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.. à sua participação nesses episódios (fig. 8.16).

dios (fig. 8.16). Num dos lados Nos relevos de Trajano, estes arcifícios foram usados para
está a Anunciação do nascimento de Jesus, a Adoração dos Magos permitirem ao artista a representação de eventos históricos reais.
e o Massacre dos Inocentes, o momento cm que Herodes, o Os mosaicos cm Santa Maria Maior, pelo contrário, representam
governante da Palestina nomeado pelos romanos, ordenou a a história da salvação humana, começando com cenas do Antigo
morte dos primogénitos de Belém depois do nascimento de Jesus, Testamento ao longo da nave e terminando com a vida de Jesus
pois fora-lhe profetizado que uma das crianças lhe usurparia o como Messias sobre o arco triunfal. Para os que lêcm a Bíblia
poder. No lado direito, incluem-se cenas da Fuga para o Egipto literalmente, o esquema não é apenas um ciclo histórico, mas
e dos Reis Magos diante de Herodes, explicando a esperança de também um programa simbólico que apresenta uma realidade
poderem visitar o Menino Jesus. superior -jl Palavra de Deus. Assim, o artista não se preocupou
Os painéis acima da colunata da nave ilustram cenas do em transmitir os detalhes ela narrativa histórica, mas privilegiou
Antigo Testamento e combinam a narrativa com urna preocu­ a representação de olhares e gestos ao invés de um movimento
pação com uma simetria estruturada. Por exemplo, na metade mais realista ou ele formas tridimensionais. Na Separação de Lot
esquerda superior da Separaçfio de Lote de Ab,-aão (fig. 8.17), e Abmão, a composição simétrica, com o espaço ao centro, deixa
Abraão, o seu filho Isaac e a restante família partem para a terra clara a imporc.'lncia desta separação. Abraão representa a via ela
de Canaã. À direita, Lot e o seu clã, incluindo duas filhas peque­ rectidão, enquanto Sodoma, que viria a ser destruída pelo Senhor,
o
nas, encaminham-se para a cidade de Sodoma. O artista que representa o caminho do mal. Sob a Sepamç(ío de Lote Abraão
desenhou esca cena do décimo cerceiro capítulo do Génesis, viu­ encontra-se uma paisagem de inspiração clássica, se bem que
-se perante a mesma tarefa dos escultores da Coluna de Trajano, completamente reformulada, com pastores colocados num campo
na Roma Antiga (ver fig. 7.28), ou seja, perante a necessidade verdejante, enquanto os seus rebanhos flutuam, rodeados de
de condensar acções complexas numa forma que r.udesse ser ouro, sobre pequenas ilhas.
lida facilmente à distânci<!- Com efeito, foram empregues váriõs Quais terão sido as fontes visuais para as composições de
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dos mesmos artifícios "estenográficos", cais como fórmulas para
casa, ,\rvore e cidade, bem como o artifício de fazer represencar
mosaicos em Santa Maria Maior e em outras igrejas semelhan­
tes? Estas não foram, decerto, as primeiras representações de
uma multidão de pessoas por um aglomerado de cabeças, como cenas bíblicas. Para alguns temas, como a Última Ceia, foram
se fossem um cacho de uvas. encontrados modelos entre as primeiras pinturas murais.elas
catacumbas; outros, como a história ele Josué, podem ter vindo
ele manuscritos iluminados, aos quais, sendo portáteis, os
historiadores de arte atribuíram um papel importante ele
modelo.

LI V R os I L u MINA o os Porque a doutrina cristã assentava na


palavra de Deus tal corno era revelada pela Bíblia, os primeiros
cristãos, o auto-intitulado_povo cio Livro, patrocinou a d!Jplicação
dos textos sagrados cm grande escala. Como seriam as mais anti­
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f gas ilustrações da Bíblia? Como os livros são objectos frágeis,
apenas nos chegaram parcos vestígios da sua história na Antigui­
dade. Começa no Egipto, com rolos feitos a partir das plantas do
papiro, que é como papel, mas mais quebradiço (ver páginas 77-78:
fig. 3.40) Os rolos de papiro foram produzidos durante toda a
Antiguidade, e só no século II a.n.e., no período Helenístico tardio,
é que se começou a dispor de um material de melhor qualidade:
o pergaminho (pele de animal descolorada) ou velino (um género
de pergaminho afamado por ser muito fino), apresentando an,bos
uma durabilidade maior do que o papiro para serem dobrados
sem se quebrarem, e assim tornaram possível o tipo de livro
lombado que hoje conhecemos sob o nome técnico·dec6dice, que
apareceu algures nos finais do século I n.c.

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Entre os séculos u e 1v n.e., oc6dice de'velino foi substituindo
progressivamente o rolo de papiro. Esta mudança teve conse­
quências importantes na ilustração de livros. As ilustrações em
rolo tinham forçosamente de ser apenas desenhos lineares, uma
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vez que qualquer aplicação de pigmento rapidamente criaria
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1! falhas e "descascaria" quando o papiro fosse enrolado e desen­
rolado. Apesar de o pergaminho e o velino serem menos frágeis
8.17. A Dc,-pedida de Lote Abraão e PasU>re; numa Paisagem. do que o papiro, eram também suportes com alguma fragilidade
Santa Maria Maior, Roma. Mosaico (ver À Lupa da História, página 260). Não obstante, o códice

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258 PARTE li IDADE MÉDIA

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