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Legal Design

Teoria e Prática
Índice
Sobre os autores 03

História do Design 07

Processos de Design 15

Cultura Open Source e No Code Movement 35

Lawtechs e Legaltechs 41

Tendências tecnológicas 47

Elementos visuais e o Direito 53

Artigos dos convidados 62

Referências 75

Legal Design: Teoria e Prática 02


Sobre os autores

Lucas Gouvea Carmo: Sobre a Polvo Legal

Advogado, ajudou a construir legaltechs como YourBase, Direito No Ar e Somos uma empresa de Design especializada no setor jurídico. Através
Polvo Legal. Professor de Legal Design na Legal Hub. de técnicas de UX e UI criamos soluções para problemas neste nicho.

Já fundou um escritório de advocacia também, quando se deparou com o Tanto faz se você quer criar uma legaltech, tem algum gargalo em seu
mundo de startups e percebeu que o Direito, aliado à tecnologia e ao escritório, se apenas deseja melhorar seus documentos jurídicos ou se
design, poderia melhorar muito a prestação jurisdicional. tem alguma empresa que queira uma solução jurídica inovadora.

/in/lgouveacarmo A Polvo Legal atende a todos estes. Além disso, temos o objetivo de nos
tornamos uma legal venture builder, uma empresa que cria e escala
legaltechs.

Caio Barbosa:
Já temos uma legaltech lançada, a Dado Seguro. E muitas outras por vir.
Fique por dentro de nossas redes para saber mais:
Estudante de Direito na UFRJ, atualmente no 9º período. Migrou de
carreira em meio à faculdade, ao entrar de cabeça no universo do Design
@polvolegal
e Product Management, e hoje atua como UX/UI Designer na Jovens
Gênios. É Co-Founder e Product Designer na Polvo Legal, e Co-Founder e
/company/polvolegal
CEO da Liga de Direito e Tecnologia da UFRJ.

contato@polvolegal.com.br
/in/caiobarbosazacarias

Legal Design: Teoria e Prática 03


Introdução
Como praticantes de Design e de Direito, nos deparamos com a carência
de material didático sobre a matéria. Desde um arcabouço teórico até
casos concretos de aplicação do Legal Design, não é fácil encontrar este
material, principalmente em português.

Esse livro digital se destina àquelas mentes inquietas, que certamente já


varreram a web atrás de um material que pudesse finalmente responder a
perguntas essenciais, como:

• O que é Legal Design?

• Como aplicar o Legal Design? É realmente útil?

• Qual a diferença entre Legal Design e Visual Law?

• O que são metodologias ágeis?

• E muito mais.

Legal Design: Teoria e Prática 04


Direito e Design

Por mais contra intuitivo que pareça, Direito e design tem aplicações Em suma, se há um desafio no setor jurídico a ser resolvido, uma ideia a
práticas e teóricas. ser implementada, de modo a se livrar das amarras do conservadorismo,
a aplicação de técnicas de Design irá ajudar muito. Isto porque é possível
Conforme explicação nos próximos tópicos, as pesquisas são a essência usar a criatividade com segurança, documentar todo o processo e deixar
do UX (User Experience), a experiência do usuário.

todos na mesma página.

Todos os dados obtidos, com a finalidade de entender a dor do mercado, Esse último fator é muito importante, pois geralmente quem toma as
a existência deste, o modelo de monetização de uma solução, o perfil decisões no mundo jurídico são pessoas com uma mentalidade mais
psicográfico dos clientes de uma empresa, o melhor layout para uma formal. Se a informação lhe for passada de maneira simples, com os
aplicação, podem ser transportadas para o Direito. dados necessários, talvez a decisão seja tomada com mais facilidade,
independente se for um sim ou um não.
Mas como? Bem, através dos insights gerados nessa fase, é possível
entender melhor os clientes de um escritório de advocacia, por exemplo. Em relação à simplicidade, essa característica, que geralmente passa
Também é viável compreender como eles se relacionam com os despercebida pelos advogados, pode ser reavaliada pela ótica do Design.
documentos gerados pelos advogados. Isso porque, uma das tendências de Design dos últimos anos foi a
simplicidade, com a geração de interfaces minimalistas com abuso de
Insights podem ser compreendidos como fragmentos de ideias, os quais espaços negativos (white spaces).
são gerados durante a investigação. Estes pedaços vão, pouco a pouco,
gerando a ideia principal, a solução para o problema em questão. Assim, pode-se aplicar tanto esse estilo em interfaces de documentos
jurídicos, quanto no linguajar utilizado na comunicação com o cliente.
A partir dessa fase, a equipe pode decidir como melhorar o fluxo de Uma grande diferença positiva já pode ser gerada, mesmo que com uma
trabalho do escritório, fazer mudanças no layout dos documentos (visual mera simplificação da comunicação com os envolvidos.
law), de modo a melhorar a experiência, gerar mais conversões de
clientes e melhorar a compreensão do texto.
Hoje em dia, o Legal Design já é ensinado em diversas faculdades mundo
afora, como por exemplo em Harvard, Stanford e até mesmo a FGV no Rio
de Janeiro. Isso sem mencionar escolas de inovação jurídica que estão na
frente dessa revolução do ensino.

Legal Design: Teoria e Prática 05


As possibilidades de aplicação do direito e do design é muito variada. O retorno é imenso, e já é possível ter noção do retorno sobre o
Podemos utilizar processos de design para resolver desde problemas de investimento em uma pesquisa de experiência do usuário. Basta se
acesso à justiça, até gestão de casos e documentos. comunicar efetivamente e ter uma cultura corporativa saudável, que a
mágica acontece.
Há aplicações também para melhorar a comunicação jurídica, para
conscientizar pessoas sobre seus direitos e evitar a judicialização. Nesse Portanto, fica simples entender o porquê de o legal design se encontrar
último caso, por exemplo, o Mercado Livre tem um caso de sucesso. na interseção entre direito, tecnologia e design. Neste meio de
conhecimento jurídico, a partir dos processo criativos advindos do
Eles notaram que, na maioria dos processos ajuizados, as pessoas não design, e da viabilidade técnica e versatilidade da tecnologia, soluções
tentavam nem um contato com eles. Assim, fizeram uma campanha para das mais variadas podem surgir e originar muitos ganhos sociais.
convidar seus clientes mais raivosos a conciliar.

Há aplicações também para melhorar a comunicação jurídica, para


conscientizar pessoas sobre seus direitos e evitar a judicialização. Nesse
último caso, por exemplo, o Mercado Livre tem um caso de sucesso.

Eles notaram que na maioria dos processos ajuizados, as pessoas não


tentavam nem um contato com eles. Assim, fizeram uma campanha para Tech Direito
convidar seus clientes mais raivosos a conciliar.

Design Legal Design


Quando a empresa está disposta a diminuir seus litígios e fazer boas
políticas de acordo, os consumidores podem se sentir reparados. O
interessante neste case é que a solução foi idealizada por meio de um
processo de Design. Uma vez que há um setor de UX muito forte na
empresa, os usuários são muito estudados, e a comunicaçao com eles
ajustada.

Legal Design: Teoria e Prática 06


Capítulo 1

História do Design
História do Design
Antes de explicar a relação entre direito e design, nós, como mente
jurídicas, sempre buscamos entender a história para poder sair da
superficialidade e investigar os fenômenos em sua totalidade, na medida
do possível.

Gótico
Na idade média, o status quo admirava a estética gótica, principalmente
com igrejas, edifícios e formas que faziam alusão ao Todo Poderoso. Blut
und Erde (Sangue e Terra) era um dos princípios da época, muito
presente naqueles móveis escuros de madeira talhada com ilustrações de
santos, diabos e cruzes.

Legal Design: Teoria e Prática 08


Industrialização

No século XIX, com a industrialização a todo vapor, os objetos e a formas


se tornaram mais utilitaristas e funcionais. As grandes exposições
mundiais sobre a modernidade, que ocorriam em países expoentes da
industrialização e da arte como Inglaterra e França, mostravam opulência
com os maquinários e ferramentas.

É evidente que a aplicação industrial trouxe reflexos para todo o design,


desde móveis, equipamentos, roupas, tipografia, mídia impressa, dentre
outros.

Houve, inclusive, nesta época um movimento Gótico forte em


contrapartida a todo o avanço tecnológico. A Alemanha, sob o comando
do Partido Nazi, impôs a todo o seu país, bem como em países
dominados, a ornamentação de casas e edifícios sob o manto do “Blut
und Erde”: o sangue e terra, que alude a paleta de cor do folclore ariano
(vermelho escuro e marrom).

Alguém aí lembrou dos escritórios de advocacia “antigos” com mobílias


neste estilo? É essa influência que permanece até hoje em setores
tradicionais, desejosos de passar uma imagem de seriedade.

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Arts and Crafts

Os movimentos artísticos e de design são fluídos e, assim como no caso


de um refluxo gótico durante a industrialização, outros movimentos
permearam a história e também o futuro.

Assim, esse movimento que se assemelha ao bucolismo, criticava a


industrialização, pois desvalorizava o verdadeiro artesão, que fazia os
utensílios mais belos e úteis.

Esta corrente priorizava o contato com a natureza e a simplicidade do


viver. Implicou não apenas na literatura, mas também nas artes e em
padrões sociais.

Os consumidores, atualmente, querem saber a procedência dos produtos


que consomem e parecem estar mais preocupados com a natureza,
tendência que lembra muito o movimento de arts and crafts.

Legal Design: Teoria e Prática 10


Bauhaus

O movimento bauhaus se iniciou em 1919, no início da Primeira Guerra


Mundial, por obra de Walter Gropius, designer renomado à época. Foi
literalmente uma “casa para construção”, com muita influência da
arquitetura, que se conectava com o design e a arte.

A formação dos alunos era diferenciada, pois antes de adentrar cada área
específica do estudo do design, havia um ano apenas de introdução aos
materiais, cores, texturas e tipografia.

Após este ano, os alunos escolhiam a especialização e exploravam ao


máximo os limites do óbvio durante os anos de formação. A influência da
Bauhaus segue até hoje e é um símbolo do modernismo, que trouxe
minimalismo, simplicidade e leveza, além de uma primazia pelas formas
básicas (triângulo, quadrado e círculo).

A indústria Americana utilizou esse recurso ao extremo, com cidades


repletas de arranha céus e produtos que denotavam agilidade e
ferocidade. Esta americanização deturpou os princípios da Bauhaus e
cunhou o nome de American Industrial Design.

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Modernismo

O modernismo, ao longo do século XX, iria juntar os valores estéticos e os


funcionais. Valorizava a arte e também a escala que a industrialização
poderia trazer. Abriu espaço para a vanguarda artística.

Um grupo de jovens arquitetos e engenheiros dessa cidade, que


começou a projetar edifícios muito diferentes dos neoclássicos ecléticos
e neogóticos, deu origem à Escola de Chicago.

Essa escola possibilitou o início dos arranha-céus, o que apenas foi


possível por conta da tecnologia do elevador. A funcionalidade era o
mote. Nesta época que o expoente da arquitetura Louis Sullivan firmou o
termo "a forma segue a função”. Em alemão, esse movimento se chama
Jugendstil; em italiano, Floreale.

Nesta época surge também o Art Noveau, que deixa um pouco de lado o
funcionalismo e foca na ornamentação, mas dá conta também de inserir
seus produtos na linha de produção. Aqui podemos ver a influência do
Arts and Crafts.

Legal Design: Teoria e Prática 12


Pós-Modernismo

O modernismo tinha morrido, de acordo com os pós modernistas. Eles


passaram a maior parte do século XX baseando-se em verdades
científicas. Para eles, menos era mais; para os pós modernistas, menos
era chato.

Eles queriam inovar na forma fazendo collages, modificações e


repetições, alterar a forma das coisas e misturar estilos. Havia muitas
críticas, como o apreço à forma e o exagero de ornamentação. Foi
disseminado no mundo com a globalização cada vez mais potente, e
ainda está presente em superstars como Lady Gaga e nas obras de Andy
Warhol.

Não se trata de uma filosofia, mas uma perspectiva de pensamento.


Também é conhecido como pós-estruturalismo. As bases de nossa
sociedade são construções irreais, e assumimos que assim o são por
conta da estrutura de poder. Um dos conceitos que o pós-modernismo se
propõe a acabar é o do bom e do mal. Certamente é uma das escolas que
propulsiona a inovação e a exploração das formas e objetos.

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Fatores Humanos/Ergonomia

Os fatores humanos visam aumentar a eficiência e bem-estar do trabalho,

através da compreensão da relação do ser humano com os sistemas

pelos quais o trabalho se materializa, tanto física quanto virtualmente. Em

2020, a International Ergonomics Association aprovou uma definição

sobre ergonomia:

"Disciplina científica que estuda as interações entre os seres humanos e

outros elementos do sistema, é a profissão que aplica teorias, princípios,


“Aumentar a eficiência do trabalho humano,
dados e métodos, a projetos que visem otimizar o bem estar humano e o

desempenho global de sistemas". fornecendo dados para que este trabalho

possa ser dimensionado de acordo com as


Repare-se que trabalho deve ser entendido em um conceito mais amplo
reais capacidades e necessidades do
de qualquer interação humana com determinado produto, serviço e cada
organismo.”
vez mais com softwares pelos quais se veiculam serviços ou produtos.

UDA, itiro

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Capítulo 2

Processos de Design
Um dos motivos para o Design se tornar
tão popular, é a maneira de pensar dos
Designers, que através da observação da
realidade, extraem suposições e as
transformam em hipóteses verificáveis.

Legal Design: Teoria e Prática 16


Human Centered Design

Human Centered Design se trata de uma abordagem de resolução de


problemas, comumente utilizada em frameworks de Design e Gestão para
desenvolver soluções ao envolver a perspectiva humana em todas as
etapas do processo criativo.

Seu principal objetivo é desenvolver sistemas e produtos que possam


ajudar a resolver questões já existentes. Enquanto, no passado, o
mercado buscava desenvolver soluções para problemas que podiam ou
não aparecer (baseado em achismos), hoje dedica-se tempo para aquilo
que será realmente útil ao usuário.

Possui 3 principais benefícios: transformar dados em ideias


implementáveis; facilitar a identificação de novas oportunidades; e
aumentar a velocidade e eficácia na criação de novas soluções. Seu
pilares são a Empatia, a Colaboração e a Experimentação.

Legal Design: Teoria e Prática 17


Design Thinking

O Design Thinking, por sua vez, possui bases no Human Centered Design, Empatia -> Fase de conhecimento sobre necessidades e desejos. Ouvir,
por se tratar de uma abordagem centrada no ser humano, com foco em ver e sentir. Perceber o cliente e colocar-se no lugar dele.

inovação, que integra as necessidades das pessoas, as possibilidades Definição -> Análise dos dados obtidos no processo de empatia. A partir
tecnológicas e a viabilidade para o sucesso. do problema identificado, Definir uma rota a ser seguida.

Ideação -> Gerar o máximo de soluções possíveis, com base nas


O modelo mais famoso do Design Thinking é o da Stanford Design necessidades apresentadas pelo usuário.

School, que leva em conta as seguintes fases: Prototipação -> Transformar as ideias em prática. Um protótipo pode ser
qualquer coisa com a qual o usuário pode interagir.

Teste -> Apresentar os protótipos criados ao cliente e buscar feedback.


Serve para refinar ideias e aprender mais sobre o usuário.

Ideação Teste

Empatia

Definição Prototipação

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Essa metodologia é inovadora, pois aplica-se o método científico ao
processo de Design. Lembram o que é método científico? Através da
observação (etapa essencial do processo de Design), verifica-se
hipóteses. Após essa fase, são realizadas pesquisas, as quais levam à
validação ou invalidação das teses. "Design Thinking é um processo iterativo
no qual buscamos entender o usuário,
Desse modo, foi possível trazer segurança e respaldo à criatividade dos propor suposições e redefinir problemas na
designers. É muito interessante, pois trata-se de uma mistura de ciência
com arte, onde todas as ideias são estimuladas, inclusive as mais fora da tentativa de identificar estratégias e
curva. soluções alternativas que, podem ou não,
ser instantaneamente aparentes com o
nosso nível inicial de entendimento. Ao
mesmo tempo, o Design Thinking fornece
uma abordagem baseada em solução para
resolver problemas. É uma maneira de
pensar e trabalhar, além de uma coleção de
métodos práticos."

Interaction Design Foundation

Legal Design: Teoria e Prática 19


Duplo Diamante

Em relação à aplicação do Design Thinking, entre os métodos possíveis, Ao nos deparar com a figura abaixo, podemos ver que a dinâmica
um dos mais conhecidos é o Duplo Diamante. Nele, separa-se as etapas consiste na expansão de ideias, com posterior refinamento, fase após
do Design Thinking em 4 fases - Descobrir, Definir, Desenvolver e fase, de modo a absorver todos os pensamentos da equipe e colocá-los
Entregar -, nas quais são projetados 4 triângulos que se assemelham a em prática.
diamantes, de modo que cada um represente uma etapa do processo,
bem como ilustre as divergências e convergências de pensamentos da
equipe em volta do projeto.

CO

CO
A

A
CI

CI
NV

NV
ÊN

ÊN
ER

ER
RG

RG


VE

VE
NC

NC
DI

DI
IA

IA
DESCOBRIR DEFINIR DESENVOLVER ENTREGAR

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User Experience

User Experience (Experiência do Usuário) é o conjunto de elementos e


fatores relativos à interação do usuário com um determinado produto,
sistema ou serviço cujo resultado gera uma percepção positiva ou
negativa. É, portanto, um elemento crucial na relação
fornecedor-consumidor e o principal causador de possíveis atritos nessa
relação.

Alguns dos pilares de um processo de UX são: utilidade, pois é


necessário criar produtos e soluções que sejam de fato úteis para o
usuário final; prazer, ao promover interações e experiências prazerosas
de uso/contato com o produto ou serviço; e facilidade, de modo que o
produto seja de fácil uso/entendimento. Esses conceitos são alcançados
por meio de um trabalho de muita pesquisa e estratégias de validação de
hipóteses, o que chamamos de UX Research.

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UX Research

A pesquisa em UX, ou UX Research, é a investigação dos usuários, sua


necessidades e suas dores, a fim de dar mais contexto e gerar insights
para o processo de criação da experiência. É um processo recheado de
métodos, diretrizes e técnicas possíveis, mas que não tem, de maneira
restrita, uma forma específica de ser feito.

As melhores práticas de heurísticas podem ser um ponto de partida para


o Design, mas não deve-se descartar a validação com usuários. Estudos
apontam que as revisões de heurísticas geralmente só resolvem +-40%
dos principais problemas de usabilidade, e em torno de 30% entre os
menores problemas, fato este que comprova a necessidade de realizar
pesquisas com os usuários.

Possíveis objeções à pesquisa:

• "É muito caro"

• "Não é estatisticamente significativo"

• "Eu não posso vender isso para um cliente"

• "Vai levar muito tempo"

• "Não podemos mostrar informações de nossa propriedade"

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Benefícios do UX Research

Melhores produtos Produtos fáceis de usar ganham mais dinheiro

Um processo que envolva usuários e negócio ao mesmo tempo cria O processo de User Centered Design fornece o rigor que garante que os
resultados com propósito e com objetivos alcançáveis. objetivos comerciais sejam atendidos e, ao mesmo tempo, proporcione a
melhor experiência do usuário - para que todos ganhem.
Menor risco
Aumento na porcentagem de conversão e/ou indicação
Um produto digital pode nunca ser verdadeiramente acabado, mas uma
abordagem de User Centered Design resultará em produtos com menor Ao fornecer uma experiência boa para seu cliente, há uma enorme
risco de falha. probabilidade de que ele passe a indicar seu produto para amigos e
familiares.
Mais barato para resolver problemas
Aumento na satisfação do cliente
Ao envolver os usuários no desenvolvimento do produto, é possível
entender o que não funciona logo no início. Assim, se economiza tempo e Uma boa experiência deixa os clientes mais felizes, sejam eles pessoas
dinheiro. físicas ou jurídicas.

Insights

Pesquisando, descobre-se oportunidades de diferenciar produtos e obter


vantagens competitivas. As decisões de Design, afinal, devem ser
baseadas em evidências, e não em opiniões (Data-driven).

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Tipos de pesquisa

No objetivo de observação

Comportamental -> Mede o que os usuários realmente fazem,


fornecendo dados sobre como os usuários interagem com seu produto.
Em resumo, "o que o usuário faz".

Atitudinal -> Buscam reunir informações sobre os pensamentos,


sentimentos, necessidades, atitudes e motivações dos usuários. Em
resumo, "o que o usuário diz".

Na maneira de analisar os dados

Qualitativa -> Tenta responder perguntas do porque e como consertar


um problema. Também é utilizada para descobrir tendências de
pensamento e opiniões.

Quantitativa -> Utilizada para quantificar o problema por meio da geração


de dados númericos. Tenta-se descobrir padrões e mensurar fatos.
Mostrar o quanto em números de respostas.

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Ao decidir um escopo de pesquisa, deve-se analisar os objetivos do
negócio e alinhar expectativas com os respectivos stakeholders para um
melhor entendimento do resultado esperado. É possível mesclar os
diversos tipos supracitados para utilizar técnicas diferentes, de modo a
extrair a maior quantidade possível de informações de seus usuários.

Exemplos:

Pesquisa atitudinal + qualitativa -> Realização de entrevistas com


usuários; dinâmicas de Design Participativo.

Pesquisa comportamental + quantitativa -> Testes A/B; Teste de 5


Segundos; Formulários de múltipla escolha.

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User Interface

User Interface Design (Design de interface do usuário), é o termo


utilizado para definir como determinado site, software ou aplicativo
interage com o usuário e as técnicas utilizadas para que essa interação
ocorra da melhor maneira possível. É a parte visual, com a qual o usuário
tem contato e por meio da qual toda a experiência desenvolvida na parte
de UX é entregue.

Alguns dos entregáveis possíveis na etapa de criar interfaces são os


chamados Wireframes, que seriam o “esqueleto” das telas de um
aplicativo, por exemplo; Styleguides, ou Guias de Estilo, documentações
de componentes padronizados, como tipos de botões, tipografia, cores,
entre outros; e os Protótipos Navegáveis, representações, medidas em
níveis de fidelidade, da plataforma final.

Há, ainda hoje, uma percepção equivocada de que Design é apenas


“desenhar telas bonitas”. A interface, por ser o entregável final e,
portanto, a parte mais exposta de todo o processo criativo, dá a
impressão de que a “tela” é a função principal de um Designer.

Ocorre que, para chegar no conceito final de uma tela, são necessárias
todas as percepções, insights e estratégias geradas na etapa de
pesquisa. Toda a documentação desenvolvida serve como base para a
criação da experiência de interação, desde os primeiros rascunhos. Há,
dessa forma, uma grande necessidade de se estabelecer um processo de
Design bem definido para garantir que a interface do produto seja
projetada da melhor forma possível, ao levar em conta os objetivos do
negócios e a entrega de valor para o usuário.

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Design Participativo

O Design se ramificou de uma maneira que não se imaginava. Mesmo


sendo uma disciplina com bases epistemológicas fracas, isto é, que não
possui postulados e regras pré estabelecidas, assim como as ciências
exatas, a sua função na sociedade vem aumentando consideravelmente.

Um dos motivos para tanto é a maneira de pensar dos Designers, que


através da observação da realidade, extraem suposições e as
transformam em hipóteses verificáveis. Outra peculiaridade que torna o
Design muito útil atualmente é a colaboração, cuja importância é tão
grande que inclusive deu origem a uma subárea chamada Design
Participativo.

Neste campo, onde indivíduos atuam coletivamente para solucionar


problemas complexos, há o estudo dos Commons. Nas palavras de Anna
Seravalli, professora de Design Participativo na Universidade de Malmo:

“Para o Design, commons representam recursos compartilhados, formas


colaborativas de produção de valor. São também uma via alternativa para
organizar a propriedade e o acesso a recursos além do privado e do
público. Os participantes têm acesso, usam e mantém os recursos
compartilhados e coletivamente decidem como cumprir os objetivos.
Podem ser entendidos como arranjos colaborativos para produção de
valor, baseado em princípios participativos”.

Legal Design: Teoria e Prática 27


Ora, esse termo “Commons” pode ser traduzido para o juridiquês como o Por fim, podemos concluir que tudo é informação. O que num primeiro
adjetivo “comunal”, velho conhecido dos causídicos. Essa filosofia, de olhar apressado pode parecer aleatório e caótico, após uma análise mais
encarar bens materiais e imateriais a partir de um olhar colaborativo e acurada se transforma em padrões e predições de grande utilidade. Essa
coletivo, foi transportada para a ciência de dados. abordagem poderia ter um grande impacto nas questões sociais mais
prementes, desde que utilizadas de maneira ética e transparente, é claro.
Assim surgiu o Open Data Commons, campo de atuação onde iniciativas
open source agrupam dados das mais variadas fontes. A partir de uma
plataforma onde petabytes de dados se tornam acessíveis e ganham
significado para que novas aplicações sejam criadas.

Através de APIs (comunicação máquina-máquina), desenvolvedores


podem criar softwares que combinem as informações de maneiras
criativas e inovadoras. O sistema judiciário é um terreno fértil para esse
enfoque dos dados. Infelizmente, dada a natureza burocrática dos países
em desenvolvimento, a informação não é tratada da maneira que deveria.

O Open Data Commons seria uma alternativa para que soluções


inovadoras surgissem e pudessem concretizar a justiça social que tanto
se almeja. Há algumas iniciativas interessantes na interseção entre dados,
direito, design e tecnologia, como por exemplo o Supremo em Números
(FGV - Rio), e algumas ferramentas do Jota, que tristemente são restritas
a assinantes. Há também a operação Serenata do Amor, que consegue
identificar gastos desproporcionais de nossos parlamentares e fazer
denúncias no Twitter através de bots (robôs).

Legal Design: Teoria e Prática 28


Métodologias Ágeis

Com o estouro da bolha da internet, no início dos anos 2000, altos Contudo, as empresas não se entregaram. Durante o encontro de Utah,
executivos do setor de tecnologia, desenvolvedores de software, em fevereiro de 2001, criou-se o Manifesto Ágil. Basicamente,
designers, e demais profissionais da indústria de tecnologia se reuniram percebeu-se que o levantamento de requisitos para o projeto e as
para discutir os motivos da crise, e como poderiam aprimorar seus especificidades técnicas atrasavam o projeto, e o cliente nunca via valor
serviços. no trabalho realizado. Era necessário ter um processo mais enxuto, que
entregasse valor para os envolvidos a partir da primeira entrega.
Para quem não está familiarizado com a nomenclatura financeira, pensar
na imagem da bolha e sua propriedades ajuda a entender o conceito. As Assim, foram estabelecidos alguns valores e regras. Veja a seguir os
expectativas do setor de tecnologia estavam infladas, e quando valores, que dão uma ótima noção do espírito do movimento:
percebeu-se que as empresas não iriam entregar o que prometiam, houve
quedas acentuadas nas bolsas mundo afora. A bolha estourou. • Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas;

Para se ter noção da especulação em torno dessas empresas, o índice da • Software em funcionamento mais que documentação abrangente;

NASDAQ subiu mais de 400% de 1995 até 2.000. Em outubro, quando


estourou a bolha, ela caiu 78% de um dia para o outro. Várias empresas • Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;

faliram. A Amazon, por exemplo, estava listada e perdeu grande parte de


seu valor. • Responder a mudanças mais que seguir um plano.

A alta expectativa decorreu da adoção massiva na internet a partir de


Assim, pode-se perceber que entregar valor e deixar as formalidades do
1993. Os investidores aportavam capital em quaisquer empresas .com, e
lado são duas tendências que podem nos inspirar para o mundo jurídico.
capital de risco era fácil de se obter. O cenário ideal para que a bolha
Não vamos entrar em detalhes sobre metodologias ágeis em si como
finalmente estourasse.
scrum, kanban, XP, dentre outras, pois isto teria espaço em um material
específico sobre agile.

De todo modo, fica nossa provocação para que o mundo jurídico olhe
mais para seu usuário e para o valor que cria. A história nos diz o que
ocorreu com quem não agiu de tal maneira.

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Design Sprint

Design Sprint é uma metodologia de desenvolvimento ágil criada pela Decidir (Decide) -> No quarto dia, o grupo terá uma coleção das
Google Ventures - empresa de capital de risco do Google -, focada no melhores propostas para escolher. No entanto, o objetivo é prototipar
usuário. Se trata de uma metodologia prática, ágil e colaborativa. apenas uma delas, por isso, nesse dia, a tarefa é filtrar as alternativas.

Tem como base o Design Thinking e outras metodologias ágeis com Prototipar (Prototype) -> É hora de colocar a ideia em prática. O objetivo
objetivo de que as equipes possam criar e prototipar soluções em um do protótipo não é terminar com um produto pronto, mas uma representar
curto prazo de 5 dias, em regra. Há empresas que o fazem em um tempo a solução proposta com média a alta fidelidade.

menor ou maior, a depender de suas necessidades e objetivos. Divide-se


em 6 etapas: Validar (Validate) -> Por fim, testar com usuários, medir, analisar e
aprender com o protótipo desenhado. No final do dia, ainda é possível
aprimorar o que deu certo e descartar o que não for relevante.
Entender (Understand) -> Externar todo o conhecimento sobre a ideia
inicial. Com a colaboração de todos, o assunto é entendido em sua
totalidade e definido como o ponto a ser atacado no sprint da semana.

Definir (Define) -> A partir do brainstorm realizado na primeira parte, fica


mais claro, desde que documentado num quadro compartilhado, o que a
equipe pensou. Com isso, é possível votar qual parte do problema será
objeto do estudo.

Rascunhar (Sketch) -> Todos os participantes rabiscam suas ideias,


trabalhando individualmente as possíveis soluções. A intenção é explorar
o número máximo de saídas para o problema sem muita especulação.

Legal Design: Teoria e Prática 30


Design Sprint: Case de sucesso

Neste tópico, vamos adaptar um caso de sucesso em que utilizamos a


metodologia do Design Sprint, com o intuito de ilustrar tudo o que foi dito
até aqui. Será adaptado pois, por conta de contratos de
confidencialidade, não podemos divulgar detalhes.

Fomos procurados para a criação de uma legaltech que iria resolver o


problema da gestão de atos e instrumentos societários de empresas S.A.
A ideia ainda estava muito crua, e a partir da Design Sprint, conseguimos
entregar um protótipo que facilitou a busca por investimento por parte do
empreendedor. Vamos às etapas:

1) Entender

Briefing -> Nessa etapa, buscamos entender o problema e as motivações


por parte da iniciativa. É o início do projeto, a fase de entendimento.

Pesquisa com usuários -> A partir do briefing, conseguimos extrair


hipóteses verificáveis e por meio de formulários de pesquisa e
entrevistas, consolidamos algu mas ideias e oportunidades.

Persona -> Com o substrato gerado pela pesquisa, criamos as personas


(potencial perfil de cliente da solução, que ajuda a criar o tom da
empresa, sua mensagem e ainda o discurso de vendas).

Legal Design: Teoria e Prática 31


2) Definir Com isso, o empreendedor gastou MUITO menos em desenvolvimento,
pois tinha em mãos uma documentação extremamente detalhada e
How Might We (Como podemos?) e We Might (Podemos…) -> Com objetiva. Ainda, sabia comunicar isso para os demais colaboradores, bem
esses insumos conseguimos criar potenciais soluções que iriam resolver como identificou que o mercado estaria propenso a adotar sua solução.
os problemas validados durante a pesquisa. Aqui, já podemos definir o Dizemos propensos, pois o martelo final quem bate é o mercado.

problema e como iniciar sua solução.

Um outro case que podemos falar é sobre a criação de uma legaltech em


Job Stories -> Com as potenciais soluções em mãos, traçamos ponta a nosso curso do “Zero ao Protótipo”. A partir de todas as fases explicadas
ponta o problema dos usuários. O contexto em que surge, sua motivação anteriormente, criamos uma startup do zero, com a ajuda nos alunos.

e ainda um parâmetro de sucesso para saber como medir se a solução


resolveu ou não o problema. O processo de investigação e ideação está documentado no Miro; e o
resultado final você pode ver neste vídeo.
3) Rascunhar

Crazy 8’s -> Criamos, em 8 minutos, à mão, 8 rascunhos de potenciais


soluções.

Solution Sketch -> Rascunhamos os fluxos de telas, detalhamento do


possível conteúdo e as funcionalidades pensadas.

4) Prototipar

Protótipo -> Após a fase de rascunho pudemos decidir qual seria a


solução e criamos um protótipo navegável pronto para testes com
usuários. Após esses testes de usabilidade, ajustamos algumas questões
e entregamos de maneira bem estruturada e documentada exatamente o
que os desenvolvedores de software precisam entregar.

Legal Design: Teoria e Prática 32


Entregáveis de UX para o Direito

Vamos exemplificar uma design sprint, a partir de entregáveis de UX. É importante, pois a partir desse método, verifica-se quem são os
Notem que não necessariamente cada item deste será feito numa sprint, responsáveis por cada ponto do atendimento, como se comunicar com o
eles podem ser objetos de um serviço específico.
cliente a depender da parte do fluxo. Há algumas variações como por
exemplo o Service Blueprint, que mapeia interações físicas e virtuais.
1) Tudo começa com um problema
Mapa da Empatia -> Matriz que busca entender como a sua persona se
O Design pode ser conceituado como a aplicação da criatividade a um sente, o que ela fala, ouve e diz em relação aquele problema. O intuito é
problema. Onde ele existe, há espaço para criar e solucionar. Assim, se compreender melhor o usuário.
você tiver um para resolver, parabéns, é o primeiro passo para iniciar o
processo de Design.
Se não houver dados reais para a criação da persona, é possível usar a
protopersona, que surge a partir de suposições da equipe, com o objetivo
2 ) Ma s q ue problema ? de estabelecer uma comunicação, empatia inicial com o público alvo. A
partir da iteração do produto/serviço com usuários reais, é possível
Muitas pessoas tem problemas, mas não sabem exatamente quais são, adaptar a persona.
quais seus elementos, o que efetivamente é um problema e o que não é.
Assim, a segunda etapa é a descoberta desse problema, que pode ser
Matri Uma matriz com erteza, Suposições e Dúvidas. Tem
feita através de vários métodos, como a ornada do Usuário, o Mapa da
z CSD -> C
J
objetivo entender quais os desafios da equipe e criar hip teses a partir
mpatia, e a Matriz SD ertezas, Suposições e Dúvidas .
ó
E C (C )
de cada item. Depois, é possível validar/invalidar o que foi criado até aqui
a partir de pesquisas.
Esses termos são novos para você Não se preocupe, n s temos
? ó

exemplos e disponibilizamos modelos a ui. q


Todas essas subfases são importantes para explorar o problema ao
máximo. Ap s, é possível definir o problema e pensar em soluções.
ó

Jor ada do u u rio -> luxograma que mapeia todos os pontos de


n s á F

contato de seu usuário com sua solução e seu estado de humor durante
esta interação. É possível pensar também em como ele se sente antes de
encontrar sua solução.

Legal Design: Teoria e Prática 33


3 - Como solucionar? Affinity Mapping -> Agora é a hora de separar os rascunhos em grupos
que tenham afinidade entre si. Não é uma tarefa fácil e requer muita
Geralmente, buscamos estudar o mercado, os competidores, obter um colaboração para que sejam encontrados padrões. Assim, fica mais fácil
panorama geral de como o mercado resolve aquele problema hoje, se de ver quais critérios importam mais para a equipe.
houver. A partir daí, fazemos, com ajuda de especialistas no tema, o “How
Might We” e o “We Might”. Respectivamente, “Como Podemos?” e
Dot Voting -> Simplesmente votar nos melhores rascunhos, nos
“Podemos”.
quadrados em si. Cada um geralmente tem dois votos, e o facilitador tem
o voto de minerva.
O Como Podemos e o Podemos são métodos para pensar e delimitar o
problema, e depois canalizar essas suposições para possíveis soluções.

Assim, é possível gerar diversas suposições e concretizar pouco a pouco


Solution Sketch -> A solução mais votada será rascunhada do início ao
fim, a partir daí, separa-se em afinidade e vota-se para que seja levado
os insights obtidos nas fases anterior.
melhor rascunho à fase de prototipação.

4 - Definir a solução e rascunhar Prototipar, Lançar e Testar


Através de votos dos envolvidos, e de um exercício de rascunho de
Com a definição, a equipe de Designers vai iniciar o protótipo, que, para
soluções distintas e outro de uma solução mais completa escolhida pelo
interfaces Web, geralmente é feita em softwares como Figma e Sketch.
time, é possível evoluir para a definição de como o problema será
Com o protótipo pronto, é possível testar com usuários reais, com o
resolvido. Essa fase pode incluir o Crazy 8’s, Solution Sketch, Dot Voting e
objetivo de obter feedbacks de experiência e usabilidade, os quais
o Affinity Mapping.
nortearão a criação do produto.

Crazy 8 -> Divide-se uma folha em branca em 3, para criar 8 quadrados. Em relação a serviços de Design Gráfico e Visual em documentos
Em 8 minutos, os envolvidos devem, a partir do que foi pensado no jurídicos, podemos falar em Mockups, versões iniciais do Layout do
“podemos”, rascunhar possíveis soluções. documento, a fim de ser validadas com o cliente. Por fim, em relação à
prestação de serviços, é possível fazer um site em uma plataforma No
Code, de modo a testar se realmente existe a demanda.

Legal Design: Teoria e Prática 34


Capítulo 3

Cultura Open Source e

No Code Movement
Ferramentas que antes eram
consideradas apenas de hackers,
cientistas da computação e outros tidos
como "nerds", hoje são intuitivas e fáceis
de usar.

Legal Design: Teoria e Prática 36


Cultura Open Source

No decorrer da década de 1970, havia a preponderância de softwares


proprietários. Estes programas eram fechados e vigorava a propriedade
deles por parte de um grupo de indivíduos ou empresas.

Richard Stallmann, do grupo de pesquisa de Inteligência Artificial do MIT


(Massachusetts Institute of Technology) se revoltou com o software
proprietário da impressora do laboratório. Isto porque a impressora
anterior permitia modificações.

Ele, como bom desenvolvedor, programou a impressora para permitir


impressões que vinham de andares diferentes. Isto porque ele se
encontrava num andar diferente da impressora e, como bom preguiçoso,
usou sua criatividade e habilidades técnicas para programar o software
da impressora a seu favor.

Quando o instituto comprou uma nova impressora, ela não permitia


alterações, e ele precisou subir alguns andares para imprimir. Revoltado,
e envolto pelo contexto do movimento Hippie, que ganhou forças durante
a Guerra do Vietnã, ele fundou a GNU, organização sem fins lucrativos
que estabeleceu os princípios do software livre e foi o embrião da cultura
Open Source.

Legal Design: Teoria e Prática 37


Princípios básicos:

• A liberdade de executar o programa como você desejar, para qualquer


propósito;

• A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo às suas


necessidades;

• A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar


outros;

“Se programadores devem ser premiados


• A liberdade de distribuir cópias de suas versões modificadas a outros. por criarem programas inovadores, pelo
Desta forma, você pode dar a toda comunidade a chance de se beneficiar mesmo raciocínio devem ser punidos se
de suas mudanças.
restringirem o uso desses programas”.
Principais benefícios:
Stallman, Richard
• Nenhuma empresa poderia criar sozinha a quantidade de softwares
necessários para que seu negócio ocorra;

• Melhoras constantes (o sistema operacional Linux, por exemplo, tem


mais de 8.000 atualizações por dia);

• Acesso ao conhecimento e estímulo ao “faça você mesmo”;

• Novos modelos de negócio.

Legal Design: Teoria e Prática 38


No Code Movement

Estamos no auge da onda sobre inovação e tecnologia na sociedade, Essa constatação não advém do senso comum, mas de nossa experiência
inclusive no Direito, profissão marcada pelo formalismo e a sobriedade. como usuário de aplicativos e programas computacionais, bem como
As mudanças já chegaram e os efeitos ainda não foram plenamente estudos baseados em artigos científicos.
sentidos.

Maurice Conti, futurista, historiador, designer e especialista em


Sabe-se que a tecnologia está cada vez mais barata e potente, o que é Inteligência Artificial, em seu brilhante Ted Talk, nos ensina que a nossa
explicado pela lei de Moore, segundo a qual a cada 18 meses o poder da sociedade irá mudar mais nos próximos 20 anos do que mudou nos
tecnologia duplica, enquanto o preço continua o mesmo. Neste sentido, últimos 200. Estamos à beira de uma nova era da humanidade. Passamos
ferramentas que antes eram considerada apenas de hackers, cientistas pela era dos caçadores coletores, da agricultura, industrial e estamos
da computação e outros tidos como "nerds", hoje são intuitivas e fáceis prestes a deixar a da informação.
de usar.

Legal Design: Teoria e Prática 39


Embarcamos na era aumentada. Os objetos que nos rodeiam sempre
foram passivos, e em breve, serão generativos. Através da IA, as
tecnologias começarão a interagir conosco, construir e solucionar
problemas para nós, de acordo com desejos e habilidades, que nós,
humanos, ensinamos para elas. Os objetos não precisarão mais ser
manuseados para que façam, eles irão nos sugerir o que deve ser feito.

O futuro está logo ali. Hoje já contamos com soluções extraordinárias


para aumentar a potencialidade de nosso trabalho. E digo nosso porque
me refiro especificamente a advogados. Há inúmeras ferramentas que
nos possibilitam focar na atividade criativa e levar o direito a um número
cada vez maior de pessoas.

Nesta esteira, surge o No Code Movement, “movimento do não código”,


de modo que sites, aplicativos, aplicações e plataformas possam ser
criadas sem a necessidade de “codar”, isto é, escrever a linguagem de
programação. A partir de sites como o nocode.tech é possível encontrar
diversas soluções que ajudam a realizar estas tarefas.

Alguns exemplos: Google Sites, Wordpress, Airtable, Elementor,


Dialogflow, Unstack, Bubble, dentre outros.

Legal Design: Teoria e Prática 40


Capítulo 4

Lawtechs e Legaltechs
Em escritórios de advocacia e
departamentos jurídicios, o número de
advogados diminui muito, dando espaço
para project e tech managers, paralegais
e legaltechs.

Legal Design: Teoria e Prática 42


Lawtechs e Legaltechs
Antes de conceituar law e legaltechs, é necessário falar sobre startups.
De acordo com Eric Ries, autor do bestseller “Startup Enxuta”, estas são
empresas com base tecnológica que, num cenário de grande incerteza,
são capazes de ganhar escala.

Em outras palavras, empresas tecnológicas que tem um hiper


crescimento, devido a qualidade de serem escaláveis, isto é, poderem
crescer exponencialmente sem ter de aumentar muito sua estrutura. Isto
apenas é possível devido a sua estrutura asset light, ou seja, com poucos
gastos.

Imagine-se uma fabricante de carros. Para crescer, ela precisa comprar


mais fábricas, mais materiais e contratar mais gente. Por outro lado,
empresas que lidam com tecnologia podem crescer exponencialmente
aumentando apenas o número de trabalhadores.

A Netflix, por exemplo, precisa da mesma estrutura física para prestar


serviços de streaming para 10.000 pessoas ou para um milhão de
pessoas. Isso só é possível devido a digitalização dos serviços e de
produtos. Hoje em dia a máquina fotográfica, lanterna e gravador já estão
acoplados ao celular.

Legal Design: Teoria e Prática 43


Escritórios do futuro

Enquanto os escritórios de hoje são estruturados de cima para baixo, com O número de advogados diminui muito, dando espaço para project e tech
um grande número de "associados" plenos, seniores e juniores, que managers, paralegais e legaltechs. Pelo infográfico abaixo, é possível
desempenham muitas funções mecânicas e delegáveis, os do amanhã verificar essa estrutura de uma maneira bem didática.
terão um formato totalmente distinto.
Eles são baseados na publicação "How legal technology will change the
Essa nova estrutura, chamada de estrutura de foguete, constitui-se a Business of Law" do Boston Consulting Group em parceria com a
partir de uma grande colaboração com parceiros externos de diversas Bucerius Law School.
áreas, como compliance e tecnologia.

Legal Design: Teoria e Prática 44


Profissões jurídicas do futuro

Esse tópico está relacionado a uma pergunta de um milhão de reais. O


que devo estudar para me adaptar a um mercado imprevisível? Em que
área focar? Quais habilidades desenvolver?

Realmente fica difícil prever, mas é possível acompanhar o que vem


ocorrendo em outras indústrias. Duas carreiras que se sobressaem na
indústria da tecnologia são as de Product Manager, Product Owner e UX
Researcher.

Mas para que tantos nomes em inglês? De fato, preferimos nomes em


portugûes também, mas para que vocês possam pesquisar de casa, é
necessário que os nomes estejam em inglês, pois não encontrariam muito
material sobre as traduções.

De todo modo, vamos explicar o que cada profissão dessa faz, para que
possamos traçar paralelos com o direito.

Product Manager é o profissional que se encontra na interseção entre a


parte tecnológica, de design e do operacional (e muitas vezes marketing).
É o responsável por arquitetar estratégias, definir métricas para medir o
sucesso e ainda deixar a equipe na mesma página.

Legal Design: Teoria e Prática 45


É um profissional extremamente interdisciplinar, que dialoga com todas as É um campo bem extenso e, como o próprio nome diz, trabalha
áreas. Deve ser muito comunicativo, conhecer bastante tecnologia (não pesquisando para ajudar a equipe a acertar no rumo do negócio. No
necessariamente escrever código), design e sobre o negócio em si. É mundo jurídico, poderia atuar junto a todas as equipes para identificar
necessário que tenha uma visão de negócio bem aguçada, de modo a gargalos, dores dos colaboradores, dos clientes e dos tomadores de
alinhar as expectativas entre os tomadores de decisão e os demais times, decisão, de modo a tornar todo o negócio mais fluido e eficiente.
que muitas vezes se isolam e não entendem o que ocorre no dia dia.
Marcílio Guedes Drummont, o @advogadodestartups, nos dá mais
Em uma época em que os escritórios estão cada vez mais tecnológicos, algumas ideias do que o futuro reserva, no que se refere às novas
fica fácil de imaginar como um product manager atuaria num escritório, profissões jurídicas:
ao alinhar a visão do negócio com os demais times e estabelecer uma
estratégia pautada em dados. • Gerente de operações jurídicas;

Já o Product Owner é essencial numa estrutura ágil de trabalho, tópico • Analista de dados jurídicos;

que será abordado mais à frente. Este profissional é responsável por


validar as entregas do time de tecnologia e design, e também ajuda a • Arquiteto de soluções jurídicas;

definir priorizar o que será entregue. Assim como no caso acima, ele
precisa saber muita coisa do negócio (no nosso caso, o direito), design e • Legal Designer e muito mais.

tecnologia.

O UX Researcher é a profissão de design responsável pela pesquisa e


planejamento relativos ao comportamento do usuário. Possui um viés
muito forte de pesquisas, planejamentos e validações. Busca descobrir, a
partir de técnicas de pesquisa, nuances sobre as suposições da equipe
sobre novos rumos do negócio, melhorias no atendimento, no fluxo de
trabalho, e no site, por exemplo.

Legal Design: Teoria e Prática 46


Capítulo 5

Tendências tecnológicas
Com o aumento da presença online, é
possível organizar os dados da operação
de modo a gerar um maior retorno e
captar melhor as tendências. Assim
nasce a cultura baseada em dados, com
o intuito de organizar, e cruzar os dados,
que podem gerar insights muito valiosos.

Legal Design: Teoria e Prática 48


Tendências tecnológicas para 2021
A Gaertner é uma empresa de consultoria tecnológica, cujo objetivo é A ideia é aplicar esse cuidado para todos na empresa. Pode parecer
prestar consultorias sobre inovação e tendências de tecnologia. Ano após óbvio, ainda mais num mundo onde se fala de tecnologias disruptivas,
ano, ela escreve um relatório sobre tais tendências e, ainda, sobre a curva mas às vezes a disrupção está nos detalhes e na atenção.
de hype. Curva de Hype é um gráfico que demonstra se determinada
ferramenta tecnológica de fato tem utilidade prática, se não está apenas Computação que garante a privacidade
na moda e em que passo está de realmente ser útil.
Para o delírio dos experts em LGPD, a Gaertner destaca essa tendência.
Para 2021, separamos as tendências que mais dialogam com o direito, Através da tecnologia seria possível garantir a proteção de dados. Isso
vamos lá: pode ocorrer de três maneiras:

• Um ambiente seguro onde os dados possam ser processados sem


Experiência total
vazamento;

O mundo jurídico é famoso por não dar atenção aos envolvidos na


• Processamento e análise de dados de maneira descentralizada, o que
operação, como clientes, advogados, funcionários e servidores. Foca-se
poderia gerar os ganhos da rede, como microsserviços, escala e
demais no formalismo, num egocentrismo corporativo. Por outro lado, as
agilidade;

empresas que colocam o ser humano no centro de suas operações,


experimentam ganhos fora da curva.
• Criptografia de dados e algoritmos antes de seu processamento e
Assim, para 2021, foi identificado que ao dar atenção real às análise.
necessidades dos colaboradores, clientes e demais envolvidos na
Para os profissionais jurídicos, o domínio dessas tecnologias é de
operação, as empresas podem gerar diferenciais competitivos.
extrema importância. Afinal, de que adianta conhecer a LGPD e GDPR
Não à toa a Disney é uma das empresas de ponta do mercado de inteira sem conseguir mostrar para seu cliente de maneira clara e
entretenimento, eles desenvolveram a “guestologia”, que criou estruturas inequívoca qual tecnologia usar, e o caminho para implementá-la?
para proporcionar uma experiência única aos seus clientes. Lá, por
exemplo, os funcionários tomam cuidado até mesmo com o sinal de “ok”
feito com o indicador, pois pode ser ofensivo para algumas culturas.

Legal Design: Teoria e Prática 49


Operações de qualquer lugar Engenharia de Inteligência Artificial

Com a disrupção causada pelo Coronavírus, se tornou extremamente Com o avanço da Lei de Moore, a presença da IA no nosso dia a dia fica
importante que as empresas usem tecnologias que permitam seus cada vez mais evidente. Pense na Siri, na Alexa, e nos smart devices que
colaboradores trabalhem de qualquer lugar. Aplicativos de gestão de invadem nossas casas.
projetos, streaming de vídeo, armazenamento na rede.
Contudo, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Esses
Além disso, implementar maneiras de lidar com seus clientes, assinar dispositivos têm acesso a um grande número de informações pessoais,
contratos, atualizar sobre os casos de forma segura, é imprescindível vieses de consumo, psicológicos e muito mais.
para que gerar uma presença online. A legaltech brasileira Contraktor
tem feito um belo trabalho nesse sentido, principalmente ao criar uma É necessário criar postulados éticos para a utilização dessas máquinas,
plataforma gratuita de assinatura online: assinaturagratis.com. de maneira a diminuir a indução a comportamentos destrutivos, vieses
cognitivos e manipulação informativa.
Para muitos pode parecer óbvio, mas, para o mundo jurídico, é uma
mudança de paradigma. Tem-se visto as deep fakes, que são “fakes” muito bem construídos, que
podem enganar inclusive os maiores especialistas. É possível por meio de
apps, pegar o rosto de alguém e colocar em qualquer vídeo, simulando
Negócios inteligentes
sua voz.
Com o aumento da presença online, é possível organizar os dados da
Como os advogados e advogadas podem ajudar nessa tendência? A
operação de modo a gerar um maior retorno e captar melhor as
compreensão dos limites legais e a construção de aplicações em conjunto
tendências. Assim nasce a cultura baseada em dados, com o intuito de
com o time legal é essencial para criar uma rede ética de inteligência
organizar, e cruzar os dados, que podem gerar insights muito valiosos.
artificial.
Imagine um profissional formado em direito que saiba lidar e organizar
esses dados. O valor que pode gerar a seus clientes, escritório e demais
envolvidos é incalculável.

Legal Design: Teoria e Prática 50


Hiper automação

Quanto menos os seres humanos performarem tarefas mecânicas, menos


acidentes e erros irão ocorrer. O valor do ser humano está em sua
criatividade e sensibilidade. Assim, é óbvio que com a melhoria da
tecnologia, tudo o que puder ser automatizado, será.

Mas, não se preocupem, não significa que os robôs irão roubar nosso
trabalho. Essa preocupação é distintiva de nossa sociedade, que ficou
perplexa com o advento da máquina de escrever, com os primeiros
computadores pessoais.

Busquemos enxergar de maneira positiva a tecnologia, que, se for


utilizada eticamente, pode gerar uma melhoria no estilo e qualidade de
vida de todos. Profissionais cuidados e criativos sempre serão
bem-vindos, afinal, alguém precisa treinar e monitorar a máquina, e olhar
no olho das pessoas.

O site www.willrobotstakemyjob.com concorda conosco. Segundo ele,


há apenas uma chance de 6% de os robôs performarem tarefas jurídicas,
o que muda completamente quando se fala de paralegais, os quais têm
uma chance de 90% de perder o trabalho.

Legal Design: Teoria e Prática 51


Cultura baseada em dados

Pode ser conhecido também como data driven culture, ou negócios Para o negócio em si, em relação aos escritórios de advocacia, seria bom
baseados em dados, ou ainda data driven business. Basicamente, se trata analisar o ticket médio de cada caso, o tempo de demora para resolução,
de colocar os dados no centro de decisão dos negócios. e o retorno sobre investimento.

Uma vez que houve a digitalização de grande parte da informação, de Aqui vai um conselho: se você tem uma legaltech, um pequeno escritório,
acordo os autores do livros Organizações Exponenciais, Salim Ismail e ou qualquer negócio, ainda que você monitore esses dados numa planilha
Peter Diamandis, atualmente é questão de organização conseguir usar os ou um caderno, pelo menos o faça. O mais importente é começar e
dados do negócio ao seu favor. entender os números.

Ora, imagine-se um escritório de advocacia. Ele deseja expandir suas Há ferramentas muito poderosas de BI (Business Inteligence), como o
áreas de atuação. Como esta decisão é tomada hoje em dia? Pelos sócios Amplitude, Mixpanel e o próprio Google Analytics. De qualquer forma,
majoritários, pelos advogados com mais prestígio. ferramentas são apenas um meio para se alcançar um objetivo.

É uma decisão totalmente enviesada, a qual pode estar correta, mas na Com o uso e uma simples planilha, é possível usar fórmulas, conectar com
maioria das vezes, não está. Numa organização saudável, que investiga, outros dados e mostrar as informações para demais envolvidos em todos
documenta e coloca os dados a seu favor, o processo de decisão viria os lugares do mundo.
acompanhado de dados para que o tomador de decisão pudesse se
sentir seguro.

Há muitas ferramentas para coletar os dados e colocá-los para conversar


(cruzamento de dados). Depende de para qual setor a empresa precisa
dos dados. Para o marketing há o Google Analytics, o Facebook Business
Manager, entre outros. Uma startup brasileira chamada Reportei também
ajuda nesse quesito, de maneira bem organizada, integrada e didática.

Legal Design: Teoria e Prática 52


Capítulo 6

Elementos visuais

e o Direito
Visual Law

Segundo Bernardo de Azevedo e Souza, o Visual Law é uma subárea do


Legal Design que usa elementos visuais para tornar o Direito mais claro e
compreensível.

Tais elementos podem ser, por exemplo, fluxogramas, ícones, QR Codes,


vídeos, e, inclusive, a gamificação, assunto a ser discutido no próximo
tópico.

Busca-se, com essa abordagem inovadora e centrada no usuário,


impactar a percepção da sociedade sobre o mundo jurídico, por meio da
redução do “juridiquês” e consequente aproximação à realidade
socioeconômica do país.

Em tese, pode-se aplicar o Visual Law em qualquer tipo de documento,


desde que sejam respeitadas os requisitos formais do respectivo
documento.

O principal desafio em sua aplicação é obter equilíbrio entre as


informações necessárias no documento e a utilização dos variados
recursos visuais possíveis, tendo em vista que o Visual Law mal aplicado
pode causar efeitos danosos às partes envolvidas, como a confusão e a
omissão de informações relevantes.

Legal Design: Teoria e Prática 54


Toda as fases do processo de design podem ser aplicadas aqui, desde o
brainstorming, pesquisas, prototipação e testes para verificar se as
suposições sobre aprimoramento do documento funcionaram.

Um teste muito útil nesse caso é o mapa de calor, através do qual se


pode verificar qual parte do documento chamou mais atenção dos
leitores. O HotJar é uma ferramenta incrível para tanto. O VisualEyes
também, um plugin do Figma (software de design de interfaces).

Temos alguns cases de aplicação de Visual Law:

Dado Seguro (legaltech criada por nós)

Lawbot (cliente)

Alguns princípios básicos de Design podem ser utilizados para melhorar a


comunicação de documentos e textos jurídicos.

Use e abuse de linhas, formas e texturas, pois a partir delas é possível


diagramar, criar consistência e hierarquia visual.

Crie um Guia de Estilo, assim como este da imagem ao lado, pois a partir
dele é possível partir de padrões pré-definidos, de modo a não fugir da
identidade visual da empresa em todo e qualquer documento.

Legal Design: Teoria e Prática 55


Gamificação

Gamificação é o uso de mecânicas e dinâmicas de jogos para engajar


pessoas, resolver problemas e melhorar o aprendizado, motivando ações
e comportamentos em ambientes fora do contexto de jogos. Nesse
sentido, nas palavras de Neil Patel:

“Pense em uma caça aos ovos de Páscoa, brincadeira comum na data


comemorativa. Você poderia simplesmente dizer às crianças para
recolher os ovos espalhados pelo jardim.

Mas isso não seria divertido. Inserindo elementos desafiadores, como a


dificuldade em encontrar os prêmios e a concorrência, as coisas
mudam.

Nesse caso, as crianças são estimuladas, e a “tarefa” é cumprida em um


piscar de olhos. Desde pequenos, aprendemos por meio dos jogos.”

A gamificação pode ser utilizada em diversos campos, desde a educação


ao setor de RH de uma empresa, por exemplo. O entretenimento aliado à
produtividade pode produzir resultados incríveis.

Pense, por exemplo, em uma plataforma interna que meça o engajamento


dos funcionários de sua empresa. Por meio de jogos interativos e
dinâmicas de alinhamento com o “trabalho do dia a dia”, os funcionários
disputam, estimulados por meio de possíveis recompensas lúdicas como
medalhas, troféus e posições no ranking, ou recompensas palpáveis
como bônus de salário e prêmios físicos. Essas recompensas funcionam
como combustíveis, e o aumento na produtividade é facilmente
perceptível.

Legal Design: Teoria e Prática 56


Existem variados conceitos acerca das características da gamificação. O Pontos 2, 4 e 6 -> Pontos específicos relacionados ao lado esquerdo do
modelo mais conhecido - e reconhecido - é o Octalysis Framework, cérebro.
criado por Yu-Kai Chou, o maior pioneiro da Gamificação no mundo:
Pontos 3, 5 e 7 -> Pontos específicos relacionados ao lado direito do
Trata-se de um octógono no qual os 8 pilares da gamificação estão cérebro.

estruturados. No que se refere à sua posição, isso deve pelo seguinte


aspecto:

Significado

Conquista 2 3 Criatividade

Posse 4 5 Sociabilidade
OCTALYSIS

Escassez 6 Imprevisibilidade

Perda

Legal Design: Teoria e Prática 57


Os 8 pilares da gamificação são: Criatividade

Significado Esse pilar está extremamente ligado às capacidades do jogador expor


sua criatividade. Jogos utilizam esse pilar, por exemplo, em mecânicas
O primeiro pilar se trata da sensação de estar fazendo algo de natureza que possibilitam ao jogadores criarem fases personalizadas e as
maior, ou que foi ”o escolhido” para fazer algo. Dedica-se àquilo não disponibilizarem para a comunidade na “loja” virtual do respectivo jogo.
somente por querer algo em troca, mas por acreditar que o que está
fazendo tem uma importância muito grande.
Um grande exemplo da liberdade criativa é o Minecraft, jogo sandbox
lançado em 2011 com o pretexto de dar ao jogador o poder para que faça
Desenvolvimento e Conquista qualquer coisa. 9 anos após seu lançamento, o Minecraft ainda domina
com folgas o ranking de visualizações em games no Youtube, atingindo,
É natural do ser humano procurar evoluir em algo que está fazendo. em 2020, a marca incrível de 100,2 bilhões de visualizações.
Melhorar, ganhar mais experiência e desenvolver habilidades dá uma
sensação de satisfação que nos move a querer sempre mais.
Por fim, é importante salientar que as pessoas precisam entender os
resultados de seus experimentos criativos, e isso pode ser alcançado
A conquista é algo extremamente motivador. O viés de prazer por uma com o bom e velho feedback.
recompensa é intrínseco à nossa natureza. Porém, para que a sensação
de recompensa seja efetiva, é preciso ter um desafio à altura. Num
Posse
cenário de conquistas muito fáceis, perde-se a sensação de realização e
conquista.
Pessoas são motivadas a obter algo. Quando se obtém o que deseja,
intrinsecamente o indivíduo é motivado melhorar o que tem, bem como a
adquirir mais coisas.

Legal Design: Teoria e Prática 58


Influência Social Perda

Se trata do nosso desejo de fazer parte de um grupo que nos


Baseia-se na motivação de evitar que algo negativo aconteça (Ex: pontos
identificamos ou temos algo em comum, o desejo de fazer parte de uma
que podem ser perdidos se o usuário passar um determinado tempo sem
comunidade. Existem formas simples de fazer isso. Seja em torno de um
agir), e, portanto, também possui um grande potencial engajador.
interesse mútuo ou com coisas mais simples, como criando uma
linguagem ou termos próprios, elementos visuais específicos etc.
A motivação costuma ser proporcional à dificuldade da conquista. Quanto
maior for a dificuldade de conquistar alguma coisa, maior será a dor de
Escassez
perdê-la.
Involuntariamente, associamos a escassez a uma coisa rara. Algo valioso.
No cenário de jogos, isso pode ser visto frequentemente utilizado a partir Esse pilar também se aplica para oportunidades que surgem com um
da introdução de itens limitados, “vida/energia”, skins, itens de prazo limitado. Promoções relâmpago, como o caso da Black Friday, por
personalização, pets e outros diversos exemplos. exemplo, fazem com que a probabilidade de que tenhamos impulsos de
compra seja muito maior, por acreditarmos que é uma oportunidade
única, especial, e que não haverá outra chance de conseguir o objeto de
Em outros casos, a conquista e/ou recompensa não está disponível no
desejo futuramente.
presente, mas, mas estará futuramente, e isto faz com que o jogador
continue engajando a si e à sua comunidade para que mantenham-se
jogando.

Imprevisibilidade

A imprevisibilidade relaciona-se com o desejo em descobrir o que está


por vir, bem como a surpresa de um acontecimento inesperado. Isso está
presente em filmes, novelas e séries, por exemplo, nos quais o fato de
querer saber o que acontecerá em seguida prende o espectador até o fim
da história.

Legal Design: Teoria e Prática 59


Por fim, temos o Gamification Model Canvas, ou Canvas da Gamificação, Receita -> Descreve o benefício/retorno econômico ou social da solução
que usa como base o Business Model Canvas, bem conhecido no mundo ao utilizar a gamificação.

de desenvolvimento de produtos:
Jogadores -> Descreve quem e como são as pessoas para as quais
Esse Canvas consiste em 9 seções que contém os elementos-chave estamos desenvolvendo a solução.

envolvidos no desenvolvimento de projetos que utilizem a gamificação:


Comportamentos -> Descreve os comportamentos ou ações necessárias
de ser desenvolvidos em nosso jogadores para que possamos ter
retornos com o projeto.

Legal Design: Teoria e Prática 60


Estética -> Descreve as respostas emocionais desejadas nos jogadores
ao interagirem com o jogo. Aproxima-se da diversão.

Dinâmicas -> Descreve o comportamento das mecânicas atuando sobre


os jogadores ao longo do tempo. Aproxima-se da motivação.

Componentes -> Descreve os elementos ou características do jogo para


criar mecânicas ou dar feedbacks aos jogadores.

Mecânicas -> Descreve as regras, junto com os componentes, para a


criação das dinâmicas do jogo.

Plataformas -> Descreve as plataformas nas quais serão implementadas


as mecânicas do jogo.

Custos -> Descreve os principais custos ou investimentos necessários


para o desenvolvimento do projeto.

Legal Design: Teoria e Prática 61


Capítulo 7

Artigos dos convidados


Em uma startup, então, significa que
quase todas as conversas que você tiver
com seus clientes serão com um tomador
de decisões para ele. Em média, os
clientes fundadores de startups são mais
jovens do que os clientes bancários ou
financeiros.

Legal Design: Teoria e Prática 63


Advogado de Startups: viabilizador de negócios O trabalho do jurídico no setor de tecnologia abrange uma série de áreas
de prática diferentes, desde estruturação de empresas, o trabalho
tecnológicos corporativo e de valores mobiliários em geral, até fusões e aquisições,
trabalhista, propriedade intelectual, litígio, tributário, investimentos e
Marcílio Guedes Drummont mercado de capitais.

Legal Venture Transformer. Advogado. Especialista em Design de


O ideal é que o profissional jurídico tenha uma visão ampla do que está
Serviços e Produtos pelo M.I.T. - Massachusetts Institute of Technology.É
acontecendo na sociedade, no mercado, enfim, na vida em geral. Assim
um dos líderes do Legal Hackers no Brasil. É um dos primeiros Legal
será capaz de atender às necessidades dos clientes, não importa em que
Growth Hackers da América Latina. Especialista do ecossistema de
estágio eles estejam.
startups na América Latina. Professor de inovação no direito em países da
América Latina (principalmente Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e
Colômbia). CEO e Professor da Edtech "Advogado de Startups Academy". Veja que aqui eu não falo apenas das necessidades jurídicas. Eu sempre
Membro de Comissões das OABs MG e SP. Professor de Pós Graduação digo que “o sucesso no Direito está fora do direito”, porque atualmente
na Verbo Jurídico e no CEDIN. Consultor de Inovação do Governo de boa parte do serviço jurídico virou uma commodity, ou seja, o serviço
Minas Gerais. Mentor de diversos programas de criação e aceleração de jurídico “puro” possui cada vez menos valor. Por isso, como diferencial,
Startups. Professor, Palestrante e autor sobre temas de direito, devemos oferecer soluções multidisciplinares, que considerem
tecnologia, futurismo, Inovação e empreendedorismo. Já participou, como tecnologia, design (em suas diversas possibilidades), marketing, ciência
autor, coautor ou coordenador, de 12 obras dedicadas à inovação, de dados, gestão, etc. O valor agregado está nessa junção de
empreendedorismo, tecnologia, direito, mercado e futurismo. Foi um dos conhecimentos.
primeiros Heads de Inovação de escritório de advocacia na América
Latina (Marcelo Tostes Advogados). Sócio e investidor em startups e Quero falar agora sobre as diferenças entre o trabalho não contencioso,
empresas offline. Arquiteto Jurídico, com base em Python e Lawtex. para o litigioso no setor da tecnologia. Uma das principais diferenças está
na perspectiva dos advogados envolvidos. Se pensarmos do ponto de
@advogadodestartups vista da empresa, em alto nível, não há muitas diferenças - em ambas as
áreas, a empresa está focada na proteção do negócio. Porém, do lado do
/in/marcilioguedesdrummond advogado, existem algumas diferenças significativas, muitas das quais se
referem ao relacionamento com o cliente.

Legal Design: Teoria e Prática 64


Comecei minha carreira como litigante (trabalhando com processos Quero compartilhar aqui com vocês também quais tecnologias futuras (ou
judiciais), e uma das coisas que costumava ouvir muito de meus clientes nem tão futuras mais) eu acredito que serão mais lucrativas para o setor
era algo como "isso tem sido ótimo, mas espero nunca mais ver você". No jurídico. O ideal é que o profissional jurídico tenha uma visão ampla do
lado corporativo (ou não contencioso), meu papel é mais como um que está acontecendo na sociedade, no mercado, enfim, na vida em
consultor - alguém que meus clientes desejam consultar desde o início, e geral. Assim será capaz de atender às necessidades dos clientes, não
não alguém para quem eles ligam como último recurso. importa em que estágio eles estejam.

Portanto, do lado consultivo de empresas de tecnologia, startups e No momento atual, o que me chama a atenção são: Inteligência Artificial,
departamentos jurídicos, estamos focados na construção de empresas, Segurança Cibernética, Fintechs, tecnologias de saúde e bem-estar (com
ajudando os clientes a levantar capital, concluir aquisições de negócios ênfase particular nas tecnologias vestíveis), criptomoedas e veículos
complementares e ganhar liquidez por meio de ofertas públicas iniciais ou autônomos. O que é ótimo na prática de tecnologia é trabalhar com
fusões, por exemplo. clientes que encontram maneiras de usar novas tendências no campo da
tecnologia para mudar antigas indústrias - muitos empresários trazem
Também estamos elaborando os contratos que podem eventualmente ser esse pensamento para seus advogados e serviços jurídicos e procuram
a base para litígios, portanto parte do trabalho é proteger nossos clientes advogados que criem valor trazendo esse mesmo espírito inovador de
de reclamações futuras. No litígio, normalmente o alegado ato errado já volta para o cliente.
foi cometido, portanto, o trabalho é realmente resolver a disputa. Nesse
ponto, o advogado oposto é um adversário em vez de um parceiro e, Além disso, as pessoas estão cada vez mais focadas em fazer exercícios,
portanto, as interações costumam ser contenciosas em vez de comer os alimentos certos e ter uma maneira de acompanhar tudo isso,
produtivas. algo inclusive que tem total relação com a Sociedade 5.0 (e Advocacia
5.0), que basicamente defende o ser humano no centro da tecnologia, ou
Portanto, do lado consultivo de empresas de tecnologia, startups e seja, só faz sentido o desenvolvimento tecnológico que melhore a vida (e
departamentos jurídicos, estamos focados na construção de empresas, a experiência) dos seres humanos.
ajudando os clientes a levantar capital, concluir aquisições de negócios
complementares e ganhar liquidez por meio de ofertas públicas iniciais ou
fusões, por exemplo.

Legal Design: Teoria e Prática 65


Para os advogados acompanharem as mudanças geradas pela tecnologia A startup é fundada por uma pequena equipe que busca levantar capital
é importante pesquisar e desenvolver experiência em áreas emergentes inicial, contratar as pessoas certas, descobrir exatamente como colocar
do setor de tecnologia (de uma perspectiva jurídica). É importante saber sua grande ideia em prática e crescer rapidamente.
que parte do que fazemos é experiência. Vemos os mesmos problemas
surgirem regularmente e isso nos ajuda a aconselhar nossos clientes O banco de investimento está respondendo às condições do mercado,
sobre as soluções potenciais que funcionam de uma perspectiva jurídica tem uma equipe de centenas de milhares de pessoas, está sob os olhos
e de uma perspectiva de negócios. do público e está focado em manter o retorno para os acionistas. A
startup responde rapidamente às indicações do mercado de que algo
Uma maneira também interessante de tentar ficar à frente da curva é está funcionando (ou não) e dobra para baixo (ou corta a gordura e itera)
identificando tendências nas reuniões com os clientes. Em cada reunião, - o que significa que suas necessidades, do ponto de vista legal, são
a administração tem a oportunidade de fornecer aos presentes no altamente dinâmicas. O banco está fazendo escolhas mais deliberadas.
encontro uma atualização sobre a estratégia da empresa, bem como o
desenvolvimento de produtos e os obstáculos previstos. Em uma startup, então, significa que quase todas as conversas que você
tiver com seus clientes serão com um tomador de decisões para ele. Em
Ao passar por esse processo, temos uma visão das tendências média, os clientes fundadores de startups são mais jovens do que os
tecnológicas e regulatórias que impactam vários setores. Por exemplo, clientes bancários ou financeiros. Muitas vezes, esta é a primeira vez que
nos últimos tempos vimos um foco cada vez maior em questões de um fundador analisa as questões jurídicas que estamos discutindo e,
privacidade, devido ao grande número de empresas que desenvolveram portanto, ele (i) é mais receptivo e (ii) aprecia mais seu trabalho do que
plataformas que coletam e analisam informações de identificação outros clientes.
pessoal.
Além disso, os clientes buscam mais do que apenas aconselhamento
Outro ponto importante é dizer como trabalhar com clientes de tecnologia jurídico e entendem que um Advogado de Startups tem um forte insight
pode ser diferente de trabalhar com clientes corporativos ou financeiros. sobre o que é o mercado também a partir de uma perspectiva de
A maneira mais fácil de entender isso é pensar sobre a diferença entre negócios. Portanto, eles também contam conosco para consultoria de
uma startup e um banco de investimento. negócios e estratégia, e não apenas em termos legais. Mais uma vez é
algo que reforça o que eu digo, sobre o sucesso no Direito estar fora do
Direito.

Legal Design: Teoria e Prática 66


Compartilhando aqui para você sobre meus casos favoritos, eu realmente A minha resposta é que não é necessária essas formações específicas.
gosto de trabalhar com clientes de startups no estágio inicial e Acho que um histórico técnico pode ser útil se você deseja fazer um
intermediário, bem como fundos de risco que investem nessas empresas. processo de patente ou tem um desejo específico de trabalhar em
Os empreendedores são apaixonados pelo que desejam fazer e as acordos de propriedade intelectual, mas mesmo assim, é mais importante
perguntas que fazem são fundamentais para o desenvolvimento da ter um conhecimento profundo dos negócios de uma empresa e como ela
empresa desde os estágios iniciais. Frequentemente, há uma combinação usa sua tecnologia do que um grau particular. No entanto, se você
de negócios e direito nos serviços oferecidos para as Startups. descobrir que não está entendendo um conceito, deve estar disposto a
fazer uma pesquisa para estar na posição de defender melhor o seu
Posso dizer também que meus negócios favoritos são aqueles em que cliente.
todos, desde o cliente até os investidores e as equipes jurídicas, estão
totalmente engajados no assunto. Isso sempre torna o processo muito Alguém que prospera é alguém que pode trabalhar em vários negócios ao
mais suave e todos saem felizes com o resultado. A parte mais difícil do mesmo tempo e lidar com muita interação com clientes desde o início de
meu papel nesses negócios é que tenho que reunir tudo e garantir que sua carreira, sabendo fazer as conexões certas (de ideias e de pessoas).
todas as opiniões sejam consideradas. Por isso eu digo que é importante ser um advogado Nexialista. Um
nexialista é um novo padrão profissional.
A parte difícil é que você nem sempre sabe a resposta certa e, para
muitas dessas startups, você as está ajudando a tomar decisões É alguém que possui capacidade de estabelecer um novo padrão de
realmente críticas sobre como levantar dinheiro, estrutura de entidades e pensamento, substituindo o pensamento linear e condicionado que
acordos de licenciamento que podem realmente ajudar a construí-las ou apresenta soluções padronizadas, ou diagnósticos generalistas, que
quebrá-las. Portanto, a chave é às vezes saber o que você não sabe e, inviabilizam a visão do todo, por uma visão sistêmica e sinérgica, criadora
em seguida, trazer o especialista ou parceiro certo com experiência de ideias integradoras e de múltipla abordagem. Essa forma específica de
específica na área.

profissional decorre da capacidade de criar ou encontrar conexões entre


pontos extremos ou adversos de um determinado conjunto de
conhecimentos.
Quero terminar esse texto falando sobre a necessidade (ou não) de
formação em Ciências da Computação, Tecnologia da Informação ou
áreas do tipo para trabalhar com tecnologia e Direito. Portanto, para criar e viabilizar negócios tecnológicos e inovadores você
precisa expandir a sua multidisciplinaridade e vestir sua “capa” de
protagonista deste novo direito em formação.

Legal Design: Teoria e Prática 67


Use a facilidade do mundo atual para
pesquisar sobre diversas áreas que você
pode entrar em contato. Você não
precisa estudar a fundo nenhuma delas
(...). Marketing, Programação, e Design
Gráfico são as principais.

Legal Design: Teoria e Prática 68


Habilidades de uma Legal Designer Impactar diversas áreas com design centrado no ser humano tem sido o
curso natural do novo mundo cercado de Experiences e tecnologia. No
universo de Direito, no qual o elemento pessoal é muito forte, ou seja,
Jeane Resque existem vários pontos de conexão entre diferentes agentes, chegou o
momento de reforçar o quão importante é a pessoalidade de nossos
“Olá! Meu nome é Jeane, sou Designer, e tenho realizado diversos
produtos, soluções e serviços. Por isso, o profissional que usa as novas
trabalhos com Legal Design. Sou membro da Liga de Direito e Tecnologia
tecnologias para criar soluções ágeis, e que melhoram o acesso à justiça
(UFRJ) e atualmente presto consultoria e serviços de Design para
para aqueles que a necessitam, definitivamente é o profissional do futuro!
advogados e startups.”

O Legal Design nos permite atentar para as complexidades de relações


@jeresque no mundo Legal, que são infinitamente maiores do que a tradicional
parte-advogado. Inclui novos agentes, ou melhor, usuários, e tudo aquilo
/in/jeane-resque
que fizer parte do sistema que está a ser observado. Para isso, inclui-se
no tradicional Direito mais 2 pés: Design e Tecnologia, transformando o
Legal Designer em uma importante profissão do futuro. Mas quais são as
skills para se tornar um excelente Legal Designer?

1) Seja um curioso de novas tecnologias e inovação

Estar por dentro das últimas novidades do mercado é algo que todo
profissional de qualquer área precisa. Porém, por ser uma área
relativamente nova e com expansão exponencial, é mais relevante ainda
que você esteja imerso nesse universo. No campo exterior, o Laboratório
de Legal Design de Stanford é uma boa leitura. No Brasil, existe bastante
material no Linkedin, e alguns instagrams como o da @polvolegal, e
também a comunidade da Polvo no Discord.

Legal Design: Teoria e Prática 69


2) Estude User Experience (UX) e Desenvolvimento de Produto 3) Saiba dialogar com outras áreas

Um bom Legal Designer deve possuir um bom conhecimento de UX e Use a facilidade do mundo atual para pesquisar sobre diversas áreas que
Produto e, de fato, é um conhecimento imprescindível para qualquer área você pode entrar em contato. Você não precisa estudar a fundo nenhuma
de tecnologia. Existem diversos cursos online, mas, o mais importante é a delas, mas, isso vai facilitar muito o seu trabalho, e vai te deixar por
força de vontade para aprender e se dedicar nesse assunto. dentro, de forma mínima, de como funciona os processos. Marketing,
Programação, e Design Gráfico são as principais.
Talvez seja interessante você se aprofundar mais sobre esse assunto,
porém, definitivamente, existe muito conteúdo online que você pode 4) Esteja disponível a aprender coisas novas, e também a errar no meio
consumir agora! Segue uma lista dos perfis que você pode consumir esse do caminho
conteúdo:
O Legal Design está crescendo muito, contudo, existe muita coisa a ser
@nina_talks
descoberta. Não existe um caminho muito claro a ser percorrido. Por
@appariciojr
isso, se dedique, saiba que muitas vezes não haverá uma resposta clara
@uxunicornio
para o problema, e muitos processos só se tornarão perfeito com muita
@gab.insights
tentativa, erro, e aprendizado.
@papodeux

@aela.io

Livros:

Agile Experience Design - Lindsay Ratcliffe e Marc McNeil

Sprint: o método usado no Google para testar e Aplicar novas Ideias em


Apenas 5 dias - Jake Knapp

Design Thinking - Tim Brown

Design do Dia a Dia - Donald A. Norman

Design Centrado no Usuário - Travis Lowdermilk

Legal Design: Teoria e Prática 70


O Design veio trazer para o Direito uma
lente de cor laranja e trocá-la faz com
que enxerguemos o mesmo mundo sob
outra perspectiva. (...)Apenas permita-se
ter mais de uma opção de lente para seu
óculos no momento de prestar seu
serviço jurídico.

Legal Design: Teoria e Prática 71


Aplicações do Design ao Direito A aplicação do Design ao Direito engloba mais de uma área do design,
sendo estas o design de serviços, o design de produtos e o design
centrado no usuário. Em todas estas áreas eu consigo visualizar
Mariane Siqueira claramente a intersecção das duas áreas como objeto de estudo dessa
nova disciplina. Isto porque, se formos considerar o Legal Design como
Parceira nas áreas de Meios de Resolução de Conflitos e Legal Design na
uma área do Direito que tem por finalidade produzir produtos e serviços
Balconi Moreti Advocacia.
jurídicos mais úteis aos usuários, essa concepção faz muito sentido.

@marianesiqueira
O design de serviços, sendo uma área relativamente nova, pode ser
/in/mariane-siqueira aplicado para desenhar, projetar ou criar melhorias em serviços,
existentes ou não. Ou seja, cria-se novas formas de interação com o
usuário, que, não necessariamente são digitais. Transportando para o
Direito, como uma prestação de serviços que é, torna-se extremamente
importante esse olhar para que possamos modelar os serviços de forma
mais adequada.

Também pode ser aplicado o design de produtos. Para aplicarmos ao


Direito devemos sair da concepção clássica de definição desta área. Isto
porque hoje já se fala em design de produtos para a criação de
documentos digitais. Diante disso, temos que considerar que a prestação
de serviços jurídicos se materializa em alguns documentos, a
exemplificar, contratos (de forma genérica) e petições, em meio físico ou
digital. Considerando que nos dias atuais grande parte deles também é
feito digitalmente, faz muito sentido aplicar aqui o design de produtos.

Legal Design: Teoria e Prática 72


Por fim e tão importante quanto os demais, temos o design centrado no O Legal Design veio para quebrar esse ciclo de inércia e para sacudir o
usuário (DCU) que, na concepção também tradicional trata de ergonomia universo jurídico. Estava mais do que na hora de sairmos da nossa zona
e da interação do usuário com produtos digitais. Aqui devemos de conforto e começarmos a olhar o Direito de um jeito diferente.
considerar também que o termo UX (user experience ou experiência do
usuário) nasceu no mesmo contexto, ou seja, a análise da interação do Importante ressaltar que o Direito não muda com a aplicação do Design.
usuário com um produto digital. O que muda é a forma de prestar este serviço. Para elucidar, imagine que
você, operador do Direito, use um óculos com lente azul desde que você
Contudo, devemos ampliar essa acepção para a interação de um usuário entrou na faculdade, e que, disseram para você que este óculos era o que
com um sistema ou serviço, de modo que conseguimos englobar diversos deveria ser utilizado para ver o mundo. Então, até hoje você viu o mundo
outros cenários, como a prestação de serviços jurídicos em sua com tons azulados.
totalidade.
Pois bem, o Design veio trazer para o Direito uma lente de cor laranja e
Passadas estas noções introdutórias, devo dizer que trazer esse trocá-la faz com que enxerguemos o mesmo mundo sob outra
pensamento do Design para o Direito é um tanto desafiador mas perspectiva. A mudança da medo não é mesmo? Mas quem disse que
extremamente gratificante. Isto porque traz um diferencial competitivo esse sentimento não é bom? Apenas permita-se ter mais de uma opção
imenso frente a um mercado tão tradicional. de lente para seu óculos no momento de prestar seu serviço jurídico.

Trago aqui uma provocação: o mundo mudou, estamos em uma era Não vim aqui para trazer um emaranhado de ferramentas ou aspectos
totalmente tecnológica, em uma sociedade multicultural, heterogênea e muito práticos do Legal Design, isso vai ser abordado de forma mais
com usuários extremamente informados. Então, por que continuamos completa neste livro, mas, para encorajar você, leitor deste conteúdo, a
pensando na prestação de serviços jurídicos do mesmo modo que era a iniciar sua jornada começando a pesquisar e buscar entender sobre como
décadas atrás? Isso não faz sentido, não é mesmo? Digo que entramos essa junção de disciplinas pode fazer sentido no seu dia a dia.

em um modo de reprodução. Simplesmente fazemos as coisas como


sempre foram feitas e sem saber o porquê de estarmos fazendo desta
forma.

Legal Design: Teoria e Prática 73


Por fim, há mais duas situações que quero deixar claras. A primeira delas
é que o Legal Design não é o Design Thinking do Direito. A segunda é que
ele também não é o Visual Law. Ambas englobam o universo do Legal
Design, porém, tais afirmações são totalmente reducionistas devido a
gama de áreas e aplicações que o universo do Design nos proporciona.

Para não me alongar muito, quero relatar que a aplicação do Design tem
surtido muito efeito na prestação dos serviços jurídicos do escritório que
trabalho. Logo que começamos a nos aventurar a compreender melhor
este universo, iniciamos utilizando alguns clientes como “cases” para
podermos validar a utilização de alguns processos e ferramentas.

Fomos desde a melhora nos atendimentos e análise de cada ponto de


contato com os usuários, até efetivamente a produção de documentos
físicos e digitais mais inteligíveis. Para que isso fosse possível tivemos
que de fato olhar para o usuário daquilo que estávamos produzindo, ter
muita empatia, nos apropriar da cultura do protótipo e do teste e colher
feedbacks.

Preciso também dizer que, cada operador do Direito, terá um resultado


diferente com a aplicação do Design ao Direito, Isto porque, cada
prestação de serviços é única tendo em vista que se compõe de pessoas,
cada uma com sua individualidade e complexidade. Sendo assim, olhe
para o seu negócio e entenda quem são os seus usuários, quais os
pontos de interação deles com o seu negócio. Pesquise, colha os
feedbacks e se aventure a testar diversas possibilidades de prestar um
serviço jurídico mais útil a quem utiliza.

Legal Design: Teoria e Prática 74


Referências
Referências
International Ergonomics Association: https://www.iea.cc
Curso UIBoost - Gilberto Prado: http://uiboost.com.br/
Curso Design Circuit - Aparício Junior: https://www.designcircuit.co/
Curso Produtos incríveis - Bernard de Luna:
https://www.bernarddeluna.com.br/cursos/produtos-incriveis
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2ªed. São Paulo: Edgard
Blücher, 2005.
https://brasil.uxdesign.cc/qual-a-diferenca-entre-insight-e-ideia-67fbf47
3634b
https://besouza86.jusbrasil.com.br/artigos/804292299/visual-law-o-que-
voce-precisa-saber
https://www.edools.com/o-que-e-gamificacao/
https://neilpatel.com/br/blog/gamification-o-que-e/
https://blog.jovensgenios.com/gamificacao-na-educacao/
https://gamasutra.com/blogs/SergioJimenez/20131106/204134/Gamificati
on_Model_Canvas.php?print=1

Legal Design: Teoria e Prática 76

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