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Controlando a Imaginação

Escrito por:
Robert Brian Dilts
Publicado em:
qua, 22/08/2018

O dicionário Webster define imaginação como “o ato ou o processo de formar


uma ideia consciente ou uma imagem mental de algo nunca percebido antes
na realidade pelo imaginador (como através de uma síntese de elementos
recordados de experiências sensoriais anteriores ou de ideias modificadas
pelos mecanismos inconscientes)." A imaginação, então, está relacionada a
representações ou “imagens” mentais que foram geradas ou construídas
internamente. Nas palavras de Glanvill: “A nossa simples compreensão de
objetos corporais, se existente, é razão; se ausente, é imaginação.”

A imaginação também é associada com a criatividade e ao pensamento


inovador. William Shakespeare escreveu:

O lunático, o amante e o poeta são todos feitos de imaginação... O olho


do poeta, num arrebatado refinamento, olha da terra ao céu, do céu à
terra e, enquanto a imaginação concebe formas desconhecidas, a pena
do poeta dá-lhes corpo e, ao vazio etéreo, dá um lugar de moradia e um
nome.

A alusão de Shakespeare para a imaginação ser associada com os olhos “num


arrebatado refinamento” e olhando “do céu à terra, da terra ao céu”
corresponde com a noção da PNL de que o movimento dos olhos acompanha
os processos cognitivos internos. Olhar “do céu para a terra” envolveria mover-
se da imaginação para as sensações ou ações. Olhar da “terra para o céu”
implicaria em mover-se das sensações para as imagens. A implicação é que a
imaginação é essencialmente uma interação entre a atividade gerada
internamente dentro dos sistemas representacionais visuais e cinestésicos.

A imaginação pode ser comparada com a memória e a experiência sensorial


em curso. A memória é a lembrança de algo que nós já experimentamos na
realidade. A experiência sensorial em curso envolve a recepção da informação
por meio do nosso órgão do sentido relativo ao ambiente externo imediato. A
imaginação envolve a formação de uma imagem mental de algo que não está
necessariamente relacionado com a nossa experiência passada, nem com
o ambiente imediato. Entretanto, como indica o Webster, a imaginação não
envolve “o poder de recombinar os materiais fornecidos pela experiência ou
memória.” Francis Bacon, fundador do método científico, afirmava: “A
imaginação é de três tipos: ligada com a crença daquilo que está por chegar,
ligada com a memória daquilo que é passado, e das coisas presentes ou como
se elas estivessem presentes.”

Muitos processos da PNL envolvem o uso da imaginação. A imaginação pode


ser usada para criar sonhos, visualizar resultados, e ver os efeitos no longo
prazo daqueles sonhos e resultados nas nossas vidas. De acordo com o
filósofo Bertrand Russell, “foi apenas através da imaginação que o homem se
tornou consciente daquilo que o mundo poderia ser.” Ao usar a nossa
imaginação e criar imagens mentais, nós estimulamos e alertamos a nossa
neurologia para uma direção em particular, desencadeando a auto-
organização, os processos cibernéticos que começam a trabalhar automática e
inconscientemente para alcançar os resultados que nós tínhamos imaginado.
Como diz aquele velho provérbio: “A energia flui para onde vai a atenção.”
Quando imaginamos uma metaou um sonho no olho da nossa mente, isso nos
permite reconhecer e mobilizar os recursos necessários para transformar a
imaginação em realidade – o que Walt Disney chamou de “imagenharia”
(combinação de imaginação criativa com habilidade técnica - NT).

A imaginação também é necessária para criar e compreender os símbolos e as


metáforas, e para fornecer motivação e significado para as nossas ações
atuais. De acordo com Albert Einstein, “A imaginação é mais importante do que
o conhecimento.” Einstein afirmava que o conhecimento do passado e do
presente estava essencialmente “morto”, e que a imaginação era necessária
para trazer o conhecimento de volta à vida e colocá-lo em ação. Como o
romancista e historiador H. G. Wells sustentava: “Todo jovem vive muito no
devaneio e, por isso, as mentes mais fortes se ensaiam para a vida em mil
imaginações.”

Imaginação e imaginário

A imaginação é baseada claramente na nossa capacidade de criar imagens


mentais. O dicionário Webster define imagem como “a representação visível de
objetos,” tal como “as figuras produzidas por um sistema de imagens,” ou
“imagens mentais; especialmente: os produtos da imaginação.” Na PNL, o
termo é usado para se referir à atividade do sistema representacional visual.
Na perspectiva da PNL, as imagens são consideradas um dos principais blocos
da construção do modelo de mundo da pessoa. Em particular, a imagem é
muitas vezes usada para definir sonhos desejados, visões e resultados. Como
colocou Aristóteles:

“(1) Ninguém pode aprender ou compreender algo na ausência de


sentido, e (2) quando a mente está ativamente consciente de algo, ela
está necessariamente consciente disso junto com uma imagem... Para a
alma pensante, as imagens servem como se fossem matéria de
percepção... da mesma forma como se a alma estivesse vendo, ela
calcula e delibera aquilo que está por vir com referência ao que está
presente, e quando ela faz uma afirmação, como no caso da sensação,
ela afirma que o objeto é agradável ou penoso, e nesse caso ele evita ou
prossegue.”

De acordo com Aristóteles, nós construímos um mapa mental (“imagem”) do


futuro a partir das associações extraídas de uma experiência sensorial em
curso. A mente então “calcula e delibera” ao “ver” ou construir “imagens”
mentais do “que está por vir com referência ao que está presente,” através da
memória e da imaginação (de acordo com a famosa Lei de Associação de
Aristóteles). É esse mapa interno que determina se nós iremos perceber se um
objeto ou uma situação é “agradável ou penosa”.
Como a imagem é produzida pelo sistema nervoso do corpo, ela também pode
influenciar o corpo de diversas maneiras. Muitas vezes, as imagens de metas
ou resultados formam um ponto focal ou “atrator”, em torno do qual
o comportamento se torna auto-organizado ciberneticamente. As pessoas
usam as figuras mentais de resultados e consequências futuras como a base
para mobilizar ou escolher ações particulares no presente. No trabalho
hipnótico, a imagem (muitas vezes na forma de símbolos e metáforas) é usada
como um meio para compreender e direcionar a atividade inconsciente e criar
estados de transe, usualmente através do método de ‘fantasia guiada’. A
imagem também pode influenciar a função do sistema nervoso autônomo. As
imagens mentais, por exemplo, têm sido usadas para estimular o
funcionamento do sistema imunológico e de outros processos de cura.

Visualização

A visualização é o processo de formação de imagens mentais. Pela perspectiva


da PNL, a visualizaçãoenvolve direcionar propositadamente a atividade
do sistema representacional visual. A visualização pode utilizar memórias,
fantasias ou uma combinação dos dois. É um dos processos fundamentais
através do qual as pessoas constroem seus modelos internos de mundo.

A capacidade de formar imagens visuais tem diversos usos. A visualização, por


exemplo, é uma das ferramentas mais importantes usadas pela PNL e por
outros métodos psicologicamente aplicados com o propósito de planejar e
“programar” mudanças no comportamento. Também é a base
da capacidade de “sonhar”, criar e inovar. Para muitas pessoas,
a visualização é o componente principal da imaginação.
Uma capacidade excepcional para visualizar é uma característica de muitos
gênios. De fato, pessoas como Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Walt Disney,
Nikola Tesla e até mesmo Wolfgang Amadeus Mozart, todos atribuíram seu
gênio criativo à capacidade para visualizar.

A visualização é usada, muitas vezes, pelos psicólogos esportivos para ajudar


a melhorar o desempenho atlético. Existem numerosos exemplos de como
a visualização promoveu um melhor desempenho nas habilidades físicas. Em
um estudo, por exemplo, os ginastas que deveriam aprender um novo
movimento foram divididos em dois grupos. Um grupo foi instruído para que
visualizasse a si mesmo fazendo esse movimento em particular, enquanto que
para o outro grupo não foi dada nenhuma instrução. Algumas semanas mais
tarde, quando chegou a hora desse movimento particular ser realizado, sem o
benefício de nenhuma prática física anterior, o grupo que visualizou teve uma
taxa de sucesso de 50 a 60%, enquanto o grupo que não tinha visualizado
teve, em princípio, um sucesso de cerca de 10%. Em outro exemplo, um time
de basquete foi dividido em dois grupos a fim de praticar “arremesso livre”. Um
grupo praticou fisicamente, executando os lances. O outro grupo foi instruído
para sentar na arquibancada e praticar mentalmente a visualização de que
estava executando os lances. Quando os dois grupos competiram entre si para
ver quem tinha um desempenho melhor, aqueles jogadores que fizeram
a visualização realmente fizeram mais lances bem-sucedidos do que o grupo
que tinha realmente praticado.
A visualização também é usada em vários tipos de trabalhos terapêuticos,
tipicamente na forma de ‘fantasia guiada’ e, há muito tempo, tem sido a
principal ferramenta para a cura da mente-corpo. Carl e Stephanie Simonton,
por exemplo, incorporaram a visualização como um dos principais
componentes nos seus tratamentos de câncer.

Algumas vezes as pessoas tendem a abordar a visualização como se ela fosse


capaz de produzir efeitos quase “mágicos”. Na perspectiva da PNL, entretanto,
como a visualização é uma atividade do sistema nervoso do corpo, ela também
pode influenciar o corpo de várias maneiras. Por exemplo, as imagens visuais
de metas e resultados podem formar um ponto focal ou “atrator”, em torno do
qual o comportamentose torna auto-organizado ciberneticamente. Assim,
visualizar resultados e consequências futuras pode estimular e mobilizar a
atividade do sistema nervoso (tanto consciente como inconsciente) no
presente. Essa atividade também pode incluir funções envolvendo o sistema
nervoso autônomo. As pesquisas mostraram, por exemplo, que certas formas
de visualização podem estimular o funcionamento do sistema imunológico e de
outros processos de cura.

Muitas técnicas da PNL incorporaram a visualizaçãocomo um elemento básico.


O Gerador de Novos Comportamentos, o Padrão Swish, a Ponte ao Futuro, o
Visual Squash, a Dissociação VC e a Estratégia da Imaginação Geométrica de
Disney, todos confiam fortemente no processo de visualização. De qualquer
maneira, em algum ponto, quase todas as técnicas de PNL fazem uso
da visualização.

Ensaio Mental

Algum tempo atrás, foi feito um estudo sobre pessoas que tinham sobrevivido a
acidentes aéreos. Alguém entrevistou algumas pessoas que estiveram
envolvidas em sérios acidentes aéreos, mas que tinham sobrevivido, muitas
vezes sem ferimentos. Perguntaram a elas como haviam manejado para se
livrarem dos destroços, com todo o caos ao redor, enquanto que muitos dos
seus companheiros de voo não haviam conseguido. Essa é uma pergunta
interessante porque escapar dos destroços de um avião não é algo que você
tem muita chance de praticar. Como você se prepara para fazer algo que você
nunca fez antes?

A resposta mais comum que os sobreviventes davam para essa pergunta era
que eles haviam praticado, muitas vezes, um tipo de ‘ensaio mental’ nas suas
mentes. Eles teriam visualizado a sequência de desafivelar o cinto de
segurança, sair do seu assento, correr pelo corredor até a saída mais próxima,
se jogar pelo escorregador, etc. Eles teriam repetido essas imagens inúmeras
vezes, sentindo-se fazendo aquilo que eles viam nas suas mentes, até que
parecia que eles já tinham realizado essa atividade muitas vezes antes. Então,
depois do acidente, quando havia um caos total, eles não precisavam perder
tempo ou pensar conscientemente no que fazer. O programa já estava no lugar
certo. Uma dessas pessoas até mencionou que depois do acidente, ela se
encontrava saindo pela saída e de repente se deu conta que podia ouvir a
pessoa que havia estado sentada ao seu lado gritando que não conseguia se
livrar do cinto.
Ensaio mental se refere a nossa capacidade de praticar um processo ou uma
atividade em nossa mente. Na PNL, o ensaio mental é usado para fortalecer ou
melhorar o desempenho comportamental, padrões de pensamento cognitivo e
estados interiores. Quando aplicado ao desempenho comportamental, o ensaio
mental envolve a criação de representações internas, na forma de imagens,
sons e sensações, de algum comportamento ou desempenho que nós
desejamos representar ou melhorar (como o ator que deve ensaiar
silenciosamente as falas de uma peça). Ensaiar mentalmente
uma estratégia cognitiva envolve a repetição da sequência de sistemas
representacionais e suas pistas de acesso, compondo um programa mental
particular (por exemplo, os passos da estratégia de soletração). Para ensaiar
um estado interno mentalmente, uma pessoa deveria repetir e ancorar os
padrões físicos (posturas, gestos, micro movimentos, etc.) e as qualidades
cognitivas (tipo de imagens internas, voz interior, sensações cinestésicas, etc.)
associadas a esse estado.

Quando aplicado ao desempenho comportamental e aos estados interiores, o


ensaio mental envolve a repetição do mesmo conteúdo comportamental ou
emocional em diferentes contextos imaginados (por exemplo, mantendo a
mesma postura e usando o mesmo tom de voz em várias situações). Contudo,
quando ensaiamos mentalmente uma estratégiacognitiva, é importante aplicar
a mesma sequência representacional, ou forma, para inúmeros tipos de
diferentes de contextos (por exemplo, praticar a estratégia de soletração
usando uma variedade de palavras diferentes).

No nível do desempenho comportamental, existem diferentes estratégias para


o ensaio mental. O ensaio mental de uma atividade particular pode, por
exemplo, ser feita tanto de uma perspectiva associada como dissociada, isso é,
imaginando a situação a partir da própria perspectiva de alguém ou observando
a si mesmo a partir do ponto de vista de um observador, como se estivesse
assistindo a si mesmo num filme ou num vídeo. Ensaio mental feito de uma
perspectiva associada é como entrar na “realidade virtual” e se tornar o ator
numa peça ou filme. Na perspectiva dissociada, o ensaio mental permite que a
pessoa seja como o editor ou o diretor da peça ou do filme. Assim, quando feito
de uma perspectiva associada, o ensaio mental pode ser usado para
internalizar, ou “instalar”, um comportamento particular. Quando feito de
uma posição perceptiva dissociada, o ensaio mental pode ser usado para
antecipar possíveis consequências de uma ação numa situação (o seu impacto
ou a conveniência ecológica, por exemplo), como um tipo de simulação mental.

Para realmente internalizar um comportamento, o ensaio mental é tipicamente


mais efetivo quando feito a partir de uma perspectiva associada. A forma mais
direta é simplesmente projetar-se numa situação futura, e imaginar-se
realizando o desempenho desejado. Para treinar mentalmente um discurso, por
exemplo, você poderia se imaginar na situação futura, e criar
uma representação multi-sensorial da maneira que você gostaria de atuar.
Quando você ensaia mentalmente fazendo um discurso efetivo e instigante,
você pode imaginar o que estaria vendo naquela situação, sentindo os
movimentos e as manifestações do seu corpo, e ouvindo como a sua voz
soaria enquanto você faz o discurso.
Outras estratégias incluem a Estratégia Geradora de Novos Comportamentos,
na qual os elementos chaves do desempenho desejado são descritos primeiro
verbalmente. A descrição linguística forma a base para a construção da
imagem visual dissociada das ações desejadas. Você então se imagina
desempenhando o papel que você fantasiou desde uma posição associada, e
verifica os seus sentimentos de confiança e congruência ao fazer
o comportamento imaginado. Se existir alguma dúvida, retorne para a
descrição verbal e acrescente algo ou a aperfeiçoe.

As submodalidades são uma influência importante na efetividade de algumas


formas de ensaio mental. Certas qualidades das imagens, sensações e sons
podem ser importantes e devem ser incluídas a fim de que o sistema nervoso
internalize um padrão particular de comportamento. De qualquer forma, se a
imagem de alguém é retratada de uma perspectiva associada ou dissociada,
por exemplo, a qualidade da cor, do movimento, da profundidade, do foco, da
distância, etc., da imagem pode torná-la mais ou menos efetiva
para conduzir para os resultados comportamentais desejados. Isso é
particularmente importante para ensaiar mentalmente um estado interior.

Além do Gerador de Novos Comportamentos, o ensaio mental é um elemento


chave de muitas técnicas da PNL. De fato, a forma de ensaio mental chamada
de “Ponte ao Futuro”, no qual a pessoa se imagina desempenhando mudanças
no comportamento em contextos específicos é a etapa final em praticamente
toda intervenção da PNL.

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