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RESUMO
1
Mestranda em Ciências Criminais (PUCRS), graduada em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com período de mobilidade acadêmica no Institut d’Études
Politiques de Rennes, na França. Bolsista do Programa Institucional PRO-Stricto. E-mail:
vbattistidasilva@gmail.com
2
Orientador. Doutor em Direito pela universidade Federal do Paraná, com pós-doutorado na Universitat
de Barcelona. Professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUC-RS.
e pelas entrevistadas, mas também seu sentido latente, extraído a partir do contexto e
ordem em que as informações são transmitidas, sendo adequados aos objetivos
específicos de (1) aprofundar a pesquisa no campo teórico a que se propõe, para que seja
possível (2) mapear a ocorrência ou não de dano social a partir do caso estudado e (3)
identificar de que forma é possível classificá-los. Como aporte teórico para a realização
da pesquisa, lança-se mão do campo de estudo acerca dos Crimes dos Poderosos. Como
um desdobramento do conceito de “crime de colarinho branco” (Sutherland, 1940), eles
podem também ser praticados por Estados e seus representantes, sendo uma categoria
que demanda abordagem zemiológica (Rothe, Kauzlarich, 2018), além de compreendida
como um conceito guarda-chuva, marcado pelo entendimento da dinâmica e das
estruturas de poder, interesses e influência entre Estado e Corporações. No sentido de
complexificar a discussão, tem-se como aporte também a Criminologia Verde, uma vez
que ela vai além dos limites legais estabelecidos pelo Estado (Michalowski, 2018), sem
buscar a expansão da tutela penal (Karam, 1996), adotando o conceito de dano social no
lugar do crime (Silva Filho, 2022), que permite compreender a complexidade de episódios
ambientais (Lynch, 1990), com foco na visibilidade das vítimas (Budó, 2017; Natali,
2014; Colognese, 2018), sobretudo a partir do Sul Global (Rodriguez Goyez, 2021). Por
fim, apresenta-se como instrumentos de análise as proposições da Justiça de Transição,
entendida como um conjunto de alternativas para o aprofundamento permanente da
democracia e respeito aos Direitos Humanos (Oliveira; Silva Filho, 2022), pautada pela
justiça, verdade, reparação e memória (Abrão, Genro, 2022). Tal abordagem possibilita a
valorização da experiência vivida enquanto construção histórica, social, política e coletiva
para que se estruturem novas formas de amparo, reparação e não-repetição (Silva Filho,
2022). Assim, além da identificação de quais são os possíveis danos sociais causados pelo
episódio analisado – aspecto caro à Criminologia Verde –, os resultados da presente
pesquisa podem ser utilizados no sentido de proporcionar maior proteção às populações
vulnerabilizadas, sobretudo aquelas em locais de interesse de grandes corporações, para
que seja possível não apenas repará-los, mas também evitá-los.
REFERÊNCIAS
ABRÃO, Paulo; GENRO, Tarso. Os direitos da transição no Brasil. In: Os direitos da transição
e a democracia no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, p. 33-47, 2012.
BUDÓ, Marília De Nardin. Do sofrimento individual à luta coletiva contra o amianto em Casale
Monferrato: um olhar criminológico. In: PIRES, Cecília Maria Pinto; PAFFARINI, Jacopo;
CELLA, José Renato Gaziero (Org.) Direito, Democracia e Sustentabilidade: anuário do
programa de pós-graduação stricto sensu em Direito da Faculdade Meridional. Erechim:
Deviant, p. 191-216, 2017.
LYNCH, Michael J.; “The greening of the criminology: A perspective for the 1990s”, Critical
Criminologist, v. 2, n. 3, p. 3-12, 1990
OLIVEIRA, Roberta Cunha de; SILVA FILHO, José Carlos Moreira da. Os testemunhos das
vítimas e o diálogo transgeracional: o lugar do testemunho na transição pós-ditadura civilmilitar
brasileira. In: Renata Conde e Costa Vescovi. (Org.). Psicanálise e Direito: uma abordagem
interdisciplinar sobre ética, direito e responsabilidade. 1 ed. Rio de Janeiro; Vitória:
Companhia de Freud; p. 131-162, 2013.
RODRÍGUEZ GOYES, David. Criminologia verde do Sul. In: BUDÓ, Marília et. al. Introdução
à criminologia verde: perspectivas críticas, decoloniais e do Sul. São Paulo: Tirant Lo Blanch,
p. 55-74, 2021.
SILVA FILHO, José Carlos Moreira da. Criminologia Dialética, Danos Sociais e Crimes dos
Poderosos - Um Diálogo a Partir dos Questionamentos Essenciais de Roberto Lyra Filho no
Âmbito Criminológico. Criminologia Dialética, 50 anos - um diálogo com o legado de Roberto
Lyra Filho. 1 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, v. 1, p. 277-294, 2022.
SUTHERLAND, Edwin H. White-Collar Criminality. American Sociological Review. v. 5, n.
1, Fev. 1940, p. 1-12. Disponível em http://www.jstor.org/stable/2083937. Acessado em 20 out.
2022.