Você está na página 1de 10

A Receita

Adaptação de Jorge Andrade


Personagens:
Jovina (Esposa de Chico) Camila Ribeiro
Chico (Esposo de Jovina) Carlos Ribeiro
Devair (Filho de Jovina) Cristiano Carvalho
Carlinda (Filha de Jovina) Mariana Bellon
Iranides (Filha de Jovina) Rosana Santana
Jupira Mulher (Filha de Jovina) Isaque Brandão
Jupira Homem (Filho de Juvina) Ailton Bola
Dra. Marcela (Médica) Rúbia Julio
Maria (Enfermeira) Roberta Hernandez
Celeste (Enfermeira) Ester de Menezes
Creide (Vizinha de Jovina) Ane Caroline
João (Amigo do Devair) Adriano Mesquita
Padre (da Paróquia) Ailton Bola

(Entram Jupira homem, Chico, Jovina, Iranides, Carlinda, Devair, começam a se


despedir).
Jovina – Meu filho não vá, você vai fazer falta pra nóis tudo!
Chico – Ô filhão, fica aqui na fazenda com a gente!
Iranides – Fica Jupira, a cidade grande é perigoso!
Carlinda – É Jupira, fica aí, não vai não!
Devair – Lá é muito perigoso Jupira, fica!
Jupira – Gente, eu sinto que minha felicidade está na cidade grande, eu preciso
ir.
Todos – Não vá Jupira!!!

1
Jupira – Amo todos vocês, mas tenho que ir, eu mando notícias, tchau família!
(Creide entra com uma cesta na mão toda faceira e Devair vem atrás e tropeça,
logo sai e entra Iranides e Carlinda)
Iranides – É o Devair!
Carlinda – Vamo contar pra mãe! (Saem e entra Devair e João jogando bola, de
repente passa Creide e desconcentra Devair e João derruba Devair que fica caído
esperando por ajuda, vão entrando os familiares, a Creide e o pai Chico que
retira Devair e o leva até o SUS. Corredores do SUS, enfermeiras passando com
pacientes, familiares do Devair buscando informações sobre ele. As enfermeiras
montam o cenário de sala de atendimento ao paciente).
Dra. Marcela – (Entra senta e começa a escrever) Maria traga o paciente.
Maria – (De dentro) Só um momento doutora (Entram Maria e Celeste
carregando Devair).
Celeste – Como está pesado Maria.
Maria – É sempre assim Celeste, faltam macas e nós que temos que carregar os
pacientes.
Celeste – Chego em casa toda quebrada.
Dra. Marcela - Parem de reclamar vocês duas.
Maria – Me desculpa Dra. Marcela, mas é por que não é a senhora que fica
carregando este marmanjo pra baixo e pra cima.
Celeste – A senhora não aguentaria um dia se tivesse que ficar carregando
pacientes por esses corredores.
Dra. Marcela – Chega de reclamação, deixem o ele aí e vão carregar outros
pacientes (Deixam Devair e saem, entram a família toda e se ajeitam no espaço
olhando para a Dra. Que continua a escrever).
Jovina – Como é que é Dotora! A senhora não para mais de rabiscar, vai furar o
papel hein.
Dra. Marcela – Desculpa quem é a senhora e esse pessoal todo?
Jovina – Ora quem sou eu? Eu sou a mãe do Devair.
Chico – Eu sou o pai do Devair.
Iranides – Eu sou a irmã do Devair.
Carlinda – Eu também sou irmã do Devair.
Jupira – E eu sou a irmã top do Devair.

2
Creide – Eu sou a vizinha do Devair.
João – Eu sou amigo do Devair.
Devair – Eu sou o Devair!
Dra. Marcela – Agora que a caravana toda foi apresentada, vou explicar que
tanto eu escrevo. Estes remédios são necessários para o Devair, e além dos
remédios, seu filho necessita de alimentos ricos em soja.
Jovina – Soja?
Dra. Marcela – Sim! Parece feijão, não conhece?
Jovina – Conheço Dra. mas tem gosto de Maria fedida.
Dra. Marcela – É um ótimo alimento.
Jovina – Mas o que tem a ver a soja com o pé do meu filho?
Dra. Marcela – Ele precisa ficar forte para se recuperar mais depressa. Por isso
que a receita é grande, estou passando diversos alimentos importantes para
uma alimentação saudável.
Jovina – E a senhora acha que nós tem dinheiro pra tudo isso?
Dra. Marcela – Vocês moram perto de algum rio?
Iranides – A gente mora sim dona.
Jovina – É dotora, sua malcriada.
Dra. Marcela – Vocês pescam nesse rio? O peixe é um excelente alimento.
Iranides – Nóis pesca só umas miudezas lá.
Dra. Marcela – O que é isso?
Iranides – É traíra, cascudo, lambari, e as veis um papa terra.
Jovina – Acha que seu irmão vai comer peixe com gosto de barro? Óia o que fala
infeliz.
Dra. Marcela – É só tirar o fio que o papa terra tem no lombo, é dele que vem o
gosto de barro.
Iranides – Viu mãe!
Dra. Marcela – E ovos de galinha, a senhora tem?
Jovina – As veiz tem.
Dra. Marcela – Devair precisa comer ovos todos os dias.
Todos – Todos os dias!!!

3
Jovina – Ô Dotora, logo agora que eu butei as galinhas pra chocar, a gente
precisa de uns franguinhos pra ajudar a alimentar essa fiarada toda.
Chico – Eu te avisei muié, não põe as galinhas pra chocar, ocê num me ouviu.
Jovina – Cala boca home, num complica minha vida.
Creide – Ô Jovina, eu vi a galinha do pescoço pelado botando ovo lá no pé da
figueira.
Jovina – (Olha brava para Creide) Essa aí Dotora, só se mete porque ta
interessada no Devair, mas se é por uma boa causa né Dotora?
Dra. Marcela - Quanto mais alimentos ricos em proteínas, menos remédios eu
receito.
Carlinda – O que é esse negócio aí Dotora?
Dra. Marcela – Proteínas formam massa muscular.
Chico – A única massa que a gente conhece Dotora, é a massa de pão.
Dra. Marcela – Através das proteínas que formam nossos músculos.
Chico – O Dotora, o Devair tem músculo pra todo lado, a enxada faz ele ficar
muito forte. Ele faz muito sucesso com as meninas lá da vila, puxou o pai.
Creide – E eu dotora, boto todas elas pra correr, pego minha espingarda, abro
meu sorriso de guerra e carco chumbo nelas.
João – É verdade Dotora, ele não pode chegar perto de nenhuma moça da vila
que a Creide vira uma fera.
Dra. Marcela – Que situação não é?
João – Meu amigo passa um apertado com ela Dotora.
Dra. Marcela – A questão que sem proteínas ele pode ter uma gangrena na
perna.
Devair – Dotora, eu não sei o que é isso não mas dói muito?
Dra. Marcela – Com este medicamento teremos tempo pra esperar.
Iranides – Esperar o que Dotora?
Dra. Marcela – Ele ficar mais forte.
Devair – No começo era só o dedo, agora ta subindo pela perna toda.
Chico – Devair precisa ficar bom logo Dotora, tem que voltar a trabalhar.
João - E a jogar bola comigo.
Creide – E eu preciso dele pra mim.

4
Devair – Melhor eu ficar sem trabalhar um bom tempo.
Jovina – Cala boca moleque, tem que sair logo daí e ajudar na casa.
Dra. Marcela – (Faz um carinho em Devair) Ele não poderá trabalhar por um
bom tempo até se recuperar.
Creide – Olha essa mão hein Dotora.
João – O Deva vai ter que se recuperar primeiro Jovina.
Jovina – Fica quieto que ôce só sabe leva ele pra chutá bola, aí no que deu!
Creide – O meu Dedê precisa se recuperar Jovina.
Jovina – Ôce é otra que fica atrapaiando ele no serviço atrais de bejim daqui e
dali.
Carlinda – Ô mãe, o Devair não vai poder voltar a trabaiá até ficar bom.
Jovina – E ocê fica quieta que eu sei o que eu faço.
Carlinda – Sabe, mas agora o Devair tá aí sem poder levantar.
Iranides – É mãe, o Devair tem que repousar bem, a senhora ouviu a dotora.
Jovina – Ocês duas sabem muito bem que o pai docês não aguenta levantar
uma paia do chão, óia o desanimo desse home. Levanta essa cabeça
Chico!
Jupira – Ai mamis, não fala assim com o papis.
Dra. Marcela – E quem é essa mocinha toda bem arrumada?
Jupira – Mais neimis é Jupira Vittar!
Creide – Essa foi cedo morar na cidade Dotora.
João – Anda o dia todo de salto alto e batom na boca.
Jupira – E o Kiko? Coragem!!!
Dra. Marcela – Eu não entendo vocês. Moram em fazenda mas, não
tomam leite, não comem ovos, não comem pão, nem queijo, não sabem fazer
nada!
Devair – Dotora tá doendo, quando vou ficar bom?
Dra. Marcela – Logo as enfermeiras voltam para dar mais remédio.
Devair – Mais remédio Dotora (chora)?
Iranides – Não chora Devair, logo ocê melhora e volta pra casa.
Carlinda – A gente vai tirar ocê daqui logo, logo.

5
Creide – (Faz um carinho em Devair) Ai meu Dedê...
(Entram as enfermeiras para dar injeção)
Maria – Com licença Doutora.
Celeste – Viemos medicar o Devair.
Maria – Celeste, prepare a injeção... (todos os parentes e amigos correm e se
amontoam no canto).
Celeste – A injeção é no bumbum.
Maria – Alguém pode ajudar a virar o Devair?
Carlinda – Jupira!!!
Jupira – Eu vou, porque eu sou uma pop istares.
João – Eita cabra macho!!!
Jupira – Ressuscita Jhon!
(As enfermeiras aplicam a injeção)
Maria – Doutora, aqui está o exame do Devair.
Dra. Marcela – (Examinando) Muito bem, podem levar o Devair para a sala de
cirurgia.
Todos – Cirurgia???
Celeste – Sim, na perna do Devair.
(Começam a se despedir dele como se estivesse morrendo).
Creide – Vão tirar a perna do meu Dedê? Meu Deus como vou suportar essa
perda?
João – Com quem vou jogar bola no fim de semana? Meu parceirão!
Iranides – Meu irmãozinho querido, sempre me protegeu, que triste!
Carlinda – Às vezes a gente brigava, mas depois a gente fazia as pazes, vô postar
a fotinha de luto no face.
Chico – Que triste perder um filhão assim!
Jovina – Era quem sustentava nossa casa, e agora como vai ser?
(Começam a chorar)
Jupira – Eeeepa!!! Stops plizi, parou com a choradeira aqui...
Maria – Isso mesmo Jupira!

6
Jupira – Segura que eu tô falando mini bonequinha, congela, xarope plizi.
Ninguém morreu aqui, não entendo essa choradeira toda? Me poupem minha
beleza gente.
Jovina – Isso mesmo filho, opa filha, ô Dotora, o Devair é quem sustenta lá em
casa, tem que liberar ele.
Dra. Marcela – Eu sinto muito, mas os exames dizem que só com a cirurgia ele
vai poder andar.
Iranides - Dotora, deve ter outro jeito, a senhora é formada, entende das coisas.
Carlinda – Pelo jeito ela só entende de cortar, deve ser uma açougueira, isso
sim.
Dra. Marcela – Eu não vou admitir que vocês fiquem me ofendendo desse jeito,
se não calarem essa matraca vou expulsar todos vocês daqui.
Jupira - Experimenta boneca, pra ver onde você vai parar.
João – Esculacha ela Jupira...uhuuuu...
Maria – Melhor todo mundo se acalmar.
Celeste - Senão eu chamo a segurança.
Chico – Não carece de segurança não moça.
Jovina – Fica quieto Chico e deixa o circo pegar fogo home.
Creide – O meu Dedê não vai sair daqui!
Dra. Marcela – Então vocês serão responsáveis por ele não voltar a andar.
Iranides – A senhora trata ele daqui mesmo, dá os remédios aqui na nossa
frente.
Carlinda – E a gente arranja bastante ovo de galinha pra ele.
Jupira – Eu trago soja e leite, porque eu sou rica e falo ingrêis.
Dra. Marcela – Se ele não fizer a cirurgia ele nunca mais vai andar, fui clara
com vocês? Seus ignorantes!
Todos – Ignorantes???
(Celeste e Maria correm quando a família de Devair se transforma. A família
avança em alvoroço falando ao mesmo tempo na frente da mesa da Dra.
Marcela, Celeste entra com uma serra grita ameaçando cortar a perna do
Devair, todos olham e voltam no alvoroço, daí entra Maria com uma serra
elétrica ligada, um avental sujo de sangue fazendo todos paralisar e correrem de
um lado para outro até ficarem atrás da maca e oferecendo o Devair para a
Maria cortá-lo).

7
Devair – Espera aí dotora, vamo conversar!
Dra. Marcela – Não tem o que conversar os exames dizem que precisa fazer a
cirurgia, então vamos fazer a cirurgia.
Devair – Mas eu já to bem, eu posso provar!
Dra. Marcela – A é, então prova!
Devair – Olha só dotora. (Cai e começa a fazer flexão, planta bananeira, vira
estrela, faz o suicídio, anda de bumbum e se levanta, enquanto isso todos
ovacionam devair).
Jovina – Esse é o meu filhinho!
Chico – Esse é o meu filhão!
Iranides – Devair ocê tá curado!
Carlinda – Eita Devair!
Jupira – Ressuscita Dedé!!!
João – Esse é o Deva!!!
Creide – Meu Dedezinho!
(Todos vão abraça-lo)
Celeste e Maria – Isso é um milagre!!!
Dra. Marcela – Melhor não tocarem nele, preciso examiná-lo, coloquem na
maca (começa o alvoroço para não colocar, Maria ligar a serra elétrica e todos
carregam Devair rapidamente, a doutora vai examinar, Creide fica bem em
cima).
Creide – Tô aqui hein dotora!!!
Dra. Marcela – Jura? Nem tinha percebido!
Devair – Dotora, eu tô bem, olha! (Começa a bater na perna).
Maria – Acho que ouve um equívoco né doutora?
Celeste – Isso acontece muito por aqui.
Dra. Marcela – Calem a boca vocês duas, não estão vendo que isso é um
milagre, Devair é um rapaz abençoado, recebeu sua segunda vida!
Devair – Bom dotora, se eu fui abençoado eu não sei, mas que eu vou ser agora,
eu vou! Jupira já ligou pra ele?
Jupira – Mandei um whats app, e ele já está vindo.
Todos – Quem???
Padre - É aqui a celebração do casamento?

8
Devair – É sim seu Padre, quero dizer uma coisa muito importante pra todos
vocês!
Todos – Fala Devair!!!
Devair – (Ajoelha) Creide quer casar comigo?
Creide – Claro que sim Dedêzinho (Todos começam a chora menos a doutora).
Dra. Marcela – Vamos parar com essa choradeira no meu consultório! (Maria
liga a serra pro lado da doutora).
Dra. Marcela – Seu Padre pode começar o casamento.
Padre – Então vamos celebrar esse casamento. Tem alguém aqui é contra esse
casamento?
Iranides – Eu! (Todos olham para Iranides) Eu não tenho nada contra, isso que
eu ia dizer.
Padre – O Noivo Jura amar a noiva por toda a vida?
João – Vai curintia! Rá, RáRá, ele jura seu Padre.
Devair – Eu juro!
Padre – A noiva jura amar o noivo por toda vida?
Carlinda – Desencana seu Padre, claro que ela jura.
Creide – Eu juro.
Padre - Então eu os declaro marido e mulher, pode beijar a noiva (Se beijam
loucamente).
Chico – Isso merece uma festa.

(Todos dançam)

Fim.

9
10

Você também pode gostar