Você está na página 1de 1

A figuração do Presépio de feição popular e monástica, incluído em oratórios, data

do século XVI, pertencendo a esta época uma tábua de Vascus Pereira Lusitanus,
cuja composição, compreendendo tipos populares Portugueses, pode ser
considerada como inspiradora de certos personagens característicos dos nossos
Presépios e realizadas pelos nossos escultores: o homem que transporta o carneiro,
o homem da gaita de foles, o cacador, etc.

Vão longe e mal conhecidos os antepassados da nossa escultura, envolvidos nas


incertezas históricas dos séculos XI e XII, representados no feito grutesco das
imagens e relevos que ilustram os capiteis de granito, impregnados da ingenuidade
dos tempos afonsinos da nossa história.

Mais tarde, Bernini, todo barroco, pelo gesto e pela retórica, tal influência exerceu
no nosso meio, através de Giusti que, verdadeiramente, se pode dizer ter inquinado
a sensibilidade criadora e destruído a forma ínfima que nos caracterizava.

Resta-nos, portanto, a alma do povo, incorruptível aos ataques alheios e fora da


esfera de influência como reduto, para alem do qual, os tentáculos da erudição mal
se adivinham.

Presépio. no Continente, Lapinha, na Ilha da Madeira. Em nada admira que assim


lhe chamem, pois que o madeirense, tanto o da beira-mar, como o do interior,
habituado ao contacto de sempre com o calhau rolado pelas ondas e com a penedia
escarpada das montanhas se lhes tenha afeito e nelas idealizado o nascimento de
Jesus. Nesta ilha, talvez pelo motivo da barreira do mar, mantém-se quase puro
ainda, o preceito da celebração do Natal. Seria esta, a prova máxima da sua
presença irredutível as grandes manifestações do espírito.

Originalmente publicado na “Revista Das Artes e Da


História Da Madeira”, n.º 9, no ano de 1951.

79

Você também pode gostar