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Formação dos Profissionais de Saúde para o

SUS: significado e cuidado


Education of Health Professionals for the SUS: meaning and
care

Karina Barros Calife Batista Resumo


Mestre em Medicina Preventiva. Assessora Técnica em Saúde da
Mulher da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Médica Formar profissionais para atuar no sistema de saú-
Sanitarista do Centro de Saúde Escola Barra Funda da Faculdade de sempre foi um desafio. Trazer o campo do real,
de Medicina da Santa Casa de São Paulo. da prática do dia a dia de profissionais, usuários e
Endereço: Rua Dr. Paulo Vieira, No. 383/2301, Sumaré, CEP 01257-
000, São Paulo, SP, Brasil.
gestores mostra-se fundamental para a resolução
E-mail: kcalife@saude.sp.gov.br dos problemas encontrados na assistência à saúde e
para a qualificação do cuidado prestado aos sujeitos.
Otília Simões Janeiro Gonçalves
Educadora em Saúde Pública. Diretora Técnica de Departamento de
A mudança na formação acadêmica de estudantes
Saúde, Grupo de Seleção e Desenvolvimento de Recursos Humanos e professores do campo da saúde também se tem
do Centro de Formação de Recursos Humanos para o SUS da Secre- mostrado necessária. Este artigo pretende fazer
taria de Estado da Saúde de São Paulo − Cefor/CRH/SES. uma breve recuperação histórica dos marcos das
Endereço: Rua Dona Inácia Uchoa, 572, Vila Mariana, CEP 04021- propostas de educação na saúde para profissionais
000, São Paulo, SP, Brasil.
E-mail: osimoes@saude.sp.gov.br
do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial no
Estado de São Paulo, nos últimos anos e discutir
as possibilidades de inserir metodologias ativas de
ensino-aprendizagem em seu contexto. Para isso,
discutimos a necessidade de aproximar a formação
dos profissionais de saúde das reais necessidades
dos usuários e do sistema. Isso requer mudanças
institucionais, profissionais e pessoais difíceis,
lentas, conflituosas e complexas. O significado
da formação e a qualificação do cuidado devem
estar presentes nos processos educativos para os
profissionais de saúde. O ideal de profissional que
queremos para o nosso Sistema de Saúde pode ser
atingido se reconhecermos as necessidades e o poder
criativo de cada um, ouvir o que cada um tem para
dizer e refletir sobre a prática profissional inicial-
mente cheia de valores e de significados, os quais,
muitas vezes, se perdem pelo caminho. Precisamos
recuperar esses valores em nossos espaços de tra-
balho, nos centros formadores, nas universidades.
Este é o nosso desafio.
Palavras-chave: Formação de Recursos Humanos;
Educação Permanente em Saúde; Metodologias
ativas de ensino aprendizagem; Cuidado; Gestão
do Cuidado.

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Abstract Olho para a Educação com olhos de cozinheira e me
pergunto: Que comidas se Preparam com os corpos
Educating professionals to work in health syste- e mentes... nesse caldeirão chamado Escola? Porque
ms has always been a challenge. Great changes in educação é isso: um processo de transformações
methodologies that have been traditionally used alquímicas que acontece pela magia da palavra.
are needed. Strategies to bring about concrete situ- Que prato se pretende servir? Que sabor está sendo
ations faced by professionals, managers and users preparado? Para que se educa? É isso que aprendi
in the real world are required to overcome problems com as cozinheiras: que é preciso pensar a partir do
in heath care as well as to improve the quality of the fim. Os saberes são coisas boas. Os saberes devem
care that is provided for citizens. Changes in the nos dar razão para viver.
academic education of both students and teachers Rubem Alves
in the field of health have also been pointed as a
necessity. This article presents a brief review of As discussões sobre a necessidade de um sistema
recent proposals for the health education of the pro- de saúde mais justo, que se organize levando em
fessionals of Sistema Único de Saúde (SUS – Brazil’s consideração a equidade, as necessidades regionais
National Health System) and intends to discuss the e dos usuários, com a saúde como direito, não são de
possibilities of introducing problem-based learning hoje. Desde a década de 1970, através do movimento
methodologies in this context. It is also debated how da Reforma Sanitária Brasileira, se propõe à socie-
important it is to closely relate health professional dade uma mudança na organização do sistema de
education to both users and system needs. This saúde vigente (Brasil, 1986).
requires difficult, slow, conflicting and complex A VIII Conferência Nacional de Saúde e a cria-
institutional, professional and personal changes. ção da Comissão Nacional de Reforma Sanitária,
The meaning of education and the qualification of nos anos 1980, foram importantes para as muitas
care must be central elements of the educational pro- conquistas que aconteceram no processo de reor-
cesses for health professionals. The professionals we ganização do sistema de saúde no Brasil. Apesar de
want in our Health Care System are probably much muitos conflitos, embates e diferentes interesses,
closer than we imagine, if the needs and creativity ocorreram importantes mudanças, chegando à Cons-
of each one are recognized, since many of them tituição Federal Brasileira de 1988, que reconhece
started their professional lives based upon values a saúde como um direito de todos os cidadãos e um
and meanings that, sometimes, are lost in the way. dever do Estado, e a criação do Sistema Único de
We need to recover them in our work environment, Saúde (SUS) (Brasil, 1988).
educational centers and universities. This is our Em 1990, a implantação do SUS deu início à or-
challenge. ganização de um sistema de dimensão nacional, de
Keywords: Human Resources Education; Problem- caráter público, com princípios e diretrizes comuns
Based Learning; Education, Continuing; Health em todo o território nacional, regulados a partir da
Education; Patient-Centered Care. aprovação da Lei Orgânica da Saúde em 1990 (Leis
nº 8.080/90 e nº 8.142/90) (Brasil, 1990).
Apesar dessas conquistas, a especialização do
cuidado à saúde, a distância do sujeito nos proces-
sos de cuidado e as grandes diferenças entre o que
pensam os usuários e os trabalhadores e gestores
da saúde têm se configurado como uma grande
tensão na construção do modelo de saúde sonhado,
chegando, algumas vezes, a diminuir o acesso dos
usuários ao sistema ou sua exclusão.
A formação dos profissionais de saúde que atu-
am nesse sistema, que teve no decorrer dos anos

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várias estratégias de operacionalização − Norma para a consecução de um SUS democrático, equita-
Operacional de Assistência a Saúde (NOAs), Norma tivo e eficiente (Gil, 2005).
Operacional Básica (NOBs) até chegar ao Pacto de A qualificação de RH na saúde pode ser entendi-
Gestão − tem suscitado sempre grandes discussões. da como a efetivação de estratégias e ações para o
Algumas estratégias importantes para a reorgani- aproveitamento do potencial dos profissionais, no
zação e a humanização do sistema foram implan- sentido de enfrentar as mudanças e os desafios gera-
tadas. Entre elas, a Estratégia Saúde da Família, a dos no desempenho do trabalho diário nos diferentes
Política Nacional de Humanização, o Programa de espaços do SUS (Machado, 2003).
Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), Todo investimento em treinamento e qualifica-
entre outras. ção de pessoal, quando bem planejado e desenvol-
Essas estratégias visam principalmente contri- vido, é capaz de produzir mudanças positivas no
buir para a reorientação do modelo, investindo na desempenho das pessoas. Entretanto, é importante
integralidade da atenção à saúde, em conformidade considerar que os resultados esperados de progra-
com os princípios e as diretrizes do SUS. Isso implica mas de treinamento e desenvolvimento de pessoal
em novas dinâmicas de atuação nas unidades de saú- podem ser minimizados pelas condições de cada
de, com redefinição de responsabilidades entre os estrutura Institucional, caso a interação entre essa
serviços/gestores, os trabalhadores e a população. estrutura e os objetivos das propostas de treinamen-
Apesar de alguns avanços, a formação dos to/qualificação não estejam alinhados.
profissionais de saúde ainda está muito distante Na proposta da Política de Educação Permanente
do cuidado integral. O perfil dos profissionais de em Saúde, a mudança das estratégias de organização
saúde demonstra qualificação insuficiente para as dos serviços e do exercício da atenção é construída
mudanças das práticas. Uma necessidade crescente na prática das equipes. “As demandas para a ca-
de educação permanente para esses profissionais, pacitação não se definem somente a partir de uma
com o objetivo de (re) significar seus perfis de atua- lista de necessidades individuais de atualização,
ção, para implantação e fortalecimento da atenção nem das orientações dos níveis centrais, mas prio-
à saúde no SUS é um grande desafio. Neste artigo ritariamente, desde a origem dos problemas que
abordaremos uma breve recuperação histórica e as acontecem no dia a dia, da organização do trabalho
estratégias utilizadas pela gestão para o enfrenta- em saúde. Desse modo, transformar a formação e a
mento dessa questão. gestão do trabalho em saúde não pode ser considera-
A Política Nacional de Educação Permanente do uma questão simplesmente técnica, pois envolve
em Saúde aparece como uma proposta de ação es- mudanças nas relações, nos processos, nos atos
tratégica para contribuir para a transformação e a de saúde e, principalmente, nas pessoas” (Jaeger e
qualificação das práticas de saúde, a organização Ceccim,2004).
das ações e dos serviços, dos processos formativos A experiência do enfrentamento desse desafio no
e das práticas pedagógicas na formação e no desen- Estado de São Paulo é também abordada neste artigo.
volvimento dos trabalhadores de saúde. Implica em
trabalho intersetorial capaz de articular o desen-
volvimento individual e institucional, as ações e Alguns Marcos das Propostas
os serviços e a gestão local, a atenção à saúde e o de Educação na Saúde para
controle social (Brasil, 2004).
A consolidação do SUS tem exigido dos gestores
Profissionais do SUS
de saúde, nas diferentes esferas, a identificação e a Durante os anos 1990 a Organização Pan-americana
definição de estratégias para a resolução dos proble- de Saúde (OPAS) sistematizou o conhecimento de
mas de recursos humanos (RH) em saúde, indicando Educação Permanente apontando uma perspectiva
também a necessidade de fortalecimento das práti- teórica e metodológica para a constituição de Pro-
cas de gestão nesse campo. O Desenvolvimento de gramas de Educação Permanente em Saúde.
RH representa hoje um papel de suma importância A proposta de uma política de capacitação per-

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manente de pessoal para a saúde pode ser revisitada Nesse período, foram criados incentivos para
a partir de três momentos distintos. cursos introdutórios que congregavam toda a equi-
O primeiro momento envolveu uma programação pe, realizados em parceria com várias universidades
específica para as equipes do Programa de Saúde da no Estado de São Paulo, cursos de aperfeiçoamento,
Família, o Projeto de Expansão da Saúde da Família de atualização e de pós-graduação, estes nas moda-
(Proesf). Em 1996 foi publicado o primeiro edital lidades de Especialização e de Residência Multipro-
de convocação dos Estados para a apresentação de fissional em Saúde da Família. O objetivo central
projetos de desenvolvimento de recursos humanos, era dar suporte teórico e prático aos profissionais
caracterizando um conjunto de iniciativas voltadas já inseridos nas equipes, oferecer, em especial, aos
para o fortalecimento da estratégia de Saúde da Fa- recém-egressos dos cursos de medicina e enferma-
mília e da Atenção Básica no âmbito do SUS. gem uma formação mais adequada às necessidades
A partir daí, em 1997, contamos com a criação dos da Saúde da Família e estimular as universidades a
Polos de Formação, Capacitação e Educação Perma- inserirem o tema em seus respectivos programas
nente para as equipes de Saúde da Família. A partir de pós-graduação lato sensu. Apesar de fazerem
desses polos, e coerente com sua política, surgiram parte do mundo do trabalho, esses cursos pouco
algumas propostas de aproximação do preceito discutiam as questões do dia a dia das práticas de
constitucional que define a ordenação dos Recursos saúde e os processos de trabalho, que também não
Humanos para a Saúde como atributo do SUS. eram entendidos como questões que pudessem ins-
Em São Paulo, articulados pelo Polo de Capacita- trumentalizar a gestão.
ção em Saúde da Família da Região Metropolitana O segundo momento teve início a partir da
da Grande São Paulo, que incluía, além do município pactuação na Comissão Intergestores Tripartite e
de São Paulo, os municípios das regionais de Santo da aprovação no Conselho Nacional de Saúde, no
André, Mogi das cruzes, Osasco e Franco da Rocha, segundo semestre de 2003. Em 2004, por meio da
foi financiado pelo Ministério da Saúde o total de 15 Portaria nº 198/04, que instituiu a Política Nacional
(quinze) cursos de especialização, sendo os primei- de Educação Permanente em Saúde como estratégia
ros realizados pela Universidade de São Paulo (USP), do SUS para a formação e o desenvolvimento dos
Fundação Faculdade de Medicina do ABC e outro por trabalhadores para o setor, um grande e importan-
parceria realizada entre a Faculdade de Ciências te movimento para a educação na área da saúde
Médicas da Santa Casa de São Paulo e Universidade aconteceu no país. O Ministério da Saúde tomou a
Federal de São Paulo (Unifesp). Educação Permanente em Saúde como ideia central
Na sequência, em consórcio administrado finan- da Política de Gestão da Educação no trabalho em
ceiramente pela Fundação Zerbini e coordenado pelo saúde, passando a desenvolver ações indutoras
polo, foram ofertados mais seis cursos, sendo um por significativas no interior do SUS, com a criação da
cada instituição de ensino, a saber: Universidade de Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na
São Paulo (USP), Universidade de Santo Amaro (Uni- Saúde (SGTES) no Ministério da Saúde.
sa), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), A proposta de Educação Permanente em Saúde
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São que vem sendo implantada no Brasil destaca a im-
Paulo(FCMSCSP), Fundação Faculdade de Medicina portância do potencial educativo do processo de tra-
do ABC e Santa Marcelina, ainda como Pólo de Ca- balho para a sua transformação. Busca a melhoria da
pacitação em Saúde da Família. Outros seis cursos qualidade do cuidado, a capacidade de comunicação
do mesmo consórcio, porém já coordenados pelo e o compromisso social entre as equipes de saúde,
Pólo de Educação Permanente em Saúde da Grande os gestores do sistema de saúde, as instituições for-
São Paulo, finalizaram em janeiro de 2006. Duas madoras e o controle social. Estimula a produção de
Residências Multiprofissionais articuladas nesse saberes a partir da valorização da experiência e da
Pólo de Educação Permanente em Saúde da Grande cultura do sujeito das práticas de trabalho em saúde
São Paulo (PEP/GSP) foram ofertadas pela Casa de numa dada situação e com postura crítica (Ceccim
Saúde Santa Marcelina. e Feuerwerker, 2004) (Ceccim, 2004).

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A Política de Educação Permanente em Saúde da USP, estudou o desempenho alcançado pelos
deixou de ser simplesmente uma proposta do Minis- Polos de Educação Permanente em Saúde em todo
tério da Saúde para ser uma política do SUS. o país e destacou como diferencial significativo dos
O Ministério da Saúde propõe a Educação Perma- resultados alcançados pelo Estado de São Paulo a
nente em Saúde como estratégia de transformação configuração do processo de trabalho articulado en-
das práticas de formação, de atenção, de gestão, de tre a SES-SP Cosems-SP, com a criação da Comissão
formulação de políticas, de participação popular e Bipartite de implantação e acompanhamentos dos
de controle social no setor da Saúde. Polos de Educação Permanente em Saúde (PEPS)
no estado e o trabalho conjunto com o Conselho
Estadual de Saúde (Viana, 2008).
O Cenário e a Implantação da No Estado de São Paulo, os Polos de Capacitação
Portaria nº 198/04 no Estado de São e Educação Permanente para Saúde da Família são
Paulo considerados o embrião dos Pólos de Educação
Permanente em Saúde, formados antes da Portaria
No Estado de São Paulo foi constituída a Comissão nº 198/04. O mais antigo já trabalhava em diversos
Bipartite de Implantação e acompanhamento dos projetos do Ministério da Saúde, entre eles o Projeto
Polos no Estado, composta de representantes do de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de
Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Enfermagem (Profae), Especializações e Residência
Estado de São Paulo (Cosems-SP) e da Secretária de Médica em Saúde da Família.
Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP). Essa comis- O Polo da Grande São Paulo já se organizava com
são articulou-se no sentido de conhecer o trabalho uma proposta de trabalho “em roda” e com decisões
desenvolvido em todo o Estado, onde anteriormente por consenso, envolvendo as Secretarias Municipais
existiam os cinco Polos de Capacitação, Formação de Saúde, as Regionais de Saúde da SES-SP e várias
e Educação Permanente de Pessoal para a Saúde Instituições de Ensino do Estado. Porém não traba-
da Família1. lhava com a demanda da organização do trabalho e
A partir de consensos em relação às recomenda- da prática do dia a dia dos serviços, profissionais e
ções contidas na Portaria nº 198, a Comissão Bipar- usuários. No processo de transição para o modelo
tite definiu oito macrorregiões de saúde, agregando dos PEPS, foram incluídos outros atores, como usu-
as antigas 24 DIRs em seus respectivos polos: Região ários, estudantes e representantes de movimentos
Metropolitana da Grande São Paulo, Leste Paulista sociais.
(Campinas, Piracicaba e São João da Boa Vista), Oes- Em termos das atividades desenvolvidas, os oito
te Paulista (Marília, Presidente Prudente e Assis), Polos do Estado de São Paulo haviam encaminhado,
Sudoeste Paulista (Bauru, Botucatu, Registro e So- até novembro de 2005, 120 projetos para a aprova-
rocaba), Nordeste Paulista (Ribeirão Preto, Franca, ção do Ministério da Saúde. Com a execução desses
Araraquara), Noroeste Paulista (Araçatuba, Barretos projetos, estima-se que cerca de 9.600 trabalhado-
e São José do Rio Preto), Baixada Santista e Vale do res tenham sido beneficiados, com destaque para
Paraíba (São José dos Campos e Taubaté). a grande concentração de projetos e trabalhadores
Vale lembrar que essa regionalização considerou beneficiados no Polo da Grande São Paulo, res-
as aproximações formais e informais já existentes pondendo por 52,5% dos projetos e com 71,4% dos
entre as regiões e os processos de trabalho já ini- trabalhadores.
ciados a partir dos antigos Polos de Capacitação de Nesse cenário, entendia-se que a discussão devia
Saúde da Família. ser horizontal, não havendo um poder centralizador.
Uma pesquisa de avaliação dos Polos de Educa- Havia a compreensão de que a integração com as
ção Permanente no Brasil, realizada pelo Ministério universidades públicas e privadas era proveitosa
da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina para os polos e para as próprias instituições. Embora

1 BATISTA, K. B. C; SIMÕES, O. J.; Documento Norteador. São Paulo [s.l.], 2004. (mimeo).

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fosse possível reconhecer a existência de conflitos Colegiado de Gestão Regional, a descentralização
na relação ensino/serviço, eles não eram considera- dos recursos financeiros, que antes ficavam sob
dos problemas e sim a representação de diferentes gestão do Ministério da Saúde, e a vinculação das
saberes advindos de instituições distintas, com ações de desenvolvimento dos trabalhadores do SUS
competências diferenciadas. aos planos da Educação Permanente em Saúde, nos
Como aspectos positivos e, resultantes dos pro- âmbitos municipal, regional ou estadual.
cessos de implantação dos polos, podemos citar: A publicação da Portaria nº 1996, de 2007 (Brasil,
• a abertura das universidades para discussão com 2007), reforçou a responsabilidade de efetivação das
o polo sobre mudança curricular; diretrizes da EP em Saúde no Estado de São Paulo,
articulando os gestores locais, regionais e estaduais
• gestores mais organizados e dispostos a participar
das atividades propostas pelo polo; e com a efetiva participação da sociedade, através das
instituições de ensino, das Escolas Técnicas do SUS,
• maior reflexão sobre o processo de trabalho.
do movimento estudantil, dos Conselhos Locais e
Municipais de Saúde. A conjugação desses esforços
O Terceiro Momento da Formação fortaleceu o papel dos Colegiados de Gestão Regional
e o Desenvolvimento dos (CGR), facilitando a organização das Comissões de
Integração Ensino/Serviço (CIES), propostas pela
Trabalhadores da Saúde nova portaria em substituição aos antigos polos.
Em 2006, o Ministério da Saúde divulgou o Pacto Nesse sentido, a Comissão Bipartite (Cosems-SP e
pela Saúde, que em seu artigo segundo aprovou as SES-SP) retomou a definição e a pactuação de crité-
Diretrizes Operacionais do Pacto pela Saúde 2006 rios conjuntos para orientar e legitimar a implanta-
– Consolidação do SUS com seus três componentes: ção das novas diretrizes recomendadas na Portaria
Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão (Por- nº 1996 em todo o Estado de São Paulo.
taria Ministério da Saúde nº 399, de 22 de fevereiro Assegurando e ampliando o diálogo permanente
de 2006) (Brasil, 2006). entre os diferentes níveis de gestão, a SES-SP e o
A grande mudança trazida pela Portaria nº 399, Cosems-SP realizaram, ao final de 2007, o seminário
de 2006, foi nos espaços regionais de planejamento estadual de EPS. Iniciaram, em 2008, a realização
e gestão, que tomaram forma nos Colegiados de sistemática de seminários e oficinas de trabalho
Gestão Regional (CGR), dos quais participaram orientadas para o fortalecimento regional da rede
todos os gestores dos territórios abrangidos pelas de apoio a implementação e consolidação da Polí-
regiões de saúde. tica de Educação Permanente em Saúde no Estado
A partir de 2007, o Ministério da Saúde/SGTES, de São Paulo.
juntamente com o Conselho Nacional de Secretários A transformação das práticas tradicionais de
de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secre- “capacitação encomendada” para uma construção
tarias Municipais de Saúde (Conasems), iniciou ascendente, participativa, dialógica e centrada
a discussão da Portaria nº 198, visando definir nos processos de trabalho exigiu de cada um dos
novas diretrizes e estratégias para a implantação integrantes das instituições de ensino, da SES-SP
da Política Nacional de Educação Permanente em e do Cosems-SP capacidade de ampliar os esforços
Saúde, adequando-a às diretrizes operacionais e ao no sentido de aumentar e sustentação da dinâmica
regulamento do Pacto pela Saúde. locorregional, como condição fundamental par a efe-
Ao final de um processo de discussão envolvendo tivação da política de EP em saúde. Isso, na prática,
diferentes instâncias, a Portaria nº 198 foi republi- significou o enfrentamento conjunto de novos e an-
cada pelo Diário Oficial da União, em 22/8/2007, sob tigos desafios, entre eles a implantação, a revisão da
o número 1996 (Brasil, 2004). estratégia de trabalho das CIES, a efetiva instalação
A nova portaria apresentava três mudanças bási- de referencia técnica de EP para os 64 colegiados, a
cas: a alteração da política no sentido de adequação configuração de novos papéis e processos de traba-
ao Pacto pela Saúde com maior protagonismo do lho para o gestor estadual.

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Essas tarefas principais, essencialmente, ca- Com a instalação dos colegiados, a totalidade
racterizaram o eixo estruturante da organização dos municípios assumiu algum grau de responsabi-
da infraestrutura mínima para dar fluxo aos proce- lidade com a gestão da oferta de serviços de saúde
dimentos recomendados e operacionalizar o Plano e a ampliação da oferta de serviços e do acesso da
Estadual de Educação Permanente em Saúde do população ao conjunto de ações preventivas e cura-
Estado de São Paulo/2008-2009. tivas, no âmbito do sistema, com ênfase na atenção
O tempo decorrido para a discussão e a adequa- básica.
ção da Portaria nº 198 e a consequente publicação Quando da publicação da nova Portaria, a SES-SP
da Portaria nº 1996 acarretou uma pausa nos movi- e o Cosems-SP articularam ações conjuntas, voltadas
mentos e avanços alcançados no Estado quando da para as regiões de colegiados e DRS, objetivando
implantação da política de EP em 2004. A demora socializar as diretrizes recomendadas na portaria,
na definição das novas regras e, consequentemente, discutir os diferentes papéis e as responsabilidades
da possibilidade de novos recursos e viabilização de para essa implantação e refletir sobre eles, potencia-
propostas discutida, acarretou desestímulo nas dife- lizar os recursos disponíveis para a qualificação do
rentes instâncias locais e regionais envolvidas com trabalho conjunto envolvendo colegiados e gestor
a formação e o desenvolvimento dos trabalhadores estadual. Esse processo constituiu a base indispen-
do SUS. Houve uma clara diminuição dos trabalhos sável para a implantação da política de EP em Saúde
de articulação até então realizados. no ano de 2008, aproximando atores novos e antigos:
Ao final de 2006, a SES-SP definiu uma nova os gestores dos 64 colegiados, coordenadores de EPS
organização regional, transformando as 24 Direções e de Humanização dos CDQs, as seis Escolas Técni-
Regionais de Saúde em 17 Departamentos Regionais cas do SUS (ETSUS), as Comissões Intergestores de
de saúde (DRS). Com essa mudança, foi criada na Ensino e Serviço (CIES), as Instituições de ensino,
estrutura das regiões, uma nova área técnica: o os Conselhos Municipais e os Conselho Estadual de
Centro de Desenvolvimento e Qualificação para o Saúde, a SES-SP e o Cosems-SP.
SUS (CDQ), constituído pelas coordenações de duas
políticas: de educação permanente em saúde e de Entendendo as Atribuições, o
humanização.
Com os Pactos pela Saúde: pela vida, em defesa
Esforço conjunto e o Trabalho
do SUS e de Gestão sendo firmados e tendo o Pacto Articulado
de gestão os eixos descentralização, regionalização, A implantação da Portaria do Ministério da Saúde
financiamento, planejamento, programação pactu- nº 1996, de 2007, no Estado de São Paulo, teve início
ada e integrada, regulação, participação e controle com a realização do Seminário Estadual de EP (em
social, gestão do trabalho e educação na saúde, dezembro de 2007), Seminários Macrorregionais e
instalaram-se no Estado de São Paulo 64 Colegiados Oficinas de trabalho regionais de EP, tendo como
de Gestão Regional (CGR), um grande e importante pressuposto indispensável à articulação e, necessa-
marco no processo de regionalização pactuada no riamente, a participação e presença da CRH/SES/SP,
Estado de São Paulo. do DRS/CDQ, das ETSUS, do Cosems-SP.
Vale lembrar que essa regionalização, mesmo As ações de proposição, planejamento e execução
atendendo às aproximações formais e informais já dos seminários e oficinas de trabalho aproximaram
existentes entre as regiões e os processos de traba- diversas instâncias e representações enquanto prota-
lho, considerou também: a unidade de princípios, gonistas de um movimento de articulação indispen-
a diversidade operativa, o respeito às diferenças sável à sustentação da proposta da nova portaria.
locorregionais e de porte de municípios, a organiza- Foram realizadas 250 ações em todo o Estado,
ção das regiões, instituindo mecanismos cogestão e sendo 39 seminários/oficinas de EP e 211 projetos.
de planejamento regional. O protagonismo e força Em sua totalidade, os seminários e oficinas apresen-
dos municípios foram ganhos fundamentais nesse taram como objetivos comuns: propiciar de forma
processo. conjunta e ampliada reflexão conceitual da educação

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permanente em saúde, favorecer a integração e a sistema e estejam de acordo com a realidade local
troca de experiências e saberes entre as regiões de e regional.
colegiado, apresentar e discutir os fluxos e critérios O gestor estadual, legitimado pelo Cosems-SP e
de utilização dos recursos disponibilizados pelo Mi- por meio dos 17 centros de desenvolvimento e qua-
nistério da Saúde, articular instâncias e sensibilizar lificação para o SUS (CDQS) das regionais de saúde,
os atores envolvidos. articula e apoia a instalação dos Núcleos de EP em
A realização desses eventos iniciais possibilitou saúde (NEPS). Esses Núcleos, em número de 64, são
maior compreensão e compromisso em relação à formados por técnicos dos municípios que já atuam
nova identidade que se configurava – a região do cole- na área de RH e funcionam como uma Câmara téc-
giado. Gestores municipais e estaduais processaram nica de EP para cada colegiado, agindo em parceria
a regionalização como eixo estruturante do pacto. com os CDQS, tanto para a construção das ações de
O próprio desenho e a instalação das regiões EP, como para a busca de parcerias e discussão dos
resgataram identidades locorregionais, favorecendo respectivos Pareps.
o espaço de gestão regional, responsável pelo plane- As Escolas Técnicas do SUS (ETSUS) em número
jamento, regulação, programação, investimentos, de sete no Estado (uma vinculada ao município de
organização da rede de ações e serviços, a partir São Paulo e seis a SES-SP) estão integradas aos
das necessidades, recolocando o papel do Estado e processos de EP, atuando em parceria com os CDQS.
dos municípios. No recorte específico da Educação As seis ETSUS vinculadas à SES-SP vêm respon-
em Saúde, colegiados, DRS/CDQ e escolas técnicas dendo às demandas dos colegiados, por meio dos
do SUS possibilitaram a discussão ampliada da Pareps, sendo responsáveis pela formação técnica
qualificação dos gestores e técnicos, na perspectiva do auxiliar de saúde bucal, itinerário do técnico de
de fortalecimento do trabalho em saúde tanto na saúde bucal, do técnico de enfermagem, do agente
atenção como na gestão. comunitário de saúde.
A responsabilidade pelas ações de Educação na As ETSUS também desenvolvem o curso de par-
saúde está incluída na agenda da gestão do SUS ticipação e controle social, destinado à formação
como atividade que pode e deve contribuir para de conselheiros de saúde. A proposta foi construída
seu desenvolvimento, consolidando mudanças nas de forma ampliada, em parceria com o Conselho
práticas de saúde em direção ao atendimento dos Estadual de Saúde.
princípios fundamentais do SUS. As CIES, em número de oito quando da implanta-
Considerando esses pressupostos, o esforço ção da Portaria nº 1996, transformaram-se em cinco
conjunto da SES-SP e Cosems-SP, na construção a partir de novo desenho das macrorregiões.
dos 64 Planos Regionais de EP (Pareps) e dos Planos A discussão dessa nova configuração macror-
Estaduais de EP para os anos de 2008, 2009 e 2010 regional, bem como a corresponsabilização nos
configurou-se no sentido de buscar a reorganização processos de trabalho das CIES foram discutidas e
dos processos de trabalho a partir da realidade local consensuadas em duas oficinas de trabalho, promo-
e regional. A construção/operacionalização desses vidas pela SES-SP e Cosems-SP, respectivamente em
Planos de EP é produto da pactuação entre atores 19 de maio e 26 de junho de 2009.
institucionais, inscrevendo na agenda de gestores As CIES estão organizadas como segue:
a prioridade dos processos educacionais na rede de • São Paulo: envolvendo a região metropolitana,
serviços de saúde. Baixada Santista, Vale do Ribeira e Taubaté.
Os gestores podem contar com o financiamento
federal regular e automático para a Educação na • Leste Paulista: regionais de Campinas, Piracicaba
Saúde, por meio do Bloco de Financiamento da e São João da Boa Vista.
Gestão com repasse fundo a fundo. Assim, têm con- • Oeste Paulista: regionais de Marília e Presidente
dições de planejar regionalmente no curto, médio Prudente e Marília.
e longo prazo ações educativas de formação e de- • Nordeste Paulista: regionais de Araraquara, Ribei-
senvolvimento que respondam às necessidades do rão Preto e Franca.

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• Noroeste Paulista: regionais de Araçatuba, Barre- • Instalação de Núcleos de EP nos CGR, como refe-
tos e São José do Rio Preto. rencia técnica para EP – os NEPS não são espaços
As CIES ainda têm dificuldades de articulação físicos, geográficos, mas, em coletivo em construção
macrorregional com as grandes universidades pú- locorregional, possibilitando maior participação e
blicas em função da necessidade de convênio, com mobilização dos municípios do colegiado, de seus
pelo menos um município do colegiado, para repasse conselhos, trabalhadores e também uma interlocu-
de recurso financeiro na execução das propostas/ ção mais próxima entre instituições formadoras e
projetos de EP. Apesar dos esforços e das estratégias realidade/necessidade/prioridade regional.
implantadas, as CIES ainda não são espaços de inte- • Execução do recurso financeiro mediante cons-
gração e articulação de outras ações propostas pela trução prévia, participativa e ampliada, dos Planos
SGTES junto às instituições de ensino (Petsaude; de EP dos respectivos CGR e sua e acesso – maior
Prosaude; Unasus etc.). envolvimento, corresponsabilidade na identificação
A Coordenadoria de Recursos Humanos (CRH) de problemas, definição de prioridades e pactua-
da SES-SP tem prestado apoio técnico sistemático ção na execução do recurso destinado à região de
aos CDQS, com destaque para a importância do pa- colegiado.
pel de articulador regional da política de EP junto • Reconfiguração dos processos de trabalho das
aos colegiados e respectivos NEPS. Em 2008, foi CIES, a partir dos novos fluxos e instâncias − qual
planejado e desenvolvido o Curso de Facilitadores papel a CIES pode desempenhar como instância de
de EP no SUS-SP e, em 2009, o Curso de Avaliação apoio técnico e articulação para o gestor estadual e
dos Pareps 2009 e os Encontros Macrorregionais para os colegiados.
de EP, envolvendo representantes dos respectivos • Construção dos Planos Regionais de EP para a
CGR. O Grupo Técnico (GT) Bipartite para EP (SES- identificação e articulação de possíveis parcerias
SP e Cosems-SP) reúne-se mensalmente, pautando (cronograma de datas; caracterização de potenciais
aspectos relacionados aos processos de EP no Estado parceiros – pessoas ou Instituições).
como um todo e, revisando o conjunto de projetos
• Curso de Facilitadores para EP em saúde na SES-
discutidos, construídos e aprovados nos respectivos
SP e no SUS-SP – envolvendo e aproximando gestor
CGR e encaminhados ao GT no respectivo mês. O GT
estadual, CGR, CRH e Cosems-SP.
tenta atuar como um facilitador da política de EP
no conjunto das regiões do Estado, identificando • Instrumentalização e apoio aos municípios para
e discutindo conjuntamente os desafios, as possi- viabilizar o repasse de recursos que atendam às pro-
bilidades e papéis, além das responsabilidades das postas de EP dos colegiados, a fundo municipal.
instâncias, atores, fluxos, procedimentos e articu-
lações estratégicas. Aspectos Restritivos na
Implantação da Nova Portaria
Aspectos Facilitadores na • Pouca atuação das CIES em função do maior prota-
Implantação da Nova Portaria gonismo dos colegiados de gestão regional, apesar
• Criação na estrutura dos Departamentos Regionais de entender que esse é um bom sinal.
de Saúde, em dezembro de 2006, dos Centros de De- • Fragilidade dos municípios na formalização de
senvolvimento e Qualificação para o SUS, composto convênios com instituições de ensino.
de uma diretoria técnica e duas coordenações: polí- • Dificuldade de participação das universidades pú-
tica de humanização e política de EP. blicas em função da descentralização na discussão
• Construção inicial do Documento Norteador para e construção das propostas.
EP no Estado de São Paulo – possibilitando a com- • Pouca clareza por parte de potenciais parceiros
preensão ampliada e consensuada dos eixos funda- (Instituições de ensino e outras Instituições con-
mentais na política de EP nas regiões de DRS, nas veniadas dos municípios) do papel das parcerias e
regiões dos colegiados e nos municípios. da co-responsabilidade na formação/atualização/

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qualificação de trabalhadores para o SUS. Distribuição das ações de Educação Permanente reali-
• Pouco acúmulo técnico nas regiões para discussão/ zadas no Estado de São Paulo, por ano de realização e
total de vagas oferecidas
processamento de prioridades e construção/estru-
turação de Projetos. Ano de realização Total de ações Total de vagas
• Pouco conhecimento das áreas financeira e jurídi- de EP oferecidas
ca dos municípios e SES-SP em relação aos novos 2008 269 21.399
procedimentos de execução do recurso financeiro, 2009 114 8.129
a partir da Portaria nº 1996. 2010 150 15.383
• Falta de clareza nas possibilidades para a transfe- Total 533 44.911
rência de recurso financeiro do Fundo Federal para
Fonte: Documento Norteador: Diretrizes para a implantação da Política de Educação
o estadual/municipal e do estadual para o munici- Permanente em Saúde no Estado de São Paulo, São Paulo, 2004.
pal (execução, prestação de contas, diferenças nas
interpretações jurídicas dos tribunais de contas dos Apesar dos números e processos importantes
Estados, diante das especificidades que a política realizados, é necessário entender que uma Política
de EP aponta). de Educação Permanente para o SUS envolve não
somente o desenvolvimento dos profissionais de
Avaliação das Ações de Educação saúde que já estão trabalhando. É consenso que
temos de “ordenar a formação dos profissionais de
Permanente no Estado de São Paulo saúde”, sendo necessário, portanto que as diretrizes
• 800 técnicos do SUS, servidores estaduais e muni- dessas Políticas Públicas incluam compromissos
cipais, participando do Curso de Especialização em entre o Setor da Saúde e o Setor da Educação, inte-
Gestão Pública de Saúde, realizado em parceria com grando vários atores, desde o Ministério da Educa-
as Universidades Santa Casa, USP, Unesp e Unicamp ção e Cultura (MEC), passando pelas instituições
− 200 em 2008; 300 em 2009 e 300 em 2010. de ensino superior e chegando às escolas técnicas,
• 36 alunos, servidores estaduais e municipais, par- gerando compromissos e responsabilização entre
ticipando do Curso de Especialização em Gestão do pesquisadores, docentes e estudantes.
Trabalho e Educação na Saúde, em parceria com a Essa articulação, como processo em construção,
Santa Casa − SP/ENSP/Progesus, iniciado em agosto certamente será positivo para todos os setores en-
de 2010. volvidos. O exercício e o aprendizado para alcançar
e consolidar um processo de trabalho conjunto
• 250 servidores municipais formados multiplicado-
e constante já aponta resultados importantes: a
res do Curso Introdutório em Saúde da Família em
construção e a aprovação pelo MEC das Diretrizes
cinco cursos realizados.
Curriculares Nacionais.
• 645 alunos, servidores municipais e estaduais Existe uma realidade desigual e complexa de-
participando do curso Nacional de qualificação da mandando a formação/qualificação dos trabalha-
Gestão do SUS – MS/ENSP/SES-SP. dores do SUS, envolvendo exigências das mais di-
• 630 alunos, servidores municipais e estaduais, versas na interação: medicina, trabalho dos agentes
participando do curso de Especialização em Gestão comunitários, engenharia da produção em saúde e
da Clínica nas Redes de Atenção à Saúde, realizado intersetorialidade. Isso, sem deixar de considerar,
em parceria com o Centro de Estudos do hospital a complexidade da Atenção Básica em pequenos
Sírio libanês – 2009/2010. municípios, a serviços e sistemas sofisticados (não
Total de vagas oferecidas nas ações de EP/recurso menos complexos) em Regiões Metropolitanas2.
transversal: 2.361

2 BRASIL. Ministério da Saúde. Aprender SUS: o SUS e os cursos de graduação da área da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004a.
(mimeo).

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Também é reconhecido que ainda permanece realmente a forma de cuidar, tratar e acompanhar a
uma contradição explícita entre a hegemonia dos saúde dos nossos usuários se conseguirmos mudar
programas de capacitação verticalizados e dirigidos também os modos de ensinar e aprender (Ceccim e
a distintas categorias profissionais e as demandas Feuerwerker, 2004).
dos processos de municipalização, descentralização O primeiro passo para provocar mudanças nos
e ruptura dos programas verticalizados em direção à processos de formação é entender que as propostas
integralidade do cuidado e à vigilância à saúde, que não podem mais ser construídas isoladamente nem
claramente requerem a ampliação da capacidade de cima para baixo, ou seja, serem decididas pelos
de decisão local e novas formas de relação com os níveis centrais sem levar em conta as realidades
usuários (Ribeiro e Motta, 1996). locais. As propostas devem fazer parte de uma
A capacitação dos trabalhadores do SUS deve grande estratégia; precisam estar articuladas entre
ocorrer de forma descentralizada, ascendente e si e construídas a partir da problematização das
transdisciplinar, ou seja, em todos os locais, a par- necessidades locais e dos seus diversos segmentos
tir de cada realidade/necessidade local e regional, (Ceccim e Feuerwerker, 2004).
envolvendo vários saberes e articulando a gestão e É necessário e indispensável que as várias
o cuidado. instâncias, articulem caminhos para a formação
Deve ser entendida como processo permanente, de novos profissionais de saúde, possibilitem o de-
garantido durante a graduação, sendo mantidos na senvolvimento/atualização do pessoal que já está
vida profissional, mediante o estabelecimento de no SUS e legitimem propostas direcionadas a um
relações de parceria entre as instituições de ensino, desempenho profissional qualificado e em quanti-
os serviços de saúde, a comunidade e outros setores dade suficiente em todos os pontos do País.
da sociedade civil (Merhy, 2005). As políticas e propostas de formação dos profis-
sionais para o SUS, articulando capacitação, qualifi-
Realidades Diferentes e Problemas cação, desenvolvimento, devem concretizar estraté-
gias e ações de aproximação constante das práticas
Comuns dos serviços de saúde às práticas de investigação e
A cada ano temos novos profissionais com diferentes reflexão teórica, tanto do pessoal das universidades
formações iniciando atuação nos vários cenários de quanto da gestão e da assistência.
trabalho do SUS. Somam-se a estes, outros trabalha- De modo geral, a integração do profissional ao co-
dores que já vêm, continuadamente, enfrentando tidiano dos serviços de saúde se desenvolve na prá-
desafios sabidamente conhecidos, tanto na área de tica de competências, habilidades e conhecimentos
gestão como na de atenção/assistência. acumulados no processo de formação profissional
Esses profissionais, iniciantes ou não, necessi- e de vida. Esse conjunto de acúmulos precisa de es-
tam da articulação das instituições formadoras e dos paços para análise e reflexão, orientados a articular
diferentes níveis de gestão, de modo a possibilitar a os saberes e renovar as capacidades de enfrentar as
construção de processos de educação permanente, situações cada vez mais complexas nos processos de
oferecendo espaços de capacitação e reflexão crítica trabalho, diante da diversidade das profissões, dos
positiva, diante dos problemas e desafios da Saúde usuários, das tecnologias, das relações, da organi-
Pública nos municípios e regiões. zação de serviços e dos espaços. Portanto, eleger
Os dois grupos acumulam expectativas de obter estratégias e modelos de capacitação renovados e
uma visão critica dos Sistemas de Saúde, desejam aderidos aos contextos de trabalho e espaço de ação
conhecer outras experiências, outras realidades dos participantes tende a diminuir o vácuo na for-
para objetivar e qualificar a própria prática. Desejam mação dos profissionais diante dessa permanente
aplicar os conhecimentos adquiridos no trabalho reestruturação (Feuerwerker, 2000).
diário, reconstruir modelos e buscar respostas às A proposta pedagógica recomendada nessa
novas demandas de realidades diversas e comple- perspectiva deve ser orientada por metodologias
xas. Fica evidenciado que só conseguiremos mudar ativas de ensino/aprendizagem, contemplando

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aspectos concretos e práticos, focalizada em ativi- dos Serviços e Políticas de Saúde, as experiências
dades do contexto e do trabalho, problematizando assinalam que a primeira pende no sentido de dire-
situações cotidianas, estabelecendo diálogos entre cionar os serviços partindo de políticas centrais, em
o processo de trabalho e as estratégias pedagógicas, especial de cobertura.
considerando a dinâmica das rotinas e as diferentes Por outro lado, a segunda, vinculada às políticas
intencionalidades de cada sujeito de aprendizagem de descentralização, baseia-se em propostas de de-
(Motta, 2001). senvolvimento, partindo das características e das
O resultado esperado é a democratização dos necessidades do processo de trabalho concreto dos
espaços de trabalho, o desenvolvimento da capa- serviços de saúde. Portanto, a lógica que orienta a
cidade de aprender e de ensinar de todos os atores mudança no campo da educação mostra duas ten-
envolvidos, a busca de soluções criativas para os pro- dências inversas: a primeira aponta um caminho
blemas encontrados, o desenvolvimento do trabalho planejado centralmente e apoiado em processos
em equipe, a melhoria permanente da qualidade do racionais − nesse caso, espera-se que a educação
cuidado à saúde e a humanização do atendimento. “atualize, melhore a competência técnica e articule-
Os processos de qualificação dos trabalhadores se com a carreira individual dos sujeitos” (Roschke
da saúde devem ser orientados pelas necessidades e col., 1993, p. 6).
de saúde da população, do próprio setor da Saúde e Nessa perspectiva, remeter ao processo de traba-
do controle social, devem responder a indagações lho em saúde implica concentrar o esforço no modo
como: quais são os problemas que afastam nossas de estabelecer sequências, fluxogramas e identificar
práticas da atenção integral à saúde? Por quê? Como áreas nas quais se requer capacitação.
mudar essa situação? (Brasil, 2005). No que diz respeito à organização da produção
A Educação Permanente deve servir para preen- dos serviços e a composição dos grupos, o próprio
cher lacunas e transformar as práticas profissionais processo de trabalho em geral não se questiona,
e a própria organização do trabalho. Para tanto, não não constitui uma categoria de análise capaz de
basta apenas transmitir novos conhecimentos para orientar propostas educativas. Tudo se reduz a uma
os profissionais, pois o acúmulo de saber técnico é questão de método para assegurar a “eficiência do
apenas um dos aspectos para a transformação das desempenho” conforme as normas e os objetivos
práticas e não o seu foco central. preestabelecidos ou fixados de modo universal,
A formação e a capacitação dos trabalhadores desde “fora” do processo de trabalho.
também devem considerar aspectos pessoais, va- O segundo enfoque (EP) baseia-se nas necessi-
lores e as ideias que cada profissional tem sobre
dades detectadas no próprio processo de trabalho à
o SUS.
luz de contextos específicos. A mudança se alcança
a partir de um processo crítico do próprio trabalho,
Conversando sobre Educação integrando as demandas objetivas com as experiên-
Continuada e Educação cias que se processam na prática.
Nessa linha de pensamento, o processo de apren-
Permanente em Saúde dizagem pode caracterizar-se como reconstrutivo:
Para gerar mudanças qualificando o desempenho vai além da atualização técnica e apela para um pro-
profissional, a capacitação em serviço dos traba- fundo enfrentamento entre velhos padrões. Conduz-
lhadores do SUS apresenta dois aspectos distintos, se mais para a construção de novas metas, políticas,
os quais ainda que surgidos de uma preocupação normas e formas de organização e comunicação no
comum apontam diferentes lógicas. trabalho do que para a simples modificação do velho
Uma delas se expressa através de ações pontu- (Fernandes, 2008).
ais de Educação Continuada, e a outra através do Entretanto, trabalhar nessa direção não é simples
processo de reorientação da Educação Permanente uma vez que envolve atuar em contextos complexos,
(EP) em Saúde. Ainda que ambas proponham uma partindo efetivamente da prática e dos próprios ato-
estratégia global articulada ao desenvolvimento res, trabalhar os problemas e a maneira de percebê-

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los, produzir mudanças nos contextos que muitas na prática diária das áreas da Saúde e da Educação
vezes favorecem a manutenção de padrões. (Ceccim e Feuerwerker, 2004).
Quem orienta e dirige o processo educativo tem Quando falamos em Educação Permanente e
determinado com segurança o objeto da prática Educação Continuada é importante não considerá-
técnica. A prática social de uma instituição ou rede las conceitualmente antagônicas no Sistema, mas
de serviços em geral não é objeto de análise porque como processos que conferem especificidades à
as políticas, finalidades e normas da instituição já relação ensino-aprendizagem, a construção de diá-
estão definidas, ou seja, sua dinâmica corresponde logos entre os processos de mudanças no mundo do
exclusivamente através das relações expressas no trabalho diante da perspectiva do próprio trabalho
“deve ser” da estrutura organizacional. ser um princípio educativo.
Ao mesmo tempo se reconhece que os serviços A Educação Continuada pode e deve contem-
de saúde se diferenciam uns dos outros, conside- plar metodologias ativas de ensino-aprendizagem
rando sua natureza e operacionalização institu- orientadas para mudanças nas práticas pedagógicas
cional, tendo em vista os processos de condução e tradicionais, com o objetivo de transformar a prática
a organização do trabalho, as formas de interação de saúde nos serviços.
entre unidades e na medida em que respondem aos Segundo Ricas (1994), a Educação Continuada
problemas de saúde. “englobaria as atividades de ensino após o curso
A EP em saúde se baseia na aprendizagem sig- de graduação com finalidades mais restritas de
nificativa (Ausubel, 1982): quando o aprender faz atualização, aquisição de novas informações e/ou
sentido para nós, isso geralmente ocorre quando atividades de duração definida e através de meto-
aquilo que se aprende responde a uma pergunta dologias tradicionais”.
nossa e quando o conhecimento é construído a partir De forma frequente, as demandas oriundas das
de um diálogo com o que já sabíamos antes. Assim, esferas de gestão dos serviços e das necessidades
é bem diferente da aprendizagem mecânica, na qual sentidas pelos profissionais têm uma resposta co-
retemos conteúdos − na aprendizagem significativa mum sob a perspectiva da Educação Continuada.
acumulamos e renovamos experiências. Estas, muitas vezes, organizadas em listas de de-
Na proposta da EP em saúde a capacitação da manda por treinamento preenchido individualmente
equipe, os conteúdos dos cursos e as tecnologias a em decorrência da necessidade de recuperar conhe-
serem utilizadas devem ser determinados a partir cimentos e habilidades esquecidas e de acompanhar
da observação dos problemas que ocorrem no dia as mudanças trazidas pelo progresso científico
a dia do trabalho e que precisam ser solucionados tecnológico, têm a mesma resposta, orientada pela
para que os serviços prestados ganhem qualidade concepção de que “as mudanças desejadas para as
e os usuários fiquem satisfeitos com a atenção instituições se alcançam basicamente desde a acu-
prestada. mulação da informação e se direcionam eficazmente
A análise de um problema institucional, local pela difusão de informações e políticas” (Roschke e
ou regional de maneira contextualizada possibilita col., 1993).
descobrir a complexidade de sua explicação e a Ao tomar como objeto de transformação e de in-
necessidade de intervenções articuladas (Ceccim, vestigação o processo de trabalho, a EP não procura
2004). transformar todos os problemas em problemas de
A EP em saúde só é legitimada quando envolve capacitação, busca as lacunas de conhecimento e
dirigentes, profissionais em formação, trabalhado- as atitudes que são parte da estrutura explicativa
res, estudantes e usuários. Na prática, são eles que dos problemas identificados na vida cotidiana dos
se ocupam do fazer, pensar e educar em saúde nas serviços.
diferentes realidades macrorregionais. Poderíamos, por exemplo, perguntar: “Por que
Da mesma forma eles, em suas negociações, o não comparecimento dos pacientes a consulta
podem definir o que é preciso ensinar e aprender: agendada está aumentando? Por que a adesão dos
diferentes interesses e pontos de vista existentes hipertensos ao tratamento está tão baixa? Por que

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não conseguimos reduzir os índices de cesarianas? Um conceito chave do modelo pedagógico ino-
Por que a cobertura vacinal não foi atingida este vador é o de aprender fazendo, que pressupõe a
ano?”. inversão da sequência clássica teoria/prática na
Debruçar-se sobre os determinantes dos proble- produção do conhecimento e assume que ele ocorre
mas significa abordar as múltiplas dimensões que de forma dinâmica através da ação/reflexão/ação
o processo de trabalho envolve, incluindo questões (Brasil, 2002).
de esfera organizacional, técnica e humana. Nesses espaços de práticas, vários projetos en-
Há problemas identificados em que claramente a contraram nas metodologias baseadas na concepção
ação se orienta para a aplicação de conhecimentos pedagógica crítico-reflexiva, entre elas a problema-
científicos e técnicos. Outros problemas envolvem tização, um instrumental adequado para articular
dimensões no campo das relações interpessoais a ação dos diferentes atores sobre os problemas da
e institucionais, conflitos de valores e princípios. realidade (Freire, 1996).
Frequentemente, problemas aparentemente de natu-
reza técnica podem expressar conflitos latentes nos
modos de pensar e de atuar dos profissionais.
Considerações Finais
De qualquer forma, não há aprendizagem se Trabalhar pedagogicamente com metodologias
os atores não tomam consciência do problema e ativas, como propõe hoje a Política de Educação
se nele não se reconhecem em sua singularidade. Permanente em Saúde, significa um enorme desafio
(Merhy, 2005). para todos que atuam no SUS, exigindo mudanças
Davini (1994) salienta: “se o pensamento e a ação institucionais, profissionais e pessoais difíceis, len-
estão conectados, se é necessário produzir mudan- tas, conflituosas e complexas (Ceccim e Feuerwerker,
ças nos modos de pensar e perceber que orientam 2004). Mudanças envolvendo dimensões como a da
as práticas, a questão de mudança subjetiva não subjetividade, da afetividade, nas quais tanto se
é aleatória. São nossas teorias (como teorias inte- tem menor acúmulo como não são consideradas
riorizadas) as que determinam aquilo que vemos nas relações que se estabelecem no processo de
e são nossos modelos mentais que muitas vezes ensino-aprendizagem formal. Admitir a necessidade
representam barreiras à aprendizagem. Não se trata de capacitação e promover processos de capacita-
de ignorar a presença da “realidade objetiva”, mas ção docentes efetivos e produtivos é um desafio,
de reconhecer a primazia do sujeito na produção do caracterizando áreas de tensão constantemente
sentido da experiência. presentes em todos os espaços em que a questão do
uso de metodologias ativas se tem colocado como
Metodologias Ativas de Ensino- importante (Freire, 1996).
Finalmente, dizer que o significado e o cuidado
Aprendizagem no SUS devem estar presentes nos processos educativos
O processo de educação de adultos pressupõe a para os profissionais de saúde tem para nós um
utilização de metodologias ativas de ensino-aprendi- amplo sentido. Sentido de que o ideal de profissional
zagem, que proponham desafios a serem superados que queremos para o nosso sistema de saúde pode
pelos participantes, que lhes possibilitem ocupar o ser atingido se reconhecermos as necessidades e o
lugar de sujeitos na construção dos conhecimentos poder criativo de cada um, ouvir o que cada um tem
e que coloquem o professor como facilitador e orien- para dizer e refletir sobre a prática profissional
tador desse processo (Brasil, 2002). inicialmente cheia de valores e de significados, os
É com velocidade vertiginosa que se produz e quais, muitas vezes, se perdem pelo caminho. Pre-
disponibiliza conhecimentos e tecnologias no mun- cisamos recuperar esses valores em nossos espaços
do atual; portanto os conhecimentos, habilidades e de trabalho, nos centros formadores, nas universi-
atitudes exigidas dos trabalhadores do SUS modifi- dades. Este é o nosso desafio.
cam-se rapidamente. Por tudo isso, é indispensável
aprender a aprender.

Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.4, p.884-899, 2011 897


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relatório final. São Paulo: [s.n.], abril de 2008.
sobre a formação continuada de pediatras em
Minas Gerais. Belo Horizonte. 1994. 232f. Tese
(Doutorado em Pediatria) – Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, 1994.

Recebido em: 16/05/2011


Aprovado em: 29/06/2011

Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.4, p.884-899, 2011 899

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