. O príncipe
engrossa a voz e briga)
PRINCIPE ESCAMADO: Bela coisa. Major! Dormindo como um porco e ainda por cima
vestido de velha coroca... O que significa isto?
MAJOR AGARRA: Eu não sei o que aconteceu, vossa Alteza, estava aqui fardado cuidando da
entrada do castelo e.... e... Eu nunca fui assim, principe!
NARIZINHO:Você de fato nunca foi assim, mas, como dormiu escandalosamente durante o
serviço, a fada do sono te transformou em velha coroca. Bem feito...
PRINCIPE ESCAMADO: E por castigo, você será condenado a engolir cem pedrinhas
redondas, em vez das cem moscas do nosso trato.
MAJOR AGARRA: Mas, príncipe!
PRINCIPE ESCAMADO: Mas nada! Você está dispensado!
(Major Agarra sai de cena. O principe olha o relógio e percebe que está atrasado)
PRINCIPE ESCAMADO: Está na hora da audiência. Vamos depressa, tenho muitos casos a
atender.
(Narizinho e escamado saem pela coxia da frente. Entram os guardas carregando duas
cadeiras grandes. Narizinho e Escamado entram do outro lado, pelo fundo do palco.. Eles se
sentam. O príncipe dá um sinal de audiência batendo com uma grande pérola negra numa
concha sonora. Os guardas trazem os moluscos)
MOLUSCO 1: Majestade, estamos morrendo de frio! Os Bernardos Ermitões, levaram as
nossas conchas!
MOLUSCO 2: É sempre assim! A gente se desdobra fazendo as conchas mais bonitas pra esses
folgados levarem na primeira oportunidade?
MOLUSCO 3: Já estamos ficando cansados dessa palhaçada. Isso não vai mudar nunca? É um
absurdo!
(os moluscos seguem falando e são interrompidos por Narizinho)
NARIZINHO:Quem são esses Bernardos?
PRINCIPE ESCAMADO: São uns caranguejos que têm o mau costume de se apropriarem das
conchas destes pobres moluscos, deixando-os em carne viva no mar. Os piores ladrões que
temos aqui.
PRINCIPE ESCAMADO: Guardas! Tragam uma nova concha pra cada molusco, logo mais
iremos procurar esses danados Ermitões.
(os moluscos recebem suas conchas e saem. Entra agora uma ostra chorando)
OSTRA: Majestade, a segurança neste reino está cada dia pior! Acredita que um caranguejo
roubou minhas pérolas só por diversão? Era uma pérola novinha e linda! Ele levou-a só de mau,
porque os caranguejos não se alimentam de pérolas, nem as usam como jóias. Com certeza já a
largou por aí nas areias...
PRINCIPE ESCAMADO: Guardas, tragam para a dona Ostra uma nova Pérola e cuidem para
que este caranguejo seja encontrado!
(Entra no palco, muito apressada, aflita e abrindo caminho por entre os bichos uma baratinha)
PRINCIPE ESCAMADO: A senhora por aqui? O Que deseja?
DONA CAROCHINHA: Ando atrás do Pequeno Polegar. Há duas semanas que fugiu do meu
livro e não o encontro em parte nenhuma. Já percorri todos os reinos encantados sem descobrir
o menor sinal dele.
NARIZINHO:Quem é esta senhora? Parece que a conheço...
PRINCIPE ESCAMADO: Com certeza, pois não há menina que não conheça a célebre Dona
Carochinha das histórias, a baratinha mais famosa do mundo.
(E voltando-se para a velha) Ignoro se o Pequeno Polegar anda aqui pelo meu reino. Não o vi,
nem tive notícias dele, mas a senhora pode procurá-lo. Não faça cerimônia...
NARIZINHO: Por que ele fugiu?
DONA CAROCHINHA: Não sei, mas tenho notado que muitos dos personagens das minhas
histórias já andam aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro delas. Querem novidade.
Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Aladino queixa-se de que sua
lâmpada maravilhosa está enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espetar o dedo
noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás
e quer ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix. Branca de Neve vive falando em tingir os
cabelos de loiro e botar ruge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para
contê-los. Mas o pior é que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo.
(Narizinho bate palmas empolgada)
DONA CAROCHINHA: Tudo isso por causa do Pinóquio, do Gato Félix e sobretudo de uma
tal menina do narizinho arrebitado que todos desejam muito conhecer. Ando até desconfiada
que foi essa diabinha quem desencaminhou Polegar, aconselhando-o a fugir.
(Narizinho assustada)
NARIZINHO:Mas a senhora conhece essa tal menina? (pergunta, tapando o nariz com medo
de ser reconhecida)
DONA CAROCHINHA: Não a conheço, mas sei que mora numa casinha branca, em
companhia de duas velhas corocas.
(Narizinho, ouvindo chamar dona Benta de velha coroca, Narizinho perdeu as estribeiras)
NARIZINHO: Dobre a língua! Velha coroca é você, e tão implicante que ninguém mais quer
saber das suas histórias emboloradas. A menina do narizinho arrebitado sou eu, mas fique
sabendo que é mentira que eu haja desencaminhado o Pequeno Polegar, aconselhando-o a fugir.
Nunca tive essa “bela ideia”, mas agora vou aconselhá-lo, a ele e a todos os mais, a fugirem dos
seus livros bolorentos, sabe?
DONA CAROCHINHA: Que menina malcriada! Venha aqui que eu vou desarrebitar esse seu
nariz!
NARIZINHO:Eu é quem vou arrebitar o seu! Onde já se viu, chamar a vovó de coroca? Que
desaforo!...
(Dona Carochinha mostra a língua pra Narizinho e sai de cena, muito brava)
PRINCIPE ESCAMADO: Graças a Deus, Dona Carochinha resolveu por ir embora, já estava
imaginando ter que conter vocês duas, Narizinho! Por hoje chega! (se vira para os guardas)
Guardas, mandem convites a todos da Corte. Quero dar uma grande festa em honra às minhas
visitantes!
DONA BENTA: Enquanto os funcionários do castelo preparavam a tal festa, o príncipe levou
Narizinho e Emilia para um passeio pelo reino.Que lindos lugares ela viu! Florestas de coral,
bosques de esponjas vivas, campos de algas das formas mais estranhas. Conchas de todos os
jeitos e cores. Polvos, enguias, ouriços — milhares de criaturas marinhas tão estranhas que até
pareciam mentiras do Barão de Munchausen.
De volta ao palácio o príncipe deixou a menina e a boneca na gruta dos seus tesouros, indo
cuidar pessoalmente dos preparativos da festa.
(Entra Narizinho começa a mexer num grande baú, tira colares de pérolas e enrola em si e em
Emilia, brinca com conchas)
NARIZINHO:Quantas maravilhas! Eu poderia ficar por aqui minha vida inteira!
GUARDA: Narizinho, o Príncipe mandou chama-las! Sigam-me, por gentileza.
(Narizinho e o Peixinho saem pela coxia da frente. O Principe entra e fica em frente ao trono.
Narizinho entra sozinha pela coxia do fundo)
NARIZINHO: Mandou que me chamassem, Príncipe?
PRINCIPE ESCAMADO: Sim. Estamos sem atração desde que o nosso querido bobo da corte
Carlito Pirulito foi devorado pelo peixe-espada. Tenho aqui alguns candidatos e gostaria que me
ajudasse a decidir.
NARIZINHO: Ah, que grande honra!
PRINCIPE ESCAMADO: Guardas! Façam entrar as atrações.
(entram a malabarista, a contorcionista, a bailarina e o palhaço)
NARIZINHO:Quem é este palhaço?
PRINCIPE ESCAMADO: Um anãozinho que nos apareceu aqui ontem para contratar-se como
bobo da corte.
PRINCIPE ESCAMADO:Como é o seu nome?
PEQUENO POLEGAR Sou o gigante Fura-Bolos! (responde sacudindo os guizos)
NARIZINHO:Apareça lá no sítio da vovó, senhor Pequeno Polegar Fura-Bolos. Tia Nastácia
faz bolinhos muitos bons para serem furados. Vá morar comigo, e larga essa vida boba de bobo
da corte. Você não dá para isso.
(Vem chegando Dona Carochinha farejando o ar, a contorcionista e a malabarista fogem,
neste momento Narizinho esconde o pequeno polegar atras do trono)
PRINCIPE ESCAMADO:Achou o fugido?
DONA CAROCHINHA: Ainda não, mas aposto que anda por aqui. Estou sentindo o cheirinho
dele. (Fareja de novo)
PRINCIPE ESCAMADO: Talvez esteja, mesmo! Não é ele o bobinho que veio oferecer-se para
substituir o Carlito Pirulito? Mas para onde foi? Estava aqui ainda agora, não faz meio minuto...
(Dona carochinha procura por todo o palco, sempre farejando)
DONA CAROCHINHA: Está aqui, sim. Estou sentindo o cheirinho dele cada vez mais perto.
Desta vez ele não me escapa.
NARIZINHO:Dona Carochinha está é caducando. Polegar usa as botas de sete léguas e, se
esteve aqui, já deve estar na Europa.
(Dona carochinha dá uma gargalhada)
DONA CAROCHINHA: Não vê que não sou boba, menina? Assim que desconfiei que ele
andava querendo fugir, fui logo tratando de trancar suas botas na minha gaveta. Polegar fugiu
descalço e não me escapa.
NARIZINHO:Vai escapar, sim! (narizinho grita desafiando)
DONA CAROCHINHA: Não escapa, não! E não me escapa porque já sei onde está. Está
escondido atras do trono, ouviu?
(Dona Carochinha vai em sentido ao trono. Narizinho se coloca na frente dela. Dona Benta
bate uma palma e congela a cena. Dá o texto, bate outra palma. o pequeno polegar foge e se
esconde no baú de conchas na frente do palco, Emília pula em Dona Carochinha, tira-lhe os
óculos e corre pra coxia. Narizinho e Escamado vão atrás dela. Dona carochinha sai por
último)
DONA BENTA: Foi um rebuliço na sala! Dona Carochinha agarrou Narizinho e estava a ponto
de machuca-la, quando Emilia, teve a ótima ideia de arrancar-lhe os óculos e sair correndo com
eles. Dona Carochinha não enxergava nada sem óculos, de modo que ficou a pererecar no meio
da sala como cega. Passada toda essa grande confusão, o Principe Escamado, mandou que
trouxessem ao Palácio uma grande costureira. Era uma aranha de Paris, que sabia fazer vestidos
lindos, lindos até não poder mais! Ela mesma tecia os tecidos, ela mesma inventava as modas.
PRINCIPE ESCAMADO: Dona Aranha, quero que faça para esta ilustre dama o vestido mais
bonito do mundo. Vou dar uma grande festa em sua honra e quero vê-la deslumbrar a corte.
DONA ARANHA: Seu desejo é uma ordem, Majestade!
(Dona Aranha tomou da fita métrica e começa a tomar as medidas de Narizinho. Ela é ajudada
por seis pequenas aranhinhas, arrumar um tecido cor de rosa com estrelinhas douradas. Elas
fazem um vestido pra Narizinho)
NARIZINHO:Que beleza! Conheço muitas aranhas em casa de vovó, mas todas só sabem fazer
teias de pegar moscas. Nenhuma é capaz de fazer nem um paninho de avental...
DONA ARANHA: É que tenho mil anos de idade e sou a costureira mais velha do mundo.
Aprendi a fazer todas as coisas. Já trabalhei durante muito tempo no reino das fadas; fui eu
quem fez o vestido de baile de Cinderela e quase todos os vestidos de casamento de quase todas
as meninas que se casaram com príncipes encantados.
NARIZINHO: E para Branca de Neve também costurou?
DONA ARANHA: Como não? Pois foi justamente quando eu estava tecendo o véu de noiva de
Branca que fiquei aleijada. A tesoura caiu-me sobre o pé esquerdo, rachando o osso aqui neste
lugar. Fui tratada pelo doutor Caramujo, que é um médico muito bom. Sarei, embora ficasse
manca pelo resto da vida.
NARIZINHO:Acha que esse tal doutor Caramujo é capaz de curar uma boneca que nasceu
muda?
DONA ARANHA:Cura, sim. Ele tem umas pílulas que curam todas as doenças, exceto quando
o doente morre.
(Enquanto conversam, dona Aranha vai trabalhando no vestido as aranhinhas entram e saem
de cena, sempre fazendo alguma coisa)
DONA ARANHA: Está pronto. Vamos prová-lo.
(Narizinho vai pra frente do espelho)
NARIZINHO:Que beleza! Estou que nem um céu aberto!...
DONA BENTA: E estava mesmo linda. Linda, tão linda no seu vestido de teia cor-de-rosa com
estrelinhas de ouro, que até o espelho arregalou os olhos, de espanto
DONA ARANHA: Tragam meu cofre de jóias. (Pôe na cabeça da menina um diadema de
orvalho, e braceletes de rubis do mar nos braços, e anéis de brilhantes do mar nos dedos, e
fivelas de esmeraldas do mar nos sapatos, e uma grande rosa do mar no peito)
DONA BENTA: Mais linda ainda ficou Narizinho, tão mais linda que o espelho arregalou um
pouco mais os olhos, começando a abrir a boca.
NARIZINHO:Pronto?
DONA ARANHA: Espere. Ainda faltam os pós de borboleta.
(entram as borboletinhas jogando glitter em Narizinho e saem)
DONA BENTA: Polvilhada, assim, com o pó de todas as cores a menina ficou tal qual um
sonho dourado! Linda, tão linda, tão mais, mais, mais linda, que o espelho foi arregalando ainda
mais os olhos, mais, mais, mais, até que — craque!... rachou de alto a baixo em seis
fragmentos!
(Dona Aranha começa a dancar de alegria)
DONA ARANHA: Ora graças! Chegou afinal o dia da minha libertação. Quando nasci, uma
fada rabugenta, que detestava minha pobre mãe, virou-me em aranha, condenando-me a viver
de costuras a vida inteira. No mesmo instante, porém, uma fada boa surgiu, e me deu esse
espelho com estas palavras: “No dia em que fizeres o vestido mais lindo do mundo, deixarás de
ser aranha e serás o que quiseres.”
NARIZINHO:Que bom! E no que vai a senhora virar?
DONA ARANHA: Não sei ainda. Tenho de consultar o príncipe.
NARIZINHO:Sim, mas não vire em nada antes de fazer destes retalhos um vestido para a
Emília. A pobrezinha não pode comparecer ao baile assim em fraldas de camisa como está.
DONA ARANHA: Agora é tarde, menina. O encantamento está quebrado; já não sou
costureira. Mas minhas filhas poderão fazer o vestido da boneca. Não sairá grande coisa, porque
não têm a minha prática, mas há de servir. Onde está a senhora Emília?
NARIZINHO:Sabe que não sei, Dona Aranha? Depois que furtou os óculos da velha e saiu
correndo eu não a vi mais...
(Dona Aranha fala para as seis aranhinhas)
DONA ARANHA: Minhas filhas o encanto está quebrado e logo estarei virada no que quiser.
Vou portanto abandonar esta vida de costureira, deixando a vocês o meu lugar. O encantamento
continua em vocês. Cada uma tem de conservar um pedaço do espelho e passar a vida
costurando até que consiga um vestido que o faça rachar de admiração, como sucedeu ao
espelho grande.
(Vem chegando o príncipe)
NARIZINHO:Que bom que você chegou! Dona Aranha acaba de ter seu encanto quebrado e
não sabe ainda o que quer virar.
PRINCIPE ESCAMADO: Bom, o reino anda meio carente de Sereias e eu faria muito gosto se
dona Aranha se tornasse uma!
NARIZINHO:Nunca! Sereias são criaturas malvadas, cujo maior prazer é afundar navios. Antes
vire princesa.
(Narizinho e o principe começam a discutir enquanto a Aranha só assiste)
DONA ARANHA: Chega disso! Acho melhor ficar no que sou. Assim, manca duma perna, se
viro princesa ficarei sendo a Princesa Manca; se viro sereia, ficarei sendo a Sereia Manca e
todos caçoarão de mim. Além do mais, como já sou aranha há mil anos, estou acostumadíssima.

PRINCIPE ESCAMADO: Guardas, acompanhem a Dona Aranha e suas filhas até a sua casa!
(O principe vai pro trono. Os guardas saem escoltando a Dona Aranha. Narizinho se mostra
inquieta, anda pelo palco como procurando algo, pergunta pra platéia, vai em direção ao
trono e quase derruba o príncepe)
PRINCIPE ESCAMADO: O que é isso Narizinho, está ficando doida?
NARIZINHO: A Emilia sumiu, magestade. Desde a briga com a dona Carochinha que não a vi
mais, seria bom que o Sr. Princepe mandasse procura-la.
PRINCIPE ESCAMADO: Pelo visto, não será necessário.
GUARDAS: Dona Emília foi assaltada por algum bandido! Estava na gruta dos tesouros,
estendida no chão, como morta. (colocam a boneca no chão)
PRINCIPE ESCAMADO: Tragam o Dr. Caramujo! Imediatamente!
NARIZINHO: Amiga, o que foi que fizeram com você?
PRINCIPE ESCAMADO: Calma, Narizinho, ela está desacordada, mas o Dr. Caramujo já está
à caminho.
(entra o dr. Caramujo trazido pelos guardas, ele examina Emília e lhe dá um beliscão, a
boneca acorda, mas muda que é, só gesticula)
NARIZINHO: Coitadinha da minha Emília!... Quem será o monstro que fez isto para a coitada?
Não bastava ser muda?
PRINCIPE ESCAMADO: Impossível descobrir o criminoso. Só depois que o doutor Caramujo
curá-la da mudez é que poderemos descobrir alguma coisa.
NARIZINHO: Você acha que pode curá-la, doutor?
DR. CARAMUJO: Sim. As pílulas do besouro boticário curam todas as doenças.
NARIZINHO: Que maravilha! E onde estão essas pílulas maravilhosas?
DR. CARAMUJO: Estão no meu consultório, preciso buscá-las.
PRINCEPE ESCAMADO: Então vamos logo. Eu te acompanho.
(saem o príncepe e o Dr. Caramujo, acompanhados pelos guardas.. Major Agarra começa a
gemer na frente do palco)
NARIZINHO: Boa noite, Major Agarra! Que gemidos tão tristes são esses? Não está contente
com a sua sainha nova?
MAJOR AGARRA: Não caçoe, menina, que o caso não é para caçoada (responde com voz
chorosa), não lembra que o príncipe me condenou a engolir cem pedrinhas redondas. Já engoli
noventa e nove. Não posso mais! Tenha dó de mim, gentil menina, e peça ao príncipe que me
perdoe.
NARIZINHO: Me desculpe, Major, vou agora mesmo falar com o príncipe!
(o príncipe vem chegando)
PRINCIPE ESCAMADO: Narizinho, o doutor Caramujo logo estará de volta com suas pílulas
milagrosas.
NARIZINHO: Não era sobre isso, Príncepe! Quero que perdoe ao pobre do Major Agarra.
PRINCIPE ESCAMADO: Perdoar de quê?
NARIZINHO: (Ri para a plateia) Esqueci que tem memória de peixe. Pois não o condenou a
engolir cem pedrinhas redondas? Já engoliu noventa e nove e está engasgado com a última. Não
entra. Não cabe! Está lá no jardim, de barriga estufada, gemendo e chorando. que não me deixa
dormir.
PRINCIPE ESCAMADO: É muito estúpido o Major! Eu falei aquilo de brincadeira. Diga-
lhe que desengula as pedrinhas e não me incomode. (O Princepe vai até o proscenio ver onde
está o Major.
PRINCEPE ESCAMADO: Major, desengula já as pedrinhas e volte imediatamente ao serviço!
MAJOR AGARRA: Impossível! O único jeito é o doutor Caramujo abrir minha barriga com a
sua faquinha e tirar as pedras uma por uma com o ferrão de caranguejo que lhe serve de pinça.
PRINCEPE ESCAMADO: Você é um sapo de sorte, Major. O Doutor Caramujo já está a
caminho. Venha!
(O Major sobe ao Palco com dificuldade, o Dr. Caramujo vem entrando aborrescido)
DONA BENTA: No outro dia a menina levantou-se muito cedo para levar a boneca ao
consultório do doutor Caramujo. Encontrou-o com cara de quem havia comido um urutu
recheado de escorpiões.
NARIZINHO: Que cara é essa, doutor, parece que engoliu um Urutu recheado de escorpiões?
DOUTOR CARAMUJO:Há que encontrei o meu depósito de pílulas saqueado. Furtaram-me
todas...
NARIZINHO: Puxa Vida! Mas não pode fabricar outras? Se quiser, ajudo a enrolar.
DOUTOR CARAMUJO: Impossível. Já morreu o besouro boticário que fazia as pílulas, sem
haver revelado o segredo a ninguém. A mim só me restava um cento, das mil que comprei dos
herdeiros. O miserável ladrão só deixou uma e imprópria para o caso porque não é pílula
falante.
NARIZINHO: E agora?
DOUTOR CARAMUJO: Agora, só fazendo uma certa operação. Abro a garganta da boneca
muda e ponho dentro uma falinha (respondeu o doutor, pegando na sua faca de ponta para
amolar) Já providenciei tudo.
(grande barulheira na coxia)
NARIZINHO: Que será?
DOUTOR CARAMUJO: É o papagaio que vem vindo
NARIZINHO: Que papagaio, homem de Deus? O que vem fazer aqui esse papagaio?
DOUTOR CARAMUJO: Como não encontrei minhas pílulas, mandei buscar um papagaio
muito falador que havia no reino. Vamos tirar dele a falinha que vou pôr dentro da boneca.
NARIZINHO: Então não quero! Eu não admito que se mate sequer uma formiga! Prefiro que
Emília fique muda toda a vida a sacrificar uma pobre ave que não tem culpa de coisa nenhuma.
( Entram os guardas, arrastando um pobre papagaio)
PAPAGAIO: Eu juro que sou inocente, não fui eu quem comeu aquele milho, foi o periquito, eu
juro!
(Narizinho espanta os caranguejos e solta o papagaio que sai correndo)
NARIZINHO: Não quero! Não admito que judiem dele.
DOUTOR CARAMUJO: Então não sei mais como posso te ajudar
NARIZINHO: Já que não pode fazer nada pela Emilia, por favor, ajude ao Major Agarra.
MAJOR AGARRA: Doutor, por favor me ajude. Parece que as pedras que engoli cresceram em
minha barriga, estou muito estufado!
DOUTOR CARAMUJO: Mas que ideia foi essa de comer pedras, Major Agarra? Além de
parecer uma velha coroca, está caduco? Vamos dar uma olhada nisso aqui... (Doutor Caramujo
abre a barriga do Major) Não é pedra, não! São minhas queridas pílulas! Mas como foram
parar na barriga deste sapo? (vai retirando as bolinhas da barriga do sapo e jogando pelo
palco, os caranguejos vão catando) Podemos agora curar a senhora Emília (vai falando
enquanto costura o sapo. Os guardas saem acompanhando o sapo para a coxia. Narizinho se
aproxima com a Emília)
NARIZINHO: Engula duma vez! E não faça tanta careta que se bate um vento, você fica com a
cara torta!
(Emília engole a pílula e começa a falar no mesmo instante)
EMÍLIA: Estou com um horrível gosto de sapo na boca! Não tinha uma com um gostinho
melhor não? Ora vá. E eu sou obrigada agora a ficar com esse gosto ruim na boca? (entra no
jogo de blablação)
NARIZINHO: Doutor, não é melhor fazê-la vomitar e dar uma pílula mais fraca?
DOUTOR CARAMUJO: Não é preciso. Ela que fale até cansar. Daqui a pouco sossega e fica
como toda gente, com a “fala recolhida”, que tem de ser botada para fora.
(Emília cala)
NARIZINHO: Graças a Deus! Podemos agora conversar como gente e saber quem foi o
bandido que assaltou você?
EMÍLIA: Pois foi aquela diaba da Dona Carocha. A coroca apareceu na gruta das cascas...
NARIZINHO: Que cascas, Emília? Você parece que ainda não está regulando...
EMÍLIA:Cascas, sim. Dessas cascas de bichos moles que você tanto admira e chama conchas.
A coroca apareceu e começou a procurar aquele boneco...
NARIZINHO: Que boneco, Emília?
EMÍLIA: O tal Polegada que furava bolos e você escondeu no fundo do baú. Começou a
procurar e tirando tudo o que tinha no bau. E tanto procurou que achou. Agarrou o pobre e foi
saindo com ele debaixo do cobertor...
NARIZINHO: Da mantilha, Emília!
EMÍLIA: Do CO-BER-TOR.
NARIZINHO: Mantilha, boba!
EMÍLIA: COBERTOR. Foi saindo com ele debaixo do COBERTOR e eu vi e pulei para cima
dela. Mas a coroca me unhou a cara e me bateu na cabeça, com tanta força que dormi. Só
acordei quando o doutor Cara de Coruja...
NARIZINHO:Doutor Caramujo, Emília!
EMÍLIA: Doutor CARA DE CORUJA. Só acordei quando o doutor CARA DE
CORUJÍSSIMA me pregou um liscabão.
NARIZINHO: Beliscão. Sua fala ainda tá bem desregulada, ne? Mas o tempo da jeito, nisso...
(olha pra boneca) Será que você vai ser assim pra sempre, falastrona e asneirenta? (se volta pra
plateia quebrando a quarta parede) Melhor que seja assim, ne? As idéias da vovó e tia
Nastácia a respeito de tudo são tão sabidas que a gente já as adivinha antes que elas abram a
boca. As idéias de Emília hão de ser sempre novidades.
TIA NASTÁCIA: Narizinho, Narizinho... (Grita NASTÁCIA em um eco que se escuta no Reino
das Águas Claras, black out no palco. Narizinho e Emília voltam pra posição inicial, mudança
no cenário, Dona Benta e Tia Nastácia vem chegando)
NARIZINHO: Chamou, vovó?
DONA BENTA: Ah, você está aí! Você não vai acreditar em quem está de volta, Narizinho!
NARIZINHO: Quem? O Príncipe Escamado? O Doutor Caramujo? Eu nem consegui me
despedir direito.
DONA BENTA: Que príncipe, menina? É o Pedrinho que está chegando! E a Emília, por que
está desse jeito?
EMÍLIA: Narizinho tirou meu vestido para vestir o Major Agarra, Dona Benta! (diz com a fala
embolada)
DONA BENTA: Emília! Você está falando!
NARIZINHO: E falando pelos cotovelos, vovó!
TIA NASTÁCIA: Credo, mas isso é impossível
EMÍLIA: Impossível é seu nariz!
TIA NASTÁCIA: Mas boneca não fala!
EMÍLIA: Eu falo sim! Eu era muda de nascença, mas o Doutor Cara de Coruja me deu uma
pílula da barriga do sapo e eu comecei a falar, e hei de falar a vida inteira!
TIA NASTÁCIA: Credo, esse mundo está mesmo é de perna pro ar, uma boneca de pano que
fala!
(Entra Pedrinho com Barnabé)
NARIZINHO: Pedrinho! Você chegou! (corre para abraçá-lo)
PEDRINHO: Narizinho! Vovó! Tia NASTÁCIA! Senti tanta falta de vocês!
EMÍLIA: Ei, menino! Esqueceu de mim, foi? Eu tô aqui, tá? E cadê meu presente, hein? Hein?
Hein??
PEDRINHO: Calma, bonequinha de pano, eu não me esqueci de você! E tome aqui o seu
presente (lhe entrega uma caixinha bem embrulhada)
EMÍLIA: Boneca de pano nada! Eu sempre fui uma bela de uma mocinha, e posso até falar!
Agora vou poder brincar por todos os lugares com Narizinho, e quem sabe até mesmo voltar ao
Reino das Águas Claras um dia!
NARIZINHO (empolgada): É verdade, Emilia, isso vai ser incrível! (para a plateia) Mas isso,
já é outra história!

(Toca a música da Narizinho, voltam todos os personagens pelo palco. A peça se encerra)

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