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O tempo em ‘O Estrangeiro’ de

Albert Camus
Camus: Eu resumi O Estrangeiro há
muito tempo, com uma observação que
admito ser altamente paradoxal: "Em nossa
sociedade, qualquer homem que não
chore no funeral de sua mãe corre o risco
de ser condenado à morte." Só quis dizer
que o herói do meu livro é condenado
porque não joga o jogo
A história de Mersault, da notícia da morte de
sua mãe até sua condenação por matar um
homem, na Argel dos anos 1940.
Tempo cronológico:
A narrativa tem uma estrutura de tempo linear, conforme a
sequência de eventos;
O tempo é usado para mostrar a monotonia e rotina na vida de
Meursault;
A ênfase na temporalidade cronológica serve para destacar o
absurdo e a falta de significado da existência humana.

“voltei a adormecer. Acordei, porque os rins me doíam cada


vez mais. O dia resvalava sobre a vidraça” (CAMUS, 1983, p. 17)

“A noite nesta região devia ser como uma melancólica trégua”


(CAMUS, 1983, p. 20).
Subversão do tempo cronológico
Meursault experimenta uma desconexão do tempo
convencional, sua indiferença em relação ao passado e
sua visão do futuro são exemplos de como o
personagem desafia as noções de tempo, e vive o
presente.

“Depois de nos vestirmos, ficou surpresa de me ver


com uma gravata preta, e perguntou-me se estava de
luto. Disse-lhe que mamãe tinha morrido. Como
quisesse saber a quanto tempo, respondi: Morreu
ontem” (CAMUS, 1983, p. 25).
O tempo cronológico não é enfatizado de forma precisa, mas
exerce uma função importante para compreender a complexa
personalidade do protagonista, sua indiferença diante de tudo
e de todos, inclusive de si mesmo.

“Hoje, mamãe morreu. Ou talvez, ontem, não sei bem” (CAMUS,


1983, p. 9).
“Pensei que passara mais um domingo, que mamãe agora já
está enterrada, que ia retomar o trabalho, e que, afinal, nada
mudara” (CAMUS, 1983, p. 29).
“O patrão mandou chamar-me [...] Tencionava instalar um
escritório em Paris e perguntou-me se eu estava disposto a ir
para lá... Disse que sim, mas que no fundo, tanto fazia” (CAMUS,
1983, p. 45-46).
Tempo Psicológico:
A narrativa é contada a partir da perspectiva de
Meursault (monotonia, tédio, indiferença)

“À noite, Marie veio buscar-me e perguntou-me se


queria casar-me com ela. Disse que tanto fazia”
(CAMUS, 1983, p. 46).
A monotonia refletida numa sensação de que o tempo
não passa:

“Eram o mesmo sol e a mesma luz, sobre a mesma


areia, que se prolongavam até aqui. Havia já duas horas
que o dia não progredia, duas horas que lançara
âncora num oceano de metal fervilhante” (CAMUS,
1983, p. 62).
“Para mim, era sempre o mesmo dia, que se
desenrolava na minha cela, e era sempre a mesma
tarefa, que eu perseguia sem cessar” (CAMUS, 1983, p.
84).
Tempo da narração

Técnica da narrativa in media res:


A história começa sem apresentar um passado, que só
depois aparece, pouco a pouco;
Ajuda a dar o tom existencialista e a aura absurda da
existência de Meursault;
Sua desconexão emocional em relação aos
acontecimentos.

“Hoje, mamãe morreu. Ou talvez, ontem, não sei bem”


(CAMUS, 1983, p. 9).
Analepses:
O passado aparece como que por flashback, por
memória.

“Lembrei-me nestes momentos de uma história que


mamãe me contava a respeito de meu pai. Eu não
chegara a conhecê-lo. Tudo o que sabia de preciso
sobre este homem era talvez o que mamãe me dizia
então” (CAMUS, 1983, p. 110)
Prolepses:
Os eventos futuros pouco aparecem no texto, pois o
personagem vive apenas o tempo presente.

“Queria continuar a me falar em Deus, mas avancei


para ele e tentei explicar-lhe, pela última vez, que já
não dispunha de muito tempo. Não queria perdê-lo
com Deus” (CAMUS, 1983, p. 120)
Narrativa in ultima res:
A narrativa de O Estrangeiro segue sem grandes
surpresas ou ponto de tensão.
Reforço do efeito de monotonia e de tédio,
recorrente em toda a obra.

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