Você está na página 1de 209

MODELAGEM DE ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS

ENGENHEIRO MAURICIO SGARBI

REALIZAÇÃO:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 1


Índice

1 Modelo Estrutural: Conceitos e Aspectos Gerais ................................................................... 5


1.1 O que é Modelo Estrutural? .......................................................................................... 6
1.1.1 Introdução: Fases de um Projeto ........................................................................... 6
1.1.2 Modelo Estrutural: Definições ............................................................................... 7
1.1.3 Modelos Numéricos e seus diversos graus de complexidade ................................ 8
1.2 Qual o melhor Modelo? .............................................................................................. 12
1.2.1 Modelos Refinados .............................................................................................. 12
1.2.2 Modelos Simplificados ......................................................................................... 13
1.2.3 Modelos Simplificados x Modelos Refinados ...................................................... 14
1.3 Devemos sempre confiar no modelo? ........................................................................ 15
1.4 Diferenças entre Modelos e a segurança .................................................................... 21
1.5 Uma boa solução: Modelos Simples + Complexo ....................................................... 22
2 Modelagem de Pavimentos em Concreto Armado ............................................................. 24
2.1 Evolução dos Modelos: Viga Contínua ao Método dos Elementos Finitos ................. 25
2.1.1 Viga Contínua ...................................................................................................... 25
2.1.2 Pórtico Plano ....................................................................................................... 26
2.1.3 Grelha de Vigas ................................................................................................... 27
2.1.4 Grelha de Vigas e Lajes / MEF ............................................................................. 27
2.1.5 PÓRTICO ESPACIAL DE TODA ESTRUTURA .......................................................... 28
2.1.6 EXEMPLO DE APLICAÇÃO .................................................................................... 28
2.2 Análise Linear x Análise Não-linear ............................................................................. 44
2.2.1 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO................................................................................... 46
2.3 Consideração da Rigidez à Torção ............................................................................... 61
2.3.1 Torção de Equilíbrio e Compatibilidade............................................................... 61
2.3.2 Consideração da Torção em Lajes Maciças ......................................................... 62
2.3.3 Consideração da Torção em Lajes Nervuradas ................................................... 67
3 Modelagem de Edifícios com Múltiplos Pavimentos ........................................................... 71
3.1 Cargas Verticais: Modelos para a obtenção de esforços ............................................ 72

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 2


3.1.1 Pavimento Isolado ............................................................................................... 72
3.1.2 Grelha/Elementos Finitos (Vigas e Lajes)+ Pórtico Espacial (Pilares e Vigas) ..... 73
3.1.3 Pórtico Espacial(Pilares+Vigas+Lajes) ................................................................. 74
3.2 Limitações dos Modelos e intervenções para Compatibilidade................................ 75
3.2.1 Ligações entre vigas e pilares .............................................................................. 75
3.2.2 Consideração do Processo Construtivo: Rigidez Axial dos Pilares ....................... 81
3.2.3 Consideração do Processo Construtivo: Viga de Transição ................................. 89
3.2.4 Consideração do Processo Construtivo: Assimetria ............................................ 97
3.3 Estrutura de Contraventamento: do núcleo rígido ao Pórtico Espacial Integrado ... 102
3.3.1 Elementos de Contraventamento e Contraventados ........................................ 102
3.3.2 Estrutura de Nós Fixos x Nós móveis ................................................................. 102
3.3.3 Evolução dos modelos para a Estrutura de Contraventamento........................ 103
3.4 Análise Dinâmica: Diferença entre Modelos e suas implicações .............................. 126
4 Análise de Pavimentos Protendidos .................................................................................. 129
4.1) Introdução ................................................................................................................. 130
4.2) Protensão: Conjunto de Cargas Equivalentes ....................................................... 131
4.2.1) Cargas Equivalentes .......................................................................................... 132
4.2.1.1) Elementos Unifilares, Unidirecionais e Bidirecionais ............................ 135
4.3) Métodos de análise: Pórticos Equivalentes e Elementos finitos .............................. 136
4.3.1) Pórtico Equivalente (MPE) ............................................................................ 137
........................................................................................................................................... 140
4.3.2) Método dos Elementos Finitos (MEF) ......................................................... 140
4.4) Exemplos ............................................................................................................. 144
5 TÓPICOS ESPECIAIS ............................................................................................................ 187
5.1 Plastificação: Visão Geral e Abordagem nos softwares ............................................ 188
5.1.1 Plastificação: Conceituação............................................................................... 188
5.1.2 Plastificação: Limites ........................................................................................ 188
5.1.3 Plastificação: Abordagem nos Softwares ......................................................... 189
5.2 Consideração da Não-Linearidade física e geométrica em pórticos espaciais:
simplificada X Refinada ......................................................................................................... 196
5.2.1 Não linearidade física ........................................................................................ 196
5.2.2 Não linearidade geométrica .............................................................................. 203
5.3 Efeitos locais de 2ª ordem em pilares: Novas Possibilidades ................................... 206

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 3


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 4
1 Modelo Estrutural: Conceitos e
Aspectos Gerais

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 5


1.1 O que é Modelo Estrutural?

1.1.1 Introdução: Fases de um Projeto

Um projeto Estrutural de um edifício é composto de etapas, sendo todas elas


essenciais para um bom resultado final:

a) CONCEPÇÃO

Essa fase é fundamental para a obtenção de uma estrutura funcional, segura e


econômica. Efetua-se a compatibilização com o projeto de arquitetura e estudo de
diferentes sistemas estruturais visando à otimização da estrutura com o máximo
aproveitamento dos materiais. O feeling estrutural e conhecimento pleno das
ferramentas são fatores importantes para a concepção da estrutura ideal. É
importante a constante interação com os clientes e fornecedores, para informações
sobre os insumos e processos.

b) ANÁLISE

Definida a estrutura, é importante que os esforços obtidos apresentem-se confiáveis


para o posterior dimensionamento. Para isso, é necessário possuir pleno
conhecimento das ferramentas de análise e seus respectivos modelos estruturais. É
possível proporcionar uma estrutura mais econômica utilizando-se um modelo
estrutural mais refinado. É fundamental o conhecimento dos modelos mais
simplificados, seja para utilizá-los ou para validar resultados provenientes do modelo
mais refinado.

c) DIMENSIONAMENTO E DETALHAMENTO

No dimensionamento definem-se as seções de aço e concreto dos elementos


estruturais. O detalhamento consiste em definir com exatidão as características dos
elementos utilizados, especialmente o aço: comprimentos/geometria, bitolas,
quantidade e etc.

Ressalta-se que a geometria dos elementos já fora definida na etapa de concepção e,


em geral, não pode mais ser alterada. Assim, pode-se afirmar que já foi feito parte do
dimensionamento, no que se refere à definição das seções de concreto e possibilidade
de alojamento da armadura que será calculada (definição da seção).

d) DESENHOS E PLANTAS

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 6


Esta etapa essencialmente traduz todas as etapas anteriores em elementos que
possibilitem a materialização na obra e adequado funcionamento para os mecanismos
previstos. Em geral são os desenhos ou plantas, podendo ser incluídos aqui também os
desenhos de forma. Esta etapa merece um grande investimento, devido à
racionalização dos processos e exequibilidade na obra associados a esta etapa.

1.1.2 Modelo Estrutural: Definições

Uma estrutura de concreto armado ou protendido apresenta um mecanismo de


enorme complexidade, com condições de contorno de difícil representação:

 Geometria tridimensional e contínua, sendo quase nula a hipótese de resolução


pelas equações da teoria da elasticidade;
 Composição heterogênea (Concreto e aço);
 Fissuração do concreto;
 Etapas executivas com distintas configurações e carregamentos;
 Restrições de difícil simulação na interação solo-Estrutura;

Assim, qualquer proposta para simulação da estrutura é aproximada. Apenas a própria


estrutura é uma representação exata dela mesma!

A engenharia estrutural se propõe a simular a estrutura e suas condições de contorno


através de protótipos. Estes elementos são chamados de modelos.

Os modelos são elaborados visando idealizar a estrutura, adotando-se simplificações


que permitam que o mecanismo real possa ser assumido como sendo aquele
determinado pelo modelo. Através da identificação do mecanismo real procura-se
uma aproximação satisfatória para que, sob a ótica da engenharia, as respostas
provenientes do modelo possam ser utilizadas para a estrutura.

Modelos podem ser protótipos reais/experimentais ou representações


numéricas/matemáticas.

No caso do modelo experimental, procura-se simular a estrutura em uma escala


geralmente menor do que a real (modelo reduzido). Com os resultados medidos, estes

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 7


são relacionados com a estrutura real. Existem diversas teorias associadas a este tema.
Como exemplos de modelos experimentais mais utilizados podem citar os ensaios em
túnel de vento para edifícios com condições de contorno especiais.

Protótipos de edifícios para ensaio em túnel de vento

Porém, fica clara a impossibilidade de elaboração de protótipos para todas as


estruturas. Assim, adota-se o Modelo Matemático ou Numérico.

 Definição do tipo de modelo adotado, com uma caracterização “macro” para o


mesmo.
 Escolha dos elementos que representarão a estrutura, definindo-se suas
características geométricas, mecânicas e conexões.
 Análise dos carregamentos, adotando-se uma hipótese para representação
compatível com o modelo assumido.
 Definição da estrutura para equilíbrio como corpo rígido.

Assim, o problema numérico fica definido e as respostas são obtidas através de


métodos variáveis, que dependerão do grau de complexidade e porte do modelo.

1.1.3 Modelos Numéricos e seus diversos graus de complexidade

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 8


Os possíveis modelos numéricos para análise estrutural são muitos. Ao longo do curso
serão discutidos os diversos modelos para várias situações de análise.

Preliminarmente, é possível abordar que os graus de complexidade e refinamento são


proporcionais ao grau de representatividade da estrutura. Conforme já comentado, a
modelagem numérica “exata” da estrutura se faria de forma analítica, equacionando-a
através de suas condições de contorno, obtendo-se as respostas mediante a resolução
das equações diferenciais correspondentes. Porém, as estruturas apresentam
geometria complexas e irregulares, tornando esta tarefa praticamente inviável.

Momentos em um elemento de placa e equações que governam o problema

Desta forma, seria intuitivo que um modelo que representasse uma analogia ao
tratamento analítico da estrutura contínua seria o mais adequado para a análise da
estrutura.

Assim, se dividirmos a estrutura contínua em elementos discretos conectados teríamos


um bom modelo. Quando a número de elementos tendesse ao infinito, estaríamos
exatamente com a estrutura contínua. Ou seja, quanto maior for o número de
elementos, melhor será o modelo. Definem-se os carregamentos, restrições,
características dos elementos da estrutura e temos um modelo matemático. Existem
diversos métodos para a obtenção das respostas deste modelo. Um dos métodos
utiliza a compatibilização dos deslocamentos nas extremidades dos elementos
conectados. Este método é chamado de Método dos Elementos Finitos (MEF).

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 9


Estrutura discretizada por elementos finitos

Porém, esta compatibilidade de deslocamentos ainda apresenta uma grande


complexidade, principalmente para estruturas com muitos elementos. Trata-se de um
procedimento numérico e haveria necessidade de algoritmos e processadores para
resolver o problema. Com os computadores de elevada capacidade que temos
disponíveis atualmente, é possível resolver a grande maioria das estruturas.
Lembrando que este método trata um modelo que seria o mais próximo da estrutura
contínua.

Porém, sabe-se que no passado os recursos disponíveis eram extremamente limitados.


Desta forma, eram adotados modelos como menor grau de refinamento, para que
fosse possível a obtenção das respostas para analisar e dimensionar as estruturas.
Dependendo do grau de simplificação, a correta representatividade dos modelos
depende de algumas hipóteses adotadas para a estrutura.

No decorrer do curso, todos os possíveis modelos para estruturas de edifícios serão


abordados. Por hora, como uma introdução, segue uma ilustração (com sucinta
caracterização) de um modelo mais complexo e um mais simples.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 10


MEF

-COMPATIBILIDADE DE
DESLOCAMENTOS

-MODELO COMPLEXO
-RESPOSTAS MAIS
PRÓXIMAS DO
MODELO CONTÍNUO

MODELO
SIMPLIFICADO

-HIPÓTESES DE
VÍNCULOS IDEAIS
REPRESENTADOS
POR VIGAS E
PILARES
-POSSIBILIDADE DE
CÁLCULO MANUAL

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 11


1.2 Qual o melhor Modelo?

Com a grande variedade de modelos, imediatamente surgem os questionamentos:

 Qual modelo representa melhor a estrutura?


 Qual modelo é mais confiável?
 Que modelo deve ser adotado?
 Qual é o melhor modelo disponível?

Essas questões são de difícil resposta! Teoricamente, o melhor modelo é aquele cuja
formulação melhor caracteriza o funcionamento da estrutura analisada.

1.2.1 Modelos Refinados

Nos modelos mais refinados temos um grau de complexidade maior inerente. Sendo
assim, quanto mais representativo é o modelo os seguintes fatores devem ser
observados:

 Elementos que compõe o modelo com maior grau de sofisticação,


apresentando uma formulação mais complexa;
 Carregamentos devem ser inseridos de maneira compatível com os
elementos, criando mais um fator de complexidade;
 As restrições e conexões entre os elementos podem apresentar condições
especiais que fogem daquelas triviais e de fácil visualização;

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 12


 Os modelos são gerados automaticamente pelos softwares. Assim, condições
de contorno particulares podem não estar corretamente equacionadas;
 A obtenção das respostas para estrutura envolvem metodologias complexas.
Em geral não é viável um cálculo manual, sendo necessário o auxílio de
computadores.
 A apresentação dos resultados requer um conhecimento sólido do modelo e
da formulação dos elementos. Estes fatores envolvem aspectos teóricos nem
sempre amigáveis, que necessitam de uma análise cuidadosa.

1.2.2 Modelos Simplificados

Nos modelos mais simplificados o funcionamento da estrutura é mais intuitivo.


Através de hipóteses assumidas, são propostos mecanismos que são mais
facilmente identificados. Os mecanismos e as condições de contorno dos
elementos assumem simplificações que denotam um funcionamento conhecido.

Para exemplificar, citamos o exemplo mais clássico, que já foi ilustrado


anteriormente:

Para a obtenção de esforços nas lajes considera-se que as vigas representam restrições
ou liberações perfeitas nos bordos. O carregamento nas vigas resulta dessa mesma
consideração.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 13


Os esforços nas vigas também são obtidos considerando para os pilares restrições e
liberações também perfeitas. As reações nestes apoios representam as cargas nos
pilares.

1.2.3 Modelos Simplificados x Modelos Refinados

Após a caracterização geral, é possível uma comparação conceitual entre os modelos.


Será que conseguiremos, agora, responder ao questionamento do item 1.2?
Destacamos a pergunta reescrita com uma conotação abrangente:

Qual o Modelo ideal?


Todos os modelos possuem vantagens e desvantagens. Durante o curso, serão
apresentadas análises de diversos modelos com diversas situações de projeto.

Preliminarmente já possível apresentar algumas considerações.

Com os modelos simplificados, o engenheiro possui um controle muito maior dos


resultados e existe a possibilidade de obtenção das respostas com poucos recursos.
Porém, como as hipóteses consideradas em geral não são cumpridas pelas estruturas,
é fundamental que o engenheiro tenha conhecimento suficiente para saber os limites
para o não atendimento às estas hipóteses. A análise estrutural pode apresentar-se
inadequada, comprometendo todo o projeto.

Nos modelos refinados, as desvantagens estão associadas à complexidade de todo o


processo, desde a modelagem até a análise dos resultados.

A análise de todas as etapas deve ser cuidadosa e detalhada, com identificação de


todas as possíveis inconsistências e realização dos ajustes e adequações que
porventura sejam necessários. Neste caso é possível afirmar que os modelos
refinados são mais indicados. Porém, nem sempre a tarefa supracitada é simples!

O mais importante é observar que na utilização de qualquer modelo, o conhecimento


do engenheiro é fundamental. É ele que, obrigatoriamente, avalia e valida a entrada
de dados, o modelo e os resultados. São requisitos fundamentais para o engenheiro
durante a análise estrutural:

 Experiência;
 Feeling Estrutural;

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 14


 Conhecimentos de Mecânica das Estruturas;
 Busca da Identificação do mecanismo Estrutural;
 Bom Senso;
 Visão da compatibilidade da análise com o posterior detalhamento
correspondente;
 Visão da compatibilidade da análise com os processos executivos;

1.3 Devemos sempre confiar no modelo?

Sendo o modelo adotado o mais complexo e refinado possível será que podemos ter
total e irrestrita confiança nos resultados?

Conforme já comentado anteriormente, a análise cuidadosa de todas as etapas é


fundamental. Neste item serão abordados, apenas conceitualmente, resultados de
modelos refinados. Nos próximos capítulos do curso a comparação entre modelos, o
foco maior será dado às limitações dos modelos mais aproximados.

Exemplo 1.3.1

Seja um pavimento conforme mostra a forma em anexo:

Os diagramas obtidos, principalmente de esforços cortante, apresentam uma


configuração que não era a esperada.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 15


(a)

(b)

Modelo Automático- Esforços cortantes (a) e Momentos Fletores (b) nas vigas

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 16


(a)

(b)

Modelo Ajustado- Esforços cortantes (a) e Momentos Fletores (b) nas vigas

Estas respostas são obtidas de um modelo gerado automaticamente. Casos similares a


este são recorrentes nos diversos softwares que geram automaticamente os modelos.

Seria coerente dimensionar a viga V2 com os esforços obtidos?


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 17
Neste caso é possível uma intervenção no próprio modelo para obtenção da resposta
consistente. Quando não for o caso, o engenheiro deve fazer uma analogia com um
modelo simplificado para o correto dimensionamento da estrutura.

Exemplo 1.3.2

Um edifício real apresenta uma transição conforme se segue:

Tem-se o diagrama de momentos fletores de uma viga do último teto do edifício.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 18


Intuitivamente, ao observarmos o diagrama, não identificamos uma compatibilidade
com os valores esperados.

Observa-se que os pilares nascem em uma viga de transição. Desta forma, o cálculo
através do modelo mais sofisticado disponível, de pórtico espacial completo, não foi
coerente com o mecanismo da estrutura, uma vez que o edifício não é executado e
carregado simultaneamente, condição erradamente assumida pelo software.

Veremos com mais detalhes esta inconsistência, mas também é possível que o
engenheiro intervenha para obtenção de resultados mais satisfatórios, conforme
segue abaixo:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 19


Exemplo 1.3.3

A seguir uma planta com distribuição dos cabos em uma laje plana protendida.

Seguem os diagramas de esforços normais gerados automaticamente pelo software:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 20


Tração!

Observamos tensões de tração em regiões para as quais, a princípio, não são


identificadas condições de contorno compatíveis.

Neste caso, as barras rígidas necessárias para a consideração dos trechos rígidos dos
pilares para carga vertical geram distorções na análise da estrutura para esforços no
plano do pavimento.

Ou seja, concluímos que mesmo os modelos mais refinados e sofisticados apresentam


resultados inadequados. Assim, reforçamos a necessidade dos requisitos já
supracitados para o engenheiro projetista, seja para intervir no modelo ou para
assumir com segurança uma análise simplificada.

1.4 Diferenças entre Modelos e a segurança

Uma questão que pode inicialmente preocupar um Engenheiro Estrutural refere-se às


possíveis diferenças muito significativas entre dois modelos.

Grandes diferenças nos resultados de dois modelos para a mesma estrutura:

“Minha estrutura está em risco de colapso total ou parcial?”

Sabe-se que toda estrutura têm seus elementos dimensionados com coeficientes de
segurança, ponderando ações (majoração) e resistências (minoração). No caso do
Concreto Armado e Protendido a estrutura é dimensionada no Estado limite último,
condição com probabilidade ínfima de ocorrência.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 21


Além da questão dos coeficientes de segurança, temos os seguintes aspectos:

 As estruturas apresentam reservas de segurança proporcionais ao seu grau de


hiperestaticidade;
 O concreto é material Elasto-Plástico, ou seja, apresenta uma capacidade
significativa de redistribuição de esforços;

Observar que essas duas características são associadas, pois a maior segurança na
estrutura hiperestática está associada à capacidade de adaptação plástica da mesma.

Quando considera-se a plastificação, é importante que ocorra redistribuição e não


desconsideração de esforços. Embora possa parecer óbvio, é importante frisar este
aspecto.

Colocados estes aspectos, a nova questão que surge apresenta outra conotação:

“Posso então ficar tranquilo utilizando qualquer modelo, desde que use-o
corretamente?”

A redistribuição de esforços e adaptação da estrutura para o modelo previsto tem


limites!

A natureza impõe uma tendência de comportamento à estrutura. Contrariá-la sem


qualquer limite pode originar uma estrutura com um nível de segurança inadequado e
principalmente provocar patologias ou desempenho inadequado em serviço.

1.5 Uma boa solução: Modelos Simples + Complexo

A análise é uma etapa de extrema importância em um projeto. Os resultados devem


apresentar-se consistentes para garantia da segurança e bom desempenho das
estruturas.

Observando a diferença de complexidade e em alguns casos nos resultados das


análises. Fica realmente a dúvida sobre qual modelo utilizar, conforme já mencionado.

Para a validação dos resultados, uma boa solução seria analisar a estrutura através de
modelos mais complexo e também com os mais simples. No caso do modelo mais
aproximado, é sempre importante verificar em que nível as condições de contorno da

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 22


estrutura são compatíveis com as hipóteses assumidas. Temos, assim, uma boa forma
de balizar a análise.

Juntamente com a utilização e conhecimento dos modelos simplificados, é


fundamental que nunca se perca a sensibilidade:

O Engenheiro deve sempre buscar uma analogia de mecanismo estrutural com


estruturas clássicas da estática para averiguar a ordem de grandeza dos resultados.

Ninguém está imune de cometer erros! O que não pode acontecer é não identificá-los
quando isto é possível com uma simples análise.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 23


2 Modelagem de Pavimentos em
Concreto Armado

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 24


2.1 Evolução dos Modelos: Viga Contínua ao Método dos Elementos
Finitos

2.1.1 Viga Contínua

As estruturas tradicionalmente eram tratadas de forma extremamente simplificada:


Lajes se apoiam em vigas, que por sua vez se apoiam em pilares. Em caso de diversos
níveis estruturais, as cargas nos pilares eram simplesmente sobrepostas piso a piso. E
esta ideia ainda baseava-se em premissas igualmente simplificadas e ideais.

Para tratar esforços e deslocamentos em lajes consideram-se hipóteses simplificadoras


para as suas condições de contorno: restrições ou liberações perfeitas a translação e
rotação. Desta forma é possível a obtenção de tabelas com esforços para condições de
contorno nos bordos diversas.

Para as vigas, obtêm-se o carregamento proveniente das lajes assumindo-se as


mesmas hipóteses citadas anteriormente. Acrescentam-se outros carregamentos
como o seu peso próprio e outras cargas diretamente aplicadas. Para a consideração
dos apoios nos pilares, as translações e rotações são consideradas totalmente
restringidas ou liberadas. Define-se, assim, uma viga contínua, com geometria,
vínculos e carregamentos, cuja resolução é possível através de diversos métodos
clássicos da estática. Assim, após efetuada a análise, obtêm-se deslocamentos,
esforços e reações de apoio. Estas últimas correspondem às cargas nos pilares.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 25


2.1.2 Pórtico Plano

O modelo de pórtico plano representa a primeira evolução do modelo de viga


contínua, apresentando um tratamento mais refinado para a equalização das ligações
entre vigas e pilares, sendo consideradas as rigidezes dos elementos que concorrem
nos nós, resultando em uma distribuição de esforços mais representativa entre os
elementos. Um artifício análogo ao modelo de pórtico plano consiste na utilização de
apoios com ligações semi-rígidas (substituindo os apoio clássicos da viga contínua),
atribuindo coeficientes de rigidez representando os pilares.

 Distribuição simplificadas de cargas das lajes nas vigas.

 Análise dos esforços nas vigas e pilares através do modelo de pórtico plano.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 26


2.1.3 Grelha de Vigas

Neste modelo a distribuição de cargas das lajes nas vigas ainda é simplificada. Para o
caso de vigas apoiando sempre diretamente nos pilares, o sistema estrutural recai no
modelo de pórtico plano, mais especificamente na viga contínua com apoios
elásticos(análogo). Porém, este modelo possibilita um tratamento mais refinado em
cruzamentos de vigas, com os esforços definidos de forma mais adequada, através da
compatibilização dos deslocamentos utilizando um método para a análise estrutural
(em geral o método dos deslocamentos com tratamento matricial).

Vale ressaltar que um modelo análogo à grelha de vigas seria o pórtico espacial
formado pelas vigas do pavimento e os pilares, com seus lances superior e inferior
(similar ao pórtico plano). Neste caso, o carregamento das vigas proveniente das lajes
é simplificado.

2.1.4 Grelha de Vigas e Lajes / MEF

Todos os elementos estruturais do pavimento (vigas e lajes) são discretizados. A


análise estrutural resulta da compatibilidade de deslocamentos entre os elementos
obtidos desta discretização. A utilização deste modelo não depende das hipóteses
simplificadoras necessárias para aplicações de outros modelos. Este fato resulta em
uma grande vantagem, pois é possível a análise de estruturas com características
diversas, especialmente aquelas mais irregulares com relação às condições de
contorno (forma, carregamento e conexões).

No modelo de grelha, lajes e vigas são discretizados utilizando-se o elemento de barra.


No caso do MEF (método dos elementos finitos), para as lajes utilizam-se elementos de
placa ou casca e para as vigas, em geral, elementos de barra.

Para este modelo, assim como na grelha de vigas, é possível representar os pilares dos
lances inferior e superior com elementos de barra verticais, formando-se um modelo
de pórtico espacial para o pavimento.

Grelha

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 27


MEF

2.1.5 PÓRTICO ESPACIAL DE TODA ESTRUTURA

Neste caso o pórtico é formado por todos os pavimentos. Este pórtico pode ser
formado somente por vigas e pilares, sendo o carregamento das lajes simplificado ou
obtido calibrando-se vigas e pilares com as reações nestes elementos no modelo de
grelha de cada pavimento. Também temos o pórtico completo, formado por vigas,
pilares e lajes, sendo que este último pode ser discretizado com elemento barra ou
placa/casca.

Neste modelo, através da análise considerando toda a estrutura, é possível contemplar


uma determinada situação em que os esforços e deslocamentos são influenciados pelo
comportamento global (caso de assimetria de carga e forma). As condições de
contorno com relação à rigidez das ligações do pavimento com os pilares também
apresentam-se mais precisas, sendo relevantes principalmente em análises de ações
indiretas( variação de temperatura, retração e protensão). Mais detalhes e exemplos
no capítulo 3.

2.1.6 EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Temos a seguir um exemplo simples, com o objetivo de mostrar as aplicações dos


modelos para a análise de pavimentos. Temos duas estruturas análogas. A diferença
entre elas está na altura da seção da viga V4, sendo de 60cm na “Estrutura 2.1” e 20cm
na “Estrutura 2.2”, conforme mostrado nas formas abaixo.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 28


 Estrutura 2.1

 Estrutura 2.2

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 29


Dados:

 Fck=30MPa
 Sobrecarga Permanente: 100kg/m²
 Sobrecarga Acidental: 300kg/m²
 Pé-direito estrutural; 3,00m

Neste caso não faremos a análise com viga contínua, com vínculos totalmente
restringidos ou liberados. Será feita a comparação entre modelos que são
caracterizados a seguir.

 Pórtico do Pavimento com lajes por processo simplificado


 Vínculos das vigas com os pilares considerando os respectivos lances
superior e inferior.
 Distribuição simplificada das cargas das lajes para as vigas, através das
áreas definidas pelas linhas de ruptura (ver figura abaixo).

Distribuição simplificada de cargas das lajes nas vigas

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 30


 Pórtico do pavimento com elementos discretizados
 Vinculações entre vigas e pilares considerando a rigidez correta de
todos os elementos que compõe a ligação (apoios elásticos
representando os pilares superior e inferior).
 Discretização de todo o pavimento (vigas e lajes) com elementos de
barras conectados entre si (três graus de liberdade por nó), com
distribuição de esforços obtida efetuando-se a compatibilidade de
deslocamentos (método dos deslocamentos ou da rigidez).

a) Análise da Estrutura 2.1

 Pórtico do Pavimento com lajes por processo simplificado

Carregamentos nas vigas para carga vertical total (Tf/m)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 31


Momentos fletores (Tf.m)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 32


 Pórtico do pavimento com elementos discretizados

Foram feitos modelos discretizando as lajes com elementos de barra e de placa.

Discretização do pavimento no modelo-Laje como Barra

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 33


Momentos fletores (Tf.m)- Laje como barra

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 34


Discretização do pavimento no modelo-Laje como Placa

Momentos fletores (Tf.m)- Laje como placa

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 35


b) Análise da Estrutura 2.2

 Pórtico do Pavimento com lajes por processo simplificado

Carregamentos nas vigas para carga vertical total (Tf/m)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 36


Momentos fletores (Tf.m)- Processo Simplificado- Estrutura 2.2

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 37


 Pórtico do pavimento com elementos discretizados

Momentos fletores (Tf.m)- Lajes como barras- Estrutura 2.2

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 38


Momentos fletores (Tf.m)- Laje como placa

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 39


c) ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para a estrutura 2.1, não observamos diferenças significativas entre os esforços nas
vigas. Focando a análise na viga V4, podemos observar que todos os modelos
apresentam resultados convergentes.

A análise da estrutura 2.2 , mostrou diferenças significativas entre os esforços nos


elementos quando utilizamos o modelo simplificado, observando-se esforços nas vigas
muito superiores aos modelos de grelha e elementos finitos.

 O método simplificado de distribuição de cargas das lajes para as vigas assume


a hipótese de condições de contorno ideais nos bordos das lajes, com
deslocamentos totalmente liberados ou restritos. Analisando especificamente
as restrições para deslocamentos verticais, fica evidente que a estrutura 2.2
apresenta-se completamente desprovida destas condições. Tem-se diferenças
enormes entre as rigidezes ao deslocamento vertical dos apoios das lajes, com
a viga V4 apresentando uma rigidez muito inferior às demais vigas formam o
contorno da laje. Já a estrutura 1 apresenta a rigidez relativa entre as vigas
coerentes com as hipóteses do método simplificado.

 Nos métodos simplificados o carregamento nas vigas independe da rigidez


relativa entre elas. Assim, observamos que a viga V4 na estrutura 2.2 apresenta

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 40


carregamento semelhante ao da estrutura 2.1, mesmo com a diminuição da
altura da V4 para 20cm, com uma redução na rigidez a flexão da viga em 9
vezes. A única alteração foi na carga da própria V4, pois seu peso próprio é
menor devido à redução de altura da seção.
 Alguns engenheiros defendem a aplicação do método simplificado em qualquer
situação, alegando que ao dimensionar a estrutura com o mecanismo assumido
por esse método, o equilíbrio fica garantido. De fato, com a capacidade de
adaptação plástica do concreto, é pouco provável uma ocorrência de
esgotamento da capacidade resistente de uma dada seção. Porém, cabe aqui
ressaltar que as estruturas encontram-se em geral com esforços em serviço.
Dependendo da plastificação necessária para que seja alcançado o
funcionamento previsto o desempenho da estrutura pode ser ruim. Podem
surgir fissuras nas regiões de tração com armaduras insuficientes,
potencializando a ação de agentes agressivos.
 O fato de definirmos que um dado elemento é uma viga não significa que
podemos utilizar um método que utilize esse conceito. Devemos sempre
observar a rigidez do elemento, relativa aos demais elementos de contorno e
em relação à laje. Em uma situação hipotética, nos exemplos mostrados,
suponha-se que adotaremos uma viga com a espessura da laje (h=12cm) e
adotemos o método simplificado! Trata-se de uma inconsistência enorme,
inclusive porque a inclusão de armadura, por maior que seja a taxa, tem
contribuição muito baixa para a rigidez para assumirmos um elemento rígido.
 Observar que as diferenças entre os métodos aproximados e o método dos
elementos finitos / grelha na estrutura 2.2 se caracterizam por distribuições de
esforços diferentes. Ou seja, com a diminuição dos esforços nas vigas ao utilizar
o método numérico, as faixas de laje adjacentes passam a ter esforços de
flexão. Estas regiões têm esforços praticamente nulos na estrutura 2.1, devido
à rigidez muito superior da viga V4 em relação à laje. A distribuição de esforços
apresenta-se significativa dependendo da rigidez relativa entre os elementos
de contorno da laje. Na figura a seguir mostramos a distribuição de momentos
fletores nas lajes nas estruturas 2.1 e 2.2 nas duas direções.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 41


a)

b)

Momentos fletores na direção vertical(Tf.m/m)- a) Estrutura 2.1 (V4-h=60cm) ; b)


Estrutura 2.2 (V4-h=20cm)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 42


a)

b)

Momentos fletores na direção horizontal(Tf.m/m)- a) Estrutura 2.1 (V4-h=60cm) ; b)


Estrutura 2.2 (V4-h=20cm)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 43


2.2 Análise Linear x Análise Não-linear

Quando um material apresenta proporcionalidade entre tensões e deformações, pode-


se afirmar que este material segue a lei de hooke, apresentando um comportamento
linear.

Porém, quando a partir de um determinado nível de solicitações um material não


apresenta mais essa proporcionalidade, estamos tratando de um comportamento não
linear.

O concreto armado é material essencialmente não-linear, devido às seguintes


características:

 Composição heterogênea (concreto e aço).


 Fissuração.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 44


Esse tipo de não-linearidade é chamada de Não-linearidade Física(NLF), pois sua
ocorrência se deve às características físicas do material concreto armado.

No caso especifico de um pavimento submetido essencialmente a flexão, o tratamento


da não-linearidade se faz com as relações constitutivas entre momentos e curvaturas,
com formulações de Branson ou Newmark. Busca-se estimar a rigidez equivalente da
seção EIeq, considerando que as seções da peça, nas quais as tensões de tração
solicitante superam a tensão resistente do concreto na flexão, apresentam uma
configuração com regiões fissuradas (Estádio II) e não-fissuradas (Estádio I).

Além desta consideração da fissuração, é importante considerar a presença da


armadura, que proporciona um aumento de rigidez da seção comparado com a seção
apenas de concreto (rigidez com inércia bruta Ic). A inércia equivalente com a
consideração da seção de aço é definida como Inércia Homogeneizada.

A consideração NLF de um pavimento em concreto armado busca efetuar uma análise


mais precisa do desempenho em serviço da estrutura, através do tratamento mais
refinado e realista do material. A principal verificação realizada consiste no
atendimento ao ELS-DE (Deformação Excessiva). Para este estado limite, entre outras,
temos duas verificações principais:

 Verificação das flechas sob as alvenarias após a sua construção

Limitam-se as flechas ocorridas após a construção das alvenarias com o objetivo de


não introduzir nestes elementos solicitações que afetem a sua integridade, com o
aparecimento de trincas ou fissuras. O valor estabelecido pela NBR6118:2007 é de
L/500 ou 10mm, sendo L a extensão da alvenaria.

 Verificação da flecha final total

Refere-se às flechas imediatas acrescidas das flechas diferidas, decorrentes da fluência.


Seus limites estão associados às aspectos de aceitabilidade visual e manutenção do
funcionamento satisfatório ao qual a estrutura se destina. O valor estabelecido pela
NBR6118:2007 é de L/250, sendo L o menor vão.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 45


2.2.1 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Serão analisadas duas estruturas com dimensões em planta idênticas. Porém, a


verificação referente ao ELS-DE será distinto. Para uma delas, a verificação será de
flecha sob alvenaria e para a outra a flecha final total.

As dimensões dos elementos foram adotadas considerando o atendimento ao


respectivo ELS através da análise linear, com valores calculados próximos aos limites
máximos.

Os critérios relativos à análise NLF são idênticos, com os principais pontos destacados
a seguir:

 Carga total dividida em 12 incrementos.


 Não foram incluídas as parcelas imediatas da carga permanente restante
(revestimentos) para o cálculo da flecha sob alvenaria.
 Cálculo da rigidez equivalente em cada nível de carregamento obtida através da
formulação de Newmark.
 Consideração NLF da torção de forma simplificada, conforme proposto por
CHUST(1994)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 46


a) VERIFICAÇÃO DA FLECHA SOB ALVENARIA

Dados:

 SOBRECARGA PERMANENTE: 100kg/m²


 SOBRECARGA ACIDENTAL: 150kg/m²
 PESO DA ALVENARIA (/m² de parede): 180kg/m²
 ALTURA DA PAREDE: 2,76m

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 47


 Combinação para a flecha diferida após a construção das alvenarias

Combinação quase-permanente

Poderador ELS Coeficiente de


Ação FINAL
(flecha imediata) Fluência(αf)
Peso Próprio 0,00 1,30 1,30
Sobrecarga Permanente 0,00 1,15 1,15
Sobrecarga acidental 0,30 1,00 0,60
Alvenaria 1,00 1,15 1,15

 ANÁLISE LINEAR

Deslocamentos(cm)

O deslocamento limite admitido de 1cm (10mm) é definido como o relativo entre os


máximos e mínimos ao longo da alvenaria. Assim, observando a disposição das

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 48


alvenarias no pavimento e as flechas, poderíamos afirmar que o ELS referente à essa
verificação estaria atendido.

 ANÁLISE NÃO-LINEAR

Para a consideração das armações das lajes, utilizam-se aquelas obtidas em um pré-
processamento linear.

Temos ainda duas possibilidades com relação à consideração da NLF para a obtenção
de flechas;

 NFL – CARGA TOTAL


Para obtenção da flecha em cada etapa / incremento, considera-se todo o
carregamento dos incrementos anteriores e do incremento atual. Este
carregamento calibra um modelo que apresenta elementos com as rigidezes
referentes ao incremento atual, também obtida com o carregamento total.

 NLF- CARGA INCREMENTO


Para cada incremento calcula-se uma flecha considerando apenas o
carregamento referente àquele incremento e as rigidezes são obtidas
considerando o carregamento total. As flechas são obtidas somando-se as
flechas obtidas em todos os incrementos anteriores com o atual. Observar que,
para o incremento atual, é como se a carga dos incrementos anteriores saísse
da estrutura e “deixassem” suas respectivas flechas. Tal fato não ocorre na
realidade.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 49


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 50
CARGA TOTAL

DETALHE A

CARGA INCREMENTO

DETALHE A

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 51


Observar que as diferenças são pouco significativas entre as análises linear e não-linear
feita com os dois modelos.

b) VERIFICAÇÃO DA FLECHA FINAL TOTAL

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 52


Dados:

 SOBRECARGA PERMANENTE: 100kg/m²


 SOBRECARGA ACIDENTAL: 300kg/m²

 Combinação para a flecha final total

Combinação quase-permanente

Poderador ELS Coeficiente de


Ação FINAL
(flecha imediata) Fluência(αf)
Peso Próprio 1,0 1,30 2,30
Sobrecarga Permanente 1,0 1,15 2,15
Sobrecarga acidental 0,30 1,00 0,60

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 53


 ANÁLISE LINEAR

Deslocamentos(cm)

Sendo o vão entre pilares de 9,00 metros, o limite para a flecha final é de
900/250=3,60cm. Assim, a verificação de ELS referente à flecha final total está
atendida para a análise linear. Como a fluência fora tratada de forma simplificada, é
importante a ressalva que ainda teríamos uma pequena folga para flechas maiores.
Mesmo que o valor obtido ainda passe ligeiramente do limite, o artifício da contra-
flecha pode ser utilizado. Observar que as dimensões da laje e capitel propiciam uma
estrutura sensivelmente mais esbelta, comparando as dimensões da laje que suporta
alvenaria.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 54


 ANÁLISE NÃO-LINEAR

Para este exemplo temos as mesmas considerações referentes às diferenças que


resultam nos modelos “CARGA TOTAL” e “CARGA INCREMENTO”, já definidos no
exemplo anterior.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 55


CARGA TOTAL

DETALHE B

CARGA INCREMENTO

DETALHE B

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 56


c) ANÁLISE DOS RESULTADOS

Comparando as estruturas analisadas nos itens a e b, notamos primeiramente


diferenças significativas entre a rigidez à flexão de cada uma, para carregamentos que
apresentam pequenas diferenças. Tal fato se deve à diferença entre as verificações de
ELS. A estrutura para a qual se faz a verificação da flecha sob alvenaria requer maior
rigidez. Conforme já comentado, mesmo com a estrutura com uma esbeltez
significativa para a verificação da flecha final total, ainda seria possível uma esbeltez
ainda maior adotando-se contra-flecha na análise linear.

Considerando a NLF, observa-se que a verificação da flecha sob alvenaria não


apresentou diferenças significativas na análise, inclusive entre as variações da análise
não-linear (MODELOS CARGA TOTAL e CARGA INCREMENTO).

Na análise da flecha final total, é possível observar diferenças consideráveis entre as


análises linear e não-linear. O modelo CARGA TOTAL apresenta valores de flecha
sensivelmente superiores ao modelo CARGA INCREMENTO e à analise linear. Os
valores inclusive ultrapassam o limite máximo (4,08 > 3,60). Ainda assim, a adoção de
contra-flecha dotaria a estrutura de condições suficientes para atendimento ao ELS.

Mostraremos a seguir a evolução da rigidez de uma determinada seção para os dois


ELS, representada pela barra mais solicitada dos vãos da estrutura.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 57


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 58
Evolução da inércia da barra 4468- Flecha sob alvenaria

Evolução da inércia da barra 4468- Flecha final Total

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 59


Observamos que para a flecha sob alvenaria, a barra mais solicitada entre os vãos,
permaneceu no Estádio I (não fissurado) até o carregamento total. Ou seja, a inércia
apresenta-se inclusive aumentada em função da presença da armadura. Apenas as
barras junto ao capitel trabalham no estádio II nos incrementos finais, em funcão da
concentração de tensões/esforços nesta região.

Na flecha final total, a partir do incremento 10 a barra tem a inércia reduzida em


função da fissuração.

A estrutura referente à flecha sob alvenaria apresenta uma fissuração bem inferior à
estrutura analisada para flecha final total. Desta forma, as diferenças observadas são
perfeitamente justificadas, pois quanto maior o nível de fissuração da estrutura, maior
a diferença de flechas entre as análises linear e não-linear e entre os dois modelos da
análise não-linear. No modelo CARGA TOTAL utiliza-se a carga total para a rigidez do
incremento, enquanto no CARGA INCREMENTO grande parcela do carregamento teve
sua respectiva flecha calculada com rigidez bem superiores. Portanto, fica evidente
que quanto maior o nível de fissuração (estádio II), maior será a diferença entre os
modelos, sendo as flechas do modelo CARGA TOTAL superiores ao modelo CARGA
INCREMENTO.

A pergunta que fica é: Qual dos dois modelos utilizar? Para estruturas usuais, não
observam-se diferenças significativas entre os modelos, pois a configuração fissurada
encontra-se pouco expressiva. Por isso temos modelos analíticos e experimentais para
os dois modelos que comprovam a boa representatividade de ambos.

Porém, o modelo que representa de fato o mecanismo da estrutura é o modelo CARGA


TOTAL. Ainda assim é evidente a enorme complexidade que envolve a modelagem de
uma estrutura de concreto armado para simular o seu desempenho com relação às
deformações, especialmente quando considera-se o seu comportamento não-linear.
Assim, a adoção do modelo CARGA TOTAL em detrimento ao modelo CARGA
INCREMENTO pode não representar maior coerência com os valores da prática. Entre
os fatores que denotam a complexidade citada e dificultam a representatividade do
modelo e dos mecanismos podemos citar:

 Fase escorada com mecanismos não representados.


 Em estruturas mais complexas, o comportamento de placa contínua
simulada com elementos discretos pode não ter a representatividade
ideal, especialmente nas continuidades, com plastificações de difícil
identificação e simulação.
 Funcionamento bidirecional e hiperestático, com situações de interação
entre as duas direções de difícil equalização.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 60


 Complexidade da NLF no contexto dos fatores citados acima. As
formulações, embora teoricamente aplicáveis aos elementos discretos
que compõe a laje, são em geral feitas para elementos lineares, com
condições de contorno mais simples.

2.3 Consideração da Rigidez à Torção

2.3.1 Torção de Equilíbrio e Compatibilidade

Os pavimentos de concreto armado de edifícios são discretizados em elementos que


apresentam deslocamentos que estão associados ao esforço momento torçor. Assim,
temos para o pavimento mecanismo de flexão e torção. A distribuição de esforços
entre os elementos é obtida fazendo-se a compatibilização de todos os deslocamentos
associados, considerando as rigidezes à flexão e torção.

Os esforços de torção obtidos na análise têm relação direta com as rigidezes


consideradas para os elementos. Tal qual na flexão, quando reduzimos as rigidezes à
torção temos uma redistribuição de esforços. Porém, na torção tem-se a possibilidade
de um nível bem mais elevado de plastificação comparando-se com a flexão.

Porém, temos situações em que a consideração da torção é fundamental para o


equilíbrio da estrutura. Nestes casos, teríamos o que chamamos de torção de
equilíbrio. Quando desprezamos ou reduzimos a rigidez à torção e a estrutura é capaz
apresentar uma redistribuição de esforços, dizemos que trata-se de uma torção de
compatibilidade.

Apresentamos a seguir dois exemplos que ilustram as diferenças entre os dois casos:

Exemplo 2.3.1 a

TORÇÃO DE COMPATIBILIDADE

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 61


TORÇÃO DE EQUILÍBRIO

2.3.2 Consideração da Torção em Lajes Maciças

As lajes maciças são elementos que caracterizam propriamente uma placa. Desta
forma, na modelagem através de elementos discretos de placa ou barra, a espessura
do elemento já define as rigidezes à flexão e à torção.

Os Momentos Torçores nas lajes também são denominados Momentos Volventes.


Esses esforços ocorrem com maior intensidade nos cantos descontínuos das lajes,
proporcionalmente aos vãos. Quando considera-se a inércia bruta dos elementos os
referidos momentos podem ser significativos.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 62


Para a consideração destes efeitos para o dimensionamento, geralmente transforma-
se os momentos torçores em fletores equivalentes (WoodArmer).

A NBR 61118/2007 permite uma plastificação da rigidez à torção dos elementos na


análise para 15% da rigidez para inércia bruta. Para casos conforme mencionado
anteriormente, podemos obter diferenças significativas de esforços e deslocamentos.
Segue o exemplo “2.3.2.” para melhor entendimento.

Exemplo 2.3.2

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 63


Flechas(cm)- Lajes com Torção

Momentos volventes(tf.m)- Lajes com Torção

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 64


Momentos fletores (tf.m)- Lajes com Torção

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 65


Flechas(cm)- Lajes sem Torção

Momentos Fletores(tf.m)- Lajes sem Torção

Observar que temos diferenças muito significativas para todas as grandezas.


Reforçamos, assim, a dependência em relação à rigidez à torção considerada,
principalmente para estruturas com tipologia similar a este exemplo.
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 66
2.3.3 Consideração da Torção em Lajes Nervuradas

As lajes nervuradas podem ser associadas à uma grelha de vigas “T”. Portanto, na sua
modelagem através de uma placa discretizada, não é possível estabelecer uma única
espessura que represente as rigidezes à flexão e torção com a espessura/altura
fornecida. Para a modelagem como grelha, deve-se fornecer as rigidez à flexão e
torção calculadas. Para a modelagem com placa, define-se a espessura correspondente
à rigidez à flexão e aplica-se um coeficiente de correção para a definição da rigidez à
torção.

Devido às dimensões das nervuras e principalmente da capa, a importância da rigidez à


torção pode ser avaliada como sendo pouco relevante para esforços de flexão e
flechas. Associado a este fato, tem-se a dificuldade inerente à geometria da laje de
dispor armaduras de combate à torção no conjunto capa-nervura. Assim, é comum
que se despreze a rigidez à torção nas lajes Nervuradas. É importante ressaltar que
mesmo com menor importância comparada à laje maciça, a rigidez a torção pode ter
uma influência no mecanismo estrutural que não deve ser desprezada. No exemplo
abaixo, observamos uma situação aonde essa consideração de rigidez tem um efeito
significativo:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 67


Exemplo 2.3.3

Forma

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 68


Flechas- Considerando 100% da torção nas nervuras

Flechas- Desprezando a Torção nas nervuras

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 69


Observamos que a consideração da rigidez à torção tem um efeito que não é
desprezível no mecanismo desta estrutura. Temos uma flecha de 3,78cm quando
desprezamos a rigidez à torção e esta reduz para 2,15cm ao considerarmos a rigidez à
torção das vigotas “T”.

Um aspecto que precisa ser verificado se refere ao dimensionamento das vigotas “T” à
combinação torção+cisalhamento. As dimensões extremamente reduzidas das
larguras, principalmente na capa, podem não ser compatíveis com os esforços
solicitantes.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 70


3 Modelagem de Edifícios com
Múltiplos Pavimentos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 71


3.1 Cargas Verticais: Modelos para a obtenção de esforços

3.1.1 Pavimento Isolado

Em um edifício alto que possui múltiplos pavimentos, é possível obter os esforços e


deslocamentos para cada pavimento de forma independente do restante da estrutura.
Assim, todos os métodos tratados no capítulo 2 (Modelagem de Pavimentos em
Concreto Armado) seriam aplicáveis, juntamente com as análises já realizadas. O
modelo mais representativo neste contexto seria a grelha de lajes e vigas ou pórtico
espacial do pavimento:

Pórtico Espacial-Pavimento Isolado

Grelha de Vigas e Lajes


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 72
Lembrando como as solicitações nos elementos estruturais são obtidas:

 Vigas e lajes: Esforços e deslocamentos provenientes da análise da grelha /


pórtico.

 Pilares: Momentos fletores provenientes da análise de grelha / pórtico.


Esforços Normais obtidos acumulando-se os esforços normais de todos os
pavimentos acima do lance de pilar considerado.

3.1.2 Grelha/Elementos Finitos (Vigas e Lajes)+ Pórtico Espacial (Pilares e Vigas)

O pavimento é analisado isoladamente, obtendo-se os esforços nos elementos (vigas e


lajes).

Um modelo de Pórtico Espacial constituído de vigas e Pilares de toda a estrutura é


gerado. Para calibragem do carregamento deste modelo, as reações das lajes nas vigas
e pilares obtidas no cálculo do pavimento isolado são aplicadas como cargas nestes
elementos no pórtico.

Desta forma, constituímos um modelo numérico tridimensional de Pórtico Espacial,


com uma estrutura reticulada de barras de vigas e pilares. Os deslocamentos e
esforços são obtidos, em geral, através da compatibilidade de deslocamentos entre os
elementos (método dos deslocamentos ou método da rigidez), considerando a
estrutura completa.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 73


Este modelo apresenta-se mais representativo para a estrutura e o seus mecanismos
em comparação com os modelos de pavimento isolado. Destacamos os seguintes
aspectos:

 Tratamento mais adequado para as ligações entre vigas e pilares, considerando


para a equalização dos esforços condições de contornos mais reais.
 Fazendo-se a compatibilidade de deslocamentos da estrutura como um todo, é
possível equacionar situações inviáveis quando tratamos o pavimento isolado.
É o caso das assimetrias de carga e forma, que são devidamente consideradas
com obtenção de esforços e deslocamentos adicionais àqueles obtidos com o
pavimento isolado.

3.1.3 Pórtico Espacial(Pilares+Vigas+Lajes)

Neste modelo toda a estrutura de concreto é discretizada: Pilares, vigas e lajes. Assim,
temos um modelo análogo ao anteriormente apresentado. Porém, a análise estrutural
é efetuada em um único modelo, com a inclusão da laje no pórtico espacial,
juntamente com as vigas e pilares.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 74


Em uma estrutura convencional, a consideração da laje no pórtico não apresenta
diferenças significativas na análise. Porém, a compatibilidade entre os elementos
apresenta um equacionamento mais adequado utilizando-se o modelo completo.

Portanto, as vantagens são semelhantes àquelas mencionadas no pórtico de vigas e


pilares. Para determinadas situações cuja presença da laje seja um aspecto relevante,
o pórtico completo apresenta características mais consistentes para uma análise mais
correta.

3.2 Limitações dos Modelos e intervenções para Compatibilidade

3.2.1 Ligações entre vigas e pilares

A estrutura real, contínua e espacial, representada por uma estrutura reticulada de


barras (unidimensional) apresenta algumas incompatibilidades, que devem ser
consideradas na modelagem para melhor representatividade da estrutura.

A representação de elementos verticais com características de elementos de superfície


através de elementos de barra pode representar uma incompatibilidade de grande
notoriedade na modelagem de uma estrutura de edifício.

No caso de pilares que recebem vigas apoiando na direção de menor rigidez da sua
seção/abas. Na modelagem de pórtico Espacial, em uma análise elástica-linear, esta
ligação apresenta uma rigidez que considera toda a inércia da seção do pilar (modelo
unifilar).

Porém, é fácil deduzir que a rotação do pilar não é uniforme ao longo de toda a sua
dimensão. Desta forma, apenas uma parcela da seção do pilar apresenta
compatibilidade de deslocamentos (rotação) com viga.

V1
Ex:

(Planta) P1

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 75


A modelagem intuituvamente ideal para estes casos é representar o pilar com
elementos de casca. Porém, mesmo com o modelo de pórtico espacial de vigas e
pilares modelados como barra, é possível um tratamento mais realista para a ligação. É
feita uma estimativa da largura do pilar que efetivamente apresenta compatibilidade
de rotação com a viga. Impõe-se no nó da ligação uma rigidez equivalente à um pilar
com a largura definida. Desta forma, a compatibilidade de deslocamentos é feita
considerando essa rigidez, que substitui a rigidez do pilar real para este efeito.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 76


EXEMPLO 3.1.3.1

Ligações Elásticas

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 77


Ligações Flexibilizadas

Análise por Elementos Finitos

Nesta análise os pilares são discretizados como elementos de casca, ou seja um


elemento finito completo contemplando deslocamento segundo os 6 graus de
liberdade.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 78


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 79
Diagrama de Momentos Fletores nas Vigas (tf.m)

Momentos nos Pilares Parede(P2 e P4)- Efeitos Localizados (tf.m/m)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 80


Comentários dos resultados

Observamos que ocorre uma distribuição diferente de cargas na laje em função dos
modelos para o pilar e interação entre as vigas de periferia e as cascas e barras
adjacentes.

É valido ressaltar a proporcionalidade razoável entre os momentos fletores positivo e


negativo nas vigas V1 e V2. Ou seja, mesmo com uma porção reduzida do pilar
contribuindo para a ligação, observamos um engastamento considerável. Porém, os
momentos fletores concentrados junto ao apoio da viga são muito elevados, havendo
uma plastificação natural, com uma dissipação desta concentração de tensões . Desta
forma, ao reduzir os momentos negativos, a configuração de esforços se aproxima da
flexibilização.

3.2.2 Consideração do Processo Construtivo: Rigidez Axial dos Pilares

Sabe-se que um edifício de concreto armado é construído em etapas. Em um edifício


de múltiplos pavimentos, podemos, em geral, afirmar que cada etapa representa um
nível estrutural. Ao ser executado, um nível estrutural vai sendo liberado para as
condições de contorno de projeto gradativamente à medida que atinja níveis de
resistência suficientes para os carregamentos aos quais este é submetido.

Através de sistemas de escoaramentos e reescoramentos, os pavimentos com


concretagens mais recentes são suportados por pavimentos com resistências
compatíveis com tais carregamentos.

O sistema de escoramento evolui juntamente com o avanço dos níveis estruturais,


sendo que todos os pavimentos são completamente liberados, seguindo uma
sequência executiva e atendendo aos requisitos já comentados.

Os mecanismos estruturais dos pavimentos durante o processo executivo é de grande


complexidade, envolvendo resistências intermediárias àquelas estabelecidas em
projeto. As condições de contorno também apresentam-se complexas, com vãos
intermediários entre escoras em aço e pilares de concreto e carregamentos devido aos
pavimentos recém concretados.

Portanto, fica evidente a incompatibilidade existente entre a análise através do pórtico


elástico, simulando uma estrutura totalmente construída e simultaneamente
carregada e o processo incremental construtivo.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 81


Para ilustrar a questão, apresentamos um exemplo simples, de um pórtico plano.
Temos três pilares sendo que a distribuição de cargas apresenta desproporcionalidade
em relação às seções. Assim, o pilar central possui uma carga maior quando
analisamos a sua região de influência e uma seção com menor área. Este exemplo,
embora simples, pode representar perfeitamente o comportamento de um edifício.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 82


Fck=50MPa

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 83


Apresentamos os diagramas de momentos fletores nas vigas do primeiro e último nível
e esforço normal nos pilares na base.

(a)

(b)

Diagramas de Momentos fletores -tf.m (a) 1º teto ; (b)-último teto

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 84


Diagrama de esforço Normal(tf)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 85


Observa-se que o diagrama de momento fletor no último nível apresenta uma
configuração atípica, com momentos praticamente bastante reduzidos no apoio
central. A princípio, esperavam-se valores de momentos fletores maiores, com
diagrama característico de uma viga contínua.

Tal fato ocorre devido à desproporcionalidade entre as áreas das seções dos pilares e
suas respectivas áreas de influência de carga. O pilar P2 apresenta uma área de carga
superior aos pilares de extremidade P1 e P3 e uma área da seção transversal menor.

Em uma análise por pórtico elástico, esta diferença de tensões se reflete em


deslocamentos axiais diferenciais entre os pilares, gerando uma redistribuição de
cargas em relação à consideração de apoios fixos. O pilar central (P2), que apresenta
um deslocamento axial maior, representando um apoio mais elástico. Assim, há uma
migração da sua carga para os pilares extremos.

Porém, sabe-se que o pórtico elástico simula a estrutura totalmente construída e


simultaneamente carregada. Conforme já descrito, com o processo construtivo
incremental apresenta outro mecanismo, uma vez que os pavimentos são executados
e carregados sequencialmente. O diagrama de momentos fletores do último
pavimento possui a configuração mostrada devido a consideração da deformação axial
do pilar devido a todos os pisos inferiores simultâneo ao seu carregamento. Porém,
sabe-se que essas deformações ocorreram quando as cargas referentes a cada
pavimento atuaram. Assim, principalmente para o(s) último(s) pavimento(s), o efeito
obtido no pórtico espacial não é representativo.

Para a correção desta incompatibilidade, é possível uma análise refinada,


considerando a estrutura nos seus respectivos estágios de execução e carregamento,
obtendo-se as solicitações através da superposição de efeitos. Porém, também temos
uma possibilidade mais simplificada, que consiste em uma amplificação artificial da
rigidez axial dos pilares, diminuindo as deformações dos pilares e consequentemente
limitando a redistribuição de esforços. Esta é uma forma simplificada de considerar o
processo incremental construtivo para a análise de Pórtico.

Este valor utilizado para o incremento de rigidez axial dos pilares deve ser calibrado. É
importante levar em conta que para uma parte dos carregamentos o modelo de
pórtico elástico é representativo (cargas acidentais e parte das cargas permanentes).
Isso ilustra que a adoção do pavimento isolado, com hipótese de apoios indeslocáveis,
também pode não ser representativa.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 86


Temos abaixo a mesma estrutura anteriormente analisada, introduzindo-se o
multiplicador da rigidez axial para os pilares. Adotou-se um valor de 3.

(a)

(b)

Diagramas de Momentos fletores (a) e Esforço Normal (b) –Modelo com incremento
da rigidez dos pilares

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 87


Observa-se que um comportamento mais compatível com o resultado esperado
(diagrama de viga contínua no último pavimento). Porém, as solicitações no pilar
central aumentaram de 1578tf para 1782tf, um aumento de mais de quase 15% no
esforço normal. Este aumento foi suficiente para o pilar não ser dimensionado
considerando o processo construtivo.

(a) (b)

Dimensionamento dos Pilares- Elástico(a) ; Pilares enrigecidos (b)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 88


3.2.3 Consideração do Processo Construtivo: Viga de Transição

Analisemos um caso onde temos pilares nascendo em vigas de transição e pilares que
nascem na fundação. Mesmo com a consideração de apoios elásticos para as
fundações, as vigas de transição, em geral, apresentam uma flexibilidade maior do que
o solo. A seguir temos um exemplo de um pórtico plano com dois pilares que seguem e
um pilar que nasce na viga de transição.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 89


Diagramas de momento fletor- Pavimentos superiores(tf.m)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 90


Diagramas de momento fletor- Viga de Transição (tf.m)

Observamos que o comportamento clássico de viga contínua não ocorre nos


elementos que se apoiam na viga de transição. O diagrama apresenta uma
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 91
configuração que resulta do deslocamento da viga de transição, que se soma com o
deslocamento devido à deformação axial do pilar.

Novamente, é possível uma análise refinada considerando cada etapa de execução


com seus respectivos carregamentos. As solicitações finais resultam da superposição
de todas as etapas.

Anteriormente ao advento do modelo de Pórtico para análise, os esforços normais nos


pilares eram obtidos simplesmente somando-se as reações de apoio de cada um deles
no cálculo do pavimento isolado. Essa metodologia era aplicada tanto para pilares que
nasciam em fundação quanto em vigas de transição. Neste último caso, simplesmente
calculava-se a viga de transição aplicando-se a carga do pilar que nasce.

Para o pilar que nasce na viga de transição este tratamento apresenta-se mais
conservador. Porém, para carregamentos que atuam já com a estrutura executada, o
pórtico elástico é o modelo mais adequado. Assim, no cálculo do pavimento isolado, os
pilares que nascem na fundação podem apresentar solicitações que estariam contra a
segurança.

Na impossibilidade da análise refinada considerando o processo construtivo, a


recomendação é fazer uma envoltória entre os modelos de pórtico e pavimento
isolado.

Para compatibilizar a análise de pórtico com o processo construtivo, uma alternativa


possível é de aplicar um aumento de rigidez artificial na viga de transição. Desta forma,
o deslocamento do pilar que nasce neste elemento diminui, reduzindo a redistribuição
de esforços do pórtico elástico. A seguir temos o exemplo anterior analisado
multiplicando-se a rigidez a flexão da viga por 8.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 92


Diagramas de Momentos fletores (tf.m) - Modelo com transição enrigecida

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 93


Diagramas de Momentos fletores (tf.m) - Viga de transição com viga enrigecida

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 94


Diagramas de Esforço Normal (tf) - Modelo com transição com inércia normal

Diagramas de Esforço Normal (tf) - Modelo com transição enrigecida

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 95


Observamos diferenças significativas no esforço normal nos pilares no nível acima da
transição.

Fazendo-se a análise calculando os pavimentos isolados e aplicando-se a carga na viga


de transição temos os seguintes resultados:

Diagramas de Momentos fletores (tf.m) - Grelha do pavimento

Ocorreram diferenças de esforços nas vigas entre o pórtico modificado e calibragem


através das cargas do pavimento isolado. Esse resultado ocorreu devido à rigidez
amplificada da viga no pórtico alterado. Na realidade o incremento da rigidez tem o
objetivo apenas de simular o processo construtivo impedindo a migração da carga do
pilar de transição. Porém, é inevitável a alteração das condições de contorno na
ligação da viga de transição com os pilares de apoio. Neste caso, o correto é considerar
a rigidez elástica da viga. Assim, podemos afirmar que a análise através do pavimento
isolado apresenta mais consistência, embora momentos significativos ocorram nos
pilares de apoio, indicando a necessidade de uma plastificação.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 96


3.2.4 Consideração do Processo Construtivo: Assimetria

Para estruturas que apresentam assimetria de carregamento e/ou forma, a análise por
Pórtico espacial, através da compatibilização de deslocamentos da estrutura completa,
possibilita a obtenção de esforços e deslocamentos considerando estes efeitos. O
cálculo considerando os pavimentos isolados, conforme já comentado, não equaciona
este problema.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 97


Assim, a dúvida que surge é: Considerando o processo construtivo, qual é a magnitude
dos esforços que ocorrem devido à assimetria?

A seguir temos um exemplo que mostra uma estrutura real que apresenta essa
assimetria de forma. O núcleo rígido encontra-se distante do núcleo central da
estrutura em planta.

Exemplo 3.2.4

Corte Esquemático

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 98


Forma do teto Tipo

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 99


Modelo em Elementos Finitos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 100


MOMENTOS FLETORES (kN.m)
MODELO MODELO NÃO
S/NS Δ%
PILAR SEQUENCIAL SEQUENCIAL
Mx My Mx My Mx My Mx My
P1 28,24 17,46 25,60 18,31 1,10 0,95 10,0 5,0
P2 484,38 -30,12 482,83 -26,81 1,00 1,12 0,0 12,0
P3 -7,67 -44,94 -21,80 -42,71 0,35 1,05 65,0 5,0
P4 288,61 -153,20 294,65 -133,72 0,98 1,15 2,0 15,0
P6 4740,48 -3594,33 4036,32 -3011,48 1,17 1,19 19,0 19,0
P7 -226,83 -118,67 -221,07 -112,73 1,03 1,05 3,0 5,0
P8 -12,63 -1859,42 -13,72 -1758,67 0,92 1,06 8,0 6,0
P9 7,79 -3,29 8,14 -1,92 0,96 1,71 4,0 71,0
P10 0,35 -7,70 0,49 -6,51 0,71 1,18 29,0 19,0
P11 16,25 -16,68 14,81 -15,56 1,10 1,07 10,0 7,0
P12 37,30 -78,30 36,41 -74,50 1,02 1,05 2,0 5,0

Observando os resultados, concluímos que os esforços devido à assimetria ocorrem


mesmo considerando a estrutura sendo executada em etapas. Ou seja,
diferentemente da consideração da rigidez axial dos pilares e das vigas de transição,
neste caso o pórtico espacial elástico mostra-se representativo. Assim, se faz
importante a utilização deste modelo para melhor simulação do mecanismo estrutural
para assimetria, em detrimento a consideração através do Pavimento isolado.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 101


3.3 Estrutura de Contraventamento: do núcleo rígido ao Pórtico Espacial
Integrado

Edifícios solicitados à ações laterais devem apresentar uma estrutura capaz de garantir
a estabilidade e capacidade resistente.

A estabilidade está associada ao equilíbrio da estrutura como um todo frente à


possibilidade de deslocamentos que apresentariam uma sucessão cuja divergência
caracterizaria uma instabilidade. Temos métodos e parâmetros para mensurar e
avaliar o grau de estabilidade da estrutura. Veremos com mais detalhes
posteriormente.

A capacidade resistente refere-se aos esforços oriundos das ações laterais. Assim, a
estrutura deve ser dimensionada para combinações que envolvam estas solicitações.

3.3.1 Elementos de Contraventamento e Contraventados

Nas estruturas de edifícios com ações laterais importantes, o engenheiro projeta a


estrutura de contraventamento definindo quais elementos constituem de fato esta
estrutura, resistindo às ações laterais. Estes elementos são chamados de elementos de
contraventamento. Os demais elementos, no modelo adotado, não apresentam
esforços para ações laterais e estão dimensionados apenas para resistir às ações
verticais. São denominados elementos contraventados.

Desta forma, a definição da estrutura de contraventamento depende


fundamentalmente da escolha destes elementos. O engenheiro deve avaliar as
condições de contorno para esta definição. Ou seja, analisar a rigidez dos elementos e
das ligações, monolitísmo, entre outros. Mostraremos a seguir que esta abordagem é
ultrapassada. Nos dias de hoje temos ferramentas que identificam pelas relações de
rigidezes das peças os esforços devidos às ações laterais, e consequentemente o “nível
de contraventamento” para cada elemento.

3.3.2 Estrutura de Nós Fixos x Nós móveis

Quando submetida às ações laterais e verticais, a estrutura deve ser analisada e


dimensionada na sua configuração deformada. As ações verticais geram esforços
adicionais devidos aos deslocamentos horizontais. Estes esforços são denominados

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 102


esforços de 2ª ordem. Dependendo da composição do carregamento e da rigidez
global da estrutura, estes esforços podem ou não serem significativos.

Considera-se que estes esforços adicionais devem ser considerados quando os


esforços finais (1ª ordem +2ª ordem) ultrapassam em mais de 10% os esforços para a
estrutura analisada na sua configuração indeformada (1ª ordem). Caso contrário,
permite-se desprezar os efeitos de 2ª ordem e efetuar a análise da estrutura na sua
configuração indeformada.

3.3.3 Evolução dos modelos para a Estrutura de Contraventamento

Conforme já comentando existem variações para a estrutura de contraventamento


que dependem do engenheiro estrutural que a concebe, através da definição dos
elementos que compõe este sistema.

Porém, sem os recursos disponíveis atualmente, a escolha do sistema de


contraventamento se limitava à poucas opções. Assim, só era possível definir e
dimensionar sistemas com grandes simplificações. Como o concreto armado é material
elasto-plástico, esses mecanismos simplificados eram adotados assumido-se uma
redistribuição de esforços, de forma que houvesse compatibilidade entre o
funcionamento estrutural real e o modelo adotado. Tem-se a seguir as principais
variações possíveis para as estruturas de contraventamento.

Núcleo Rígido

Trata-se do modelo mais simples adotado para a estrutura de contraventamento.


Adota-se um único elemento vertical somente engastado na fundação. Geralmente
estes núcleos possuem elevada rigidez, composto por uma associação de lâminas
verticais, sendo caixas de escadas e/ou elevadores. Todos os demais elementos são

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 103


contraventados, não apresentando, no modelo, esforços oriundos de cargas
horizontais.

Fica evidente a simplicidade inerente à análise desta estrutura. Trata-se de uma haste
cujas únicas restrições são definidas pelo engaste na base(estrutura isostática).

Associação de Pórticos Planos

Neste modelo os pórticos planos formados por vigas e pilares são definidos
separadamente. Para possibilitar dimensionamento e avaliação adequada da rigidez, é
necessário considerar o funcionamento conjunto entre pórticos. Para transformar este
problema tridimensional em bidimensional associam-se os pórticos planos
introduzindo-se um elemento de ligação. Este elemento deve possuir uma elevada
rigidez axial e uma baixa rigidez à flexão. Desta forma, compatibilizam-se os
deslocamentos em cada nível estrutural, possibilitando uma distribuição de esforços e
obtenção de deslocamentos compatíveis com a estrutura espacial.

Com essa metodologia também é possível associar os núcleos rígidos com os pórticos
planos.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 104


Pórtico Espacial de Vigas e Pilares

O pórtico espacial é uma evolução do pórtico plano. O modelo numérico representa a


estrutura em 3 dimensões, considerando 6 graus de liberdade por nó. Sendo assim, é
possível considerar em um único modelo todas as cargas verticais e horizontais,
obtendo-se os esforços através da compatibilidade de deslocamentos de toda
estrutura reticulada (vigas e pilares).

Pórtico Espacial de vigas e pilares

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 105


A ligação entre vigas e pilares também merece um tratamento especial para as cargas
horizontais. Assim como para as cargas verticais, a consideração da ligação elástica
pode levar a avaliações de rigidez equivocadas. Desta forma, as intervenções para
melhor representatividade das ligações é essencial.

Outro aspecto relevante para a utilização deste modelo refere-se à consideração do


diafragma rígido do pavimento. Os pilares e/ou pórtico são ligados entre si através das
lajes, que compatibilizam os deslocamentos horizontais em cada pavimento.

No modelo de Pórtico espacial de vigas e pilares, a laje não está representada. Para
simular o efeito do diafragma rígido proporcionado pelas lajes, utilizamos alguns
artifícios, introduzindo elementos e alterando determinadas características de outros.
Como exemplos, podemos citar o aumento artificial da rigidez à flexão lateral das vigas
e a introdução de elementos ligando os pilares (isolados), similares àqueles
mencionados na associação de pórticos planos.

Porém, estas intervenções apresentam limitações. Para pavimentos com grandes


aberturas, rebaixos ou relações elevadas entre as dimensões planta, não é possível
compatibilizar as condições de contorno reais adequadamente.

Pórtico Espacial de Pilares, Vigas e Lajes

Este modelo é o mais sofisticado, adequado e preciso para avaliação da estrutura


frente às ações laterais. Com a inclusão da laje no modelo, a análise estrutural é
realizada efetuando-se a compatibilização de deslocamentos entre todos os elementos
estruturais.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 106


O pórtico espacial completo tem modelagem similar ao pórtico de vigas e pilares. A
laje pode ser representada por elementos de superfície (casca ou placa) e barra. O
ideal é que sejam utilizados elementos com os 6 graus de liberdade do pórtico
espacial. Neste caso, utilizam-se elementos de barra de pórtico ou casca.

Porém, com a laje discretizada o número de elementos e nós do modelo aumenta


substancialmente, aumentando proporcionalmente o tempo de processamento do
modelo numérico. É possível considerar os elementos do pavimento com três graus de
liberdade (barra ou placa). Desta forma, adota-se a hipótese de diafragma rígido, com
a compatibilização de deslocamentos horizontais no plano do pavimento. É importante
ressaltar que este modelo apresenta limitações. Os elementos apresentam os graus de
liberdade de translação vertical e duas rotações. Ou seja, os elementos apresentam
apenas esforços cortante e momentos fletores e torçores. Portanto, para adotar este
modelo de análise é importante que a estrutura apresente essencialmente estes
esforços. Estruturas com pavimentos de grandes aberturas, rebaixos, relações
elevadas entre as dimensões planta e pilares inclinados podem não apresentar
resultados satisfatórios.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 107


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 108
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 109
EXEMPLO 3.1.3.1

Este exemplo tem como objetivo avaliar uma estrutura submetida à ações laterais com
características que tornam essencial a adoção do modelo de pórtico completo. Ou
seja, a consideração da laje não deve se limitar à simulação do diafragma rígido. Sua
rigidez à flexão é fundamental para um modelo representativo para estrutura.

Dados principais:

Esquema Vertical

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 110


Forma

Fck=40MPa

Cargas Verticais:

-Sobrecarga Permanente: 250kg/m²

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 111


-Sobrecarga Acidental: 150kg/m²

Vento:

-Velocidade básica: Vo=35m/s

Como a estrutura será analisada no ELU devemos considerar a não-linearidade física,


com a consideração da rigidez dos elementos reduzida. Simplificadamente,
adotaremos um único coeficiente para cada tipo de elemento, conforme permite a
NBR 6118/2007. Os modelos que serão comparados encontram-se definidos abaixo:

Para a consideração dos efeitos de 2ª ordem e avaliação da estabilidade da estrutura


utilizaremos o método ϒz como referência.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 112


Parâmetros e Deslocamentos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 113


Análise dos Resultados:

 Na análise na direção Y, onde o parâmetro de estabilidade global ϒz


ultrapassou muito os limites de aplicação do método Gama z. A diferença de
rigidez da estrutura no estado limite último pode ser constatada observando a
diferença entre os deslocamentos no ELU. No modelo “Sem Lajes” o
deslocamento foi aproximadamente o dobro do obtido no modelo “Com Lajes”.
É importante destacar que com a consideração das lajes permite-se a utilização
do método Gama z.
 Ainda na direção Y, observa-se uma diferença muito significativa para o
deslocamento no topo no ELS, muito maior do que a diferença no
deslocamento no ELU. Tal fato ocorre devido à consideração da inércia bruta
das lajes no ELS e de apenas 30% da inércia bruta no ELU.
 A importância da consideração da rigidez à flexão das lajes na análise é notória.
O projeto desta estrutura apenas é possível com o modelo de pórtico
completo. Sem a consideração da laje, não seria possível validar a estabilidade
global da estrutura e os resultados da análise seriam equivocados.
 Observar que a direção X não apresentou diferenças muito significativas como
na direção Y. Isso ocorre devido a pouca rigidez das ligações da laje com os
pilares internos nesta direção, principalmente quando consideramos a elevada
rigidez dos pórticos de vigas e pilares formados no núcleo central da estrutura
nesta direção.

Distribuição de esforços nos elementos

Além dos parâmetros globais obtidos e deslocamentos, a consideração da laje em uma


estrutura com a tipologia do exemplo tende a apresentar uma distribuição de esforços
diferente de quando não incluímos a laje no modelo.

Analisaremos um pilar, uma viga e um maciço de laje para averiguar ás diferenças.

 PILAR

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 114


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 115
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 116
 VIGA

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 117


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 118
MODELO SEM LAJES

MODELO COM LAJES

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 119


MODELO SEM LAJES

MODELO COM LAJES

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 120


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 121
 LAJE

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 122


Momentos fletores (tf.m) e Armadura detalhada-MODELO SEM LAJES

Momentos fletores (tf.m) e Armadura detalhada-MODELO COM LAJES

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 123


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 124
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 125
3.4 Análise Dinâmica: Diferença entre Modelos e suas implicações

Um dos aspectos mais marcantes em relação ao modelo estrutural considerando as


lajes discretizadas no pórtico é a análise dinâmica. Para representação da massa e
rigidez correta dos elementos fica evidente a melhor representatividade do modelo
completo.

Tomamos como referência o modelo do exemplo do item 3.3 .

Frequência Natural e Configuração do 1º modo de vibração- SEM LAJES

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 126


Frequência Natural e Configuração do 1º modo de vibração- COM LAJES

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 127


O modo de vibração do modelo com lajes foi mostrado em planta apenas para melhor
visualização do modo torcional correspondente.

Podemos observar que os modos são completamente diferentes. Com a consideração


das lajes, o modo mostra-se compatível com uma excitação torcional, enquanto sem as
lajes o modo fundamental tem configuração associada a deslocamentos transversais.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 128


4 Análise de Pavimentos
Protendidos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 129


4.1) Introdução

A protensão é artifício de vasta aplicação nas estruturas de concreto.

A protensão introduz tensões de compressão no plano do pavimento através das


ancoragens e forças verticais devidas aos desvios dos cabos, preferencialmente com
sentidos opostos aos carregamentos gravitacionais. Apresentamos a seguir alguns dos
principais benefícios relativos à aplicação da protensão:

a) Eliminação ou limitação da fissuração no concreto: O concreto possui baixa


resistência à tensões de tração, sendo próxima a 10% da sua resistência a
compressão. Desta forma, sendo este limite de resistência a tração
ultrapassado, a peça fissura. Com a protensão, temos a introdução de
solicitações axiais de compressão e cargas verticais opostas às ações
gravitacionais que eliminam ou limitam as tensões de tração no concreto,
sendo esse efeito análogo com relação à fissuração. Desta forma a peça
apresenta maior rigidez sendo menos suscetível às ações de agentes
agressivos.
b) Aplicação de contra-flecha: Com a introdução de um carregamento oposto às
ações gravitacionais, temos como resultado a introdução de uma deformada na
estrutura oposta àquela causada pelo carregamento à ser combatido.
c) Prova de carga na estrutura: Com aplicação da protensão o aço e o concreto
são submetidos a tensões em geral superiores àquelas que a estrutura será
submetida durante a sua vida útil.
d) Aplicação de aços com elevadas resistências: Como o aço é pré-tensionado
antes de reagir na estrutura de concreto, é possível aplicar uma deformação
compatível com uma elevada resistência, inviável se este mesmo aço fosse
passivo, devido às elevadas deformações que iriam ocorrer na estrutura.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 130


No caso de estruturas de edifícios moldadas in loco, o tipo de protensão
adotada é a pós-tração. As armaduras são posicionadas formando geralmente
traçado parabólico. Após o concreto atingir determinado nível de resistência, as
cordoalhas são puxadas. Ao serem liberadas, transferem ao concreto as forças
de protensão através das ancoragens.

Na pós-tração podemos ter a protensão com aderência posterior ou sem


aderência. Na protensão com aderência posterior, as bainhas que
acompanham o traçado dos cabos são injetadas com nata de cimento, que
garante a aderência com o concreto. Na protensão sem aderência, mesmo após
a protensão, a bainha permanece sem aderência com o concreto. A ligação
entre a armadura e o concreto se faz unicamente através das ancoragens.

4.2) Protensão: Conjunto de Cargas Equivalentes

A estrutura de concreto de um edifício apresenta elementos ligados


monoliticamente que formam uma estrutura tridimensional e contínua. É
praticamente inviável idealizar um modelo matemático com uma
representatividade precisa para tais características físicas e geométricas
(tratamento a partir do “infinitesimal”, resultando nas equações diferenciais
que governam os parâmentros).
Diante deste panorama, procura-se representar a estrutura com
elementos discretos que possuam características com maior compatibilidade
possível com suas condições de contorno geométricas e mecânicas. Desta
forma, temos uma representatividade satisfatória para a etapa de análise do
projeto.
De forma análoga, os carregamentos são sempre grandezas contínuas.
Tem-se aqueles representativos da própria estrutura, distribuídos
continuamente no domínio do volume dos elementos. E aqueles que provêm
da interação de outros elementos com a estrutura, que produzem
carregamento contínuo de superfície. Porém, para compatibilizar com as
características do modelo numérico da estrutura, esses carregamentos podem
ser discretizados e simplificados para carregamentos linearmente distribuídos e
carregamentos concentrados (cargas pontuais), aplicados em elementos
lineares e em nós, respectivamente.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 131


Dentro do contexto apresentado, procura-se contextualizar a protensão,
descrevendo as características reais das ações introduzidas na estrutura e os
níveis de simplificações possíveis para a formulação dos Modelos Matemáticos
para a estrutura.

4.2.1) Cargas Equivalentes

 Ações Axiais de compressão

Quando os cabos tensionados se ancoram na estrutura, as ancoragens, em

geral localizadas nas extremidades dos elementos, aplicam forças axiais no concreto.

Tais forças axiais são exercidas pelos elementos de ancoragem e são distribuídas na

sua área de contato com o concreto. Desta forma, o maciço de concreto contínuo fica

submetido às tensões de compressão, distribuídas na projeção da ancoragem

imediatamente na superfície de contato. À medida que se afasta das ancoragens as

tensões se espraiam e são distribuídas em áreas maiores do maciço. Este

espraiamento ocorre espacialmente de forma simétrica em relação à área da

ancoragem, com mecanismo análogo a um bloco parcialmente carregado (Figuras 4.1

e 4.2). Em geral, mas principalmente nas lajes protendidas com monocordoalhas, as

dimensões das ancoragens são muito reduzidas em relação às dimensões da laje,

sendo perfeitamente aplicável a representação das forças axiais através de uma carga

concentrada por cordoalha, ou até por cabo (conjunto de cordoalhas).

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 132


Figura 4.1- Tensões de compressão provenientes da introdução de forças nas
ancoragens

Figura 4.2- Força das ancoragens: mecanismo de bloco parcialmente carregado

Tratando-se de um elemento essencialmente bidimensional, como uma laje,

cuja espessura é muito inferior às outras duas dimensões, é possível tratar o

espraiamento somente nas duas direções do plano da laje.

 Cargas verticais de desvios dos cabos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 133


Os cabos são posicionados na estrutura formando configurações

geométricas curvas. No momento da protensão, quando o concreto já apresentam

uma resistência suficiente, ocorre a tendência de retificação dos cabos, que é

impedida pela massa de concreto. Uma ação vertical ao longo dos cabos passa a

atuar na estrutura de concreto. A intensidade destas cargas é proporcional à força

aplicada nos cabos e à curvatura do traçado. Análogo ao que ocorre nas ancoragens,

a ação dos cabos no maciço de concreto caracteriza-se por uma carga vertical de

superfície, que é introduzida na laje exatamente na projeção dos cabos, espraiando-se

a partir do cabo até a superfície oposta da placa (Figura 4.3).

Figura 4.3 - Cargas equivalentes dos cabos protendidos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 134


Essa ação é análoga, por exemplo, às cargas das alvenarias que se apoiam

em uma laje. A ressalva nesta comparação é que a protensão representa uma

ação indireta e auto-equilibrada enquanto as alvenarias são ações (permanetes)

diretas.

4.2.1.1) Elementos Unifilares, Unidirecionais e Bidirecionais

 Elementos unifilares: A geometria e as condições de contorno destes


elementos caracterizam um elemento linear. No caso de elementos fletidos,
podemos citar as vigas. O tratamento da protensão nestes elementos, para
efeito de obtenção das cargas equivalentes, tem equacionamento simples,
devido à simplicidade das condições de contorno. A análise de tensões,
obtenção dos esforços hiperestáticos para dimensionamento no ELU e análise
de deformações são equacionados de forma direta. Essa simplicidade ocorre
devido à configuração linear da carga vertical equivalente da protensão, para
qual é possível estabelecer uma relação direta com o carregamento externo
(linear) coerente com a geometria da peça.

 Elementos bidirecionais: Se enquadram neste grupo lajes que apresentam


geometria e condições de contorno de uma placa com deformações que
resultam em curvaturas nas infinitas direções contidas no plano médio da
placa. Duas direções são tomadas como referência para análise e
dimensionamento, nas quais, em geral, são distribuídos os cabos de
protensão. Os cabos são normalmente distribuídos em uma direção e
concentrados na outra. Essa premissa tem como propósito aliar os aspectos
executivos, evitando interferências, à um melhor aproveitamento das
excentricidades dos cabos.

Independente da disposição dos cabos, o equacionamento do mecanismo

das lajes bidirecionais não é trivial como nos elementos anteriormente descritos.
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 135
Para a escolha do modelo de cálculo, a identificação das ações impostas pelo

conjunto cabos-ancoragens é essencial, de forma que as hipóteses assumidas

apresentem a melhor compatibilidade possível com geometria tridimensional e

demais condições de contorno da estrutura.

Conforme já descrito em 4.2.1, a protensão atua na estrutura com as cargas

axiais nas ancoragens e cargas verticais ao longo dos cabos relacionadas com os

desvios e impedimento de retificação dos mesmos. Como as forças verticais

aplicadas pela protensão ocorrem na projeção dos cabos, no caso das lajes

usuais nas quais os cabos distribuídos em uma direção e concentrados na outra,

as forças verticais dos cabos concentrados não atuam necessariamente na

mesma projeção das cargas que devem ser equilibradas, que estão distribuídas

pelo pavimento. Assim, não existe uma relação direta entre as cargas atuantes

(distribuídas) e as cargas equivalentes da protensão(concentradas). É comum

assumir nos modelos os cabos concentrados como sendo distribuídos em uma

faixa analisada. Desta forma, tem-se a analogia estabelecida entre carga

equivalente da protensão e as cargas verticais, possibilitando a utilização de um

modelo unifilar. A seguir serão mostrados os modelos para os quais são adotadas

essa simplicação, comparando-se com uma análise mais refinada aonde os cabos

são considerados efetivamente concentrados.

4.3) Métodos de análise: Pórticos Equivalentes e Elementos finitos

Assim como em estruturas de concreto armado, é possível adotar no

procedimento de análise de Lajes Protendidas modelos mais simplificados ou

modelos mais refinados e sofisticados.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 136


Figura 4.4 - Modelo Refinado e Modelo Simplificado

4.3.1) Pórtico Equivalente (MPE)

Resumidamente, o método dos pórticos equivalentes consiste em:

 Dividir a estrutura em vários pórticos planos equivalentes, definidos

pelos alinhamentos dos pilares (suport lines), nas duas direções. Cada pórtico se

compõe de uma linha de pilares (ou apoios) e uma faixa de laje (tributaries), limitada

lateralmente pelas linhas que unem os pontos médios dos painéis de lajes adjacentes

à linha de apoio ou por uma face externa de laje;

 Para cálculo dos esforços devidos às cargas verticais, os pórticos

podem ser considerados isoladamente para cada piso, com os pilares superiores e

inferiores engastados nas extremidades. Na modelagem do pórtico equivalente, as

rigidezes dos pilares são modificadas para considerar o funcionamento bidirecional

conforme a figura 4.9;

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 137


 A protensão é considerada como um carregamento externo equivalente

e o pré-dimensionamento é realizado com base no conceito da carga balanceada;

 Permite-se aumentar a rigidez na região dos pilares em função da

existência de capitéis, engrossamento de laje e até mesmo pela própria existência do

pilar. O ACI 318 leva em consideração o fato de existir uma grande diferença de

largura entre a “laje-viga” e o pilar no cálculo do pórtico equivalente. Essa

consideração é feita atribuindo uma rigidez à torção no encontro do pilar com a “laje-

viga”. A partir da rigidez do elemento de torção e da rigidez do pilar calcula-se uma

rigidez equivalente.

Figura 4.5- Linhas de apoio das faixas

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 138


Figura 4.6- Definição das faixas de laje do pórtico equivalente-

Figura 4.7- Divisão das seções das faixas

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 139


Figura 4.8- Divisão das seções das faixas

Figura 4.9- Consideração do elemento torcional para a correção da rigidez dos


pilares

4.3.2) Método dos Elementos Finitos (MEF)

Utilizam-se elementos finitos de casca ou barra para as lajes e barras para

vigas. Definem-se traçados de cabos para diferentes faixas e o carregamento externo.

Assim, um software com uma rotina apropriada define as combinações de cálculo e

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 140


efetua a análise matricial da estrutura, obtendo esforços e deslocamentos,

considerando as ações da protensão (cargas equivalentes) e o carregamento externo.

Para cada faixa definida, obtemos os esforços totais em diferentes seções integrando

os esforços obtidos ao longo da largura da seção.

O MEF considera a estrutura funcionando integrada e considera a influência

dos cabos na análise estrutural, cuja presença com características distintas nas

diferentes faixas, tais como quantidade, espaçamento e traçado, resultam em

respostas associadas a cada condição definida.

A aplicação do MEF pode ser realizada com base em conceitos diversos. Em

relação ao elemento para discretização da laje pode-se utilizar elementos de barra

(analogia de grelha) ou placa (MEF “clássico”). Também é possível mencionar outro

aspecto, pouco abordado na literatura técnica: tratamentos de regiões da laje, de

acordo com sua projeção comparada às projeções dos cabos. Neste contexto, temos

dois tipos de abordagens para o método:

a) MEF-TRIBUTÁRIA CABOS (MEF-TC)

Aplicação através da analogia com o mecanismo caracterizado anteriormente

para a ação da protensão na estrutura, representada por um conjunto de cargas

equivalentes análogas às demais ações diretas que também atuam na estrutura

(salvas as peculiaridades especifícas):

 Considera-se a configuração de espraiamento efetiva dos esforços normais

introduzidos pelas ancoragens;

 As forças verticais equivalentes dos cabos são consideradas nas suas

respectivas projeções;

 Análise matricial considerando as condições de contorno relativas à

protensão conforme descrito e aplicando os carregamentos externos;

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 141


 Dimensionamento da laje por região de acordo com a configuração de

esforços e de acordo com a presença ou não dos cabos protendidos;

Para as lajes ou direções com cabos distribuídos, não existe distinção entre

regiões, e todas são tratadas como regiões protendidas com o esforço normal

correspondente. É possível adotar uma discretização para contemplar diferenças de

configurações de esforços.

Para as direções com cabos concentrados, o método invariavelmente apresenta

três regiões da laje distintas com relação aos efeitos da protensão:

 Regiões submetidas diretamente às cargas equivalentes verticais e aos

esforços de compressão (REGIÃO A);

 Regiões submetidas diretamente somente aos esforços normais (REGIÃO

B);

 Regiões sem efeito direto da protensão na direção analisada (REGIÃO C);

Figura 4.10- Exemplo de divisões de regiões e respectivos tratamentos na


análise com MEF Tributária Cabo
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 142
Na figura acima, a região A apresenta cargas equivalentes verticais dos cabos

e esforços normais.

Na região B, a protensão atua somente introduzindo esforços normais.

Na região C, não temos esforço normal de compressão na direção dos cabos,

tendo inclusive tração na direção transversal.

b) MEF-TRIBUTÁRIA TOTAL (MEF-TT)

 Semelhante ao MEF-TRIBUTÁRIA CABO, efetua-se a análise matricial da

estrutura, considerando-se as cargas externas e cargas equivalentes de

protensão.

 A diferença essencial se verifica na discretização para

dimensionamento das regiões. Mesmo para os cabos concentrados, a

obtenção da faixa /seção a ser considerada é análoga àquela obtida no

pórtico equivalente. A diferença está na sua limitação. Ao invés da linha

média entre suport lines (simplificadas), a divisão se faz pelas linhas de

cortantes nulos. Os esforços para cada verificação são obtidos através

da integração dos esforços obtidos dos alinhamentos que compõe toda

a seção da faixa.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 143


Figura 4.11- Exemplo de Definição de uma faixa para cabos concentrados para o

MEF-Tributária Total

4.4) Exemplos

Apresentamos a seguir exemplos de pavimentos protendidos, com estruturas

de tipologias distintas, analisadas por diferentes modelos. São apresentados os

resultados e comentários.

Antes de apresentar os exemplos, serão especificadas a seguir as principais

telas de resultados da ferramenta utilizada para análise, com a legenda dos dados e

resultados das telas.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 144


Figura 4.12- Dados dos cabos – Desenvolvimento e elevação dos Traçados

Figura 4.13- Diagramas de Momentos Fletores dos Alinhamentos (barras) dentro


de uma faixa considerada

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 145


Figura 4.14- Momentos Fletores dos Alinhamentos da Figura 4.13

Figura 4.15- Demonstrativo de dados e resultado das tensões para uma faixa

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 146


COMBINAÇÕES PARA A OBTENÇÃO DOS MOMENTOS:

 CTNM (Cargas Totais Não-Majoradas) /HIPER (Hiperestáticos de Protensão)

COMBINAÇÃO PARA VERIFICAÇÃO DE TENSÕES:

 Combinação Frequente

4.4.1) Estrutura 1

Conforme mostrado a seguir, a estrutura 1 possui sistema estrutural em laje

lisa apoiada diretamente nos pilares, cuja disposição apresenta-se regular e simétrica.

Outra característica importante a ser ressaltada é a baixa rigidez a flexão dos pilares,

facilitando a analogia com sistemas estruturais clássicos.

Figura 4.16 - Forma da Estrutura 1

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 147


-Sobrecarga Acidental = 300 kg/m²;

- Sobrecarga Permanente = 200 kg/m²;

- Pé-direito Estrutural = 3,00m;

Figura 4.13- Estrutura 1 - Distribuição dos cabos real

 Análise pelo MPE

Figura 4.14 – Estrutura 1-: Distribuição dos cabos idealizada para análise pelo
MPE

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 148


Conforme já mencionado, para a formação do pórtico equivalente, assume-se a

distribuição uniforme para os cabos, inclusive para as faixas concentradas. Ou seja,

temos pórticos independentes cujo elemento no plano do pavimento é representado

por vigas da largura da faixa e altura da laje:

Faixa analisada

Para considerar o funcionamento bidirecional, assume-se uma altura maior

para os pilares, obtida simulando rigidezes de membros de torção ortogonais às faixas

analisadas conforme já mencionado. Não será abordado o cálculo deste comprimento.

O valor obtido para este exemplo é Leq=5,50m.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 149


A análise será realizada para a direção vertical na faixa central conforme as

ilustrações anteriores já especificam.

Figura 4.15 - Momentos Fletores (tf.m/m)- CTNM- Estrutura 1- MPE

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 150


Figura 4.16 -Tensões Combinação Frequente- Estrutura 1- MPE

Figura 4.17 - Momentos Hiperestáticos (tf.m)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 151


 Análise pelo MEF –TRIBUTÁRIA TOTAL

Faixa para uniformização de esforços

Distribuição dos cabos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 152


Figura 4.18-Momentos Fletores CTNM- Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA TOTAL

Figura 4.19 - Momentos Hiperestáticos - Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA TOTAL.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 153


Figura 4.20 - Momentos Hiperestáticos nos alinhamentos da faixa analisada -
Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA TOTAL.

Figura 4.21 - Tensões-Combinação Frequente- Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA


TOTAL.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 154


 Análise pelo MEF TRIBUTÁRIA CABO

Conforme já descrito na definição do método e no texto teórico anterior, esse

método apresenta a simulação mais precisa para o mecanismo de uma laje

protendida, com tratamento mais refinado do comportamento por região em uma

direção. Considera-se a carga vertical dos cabos na laje apenas em uma faixa próxima

à projeção dos cabos. O esforço normal é obtido em cada seção, conforme seu

espraiamento a partir da sua introdução nas extremidades.

Desta forma, pode-se constatar que a diferença fundamental para o MEF

TRIBUTÁRIA TOTAL seria o tratamento da protensão. Assim como a carga

equivalente, a parcela isostática do momento de protensão se aplica à uma área

diferente. Serão feitas comparações após o exemplo.

Figura 4.22 -Distribuição de Esforços Normais(tf) no pavimento

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 155


Figura 4.23 –Momentos Fletores - Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA CABO

Figura 4.24 -Momentos Hiperestáticos- Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA


CABO

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 156


Figura 4.25 - Tensões-Combinação Frequente- Estrutura 1- MEF TRIBUTÁRIA
CABO

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 157


Barra X

Região A

Região B

Figura 4.26 - Esforços e Armaduras por barra de grelha

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 158


Escolhemos uma barra “x” conforme figura para mostrar o significado de cada termo:

Figura 4.27 - Esforços e Armaduras- Homogeneização das faixas

No caso das seções da região A, os momentos fletores mostrados são

correspondentes ao dimensionamento considerando a protensão, com a obtenção da

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 159


armadura passiva para atendimento ao ELU, conforme já abordado. Seria um

momento equivalente caso não houvesse protensão.

A região B apresenta-se submetida à uma flexo-compressão. Os esforços

normais são obtidos da distribuição dos normais de protensão no pavimento. O

momento mostrado representa o momento de dimensionamento (Md) dividido por ϒf

=1,4. O valor de Md é obtido da combinação dos momentos devidos à cargas

permanentes e variáveis diretas e indiretas, inclusive o hiperestático de protensão,

com seus respectivos ponderadores favoráveis e desfavoráveis. Os momentos fletores

resultam das combinações dos esforços de carga vertical e hiperestáticos, com a

devida consideração quando são favoráveis e desfavoráveis.

Pretende-se demonstrar a dificuldade de uma comparação entre os

parâmetros dos métodos MEF TRIBUTÁRIA TOTAL(MEF-TT) e MEF TRIBUTÁRIA

CABO (MEF-TC), há uma diferença conceitual relevante.

Fundamentalmente, pode-se afirmar que no MEF TRIBUTÁRIA TOTAL ocorre

uma homogeneização de seções muito maior do que o método MEF TRIBUTÁRIA

CABO. Inclusive para faixas com cabos concentrados (com projeção de distribuição

muito menor do que a largura da faixa), supõe-se toda a seção da faixa definida está

submetida às ações da protensão como se esta fosse distribuída uniformemente na

faixa.

Na figura abaixo, na seção assinalada, no MEF-TT( e Pórtico Equivalente) parte-se do

princípio que os pontos A e B fazem parte d uma única seção transversal, com

parâmetros idênticos tais quais: esforços e tensões devido a protensão e carga

vertical, armadura passiva etc... Pelo MEF-TC, é possível tratar essa seção mais

discretizada, obtendo parâmetros distintos conforme a delimitação dos trechos. Assim,

certamente os pontos A e B terão os parâmetros já citados com valores distintos.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 160


 Comparação MPE x MEF TRIBUTÁRIA TOTAL

Esta comparação é coerente. Escolhemos determinadas grandezas mais

características para a comparação conforme tabela abaixo.

Tabela comparativa- Estrutura 1

Tensão-Fibra Tensão-Fibra
Mk apoio Mk vão Mhip- Apoio Inferior- Superior-
(tf.m) (tf.m) (tf.m) Vão(kg/cm²) Apoio(kg/cm²)
MPE -70,2 45,75 11,1 17 25
MEF -81 51,17 10,41 27 47

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 161


* Valores de momentos obtidos multiplicando-se o momento médio total pela largura
da faixa, o que equivale a soma dos valores dos alinhamentos na seção.

Observa-se que os esforços para carga vertical e hiperestático obtidos

apresentam-se com pequena disparidade entre os métodos, em torno de 10%. Este

valor é perfeitamente aceitável e representa uma boa coerência entre os métodos

MEF-TT e MPE para esta estrutura. Porém, esta pequena diferença percentual entre

os momentos fletores para a combinação frequente de ações gera uma diferença

percentual maior entre as tensões, mesmo com características idênticas para a

protensão.

Conclui-se que temos uma boa razoável compatibilidade entre os dois métodos

para esta estrutura.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 162


4.4.2) Estrutura 2

Figura 4.27 – Forma- Estrutura 2 (cotas em cm):

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 163


 Método MPE

Figura 4.28 - Momentos Fletores- Carga Vertical Total- Estrutura 2- MPE

Figura 4.29 - Momentos Hiperestáticos- Estrutura 2- MPE

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 164


Figura 4.30 – Tensões - Combinação Frequente - Estrutura 2- MPE

 Método MEF TRIBUTÁRIA TOTAL

Figura 4.31 - Momentos Fletores – Carga vertical total- Estrutura 2- MEF


TRIBUTÁRIA TOTAL

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 165


Figura 4.32 - Momentos Hiperestáticos - Estrutura 2- MEF TRIBUTÁRIA TOTAL

Figura 4.33 - Tensões -Combinação Frequente- Estrutura 2- MEF TRIBUTÁRIA


TOTAL

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 166


 Método MEF TRIBUTÁRIA CABO

Figura 4.34 – Regiões dividas para dimensionamento com MEF- TRIBUTÁRIA


CABO

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 167


Figura 4.35 -Momentos Fletores – Carga Vertical Total- Estrutura 2- MEF
TRIBUTÁRIA CABO

Figura 4.36 -Momentos Hiperestáticos - Estrutura 2- MEF TRIBUTÁRIA CABO

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 168


Figura 4.37 - Tensões-Combinação Frequente- Estrutura 2- MEF TRIBUTÁRIA
CABO

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 169


Figura 4.38 - Resultados do MEF TRIBUTÁRIA CABO –Estrutura 2

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 170


Tabela comparativa- Estrutura 2

Observamos neste caso discrepâncias significativas em praticamente todas as

grandezas. Essa diferença decorre da diferença de engastamento na extremidade da

faixa.

Apenas uma parcela da laje junto ao pilar extremo apresenta sua rotação

compatível com a restrição representada pelo pilar (na direção de maior inércia deste).

Desta forma, quando utilizamos o MEF, apenas as barras da grelha próximas ao pilar

apresentam um impedimento à rotação. A maioria das barras, que se encontram

afastadas do pilar, apresentam rotação praticamente liberada. A figura abaixo mostra a

deformada das barras da faixa central em vista lateral:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 171


Figura 4.39 -Vista lateral deformada das barras da faixa lateral

O MPE sintetiza toda a largura da faixa em um único elemento unifilar. Ou

seja, considera que existe compatibilidade de rotação ao longo de toda a

largura da faixa com o pilar, fato que não ocorre.

Observar que, com o engastamento excessivo do MPE foi possível obter

um traçado de cabos que não atendeu aos limites de tensões do MEF-TT. No

MEF-TC o atendimento aos limites de tensões não seja estritamente

necessário (especialmente junto ao apoio) em função da discretização, que

pode se associar como pouco normal(espraiado) e concentrações de esforços

para cargas verticais. De qualquer forma, com traçado estabelecido, foram

obtidas tensões muito acima dos limites (Figura 4.37). Um aumento no número

de cabo minimizaria essas tensões de tração e geraria um estado de

deformação mais favorável, sendo que este último pode ser muitas vezes uma

necessidade.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 172


4.4.3) Estrutura 3

A forma a seguir representa a Estrutura 3. Trata-se de um caso sem uma

distribuição regular de pilares nas duas direções. Serão comparados resultados

entre os diferentes métodos, abordando situações notáveis, que representarão

um excelente condicionante para a avaliação da tratativa de cada um dos

métodos.

Figura 4.40 - Forma da Estrutura 3

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 173


Figura 4.41 - Distribuição de cabos e faixas na Vertical da Estrutura 3

Focaremos a análise no ponto indicado. Observamos que este ponto encontra-

se entre duas faixas. Sabe-se que em uma estrutura contínua e monolítica todos os

pontos devem atender à compatibilidade de tensões, que devem estar representadas

por um campo contínuo (tal qual se verificam para as deformações).

Algumas conclusões já são intuitivas e constam na literatura técnica,

especialmente sobre a análise por pórtico equivalente para uma estrutura com uma

distribuição conforme esta. A seguir mostraremos a análise pelo métodos

apresentados para aferir os resultados.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 174


 Método do Pórtico Equivalente (MPE)

Figura 4.42 - Tensões Faixa Central

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 175


Figura 4.43 - Tensões Faixa Lateral

Observar que as tensões, que deveriam ser compatíveis, apresentam

diferenças significativas, inclusive com inversão de sinais.

Mostramos os dois pórticos lado a lado com os diagramas de momento

fletor para casos de carregamentos diversos, cujo valor também deveria ser

compatível no ponto:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 176


Figura 4.44 - Diagramas de Momento Fletor-CTNM

Na análise através das tensões (que incluem a protensão) e esforços

para carga vertical, torna-se evidente a descontinuidade no ponto analisado

quando para a obtenção destes parâmetros utiliza-se o pórtico interno ou

externo.
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 177
Desta forma, a análise que se adequa conceitualmente com a condição

verificada é o MEF-TC.

A seguir são mostrados os diagramas de esforços para a região de

análise.

 Método dos Elementos Finitos (MEF TRIBUTÁRIA CABO)

Figura 4.45 - Diagrama de Momentos- CTNM

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 178


Figura 4.46 - Diagrama de Momentos Hiperestáticos

Figura 4.47 - Diagrama de Esforços Normais

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 179


O ponto analisado encontra-se na região B já definida anteriormente. Desta

forma, encontra-se submetida à uma flexo-compressão, definida pelos esforços

mostrados acima. Como todos os esforços apresentam compatibilidade, pode-se

afirmar que as tensões são contínuas, dentro do contexto de uma estrutura

discretizada.

4.4.4) Estrutura 4

Seja a estrutura 4 inicialmente em concreto armado:

Figura 4.48 – Planta de Forma

No contexto da análise e dimensionamento das vigas, dada a simetria, fica


evidente que os esforços são idênticos para todas elas:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 180


Figura 4.49 – Momentos Fletores (tf.m)

Observou-se que as lajes apresentam deformações excessivas e que seria

necessário utilizar protensão. Porém, como a estrutura tinha vizinhos nas fachadas

laterais, foi decidido pelo projetista que a protensão seria aplicada somente na direção

vertical.

Porém ficaram as seguintes questões relativas ao projeto:

 Como ficam os esforços na laje? Como avaliar as tensões e esforços


para dimensionamento?
 Os esforços nas vigas continuam iguais? Em caso negativo, como
estimar esses valores para dimensionamento?

Somente é possível responder à essas perguntas efetuando a análise da lajes

através do método dos elementos Finitos. Ou seja, introduzem-se os cabos

distribuídos na laje com suas respectivas cargas equivalentes verticais. Desta forma

as respostas resultarão de condições de contorno com analogia ao mecanismo real.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 181


O seguinte traçado de cabos foi adotado para satisfazer a flecha final

total(L/250=4cm):

Figura 4.50 - Distribuição dos Cabos


As defor mações finais da estrutur a i nclui ndo fluência e a protens ão são apres entadas a s eguir:

Figura 4.51 – Deformação total (com Protensão e Fluência)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 182


A alteração na distribuição de esforços nas vigas e na laje é definida pelos

esforços hiperestáticos de protensão. São esforços adicionais que surgem em

estruturas hiperestáticas provenientes das restrições ao livre deslocamento dos

elementos.

Neste caso, intuitivamente, fica claro que a laje passará apresentar curvaturas

maiores na direção vertical, aumentando os esforços nas lajes nesta direção e das

vigas que as apoiam (V1 e V2). Consequentemente, a outra direção apresenta uma

diminuição dos esforços nas lajes e também nas vigas V3 e V4.

Figura 4.52 – Momentos nas barras de laje nas duas direções-CTNM (cargas
Verticais)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 183


Figura 4.53 – Momentos nas barras de laje nas duas direções-Combinação das
ações gravitacionais com os hiperestáticos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 184


Figura 4.54 – Momentos Hiperestáticos nas vigas

Figura 4.55 - Momentos nas vigas - Combinação das ações gravitacionais com
os hiperestáticos

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 185


Ou seja, confirmamos a previsão com relação às alterações no funcionamento da

estrutura, inclusive com a obtenção dos esforços.

Claramente a obtenção deste mecanismo não é

possível através de um método simplificado.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 186


5 TÓPICOS ESPECIAIS

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 187


5.1 Plastificação: Visão Geral e Abordagem nos softwares

5.1.1 Plastificação: Conceituação

Uma estrutura hiperestática representada por um modelo matemático apresenta sua


análise definida pela compatibilidade de deslocamentos. Assim temos esforços e
deslocamentos que irão depender, dentre outros, das rigidezes dos elementos.
Adotam-se valores para o módulo de elasticidade do material e inércia da seção
definida. Essa análise é chamada de Análise Elástica.

Porém, o concreto armado é material com características fundamentalmente elasto-


plásticas. A estrutura apresenta uma grande capacidade para redistribuição de
esforços. Essa redistribuição pode ser potencializada pelos fenômenos relacionados ao
funcionamento da estrutura. É o caso da fissuração junto aos apoios, que reduz a
rigidez nestas regiões.

Neste caso, o engenheiro pode até dimensionar a estrutura pela análise elástica.
Porém, os esforços no funcionamento real não ocorrem proporcionalmente às
armaduras detalhadas. Como estas são dimensionadas no ELU, é possível fazer desta
forma sem nenhum prejuízo para a estrutura, enquanto as diferenças nos esforços
estiverem cobertas por coeficientes de majoração.

Porém, o engenheiro pode dimensionar a viga considerando uma redistribuição de


esforços conforme mencionado, com redução dos momentos negativos e aumento dos
momentos positivos.

Neste caso particular, a tendência da fissuração direciona essa redistribuição.


Entretanto, temos outros fatores que direcionam para esse procedimento de projeto:

 Amenizar as interferências com armaduras de outros elementos. Trata-se de


uma região que normalmente apresenta grande concentração de armaduras;
 Dimensionamento em geral mais econômico;

5.1.2 Plastificação: Limites

Embora uma estrutura de concreto apresente uma boa capacidade de redistribuição


de esforços, esta deve ser feita de forma criteriosa. É necessário estabelecer limites

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 188


para as plastificações. Estes limites estão associados à capacidade de adaptação
plástica na estrutura.

No caso específico de elementos fletidos, devemos verificar a capacidade de rotação


plástica da seção. Esta capacidade está associada à ductilidade da seção medida no
ELU. Quanto maior ductilidade na ruptura, maior a capacidade redistribuição de
esforços. Ou seja, quanto menor o valor de (x/d) maior é a redistribuição aplicável.

É muito comum identificar em projetos, inclusive de escritórios renomados, valores de


plastificação muito superiores aos limites preconizados pelas normas e as estruturas
tem desempenho satisfatório comprovado.

Deve ser enfatizado que a capacidade de rotação plástica é feita na ruptura. Como a
configuração de esforços e resistências em serviço apresenta-se substancialmente
mais favorável, é possível que a estrutura permaneça integra. Porém, é comum
identificar patologias decorrentes de plastificações exageradas.

5.1.3 Plastificação: Abordagem nos Softwares

Em uma estrutura analisada por um modelo simples e com baixo grau de


hiperestaticidade, a plastificação pode ser realizada de forma direta. Por exemplo,
podemos simplesmente reduzir o momento elástico calculado na proporção desejada
e obtendo novos esforços e deslocamentos para a estrutura.
ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 189
Em um sistema computacional, cuja análise em geral é realizada através do Método da
rigidez, temos duas alternativas:

a) Alterar a rigidez referente ao grau de liberdade que se deseja plastificar no


encontro de dois elementos.
b) Inserir elementos de conexão nas seções que sofrerão plastificação.

O caso “a)” é geralmente aplicável às ligações entre vigas e pilares.

O caso “b)” é muito utilizado para plastificação de lajes, contínuas apoiadas em vigas
ou diretamente em pilares.

Em ambos os casos não é possível considerar uma relação direta para a obtenção de
um nível de plastificação definido. A seguir temos um exemplo com aplicação da
alteração da rigidez dos elementos no nó de ligação:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 190


Exemplo 5.4.3

Dimensões:

Viga: 25cm x40cm

Pilar: 20cm x 20cm

Vão entre pilares : 600cm

Pé-direito Estrutural: 300cm

Diagrama de Momentos Fletores: Análise Elástica

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 191


Diagrama de Momentos Fletores: Análise Plástica- 100% de plastificação

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 192


Diagrama de Momentos Fletores: Análise Plástica- Plastificação Parcial

Observamos que o valor de rigidez a flexão assumido para as vigas proporciona um


dado o nível de plastificação.

Buscando uma plastificação de 25%, encontramos a seguinte configuração para o


diagrama de momentos fletores:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 193


Diagrama de Momentos Fletores: Análise Plástica- Plastificação de 25%

Observando o diagrama, de fato confirmamos o nível de plastificação desejado, pois


9,73~0,75 x 13,7.

A viga contínua análoga á essa estrutura é mostrada a seguir:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 194


ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 195
5.2 Consideração da Não-Linearidade física e geométrica em pórticos
espaciais: simplificada X Refinada

5.2.1 Não linearidade física

Já foi abordado no curso o comportamento não linear do concreto armado. Uma


particularidade complexa e polêmica associada a este assunto é a consideração da NLF
nas análises de pórtico espacial para ELU.

Temos duas vertentes associadas à verificação no ELU:

a) Consideração da rigidez dos elementos para a definição da rigidez às ações


laterais;
b) Distribuição de esforços para dimensionamento;

A consideração da NLF pode ser feita basicamente de duas formas:

5.2.1.1) Não linearidade física Aproximada

Atribuem-se valores verificados em estudos para a média das rigidezes para cada tipo
de elemento, quando submetidos às combinações que envolvem ações gravitacionais
e laterais. A NBR 6118/2007 prescreve valores aproximados.:

Quando a estrutura de contraventamento é composta apenas por vigas e pilares,


permite-se a utilização dos seguintes valores:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 196


Ou seja, no caso do modelo de pórtico formado somente por vigas e pilares, temos
duas opções para a consideração das rigidezes. A opção deve ser feita pelo engenheiro
e a decisão deve ser baseada na observação das ligações e rigidezes de vigas e pilares,
associando-se qual configuração de rigidezes fica mais compatível.

5.2.1.2) Não linearidade física Refinada

Sabe-se que a rigidez à flexão de um dado elemento é associada à tangente do gráfico


Momento x Curvatura. Quando a relação entre os Momentos e a Curvatura é linear,
podemos associar uma única rigidez associada:

𝑀
𝐸𝐼 =
𝜌

Porém, como para o concreto armado esta relação não é linear. É necessário construir
os gráficos Momentos x Curvaturas para cada seção, considerando as armaduras,
fissuração no concreto e esforço normal. Através das relações constitutivas dos
materiais, variam-se os níveis de deformação utilizando as deformadas de ruptura.
Fixa-se o esforço normal (Nd) e obtêm-se os momentos (Md) para cada deformada
para a seção atender às equações de equilíbrio.

Sendo assim, não adotam-se os valores aproximados para as rigidezes, mas sim valores
obtidos desta forma, com tratamento refinado.

Destacamos que para este tratamento da NLF, faz-se necessária a consideração das
armaduras, cuja variação tem influência direta nos resultados.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 197


5.2.1.3) Variação da rigidez e distribuição de esforços

Conforme é comentado anteriormente, a consideração da rigidez dos elementos pode


refletir em uma distribuição de esforço que pode apresentar diferenças significativas.
Desta forma, a questão que surge é:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 198


Qual modelo adotar para o dimensionamento do meu Pórtico Espacial?

Primeiramente é importante ressaltar a complexidade de um mecanismo estrutural de


um edifício no ELU. Intuitivamente, poderíamos afirmar que a consideração da NLF de
forma refinada representa o modelo mais representativo. Porém, devemos buscar
soluções com os modelos aproximados.

A princípio temos dois caminhos:

a) Consideram-se as rigidezes com inércia bruta para a obtenção de esforços e


levamos ao ELU através dos coeficientes de majoração nas combinações. Com a
ponderação das resistências dos materiais, dimensionamos os elementos;

b) Atribuem-se aos elementos as rigidezes aproximadas preconizadas;

Porém, é possível observar diferenças razoáveis na análise estrutural para cada uma
destas considerações. A rigidez relativa entre pilar e viga apresenta grande variação
entre as considerações.

Exemplo 5.2.1.3

Carregamento na viga: 5tf/m

Escolhemos este exemplo simples para comparar a distribuição de esforços


considerando as duas possibilidades para a rigidez aproximada e com a consideração
da NLF de forma refinada.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 199


Diagramas de Momentos- 0,8EI(pilares) e 04EI (Vigas)

Diagramas de Momentos- 0,7EI(pilares e Vigas)

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 200


Observamos diferenças entre os diagramas. Lembrando que o cálculo com o
coeficiente comum aos elementos (0,7EI) apresenta esforços idênticos ao cálculo como
inércia bruta.

É importante ressaltar que ocorre apenas uma redistribuição de esforços de um


modelo para o outro. A compatibilidade de esforços com o carregamento total é
perfeita para ambas as situações.

5.2.1.4) Não linearidade física: Refinada x Aproximada

Esta questão está relacionada a alguns fatores.

 Seguindo os padrões, a análise mais refinada tende a ser um modelo mais


representativo para a estrutura. Porém, sua análise apresenta-se
extremamente peculiar e complexa, repercutindo em todos os processos de
projeto.
 O tempo de processamento para consideração da NLF é consideravelmente
maior, mesmo que já seja viável atualmente.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 201


 Os resultados mostram que a rigidez dos elementos varia dentro de um
intervalo que não reflete em diferenças significativas na distribuição de
esforços em relação ao modelo simplificado.
 Hoje temos em praticamente todos os sistemas computacionais a consideração
do pórtico completo e integrado, com a consideração da laje. Este modelo
matemático possui uma quantidade de nós e elementos que cresce
assustadoramente(mais especificamente a matriz de rigidez) quando
comparado com o pórtico de vigas e pilares. Sendo assim, hoje ainda não é
viável considerar o pórtico completo com a não-linearidade física refinada.
Neste caso, é muito provável que a utilização do pórtico completo com NLF
aproximada seja um modelo muito mais consistente do que o pórtico de vigas e
pilares com NLF refinada.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 202


5.2.2 Não linearidade geométrica

A não linearidade geométrica também pode ser tratada de forma refinada e


aproximada. Neste caso por razões didáticas, iniciaremos pela NLG refinada.

5.2.2.1) Não linearidade geométrica Refinada

Neste caso consideram-se os sucessivos deslocamentos da estrutura causados pelos


efeitos de 2ª ordem até a situação de equilíbrio da estrutura.

O principal método utilizado é denominado P- delta. A seguir temos ilustrações que


demonstram os procedimentos adotados pelos métodos.

Interações

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 203


Cargas Verticais(Pi) e Horizontais fictícias(Hi)

Para cada interação calculam-se os deslocamentos. Estabelece-se uma tolerância entre


deslocamentos de interações sucessivas para determinação da configuração final da
estrutura. Caso os deslocamentos são sejam convergentes, a estrutura analisada
configura-se como sendo instável.

5.2.2.1) Não linearidade geométrica Aproximada

Entre os métodos aproximados destaca-se o método ϒz . Sua formulação é elaborada


considerando que as razões entre as diferenças de momentos (ΔM) em cada interação
é constante. Desta forma o momento final pode ser escrito em função de uma
progressão geométrica infinita de razão r<1 (convergente):

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 204


Propositalmente colocamos M1 em evidência, pois este pode ser obtido em uma
análise linear:

Ou seja, conforme antecipado, tem-se uma soma de uma P.G de razão r que relaciona
o momento final com o momento de 1ª ordem.

Utilizando-se a fórmula da soma da P.G com r<1 obtemos:

Assim designamos ϒz o fator de proporcionalidade entre M e M1 obtido:

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 205


Este método apresenta características que contribuíram para consagrá-lo como o
principal método de análise dos efeitos de 2ª ordem globais e estabilidade global:

 Indica se a estrutura apresenta nós fixos ou móveis;


 Quantifica os esforços de 2ª ordem, obtendo os esforços finais;
 Sua aplicação necessita apenas uma análise de 1ª ordem (equilíbrio na
situação deformada);

Além da aproximação adotada, temos outra diferença em relação ao método P-delta.


Os esforços na análise estrutural obtidos no método P-Delta já representam os
esforços finais. No método ϒz os esforços da análise estrutural devem ser
multiplicados por este coeficiente para obtenção dos esforços que incluem os esforços
de 2ª ordem.

Devido às aproximações do método, são estabelecidos limites para a aplicação. O valor


máximo para o qual o método é aplicável é ϒz<1,30.

Observamos em centenas de edifícios na prática uma convergência extremamente


satisfatória na obtenção dos esforços finais, confirmando a eficiência e confiabilidade
do método ϒz.

5.3 Efeitos locais de 2ª ordem em pilares: Novas Possibilidades

Para a obtenção dos efeitos de 2ª ordem em pilares, normalmente tomamos as


condições de contorno de restrição considerando as rotações perfeitamente liberadas
ou restritas.

Porém, sabe-se que no mecanismo de ELU da estrutura estas condições não


representam a realidade. As restrições à rotação nas extremidades dos pilares são
compatíveis com a rigidez dos elementos que concorrem no nó. Assim, os efeitos de 2ª
ordem e comprovação da estabilidade dos pilares dependem substancialmente destas
condições.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 206


(Efeitos locais)

Para análise dos efeitos de 2ª ordem em pilares, o Método Geral é o único que
possibilita a consideração das condições de contorno conforme descrito. E neste
método a NLF e NLG são tratadas de forma refinada.

Sendo assim, como os lances de pilares serão analisados dentro do contexto global,
toda a estrutura deve ser tratada da mesma forma. Ou seja, é necessário o utilizar o
pórtico NLF e NLG (Pórtico NLFG).

Sabe-se que na prática a utilização do pórtico NLFG não é usual. Porém, essa
ferramenta possui larga aplicação para análise de diversos casos particulares. Por
exemplo, analisar um pilar engastado na base e livre no topo. Por mais que seja
possível utilizar uma correção de esbeltez e utilizar o modelo clássico bi-articulado, a
análise através do Pórtico NLFG possibilita equacionar essas condições de contorno
com muito mais precisão.

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 207


Seja um pilar que apresenta condições de contorno particulares. Neste caso, tem-se
um pilar engastado na base e articulado no topo. Para aplicação do método Geral, as
restrições indicam pilares bi-articulados . Para a consideração desta situação, o pórtico
NLFG representa uma excelente alternativa.

No caso mostrado a seguir, apenas ilustrado, o pilar não passa quando verificado como
bi-articulado, mesmo corrigindo o comprimento de flambagem para compatibilizar
com o pilar rotulado e engastado (0,7Le)

Elevação do Pilar engastado na base e rotulado no topo

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 208


BI-ARTICULADO COM L corrigido

a) b)

Momentos fletores considerando os efeitos de 2ª ordem locais

ABECE - Curso de Modelagem de Edifícios- Engº Mauricio Sgarbi Página 209

Você também pode gostar