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Capítulo 1° -

O vento bate no gramado alto dos campos montanhosos da pequena vila élfica de Nimoro,
fazendo-a balançar em sincronia como uma dança da natureza, junto ao cantar dos pássaros
sobre as arvores.
— Fique calmo Totoro! — diz uma voz fraca de uma elfa anciã de cabelos brancos enquanto
com toda sua força segurar uma corda.
Por conta de sua idade, a pequena senhora é puxada para fora do estabulo de sua fazenda por um
javali negro gigante três vezes maior do que o normal com quatro presas em sua boca, que parte
em desespero em direção a montanha, deixando no chão a pequena Anciã do qual tentou o
segurar.
A corrida do javali faz com que o chão ao seu redor tremesse com seu peso, assustando os
pássaros que voam para longe.
— Essa não, Totoro está indo para o centro! — exclama a anciã em tom de preocupação,
levantando-se do chão com suas vestes sujas de terra.
Receosa ela nem mesmo consegue imaginar a confusão que Totoro vai fazer se chegar no centro
da vila, mas antes mesmo de tomar alguma iniciativa, ela sente algo passando ao seu lado em
alta velocidade.
O vento que acompanha tal vulto veloz é forte, bagunçando os cabelos presos da idosa elfa, que
arrega-la seus olhos em surpresa.
— M...mas o que foi isso? está indo na direção do Totoro?!
O javali negro sobe as montanhas sem parar, levando tudo que estiver a sua frente para os ares
com suas presas, sem ao menos perceber uma presença se aproximando pelo lado direito.
Seja o que for tal presença é tão rápida quanto o javali, assim quando finalmente ambos chegam
ao topo da montanha, com apenas a descida distanciando o animal da cidade, o vulto salta a
frente dele.
Revelando longos cabelos dourados que balançam em pleno ar, por fim em um piscar de olhos
um grunhido ecoa pela montanha.
Alguns segundos depois da pequena senhora ouvir tal som, ela vai dificuldades subir a
montanha, para ver com seus olhos algo inacreditável.
O gigantesco Javali assustador, está agora caído sobre o chão, enquanto balança as pernas sendo
afagado em sua barriga por uma pequena garota de orelhas pontudas, dos quais seus cabelos
refletem a luz do sol.
— Oh meu deus! — diz a Anciã de forma ofegante, concluindo — então é você Zahara.
A pequena garota vira seu olhar para a senhora, mostrando seus intensos olhos profundos com a
cor do mar, no entanto não é somente seus cabelos que chamam atenção, mas sim um par de
chifres esverdeados que formam uma espécie de coroa em sua cabeça.
— Você está bem senhorita Nona? — questiona Zahara, com uma voz calma e doce.
— Estou sim. — Ela sorri, ajeitando sua postura ainda com falta de ar — Para falar a verdade,
somente minhas costas doem, não sou mais como antes, nem mesmo tenho forças para segurar o
Totoro mais.
Zahara inclina seu olhar para o javali novamente, o acariciando lentamente, — Ele estava com
medo...
— Algo no celeiro deve tê-lo assustado deve ser por isso saiu correndo então — comenta nona,
se aproximando da garotinha — você realmente se dá bem com os animais, não é?
— Acho que é porque consigo saber o que sentem — Zahara estende seus joelhos se levantando
com breve sorriso.
— Oras, se não fosse por esse pequeno dom do qual os Pilares lhe deram, não teria parado
Totoro a tempo! — Ela se aproxima da garotinha, ajeitando seus cabelos — Obrigado por me
ajudar.
Ela sorri corando seu rosto, vendo a anciã se aproximar do javali segurando na corda de sua
coleira outra vez.
— Muito bem Totoro, vamos para casa agora. — Ela torna seu olhar novamente para a garota —
Apareça na minha fazenda sempre que quiser, você é bem-vinda!
Zahara acena com sua cabeça em concordância enquanto a Nona desce o bosque com seu
animal de estimação de volta para sua fazenda de forma lenta.
Por fim, com um sentimento de missão cumprida, parte em direção ao centro, caminhando
balançando os braços de forma alegre, com os pássaros voltando a cantar.
Ao entrar finalmente percebe todo o movimento ao seu redor, sendo um lugar pacato cheio de
casas e comércios feitos de madeira e palha, a estrada é de pedras colocadas e alinhadas
perfeitamente pelo arquiteto da vila.
E no coração de Nimoro está a praça dos pilares guardiões da magia e dos elfos, uma fonte com
água corrente e monumentos talhados a mão de símbolos ligados a tais entidades divinas.
Suas histórias são contadas a cada criança pelos anciões em dias festivos ou teatros locais por
conta disso muitos vão a essa praça ao amanhecer agradecendo os pilares pela proteção dada a
vila.
Zahara não seria diferente, demonstrando todo respeito dado as lendas dos quais ouviu enquanto
caminha sendo cumprimentada pelos aldeões com sorrisos estampados em seus rostos.
Mesmo tendo orelhas igualmente pontudas, ela é a única com chifres a fazendo se destacar em
meio a multidão, sendo assim conhecida por todos.
— Bom dia Zahara! Já tomou café da manhã? — questiona o velho Hudyr, dono da padaria
local — pode vir comer aqui!
— Ainda não, mas não estou com fome! — responde Zahara, sorridente enquanto continua sua
caminhada.
— Estarei esperando, hoho!
Hudyr todas as manhãs convida as crianças da vila para comer seus doces quentes pela manhã,
desde que abriu sua padaria nem sequer um dia fechou as portas.
— Ora! Se não é a pequena Zahara! — exclama uma bela mulher de cabelos brancos, que se
curva frente a ela — você está suja, deixe-me limpá-la.
— Bom dia senhorita Razhel — responde enquanto sente seu rosto sendo esfregado com um
pano pela mulher.
— Você e os pequenos gostam mesmo de brincar nos campos não? — Razhel sorri, se afastando
alguns passos para trás, erguendo um balde de água com os braços — deixe-me lavar suas
roupas, andar suja por aí não é bom.
— Não quero incomodar...
— Que isso! não está incomodando, afinal tenho que lavar as roupas dos meus pequenos
também, apareça quando quiser.
— Okay! Vou sim, muito obrigado senhorita.
Razhel é uma bela dama que cuida de seus três filhos enquanto seu marido trabalha nos campos,
mesmo tendo tanto trabalho, ela nunca reclamou, muito menos tirou o sorriso de seu rosto.
Zahara continua seu caminho, até por fim encontrar outro rosto conhecido, soque dessa vez de
sua idade, na saída da grande praça dos pilares.
— Woaf, o que está fazendo aqui ein? — pergunta de forma irritada o pequeno garotinho,
cruzando os braços, enquanto tenta imitar a pose de um cavaleiro.
— Bom dia Koko! Está de guarda novamente?
— Isso não é de sua conta! — exclama Koko, mostrando a língua.
Zahara gargalha levando a mão até sua boca, fazendo com que Koko mostrasse uma expressão
de raiva.
— Está rindo de mim?! Pois fique sabendo um dia eu serei o melhor cavaleiro de todo o mundo
como um da o Serpico foi! Guarde minhas palavras!
— Não estou rindo disso — Zahara o encara nos olhos — Eu realmente acredito que vai
conseguir.
Serpico de maneira repentina cora, desviando seu olhar enquanto coça seu queixo, tentando
trocar de assunto, — Errr... arrr... ah verdade! Falando no Serpico, ele está querendo falar com
você.
— Falar comigo? — questiona Zahara, tombando a cabeça para o lado.
— Sim, sim... sério me pergunto como ele consegue gostar de você! Não consigo entender.
— Então..., sabe onde ele está?
— Está no templo, não é obvio?! Agora saia daqui, está atrapalhando meu trabalho.
— Até logo Koko! — Ela acena para seu amigo, correndo a encontro de Serpico.
Zahara e Koko se conhecem desde pequenos, como todas as crianças da vila aprenderam juntas
os conhecimentos que Serpico o líder de Nimoro em suas reuniões, tendo o grande sonho de um
dia se tornar cavaleiro do Reino de Luryh.
Ao se distanciar do centro da vila, finalmente chega a um templo rodeado de portões vermelhos
junto a uma escada coberta por musgo que leva a área principal.
O aroma do ambiente lembra menta, assim enquanto Zahara sobe as escadas passo a passo,
sente o frescor e uma estranha calma em seu peito, quase como se sentisse que estava sendo
abraçada. Sendo esse um sentimento comum a todos que se aproximassem do templo.
Ao subir todos os degraus, ela se depara em sua frente com um homem de cabelos loiros e olhos
fechados, com vestes verdes enquanto ajoelhado frente a um imenso sino com as mãos
entrelaçadas.
Ela tenta ao máximo não atrapalhar, caminhando com as pontas dos pés se aproximando
lentamente do homem, mas para sua surpresa, a voz do homem ecoa pelo local.
— Que bom que veio Zahara, por favor venha, vamos rezar — diz Serpico, com sua voz calma
e fluente como a correnteza de um rio.
Mesmo impressiona, ela se aproxima se ajoelhando ao seu lado, entrelaçando os dedos em
forma de prece.
— Sabe... sempre me pergunto... você acredita nos grandes pilares?
— Acredito.
— E como eles são para você?
— Divindades dos quais nos protegem e cuidam de todo o reino, seres dos quais não podem ser
vistos nem mesmo tocados por nós, algo belo é assim que eu os imagino.
Serpico vira sua cabeça em direção a ela, gargalhando por alguns segundos.
— Eu disse algo de errado? — questiona Zahara, tombando sua cabeça.
— Não, apenas percebi que aprendeu tudo no literal o que eu ensinei a vocês — Serpico volta
sua postura — talvez se surpreenderia com a verdade.
Com tais palavras cresce uma dúvida dentro de Zahara que questiona tais pensamentos em sua
mente, antes de pôr fim perguntar a que veio, — Koko disse que queria me ver, precisa de algo?
— Bem... logo irá completar doze anos correto?
Ela acena em concordância com a cabeça.
— Suponho que tenha acenado, não é? — Ele sorri, levando a mão a cabeça dela.
— Oh desculpa... sim.
— Muito bem — Serpico se levanta, caminhando até a beira do templo — durante todos esses
anos, venho guardando algo comigo, mas já é a hora de você saber.
Zahara se levanta o acompanhando, tendo toda visão da vila da beira do templo, sentindo o
frescor do ar novamente.
— A muitos anos atrás, sacrifiquei minha visão em prol de meu pilar, tendo como sua imagem a
última lembrança da minha visão — diz Serpico, levando sua mão até seus olhos — desde então
protejo seu nome essa vila com minha vida.
Ela admira tais palavras, mesmo que não consiga entender o do porquê realizou algo tão
extremo.
— No entanto, a cerca de quinze anos atrás tive um sonho, ou se preferir uma visão de algo —
Serpico vira seu rosto para a garota — nela eu vi uma mulher correndo com uma criança em
seus braços em meio a uma tempestade de uma sombra purpura que a perseguia, por fim essa
mulher foi atingida por um ataque nas costas.
Zahara ouve a história, sem se distrair com nada ao seu redor, “essa criança...” pensa enquanto
Serpico continua.
— No entanto, antes de sucumbir a sombra, ela sacrificou sua vida para proteger a criança —
Serpico aperta levemente os ombros dela — essa criança é você Zahara, trazida pela tempestade
com vida até essa vila anos depois.
— Era eu?
— Sim pequena Zahara..., mesmo tendo semelhanças como nós, duvido que seja um elfo, você
foi levada de sua terra natal pelo amor que sua mãe tinha a você.
Com um olhar confuso, ela absorve toda a informação, demostrando estar forte perante a
verdade.
— Quando você chegou... eu não sabia o que deveria fazer, mas a cada dia que passou, eu
descobri que deveria te ensinar tudo o que sei, cuidar de você como uma filha — Serpico sorri
de forma tímida — No entanto, meses após você chegar, tive outra visão, a sombra purpura
retorna, assolando os campos verdejantes.
Zahara arrega-la seus olhos em preocupação, — Serpico, então... ele está atrás de mim?
— Não! — diz Serpico com voz firme — essa sombra está sim atrás de algo, mas não de você,
mas sim da Espada que Para o Tempo, ele fará de tudo para conseguir... eu realmente não sei a
ligação que você tem a essa sombra, mas sei que você minha pequena Zahara assim como eu foi
escolhido por um pilar, o seu destino está ligado a esse mal que assombrará tudo um dia.
Serpico se ajoelha, ficando cara a cara com a pequena garota, continuando:
— Essa sombra, após assolar tudo, partirá para a capital do reino e tomará a força o que busca,
por isso preciso que faça algo.
— Eu faço! Eu faço qualquer coisa se for preciso! — exclama a garota, surpreendendo Serpico,
que suspira.
— Por muitos anos fui um cavaleiro, sendo conhecido pela família real, por isso eu preciso que
leve essa mensagem ao rei para em seguida proteger a espada, você deve guardá-la com sua
vida de tal maldade, o destino de Luryh está entrelaçado a você.
E assim essa jornada, a história da pequena garota escolhida a proteger o tempo.

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