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Brasília/DF
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2021
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© 2021 Jakob Arnin
Contra Cronos — O trabalho e as horas
Editado em setembro de 2021
Revisão de textos:
Ricardo Franzin
Contra Cronos: o trabalho e as horas [recurso eletrônico] / Jakob Arnin. – 1.ed. – Brasília(DF):
SGuerra Design, 2021.
1.500 kb
ISBN: 978-65-5899-216-5
CDD B869.3
Jakob Arnin
— Trouxe as correntes?
— Vixe, esqueci...
Suspira.
— Eureca!
Toma impulso.
— Explique, garoto.
— É!
O velho sorri.
— Como?
— Corra, vá. Não deixe seu senhor bravo. O que você fez
por Marabô foi muito bom, mas ainda não cobre o preço
das peças que você usou. Especialmente uma armadura
de bronze! Isso é bastante valioso.
Hormes expira longamente. Embora seu sorriso não
apague, seus braços largados à força da gravidade
revelam sua frustração. Babu acha aquela cena ainda
mais esquisita. Um frustrado sorridente. Nunca tinha
visto uma expressão assim.
***
Axion não acredita no que vê. Como ela pôde fazer aquilo
tão rápido? Ela vai escapar...
— HORMES!!!
— Encontrei sua irmã. Ela disse que seu pai ficou muito
preocupado contigo, pois você não passou a noite em
casa — Momus percebe que as mãos de Hormes tremem
ainda mais intensamente e que o ritmo da organização
diminui. — Espero que você não tenha aprontado nada
durante a madrugada.
— Não deixe seu pai sem saber o que você faz à noite.
Não é justo tratar um pai assim — Momus ensina.
— Dirce.
— É? — Hormes sorri.
— Filha, é você?
— Sim, mãe.
Penia percebe que a filha está mentindo. A velha pega o
pote de ervas, abre-o e sente o cheiro.
— Já peguei.
Penia ofega.
— De que adianta arrumar um emprego com bracelete?
A senhora foi descartada, mãe, e ninguém quer uma
velha cega cheia de dores nas juntas — Hyp não luta
contra as lágrimas que lhe escapam. — Eu passo cada
dia tentando mantê-la viva, do jeito que consigo...
Nenhum emprego paga o bastante por essas ervas, tá?
Roubei, sim!
— Descanse.
***
Dário se levanta.
Para variar, Hormes sorri. Mas pensa que tem algo errado
nesse trabalho.
— Ahnnn...
Oniro silencia.
A jovem expira.
— Chefe...
***
No final da tarde, a filha de Theceo percorre os jardins,
apressada. Olha para os lados. Entra pela enorme porta
lateral da casa. Suas botas chiam no chão de mármore.
Pensa.
Aponta para a prateleira de frutas e pede, sem emitir
voz, “maçã”. Aponta para si mesma e diz, em silêncio:
“Traga para mim”.
— Por quê?
— Hormes, vamos!
Babu ri.
Babu ri de novo.
Hyp não se sente assim. Ela sabe que a noite não será
fácil.
— É sim, senhor.
— Posso ver?
— Trabalho...
— Ora, ora! Achei que você não fosse mais voltar para
casa.
— Não faça tanta força, pai. Você tem que cuidar para
suas dores não piorarem — diz Hormes.
— Pronto!
— Como é, pai?
— Jure para mim que você não vai fazer outra máquina
de costurar. E nenhuma máquina para a Cotonifício.
— Não, pai...
— Jure!
— Mas e se...
— JURE!
— O que o aflige?
— É um palpite.
Hormes acelera.
Biohó corre.
Hormes acelera ao máximo, fazendo o motor de sua
minimoto gritar e espalhar fumaça negra.
— Transporte de serviçais?
Hormes silencia.
— Mas os Symvasi...
— Sim, senhor.
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— É agora.
Os Anansis param.
Riem.
Saqueiam.
Cassiopeia aceita.
— Estamos.
Theceo esbraveja:
— Obrigado, garoto.
Hormes sorri.
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***
Momus se desconserta:
O relógio badala.
Momus se cala.
Hormes sorri.
Theceo espia.
— Mas patrão...
— Mas o quê, Hormes? Você acha que eu sou idiota?
Você quer roubar a atenção e se tornar um organizador
de ouro, não é? Mas eu sou o seu patrão! Eu tenho que
vencer primeiro, depois eu divido os méritos com você!
Depois de todos esses anos trabalhando naquela estoa
fedida... E você... nem mostra gratidão... Eu trouxe você
até aqui. Você faz o que eu mando — Momus se
entorpece com as próprias palavras.
— Explique.
— Sim, se-senhor...
Jasão silencia.
— Não, senhor.
— Sim, senhor.
— Dispensado.
***
— Mas...
— Eu, não; mas meu pai conversa com ele toda semana.
***
***
***
— Pai...
***
— Está com medo, Ftonos? Você acha que esse rapaz vai
fazer um trabalho melhor e roubar seu lugar na fábrica?
— Prometeus provoca, colocando seu braço dourado no
caminho e impedindo que Ftonos alcance a folha nas
mãos de Hormes.
Ftonos não reage por fora, mas ferve por dentro. Ele tem
coragem para afrontar pessoas de metal menos nobre,
mas nunca afrontaria uma pessoa de ouro. Respira fundo
e dá um passo para o lado, de modo que Hormes possa
analisar a planta.
***
— Chamou, patrão?
— Sim, senhor.
— Senhor Theceo...
— Sim?
Por outro lado, ficou claro para ele que convencer Theceo
a reduzir a jornada dos operários não seria nada fácil.
Será que Theceo tem razão? Talvez seja melhor Hormes
mostrar seu valor, primeiro. Se não der para mudar o
mundo para todos, talvez dê para mudar o mundo para a
sua família. “Eu mereço mais, com certeza, e vou
trabalhar para isso”. E algo no rosto de Hormes muda.
Seu olhar muda. O sorriso não é tão entusiástico quanto
antes, mas seus olhos revelam: Hormes está confiante
em si mesmo.
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Epimeteu emenda:
— Oi, Diceosine!
Ele olha diretamente para ela com seu sorriso, para ela
reconhecê-lo.
— Fazem...
— Hmmm...
— Ele não falou por mal, divino Cronos. Por favor, perdoe-
o — pede Nautilus.
***
***
— Mas, Ftonos...
— LIGUE!
Theceo o solta.
— É mesmo?
— Si-sim, senhor!
— E descobriu?
— Hoje você está mais lento, Sísifo. Você não era como
aqueles seus colegas lerdos. O que aconteceu? — o
supervisor vem com a prancheta em mãos.
***
— Deixem-no em paz!
— Bata no rosto.
— Sim, é verdade.
— Bruto!
— Cruel!
— Injusto, insensível!
Escolha difícil.
***
Axion silencia.
***
— Mas...
Ela a entrega.
— Isso é Atropa belladona . Não será fácil plantá-la aqui.
Ela cresce em lugares úmidos e frios. Teríamos que achar
um lugar especial para protegê-la do calor — afirma
Kyongozi.
— Não tenho.
— Mãe?
— Não posso...
— Desista, mãe!
“Clique.”
***
— Sou eu.
— Sim.
— E princesa...
Theceo explica:
— Não interessa.
— Parece sério...
— A produção parou.
— Que erros?
— Mostre!
Hormes responde:
— Ah, mãe...
Hormes ergue as mãos diante de seus olhos. O enjoo
está passando. Seus braços estão doloridos. Os dedos,
dormentes.
— Oniro, espere.
— Não...
— Pai?
— Não muito...
— Vejo que o bracelete de Cronos está parado.
Hormes sorri.
— Você também estava certo, Jan Cândhido. Theceo não
mudará a jornada de trabalho dos operários, mesmo com
toda a tecnologia de que dispõe. Ele quer outra coisa.
O guardião anuncia:
Axion continua:
— É pouco.
— Mas, senhor...
— ELE VAI TRAIR A GUARDA! Fique de olho nele!
Arranque toda informação que conseguir antes que ele
nos traia — exige Jasão.
— Sim, senhor.
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***
Cassiopeia tem as mãos algemadas atrás das costas e os
pés acorrentados. É impossível caminhar. Vai saltitando,
com os pés juntos, até a sala de interrogatório. Senta-se
de mau jeito sobre a cadeira.
— Com chuveiro!
— Verei se é possível.
Hyp cochicha:
— O que é, Axion?
— Nada.
Axion anuncia:
Axion nota que algo está errado, mas não há tempo para
tentar entender. Dário está logo atrás dele, cobrando o
resultado da missão.
— Feito.
***
***
***
Axion se aproxima.
— Sim, quero.
— O rio!
— Peguei!
— Droga! Cassiopeia...
44
***
***
— Calma...
— Espere aqui.
— É...
— Boa tarde!
— Boa tarde!
***
— Não.
— Estava...
— Você o conhece?
— Vai me prender?
— Numa festa.
— Mas...
— Você cedeu em algo que não poderia ceder. Eu
confiava em você para proteger a minha Lei, mas você a
quebrou! Eu nunca lhe dei autorização para mudar a Lei!
T ambores rufam.
Cornetas soam.
— Não sei...
***
Os supervisores assentem.
— Ao banheiro, senhor.
— Mas, senhor...
— Então ela não deveria ter saído de casa hoje. Não tem
nada para fazer na rua — responde o homem de prata.
— Mas, senhor...
— ARGHHHH!!!!!
Granázio desafia:
***
— Pai...
— Por favor, filho, pare com isso agora mesmo! Outras
pessoas podem se machucar. Você está lidando com
forças que não conhece. Volte para casa — a voz de
Epimoni solavanca.
— Pai...
— Tá...
A terra treme.
A terra treme.
— Não sei.
A silhueta de um homem sai da fábrica e atravessa a
nuvem de poeira. É enorme. Muito maior do que os
muros. A terra treme. É maior do que as poucas árvores
secas que ladeiam a rua. E ele ainda está com as mãos
apoiadas no chão.
— HORMES!
Os operários se agitam.
— JAN!
Nada acontece.
— Solte-o, Axion.
***
— Meus deuses...
***
— Eu vi os seus pais!
— Tinha, sim!
— O quê?
Mas ele não está seguro das coisas que aquela velha
senhora falou. Ela podia estar confundindo as coisas.
Sísifo e Arete, ajudados pela Hyp, levando o corpo de
Hormes para Palami? Axion se pergunta se aquela cena
faz sentido.
Jitu pisa sobre o peito de Axion para que ele não consiga
se levantar. O ex-guardião, quase sem ar, murmura:
— É complicado...
— Conheço. Eu já a ajudei...
***
— O que é, então?
— Mãe, eu...
Hormes tosse.
***
— Seu prazo expirou ontem, Theceo. Você não veio falar
comigo.
Cronos determina:
— Vamos criar neles um trauma. Algo que os faça se
arrependerem de terem tido essa ideia de trabalhar
menos horas.
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— Quero.
Epimoni se levanta.
— Estou vigiando.
— Esperando para me prender?
— Acabou, Babu.
— Eu inventava máquinas...
— E aí? — pergunta.
A terra treme.
— Senhor?
— O que é, Dário?
Aperta o botão.
— Calina!
Quem a chamou? Calina esquece dos pássaros que
observava. Procura qualquer movimento ao seu redor. No
fundo do pátio, de trás de uma estátua de Atena, sai
Hormes, com os braços enfaixados, acompanhado de
Axion. Hyp, a passos calmos, como não lhe é de
costume, vem logo atrás.
***
— Ah...
— Sua mãe? Penia, não é? Ela está bem. Está com Mema
na casa de Babu.
— Conseguiram construir tudo que pedi? — pergunta
Hormes.
— Sim.
— Recebeu as frutas?
***
— Obrigado, pai.
Hyp está quieta. Ela não admite, mas sabe que aquilo
que ela sente é medo. Como vencer um deus? Cronos é
maior e mais poderoso do que qualquer coisa que ela já
enfrentou na vida.
— Ataquem!
Os guardiões erguem martelos e lanças, agitam escudos
e dão tiros para o ar. Urram, batendo seus pés sobre o
chão, sincronizados, fazendo um barulho ensurdecedor
ecoar por toda Nova Ascra.
Os golpes cessam.
É a voz de Cronos.
— Quem, senhor?
— Agora!
— TRAIDOR!
As mandalas se apagam.
Os guardiões urram.
— Não pense que faço isso por você. Faço pela minha
lavoura. Vou ensinar a esses guardiões que jamais
devem pensar em destruir a plantação de Palami
novamente.
— E você?
— Eu vim ajudar!
— Obrigada, guardião, mas minha missão neste templo
ainda não acabou — responde Calina. — Não sairei daqui.
Hormes continua:
— Nem eu.
— Não mesmo.
Nomos se levanta:
— Cerquem os traidores!
Os raios os alcançam.
— Zeus!?!
— Sim, meu jovem. Eu sou Zeus.
— Infelizmente, não.
— Por quê?
— Porque nós tentamos de tudo. Os empresários são
irredutíveis. Acho que é necessário impor uma nova lei —
responde Hormes.
— Sim.
— Já tentamos isso.
— Sim.
— Estou.
Axion pergunta:
— Vamos à praia!
***
Calina ri e diz:
Axion ri:
Jakob Arnin
Setembro de 2021