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LUZ, CÂMERA, AÇÃO: VIOLAÇÕES AOS DIREITOS HUMANOS NA ÁREA AMBIENTAL EM

VOLTA REDONDA EXPOSTOS NA TV UNIVERSITÁRIA

Marcus Wagner de Seixas1

RESUMO
A crise de representatividade não se restringe somente aos políticos eleitos, mas perpassa qualquer
instituição que se pretenda colocar como instrumento de intermediação. O Sindicato dos Metalúrgicos
do Sul Fluminense é um marco no sindicalismo brasileiro, tendo em vista seu histórico de lutas que
culminaram com a ocupação da CSN em 1988. Ocorre que este sindicato ora filiado a CUT, ora a
Força Sindical, ora a nenhum, passou de combativo a negocial e até mesmo de conivente com ações
prejudiciais não só aos seus sindicalizados, como a toda uma população em se comprovando a
contaminação do Rio Paraíba do Sul por conta do aceite da doação de um terreno utilizado para
depósito de resíduos comprovadamente tóxicos, e onde hoje encontra-se erguido todo um bairro. Os
dirigentes da época, apesar de saberem do problema, intermediaram a venda dos imóveis. Hoje
esses dirigentes não são mais vistos na cidade e seus paradeiros são incertos. Alguns anos depois,
houve a instauração de uma ação civil pública promovida pelo Ministério Público Estadual com
representação na cidade, mas a mesma não prosperou por mais de 12 anos, e o conflito sócio
ambiental ainda persiste. A metodologia empregada tem consistido na coleta de depoimentos e
entrevistas.

Palavras-chave: Sindicalismo. Peleguismo. Sub representatividade.

INTRODUÇÃO
O condomínio “Vitória”, hoje considerado um bairro denominado de “Volta Grande IV”
localizado no município de Volta Redonda, região do médio Paraíba do estado do Rio de
Janeiro, surgiu após a doação de terreno pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para
os metalúrgicos da própria companhia, por meio de seu sindicato, construírem casas
populares. Ocorre que esse terreno, anteriormente, serviu de depósito de material sólido
comprovadamente tóxico, e jamais poderia ser utilizado para construção de residências. O
fato é que hoje vivem na área mais crítica em termos de contaminação do solo e do lençol
freático, cerca de 3000 pessoas. Na época da doação do terreno, houve a intermediação do
próprio sindicato dos metalúrgicos, e segundo denúncias, os dirigentes do mesmo, apesar
de saberem do problema, negociaram com uma imobiliária as transações de venda dos

1
Professor do departamento de Direito da UFF de Volta Redonda.

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades


Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013
imóveis. Hoje esses dirigentes não são mais vistos na cidade e seus paradeiros são
incertos.
Alguns anos depois, houve a instauração de uma ação civil pública promovida pelo
Ministério Público Estadual com representação na cidade, após 15 mulheres grávidas terem
interrompido suas gestações por má formação genética dos fetos. Foram promovidas
perícias que comprovaram contaminação do solo e da água na localidade. Essa ação civil
perdurou por vários anos, sem conseguir apontar os verdadeiros culpados pelas práticas
criminosas, até que recentemente, com a inclusão do INEA (antiga FEEMA) no rol dos
possíveis culpados, o mesmo resolveu aplicar uma multa de R$ 35 milhões contra a CSN. A
mesma defende-se, alegando que na época da doação do terreno teve respaldo da
Secretaria Estadual de Ambiente (gestão do então governador Leonel Brizola), da prefeitura
de Volta Redonda, e demais órgãos públicos envolvidos. O conflito hoje apresenta diversas
nuances, pois alguns moradores do próprio condomínio não querem sair de suas
residências, mas a questão do que fazer com as cerca de 700 famílias que precisariam ser
remanejadas, ainda persiste. Por outro lado, chama atenção a participação do sindicato dos
metalúrgicos, pois apesar do já conhecido desvio de finalidade nas negociações de muitos
sindicatos de trabalhadores com a classe patronal, merecendo inclusive a definição do
conceito de “pelego”, o caso em particular aparenta ser mais grave, pois não se trata de
maior ou menor acordo financeiro, mas além de seus dirigentes possivelmente terem
lucrado com as transações imobiliárias, atuaram flagrantemente contra os interesses
daqueles que deveriam representar e defender, no bem mais precioso que é o direito à vida.
A par da localização estratégica do município de Volta Redonda (critério fundamental
para escolha da localidade para sediar a Companhia Siderúrgica Nacional na década de
1940), o município é hoje um dos 83 de todo país com mais de 200.000 habitantes, o que
segundo o TSE (dados de 2012) o habilita a ter 2° turno nos pleitos eleitorais, como
efetivamente veio a ocorrer em 28 de outubro passado. Excetuando capitais e municípios de
regiões metropolitanas, Volta Redonda é uma das poucas cidades de interior do Brasil
nessa condição. Outro dado interessante diz respeito ao fator econômico, pois o orçamento
previsto para 2013 é de 1 bilhão de reais, o que coloca o município em questão mais uma
vez numa seleta lista de cidades bilionárias.
Outras características relevantes que reforçam a opção de nosso objeto de estudo
referem-se à mudança paulatina, mas constante, do perfil de uma cidade eminentemente
industrial, para uma maior diversificação com o aumento do setor de serviços, mas
certamente sua história recente sendo palco de lutas históricas do sindicalismo brasileiro
são dados significativos desse estudo. Já em 1973 a cidade foi declarada pelo governo
federal “área de segurança nacional”, situação que perdurou até 1985 e que impossibilitou a
população de eleger o prefeito do município, sendo este indicado pelo presidente da
República. Na década de 1980, várias greves na CSN (que contava com mais de 30.000
empregados diretos e indiretos na própria empresa e em outras coligadas, somente em
Volta Redonda) agitaram o meio político e social do município, que culminaram, durante a
Greve de 1988, com a morte de três operários no interior de sua usina por militares do
Exército, o que foi acompanhado de grande mobilização popular.
Uma dúvida que motivou o presente estudo foi a de como setores dessa localidade
passaram de protagonistas de alguns dos movimentos políticos mais importantes da história
recente do país2, combatendo as violações aos direitos humanos especialmente na relação
capital-trabalho, e em relativamente pouco tempo (cerca de 10 anos depois), algumas
dessas mesmas instituições passaram a ser completamente inertes e até mesmo coniventes
com algumas violações. Um desses atores foi a igreja católica (SOARES, 2009, pp.1-10),
através da atuação das Comunidades Eclesiais de Base, personificadas por D. Waldyr
Calheiros, e o outro foi o Sindicato dos Metalúrgicos, comandado na época pelo seu
Presidente licenciado, o então Deputado Federal pelo PDT, Juarez Antunes. A mudança de
perfil majoritariamente católico dos habitantes locais, para evangélicos é um dado que
mereceria um estudo específico. A mudança de postura de um sindicato combativo para um
mais negocial já foi objeto de alguns estudos, como os desenvolvidos por Sérgio Martins
Pereira, intitulado “CUT e Força Sindical em Volta Redonda: modelos de sindicalismo ou
histórias de vida?”. Logicamente, todo processo de privatização da CSN, iniciado na gestão
Collor de Mello e efetivada na gestão Itamar Franco também merecem um aprofundamento.
Na seção de resultados apontamos alguns dados já coletados sobre essas questões.
O fato é que hoje a convivência da população, do poder público local e outros atores
da sociedade, com a CSN, não é dialógica, e em especial no quesito ambiental impera o
silêncio. A indústria responde a processos iniciados por Ações Civis Públicas do Ministério
Público3, tanto estadual quanto federal, como o ora sob análise.
Ressalte-se que as instituições existem, como a Secretaria municipal de Meio
Ambiente, Casa da Agenda 21 local, representações de órgãos federais e estaduais na
região, e em tese a questão citada estaria até sendo monitorada por um Comitê 4, mas em
realidade o controle social exercido pela população é falho, tanto que o problema se arrasta
desde final dos anos de 1990 quando foram detectados os primeiros sinais de vazamento da
contaminação. Chama especial atenção que o até então contestador Sindicato dos
Metalúrgicos, hoje não se manifesta sobre o assunto.

2
As greves de ocupação promovidas pelo Sindicato de Metalúrgicos de Volta Redonda, no final dos anos de
1980, chegaram a ser consideradas muito radicais até mesmo pelo movimento operário do ABC paulista, que via
com certo despudor as atuações daquelas lideranças.
3
Vide http://condominio225vg4.blogspot.com.br/ (acessado em 09/02/13).
4
Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul - CEIVAP (Decreto nº
87.561/82), tendo sido revitalizada, posteriormente, com a aprovação da Lei nº 9433/97, da Política Nacional de
Recursos Hídricos.
HISTÓRICO DO SINDICATO
Os sindicatos no Brasil oscilam entre instituições tuteladas pelo estado, haja vista a
própria legislação trabalhista implantada na era Vargas, ou entidades autônomas dotadas de
poder de reivindicação. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense não foge muito a
essa regra geral. Dos anos 60 a início dos anos de 1980 foi marcado por grande ativismo,
mas como aliado da Companhia Siderúrgica, consequentemente, do estado. As lutas
operárias ocorreram nesse período, delimitado pela ditadura militar, mas sem grandes
greves ou paralisações e sim com cassações e/ou perseguições de lideranças, como Othon
Fernandes. A intensificação do movimento sindical teve início por volta de 1976, com a
perda do mandato do Waldemar Lustosa, então presidente do sindicato em sua última fase
mais alinhada à Companhia. A oposição sindical ganha estímulo com a fundação da CUT no
início dos anos 1980, despontando como grande liderança o petista Juarez Antunes que
realizou a primeira greve em 1984. Como já descrito, esse metalúrgico depois se elegeu
deputado federal pelo PDT e logo depois prefeito de Volta Redonda, permanecendo no
cargo por 51 dias, quando então veio a morrer em acidente de carro até hoje mal explicado.
O PT na cidade surge em 1983 tendo como presidente outra grande liderança
sindical, Wagner Barcelos, oriunda de família ligada a Igreja Católica e moradores do bairro
do Retiro e essas lideranças acabam divergindo ao longo dos anos de 1980. Essas
divergências políticas acabam se refletindo na direção do sindicato, e com o afastamento de
Juarez Antunes por ocasião de sua eleição para deputado, há uma grande disputa interna
pelo controle. Talvez impulsionados por essa trajetória exitosa, as greves de ocupação
persistem nos anos seguintes, incluindo a de 1988, mas também depois, como a de 1991,
por exemplo, que durou 60 dias.
Marcelo Felício vence Wagner Barcelos na disputa pela direção do sindicato em
1988, dando seqüência ao modelo personalista, populista e carismático de Juarez Antunes
no trato com os operários, ficando por cerca de 2 anos a frente. Na eleição seguinte Wagner
vence a eleição, permanecendo até 1992 quando se intensifica o discurso de privatização
da CSN. Nesse período surge uma oposição denominada pelos operários de “formigueiro”
com um discurso alinhado novamente à CSN e defendendo a privatização, tendo como
liderança Luizinho, oriundo também do humilde bairro Retiro e pertencente ao mesmo grupo
de Juarez e Wagner, ou seja, ligado ao PT e a Igreja Católica. Entretanto seu discurso era
de que os trabalhadores iriam ganhar com a privatização, pois passariam a ser acionistas e
a empresa iria crescer. Nesse período, em 1992, surge a Força Sindical e Luizinho recebe
seu apoio, vencendo a eleição do sindicato e dando início as negociações com Roberto
Procópio Lima Neto, então presidente da CSN, permanecendo por cerca de 8 anos.
Sucedeu Luizinho o sindicalista Perrut, a princípio apoiado por aquele,
permanecendo como presidente por cerca de 10 anos. Nesse meio tempo Luizinho se
desentende de Perrut e tenta voltar a presidência até por medidas judiciais.

METODOLOGIA
Em primeiro lugar buscamos compreender melhor o problema de contaminação do
terreno doado pela CSN ao Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, já que grande
parte da população do próprio município desconhecia o caso, passando a ter conhecimento
somente após a Justiça aplicar multa de R$ 35 milhões contra a CSN, fato este que
repercutiu na grande mídia. O estudo, ainda em andamento, buscou documentos e
reportagens sobre o caso e aplicou o método da observação participativa para entender a
realidade local, incluindo uma visita registrada pelas fotos abaixo expostas na seção
“resultados e discussão”, além da coleta de informações por meio de algumas conversas
informais.
Nosso próximo passo será aplicar a etnometodologia com os moradores do bairro
Volta Grande IV, dirigentes do sindicato e outras lideranças, por meio de entrevistas
documentadas que gerem conteúdo para a TV Universitária local no intuito de ouvir os
diversos pontos de vista sobre a mesma temática. Entendemos que somente levar
informações à população, hoje cada vez mais disponível por diversos meios, não seja o
suficiente para promover o exercício da cidadania de forma mais consciente. É preciso ouvir
diretamente os próprios interessados, tendo em vista a descrença nas representações
políticas como mediadoras do conflito.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tivemos acesso às principais peças da Ação Civil Pública (ACP) promovida pelo
Ministério Público (MP) estadual e aos procedimentos integrais da ACP promovida pelo MP
Federal, além de reportagens sobre o caso concreto sob análise. Verificou-se o que indica
ser uma disputa política entre os dois MP’s, tanto que houve a necessidade de instauração
de processo judicial para que fosse definida a competência do MPF em desfavor do MPE,
com decisão de maio de 2013.
A divergência alegada resume-se à contaminação ou não do Rio Paraíba do Sul, rio
este que corta três estados da federação, chamando a competência para a esfera federal e
não só para o âmbito estadual como pretendia o MPE.
Constatou-se também que apesar da determinação da Lei Federal 12.305/2010,
especialmente em seu art. 18 que determina a elaboração de um Plano de Gestão Integrada
no município, sob pena do mesmo deixar de receber transferências da União, até o
momento desconhecemos qualquer iniciativa do poder público local nesse sentido.
Também verificamos a existência do que a recente literatura chama de “coronelismo
eletrônico” na concessão das outorgas de rádios e TVs que transmitem no município, com a
proliferação de rádios de conteúdo evangélico sendo ao menos uma controlada pelo
deputado estadual Edson Albertassi, e a implantação da TV Rio Sul (afiliada a TV Globo) no
município de Resende (e não no mais populoso e significativo da região que é Volta
Redonda) por divergências políticas da família Saad (donos da emissora Band que
implantou uma afiliada em Barra Mansa) com a família Marinho. A manutenção desses
oligopólios e privilégios trazem conseqüências para Volta Redonda, pois para se ter uma
idéia, no horário destinado à propaganda eleitoral não há espaço para os políticos de Volta
Redonda, pois a TV Rio Sul transmite o horário eleitoral de Resende e a Band os de Barra
Mansa.
O fato é que todos esses acontecimentos referentes à área contaminada não são
divulgadas pela mídia local, e muitos dos moradores do município desconhecem o
problema. Por outro lado, os próprios movimentos sociais não estão articulados o suficiente
para mobilizar a população. Em 2012 organizamos um evento na UFF de Volta Redonda
para ouvir as propostas de Plano de governo dos candidatos a prefeito. O depoimento
gravado da então candidata a prefeita de Volta Redonda no pleito de 2012 pelo PSOL, a ex-
vereadora pelo PT no final da década de 1980 e início de 1990, professora e sindicalista do
SEPE-VR5, conhecida como Dodora, é emblemático e esclarecedor, dando conta de que
segundo ela, em linhas gerais:

“O processo de cooptação dos sindicatos e movimentos sociais que o governo do


Lula empreendeu tiveram como ensaio (ou projeto piloto) o que foi levado a cabo
em Volta Redonda alguns anos antes e que culminaram com o completo
desmanche das forças oposicionistas e contestadoras.”

Explicou ela que após a privatização da CSN e a redução drástica do número de


empregados da Companhia (de 30.000 na época anterior para cerca de 6.000 atuais)
ocasionou um desemprego generalizado na cidade. Alguns foram incorporados na prefeitura
(com baixos salários) e para as lideranças das associações de bairro (até então muito
ativas) foram oferecidos cargos comissionados (com salários mais elevados), sendo que
somente um cargo para cada associação, gerando uma verdadeira guerra fraticida interna e
desviando completamente o foco de lutas.

5
Sindicato Estadual de Profissionais da Educação, seccional Volta Redonda, hoje dividido entre representantes
do PSOL e do PSTU.
No movimento sindical, incluindo o Sindicato dos Metalúrgicos também não foi
diferente, havendo a cooptação de algumas lideranças por parte da CSN e alternância de
filiação ora na CUT, ora na Força Sindical, ora em nenhuma delas como exposto acima.
Contornando a intermediação dessas organizações, fizemos uma primeira visita ao
bairro contaminado, registrando algumas fotos (abaixo) da localidade:

Foto 1: Placa de aviso de contaminação colocada pela CSN por determinação do TAC, ao lado de um
parque com brinquedos para crianças

Foto 2 e 3: Muro construído logo após as denúncias (de amianto atrás) e muro construído
recentemente (com arame enfarpado). Quadra de esportes logo a frente da área mais contaminada,
sinalizada com placas de PERIGO, flagradas através de furo no muro.

CONCLUSÕES
Pesquisas informais dão conta de que houve conluio do Sindicato com a própria CSN
por ocasião da doação do terreno. Posteriormente houve omissão dos órgãos públicos e da
mídia local para com a divulgação dos fatos, e mais recentemente alguns moradores
externaram a falta de interesse em sair do bairro, sem que houvesse pressão popular para
resolução do caso. Da leitura da Ação Civil Pública do Ministério Público Federal conclui-se
que os dejetos foram ali depositados por meio de uma autorização provisória (para durar
somente quatro anos) e que deveria haver um monitoramento ambiental constante.
Nesse sentido, na verdade não são as cerca de 750 famílias que devem ser
remanejadas, mas sim todo esse aterro tóxico. Na visita realmente constatamos a
proximidade do local com o Rio Paraíba do Sul, o que põe em risco não somente os
moradores daquela localidade, mas todos que consomem suas águas. Estranhamente esse
conflito ambiental permaneceu silente por todos esses anos, tanto que não consta do “Mapa
de conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil”, apesar de que desde o ano
de 1985 o então prefeito Marino Clinger promoveu uma reforma administrativa nas
Secretarias Municipais. Nesse momento foi criada a Secretaria Municipal de Serviços
Públicos e Meio Ambiente primeiro órgão ambiental do Município em questão, substituindo o
Departamento de Serviços Públicos. Dez anos depois, em 1995, numa nova reforma
administrativa, houve a separação dos órgãos ambiental e o de serviços públicos. Foi criada
a Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente, efetivamente o órgão ambiental do
Município, um dos pioneiros, no Estado do Rio, independente de outras secretarias. No sítio
da secretaria6 citada podemos verificar uma referência ao Conselho Municipal de Meio
Ambiente de Volta Redonda (COMDEMA/VR), abaixo transcrito:

O COMDEMA/VR criado pela Lei Municipal 4.438/10 integra a estrutura do


Sistema Municipal de Meio Ambiente - SISMAM, com a finalidade de:
I - assessorar, estudar e propor ao Município, diretrizes de políticas
governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais;
II - deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à
sadia qualidade de vida;
III - praticar outros atos e atividades compatíveis com sua finalidade.

Também como já citado funcionam núcleos de defesa do meio ambiente nas


representações locais do Ministério Público, seja estadual e/ou federal; assim como há a
participação no Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
(CEIVAP), um núcleo de meio ambiente na diocese, entre outros órgãos estaduais e
federais.
Entretanto, tudo indica ser necessário levar à população, através de uma alternativa
no campo da comunicação, maiores informações sobre a real situação para que possam
defender seus próprios interesses; além de estimular maior controle social que “force” a
municipalidade a adotar os procedimentos previstos na Lei Federal n° 12.305 de 2010.
A hipótese é a de que a efetiva democratização do direito ao livre pensamento e
expressão por meio da consolidação de redes e proliferação de acesso às NTC’s, não
sirvam somente à dominação e vigilância, mas na verdade sejam uma alternativa viável para

6
http://www.portalvr.com/meioambiente/mod/comdema/, acessado em 09 de fevereiro de 2013.
a efetivação de uma sociedade mais igualitária, enquanto ideal republicano, ou seja, a
radicalização da democracia em todas suas instâncias. A crise de representação política
não será resolvida com reformas dos sistemas eleitorais, p.ex, mas sim com a utilização das
ferramentas tecnológicas que empoderem o indivíduo no processo de tomada de decisões.
Como afirmado acima, existe um oligopólio da mídia e somente cerca de 8000
assinantes de TV por assinatura (e outros cerca de 8000 clandestinos) no município de
Volta Redonda e dois jornais circulam na cidade. Um semanal e outro denominado “Diário
do Vale” (apelidado pela oposição política local de Diário “Oficial” da CSN). Algumas rádios
sendo a maioria com programação voltada ao público evangélico. Há uma experiência de
conexão livre de internet, mas restrita à praça em frente da prefeitura e de baixa qualidade
de tráfego. Em agosto de 2010 a TV RIO SUL iniciou a transmissão do sinal digital, em
caráter experimental, nas cidades de Resende e Volta Redonda. Recentemente a cidade de
Barra Mansa foi contemplada com o sinal digital, assim como nas outras cidades, ainda em
fase experimental. É esperado que as “smart” TVs possam transformar-se em verdadeiros
pontos de conexão com a internet, quando o sinal digital estiver plenamente disponibilizado.
Um sistema está sendo desenvolvido (denominado de Ginga) para propiciar que as TVs não
sejam mais somente veículos de informação passiva, mas que possa haver interação,
transformando os “tele espectadores” em protagonistas na definição da grade que querem
assistir e se comunicando com outras pessoas, numa grande rede social.
Em resumo, a população necessita atualmente de novos canais de participação, haja
vista que os tradicionais, como os partidos políticos e sindicatos não estão mais
conseguindo dialogar com seus representados. Esse distanciamento gera uma crise de
representação, reforçada pela desconfiança generalizada nessas lideranças, vistas pela
percepção geral como usurpadoras do poder em benefício próprio e não da coletividade.
Infelizmente exemplos não faltam nesse sentido, a reforçar esse senso comum.
Logicamente há exceções, mas justamente essas exceções confirmam a regra, pois não é
razoável confiar num sistema que depende da boa vontade do representante da vez. Da
mesma forma que o sistema político precisa ser repensado, dando mais oportunidade para
participação mais direta, o sindicalismo também precisa passar por profundas reformas.
Como nos partidos de “aluguel”, ou seja, legendas criadas coma única finalidade de
arrecadar o fundo partidário e negociar o tempo de TV e rádio nos períodos eleitorais,
também é sabido que efeito similar acontece nos movimentos sindicais, onde surgem “sub”
representações de classes e categorias com o único intento de receber o imposto sindical
obrigatório. Inegável a contribuição do sindicalismo, não só no Brasil, mas no mundo. Ocorre
que no mundo dos séculos XIX e XX, e estamos no século XXI, com a proliferação das
novas tecnologias de comunicação e informação. As recentes mobilizações por meio das
redes sociais acenderam a luz amarela nos partidos políticos e nos sindicatos, ao ponto de
suas bandeiras serem rechaçadas nessas manifestações. Portanto, até mesmo o tradicional
Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense precisa encontrar um novo discurso e uma
nova prática, dentro desse novo cenário, não só internamente na CSN, como na sociedade
como um todo.

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