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Siderúrgica, sujeitos e justiça: um estudo de caso sobre a

tentativa de incidência processual por atores sociais na fase


pericial de ação individual coletiva1
Pedro Henrique Vasques (Cedec/INCT-INEU)
Introdução
O presente trabalho se propõe a olhar para um conjunto específico de conflitos no bairro
de Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, constituídos no início da instalação de um complexo
siderúrgico, atualmente, de propriedade da Ternium Brasil. A análise é circunscrita por um
conjunto de mais de duas centenas de ações individuais reparatórias ajuizadas pela Defensoria
contra a siderúrgica em virtude de impactos provocados à saúde e aos bens dos moradores
atingidos. Ainda que não se trate de uma demanda formalmente classificada pelo direito como
coletiva, seus contornos – seja pelo seu objeto, seja pelo número de demandantes – lhe impõe
características próprias desse tipo de conflito. Tendo esse elemento como pressuposto, a
avaliação enfocou em um ponto específico da trajetória processual das referidas ações, qual
seja, o estágio probatório, mais especificamente, a fase pericial. Esse foco tem como propósito
avaliar os limites e possibilidades desse momento como parte da estratégia de incidência nos
autos por atores sociais originalmente alheios à arena judicial. Para contrapor o que foi
observado na trajetória da perícia, analisou-se também a produção técnica resultante de uma
iniciativa popular relacionada aos impactos ora analisados pelo perito nos autos do processo.
A realização do estudo proposto deriva, em parte, da atuação – que já perdura por cerca
de uma década – como observador-participante nos vários conflitos em Santa Cruz envolvendo
a siderúrgica. As informações que compõem a análise derivam de dados produzidos a partir de
observações e conversas com os diversos atores, dentre eles, moradores, representantes do
Ministério Público, da Defensoria, de mandatos parlamentares, e demais organizações do
terceiro setor envolvidas. Em complementação, analisamos o material já elaborado pela
literatura envolvendo os conflitos estudados, bem como os autos processuais referentes à ação
paradigma selecionada pelo juízo para instruir as demais, parte dos documentos integrantes dos
processos de licenciamento ambiental da siderúrgica, inclusive autos de infração e termo de
ajustamento de conduta. Notícias, reportagens e relatórios sobre o tema também foram
observados e, quando pertinentes à proposta do texto, foram destacados em nota de rodapé.
O artigo está dividido em quatro partes, além desta introdução e considerações finais.
Primeiramente, apresentamos os conflitos tendo em vista o território, sua população, a trajetória

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44º Encontro Anual da ANPOCS. GT03 - Atores e instituições judiciais: sentidos e disputas em torno do direito.

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da siderúrgica na região, a emergência dos embates, sua judicialização e os atores envolvidos.
Em seguida, discute-se as estratégias da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, seus
efeitos sobre os moradores assistidos e a relação destes com a referida instituição e os
desdobramentos processuais das ações. Na terceira parte, trabalhamos rapidamente parte dos
debates relacionados à mobilização do direito e as instituições públicas habilitadas para manejar
estratégias judicias coletivas, como o Ministério Público e da Defensoria. Por fim, avaliamos a
produção da prova pericial, dentro e fora das estratégias judicias como parte do repertório de
ação dos movimentos sociais nas ações de mobilização do direito. Destaca-se a ocorrência de
uma atividade que resultou na produção de provas técnicas a partir de articulação popular.

Apresentação do caso: a siderúrgica contra Santa Cruz


Os conflitos que emergiram com a chegada da Thyssenkrupp Companhia Siderúrgica
do Atlântico (TCKSA), atual Ternium Brasil, vêm sendo objeto de diversos estudos nos últimos
anos a partir dos mais variados enfoques e objetivos (e.g., Santos, 2010; Carvalho, 2011;
Guimarães, 2011; Oliveira et al., 2011; Viegas, 2013; Moraes, 2015; Vasques, 2016; Mizhari,
2017; Ikêda Jr et al., 2018; Silva, 2019). Assim como as inúmeras abordagens, existem outras
tantas justificativas que poderiam fundamentar o interesse pelas disputas geradas com a
instalação do complexo siderúrgico na zona oeste do Município do Rio de Janeiro. Levando em
conta as afirmações anteriores, essa apresentação não visa ser exaustiva, pelo contrário, são
apresentados elementos mínimos entendidos como necessários para compreender a dinâmica
estudada, tendo em vista um recorte próprio, voltado ao desenvolvimento dos objetivos
enunciados. Dessa forma, os trabalhos anteriormente mencionados podem servir para suprir as
eventuais lacunas desta análise. Assim, nos interessa especificamente os seguintes pontos,
trabalhados a seguir: a caracterização do território e de sua população, a trajetória da siderúrgica
a partir do início de seu processo de instalação, a emergência dos conflitos, sua judicialização
e os atores envolvidos nesse processo de mobilização do direito via judiciário estadual.
Fosse um município, o bairro de Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, dentre as
atuais 5.570 municipalidades, estaria entre as 200 maiores do país, com uma população de
pouco mais de 200 mil habitantes. Apesar das várias formas de aproveitamento do solo que
caracterizam seu passado, a configuração como área industrial remonta à década de 1960. Isto
é, quando as colônias agrícolas criadas no governo Vargas, responsáveis por fornecer alimentos
para o distrito federal, dão lugar aos poucos a grandes empresas como é o caso da antiga
Companhia Siderúrgica do Estado da Guanabara (atual Gerdau Cosigua), da Usina Termelétrica
de Santa Cruz, Casa da Moeda do Brasil, White Martins, Valesul etc., e, mais recentemente, a

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siderúrgica Ternium. Nas décadas de 1970-80 a região recebeu investimentos da Companhia
Estadual de Habitação do Rio de Janeiro, responsável pela construção de inúmeros conjuntos
habitacionais, dentre eles, Antares, Pistóia, Otacílio Camará, Olímpio dos Santos, Boa
Esperança, João XXIII, Guandu, Miécimo da Silva, São Fernando, Rio Grande, Novo Mundo
e Alvorada. Como parte da periferia da capital fluminense, Santa Cruz possui limitada
infraestrutura urbana, que inclui precários serviços de saúde, escolar e de saneamento básico.
Bairro com maior população negra da cidade do Rio de Janeiro, pobre e marginalizado pelo
poder público, o território é objeto de intensa presença de organizações criminosas, que
circunscrevem os limites da ação e organização popular.
É nesse espaço, às margens da baía de Sepetiba, que, em 2005, tem início o processo de
licenciamento ambiental do complexo siderúrgico atualmente pertencente ao conglomerado
ítalo-argentino Ternium. Ainda que alguns textos (e.g., Guimarães, 2011) associem sua ida para
o Rio de Janeiro após tentativas frustradas de seu desenvolvimento no Nordeste, nossa hipótese
é que a escolha da capital fluminense está profundamente relacionada a um inédito alinhamento
entre governos federal, estadual e, mais adiante, municipal. Composição essa operacionalizada
pelas articulações do Partido dos Trabalhadores (PT) com o então Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB) e que vão dar ao Rio de Janeiro importante centralidade aos
investimentos da União (Neto & Santos, 2013). Além de recursos destinados a programas
sociais, como no caso do Minha Casa Minha Vida, ou do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), é possível lembrar o apoio e financiamento das infraestruturas
relacionadas à realização de megaeventos, como a Copa do Mundo FIFA de Futebol (2014) e
as Olimpíadas (2016), e de outros projetos industriais, como o Complexo Petroquímico do Rio
de Janeiro (COMPERJ). O declínio do influxo de recursos federais será verificado apenas a
partir da crise político-financeira de 2014, marco importante para a derrocada do governo de
Dilma Rousseff.
Nesse contexto, se a construção do maior complexo siderúrgico da América Latina uma
prioridade para a mencionada aliança política, suscitando especial atenção por parte das
lideranças políticas estaduais, para os servidores públicos responsáveis por sua avaliação e
autorização, tratava-se do primeiro licenciamento ambiental realizado em sua integralidade para
uma siderúrgica no Estado do Rio de Janeiro (as demais unidades industriais similares, como a
Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, são anteriores à legislação ambiental que
impôs a obrigatoriedade de licenciamento prévio). Para a população local, a vinda da joint-
venture formada pelo grupo alemão Thyssenkrupp e pela brasileira Vale, com recursos do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), trazia consigo a

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expectativa de que os retornos para a localidade, seja na forma de investimentos em
infraestrutura urbana, seja no provimento de empregos, superariam seus impactos negativos.
Entretanto, já no início das obras as primeiras denúncias dos atingidos ganhavam forma,
acusando a siderúrgica, dentre outros, de provocar alagamentos por conta de alterações nos
corpos hídricos, abalos nas estruturas das residências decorrentes dos impactos associados às
obras civis, redução da quantidade e qualidade do pescado nos canais e proximidades da baía
de Sepetiba2 etc. (Silva, 2019).
Até que fosse adquirida pela Ternium Brasil em 2017, muitos outros impactos negativos
seriam legados à população de Santa Cruz. Dentre eles, o que teve maior repercussão para além
dos contornos territoriais locais foram os episódios de chuva de prata (para uma descrição mais
precisa do fenômeno, ver Tavares (2019)), que passaram a ocorrer após o início da fase de pré-
operação dos altos-fornos da siderúrgica, em 2010. É preciso lembrar que, naquele momento,
não havia sido emitida Licença de Operação e a autorização que permitiu a partida dos altos-
fornos teria sido concedida a pedido do então governador, Sérgio Cabral, e à revelia do
posicionamento de parte do corpo técnico, que era contrário à medida naquele momento3. As
sucessivas violações ambientais pela siderúrgica provocaram por parte do órgão ambiental
licenciador, neste caso, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), a aplicação de inúmeras
multas e ameaças de interdição que culminaram com a assinatura de um Termo de Ajustamento
de Conduta. Esse foi prorrogado e aditado até 2016 quando, finalmente, foi emitida a Licença
de Operação pela Comissão Estadual de Controle Ambiental em meio a liminares e disputas
judiciais promovidas pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro visando impedir a
concessão do ato administrativo ante suspeitas de não atendimento à legislação ambiental4.
Junto dos inquéritos civis e das ações penais ajuizadas pelo Ministério Público visando
responsabilizar a companhia, os técnicos e os políticos ligados à concessão da autorização de
pré-operação, foram também propostas uma série de ações individuais de reparação pelos

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Os pescadores, por meio de uma associação de pesca, foram um dos primeiros atingidos a judicializar o conflito
com a siderúrgica. A ação visa repará-los pelo período em que foram inviabilizados de pescar por conta das obras
e instalação e pelos danos causados ao ecossistema marinho da região. Ajuizada em 2007, até outubro de 2020,
ainda não havia sentença, estando o processo em fase de perícia. Mais adiante, nova demanda foi ajuizada, desta
vez, patrocinada pela Defensoria (em parceria com o Ministério Público) e contra a Associação das Empresas do
Distrito Industrial de Santa Cruz (na qual a siderúrgica faz parte). Nesse caso, foi feito acordo e os pescadores
foram indenizados pelos prejuízos causados pela instalação de soleira submersa no canal de São Francisco.
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Em resposta à chuva de prata ocorrida após a autorização de pré-operação, o Ministério Público adotou uma
estratégia inédita no Rio de Janeiro. Isto é, se valeu do art. 69-A da Lei de crimes ambientais para responsabilizar
os servidores públicos que assinaram as manifestações técnicas que lastrearam a referida autorização.
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Apesar de haver acompanhado o licenciamento ambiental da siderúrgica, o Ministério Público apenas ajuizou
ação civil pública ao final do processo, às vésperas da concessão da Licença de Operação. Tal demanda obteve
decisão liminar para suspensão de qualquer deliberação administrativa voltada à concessão da licença que durou
cerca de 48 horas até ser derrubada pelo tribunal. Atualmente, se encontra em fase de produção de provas.

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moradores impactados pela siderúrgica entre 2011 e 2012. Tais ações foram iniciadas pela
Defensoria Pública e por advogados particulares e sua análise será desenvolvida adiante. De
todo modo, destacamos dois elementos que marcam a judicialização. O primeiro trata da
estratégia que a viabilizou. Considerando que mais de 200 ações foram propostas, a organização
dos sujeitos, e a coleta das informações e documentos só foi possível graças a articulação da
Defensoria Pública com uma organização não-governamental que vinha (e permanece) atuando
no território em parceria com os moradores, qual seja, o Instituto Políticas Alternativas para o
Cone Sul (PACS)5. Nesse contexto, o PACS desempenhará um papel importante em conjunto
com a Defensoria nos diversos estágios dos referidos processos judiciais. O segundo refere-se
à opção de alguns moradores de não utilizar a Defensoria e contratar advogados particulares
para conduzirem suas respectivas demandas reparatórias. O baixo comprometimento
profissional desses atores gera discrepâncias, e questões formais atinentes ao aproveitamento
de provas nos demais processos, importantes para compreensão das estratégias adotadas.
Antecipando a descrição do último andamento processual das referidas ações
reparatórias, até outubro de 2020 – i.e., quase dez anos de seu ajuizamento –, estas ainda não
foram julgadas e se encontram em fase pericial. Interessante observar que, a despeito do
momento, da complexidade, do objeto e dos sujeitos envolvidos, as várias ações ajuizadas (i.e.,
ação civil pública, de improbidade administrativa, reparatória coletiva dos pescadores e
reparatória individual dos moradores) contra a siderúrgica encontram-se exatamente no
momento pericial. Tal afirmação não tem qualquer pretensão de estabelecer correlações entre
as inúmeras variáveis envolvidas e o referido estágio processual. Contudo, essa ocorrência pode
se caracterizar para além de uma mera coincidência e explicitar algo que costumeiramente é
percebido pelos sujeitos envolvidos em ações judiciais ambientais na qual a perícia é um estágio
quase que obrigatório da disputa. Isto é, a fase de produção de provas é longa, complicada,
repleta de formalidades e sua operacionalização é permeada por incertezas, ainda que seja
importante para a mobilização do direito no judiciário.
Na ausência de desfechos definitivos para a grande parte das demandas judiciais
apresentadas, os moradores seguem relatando a permanência (e, em alguns casos, o aumento)
dos impactos negativos, em tese, provocados pela siderúrgica. Com a renovação da sua Licença
de Operação prevista para o segundo semestre de 2021, tal momento parece se constituir como
uma estrutura de oportunidade política (McAdam, Tarrow e Tilly, 2001) que viabiliza novas

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Fundado em meados dos anos 1980 por economistas que retornavam do exílio, o PACS define sua atuação como
aquela voltada para a discussão de modelos de desenvolvimento e construção de alternativas ao capitalismo a partir
de trabalhos voltados à educação popular (ver: http://pacs.org.br/).

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estratégias de mobilização do direito por parte dos atores sociais envolvidos, visando a reversão
(ainda que parcial) do quadro atual.

As estratégias judiciais da Defensoria Pública: os moradores contra a siderúrgica


Logo após a ocorrência dos episódios de chuva de prata, responsáveis por dar
visibilidade internacional aos impactos causados pela siderúrgica, consolida-se um consenso
entre Defensoria, PACS e um grupo de moradores de que aquele momento seria estratégico
para se iniciar um embate judicial voltado à reparação dos prejuízos sofridos. Assim, é realizada
uma convocação para que os interessados em integrar o rol de demandantes se reunissem com
os defensores públicos e apresentassem documentos. Após esse mutirão, decidiu-se a forma
jurídica a ser empregada, ou seja, ações reparatórias individuais, bem como seu objeto, a
indenização por prejuízos causados haja vista três fundamentos distintos: (i) a degradação às
estruturas das residências daqueles moradores próximos à linha férrea; (ii) os impactos dos
vários alagamentos ocorridos no bairro após a chegada da siderúrgica; (iii) os danos à saúde
provocados pela emissão de poluentes e particulados oriundos dos processos industriais. Como
resultado, mais de 200 ações foram ajuizadas, ainda que, cerca de um terço delas, tenha sido
por advogados particulares. Em ambos os casos, os atores jurídicos envolvidos optaram – ainda
que, provavelmente, por razões distintas – a não ajuizarem ações coletivas. Essa categorização
é importante exatamente para entender parte da atuação tanto da Defensoria, quanto do próprio
Ministério Público. Enquanto para a primeira instituição, tais demandas foram tratadas como
parte do “varejo” judicial, sem o apoio perene de núcleos especializados, para a segunda, a
ausência do enquadramento formal como “coletiva” contribuiu para que os promotores
lidassem com a questão de forma passiva, apenas como fiscais da lei.
Quando contrastada por meio de conversas com os moradores, a tentativa da Defensoria
de transposição do conflito para o campo judicial a partir dos três fundamentos acima
destacados explicita suas limitações. Essa clivagem se dá a partir tanto de questões imediatas,
como, impactos não incluídos (e.g., a contaminação das culturas agrícolas; ou, a redução da
quantidade e da qualidade do pescado, já que alguns moradores também são pescadores), e
mediatas, como a saturação da infraestrutura local após a chegada da siderúrgica (e.g.,
degradação das vias urbanas, das unidades de saúde, dos serviços de saneamento básico etc.).
Com a função de mediar o direito de reparação e o processo judicial, os defensores públicos
selecionaram um conjunto de argumentos privilegiando-os em detrimento de outros para
protagonizar a disputa. Entretanto, o descompasso entre a vocalização das demandas por

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direitos dos moradores e a concepção da estratégia judicial de forma unilateral e com baixo
diálogo contribuiu para alimentar um sentimento de incompreensão e inevitável injustiça.
As dificuldades de comunicação entre Defensoria e moradores, bem como a baixa
expectativa com relação a um retorno judicial de curto prazo contribuem para afastá-los. Esse
contexto, em conjunto com as promessas de um diálogo mais atento, indenizações maiores e
mais rápidas, aproximam parte dos atingidos de advogados particulares interessados em
patrocinar as ações a baixos (ou nenhum) custos, com vistas a receber parcela das reparações
como remuneração. Assim, como mencionado acima, cerca de 80 ações reparatórias foram
ajuizadas por advogados particulares. Em uma dessas ações, elabora-se laudo pericial cujo
resultado isentava a siderúrgica de qualquer responsabilidade sobre os três fundamentos antes
mencionados. Vislumbrando a possibilidade de encerrar boa parte das demais ações, os
advogados da companhia solicitam ao juiz que tal prova fosse aproveitada em todos os casos
com o mesmo objeto. Apesar de tal pedido haver sido aceito, a Defensoria Pública consegue
reverter tal decisão no Tribunal de Justiça sob o principal argumento de que ela não teria
participado no processo de elaboração da perícia. A inutilização do laudo para as demais ações
demandou, portanto, a necessidade de uma nova perícia.
A despeito de o referido pleito haver fracassado, a decisão do Tribunal contribuiu para
que, ao voltar para a primeira instância, houvesse uma reconfiguração da abordagem processual
adotada pelos magistrados de Santa Cruz. Isto é, dentre as ações reparatórias que tivessem o
mesmo objeto, se elegeu apenas uma delas para continuar sua tramitação – assim denominada
“ação paradigma” –, enquanto as demais remanesceriam suspensas, aproveitando todas as
provas e decisões até a sentença. Esse movimento, em até certo ponto tardio – ainda que
esperado –, aglutinou na ação paradigma uma demanda caracteristicamente coletiva, mas que
fora artificialmente fragmentada em ações individuais. A reestruturação do embate judicial, por
outro lado, não implicou em movimento similar por parte dos representantes da Defensoria ou
do Ministério Público. Ambos continuaram a dar o mesmo tratamento que vinham conferindo
às ações em sua singularidade para uma demanda que passaria, então, a atingir mais de 200
famílias – e cujo resultado impactaria outras ações judiciais já em curso e eventuais futuramente
propostas. O mesmo não pode ser dito em relação à siderúrgica, cujo reconhecimento da
importância dessa mudança seria explicitado por suas ações ao longo do curso processual.
O afastamento da Defensoria em relação aos seus próprios assistidos implicou também
no distanciamento dos demais parceiros da sociedade civil. Apenas quando esse isolamento se
mostra uma dificuldade para sua atuação institucional é que seus representantes buscam retomar
as tentativas de diálogo para fora de seus muros. Diante da necessidade de realizar nova perícia,

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o magistrado solicitou às partes que indicassem potenciais especialistas que pudessem avaliar
a questão, explicitando que a sua seleção dependeria do consenso entre as partes. Nesse
contexto é que a Defensoria buscou reconstituir as pontes de diálogo com antigos aliados, como
o PACS e determinados moradores mais atuantes na região. Tal tentativa se caracterizava por
sua precariedade principalmente porque se circunscrevia à necessidade da instituição de
conseguir potenciais indicações pericias e apoio técnico. Ainda que se mostrasse aparentemente
aberta ao diálogo, indicando que destacaria outros defensores para atuarem em conjunto na
ação, as tentativas de comunicação e articulação com outros atores políticos e sociais não
prosperaram. Como resultado, os moradores foram avisados semanas após a seleção que o
perito havia sido escolhido e que este não provinha de uma indicação da Defensoria Pública.
Ao contrário, como se descobriria adiante, tratava-se de um especialista com prévia relação
acadêmica/profissional com representantes da siderúrgica.
Definido o perito, nomeados os assistentes técnicos e formulados os quesitos a serem
respondidos – tarefa na qual também houve apenas um limitado diálogo – chega-se ao marco
de realização das atividades periciais. Três são os elementos que merecem destaque nesse
momento chave do processo. O primeiro, diz respeito a um espaço de diálogo – ainda que
restrito – que reuniu partes, representantes legais, perito e magistrado. Como forma de dar
transparência à perícia, o juiz determinou a realização de uma reunião prévia com a participação
dos interessados para apresentação das atividades que seriam realizadas no curso da perícia.
Nessa ocasião, não só parte dos moradores pode estar em contato com o perito, mas também
com o magistrado em um ambiente menos formal do que em uma sala de audiência. Para o
acompanhamento dos trabalhos o juiz autorizou que dois moradores participassem com os
peritos de suas atividades, propiciando, novamente, a possibilidade de interações sem
intermediários entre o corpo pericial e os demandantes. Contudo, essa abertura não foi possível
de ser concretizada haja vista desdobramentos associados ao segundo elemento, qual seja, a
difícil relação entre Defensoria, assistente técnico e os moradores assistidos. Mesmo diante da
aproximação forçada pela perícia, essa dinâmica marcada por uma dimensão hierárquica e
unilateral tornou o acompanhamento dos trabalhos de campo pelos moradores praticamente
impossível. Isso porque, ao mesmo tempo que Defensoria e respectivo assistente técnico
limitaram ao mínimo sua comunicação com os peritos, esse comportamento – reforçado pela
igual dificuldade de diálogo com a referida instituição – reduziu o acesso dos moradores aos
especialistas e, nesse sentido, às atividades de fiscalização de seus trabalhos.
Enquanto isso, era possível extrair a importância que os representantes legais da
siderúrgica davam a esse processo a partir de suas ações no processo. A leitura dos autos indica

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ter havido constante interação entre ambos, implicando não só em atividades necessárias aos
trabalhos de campo, mas também trocas de informações e documentos que lastreariam parte
das fundamentações técnicas empregadas pelos especialistas. Se havia a compreensão por parte
da Defensoria sobre a importância dessa etapa, aparentemente, ela não foi traduzida em ações
que transmitissem no processo essa preocupação. Ao contrário, em uma decisão um tanto
quanto atípica, motivada por questionamento apresentado pela Defensoria sobre a validade dos
trabalhos periciais, o magistrado do caso explicitou de forma detalhada a afirmação anterior. O
resultado final, como já mencionado, foi um novo laudo isentando a Ternium Brasil de qualquer
responsabilidade sobre as alegações apresentadas nas petições iniciais. Interessante observar
que o referido documento foi parcialmente instruído por aquela primeira análise, descartada
pelo Tribunal a pedido da Defensoria ante a ausência de sua participação na elaboração.
Até o presente momento, não há sentença e, portanto, um posicionamento expresso do
Judiciário sobre o conflito em questão. Todavia, o foco da análise não reside no desfecho da
disputa, mas na avaliação da etapa pericial como um momento peculiar no curso processual, no
qual se verifica uma abertura formal e que viabiliza a participação de outros atores e saberes,
para além do jurídico, no processo de formação do convencimento do magistrado. Essa
permeabilidade, portanto, possibilitaria aos atores envolvidos em determinadas disputas
jurídicas ampliarem seu leque de estratégias. Isso porque, sob tais circunstâncias, a produção
de uma decisão justa estará associada – em maior ou menor grau – a modos distintos de
produção de verdade, em princípio, marginais às formas jurídicas. No caso em concreto, foi
determinado pelo magistrado, ao decidir pela pertinência e realização de perícia, que a formação
e aplicação da jurisdição passaria necessariamente pela intervenção de saberes externos ao
campo do direito. Ainda que isso não signifique a exclusão das formas jurídicas dessa dinâmica,
tampouco das demais interferências externas (diretas e indiretas), isso implica reconhecer que
há uma inflexão autorizada pelo próprio direito e que, diferentemente do que se possa imaginar,
não se limita à fase pericial, mas circunscreve toda a estratégia de mobilização do direito nas
as disputas que a norma jurídica é percebida pelo direito como insuficiente para dizer o justo.

A Defensoria Pública a partir do debate sobre mobilização do direito.


Como observado pelas abordagens culturalistas (Inatomi, 2019) e recolocado pela
literatura nacional, pensar em mobilização do direito significa envolver outras dimensões que
ultrapassam a prática judiciária (Maciel, 2011). Nesse aspecto, o endereçamento das demandas
por direitos para que o Poder Judiciário e seus órgãos associados se manifestem e decidam é
uma dentre várias possibilidades, que nem sempre pode ser a mais adequada ou preferida sob a

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perspectiva dos demandantes. Tendo em vista a afirmação anterior, adota-se como pressuposto
ser possível pensar outros espaços nos quais a formulação de uma decisão justa não dependeria
da intervenção de um magistrado a partir de um rito processual previamente definido no âmbito
das formas jurídicas. É possível imaginar inúmeras formas de jurisdição distintas daquelas
adstritas ao Poder Judiciário, a arbitragem seria o exemplo típico do direito contemporâneo.
Nos contextos em que os conflitos são incapazes de serem administrados apenas a partir da
norma jurídica, abre-se espaço para que outros saberes contribuam para a construção de uma
decisão justa. No caso de embates de ordem coletiva, as análises técnicas, consubstanciadas nas
atividades periciais, explicitam a afirmação anterior. Isso porque, o processo de análise técnica
se constitui como espaço de produção de verdade e da definição daquilo que é justo. Ao assumir
esse papel, o laudo pericial conferiria legitimidade a qualquer decisão proferida – dentro e/ou
fora do judiciário – a respeito de um determinado conflito. E sua caracterização como justa não
estaria associada apenas a uma análise de adequação da decisão à norma jurídica, mas seu
atendimento a outros critérios previamente formulados no âmbito dos saberes mobilizados.
Consideradas as afirmações anteriores, a possibilidade de acesso à justiça passa a estar
associada à capacidade dos atores envolvidos de mobilizarem ferramentas extrajurídicas no
âmbito da disputa judicial. Em regra, para os conflitos de natureza coletiva, a instituição com
atuação privilegiada a partir da Constituição Federal de 1988 é o Ministério Público, em
especial, após as sucessivas alterações na Lei n. 7.347/85 (Lei da ação civil pública), que
ampliaram o escopo de ferramentais processuais a ela associadas. Dente outros, por conta do
protagonismo assumido pela mencionada instituição, ela tem sido privilegiada como objeto de
estudo em análises sobre seu papel no sistema de justiça brasileiro e, em especial, no que refere
a sua condição como principal demandante em conflitos coletivos (Losekann, 2013). Por outro
lado, a progressiva constituição de defensorias públicas estaduais e a ampliação de suas
competências a partir de alterações legislativas, jurisprudência e construções doutrinárias, tem
levado a Defensoria a assumir, em determinados casos, uma atuação concorrente – não
necessariamente conflitiva – com o Ministério Público. O que nos leva a crer que tal emergência
tende a suscitar transformações e rearranjos das estratégias de mobilização do direito.
Para imaginar esses outros arranjos, retomamos ao debate teórico no entorno da
compreensão das funções desempenhadas pelo Ministério Público após 1988. Tomamos como
ponto de partida a posição desenvolvida por Arantes (2002), na qual a legislação sobre
interesses difusos e coletivos no Brasil teria adotado como pressuposto a hipossuficiência da
sociedade civil o que justificaria ser o Ministério Público a instituição responsável por lidar
com esses temas eis que, em sua origem, sua atuação se restringia aqueles considerados

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incapazes pela lei. Em síntese, os promotores atuariam de forma tutelar e em substituição aos
potenciais demandantes. Como explicitado por Maciel e Koener (2002), a abordagem
metodológica empregada por Arantes seria insuficiente para extrair tais conclusões. Nesse
sentido, compreender o Ministério Público como substituto dos demais atores sociais na defesa
desses direitos coletivos, dando enfoque à identificação daqueles que figuram como autores das
ações judiciais, implicaria marginalizar a importância de outras formas de atuação, como
denúncias e representações. O entendimento sobre um repertório de ações que iria além da
judicialização leva Losekann (2013) a perceber a constituição de relações de aliança entre os
atores sociais envolvidos em demandas coletivas e os membros do Ministério Público.
Ainda que seja necessário ressaltar que essa relação entre Ministério Público e sociedade
nem sempre seja harmônica, caracterizando-se, em alguns casos, pela inconveniência ou até
mesmo pelo antagonismo, a instituição mantém-se como um aliado estratégico, dentre outros,
por conta de sua robustez técnico-jurídica. De todo modo, se concordamos pela inviabilidade
de se tratar do papel desempenhado pelo Ministério Público a partir da ideia de hipossuficiência
da sociedade civil, temos por hipótese que o aumento de capilaridade de sua atuação e, dessa
forma, sua incidência nos mais diversos temas, também pode ser considerado fator importante
para a aproximação dos movimentos sociais das dinâmicas judiciárias. Isso porque, ainda que,
em determinados casos os movimentos optassem deliberadamente por evitar o judiciário ou por
incidir sobre essa arena a partir de estratégias específicas, no contexto do exercício das
obrigações funcionais ampliadas dos promotores, estes passaram a ter que investigar e incidir
sobre questões que até então não eram objeto de sua atuação. Essa dinâmica teria suscitado a
necessidade que inúmeros atores sociais se aproximassem do Ministério Público. Assim, além
desse movimento estar associado ao esgotamento e insatisfação dos resultados obtidos a partir
das tentativas de diálogo com executivo e legislativo (Losekann, 2013), o espaço que passa o
Ministério Público a ocupar, teria produzido tensões importantes ao levar para o judiciário
determinados debates outrora marginais a essa arena. Isso teria, então, contribuído para
estimular os movimentos sociais a atuarem nesses espaços com finalidades diversas, dentre
elas, a de evitar serem tutelados por essas instituições.
Em um contexto judicial marcado pela presença do Ministério Público, a Defensoria
emergiria como um aliado alternativo na interlocução entre sociedade e judiciário na medida
em que seu escopo de atuação tem sido recente e progressivamente ampliado. Interessante
observar, ainda que de forma breve, como essa narrativa é construída no campo doutrinário do
direito a partir de um paralelo com a atuação ministerial. Isto é, enquanto uma das funções do
Ministério Público seria a de fiscal da lei (custus legis) a Defensoria, por sua vez, assumiria a

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tarefa de fiscal dos vulneráveis (custus vulnerabilis). Nas palavras da doutrina jurídica essa
forma de atuação representaria “a busca democrática do progresso jurídico-social das categorias
mais vulneráveis no curso processual e no cenário jurídico-político” (Maia, 2017). Segundo o
jurista Bueno (2018), o emprego e difusão dessa abordagem teria “(...) a especial vantagem de
colocar lado a lado (...) essa modalidade interventiva a cargo da Defensoria Pública e a
tradicional do Ministério Público”. Ou seja, retoma-se a premissa da hipossuficiência a partir
da mobilização da ideia de vulnerabilidade social que, nesse momento, assume a forma não de
incapacidade jurídica, mas de desequilíbrio de forças – construção discursiva essa também
caracterizada por um enfoque tutelar. Assim, caberia à Defensoria Pública atuar tanto em nome
das partes, como garantidor de uma disputa judicial equilibrada.
A despeito de, em um primeiro momento, ser possível imaginar que a ampliação de
atuação da Defensoria nos moldes mencionados fortaleceria a tese de Arantes – no sentido de
que a expansão dos direitos coletivos teria se dado sob a premissa de que a sociedade seria
hipossuficiente –, observamos um movimento que vai na direção oposta. Isso porque, quando
se considera argumentações como as de Maciel e Koerner, e Losekann, o alargamento das
possibilidades de atuação dos defensores públicos tenderia a contribuir para expandir o
repertório de ação dos atores sociais no âmbito de estratégias de mobilização direito, inclusive
no que diz respeito à esfera judicial. Ao aumentar sua capacidade de incidência sobre outras
disputas, há a possibilidade que os demais atores sociais reorganizem suas formas de ação tendo
em vista esses novos papeis desempenhados pela referida instituição. Isso incluiria desde sua
percepção como potencial aliado, passando pela antagonização com o Ministério Público, até
mesmo sua oposição a determinados movimentos sociais. Em síntese, a participação da
Defensoria em conflitos e estratégias de mobilização do direito – e não apenas como
representantes legais (extra)judiciais – nos parece tornar mais complexas as disputas.
No curso da trajetória do Ministério Público após a Constituição Federal de 1988, a
expansão da sua atuação também nos parece ter vindo acompanhada de estratégias de
fortalecimento institucional que são explicitadas em parte na criação de cargos e instâncias
técnicas internas. Nesse aspecto, a Defensoria Pública ainda parece engatinhar, já que, não só
aparenta ser marcada por uma alta desigualdade institucional se comparadas suas estruturas
estaduais e federal, mas também pela baixa presença de órgãos internos de assistência técnica
aos defensores públicos – o que é possível de se observar a partir da análise de normas e
regulações organizacionais internas da instituição. Essa aparente precariedade demandaria,
então, a necessidade de construir caminhos alternativos e, em alguma medida, soluções atípicas
para lidar com situações nas quais a expertise jurídica dos defensores se mostraria insuficiente.

12
Isso incluiria, a aproximação de outros atores sociais, como o Ministério Público, passando por
movimentos e organizações sociais, até incluir indivíduos voluntários singulares, cuja atuação
pode (ou não) ser identificada explícita e formalmente nesses conflitos. Contudo, se essas
alternativas podem exibir certas vantagens, elas também se caracterizam pela instabilidade e
precariedade dos apoios em contextos que, em regra, dependem de atuações e compromissos
de longo prazo, perpassando os vários estágios do conflito.
No caso concreto, ainda que a Defensoria não tenha propriamente agido na condição de
“fiscal dos vulneráveis”, mas como representante legal dos moradores, a imanente dimensão
coletiva das ações reparatórias se observa dada a agregação de um elevado número de
demandantes. E esse resultado foi tornado possível graças a mediação realizada por um terceiro
ator, qual seja, o Instituto PACS, que possui longa trajetória de atuação no território junto aos
atingidos pela siderúrgica. Nesse aspecto, ainda que a referida organização não figure
formalmente na ação judicial, não é possível descartar sua participação para a avaliação dessa
estratégia de mobilização do direito. Por outro lado, se a vocação organizativa do PACS
contribuiu para mobilização local no entorno da demanda judicial, o mesmo não pode ser dito
em relação aos aspectos extrajurídicos do processo judicial. Nesse caso, as limitações
institucionais da Defensoria foram parcialmente compensadas mediante a celebração de
convenio com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para a constituição de
assistente técnico no âmbito da perícia judicial.

Os caminhos perseguidos: a prova técnica como estratégia de mobilização do direito


Estratégias judiciais desenvolvidas pelo Ministério Público ou até mesmo por
associações civis tendo como objetivo primário a obtenção de decisões liminares são
recorrentes. A partir dessa orientação, derrotas nesses estágios iniciais tendem a alimentar uma
diminuição de interesse pela demanda. São ações que, em geral, estão associadas a um retorno
positivo imediato por parte do judiciário e que, dentre seus efeitos, estimula a manutenção da
participação dos atores envolvidos. Tal estratégia de concentrar esforços e expectativas nos
primeiros momentos do processo pode estar amparada em inúmeras justificativas, como a
necessidade de instruir procedimentos de investigação, a opção de privilegiar alternativas
extrajudiciais, a urgência de se evitar violações irreversíveis a determinados direitos, o interesse
em alavancar alguma vantagem para iniciar negociações dentro ou fora dos autos etc. Nesse
contexto, uma decisão, ainda que provisória, tende a ser percebida nesses casos como uma
vitória importante – em especial, considerando que, em não sendo revertida, sua manutenção
tende a acompanhar o fluxo processual até o seu fim. Todavia, a necessidade de seguir o curso

13
ordinário do processo, que inclui a fase probatória, estaria do outro lado da moeda. Em geral,
nos casos em que a resolução da disputa depende de análises técnicas, sua realização – no caso,
via perícia – é percebida como mais um entrave nessa longa dinâmica. Sua categorização dessa
maneira se justificaria tendo em vista a necessidade de se contratar um assistente técnico e
formular quesitos, o lapso temporal entre a ocorrência do fato em disputa e a realização da
análise etc. Não é por acaso que, em sua análise, Moraes (2015, p. 141) identificou em
depoimentos colhidos junto aos representantes de organizações sociais que tais grupos possuem
dificuldades em instruir suas ações quando dependem da perícia, de modo que podem deixar
de utilizar a ACP (seja pelos custos processuais envolvidos, seja pela dificuldade de se
encontrar peritos dispostos a receberem seus honorários apenas no final da ação).
Adotando como premissa que o debate técnico-científico quando imanente a
determinados conflitos não limita a exercer sua influência no momento em que é evocado pelo
magistrado (e.g., na perícia, ou audiência pública), este poderá desempenhar função
estruturante para a estratégias de mobilização do direito. Olhando especificamente para aquelas
que envolvem a esfera judicial, isso implica dizer que o emprego de saberes extrajurídicos
perpassará desde a confecção das primeiras peças processuais, até o esgotamento da última
possibilidade de recurso. Nesse contexto, momentos como a fase pericial explicitam estágios
em que essa influência é mais visível. No caso analisado, dadas as limitações institucionais da
Defensoria Pública, a construção da abordagem processual tomou como incontroversas as
denúncias dos moradores, e investiu nos aspectos jurídicos – onde detinha expertise. Ainda que
parte das reclamações encontrasse lastro nas autuações por violações às normas ambientais, o
que inclusive justificou o momento do ajuizamento das ações, as demandas trazidas pelos
moradores não foram organizadas ou confrontadas a partir de possível escrutínio técnico a fim
de auxiliar na construção da estratégia processual. Quase que em oposição à predominante
lógica do parecer (Nobre, 2005), a Defensoria teria apostado no caminho de que as denúncias,
por mais complexas que fossem, seriam comprovadas pela perícia. A leitura dos documentos
do processo não só explicita a referida orientação, como também expõe seus limites. Mesmo
que desconsiderássemos o lapso temporal entre os eventos (2010-2012) e a realização da análise
técnica (2018-2019), a forma em que a demanda processual foi organizada (i.e., seus pedidos,
os quesitos formulados ao perito etc.) circunscreveu suas possibilidades de êxito judicial. A
aposta da Defensoria em uma neutralidade dos saberes técnicos para referendar as denúncias se
mostrou incompatível a sua própria atuação, marginalizando, inclusive, as possibilidades de
interação dos moradores atingidos com os peritos.

14
Ao analisar as questões postas ao longo desse trabalho, o ponto central de observação
são as estratégias de mobilização do direito e a sua relação com saberes marginais ao campo
jurídico. E, se o debate sobre a produção de provas em disputas judiciais dominou o enfoque
dado, passamos a apresentar e analisar – ainda tendo em vista o caso concreto – uma experiência
popular de produção de elementos técnicos como subsídios às denúncias de violações de
direitos. Nessa situação, é preciso lembrar que a convivência de populações próximas a grandes
empreendimentos industriais implica na provável perpetuação de conflitos com características
distintas. Dentre eles, há aqueles que emergem desde os primeiros momentos do
estabelecimento dessa relação e perpassam longos períodos. No presente caso, o impacto que
assume o esse contorno é aquele relacionado à emissão de materiais particulados e, portanto, à
qualidade do ar da região. Os episódios de chuva de prata no início da segunda década do XXI
foram marcantes para os moradores, entretanto, reclamações envolvendo doenças respiratórias
e dermatológicas, contaminação de água e alimentos etc., não cessaram após tais ocorrências.
Pelo contrário, as narrativas dão conta que, em determinados momentos, as emissões são mais
acentuadas e, junto delas, viriam os problemas de saúde. Em resposta às eventuais denúncias
que ocasionalmente são endereçadas à companhia ao longo de sua operação, essa costuma
reiterar seu posicionamento de que vem cumprindo a legislação ambiental e que existem outras
unidades industriais no entorno, não sendo possível precisar a fonte dos poluentes.
Por se tratar de um complexo siderúrgico, mesmo considerando que medidas eficientes
teriam sido adotadas para evitar novos episódios de chuva de prata, são várias as possíveis
fontes emissoras no interior da planta industrial. Tendo em vista a recorrência de problemas
associados pelos moradores à poluição atmosférica, em 2017, organizou-se parceria entre o
PACS, o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH)6, da
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e uma
terceira organização, denominada Justiça nos Trilhos7, para a realização de um programa
pioneiro de monitoramento da qualidade do ar, intitulado “Vigilância popular em Saúde e
Ambiente em áreas próximas de Complexos Siderúrgicos”. O objetivo da atividade era
capacitar moradores localizados em dois territórios impactados pela siderurgia, isto é, Santa

6
As atividades de ensino estão voltadas para a formação de profissionais no campo da saúde pública e as pesquisas
estão concentradas nas relações entre exposições a substâncias químicas e suas consequências (ver:
http://ensp.fiocruz.br/departamentos/centro-de-estudos-da-saude-do-trabalhador-e-ecologia-humana).
7
Trata-se de uma organização nascida de uma campanha internacional formada para demandar reparações pelos
danos causados pela companhia Vale no Estado do Maranhão, coordenada por diversas organizações não-
governamentais (Missionários Combonianos, Fórum Carajás, Fórum ‘Reage São Luís’, Sindicato dos Ferroviarios
de Maranhão, Tocantins e Pará, GEDMMA (Grupo de Estudo Modernidade e Meio Ambiente – UFMA), MST)
(ver: https://justicanostrilhos.org/).

15
Cruz, no Rio de Janeiro, e Piquiá de Baixo, em Açailândia, no Maranhão, para coletar e analisar
dados sobre a qualidade do ar nas respectivas regiões. No caso carioca, um grupo de jovens,
organizado na forma de um coletivo, ficou responsável por participar do projeto. Com o auxílio
técnico da Fiocruz se definiu a metodologia de análise, bem como os equipamentos que seriam
utilizados. Para a avaliação, se propôs monitorar os materiais particulados de 2,5 micrômetros,
tendo em vista sua grande capacidade de penetração no sistema respiratório. Com todas as
ressalvas possíveis no tocante aos limites da metodologia empregada, os resultados obtidos e
identificados no relatório publicado8 refletem a comum percepção dos moradores sobre a
precária qualidade do ar em ambos os territórios. Olhando especificamente para Santa Cruz, os
valores registrados para as médias diárias ultrapassaram os limites estabelecidos pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) para esse tipo de material particulado. Ademais, se
verificou, em alguns momentos, tendência de aumento dos valores monitorados durante a
madrugada, voltando a diminuir durante o período diurno.
O relatório foi marginalmente considerado por aliados do campo jurídico, como o
Ministério Público e a Defensoria. Contudo, sua divulgação junto à mídia teve como
desdobramento a publicação de reportagem sobre os resultados verificados9. Ainda que a
narrativa de direitos não fique tão explícita na notícia quanto no relatório, o texto jornalístico
reforça a estratégia. Nesse sentido, ele se inicia com a afirmação sobre a alta poluição no bairro
e indica que esse entendimento do senso comum teria sido então comprovado por um trabalho
técnico feito pelos jovens moradores. Essa conclusão é então confirmada não mais pelo
jornalista que introduziu a questão, mas pela transcrição das falas de outros moradores que
denunciam a situação, dando voz aos resultados numéricos transcritos no relatório. A
publicação da reportagem suscita a apresentação de resposta pela siderúrgica10. E se o título da
primeira – “Santa Cruz sob nuvem de poluição” – alertava para a indisfarçável precariedade da
qualidade do ar, naquela que registra sua defesa – “Ternium cumpre normas do ar” –, estampa-
se uma orientação legalista, que expõe a clivagem entre o atendimento à legislação e aquilo que
é observado no meio social. Após reiterar essa dimensão normativa, a siderúrgica convida os
estudantes a visitarem suas instalações. Em seguida, desqualifica o documento a partir de um
elemento técnico – i.e., o tipo de material particulado analisado seria inadequado para a análise

8
http://biblioteca.pacs.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Relat%C3%B3rio-Final-Final.pdf (último acesso em
22.10.2020).
9
https://odia.ig.com.br/_conteudo/2017/10/vida-e-meio-ambiente/vida-e-meio-ambiente/19041-santa-cruz-sob-
nuvem-de-poluicao.html (último acesso em 22.10.2020).
10
https://odia.ig.com.br/_conteudo/2017/10/colunas/vida-e-meio-ambiente/vida-e-meio-ambiente/20299-
ternium-cumpre-normas-do-ar.html (último acesso em 22.10.2020).

16
pretendida –, reforçando que seu monitoramento não seria exigido pela lei. Por fim, afirma que
segue enviando as informações coletadas em tempo real ao órgão ambiental. Curioso notar que,
quase dois anos após a reportagem, exatamente essa obrigação –condicionante da licença – seria
considerada em um dos relatórios de fiscalização como não atendida.
A dinâmica de produção do conflito judicial, mediado pela Defensoria, pode ser
colocada em antagonismo com a proposta de construção popular da demanda por direitos, nesse
caso, explicitada pelo monitoramento da qualidade do ar realizado pelos jovens moradores. Tal
estratégia – responsável por provocar manifestação pública da companhia em resposta às
análises produzidas – ilustra um formato de mobilização do direito que não necessariamente
depende do protagonismo de atores jurídicos. Seu resultado parece explicitar um caminho de
resistência em potencial fora do campo judicial, ainda que sua articulação com demais aliados
possa produzir outros efeitos. A possibilidade de desenvolver os fundamentos das disputas
judiciais a partir de elementos extrajurídicos não só pode contribuir para seu êxito, mas também
para dar autonomia aos sujeitos demandantes cuja interação com a dinâmica processual é, em
regra, condicionada pela mediação exercida pelos atores autorizados a atuarem nesses espaços.

Considerações finais
Os vários conflitos emergidos após a chegada a siderúrgica em Santa Cruz são objeto
das mais diversas análises. Nos propusemos nesse texto a conduzir mais uma dentre todas essas
a fim de contribuir para o entendimento, nesse caso, das estratégias de mobilização do direito
pelos atores envolvidos nessas disputas. Para fazê-lo, foi importante considerar as
características que o território vem assumindo após a segunda metade do século XX, na qual as
atividades agrícolas vão sendo marginalizadas em detrimento do crescimento industrial. Esse
movimento tem como um de seus pontos de inflexão a instalação da antiga Thyssenkrupp –
Companhia Siderúrgica do Atlântico, atual Ternium Brasil. Percebida como uma prioridade na
aliança entre PT e PMDB no Rio de Janeiro, essa composição impeliu as burocracias públicas
a autorizarem sua instalação e operação. Para o INEA, órgão ambiental responsável, tratava-se
de licenciar a maior siderúrgica da América Latina em meio a pressões político-econômicas em
favor da rápida conclusão das análises e avaliações. Contudo, se a vinda desse grande
empreendimento industrial era anunciada junto ao aumento de empregos e investimentos na
região, tais promessas foram logo arrefecidas ante a ocorrência de sucessivos impactos
negativos. As violações à legislação, em especial entre 2010 e 2012, se davam de forma tão
recorrente que tal cenário implicou em múltiplas intervenções administrativas e judiciais. Uma

17
delas foi o ajuizamento de duas centenas de ações individuais reparatórias em favor dos
moradores atingidos pela siderúrgica.
Em meio ao contexto acima descrito, a judicialização de parte desse conjunto de
demandas foi possível naquelas circunstâncias graças à articulação da Defensoria com
movimentos sociais que vinham atuando no território. Entretanto, a opção estratégica de
pulverizar o embate judicial em ações individuais implicou que os atores envolvidos atuassem
na questão ignorando sua imanente dimensão coletiva. Ademais, ao selecionar de forma
heterônoma quais seriam os impactos trabalhados na esfera judicial, a Defensoria produziu um
descompasso entre a vocalização das demandas e a sua estratégia. Isso alimentou, por sua vez,
sentimentos de incompreensão e injustiça que aos poucos afastaram os demandantes da
instituição, cujas tentativas de promoção de diálogo se mostravam rarefeitas. Essa constante
dificuldade de comunicação que caracteriza a relação entre Defensoria e moradores é
parcialmente revertida apenas no curso da realização do segundo laudo técnico, quando após
anulada a primeira perícia, as demandas são aglutinadas em uma única ação paradigma. A
reconfiguração da dinâmica processual, no entanto, não implicou na reorganização da estratégia
empregada pela Defensoria. Ao contrário, apesar de haver apostado sua argumentação no
resultado das análises técnicas, a participação da instituição se deu de forma marginal, sendo
questionada pelo juiz. Tal comportamento inviabilizou até mesmo que os moradores
interagissem com os peritos de modo a contribuir para a formação do convencimento do
magistrado em um dos singulares momentos em que é possível fazê-lo sem a necessidade de
emprego da gramática jurídica.
Para avaliar a limitada atuação da Defensoria no caso analisado, observamos a relação
entre acesso à justiça e a sua capacidade institucional no emprego de saberes técnico-científicos
em demandas coletivas. Tendo em vista que a ampliação da atuação da Defensoria nesse campo
é recente, grande parte dos estudos ainda tem privilegiado o Ministério Público como objeto de
análise. Nesse aspecto, descartando a tese de que os direitos coletivos teriam sido pensados no
Brasil a partir da hipossuficiência da sociedade civil, nos aproximamos da compreensão que a
referida instituição não atua em substituição, mas desempenha uma pluralidade de papéis,
dentre eles, a de aliado dos demais atores sociais interessados em determinadas estratégias de
mobilização do direito. Dessa forma, a participação da Defensoria nesse contexto implicaria na
ampliação do repertório de ações dos movimentos sociais. Entretanto, seu potencial de incidir
em demandas coletivas seria sido circunscrito por suas limitadas e desiguais capacidades
institucionais, o que suscitaria a necessidade de se estabelecer parcerias que, em regra, acabam
por não conferir a estabilidade necessária para lidar com conflitos de longo prazo. No caso

18
concreto, duas associações foram importantes, isto é, a primeira em nível organizativo com o
PACS – que foram reunidos os moradores e as demandas –, e a segunda, de ordem técnica –
com o convênio firmado com a UERJ para auxílio técnico na fase pericial.
É exatamente essa prova técnica que explicita um dos limites das formas de mobilização
no direito no plano judicial. Isso contribui para que os atores envolvidos busquem caminhos
alternativos. Contudo, nas situações em que isso não é possível, tampouco desejável, esse
elemento pode desempenhar um papel estruturante, perpassando toda a estratégia – inclusive
em embates fora do judiciário. Essa seria, inclusive, uma das possibilidades de justificar os
resultados observados a partir da atuação da Defensoria no caso estudado. A falta de diálogo e
o privilegio da expertise jurídica em detrimento da construção coletiva dos argumentos
apresentados compõem parte dessa justificação. Por outro lado, as atividades de vigilância
popular em saúde explicitam uma maneira alternativa – a despeito da necessária presença de
atores oriundos do campo jurídico – de construção de narrativas de violação de direitos pelos
próprios atingidos e a partir da mobilização e outros saberes e gramáticas. A experiência e os
resultados obtidos parecem sinalizar para a construção de um caminho de resistência em
potencial, especialmente, tendo em vista a compreensão que o processo de renovação da
Licença de Operação da siderúrgica em 2021 pode ser tomado pelos movimentos sociais como
uma janela de oportunidade política adequada à mobilização desse tipo de discurso.

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