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2
EXISTE RACISMO
CAPÍTULO

NO BRASIL?
Em 1888, com a assinatura da Lei Áurea, a escravidão foi abolida legalmente
» Competências e do Brasil. No entanto, essa transformação legislativa não resultou em uma liber-
habilidades
dade digna e igualitária para a população até então escravizada.
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. O movimento abolicionista, no Brasil e em outras partes do mundo ocidental,
CECHSA1: EM13CHS101. defendia medidas que garantissem uma inclusão social digna e efetiva da popu-
CECHSA5: EM13CHS501, lação recém-liberta. Esses projetos conflitavam com as alas conservadoras da so-
EM13CHS502 e ciedade escravista. Assim, muitas questões abordadas na luta atual dos movi-
EM13CHS503.
mentos negros no Brasil ainda contêm elementos das pautas dos abolicionistas
CECHSA6: EM13CHS601,
do século XIX.
EM13CHS602 e
EM13CHS606. Essa perspectiva contradiz a teoria da democracia racial. Articulada pelo so-
CELT5: EM13LGG502. ciólogo brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987), essa teoria trata da ideia de que,
CELT7: EM13LGG704. historicamente, no Brasil, sempre houve a convivência pacífica entre pessoas
CECNT3: EM13CNT302. brancas, negras e indígenas e, por isso, questões como racismo ou segregação
racial, quando existiram, foram brandas, se comparadas a de outros lugares onde
também houve escravidão.
A seguir, leia o trecho de uma letra de música que aborda algumas dessas
questões.

A carne
[…]
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão
[…]
E esse país vai deixando todo mundo preto

Ilustrações: Linoca Souza/ID/BR


E o cabelo esticado

Mas mesmo assim ainda guarda o direito


De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito (Pode acreditar)
[…]
A carne. Intérprete: Elza Soares. Compositores: Marcelo Yuka; Seu
Jorge; Ulisses Cappelletti. In: Do cóccix até o pescoço. Maianga
Discos, 2002. 1 CD, faixa 6.

1. Para você, a que se refere a palavra “carne” na letra da música? Explique suas
reflexões para a turma.
2. O segundo e o terceiro verso do texto podem ser associados à escravidão
moderna no Brasil. Como você os relacionaria com esse período histórico?
3. De acordo com as suas percepções, a letra da música contradiz ou concorda
com a teoria da democracia racial de Gilberto Freyre? Por quê?
4. Em sua opinião, o que é racismo? Como é possível caracterizá-lo? E como
podemos combatê-lo?

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QUESTÕES ESTRUTURAIS

REFLEXÃO
Ao analisar as sociedades e seus modos de vida, os pesquisadores identificam Estruturalismo e pós-
processos e organizações que são chamados de estruturais. Essa expressão in- -estruturalismo
dica características e aspectos que sustentam e organizam a vida social de um A análise estruturalista
grupo, uma comunidade ou um povo. Por ser a base sobre a qual se desenvolvem faz parte do repertório de
as mais diversas manifestações culturais, as mudanças dos aspectos estruturais pesquisa das Ciências Hu-
de uma sociedade são complexas e, geralmente, não são bruscas: ocorrem no manas e Sociais desde a
tempo histórico, chamado de longa duração. publicação dos trabalhos
Considerando que os processos que formam o Brasil têm cerca de quinhentos do linguista suíço Ferdi-
anos de história e que o sistema escravocrata durou em torno de trezentos anos, nand de Saussure (1857-
-1913). A partir da década
é possível analisar a escravidão como uma estrutura da sociedade brasileira,
de 1960, esse método
oriunda do período colonial. Assim, mudar essa estrutura demanda esforço e
passou a ser revisado por
transformações nas formas de pensar e de agir, nos âmbitos público e privado e pensadores de diversas
nos níveis individual e coletivo. áreas do conhecimento. A
A assinatura da Lei Áurea é uma conquista importante nesse sentido. Contu- principal crítica dos cha-
do, sem a ação de todos os sujeitos sociais, a transformação não se torna efetiva mados pós-estruturalistas
e acabamos reproduzindo as lógicas escravistas. é que a análise sobre uma
No capítulo anterior, vimos uma dessas permanências escravocratas: a exis- sociedade não pode se
tência, ainda hoje, de iniciativas privadas – empresas particulares – que sub- restringir às suas estrutu-
metem pessoas a condições análogas à escravidão. Por outro lado, há uma ras, sem abordar suas
série de projetos e legislações que buscam coibir essa prática e conscientizar transformações e os indi-
víduos e grupos que con-
a população e as empresas de que se trata de um crime que atenta contra os
seguem romper com essas
direitos humanos.
estruturas. Michel Fou-
Neste capítulo, vamos aprofundar o debate sobre outra permanência escravo- cault, Gilles Deleuze, Jean
crata: o racismo estrutural. O texto a seguir, do jurista e filósofo Silvio Luiz de Al- Baudrillard, Judith Butler
meida, apresenta algumas reflexões sobre esse conceito. e Julia Kristeva são alguns
dos pensadores conside-
rados pós-estruturalistas.
[…] Em uma sociedade em que Eles não reivindicam o fim
Valdir de Oliveira/Fotoarena

o racismo está presente na vida da análise das estruturas,


cotidiana, as instituições que não mas um alargamento da
tratarem de maneira ativa e como análise sobre elas.
um problema a desigualdade racial

SOPA Images Limited/Alamy/Fotoarena


irão facilmente reproduzir as prá-
ticas racistas já tidas como “nor-
mais” em toda a sociedade. É o que
geralmente acontece nos governos,
empresas e escolas em que não há
espaços ou mecanismos institu-
cionais para tratar de conflitos ra-
O filósofo e jurista Silvio Luiz de Almeida é um ciais e de gênero. […]
dos principais estudiosos da questão racial no
Brasil. Foto de 2019. […] A filósofa pós-estruturalista
estadunidense Judith Butler
A viabilidade da reprodução sistêmica de práticas racistas está na organiza- (1956- ) é uma das principais
ção política, econômica e jurídica da sociedade. O racismo se expressa concreta- teóricas da questão
mente como desigualdade política, econômica e jurídica. Porém, o uso do termo contemporânea do
feminismo, da teoria queer,
estrutura não significa dizer que o racismo seja uma condição incontornável e da filosofia política e da ética.
que ações políticas institucionais antirracistas sejam inúteis; ou, ainda, que indi-
víduos que cometam atos discriminatórios não devam ser pessoalmente respon- 1. Com base nessas infor-
sabilizados. […] O que queremos enfatizar do ponto de vista teórico é que o ra- mações, releia o trecho
cismo, como processo histórico e político, cria as condições sociais para que, do texto de Silvio Luiz
direta ou indiretamente, grupos racialmente identificados sejam discriminados de de Almeida e responda:
forma sistemática. A análise dele é unica-
mente estruturalista?
AlmeidA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Explique suas percep-
Letramento, 2018. p. 37, 39 (Feminismos Plurais).
ções aos colegas.

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SISTEMA ESCRAVOCRATA NO BRASIL No entanto, mesmo sendo detentoras de técnicas e
de conhecimentos diversos, essas pessoas não eram le-
Para investigar o racismo estrutural, é importante bus- vadas em consideração e não tinham direito nem à ci-
car suas origens no sistema escravocrata que vigorou em dadania nem à liberdade. Socialmente, eram considera-
nosso país. das inferiores aos não escravizados. Juridicamente, sequer
No capítulo anterior, você analisou, entre outros aspec- estavam no patamar de indivíduos: eram bens, merca-
tos, o tráfico de pessoas na escravidão moderna. Ele con- dorias das quais os proprietários poderiam dispor. Em-
sistia em um negócio rentável para os mercantilistas que bora se constituíssem como o maior grupo populacional
abasteciam principalmente o continente americano de e fossem responsáveis por praticamente todo o trabalho
mão de obra submetida à escravidão. realizado em diferentes setores, os escravizados não
Essas pessoas, trazidas do continente africano em detinham poderes legais sobre seus corpos, identifica-
quantidades cada vez maiores, eram vendidas em mer- dos, geralmente, por serem negros.
cados abertos, geralmente próximos aos portos onde de- Assim, ao longo dos séculos de escravidão, as pessoas
sembarcavam. De lá eram levadas pelos seus proprietá- negras eram comumente classificadas como escraviza-
rios para que trabalhassem em diversas atividades. das. Mesmo aquelas que conquistaram a alforria preci-
A agropecuária, a princípio nas lavouras de cana-de- savam sempre levar consigo os documentos que compro-
-açúcar e depois nas de café, foi o setor que mais requi- vavam sua liberdade. De outro modo, poderiam ser presas
sitou escravizados. Isso ocorreu por pelo menos duas ra- e vendidas novamente.
zões: primeiro porque essas eram atividades econômicas Durante esse período, as situações de violências (fí-
que ocupavam enormes extensões de terra, demandando sica e emocional) contra pessoas negras e escravizadas
contingentes grandes de trabalhadores; segundo porque eram não apenas corriqueiras, mas também naturaliza-
a maioria dos escravizados trazidos para essas regiões das, ou seja, a estrutura escravocrata no Brasil tornou
eram provenientes de comunidades de agricultores e pas- natural que pessoas negras fossem submetidas a con-
tores, ou seja, detinham conhecimentos técnicos e tecno- dições de privação tanto de liberdade quanto de digni-
lógicos para realizar o trabalho. A mineração também re- dade, dois aspectos básicos salvaguardados pelos direi-
cebeu grandes quantidades de escravizados, geralmente tos humanos.
conhecedores das atividades extrativistas e metalúrgicas.

Pedro Leite/Acervo do artista

Racismo sem
querer, de Pedro
Leite. Esta história
em quadrinhos
mostra algumas
frases que
evidenciam a
naturalização do
racismo contra
pessoas negras.

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CONTEXTO DO PÓS-ABOLIÇÃO
Compreender os contextos políticos e sociais dos anos seguintes à abolição

Coleção Waldyr Fontoura Cordovil Pires. Rio de Janeiro (RJ).


Fotografia: Jorge Henrique Papf
pode aprofundar as percepções sobre as raízes do racismo estrutural no Brasil. A
assinatura da Lei Áurea não foi acompanhada de medidas que garantissem aos
recém-libertos condições para que pudessem se sustentar de maneira digna e,
assim, viver com liberdade.
O movimento abolicionista, representado no Senado por André Rebouças
(1838-1898) e Joaquim Nabuco (1849-1910), pressionava para que, acompanha-
da da abolição, fosse feita uma reforma agrária na qual seriam concedidas terras
às pessoas libertadas. A posse das terras seria uma possibilidade de recomeço
para essa população no Brasil, de modo que ela poderia se integrar à sociedade
com dignidade: acessando moradia, alimentação e, posteriormente, educação.
Esse projeto foi chamado por Rebouças de “democracia rural”.
O projeto tinha como base os princípios do liberalismo econômico de Adam
Smith (1723-1790), já que pregava o incentivo à livre iniciativa no campo e o uso
das terras improdutivas. Os senadores temiam que a ausência desse tipo de po-
lítica de reparação gerasse no Brasil uma desigualdade social gigantesca.
No entanto, esse projeto não obteve êxito e a Lei Áurea foi assinada, em pará- Mulher com criança, Petrópolis (RJ),
1899. Embora a foto tenha sido feita
grafo único, determinando a liberdade jurídica das pessoas até então escraviza-
cerca de onze anos após a abolição,
das. Não há dúvidas de que a população negra enfrentou dificuldades de ordem ela evidencia que as estruturas
social, política, econômica e cultural devido à vitória de uma política conservado- baseadas no racismo ainda não
haviam sido desconstruídas.
ra em relação à posse de terras. Porém, nesse mesmo período, indivíduos, comu-
nidades e organizações de negros no Brasil puderam se articular, dando conti-
nuidade a redes de apoio e proteção criadas durante o período de escravidão.
REFLEXÃO

Protagonismo negro no pós-abolição


Durante décadas, as pesquisas sobre o período pós-abolição trouxeram
análises generalizadoras a respeito da população negra. Na década de 2010,
houve um aumento de pesquisas que buscaram evidenciar outros aspectos
relacionados a indivíduos e comunidades negras. O objetivo dessas pesqui-
sas não é negar o racismo estrutural, mas extrapolá-lo com a possibilidade
de uma sociedade mais igualitária. Leia o texto a seguir.

[…] o pós-abolição deve ser visto como um campo de disputas, e não como
uma realidade dada, uma herança inexorável da escravidão. É verdade que os ne-
gros já entraram em campo em posição de desvantagem em relação aos brancos,
com o placar lhes sendo muitas vezes desfavorável, mas nem sempre eles perde-
ram. Com engenhosidade, versatilidade e usando armas de diversos tipos e cali-
bres, os negros selaram conexões diversas, travaram alianças ambivalentes, capi-
talizaram as possibilidades e frestas do sistema, fizeram escolhas, negociaram suas
identidades e lealdades até conseguirem reverter o placar e ganhar o jogo […].
Não se trata aqui de negar a famigerada opressão racial no Brasil […], mas de real-
çar a necessidade imperiosa de lançar luzes em formas alternativas e criativas de
vida, resistência e agenciamentos. O protagonismo negro no pós-abolição é uma
área de estudos e pesquisas em franca expansão. […]
Domingues, Petrônio. Fios de Ariadne: o protagonismo negro no pós-abolição. Anos 90, v. 16,
n. 30, p. 240-241, 2009. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/anos90/article/
view/18932/11021. Acesso em: 2 abr. 2020.

1. Forme dupla com um colega. Vocês devem pesquisar como a população


negra da região onde moram se organizou após o fim da escravidão. Es-
colham um dos casos pesquisados para apresentar à turma. A apresen-
tação pode ser feita por meio de uma cena teatral. É importante expressar
as informações básicas sobre o caso: os sujeitos envolvidos, o período
histórico em que atuaram e as principais ações deles.

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RACISMO ESTRUTURAL: UM PANORAMA GERAL
O diálogo sobre racismo estrutural será retomado em outros momentos deste
volume. No entanto, com base no que você estudou até aqui, é provável que res-
ponda afirmativamente à pergunta que dá nome a este capítulo.
Existe racismo no Brasil? Sim. Até mesmo a abordagem dessa temática em
nosso país é fruto da luta de intelectuais e militantes negros e também de pes-
soas não negras que identificam que combater o racismo estrutural é essencial
para a construção de uma sociedade justa.
Passos relevantes foram dados nesse sentido, tanto pela sociedade civil quan-
to pelas instituições públicas e privadas, mas ainda há muito para transformar-
mos. Observe as manchetes selecionadas a seguir e leia as legendas.

Ilustrações: ID/BR
MARIELLE FRANCO,
JUÍZA DIZ QUE RÉU NÃO
VEREADORA DO PSOL, É
PARECE BANDIDO POR TER ASSASSINADA NO CENTRO
“PELE, OLHOS E DO RIO APÓS EVENTO COM
CABELOS CLAROS” ATIVISTAS NEGRAS

Contrária à intervenção federal, a política havia


Homem foi condenado a 30 anos criticado dias antes ação da PM em Acari.
de prisão por latrocínio Vereadora e seu motorista foram mortos no
Estácio, na região central da capital fluminense

Folha de S.Paulo, 1o mar. 2018. Esta manchete é um indício de racismo de El País, 15 mar. 2018. Esta manchete aborda o feminicídio de Marielle
uma representante do Poder Judiciário, responsável por defender os Franco, vereadora negra eleita pelo município do Rio de Janeiro em 2018.
direitos dos cidadãos e promover a justiça.

MILITAR ACUSA VÍTIMA DE TER


APÓS SER CHAMADO DE
“MACACO”, JOGADOR DO ATIRADO PARA JUSTIFICAR
VASCO FAZ GOL E DIZ: “TENHO CASO DOS 80 TIROS NO RIO
ORGULHO DA MINHA COR” Militares dispararam, ao todo, 257 tiros
Miranda acusa atleta do Independente de durante a ocorrência em Guadalupe,
racismo em partida pela Copa RS Sub-20, zona norte do Rio, dos quais 83
mas segue na partida e faz gol da vitória atingiram o veículo em que Evaldo e a
família estavam
Estadão, 12 dez. 2019. Esta manchete revela o racismo no esporte,
especificamente no futebol, uma das modalidades mais populares no Brasil. FolhaPE, 12 dez. 2019. Neste caso, o músico Evaldo Rosa, assassinado,
era negro e estava em um carro com sua família enquanto circulava
pelo bairro de Guadalupe, no município do Rio de Janeiro.
PARA EXPLORAR

» O racismo está nos títulos,


nas pautas e nas entrelinhas
Para aprofundar o debate so-
bre a representação da popu-
INTERAÇÃO

lação negra na mídia, leia o


As manchetes evidenciam aspectos do racismo estrutural na
artigo do portal Hysteria sobre
sociedade brasileira.
o tema. Disponível em: https://
hysteria.etc.br/ler/o-racismo- 1. Imagine que você precise explicar a um colega por que essas manchetes
esta-nos-titulos-nas-pautas- são racistas. Como você explicaria cada uma? Anote seus argumentos no
e-nas-entrelinhas/. Acesso em: caderno e, depois, compartilhe-os com a turma.
4 abr. 2020.

Não escreva no livro.


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ATIVIDADES

1 Retome a letra da música “A carne”, na página 24, e responda às questões.


a) De acordo com seus conhecimentos, a que situações históricas e sociológicas a frase “a carne
mais barata do mercado é a carne negra” se refere? Explique suas percepções aos colegas.
b) Retome a história em quadrinhos da página 26. De que modo ela pode ser relacionada à letra da
música? Escreva um parágrafo explicativo e compartilhe-o com a turma.

2 Observe esta linha do tempo.

Abolição da escravidão moderna

1793 1823 1829 1831 1834 1838 1842 1848

Bolívia Canadá / Trinidad / Uruguai / Martinica, Guadalupe e


Haiti Chile México
Guiana Inglesa Jamaica Paraguai Guiana (colônias francesas) /
Índias Ocidentais
Linha do tempo sem escala temporal. Dinamarquesas
(atuais Ilhas Virgens)

1888 1886 1873 1863 1854 1853 1851

Estados Unidos /
Cuba Porto Rico Antilhas Holandesas Peru / Nova Granada
Brasil (colônia (colônia e Guiana (colônias Venezuela Argentina (Colômbia) /
espanhola) espanhola) holandesas) Equador

Fonte de pesquisa: FGV – CPDOC. O fim da escravidão. In: Atlas histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/
marcos/o-fim-da-escravidao/mapas/linha-do-tempo-do-fim-da-escravidao-nas-americas. Acesso em: 8 abr. 2020.

a) Quanto tempo se passou entre a abolição da escravidão no Haiti, o primeiro país a revogá-la, e a
abolição no Brasil?
b) Se a linha do tempo fosse organizada em um ranking com os países que mais cedo aboliram a
escravidão, qual posição o Brasil ocuparia?
c) O que isso pode indicar sobre o sistema escravista em nosso país? Anote sua resposta no caderno.

3 Durante um discurso em Oakland, nos Estados Unidos, em 1979, a filósofa e professora Angela
Davis afirmou: “Numa sociedade racista, não adianta não ser racista, nós devemos ser antirracistas”.
Com base no que você estudou, como você justificaria a frase de Davis, relacionando-a ao racismo
estrutural? Escreva sobre isso no caderno e depois leia suas ideias para os colegas.

4 Observe a imagem da página 27. Quais elementos dela evidenciam o racismo estrutural no momen-
to histórico retratado? Liste os elementos no caderno, explicando a relação deles com o racismo.

5 (Enem)

A luta contra o racismo, no Brasil, tomou um rumo contrário ao imaginário nacional e ao consenso cien-
tífico, formado a partir dos anos 1930. Por um lado, o Movimento Negro Unificado, assim como as demais
organizações negras, priorizaram em sua luta a desmistificação do credo da democracia racial, negando o
caráter cordial das relações raciais e afirmando que, no Brasil, o racismo está entranhado nas relações so-
ciais. O movimento aprofundou, por outro lado, sua política de construção de identidade racial, chamando
de “negros” todos aqueles com alguma ascendência africana, e não apenas os “pretos”.
guimArães, A. S. A. Classes, raças e democracia.
São Paulo: Editora 34, 2012.

A estratégia utilizada por esse movimento tinha como objetivo:


a) eliminar privilégios de classe. d) identificar preconceitos religiosos.
b) alterar injustiças econômicas. e) reduzir as desigualdades culturais.
c) combater discriminações étnicas.

Não escreva no livro.


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PRÁTICAS DE TEXTO
Reportagem on-line

Proposta 2. Para inspirar a pesquisa sobre os temas, leia os


textos a seguir.
Considerando os temas abordados neste capítulo no
que se refere às consequências da escravidão moderna,
perceptíveis no país até os dias atuais, você e os colegas TEXTO 1
vão escrever uma reportagem para ser publicada em Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil
um blog da turma e compartilhada em redes sociais. casos de trabalho escravo no Brasil
A reportagem tem como finalidade desenvolver de-
terminado tema, apresentando diferentes informações A maior parte desses trabalhadores (1,2 mil)
e pontos de vista. Ela não se prende ao relato de um estava em áreas rurais e 1,1 mil foram resga-
fato específico, como ocorre com a notícia, mas expõe tados, segundo o governo federal
uma série de aspectos que ajudam o leitor a se apro- […] Em 2018, ações fiscais da Inspeção do Tra-
fundar na questão. balho, do governo federal, identificaram 1,7 mil ca-
sos de trabalho escravo no Brasil. A maior parte
Comunidade escolar e leitores interes-
Público desses trabalhadores (1,2 mil) estava em áreas ru-
sados no tema.
rais, onde a prática historicamente é mais comum.
Levar à reflexão sobre as influências Foram resgatadas 1 133 pessoas. Em todo o ano
do processo de escravização nas con- passado foram realizadas 231 inspeções. Em um
Objetivo
dições de trabalho e sobre questões quarto delas houve registro de trabalho análogo ao
como o racismo na sociedade brasileira. de escravo.
Blog da turma e compartilhamento em Desde que o governo brasileiro reconheceu a
Circulação
redes sociais. existência dessa prática ilegal e passou a comba-
tê-la, em 1995, os grupos de fiscalização da Inspe-
ção do Trabalho resgataram 53 607 trabalhadores
Planejamento e elaboração nessa condição em todo o país. Nesse período, fo-
ram pagos mais de R$ 100 milhões em verbas sa-
1. Forme um grupo com até cinco integrantes. Definam lariais e rescisórias durante as operações.
o tema da reportagem que vocês vão escrever e uma
[…]
pergunta norteadora que gostariam de esclarecer
ou desenvolver ao longo do texto. Sempre que pos- De acordo com o artigo 149 do Código Penal
sível, considerem as características locais da comu- brasileiro, caracterizam o trabalho análogo ao de
nidade escolar. Confiram abaixo algumas sugestões. escravo condições degradantes de trabalho (incom-
• De forma geral, como andam as condições de tra- patíveis com a dignidade humana, caracterizadas
balho e empregabilidade locais? As oportunidades pela violação de direitos fundamentais [que] colo-
de trabalho na região em que vocês vivem consi- quem em risco a saúde e a vida do trabalhador),
deram a diversidade da população local? Como? jornada exaustiva (em que o trabalhador é subme-
tido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho
• Que atitudes podem ser adotadas para comba-
que acarreta danos à sua saúde ou risco de vida),
ter o trabalho análogo à escravidão na região
trabalho forçado (manter a pessoa no serviço atra-
onde vocês vivem?
vés de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e
• Que atitudes podem ser adotadas por empresas violências físicas e psicológicas) e servidão por dí-
para combater o racismo estrutural? Que medi- vida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um
das sociais são imprescindíveis para combater o débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir
racismo? juntos ou isoladamente.
• Como o racismo pode ser combatido dentro da
Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil casos de trabalho
escola? Em que medida é possível perceber o au- escravo no Brasil. O Globo, 28 jan. 2019. Disponível em:
torreconhecimento e a autovalorização da popu- https://oglobo.globo.com/economia/em-2018-fiscais-
lação negra na comunidade em que a escola está identificaram-17-mil-casos-de-trabalho-escravo-no-
brasil-23409423. Acesso em: 30 mar. 2020.
inserida? Que exemplos podem ser encontrados?

Não escreva no livro.


30
• corpo do texto, com parágrafos de desenvolvimen-
TEXTO 2 to do tema e um parágrafo de conclusão;
Combate a racismo exige reconhecimento • mapas, gráficos e imagens para complementar as
de privilégios da branquitude informações, com as respectivas legendas;
Vantagens materiais e simbólicas de pessoas bran- • nome do(s) autor(es) da reportagem.
cas precisam ser notadas para enfrentamento da 5. Procurem ampliar a reflexão sobre o tema, levantan-
discriminação do diferentes pontos a respeito da questão abordada.
Você vai às compras sozinha sabendo que não se-
6. Para ressaltar determinadas opiniões, utilizem argu-
rá seguida ou perturbada?
mentos consistentes com base em exemplos, dados
Se ligar a TV ou abrir o jornal, é certo que verá pes- estatísticos de fontes confiáveis, opiniões de espe-
soas da sua raça amplamente representadas? cialistas, profissionais e outros envolvidos, além dos
Quando um policial para seu carro, você tem con- relatos ou entrevistas coletados pelo grupo.
vicção de que não foi por causa da sua cor?
7. Utilizem uma linguagem coerente com a situação de
[…] comunicação e com o público-alvo do texto.
Se respondeu “sim” a essas perguntas, com certe-
8. Atentem para a coerência e a coesão do texto, a pon-
za você é uma pessoa branca. Esses são alguns dos
tuação das frases, a divisão dos parágrafos, a orto-
46 privilégios brancos elencados pela pesquisadora grafia e a acentuação das palavras.
americana Peggy McIntosh em 1988, quando a acadê-
mica feminista e antirracista se tornou a principal di-
Revisão e reescrita
vulgadora dos estudos críticos da branquitude (“whi-
teness”, em inglês) enquanto lugar social de vantagens 1. Releiam e avaliem o texto, observando os seguintes
materiais e simbólicas. […] elementos:
menA, Fernanda; CAmAzAno, Priscila. Combate a racismo exige
reconhecimento de privilégios da branquitude. Folha de O texto apresenta título, título auxiliar, lide e um
S.Paulo, 15 dez. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol. parágrafo inicial resumindo o tema a ser abordado?
com.br/ilustrissima/2019/12/combate-a-racismo-exige-
reconhecimento-de-privilegios-da-branquitude. O texto traz informações pertinentes que ajudam
shtml?origin=folha. Acesso em: 30 mar. 2020.
a ampliar a discussão sobre o tema?

As fontes pesquisadas são confiáveis e estão


Branquitude: termo que se refere à identidade racial branca, devidamente identificadas?
relacionado aos privilégios simbólicos e objetivos desse seg-
mento em detrimento da população não branca. Há recursos imagéticos complementares
devidamente descritos por meio de legendas?
3. Um dos elementos-chave de uma boa reportagem é A linguagem e o registro do texto estão
a qualidade da pesquisa feita previamente. Para adequados à situação de comunicação e sem
embasar o texto, vocês podem utilizar fontes: desvios ortográficos?
• escritas, como notícias, verbetes de enciclopédia,
2. Façam os ajustes e as melhorias que considerarem
gráficos, infográficos e textos informativos. Obser-
necessários e redijam a versão final, salvando-a em
vem se as publicações são confiáveis e anotem au-
uma pasta compartilhada entre o grupo.
tores, nome das publicações, links, etc.;
• orais, como entrevistas e relatos. Nesse caso, con- 3. Caso haja imagens ao longo do texto, atentem para
videm especialistas ou outras pessoas envolvidas que o tamanho delas possibilite uma boa visualização.
com o tema, combinem horário e local para a reali-
zação da entrevista (ou videoconferência), elaborem Circulação
o roteiro com perguntas e providenciem equipamen-
1. Publiquem o texto no blog da turma. Caso não tenham
to para registrar a conversa em vídeo, áudio ou por
um blog, pesquisem por sites gratuitos para a criação
escrito. Se necessário, solicitem a autorização dos
da página e criem uma conta compartilhada.
entrevistados para a divulgação das informações.
2. As reportagens devem ser publicadas no blog, uma
4. A reportagem deve conter estes elementos:
por vez, atentando para os tamanhos do texto e das
• título; imagens, o espaçamento entre parágrafos, etc.
• título auxiliar que chame a atenção do leitor;
3. Leiam os textos dos outros grupos e deixem comen-
• lide ou parágrafo inicial resumindo os elementos tários sobre eles, sempre prezando pelo respeito e
principais a serem desenvolvidos no texto; pela troca cooperativa de informações.

Não escreva no livro.


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