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Aug e Resp Loj Simb Apóstolo da Caridade, Nº 21.


Fundada em 05/11/1875.
Em 24/11/1964 jurisdicionada à Muit Resp Grand Loj do Par.
CEP 81070-350 - Or de Curitiba, Paraná, Rua Filinto Bento Viana, 510, Bairro Portão
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O Padroeiro da Maçonaria

Charles Evaldo Boller, Mestr Maç.

A Maçonaria em relação a sua linguagem simbólica não é autêntica, já


que a maior parte dela é adaptação de diversas linhas de pensamento e
influência. Sua imensa riqueza cultural está alicerçada na ampla flexibilidade e
tolerância a pensamentos e crenças diversas, admitindo as mais variadas
linhas filosóficas que venham ao encontro da construção de homens morais,
éticos e espiritualizados. Cada Maç é induzido em buscar se auto-conhecer,
se auto-construir fundamentado em seus próprios referenciais, respeitar a
crença de seus IIrm e buscar o crescimento espiritual sem intermediação de
ninguém.
Mas existe algo que de início choca o Maçom que não é católico; é a
presença de São João nos rituais. Fica-lhe a impressão de o haverem
enganado com respeito à propalada neutralidade religiosa da Maçonaria.
Sente-se até vítima de proselitismo religioso. Com o tempo ele percebe que o
Velho Testamento, ou Escrituras Hebraicas, serve de base para grande parte
das instruções e lendas maçônicas e que isto não torna a Maçonaria uma
religião de confissão judaica. Observa também que, pelo fato de ocorrerem
referências a passagens do Novo Testamento, isto também não a torna
instituição de confissão exclusivamente cristã. Descobre que, independente da
Bíblia judaico-cristã ser usada como Livro da Lei nos Templos, existe prática de
Maçonaria em países de confissão predominantemente islamita, budista,
confucionista, taoista, e tantas outras, e que nestas usam-se os LLivros da Lei
de suas próprias religiões majoritárias. Mesmo usando de livros de religiões
diversas, mesmo desenvolvendo a espiritualidade dos Maçons, a Maçonaria se
propõe em não ser uma religião. Então, como explicar São João nos rituais
maçônicos, tido até como patrono das Lojas que praticam os três primeiros
graus do R. E. A. A.?
O véu que encobre a intenção da mensagem simbólica da Maçonaria só
é revelado para aquele que tem os olhos bem abertos, e com denodo,
perspicácia e isenção a estuda. A cada passo um mesmo símbolo ou
personagem se transforma em idéia totalmente diferente da primeira intuição.
Concorrente com uma mudança fundamental de visão de universo, a
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Aug e Resp Loj Simb Apóstolo da Caridade, Nº 21.
Fundada em 05/11/1875.
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mensagem da Ordem maçônica é dinâmica no tempo e implica numa nova


visão de realidade a cada passo da transformação cultural. Os símbolos são os
mesmos ao longo do tempo, sua interpretação é diferente. As mudanças são
obtidas pela prática de transmitir informações de uma pessoa para a outra, algo
só possível pela convivência pacífica, disciplinada, ordeira e tolerante que a
Maçonaria proporciona em suas Lojas. É da convivência constante, pela
camaradagem e com o passar dos dias que o Maçom forma um juízo aceitável
de toda a sua simbologia. Mesmo a respeito da presença de um incerto São
João nos rituais. Devido a constante e renovada realidade, como entender a
presença de São João na figura de padroeiro da Maçonaria simbólica? Existem
diversos santos com o mesmo nome na história da Igreja Católica. É
impossível determinar exatamente a qual destes homens santificados o ritual
se refere. São inúmeras as tentativas dos especialistas maçons em obter a
verdade. Uns especulam que pode ser influência de organizações de cavalaria
que cederam seus santos. Outros especulam que os maçons operativos, os
pedreiros que construíram as catedrais da idade média, podem ter contribuído
com os seus santos. Especula-se também que da astrologia pode ter ocorrida a
escolha de santos cujo dia de comemoração no calendário de santos católicos
quase coincide com os dois solstícios, haja vista existir um São João perto do
solstício de verão e outro no de inverno.
Porque a Maçonaria especulativa, a dos Maçons aceitos nas confrarias
de pedreiros, iria escolher um santo como padroeiro? Sabe-se que na época da
criação da Ordem ocorria uma gradual separação entre a opressiva religião
católica e os homens de ciência e filosofia, que gradativamente iam formando
maioria nas Lojas da época. Qual a razão dos criadores das leis básicas que
regem a Maçonaria simbólica, alguns até clérigos, introduzirem um santo
católico como padroeiro? E porque aqueles vetustos Maçons, de orientação
cristã, não definiram exatamente a qual São João eles se referiam?
Perfectionistas que tentavam ser, certamente não nos deixariam na dúvida.
Eles escolheriam o mais notável, o maior de todos os santos. Porque apenas
São João?
Considerando a incerteza em determinar a qual santo a honra se refere, e
como na época da criação da Maçonaria a Igreja Católica Apostólica Romana
tinha grande poder no mundo político, este santo indeterminado pode ter sido
sabiamente introduzido, até com intenção dúbia, para não afrontar tal poder ou
ferir suscetibilidades dos poderes políticos, que de sua parte deviam completa
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submissão ao Papa. O certo é que o padroeiro da Maçonaria é aceito por


tradição, e não é possível determinar com certeza a qual dos mais de trinta
santos católicos com mesmo nome se refere. Definir São João na Maçonaria é
pura especulação.
Especulando também, será que o São João citado no ritual pode ter outro
significado? Seria porventura apenas um atributo ou qualidade de Deus?
Porque tomando por base a tradução do nome João, "Jehohannam", que
significa "o favor de Jeová" e unindo-a ao verbete "santo", faz o texto do ritual
verter o seguinte: "À G. D. G. A. D. U., sob Seu Santo Favor...", ao invés de
"em honra a São João". Desta forma invoca-se o G. A. D. U. e complementa-se
com um pedido de remissão de culpa concedida por indulgência ou uma graça.
Isto tornaria correto invocar a proteção de São João para todo Maçom,
em qualquer país ou fé religiosa. Satisfaz ao obreiro que professa outra
confissão religiosa e satisfaz ao católico que adora o santo, que a ele se dirige
em oração por intermediação. Os maçons de confissão religiosa diferente da
católica não se sentiriam enganados quando entrassem na Maçonaria. Isto
confirmaria a figura do Aprendiz Maçom a se esculpir da Pedra Bruta, e que
indica que o homem Maçom dispensa qualquer intermediação de exegetas,
padres, pastores, bispos e outros clérigos para, com auxílio das ferramentas da
Maçonaria, esculpir sua característica moral, ética e espiritual, pois se dirige
diretamente a sua própria interpretação de Senhor dos Mundos, conceito que
denominamos G. A. D. U. Também propiciaria ao Maçom invocar unicamente o
mais eminente de todos os santos, o G.A. D. U. e Seu Santo Favor!

Bibliografia
1. ALENCAR, Renato de, Enciclopédia Histórica do Mundo Maçônico,
Editora Maçônica, 1980.
2. ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, Editora Madras, 2007.
3. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e
Simbologia, Editora Maçônica a Trolha, 2003.
4. BECK, Ralph t., a Maçonaria e Outras Sociedades Secretas, Editora
Planeta, 2004.
5. Bíblia de Jerusalém, a, Edições Paulinas, 1973.
6. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, Editora Madras, 2001.
7. CAPRA, Fritjof, as Conexões Ocultas, Editora Cultrix, 2002.
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8. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, Editora Maçônica


A Trolha, 2003.
9. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain, Dicionário de Símbolos,
Editora José Olimpio, 20ª Edição, 2006.
10. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Editora
Pensamento,1990.
11. PAIVA, Alfredo, História da Maçonaria.

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