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Jupira – Amo todos vocês, mas tenho que ir, eu mando notícias, tchau família!
(Creide entra com uma cesta na mão toda faceira e Devair vem atrás e tropeça,
logo sai e entra Iranides e Carlinda)
Iranides – É o Devair!
Carlinda – Vamo contar pra mãe! (Saem e entra Devair e João jogando bola, de
repente passa Creide e desconcentra Devair e João derruba Devair que fica caído
esperando por ajuda, vão entrando os familiares, a Creide e o pai Chico que
retira Devair e o leva até o SUS. Corredores do SUS, enfermeiras passando com
pacientes, familiares do Devair buscando informações sobre ele. As enfermeiras
montam o cenário de sala de atendimento ao paciente).
Dra. Marcela – (Entra senta e começa a escrever) Maria traga o paciente.
Maria – (De dentro) Só um momento doutora (Entram Maria e Celeste
carregando Devair).
Celeste – Como está pesado Maria.
Maria – É sempre assim Celeste, faltam macas e nós que temos que carregar os
pacientes.
Celeste – Chego em casa toda quebrada.
Dra. Marcela - Parem de reclamar vocês duas.
Maria – Me desculpa Dra. Marcela, mas é por que não é a senhora que fica
carregando este marmanjo pra baixo e pra cima.
Celeste – A senhora não aguentaria um dia se tivesse que ficar carregando
pacientes por esses corredores.
Dra. Marcela – Chega de reclamação, deixem o ele aí e vão carregar outros
pacientes (Deixam Devair e saem, entram a família toda e se ajeitam no espaço
olhando para a Dra. Que continua a escrever).
Jovina – Como é que é Dotora! A senhora não para mais de rabiscar, vai furar o
papel hein.
Dra. Marcela – Desculpa quem é a senhora e esse pessoal todo?
Jovina – Ora quem sou eu? Eu sou a mãe do Devair.
Chico – Eu sou o pai do Devair.
Iranides – Eu sou a irmã do Devair.
Carlinda – Eu também sou irmã do Devair.
Jupira – E eu sou a irmã top do Devair.
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Creide – Eu sou a vizinha do Devair.
João – Eu sou amigo do Devair.
Devair – Eu sou o Devair!
Dra. Marcela – Agora que a caravana toda foi apresentada, vou explicar que
tanto eu escrevo. Estes remédios são necessários para o Devair, e além dos
remédios, seu filho necessita de alimentos ricos em soja.
Jovina – Soja?
Dra. Marcela – Sim! Parece feijão, não conhece?
Jovina – Conheço Dra. mas tem gosto de Maria fedida.
Dra. Marcela – É um ótimo alimento.
Jovina – Mas o que tem a ver a soja com o pé do meu filho?
Dra. Marcela – Ele precisa ficar forte para se recuperar mais depressa. Por isso
que a receita é grande, estou passando diversos alimentos importantes para
uma alimentação saudável.
Jovina – E a senhora acha que nós tem dinheiro pra tudo isso?
Dra. Marcela – Vocês moram perto de algum rio?
Iranides – A gente mora sim dona.
Jovina – É dotora, sua malcriada.
Dra. Marcela – Vocês pescam nesse rio? O peixe é um excelente alimento.
Iranides – Nóis pesca só umas miudezas lá.
Dra. Marcela – O que é isso?
Iranides – É traíra, cascudo, lambari, e as veis um papa terra.
Jovina – Acha que seu irmão vai comer peixe com gosto de barro? Óia o que fala
infeliz.
Dra. Marcela – É só tirar o fio que o papa terra tem no lombo, é dele que vem o
gosto de barro.
Iranides – Viu mãe!
Dra. Marcela – E ovos de galinha, a senhora tem?
Jovina – As veiz tem.
Dra. Marcela – Devair precisa comer ovos todos os dias.
Todos – Todos os dias!!!
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Jovina – Ô Dotora, logo agora que eu butei as galinhas pra chocar, a gente
precisa de uns franguinhos pra ajudar a alimentar essa fiarada toda.
Chico – Eu te avisei muié, não põe as galinhas pra chocar, ocê num me ouviu.
Jovina – Cala boca home, num complica minha vida.
Creide – Ô Jovina, eu vi a galinha do pescoço pelado botando ovo lá no pé da
figueira.
Jovina – (Olha brava para Creide) Essa aí Dotora, só se mete porque ta
interessada no Devair, mas se é por uma boa causa né Dotora?
Dra. Marcela - Quanto mais alimentos ricos em proteínas, menos remédios eu
receito.
Carlinda – O que é esse negócio aí Dotora?
Dra. Marcela – Proteínas formam massa muscular.
Chico – A única massa que a gente conhece Dotora, é a massa de pão.
Dra. Marcela – Através das proteínas que formam nossos músculos.
Chico – O Dotora, o Devair tem músculo pra todo lado, a enxada faz ele ficar
muito forte. Ele faz muito sucesso com as meninas lá da vila, puxou o pai.
Creide – E eu dotora, boto todas elas pra correr, pego minha espingarda, abro
meu sorriso de guerra e carco chumbo nelas.
João – É verdade Dotora, ele não pode chegar perto de nenhuma moça da vila
que a Creide vira uma fera.
Dra. Marcela – Que situação não é?
João – Meu amigo passa um apertado com ela Dotora.
Dra. Marcela – A questão que sem proteínas ele pode ter uma gangrena na
perna.
Devair – Dotora, eu não sei o que é isso não mas dói muito?
Dra. Marcela – Com este medicamento teremos tempo pra esperar.
Iranides – Esperar o que Dotora?
Dra. Marcela – Ele ficar mais forte.
Devair – No começo era só o dedo, agora ta subindo pela perna toda.
Chico – Devair precisa ficar bom logo Dotora, tem que voltar a trabalhar.
João - E a jogar bola comigo.
Creide – E eu preciso dele pra mim.
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Devair – Melhor eu ficar sem trabalhar um bom tempo.
Jovina – Cala boca moleque, tem que sair logo daí e ajudar na casa.
Dra. Marcela – (Faz um carinho em Devair) Ele não poderá trabalhar por um
bom tempo até se recuperar.
Creide – Olha essa mão hein Dotora.
João – O Deva vai ter que se recuperar primeiro Jovina.
Jovina – Fica quieto que ôce só sabe leva ele pra chutá bola, aí no que deu!
Creide – O meu Dedê precisa se recuperar Jovina.
Jovina – Ôce é otra que fica atrapaiando ele no serviço atrais de bejim daqui e
dali.
Carlinda – Ô mãe, o Devair não vai poder voltar a trabaiá até ficar bom.
Jovina – E ocê fica quieta que eu sei o que eu faço.
Carlinda – Sabe, mas agora o Devair tá aí sem poder levantar.
Iranides – É mãe, o Devair tem que repousar bem, a senhora ouviu a dotora.
Jovina – Ocês duas sabem muito bem que o pai docês não aguenta levantar
uma paia do chão, óia o desanimo desse home. Levanta essa cabeça
Chico!
Jupira – Ai mamis, não fala assim com o papis.
Dra. Marcela – E quem é essa mocinha toda bem arrumada?
Jupira – Mais neimis é Jupira Vittar!
Creide – Essa foi cedo morar na cidade Dotora.
João – Anda o dia todo de salto alto e batom na boca.
Jupira – E o Kiko? Coragem!!!
Dra. Marcela – Eu não entendo vocês. Moram em fazenda mas, não
tomam leite, não comem ovos, não comem pão, nem queijo, não sabem fazer
nada!
Devair – Dotora tá doendo, quando vou ficar bom?
Dra. Marcela – Logo as enfermeiras voltam para dar mais remédio.
Devair – Mais remédio Dotora (chora)?
Iranides – Não chora Devair, logo ocê melhora e volta pra casa.
Carlinda – A gente vai tirar ocê daqui logo, logo.
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Creide – (Faz um carinho em Devair) Ai meu Dedê...
(Entram as enfermeiras para dar injeção)
Maria – Com licença Doutora.
Celeste – Viemos medicar o Devair.
Maria – Celeste, prepare a injeção... (todos os parentes e amigos correm e se
amontoam no canto).
Celeste – A injeção é no bumbum.
Maria – Alguém pode ajudar a virar o Devair?
Carlinda – Jupira!!!
Jupira – Eu vou, porque eu sou uma pop istares.
João – Eita cabra macho!!!
Jupira – Ressuscita Jhon!
(As enfermeiras aplicam a injeção)
Maria – Doutora, aqui está o exame do Devair.
Dra. Marcela – (Examinando) Muito bem, podem levar o Devair para a sala de
cirurgia.
Todos – Cirurgia???
Celeste – Sim, na perna do Devair.
(Começam a se despedir dele como se estivesse morrendo).
Creide – Vão tirar a perna do meu Dedê? Meu Deus como vou suportar essa
perda?
João – Com quem vou jogar bola no fim de semana? Meu parceirão!
Iranides – Meu irmãozinho querido, sempre me protegeu, que triste!
Carlinda – Às vezes a gente brigava, mas depois a gente fazia as pazes, vô postar
a fotinha de luto no face.
Chico – Que triste perder um filhão assim!
Jovina – Era quem sustentava nossa casa, e agora como vai ser?
(Começam a chorar)
Jupira – Eeeepa!!! Stops plizi, parou com a choradeira aqui...
Maria – Isso mesmo Jupira!
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Jupira – Segura que eu tô falando mini bonequinha, congela, xarope plizi.
Ninguém morreu aqui, não entendo essa choradeira toda? Me poupem minha
beleza gente.
Jovina – Isso mesmo filho, opa filha, ô Dotora, o Devair é quem sustenta lá em
casa, tem que liberar ele.
Dra. Marcela – Eu sinto muito, mas os exames dizem que só com a cirurgia ele
vai poder andar.
Iranides - Dotora, deve ter outro jeito, a senhora é formada, entende das coisas.
Carlinda – Pelo jeito ela só entende de cortar, deve ser uma açougueira, isso
sim.
Dra. Marcela – Eu não vou admitir que vocês fiquem me ofendendo desse jeito,
se não calarem essa matraca vou expulsar todos vocês daqui.
Jupira - Experimenta boneca, pra ver onde você vai parar.
João – Esculacha ela Jupira...uhuuuu...
Maria – Melhor todo mundo se acalmar.
Celeste - Senão eu chamo a segurança.
Chico – Não carece de segurança não moça.
Jovina – Fica quieto Chico e deixa o circo pegar fogo home.
Creide – O meu Dedê não vai sair daqui!
Dra. Marcela – Então vocês serão responsáveis por ele não voltar a andar.
Iranides – A senhora trata ele daqui mesmo, dá os remédios aqui na nossa
frente.
Carlinda – E a gente arranja bastante ovo de galinha pra ele.
Jupira – Eu trago soja e leite, porque eu sou rica e falo ingrêis.
Dra. Marcela – Se ele não fizer a cirurgia ele nunca mais vai andar, fui clara
com vocês? Seus ignorantes!
Todos – Ignorantes???
(Celeste e Maria correm quando a família de Devair se transforma. A família
avança em alvoroço falando ao mesmo tempo na frente da mesa da Dra.
Marcela, Celeste entra com uma serra grita ameaçando cortar a perna do
Devair, todos olham e voltam no alvoroço, daí entra Maria com uma serra
elétrica ligada, um avental sujo de sangue fazendo todos paralisar e correrem de
um lado para outro até ficarem atrás da maca e oferecendo o Devair para a
Maria cortá-lo).
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Devair – Espera aí dotora, vamo conversar!
Dra. Marcela – Não tem o que conversar os exames dizem que precisa fazer a
cirurgia, então vamos fazer a cirurgia.
Devair – Mas eu já to bem, eu posso provar!
Dra. Marcela – A é, então prova!
Devair – Olha só dotora. (Cai e começa a fazer flexão, planta bananeira, vira
estrela, faz o suicídio, anda de bumbum e se levanta, enquanto isso todos
ovacionam devair).
Jovina – Esse é o meu filhinho!
Chico – Esse é o meu filhão!
Iranides – Devair ocê tá curado!
Carlinda – Eita Devair!
Jupira – Ressuscita Dedé!!!
João – Esse é o Deva!!!
Creide – Meu Dedezinho!
(Todos vão abraça-lo)
Celeste e Maria – Isso é um milagre!!!
Dra. Marcela – Melhor não tocarem nele, preciso examiná-lo, coloquem na
maca (começa o alvoroço para não colocar, Maria ligar a serra elétrica e todos
carregam Devair rapidamente, a doutora vai examinar, Creide fica bem em
cima).
Creide – Tô aqui hein dotora!!!
Dra. Marcela – Jura? Nem tinha percebido!
Devair – Dotora, eu tô bem, olha! (Começa a bater na perna).
Maria – Acho que ouve um equívoco né doutora?
Celeste – Isso acontece muito por aqui.
Dra. Marcela – Calem a boca vocês duas, não estão vendo que isso é um
milagre, Devair é um rapaz abençoado, recebeu sua segunda vida!
Devair – Bom dotora, se eu fui abençoado eu não sei, mas que eu vou ser agora,
eu vou! Jupira já ligou pra ele?
Jupira – Mandei um whats app, e ele já está vindo.
Todos – Quem???
Padre - É aqui a celebração do casamento?
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Devair – É sim seu Padre, quero dizer uma coisa muito importante pra todos
vocês!
Todos – Fala Devair!!!
Devair – (Ajoelha) Creide quer casar comigo?
Creide – Claro que sim Dedêzinho (Todos começam a chora menos a doutora).
Dra. Marcela – Vamos parar com essa choradeira no meu consultório! (Maria
liga a serra pro lado da doutora).
Dra. Marcela – Seu Padre pode começar o casamento.
Padre – Então vamos celebrar esse casamento. Tem alguém aqui é contra esse
casamento?
Iranides – Eu! (Todos olham para Iranides) Eu não tenho nada contra, isso que
eu ia dizer.
Padre – O Noivo Jura amar a noiva por toda a vida?
João – Vai curintia! Rá, RáRá, ele jura seu Padre.
Devair – Eu juro!
Padre – A noiva jura amar o noivo por toda vida?
Carlinda – Desencana seu Padre, claro que ela jura.
Creide – Eu juro.
Padre - Então eu os declaro marido e mulher, pode beijar a noiva (Se beijam
loucamente).
Chico – Isso merece uma festa.
(Todos dançam)
Fim.
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