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Eis senão vimos brilhar

de nós todos, em redor,


tão viva claridade,
que encegueirava o olhar.

Nem o sol ao meio dia


mais que ela iluminava.
E um anjo de asas brancas
bem no meio dela estava.

Ao ver o vulto ficamos


com a alma tão assustada,
que não podemos falar,
E nem sequer dar passada. (14)

Cantam os cantores, mas quanta distracção no povo!...

Todos os olhares se dirigem para o púlpito, onde o Anjo há-de aparecer vestido de
branco e emoldurado por brancas asas.

Em voz baixa, segreda-se, na igreja, o seu nome.


Tem oito anos e foi escolhido, entre as crianças que melhor cantam, na catequese.
E que trabalho teve a catequista!!!...
Ajudou-o a decorar os versos, a cantar a música, a fazer os gestos.
Incutiu-lhe sangue frio, muito sangue frio, para que não aconteça, como já sucedeu,
que engasgue a meio.
Estão todos à espera.
Atrás da porta do púlpito, está a catequista com o Anjo, à espera de entrar em cena.
Este treme todo, sua, enquanto a mestra lhe ajeita as madeixas, as asas, a coroa, as
pregas da túnica, e lhe faz as últimas recomendações e promessas, — um santinho e
um saco de doces, — e os cantores vão preparando a assistência.

Cantores:
Então o vulto sorriu
do nosso fácil pavor
e disse: Não tenhais medo.
Sou um anjo do Senhor. (14)

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