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ESTRUTURAS DE

CONCRETO ARMADO I
PROF. GUILHERME PEROSSO ALVES
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que estão inseridos.

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sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria,
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
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SUMÁRIO

AULA 01 PRINCÍPIOS E FUNCIONAMENTO DO CONCRETO 07


ARMADO

AULA 02 AÇÕES E COMBINAÇÃO DE AÇÕES EM ESTRUTURAS 12


DE CONCRETO ARMADO

AULA 03 A CONCEPÇÃO ESTRUTURAL 18

AULA 04 LAJES MACIÇAS 26

AULA 05 DIMENSIONAMENTO DE LAJES MACIÇAS 31

AULA 06 ESFORÇOS DE FLEXÃO 38

AULA 07 DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÕES 44

AULA 08 CÁLCULO DA ARMADURA DE FLEXÃO EM VIGAS COM 49


SEÇÃO RETANGULAR

AULA 09 CÁLCULO DA ARMADURA DE FLEXÃO PARA LAJES DE 54


SEÇÃO RETANGULAR

AULA 10 DIMENSIONAMENTO NA FLEXÃO SIMPLES 59

AULA 11 PRÁTICA DE DIMENSIONAMENTO 64

AULA 12 ARMADURA LONGITUDINAL DE VIGAS DE SEÇÃO 68


RETANGULAR (ARMADURA DUPLA)

AULA 13 DETALHAMENTO DE ARMADURA E VIGAS T 73

AULA 14 LAJES TRELIÇADAS 82

AULA 15 COMPORTAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO 89


SUBMETIDAS A TENSÃO DE CISALHAMENTO
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AULA 16 DIMENSIONAMENTO DE ELEMENTOS LINEARES À 93


FORÇA CORTANTE

AULA 17 DIMENSIONAMENTO DE PILARES 101


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INTRODUÇÃO

O concreto é um compósito, isto é, um material constituído por mais de uma fase,


geralmente por cimento, água, agregado miúdo (areia) e agregado graúdo (pedra ou brita),
sendo também comumente chamado de concreto simples.
O concreto simples pode ainda considerar a incorporação de outros materiais como adições
minerais (fillers, pozolanas e materiais carbonáticos) e aditivos químicos cuja finalidade é
melhorar ou alterar as propriedades da pasta de cimento, tornando-a mais plástica, menos
porosa ou ainda modificando o seu tempo de endurecimento (tempo de pega do concreto).
A obtenção de um concreto simples com propriedades interessantes, tanto em estado fresco
quanto em estado endurecido resulta do cuidado no proporcionamento dos seus constituintes,
assim como do seu processo executivo.
Tais propriedades mecânicas do concreto simples são geralmente expressas em termos de
resistência mecânica e nesse sentido, o concreto apresenta valores adequados de resistência
aos esforços de compressão, porém quanto à resistência aos esforços de tração, o concreto
é um material deficiente. Costuma-se adotar que um concreto simples possua 10% da
resistência à compressão na tração. Para contornar este problema, o aço estrutural, que
apresenta boa resistência nos dois tipos de esforços, é incorporado à massa de concreto
fresco e o material resultante leva o nome de concreto armado.
A união do aço com o concreto simples tem como finalidade explorar o melhor de ambos
os materiais, dotando o elemento constituído por essa junção de maior resistência tanto
na tração quanto na compressão, além de ampliar a ductilidade do sistema, isto é, a sua
capacidade de deformar-se sem romper.
O trabalho de um engenheiro civil ao projetar e executar um elemento de concreto armado
é de calcular a quantidade de barras de aço necessárias, bem como programar a sua posição
prévia dentro do molde a fim de que esta peça mantenha-se sólida e dentro de valores
admitidos por norma de comportamento, garantindo assim a segurança e o conforto do
usuário.
Neste material nós trataremos das etapas necessárias para alcançar este objetivo, desde
a manipulação dos constituintes de um concreto simples até o cálculo das armaduras para
resistir aos diferentes esforços que incidem nas peças. O objetivo é entender a dinâmica do
dimensionamento estrutural em peças de concreto armado, com base na estimação dos

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esforços e do pré-dimensionamento a fim de antever o seu comportamento mecânico. Para


que isso seja possível procure seguir o roteiro recomendado neste material.
Boa aula.

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AULA 1
PRINCÍPIOS E FUNCIONAMENTO
DO CONCRETO ARMADO

1.1 Porquê estudar os princípios e funcionamento do concreto


armado?

O concreto simples tem historicamente se consagrado como um material de destaque


na indústria da construção civil devido a sua habilidade de adaptar-se aos mais diversos
formatos e dimensões, capacidade de vencimento de vãos consideráveis quando combinado
com outros materiais e de elevada resistência. Tais habilidades resultam da sua versatilidade
em incorporar diferentes materiais aglomerantes, agregados de tamanhos e composições
químicas diversas, aditivos químicos, adições minerais e até mesmos resíduos de outros
processos industriais.
Essa variedade de possibilidades de engenharia introduz também uma preocupação
cada vez mais crescente no meio técnico: como qualificar e quantificar o desempenho
e a durabilidade das estruturas. Dependendo das condições à que o concreto é exposto,
diversos agentes deteriorantes podem produzir respostas adversas no seu comportamento e,
consequentemente, levar a uma redução da sua vida útil. Nesse sentido, o dimensionamento
e detalhamento dos elementos estruturais devem englobar todos os conhecimentos do
material que se inicia pela caracterização dos seus constituintes.

1.2 Constituição do concreto simples

O concreto simples pode ser entendido como um material compósito essencialmente


formado por um ou mais aglomerantes e agregados. O aglomerante, em geral o cimento
Portland, é a fase do material com a capacidade de envolver e aglutinar as partículas dispersas
de agregados (areia e brita). A mistura desses constituintes em proporção controlada é
conhecida como traço, que quando endurecido adquire coesão e resistência (MEHTA;
MONTEIRO, 2014).

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O cimento Portland é um aglomerante hidráulico, ou seja, um material constituído por um


pó fino que endurece quando em contato com a água e que depois de endurecido não se
decompõe. O principal componente formador do cimento Portland é o clínquer, um material
obtido da mistura de calcário e argila, com eventuais corretivos. Essa mistura é submetida
à temperatura de 1.450 ºC em um forno rotativo, resfriada e posteriormente misturada com
cerca de 3% a 5 % de sulfato de cálcio para controlar o seu enrijecimento (tempo de pega).
Quando outros minerais (adições) são adicionados ao clínquer puro algumas das suas
propriedades são alteradas, dando origem aos chamados cimentos portland compostos
(CINCOTTO, 2011; BATTAGIN, 2011). As principais adições são filler calcário, a escória de
alto-forno, pozolanas e materiais carbonáticos.
Os cimentos portland comerciais brasileiros diferem em composição e são chamados de
cimento comum, os compostos, o de alto-forno, o pozolânico e de alta resistência inicial. As
constituições desses cimentos podem ser visualizadas na Tabela 1.

Designação Sigla Classe de Sufixo Clínquer Escório de Pozolana Material


normatizada resistência + sulfatos alto-forno carbonático
de cálcio
Cimento Portland CPI 25, 32 OU RS ou 95-100 0-5
comum 40 MPa BC
Cimento Portland CPII-E 51-94 6-34 0 0-15
composto com
escório de alto-forno
Cimento Portland CPII-Z 71-94 0 6-14 0-15
composto com
material pozolânico
Cimento Portland CPII-F 75-89 0 0 11-25
composto com
material carbonático
Cimento Portland de CPIII 25-65 35-75 0 0-10
alto-forno
Cimento Portland CPII-Z 45-850 0 15-50 0-10
pozolânico
Cimento Portland CPV ARI 90-100 0 0 0-10
de alta Resistência
inicial

Tabela 1 – Composição dos cimentos portland comerciais do Brasil. Fonte: Adaptado de NBR 16697 (2018, p. 20)

Os cimentos portland compostos são os mais empregados na construção civil, sendo que
o tipo de adição varia de região para região do Brasil. Para estruturas de concreto armado,
o CPV-ARI acaba sendo mais utilizado em razão da maior velocidade de endurecimento e

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ganho de resistência, encurtando o tempo entre operações executivas de forma e desforma


dos elementos estruturais.
Quanto aos agregados, estes ocupam cerca de 70% do volume do concreto e são os
materiais de menor custo da mistura. Dependendo das suas dimensões características (φ),
os agregados podem ser categorizados em miúdos e graúdos, conforme a NBR 7211 (2005):

• agregados miúdos: 0,075mm < φ < 4,75mm.


• agregados graúdos: φ ≥ 4,75mm.

Comercialmente é comum encontrar as britas com a seguinte numeração e dimensão


máxima:

• brita 0 – 9,5 mm (pedrisco);


• brita 1 – 19 mm;
• brita 2 – 38 mm.

Isto acontece na prática

Ao escolher um determinado agregado para compor um concreto, parte-se sempre


do entendimento de que este deve ser potencialmente inerte. Assim, o fornecedor do
agregado deve se certificar de que as partículas de agregado não reajam quimicamente
com as fases do clínquer por meio de ensaios padronizados de laboratório, Quando
esse controle não é feito, corre-se o risco de haver reação entre as fases do concreto,
o que pode provocar o surgimento de graves processos deteriorantes com expansões
anormais no interior dos concretos e posterior fissuração do material, essa reação
indesejada é conhecida como reação álcali-agregado (RAA).
A RAA é uma reação espontânea em que os produtos formados são mais estáveis
que os reagentes, o que significa que, uma vez que esse processo for iniciado, não há
como solucioná-lo, a não ser pela substituição total da peça. Além disso, a incidência
da RAA é mais frequente em obras de barragens, obras portuárias, blocos de fundação,
pontes e túneis (VALDUGA, 2002).

Saiba mais acessando o material a seguir:


http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/258500
Fonte: Valduga (2002)

Os agregados também podem ser diferenciados entre si de acordo com a sua origem em
naturais e artificiais. Alguns exemplos destes agregados podem ser visualizados na Figura 1.

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(a) agregado natural de rio (cascalho, seixo e areia) (b) agregado artificial proveniente de britagem

Figura 1 – Exemplos de agregados naturais e artificiais. Fonte: (a) https://www.istockphoto.com/br/foto/cascalho-seixo-areia-gm973008822-264804336 e (b) https://www.
istockphoto.com/br/foto/pur%C3%AA-de-pedras-gm611300438-105167781?utm_campaign=srp_photos_noresults&utm_content=https%3A%2F%2Fwww.pexels.com%2Fpt-
br%2Fprocurar%2Fbrita%2F&utm_medium=affiliate&utm_source=pexels&utm_term=brita

Os agregados naturais são as areias lavadas de rios e pedregulho e os artificiais são


aqueles que resultam de algum processo de britagem e trituração, como as britas.

1.3 Vantagens e desvantagens do concreto armado

O concreto simples apresenta elevada resistência à compressão, contudo, devido à


fragilidade características dos materiais cerâmicos e sua baixa resistência à tração é usual
combiná-lo ao aço estrutural que responde bem tanto à compressão quanto à tração.
O concreto armado (concreto simples + aço) combina as qualidades dos dois materiais,
permitindo a construção de elementos com as mais variadas formas e volumes, com relativa
rapidez e facilidade, para os mais variados tipos de construção.

Anote isso

Apesar de possuir baixa resistência aos esforços de tração (fct) é possível caracterizar
essa propriedade do concreto simples. Geralmente obtém-se uma resistência média
do concreto à tração (fctm) por média aritmética dos resultados individuais e admite-se
como resistência de projeto, também chamada de resistência característica à tração
(fctk ou ftk) com confiança estatística de 95%, isto é, com a probabilidade de apenas 5%
dos valores não serem alcançados pelos resultados de um mesmo lote de concreto
ensaiado. No Brasil três normalizados são utilizados para a aferição desta propriedade:
tração direta, compressão diametral e tração na flexão.
Fonte: Pinheiro, Muzardo e Santos (2003, p. 13).
Disponível em: http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_
Libanio.pdf

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As vantagens do concreto armado foram discutidas por Pinheiro, Muzardo e Santos (2003),
das quais podem ser elencadas:

• moldabilidade;
• boa resistência mecânica a diversos tipos de solicitação, quando corretamente
dimensionada;
• monolitismo;
• não necessita de mão de obra muito especializada;
• etapas executivas amplamente conhecidas;
• proteção química e mecânica das barras de aço, prevenindo a oxidação.

O mesmo autor elenca algumas restrições do concreto armado, conforme a seguir:

• baixa resistência à tração;


• possibilidade de ruptura frágil;
• inabilidade de restringir fissuras;
• peso próprio elevado;
• custo de fôrmas para os processos de moldagem;
• possibilidade de corrosão das armaduras em caso de exposição das barras ou baixo
cobrimento de concreto.

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AULA 2
AÇÕES E COMBINAÇÃO DE
AÇÕES EM ESTRUTURAS DE
CONCRETO ARMADO

2.1 Porquê estudar as ações que incidem sobre as estruturas de


concreto armado?

O sistema estrutural de um edifício, isto é, sua infraestrutura e supraestrutura devem ser


projetados de tal forma que todas as ações verticais e horizontais significativas que possam
incidir sobre estes elementos sejam resistidas. Por estas ações pode-se entender aquelas
decorrentes do peso próprio de lajes, vigas e pilares; o peso dos revestimentos e das paredes;
ações decorrentes da utilização (variáveis), além da força vento e do empuxo em subsolos.
O caminho das ações verticais e horizontais é iniciado nas lajes, que suportam, além de
seus pesos próprios e outras ações permanentes e variáveis de uso, posteriormente essas
ações são direcionadas para as vigas de apoio e posteriormente, transmitidas para outras
vigas e pilares. Os pilares são os elementos responsáveis por transferir as ações de toda a
edificação para os elementos de fundação e para o próprio solo.
Diante do entendimento da dinâmica de direcionamento de esforços em uma edificação
nota-se que entender quais ações devem ser resistidas pela estrutura e a sua magnitude,
torna-se uma etapa essencial para o alcance de uma boa concepção estrutural em termos de
dimensionamento e detalhamento de lajes, vigas e pilares. Todo o procedimento de cálculo
que seguirá é diretamente afetado por estas ações, de modo um erro de concepção poderá
refletir-se em encarecimento de projeto ou mesmo em projetos subdimensionados.

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Isto acontece na prática

Em canteiros de obra, a resistência característica à compressão é especificada para os


28 dias (fck), sendo esse valor o parâmetro básico no dimensionamento dos elementos
como vigas, lajes, pilares etc. O fck deve ser especificado pelo projetista, quando da etapa
de planejamento (HELENE; ANDRADE, 2007). No Brasil, a resistência à compressão é
aferida por ensaios de compressão realizados por prensa hidráulica (Figura 1.3) em
corpos de prova cilíndricos de dimensões 10x20 cm ou 15x30 cm, segundo as NBR
5738 (ABNT, 2015) e NBR 5739 (ABNT, 2018).

2.2 Tipos de ações

Conforme a NBR 8681 (2004, p.01), as ações são “causas que provocam o aparecimento
de esforços ou deformações nas estruturas’’. Do ponto de vista prático, as forças e as
deformações impostas pelas ações são consideradas como se fossem as próprias ações”.
Essas ações podem ser classificadas como permanentes, variáveis, excepcionais e acidentais:

• As ações permanentes “ocorrem com valores constantes ou de pequena variação em


torno de sua média, durante praticamente toda a vida da construção. A variabilidade
das ações permanentes é medida num conjunto de construções análogas”.
• As ações variáveis “apresentam variações significativas em torno de sua média, durante
a vida da construção”.
• As ações excepcionais “têm duração extremamente curta e muito baixa probabilidade
de ocorrência durante a vida da construção, mas que devem ser consideradas nos
projetos de determinadas estruturas”.
• As cargas acidentais “são as ações variáveis que atuam nas construções em função
de seu uso (pessoas, mobiliário, veículos, materiais diversos etc)”.

Além da própria NBR 8681:2004 a norma NBR 6120:2019 também deve ser consultada.
Alguns valores mínimos adotados para as cargas acidentais verticais são elencados na
Tabela 1.

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Local Carga
(Kgf/m²)
Edifícios Dormitórios, salas, copa, cozinha e banheiro 1,5
residenciais
Despensa, área de serviço e lavanderia 2,0
Cozinha A ser determinada em cada caso, porém no mínimo 3,0
não
residencial
Escadas Com acesso ao público 3,0
Sem acesso ao público 2,5
Escritório Salas de uso geral e banheiro 2,0
Forros Sem acesso a pessoas 0,5
Galeria de A ser determinada em cada caso, porém no mínimo 3,0
arte
Galeria de A ser determinada em cada caso, porém no mínimo 3,0
lojas

Tabela 1 – Valores mínimos das cargas verticais em diferentes edificações. Fonte: Adaptado de NBR 6120 (2019, p. 03).

2.2.1 Valores representativos das ações

Pela NBR 6118 (2014, p. 64), as ações são quantificadas por seus valores representativos,
que podem ser:

a) Os valores característicos conforme definido em 11.6.1;


b) valores convencionais excepcionais, que são os valores arbitrados para as
ações excepcionais;
c) valores reduzidos, em função da combinação de ações, como:
Verificações de estados-limites últimos, quando a ação considerada combina
com a ação principal. Os valores reduzidos são determinados a partir dos valores
característicos pela expressão ψ0Fk, que considera muito baixa a probabilidade
de ocorrência simultânea dos valores característicos de duas ou mais ações
variáveis de naturezas diferentes (ver 11.7); — verificações de estados-limites
de serviço. Estes valores reduzidos são determinados a partir dos valores
característicos pelas expressões ψ1Fk e ψ2Fk, que estimam valores frequentes
e quase permanentes, respectivamente, de uma ação que acompanha a ação
principal.

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2.2.2 Combinação de ações

As ações combinadas incidentes em uma edificação podem ser classificadas em:


combinações últimas e de serviço, como verificado na Tabela 2.

Um carregamento é definido pela combinação das ações que tem probabilidades


não desprezíveis de atuarem simultaneamente sobre a estrutura, durante um
período preestabelecido. A combinação das ações deve ser feita de forma que
possam ser determinados os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura; a
verificação da segurança em relação aos estados-limites últimos e aos estados-
limites de serviço deve ser realizada em função de combinações últimas e de
combinações de serviço, respectivamente (NBR 6118, 2014, p. 66).

Tipo Subtipo Descrição


Combinações Normais Devem estar incluídas as ações permanentes e a ação variável
últimas principal, com seus valores característicos e as demais ações variáveis,
consideradas secundárias, com seus valores reduzidos de combinação,
conforme ABNT NBR 8681.
Especiais Devem estar presentes as ações permanentes e a ação variável especial,
quando existir, com seus valores característicos e as demais ações
variáveis com probabilidade não desprezível, de ocorrência simultânea,
com seus valores reduzidos de combinação, conforme ABNT NBR 8681.
Excepcionais Ações permanentes e a ação variável excepcional, quando existir, com seus
valores representativos e as demais ações variáveis com probabilidade
não desprezível de ocorrência simultânea, com seus valores reduzidos
de combinação, conforme ABNT NBR 8681.
Combinações Quase Podem atuar durante grande parte do período de vida da estrutura e
de serviço permanentes sua consideração pode ser necessária na verificação do estado-limite
de deformações excessivas.
Frequentes Repetem-se muitas vezes durante o período de vida da estrutura, e sua
consideração pode ser necessária na verificação dos estados-limites de
formação de fissuras, de abertura de fissuras e de vibrações excessivas.
Podem também ser consideradas para verificações de estados-limites
de deformações excessivas decorrentes de vento ou temperatura que
podem comprometer as vedações.
Raras Ocorrem algumas vezes durante o período de vida da estrutura, e sua
consideração pode ser necessária na verificação do estado-limite de
formação de fissuras.

Tabela 2 – Tipos de combinações de ações. Fonte: Adaptado de NBR 6118 (2014, p. 03)

O cálculo das combinações das ações, últimas e de serviço, devem considerar as equações
presentes nos itens 11.8.2.4 (Combinações últimas usuais) e 11.8.3.2 (Combinações de
serviço usuais) da NBR 6118:2014, conforme as Tabelas 3 e 4.

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Tabela 3 – Combinações últimas. Fonte: Adaptado de NBR 6118 (2014, p. 67).

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Tabela 4 – Combinações de serviço. Fonte: Adaptado de NBR 6118 (2014, p. 69).

“Os valores de cálculo Fd das ações são obtidos a partir dos valores representativos,
multiplicando-os pelos respectivos coeficientes de ponderação γf. As ações devem ser
majoradas pelo coeficiente γf, cujos valores encontram-se mostrados nas Tabelas 11.1 e
11.2”. NBR 6118 (2014, p. 64).

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AULA 3
A CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

3.1 Porquê estudar a concepção estrutural?

A finalidade da concepção estrutural é de formar um sistema estrutural capaz de absorver os


esforços resultantes das ações incidentes e direcioná-las ao solo, por meio dos elementos de
fundação. A ideia é que se tenha uma composição capaz de atender os requisitos especificados
nas normas técnicas. Para isso, a concepção de um projeto estrutural deve se basear na
escolha de quais elementos estruturais (lajes, vigas e pilares) serão empregados na edificação
a ser projetada, bem como na definição das suas posições e no arbitramento de seções
transversais prováveis.

Isso está na rede

A evolução da informática nas últimas décadas trouxe para nós, engenheiros, ferramentas
que revolucionaram a maneira como projetamos estruturas, no entanto, devemos estar
cientes que os computadores não nos substituem. Acerca desse assunto, reflita sobre
o texto do Prof. Emkin.

Qual competente engenheiro estrutural ainda não experimentou a dor e


a frustração de discutir um problema de engenharia com alguém cuja
única experiência em resolver problemas de engenharia fosse pelos meios
computacionais? Essas pessoas (não as confunda com engenheiros
“verdadeiros”) não sabem mais, ou talvez nunca souberam, engenharia sem
computadores. Eles não têm ideia dos assuntos relacionados à modelagem,
análise e projeto que não podem ser resolvidos por computadores. Eles
acreditam que além da grande velocidade dos computadores, os seus
softwares são fontes de conhecimento. Essas pessoas não aparentam
reconhecer que conhecimento vai além das fronteiras do que os softwares
podem fazer.

EMKIN, L. Z. Misuse of computers by structural engineers – a clear and presente


danger, Structural Engineersa World Congress, California (EUA), 1998. Tradução do
artigo no link:
Disponível em: http://tqs.com.br/suporte-e-servicos/biblioteca-digital-tqs/89-artigos/390-
Mau-Uso-de-Computadores-por-Engenheiros-Estruturais?fbclid=IwAR2veUoW5Y1px9S
Zv1TxNp4I1dtg7TnkEJGVBYx0w1NuYs-eO1saPyXkchI

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3.2 Locação dos pilares

A locação dos pilares geralmente é iniciada pelos cantos externos da edificação, sendo
acompanhada do posicionamento dos demais pilares em áreas comuns a todos os pavimentos,
como escadas, elevadores e demais espaços internos. Sempre que possível o projetista deve
buscar alocar os pilares no interior das paredes de alvenaria, evitando a sua localização nos
espaços internos dos ambientes.
A composição mais desejada dos pilares é aquela que resulta em um maior alinhamento
destes, formando pórticos com as vigas de respaldo que os unem. Essa composição contribui
de maneira representativa na garantia de estabilidade global do edifício.
Geralmente, recomenda-se que os pilares estejam localizados de modo que resultem em
distâncias entre eixos de 4 m a 6 m. Para distâncias com maiores valores há a necessidade
de pilares e vigas com seções transversais mais robustas, gerando incompatibilidade
dimensional com os demais sistemas (paredes e instalações prediais) que aumentam custos
da construção. Ainda sob essa ótica, pilares que estão muito próximos podem interferir na
fundação prejudicando toda a concepção estrutural.
Como regra é costume adotar 19cm como a medida da menor dimensão da seção
transversal de pilar retangular de concreto armado e escolher a direção da maior dimensão
de modo a garantir maior travamento da estrutura (menores vãos). Deve-se também verificar
a interferência dos pilares posicionados nos demais pavimentos que compõem a edificação
como no caso de garagens, áreas sociais, recepção, sala salão de festas etc.

3.3 Locação das vigas

Finalizado o posicionamento inicial dos pilares, segue-se para o planejamento da disposição


das vigas. Além daquelas que ligam os pilares existem vigas adicionais que podem ser
necessárias tanto para delimitar os painéis de laje quanto para suportar o peso de uma
parede (LIBÂNIO, 2003).
É bastante usual que a largura das vigas seja compatibilizada com a largura das paredes
de alvenarias, a fim de evitar o surgimento de ressaltos. Quanto às alturas, as vigas são
restringidas pelos espaços disponíveis nas paredes devido à abertura das portas e janelas.
Como as vigas podem ser empregadas para delimitar as lajes, as suas disposições devem
considerar os menores vãos para lajes, ou seja, entre 3,5 m e 5,0 m. O posicionamento e as
dimensões das lajes ficam, portanto, definidos pela concepção inicial das vigas.

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“A identificação dos elementos se dá por meio de numeração, sendo realizada da esquerda


para a direita e de cima para baixo. Assim, a numeração das lajes (L1, L2, L3, etc), das vigas
(V1, V2, V3, etc) e dos pilares (P1, P2, P3 etc)” é executada (PINHEIRO; MUZARDO; SANTOS,
2003, p. 28).

3.4 Pré-dimensionamento de lajes, vigas e pilares

O pré-dimensionamento dos elementos estruturais é uma etapa necessária para que uma
das suas características mais importantes seja estimada, o peso próprio. O peso próprio
de todo elemento estrutural contribui diretamente no seu dimensionamento, visto que é a
primeira das cargas permanentes que deve ser considerada no cálculo das ações.

3.4.1 Lajes

A espessura das lajes (Figura 2) pode ser obtida com a expressão:

h = d + (φ/c) + c

onde:

d = altura útil da laje


φ = diâmetro das barras
c = cobrimento nominal da armadura

Figura 2 – Exemplo de composição das alturas em uma laje. Fonte: Libânio (2003, p. 36).

Cobrimento nominal da armadura (c) é o cobrimento mínimo (cmin) acrescido de uma


tolerância de execução (Δc):

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c = cmin + Δc

Nas obras correntes, Δc ≥ 10mm, além disso, o valor do cobrimento mínimo deve considerar
também a classe de agressividade do ambiente em que a estrutura está inserida, conforme
a NBR 6118:2014, ver Tabela 5.

Tabela 5 – Correspondência entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal para ∆c = 10 mm. Fonte: Adaptado de NBR 6118 (2014, p. 20).

Para lajes com bordas apoiadas ou engastadas, a altura útil pode ser estimada por meio
da expressão:

dest = (2,5 – 0,1.n) . l*/100

onde:

n = número de bordas engastadas


lx = menor vão
ly = maior vão

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A NBR 6118:2014 recomenda que as seguintes espessuras mínimas sejam respeitadas


em lajes maciças:

• 7 cm para cobertura não em balanço;


• 8 cm para lajes de piso não em balanço;
• 10 cm para lajes em balanço;
• 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 kN;
• 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 kN;
• 15 cm para lajes com protensão apoiadas em vigas, com o mínimo de l/42 para lajes
de piso biapoiadas e l/50 para lajes de piso contínuas;
• 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes-cogumelo, fora do capitel

3.4.2 Vigas

A estimativa para a altura das vigas pode ser dada pelas expressões:

• tramos internos: hest = (lo/12)


• tramos externos ou vigas biapoiadas: hest = (lo/10)
• balanço: hest = (lo/5)

Recomenda-se a padronização das alturas das vigas (Figura 3) do projeto (máximo de


duas alturas diferentes) a fim de otimizar os trabalhos de armação e escoramento.
Para armadura longitudinal em uma única camada, a relação entre a altura total e a altura
útil é dada pela expressão:

onde:

• c = cobrimento
• φt = diâmetro dos estribos
• φl = diâmetro das barras longitudinais

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Figura 3 – Seção transversal de uma viga. Fonte: Pinheiro; Muzardo; Santos (2003, p. 37).

3.4.3 Pilares

O pré-dimensionamento dos pilares é iniciado estimando a sua carga, isto é realizado


por meio da determinação das áreas de influência em que as cargas serão, devido ao
posicionamento das peças, absorvidas por cada pilar em particular.
Basicamente, divide-se a área total do pavimento em diversas áreas de influência, relativas
a cada pilar. A área de influência por pilar pode ser obtida dividindo-se as distâncias entre
os seus eixos entre intervalos que variam de 0,45l a 0,55l, dependendo da sua posição,
conforme a seguir (Figura 4):

Figura 4 – Determinação das áreas de influência dos pilares. Fonte: Pinheiro, Muzardo e Santos (2003, p. 37).

Conforme Pinheiro, Muzardo e Santos (2003):

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• 0,45l: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua menor dimensão;


• 0,55l: complementos dos vãos do caso anterior;
• 0,50l: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua maior dimensão.

As áreas do balanço são consideradas acrescidas das respectivas áreas das lajes adjacentes,
tomando-se, na direção do balanço, largura igual a 0,50l, sendo l o vão adjacente ao balanço.
Segundo o mesmo autor, depois que a força nos pilares foi estimada pelo processo das
áreas de influência, o coeficiente de majoração da força normal (α) deve ser determinado:

• α = 1,3 para pilares internos ou de extremidade, na direção da maior dimensão;


• α = 1,5 para pilares de extremidade, na direção da menor dimensão;
• α = 1,8 para pilares de canto.

Sendo possível determinar a área de seção transversal do pilar por meio da expressão:

onde:

Ac = área da seção de concreto (cm2).


α = coeficiente que leva em conta as excentricidades da carga.
A = área de influência do pilar (m2).
n = número de pavimentos-tipo.
(n+0,7) = número que considera a cobertura, com carga estimada em 70% da relativa ao
pavimento-tipo.
fck = resistência característica do concreto (kN/cm2).

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Anote isso

Os conceitos relativos à resistência do concreto à tração direta (fct) são análogos aos de
resistência à compressão (fck). Assim, a resistência média do concreto à tração (fctm)
é obtida da média aritmética dos resultados e a resistência característica à tração (fctk
ou ftk) corresponde à probabilidade de 5% dos valores não serem alcançados pelos
resultados de um mesmo lote de concreto ensaiado. “Três normalizados são utilizados
no Brasil para a aferição dessa propriedade: tração direta, compressão diametral e
tração na flexão” (PINHEIRO; MUZARDO; SANTOS, 2003, p. 3).
Fonte: PINHEIRO, L. M.; MUZARDO, C. D.; SANTOS, S. P. Fundamentos do concreto e
projeto de edifícios: Pré-dimensionamento. Notas de Aula do departamento de engenharia
de estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos na Universidade de São Paulo.
São Carlos, 2003.

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AULA 4
LAJES MACIÇAS

4.1 Porquê estudar lajes maciças?

As lajes são elementos estruturais bidimensionais que possuem a função de receber a


maior parte das ações aplicadas numa construção: pessoas, móveis, pisos, paredes etc.
As ações são comumente perpendiculares à superfície da laje, podendo ser divididas em
distribuídas na área, linearmente distribuídas e pontuais. As ações das lajes geralmente são
transmitidas para as vigas de apoio, mas eventualmente também podem ser transmitidas
diretamente aos pilares. Portanto, conhecer as suas características dimensionais deve estar
prevista para que se possa especificar os demais elementos que constituirão um projeto
estrutural.
A laje maciça pode ser entendida como uma peça composta unicamente por concreto
e contendo armaduras longitudinais e transversais, geralmente com espessuras de 7 cm a
15 cm, sendo projetadas para os mais variados tipos de construção.
“As lajes podem ser classificadas com relação ao seu formato geométrico, aos tipos
de vínculos nos apoios, quanto à direção, etc. Uma classificação bastante usual em lajes
maciças é aquela referendada na direção (ou direções) da sua armadura principal” (PINHEIRO;
MUZARDO; SANTOS, 2003, p.41). Para esta classificação existem dois casos: laje armada
em uma direção ou laje armada em duas direções.

4.1.1 Laje armada em uma direção

De acordo com Pinheiro, Muzardo e Santos (2003) as lajes armadas em uma direção têm
relação entre o lado maior e o lado menor superior a dois, ou seja:

onde:
lx = vão menor (Figura 5).
ly = vão maior.

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Figura 5 – Relação dos comprimentos x e y. Fonte: Pinheiro, Muzardo e Santos (2003, p. 42)

Os esforços solicitantes de maior magnitude ocorrem na direção do menor vão, chamada


direção principal. Na outra direção os esforços solicitantes são bem menores, sendo
desprezados nos cálculos. Os esforços solicitantes e as flechas são calculados supondo-
se a laje como uma viga com largura de 1 m, seguindo a direção principal da laje, como se
verá adiante.

4.1.2 Laje armada duas direções

Para as lajes armadas em duas direções, os esforços solicitantes são importantes segundo
as duas direções da laje. A relação entre os lados é menor que dois tais que:

4.2 Conceito de vão efetivo

Os vãos efetivos das lajes nas suas principais direções devem seguir as recomendações
do item 14.6.2.4 da NBR 6118 (2014), sendo calculados pela expressão:

lef = lo+a1+a2

sendo: a1 igual ao menor valor entre (t1/2 e 0,3h) e a2 igual ao menor valor entre (t2/2 e
0,3h), conforme Figura 6.

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Figura 6 – Tipos de apoios. Fonte: NBR 6118 (2014, p. 90).

4.3 Lajes e a vinculação em bordas

As lajes são apoiadas em três tipos de apoio: paredes divisórias, vigas ou pilares, sendo
mais comum a vinculação em vigas. Diante disso, verifica-se a necessidade de estabelecer
as condições de vinculação da laje nos apoios no cálculo dos esforços solicitantes e das
deformações.

Em função da complexidade deste problema, algumas simplificações são aceitas:


Os três tipos comuns de vínculo das lajes são o apoio simples, o engaste perfeito
e o engaste elástico. Como as tabelas usuais para cálculo das lajes só admitem
apoios simples, engaste perfeito e apoios pontuais, a vinculação nas bordas
deve se resumir apenas a esses três tipos (PINHEIRO; MUZARDO; SANTOS,
2003, p. 47).

De acordo com a sua vinculação de bordas, as lajes podem ser:

• simplesmente apoiadas: o apoio simples surge nas bordas onde não existe ou não se
admite a continuidade da laje com outras lajes vizinhas, podendo ser uma parede de
alvenaria ou uma viga de concreto.
• perfeitamente engastadas: no caso de lajes em balanço ou nas bordas onde há
continuidade entre duas lajes vizinhas. Além disso, quando duas lajes contínuas têm
espessuras muito diferentes pode ser mais adequado considerar a laje de menor
espessura engastada na de maior espessura e a laje mais espessa é considerada
simplesmente apoiada na borda comum às duas lajes.

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• elasticamente engastadas: no caso de apoios intermediários em lajes contínuas


surgem momentos fletores negativos. A ponderação feita entre os diferentes valores
dos momentos nesses apoios conduz ao engastamento elástico.

Em função dessa variedade de combinações possíveis de vínculos e considerando que


as lajes possuem quatro bordas a serem vinculadas, cada caso de vinculação recebe um
número de identificação conforme visualizado na Figura 7.

Figura 7 – Classificação das lajes em função da vinculação nas bordas. Fonte: Adaptado de Pinheiro, Muzardo e Santos (2003, p. 44)

As tabelas que são empregadas no dimensionamento consideram as lajes com o mesmo


tipo de vínculo ao longo de toda a extensão na borda. Na prática da construção civil, outras
situações podem ocorrer, para esses casos deve-se lançar mão de um critério para cada
caso específico, por exemplo: pode ser que a laje tenha uma das suas bordas parcialmente

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engastada e parcialmente apoiada (Figura 8). A relação entre os comprimentos de cada tipo
de apoio em uma mesma borda é um critério desses critérios e está indicado na Tabela 6.

Figura 8 – Caso específico de vinculação. Fonte: Pinheiro, Muzardo e Santos (2003, p. 45).

Tabela 6 – Critério para simplificação de bordas parcialmente engastadas e apoiadas. Fonte: Pinheiro, Muzardo e Santos (2003, p. 45).

Anote isso

Nome do livro: Desconstruindo o projeto estrutural.


Editora: Oficina de Textos.
Autor: José Sérgio dos Santos.
ISBN: 978-85-7975-261-2
Comentário: Este livro traz uma abordagem muito interessante acerca dos projetos
estruturais, apresentando exemplos de projeto em uma sequência que de fato é
executada na obra e trazendo ainda exemplos e explicações sobre os desenhos técnicos,
permitindo que o leitor consiga compreender com clareza as informações exibidas em
plantas, cortes e detalhes estruturais.

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AULA 5
DIMENSIONAMENTO DE
LAJES MACIÇAS

5.1 Porquê estudar o dimensionamento de lajes maciças?

As lajes, assim como as vigas são elementos que constituem o subsistema horizontal
da supraestrutura e são elas que recebem as ações externas causadas pela utilização do
edifício Elementos horizontais de concreto armado geralmente sofrem maior ação dos
esforços provenientes da flexão simples e o conhecimento acerca de seu comportamento
é fundamental para que o projetista estrutural tenha condições elaborar um bom projeto.
Nesta aula serão abordados conceitos importantes para o dimensionamento de elementos
estruturais de concreto armado passando pela determinação dos esforços atuantes nas lajes,
pelos conceitos iniciais que formam o alicerce para aplicação da Teoria da Flexão Simples
e finalizando com o cálculo das armaduras longitudinais nas lajes e vigas.

Isso está na rede

Nome: MuBE 03 – Concepção Estrutural


Comentário: No episódio 3 deste documentário de 1990 o engenheiro civil Mário Franco
faz descreve como se deu a concepção da obra do Museu Brasileiro de Escultura e
Ecologia, explicando em particular, como foi possível obter um vão livre de 60 m com
uma laje de concreto armado.
Assista ao filme em: https://vimeo.com/41003616

5.2 Determinação dos momentos atuantes em lajes maciças

Conforme comentado na aula 04, as lajes maciças podem ser classificadas em de acordo
com as suas direções em: armadas em uma direção e armadas em duas direções, sendo
essa classificação resultante da relação entre os seus lados.

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5.2.1 Lajes armadas em uma direção

Neste ponto já é de seu conhecimento que nas lajes os esforços solicitantes são de
maior intensidade na direção com menor vão. Por este motivo, nas lajes armadas em uma
direção, quando a relação entre os vãos ultrapassa 2, considera-se que a flexão na direção
do menor vão é preponderante a da outra direção. Assim, em lajes armadas em uma direção
supõe-se a laje como uma viga com largura constante de 100 cm (1 m) segundo à direção
principal, conforme a Figura 9.

Figura 9 – Consideração de laje como viga com largura constante de 1 metro. Fonte: Bastos (2015, p. 13)

Sendo assim, em lajes armadas em uma direção o cálculo dos momentos fletores deve
ser realizado como se esta fosse uma viga. Na Figura 9 verifica-se uma viga com vinculação
apoio-engaste, onde o momento máximo negativo ocorre no engaste e é dado por M- =
(p.l²)/8 e o momento máximo positivo é dado por M+= ( p.l²)/14,22.

5.2.1 Lajes armadas em duas direções

O comportamento das lajes armadas em duas direções diferentes notadamente do


comportamento das lajes armadas em uma direção, por esse motivo o seu cálculo se torna
mais complexo.
Uma das características das lajes maciças é que elas distribuem reações em todas as
vigas em seu contorno e que a rigidez das vigas de apoio e os pilares que apoiam essas
vigas influenciam na distribuição de esforços nas lajes.
Os esforços nas lajes maciças armadas em duas direções podem ser realizados por
vários métodos, entre eles:

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• Teoria das placas, utilizando a Teoria da Elasticidade.


• Analogia da Grelha Equivalente.
• Método das Linhas de Rupturas ou das Charneiras Plásticas.
• Métodos numéricos, tais como: Diferenças finitas; Método dos Elementos Finitos etc.

Os momentos fletores atuantes na laje, sejam eles positivos ou negativos, são determinados
pela expressão:

onde:

M: Momento fletor [kNm/m];


μ: Coeficiente tabelado, em função do tipo de laje (apoios e carregamentos) e da relação
λ=ly⁄lx ;
μx e μy: Coeficientes para o cálculo dos momentos positivos atuantes em direções paralelas
a lx e ly respectivamente;
μ’x e μ’y: Coeficientes para o cálculo dos momentos negativos atuantes em direções paralelas
a lx e ly respectivamente;
p: Carga uniformemente distribuídas, ou triangular [kN/m²];
lx: Menor vão da laje [m];
ly: Maior vão da laje [m].

Anote isso

Considerando a complexidade no cálculo dos esforços nas lajes uma variedade de tabelas
foram desenvolvidas a fim de simplificar o processo dimensional que foram elaboradas
por Barés (1972) e adaptadas por Pinheiro; Muzardo; Santos (2003) considerando
coeficiente de Poisson igual a 0,20. Neste material didático serão utilizadas as tabelas
(começando pela Tabela 2.3a) presentes a partir da página 367 do material do Prof.
Dr. Libânio M. Pinheiro (2003).
Link: http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

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5.3 Determinação das reações cortantes

Assim como na determinação dos momentos fletores atuantes nas lajes, as reações
cortantes máximas são calculadas a partir da classificação da laje.

5.3.1 Lajes armadas em uma direção

Para as lajes armadas em uma direção o cálculo das reações nas vigas perpendiculares
à direção principal é realizado tal como uma viga de largura constante de 1 m. Para as vigas
paralelas, quando existirem, pode-se considerar a favor da segurança que uma parcela das
cargas formada por um triângulo adjacente à viga resulte reações na mesma, tal como o
exemplo da Figura 10.
Assim, a carga que atua linearmente na viga paralela à direção principal pode ser determinada
de maneira simplificada através da Equação abaixo:

V(vig,p) = 0,15.p.lx

onde:

V(vig,p): Carga da laje na viga paralela [kN/m];


p: Carga atuante na laje [kN/m²]
lx: menor vão da laje (m).

Figura 10 – Cargas nas vigas paralelas à direção principal da laje. Fonte: Bastos (2015, p. 19)

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5.3.2 Lajes armadas em duas direções

Nas lajes armadas em duas direções o procedimento para determinação das cargas que
geram reações nas vigas de borda é baseado no método das charneiras plásticas, sendo
necessário realizar uma análise plástica para determinação precisa da parcela de carga que
caminha na direção de cada uma das vigas de borda. No entanto, para fins de simplificação
a NBR 6118 (2014) no Item 14.7.6.1 recomenda:

b) quando a análise plástica não for efetuada, as charneiras podem ser


aproximadas por retas inclinadas, a partir dos vértices, com os seguintes ângulos:
- 45° entre dois apoios do mesmo tipo;
- 60° a partir do apoio considerado engastado, se o outro for considerado
simplesmente apoiado;
- 90° a partir do apoio, quando a borda vizinha for livre (NBR 6118, 2014, p. 96).

Assim, as reações nas vigas que apoiam as lajes podem ser calculadas por meio dos
ângulos acima citados.

Figura 11 – Área de influência para determinação das cargas nas lajes maciças armadas em duas direções segundo a NBR 6118 (2014). Fonte: Bastos (2015, p. 20)

As Tabelas do material do Prof. Dr. Libânio M. Pinheiro apresentam coeficientes que auxiliam
no cálculo das reações que as lajes transmitem as vigas nas duas direções considerando
carregamento uniformemente distribuído, através da Equação abaixo.

V = ν.((p.lx)/10)

onde:

V: Reação de apoio [kN/m];

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ν: Coeficiente tabelado, em função do tipo de laje (apoios e carregamentos) e da relação


λ=ly⁄lx ;
νx: Reação de apoio simples perpendiculares à direção do vão lx;
νy: Reação de apoio simples perpendiculares à direção do vão ly;
ν’x: Reação de apoio engastado perpendiculares à direção do vão lx;
ν’y: Reação de apoio engastado perpendiculares à direção do vão ly;

Você poderá encontrar as Tabelas de reação de apoio (iniciando pela Tabela 2.2a), no
material do Prof. Dr. Libânio M. Pinheiro, por meio do seguinte link:

Link de acesso

Link: http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

5.4 Compatibilização dos momentos atuantes

Como os cálculos dos momentos fletores são realizados isoladamente para cada laje,
a compatibilização dos momentos negativos entre lajes é uma atividade necessária. Essa
compatibilização é realizada por um método tradicional, onde o momento fletor negativo
(X) entre duas lajes vizinhas será dado por:

Uma vez que a compatibilização dos momentos negativos for realizada faz-se necessário
corrigir os momentos positivos. Quando há redução dos momentos negativos de uma laje, faz-
se o aumento dos positivos, conforme observado na Figura 12. Quando ocorre a diminuição
do momento positivo, este não é considerado.

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Figura 12 – Exemplo de compatibilização de momentos. Fonte: Bastos (2015, p. 18)

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AULA 6
ESFORÇOS DE FLEXÃO

6.1 Porquê devemos estudar os esforços da flexão nas estruturas de


concreto armado?

Como já é de seu conhecimento, o concreto simples é incapaz de resistir aos esforços de


tração e flexão, sendo a parte dos compósitos responsável por suportar aqueles esforços
provenientes da compressão. Os esforços de tração e flexão, por sua vez, são resistidos pela
armadura no interior do concreto. Portanto, conhecer os parâmetros normativos e a prática
do dimensionamento da quantidade mínima de aço destinado a suportar esses esforços
é fundamental na garantia de que as peças estruturais serão capazes de desempenhar as
suas funções ao longo da sua vida útil.
No cálculo das armaduras de flexão de elementos de concreto armado, sejam eles lajes
ou vigas é essencial que se conheça alguns conceitos, tais como, o modo de colapso destes
quando sujeitos a flexão, estádios, domínios de deformação e algumas hipóteses básicas
que permitem o cálculo através do modelo de cálculo à flexão em elementos de concreto
armado.

6.2 Tipos de flexão

Os elementos estruturais horizontais, como lajes e vigas estão sempre submetidos a


esforços de flexão. Essa flexão pode ser simples normal, flexão simples oblíqua e flexão
composta normal ou oblíqua. O tipo de flexão interfere diretamente na sua concepção e
dimensionamento.
A flexão simples ocorre quando só há esforços de flexão atuando no elemento estrutural.
Quando além da flexão tem-se também esforços normais, ocorre a flexão composta. Vale
ressaltar que a flexão, assim como a força normal produz na seção transversal tensões
normais (perpendiculares), de tração ou de compressão. Observe na Figura 13 a ocorrência
de flexão simples e composta na seção transversal de uma viga genérica.

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Figura 13 – Flexão simples e composta. Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Quando o eixo em que ocorre a flexão coincide com um dos eixos principais de inércia
da seção transversal do elemento esta é chamada de flexão normal, por outro lado, quando
o eixo de solicitação não coincide com um dos eixos principais de inércia é chamada de
flexão oblíqua. A flexão reta ou oblíqua pode ocorrer tanto no caso de flexão simples como
no caso de flexão composta.
Há ainda a flexão pura que corresponde à situação particular de flexão simples ou composta,
sem a ocorrência de esforços cortantes, necessariamente, nas regiões do elemento estrutural
onde a flexão pura ocorre, o momento fletor é constante. Entretanto, situações ocorrem
muito raramente em situações reais de cálculo estrutural.

6.3 Colapso em elementos fletidos submetidos a tensões normais

Para compreender o processo de colapso de vigas e/ou lajes de concreto armado sob o
efeito de tensões normais, vamos analisar o desenvolvimento do ensaio de uma viga por quatro
pontos, onde tem-se uma viga bi apoiada com duas cargas concentradas (P) crescentes e
aplicadas entre os apoios, neste tipo de situação ocorre flexão pura região central da viga.
Observe na Figura 14 o esquema de um ensaio de quatro pontos.

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Figura 14 – Ensaio de viga por quatro pontos e diagramas de momento fletor e esforço cortante. Fonte: Bastos (2019, p. 2) apud Leonhadt & Monning (1982)

A elevação dos valores das cargas concentradas resulta no surgimento de três níveis
de deformação da seção transversal, os quais são denominados estádios e que definem o
comportamento do elemento até o colapso do mesmo.
Inicialmente com cargas baixas a viga se enquadra no Estádio I que significa uma situação
em que as tensões de tração ainda não ultrapassaram a resistência à tração do concreto (fct),
logo, o elemento não apresenta fissuras. A distribuição de tensões em uma viga no Estádio
I pode ser verificada na Figura 15 (a). Posteriormente, com o aumento do carregamento, as
tensões de tração atingem a resistência à tração do concreto, induzindo o surgimento de
fissuras, o que caracteriza o Estádio II.

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Figura 15 – Comportamento do elemento sob flexão passando pelos Estádios I e II. Fonte: Bastos (2019, p. 2) apud Leonhadt & Monning (1982)

Isso está na rede

O ensaio de flexão a 4 pontos é um ensaio amplamente difundido para caracterizar


a fissuração e ruptura de vigas de concreto armado, sendo realizada em diversos
laboratórios. No link a seguir você poderá acompanhar este ensaio e verificar como
surgem as primeiras fissuras em uma viga composta com 2 concretos diferentes na
seção transversal.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=ErMSybOjOZ0

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A distribuição de tensões e deformações na seção transversal no Estádio I ainda obedece


à Lei de Hooke, conforme verificado na Figura 15 (c) pela Seção a-a. No Estádio II, com o
surgimento das fissuras, considera-se que somente o aço resiste às tensões de tração,
desprezando-se a contribuição do concreto. Além disso, o concreto resiste às tensões de
compressão, como verificado na Seção b-b 15 (c). O Estádio II é utilizado para verificações em
situações de serviço. Com o aumento do momento fletor toda a viga passa para o Estádio III.
O Estádio III equivale à situação de iminência de ruptura da estrutura, isto é, o momento fletor
atuante se aproxima do momento último (Mu). Neste Estádio, conforme a NBR 6118:2014,
a distribuição tensão-deformação assume o diagrama idealizado e respeitando os limites
de deformação de encurtamento no concreto.
Nesta situação, a seção transversal encontra-se intensamente fissurada, reduzindo a
profundidade da linha neutra e, consequentemente, reduzindo a altura da região comprimida.
Análise a situação de deformações e de tensões no elemento quando este está na iminência
de ruptura (Estádio III) na Figura 16.

Figura 16 – Estádio III. Fonte: Pinheiro, Muzardo e Santos (2003)

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Isso está na rede

Hoje em dia estão sendo desenvolvidos concretos de ultra desempenho, com resistências
que ultrapassam os 100 MPa, e este material já vem sendo utilizado no Brasil.
“O UHPC (Ultra High Performance Concrete) é um tipo de concreto de alta performance
tão resistente e durável quanto as rochas. Esse concreto oferece resistência à
compressão maior que 20.000 psi, o que significa 138 MPa. No Brasil, a utilização
ajuda na recuperação das obras de infraestrutura, além da possibilidade de construções
robustas que evitem reparos futuros.”
Link: https://www.tecnosilbr.com.br/uhpc-o-que-e-e-por-que-esse-concreto-deveria-ser-
mais-utilizado-no-brasil/

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ARMADO I
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AULA 7
DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÕES

7.1 Hipóteses básicas para cálculo da flexão simples

A NBR 6118 (2014, p. 120) apresenta em seu item 17.2.2 as Hipóteses básicas a serem
consideradas no cálculo de elementos de concreto armado sujeitos a tensões normais
em Estado-Limite Último (ELU). A consideração dessas hipóteses é imprescindível para o
dimensionamento dos elementos.

• As seções transversais se mantêm planas após a deformação.


• Solidariedade entre o aço e o concreto, ou seja, considera-se que haja perfeita aderência
entre os materiais, portanto a deformação de uma barra de armadura tracionada ou
comprimida é igual a deformação do concreto adjacente.
• As tensões de tração no concreto são desprezadas.
• A distribuição de tensões de deformação no aço respeita o diagrama exibido na NBR
6118 (2014, p. 29) em seu item 8.3.6, sendo adotado como o alongamento máximo
permitido pela armadura tracionada de 10 ‰, a fim de prevenir deformações plásticas
excessivas.
• A distribuição de tensões no concreto respeita o diagrama tensão-deformação idealizado
apresentado na NBR 6118 (2014, p. 26), em seu item 8.2.10.1.

O diagrama tensão-deformação pode ser substituído por um retangular simplificado como


pode ser visto na Figura 17 a seguir, considerando os concretos do Grupo I, com profundidade
dada por y = λ.x , onde :

λ = 0,8 → para concretos do Grupo I (fck ≤ 50 MPa)


λ = [0,8 - (fck - 50)/400] → para concretos do Grupo II (fck > 50 MPa)

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Figura 17 – Diagrama retangular simplificado para concretos do Grupo I. Fonte: Bastos (2019, p. 12)

7.1.1 Hipóteses básicas para lajes

As lajes de concreto armado são elementos bidimensionais que podem ser tratados como
elementos de placa. A NBR 6118 (2014) no Item 14.7.1 estabelece hipóteses básicas para
a análise desse tipo de elemento.

1. Manutenção da seção plana após a deformação, em faixas sufi cientemente estreitas;


2. Representação dos elementos por seu plano médio.

A norma traz ainda uma consideração importante acerca da maneira de considerar os


efeitos de carregamentos nas lajes:

Na determinação dos esforços solicitantes nas lajes, deverá ser avaliada a


necessidade da consideração da aplicação da alternância das sobrecargas.
Para estruturas de edifícios em que a carga variável seja de até 5 kN/m2 e
que seja no máximo igual a 50 % da carga total, a análise estrutural pode ser
realizada sem a consideração de alternância de cargas (NBR 6118, 2014, p 95).

7.2 Domínios de deformações

A NBR 6118 (2014) em seu Item 17.2.2 estabelece que estado-limite último é caracterizado
pela distribuição de deformações na seção conforme os domínios definidos na Figura 18.
Nesta Figura é possível notar uma elevação lateral de um elemento de concreto armado (viga,
laje etc.), onde verifica-se as armaduras comprimidas (As1) e tracionadas (As2) considerando
uma situação de momento atuante positivo. Os domínios de deformação (reta a, domínio
1, 2, 3, 4, 4a, 5 e reta b) definem as possibilidades de deformação da seção transversal

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que caracterizam um ELU a cada par de deformações específicas de cálculo (εc) e (εs),
considerando as hipóteses básicas. Reserve alguns minutos para analisar a Figura 18.

Figura 18 – Domínios de deformação segundo a NBR 6118 (2014). Fonte: Bastos (2015, p. 28)

Tendo compreendido o que são os domínios de deformação podemos agora avaliar quais
são as rupturas convencionais representadas por cada um deles:

• Reta a. Tração uniforme com ruptura por alongamento excessivo da armadura tracionada
(εs = 10‰);.
• Domínio 1. Tração não uniforme, sem compressão na seção transversal com ruptura
por alongamento excessivo da armadura tracionada (εs = 10‰).
• Domínio 2. Flexão simples ou composta sem ruptura do concreto à compressão (εc
< εcu) e ruptura caracterizada por alongamento excessivo da armadura tracionada.
A relação x/d que estabelece o limite para o fim do domínio 2 e início do domínio 3
(x2,lim) é dada por x2,lim = 0,259d.
• Domínio 3. Flexão simples (seção subarmada) ou composta com ruptura do concreto (εc
= εcu) e com escoamento do aço da armadura tracionada (εs ≥ εyd) causando grandes
deformações. A relação x/d que estabelece o limite para o fim do domínio 3 e início
do domínio 4 (x3,lim) considerando a utilização de aços CA 50 é dada por x3,lim = 0,628d.
• Domínio 4. Flexão simples (seção superarmada) ou composta com ruptura do concreto
(εc = εcu) e armadura tracionada não plastificada (εs < εyd).
• Domínio 4a. Flexão composta com armaduras comprimidas e ruptura do concreto
(εc = εcu).

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• Domínio 5. Compressão não uniforme, sem tração na seção transversal com ruptura
do concreto (εc = εcu).
• Reta b. Compressão uniforme com ruptura do concreto.

7.2.1 Domínios de dimensionamento no ELU

Um dos grandes objetivos do dimensionamento de elementos em concreto armado é que


esses apresentem ductilidade, ou seja, é de interesse que os elementos apresentem grandes
deformações antes de chegar à ruptura, de maneira simples, o que se quer dizer é que no
caso de ocorrência de ruptura do elemento, é um objetivo que ele apresente um “aviso prévio”.
Neste sentido, considerando as diferenças reológicas entre o concreto e o aço, visto que
o concreto apresenta ruptura frágil e que o aço exibe grande ductilidade é interessante que
a ruptura ocorra devido a deformações excessivas do aço tracionado, pois com a armadura
plastificada as deformações continuarão para além dos limites dos materiais e a fissuração
no elemento será intensa, servindo de alerta para os usuários que o elemento em questão
apresenta problemas e que medidas precisam ser tomadas.
Considerando a Figura 18 e a descrição dos domínios de deformação apresentados,
verificamos que a ruptura por alongamento excessivo das armaduras na flexão simples
ocorre nos domínios 2 e 3. Portanto, para dimensionamento com segurança em ELU,
apresentando ductilidade, a linha neutra não pode ultrapassar o limite entre os domínios 3
e 4, que considerando a utilização do aço CA 50 é dado por x3,lim = 0,628d.
Entretanto, a NBR 6118 (2014) no Item 14.6.4.3, esclarece que a capacidade de rotação
dos elementos estruturais está totalmente relacionada à posição da linha neutra no ELU e que
quanto menor for a relação x/d, tanto maior será a capacidade de rotação dos elementos. Além
disso, este mesmo item deixa bem claro que “para proporcionar o adequado comportamento
dúctil em vigas e lajes, a posição da linha neutra no ELU deve obedecer aos seguintes
limites” (NBR 6118, 2014, p. 91)

• x/d ≤ 0,45 → para concretos do Grupo I (fck ≤ 50 MPa)


• x/d ≤ 0,35 → para concretos do Grupo II (50 MPa ≤ fck ≤ 90 MPa)

Observa-se, portanto, que o dimensionamento de elementos em concreto armado não


pode ser feito em todo o domínio 3, mas somente em parte dele.

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Anote isso

Dica de leitura: “Escolha da altura de lajes com nervuras pré-moldadas para pavimentos
de edificações considerando as verificações do estado limite último e de deformação
excessiva”.
Evento: XXIX JORNADAS SUDAMERICANAS DE INGENIERIA ESTRUCTURAL
Autor: Roberto Chust Carvalho, Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho, Sydney Furlan
Junior, Vitor Vanderlei Mesquita.
Comentário: Neste artigo os autores procuraram determinar um procedimento de
cálculo em lajes pré-moldadas, considerando a segurança no ELU e a funcionalidade
da estrutura sob cargas de serviço. Para isso, tabelas que permitem obter a altura
da laje com nervuras pré-moldadas, valor de vão e o carregamento atuante foram
elaboradas. Saiba mais acessando o link a seguir:
https://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto2/LajeNerv-S8T177.pdf

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AULA 8
CÁLCULO DA ARMADURA DE
FLEXÃO EM VIGAS COM SEÇÃO
RETANGULAR

8.1 Porquê devemos calcular a armadura de flexão em elementos


com seção retangular?

Os elementos de concreto armado podem ter diversas formas geométricas, entretanto,


a seção retangular é a utilizada na maioria dos casos. As vigas com armadura simples são
aquelas onde só existe armadura para resistir aos esforços de tração. Quando se utiliza
armaduras para resistir tanto aos esforços de tração como de compressão, diz-se que a
seção tem armadura dupla, no entanto, este assunto não será abordado neste material.
Vale dizer que mesmo nas seções com armaduras simples são colocadas barras
longitudinais na região comprimida por questões construtivas, principalmente para amarração
dos estribos, contudo, essas armaduras não são consideradas no cálculo do elemento à
flexão.

Isto está na rede

Dica de leitura: “Reforço à flexão em vigas de concreto armado com manta de fibra de
carbono: mecanismos de incremento de ancoragem”
Autor: Vladimir José Ferrari, Ivo José Padaratz e Daniel Domingues Loriggi.
Revista: Acta Scientiarum. Technology
Comentário: em alguns casos, seja por um dimensionamento negligenciado ou por
alterações de carregamentos não previstos em projetos, as estruturas de concreto
armado podem vir a sofrer com problemas decorrentes de insuficiência de armaduras
de flexão, resultando em deformações excessivas, fissuração das peças estruturais e
até mesmo o colapso das edificações. Para estes casos, uma possível solução é a
realização de um reforço estrutural que consiste na elevação da capacidade resistente
do elemento em questão. Neste artigo, os autores avaliaram o comportamento de
nove vigas de concreto armado que foram reforçadas aos esforços de flexão com
a utilização de uma manta de fibra de carbono, avaliando-se inclusive, a incorporação

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de mecanismos de incremento de ancoragem para evitar o desprendimento


prematuro da manta.
Saiba mais acessando o link a seguir:
<https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciTechnol/article/view/2556>

8.2 Distribuição das tensões na seção transversal

A determinação da quantidade de armadura necessária em uma seção transversal de um


elemento sujeito a flexão normal é realizada através do equilíbrio de esforços na seção, ou
seja, todos os esforços atuantes na seção transversal que podem ser observados na Figura
19 devem atender ao equilíbrio de forças normais (∑N = 0) e de momentos (∑M = 0).
Observe na Figura 19 (a) em elevação lateral os esforços atuantes, bem como a distribuição
de deformações e de tensões considerando o diagrama retangular simplificado para concretos
do Grupo I. Já a Figura 19 (b) exibe uma visão tridimensional da distribuição de tensões
pelo diagrama parábola-retângulo e pelo diagrama retangular simplificado, também para
concretos do Grupo I.

Figura 19 - Distribuição de tensões e deformações em viga retangular com armadura simples para concretos do Grupo I. Fonte: Adaptado de Bastos (2019, p. 13)

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Aplicando as Equações do equilíbrio e desenvolvendo-as chega-se a duas Equações que


permitem o cálculo da armadura longitudinal necessária para resistir aos esforços de tração
causados pela flexão normal. A Equação abaixo permite calcular a posição (x) da linha neutra
na seção:

Md = 0,68fcd. x.bw.(d-0,4x)

Isolando a posição da linha neutra (x), tem-se:

E a Equação abaixo permite determinar a quantidade de armadura longitudinal para resistir


aos esforços de tração:

As = Md / (fyd.(d-0,4x) )

Com as Equações acima demonstradas pode-se dimensionar as seções retangulares com


armadura simples, entretanto, observe que temos um total de sete variáveis, sendo elas: a
resistência de cálculo do concreto (fcd) e do aço (fyd); a largura da seção transversal (bw); a
altura útil da seção transversal (d) a posição da linha neutra (x); o momento fletor atuante
(Md) e por fim a área de aço de armadura longitudinal (As), e temos disponíveis apenas duas
equações para resolver o problema.
Na maioria das vezes são conhecidas as resistências fcd e fyd, as dimensões da seção
transversal bw e d e calcula-se apenas a posição da linha neutra e a área de aço As. No
cálculo da posição da linha neutra, verifica-se o domínio de deformação em que se encontra,
e deve-se atentar para que atenda os limites estabelecidos pelo Item 14.6.4.3 da NBR 6118
(2014). Caso não seja atendido os limites, deve-se proceder alguma alteração para que
atenda, que pode ser:

• Redução do momento fletor solicitante (Md).


• Aumentar a largura (bw) ou a altura útil (d).
• Aumentar a resistência do concreto (fcd).

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Na maioria dos casos, a opção mais viável é aumentar a seção da viga, desde que não
existam limitações arquitetônicas que impeçam.

8.3 Cálculo com a utilização dos coeficientes K

Uma maneira facilitada de determinar a armadura longitudinal de seções retangulares


de concreto armado é através de tabelas com os coeficientes K. Essas tabelas apresentam
coeficientes Kc e Ks em função da relação entre a posição da linha neutra (x) e a altura útil
(d): βx=x/d. Os coeficientes Kc e Ks são relativos à resistência do concreto e a tensão na
armadura tracionada respectivamente e as Equações que permitem o cálculo através deles
são:

Kc = (bw.d²) / Md

As = Ks.(Md / d²)

A tabela 1.1 do material criado pelo Professor Dr. Libânio M. Pinheiro pode ser acessada
por meio do seguinte link:

Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

Os valores da Tabela 1.1 que você acessa pelo link supracitado são encontrados na
página 343 do material do Professor Dr. Libânio M. Pinheiro e são válidas para concretos
do Grupo I (fck≤50 MPa). O procedimento de cálculo através dos coeficientes K consiste
basicamente em:

• Calcular o coeficiente Kc através da primeira equação.


• Ir a Tabela 1.1 e obter o coeficiente Ks.
• Calcular a área de aço de armadura longitudinal (As) através da segunda.

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O cálculo por meio dos coeficientes K configura-se em um método de dimensionamento


bastante difundido na engenharia. É importante observar que os coeficientes consideram
as unidades de kN e cm.

Anote isso

A evolução da informática nas últimas décadas trouxe para nós engenheiros, ferramentas
que revolucionaram a maneira como projetamos estruturas, no entanto, devemos estar
cientes que os computadores não nos substituem. Acerca desse assunto, reflita sobre
o texto do Prof. Emkin.

Qual competente engenheiro estrutural ainda não experimentou a dor e


a frustração de discutir um problema de engenharia com alguém cuja
única experiência em resolver problemas de engenharia fosse pelos meios
computacionais? Essas pessoas (não as confunda com engenheiros
“verdadeiros”) não sabem mais, ou talvez nunca souberam, engenharia sem
computadores. Eles não têm ideia dos assuntos relacionados à modelagem,
análise e projeto que não podem ser resolvidos por computadores. Eles
acreditam que além da grande velocidade dos computadores, os seus
softwares são fontes de conhecimento. Essas pessoas não aparentam
reconhecer que conhecimento vai além das fronteiras do que os softwares
podem fazer.

EMKIN, L. Z. Misuse of computers by structural engineers – a clear and presente


danger, Structural Engineersa World Congress, California (EUA), 1998. Tradução do
artigo no link: http://tqs.com.br/suporte-e-servicos/biblioteca-digital-tqs/89-artigos/390-
Mau-Uso-de-Computadores-por-Engenheiros-Estruturais?fbclid=IwAR2veUoW5Y1px9S
Zv1TxNp4I1dtg7TnkEJGVBYx0w1NuYs-eO1saPyXkchI

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AULA 9
CÁLCULO DA ARMADURA DE
FLEXÃO PARA LAJES DE SEÇÃO
RETANGULAR

9.1 Lajes de seção retangular

As lajes maciças são placas de concreto, ou seja, elementos bidimensionais onde a


espessura é consideravelmente menor que as dimensões do plano (comprimento e largura),
os carregamentos nas placas atuam perpendicularmente ao plano. É importante ressaltar
que nas estruturas de múltiplos pavimentos as lajes, além de funcionarem como placas,
atuam ainda como chapas, absorvendo os carregamentos horizontais.
A NBR 6118:2014 em seu Item 13.2.4.1 estabelece as espessuras mínimas para as lajes
maciças:

Nas lajes maciças devem ser respeitados os seguintes limites mínimos para
a espessura:
a) 7 cm para cobertura não em balanço;
b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;
c) 10 cm para lajes em balanço;
d) 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 kN;
e) 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 kN;
f) 15 cm para lajes com protensão apoiadas em vigas, com o mínimo de 42
para lajes de piso biapoiadas e 50 para lajes de piso contínuas;
g) 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes-cogumelo, fora do capitel (NBR
6118, 2014, p. 74).

Esses limites mínimos de espessura são estabelecidos para assegurar adequado cobrimento
da armadura, permitir passagem de instalações, além da segurança estrutural. Segundo
Bastos (2015) as espessuras de lajes maciças de concreto armado variam entre 7 e 15 cm,
espessuras maiores que 15 cm levam a lajes muito pesadas.

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9.2 Estimando a espessura de uma laje

O dimensionamento de uma laje maciça de concreto armado passa pela definição da


espessura da mesma, para isso podemos utilizar a Equação a seguir:

d ≅ (2,5 - 0,1.n).l*/100

Onde:

d : Altura útil da laje (cm);


n: Número de bordas engastadas da laje;
l*: Comprimento da laje, determinado por:

l* ≤ { lx ou 0,7.ly

Determinada a altura útil da laje (d), pode-se determinar a espessura da laje (h) por meio
da Equação abaixo:

h = d + (∅l/2) + c

Onde:

h : Espessura da laje (cm);
∅l: Diâmetro da armadura longitudinal (cm);
c: Cobrimento nominal da laje

9.3 Cálculo da armadura longitudinal

O procedimento para o cálculo das armaduras longitudinais de lajes é análogo ao apresentado


no tópico 3, apenas deve-se considerar as lajes como vigas com largura constante de 1 m
(100 cm), o que faz com que as equações se tornem:

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9.4 Cálculo com a utilização dos coeficientes K

Para o caso do cálculo mediante os coeficientes K o procedimento também é o mesmo,


sendo necessária somente a consideração da largura como 100 cm, fazendo com que as
equações se tornem:

9.5 Armadura longitudinal máxima

A NBR 6118:2014 estabelece limites máximos e mínimos para a quantidade de armaduras


longitudinais nas lajes maciças, em seu Item 19.3.3.1 a norma diz que “Como as lajes armadas
nas duas direções têm outros mecanismos resistentes possíveis, os valores mínimos das
armaduras positivas são reduzidos em relação aos definidos para elementos estruturais
lineares” (NBR 6118:2014, p. 157).

9.5.1 Armadura máxima

Segundo a NBR 6118:2014, a soma das áreas de armaduras de compressão e de tração


nas lajes maciças não deve ultrapassar o limite de calculado nas regiões de emenda de
armadura, ou seja:

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As + A’s ≤ 4%.Ac

Onde:

As: Armadura longitudinal de tração;
A’s: Armadura longitudinal de compressão;
Ac: Área de concreto.

9.5.2 Armadura mínima

A fim de melhorar o desempenho das vigas à flexão, aumentando também a ductilidade


das vigas a NBR 6118:2014 estabelece valores mínimos para a armadura de flexão, estes
podem ser determinados. Os valores são dados em função da taxa de armadura e podem
ser determinados com auxílio da Tabela 7.

Classe do 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
concreto
0,15 0,15 0,15 0,164 0,179 0,194 0,208 0,211 0,219 0,226 0,233 0,239 0,245 0,251 0,259
Os valores de apresentados na Tabela consideram o uso do aço CA50, =1,4, =1,15 e relação d/h=0,8.

Tabela 7 - Taxas mínimas de armadura de flexão em lajes. Fonte: Adaptado de Bastos (2015, p. 32)

A taxa de armadura nas lajes (ρs) não deve ser inferior à taxa de mínima (ρmín), ou seja:

ρs = (As/(bw.h)) ≥ ρmín

Essa regra é válida apenas para as armaduras longitudinais negativas e positivas (principal).

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Anote isso

Sugestão para leitura - livro “Desconstruindo o projeto estrutural”.


Editora: Oficina de Textos.
Autor: José Sérgio dos Santos.
ISBN: 978-85-7975-261-2
Comentário: Este livro traz uma abordagem muito interessante acerca dos projetos
estruturais, apresentando exemplos de projeto em uma sequência que de fato é
executada na obra e trazendo ainda exemplos e explicações sobre os desenhos técnicos,
permitindo que o leitor consiga compreender com clareza as informações exibidas em
plantas, cortes e detalhes estruturais.

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AULA 10
DIMENSIONAMENTO NA
FLEXÃO SIMPLES

10.1 Porquê devemos estudar o dimensionamento na flexão


simples?

A flexão simples pode ser entendida como o esforço de flexão sem que haja uma força
normal. Quando a flexão ocorre com a atuação de força normal, a flexão é denominada
composta. As solicitações normais são aquelas que produzem tensões normais às seções
transversais das peças, isto é, esforços que sejam perpendiculares às seções. Estes
normalmente são os esforços de momentos fletores e a forças normais.
Nas estruturas de concreto armado, a análise de três elementos é importante, sendo elas:
as lajes, as vigas e os pilares. A flexão normal simples incide principalmente sobre as lajes e
vigas que também podem ser submetidas à flexão composta. Por isso, o dimensionamento
e verificação das seções transversais retangulares e seções “T” quando da flexão normal
simples é a atividade mais comum aos projetistas.
O estudo desse esforço objetiva proporcionar ao aluno o melhor entendimento dos
mecanismos resistentes proporcionados pelo concreto comprimido e pelo aço tracionado
em diferentes tipos de seções transversais para que se preveja o comportamento das peças
solicitadas.

10.2 Cálculo da Armadura de Flexão - Armadura Longitudinal de


Vigas de Seção Retangular (Concretos de Qualquer Classe)

O início do dimensionamento das vigas em um projeto consta da identificação dos seus


dados iniciais, sendo eles:

• consideração das classes do concreto, aço e do cobrimento;


• composição estrutural, com as dimensões preliminares;
• distância entre pavimentos;

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• reações de apoio das lajes;


• cargas das paredes divisórias;
• dimensões das seções transversais obtidas no pré-dimensionamento.

Posteriormente, deve-se considerar as possíveis cargas atuantes nas vigas. Normalmente,


essas cargas são provenientes do peso próprio das vigas, das lajes, paredes divisórias,
de outras vigas e dos pilares. As cargas nas vigas devem ser analisadas para cada vão
separadamente. Nos próximos tópicos as cargas verticais atuantes nas vigas são detalhadas.

10.3 Compondo o carregamento das vigas

O peso próprio das vigas é considerado uniformemente distribuído ao longo do seu


comprimento, sendo obtida por meio da expressão:

gpp = bw.h.γconc

Onde:

gpp = kN/m;
γconc = 25 kN/m3;
bw = largura da seção (m);
h = altura da seção (m).

Quanto às paredes considera-se que estas possuem espessura e altura constantes. Assim,
a sua carga pode ser considerada uniformemente distribuída pela expressão:

gpar = e.h.γalv

Onde:

gpar = kN/m;
γalv = peso específico da parede (kN/m3);
e = espessura final da parede (m);
h = altura da parede (m).

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Os valores de peso específico encontram-se na NBR 6120 (2019). Além disso, as reações
das lajes sobre as vigas de apoio também precisam ser conhecidas.

Anote isso

O carregamento induz o surgimento de diferentes estados de tensão nos infinitos pontos


que compõem a viga e que podem ser representados por um conjunto de diferentes
componentes, em função da orientação do sistema de eixos considerados. O estado
de tensão, segundo os eixos coordenados x-y, define as tensões normais sx, as tensões
sy e as tensões de cisalhamento txy e tyx.
Fonte: Bastos (2019, p. 3).

10.4 Armadura longitudinal das vigas

A NBR 6118 (2014, p. 146), item 18.3, estabelece algumas prescrições relativas às armaduras
que se referem às vigas isostáticas com relação l/h ≥ 2,0 e às vigas contínuas com relação
l/h ≥ 3,0, em que l é o comprimento do vão teórico (ou o dobro do comprimento teórico, no
caso de balanço) e h é a altura total da viga. Vigas com relações l/h menores devem ser
tratadas como vigas-parede. Segundo a mesma norma:

A ruptura frágil das seções transversais, quando da formação da primeira fissura,


deve ser evitada considerando-se, para o cálculo das armaduras, um momento
mínimo dado pelo valor correspondente ao que produziria a ruptura da seção
de concreto simples, supondo que a resistência à tração do concreto seja dada
por fctk,sup, devendo também obedecer às condições relativas ao controle da
abertura de fissuras dadas em 17.3.3. A especificação de valores máximos para
as armaduras decorre da necessidade de se assegurar condições de dutilidade e
de se respeitar o campo de validade dos ensaios que deram origem às prescrições
de funcionamento do conjunto aço-concreto (NBR 6118, 2014, p. 146).

Armaduras que referem-se às vigas isostáticas com relação l/h ≥ 2,0 e às vigas contínuas
com relação l/h ≥ 3,0, em que l é o comprimento do vão teórico (ou o dobro do comprimento
teórico, no caso de balanço), e h é a altura total da viga.

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10.4.1 Armadura longitudinal máxima e mínima

A armadura mínima de tração em elementos estruturais armados ou protendidos deve


ser determinada pelo dimensionamento da seção a um momento fletor mínimo dado pela
expressão a seguir, respeitada a taxa mínima absoluta de 0,15 % (NBR 6118, 2014, p. 130):

Md,mín = 0,8.W0.fctk,sup

Onde:

W0: módulo de resistência da seção transversal bruta de concreto, relativo à fibra mais
tracionada;

Forma da Valores de ρmin a(As,min/Ac)


seção
20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
Retangular 0,150 0,150 0,150 0,164 0,179 0,194 0,208 0,211 0,219 0,226 0,233 0,239 0,245 0,251 0,256
a
Os valores de ρmin estabelecidos nesta Tabela pressupõem o uso do aço CA-50, d/h = 0,8 e Υc = 1,4 e Υs = 1,15. Caso
esses fatores sejam diferentes, ρmin deve ser recalculado.

Tabela 8 - Taxas Mínimas de Armadura de Flexão para Vigas. Fonte: NBR 6118 (2014, p. 130)

10.4.2 Armadura longitudinal máxima

A soma das armaduras de tração e de compressão (As + A’s) não pode ter valor maior que
4% Ac, calculada na região fora da zona de emendas devendo ser garantidas as condições
de ductilidade requeridas em 14.6.4.3 (NBR 6118, 2014, p. 132).
De acordo com Bastos (2019), a escolha dos diâmetros e da quantidade de barras admite
várias possibilidades, sendo que mais de um diâmetro pode ser adotado. A composição de
barras escolhida pelo projetista deve, obviamente, atender à área de armadura calculada.
O projetista também deve atentar-se à dimensão dos agregados graúdos e ao trabalho de
dobra e montagem das armaduras, uma vez que barras com maiores diâmetros demandam
mais trabalho.
As Tabelas 1.3a e 1.3b, que constam nas páginas 345 e 346 do material do Professor Dr.
Libânio M. Pinheiro podem ser utilizadas para auxílio na escolha dos diâmetros. Clique no
link a seguir para acessar essas Tabelas.

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Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

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AULA 11
PRÁTICA DE DIMENSIONAMENTO

11.1 Considerações sobre o dimensionamento das armaduras

O dimensionamento de armaduras em vigas de concreto armado consiste em determinar


a quantidade e disposição de barras de aço necessárias em uma viga, devendo-se conhecer
antes deste cálculo algumas informações básicas do elemento estrutural, como os materiais,
as dimensões iniciais da seção transversal e o momento fletor solicitante.
O dimensionamento das armaduras de flexão geralmente é realizado durante a fase de
projeto das estruturas para planejar a sua futura execução, sendo, portanto, uma estimativa
do que pode acontecer com uma viga em termos de solicitação e carregamento.

11.2 Caso 01: especificação da armadura longitudinal de flexão

Considere a viga indicada a seguir e calcule a área de armadura longitudinal de flexão.


Dados:

• Mk,máx = + 10.000 kN.cm


• concreto C20 (fck = 20 MPa, Grupo I)
• concreto com brita 1 (dmáx = 19 mm)
• aço CA-50 (ft = 5 mm (diâmetro do estribo)
• h = 45 cm
• bw = 20 cm
• d = 42 cm
• c = 2,0 cm (cobrimento nominal)

Com base naquilo que vimos até este momento, você saberia informar quais alternativas
a seguir, qual melhor representa o detalhamento da seção transversal?

1) 5 Φ 16 mm
2) 4 Φ 20 mm

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3) 4 Φ 10 mm
4) 5 Φ 20 mm
5) 5 Φ 12,5 mm

Para encontrar a melhor situação nós iremos resolver este exemplo considerando as
Tabelas dos coeficientes K que constam a partir da página 343 do material do Prof. Dr.
Libânio M. Pinheiro, que você encontrará no link a seguir.

Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

Primeiro deve-se determinar o coeficiente Kc:

com Kc = 2,5, concreto C20 e aço CA-50, na Tabela 1.1 do material criado pelo Professor
Dr. Libânio, determina-se os coeficientes bx = 0,52, Ks = 0,029 e domínio 3.
A posição da linha neutra pode ser determinada por:

Posteriormente, a armadura calculada (9,67 cm²) deve ser comparada à armadura mínima
longitudinal prescrita pela NBR 6118/2014. Para viga em concreto C20 e seção retangular,
a armadura mínima de flexão será:

As,min = 0,15%.bw.h = 0,0015.20.45 = 1,35 cm²

Como As > As,min, adota-se o valor de As (9,67 cm²)


• 14 Φ 9,5 mm = 9,92 cm²
• 12 Φ 10 mm = 9,42 cm²
• 8 Φ 12 mm = 9,82 cm²
• 5 Φ 16 mm = 10,05 cm²
• 3 Φ 20 mm = 9,43 cm²
• 2 Φ 20 mm + 2 Φ 16 mm = 10,30 cm²

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Entre dadas opções possíveis nota-se que aquela mais próxima do valor de As (igual ou
imediatamente superior) é aquela que considera 5 barras de 16 mm.

11.3 Caso 02: especificação da armadura longitudinal de flexão

Considere a viga indicada a seguir e calcule a área de armadura longitudinal de flexão.


Dados:

• Mk,máx = + 12.000 kN.cm


• concreto C20 (fck = 20 MPa, Grupo I)
• concreto com brita 1 (dmáx = 19 mm)
• aço CA-50 (ft = 5 mm (diâmetro do estribo)
• h = 50 cm
• bw = 20 cm
• d = 47 cm
• c = 2,0 cm (cobrimento nominal)

Obedecendo as etapas estabelecidas, teremos que:


Primeiro deve-se determinar o coeficiente Kc:

com Kc = 2,63 (considera-se Kc = 2,70) além dos demais dados: concreto C20 e aço
CA-50, na Tabela 1.1 que pode ser visualizada no link de acesso a seguir, determina-se os
coeficientes bx = 0,46, Ks = 0,028 e domínio 3.

Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

A posição da linha neutra pode ser determinada por:

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Posteriormente, a armadura calculada (10,00 cm²) deve ser comparada à armadura mínima
longitudinal prescrita pela NBR 6118/2014. Para viga em concreto C20 e seção retangular,
a armadura mínima de flexão será:

As,min = 0,15%.bw.h = 0,0015.20.47 = 1,41 cm²

Como As > As,min, adota-se o valor de As (10,00 cm²)

As possibilidades para a configuração desta armadura longitudinal seriam:

• 5 Φ 16 mm = 10,05 cm²
• 4 Φ 20 mm = 12,56 cm²
• 2 Φ 20 mm + 2 Φ 16 mm = 10,30 cm²

Entre dadas opções possíveis no início deste exemplo, nota-se que aquela mais próxima
do valor de As (igual ou imediatamente superior) é aquela que considera 5 barras de 16 mm.

Anote isso

A necessidade da seção duplamente armada surge onde estas são submetidas a


momentos fletores negativos, geralmente nos apoios intermediários de vigas contínuas.
Como os momentos fletores negativos são representativamente maiores que os
positivos, requerendo maiores alturas de seções transversais. Isto faz com que o custo
de execução da peça aumente, pois nas seções transversais da região dos apoios a
altura fixada é a ideal, mas ao longo dos vãos a altura é exagerada. Assim, uma solução
simples e mais econômica pode ser a fixação da altura da viga de tal forma que resulte
armadura dupla nos apoios e armadura simples nos vãos.
Fonte: Bastos (2019, p. 33).

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AULA 12
ARMADURA LONGITUDINAL DE
VIGAS DE SEÇÃO RETANGULAR
(ARMADURA DUPLA)

12.1 Quando é necessário executar armadura duplas em vigas de


concreto armado?

Uma viga com armadura dupla é aquela que, além da armadura resistente na região
tracionada da seção transversal, contém também uma armadura longitudinal resistente na
região comprimida, auxiliando o concreto na resistência dessa tensão.
De acordo com Bastos (2019, p. 32), a armadura dupla é um artifício que permite dimensionar
as seções cujas deformações encontram-se no domínio 4, sem que haja a necessidade de se
alterar algum dos parâmetros inicialmente adotados. Normalmente, este domínio é evitado
em função da peça estar mais propensa à ruptura do tipo frágil, isto é, a ruptura não avisada.

12.2 Equações de equilíbrio

Assim como em vigas de seção retangular com armadura simples, a formulação deverá
ser desenvolvida com base nas duas equações de equilíbrio da estática (SN = 0 e SM = 0).
A seção retangular de uma viga, com armadura tracionada (As) e armadura comprimida (A’s),
podem ser verificadas na Figura 20.

Figura 20 - Seção Retangular com Armadura Dupla, para Concretos do Grupo I. Fonte: Bastos (2019, p. 33).

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O diagrama de distribuição de tensões de compressão no concreto é o retangular


simplificado, com profundidade 0,8.x e tensão σcd de 0,85.fcd, sendo ambos os valores válidos
apenas para os concretos do Grupo I de resistência (fck ≤ 50 MPa). Portanto, a formulação que
será apresentada não é válida para os concretos do Grupo II (50 < fck ≤ 90 MPa) (BASTOS,
2019, p. 33).

12.2.1 Equilíbrio de forças normais

De acordo com Bastos (2019, p. 33), na flexão simples não ocorre a força normal, existem
apenas as forças resultantes relativas aos esforços resistentes internos, que devem se
equilibrar de tal forma que:

Rcc + Rsc = Rst

Onde:

Rcc = força resultante de compressão proporcionada pelo concreto comprimido;


Rsc = força resultante de compressão proporcionada pela armadura comprimida;
Rst = força resultante de tração proporcionada pela armadura tracionada;
s’sd = tensão de cálculo na armadura comprimida;
Ssd = tensão de cálculo na armadura tracionada.

Considerando que:

Rcc = 0,85.fcd 0,8.x.bw = 0,68.bw.x.fcd


Rsc = A’s.s’sd
Rst = As.Ssd

12.2.2 Equilíbrio dos momentos fletores

De acordo com Bastos (2019, p. 34):

O momento fletor solicitante tem que ser equilibrado pelos momentos fletores
internos resistentes, proporcionados pelo concreto comprimido e pelas
armaduras, a tracionada e a comprimida, tal que: Msolic = Mresist = Md. Fazendo o
equilíbrio de momentos fletores em torno da linha de ação da força resultante
Rst, o momento resistente à compressão será dado pelas forças resultantes de

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compressão multiplicadas pelas suas respectivas distâncias à linha de ação de


Rst (braços de alavanca – zcc e zsc): Md = 0,68.bw.x.fcd.(d - 0,4x) + A’s.s’sd.(d - d’).

Figura 21 - Decomposição da Seção com Armadura Dupla. Fonte: Bastos (2019, p. 34).

O momento fletor M1d corresponde ao momento interno resistente proporcionado por As1
e pela área de concreto comprimido como verificado na Figura 21 b.

M1d = 0,68b.x.fcd.(d - 0,4x)

Onde o valor de x pode ser aplicando-se a seguinte recomendação da NBR 6118 (2014):

• x ≤ 0,45d para concretos do Grupo I (fck ≤ 50 MPa);


• x ≤ 0,35d para concretos do Grupo II (50 < fck ≤ 90 MPa).

Uma vez que M1d tenha sido determinado, pode-se calcular M2d como:

M2d = Md - M1d

A armadura A’s equilibra a parcela As2 da armadura tracionada total (As), e surge do equilíbrio
de momentos fletores na seção da Figura 21 c (BASTOS, 2019), assim:

M2d = A’s.σ’sd.zsc.A’s.σ’sd.(d – d’)

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Para a seção transversal da Figura 21 b:

Assim como, para a seção transversal da Figura 21 c:

A área total de armadura, será a soma de todas as parcelas (As1 e As2).

12.3 Dimensionamento com o emprego dos coeficientes K

O dimensionamento das vigas simplesmente fletidas também pode ser realizado com
equações simples, utilizando-se os coeficientes K, mostrados nas tabelas gerais que constam
a partir da página 343 do material do Prof. Dr. Libânio M. Pinheiro, que você encontrará no
link a seguir.

Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

Primeiramente, define-se a posição da linha neutra na seção, conforme o limite estabelecido


pela NBR 6118 (2014), com βx variando de acordo com a classe do concreto:

• βx = x/d ≤ 0,45 para concretos do Grupo I (fck ≤ 50 MPa);


• βx = x/d ≤ 0,35 para concretos do Grupo II (50 < fck ≤ 90 MPa).

Em seguida, determinam-se os valores de Kclim e de Kslim, lembrando-se que a classe do


concreto e a categoria do aço devem ser previamente conhecidas. O momento fletor M1d e
M2d serão determinados:

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M2d = Md - M1d

A área total de armadura tracionada será:

A área de armadura comprimida será encontrada por meio da expressão:

O coeficiente K’s é o inverso da tensão na armadura comprimida, considerando diferentes


a relação “d’/d”, isto é, assumindo diferentes valores, assim como a posição determinada
para a linha neutra.

Os valores de K’s podem ser encontrados na Tabela 1.2, disponível na página 344 do
material do Prof. Dr. Libânio M. Pinheiro, que você encontrará no link a seguir.

Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

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AULA 13
DETALHAMENTO DE ARMADURA E
VIGAS T

13.1 A importância do correto detalhamento das armaduras

Uma vez que as armaduras necessárias à seção transversal para a resistência dos esforços
solicitantes foram calculadas, a próxima etapa consta do detalhamento e disposição dessas
armaduras, objetivando facilitar a dobra e montagem destes elementos, garantir um correto
posicionamento das barras de aço e que as especificações normativas sejam atendidas,
compatibilizar o espaçamento das barras às dimensões dos agregados graúdos, obedecer
ao valor de cobrimento mínimo preconizado por norma e ao mesmo otimizar o desempenho
estrutural do sistema.

13.2 Armadura de pele

De acordo com a NBR 6118 (2014, p. 132):

A mínima armadura lateral deve ser 0,10 % Ac,alma em cada face da alma da viga
e composta por barras de CA-50 ou CA-60, com espaçamento não maior que 20
cm e devidamente ancorada nos apoios, respeitado o disposto em 17.3.3.2, não
sendo necessária uma armadura superior a 5 cm2/m por face. Em vigas com
altura igual ou inferior a 60 cm, pode ser dispensada a utilização da armadura
de pele. As armaduras principais de tração e de compressão não podem ser
computadas no cálculo da armadura de pele (NBR 6118, 2014, p. 132).

Asp,face = 0,10%.Ac,alma = 0,0010.bw.h

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Figura 22 - Disposição da Armadura de Pele com espaçamento E £ 20 cm na Seção Transversal de uma Viga. Fonte: Bastos (2019, p. 10)

13.2.1 Espaçamento das barras

A NBR 6118 (2014), no seu item 18.3.2.2, estabelece os seguintes espaçamentos mínimos
entre as faces das barras longitudinais:

a) na direção horizontal (ah):

• 20 mm;
• diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
• 1,2 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo.

b) na direção vertical (av):

• 20 mm;
• diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
• 0,5 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo.

Onde de acordo com Bastos (2019):

ah,mín = espaçamento livre horizontal mínimo entre as faces de duas barras da mesma
camada;
av,mín = espaçamento livre vertical mínimo entre as faces de duas barras de camadas
adjacentes;

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dmáx,agr = dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto;


fl = diâmetro da barra, do feixe ou da luva.

A seção transversal detalhada na Figura 23 dá uma ideia de uma possível distribuição


das barras de aço que compõem a armadura longitudinal através de uma seção retangular
simplesmente armada, bem como de outras medidas que devem ser obedecidas, como o
cobrimento mínimo do concreto (dado em função da classe de agressividade do meio):

Figura 23 - Espaçamentos Livres Mínimos para uma Viga de Seção Transversal Retangular. Fonte: Bastos (2019, p. 11).

Esses espaçamentos mínimos são adotados a fim de garantir que a massa de concreto
se espalhe facilmente pela fôrma, envolvendo completamente as barras de aço e levando a
ocorrência de vazios ao mínimo possível.

13.3 Cálculo da Armadura de Flexão - Vigas de Seção T com


Armadura Simples

Uma viga de seção T é assim chamada devido ao formato geométrico da sua seção
transversal, que forma um T como pode ser verificado na Figura 24. Uma seção transversal
T é composta pela nervura e pela mesa. Elas podem ser peças pré-moldadas ou moldadas
in loco, quando se considera uma viga de seção transversal retangular trabalhando em
conjunto com as lajes vizinhas, originando uma seção fictícia T.

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Figura 24 - Esquema de Viga de Seção T. Fonte: Bastos (2019, p. 43)

A contribuição proporcionada pelas lajes maciças, que normalmente têm altura variando
entre 7 cm e 12 cm deve ser sempre verificada. No caso das lajes nervuradas e pré-fabricadas,
como a espessura da mesa é, geralmente, de 4 cm, a contribuição da mesa pode ser desprezada
e o cálculo das vigas considera apenas a seção retangular normal.
As principais vantagens de se considerar o formato das seções transversais em T estão
na possibilidade de menores alturas e, consequentemente, da economia tanto de concreto
quanto de armadura e forma.

13.3.1 Largura colaborante

De acordo com a NBR 6118 (2014, p. 87):

Quando a estrutura for modelada sem a consideração automática da ação


conjunta de lajes e vigas, esse efeito pode ser considerado mediante a adoção
de uma largura colaborante da laje associada à viga, compondo uma seção
transversal T. A consideração da seção T pode ser feita para estabelecer as
distribuições de esforços internos, tensões, deformações e deslocamentos na
estrutura, de uma forma mais realista. A largura colaborante bf deve ser dada
pela largura da viga bw acrescida de no máximo 10 % da distância a entre pontos
de momento fletor nulo, para cada lado da viga em que haja laje colaborante
(NBR 6118, 2014, p. 87).

A distância “a” pode ser estimada em função do comprimento L do tramo considerado,


como:

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• viga simplesmente apoiada: a = 1,00 l;


• tramo com momento em uma só extremidade: a = 0,75 l;
• tramo com momentos nas duas extremidades: a = 0,60 l;
• tramo em balanço: a = 2,00 l.

Alternativamente, o cômputo da distância a pode ser feito ou verificado mediante exame


dos diagramas de momentos fletores na estrutura (NBR 6618, 2014, p. 87). Além disso, a
NBR 6118 (2014) fixa que, no caso de vigas contínuas, o cálculo da largura colaborante pode
ser único e generalizado para todas as seções transversais, até mesmo nos apoios sob
momentos negativos. Segundo a mesma norma, os limites b1 e b3 devem ser respeitados,
conforme indicado na Figura 25 a seguir.

Figura 25 - Largura de Mesa Colaborante. Fonte: NBR 6118 (2014, p. 88).

13.3.2 Viga T simplesmente armada

As vigas de seção T simplesmente armadas, assim como no caso das vigas de seções
retangulares são aquelas cuja armadura longitudinal de flexão resiste apenas às tensões de
tração, dispostas próximas à borda tracionada da seção transversal.

13.3.2.1 0,8x ≤ hr

De acordo com Bastos (2019, p. 52) e considerando os concretos do Grupo I:

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Quando a altura 0,8x do diagrama retangular simplificado é menor ou igual à altura


da mesa (0,8x ≤ hf) a seção comprimida de concreto (A’c) é retangular, com área
bf.0,8x, de modo que o dimensionamento pode ser feito como se a seção fosse
retangular, com largura bf ao invés de bw. A seção a ser considerada será bf.h.
Assim pode ser feito porque o concreto da região tracionada não é considerado
no dimensionamento, isto é, para a flexão não importa a sua inexistência em
parte da área tracionada. Na maioria das seções T da prática resulta 0,8x ≤ hf.
No entanto, caso se considere o diagrama parábola-retângulo de distribuição
de tensões de compressão no concreto, a seção T será dimensionada como
seção retangular bf.h somente se x ≤ hf, ou seja, com a linha neutra dentro da
mesa da seção T (BASTOS, 2019, p. 52).

Figura 26 - Seção T com 0,8x ≤ hf, para Concretos do Grupo I. Fonte: Bastos (2019, p. 53)

13.3.2.2 0,8x > hr

De acordo com Bastos (2019, p. 53):

Quando 0,8x é maior que hf, a área da seção comprimida de concreto (A’c) não
é retangular, mas sim composta pelos retângulos I, II e III. Neste caso, não se
pode aplicar a formulação desenvolvida para a seção retangular, tornando-se
necessário desenvolver uma nova formulação. A fim de simplificar a dedução
das equações para a seção T com 0,8x > hf, a seção será subdividida em duas
seções equivalentes (BASTOS, 2019, p. 53).

13.3.3 Equilíbrio das forças normais e dos momentos fletores

Na flexão simples não há força normal externa solicitante. Assim, a força resultante do
concreto comprimido é equilibrada pela força resultante da armadura tracionada, isto é, Rcc
= Rst.
Com relação aos momentos fletores as forças internas resistentes (concreto comprimido
e armadura tracionada) formam um binário oposto ao momento fletor solicitante, isto é:

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Figura 27 - Decomposição da Seção T com Armadura Simples. Fonte: Bastos (2019, p. 53)

Md = M1d + M2d

De acordo com Bastos (2019), com o equilíbrio de momentos fletores em torno do centro de
gravidade das áreas de concreto comprimido nas seções b e c da Figura 27 e considerando-
se o dimensionamento nos domínios 2 ou 3, as parcelas de armadura As1 e As2 serão:

Lembrando-se que As = As1 + As2

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13.3.4 Permanência das seções planas

As equações que relacionam as deformações na armadura tracionada e no concreto


correspondente à região mais comprimida são àquelas já desenvolvidas para as vigas de
seção transversal retangular.

13.3.5 Dimensionamento com a utilização dos coeficientes K

O dimensionamento das vigas simplesmente fletidas de seção T pode ser realizado


utilizando-se as mesmas tabelas elaboradas para vigas de seções retangulares.

Com o diagrama retangular simplificado, quando 0,8x ≤ hf, o cálculo pode ser realizado
como no caso de uma viga retangular. A armadura tracionada será:

De acordo com Bastos (2019, p. 55), “quando 0,8x > hf, o dimensionamento deve ser feito
com as equações desenvolvidas para a seção T. O valor de x inicialmente determinado em
função de Kc não é verdadeiro e serviu apenas para definir que o dimensionamento deve ser
feito com as equações desenvolvidas para a seção T”. Para encontrar o valor do momento
fletor resistente M1d, proporcionado pela área da mesa comprimida, adotar-se-á 0,8x* = hf,
de modo que:

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Lembre-se que as tabelas gerais que constam a partir da página 343 do material do Prof.
Dr. Libânio M. Pinheiro podem ser acessadas por meio do seguinte link:

Link de acesso

http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf

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AULA 14
LAJES TRELIÇADAS

14.1 O que são lajes treliçadas?

Antes de falar sobre as lajes treliçadas vamos relembrar o conceito e a função das lajes.
As lajes são elementos planos e bidimensionais, cuja espessura é muito menor que as outras
duas dimensões. Nos pavimentos de edifícios, esses elementos funcionam simultaneamente
como placa e chapa.
Nos edifícios, as lajes de concreto armado podem ser maciças, cuja seção transversal
é completamente preenchida por concreto e aço, ou por lajes nervuradas, em que a parte
da seção é preenchida por concreto e aço, e parte por material inerte, tendo como principal
vantagem à redução do peso próprio da laje. O material inerte utilizado não é considerado no
cálculo da resistência da laje e, atualmente, os elementos mais utilizados para preencher as
regiões sem concreto das lajes são as lajotas cerâmicas, lajotas de concreto e o poliestireno
expandido (EPS).

14.2 Conhecendo a laje nervurada

Um exemplo de seção de laje nervurada é exibido na Figura 28.

Figura 28 - Seção de laje nervurada. Fonte: Bastos (2015, p. 68)

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A NBR 6118 (ABNT, p. 97) define as lajes nervuradas como “lajes moldadas no local ou
com nervuras pré-moldadas, cuja zona de tração para momentos positivos esteja localizada
nas nervuras, entre as quais pode ser colocado material inerte”.
As lajes treliçadas são formadas por nervuras e sua armadura de aço é composta por
uma treliça, por isso o nome de “lajes treliçadas”. Veja um exemplo de nervura pré-moldada
com armadura treliçada na Figura 29.

Figura 29 - Nervura pré-moldada com armadura treliçada. Fonte: ArcelorMittal (2010, p. 6)

Na maioria das vezes, as lajes do tipo treliçada são formadas por vigotas de concreto
pré-moldadas combinadas a elementos cerâmicos, como verificado na Figura 29. Essas
peças, no entanto, também podem ser moldadas no local.

14.3 Cálculo simplificado

As lajes nervuradas podem ser compreendidas como um elemento estrutural formado


por vigas, que podem ser unidirecionais ou bidirecionais, solidarizadas por uma capa de
concreto. A NBR 6118 (2014), no item 14.7.7, estabelece que as lajes nervuradas podem
ser consideradas como elementos de placa, desde que sejam obedecidas as condições
apresentadas no item 13.2.4.2 da mesma norma.

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A espessura da mesa, quando não existirem tubulações horizontais embutidas,


deve ser maior ou igual a 1/15 da distância entre as faces das nervuras e não
menor que 4 cm; O valor mínimo absoluto da espessura da mesa deve ser 5
cm, quando existirem tubulações embutidas de diâmetro menor ou igual a 10
mm. Para tubulações com diâmetro ∅ maior que 10 mm, a mesa deve ter a
espessura mínima de 4 cm + ∅, ou 4 cm + 2∅ no caso de haver cruzamento
destas tubulações;
A espessura das nervuras não pode ser inferior a 5 cm; Nervuras com espessura
menor que 8 cm não podem conter armadura de compressão (NBR 6118, 2014,
p. 74).

Ou seja, as lajes nervuradas podem ser calculadas simplificadamente como lajes maciças
no regime elástico, desde que atendidas as especificações citadas acima. Quanto ao projeto
das lajes, a NBR 6118, ainda em seu item 13.2.4.2, especifica que:

Para o projeto das lajes nervuradas, devem ser obedecidas as seguintes condições:
a) para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras menor ou igual a 65
cm, pode ser dispensada a verificação da flexão da mesa, e para a verificação
do cisalhamento da região das nervuras, permite-se a consideração dos critérios
de laje;
b) para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras entre 65cm e 110cm,
exige-se a verificação da flexão da mesa, e as nervuras devem ser verificadas
ao cisalhamento como vigas; permite-se essa verificação como lajes se o
espaçamento entre eixos de nervuras for até 90cm e a largura média das nervuras
for maior que 12 cm;
c) para lajes nervuradas com espaçamento entre eixos de nervuras maior que
110 cm, a mesa deve ser projetada como laje maciça, apoiada na grelha de vigas,
respeitando-se os seus limites mínimos de espessura (NBR 6118, 2014, p. 75).

Em suma, segundo a NBR 6118 (2014), temos três situações de projetos que podem ser
resumidas da seguinte forma:

No caso em que a laje atenda à condição “a” (lcc ≤ 65 cm), pode-se realizar o cálculo
simplificado da laje, em que os esforços solicitantes (momentos e reações) podem ser
determinados por meio do mesmo procedimento utilizado para lajes maciças.

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É importante ressaltar ainda que a NBR 6118 (2014), em seu Item 14.7.7, especifica que
nas lajes unidirecionais deve-se realizar o cálculo somente para a direção das nervuras,
desprezando qualquer rigidez transversal e a torção, e as lajes bidirecionais podem ser
calculadas para efeitos de esforços solicitantes, como lajes maciças.
Ao se determinar os momentos nas nervuras através das tabelas, conforme procedimento
de lajes maciças obtém-se o momento por faixa de largura unitária.
Para as lajes nervuradas deve-se encontrar o momento atuante em cada nervura, o que
depende da distância entre os eixos dessas lajes.
Para um projeto mais preciso quando é desejado um maior refino no cálculo dos esforços
solicitantes em relação ao proporcionado pelo cálculo simplificado pode-se realizar os cálculos
dos esforços solicitantes nas lajes através de uma grelha, ou então a partir de modelos
numéricos, tais como o Método dos Elementos Finitos.

14.4 Ações atuantes nas lajes treliçadas

As ações que atuam nas lajes nervuradas são as mesmas que atuam em uma laje maciça,
sendo compostas basicamente pelas cargas permanentes e pelas cargas acidentais. A grande
diferença consiste no cálculo do peso próprio, em que deve-se levar em conta o material
inerte que reduz o peso das lajes.
Uma opção para a determinação do peso das lajes nervuradas é fazer o cálculo do peso
para uma região conhecida, calculando o volume de concreto e de enchimento dessas
regiões, podendo ser determinadas as respectivas espessuras médias. Esse procedimento
será demonstrado com um exemplo extraído de Bastos (2015) para uma situação de laje
nervurada bidirecional.
Considere uma laje nervurada com 24cm de espessura total e 4cm de espessura de
capa, bidirecional e com distância entre os eixos das nervuras de 48cm para ambas as
direções. O procedimento consiste em separar uma região da laje com centroide localizado
no cruzamento das nervuras e com lados iguais à distância entre os eixos das nervuras,
conforme pode-se observar na Figura 30.

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Figura 30 - Região considerada para o cálculo do peso da laje. Fonte: Bastos (2015, p. 73)

O volume de concreto (Vc) na região pode ser calculado por:

Com o volume de concreto na região pode-se determinar a espessura média de concreto


(ec) dividindo o volume de concreto pela área (A) da região.

Tendo a espessura média de concreto, a espessura média de enchimento resulta da


diferença entre a espessura da laje (A) e a espessura média de concreto.

Com as espessuras médias, o cálculo do peso próprio da laje por unidade de área pode
ser facilmente realizado pela multiplicação da espessura média pelo peso específico do seu
respectivo material. Considerando γc = 25 kN/m³ e γench = 6 kN/m³,

• Peso concreto: 0,1011 m • 25 kN/m³ =2,53 kN/m²


• Peso enchimento: 0,1389 m • 6 kN/m³ =0,83 kN/m²
• Peso total: 2,53 kN/m² + 0,83 kN/m²=3,36 kN/m²

O cálculo do peso para uma laje unidirecional pode ser realizado apenas considerando a
nervura em uma direção e o lado paralelo à direção da nervura pode ter comprimento unitário.

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14.5 Flexão nas nervuras

Com a determinação dos momentos, cortantes e reações nas lajes deve-se realizar o
dimensionamento das lajes.
As nervuras são tratadas como vigas e, para tanto, seu dimensionamento à flexão obedece
a Teoria da Flexão Simples. Deve-se atentar à direção do momento fletor, pois quando o
momento atuante comprime a mesa pode-se considerar a contribuição das mesas, sendo,
portanto, como o cálculo da armadura de flexão (As) realizado para uma seção T. Quando
a mesa encontra-se tracionada, despreza-se sua contribuição e o cálculo da armadura de
flexão é realizado para uma seção retangular.
Como qualquer procedimento de dimensionamento à flexão é importante observar algumas
questões, tais como fissuração, taxas máximas e mínimas de armaduras, ancoragem das
armaduras nos apoios etc.

14.6 Cisalhamento nas nervuras

O cisalhamento nas nervuras deve ser verificado em função do espaçamento das nervuras,
conforme apresentado anteriormente. No caso em que as nervuras estejam espaçadas de
comprimentos menores que 65cm, as nervuras são verificadas à força cortante como lajes
maciças, que consiste em garantir que a força cortante de cálculo (Vsd) não ultrapasse o
valor da força cortante máxima (VRd1), conforme as equações a seguir.

Vsd ≤ VRd1

• Para elementos em que 50% da armadura inferior não chega até o apoio: k = I1I;
• Para os demais casos: k = I1,6 – dI, não menor que I1I com d em metros;

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• As1: área de armadura que se estende até não menos que (d+lb,nec) além da seção
considerada.

Para os casos em que o espaçamento das nervuras ultrapassa 65 cm, o cisalhamento


nas nervuras é verificado como viga.
Outra observação diz respeito à flexão na mesa. Nas lajes com espaçamento entre nervuras
menor que 65 cm, não há necessidade de verificar a mesa à flexão. Nos casos em que o
espaçamento entre as nervuras ultrapassa os 65 cm deve-se verificar a mesa à flexão como
uma laje maciça.

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AULA 15
COMPORTAMENTO DE VIGAS DE
CONCRETO ARMADO SUBMETIDAS
A TENSÃO DE CISALHAMENTO

15.1 O cisalhamento em vigas de concreto armado

Na grande maioria das vezes, as vigas estão submetidas à flexão e esforço cortante. Os
esforços cortantes devem ser avaliados cuidadosamente nos elementos lineares, pois sua
atuação pode levar os elementos ao colapso de maneira frágil.
Geralmente, no dimensionamento de vigas de concreto armado, o primeiro passo é o
cálculo das armaduras longitudinais e, após isso, procede-se do cálculo das armaduras
transversais para resistir aos esforços cortantes.

15.2 Tensões principais nas vigas

O comportamento de uma viga sob flexão simples já foi discutido, entretanto, é importante
retomarmos este assunto para avaliarmos as tensões de cisalhamento que ocorrem nas vigas.
A trajetória das tensões principais em uma viga bi apoiada e submetida a um carregamento
uniformemente distribuído, pode ser observado na Figura 31 ainda no estádio I. Na região
próxima à linha neutra (L.N.), as tensões principais têm inclinação de 45° ou 135° com o eixo
longitudinal da viga, e em outras alturas essa inclinação varia entre 0° e aproximadamente 90°.
Como se sabe, com o aumento das tensões de tração, surgem fissuras perpendiculares
a essas (quando a tensão de tração ultrapassa a tensão resistente à tração do concreto).
Na região central da viga, as tensões principais na região inferior da viga apresentam
inclinações de aproximadamente 0° com o eixo longitudinal, justificando o emprego de
armadura longitudinal nessa região. Próximo aos apoios, onde há menor influência do
momento fletor, as tensões principais encontram-se inclinadas e as fissuras que ocorrem
nessas regiões são causadas basicamente pelas tensões de cisalhamento, por isso são
chamadas de “fissuras de cisalhamento”.

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Anote isso

A análise de tensões é fundamental no comportamento de qualquer elemento estrutural.


Em uma viga, por exemplo, dado um ponto qualquer dela sujeito a um estado plano
de tensões σx, σy e τxy, pode-se obter outro plano com inclinação em que as tensões
tangenciais são nulas e as tensões normais têm valor máximo e mínimo, que são as
chamadas tensões principais. O mais interessante é que as tensões principais podem
ser determinadas para qualquer ponto de um elemento através de um método analítico,
ou até mesmo por meio de um método gráfico com o chamado Círculo de Mohr.
Fonte: Carvalho (2014, p. 415).

As tensões de tração, inclinadas próximas aos apoios exigem o posicionamento de


armadura transversal composta por estribos fechados. É interessante verificar que na altura
da linha neutra o ideal seria que os estribos tivessem inclinação de 45°, entretanto, por
questões construtivas, os estribos são posicionados, na grande maioria dos casos, com 90°
de inclinação em relação ao eixo longitudinal da viga.

Figura 31 - Tensões principais em viga bi apoiada com carregamento uniformemente distribuído. Fonte: Adaptada de Bastos (2017, p. 4).

Por mais abstrato que este assunto possa parecer conhecer a distribuição das tensões
principais nas vigas é muito importante para que o projetista saiba posicionar corretamente
as armaduras de tração, assim como conhecer as posições das bielas de compressão.

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15.3 Mecanismos de transferência de tensões cisalhantes

Os mecanismos pelos quais se mobiliza resistência à atuação da força cortante são


variados e complexos, sendo importante conhecê-los. Basicamente, além da resistência
proporcionada pela armadura transversal, existem ainda cinco mecanismos para resistir a
essas tensões, sendo eles (observe parte desses mecanismos na Figura 32).

• Força cortante no banzo comprimido de concreto (não fissurado) (Vcz).


• Atrito das superfícies em regiões fissuradas (Vay), causado pelo engrenamento dos
agregados.
• Efeito de pino das armaduras longitudinais (Vd).
• Ação de arco do elemento estrutural.
• Tensão residual de tração existente nas fissuras inclinadas.

Figura 32 - Mecanismos de transferência de força cortante. Fonte: Bastos (2017, p. 5).

15.4 Comportamento de vigas com armadura transversal

Nas regiões próximas aos apoios, com o aumento das tensões de tração inclinada surgem
as “fissuras de cisalhamento”. Com a continuidade de aumento do carregamento e por
consequência das tensões, surgem novas fissuras fazendo com que haja uma redistribuição de
esforços internos no elemento, os quais dependem da posição e da inclinação das armaduras
transversais.

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Com a abertura das fissuras, o aço das armaduras transversais passa a ser solicitado.
Quando a armadura é insuficiente, o aço alcança a tensão de escoamento e atinge grandes
deformações, o elemento apresenta ainda resistência a força cortante devido aos mecanismos
dos estádios de comportamento, principalmente pelo engrenamento dos agregados quando
as fissuras apresentam ainda pequenas aberturas. Observe a situação da Figura 33.

Figura 33 - Esquema de ruptura de viga com armadura transversal insuficiente ao cisalhamento. Fonte: Pinheiro; Muzardo; Santos (2003, p. 6).

Com o aumento da abertura das fissuras, o atrito entre as faces acaba e, assim, o banzo
comprimido passa a necessitar transferir uma parcela cada vez maior da força cortante.
Além disso, com o aumento das fissuras, o banzo comprimido vai reduzindo a seção e, dessa
forma, chega-se à ruptura do banzo comprimido.

Isto está na rede

Hoje em dia estão sendo desenvolvidos concretos de ultra desempenho, com resistências
que ultrapassam os 100 MPa, material que já vem sendo utilizado no Brasil.
“O UHPC (Ultra High Performance Concrete) é um tipo de concreto de alta performance
tão resistente e durável quanto as rochas. Esse concreto oferece resistência à compressão
maior que 20.000 psi, o que significa 138 MPa. No Brasil, sua utilização ajuda na
recuperação das obras de infraestrutura, além da possibilidade de construções robustas
que evitem reparos futuros”.
Para saber mais, acesse o link a seguir.
https://www.tecnosilbr.com.br/uhpc-o-que-e-e-por-que-esse-concreto-deveria-ser-mais-
utilizado-no-brasil/

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AULA 16
DIMENSIONAMENTO DE
ELEMENTOS LINEARES À
FORÇA CORTANTE

16.1 Dimensionamento pela NBR 6118:2014

A NBR 6118:2001 trouxe inovações para o cálculo da armadura transversal e para a


verificação das bielas de compressão pelo efeito da força cortante com relação à versão
anterior NB 1:1978, sendo as principais formas:

• Possibilidade de considerar inclinações diferentes de 45° para a biela de compressão.


• Novidades para o cálculo da força cortante absorvida por mecanismos complementares
(Vc).
• Definição de um valor a ser adotado para a resistência do concreto nas regiões
fissuradas (fcd2).

O cálculo ficou dividido em dois modelos: o Modelo de Cálculo I e o Modelo de Cálculo II.
O primeiro cálculo é baseado na Treliça Clássica de Ritter-Mörsh, com ângulo de inclinação
das bielas fixo e igual a 45°, e o segundo baseado na chamada Treliça Generalizada, com o
ângulo de inclinação das bielas comprimidas variando entre 30° e 45°.
A segurança ao Estado-Limite Último é satisfeita quando são atendidas, simultaneamente,
as duas condições a seguir:

Vsd ≤ VRd2
Vsd ≤ VRd3 = Vc + Vsw

Em que:

Vsd: força cortante solicitante de cálculo na seção;


VRd2: força cortante resistente de cálculo com relação às diagonais de concreto comprimidas;

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VRd3: força cortante resistente de cálculo com relação às diagonais tracionadas;


Vc: parcela de resistência relativa aos mecanismos complementares;
Vsw: força cortante solicitante resistida pela armadura transversal.

16.1.1 Modelo de Cálculo I

Esse modelo considera a utilização da Treliça Clássica de Ritter-Mörsh, com ângulo de


inclinação das bielas comprimidas de 45° e com a resistência proporcionada pelos mecanismos
complementares (Vc) com valor constante e independente da força solicitante (Vsd).

16.1.1.1 Verificação das bielas comprimidas no concreto

Primeiramente, é importante compreender que as bielas de compressão são atravessadas


pelas armaduras transversais que estão tracionadas, conforme podemos observar na Figura
34. Esse efeito faz com que haja necessidade de se reduzir a tensão resistente do concreto
considerada para essas regiões.

Figura 34 - Biela comprimida com tração transversal. Fonte: Adaptada de Bastos (2017, p. 19)

A NBR 6118:2014 limita a tensão de compressão nas diagonais comprimidas pelo valor
de fcd2 para considerar esse efeito.

A tensão atuante na diagonal comprimida é dada pela equação:

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Com as duas equações anteriores, podemos determinar a máxima força cortante resistente
da seção (VRd2), substituindo σcb por fcd2, considerando que o braço de alavanca z é dado por
0,9d (sendo d a altura útil da seção). Considerando que os estribos têm inclinação de 90° (α
= 90°) e fazendo V como a força cortante máxima resistente da seção VRd2 , encontramos:

16.1.1.2 Verificação das bielas comprimidas

Vimos que para satisfazer a segurança da armadura transversal tracionada, deve-se atender
ao seguinte critério: Vsd ≤ VRd3. Fazendo com que Vsd seja igual à maior força cortante
resistente de cálculo com relação à ruptura da armadura transversal tracionada, temos:

Segundo a NBR 6118:2014, a parcela Vc deve ser definida em função do tipo de solicitação
existente no elemento, sendo:

• Elementos tracionados com linha neutra fora da seção transversal:

Vc = 0

• Elementos em flexão simples ou flexo-tração com linha neutra passando pela seção
transversal:

Em que:

Vc0: representa a força cortante de uma viga sem estribos;


fctd: tensão resistente de cálculo do concreto à tração direta, dada por:

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Elementos em flexão-compressão:

Em que:

M0: Momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda da seção tracionada
por MSd,máx
MSd,máx: Momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise.

Com a parcela Vc, deve-se calcular a força cortante Vsw a ser resistida pela armadura
transversal, fazendo:

A equação que define a tensão na armadura transversal é dada por:

Considerando que o braço de alavanca z é dado por 0,9.d, substituindo V por Vsw e fazendo
que a tensão na armadura σsw,α seja definida pela tensão máxima admitida na armadura fywd,
temos:

A tensão máxima admitida na armadura fywd é dependente do tipo de armadura utilizada:

• Armadura transversal constituída por barras dobradas inclinadas:

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• Armadura transversal constituída por estribos:

O ângulo α corresponde à inclinação dos estribos, que varia entre 45°≤ α≤ 90°, e como
comentado, na maior grande maioria das vezes, os estribos são verticais, portanto, α = 90°.
Nesse caso, tem-se:

Lembrando que os estribos são, na maioria das vezes, formados por dois ramos, portanto
Asw equivale, neste caso, a dois ramos. Entretanto, em casos específicos pode-se utilizar
estribos com três ou quatro ramos, conforme pode-se observar em Figura 35.

Figura 35 - Estribos com 2, 3 e 4 ramos. Fonte: Elaborada pelo autor.

Anote isso

Nome do livro: Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado:


Segundo a NBR 6118:2014
Editora: EduFSCar
Autores: Roberto Chust Carvalho e Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho
ISBN: 978-8576003564
Comentário: Um dos mais importantes livros sobre projeto de estruturas de concreto
armado brasileiro e que já está na sua quarta edição. Aborda toda teoria da flexão
simples, bem como do dimensionamento de peças sob forças cortantes.

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16.1.2 Modelo de Cálculo II

Esse modelo foi introduzido na norma NBR 6118:2003 e considera a utilização da Treliça
Generalizada, em que as diagonais comprimidas podem ter inclinações que variam entre
30° e 45°.
A tensão atuante na diagonal comprimida é dada pela equação:

A NBR 6118:2014 limita a tensão de compressão nas diagonais comprimidas pelo valor
de fcd2 para considerar esse efeito.

Com as duas equações acima podemos determinar a máxima força cortante resistente
da seção (VRd2), substituindo σcb por fcd2, considerando que o braço de alavanca z é dado por
0,9d (sendo d a altura útil da seção). Considerando que os estribos têm inclinação de 90° (α
= 90°) e fazendo V como a força cortante máxima resistente da seção VRd2 , encontramos:

Vimos que para satisfazer a segurança da armadura transversal tracionada, deve-se atender
ao seguinte critério: Vsd ≤ VRd3. Fazendo com que Vsd seja igual à maior força cortante
resistente de cálculo em relação à ruptura da armadura transversal tracionada, temos:

Segundo a NBR 6118:2014, a parcela Vc deve ser definida em função do tipo de solicitação
existente no elemento, sendo:

• Elementos tracionados com linha neutra fora da seção transversal:

Vc = 0

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• Elementos em flexão simples ou flexo-tração com linha neutra passando pela seção
transversal:

Vc = Vc1

Elementos em flexão-compressão:

Em que:

Mo: Momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda da seção
tracionada por MSd,máx ;
MSd,máx: Momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise.

O valor de Vc1 é determinado através da seguinte lei de variação:

Fazendo interpolação linear para valores intermediários de Vc1, ou seja:

A variação obedece ao que está demonstrado na Figura 36.

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Figura 36 - Variação de Vc1. Fonte: Bastos (2017, p. 24).

Com a parcela Vc, deve-se calcular a força cortante Vsw a ser resistida pela armadura
transversal, fazendo:

A equação que define a tensão na armadura transversal é dada por:

Considerando que o braço de alavanca é dado por 0,9.d, substituindo V por Vsw e fazendo
que a tensão na armadura σsw,α seja definida pela tensão máxima admitida na armadura fywd,
temos:

Com Asw,α em cm²/cm; Vsw em kN; s e d em cm.

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AULA 17
DIMENSIONAMENTO DE PILARES

17.1 Considerações iniciais

Como visto anteriormente, o pré-dimensionamento de pilares, em termos da sua seção


transversal, deve considerar a área de influência das lajes e vigas que deverão direcionar os
seus esforços, parcial ou totalmente, para estes últimos elementos e para efeito de projeto,
os pilares serão classificados como intermediários, de canto ou pilares de extremidade.

ISSO ESTÁ NA REDE

Para cada um dos tipos básicos de pilares ocorre uma situação de projeto diferente,
dependente do tipo de solicitação que atua no pilar (Compressão Simples e Flexão
Composta Normal ou Oblíqua).
Saiba mais no item 11 da apostila do Prof. Dr. Bastos
https://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto2/Pilares.pdf

17.2 Comprimento efetivo e esbeltez

O comprimento equivalente (le) está relacionado com a flambagem que pode levar uma
peça submetida à compressão, à ruptura antes de esgotar sua capacidade resistente e deve
ter como parâmetros de comparação a distância entre as faces dos elementos estruturais
e a distância entre eixos, conforme a Figura 37.

Figura 37 – Valores de lo e l
Fonte: Adaptada de Bastos (2020, p. 52).

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Onde:
o = distância entre as faces internas dos elementos estruturais, supostos horizontais,
que vinculam o pilar;
h = altura da seção transversal do pilar, medida no plano da estrutura em estudo;
= distância entre os eixos dos elementos estruturais aos quais o pilar está vinculado.
Para pilares em balanço (engastados na base e livres no topo) a NBR 6118:2014 recomenda
utilizar le = 2l. Ainda segundo a norma, o índice de esbeltez deve ser calculado pela seguinte
expressão:

com o raio de giração (i) sendo:

Para seção retangular o índice de esbeltez resulta:

Onde:
e = comprimento equivalente;
i = raio de giração da seção geométrica da peça (seção transversal de concreto, não se
considerando a presença de armadura);
I = momento de inércia;
A = área da seção;
h = dimensão do pilar na direção considerada.
O comprimento equivalente depende do tipo de vínculo localizado nas extremidades de
uma barra. Considerando o índice de esbeltez máximo, os pilares podem ser classificados
como:
• Curto: se <
_ 35;
• Médio: se 35 < <
_ 90;
• Medianamente esbelto: se 90 < <
_ 140;
• Esbelto: se 140 < _< 200.
• Na maioria das vezes os pilares curtos e médios ( <
_ 90) são os mais empregados,
os demais casos são menos frequentes.

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17.3 Roteiro de cálculo para pilares

O dimensionamento de pilares de concreto armado deve ser iniciado pela caracterização


da força normal de cálculo (Nd). Assim teremos que:
Nd = n . f . Nk
Onde:
Nk = força normal característica do pilar;
n = coeficiente de majoração da força normal (Tabela 13.1 da NBR 6118:2014);
f = coeficiente de ponderação das ações no ELU (Tabela 11.1 da NBR 6118:2014).
Essas limitações e coeficientes da NBR 6118:2014 são definidos com o objetivo de evitar
um desempenho inaceitável nos elementos estruturais e proporcionar condições adequadas
de execução. Outra restrição imposta diz respeito ao conceito de pilar e pilar-parede, sendo
que para que se admita uma peça como pilar-parede a menor dimensão do pilar deve ser
menor que 1/5 da maior dimensão do pilar.
Em seguida, procede-se ao cálculo do índice de esbeltez da peça, conforme o item 11.2.
Cabe pontuar que a esbeltez induz o surgimento de momentos fletores nos extremos do
pilar, portanto, a próxima etapa consta da verificação do momento fletor mínimo:
M1d,mín = Nd (1,5 + 0,03 h) ,
Com h = dimensão do pilar, em cm, na direção considerada.
A esbeltez máxima admitida também deve ser consultada, por meio da equação da esbeltez
limite:

Considerando:
35 < 1 < 90;
e1 = 0 para pilar intermediário;
Caso o resultado leve a um valor de esbeltez menor ou igual à esbeltez limite ( <
_ 1) não
se considera o efeito local de 2ª ordem na direção considerada, caso contrário ( > 1) se
considera o efeito local de 2ª ordem na direção admitida.
O dimensionamento da armadura para pilares pode ser realizado em função tanto do
momento fletor mínimo quanto da excentricidade acidental. A verificação do momento fletor
total em cada direção da seção transversal do pilar pode ser feita por meio dos diagramas
de momentos fletores e das excentricidades, e com a aplicação da equação de Md,tot ,
segundo os processos aproximados da NBR 6118:2014, sendo estes:
• Método do pilar-padrão com curvatura aproximada;

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• Método do pilar-padrão com curvatura aproximada;


• Método do pilar-padrão com curvatura aproximada, em que:

Método do pilar-padrão com rigidez aproximada;


Com a excentricidade acidental (sem consideração do momento fletor mínimo).
Os roteiros para cada um destes métodos e as suas considerações podem ser encontrados
a partir do item 15.8.3.3 (Métodos aproximados) da NBR 6118:2014.

17.3.1 Imperfeições globais.

A NBR 6118 (2014, p.58), por meio do item 11.3.3.4 estabelece que, na verificação do
estado-limite último “devem ser consideradas as imperfeições geométricas do eixo dos
elementos estruturais da estrutura descarregada. Essas imperfeições podem ser divididas
em dois grupos: imperfeições globais e imperfeições locais”.
Na análise global dessas estruturas o desaprumo, isto é, a falta de alinhamento vertical
(ou inclinação dos elementos construtivos) deve ser considerada conforme a Figura 38.

Figura 38 – Imperfeições geométricas globais


Fonte: NBR 6118 (2014, p.59).

Onde:
θ1min = 1/300 para estruturas reticuladas e imperfeições locais;
θ1máx = 1/200;
H é a altura total da edificação, expressa em metros (m);
n é o número de prumadas de pilares no pórtico plano.

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17.3.2 Armadura longitudinal.


As disposições relativas à armadura longitudinal dos pilares encontram-se no item 18.4.2
da NBR 6118:2014.
Com relação ao diâmetro mínimo admitido ( ) a NBR estabelece que:

Quanto à distribuição na seção transversal, segundo a NBR 6118 (2014, p.151), as barras
longitudinais devem ser posicionadas para
garantir a resistência adequada do elemento estrutural. Em seções poligonais
deve existir pelo menos uma barra em cada vértice; em seções circulares,
no mínimo seis barras distribuídas ao longo do perímetro. O espaçamento
mínimo livre entre as faces das barras longitudinais, medido no plano da
seção transversal, fora da região de emendas, deve ser igual ou superior ao
maior dos seguintes valores:
• 20 mm;
• diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
• 1,2 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo.

Para feixes de barras deve-se considerar o diâmetro do feixe: n = √n , onde n é o número
de barras do feixe.
Esses valores se aplicam também às regiões de emendas por traspasse das
barras. Quando estiver previsto no plano de concretagem o adensamento
através de abertura lateral na face da fôrma, o espaçamento das armaduras
deve ser suficiente para permitir a passagem do vibrador (NBR 6118, 2014,
p.151).
O espaçamento máximo entre eixos das barras, ou de centros de feixes de barras, deve ser:

17.3.2.1 Armadura mínima e armadura máxima.

A armadura longitudinal mínima é caracterizada, segundo o item 17.3.5.3.1 da NBR


6118:2014, sendo:

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Em que:
Nd = força normal de cálculo;
fyd = resistência de cálculo de início de escoamento do aço;
Ac = área da seção transversal do pilar.

Quanto à armadura máxima essa pode ser calculada conforme o item 17.3.5.3.2 e é dada
por:
As,máx = 0,08 Ac
“A máxima armadura permitida em pilares deve considerar inclusive a sobreposição de
armadura existente em regiões de emenda, devendo ser também respeitado o disposto em
18.4.2.2” (NBR 6118, 2014, p.132).
Um exemplo de detalhamento das barras longitudinais para pilares contraventados,
bastante típico em projetos estruturais, pode ser visualizado na Figura 39.

Figura 39 – Arranjos longitudinais típicos em edifícios.


Fonte: Fusco (2000) apud Bastos (2020, p.75).

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CONCLUSÃO

Este material procurou evidenciar a importância de uma boa concepção estrutural e de


todo o processo do dimensionamento e detalhamento de lajes, vigas e pilares, a disposição
desses elementos, a vinculação entre eles, a estimativa dos esforços solicitantes, entre
outros aspectos.
Nesse sentido, é preciso pontuar a importância de obedecer às recomendações normativas,
a fim de que o processo de maior confiabilidade seja adotado. A NBR 6118 (ABNT, 2014),
além de ser um documento direcionador dos serviços referentes ao projeto e execução de
estruturas de concreto armado, também se configura em uma ferramenta de salvaguarda
do profissional.
É fundamental que o projetista estrutural esteja consciente que é a sua atuação que trará
segurança, qualidade, durabilidade e economia às obras e para isso o mesmo deve conhecer
e dominar as características e o comportamento dos materiais que está usando, bem como
os modelos de cálculo que serão aplicados para o dimensionamento da estrutura.
Também pudemos perceber que o estudo da flexão normal simples proporciona o
entendimento dos mecanismos resistentes quando ambos os materiais que constituem o
concreto armado, o concreto e o aço são aproveitados em seu máximo, ou seja, o concreto
é comprimido enquanto o aço tende a escoar por tração. Além disso, nós verificamos que
essa situação ocorre no caso das duas possíveis seções: retangulares e T, e que este estudo
tem como objetivo dimensionar as vigas, mensurar a sua área de armadura, quantificar as
barras de aço ou simplesmente para verificar a resistência das seções.
Por fim, é necessário pontuar que as estruturas de concreto armado ainda são as mais
utilizadas em edifícios no Brasil, por isso o assunto é muito importante na formação de um
engenheiro civil. Esse profissional deve dominar as técnicas de projeto, dimensionamento
e detalhamento para que assim possa suprir a necessidade da sociedade brasileira, pois
garantir a estabilidade estrutural é assegurar que as edificações sejam seguras, funcionais
e eficientes.

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES

LIVRO

Dica de leitura: livro “Concreto: ciência e tecnologia


volumes I e II”.
Editora: Ibracon
Autor: G.C. Isaia.
ISBN: 978-85-98576-16-9.
Comentário: O livro trata da tecnologia do concreto
enquanto material em diversas linhas de pensamento
passando pela microestrutura, composição química,
propriedades nos estados fresco e endurecido assim
como dos problemas decorrentes da má manipulação
do material.

LIVRO

Dica de leitura: livro “Concreto armado, eu te amo”.


Editora: Blucher
Autor: Manoel Henrique Campos Botelho, Osvaldemar
Marchetti
ISBN: 978-8521208983.
Comentário: A oitava edição deste livro considera a
incorporação de um registro fotográfico mais completo
que as anteriores, além de explicar e comentar
aspectos importantes a serem considerados na última
atualização da norma do concreto armado (NBR
6118:2014).

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WEB

Nome: Concreto armado


Comentário: O curso de concreto ministrado pelo Prof. Dr. Antônio Domingues de Figueiredo
volta-se ao conhecimento do concreto e do seu papel na concepção estrutural. Nele o professor
expõe vários dos conhecimentos necessários à execução de elementos de concreto armado,
desde o planejamento do material até a sua execução em obra.
Para conhecer mais sobre o vídeo, acesse o trailer disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=wL8VxuAxyxs.

WEB

Nome: Megaconstruções: aeroporto internacional de Hong Kong


Comentário: Megaconstruções é uma série produzida em 2003 pelo Discovery Channel
que mostra construções de grande porte que já foram ou estão sendo construídas.
Para conhecer mais sobre o filme, acesse o trailer disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=tGpXUV2qBWE .

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REFERÊNCIAS

ARCELORMITTAL. Manual Técnico de Treliças Nervuradas. 2010. Disponível


em: https://brasil.arcelormittal.com/produtos-solucoes/construcao-civil/trelicas-
nervuradas?asCatalogo=pdf. Acesso em: 30 abr. 2021.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Tipos de cimento. Disponível


em: https://abcp.org.br/cimento/tipos/. Acesso em: 30 abr. 2021.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto –


Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto – Ensaios


de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.NBR 6118. Projeto de estruturas


de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: Cargas para o cálculo


de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 2019.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211: Agregados para


concreto – Especificação. Rio de Janeiro, 2009.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7480: Aço destinado a


armaduras para estruturas de concreto armado – Especificação. Rio de Janeiro,
2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8522: Concreto –


Determinação dos módulos estáticos de elasticidade e de deformação à compressão.
Rio de Janeiro, 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681: Ações e segurança


nas estruturas – Procedimento. Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655. Concreto de cimento


Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação — Procedimento. Rio de Janeiro,
2015.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16697: Cimento Portland


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BASTOS, P. S. S. Fundamento do Concreto Armado: notas de aula. Bauru: Universidade


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BASTOS, P.S.S. Lajes de Concreto. Bauru/SP, Unesp - Departamento de Engenharia


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LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos do


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982, 305p.

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MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: microestrutura, propriedades e materiais.


2. ed. São Paulo: IBRACON, 2014.

PINHEIRO, L. M.; MUZARDO, C. D.; SANTOS, S. P. Fundamentos do concreto e projeto


de edifícios: Pré-dimensionamento. Notas de Aula do departamento de engenharia
de estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos na Universidade de São Paulo.
São Carlos, 2003.

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