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A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA:

AS GEOTECNOLOGIAS COMO METODOLOGIAS APLICADAS

CARTOGRAPHIC LANGUAGE IN GEOGRAPHY EDUCATION:


GEOTECHNOLOGIES AS APPLIED METHODOLOGIES

EL LENGUAJE CARTOGRÁFICO EN LA ENSEÑANZA DE GEOGRAFÍA: LAS


GEOTECNOLOGÍAS COMO METODOLOGÍAS APLICADAS

Suzana Ribeiro Lima Oliveira


Profa. Dra. em Geografia
Universidade Federal de Jataí-UFJ-Brasil
suzanarili@ufj.edu.br
Amanda da Silva Hösel
Graduanda em Licenciatura em Geografia
Universidade Federal de Jataí-UFJ-Brasil
hosel.hosel@discente.ufj.edu.br
Alécio Perini Martins
Prof. Dr. em Geografia
Universidade Federal de Jataí-UFJ-Brasil
alecioperini@ufj.edu.br
Francisco Tomaz de Moura Júnior
Doutorando em Geografia
Universidade Federal de Jataí-UFJ-Brasil
franciscotomaz@discente.ufj.edu.br

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo articular, a partir de uma experiência
formativa realizada durante o Estágio Supervisionado, os conhecimentos da Geografia à
cartografia e as geotecnologias enquanto estratégias didático-pedagógicas que contribuem
para um ensino permeado de sentido e significado social, ou seja, que busque ampliar o
conhecimento dos alunos da Educação Básica de uma escola pública, o Colégio Estadual
Serafim de Carvalho, em Jataí (GO). Foi utilizado como referencial teórico autores como
Cavalcanti (2013; 2019), Correa (2010), Fitz (2005), entre outros. Dentre as estratégias
didático-pedagógicas, foi realizado um conjunto de intervenções pedagógicas que, ao final,
culminaram com um voo demonstrativo de drone, em que os alunos observaram o seu
funcionamento, além das múltiplas possibilidades de emprego. Ao final, concluiu-se que o uso
de estratégias didático-pedagógicas, como a esboçada, para o ensino de Geografia articulada
a cartografia e ao uso das geotecnologias possibilita uma maior interação entre professor e
aluno e pode ser um mobilizador no engajamento cognitivo dos estudantes e na construção
do conhecimento geográfico.

Palavras-chave: Estratégias didático-pedagógicas. Cartografia Escolar. Geotecnologias.

Abstract: The present study aimed to articulate, based on a formative experience carried out
during Supervised Internship, the knowledge of Geography with cartography and
geotechnologies as didactic-pedagogical strategies that contribute to teaching permeated with
social sense and meaning, that is, seeking to expand the knowledge of Basic Education
students from a public school, the Serafim de Carvalho State School, in Jataí (GO), Brazil.
Theoretical references such as Cavalcanti (2013; 2019), Correa (2010), Fitz (2005), among
others, were used. Among the didactic-pedagogical strategies, a set of pedagogical
interventions was carried out, culminating in a demonstrative drone flight in which students
observed its functioning, as well as the multiple employment possibilities. In conclusion, it was
found that the use of didactic-pedagogical strategies, as outlined, for the teaching of
Geography linked to cartography and the use of geotechnologies, enables greater interaction
between teacher and student and can be a catalyst for cognitive engagement and the
construction of geographical knowledge.
Key-words: Cartography. Didactic-pedagogical strategies. School cartography.
Geotechnologies.

Resumen: El presente trabajo tuvo como objetivo articular, a partir de una experiencia
formativa realizada durante la Práctica Profesional Supervisada, los conocimientos de
Geografía con la cartografía y las geotecnologías como estrategias didáctico-pedagógicas que
contribuyen a una enseñanza impregnada de sentido y significado social, es decir, que busca
ampliar el conocimiento de los estudiantes de Educación Básica de una escuela pública, el
Colegio Estatal Serafim de Carvalho, en Jataí (GO), Brasil. Se utilizaron como referencias
teóricas autores como Cavalcanti (2013; 2019), Correa (2010), Fitz (2005), entre otros. Entre
las estrategias didáctico-pedagógicas, se llevaron a cabo una serie de intervenciones
pedagógicas que culminaron con un vuelo demostrativo de un dron, en el cual los estudiantes
observaron su funcionamiento, así como las múltiples posibilidades de uso. Al final, se llegó a
la conclusión de que el uso de estrategias didáctico-pedagógicas, como la descrita, para la
enseñanza de Geografía vinculada a la cartografía y al uso de geotecnologías, permite una
mayor interacción entre profesor y alumno y puede ser un impulsor del compromiso cognitivo
de los estudiantes y de la construcción del conocimiento geográfico.

Palabras-clave: Cartografía. Estrategias didáctico-pedagógicas. Cartografía escolar.


Geotecnologías.

Introdução
A Revolução Industrial promoveu um acelerado desenvolvimento tecnológico refletindo
na criação de equipamentos que auxiliam a Cartografia. A globalização também promoveu um
incentivo considerável aos avanços tecnológicos e isso tem se refletido em diversos
segmentos da economia e da sociedade. Tal desenvolvimento repercutiu em acentuadas
mudanças nas formas, e até mesmo, nos conteúdos de ensino da atualidade e em especial
para o ensino de Geografia.
O uso de geotecnologias e os seus mais diversos métodos de análise permitem uma
vasta aplicação nos ramos das ciências, sendo uma ferramenta muito útil no ensino de
Geografia, em seus diversos níveis da educação básica. Assim, as diferentes concepções e
inovações teóricas metodológicas no ensino de Geografia que utilizam o geoprocessamento
na quantificação e análise de dados, aliada aos estudos qualitativos e aos trabalhos
interdisciplinares com outros campos do saber, são um estímulo à produção de novos modelos
didáticos (PONCIANA, 2013).
Ao considerar que a temática cartográfica antecede os estudos geográficos, do ponto
de vista histórico, mas que aquele é primordial na concepção deste, tem-se a práxis da
abordagem desta temática na Geografia por meio da Cartografia Escolar, conteúdo este
obrigatório no plano curricular, conforme as diretrizes educacionais (BRASIL, 1998).
Diante disso, o presente trabalho tem como propósito discutir a integração do processo
ensino-aprendizagem de Geografia utilizando geotecnologias a partir de uma experiência
formativa desenvolvida durante o Estágio Supervisionado no Colégio Estadual de Período
Integral Serafim de Carvalho com alunos do Ensino Médio. Seu intuito foi estimular o
aprendizado dos mesmos sobre a Cartografia Escolar, utilizando-se de geotecnologias como
Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) e Sensoriamento Remoto na escola.
O CEPI Serafim de Carvalho (Figura 1) possui um total de 629 alunos matriculados,
sendo grande parte classificados como de classe média baixa. O colégio utiliza um programa
informatizado para planejamento, processamento de dados e suporte denominado de Sistema
de Gestão Escolar (SIGE), nesse sistema, contém as diretrizes para a realização das aulas e o
direcionamento para elaboração dos projetos internos. Conforme o Projeto Político Pedagógico
(2018), o colégio busca atender às escolhas e necessidades dos alunos que frequentam o
mesmo, visando o fortalecimento das disciplinas que promovam a ética, o exercício da
cidadania, a aprendizagem e a preparação para o mercado de trabalho.

Figura 1 – Mapa localização do CEPI Serafim de Carvalho

Organização: Dos autores, 2023.

Estruturalmente, o artigo está organizado em duas seções, sendo a primeira sobre o


ensino de Geografia e as geotecnologias como ferramentas que podem auxiliar no processo
de ensino-aprendizagem; e a segunda que apresenta o relato da experiência desenvolvida
durante o Estágio Supervisionado e que representa a aplicação dos conhecimentos dos dois
campos teóricos.

A Geografia escolar e as geotecnologias: um caminho profícuo


A valorização dos conceitos fundantes para os estudos da Geografia tomou maior
destaque entre os anos de 1970 e 1980, momento pelo qual esta ciência passava por um
processo de renovação e revisão de suas bases e objetivos enquanto saber participante da
sociedade. Como consequência desse processo as ideias produzidas nesse período
influenciaram diversos campos de estudo da Geografia, entre os quais está o ensino de
Geografia. Muitos pesquisadores dessa área ao desenvolverem seus trabalhos recorreram aos
textos e artigos que indicavam a importância de reconhecer e estabelecer uma forte relação do
discurso da Geografia a partir dos conceitos, como: espaço geográfico, lugar, território,
paisagem e região - conhecidos como conceitos geográficos.
São inúmeros exemplos de textos e livros que exaltavam a necessidade de se repensar
a Geografia como campo de conhecimento e, mais especificamente, o seu ensino. Dentre eles
podem ser destacados a obra “A Geografia – isso serve em primeiro lugar para fazer a Guerra”
de Yves Lacoste (2012) em que o autor faz a defesa de uma Geografia politizada e a serviço
das classes sociais menos favorecidas e contrária aquilo que classificou como “Geografia dos
professores”. No campo específico do ensino de Geografia no Brasil, pode-se destacar o livro
“Geografia, escola e construção de conhecimentos”, de Lana de Souza Cavalcanti (2013),
publicado originalmente em 1998, e que apresenta em sua pesquisa a pertinência do uso e
relação dos conceitos geográficos com os conteúdos escolares específicos da Geografia para
a Educação Básica.
Do final das décadas de 1980-90 até os dias atuais algumas mudanças e outras
permanências podem ser percebidas no campo educacional brasileiro, em geral, e da
educação geográfica, em específico (CAVALCANTI, 2019; ALMEIDA, MARTINS, SILVA,
2019). Entre as mudanças pode-se citar a profissionalização do professor, especialmente, pela
exigência de formação em cursos de licenciatura, o estabelecimento de um piso salarial para o
magistério na Educação Básica, o estabelecimento de mecanismos de valorização profissional
(planos de cargos, carreiras e remunerações, por exemplo). No que tange as permanências
tem-se a dificuldade em romper com uma formação fragmenta e, consequemente, com seu
ensino descritivo e despolitizado na Educação Básica, a falta de clareza da essência e do
papel da Geografia frente a outras ciências e disciplinas escolares.
Esses desafios à formação e atuação do professor de Geografia, bem como o
desenvolvimento de aprendizagens pelos estudantes da Educação Básica, entretanto, deve
ser entendido num contexto social mais amplo. Esse contexto, na segunda década do século
XXI, exige considerar os avanços técnico-científicos que vêm sendo desenvolvidos como, por
exemplo, o aumento significativo na disponibilidade e inserção de dados na rede mundial de
computadores, de modo a facilitar o acesso aos mais diversos tipos de dados e/ou
informações (CUNHA; ALBUQUERQUE, 2016).
Em âmbito escolar, assim como na sociedade em geral, as Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação (TDICs) cada vez se encontram mais presentes e passam a ser
usadas como recursos didático-pedagógicos, não sem refletir questões como a desigualdade
de acesso e os tipos de usos dados. Freire e Valente (2001), discutindo o uso da tecnologia
com finalidade pedagógica, assinalam que ela deve visar principalmente à integração dos
alunos e professores na busca por compreender e interpretar fenômenos socioculturais bem
como o envolvimento em atividades sociais relevantes.
Com as inovações tecnológicas atuais e a popularização de ferramentas digitais nas
escolas, um grupo específico de ferramentas ganham destaque na Geografia Escolar: as
geotecnologias. As geotecnologias compreendem um conjunto de tecnologias voltadas à
coleta, processamento e análise de dados e informações espacias e/ou especializáveis (FITZ,
2005). Entre as que podem ser utilizados no ensino de Geografia se destacam: o Sistema de
Informação Geografia, o Sistema de Navegação por Satélite e o Google Earth.
a) Sistema de Informação Geográfica (SIG), originalmente, em inglês, Geographic
Information System (GIS), são softwares que trabalham com dados do espaço geográfico,
tanto de forma numérica quanto gráfica, utilizados para a elaboração de mapas e banco de
dados correlacionados que facilitem a interpretação e a visualização dos fenômenos humanos
e naturais. De acordo com Burrough e McDonnel (2005), o SIG é um poderoso conjunto de
ferramentas que auxilia na coleta, armazenamento, recuperação, transformação e visualização
de dados espaciais do mundo real. (Correa, vol. 32, núm. 1, 2010, pp. 91-96)
b) Sistam de Navegação por Satélite (SNS), originalmente chamado de Global
Navigation Stellite System (GNSS) é uma ferramenta extremamente útil para a localização de
pontos georreferenciados na superfície da Terra. Segundo Rocha (2002), a tecnologia de
posicionamento e localização por satélite assegura precisão elevada de latitude e longitude,
cujos resultados são obtidos pelo envio de informações de pelo menos três satélites. Também
é informada para o usuário a altitude de sua localização, entre outras funções importantes, o
que depende do aparelho e de suas funções disponíveis.
c) Google Earth: é um programa disponibilizado gratuitamente na internet pela empresa
multinacional Google, cuja função é mostrar simbolicamente o planeta Terra em forma
tridimensional. Também é possível dar um zoom na imagem e visualizar a superfície terrestre
por imagens de satélites com uma nitidez e escala consideráveis. Nele é possível identificar os
mais variados lugares do planeta, ter-se uma visualização bidimensional e tridimensional da
paisagem, bem como localizar os fenômenos e objetos geográficos. Essas são as
geotecnologias mais comuns e acessíveis para o uso escolar, no entanto, existem muitas
outras ferramentas que estão em constante desenvolvimento e que acrescentam muito ao
ensino do conhecimento geográfico (CORREA, 2010).
Conforme Vale (2014), que desenvolveu uma dissertação de mestrado em Geografia
utilizando o Google Earth como procedimento metodológico na prática pedagógica da
Geografia, este aplicativo oferece inúmeras possibilidades de inserção nos processos de
ensino-aprendizagem, como na investigação da morfologia e fisionomia espacial da paisagem.
A partir de mosaicos engendrados em diversas escalaridades e
temporalidades, as técnicas de Sensoriamento Remoto (principalmente as
imagens de satélite) presentes no GE permitem ao discente e aos docentes
possibilidades mediáticas como, os estudos comparativos entre diversas
paisagens e a obtenção informações geográficas culturais e naturais, a
identificação e o desenvolvimento de noções cognitivas inerentes e intrínsecas
ao raciocínio geográfico, como as noções de ordem, proporção, quantidade,
seleção e diferenciação entre objetos geográficos como cursos de rios, as
variações do relevo terrestre e submarino, a atmosfera, os ecossistemas, as
massas oceânicas, zonas industriais, infraestrutura urbana, concentração de
serviços, centros históricos, zonas agrícolas, entre outros exemplos (VALE,
2014, p. 81).
Em uma escala de mais detalhe, um instrumento das Geotecnologias que tem
demonstrado grande potencial de uso na educação básica são as Aeronaves Remotamente
Pilotadas (RPA’s), conhecidas popularmente como drones, nomenclatura popular dada a estes
equipamentos devido ao som que produzem, semelhante ao zumbido de um zangão
(MUNARETTO, 2015). Yepes (2020), em sua tese de doutorado em Informática na Educação,
descreveu as possibilidades do uso de drones como tecnologias pedagógicas em disciplinas
STEAM (acrônimo do Inglês Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics),
desenvolvendo seu experimento com estudantes de um curso de técnico em informática
integrado ao ensino médio de uma instituição pública federal. Embora seja uma tecnologia
emergente, sua inserção em atividades pedagógicas nos ensinos fundamental e médio ainda é
incipiente, não sendo encontrados artigos em língua portuguesa que relatem especificamente
o uso de drones em aulas de Geografia.
Estas tecnologias têm apresentado um avanço considerável, com aplicações em
diferentes áreas de estudo para monitoramento de áreas urbanas (cadastro multifinalitário,
regularização fundiária, identificação de áreas de risco) e áreas agrícolas (agricultura de
precisão, monitoramento de pragas e acompanhamento de processos de produção e colheita).
Na área da educação, possui grande potencial ainda inexplorado para estudos de relações de
escala, processos de ocupação e transformação do espaço geográfico, análise ambiental
integrada, entre outros.
Todo esse processo de desenvolvimento tecnológico e sua utilização no ensino-
aprendizagem de Geografia coaduna com outro importante avanço teórico-metodológico no
campo da ciência geográfica: o reconhecimento da cartografia como parte do campo das
linguagens.
Esse reconhecimento, por parte do professor, por exemplo, permite modificar a
organização do processo de ensino-aprendizagem no que refere-se a trabalhar com a
representação espacial como forma de expressão e comunicação dos diversos saberes e
conhecimentos produzidos. Ou seja, esta abordagem orienta para tornar o mapa, por exemplo,
mais presente e integrado às leituras e análises sobre os diferentes arranjos espaciais como
recurso didático pertinente aos estudos dos conteúdos geográficos (RICHTER, 2017).
A leitura dos mapas, portanto, não pode se restringir a aspectos meramente técnicos,
ao contrário, faz parte dos elementos culturais que o estudante vai estruturando em seus
pensamentos para que tenha condição de compreender o fenômeno observado. No
momento em que ocorre o processo de internalização dos elementos observados, o
estudante atribui significado e se apropria das suas experiências. Ao se apropriar dos
elementos de um mapa para compreender um local, por exemplo, é preciso levar em
consideração a concepção cultural que aparecerá tanto na leitura quanto na elaboração.
Neste caso, a mediação do professor é a orientação da qualidade da observação da
realidade e das representações que os alunos estão fazendo, pois nelas estarão os símbolos
e signos, os locais indicados, os elementos que serão agrupados por critérios de
agrupamentos, classificando os fenômenos por meio de cores ou quaisquer variáveis
visuais. Esse é o contexto da mediação no qual a qualidade da intervenção do docente
estimula a aprendizagem.
A articulação de conceito, princípios e liguagens da Geografia é promotora de um
pensamento geográfico (Cavalcanti L. S., 2019), isto é, uma capacidade cognitiva – não
natural – de análise, compreensão e síntese do fenômenos espaciais e/ou espacializáveis. Um
exemplo, pode ser visto no princípio da localização permite relacionar elementos obtendo um
quadro de distribuição/concentração, dispersão e/ou distância, possibilitando o entendimento
dos fatores que originaram aquelas localizações, isto é, o que Gomes (2017) comumento
chama de “o porquê do onde”.
A Geografia escolar, portanto, ao utilizar a linguagem cartográfica como uma
metodologia para a construção do conhecimento geográfico, lança mão desses fundamentos
para estruturar esquema de ação, ajudando os estudantes na construção progressiva das
relações espaciais, tanto no plano perceptivo quanto no representativo. Quando alcança o
plano representativo, o estudante já adquiriu a linguagem e a representação figurada, ou seja,
sua função simbólica em geral.
O geoprocessamento, a Geografia, a Cartografia Escolar, o sensoriamento remoto e os
SIGs estão mais do que nunca interligados dentro de relações multidisciplinares com outras
ciências e vêm dar subsídios técnicos, e viabilizar conhecimentos, e metodologias para ações
e tomadas de decisões (FITZ, 2008). Dessa forma, o uso das geotecnologias está cada vez
mais inserido no ambiente escolar, e devido a sua multidisciplinaridade possibilita aos
educadores uma infinidade de aplicações, pois além de fornecer como vantagens o dinamismo
e o uso interdisciplinar, melhora a capacidade de explorar a visão espacial do aluno.
Entretanto, uma das barreiras encontradas para a sua inserção no âmbito escolar é a falta de
infraestrutura nos laboratórios de informática, além da necessidade de estimular os
professores para adoção de novas estratégias de ensino. Neste caso, é preciso também
investir na formação dos professores (NOSOLIN, 2012).
As metodologias ativas de aprendizagem buscam atender as necessidades desses
estudantes, mediante mudanças na forma de aprender e ensinar, com uma proposta de ensino
mais dinâmico e divertido, tornando-o mais atraente para os alunos (Lima, 2017).

Relato da experiência formativa


A experiência formativa relatada e discutida ocorreu nos meses de fevereiro a abril de
2023 durante a realização do Estágio Supervisionado em uma turma de ensino médio do
CEPI Serafim de Carvalho. O Estágio Supervisionado, na Educação Superior brasileira,
consiste na articulação entre a formação inicial e a inserção profissional, sendo um
componente curricular obrigatório aos cursos de Licenciatura em Geografia e que exige que o
estudante realize uma ação pedagógica na Educação Básica.
Nesse sentido, foram realizadas intervenções em sala de aula em que se almejou
articular a discussão teórica a atividades práticas. Inicialmente foi realizado uma avaliação
diagnóstica a fim de identificar a compreensão inicial que eles possuíam sobre a temática e ao
final foi comparada com as mesmas questões para compreensão da aprendizagem. Uma
pergunta de destaque: “O que entendem por geotecnologias?” no primeiro momento os alunos
tinham um entendimento de que era apenas o uso da internet, e desconheciam que o uso da
própria câmera ou usar o GPS, estava ligado ao uso das geotecnologias fato que a partir da
mediação didática da estagiária/pesquisadora foi revertido (Figura 2).
Com isso, comparando essa pesquisa a alguns relatos de teses e dissertações
baseados aos mesmos focos de estudos, todos levaram em consideração os mesmos pontos
a serem observados, primeiramente realizando uma leitura com a revisão bibliográfica, depois
o que os alunos sabiam do conteúdo e em seguida, a realização da atividade final com os
alunos para ver o tanto que eles se interessavam por ele, nesse caso, os alunos
demonstraram total interesse pelo drone que seus vários tipos de uso.
Além disso, nas intervenções, os alunos tiveram a oportunidade de observar e operar
com o Google Earth analisando algumas localidades próximas e distantes. Também tiveram
contato com um Drone modelo DJI Mini-se experienciando um voo demonstrativo (Figuras 3 e
4). No que tange a escala de abordagem, privilegiou-se o local sem, contudo, descuidar das
interconexões com as demais escalas. Essa escolha se deve, sobretudo, a tentativa de
articulação do conhecimento geográfico com sua realidade cotidiana a fim de que houvesse
uma ampliação de sua percepção, compreendendo espaços mais imediatos a partir de
conceitos geográficos.

Figura 2 – Respostas das atividades de alguns alunos.

Fonte: Dos autores (2022).

No decorrer da realização das atividades, os alunos conseguiram compreender que o


uso das geotecnologias está presente diariamente em nosso cotidiano, como no uso de GPS,
a câmera do próprio celular, e até mesmo com as imagens de satélite que observamos na
análise da previsão do tempo na televisão, com esses exemplos e principalmente após a
observação e participação no voo do drone, os estudantes despertaram um maior interesse
pelo assunto, além da aulas de Geografia.

Figura 3 – Drone modelo DJI Mini-SE.

Fonte: Dos autores (2022).

Outro importante elemento corresponde ao interesse dos estudantes em pesquisar


sobre as novas tecnologias, durante as intervenções teóricas e, especialmente, a partir do voo
demonstrativo. Entre as temáticas trazidas pelos estudantes estavam o uso de imagens de
satélites, o monitoramento ambiental de áreas devastadas, além da localização de suas
moradias, os usos agrícolas e urbanos dessas ferramentas.

Figura 4 – Em A, os alunos caminham até a praça, e em B, os alunos observam o uso do controle do


drone.

Fonte: Dos autores (2022).

Considerações finais
Embora haja grande avanço tecnológico e das TDIC, não se pode esquecer que muitos
ainda não têm acesso às tecnologias, nem na escola, nem em casa. Existem poucos trabalhos
com proposta de inserção de drones no processo de ensino-aprendizagem. Vale ressaltar a
importância dessas geotecnologias como recurso didático-pedagógico necessário para se
dinamizar as aulas e as subsidiar com equipamentos tecnológicos para que o aluno se
aproprie do conhecimento historicamente acumulado pela sociedade. Assim, tem-se a
convicção que as geotecnologias são importantes no processo de inclusão digital. Numa
sociedade que se torna cada vez mais cibernética não é mais possível que as escolas estejam
alijadas do desenvolvimento tecnológico, ainda que sua inserção imponha a necessidade de
superação de inúmeras dificuldades tanto de ordem política como econômica.
Tal fato coaduna com a necessidade de uma abordagem crítica-reflexiva dos
conteúdos da Geografia escolar que devem ser trabalhados na perspectiva da formação
conceitual e do pensamento teórico, isto é, do desenvolvimento do pensamento geográfico.
Esse pensamento, entretanto, deve fazer uso dos conceitos cotidianos (senso comum)
enriquecendo-os com os conceitos científicos, princípios e linguagens da ciência geográfica.
Soma-se a isso, o estímulo ao professor em trabalhar com as geotecnologias no
sentido de possibilitar um maior engajamento cognitivo dos estudantes e sua consequente
aprendizagem. É sabido, porém, que há muito para ser feito em prol das melhorias do ensino
de Geografia, todavia, é igualmente importante reconhecer as transformações que estão
ocorrendo e que indicam a significativa contribuição das pesquisas nesse processo. Além
disso, a manutenção ou continuidade dos estudos poderá identificar novos desafios que estão
presentes e que se mantêm no ensino dessa disciplina.
Portanto, se temos como objetivo contribuir para alterar com qualidade as práticas
escolares de Geografia, torna-se fundamental reconhecermos os desafios e os entraves que
limitam esse processo. Esta tomada de consciência sobre os contextos que interferem no
trabalho escolar nos possibilita agir de modo mais diretivo e, além disso, valorizarmos os
estudos que colaboram para um ensino de Geografia que fortalece as relações com a
cartografia a favor de uma aprendizagem mais centrada na perspectiva espacial.
Ademais, não se pode deixar de ressaltar o papel do Estágio Supervisionado e da
pesquisa na constituição da identidade profissional e do atrelamento de sentido e significado
da pesquisadora e futura professora com a profissão, sendo uma experiência ímpar capaz de
ensejar uma maior profissionalidade.

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