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ANSELMO BRAAMCAMP FREIRE – Biografia/Bibliografia

Anselmo Braamcamp Freire, natural da freguesia de S. José, Lisboa, nasceu a


1 de fevereiro de 18491.
Seu pai , Manuel Nunes Freire da Rocha, 1º barão de Almeirim, fidalgo da casa
real, do conselho de sua Majestade Fidelíssima e administrador geral de
Santarém que foi cavaleiro da Ordem de Cristo, casou com D. Luísa Joana
Braamcamp, filha de Anselmo José Braamcamp de Almeida Castelo Branco,
filho mais novo do 1.º barão do Sobral e ministro de Estado honorário2 e, de
sua prima e mulher D. Maria Inácia Braamcamp de Almeida Castelo Branco 3.
Desde cedo recebeu educação adequada ao seu nível social. Seus progenitores
e toda a sua família pertenceram à mais elevada esfera intelectual, social,
política e económica nacional e holandesa. Sua mãe era irmã de Anselmo José
Braamcamp4.
Anselmo B. Freire, órfão de pai e mãe ficou à guarda de seu tio e tutor,
Anselmo José Braamcamp5, rigoroso na disciplina para com Anselmo, chegou
a restringi-lo da sua mesada, quando este se encontrava a estudar em
Coimbra, pois considerava que esta não era “bem” aplicada. No ano de 1867,
iniciou os estudos superiores na Universidade da mesma cidade, no Curso de
Administração6, ciência que não o estimulou e acabou por desistir. Enorme
desgosto para seu tio. O estímulo que lhe corria nas veias era a Ciência
Histórica, a dedicação à Investigação e ao correr da tinta de sua Pena, pleno
de emoções e realizações historiográficas, literárias e dedicado às letras. Foi
no meio académico de Coimbra, envolto de contrastes entre a intelectualidade
e a boémia, entre a tradição e a modernidade que Anselmo desenvolveu, de
forma mais profunda, o seu gosto também pela Filosofia Natural7, que também
não vingou, destacando ainda mais o seu perfil intelectual e liberal que herdou
de berço.

1
FONSECA, João de Sousa [et. al.] (1998) – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Portugal: Página
Editora. p. 1011-1012. ISBN 971-8258-04-6. Vol. 4.
2
MÓNICA, Maria Filomena. Coord. [et. al.] (2004). Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910).
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República. p. 228-231. ISBN 972-671-145-2. Vol. 2.
3
FONSECA, João de Sousa [et. al.] (1998) – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Portugal: Página
Editora. p. 80-81. ISBN 971-8258-04-6. Vol. 2.
4
Idem. p. 1011. ISBN 971-8258-04-6. Vol. 4.
5
MÓNICA, Maria Filomena. Coord. [et. al.] (2004). Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910).
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República. p. 423-428. ISBN 972-671-120-7. Vol.1.
6
Correspondência pessoal.
7
MÓNICA, Maria Filomena. Coord. [et. al.] (2004). Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910).
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República. p. 228. ISBN 972-671-120-7. Vol.2.
Regressado a Lisboa contrai matrimónio em 6 de fevereiro de 1869, com 20
anos de idade, com sua prima, Maria Luísa da Cunha Meneses8, também órfã
e à guarda de seu tio e tutor, Anselmo José Braamcamp. Tiveram um filho
(Manuel Maria Braamcamp) seu único filho legítimo, que faleceu ainda em
criança . Anselmo B. Freire teve mais cinco filhos, extra conjugal9.

Anselmo era irmão do 2.º barão de Almeirim, Manuel Nunes Braamcamp Freire
(1838-1868)10, Deputado entre (1865-1868). Comprou o Palácio de
Santarém ao irmão Manuel, para viver alguns hiatos temporais. Constituído
por uma exemplar biblioteca11, decorado com mobiliário de estilo histórico,
pinturas, gravuras, louças/porcelanas portuguesas e holandesas, onde hoje se
encontra instalada a Biblioteca Municipal de Santarém.

Desempenhou o primeiro cargo político em 1886, como presidente da Câmara


Municipal de Loures, com 37 anos. Foi chefe da primeira vereação camarária
agregada ao Partido Progressista até 1890. Recebeu nomeação por Carta Régia
de 22 de julho de 1886, para Par do Reino, em homenagem aos serviços
prestados pelo seu tio Anselmo José Braamcamp. Só pôde tomar posse um
ano depois, na Câmara dos Pares, pela abertura das Cortes na sessão de 25 de
abril de 1887. Ficou agregado à Comissão de Agricultura no mesmo ano, dois
anos depois fez parte da mesma e voltou a ser eleito pela mesma comissão.
Em 1893 foi eleito para um segundo mandato na Câmara de Loures até 1896.
No primeiro discurso como Par do Reino abordou assuntos de carater
administrativo e financeiros referentes à Câmara de Loures. Ainda em 1893
apresentou um projeto de lei a favor dos doentes desfavorecidos do termo
Lisboa, para continuarem a receberem tratamento gratuito no Hospital de S.
José, sem encargos para as câmaras municipais, o que não se concretizou, por
pertencer à minoria oposicionista ao governo Hintze-Franco. Em 1897,
regressou ao parlamento após o advento em fevereiro, pelo novo governo do
Partido Progressista. Em julho foi eleito para as Comissões de Obras Públicas,
do Comércio e Industria e em agosto para a de Agricultura do novo Governo.
Nos anos de 1898-1899 as comissões da Câmara dos Pares foram
reconduzidas e Anselmo continuou, a ser nesses anos, membro das três
comissões.

Mais tarde, em março de 1899, tenta a renovação do seu projeto de lei de


1893, sobre a assistência médica gratuita a pessoas desfavorecidas, mas sem
sucesso novamente. Sempre preocupado com os desvalidos. Na eleição das
comissões da Câmara dos Pares de 1900, Anselmo foi eleito, em fevereiro
para a Comissão do Comércio e Industria. Abandona a Câmara dos Pares em
8
Neta do 4.º conde do Lumiar. Cf. MÓNICA, Maria Filomena. Coord. [et. al.] (2004). Dicionário Biográfico
Parlamentar (1834-1910). Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República. p. 428. ISBN
972-671-120-7. Vol.2.
9
Cf. Testamento cerrado de Anselmo Braamcamp Freire. In 6.º Bairro Fiscal de Lisboa. (1921).
10
MÓNICA, Maria Filomena. Coord. [et. al.] (2004). Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910).
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República. p. 235-236. ISBN 972-671-145-2. Vol. 2
11
Constituída por 10 mil volumes mais correspondência particular.
1902. Posterior apresentou várias petições para esclarecimentos ao Ministério
das Obras Públicas e do Reino. Adere ao Partido republicano em novembro de
1907, na sequencia do desenvolvimento da ditadura de João Franco. Na linha
ideológica de Herculano e Passos Manoel constitui-se como um dos raros
resignatários do cargo de digno par do Reino que veio a renunciar por oficio,
de 30 de Abril de 1908.

Como presidente da vereação inteiramente republicana, da Câmara Municipal


de Lisboa, obteve vitória completa nas eleições de 1908. Foi vice-presidente,
mas na prática exerceu a presidência tendo com a implantação da República
continuado a exercer a presidência até junho de 1911. Foi deputado do Senado
até 1914. Em 1915 recusa convite de Manuel de Arriaga para se candidatar à
Presidencia da República.

Anselmo dedica-se intensamente ao seu estudo intelectual e erudito como


investigador e escritor das suas extensas e belas obras. Os seus estudos
incidem no campo da história, genealogia, arqueologia e heráldica, tendo
desenvolvido a crítica histórica e a historiografia portuguesa. Foi um
admirador de Alexandre Herculano. Fundou o Archivo Historico Portuguez com
D. José Pessanha, de 1903-1916, constituído por fascículos e com vários
artigos de sua autoria. As suas obras de maior relevo são: Brasões da Sala de
Sintra; As sepulturas do Espinheiro (1901); Amarrado ao pelourinho (1907);
Crítica e História (1910; Expedições e Armadas (1915); Vida e obras de Gil
Vicente (1919).
Caraterizado por ser um mecenas da cultural intelectual, foi ainda reconhecido
em 1918 como escritor. Foi presidente da Sociedade de Geografia Lisboa,
presidente da Academia das Ciências de Lisboa, membro da Associação dos
Arqueólogos Portugueses e membro da Royal Historical Sociéty of England12.

Veio a falecer a 22 de dezembro de 1921, em Lisboa, aos 73 anos. Por


disposição testamentária, lega à cidade de Santarém13, o palacete que habitou
em Santarém e tudo o que nele continha, para que fosse constituída uma
Biblioteca Pública de acesso aberto a todos, concedendo privilégio ao seu
magnífico espólio literário, aberto à cultura, informação e formação académica
e intelectual, um dos seus ideais na liberdade e acesso à cultura de carater
gratuito.

12
MÓNICA, Maria Filomena. Coord. [et. al.] (2004). Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910).
Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais e Assembleia da República. p. 231. ISBN 972-671-145-2. Vol. 2
13
Local onde repousam os seus entes queridos, pai e filho. Cf. Testamento cerrado de Anselmo
Braamcamp Freire. In 6.º Bairro Fiscal de Lisboa. (1921).

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