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searinhas, muitas laranjas, anonas, maçãs, castanhas, nozes, — eu sei lá — um

mundo de fruta.

Ao lado, a cadeira paroquial, onde o Senhor Vigário, sentado, receberá as ofertas.


No coro, cantam-se «matinas» e todos estão impacientes por que acabem, pois
delas nada percebem e o mais bonito está para vir.

Os homens, envergando fatos domingueiros e sustentando uma bengala de buxo


(12), puxam, de pedaço a pedaço, um relógio, herdado dos pais e preso à lapela do
casaco ou a uma casa do colete, por uma corrente de prata ou de oiro, com uma
libra dependurada, para ver se a meia noite está a bater.

Cinco para a meia noite.


Acabaram as «Matinas» e a missa já começou.
O coro canta os «Kiries».
Nota-se que, por detrás da cortina do camarim, se acendem as últimas velas.
Há um fervilhar de impaciência, em toda a Igreja Todos se levantam; todos se
ajeitam; todos querem ver.
Está perto o «Glória», o cântico que recorda o momento, em que Cristo nasceu.
O celebrante rezou os «Kiries» e dirige-se, agora, para o meio do altar.
Batem os corações; arregalam-se os olhos; as mães levantam os filhos pequenos,
para que tudo vejam.
«Gloria in excelsis Deo», canta o celebrante.
E ainda o «Deo» não tinha sido pronunciado, quando se rasgou a cortina do
camarim e apareceu o Menino, rodeado de anjos.

Um A h !!!. .. saiu de todas as bocas, acenderam-se todas as luzes, tocaram todos os


sinos e campainhas, subiram dezenas de foguetes ao ar, o órgão tocou, com todos
os seus pulmões, abraçaram-se os ministros do altar e os irmãos das confrarias, a
filarmónica tocou, à porta da Igreja, o « H i n o da Sociedade», caíram pétalas, do
alto, e, pelo ar, como se fossem vozes angélicas, espalharam-se as vozes dos anjos
do camarim, entoando louvores ao Deus Menino, —«GLÓRIA IN EXCELSIS
DEO».

Os «maduros» (13) puxam novamente o relógio e meneiam a cabeça.


— «Meia noite, dizem. Ainda bem. Desta vez não falhou».

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