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net/publication/303533649
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All content following this page was uploaded by Pablo Marlon Medeiros da Silva on 30 October 2019.
Abstract
In this paper we aim to investigate how diversity management interferes with
the productivity of construction companies in the city of Mossoró (RN). It is
a descriptive and exploratory study with a qualitative approach, using a data
collection instrument consisting of two scripts of semi-structured interviews
applied after content analysis to six HR managers and to twelve professionals of
operational areas. The research took place in six construction organizations.
The results showed that retirees, homosexuals, and people with disabilities
were the least present on the staffs of the surveyed organizations. Diversity
brought positive effects, such as learning, creativity, sharing of experiences,
and innovation but also revealed its challenges, such as conflicts in several
areas, disrespect, isolation, absenteeism, and dissatisfaction, all factors that
may compromise production when not well managed.
Key words: Construction. Diversity. Organizations.
incapacidade de reter empregados valiosos, resul- tor de condução na indústria da construção, pois
tando em investimentos perdidos em recrutamen- qualquer melhoria na produtividade do trabalho
to e treinamento. irá contribuir para um melhor desempenho (cus-
Nesse contexto, Fujimoto, Hartel e Azmat to, tempo e qualidade) na indústria da construção
(2013) orientam que é necessário que haja, por (IBRAHIM, 2013).
parte das empresas, programas, políticas ou prá- De acordo com Rojas e Aramvareekul
ticas em prol da diversidade, em que o processo (2003), duas áreas nas organizações são identi-
de tomada de decisão vise à justiça e a responsa- ficadas como tendo o maior potencial para afe-
bilidade social, à capacitação de todos os envolvi- tar a produtividade: as habilidades de gestão e o
dos, sem distinção de raça, gênero, religião, dentre planeamento de recursos humanos. Dessa forma,
outras diferenças. Para Nnia e Teresa (2013), um Marques (2008) salienta que cada organização
programa eficaz de diversidade é capaz também precisa perceber os impactos positivos e negativos
de encorajar e deixar os profissionais confortáveis da heterogeneidade, para assim traçar estratégias
para lidar com quaisquer tipos de diferenças no de gerenciamento da sua força de trabalho.
ambiente de trabalho. Al-Jenaibi (2011) afirma que, embora mui-
De acordo com Peci e Sobral (2008), práti- tas pesquisas acadêmicas e os meios de comuni-
cas eficazes de diversidade devem ir muito além cação asseverem a gestão da diversidade focando
da simples contratação. Incluem a administração apenas em seus benefícios no ambiente de tra-
de conflitos no ambiente de trabalho e programas balho, citando melhorias nas competências, na
de treinamento orientados para a diversidade, ob- flexibilidade, na criatividade dos funcionários,
jetivando o aumento da consciência por parte de dentre outros aspectos, nem sempre esse reconhe-
todos os integrantes das organizações. Quando a cimento se reflete na prática como fortemente é
diversidade não é administrada adequadamente, apresentado na teoria.
há a possibilidade de aumento na rotatividade, De acordo com Martin (2014), a diversida-
de maior dificuldade de comunicação e de mais de pode afetar o local de trabalho de diferentes
conflitos interpessoais entre os profissionais de formas. Como aspectos positivos, Agrawal (2012)
uma empresa. aponta que a diversidade é uma ferramenta essen-
cial para criar vantagem competitiva no mercado.
2.2 Efeitos da diversidade na Para ele, as organizações desfrutam de inúmeros
produtividade das organizações benefícios, quando empregam a gestão da diversi-
A produtividade de grandes indústrias, dade e tratam seus profissionais de maneira igua-
como as de construção civil, é de grande im- litária, tais como indivíduos com alta motivação
portância para o crescimento econômico de um para o trabalho e propensos a trabalhar na em-
país (NAOUM, 2016). Entretanto, Alinaitwi et presa por muitos anos, o que reduz custos com
al. (2007) afirmam que a baixa produtividade treinamento e desenvolvimento de pessoal.
dos profissionais é um dos problemas mais difí- Ashikali e Groeneveld (2015) entendem que
ceis enfrentados pelas empresas, principalmente a valorização das diferenças contribui para uma
nos países em desenvolvimento, como o Brasil. organização sustentável a longo prazo, indo além
Esse problema é uma das principais causas que dos benefícios econômicos pretendidos pelas or-
afetam os objetivos das empresas na construção. ganizações. Para Peci e Sobral (2008), além de
Assim, grande atenção deve ser dada a esse fa- cumprir sua responsabilidade social, as empresas
Quando você está num nível de esco- da empresa: o respeito. G1 mostra que, seja qual
laridade superior aos demais, digamos for seu grau de escolaridade, ou outro aspecto
assim, há momentos que você tem que qualquer, as pessoas precisam ser ouvidas e suas
descer um pouquinho também. Você diferenças respeitadas.
não perde a autoridade quando você Outro fato que chama a atenção nos relatos
na verdade escuta essas pessoas. Então é a dificuldade em definir o que se entende por
muitas vezes você tem, por exemplo, diversidade. Apenas os entrevistados G3 e G6
um servente que tem uma escolaridade opinaram, trazendo conceitos como “[…] aquilo
menor mas ele quer a solução do que que nos diferencia um do outro, O modo de ves-
está precisando. Então acho que, em tir, falar, se comportar, pensar […]” (G3, 2015);
primeiro lugar, você respeita as dife- e “[…] é cada pessoa tem uma forma de pensar,
renças. Dentro de uma normalidade age de maneira diferente uma da outra […]” (G6,
você as aceita… (G1, 2015). 2015). A complexidade do tema, para Pereira e
Hanashiro (2010), faz com que o conceito acerca
Diversidade é… cada pessoa tem uma da diversidade seja compreendido de várias for-
forma de pensar, age de maneira dife- mas e apresente diferentes focos na literatura.
rente uma da outra e cabe ao gestor sa- No que tange à identificação das diversidades
ber envolver essas pessoas com diferen- presentes nas organizações do ramo da constru-
tes habilidades e conhecimento em prol ção civil da cidade de Mossoró, o quadro 8 reve-
dos objetivos da empresa (G3, 2015). lou a seguinte caracterização, de acordo com os
gerentes de RH:
Administrar a diversidade é algo bem Observa-se pelo quadro que, em todas as or-
complexo, porque cada pessoa tem um ganizações pesquisadas, constatou-se a presença
interesse. Daí a empresa tem sua cul- de diversidades étnico-raciais, religiosas, de gêne-
tura onde a diversidade vai precisar se ro, de idade (pessoas mais jovens) e relacionadas
adequar a essa cultura e logicamente também à experiência profissional, escolaridade,
o gestor necessita de saber lidar com e profissionais contratados de outras localidades.
essas diferenças, buscar entender os Entretanto, uma característica que merece
problemas e desafios decorrentes dessa destaque é a presença de aposentados, que, das
mistura de pensamentos (G5, 2015). organizações investigadas, aparecem no quadro
funcional de apenas uma delas. Considerando que
Os entrevistados reconhecem a complexida- o trabalho operacional da construção civil exige
de de lidar com grupos distintos no ambiente de preparo físico e braçal, mais adequado a pessoas
trabalho. Em um setor de produção, como o de mais jovens, pode-se supor que não seria do inte-
construção civil, em que, muitas vezes, os prazos resse do empregador para a produção a contrata-
são pequenos para a concretização de suas obras, ção desse grupo, já que limitaria a produtividade;
é imprescindível que os gestores mantenham seus e nem seria prioridade para as pessoas aposenta-
profissionais alinhados aos objetivos organizacio- das, que procurariam atividades mais burocráti-
nais. Para isso, uma palavra empregada por um cas, intelectuais e que exijam menor esforço.
dos entrevistados descreve bem uma das chaves Os funcionários homossexuais também só
para a boa harmonia entre os indivíduos dentro estão presentes em duas organizações. Com re-
lação aos do sexo masculino, mais identificados 80 e 99 empregados, não foi verificado nenhum
com tarefas tradicionalmente femininas como profissional com essa característica, fato explica-
gastronomia, serviços relacionados à beleza e à do pelos gestores pelo não atingimento do número
arte, o resultado pode sinalizar falta de interesse mínimo de profissionais que a lei de cotas determi-
dos indivíduos em trabalhar na construção civil. na e exige a contratação. Em relação à admissão
Quando questionados acerca da existência de ho- de pessoas com deficiência na construção civil, a
mossexuais nas organizações, os gerentes de RH maior parte dos entrevistados afirmou que as em-
afirmaram desconhecer casos, apesar de acredita- presas da construção civil só selecionam funcioná-
rem que alguns poderiam ser, mas que estariam rios pertencentes a esse grupo por mera obrigação
“dentro do armário”, receosos de se manifestarem legal e que, sem ela, não estariam dispostas a in-
como tal. vestir nessa contratação.
No que tange a homossexual do sexo femi- Diversos fatores foram elencados pelos ges-
nino, ser mulher já é um fator que contribui para tores para a não contratação de pessoas com
dificultar a sua entrada no mercado de trabalho deficiência na construção civil: o fato de esses
para o setor, além do preconceito que muitos em- profissionais não serem tão produtivos e gerarem
pregadores e funcionários ainda possuem em rela- maiores custos com a sua contratação e adapta-
ção ao homossexualismo. ção ao ambiente de trabalho (G1); a falta de nor-
Apesar de a maioria das organizações ter mas que tratem sobre políticas que favoreçam a
pessoas com deficiência em seu quadro funcional, contratação dos membros desses grupos (G3); a
nas empresas B e D, que possuem respectivamente visão ainda limitada dos gestores acerca do de-
sempenho e das oportunidades que os deficientes raça, idade, religião. Uma determina-
podem ter ao trabalhar no ramo (G4); o proble- ção que temos aqui é que o candidato
ma de muitos funcionários entrarem nas empre- saiba ler e escrever, mas para cargos de
sas de construção civil com interesses individuais pedreiro acima (G5, 2015).
e não o de prestar um serviço de acordo com o
objetivo da empresa (G5); e o próprio preconceito A maioria dos gestores afirmou desconhecer
do portador de deficiência com o trabalho nas qualquer tipo de programa ou prática que bene-
obras de construção, em que muitos desprezam a ficie a diversidade no ambiente organizacional,
natureza da atividade e rejeitam as ofertas de va- com exceção de G2, que informou que no início
gas criadas, dificultando assim as organizações das atividades da empresa na região, devido às di-
de preencherem suas cotas (G6). ficuldades de mão de obra local, buscou-se con-
Em relação a programas ou práticas de ges- tratar profissionais em outras localidades. Para
tão da diversidade realizadas nas organizações os demais entrevistados, apesar de as empresas
pesquisadas, seguem-se as falas: em que trabalham possuírem um quadro hetero-
gêneo, essa diversidade se dá de maneira natural,
Bem no início ainda acabamos que como em qualquer outra organização, através do
adotando uma prática que foi buscar currículo e da indicação, usados como forma de
mão de obra de fora. Mossoró passa- recrutar e selecionar candidatos. Ao ignorar a im-
va por uma grande dificuldade em ter portância de promover programas ou práticas em
trabalhadores qualificados e precisa- prol da diversidade, Bedi, Lakra e Gupta (2014)
mos ir a outras cidades em busca de afirmam que as organizações estão pondo em ris-
pedreiros, pintores, mas rapidamente co questões como tempo, dinheiro e eficiência.
foi resolvido (G2, 2015). Esses problemas podem desencadear em perda de
produtividade, devido ao aumento de conflitos;
Nós ainda prezamos pela estratégia incapacidade de atrair e reter pessoas talentosas
tradicional. Nunca pensamos por diversificadas; reclamações e ações judiciais; e
esse lado da diversidade, buscando incapacidade de reter empregados valiosos, resul-
homossexuais, mulheres, deficientes tando em investimentos perdidos em recrutamen-
não. Nós fazemos o processo seletivo to e treinamento. Esse problema pode refletir-se
na empresa, abrimos a vaga, e o can- na realidade das empresas investigadas, caso as
didato é avaliado de forma imparcial, diferenças não sejam bem administradas.
levando-se em consideração o mérito e Quando se trata dos benefícios que a gestão
a qualificação dele (G3, 2015). da diversidade pode gerar à empresa e aos fun-
cionários, os gerentes de RH deram as seguintes
Desconheço qualquer tipo de prática declarações:
voltada para esse tema… na nossa em-
presa a gente recebe muito por indica- Os lados bons que vejo na diversida-
ção. O candidato chega com a carteira de são a contribuição do conhecimen-
e nós analisamos a sua experiência. Se to, da experiência, do respeito. Vejo,
o seu perfil nos agradar, então ficamos por exemplo, alguns grupos pequenos,
com ele. Isso acontece independente de como os das mulheres, se destacan-
haja uma maior motivação para os emprega- e tivemos muito trabalho pra contor-
dos. Quando se trata dos grupos minoritários, nar a situação (G1, 2015).
Marques (2008) ressalta que eles tendem a se
sentir reconhecidos, especialmente se perceberem Já percebi isolamentos aqui na nossa
que a diversidade na organização não se limita empresa por questões de aparência.
aos níveis mais baixos, o que pode proporcionar Uns por não se acharem tão belos, e
a todos a oportunidade de desenvolvimento na também um caso de um funcionário
carreira dentro da empresa. que era obeso. Elas tinham comple-
uma organização utiliza vários estilos e aborda- vezes chegaram atrasados, faltavam
gens diferentes de grupos, ela amplia, consequen- também ao trabalho e quando con-
versávamos com eles, eles escondiam
temente, sua flexibilidade, estando mais capacita-
os verdadeiros motivos. Até que em
da a se adaptar às mudanças ambientais (PECI;
um dia resolveram conversar comigo
SOBRAL, 2008). G1 confirma essa ideia quando
e revelaram que imaginavam que os
diz “[…] vejo, por exemplo, alguns grupos peque-
demais faziam piadas indiretamente
nos, como os das mulheres, se destacando pela or-
pra eles e isso lhes fizeram ficar assim
ganização; flexíveis, mais amadurecidas. As mino-
desanimados… (G2, 2015).
rias tem essa virtude de mostrar algo a mais né?!”.
No que tange aos desafios da diversidade nas
Aqui geralmente acontecem proble-
organizações, vários problemas foram levantados
mas envolvendo técnicos e engenheiros
pelos respondentes. Eis as afirmações:
mais novos que entrem. Os pedreiros,
serventes e até mesmo o mestre de
A gente percebe uma série de confli-
obra comumente resistem às ordens
tos quando se envolve diversidade.
que eles dão. Recentemente tivemos
Por exemplo, as pessoas mais velhas
alguns conflitos quanto a isso, porque
da empresa sempre acham que sabem
além da idade, a inexperiência anda
demais, e podem passar até por cima
junto e influencia bastante para que
das ordens que nós damos, e isso é haja essas dificuldades. Daí o mestre
um perigo. Quando se trata também de obras não aceita as ordens no nosso
do quesito experiência, os funcioná- engenheiro e isso causa alguns desgas-
rios daqui sempre tendem a impor sua tes que nós precisamos administrar.
forma de pensar, que o jeito que ele Já tivemos muitas conversas com eles
faz é o certo. Já tivemos até um pro- e aos poucos temos tentado remediar
blema recentemente com estagiárias essa situação… (G3, 2015).
de engenharia civil. Por acharem que
elas por serem mulheres tinham pouco Percebo o isolamento de alguns gru-
conhecimento, além de serem jovens pos. Por exemplo, temos aqui um gru-
e inexperientes, havia um desrespeito po de Baraúna que só anda entre eles;
quanto a elas no ambiente de trabalho, outro grupo que é de Almino Afonso
que também só anda entre eles. Então, go (G1, 2015)”; “[…] aqui geralmente acontecem
quando falta um, geralmente faltam problemas envolvendo técnicos e engenheiros
os outros; quando um se envolve em mais novos que entrem. Os pedreiros, serventes e
conflito com outro colega, os demais até mesmo o mestre de obra comumente resistem
tomam as dores e partem pra cima, e às ordens que eles dão (G3, 2015)” e “[…] quan-
acaba piorando a situação. São grupos do um se envolve em conflito com outro colega,
que não se socializam (G4, 2015). os demais tomam as dores e partem pra cima, e
acaba piorando a situação. São grupos que não se
O que percebo de conflito aqui é em socializam (G4, 2015)”.
relação à idade. Os trabalhadores mais De acordo com Peci e Sobral (2008), a des-
velhos são bem resistentes à mudança. confiança, a tensão e a criação de estereótipos
Eles também querer ter mais privilé- também são fatores que afetam o modo como as
gios; muitas vezes se colocam contra pessoas são tratadas no ambiente de trabalho. O
as ordens de um técnico ou engenheiro relato de G2 demonstra que, por motivos de apa-
que seja mais novo (G5, 2015). rência física, um profissional pode chegar a pos-
suir complexo de inferioridade e evitar criar re-
Um dos problemas é o preconceito, lacionamentos na empresa. Esse problema pode
principalmente quanto à mulher. Nos resultar em maiores índices de absenteísmo e insa-
próprios banheiros daqui da empresa tisfação no ambiente de trabalho.
já vimos desenhos, palavras de baixo
calão, frases mandando algumas delas 4.2 Aspectos relacionados
embora daqui. Quando chegamos a à diversidade na visão
impor alguma coisa a situação piora, dos profissionais da área
pois eles acham que por sermos mu- operacional
lheres, podemos ser gritadas, insulta- No que se refere à percepção dos profissio-
das, e até eu mesma já tentaram me in- nais da área operacional acerca da diversidade nas
timidar e eu não dou o braço a torcer organizações investigadas, destacam-se as visões
não (G6, 2015). a respeito da mulher, do homossexual, da idade e
experiência profissional, do deficiente.
Pode-se notar que os principais problemas A maioria dos respondentes concorda que o
enfrentados pelas organizações da construção machismo operante na construção civil ainda in-
civil estudadas são: conflitos, desrespeito, isola- fluencia na contratação de mulheres para o ramo.
mento, resistência à mudança, absenteísmo e in- Fatores como locomoção, viagens a serviço da
satisfação. empresa, estado civil, medo da reação dos demais
Dentre os conflitos relatados, constata-se empregados com a contratação e a falta de visão
que envolvem questões de idade, de experiência de que a mulher pode realizar uma atividade tão
profissional, de gênero e de local de origem. Esses bem quanto o homem foram apontados como os
fatos são confirmados com as seguintes falas: grandes desafios para a entrada desse grupo no
“[…] as pessoas mais velhas da empresa sempre mercado de trabalho.
acham que sabem demais, e podem passar até por Em relação aos homossexuais, eis as afirma-
cima das ordens que nós damos, e isso é um peri- ções dos entrevistados:
Na nossa empresa, a relação com fun- mas são coisas que a gente precisa re-
cionários gays é muito boa. Acho o ho- levar, porque se formos levar tudo ao
mossexual muito organizado e muito pé da letra mesmo vai ser bem difícil
criativo. Todos eles são. Então assim, de trabalhar… (E12, 2015).
por você trabalhar com pessoas que
são tidas como discriminadas, desva- Pelos relatos, percebe-se nas empresas da
lorizadas em parte da sociedade, elas construção civil pesquisadas maneiras divergentes
tendem a desenvolver mais algumas de como os funcionários lidam com os profissio-
habilidades que é bom para as empre- nais homossexuais. E1, que é engenheiro da obra
sas. Esse rapaz que é homossexual as- de uma delas, afirma que, na empresa em que
sumido que trabalha lá é técnico e ges- trabalha, o relacionamento entre heterossexuais
tor do meio ambiente. Ele é um ótimo e homossexuais é de respeito, e mostra que o pro-
profissional (E1, 2015). fissional homossexual integrante da organização
exerce cargos de gestão, demonstrando que há
Existe preconceito né! Ficam as con- igualdade nos critérios de promoção.
versinhas de que fulano de tal é isso, Já E2 e E9 mostram outro lado que reflete
é aquilo… o bom é que o funcionário o preconceito e a discriminação quanto à classe
age na brincadeira…(E2, 2015). homossexual, com os comentários: “Ande direito
menino”, “fale direito menino” e “[…] também
Aqui na empresa já trabalhou um fun- percebi que quando ele falava no rádio o pessoal
cionário que é homossexual. Ele é uma ficava imitando (E9, 2015)” são falas que ressal-
pessoa maravilhosa, mas ouço tanta tam os problemas que esses indivíduos enfrentam
piada que fazem com ele. Eles falam: no ambiente de trabalho. Ações como essas inter-
“ande direito menino”, “fale direito ferem de maneira direta na vida desses funcio-
menino”. Também percebi que quan- nários, tanto na pessoal quanto na ocupacional,
do ele falava no rádio o pessoal ficava afetando seu desempenho e acarretando no final
imitando. Não vi muita discriminação do processo prejuízos para a própria organização.
na frente dele, mas por trás tinha bas- As respostas acima mostram que o precon-
tante (E9, 2015). ceito e a discriminação contra a mulher e o ho-
mossexual imperam ainda na construção civil.
Acredito que aqui ou em qualquer am- Dike (2013) mostra que, quando um indivíduo
biente de trabalhos nós temos que nos está sendo discriminado, isso afeta sua capacidade
impor e mostrar pra que você veio. Sou de executar bem o trabalho e a percepção de equi-
mulher e sou lésbica também, o que di- dade levanta questões de litígio. Esse fato pode
ficulta ainda mais as coisas. Mas com levar também a outro problema, que é o assédio.
o meu jeito espontâneo de ser e brin- Constantemente, pessoas vítimas de preconceito
calhão, eu consegui me dar muito bem ou discriminação são abusadas física ou verbal-
com o pessoal. De vez em quando eles mente no ambiente de trabalho (BEDI; LAKRA;
soltam uma piadinha quando eu ajeito GUPTA, 2014). No caso das empresas estudadas,
o cabelo, passo um batom, eles dizem muitas engenheiras, técnicas, como também ho-
logo: “olha hoje ela está diferente…”, mossexuais que exerciam cargos técnicos, diversas
vezes, tiveram sua eficiência limitada pelo medo, mundo com o mesmo salário, mas no
pela insatisfação e desânimo decorrentes da sua início era assim (E1, 2015).
não aceitação por parte das maiorias dentro do lo-
cal de trabalho. Esses fatores podem comprometer Quem vem de fora geralmente se fe-
seriamente os objetivos da empresa. cha. Dificilmente quem vem de fora
Alinaitwi et al. (2007) afirmam que a bai- faz amizade com quem está lá dentro.
xa produtividade dos profissionais é um dos pro- Então quem vem de fora faz uma pa-
blemas mais difíceis enfrentados pelas empresas, nelinha (E4, 2015).
podendo ser desencadeada pelo preconceito que
muitos profissionais – do gênero feminino, ho- O problema de quem vem de fora é
mossexuais, pessoas com deficiência e outros fato- por vir com status de que é mais valo-
res –, sofrem no ambiente de trabalho, o que pode rizado. Então se o cara que é da cidade
resultar em perda da produção e, consequente- não tiver humildade de se aproximar
mente, no atraso do cumprimento das obras. desse profissional e aprender ou sugar
Além das questões de gênero e orientação se- aquilo que ele tem de bom, vai gerar
xual, outros aspectos foram analisados pelos en- uma intriga. Então o funcionário da-
trevistados, conforme as afirmativas a seguir: qui num aprende e nem o de fora ensi-
na (E5, 2015).
A primeira coisa que vejo de ruim na
diversidade é o conflito cultural… O primeiro fator corresponde à presença de
depois… fora o conflito cultural até empregados vindos de outras localidades. Embora
mesmo na forma do cara falar… por na maioria das empresas os gestores afirmem ha-
exemplo, no Rio de Janeiro o cara não ver um clima harmonioso, em algumas, os entre-
fala “me dá o carrinho de mão”, ele vistados revelaram lidar com conflitos internos.
fala “me passa o piruzinho”. Ééé… o No primeiro caso, o fato de a empresa remunerar
pedreiro de Fortaleza fala “rebola a melhor os funcionários que vinham de fora, ge-
massa”. O daqui fala “joga a massa”. rou uma espécie de inveja por parte dos que resi-
Então você tem um conflito cultural. diam em Mossoró e ganhavam menos. Já E4 traz
Você tem o conflito interno que é ge- o problema do isolamento dos que estão chegando
ralmente quem vem de fora vem mais a empresa. Para E5, o profissional que vem de ou-
valorizado do que quem é da terra. E tras cidades tende a chegar com a visão de que é
isso gera, vamos dizer assim, um ciúme melhor e isso pode gerar por parte dele soberba; e,
dentro da empresa. Porque o profissio- dos demais, atitudes de revelia.
nal que vem de fora pra cá geralmente Outro fator observado pelos respondentes fo-
vem ganhando mais; ele tem privilégios ram os conflitos de natureza religiosa, mostrando
a mais. Pra você ter uma ideia, eu ti- que frequentemente os problemas ocorrem mais
nha um pedreiro que veio de Fortaleza entre evangélicos com pessoas de outras religiões.
e ele ganhava mil. Já o daqui ganhava Para E4, E10 e E11:
800 reais, porque o cara de Fortaleza
era melhor e era quem eu tava precisan- Os evangélicos fazem um culto depois
do. Depois eu regularizei e deixei todo do almoço e dificilmente convidam
alguém. E muitas vezes sofrem a dis- de acordo com Agrawal (2012), a diversidade sur-
criminação ao serem chamados de “ir- ge como uma ferramenta essencial para o sucesso
mão”… Então quando você faz uma da organização no mercado competitivo.
panela você também está sendo pre- A gestão da diversidade implica criar, por
conceituoso, pois você não quer que meio de um enfoque sistemático, um ambien-
ninguém entre na sua panela. Acho te organizacional que possibilite a todos os seus
que o problema gira em torno desse componentes o pleno desenvolvimento de seu
hemisfério aí (E4, 2015). potencial na realização dos objetivos da empre-
sa. Para chegar a esse objetivo, é necessário ela-
Já tivemos conflitos também de nature- borar ações e práticas que visem a maximizar as
za religiosa. Antigamente fazíamos reu- vantagens e amenizar as desvantagens. Para Peci
niões para falar sobre o trabalho, e em e Sobral (2008), é um modelo de gestão que não
algumas delas, tínhamos momentos de apenas tolera ou acolhe as diferenças no ambiente
ler a bíblia e orar. E percebíamos que os de trabalho, mas promove, apoia, nutre e utiliza a
evangélicos saíam quando os católicos heterogeneidade como fator que possibilite o seu
começavam a rezar, falar sobre Maria, sucesso no mercado.
essas coisas. Eles também andavam
mais isolados (E10, 2015).
5 Considerações finais
Existia um caso na nossa empresa de
um funcionário que o chamavam de Nesta pesquisa, teve-se por objetivo inves-
“irmão”. Ele gostava de cantar no am- tigar como a gestão da diversidade interfere na
biente e muitos o criticavam e víamos produtividade das organizações do ramo da cons-
que os demais o deixavam isolado. Ele trução civil na cidade de Mossoró, Rio Grande do
sempre ficava só porque gostava de Norte. Para a maioria dos entrevistados, a diversi-
cantar e falar da bíblia (E11, 2015). dade foi destacada como um desafio de gerir ante
a complexidade das formas de pensar, falar e agir
As afirmações mostram que os conflitos en- dentro do ambiente de trabalho, sendo mostrada
volvendo a religiosidade se dão nos momentos em também como um fator difícil de lidar, pois pode
que os funcionários são convidados para se reunir trazer aspectos positivos, mas também gerar pro-
em prol de fazerem reflexões espirituais. Embora blemas, quando não é bem trabalhada.
as intenções das empresas sejam no sentido de No que tange à identificação dos tipos de
despertar uma “paz interior” e princípios cristãos diversidade nas empresas pesquisadas, pôde-se
que vão ajudar na boa convivência entre os profis- constatar que havia no quadro de empregados
sionais, as diversas religiões presentes, aliadas à de todas as organizações a presença de diversos
presença de ateus dificulta a união nesse sentido. grupos. Porém, foi observado que aposentados,
Atualmente, as empresas estão ampliando a deficientes e homossexuais tiveram pouca partici-
sua visão e atuação estratégica e estão perceben- pação nas seis organizações investigadas. O fato
do que todo processo produtivo somente se torna de a construção civil ainda trazer raízes machistas
viável desde que haja a participação das pessoas e trabalhar em sua maior parte com força braçal,
como parceiras das organizações. Nesse contexto, fez com que esses grupos tivessem dificuldade em
diversidade no ambiente de trabalho. Os efeitos, AL-JENAIBI, B. The scope and impact of workplace
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