Terceira Civilização - Edição 622 - 01/06/2020 - pág.
14-22 - Capa
Terceira Civilização - Capa
Transforme tudo a seu favor
Neste mês de junho, nós o convidamos a uma
jornada de descobertas e de desafios. Juntos,
nessa viagem, atravessaremos vales de emoções
desconhecidas e montanhas de imprevistos.
Entretanto, podemos lhe assegurar que os
aprendizados que teremos e o rumo que
tomaremos valem a pena. Então, acomode-se
em seu assento e se prepare. Vamos dar a
partida agora.
Felizmente, você se sentou do lado da
janela. Infelizmente, chove muito lá fora. A
água escorre pelo vidro sem parar, e você
não consegue ver nada além de borrões.
Daí se pergunta, com impaciência, até
quando essa tempestade duraria.
Da mesma forma, podemos dizer que
vivemos uma “tempestade emocional” em
meio ao cenário de incertezas que se
estende pelo mundo desde o início do ano
de 2020.
Os problemas “normais” do dia a dia já
eram desafiadores. O que dizer, então, dos
problemas atuais? Eles dizem respeito a
tantas pessoas e áreas da vida que não
conseguimos nem sequer pensar em
como podemos ajudar. Ou quando
conseguimos, sentimos que nossos
esforços não são suficientes. Diante de
tamanho sofrimento, a reação mais
automática é se afastar dessas emoções
ou correr o risco de perder o controle
sobre elas. É aí que aparecem, de um lado,
a negação, e, do outro, os picos de
depressão ou de ansiedade. Porém, não
estamos aqui para julgar esses
comportamentos. Afinal, são reações
humanas. O que faz diferença é a forma
com a qual lidamos com tudo isso.
Vale das emoções desconhecidas
Voltamos à viagem. O som insistente da
chuva batendo na janela o incomoda. Você
decide então assistir a uma palestra pelo
celular. Coloca os fones de ouvido — que
abafam os sons de fora — e ouve as
palavras da psicóloga e pesquisadora
Renee Lertzman.1 O tema “Como Lidar
com a Ansiedade Causada por Problemas
Muito Maiores do que Nós” parece
interessante. Durante a palestra, ela
explica três conceitos:
1. “Janela da tolerância”:2 termo cunhado
pelo Dr. Daniel Siegel3 e presente no
livro Mindsight.4 Ele explica que cada
pessoa possui limites de “altos” e “baixos”
emocionais saudáveis. Ou seja, se nossas
emoções se alteram até esse limite,
conseguimos voltar ao normal de forma
natural, sem ajuda externa — é o que
chamamos de “resiliência”. Porém, se algo
muito impactante acontece, “saímos do
eixo”, ou seja, nosso “alto” (ansiedade,
pânico, hiperatividade etc.) ou nosso
“baixo” (depressão, exaustão, desconexão
etc.) ultrapassam esses limites e fica mais
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difícil retornar sozinhos ao normal. É o que
comumente chamamos de “perder o
controle”.
2. “Duplo vínculo”: refere-se a situações em
que nos encontramos sem saída por
estarmos em meio a dois sentimentos
opostos e conflitantes. Por exemplo, no
cenário atual, muitas pessoas se sentem
impotentes diante dos acontecimentos, ao
mesmo tempo em que se sentem
culpadas por não conseguir agir.
Dependendo da tendência básica da
pessoa, ela pode extrapolar os limites da
“janela da tolerância” ou começar a negar o
que sente e o que acontece, jogando suas
emoções “para baixo do tapete” — o que
tampouco é saudável.
3. “Sintonia”: esse terceiro conceito é uma
saída para os dois primeiros itens.
Significa entrar em contato com os
próprios sentimentos e emoções,
reconhecê-los como legítimos — ou seja,
ver que, diante da realidade atual, eles
fazem sentido — e compartilhá-los com
alguém que possa, a princípio, entendê-los
e aceitá-los também, por mais difíceis e
complexos que sejam. Assim, juntos,
podem achar uma saída para lidar não só
com as questões internas, mas com as
questões externas, e, a partir disso, agir de
forma positiva.
A Dra. Lertzman relaciona esses conceitos
com a sua própria experiência: há trinta
anos, quando cursava a faculdade, entrou
em contato com o tema “sustentabilidade”.
Ao estudá-lo, ficou extremamente
impactada pelo dano que a humanidade
estava causando ao planeta. Isso a deixou
ansiosa e aterrorizada (ela ultrapassou o
limite de sua “janela da tolerância”), e as
pessoas ao seu redor pareciam não se
importar. Isso a fez se sentir incapaz de
fazer qualquer coisa apesar da gravidade
da situação (um “duplo vínculo”) e chegou
a pensar em parar com seus estudos.
Porém, em vez disso, ela resolveu se
inscrever em um estudo de campo no qual
fez um mochilão durante dois meses junto
com um grupo pequeno de pessoas.
Nessa experiência, a então jovem Renee
Lertzman conversou muito com essas
pessoas, inclusive sobre os seus
sentimentos — entrando naturalmente no
processo de “sintonia”. Um fato que lhe
chamou a atenção foi que, em nenhum
momento, ninguém lhe disse que sua
reação fora negativa demais, ou que ela
deveria se sentir diferente. Ela relata:5
Surpreendentemente percebi que estava
me sentindo melhor. Na verdade, sentia
que, naquele momento, conseguia encarar
aquelas questões que antes pareciam
intransponíveis. E tive essa epifania: será
que, por meio da compreensão de nós
mesmos e uns dos outros, podemos
encontrar uma saída para essa crise?
Esse foi o início dos estudos e da carreira
da Dra. Lertzman em psicologia. Um de
seus grandes focos a partir de então foi
compreender como se manter “no eixo”
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mesmo diante de acontecimentos
extremamente dolorosos. Com o tempo,
ela expandiu sua atuação para entrevistas,
palestras e livros.
Assim, pouco a pouco, a Dra. Lertzman
conseguiu concretizar o objetivo de sua
juventude: agir em prol do planeta. Ela
passou a fazer isso pela conscientização
das pessoas. Esse exemplo é de fato
inspirador e mostra que é possível
encontrarmos caminhos até em questões
maiores do que nós; e que a chave é a
conscientização de cada pessoa.
O vídeo acabou. Mesmo com os fones de
ouvido você volta a ouvir a chuva do outro
lado da janela. Agora, prestando mais
atenção, consegue ver um pouco da
paisagem. Mas não é o suficiente. Ainda
reflexivo, você suspira e se questiona
como poderia aplicar o que aprendeu em
sua própria realidade.
Montanhas de imprevistos
Agora as nuvens estão menos espessas e
você vê um sol tímido despontar por meio
delas, banhando a paisagem com uma luz
dourada. A beleza dessa imagem o faz
sorrir. Um gesto sutil, mas ainda assim um
sorriso.
Repentinamente, seu corpo é jogado para
a frente e você quase cai do banco. Você
se segura onde consegue e, com o
coração acelerado, se pergunta o que
aconteceu.
Todos os passageiros são informados que
houve uma falha repentina e que a viagem
seria interrompida até que o problema
fosse resolvido. Você suspira de desgosto.
Quando as coisas pareciam melhorar um
pouquinho, vem essa notícia…
Esse “baque súbito” também se relaciona
com o que estamos vivendo atualmente.
Fomos, repentinamente, “jogados” em uma
situação com a qual não sabemos lidar,
sem previsão de término, e com grandes
consequências daqui em diante. O que
fazer? Veremos a resposta para esta
pergunta na segunda parte da nossa
viagem.
Depois de um tempo remoendo a questão,
e sem paciência para buscar mais coisas
na internet, você se lembra de que trouxe
um livro. Então, retira o volume 7, do
romance Nova Revolução Humana6 da
mochila e começa a retomar a leitura de
onde havia parado: o início do capítulo
“Leme”.
Por coincidência, o trecho relata
justamente o episódio no qual novecentos
membros da Soka Gakkai dos Distritos
Niigata e Uetsuo, no Japão, durante uma
viagem de retorno para casa, enfrentaram
dias de grande aflição: o trem em que
estavam parou em meio a uma intensa
nevasca, transformando uma viagem de
poucas horas em uma jornada de mais de
quatro dias e meio de espera, tensão, frio e
fome. Diante dessa grande “montanha de
imprevistos”, os responsáveis por vagão
agiram prontamente, a fim de:
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- Solicitar abrigo e comida para os
membros. No fim, só conseguiram duas
refeições numa cidade em que o trem
estava estacionado.
- Animar os membros a recitar gongyo, a
realizar o estudo do budismo e, depois de
horas sem comida, a entoar canções e a
promover reuniões de palestra.
- Ligar para os integrantes da Soka Gakkai
de Nagaoka, a cidade vizinha,
pedindo-lhes que levassem comida. A
solicitação foi prontamente acatada e
todos que puderam se mobilizaram para
preparar refeições para novecentas
pessoas.
- Contatar os familiares e os locais de
trabalho dos passageiros, tanto por
telefone como por meio da ajuda dos
companheiros que haviam permanecido
na cidade.
- Lidar com problemas como o
esgotamento do combustível do trem, que
afetou a calefação; o entupimento de
banheiros; o fim de suprimentos básicos
como papel higiênico e fraldas para os
bebês. Diante desses impasses, jovens
presentes nos vagões agiram
prontamente, solucionando a situação em
poucas horas com ajuda e suprimento dos
colegas da cidade vizinha.
- Organizar a movimentação para que as
novecentas pessoas tomassem banho e
dormissem na casa de companheiros de
Nagaoka, no dia anterior à partida.
O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
[com o pseudônimo de Shin’ichi
Yamamoto na obra], relata:
Com esse esforço e dedicação dos
companheiros nos bastidores, mesmo os
não praticantes saíram de casa no meio da
madrugada para receber calorosamente
os familiares que estavam retornando da
longa e exaustiva viagem. Além disso,
quando souberam da assistência que seus
familiares receberam dos membros de
Nagaoka, muitos mudaram o conceito que
tinham da Soka Gakkai e outros chegaram
a aceitar espontaneamente a prática do
budismo. Por meio dessa adversidade
provocada pela nevasca, as famílias se
uniram na prática da fé, fortalecendo
também a harmonia entre todos os
membros de Niigata.
(…)
Diante dessa situação, o que chamou a
atenção foi a disciplina dos membros da
Gakkai que mantiveram um
comportamento exemplar até o fim. Isso
foi uma demonstração da força da união
entre as pessoas que se devotam à prática
do Budismo de Nichiren Daishonin. (NRH, v.
7, p. 205, 206)
Essa grande vitória foi possível porque os
envolvidos puseram em prática, no
momento de maior necessidade, o que
aprenderam com o Budismo de Nichiren
Daishonin e dentro da Soka Gakkai. Assim
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eles não só superaram o grande obstáculo,
como propiciaram uma grande
transformação no coração dos todos e de
seus familiares, além de construírem uma
imagem bastante positiva da organização
perante os funcionários das estações e
demais profissionais que acompanharam o
caso.
Processando essas informações, aos
poucos você relaciona esses pontos com o
vídeo da Dra. Lertzman:
- Os membros de Niigata conseguiram
lidar com uma situação extrema — que
certamente os levaria a extrapolar a “janela
da tolerância” — porque, em vez de se
perderem em pensamentos negativos ou
emoções extremas como o medo, eles
constantemente eram envolvidos em
atividades que os levavam a direcionar
seus pensamentos de forma positiva, da
prática do gongyo às canções e reuniões
de palestra (p. 198).
- Devido ao treinamento e à experiência
que adquiriram com a participação nas
atividades da Soka Gakkai, os jovens e
líderes organizaram a divisão e o
deslocamento de novecentas pessoas
para a casa dos membros de Nagaoka
com espantosa rapidez. Essa ocorrência,
que poderia gerar dilemas e até cair em
situações de “duplo vínculo” — como ter
de escolher entre abrigar parte dos
passageiros e outros continuarem no trem,
ou a tarefa de deslocar essa grande
quantidade de pessoas da estação até as
casas sem gerar confusão —, foi
facilmente resolvida, surpreendendo até
os funcionários da estação na qual o trem
estava parado (p. 201).
- Ao terem a oportunidade de se
expressarem durante as reuniões de
palestra organizadas em cada vagão (p.
198-199), os envolvidos foram capazes de
realizar o que a Dra. Lertzman chamou de
“sintonia”, ou seja, entrar em contato com
os próprios sentimentos e emoções,
reconhecê-los, compartilhá-los com
pessoas que os entenderiam e agir a partir
disso.
Esses três itens — a prática do budismo, a
participação em atividades e o contato
com pessoas acolhedoras — são possíveis
de identificar e de aplicar no dia a dia. São
inclusive passos que você já teve contato
ao participar de atividades da BSGI,
presenciais ou virtuais. Você se sente mais
tranquilo ao pensar que, além de lhe
fazerem bem na hora em que os está
vivendo ou realizando, podem ser de
fundamental importância para transformar
até a pior situação em uma oportunidade
de vitória, aprendizado e desenvolvimento.
Entretido pelas descobertas, você percebe
que sua viagem já havia sido retomada, e a
chuva, atenuada, permitindo-lhe ver a linda
vista. Então, respira aliviado, com a
esperança de que tudo melhoraria dali
para a frente. E que não só aproveitaria o
destino, mas também cada parte da
viagem, por mais desafiadora que fosse.
Reflexão sobre a viagem
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A situação relatada no capítulo “Leme” do
volume 7, da Nova Revolução Humana,
assim como a história de “sua viagem” em
meio à tempestade, por vales e
montanhas, relaciona-se diretamente ao
cenário atual do mundo. A instabilidade de
todas as áreas da sociedade — da saúde
ao trabalho, da sociedade à economia etc.
— está representada pela tempestade, que
parece não acabar. Nesse caminho,
enfrentamos diversos “vales de emoções
desconhecidas” e “montanhas de
imprevistos” que nos assustam e nos
fazem questionar diversos aspectos da
vida. Por outro lado, temos à mão uma
estratégia de sucesso, já comprovada e
que, se realizada de forma correta e
completa, pode não só nos direcionar para
o melhor caminho, como nos ajudar a
tornar esse momento um ponto de virada
positivo em nossa vida.
A prática do Budismo de Nichiren
Daishonin, assim como ensinada pelo
Mestre, Daisaku Ikeda, faz ainda mais
sentido nessa época porque nos mostra
que somos capazes de vencer dos mais
profundos “vales de emoções
desconhecidas” às maiores “cordilheiras de
imprevistos”, e ainda por cima fazer dessa
viagem uma época de grandes
transformações e de vitórias na vida.
Dessa forma, quando estiver diante de
emoções desconhecidas e felicidade — não só sua, mas de todos ao
desconcertantes ou quando se vir preso
em um impasse:
- Perceba e busque entender o que você
está sentindo.
- Seja muito sincero consigo mesmo ao
considerar a necessidade de ajuda de
algum amigo ou profissional.
- Permita-se refletir sobre o que você já
aprendeu, o que já viveu, e verificar o que
pode ser utilizado nesse momento —
especialmente relacionado à prática, ao
estudo do budismo, às orientações do
presidente Ikeda e às experiências dentro
da organização. Essas vivências, sejam elas
recentes ou antigas, podem ser de grande
valia.
O segredo é conscientizar-se de cada
passo, empoderando-se a partir da oração
determinada de “Eu vou vencer hoje
também!”. A ação derivada desse
sentimento, com base nos aprendizados e
nas experiências de vida, lhe permitirá
superar o obstáculo que estiver à sua
frente. Com isso, você será capaz de lidar
positivamente com as mais variadas
situações. Afinal, tendo como
“companheiros de viagem” os membros da
BSGI, especialmente os mais próximos, do
seu bloco e da sua comunidade, e como
“guia” o mestre da vida, Dr. Daisaku
Ikeda, até as emoções mais profundas e os
imprevistos mais aterrorizantes poderão
ser transformados a seu favor, em prol da
seu redor.
1. RENEE LERTZMAN. Disponível em: https://reneelertzman.com/about/. Acesso em: 4
maio 2020.
2. ATTCH. Understanding and Working with the Window of Tolerance [Entender e
Trabalhar com a Janela da Tolerância]. Disponível em:
https://www.attachment-and-trauma-treatment-centre-for-healing.com/blogs/understanding-and-working-with-the-wind
Acesso em: 30 abr. 2020.
Susie Regina Ferreira do Nascimento (713180-1) / pág. 6.
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3. DR. DAN SIEGEL. Disponível em: https://www.drdansiegel.com/about/biography/.

Acesso em: 4 maio 2020.

4. SIEGEL, Daniel. Mindsight. Disponível em: https:

//www.google.com/books/edition/_/wSEA_qHzbH0C?hl=en&gbpv=1. Acesso em: 4

maio 2020.

5. TED. How to Turn Climate Anxiety into Action [Como Transformar Ansiedade Climática

em Ação]. Disponível em:

https://www.ted.com/talks/renee_lertzman_how_to_turn_climate_anxiety_into_action/footnotes.

Acesso em: 29 abr. 2020.

6. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 7, p. 191,

2018.

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