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"Aquiles ou Judas: Lembranças eternas de uma vida estúpida"

Em um mundo marcado pela fugacidade do tempo, onde as memórias se dissipam como


poeira ao vento, surge a indagação fundamental: você quer ser lembrado? E, caso a
resposta seja afirma va, até quando e de que forma? A busca pela eternidade, um
conceito aparentemente ina ngível, tem inspirado ações grandiosas e infames ao longo
da história da humanidade, deixando-nos legados tão dis ntos quanto as vidas de
Sócrates, Aristóteles, Aquiles, Jesus Cristo ou Judas.
As palavras do imperador Hamurabi ressoam como um eco do passado, revelando a
intencionalidade por trás da busca pela eternidade. Ao ser convocado por Anu e Bel,
Hamurabi se viu incumbido da missão de implantar a jus ça na terra, erradicar o mal e
proteger os fracos da opressão dos fortes. Sua intenção clara era eternizar-se através da
promoção do bem-estar do povo, em uma missão divina. Uma busca pela imortalidade
na história escrita em códigos legais.
De maneira similar, Aquiles, o herói lendário da mitologia grega, buscou a eternidade ao
aconselhar-se com sua genitora, uma profe sa que vislumbrou a perpetuação do nome
de seu filho através da morte. Diante da escolha entre uma vida longa e anônima e a
morte gloriosa que garan ria a imortalidade de seu nome, Aquiles optou pela úl ma,
marcando seu des no na trama eterna da memória humana.
Por outro lado, surge Judas Iscariotes, uma figura que, ao contrário de Hamurabi e
Aquiles, não almejava a imortalidade por meio de feitos nobres. Judas, movido pela
avareza, buscou apenas trinta moedas de prata em troca de trair Jesus. No entanto,
paradoxalmente, sua traição acabou por eternizá-lo, tornando seu nome sinônimo de
traição ao longo dos séculos.
Ao explorarmos os anais da história, deparamo-nos com figuras eternas que
transcenderam o tempo, seja para o bem ou para o mal. De Einstein, cujas teorias
revolucionaram a sica, a Hitler, cujas ações são associadas a dor e destruição, esses
personagens, cada um a seu modo, conquistaram um lugar na eternidade das memórias
cole vas.
Alexandre, o Grande, Tutancâmon, com suas grandezas e limitações, também integram
o rol da eternidade, lembrando-nos de conquistas épicas e impérios que se ergueram e
caíram. A dualidade entre glórias e limitações, presentes em cada um desses indivíduos,
ressalta a complexidade da eternidade e como ela se tece nos fios do tempo.
Contudo, no presente, somos testemunhas de uma mudança de paradigma. A cultura e
a formação acadêmica são acessíveis como nunca antes, mas, paradoxalmente, a moral,
a é ca e os princípios muitas vezes são relegados a segundo plano. Estamos na
contramão da direção traçada por imperadores e heróis mitológicos, pois, enquanto
acumulamos conhecimento, perdemos de vista os alicerces é cos que deveriam
sustentar nossas ações.
Neste cenário contemporâneo, a busca pela eternidade parece ter se deslocado do
âmbito das grandes realizações para o terreno instável da notoriedade instantânea,
alimentada pelas redes sociais e pela cultura do espetáculo. O culto aos efêmeros e a
exaltação do imediato, muitas vezes, relegam a construção de um legado consistente e
significa vo.
Assim, somos desafiados a refle r sobre a natureza da eternidade em meio a um mundo
que se transforma rapidamente. Aquiles e Judas, figuras tão dis ntas, nos deixam o
legado de escolhas que moldaram seus des nos de maneiras inesperadas. Ao
considerarmos nossas próprias vidas, é válido ques onarmos: como desejamos ser
lembrados? E será que, em nossas ações co dianas, estamos construindo uma narra va
que transcenderá as limitações do tempo, ou estamos meramente buscando o brilho
efêmero da fama passageira?
Temos um convite à reflexão sobre a busca pela imortalidade em um mundo marcado
pela fugacidade, uma jornada através dos meandros da história e da alma humana, onde
as escolhas moldam não apenas o presente, mas também o legado que deixamos para
as gerações futuras.

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