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Copyright © 2019 Bianca Brito

Livro registrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em fevereiro de


2019.
Cachoeira – Bahia, Brasil, 2019.

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Capitulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capitulo 04
Capitulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21 Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Epílogo
Bonus
Os Herdeiros Andreozzi

Dedico esta obra ao meu amor, meus leitores e amigos, que amaram
esta família tanto quanto eu amei.
Obrigada por compreenderem que o amor está acima de qualquer
coisa e que ele existe em todas as suas formas.
Olá, queridos e queridas. Escrever está história foi um enorme
desafio. Os Aandreozzi surgiram em minha vida, através da minha imensa
vontade de ter uma família tão plena, terrivelmente bagunceira e unida
como eles são, e também — é claro — por causa do meu grande amor pela
belíssima Itália.
Sei que os meus italianos não são nada convencionais, mas aí que
está o espírito desta aventura. (Risos) Gosto do diferente e gosto mais ainda
das coisas pouco convencionais. Mas, independentemente disso, quando a
magia do amor acontece, tudo e todas as coisas ficam mais bonitas. Espero
que vocês, leitores, possam amar os Irmão Aandreozzi, assim como eu amo.
Saibam que a história desta família não termina aqui.
Agora, fiquem com o amor de Luiz e Filippo.

Atenciosamente,
Bianca Brito

Saí de casa já um pouco atrasado para mais um dia de trabalho. Fui


correndo pegar meu capacete e subi em minha moto, uma Honda CB
Twister que comprei com muito esforço e a qual ainda pagava prestações,
mas Deus havia de me ajudar que logo iria quitar.
Trabalhava em um dos restaurantes mais caros da cidade de São
Paulo chamado Benedetti, onde só frequentava os figurões da sociedade
paulistana.
Desculpe se não me apresentei; me chamo Luiz Otávio, mas todos
me tratam por Luti, um apelido carinhoso que meu pai me deu quando eu
ainda era uma criança. Por falar nos meus pais, eu havia acordado com
saudade deles. Eles faleceram em um acidente de ônibus terrível, quando eu
ainda era um moleque. Às vezes, recordar deles me fazia chorar.
Meu amigo Beto foi quem me conseguiu o trabalho e já fazia cerca
de um ano que estava trabalhando no restaurante como garçom. Beto dizia
que nós só continuávamos lá por tanto tempo, por sermos inteligentes e
muito bonitos. Quando ele fez esse comentário, não contive minha risada.
Meu amigo às vezes falava muita besteira, fora que era um convencido de
primeira categoria. No entanto, tinha de concordar que eu sempre fui um
cara boa pinta. Branco, cabelos e olhos castanho-claros, um metro e setenta
e oito de altura, dono de um sorriso bonito e corpo proporcional ao meu
tamanho, com algumas definições conseguidas indo para academia todos os
dias com Beto.
Sempre fui um admirador de pessoas com sorriso bonito, ficava
hipnotizado. Talvez tenha sido daí que surgiu meu sonho de me tornar um
cirurgião dentista.
Nunca fui muito bom quando o lance era paquerar, diferente do Beto
que passava o rodo em geral. Eu só havia transado uma única vez e foi uma
experiência traumática, tinha até vergonha de assumir isso, mas pense
comigo; um homem de dezenove anos que ainda só havia tido uma parceira
sexual por causa da incrível capacidade de ser muito tímido. Claro que já
havia dado alguns beijos em algumas garotas, mas não por incentivo meu.
Cheguei ao restaurante e lá na frente estava Beto com seu uniforme
de manobrista. Assim que ele me viu, acenou com a mão para mim. Guardei
minha moto no estacionamento para funcionários e segui para o vestiário
masculino, vestir meu uniforme composto por uma calça social preta,
camisa branca de mangas compridas, colete preto e sapatos social de
mesma cor. Depois de me arrumar, saí às pressas para cozinha e dei logo de
cara com o chefe e dono do estabelecimento, Marco Benedetti.
Marco Benedetti era brasileiro com descendência italiana, um
renomado chefe de cozinha que seguiu os passos do avô paterno, o antigo
dono do restaurante. Ele era um ótimo chefe, tanto na cozinha como para
com seus funcionários. Eu não tinha o que reclamar dele, sempre me tratou
bem. Marco era um cara bonito, tinha traços de uma mistura interessante
entre os dois países, branco com os cabelos cacheados e olhos negros.
— Isso são horas, Luti? Pensei que não vinha mais — disse Marco
assim que me viu.
— Desculpe o atraso, chefe. Isso não irá acontecer novamente —
falei muito desconcertado, tendo a certeza que estava vermelho de
vergonha.
— Assim espero. Agora adiante, pois temos muitas reservas e daqui a
vinte minutos vamos abrir o restaurante. — Olhou o relógio de pulso.
Após o aviso de Marco, fui ajudar a arrumar algumas mesas que
faltavam ser organizada; dobrei os guardanapos, verifiquei as taças, ajeitei
os arranjos, fiz tudo que eu já estava acostumado a fazer no meu dia a dia
no trabalho. Vinte minutos depois o restaurante foi aberto e após um tempo
os clientes foram chegando devido as suas reservas feitas com antecedência.
Comecei a atendê-los com muita seriedade e profissionalismo. No
início era bem difícil ficar diante dos clientes, devido à minha timidez que
era absurda na época, mas com o trabalho fui melhorando um pouco, no
entanto, ainda me atrapalhava quando aparecia algo que saia do meu
controle emocional.
Depois de um tempo, fui avisado que Marco queria me orientar
sobre algo. Entrei na cozinha e, ainda mesmo depois de um ano trabalhando
ali, eu fiquei admirado com a beleza e eficiência do lugar todo em branco
com as panelas brilhantes que davam até gosto de ver, mas que na hora do
expediente, se encontrava como um campo de batalha. O chefe estava em
tempo de estourar a veia da garganta de tanto gritar com os ajudantes.
— O senhor mandou me chamar, chefe? — perguntei assim que me
aproximei de Marco.
— Sim, Luti. Você é um dos melhores garçons que temos aqui no
restaurante, então, eu quero te pedir para que quando o Sr. Aandreozzi
chegar, você faça o seu atendimento — disse ele, andando de um lado para
outro nervoso.
— Claro, senhor. Vou pedir a Analú que quando este senhor chegar,
ela me chame — falei o mais calmo possível.
— Entenda uma coisa antes de mais nada. Aandreozzi é um
empresário muito importante. O atendimento dele tem que ser exemplar.
Ele chegou há pouco tempo da Itália e é sua primeira vez aqui no Benedetti.
— Olhou-me com os olhos suplicantes.
— Tudo bem, chefe. Farei o meu melhor, pode deixar.
Ele assentiu.
Saí da cozinha e fui ao encontro da recepcionista. Analú era uma
mulher muita linda, simpática, pele negra, olhos incríveis cor-de-mel,
cabelos castanhos compridos, além de que sabia muito bem como se vestir.
Ela parecia uma índia, tinha uma beleza exótica a qual eu estava
terminantemente proibido de olhar com outras intenções, já que meu amigo
Beto era louco por ela.
— Olá, Luti. Noite agitada, não é mesmo? — falou Analú assim que
me viu.
— Verdade, mas nós damos conta disso. — Sorri. — Ana, você
poderia me falar a que horas está marcada a reserva do Sr. Aandreozzi?
— Claro que sim, deixe-me olhar aqui. — Abriu a agenda eletrônica
no tablet. — Aqui está. A reserva dele está para as oito e meia, mesa dez.
— Muito obrigado, Ana. Se por algum acaso ele chegar e eu estiver
ocupado, me chame, por favor.
— Pode deixar, Luti!
A noite foi passando, enquanto eu atendia aos clientes. Prestei
atendimento a um rapaz que não entendia nada do cardápio e ainda era
teimoso, além de curioso ao extremo. Ficava me perguntando o que cada
prato levava de ingredientes, ou seja, foi muito chato atendê-lo, mas eu já
estava acostumado com esse tipo de cliente. Foi preciso ter toda paciência
possível com ele para não me estressar.
Depois de um tempo fui chamado por Anderson, outro garçom da
casa. Ele veio me informar que o Sr. Aandreozzi havia chegado. Deixei o
cliente que estava atendendo com Anderson e segui para atender a mesa
dez. Indo em direção à mesa, avistei que tinha duas pessoas; um homem e
uma mulher. Eles conversavam intimamente como se conhecessem há um
bom tempo. Assim que me aproximei, não sei dizer o que me aconteceu. No
momento em que o Sr. Aandreozzi virou-se na minha direção, paralisei.
Minhas mãos começaram a suar, era como se eu já tivesse visto aquele
homem antes, mas sabia que não.
Que porra! Ele era o cara mais bonito que eu já havia visto na minha
vida. Tinha cabelos negros como uma noite sem estrelas, olhos azuis da cor
do mar do caribe, rosto sério, muito sério para dizer a verdade, e estava
bastante formal usando um paletó e gravata que deviam custar o valor da
minha casa.
“Que diabos é isso que estou pensando?” Parei, respirei fundo e
balancei a cabeça em negação indo atendê-los.
— Boa noite, senhor e senhora. Bem-vindos ao Benedetti — falei em
um tom profissional e passei o cardápio junto a carta de vinhos para eles.
— Ho pensato che si sarebbe continuare in piedi come un fantasma e
non lo soddisferebbe (Pensei que você iria continuar parado, parecendo um
fantasma e não viria me atender) — disse ele em italiano, com uma voz
incrivelmente rouca.
“Puta merda, meu! Eu não entendi nada.”
— Desculpe, senhor, mas eu não falo sua língua — disse muito
envergonhado.
Meu rosto estava quente, naturalmente estava muito
vermelho.
— Como você trabalha em um restaurante italiano e não entende nada
da minha língua? — disse sem olhar para mim, mostrando estar bem irritado
em um português quase perfeito. — Não importa. — Direcionou seu olhar
para mulher que estava com ele.
— Hai scelto quello che si vuole mangiare, Antonella? (Já escolheu o
que você vai querer comer, Antonella?) — Mais uma vez ele disse algo que
não entendi para moça.
— Che cosa si sceglie di me va bene, miele (O que você escolher para
mim está bom, querido) — respondeu a mulher com uma voz sedutora.
— Sì così, ótimo! (Se é assim, ótimo!) — disse ele, ainda olhando para
o cardápio antes de fechá-lo e olhar para mim.
— De entrada vamos querer uma salada primavera, o prato principal
será risotto alla milanese e de sobremesa queremos tiramisù — disse tão
rápido que se eu não tivesse prestado atenção, não teria conseguido anotar.
— E o vinho, senhor? Qual irá querer? — perguntei tentando não
desmontar meu profissionalismo à frente do homem rude.
— Traga o Gran Cru Corton-Charlemagne, 2008. É só isso, pode ir —
mandou fazendo um gesto de dispensa com a mão para eu sair.
Saí de lá o mais rápido possível como se eu tivesse fugindo da polícia.
Cheguei na cozinha e entreguei o pedido à Marco que logo se adiantou em
preparar. Tive que voltar à mesa para poder encher as taças com água e
retornei rapidamente para pegar as duas entradas que já estavam prontas.
Entreguei os pedidos e só ouvi um grazie que veio da mulher com ele.
Caminhei até adega e peguei o vinho levando-o até à mesa. Mostrei-
o para o Sr. Aandreozzi e ele levantou a taça para que eu o servisse, sem
nem ao menos me olhar. Coloquei um pouco para degustação e ele tomou
um gole fazendo aquelas paradas que todo mundo que entende de vinho
faz. Após degustar do vinho, ele assentiu para que eu os servisse. Enchi suas
taças até metade e me retirei. Fiquei observando-o de longe para que
quando eles terminassem, eu recolhesse as louças e levasse o prato
principal. Enfim pude reparar na moça que estava jantando com ele. Ela era
bem magra e tinhas cabelos loiros e compridos, muito linda por sinal.
Assim seguiu o atendimento do Sr. Aandreozzi. Pude perceber com o
passar da noite, que ele era um homem muito bruto. Eu odiava pessoas
assim, que achavam que só porque tinham mais dinheiro que outras,
também tinham o direito de maltratar as pessoas. Seu comportamento
hostil não foi apenas comigo, que era um garoto pobre. Ele também tratou
com muita frieza a sua acompanhante. Ela sempre puxando assunto e ele
sempre monossilábico. Não sabia o porquê, mas o olhar daquele homem me
dava muito medo.
Sem querer, eu sempre ficava muito tempo o observando, e para
meu desespero, ele sempre percebia e me pegava no flagra.
Quando fui levar a conta, percebi que a Antonella estava muito
irritada, como se estivesse reclamando de algo, enquanto o Sr. Aandreozzi
continuava com sua expressão séria e impassível, como se aquilo não o
afetasse de forma alguma. Depois de pagar a conta, eles se levantaram para
ir embora, e só então pude perceber o quanto o homem era alto. Ele devia
ter quase dois metros de altura, parecia um armário. Eu perto dele me senti
um anão.
Eles nem se deram o trabalho de se despedir e foram andando para
fora do restaurante. Assim que eu os vi porta a fora, pude respirar aliviado e
relaxar meus músculos outra vez.
O Sr. Aandreozzi era jovem e pelo o que eu soube muito rico, mas
pude ver que não existia nem um pingo de humildade nele. Cheguei à
cozinha e Marco já me veio com interrogatório.
— E aí, como foi atender o magnata? — perguntou curioso
— Foi muito estranho, Marco. Esse homem me deu medo, fora que é mal-
educado, grosso e rude. Não sei, ele deve se achar o dono do mundo — falei
bem irritado.
— Nossa, parece que o Aandreozzi arranjou mais um desafeto. —
Riu.
Fiquei curioso.
— Como assim; “mais um desafeto”?
— Soube por algumas pessoas que ele carrega consigo um número
grande de inimigos. Dizem que ele nos negócios é como um trator, passa por
cima de tudo e de todos sem se importar com nada — falou Marco mexendo
na panela.
— Deixa eu voltar para o meu trabalho, não sou um magnata como
certas pessoas. — Saí da cozinha.
Minha noite de trabalho acabou por volta de uma da manhã. Depois
de ajeitar as coisas para que as pessoas do período do meio-dia não
tivessem tanto o que fazer, fui para o vestiário e coloquei a roupa com a
qual cheguei, acrescentando um blusão de frio. Peguei meu capacete e fui
ao encontro de Beto, que sempre me esperava para pegar uma carona até
em casa. Cheguei no lugar em que estacionei e o encontrei encostado na
moto, mexendo no celular.
— Fala aê, Luti? Que cara é essa, mano? — perguntou Beto assim
que me viu.
— Nada não, cara. Só estou cansado. — Realmente estava.
— Irmão, você viu o ricaço que teve aqui no restaurante
hoje?
— Claro, mano. Foi eu quem atendeu aquele sujeito — falei com
desgosto.
— Está falando isso porque não viu a máquina que o cara chegou.
Tipo assim, Luti, uma Lamborghini, meu. Quando eu entrei naquele carro,
você não tem noção do que eu me senti. — Ele parecia como uma criança
que havia ganhado o presente que tanto queria. Estava Feliz.
— Muito legal, amigo. Enquanto você ficou com a diversão, eu tive
que aguentar a arrogância daquele sujeito de merda — disse irritado.
— Calma aê, mano. Sei que ficou com inveja de mim, mas não
precisa ficar irritado — brincou.
— Ok. Vamos embora que eu preciso dormir.
Montei em minha moto e Beto na garupa, então, seguimos para
casa. Beto e eu morávamos no mesmo bairro desde moleques. Como o
transito estava calmo, devido ao horário, chegamos rapidamente. Deixei-o
em sua casa e segui para minha. Minha casa era pequena, mas bem
aconchegante, tinha uma pequena varandinha com um pequeno portão de
ferro na entrada. Coloquei minha moto para dentro do portão e entrei.
Assim que abri a porta, encontrei minha tia sentada no sofá assistindo a um
filme, como fazia sempre que me esperava chegar.
— Boa noite, tia Amélia. Já falei que não tem necessidade da senhora
ficar até essa hora acordada me esperando. — Dei um beijo em sua testa e
sentei-me ao seu lado no sofá.
— Eu sei, meu filho. Mas você sabe que eu não consigo dormi até ver
você são e salvo em casa. Ainda mais depois que você comprou esse troço
que eu não suporto ver você montado — disse com a voz um pouco
cansada.
— Já conversamos sobre minha moto, tia. Ela me ajuda muito, a
senhora sabe como é o transito dessa bendita cidade.
— Vamos deixar para falar sobre isso depois. Você está com fome,
meu querido?
— Não, tia, eu jantei no restaurante. Aquilo lá estava um caos como
sempre, mas ocorreu tudo bem.
— Tudo bem, Luti. Acho que vou me deitar, então. — Levantou-se e
em seu semblante percebi que algo estava estranho. Preocupação, talvez.
— Tia, a senhora está entranha. Aconteceu alguma coisa?
— Não aconteceu nada, Luti. Podemos falar amanhã? — Suspirou
alto.
— Fala comigo, tia. O que está acontecendo? Seja o que for,
estaremos junto nisso.
— Os vizinhos estão dizendo que tem uma empresa que comprou as
terras do nosso bairro e que irá despejar todo mundo daqui.
— Como assim? Que empresa é essa? Eles não podem fazer isso! —
falei desnorteado com a novidade maldita.
— Pois é, meu querido. Foi isso que eu pensei também, mas estão
falando que as terras foram compradas e que essa empresa de construção
vai demolir tudo por aqui.
— Isso não pode acontecer, tia. Tudo bem que esta casa não é nossa,
mas e quanto aos outros que tem suas casas próprias? O que vão fazer?
— Eu de verdade não sei, Luti. Está todo mundo muito nervoso e
com medo de sair do bairro. Aqui é muito bom de se viver, todo mundo
conhece todo mundo e a vizinhança é bastante amigável.
— Eu também adoro viver aqui, tia. Meus amigos e minha vida foi
toda aqui. Gosto muito de morar no bairro. Todo mundo precisa se unir para
não perder suas casas.
— Se isso fosse assim tão simples e fácil, meu querido, mas você sabe
que nem todo mundo pensa assim. Tenho certeza que tem várias outras
pessoas bem ambiciosas por trás dessa venda de terrenos no bairro.
— A senhora com certeza está certa, tia. Tem pessoas que são tão
fáceis de serem compradas, que me dá enjoo só de imaginar.
— Olha, Luti... Vamos conversar sobre isso depois, tudo bem? Vá
procurar descansar, amanhã você vai para sua academia de maluco e para o
cursinho, ou seja, seu dia é cheio como sempre.
— Tudo bem, tia. Boa noite e até amanhã.
— Boa noite, meu lindo. Durma bem, meu Luti.
Dei um beijo de boa-noite em minha tia e segui para meu quarto.
Meu canto era tão simples como qualquer outro quarto de uma pessoa
normal. Nele tinha uma cama de casal encostada na parede, que eu fiz
questão de comprar com o dinheiro do meu primeiro salário, um guarda-
roupa e uma cômoda com minha televisão e o meu vídeo game sobre ela.
Tudo comprado com meu suado dinheiro do trabalho no restaurante.
Tomei um banho e de lá não consegui parar de pensar no homem
mais arrogante que eu já tive o desprazer de conhecer, porém, eu não podia
negar que o maldito italiano era muito bonito, elegante, e tinha uma
presença tão forte que mais parecia o maior alfa de todos os tempos.
“Por que eu estou pensando essas coisas? Não deveria fazer isso, ele
é só um homem!” Sacudi a cabeça para clarear a minha mente traiçoeira e
saí do banheiro.
Fazendo de tudo para parar de pensar naquele sujeito, deitei em
minha cama. O dia seguinte seria mais um grande dia e tinha muitas coisas
para fazer, minha vida tinha que andar. Com isso, meu corpo foi sucumbindo
ao sono, ele merecia um pouco de descanso.
Acordei sobressaltado, assustado com o sonho mais louco que eu já
tive em toda minha vida. Sonhei com o infeliz do Aandreozzi e foi o sonho
mais furioso de erótico que alguém pode ter. Agora estava ali com meu
corpo quente e ainda por cima sustentando uma enorme ereção debaixo
dos lençóis. Apertei meu pau e um gemido escapuliu por minha boca.
“Recuso-me fervorosamente a me masturbar pesando nesse sonho
sem sentindo e ainda mais me masturbar pensando em um homem.”
Claro que eu já havia olhado para homens bonitos, mas sempre
discretamente e nunca me imaginei tendo relações com nenhum deles.
Santo inferno! Eu nunca me senti atraído por outro homem, na verdade, eu
não sabia o que pensar. A única coisa que sabia que tinha que fazer, era
parar de imaginar coisas e sonhar besteiras.
Levantei revoltado da cama, fui ao banheiro tomar um banho para ir
à academia. Assim que terminei o banho e de escovar os dentes, voltei para
o meu quarto e vesti uma regata preta, calça apropriadas de malha fina e
leve, meus tênis e um blusão para o tempo frio que fazia lá fora. Chegando à
cozinha, tomei um café com minha tia e assim que terminei, saí de casa
pegando meu caminho para academia.
Alonguei-me em frente de casa para relaxar meus músculos, coloquei
meus fones de ouvido, selecionei a música Controlla – Drake na minha
playlist, e segui para academia em uma corrida leve para aquecer meu
corpo, já que a distância era bem pouca. Assim que cheguei vi Beto, Rick e
Silvinho conversando na calçada. Quando eles me viram, acenaram para que
eu me aproximasse.
— E aí, caras? Vão ficar de conversinha ou vamos malhar? Porque
lhes digo, meus amigos, eu tenho muito o que relaxar — falei sorrindo e
cumprimentando cada um deles.
— Claro que vamos, mano. Os caras estavam me falando do baile
porra louca na comunidade mais tarde — disse Beto eufórico.
— É isso mesmo, irmão. Hoje vai ser porra louca por lá. Você com
essa cara de mauricinho vai conseguir um monte de vadia para comer —
disse Silvinho sorrindo para mim.
—- Você só fala merda, Silvio! — falei abaixando a cabeça e sentindo
meu rosto ficar vermelho de vergonha.
— Olhe como ele ficou, Silvinho. Poxa, nosso Luti ainda é uma
pequena criança — disse Rick gargalhando.
— Nem vou te dar muito ibope, vou malhar que eu quero relaxar e
não me estressar mais. — Caminhei para dentro da academia.
— Vai malhar o que hoje, Luti? — perguntou Beto passando o braço
pelo meu ombro.
— Sabe que eu nem sei, vou perguntar para o Carlos.
— Então vamos lá.
Perguntei ao Carlos, o personal, o que eu iria malhar naquela manhã,
já que o mesmo havia mudado a minha série de exercícios e eu não tinha
noção do que fazer. Depois que ele me passou a nova série, fui direto para
esteira vazia e dei uma corrida de vinte minutos para me aquecer um pouco
mais. Algum tempo depois já estava molhado de suor. Tirei minha camisa e
fui malhar.
— Luti, não sei como você não pega todas essas meninas que ficam
te secando aqui na academia — falou Beto, enquanto bebericava sua água.
— Não sei de onde você tira essas coisas. — Continuei minha
atividade sem olhá-lo.
— Sério, mano! Olhe só para aquela loirinha ali no aparelho, perto do
bebedouro. — Ele e eu olhamos ao mesmo tempo.
Quando olhei, tinha uma menina muito bonita com um corpão todo
definido olhando diretamente para mim. Ela olhava para o meu peitoral
como se fosse um pedaço de carne suculenta, parecia um leão que estava há
muitos dias sem se alimentar. Não consegui sustentar o olhar dela e abaixei
minha cabeça me concentrando no que eu já estava fazendo.
— Tenho certeza que essa safada quer dar para você, meu amigo —
disse Beto com um olhar malicioso.
— Por que você simplesmente não vai lá e se apresenta para ela? —
perguntei como quem não queria nada.
— Você é maluco, está na cara que eu vou receber um sonoro não
bem grande. A gostosa quer você.
— Porra, cara! Deixa eu terminar aqui. Pode ser? — perguntei
irritado.
Por segundos pensei na possibilidade de estar com aquela mulher,
mas logo veio como uma avalanche o italiano arrogante em minha mente e
isso me deixou puto da vida.
— Está irritadinho, é? Pode deixar que estou vazando. —
Saiu.
Enfim pude respirar aliviado.
Deu meu horário e eu tinha que ir correndo para casa almoçar e me
arrumar para não chegar atrasado no cursinho. Em algumas semanas eu
teria uma prova importante a qual precisava ser aprovado a todo custo, e
estava muito nervoso pensado na possibilidade de não conseguir.
Saí da academia depois de me despedir dos meus amigos e segui
para casa. Chegando lá, tomei um banho para relaxar os músculos doloridos
da malhação e coloquei somente uma cueca boxer cinza. Estava sozinho em
casa, minha tia estava no trabalho e não tinha problema algum em ficar à
vontade em minha própria casa.
Já na cozinha, esquentei a comida que ela sempre deixava pronta
para mim, almocei assistindo TV como sempre fazia e assim que terminei,
corri para o quarto me arrumar. Separei uma bermuda jeans de lavagem
clara, uma blusa polo cinza e por último meu vans branco que tanto gostava.
Quando terminei de me arrumar, saí de casa pegando minha moto e
seguindo para o cursinho.
No cursinho conheci algumas pessoas legais e uma delas era Ângela,
a menina mais doce que alguém pode conhecer. Ela era linda e tinha um
jeitinho todo dela de menina humilde.
— Pensei que não ia vir hoje, Lu — disse assim que me viu entrar na
sala.
— Não posso faltar, Angel. Falta pouco para as provas e você bem
sabe como é. — Dei-lhe um beijo na bochecha.
— Relaxa, amigo. Nossos lugares já estão garantidos — disse
confiante.
— Tomara, mas estudar um pouquinho a mais é sempre
bom.
— Oi, meu amorzinho. Você demorou para chegar, pensei que eu iria
ficar sem o seu beijo hoje, meu lindo — disse uma voz estridente atrás de
mim. Assim que a ouvi, já sabia quem era.
— Olá, Verônica. Não sei quando você irá se tocar que Luiz Otávio
não é nada seu — falou Ângela, defendendo-me da maluca que cismou estar
apaixonada por mim e que devíamos namorar.
— Não se meta, sua criatura irritante. Luti sabe muito bem que
fomos feitos um para o outro — disse Verônica com desdém.
— Chega vocês duas! Vamos, Angel, temos que nos sentar. E você,
Verônica, tem que parar com essa mania. Você é linda e logo vai arranjar um
namorado, mas precisa entender que esse não sou eu! — Suspirei cansado.
— Você pode ainda não aceitar, mas você é meu, Lutizinho. — Ela
deu-me um selinho me deixando assustado e saiu antes de qualquer reação
minha.
— Essa garota não é normal, Luti — disse Angel balançando a cabeça
em negação.
— Isso eu tenho certeza, mas vamos entrar na sala que é melhor. —
Puxei-a comigo.
A aula como sempre foi muito produtiva. Encontrei com Verônica na
saída do cursinho e fugi como se tivesse fugindo de um demônio assustador.
Para falar a verdade, eu não sabia de onde surgiu a obsessão compulsiva
dela por mim. Nunca dei a ela nenhum indicio que estava a fim ou qualquer
outra coisa do tipo. Eu não gostava de brigas e sendo assim, evitava ao
máximo me encontrar com ela em qualquer lugar. Segui viagem de volta
para casa e chegando lá, encontrei minha tia na cozinha. Passei por ela e lhe
dei um beijo na testa.
— Como está sendo seu dia, meu lindo? — perguntou assim que me
viu.
— Está indo bem. Fui para o cursinho e lá, como sempre, Verônica
não quis me deixar assistir a aula direito. — Suspirei cansado.
— Ela ainda não te deixou em paz? — perguntou cortando os
legumes para o jantar.
— Eu não entendo a loucura que essa menina tem comigo.
— Ora, meu pequeno Luti, você é um garoto muito lindo, não tem
como não se apaixonar por você.
— Deixe disso, tia! — disse olhando para todos os lados, menos na
direção dela.
Eu nunca soube como reagir a elogios, independente de quem viesse.
— Estou falando a verdade, meu amor, mas você tem que evitá-la e
não dar nenhum indicio que vai querer ficar com ela. Não pode dar
nenhuma esperança a essa menina.
— Eu nunca fiz isso, tia. Nunca senti nada por ela. Tentei propor uma
amizade, mas ela não quis. Me irrita a insistência em um namoro que nunca
existirá.
— Não tem como a pessoa não ficar irritada com outra inventando
um relacionamento.
— Vamos esquecer a maluca da Verônica. Será que vai demorar esse
jantar, minha linda?
— Você é muito folgado, viu, menino?! — disse olhando-me irritada
e atirando o pano de prato em minha direção.
— Calma aí, tia, quanta agressividade! — Sorri.
— É isso aí! — Apontou em minha direção. Olhei-a sem entender
nada. — Esse seu sorriso e seu rosto fofo que encanta a todos, fazendo até
uma jovem dá uma de maluca. — Gargalhou levando-me junto.
— Vou para o meu quarto, daqui a pouco Beto está vindo para
sairmos.
— Tudo bem, filho.
Saí da cozinha deixando minha tia ainda com um sorriso no rosto. Eu
a amava tanto, não sabia o que seria da minha vida sem ela ao meu lado
depois da morte dos meus pais. Tia Amélia se tornou uma mãe para mim em
muito pouco tempo, e o mais lindo de tudo era que ela não tinha obrigação
nenhuma, apenas fez por amor.
No confinamento do meu quarto tirei toda minha roupa ficando
somente de cueca. Liguei o som e a música de Chris Brow – Up To You,
começou a tocar e eu fiquei bastante relaxado ouvindo-a. Deitei em minha
cama e assim que fiz isso, minha mente começou a flutuar. A primeira coisa
que veio na cabeça com a ajuda da música que tanto gostava, foi a imagem
do rosto de Aandreozzi. Ele com toda certeza do mundo era o homem mais
lindo que já havia visto na vida. Perdi-me imaginando como ele devia ser
sem aquela máscara de empresário milionário e sem aquele rosto muito
sério. Com toda certeza ele devia ser ainda mais lindo sorrindo.
Os pensamentos sobre aquele homem que eu nem sequer conhecia,
estavam me confundindo demais. Não conseguia compreender o que estava
se passando pela minha cabeça. Eu nunca senti aquilo, era estranho. Nunca
pensei em ninguém daquele jeito, principalmente, em um homem. Deus, um
homem!
“Eu tenho que parar com isso, estou me tornando gay e eu não sou
gay! Não posso ser desse jeito.”
Só o pensamento em ter as mãos dele sobre meu corpo, me deixava
quente, muito quente.
“Isso não pode ser, não pode estar acontecendo!”
Meus pensamentos confusos foram interrompidos quando vi a porta
do meu quarto ser aberta.
— Ei, Luti. Vou jantar aqui hoje — disse Beto na maior cara de pau,
entrando em meu quarto.
— Quem te convidou mesmo, cara? — perguntei sem nem me dar o
trabalho de olhar para ele.
— Assim você parte meu pobre coração, Lutito! Eu sou da família,
meu caro amigo — falou na maior mordomia, deitando-se ao meu lado.
— Não sei quem te deu essa ousadia, mas tudo bem. Se é assim,
fazer o que, não é? — falei indiferente, ainda com Aandreozzi na mente.
— O que deu em você, hein? Não vai me dizer que uma mulher
ganhou seu coraçãozinho tímido — zombou fazendo-me arregalar os olhos.
— O QUÊ? Não! Para de falar bobagem, Beto. Vamos comer logo,
temos que encontrar com os caras. — Levantei-me correndo.
— Aí tem coisa, viu?! Eu te conheço muito bem, moleque, mas vou
deixar passar dessa vez porque estou morrendo de fome, mano.
Fomos para sala de jantar já preparada por minha tia. Sentamo-nos e
começamos a comer a deliciosa comida caseira que só ela sabia fazer. Era
engraçado dizer que a comida dela era boa, já que quando fui morar com
ela, a mesma não sabia fazer nem arroz direito. Mas depois de tantos erros
culinários, a sua comida estava divina.
O jantar foi muito bom, ainda mais com a presença do desajuizado
do Beto, que só sabia falar de Analú. Minha tia como uma romântica que
era, adorava ouvir Beto e suas declarações de amor que nunca teve coragem
de fazer a Ana. Terminamos de comer e eu fui direto para meu quarto tomar
um banho. O banho foi bem rápido, estávamos em cima da hora marcada.
Arrumei-me com uma blusa de mangas compridas, calça skinny preta,
sapatênis e jaqueta de couro preto. Já que eu ia de moto, precisava estar
aquecido e nada melhor que a minha jaqueta. Arrumei meu cabelo o
deixando meio bagunçado e passei um perfume. Estava pronto para noite.
— A dondoca já está pronta? — perguntou Beto com
deboche.
— Só faz o favor de ir se foder, Beto! — falei pegando minha chave.
— Olhe a boca, Luiz Otávio! Vou enfiar a mão em você, garoto —
falou tia Amélia em um tom ameaçador.
— Desculpe, tia, mas esse cara irrita.
— Vocês se merecem, por isso são amigos. Vê se não chega muito
tarde, viu, mocinho?! — falou ela mais calma, dando-me um beijo na testa.
— Não precisa me esperar acordada, tia. Fica tranquila.
Ela assentiu.
Tia Amélia deu um beijo em Beto e várias recomendações antes de
sairmos. O baile que íamos era muito badalado, ia ter gente de todo o tipo e
isso era maravilhoso. Chegamos à entrada da favela e lá estavam alguns
caras fazendo a guarda, muito bem armados por sinal. Eu viajava em armas,
que minha tia nunca me ouvisse dizer uma coisa dessa, senão ela me
mataria com toda certeza. Mas eu sabia admirá-las.
Como Beto conhecia algumas pessoas por ali, a nossa entrada foi
certa sem nenhuma neura. Entramos no baile e o som do funk entrava alto
em meus ouvidos. Avistamos Rick e Silvinho conversando com algumas
garotas e seguimos para ficar com eles.
— Eu pensei que vocês não viriam mais — gritou Rick por cima da
batida alta da música.
— Foi o bonitão aqui que se atrasou — respondeu Beto no mesmo
tom.
— Beto e Luti, essas aqui são Carina, Paula, Flavia e Malu — Silvinho
apresentou as garotas.
Eu as cumprimentei com beijos no rosto e um pequeno sorriso. Não
podia negar que elas eram bem bonitas. Carina e Flavia eram brancas com
cabelos cacheados, mas Flavia tinha mechas loiras e olhos verdes. Paula era
negra com um cabelo black charmoso. Quando olhei para Malu, percebi que
era a loira da academia que estava me secando mais cedo. Como pela
manhã, não foi diferente. Ela me olhava como se já tivesse tirado minha
roupa. E porra! Isso me incomodou bastante.
— Acho que já te vi em algum lugar. Me esclareça de onde mesmo,
princesa? — perguntou Beto alto, próximo ao seu ouvido.
— Malhamos na mesma academia e no mesmo horário. Vejo vocês
todos os dias. Principalmente você, gatinho lindo — falou se aproximando
de mim na tentativa de me seduzir, o que não estava funcionando.
— Acho que te vi hoje mesmo — falei sem jeito.
— Deixa de conversa e vamos dançar! — Ela puxou-me para o
emaranhado de gente dançante.
Como gostava de dançar, eu fui, mas era claro que fazia isso bem na
minha. A timidez me deixava muito travado, mas como eu precisava relaxar,
tentei me soltar. Dancei várias músicas com ela e precisava admitir que Malu
dançava divinamente bem. Ela era sempre prestativa, me apresentando aos
amigos e oferecendo bebida, mas como eu estava pilotando, preferi evitar o
álcool. Não podia dizer o mesmo de Beto que já estava todo alegrinho. Eu
sabia que iria sobrar para mim ter que cuidar dele mais tarde. Continuei a
dançar com Malu, até que senti ela se aproximar mais e sem que eu
percebesse, já estávamos nos beijando.
Interrompi o beijo bem rápido quando vi os olhos lindos de Filippo
em minha mente. Era como se eu estivesse fazendo algo de errado, não sei
explicar o que aconteceu. Malu ficou me olhando como se eu tivesse louco e
era exatamente assim como estava ficando. Não podia simplesmente ficar
pensando naquele homem daquele jeito e por isso, sem mais e nem menos,
voltei a beijá-la. O beijo dela era bom, mas não conseguia acender meu
corpo. Era maluquice eu sei, mas não sentia nada.
Meu corpo foi afastado de Malu com brutalidade e eu fiquei sem
entender o que acontecia. Olhei para frente e vi que tinha um homem todo
tatuado segurando-a forte pelos braços. Eles começaram a discutir aos
berros. Quando o cara percebeu que eu os olhava como um idiota, ele a
soltou irritado e veio em minha direção, segurando-me pelo colarinho da
minha blusa.
— Qual é, playboy? Você estava se agarrando com a minha mulher!
Eu pude sentir o fedor do álcool em meu nariz, que exalava
dele.
— Solte ele agora, Frederico! Eu não sou mais a porra da sua mulher!
— gritou Malu tentando soltar o brutamontes de cima de mim.
— Olhe só cara, e-eu não sabia que ela tinha um homem — falei
rapidamente, nervoso.
— Não sabia uma porra! Aqui todos sabem que essa vadia é minha
mulher — falou o homem pronto para me bater, mas Silvinho me socorreu a
tempo.
— Qual é, Rico? Luti não sabia de nada, solta ele, cara. Não está
vendo a cara de menino que ele tem? — perguntou Silvinho, amenizando o
clima e fazendo o cara me olhar de cima a baixo.
Ele me soltou do seu aperto, empurrando-me para trás.
— Rala daqui, mané! Se eu te ver em cima da minha mulher
novamente, vou te quebrar inteirinho — ameaçou-me.
— Nem se preocupe com isso, irmão. — Saí correndo em direção à
Beto.
O quê? Podem me chamar de frouxo ou do que for, mas eu não iria
apanhar por causa de uma vadia que eu peguei por pegar, só para tentar
provar a mim mesmo que ainda gostava de mulher. O que foi em vão, pois
era inexplicável como Filippo Aandreozzi andava me assombrando
ultimamente.
Cheguei até Beto e o chamei para irmos embora, ele como um bom
amigo, veio sem pestanejar. Saí daquela comunidade na intenção de nunca
mais voltar. Eu tinha toda a certeza do mundo que, inexplicavelmente, eu
precisava ver Filippo.
Acordei ás cinco da manhã como sempre fazia e fui para academia
particular que tinha em minha cobertura. Chegando lá, encontrei com Elijah,
meu chefe de segurança muito competente. Ele junto com uma equipe
especializada fazia minha segurança, mas só Elijah tinha a liberdade de me
acompanhar de perto. Eu não confiava nas pessoas e ele conseguiu esse
feito por sua excelência no trabalho.
— Bom dia, Sr. Aandreozzi — desejou Elijah em sua postura séria de
sempre.
O respondi com um simples aceno de cabeça. Eu pegaria leve na
malhação, já que à noite iria para o salão dos seguranças fazer meu
treinamento de luta. Desde pequeno, por influência de meu pai que sempre
foi um homem visado pelo seu modo de fazer negócios, tive que aprender a
lutar e me defender, pois nossa família sofria por constantes ataques contra
as nossas vidas e ainda era assim.
Meus pais Donatello e Arianna Aandreozzi tiveram quatro filhos. Eu
era o mais velho. Antes eu ficava na sede da Itália, mas preferir vir para o
Brasil, precisava mudar um pouco. Enzo, um cafajeste de primeira, era o
segundo filho e comandava a empresa lá de Milão. O terceiro era Lucca, que
estava comandando nossa empresa de Chicago. Ele era muito dedicado,
assim que terminou a faculdade foi direto administrar a empresa de lá. Por
último, não menos importante, nossa sorella minore (irmã caçula) Luna. Ela
estava fazendo faculdade na Espanha, e eu me perguntava até hoje porque a
nossa menininha resolveu estudar lá. Confiava a minha irmã aos seus
seguranças e sei que ela estava bem, pois recebia um relatório diário do seu
dia a dia. Mesmo Luna sendo tímida e pacata do jeito que era, não podia
deixar de me preocupar com seu bem-estar.
Amava demais meus irmãos e eles sabiam disso, mesmo eu não
demostrando. A única pessoa que conseguia me desarmar era Luna e minha
nonna Francesca. Minha nonna era uma força da natureza, nunca vi em toda
minha vida uma pessoa tão de bem com a vida como ela, e isso acabava com
meu pai que era um homem muito sério, mas sempre tratou sua família com
toda atenção possível. Minha avó falava que eu era o único que parecia
demais com meu pai e isso me deixava muito orgulhoso. Claro que não
admitiria isso em voz alta nunca, mas com todos os meus defeitos, eles
sabiam que os amava e daria minha vida para vê-los bem, principalmente,
meus irmãos. Mesmo cada um em um canto, tínhamos sempre nossos
momentos juntos.
Terminei meu treino no meu silêncio de sempre e fui tomar meu
banho para ir à empresa o quanto antes. Tinha uma reunião com uns
incompetentes que até momento não confirmaram a venda do terreno que
tanto queria para fazer a construção que me renderia milhões. Depois do
banho, fiz minha barba como todos os dias. Fui ao closet e peguei uma
camisa branca junto ao meu terno Armani de três peças azul-marinho.
Vestido, peguei o relógio que pertenceu ao meu nonno e as abotoaduras
com o símbolo dos Aandreozzi, que todos os homens da família usavam, e os
coloquei.
A mesa do café da manhã já estava posta por Rita, que assim que me
viu começou a me servir. Eu gostava de eficiência e Rita fazia o seu trabalho
muito bem, apesar de jovem e bonita, nunca deixou a desejar e me tratava
da melhor forma profissional possível.
Tomei meu café lendo o jornal como sempre fazia pelas manhãs. Ao
terminar de comer, voltei ao quarto para escovar os dentes e passei o
perfume feito especialmente para mim, dado de presente por minha mãe.
Ela fez isso com todos da família, já que ela era dona da maior perfumaria da
Itália Charms Roses, não existia nada mais a cara de mamma.
Cheguei à garagem privada com meus carros e decidi por dirigir a
Bugatti Veyron Tunado. Essa belezinha me custou uma fortuna, mas foi o
dinheiro mais bem gasto na minha vida. Saí da garagem com um Saab SUV
preto bem atrás de mim. Esse era o carro em que Elijah e mais dois
seguranças estavam. Ao chegar na empresa, passei direto para minha sala
sem falar com ninguém. Sentado à minha mesa, resolvi chamar minha
secretária que não me lembrava o nome. Ela me passou todos os
compromissos, e como eu já sabia, tinha uma reunião dali trinta minutos.
— Como é mesmo seu nome? — perguntei sem tirar os olhos dos
papeis que estavam na minha mesa.
— Melissa Oliveira, Sr. Aandreozzi — falou com um tom profissional.
— Que seja, Srta. Oliveira, gostaria que marcasse um horário no
Benedetti hoje à noite. Ligue para Luigi e peça para que ele venha à minha
sala antes da reunião começar — falei sério.
— Gostaria de mais alguma coisa, senhor?
— Não, por agora é só isso. Qualquer coisa te chamo. Pode sair da
minha sala — disse curto e grosso.
Minha secretária saiu como se estivesse na presença de um
demônio, mas não podia culpá-la, não conseguia ser muito amigável com as
outras pessoas. Não demorou muito ela me ligou dizendo que Luigi tinha
chegado, não perdi tempo e o mandei entrar. Luigi entrou na sala e nem me
dei o trabalho de esperá-lo sentar na cadeira.
— Gostaria de saber antes da reunião, como anda as obras do Resort
lá no Maranhão?
— Bom dia para você também, Filippo. Como anda a Antonella? — O
sacarmos foi evidente na pergunta de Luigi.
— Não tenho tempo a perder, seria bom você me dar as atualizações
que eu te pedi, Luigi — disse entredentes.
— Vejo que está tão doce quanto todos os dias. — Sentou-se
confortavelmente à minha frente.
— Atualizações? — perguntei sério.
— Está tudo caminhando perfeitamente, tenho certeza que as obras
principais vão ser finalizadas antes do prazo.
— Isso é bom, mas mesmo assim viajarei para lá na semana que vem.
Não que eu não confie no seu trabalho — disse sutil.
— Eu te entendo perfeitamente.
— É assim como meu pai sempre diz; “Meus trabalhos, minhas
responsabilidades”.
— E é por isso que você marcou a reunião de hoje?
— Sim! Não consigo acreditar que esses incompetentes não
fecharam a venda do terreno — falei soltando um suspiro cansado. —
Vamos deixar de conversa, estamos quase atrasados.
Levantei-me arrumando meu terno e saí da sala com Luigi. Nem
precisei olhar para trás para ver que Elijah também estava presente. Todos
que deveriam estar na reunião, já se fazia presente à minha espera.
— Eu quero uma resposta direta, sem enrolação. Por que diabos
ainda não iniciaram as obras? — perguntei com muita irritação.
— Peço desculpas pela demora, senhor. A maioria do terreno já foi
vendido, mas uma pequena parte dos moradores estão colocando
dificuldade — disse Samuel, o principal encarregado das compras.
— Demoni dell'inferno! (Demônios do inferno!) Como isso pode estar
acontecendo, Sr. Costa? — disse batendo com os punhos fechados na mesa,
fazendo todos se assustarem, menos Luigi que estava acostumado.
— Só vai ter um pouco de atraso, senhor. Vou tentar resolver isso o
mais rápido possível.
Olhei para ele com uma raiva descomunal.
— Ter um pouco de atraso? Você está brincando comigo, não é
verdade? — gritei com muita raiva e o vi se encolher na sua cadeira.
— Marquei uma reunião com os proprietários das casas que estão
alugadas. Esse problema será resolvido rapidamente, senhor.
— Tenho toda certeza que vai ser, pois eu irei junto a essa reunião. E
vai ser bom, assim darei uma olhada no terreno um pouco mais de perto.
Ele arregalou os olhos com incredulidade.
— Não será nesce...
— Nem você e ninguém me dirá o que é ou não necessário fazer na
minha empresa, nos meus negócios — interrompi-o. — Essa porra de
reunião está finalizada por hoje.
Sem falar mais nada, saí da sala e fui direto para minha. Assim que
passei pela minha secretária, ela tentou me falar algo, mas não dei muita
importância e entrei rapidamente. Passei meus olhos pela grande sala e
avistei Antonella sentada à minha mesa, com as pernas cruzadas. Não tinha
muito o que falar da beleza dessa mulher. Ela era muito bela, com cabelos
loiros, lábios carnudos e olhos incrivelmente verdes. Alta com um corpo
esguio que eu já havia comido de todas as formas possíveis. Olhando para
mulher à minha frente, não conseguia saber como ainda estava com ela.
Ultimamente uma pessoa especifica vinha tomando conta dos meus
pensamentos e não estava sabendo lidar com isso.
— Saia da minha cadeira, agora! — falei entredentes, assustando-a.
Ela levantou-se rapidamente e eu me sentei.
— Tesoro, ho deciso di venire a baciarti. Non mi hai chiamato dalla
cena (Querido, eu decidi vir te dar um beijo. Você não me ligou desde o
jantar) — disse se aproximando calmamente, rodeando a minha cadeira e se
curvando para me dar um selinho na boca.
— Fale em português, Antonella. Mostre que seu pai não paga seus
caprichos atoa — disse com desdem, tirando suas mãos de mim.
— Não consigo entender como você consegue me tratar com
tamanha hostilidade, amore mio — falou com uma cara de ofendida.
“Sujeita falsa do caralho!”
— Você realmente esta me perguntando isso? — perguntei sem
nenhuma emoção.
— Claro, Filippo. Nós vamos nos casar! Meus pais me preparam para
ser sua mulher — falou com indignação.
— Não existe e nunca existiu casamento algum, Antonella. Meu pai
nunca iria permitir um casamento arranjado com nenhum de seus filhos.
Minha mãe acredita no casamento na base do amor. — Revirei os olhos.
Estava repetindo esta frase pela milésima vez para ela.
— Você me ama sim, amore mio, e eu te amo também. Não tem
como você não me amar, somos tão bons juntos — gritou.
— Nós fodemos, fodemos demais e era bom. Só isso, não existe
nada. Eu não sei o que é amar alguém nesse sentido — falei com muita
sinceridade para ver se ela compreendia.
— Eu consigo. Sei que consigo fazer você me amar — disse tentando
soar sedutora e quase me fez rir.
— Não, Antonella. Você está querendo uma coisa que eu não posso
te dar. — Abaixei meus olhos para os papeis à minha frente.
— Pode sim, você que não quer tentar. Meu pai ficaria tão feliz se
juntássemos nossas famílias.
Eu pude ver seus olhos brilhando com a possibilidade.
— Não vai acontecer! — falei e olhei para os papeis
novamente.
Antony Mantovani era o homem mais asqueroso que eu conheci. Ele
se escondia atrás de sorrisos e palavras falsas encantadoras. Ele era a pessoa
mais ardilosa que eu tive o desprazer de conhecer. Por anos Antony tentou
me casar com Antonella, e se não fosse por meus pais, pessoas fieis aos seus
princípios, ele com sua lábia sedutora teria conseguido o que tanto desejava
há anos, juntar as empresas Aandreozzi e Mantovani fazendo delas uma só.
Mio padre sempre soube que Antony Mantovani era envolvido com
coisa ilegais, mas nunca deixou que o mesmo soubesse que ele estava por
dentro de todas as falcatruas que mexia. Senhor Donatello sempre me
ensinou a manter seus inimigos perto.
Meus irmãos sempre me perguntaram o porquê do meu “caso” com
Antonella. Eu nunca falei nada e nem tinha o que falar. Isso somente
acontecia por eu gosto de foder, foder muito para ser mais exato, e como
ela gostava de deixar sua boceta pingando na minha direção, quem era eu
para dispensar uma foda. Jamais dispensei uma e não iria ser agora que
faria. Era tudo sem emoção, sem uma gota de sentimento. Só meter, fazer
gozar e mandar para puta que pariu, simples e prático assim.
— Por favor, Filippo... Vamos tentar.
“Essa voz? Eu pensei que já tinha ido embora.”
— Ainda está aqui, Antonella? — falei sem lhe direcionar o olhar.
Soltei um suspiro e voltei minha atenção a mulher parada à minha frente
com olhos suplicantes. — Volte para Itália, é o melhor que você pode fazer
de sua vida. Peço que me deixe em paz, pois nem sua boceta eu quero mais.
Para falar a verdade, eu enjoei de você. Apenas suma, Antonella. Me faça o
favor de sumir — disse sem emoção, já que nunca tive nenhuma mesmo.
— Como você pôde falar uma grosseria dessas para mim — disse
colocando a mão no peito, fazendo o maior drama.
— Pare de teatro! — Pessoas fazendo drama me irritavam
profundamente. Mandei uma mensagem para Elijah, que entrou em minha
sala sem dizer nada. —– Elijah, acompanhe a Srta. Mantovani até à saída do
prédio.
Ele assentiu.
— Isso não vai ficar assim, Filippo! Meu pai vai saber dessa afronta —
ameaçou-me.
Elijah veio em sua direção e pegou-a pelo braço.
— Lasciar andare di me bastardo! Mi vedrete di nuovo Filippo e non ci
vorrà. (Me solta, seu bastardo! Você vai me ver novamente, Filippo, e não
vai demorar.)
Assim que Antonella saiu, continuei com meu trabalho. Quando deu
a hora do almoço, liguei para Melissa informando que não sairia para comer,
que era para ela encomendar minha comida. Melissa voltou rapidamente
com uma sacola com o cheiro delicioso saindo dela. Olhei o nome e vi que
era do Benedetti. Dona Francesca me falou quando decide vir morar no
Brasil, para nunca abandonar minhas raízes italianas e sempre comer uma
comida de qualidade.
Quando fui no Benedetti pela primeira vez, vi que lá a comida era de
qualidade com todas as riquezas que só a minha Itália é capaz de dar, mas o
que mais me chamou atenção foi o garçom. Percebi que ele era jovem e de
uma beleza tipicamente brasileira. O que me encantou foi a fragilidade em
seus olhos e a doçura de sua voz. Quando me vi amolecer com seu olhar de
menino, voltei contudo para minha máscara fria o tratando mal. E pela
primeira vez, me senti péssimo por tratar uma pessoa dessa forma, tirando
minha família, é claro. Esse pensamento escroto me irritou ao extremo. Só
me via querendo terminar logo minha refeição e sair de lá rapidamente. Não
entendi o que estava acontecendo e procurei não entender.
Tirei esse pensamento absurdo da cabeça e saboreio meu almoço
que estava maravilhoso, tenho que dizer. Terminei de comer e Melissa
retirou a sacola da minha sala. Assim que ela saiu, voltei ao trabalhar a todo
vapor. Amava o que fazia, amava trabalhar para garantir um pouco mais o
futuro de minha família. Tinha duas formações. Formei primeiro em
engenharia e quando comecei a trabalhar de verdade com meu pai, resolvi
que deveria ter a graduação de administração também.
Falar que meu pai ficou feliz, foi pouco quando decidi ficar à frente
dos negócios. Ele sempre falava que se sentia em falta com minha mãe por
ter trabalhado demais e negligenciado seu casamento ao ponto de minha
mãe querer se separar dele. Quando isso aconteceu, foi terrível. O clima de
nossa casa estava triste e infeliz, coisa que nunca aconteceu, mas não durou
muito. Papai fez de tudo para reconquistar minha mãe que decidiu desistir
da loucura de separação. Meus pais se amavam muito e isso chegava até ser
palpável. Criaram a mim e aos meus irmãos de forma solida. Eu fiz de tudo
para deixar meu pai fora dos negócios, para assim ele ficar todo o tempo do
mundo com mamãe. Mesmo eu nunca conseguindo amar ninguém desse
jeito, não queria que o amor de meus pais fosse para o ralo. Achava que
nunca iria amar, jamais consegui ficar com uma mulher na base de algum
tipo de sentimento. Foda-se, não ligava mesmo para isso, amar somente
minha família estava de bom tamanho.
As horas se passaram e eu nem me dei conta disso. Tive uma
videoconferência com um dos clientes de Viena. Por mais que eu não
estivesse mais gerenciando as coisas por lá, sempre tinha aqueles que só
confiavam em mim. Meu irmão Enzo, quando assumiu as empresas na Itália,
teve que cortar um dobrado, mas como um grande Aandreozzi que era,
soube lidar com todas as situações chatas que apareceram.
Saí da empresa com Elijah em meu encalço, junto aos outros
seguranças e fomos direto para o salão de treinamento. Como eu já tinha
uma bolsa preparada por Rita em meu carro, não precisei ir em casa.
Chegamos no local e fui ao escritório que tinha ali, já que o lugar era meu
para o treinamento próprio e de todos meus seguranças. Sempre tinha
algum novato que vinha para treinar comigo antes de eu passar a segurança
de meus irmãos para algum deles. Não confiava, então tinha que ver com
meus próprios olhos o desempenho deles. Depois de tirar meu terno e
colocar uma bermuda de flanela, uma camiseta preta e meu tênis, segui
para área de luta.
Vi que já tinha alguns caras treinando no estande de tiro ao alvo,
outros lutando e alguns somente malhando. Peguei minha Glock na bolsa
com o brasão dos Aandreozzi. Todos da família tinham uma, incluindo minha
nonna. Aquela senhora me surpreendia como ninguém. A primeira vez que a
vi segurar uma arma, quase tive um treco. Meu instinto de protegê-la foi tão
grande que tomei-a de sua mão em um impulso, recebendo depois um belo
cascudo para parar de ser chato, palavras dela, não minha. Descobri nesse
dia que vovó atirava melhor que muitos por aí. Ela gostava de me tirar a paz,
mas eu a amava.
Saí do salão depois de duas horas e corri para casa me arrumar rápido,
senão perderia o horário da minha reserva. Já em casa, tomei um banho
bem gostoso e me arrumei como mamãe chamaria de casual chique, ou
outras merdas dessas. É preciso dizer e informar que ela não era uma
mulher fútil, longe disso. Sempre nos proporcionou tudo do bom, mas
sempre mostrando que a vida era muito mais que dinheiro ou bens
matérias. Senhora Arianna, como toda mãe cuidadosa, adorava cuidar da
aparência de todos seus filhos, incluindo papai.
“Se isso irrita? Óbvio que sim, mas o que eu não faço para agradar la
mia dolce mamma?”
Não demorei muito para chegar ao Benedetti, apesar do trânsito
caótico que só a cidade de São Paulo tinha. Deixei a chave do meu Bugatti
com o manobrista e já percebi que não era o mesmo da última noite que
vim. A recepcionista linda, com um corpo ideal de uma bela foda, me
cumprimentou e levou até minha mesa. Apesar de estonteante, não senti
essa vontade de tê-la em minha cama quando a vi.
Não sei dizer o porquê, mas estava me sentindo nervoso como nunca
antes e isso me irritou. Eu, Filippo Aandreozzi, não tinha necessidade de ficar
nervoso sem motivo aparente. Assim que percebi alguém se aproximar, virei
para olhar. O que eu vi me deixou, como posso dizer, acho que triste. Mas
logo o sentimento que não entendi se transformou em irritação, quando vi
que o garçom do jantar passado não era quem vinha me atender.
— Boa noite, senhor! Bem-vindo ao Benedetti — falou o sujeito e me
irritei mais ainda com sua voz.
— Não quero que você me leve a mal, mas quero o garçom que me
atendeu na outra noite — disse com uma carranca transtornada.
— Minhas desculpas, senhor, mas esta noite só tem eu e a Eloisa
atendendo. — falou em um tom profissional, mas pude perceber a surpresa
na sua cara.
— Chame o Marco agora mesmo! — exigi firmemente.
— Como o senhor quiser, com licença. — Saiu apressado.
Não entendi o que se passava, não sei explicar o que estava
acontecendo comigo. Andava vivendo assombrado com uma vontade
insistente de querer ouvir a voz harmoniosa do bendito garçom outra vez. E
só a possibilidade de não conseguir o que queria, me deixava com muita
raiva. Se Marco tivesse demitido o garoto, eu iria mandar que o
recontratasse imediatamente, já que desejava me tornar sócio do lugar.
— Boa noite, meu caro Filippo. — Marco parou à minha frente com
seu rosto amigável de sempre.
— Cadê o garçom, Marco? — perguntei sem me importar com sua
cara de surpresa.
— De qual garçom você está falando? O que atendeu na noite que
esteve aqui?
Assenti mantendo-me sério.
— Luti está de folga hoje. — Sorriu.
Fiz uma cara de interrogação. “Quem se chama Luti?”
— Luiz Otavio é seu nome, mas todos nós o chamamos de Luti —
esclareceu. — Pois bem, ele hoje está de folga.
— Pensei que você tinha demitido o rapaz — falei intrigado com tal
intimidade entre eles.
Marco me olhou confuso.
— Por que faria isso? Apesar de ser tímido demais, Luti trabalha aqui
há um tempo e é um ótimo funcionário. Se não for demais perguntar, por
que seu interesse no Luti?
Eu realmente não sabia o que lhe dizer.
— Não é nada que lhe diga respeito. Já estou indo, depois um dos
meus funcionários entrará em contanto você para tratarmos sobre a
sociedade. — Levantei-me saindo sem olhar para trás.
Ao entrar no meu carro, fiz o possível para controlar minha
respiração. Olhando meu rosto pelo retrovisor, vi que a decepção era
evidente. Era estranho pensar que fiquei decepcionado por não poder ver o
garçom chamado de Luti na maior intimidade por todos. Aquilo me deixou
com raiva.
“Não sei o que há comigo ou com meu corpo traidor. Mais de uma
coisa eu sei, tenho que me afastar desse sujeito.”
— Bom dia, meu sobrinho lindo — saudou minha tia com seu sorriso
singelo.
— Bom dia, tia Amélia! Não vai trabalhar hoje não? — perguntei
sentando-me à mesa para tomar meu café da manhã.
— Não, hoje estou de folga. Adorei que mudaram a escala da
empresa. — Minha tia trabalhava na área administrativa de uma empresa
alimentícia. — Percebi que você não foi para academia. Está sentindo
alguma coisa?
— Não, tia! Só não estou a fim de me encontrar com uma garota que
malha no meu horário — disse passando manteiga no pão. — Se eu pudesse
mudava de horário.
— Como assim? Me conte essa história direito. — Sentou-se à minha
frente com o olhar curioso.
— Ontem eu fui em um baile que teve na comunidade com Beto e os
outros caras. — Parei de falar quando vi minha tia se irritar.
— Já falei que não quero você metido nesses lugares, Luiz! — brigou
irritada.
— E eu já te falei que não tem nada demais lá, tia. Mas voltando o
assunto... Tem uma garota que malha na academia que estava lá. Ai nós
ficamos, só que apareceu um cara falando que ela era mulher dele e se não
fosse pelo Silvinho, eu estaria com a cara toda arrebentada agora.
Minha tia levantou-se da cadeira em um pulo.
— Como você pôde ficar com alguém que já tinha namorado, Luti?
— Ai é que está a coisa! Primeiro de tudo eu não sabia, segundo; ela
que me agarrou, terceiro; eu só fiquei com ela para provar uma coisa para
mim mesmo.
— Entendo. E que coisa foi que você queria provar? — sua pergunta
me fez ver que eu havia falado demais.
— Nada demais, tia. Vai sair agora de manhã? — Mudei de assunto
rapidamente.
— Vou sim, decidi que temos logo que procurar uma casa nova. Não
quero ficar aqui ouvindo cobrança de Seu José. — Seu José era o dono da
maioria das casas do bairro.
— Vai lá, então. Tenho que lavar a minha moto. A coitada está tão
suja — disse indo até à pia e lavando os pratos.
— Não sei como você ainda fica andando nessa coisa — falou tia
Amélia com um tom preocupado.
— Já te disse e repito que não acontecerá nada. Sou um rapaz muito
responsável.
— Isso você é mesmo, só não confio nesse trânsito terrível que
temos aqui. Eu confio em você, então lave aquela coisa. Eu não tenho hora
de voltar — falou indo até à porta e a abrindo.
— Procura uma casa com uns quartos mais amplos, tia — gritei para
ela ouvir.
— Pode deixar, Luti! — gritou de volta.
Ela saiu de casa e eu continuei a lavar os pratos. Aproveitei que
estava sozinho e coloquei minhas músicas para tocar. Eu era a pessoa mais
eclética que já existiu, curtia de tudo que é música, mas como todo ser
humano, tinha as minhas preferências. Para iniciar, meu cantor preferido
era Chris Brow, eu viajava muito nas suas músicas e nos ritmos das batidas.
Tirava sempre minha tia do sério quando queria ouvir no último volume. Ela
gostava mais de um pagode e por influência dela, eu também comecei a
gostar. Por causa de meus pais ouvia de vez em quando um sertanejo
universitário ou até mesmo um pop. Sabe aquelas músicas pop melosas que
só de ouvir dar vontade de se matar? Sim, essas mesmas! Mamãe adorava
ouvir.
Só de falar dos meus pais as lembranças que eu sempre tentava
reprimir por causa da saudade, voltavam. Tinha conhecimento que já
haviam se passado seis anos, seis tristes anos que meus pais se foram, mas
ainda era difícil para mim. Só me restara as lembranças e alguns álbuns de
fotos.
Meu pai se chamava Orlando. Papai era muito engraçado, só de
lembrar as suas palhaçadas me dava vontade de gargalhar. Sabe aquele tipo
de pessoa que não suportava ver alguém quieto que fazia de tudo para ver
um sorriso no rosto? Esse era Seu Orlando!
Minha mãe se chamava Amanda. Ela era quieta, mas muito amorosa.
Sua timidez a deixava mais fofa ainda. Tia Amélia dizia que eu puxei
totalmente a minha mãe, tanto no jeito quanto na aparência. Eu sempre
discordei totalmente, minha mãe era magnífica, cansei de dar risadas das
coisas que papai fazia para constrangê-la. Ele dizia que o tom avermelhado
nas bochechas de minha mãe era parecido com uma maçã bem madura e
que ele era louco para morder. Só dele falar essas coisas mamãe morria de
vergonha, e eu como filho adorava essa relação dos dois.
Tinha dias que meu pai me levava até o parque Ibirapuera para
passear. Antes eu achava que era um simples passeio de pai e filho, mas na
verdade papai estava fugindo todas as vezes que mamãe começava a limpar
a casa. Em uma dessas saídas, meu pai certa vez me falou que quando eu
fosse arranjar uma menina para namorar, ela tinha que ser totalmente
diferente de mim. Dizia que conviver com uma pessoa parecida com você
não tinha graça nenhuma, que o bom relacionamento é aquele que há
muitas diferenças, mas que ao mesmo tempo te completa por inteiro.
Pergunto-me o que meu pai acharia de mim, sendo eu alguém tão
tímido com pessoas desconhecidas, e que as meninas tinham de chegar a
mim para acontecer alguma coisa, ou até mesmo sobre os meus
pensamentos nada normais em relação aquele homem ogro, Filippo
Aandreozzi. Era melhor eu parar de pensar nessas coisas, principalmente, no
homem que me assombrava desde o primeiro dia que coloquei meus olhos
nele.
Terminei de lavar os pratos fui para o meu quarto. Coloquei um short
de flanela leve e saí para sala. Na lavandaria peguei tudo que precisava para
lavar minha moto. Antes de ir para fora de casa, liguei o som nas alturas.
Comecei a lavar na maior empolgação. Algumas pessoas conhecidas
por mim desde pequeno, passavam e falavam comigo sorrindo e eu retribuía
com pequenos gestos. Quando começou a tocar na minha lista de músicas
Grass Ain't Greener – Chris Brow, foi só ouvir a bendita batida que eu não
me controlei comecei a dançar.

You used to be the one to talk to on the side


Você era com quem eu conversava do outro lado
Waiting for my love to break up
Esperando pelo meu amor para terminar
It's crazy how your ass can walk through every night
É engraçado como você pode perambular toda noite
Acting like you been a player
Agindo como se fosse uma pegadora
That grass ain't greener on the other side
A grama do vizinho não é mais verde
Oh yeah
Oh yeah
That grass ain't greener on the other side
A grama do vizinho não é mais verde
Oh yeah
Oh yeah

— Você dançando assim parece un lombrico arrabbiato (uma


minhoca raivosa.) — disse uma voz rouca e gostosa de se ouvir, com o forte
sotaque italiano atrás de mim.
Virei bruscamente quase derrubando a minha moto. Olhei e lá estava
ele, vestido impecavelmente em um terno que não faço ideia de qual a
marca, mas sabia que devia ser caro para caralho. Olhei para trás dele e vi
que tinha alguns homens de preto fazendo sua segurança.
“Por que inferno ele tem que ser tão bonito e ainda por cima ser o
primeiro homem a fazer eu questionar minha sexualidade?”
O cheiro delicioso do seu perfume masculino veio como um tapa na
minha cara. Meu pau ficou duro na hora, minha mão estava coçando para
involuntariamente tocar seu rosto com linhas duras. Não consegui me
mexer, não consegui parar de olhar para seus lindos olhos azuis, que
olhando durante a luz do dia ficavam ainda mais lindos. Algo estralou e me
lembrei que ele me chamou de alguma coisa que não entendi.
— Do que o senhor me chamou mesmo? — perguntei com um tom
baixo, sentindo minhas bochechas esquentarem.
— É costume fica na rua com esses tipos de vestimentas assim? —
Aandreozzi ignorou minha pergunta e falou comigo seriamente.
— Estou à vontade, senhor. Na verdade estou na frente da minha
casa, então... — Dei de ombros sem saber o que falar. — Desculpe
perguntar, mas o que o senhor está fazendo aqui?
— Fazendo o trabalho de gente incompetente — disse
arrogantemente.
— Não sabia que você conhecia o Sr. Andreazi, menino Luti — falou
Seu José, o dono da casa que eu e minha tia Amélia morávamos.
— Meu nome é Aandreozzi, Sr. Pereira! — disse Filippo entredentes,
fazendo eu rir por dentro.
— Desculpe por isso, mas vocês gringos tem nomes tão estranhos
que é melhor facilitar — disse seu José sorridente.
— Se vamos fazer negócios, aprenda a pronunciar meu nome o mais
rápido possível — falou o italiano rude fazendo-me encolher no meu lugar.
— Não o conheço, Sr. José. — respondi enfim sua pergunta. — Ele é
só um cliente lá no restaurante que trabalho. — Tentei quebrar o clima
pesado que ficou no ar, mas ao falar isso, percebi que Filippo fez uma careta
de desgosto que mudou rapidamente continuando impassível.
— Certo. Gostaria de saber se você e sua tia já estão procurando
casa? Porque o tempo que eu dei para desocuparem está acabando — falou
Seu José suavemente, colocando a mão no meu ombro nu.
— Como assim? Você vai para onde Luiz Otávio? — perguntou
Filippo grosseiro, fazendo eu arregalar os olhos pelo seu tom.
A curiosidade para saber como ele sabia meu nome ficou imensa,
mas resolvi ficar quieto.
— Ora, senhor. Ele vai sair do bairro, já que o senhor comprou boa
parte do terreno. Essa casa é alugada por mim, por isso já dei um prazo para
eles saírem o quanto antes para não atrapalhar a sua equipe — respondeu
Seu José.
Ouvir que era Filippo o comprador dos terrenos e a principal pessoa a
fazer saírem dali eu e muitas outras famílias, com quem convivi a maior
parte da minha vida, me fez ficar surpreso. Elas eram pessoas legais que
viviam bem, trabalhadores e pais de família. Agora todos estavam indo
embora do lugar que moram há tanto tempo e tudo por causa dos negócios
de um estrangeiro que vem para o nosso país se achando o rei do mundo.
Não tinha mais condições para continuar à sua frente no momento. Comecei
a pegar as coisas que estava usando para lavar a moto e dar o fora dali.
— Não se preocupe, Seu José. Minha tia Amélia saiu hoje mesmo
para procura uma casa para sairmos daqui o quanto antes. — Tentei sair,
mas fui impedido pelo italiano.
— Luiz Otávio, eu não sabia que você morava nesse lugar — falou
Filippo segurando meu antebraço com força.
— E isso faria alguma diferença para os seus negócios, senhor? –
perguntei sarcástico. Ele continuou a segurar meu braço, mas seu rosto
marcava confusão. — Olhe só... Sinto muito, eu não deveria estar falando
assim, mas preciso entrar. Tenho que me arrumar para ir ao cursinho. —
Soltei-me do seu aperto e entrei com minha moto fechando o portão sem
olhar para trás.
Larguei as coisas em qualquer lugar, deliguei o som e me joguei no
sofá. Minha cabeça estava fervilhando de informações. Sei que negócios são
negócios e que o mundo gira, infelizmente, em torno de dinheiro. Mas saber
que o homem que assombra meus pensamentos e sonhos há dias, homem
esse que me encanta e ao mesmo tempo que me assusta, era o dono da
empresa causadora da saída de várias pessoas do bairro, era muito difícil.
Não sei quanto tempo fiquei sentado no sofá, mas ao olhar para
relógio, percebi que estava quase na hora de ir ao cursinho. Levantei do sofá
decidido a tirar essas coisas de minha cabeça e fui tomar um banho gelado,
já que precisava me acalmar. Banho terminando, me arrumei com qualquer
peça do guarda roupa, preparei minha mochila para ir ao trabalho logo
depois da aula e saí comendo uma maçã. Sentei em minha moto que estava
limpinha e assim que liguei o motor, virei o rosto por todos os lugares com
uma sensação estranha de que tivesse alguém me vigiando. Balancei a
cabeça para me livrar dessa loucura e segui meu caminho para o cursinho.

As aulas foram boas, como sempre me sentei com Angel e assistimos


a aula com máxima dedicação. Fiz de tudo para não me esbarrar com
Verônica, definitivamente não estava com saco para aturá-la. Terminada a
aula fui direto para o trabalho. Estacionei minha moto no lugar de sempre e
segui para o vestiário dos funcionários e encontrei com Anderson
terminando de colocar sua roupa.
— Luti, o que você fez com aquele empresário italiano cheio da
grana? — perguntou Anderson se encostando no armário.
— Como assim? Não entendi do que você está falando. — Fiquei
confuso.
— Sabe aquele figurão que você atendeu outro dia a mando de
Marco? — Assenti lentamente. —– Bem, ele teve aqui e quem foi atender
sua mesa foi eu. Só que o cara se revoltou e disse que queria ser atendido
por você.
Parei de abotoar a camisa e o encarei assustado.
— Como é que é? Sério? Ele simplesmente disse que me
queria?
Foi inevitável surgir um sorrisinho no canto dos lábios. Só de pensar
que ele queria que eu atendesse sua mesa, me causou uma felicidade
ridícula.
“O que será que está acontecendo comigo?”
— Estou falando sério, cara. Aquele homem o que tem de rico, tem
de ignorante — falou de pé na porta para sair.
— Deixa isso para lá. Ele só deve ter gostado do atendimento. — Dei
de ombros.
— Se você está dizendo, então vou acreditar. — Deu-me as costas
saindo do vestiário.
Terminei de me arrumar e passei na cozinha, lá estava todo mundo
trabalhando a todo o vapor. Marco me perguntou quase a mesma coisa que
Anderson e simplesmente não sabia o que responder. Para me deixar
surpreso, meu chefe disse que fosse lá o que eu estivesse fazendo, que não
parasse. Pois Aandreozzi resolveu aceitar a proposta de sociedade que
Marco tinha lhe oferecido faz tempo. Isso me deixou muito confuso e
procurei não perguntar nada para não dar bandeira no meu súbito interesse
no italiano.
Arrumei o salão, conversei um pouco com minha linda amiga Ana e
quando o restaurante abriu já estava tudo preparando. As horas foram
passando, e como sempre, atendi diversas mesas com diversos tipos de
clientes, mas justamente hoje não estava preparado para o cliente sentado
na mesa sete. Miguel Vasconcelos, um empresário de São Paulo muito chato
e tirado a conquistador. Como eu sabia? Simplesmente ele tentava há
tempos me levar para cama e esse seu comportamento me causa náuseas.
Nunca dei nenhum indicio de ser gay, a não ser agora com o aparecimento
do italiano, mas parece que ele me queria de qualquer jeito. Procurei por
Anderson e Eloisa, mas ambos estavam ocupados, então, restou somente
eu.
— Boa noite, Sr. Vasconcelos. Bem-vindo ao Benedetti. O que vai
querer hoje? — perguntei no tom mais profissional possível.
— Infelizmente o que eu quero não está no cardápio, mas quem sabe
com uma boa quantidade de dinheiro eu não consiga — disse fazendo minha
bile subir pela garganta. Fiz de tudo para manter minha postura profissional.
— Vou dar um tempo para o senhor escolher. — Fui saindo, mas ele
me deteve.
— Já escolhi, não precisa sair. — Sorriu com malicia.
Anotei seus pedidos e saí de lá o mais rápido possível. Chegando à
cozinha, percebi que Marco não estava, por isso dei o pedido ao subchefe
Paul, um americano muito legal, mas que não era muito de falar.
— Você não vai saber quem está no escritório com Marco — Eloisa
sussurrou em meu ouvido.
— Quem? — perguntei arrumando a bandeja.
— O mais novo sócio do Benedetti. Marco quando soube que ele
estava aqui para tratar pessoalmente da sociedade, só faltou sair saltitando
— disse sorridente.
Senti-me irritado pelo simples fato desse homem estar no
restaurante e ainda por cima sozinho no escritório com meu chefe.
— Não sabia que Marco tratava de negócios nesse horário, já que é o
mais movimentado — disse como quem não queria nada.
— E não é, menino? Eu ouvi ele falando para Paul que Aandreozzi era
muito especial para não ser atendido.
— Depois conversamos, tenho que levar o pedido da mesa sete —
disse entredentes.
— Estou com pena de você, Luti. Esse cara é muito chato e pervertido.
— E eu não sei?! Tenho que me controlar para não voar no seu
pescoço.
Saí levando o pedido. Servi a mesa sete como servia todos os outros
clientes da casa. Atendi mais algumas mesas até que percebi que o Sr.
Vasconcelos já tinha terminado. Retirei a louça e voltei com sua conta. Ele
pagou e assim que eu agradeci, pronto para me retirar, ele segurou meu
pulso com força.
— Quando você vai liberar para mim esse seu corpinho gostoso, Luti? —
perguntou me olhando de cima a baixo, fazendo meu estomago embrulhar.
— O senhor está passando dos limites, Sr. Vasconcelos. Eu lhe peço,
solte meu braço — pedi o mais calmo que consegui, meu corpo tremia de
medo.
— Ora, garoto. Tenho certeza que levarei você para cama, todos
fazem cu doce, mas na hora o dinheiro fala mais alto. Eu posso mudar sua
vida, basta você querer. — Passou os dedos levemente por meu braço.
— Me solte, senhor. Preciso voltar ao trabalho — falei com a voz
trêmulas e ele apertou ainda mais.
— Eu vou... — Ele se interrompeu e olhou para algo atrás de mim.
Não precisei virar para saber quem estava ali, pelo perfume eu sabia
exatamente quem era.
— Solte o braço dele agora mesmo, Miguel! — disse Filippo com uma
voz que eu pensava me dar medo, mas relaxou meu corpo
instantaneamente. Senti-me protegido. — Volte ao trabalho, Luiz Otávio,
mas tarde falarei com você.
— Mas... — Quando ia respondê-lo, ele tocou meu rosto
assustandome com seu olhar gélido nos meus castanhos.
— Não discuta comigo, piccolo (pequeno). Agora vá. Estarei na saída
te esperando — falou baixo me soltando, fazendo eu concordar lentamente.
Virei-me para ir à cozinha, mas parei alguns passos à frente ao ouvir
os dois conversarem.
— Agora é você e eu. Nunca mais, ouviu bem? Nunca mais encoste
suas mãos nojentas no meu piccolo!
Não sabia o que significava aquela expressão, mas ouvir tais palavras
fez meu coração bater descompassado.
Encontrar com Luiz Otávio mais cedo, foi uma coisa totalmente
inesperada. Jamais poderia imaginar que ele residiria justamente no bairro
onde eu estava comprando os terrenos. Tinha decidido sair para me
encontrar com o José Pereira, com um único pensamento de fechar a
maldita venda. Saiba que esse senhor era ambicioso e queria mais dinheiro
do que foi lhe oferecido. Sabia também que Samuel era um infeliz
incompetente de marca maior e não tinha mão de ferro para acabar com
isso, para que eu pudesse começar o trabalho que tinha que ser feito. O meu
encontro com proprietário foi rápido e prático, no mesmo instante ele já
tinha lido e assinado tudo o que eu queria sem aumentar ou diminuir nada.
Depois da tentativa frustrada de uma conversa sem sentido algum,
fui convidado a conhecer um pouco mais o local. Conversei com Elijah para
que fizesse uma formação adequada com os outros seguranças, pois não
aceitaria erros na minha proteção de forma nenhuma. Primeiro; que era
minha primeira vez ali. Eu de fato era o inimigo número um dos moradores,
quem estava comprando suas casas.
Andar com José pelo bairro, só me deu mais certeza que ali era o
lugar ideal para os meus planos e que foi uma excelente negociação. Ao
olhar em determinado lugar, vi um rapaz lavando uma motocicleta. Não
entendia o porquê aquilo estava chamando minha atenção de tamanha
forma, mas ao me aproximar percebi que conhecia aquele perfil.
Surpreendi-me ao ver que era o garçom. Não esqueceria do seu rosto por
nada no mundo. Sua face me assombrava constantemente e isso me irritava.
Depois de vê-lo dançando de uma maneira muito ridícula que ao mesmo
tempo era leve e descontraída, fiquei ainda mais irritado. Aquilo estava me
deixando fascinado. Estava tudo tão confuso em mim.
Meu contato com ele não foi um dos melhores, é claro que não seria,
o cara tinha acabado de descobrir que eu estava o colocando para fora de
sua casa, mesmo não sendo diretamente. Não sei o que me deu quando eu
vi seu rosto chocado e sua expressão de pura decepção, mas alguma coisa
rompeu dentro de mim e eu me senti mal. Ao menos acho que foi assim que
me senti. Era tão estranho sentir essas coisas por alguém que não conheço.
Depois disso saí de lá o mais rápido possível sem me dar o trabalho
de falar nenhuma palavra com ninguém. Voltei a empresa e lá me afundei ao
trabalho, fui a reuniões, fiz videoconferências, li e reli vários contratos e
licitações. Distrai-me por uma hora e não consegui pensar em mais nada a
não ser no rosto decepcionado de Luiz Otávio. Desliguei-me totalmente do
trabalho e liguei para Marco, decidido a fechar logo essa sociedade. Sabia no
fundo que estava pouco me fodendo para ser sócio daquele
estabelecimento. O simples fato de ter aquele específico garçom
trabalhando lá, já era um bônus muito grande.
Passei o restante do dia terrível trabalhando, sem vontade de continuar
na empresa. Preciso confessar que essa situação estava me deixando
indignado. Fui para casa e me deixei relaxar com um bom vinho. Quando
deu o horário marcado por Marco, cheguei no restaurante e
involuntariamente corri os olhos por todo lugar, e lá estava ele com o sorriso
e postura profissional que todos os garçons tem. Não me deixei levar e
caminhei com Marco até seu escritório.
Não podia mentir dizendo que prestei atenção no conteúdo da
reunião, minha mente maldita estava em outro lugar. Falei o que tinha que
falar, assinei onde tinha que assinar e saí. Ao chegar no salão, a cena que vi
me fez enlouquecer. Tinha um bastardo com as mãos imundas em Luiz
Otávio. O seu desconforto era bem nítido, não pensei em nada, meu corpo e
mente estavam condicionados a afastá-lo do bastardo. Depois que eu
consegui livrar Luiz Otávio do aperto do infeliz, me virei para encará-lo e
passei meus olhos rapidamente na mesa me sentando na cadeira vaga.
— Agora é você e eu. Nunca mais, ouviu bem? Nunca mais encoste
suas mãos nojentas no meu piccolo! — Meu piccolo? De onde isso saiu não
sei e também não era hora para descobrir. Voltei minha raiva ao pervertido.
— Não estou entendendo o seu interesse em um simples garçom,
Filippo — disse Vasconcelos cruzando os braços.
— Para você é Sr. Aandreozzi, mas se quiser parecer menos formal,
chama-me apenas de Aandreozzi — falei casualmente fazendo ele
endurecer no lugar. — Voltando ao assunto... O meu interesse em qualquer
coisa que seja, não lhe diz respeito.
— Então o meu interesse em foder um simples garçom, não tem
nada a ver com você. Se já falamos tudo, eu tenho que ir. — Ele tentou se
levantar e eu o joguei novamente na cadeira.
“Foda-se a calma!”
— Vou lhe dizer uma vez e você ficará bem quietinho, bastardo
infelice — falei entredentes, fazendo o mesmo se assustar. — Se você
assediar mais algum funcionário nesse estabelecimento, eu pessoalmente
serei encarregado de acabar com sua empresa. Ela vai afundar e você não
vai nem perceber. Não se engane com minha boa vontade, pois se você
falar, tocar ou fizer qualquer outra coisa em Luiz Otávio, acabarei com sua
vida! Não me olhe com essa cara, até eu estou surpreso com a minha
atitude.
Assedie ele novamente e será um homem morto.
— Você não pode vir me ameaçar assim, sem mais e nem menos.
Entenda que você está chegando agora — disse com os punhos cerrados.
— Ora, meu caro Vasconcelos. É por isso mesmo que você tem que
fazer o que eu estou lhe propondo. — Recostei-me na cadeira.
— Não entendi onde você quer chegar.
— Estou há pouco tempo no Brasil, sendo assim você não me
conhece e não sabe do que eu sou capaz — disse calmamente. Quando ele
ia dizer algo, levantei a mão o impedindo. — Poupe-me palavras vagas e
desnecessárias. Tenho dito, fique longe. Não seja um pervertido e sua vida e
empresa ficaram intactas.
Pedi licença e levantei-me sobre o olhar assustado de Miguel
Vasconcelos. Saí do restaurante, peguei meu carro e segui até o
estacionamento dos funcionários. Desliguei o motor e fiquei sentado
esperando Luiz sair. Não sei quanto tempo fiquei ali parado. Em um certo
momento o vi sair sem seu habitual uniforme e com uma mochila nos
ombros. Não perdi tempo e fui ao seu encontro.
— Boa noite, Luiz Otávio! Como está se sentindo depois do
inconveniente? — Assustei-o, o fazendo pular.
— Boa noite, senhor. Desculpe, não tinha visto o senhor chegar. —
Soltou a respiração. — Obrigado por intervir, mas eu já estou acostumado
com esses tipos de comportamento de clientes.
— Você sabe que aquilo é assédio sexual e que poderia muito bem
denunciar. — Fui severo.
— Não há necessidade disso, senhor. Se eu fosse denunciar a cada
cliente que fizer isso... — falou timidamente.
— Isso acontece com frequência? — A irritação nas minhas palavras
era evidente.
— Olha, senhor... Para nós, pobres assalariados, que ficam frente a
frente a certos tipos de cliente, é bem normal isso acontecer. Posso te dizer
que estou acostumado. — Soltou um risinho sem graça.
Tinha certeza que estava fazendo cara de bobo.
— Certo. Você quer carona para casa?
“De onde saiu isso? Não tenho a mínima ideia. Esse não sou eu.”
— Não há necessidade. Tenho minha moto e estou esperando uma
pessoa — disse olhando para baixo.
— Quem é essa pessoa? — Aproximei-me dele. A cada passo que eu
dava, ele tentava andar para trás.
— O que o senhor está fazendo? — perguntou sussurrado.
— Não faço a mínima ideia, mas não consigo me controlar. Isso está
me deixando louco — falei encarando descaradamente sua boca rosada e vi
o quanto estava com vontade de beijá-lo.
— O senhor não pode fazer isso… Isso está errado. — Percebi que
seu corpo estava quase entregue e isso me deixou com o pau muito rígido.
— Não importa, eu sei quando quero algo.
— Caraca, Luti! Estou cansadão hoje, irmão. Bora para casa? — A voz
masculina fez eu me afastar abruptamente.
— Vamos sim, Beto. Eu só estava te esperando — falou Luiz
desnorteado assim como eu estava, mas me recuperei rapidamente.
— Então beleza. Opa! Boa noite, senhor. Está perdido? — perguntou
o cara que se não me enganava era o manobrista.
— Boa noite. Com licença, tenho que ir. — Virei-me saindo.
— Senhor Aandreozzi, espera! — Parei, mas continuei de costas. —
Não sei o que está acontecendo com você, mas seja o que for, só queria que
o senhor soubesse que eu também estou sentindo isso — sussurrou atrás de
mim. Senti um toque bem de leve em minhas costas que fez meu corpo
inteiro se arrepiar.
— Meu nome é Filippo. Me chame assim.
Não dei o trabalho de olhar para trás e saí entrando em meu carro.
Cheguei em casa procurando não pensar em nada do que foi dito ou
sentido. Verificando meu celular, percebi que tinha ligações de Enzo, meu
irmão. Tinha que retornar, senão ele pegaria o jato da família e estaria aqui
em dois tempos, não só ele como Lucca e Luna também.
— Perché non rispondere alle mie chiamate Lippo (Porque não
atendeu minhas ligações, Lippo?) — perguntou Enzo assim que atendeu.
— Buona sera a voi troppo fratello (Boa noite para você também,
irmão) — falei sério.
— Ahh .. Cazzo bastardo! (Ahh.. Foda-se, bastardo!) — disse Enzo
irritado, quase me fazendo rir. — Vuoi sapere chiamerò gli altri e non
spegnere (Quer saber, vou ligar para os outros e não desligue.)
Era muito normal essa preocupação que nós tínhamos uns com os
outros, crescemos no meio de constantes ameaças. Quando cada irmão
decidiu seguir seu rumo em países diferentes, papai quase surtou e mamãe
ameaçou se matar, foi uma confusão daquelas. Nonna apenas ficava rindo
de todo drama. Depois de muita luta, muita promessa e gastos
desnecessários com jatinhos, conseguimos seguir adiante com nossos
planos, mas era fundamental seguir todos os protocolos de segurança e
atender sempre o chamado da família. Mesmo sendo eu o mais velho e
totalmente independente, para minha família isso não existia.
Depois de um tempo esperando na linha, a conferência feita por
Enzo com todos os irmãos foi concluída. Meus ouvidos foram carregados
com diferentes línguas faladas ao mesmo tempo.
— Inferno, parem de falar ao mesmo tempo e com línguas
diferentes! Como eu sou o mais velho eu escolho, vamos falar em português
— disse muito sério sem dar a chance para ninguém questionar.
— Não fique se achando o velho, porque Enzo é só meses mais novo
que você — disse Lucca me provocando.
Já disse que eles não me respeitam?
— Obrigado, irmãozinho. Me poupou uma fala. — Não preciso nem
dizer quem era. Enzo quando queria, sabia ser chato.
— Por favor, parem com isso, estamos perdendo tempo. O que
aconteceu com você que não atendeu o celular, Lippo? — perguntou a
princesa da família, tão doce, mas não se engane, ela sabia bater como
ninguém.
— Não aconteceu nada, eu simplesmente esqueci o aparelho em
casa — falei sem interesse e percebi que a ligação ficou muda por algum
tempo. — Irmãos? Ainda estão na linha?
— Deixa eu ver se entendi. Você, Filippo Aandreozzi, filho de
Donatello, o filho mais parecido com ele e a pessoa mais controladora que
existe, logo você, está nos falando que esqueceu o celular em casa? Celular
esse que você nunca desgruda, deixou em casa? Só isso? — perguntou Enzo
usando uma sutileza que eu sabia que não tinha.
— Sim, isso não tem nada demais! Só esqueci a porra do celular em
casa — falei alto.
— A situação está complicada, estamos esperando ir te ver na
semana do seu aniversário, mas estou vendo que teremos que adiantar —
falou Luna apressadamente.
Percebi que tinha esquecido que meu aniversário seria dali algumas
poucas semanas. Não ligava nada para esta data, mas minha família jamais
me deixaria sozinho.
— Como? Não! Se vocês vierem antes mamãe vai achar que
aconteceu algo — falei com impaciência.
— Pode falar o que há, irmão? — perguntou-me Lucca em um tom
baixo.
— Isso deve ser mulher, não sabe como o irmão mais velho adora
foder uma bocetinha nova? — disse Enzo com malícia e isso fez meu corpo
entrar em alerta.
— Pare de falar besteira, Enzo! Nem todo mundo é um canalha como
você — falou Luna irritada.
— Desculpe, irmãzinha. Esqueci que você estava na linha.
— Tudo bem, vamos mudar de assunto. Estaremos aí o quanto
antes, Lippo, e sem carranca, xingamentos, brigas e frieza, sabe muito bem
que com a gente não cola isso — falou Luna decidida, fazendo soltar um
suspiro. Podia falar o que fosse, mas sabia que meus irmãos me fazem falta.
— Ok! Qual o assunto que você queria falar, Luna? — perguntei
tentando mudar o foco de mim.
— Haaa... Isso quem vai falar é o Zuco. Ele sabe a mais nova de
nonna. — Zuco era o apelido que Luna deu a Enzo quando pequena.
— O que foi que nonna aprontou dessa vez? — perguntou Lucca
apreensivo, como todos nós ficamos quando se trata de nossa avó.
— Bem, nonna se inscreveu para fazer aulas de pole dance.
— É O QUÊ? — Um coro gritado foi se ouvido.
Eu não poderia imaginar que vovó queria fazer uma coisa dessas.
— Oh, mio Dio! Papai deve estar em tempo de morrer. Ele odeia
quando nonna inventa essas coisas — Luna falou soltando um suspiro.
— Não me lembre, viu?! Vocês deveriam estar aqui para ver a
gritaria desses dois. Nonna Francesca dizendo que pole dance vai deixar o
corpo dela durinho, papai dizendo que o que caiu não sobe mais, mamãe
desmaiando à toa para parar a briga. Vive un inferno sulla terra! (Vivi um
inferno na terra!)
— Enzo você fez o que para parar a briga, porque nós sabemos que
se não intervir eles continuam? — perguntou Lucca.
— Nada demais, só disse ao nosso pai que quando eu for ver Filippo
levarei nossa amada vovó comigo — falou o miserável com ar de riso.
— NÃO! Você não pode fazer isso, sabe que o esporte preferido de
nonna é me atormentar — falei apertando bem minha mandíbula de raiva.
— Você e papai são tão parecidos. Deixe nossa avó ficar um pouco
com você — falou Luna risonha.
— Por que não você, Luna, ou até mesmo você, Lucca? — perguntei
já sabendo a resposta e ouvindo os três rirem.
— Perché avete bisogno di un po 'più di amore (Porque você precisa
de um pouco mais de amor) — disse os três em uníssono. Essa era a maldita
frase que vovó sempre falava para me provocar.
— Muito engraçado, mas eu tenho mais o que fazer do que ficar
conversando com vocês.
— Tudo bem, Filippo. Você pode até ser esse chato, mas somos seus
irmãos e percebemos que você está estranho — falou Lucca.
— Falando em estranho, soube por papai que a louca da Antonella
foi procurar mamãe no escritório dela — disse Enzo e já percebi que ele
ficou sério, todos meus irmãos odiavam Antonella.
— O que essa cagna (vadia) foi querer com nossa mãe? — perguntou
Luna.
— Você já sabe! Cobrar o bendito casamento que não vai existir —
falei com o ar cansado.
— Já te falei antes e te digo novamente, foi bom você parar de foder
com essa mulher — disse Lucca.
— Ela veio me atormentar aqui, eu simplesmente a mandei embora.
Deve ser por isso que ela foi fazer queixa a nossa mãe.
— Verdade, irmão! Agora me diz quem é a vadia da vez? —
perguntou Enzo e a imagem de Luiz Otávio veio na minha mente e isso me
irritou profundamente.
— NÃO HÁ NINGUÉM! Mesmo se tivesse não te diz respeito.
— O caso está sério, vamos aparecer o quanto antes, Lippo — falou
Luna o que me fez revirar os olhos.
— Tudo bem, vou preparar o quarto de vocês. — Mesmo que eu
dissesse que não, eles viriam de qualquer maneira.
— Te amamos, para tudo e por tudo! — disse Enzo.
— Eu sei, também amo vocês.
Encerrei a ligação com meus irmãos e segui para meu quarto. Nunca
me questionei em gostar de ficar sozinho, sempre adorei a solidão. Ela me
ajudava ter a concentração que tanto necessitava, mas pela primeira vez
não estava mais querendo ficar sozinho. E para piorar tudo, esperava
ansiosamente a vinda da minha família louca para minha casa.
“O que estava acontecendo comigo? Eu definitivamente não sou
assim.”
Há exatamente duas semanas eu vinha tentando não pensar em
nada. Não pensar na prova do vestibular que faria no final de semana, nas
duas outras provas que fracassei, na expectativa de minha tia em sair com
um carinha mais novo que não me passou confiança, nas investidas de
mulheres loucas que eu perdi totalmente o interesse, mas o pior de tudo...
tentar não pensar em Filippo que há exatamente duas semanas sumiu me
deixando com uma tristeza sem cabimento algum.
Quando ele me defendeu no restaurante, me senti uma pessoa
importante. Sei que não deveria, mas não podia fazer nada, era o que eu
estava sentindo. Falar com ele do jeito que falei tentando passar por cima da
minha timidez terrível, ser quase beijado por um homem, cujo ser
justamente o homem que estava enlouquecendo meus pensamentos, foi
uma grande revelação para mim. Desde então, fiquei o esperando aparecer.
Não com a intenção de que ele viesse falar comigo, somente queria vê-lo.
Como um adolescente bobo de sentimentos tolos, pela primeira vez
na vida esperei ansioso por alguém que não apareceu. Ficava observando
reservas no restaurante na intenção de ver seu nome, mas nada aconteceu.
Tinha que parar de pensar em como minhas mãos começaram a suar só por
ouvir o som da sua voz, da maneira que eu fiquei confuso quando ele
começou a aproximar seu corpo do meu, das minhas pernas fraquejarem ao
sentir o cheiro amadeirado do seu perfume másculo, o aceleramento do
meu coração e a falta de sincronia do meu sistema respiratório por
completo. Merda! A única coisa que eu queria era beijá-lo. Sim, beijar
aquela boca que completa o rosto sério de homem que tem o poder nas
mãos.
Pesquisei sobre ele na internet e com a pesquisa pude ver o quanto
bom nos negócios era. Cada matéria que eu lia ficava encantado e tinha
mais certeza que se eu estava me apaixonando por um homem, esse
homem não poderia ser Filippo Aandreozzi. O cara tinha uma inteligência
incrível, formado em duas graduações com apenas vinte e nove anos. Todo
conteúdo era meramente em torno de sua vida profissional, não tinha nada
sobre sua vida pessoal.
Porra! Eu estava em tempo de ficar louco, por isso decidi não fazer
isso comigo. Não queria ficar pensando nisso, o que quer que fosse. Tinha
que estar focado na minha vida, nos meus planos e, principalmente, passar
no vestibular.
— Eita, moleque. A prova vai ser amanhã, não é? — perguntou Beto,
quando o deixei em frente sua casa.
— Nem me lembre, viu, Beto?! Estou uma pilha de nervos. — Passei
as duas mãos no rosto.
— Que nada, Luti. Você estudou muito, cara, esse cursinho que você
fez vai te ajudar. — Fez um gesto de desdém com a mão.
— Sabe, Beto... Bem que você poderia ter estudado para fazer uma
faculdade também — falei o fazendo rir.
— Que nada, mano! Nunca fui chegado a estudar. Às vezes, acho que
não tenho futuro algum a não ser continuar sendo manobrista — disse isso
com o olhar vago.
— Quem te falou isso, Beto? Você sempre foi muito bom com
números desde moleque. Sempre tive inveja disso.
— Ah, cara... Sabe como é, né? Nunca vi nada demais nisso. Analú
disse que não namoraria um sem futuro como eu — disse cabisbaixo.
— Coisa nenhuma, Beto. Você não pode levar ao pé da letra tudo de
ruim que falam da gente.
— Mas ela é mina que eu sou apaixonada, cara. Aquela morena me
fascina.
— Ela poderia ser uma princesa, meu amigo, mas te digo que tem
que querer fazer as coisas por si mesmo e não porque alguém diz que você
não pode.
— Falando assim acho que você está certo, mano.
— Claro que sim. Eu não sei se vou passar nessa prova, mas mesmo
que eu passe, vou te matricular no próximo semestre.
— Se você está dizendo, vou acreditar. Mas me diz uma coisa que eu
estava com vontade de perguntar há um tempo.
— Pode perguntar, brother.
— O que aquele ricaço e você estavam fazendo no estacionamento
de funcionários naquela noite?
— O quê? Eu e o Sr. Aandreozzi? Nada demais, sabe… Ele só estava lá
porque é… Como se fala? Ora, Beto! Ele estava lá porque eu estava
agradecendo por ele ter me ajudado com o pervertido do Vasconcelos —
falei e era visível o meu nervosismo e desconforto.
— Sei… Olha, Luti. Se você quiser me dizer alguma coisa, sabe que
pode confiar. Não sabe? — perguntou Beto colocando a mão no meu
ombro.
— Relaxa, cara. Não tem nada para contar.
— Tudo bem, então. Agora vai descansar que amanhã é o dia. E
depois vamos sair para comemorar o mais novo universitário da turma.
— Pode ir parando, Beto. Eu não sei se vou passar ou não. Já fiz essa
prova duas vezes e não rolou.
— Cale a boca, Lutito! Você vai passar nessa porra sim! Agora vai lá e
boa sorte, irmão.
— Valeu, cara. Estou indo tentar dormir.
Dei uma última olhada em meu amigo e segui para casa. Desde que
mudei de casa, Beto não queria mais que eu o desse carona, mas tirei isso
de sua cabeça e disse que não me custaria nada, uma rodadinha a mais não
faria mal a ninguém.
Conhecia Beto desde pequeno. Tive uma briga feia na escola e ele
entrou e me defendeu afirmando que eu era muito pequeno para apanhar.
Meu pai sempre gostou muito dele, ele dizia que esse jeito marrento de
Beto era contagiante. Obviamente eu não entendia nada o que meu pai
queria dizer naquela época, mas agora sei que esse jeito dele já me fez rir
muito. Beto era uma figura e quando tirava onda de bravo, ficava mais
engraçado ainda. Tenho certeza que verão isso, aguardem!
Mudei de endereço com minha tia há alguns dias. No início foi um
inferno, fazer mudança é terrível. Empacotar e desempacotar as coisas,
limpar casa, colocar tudo no lugar... Tudo isso foi muito chato, ainda mais
com minha rotina estressante. Já até conseguia imaginar se eu chegasse a
passar no vestibular.
Cheguei em casa e estacionei a moto na nossa pequena garagem.
Agora tínhamos uma, isso não é ótimo? Assim que coloquei a chave na
fechadura e abri a porta, arregalei os olhos horrorizado com a cena que vi.
Minha tia Amélia estava em uma posição muito comprometedora com seu
atual namorado, se assim podia classificar o sujeito. Ela estava com as mãos
no encosto do sofá o segurando forte, com o cara atrás dela fazendo uma
britadeira bem veloz. Dava para ouvir o som de carne contra carne se
chocando repetitivamente.
— Isso, seu tesudo... Mete mais forte. Ahh… Mais forte! Mete nessa
boceta seu cachorro! — As palavras saídas da boca de minha tia eram
perturbadoras.
— Isso mesmo, vadia gostosa... Receba essa pica! Vou enfiar mais
fundo. Ahhh… — falou o animal, e só então que prestei atenção nele.
Não posso negar que o cara era bonito, tinha um corpo bem
musculoso, não sabia se era por exercícios físicos ou por trabalhos braçais.
Não importava, o que me importava no momento era observar os
movimentos que seu quadril fazia ao enterrar seu pau em minha tia. Sabia
que não deveria olhar, mas estava sendo impossível. Paulo percebeu que eu
estava olhando e me lançou um sorrisinho sacana e a penetrou com mais
força. Isso me deixou com a excitação em alta. Fiz o que deveria já ter feito.
Saí sem fazer barulho e finalmente tirei a imagem daquele homem de tórax
suado da minha mente.
Esperei até não ouvir mais os gemidos abafados de minha tia e voz
do carinha dela. Entrei em casa novamente e percebi que a sala já estava
desocupada. Fui correndo para meu quarto fechando a porta, precisava me
aliviar de algum jeito e só me masturbar resolveria esse problema. Tirei
minha roupa ficando somente de cueca e coloquei a mão no meu pau,
aperteio com força deixando um gemido escapar de minha boca. Imagens da
mesma cena veio a minha cabeça, mas os protagonistas nela eram eu e
Filippo. Comecei a movimentar um ritmo vagaroso e muito gostoso de vai e
vem. Quando eu ia aumentar o ritmo, toques na porta do meu quarto me
fizeram pular com o coração acelerado pelo susto. Cobri-me com o lençol e
mandei quem quer que fosse entrar.
— Luti, querido. Você chegou tem muito tempo? Não o vi entrar —
disse minha tia colocando a cabeça para dentro do quarto, com um sorriso
sem graça.
— Não, tia! Acabei de chegar, pensei que a senhora estava
dormindo, por isso vim direto para o quarto me deitar — falei
apressadamente.
— Certo, entendi. Então vá dormir, meu querido. Eu estou muito
cansada, imagine você que tem que fazer uma prova amanhã
“Imagino bastante seu cansaço, safadinha!”
Tive que abaixar o rosto para tia Amélia não me ver ficar vermelho
com meus pensamentos.
— O dia hoje foi cansativo, posso até imaginar.
Olhei para trás de minha tia e vi que o tal Paulo estava lá de braços
cruzados olhando para mim. Desviei meus olhos dos seus com um certo
desconforto.
— Durma com Deus, Luti. Boa noite! — disse minha tia fechando a
porta.
Assim que ela saiu pude respirar aliviado e deitar procurando uma
posição confortável para dormir. O tesão que eu estava sentindo evaporou
feito fumaça. Estava nervoso revirando de um lado para outro na cama,
minha cabeça estava cheia de coisas, tentei de todas as formas até que
consegui finalmente dormir.
Acordei ainda muito cansado ouvindo o som do despertador. Corri
para o banho, pois não queria me atrasar e chegar lá encontrando o portão
fechado e perder a oportunidade de fazer a minha prova. Arrumei-me com
roupas bastante confortáveis para não me atrapalhar na concentração.
Eescolhi uma camiseta gola “V” verde-escuro, uma bermuda jeans
confortável e meu vans. Vestido, arrumei meu cabelo e passei perfume.
Olhando meu reflexo no espelho, meus pensamentos voaram para meus
pais. Papai sempre disse que o maior sonho da vida dele seria me ver indo
para faculdade. Por isso iria dar o meu melhor para passar e deixar meus
pais felizes onde quer que estivessem.
Não percebi que estava chorando até sentir alguém me abraçar por
trás. Olhei para o lado e vi minha tia. Dei-lhe um sorriso pequeno, ela sabia o
motivo das lágrimas. Toda ou qualquer coisa importante que acontecia em
minha vida, me fazia sentir ainda mais falta deles.
— Ei, querido. Não chore! Onde quer que eles estejam estarão
olhando por você — falou limpando as lágrimas que caiam no meu rosto.
— Eu sei disso, tia, mas ainda dói não ter a presença deles — falei
olhando para ela. — Não que você não seja importante, longe disso. Sabe
como é, né?
— Sei sim, meu lindo, mas fique bem e tranquilo para passar nessa
prova, que eu sei que você vai.
— Queria ter seu otimismo, não sei se vai ser dessa vez.
— Pode ir parando de baixo astral, Luiz Otávio. Você estudou muito,
eu presenciei isso. Então, não vai ser nada demais para você. Tenho certeza
— falou me lançando uma piscadela.
— Então deixa eu adiantar, quero ainda encontrar com Ângela antes
de fazer a prova. — Peguei minha mochila.
— Olha, vou te dizer, viu?! Eu adoro essa menina. Ainda acho que
vocês vão namorar — disse me cutucando com o dedo e me fazendo rir.
— Esquece isso, tia. A Angel é só minha amiga, uma grande nova
amiga — falei sério.
— Se é assim que você quer, mas saiba que ela daria uma ótima
namorada — disse saindo do quarto, mas voltou. — Ah! Na bancada da
cozinha tem uma sacola com uma garrafa de água e umas barrinhas de
cereais.
— Obrigado, tia. Eu tinha esquecido.
— É... Mas eu não esqueci. Deixa eu voltar que Paulo está me
esperando na cama.
“Sei muito bem para que ele está te esperando.”
Dei um beijo na minha tia e fui até à cozinha. Assim que entrei, logo
avistei a tal sacolinha que ela falou. Coloquei tudo na mochila, peguei meu
capacete e saí de casa. Cheguei no local da prova e já mandei uma
mensagem para Ângela que já estava lá. Quando deu o horário indicado,
entrei e procurei por minha sala. Já acomodado em meu lugar recebi a
mensagem de minha amiga marcando para nos encontrarmos assim que
terminássemos a prova.
Depois de várias horas de pura concentração, finalmente terminei
minha prova. Saí de lá indo direto para o lugar marcado com Angel e assim
que cheguei, a vi sentada à minha espera.
— Eita, hein, Luti? O que você achou? Eu achei que estava bem legal,
acho que podemos passar — falou assim que me viu chegar.
— Por incrível que pareça eu também gostei muito e estou confiante
— falei depois de abraçá-la.
— Estou tão aliviada que acho que merecemos uma comemoração.
— Se é assim, já tem um lugar para ir? Meu amigo Beto chamou a
galera para sair e quero que você esteja incluída.
— Sério? Eu adoraria ir. Vem cá, Luiz Otávio... Isso é um encontro?
— perguntou em tom de desconfiança.
— Não, Ângela. Nem fale isso na frente de minha tia, pois ela já
estava tentando fazer que você seja minha namorada — falei e ela fez cara
de confusão.
— Como assim, Luti?
— Sei lá, são coisas da Amélia. Acho que depois que ela arranjou o
caso dela, deve achar que eu tinha que ter um também. Aí ela pensou em
você.
Angel balançou a cabeça em negação sorrindo.
— Pode ir tirando essa ideia de sua tia. Eu gosto muito de você, mas
é como uma grande amiga.
— Eu sei disso e a mesma coisa é de cá!
Fiquei um bom tempo conversando com Ângela sobre a prova,
precisávamos tirar uma boa nota para conseguirmos a bolsa, pois tanto ela
quanto eu não tínhamos condições de pagar o valor das mensalidades. Nós
poderíamos tentar o Enem, mas como surgiu essa oportunidade, agarramos
sem pensar duas vezes.
Quando cansamos de ficar sentados, levei ela até o shopping para
lancharmos. Como toda mulher ela me fez ir até uma loja para que ela
pudesse comprar um vestido para à noite. Angel podia ser uma menina na
dela, mas aprendi a não mexer muito com a mesma, e sendo assim, fui sem
brigar.
Chegando em casa mandei uma mensagem para Beto afirmando que
iria sair e que Angel também iria. Marcamos o horário e eu fui para meu
quarto descansar para mais tarde e também não estava a fim de me
esbarrar com o caso da minha tia.

Não sei quando dormi, mas acordei quando levei um sacode. Olhei e
percebi que Beto e Ângela estavam me olhando com uma cara nada boa.
— Sabe, mano... Quando se marca um horário, é nesse horário que
se deve sair — disse Beto todo marrento.
— Ah, Beto, releva aí, cara... Estava cansado e resolvi tirar um cochilo
— falei bocejando.
— Isso não foi um cochilo e sim o sono da morte — disse Angel se
olhando no espelho.
— Espero que tenha descansado bastante, porque meu amigo, vou
fazer você tomar seu primeiro porre — disse Beto esfregando uma mão na
outra com a maior cara de louco.
— Nem venha tentar me incluir nesses planos, pois eu não bebo —
falou Angel horrorizada.
— Como não, gatinha linda? Soube que você é tão estudiosa quanto
meu amigo. — Beto a abraçou na maior intimidade.
— Vem cá... Vocês dois já se conheciam? -— perguntei desconfiado e
confuso.
— Claro que não, Luti. Esse seu amigo é muito do cara de pau, ele me
conheceu agora mesmo — falou Angel com indignação.
— Caralho, Anjito! Assim magoa meu pobre coração sofredor. —
Beto colocou a mão no peito dramatizando.
— Pode ir parando por aí! Que coisa é essa de Anjito?
— Olhe, só vou deixar vocês dois aí discutindo e vou tomar um
banho. E Angel... não liga, ele é assim mesmo e isso prova que ele gostou de
você, pois quando ele não gosta é todo marrento e quando isso acontece ele
é muito engraçado e ninguém leva fé — disse pegando minha toalha.
— Espere aí, Lutito, já está entregando a joia? — disse Beto fingindo
revolta.
— Tudo bem, mas mesmo assim nada de me chamar de Anjito.
— Oh, cale-se, mulher, e aceite essa porra!
Saí do quarto rindo com as loucuras de Beto e entrei no banheiro.
Tomei meu banho e me arrumei ali mesmo já que meu quarto estava cheio
no momento. Depois de pronto, voltei para lá.
— Porra, cara, sair com você é pedir para não pegar ninguém.
Grande filho da puta você é! — disse Beto indignado, me fazendo revirar os
olhos.
— Deixa de graça, Roberto. Você adora me deixar sem graça.
— É Beto, moleque. Não se esqueça. Roberto é o senhor meu pai.
— Pode ir parando por aí vocês dois. Mas é verdade, você está um
gato, Lutito — falou Angel rindo, pronunciando o meu apelido com deboche.
— Vamos logo antes que eu desista.
Pegamos um táxi, já que Beto tinha as intenções de me embebedar e
não iria rolar de eu pilotar minha moto. Ao chegarmos no local que Beto
sugeriu, tomei um susto quando vi onde estávamos. Era simplesmente na
boate mais cara de São Paulo. Eu e Angel quase desistimos de entrar, mas o
sacana do Beto estava com três ingressos na mão.
Ao entrar no local, eu tinha certeza que minha boca estava aberta,
pois recebi um tapinha de Angel chamando minha atenção.
— Como foi que você conseguiu a entrada desse lugar, cara? Aqui
não é nosso mundo — falei bem alto por causa do som da música.
— Relaxa, Lutito, que quem conseguiu isso tudo foi o Silvinho.
Falando no cuzão, olhe ele ali — disse apontando para onde estava Rick e
Silvinho bebendo alguma coisa que não fazia ideia do que era.
— Aê! Nosso futuro universitário chegou — falou Rick fazendo um
toque em cumprimento comigo, em seguida Silvinho fez o mesmo.
— Para com isso, cara! Essa aqui é Ângela, uma grande amiga minha
— apresentei-os e minha amiga que recebeu uma secada dos caras.
— Podem ir parando vocês dois de olharem assim para Anjito, pois a
mina é de responsa e já é da família — disse Beto mandando a real para os
meninos.
— Se é assim... Então, bem-vinda a família, Ângela — disse Silvinho
sorrindo, pois ele sabia que para Beto gostar de uma mulher sem querer
entrar na sua calcinha é porque ela era de valor.
— Prazer em conhecer vocês, meninos — disse Angel com um sorriso
doce.
— Temos um trabalho a fazer e estamos perdendo tempo. Qual a
intenção da noite? — perguntou Beto.
— EMBEBEDAR O LUTITO! — gritaram todos juntos, até mesmo
Angel, o que me fez olhar para ela espantado e a mesma só fez dar de
ombros gargalhando junto com os outros.
À noite estava incrível. Comecei a beber tudo que os meninos
colocavam na minha frente. Como não entendia nada sobre bebidas e para
mim tudo tinha um gosto horrível, bebi todas. Mas com o passar das horas,
as bebidas já desciam na maior tranquilidade.
Estava perdendo noção do que estava fazendo, dancei muito fazendo
meu corpo suar demais. Tirei minha camisa xadrez a amarrando na cintura.
Com o calor que estava fazendo a bebida refrescava meu corpo me fazendo
querer mais.
— Você não acha que para o Luti já está bom por hoje, Beto? — Ouvi
Angel perguntar, mas nem dei muita bola.
Estava dançando e cantando 24k - Bruno Mars.
— Porra nenhuma, Anjito. Nosso moleque precisa relaxar. Você
conhece Luiz Otávio agora, ele sempre foi muito preso, me entende? —
perguntou Beto me olhando e Ângela afirmou com a cabeça.
— Tenho certeza que essa vai ser a única vez que você vai ver ele
assim. Por isso deixe ele aproveitar — disse Silvinho sorrindo.
— Vamos viver nessa merda que amanhã é outro dia — gritou Rick
ao separar sua boca da mulher com quem estava.
— Vamos dançar, Angel? — perguntei já puxando-a para pista de
dança.
Comecei a dançar ao som de Malbec - Henrique & Diego. No início
Angel estava meio travada, mas logo foi se soltando dançamos bonito e
atraindo muitos olhares. Não sei como não estava incomodado com isso,
acho que o álcool estava mexendo com minha cabeça.
Passei os olhos por todo lugar e paralisei quando vi um par de
incríveis olhos azuis me observando de cima do camarote. Sacudi a cabeça
para parar de fantasiar coisa que não existia, tinha certeza que minha mente
bêbada produziu a imagem de Filippo Aandreozzi me observado com uma
expressão raivosa.
Esqueci o que quer que eu ache ter visto e fechei meus olhos, puxei
Angel para mais perto do meu corpo para dançarmos agarradinho ao som de
Estaca zero - Luan Santana e Ivete Sangalo.

Se beber hoje fosse minha única opção


Pra por um curativo no meu coração
Até te esqueceria por cinco minutos
Mas não pra sempre
É a primeira vez que eu vou sair sozinho
E o banco do carona hoje tá tão vazio
Até bateu saudade do seu mau humor…

Abri meus olhos procurando e imaginando onde estavam os olhos


azuis. Assim que os encontrei, percebi que ele olhava fixamente para mim e
fechei meus olhos novamente seguindo no embalo da música.

… Mas foi só te ver


Caiu a ficha do quanto eu te quero
Que recaída, eu tô falando sério
Parei, pensei e não me segurei
Olha eu de novo na estaca zero.

Depois de um tempo dançando, Ângela parou de dançar


repentinamente e olhou para trás de mim com os olhos arregalados e a boca
aberta.
— O que foi, Angel?
— Acho que já está na hora de ir para casa, Luiz Otávio. Capisce? —
disse alguém bem atrás de mim, com a voz rouca e o sotaque maravilhoso.
“Oh céus! Será que quando a pessoa fica bêbada também inventa
vozes na cabeça?”

Tinha duas semanas que eu não via Luiz Otávio. A primeira semana
eu passei trabalhando muito, pois sabia que com os meus irmãos na cidade
seria impossível trabalhar. Ficava preocupado, pois quando os irmãos
Aandreozzi se juntavam em um mesmo local era muito fácil acontecer um
atentado, por isso resolvi trabalhar para poder deixar minha agenda folgada.
Na segunda semana fui para o Maranhão acompanhar de perto as
obras do Resort. Não poderia mentir, a não ser para ele, é claro. Eu não
confiava em Luigi. Então por isso tinha que ver como tudo andava com meus
próprios olhos. Fiquei uma semana lá resolvendo tudo que deveria resolver
para ficar menos preocupado. Quando cheguei em São Paulo a primeira
coisa que eu queria fazer, era ir para minha casa e dormir. Estava tão
cansado que não conseguia me controlar e eu nunca perdi o controle.
Deixei que Elijah dirigisse para mim, tinha certeza que provocaria um
acidente se eu pegasse meu carro, meu cansaço era extremo.
Durante os dias que estive fora, deixei um dos meus homens de olho
em Luiz Otávio. Todo dia eu tinha um relatório do que ele andava fazendo.
Com isso eu descobrir que ele havia se mudado de endereço junto com a tia,
e que agora a casa era frequentava por um homem. Falaram que o sujeito
era o novo namorado da tia dele, fora isso não aconteceu mais nada de
diferente.
Cheguei no meu prédio e saltei do carro. Caminhei para meu
elevador particular e fui direto para minha cobertura. Eu necessitava de um
banho e cama. Assim que as portas se abriram, eu tomei um susto. Na
minha sala se encontravam os meus irmãos na maior mordomia. Quando
Luna me viu chegar, correu para os meus braços e se jogou.
— Saudade, grande fratello (irmão mais velho) — disse agarrada em
mim como um filhote de macaco.
— Também estava com saudade, sorellina (irmãzinha) — falei
retribuindo seu abraço.
— E de mim estava com saudade, Lippo? — perguntou Enzo,
vestindo somente uma cueca enquanto perambulava pela casa me irritando
profundamente.
— Porra, Enzo! Que trajes são esses na minha casa? — Tinha certeza
que estava vermelho de raiva.
— Relaxe, irmão. Gosto de ficar à vontade em casa — falou com
desdém.
— Tem um pequeno detalhe, essa porra de casa não é sua!
— Claro que é! O que é seu é nosso, irmão!
— Verdade! — disseram Lucca e Luna juntos.
— Não sei onde estava com a cabeça quando eu comprei esse lugar
tão grande por causa de vocês — falei soltando um suspiro.
— Muito cansado, irmão? — perguntou Lucca, assim que me joguei
no sofá.
— Muito! Estava no Maranhão resolvendo as coisas sobre o projeto
do Resort — disse fazendo Enzo e Lucca se interessarem.
— Não! Nada de trabalho vocês três. Não quero ouvir essa conversa
— falou Luna com autoridade.
— Está bem, senhorita. Como foram de viagem e cadê a nonna? —
perguntei levemente interessado.
— Lucca e Luna foram para Milão, de lá viemos os três juntos.
Mamãe está louca para vir logo no seu aniversário. Nonna disse que viria
daqui uns dias e não se preocupe, deixei uns homens tomando conta dela
contra sua vontade, é claro — falou Enzo colocando suas patas em cima de
meu colo, fazendo eu o derrubar no chão.
— Você é tão doce, irmão. Precisava me jogar no chão?
— Você vendo que Filippo chegou cansado da viagem e já foi
querendo abusar — disse Lucca me defendendo.
— Obrigado, Lucca. Pelo menos um nessa família tem consciência —
falei tentando tirar Luna do meu colo, mas foi impossível.
— Você tem que descansar muito, Lippo, porque hoje vamos sair
juntos — disse Enzo.
— O QUÊ? Eu não vou para lugar nenhum. Nem pensem nisso —
disse exasperado.
— Você vai sim, Filippo, vai ser uma noite com todos os irmãos
Aandreozzi juntos. Faz tempo que isso não acontece — disse Lucca sério.
— Deixa eu descansar, quem sabe mais tarde eu não resolva ir com
vocês.
— Resolver não, Lippo, você vai! Ou você seria capaz de deixar sua
sorellina sair sozinha com esses dois? — perguntou a chantagista da família.
— Deixem eu dormir. Será que eu posso ir ao meu quarto?
— Pode sim e pode deixar que eu faço o nosso jantar — disse Lucca.
— Não, Lucca, deixa que Luna fará. A comida dela é parecida com a
da mamãe. — Ouvi Enzo falar, mas já estava entrando no quarto.
Eu amava meus irmãos, mas eles quando queriam sabiam ser bem
chatos e irritantes. Não é para me gabar, mas quando estamos juntos
chamamos muita atenção e eu não acho isso legal. Pelo contrário, odeio
chamar atenção. Isso provoca nossos inimigos e somos alvos muito fáceis.
Somos diferentes e parecidos em vários aspectos. Todos os irmãos
Aandreozzi são brancos de cabelos pretos, mas eu tenho olhos azuis
herdados do meu pai. Enzo é mais alto que eu, com olhos escuros, como os
da mamãe. Lucca até hoje eu não sei identificar a cor dos seus olhos, pois
mudam frequentemente de verdes para azuis dependendo da luz ou das
roupas que usa. Luna é linda demais com seus olhos escuros e os cabelos
curtos em um corte moderno que não entendo nada. Seu sorriso era pura
perfeição. Todos nós tínhamos um bom porte físico devido aos nossos
treinamentos desde novos.
Deixei meus irmãos de lado e entrei no banheiro para tomar um
banho. A banheira estava me chamando e sei que se eu usasse acabaria
dormindo na água. Tomei uma ducha rápida e fui ao closet pegar uma cueca
e uma calça de moletom para me vestir e deitar na casa sem me preocupar
com mais nada. Quando já estava dormindo, despertei assustado ao sentir a
cama a fundar dos dois lados, levantei a cabeça e vi meus irmãos deitando
na minha cama.
— O que estão fazendo aqui? — perguntei com a voz rouca de sono.
— Cale a boca e volta a dormir, Filippo! — disse Enzo deitado atrás
de Luna com os olhos fechados.
— Estávamos sentindo sua falta — falou Luna docemente.
— Oh, fiquem quietos, estou com sono, capisce?! — resmungou
Lucca ao meu lado.
Nem se eu quisesse discutir com eles eu conseguiria de tão cansado
que estava. E não vou mentir que me sentia confortável assim. Nunca em
toda minha vida deixei alguém dormir comigo que não fosse as pessoas que
eu amo.

Acordei um tempo depois vendo que meus irmãos ainda dormiam


tranquilamente. Levantei da cama com cuidado e verifiquei o horário vendo
que já estava anoitecendo.
Coloquei uma camiseta e fui para meu escritório. Chegando lá, liguei
para Elijah pedindo que ele chamasse os outros seguranças particulares de
meus irmãos para uma reunião, precisava acertar a escolta da noite. Já que
eles queriam tanto sair, tínhamos que sair com tudo planejado. Ouvi um
toque na porta e mandei entrarem.
— Como vocês devem ter uma certa noção e conhecem bem a rotina
dos meus irmãos, sabem que sairemos hoje. Por isso temos que ter tudo
bem planejado para que não ocorra falhas na segurança deles — falei
seriamente olhando para cada homem de confiança de meus irmãos.
— Sabia que você iria pedir isso Filippo e concordo plenamente com
você — disse Enzo entrando no meu escritório sem bater.
Já briguei muito com ele por causa disso.
— Não bate mais na porta, Enzo? Vem cá, essa bermuda é minha —
perguntei raivoso, recebendo uma risada debochada como resposta.
”Insolente!”
— Relaxe, Lippo, quanta besteira. Se continuar assim vai enfartar
cedo.
— Não vou te falar nada até porque não adianta — disse suspirando.
— Aproveitando que você chegou, vamos resolver logo como vai ser a
escolta de hoje.
— Eu acho melhor sairmos em dois carros, cada carro contendo dois
irmãos e um segurança particular de cada — disse Timóteo, o segurança de
Enzo.
— Boa ideia. Sairá eu e Filippo em um carro com você e Elijah, no
outro carro vai Lucca e Luna com Christian e Alejandro — disse Enzo sério.
Se tratando da segurança de Lucca e Luna ele nunca vacilou.
Nós nos preocupávamos um com o outro, é claro, mas não tanto
quanto nos preocupávamos com os mais novos da família. Apesar de que
eles treinavam bastante e tinham boa mira, o melhor era não vacilar. Se
acontecesse alguma coisa com qualquer um de nós, mamãe morreria do
coração. Papai confiava na gente, mas ele sempre nos lembrava de não dar
bobeira com a princesinha dele.
Quando eu ou meus irmãos viajam, é sempre a mesma coisa.
Levamos o nosso segurança particular, no meu caso é Elijah, e mais um ou
dois seguranças de confiança. E foi o que eles fizeram ao invés de trazer três,
eles vieram só com o particular e mais um.
— Bem, então está tudo acertado. Vamos sair em dois carros mais
um reserva com os outros seguranças na frente. Era só isso, podem sair —
falei me levantando.
— Estou a fim de beber muito hoje à noite — disse Enzo chegando
perto de mim.
— Problemas?
— Não, só muita responsabilidade nas costas.
— Sei bem como é, mas beber nunca é uma opção muito
boa.
— Eu sei que você não gosta de bebidas em excesso, mas libera hoje,
vai?!
— Tudo bem, mas não serei eu a cuidar de você.
— Para que existe Luna em nossas vidas?
— O que tem eu? — perguntou Luna entrando sem bater.
— Não sabem o que é bater na porta? — perguntei irado.
— Deixa de ser chato e vamos jantar. Eu fiz a comida — disse Lucca
entrando em seguida.
“Desisto!”
Saímos juntos para sala de jantar. Todos nós aprendemos a cozinhar
com nonna, ela dizia que se meu pai sabia, todos nós devíamos aprender
também. Dos quatro, quem cozinhava melhor era Luna e Lucca. O jantar
estava muito bom. Terminamos de comer e cada um foi para o seu
respectivo quarto. Sempre que um Aandreozzi compra uma casa ou
apartamento, ou o que quer que seja, tem que ter lugar para o resto da
família.
Tomei um banho e vesti uma calça jeans preta, uma camisa de
mesma cor com mangas dobradas até os cotovelos e um sapato social preto
envernizado. Coloquei meu relógio, passei perfume e estava pronto.
Cheguei na sala e já se encontrava Enzo e Lucca.
— Está com um humor negro hoje, Lippo? — perguntou Lucca que
vestia seu estilo próprio, com aquelas calças rasgadas que não sabia o nome
da modelagem, uma blusa grande branca, um chapéu cinza pork pie e um
tênis de cano alto branco.
— Não sabe como ele é todo certinho, para não chamá-lo de chato
— falou Enzo jogando-se no sofá.
Enzo fazia mais o estilo bad boy, como mamãe falava. Ele estava de
calça jeans preta apertada, camiseta branca, jaqueta de couro preta e bota
de combatente de mesma cor, a mesma bota que usamos quando estamos
na ativa.
— Vamos, meninos, eu já estou pronta! — disse Luna chegando na
sala, enquanto mexia no celular.
Minha irmãzinha estava de calça de couro apertada, uma blusa fina
com um decote indecente e um sapato de salto preto fechado. Ou seja,
fodidamente linda!
— Pode ir trocar de roupa, sua devassa de uma figa! — esbravejou
Enzo irritado.
— Como assim? Minha roupa não tem nada de devassa. Pode ir
parando, Enzo!
— Ele está certo... Vá trocar de roupa, Luna! — falou Lucca
revoltado.
— Olhe isso, Filippo! Me ajude aí com esses cabeças duras!
— É isso mesmo, Luna! Não está vendo que essa calça está apertada
ao extremo e essa blusa decotada demais? — perguntei rangendo os dentes
de raiva, minha irmã não sairia assim nunca!
— Eu vou com ou sem vocês! — falou e saiu andando até à porta do
elevador — Questi stronzi vogliono controllare me. (Esses putos querem me
controlar.)
— Ouvimos isso, Luna Aandreozzi! — gritamos os três juntos.
— Vão a merda! — gritou de volta.
— Vou contar ao papai que a princesinha dele anda xingando — disse
Enzo recebendo um olhar de repreenda tanto meu quanto de Lucca. — O
quê? Não me olhem assim, papai defende muito ela.
— Que seja! Vamos logo antes que eu enfarte tão novo.
Saímos de casa e seguimos os planos feitos com os seguranças. Não
demoramos chegar, já que estávamos perto do lugar que queríamos ir.
Aquela era a melhor boate de São Paulo e tínhamos entradas VIP já que Luigi
era sócio do local. Entramos chamando a tenção de todos. As pessoas
ficavam olhando para nós deslumbradas. Fomos direto para o meu
camarote, e meus irmãos já se animaram começando a dançar, enquanto eu
continuei sentado observando as pessoas na pista.
Um grupo de jovens me chamou bastante atenção no meio da
multidão na pista de dança. Eles gritavam e davam muita risada. Tinham
quatro homens e duas mulheres. Uma das mulheres estava aos beijos com
um dos rapazes e a outra estava do lado de um cara que estava de costa
para mim. Ele falou alguma coisa em seu ouvido e puxou a menina para
dançar agarradinhos. Olhei, parei, olhei de novo tendo a certeza que quem
eu estava vendo era justamente Luiz Otávio.
“Como eu não fiquei sabendo que ele estava no local? Que diabos ele
estava fazendo ali, bêbado daquele jeito? Vou comer o fígado desse
incompetente do Brian.”
— O que diabos ele está fazendo aqui? — gritei raivoso chamando
atenção de meus irmãos que me olharam atentamente.
— De quem você está falando, irmão? — perguntou Enzo.
— Luiz Otávio, é dele que estou falando — disse apontando para o
meu garoto muito bêbado agarrado a uma menina. Ele olhou diretamente
para mim e cantou uma parte de uma música fechando os olhos. — Tenho
que tirá-lo dali. Ele não é assim! — Virei-me para sair do camarote, mas Enzo
me deteve.
— Como assim, Filippo? Não estou entendendo nada.
— E não é para entender mesmo, tenho que tirar o que é meu dali.
Sai da frente, irmão! — disse irritado passando por ele.
— Dio mio! Nosso irmão está apaixonado e por um garoto. Que
maravilha! Vamos atrás desse ciumento. — Escutei Luna dizer com
empolgação.
“Eu, apaixonado? Será? Acho que não!”
Saí atropelando todo mundo que estava na minha frente até que consegui
alcançar Luiz. Ao chegar perto, percebi o quanto ele estava bêbado. Falei
com ele e ele parecia achar que era tudo alucinação a sua volta. Sua amiga o
virou para me encarar e quando seus olhos pousaram nos meus, ele ficou
branco como um papel.
— Filippo! Você não pode aparecer assim depois de duas semanas
sem eu te ver e brigar comigo — disse ele apontando o dedo para mim e
cambaleando para trás de tão bêbado que estava.
— Você não está bem. Vamos, eu vou te levar embora — falei
pegando-o pelo braço.
— Ei, cara! Solte meu amigo! — gritou o manobrista, que se eu bem
me lembrava seu nome era Beto.
— Pode deixar ele me levar, Beto, eu quero ir com ele. Mas não sei
como você e Angel vão embora sem mim — falou Luiz embolado e rindo ao
mesmo tempo.
— Não, Luti. Não posso deixar você ir com esse cara. Nós nem o
conhecemos — falou Beto quando mais dois carinhas se aproximaram.
— Acho melhor você soltar o braço dele. Faça isso e faça agora —
falei calmamente para Beto que segurou seu outro braço.
— Olhe só, meu nome é Enzo Aandreozzi, sou irmão desse
malhumorado aqui — disse intervindo. Ele sabia que se eu era ruim
bemhumorado, imagine de mal humor. — Se seu amigo quer ir com ele,
acho melhor vocês deixarem. Depois vocês conversam quando ele estiver
melhor. Pode ser? — apaziguou o clima e puxei Luiz Otávio para mais perto,
envolvendo-o nos meus braços.
— Onde você esteve, Filippo? Sabia que hoje eu prestei vestibular?
— falou me encarando.
— Depois conversamos, piccolo. Agora você precisa dormir — falei
passando a mão nos seus cabelos.
— Dio mio! A coisa está mais séria do que eu pensava. — Ouvi a voz
de Lucca atrás de mim.
— Vamos, Filippo, já resolvi tudo por aqui. Vamos levar o seu garoto
para casa — Enzo falou e saiu andando na frente falando no celular. Com
certeza ligava para os seguranças.
Peguei Luiz Otávio e saí da boate com meus irmãos, sabendo que
mais tarde eu passaria por uma interrogatório terrível, mas agora tudo que
eu queria era colocar Luiz para dormir e conversar com meus irmãos para
entender o que eu estava sentindo. Ao passarmos pela porta da boate, os
carros já estavam nos esperando.
— Olhe... Faz assim, vamos mudar algumas coisas aqui — disse Enzo
se aproximando de Elijah e Timóteo.
— O senhor quer que nós cuidemos do garoto? — perguntou
Timóteo estendendo a mão para tirar Luiz dos meus braços.
— Abaixe sua mão antes que eu arranque do lugar — falei
entredentes, assustando o homem de confiança de meu irmão.
— Desculpe, senhor!
— Acho melhor nós, os irmãos, irmos em um carro e vocês dois vão
no outro atrás da gente — falou Enzo com autoridade.
— Então vamos logo. Depois de colocar o meu cunhado para dormi,
teremos uma conversa esclarecedora com nosso irmão — disse Luna já
entrando no carro, me deixando boquiaberto de surpresa com a
naturalidade que tratava o ocorrido. Olhei para Enzo e Lucca que só fizeram
dar de ombros e entrarem no carro.
Depois que a nova formação foi feita, não demorou muito e
seguimos para cobertura. Quando as portas do elevador se abriram, eu não
perdi tempo e levei Luiz meio adormecido para meu quarto. Fui direto para
o banheiro, tirei sua roupa com todo o controle que me restava na noite,
pois eu estava muito irritado com a situação que ele se encontrava.
Antes que eu pudesse colocá-lo no chuveiro, Luiz correu até o
sanitário e colocou tudo para fora. Quando terminou, o coloquei debaixo do
chuveiro e lhe dei um banho. Depois de enxugá-lo, coloquei uma cueca
minha nele, que ficou um pouco folgada, e uma camiseta preta. Ajeitei-o na
cama e fiquei um bom tempo o olhando dormir, depois saí para enfrentar os
curiosos.
— Está preparado para conversar conosco, irmão? — perguntou Enzo
sem a roupa de antes. — Saiba que somos sua família e jamais iremos te
julgar ou te abandonar. — Sorriu confiante.
— Lembre-se, irmão; para tudo e por tudo! — falou Luna apontando
para frase em francês atuada no ombro direito dos irmãos Aandreozzi.
Não tinha para onde correr e eu nem queria correr, precisava
desabafar. E quais melhores pessoas para se fazer isso, que não fosse quem
eu mais confiava na vida?

— Vamos, irmão. Senta aqui e nos conta o que está conhecendo —


pediu Enzo apontando para o sofá.
Sentei no sofá e cruzei os dedos na nuca, suspirando esgotado. Pela
primeira vez na vida eu fiquei receoso de começar um assunto com meus
irmãos. Eles eram as pessoas que mais confiava no mundo e não queria que
começassem a me olhar de uma forma diferente, mas eu tinha que
conversar e seria agora.
— Luiz Otávio trabalha em um restaurante que eu sou sócio. E uma
certa noite eu fui até lá com Antonella e quando eu o vi pela primeira vez...
para falar a verdade eu não tenho certeza o que foi que eu senti, só sei que
me encantei por ele. O que fez com que eu fosse um bastardo com o garoto.
A maneira como ele ficava me olhando era como se pudesse me ver por
inteiro.
Luna sentou ao meu lado, pegou minha mão e entrelaçou nossos
dedos.
— O que você sente quando o vê, Lippo? — perguntou Lucca me
olhando como se procurasse me entender melhor.
— Eu sinto um desejo absurdo de protegê-lo de todo mal, inclusive
de mim mesmo. É tudo tão estranho, eu nunca me senti assim. Já fiquei com
diversas mulheres, de vários tipos e nenhuma conseguiu chegar perto da
sensação que tenho ao colocar meus olhos em Luiz — falei cabisbaixo — Eu
nem sequer o beijei, chega até ser engraçado. Filippo Aandreozzi medindo
seus atos perto de um rapaz. — Ri sem graça alguma.
— Você sabe quantos anos ele tem? — perguntou Enzo.
— Não faço a mínima ideia. Pedi ao Brian para sempre estar por
perto dele e me passar um relatório. Mas eu não sei nada sobre ele, na
verdade, ele é uma incógnita para mim.
— A única coisa que eu posso lhe dizer é: você se apaixonou, Filippo
— disse Luna olhando nos meus olhos.
— Não é possível uma coisa dessa. Eu iria saber se tivesse
apaixonado — disse exasperado.
— Você nunca admitiria isso para você mesmo, Lippo. Você, tirando
o papai, é a pessoa mais fechada que eu conheço. Estou surpreso que esteja
se abrindo assim conosco — disse Lucca.
— Sim, nonna fala que papai só mudou um pouco quando ele se
apaixonou por mamãe. E foi uma coisa tão inesperada que ele quase se
perdeu e perdeu mamãe junto — falou Enzo.
— Ainda tem isso. Como chegar para os nossos pais e dizer que me
apaixonei por um homem?
— Da mesma forma que estamos conversando agora. Nosso pai pode
ser um homem sério e torrão, mas ele só quer nos ver felizes, irmão. Mamãe
só vai exigir que você dê netos, muitos netos para falar a verdade. E a
nonna, você conhece nossa avó. Só pelo fato de você está vivendo, para ela
está ótimo — disse Enzo sorrindo.
— Não é fácil assim, eu não posso contar com mais ninguém nessa
vida a não ser minha família. Sei que não sou muito de dizer isso, mas não
suportaria os perder — disse com toda seriedade para que eles
entendessem.
— Deixe de besteira, somos os irmãos Aandreozzi. Mesmo você
sendo um insuportável, nós te amamos — falou Luna.
— Quero só ver a cara do seu ragazzo quando ele acordar — disse
Lucca sorrindo malicioso.
— Olhe lá o que vocês vão falar ou fazer. Vocês ouviram ele falar um
pouco mais à vontade, porque estava bêbado. Luiz Otávio sem álcool no
organismo é muito tímido — falei com o pensamento longe.
— Olhe só isso! Dio mio! Nunca vi um sorrisinho fofo sair dessa sua
carranca do mal — falou Enzo gargalhando e levando os outros com ele.
Sequer sabia que eu sorria.
— Um dia você pagará a língua, Enzo. Escreva o que estou lhe
dizendo — falou Luna.
— Trasforma la bocca là. (Vira essa boca para lá.) Deixo isso para
vocês, meus irmãos — disse carrancudo.
— Quem sabe um dia, quando eu encontrar o amor na minha vida,
eu não me entregue por inteiro — disse Lucca enigmático.
— E se você se apaixonasse por um homem? — perguntei
interessado.
— Viveria esse amor, Filippo. Todos nós temos o direito de amar e
ser amado sem pensar no que cada um carrega entre as pernas — falou com
a mais pura convicção.
— Sábias palavras, meu irmãozinho — disse Luna — E vem cá...
Ninguém vai me perguntar se eu um dia encontrar alguém? — Olhamos para
ela de cara feia.
— Irmãs não namoram Luna, de jeito nenhum! — falei
irritado.
— Se é isso que você pensa, te digo que você é um iludido — falou
com um sorriso sapeca.
— Acho melhor você continuar na Espanha apenas para estudar.
Deixa eu ficar sabendo que está namorando algum marmanjo por lá, que
você verá só — ameaçou Lucca alterado, fazendo eu e Enzo concordarmos
com cada palavra.
— Pronto! Sinto que vocês querem que eu vire freira! — falou
olhando para cada irmão.
— Eu bem que tentei falar com nossa mãe sobre isso, mas ela disse
um não bem grande — falei sério.
— Eu não acredito nisso! Coitado do Luti, ele está perdido tendo
você em seu pé — disse ela desolada.
— Como assim? Já está o chamando pelo apelido? — Dei-lhe um
sorriso pequeno.
— Ouvi o amigo dele o chamar assim. E depois... ele é meu cunhado
e cunhados tem intimidades uns com os outros — falou maliciosa.
— Luna! — pronunciei seu nome em sinal de repreensão. — Olhe
só... Boa noite para vocês eu, tenho que ir ver como Luiz Otávio está.
— Vai mesmo, irmão, porque se esse bel rapazote fosse meu, eu não
deixaria ele sozinho por muito tempo não — falou Lucca me provocando e
recebeu o dedo do meio como resposta.
— Tão doce e nada ogro! Amamos você homem apaixonado — disse
Enzo dramático.
— Vaffanculo bastardo (Vai se foder, bastardo) — disse saindo da
sala.
Entrei no quarto e me aproximei da cama para verificar se Luiz estava
bem. Ao colocar meus olhos nele, me encantei ainda mais com sua beleza.
Ele tinha traços másculos, mas ao mesmo tempo doce. Seus olhos eram
meio puxados e seu nariz tinha um formato engraçado. Tudo nele me
encantava e fascinava.
“Será que isso é realmente, amor? Espero que se for, eu não ame
sozinho. Vou querer tê-lo sempre perto de mim.” Isso me dava medo e nunca
senti medo antes, nem quando tive com uma arma apontada na minha
cabeça, ou quando fui sequestrado por um dos inimigos do meu pai que
queria lhe causar dor através de mim. Acho que por isso eu era assim, tão
duro comigo mesmo. “Não quero ter que pensar sobre isso agora com o
homem que com certeza está perturbando meu coração.”
Fui no meu closet e vesti uma camiseta e uma calça de moletom.
Voltei e deitei ao lado de Luiz Otávio. Fiquei o vendo dormir e percebi que
ele estava roncando. Não sabia se ele roncava sempre ou se era
consequência da bebedeira da noite. Pode até ser loucura de minha parte,
mas até ouvir ele roncar era prazeroso.
Acordei às cinco da manhã como todos os dias, mas hoje tinha algo
de diferente deixando minha cama mais confortável. Luiz Otávio estava em
cima de mim com a cabeça na curva do meu pescoço e o braço e perna
esquerda em cima do meu corpo. Era tão estranho como me sentia muito
confortável com o corpo dele grudado ao meu. Separei-o de mim com
máximo de cuidado para não o acordar e fui trocar de roupa para malhar.
Cheguei na minha academia e vi Elijah me esperando.
— Bom dia, Sr. Aandreozzi!
— Quero saber se você perguntou ao Brian, por que não fui informado que
Luiz Otávio estava naquela boate? — perguntei indo para esteira.
— Senhor, ele disse que não houve tempo de lhe informar, pois o Sr.
Luiz Otávio não tinha muito tempo no local quando senhor e seus irmãos
apareceram.
— Tudo bem, mas mesmo assim o informe que mais tarde quero
trocar umas palavras com ele.
— Darei o recado, senhor — disse me acompanhando na
esteira.
— Buongiorno! Como passou a noite, Lippo? — perguntou Enzo
assim que entrou na academia.
— Buongiorno! Bem, obrigado, irmão.
Recebi uma piscadela de Enzo que ignorei.
— Cheguei! Hoje estou a fim de dar uns tiros em alguma coisa —
disse Lucca entrando na academia junto com Luna.
— Deixe para mais tarde, aí vamos ao salão de treinamento dos
seguranças — falei já suando na esteira — Trouxeram suas armas?
— Claro! Sabe que não ficamos sem ela — disse Luna que tem um
amor incondicional pela arma que papai deu a cada um de nós.
— Vamos nos exercitar e deixar de conversar — falei e cada um foi
fazer sua série com seus respectivos seguranças.
Treino terminado, fui para o meu quarto tomar um banho e percebi
que Luiz Otávio ainda dormia pacificamente. Caminhei direto para o
banheiro, tomei um banho demorado e assim que saí, já me senti preparado
para encarar um certo ragazzo de ressaca.
Coloquei uma calça jeans qualquer e uma camiseta polo. Saindo do
closet, ouvi uns resmungos e gemidos de dor.
— Que dor de cabeça, parece que tem uma bateria de escola de
samba tocando repetitivamente no meu cérebro. Nunca mais eu vou deixar
aquele filho da mãe do Beto me embebedar. Minha boca está com gosto de
chulé. — Ouvir cada palavra sussurrada de Luiz, me causou um certo
divertimento.
— Eu nunca ouvi falar como é o gosto de chulé. Quer remédio para
dor de cabeça? — perguntei sério, entrando no quarto.
— Ai, meu Deus! Onde eu estou? O que estou fazendo nesse lugar?
Cadê meus amigos? O que você está fazendo aqui? Cadê minhas roupas? —
Luiz fez cada pergunta com desespero na voz. — Será que estou sonhando?
— Luiz Otávio! — chamei-o fazendo se calar e me olhar com os olhos
arregalados. — Primeiro de tudo você está no meu apartamento. Agora você
vai tomar um banho e depois eu responderei suas perguntas.
— Tudo bem, eu posso fazer isso — disse ficando constrangido e se
colocando de pé.
— Não precisa ficar com vergonha, terá que se acostumar a andar
por aqui — falei caminhando até o meu closet para pegar uma blusa, calça
de moletom e uma cueca nova para ele.
— O que você disse? — perguntou com uma cara confusa.
— Já disse que depois responderei tudo, no banheiro tem toalha
limpa e uma escova nova nos armários. — Apontei para porta do banheiro e
me aproximei dele. — Se não estivesse com boca de chulé, lhe daria um
beijo agora mesmo — falei sorrindo e segurando seu queixo entre meus
dedos.
— Nossa! Que incrível! — falou ele espantado e baixinho.
— O que foi, bello? — perguntei confuso.
— Nada demais. Seu sorriso é lindo. Você deveria sorrir mais vezes,
combina com você — disse Luiz me encarando.
— Obrigado, eu acho! Agora vai, temos muito o que conversar
quando você sair.
Saí do quarto e fui até à cozinha onde Rita já estava preparando tudo
para o café da manhã. Pedi para que ela fizesse um café para dois, para que
eu e Luiz pudéssemos conversar tranquilamente sem a euforia dos meus
irmãos. Não queria assustar o pobre rapaz sem nem ao menos conversar
com ele primeiro.
— Cadê meu futuro cunhado, irmão? Já acordou? — perguntou
Lucca.
— Está no banho e nem pense em ir para lá, Luna. Quero conversar
com ele antes de apresentá-lo a vocês, não estou a fim vê-lo sair correndo
— falei sério.
— Ahh! Muito engraçado você. Só estou curiosa para conhecê-lo logo
— disse Luna com cara amarrada.
— Ainda estou assustado que vocês estejam aceitando tão
facilmente minha homossexualidade — disse olhando para eles desconfiado.
— Já falamos que não nos incomodamos, só queremos o ver feliz. Se
esse ragazzo consegue isso, já está bom para mim — disse Enzo mexendo na
comida e Rita lhe deu um tapa na mão. — Poxa, Rita, você tem que parar de
ser tão azeda, tenho pena de seu namorado.
— Não é namorado, senhor, é marido — retrucou Rita séria.
— Você casou, Ritinha? — perguntou Luna.
— Rita é casada com Brian, o segurança que cuida de Luiz Otávio. —
disse sem interesse e todos me olharam espantados.
— Não sabia que o senhor tinha conhecimento disso — disse Rita em
um tom baixo.
— Sempre sei de tudo, Rita, fique tranquila — disse a deixando
espantada. — Obrigado! — falei pegando a bandeja com o café da manhã.
— Feche a boca, mulher! É isso que o amor faz com as pessoas,
transforma um ogro sem coração em um ursinho feliz — disse Enzo
arrancando uma gargalhada de todos, menos de mim e Rita que me olhava
confusa.
Saí com a bandeja nas mãos e entrei no quarto colocando-a em cima
de uma mesinha que tinha ao canto. Tirei as coisas de cima dela e arrumei
sobre a mesa. Quando terminei de arrumar tudo, Luiz Otávio saiu do
banheiro vestindo minhas roupas. Isso me deu uma satisfação desconhecida,
adorei ver ele usá-las.
— Vem, Luiz Otávio. Sente-se e tome café comigo.
— Se eu lhe disser que estou sem fome, você se zangaria? —
Sentouse à minha frente.
— Sim! Você tem que se alimentar, bebeu muito ontem e tem que
repor as energias — falei sem que ele tivesse como poder recusar.
— Certo! Eu tive meus motivos para fazer aquilo — disse em tom
baixo.
— Que motivos são esses, Luiz Otávio? — perguntei interessado.
— Oh, por favor, para de me chamar assim. Parece que você vai me
dar algum tipo de lição moral a qualquer momento — pediu quase
suplicante. — Então como é para eu te chamar?
— Meu apelido é Luti, seria bom você me chamar assim, todos me
chamam assim.
— Eu não sou todo mundo, mas farei o possível para não te chamar
de Luiz Otávio.
— Obrigado! Agora você pode responder minhas
perguntas?
— Você já começou a comer? — perguntei e ele pegou uma torrada
mordendo-a e olhando para mim com a sobrancelha arqueada. — Muito
bem, pode perguntar o que você quiser.
— Onde você esteve essas duas semanas? Não apareceu no
restaurante, na verdade, não vi nem a sombra que você colocou atrás de
mim — disse calmamente, fazendo-me entalar com o café.
— Como você sabia que eu tinha colocado alguém atrás de você?
— Não sabia, eu só sentia que estava sendo observado o tempo
inteiro e joguei verde para ver se estava certo — falou com maior
tranquilidade.
— E você fala assim, calmo, sem brigar comigo? Não acredito! —
Olhei espantado para aquele garoto.
— Você deve ter seus motivos, não sei se foi por desconfiança ou por
segurança. Isso não me incomoda. — Deu de ombros.
Continuei a olhar para ele sem acreditar em sua calma e
compreensão
— Você é inacreditável! Mas respondendo à sua pergunta, eu estava
no Maranhão à trabalho.
— Sei… Tudo bem! — falou mexendo no café.
— Por quê? Você achou o quê? — perguntei tentando conter um
pequeno sorriso que queria sair. — Pode falar.
— Sei lá, na verdade, eu procurei não pensar muito. Isso aqui está
tão estranho, mas só consigo me sentir à vontade perto de você.
— Sinto a mesma coisa, pode ter certeza.
— Pensei que você morasse com sua namorada — falou como quem
não tivesse interessado no assunto.
Coloquei o meu indicador nos lábios para evitar de sorrir.
— Eu não tenho namorada, bello.
— Não? Mas aquela…
— Eu não tenho ninguém, ainda pelo menos — interrompi-o sério,
antes que falasse besteira. — Você não vai me fazer as perguntas de antes?
— Não. Quando eu estava no tomando banho, me lembrei de tudo o
que aconteceu na noite de ontem. Desculpe por isso.
— Não há o que se desculpar, só não gostei de saber que você gosta
de beber tanto assim.
— Não! Esse foi meu primeiro porre. Beto cismou que eu deveria
beber para comemorar que eu tinha acabado de fazer a prova do vestibular,
já que tento há dois anos e nunca passei. Para falar a verdade, nem sei se
vou passar agora. Deixa para lá, não é importante!
— Ei! Claro que é importante, pode falar.
— Essa prova é justamente para eu conseguir a bolsa de estudos que
preciso, já que não tenho condições de arcar com o curso.
— Entendo. E que curso é esse?
— Odontologia. Sempre quis ser dentista desde pequeno. Acho que
um belo sorriso deixa o dia mais leve. E o seu é muito lindo!
— E o que achou do seu primeiro porre? — perguntei mudando de
assunto, não gostava de ser elogiado.
— Posso te falar a verdade?
Assenti e fiz um gesto para que continuasse a falar.
— Odiei, odiei de verdade. Nunca tive vontade de beber e agora isso
se torna uma coisa inexistente na minha vida.
Ri baixo. Ele sorriu e eu respirei fundo observado seu rosto angelical.
— Olha... Eu quero e serei direto com você. Não sou homem de
enrolar e fazer rodeios. — Ele arregalou os olhos para mim com tensão. —
Desde o primeiro dia em que te vi, alguma coisa aconteceu comigo. Não
sabia o que pensar, como agir... Isso nunca aconteceu antes, sou um homem
sozinho que gosta de ser solitário. Só consigo me sentir um pouco
confortável com a presença de outras pessoas, quando é a minha família.
Mas você me fez bem só de estar perto. E isso assustou o inferno fora de
mim. Eu nunca me envolvi com um homem, nunca tive esse desejo e com
você é tudo anormal. Minhas mãos coçam para te tocar, desejo te beijar, te
olhar me traz paz. Porra, até você roncando eu achei a coisa mais fascinante
do mundo — falei e ele me olhou com desgosto. — Não estou mentindo,
bello. Você ronca. E agora o que você me diz, porque eu sei o que eu quero e
eu quero você!
— Eu... Eu não sei o que pensar. Sabe como isso é louco? Também
nunca estive com um homem antes. Tem noção do que isso vai causar nas
nossas vidas? — Levantou-se virando de costas para mim. — Eu me
apaixonei por você, Filippo! Me apaixonei sem ter nenhum tipo de barreira
me protegendo dessa paixão. Agora pense comigo. O que um garoto como
eu, de dezenove anos e sem ter onde cair morto, foi justamente se
apaixonar por um homem como você? Eu não sei! É tudo tão fantasioso,
nunca consegui ficar ou conversar com ninguém e com você é diferente.
Logo você, uma figura imponente e intimidante, eu consigo ficar assim,
conversar articulando. Você consegue me fazer sentir bem, mas isso é
errado.
Levantei-me abruptamente e parei à sua frente.
— Não diga que é errado! Quando uma coisa faz bem à você nunca é
errado. Não diga isso! — disse segurando seu rosto entre minhas mãos.
— O que vai ser da gente? Sabe o que teremos que
enfrentar?
— Não! Mais se você estiver comigo quem sabe eu não consiga.
Basta estar comigo, vamos fazer isso juntos.
— Como você…
Não o deixei terminar e colei boca na sua. Ao sentir o toque dos seus
lábios, perdi a noção de tudo, esqueci tudo, só queria ter mais um pouco
dele. No início o beijo foi tímido e averiguador, não suportei mais e
aprofundei-o. O sabor viciante de sua boca era a melhor droga do mundo,
nunca havia me sentido assim na vida.
Fiz ele entrelaçar suas pernas na minha cintura e o imprensei na
parede do quarto aprofundando ainda mais o beijo que se tornou feroz,
quase animalesco. Agora sim todas as minha duvidas e receios estavam
respondidas, eu o queria, queria tudo com ele. Um beijo e eu já sabia que
podia ter isso na minha vida por um bom tempo e quem sabe para sempre.
Fomos parando o beijo aos poucos e quando eu olhei para o meu ragazzo,
ele estava com os olhos fechados e com um sorriso no rosto.
— Acho que isso prova que estou disposto a enfrentar o que quer
que seja, para ter o que nós temos.
— Sim, com certeza isso prova muita coisa. E se não for pedir muito,
beije-me novamente.
E foi isso que fiz, provando-o cada vez mais minha disposição para
ficar com ele.
Acordar e perceber que estava em um quarto que não era o meu e
vestindo uma roupa que não era minha, me assustou muito. Então, como
não bastou o susto por estar em um lugar diferente, impecavelmente lindo e
organizado, ouvir a voz do homem que balançava meu mundo foi demais
para mim. Olhei para ele que estava com roupas casuais sem seu habitual
terno elegante. Filippo foi tão gentil. Fiquei sem palavras quando entrei no
banheiro e vi que tinha separado roupas para mim. Nunca imaginei que
Filippo Aandreozzi pudesse gostar de alguém. Ainda mais gostar logo de
mim!
Fiquei sem saber o que pensar ou como agir diante daquele homem
poderoso, tão perto. Sentir seus lábios gostosos em um beijo quente e
revelador, foi simplesmente sem limites. Agora estava eu, Luiz Otávio
Santos, olhando para o homem que amava, vendo como seria nossas vidas
dali para frente.
— E como vai ser nossas vidas daqui para frente? — perguntei com
um certo receio e ouvi um suspiro que me fez levantar os olhos.
— Olha... Eu tenho que te dizer que minha vida não é e nunca foi
fácil. Sempre vivi cercado de coisas que não foram muito agradáveis — disse
olhando para mim.
— Como assim? Sei que você é um empresário e tudo, mas não
entendi direito.
— Trazer alguém para minha vida, como eu quero trazer você,
requer cuidados especiais — falou me deixando ainda mais confuso.
— Filippo, você está me confundindo. Se você não quer fazer isso, eu
vou entender. Eu entendo de verdade — falei atropelando as palavras.
— Pare com isso, bello! O que eu estou tentando lhe dizer, é que
minha família e eu somos perseguidos. Vivi minha vida olhando sempre por
cima dos ombros e quero que você saiba disso.
Entendi mais ou menos o que ele queria dizer.
— Você está querendo me assustar? — perguntei fazendo ele
arregalar os olhos.
— Óbvio que não! Só estou querendo que você saiba disso antes de
qualquer coisa.
— Sabe o que está me parecendo? — Ele negou com a cabeça. —
Que você não anda conversando com muitas pessoas constantemente e está
se atrapalhando todo.
— Olhe quem fala... Há algumas semanas você malmente olhava
diretamente nos meus olhos.
— Isso é diferente, ficar com você é diferente. Não sei explicar, eu
consigo não ser tão tímido perto de você — falei calmamente e ele bateu na
coxa me chamando para sentar ali.
— Não! Não me faça fazer isso — falei sorrindo e Filippo me lançou
uma cara zangada.
— Ande, bello! Não me faça ir aí te puxar.
— Porra, isso é sério? — Olhei sem acreditar para ele.
— Somos um casal agora, temos que agir como um casal. Não acha?
— Acho que não sei ser um casal — constatei.
— Eu também não, mas acertamos que iríamos aprender tudo junto.
— Assenti. — E sabe de uma coisa que eu acabei de descobrir? — perguntou
me olhando fixamente.
— Não faço ideia.
— É que eu não suporto ter você tão perto e não estar te tocando,
por isso venha logo aqui!
Aproximei-me vagarosamente até chegar bem perto de onde ele
estava sentando e respirei fundo. Filippo sem paciência alguma, me puxou
rapidamente fazendo eu sentar de qualquer jeito em seu colo. No início eu
fiquei tenso como um pedaço de bambu, mas logo senti o cheiro do
perfume único que só esse homem usava. Aninhei-me feito um gatinho,
enterrando minha cabeça no seu pescoço e aspirando o cheiro embriagador
do corpo de Filippo.
— Está vendo, não foi tão ruim assim. Não é? — Abraçou-me forte.
— Verdade. Desde a morte dos meus pais eu nunca me senti assim.
— Assim como? — perguntou sussurrado.
— Protegido — falei levantando a cabeça para encará-lo.
— Você disse que seus pais morreram. Quer falar sobre isso?
— Não, posso falar sobre isso depois? Já se passaram seis anos, falar
ainda dói.
— Sem pressão. Conte quando estiver pronto, eu não vou a lugar
nenhum.
— É muito bom saber disso.
— Está preparado, bello? — perguntou e eu fiquei confuso — Dio
santo! Eu não te contei.
— Me contou o quê?
— Você tem três irmãos Aandreozzi para conhecer nesse momento e
tenho quase certeza que se nós não sairmos agora, daqui a pouco eles vão
invadir o meu quarto e te puxar para longe de mim.
Arregalei os olhos assustado.
— O QUÊ? Você acha que eu vou sair daqui e conhecer seus irmãos,
assim, do nada? O que eu falaria com eles? Olá, irmãos Aandreozzi. Eu sou o
cara bêbado de ontem que seu irmão trouxe para casa — falei rapidamente,
parecendo um louco e ouvi uma risada baixa.
— Você nervoso é uma graça. Não precisa falar nada, eles iram te
fazer as perguntas, ou vão me irritar como sempre fazem.
— Se você está dizendo... — falei em um tom baixo.
— Vamos logo e você vai ver que não será tão ruim assim.
Andamos em direção à porta do quarto e quando Filippo colocou a
mão na maçaneta, ele simplesmente parou e me puxou de encontro ao seu
corpo e sem que eu pudesse falar qualquer coisa, grudou sua boca na minha
e me beijou. Beijou-me como se tentasse me provar algo. Beijar Filippo era
como estar viajando para outra dimensão. Já fui beijado por várias bocas
antes — bocas femininas, é claro —, mas nenhuma delas me deixou assim,
de pernas bambas e coração acelerado. Sinto que ficar tão vulnerável a ele
desse modo, era um perigo para minha sanidade mental.
— Agora estou pronto para dividir sua atenção com meus irmãos.
Vamos, bello mio? — perguntou com sua testa grudada na minha.
Saímos do quarto e passamos por um corredor cheio de portas.
Portas essas que Filippo me falou ser o quarto de seus irmãos, pais e avó.
Fiquei surpreso quando ele me disse que a casa de cada irmão tinha que ter
estrutura para receber os membros da família. Confesso que ouvir ele me
falar isso me causou um pouco de inveja, já que minha família era somente
minha tia Amélia.
Descemos uma escada muito bem planejada e chegamos a uma
extensa sala. Logo vi dois homens e uma mulher olhando fixamente para
mim. Abaixei minha cabeça e senti minhas bochechas esquentarem de pura
vergonha. Ao levantar meu olhar, vi a mulher se aproximar com um sorriso
lindo e encantador no rosto. Não tive como falar nada, ela me abraçou bem
forte e disse alguma coisa na sua língua materna que não entendi.
Os outros dois também levantaram, e antes de virem me
cumprimentar, Filippo começou a conversar com eles em italiano. Senti-me
um idiota parado, olhando de uma pessoa para outra sem entender porra
nenhuma do que eles estavam conversando entre si. Não aguentei mais e
cutuquei Filippo fazendo ele me olhar.
— Sinto muito informar, mas eu não falo italiano — falei muito
envergonhado.
— Mil desculpas, Luiz Otávio, somos uns idiotas. Deixe eu me
apresentar. Sou Enzo, o irmão mais bonito e o italiano autêntico. Capisce? —
disse ele sorrindo.
— Deixe de ser um bastardo, irmão. Todos nós sabemos que eu sou o
mais bonito nessa família. E cuidado para você não se apaixonar por mim,
viu?! — brincou. — Antes que eu me esqueça, eu sou o Lucca. — Puxou-me
para um abraço.
— Pode ir tirando as mãos de cima dele — falou Filippo me puxando
para os seus braços.
— Parem de fazer o povero ragazzo (pobre rapaz) de boneco de
pano. Solte ele, Lippo! Eu sou Luna. Não sei porque, mas acho que vamos
ser amigos. — Beijou-me nas bochechas.
— Não sei como você vai incomodar nosso coniato (cunhado), já que
você mora na Espanha — disse Lucca recebendo uma careta desgostosa da
irmã.
— Pare de falar besteira, já ouviu falar em Facebook, WhatsApp e
Skype? Então não se envolva. E qualquer coisa, lembre-se que sempre temos
um jatinho para usar — falou irritada e eu me assustei.
Como assim um jatinho? Luna falou como se fosse uma bicicleta
qualquer. Não sabia como irei me encaixar nisso tudo.
— Você está assustando o rapaz, irmã. Quer um copo com água? —
perguntou Enzo preocupado.
— Não se incomode, está tudo bem. Acho que foi informação demais
— disse constrangido por agir assim — E por favor me chamem de Luti.
— Desculpe, bello, mas eu disse que eles são assim — disse Filippo
apontando seriamente para cada irmão que só fizeram dar de ombros.
— Vamos sentar um pouco, que eu quero saber mais sobre o cara
que fez meu irmão se apaixonar — disse Lucca indo até o sofá e sentando-
se.
Eu olhei para Filippo e ele confirmou com a cabeça. Sentei ao lado
dele que me puxou para mais perto, movimento esse que fez com que seus
irmãos me olhassem com mais atenção e isso me deixou muito sem graça.
Pude perceber que os Aandreozzi eram simpáticos e muito intimidantes,
coisa que eles deviam ter a noção que eram, pois faziam de tudo para deixar
você à vontade.
— Nos conte um pouco sobre você, Luti. Não me leve a mal, mas é
que você é a primeira pessoa a entrar nesse meio entre nós. Nunca
trouxemos pessoas para apresentar a família — disse Lucca me fazendo
olhar para Filippo sem acreditar.
— Isso é sério, Luti, não somos pessoas que confiamos facilmente e
nenhum de nós tentou ou quis um relacionamento. E eu quero isso com
você! — disse Filippo com firmeza e eu dei um sorriso para ele. — O que foi,
bello? — perguntou ao ver que eu ainda o observava.
— Nada, é que é a primeira vez que você me chama pelo apelido —
falei o vendo desviar o olhar.
— Mio santo Dio, pietà! (Meu Deus santo, misericórdia!) — gritou
Luna fazendo eu pular de susto. — Viram como eles são incrivelmente fofos?
Mamãe vai pirar de amor!
— Acalme-se, minore! Não queira deixar o Luti pensar que somos
loucos — Enzo disse sorrindo.
— E vocês não são? Acho que nessa família o único com a
integridade mental intacta sou eu — falou Filippo fazendo os irmãos
gargalharem.
— Quando o inferno congelar, aí sim alguém nessa família vai ser
certo. Pode esperar que você vai conhecer nossa nonna, acho que ela
consegue ser a mais doida que toda família junta — disse Lucca malicioso.
— Pelo o que eu já ouvi falar as nonnas são sempre muito doces e
gostam de cozinhar — falei sem pensar fazendo todos os Aandreozzi me
olharem e depois soltar uma risada estrondosa.
A risada de Filippo foi a mais contida, mas mesmo assim era
fascinante ver ele sorrir já que pelo visto era muito raro. Enzo estava com a
mão no rosto tentando controlar a risada, Lucca estava jogado no chão rindo
sem parar e Luna estava enxugando as lágrimas que caiam de seus olhos
pelo riso.
— Desculpe, bello, mas a nossa avó não se classifica nessa categoria,
a não ser por cozinhar muito bem, isso não posso negar.
— Como assim? O que tem demais a avó de vocês.
— Vou te contar como é mais ou menos nossa incrível nonna. —
disse Lucca sentado no chão e controlando o riso. — Certo dia, nosso pai
recebeu uma ligação da delegacia dizendo que a mãe dele foi presa por
desacato. Aí minha mãe já caiu no choro preocupada e meu pai começava a
ligar desesperado para vários advogados tirarem nonna Francesca de lá o
mais rápido possível.
— Foi um horror. Todo mundo preocupado com ela por estar na
cadeia e quando nós chegamos, lá estava minha avó ensinando as outras
presas como fazer sexo de cabeça para baixo sem se machucar — falou
Filippo e pude ver que ele controlava a irritação ao lembrar disso.
Eu caí na risada.
— Quando descobrimos o motivo que nonna foi presa, foi pior ainda.
Ela havia sido detida por bater no policial e quando perguntamos a ela o por
que ela fez isso, sabe o que aquela senhora disse? — perguntou Enzo sério.
— Ela disse que ele mereceu apanhar, porque quase a matou. Foi
mais ou menos assim: “Esse sem vergonha quase me causou uma série de
orgasmos involuntários por ser tão gostoso. Sabia, minha neta, que vários
orgasmos podem levar uma velha como eu ao infarto fulminante” —
terminou Luna.
— Nossa, essa senhora é incrível! — falei já querendo conhecê-la.
— Sim, ela é! Mais dá muito trabalho, minha avó não tem controle
das coisas que faz e isso me indigna — disse Filippo.
— Você e papai tem que parar com essa mania de querer controlar a
nonna. Isso é impossível — falou Enzo irritado.
— Não é controle, é prevenção. Ela já está em uma certa idade e não
pode ficar fazendo essas coisas — retrucou Filippo entrando em um debate.
— Chega vocês dois! — falou Luna evitando uma discussão. — Nos
fale um pouco sobre você, Luti.
— Não tem muita coisa interessante para eu falar sobre
mim.
— Diga só sobre você, bello. Não é tão difícil assim — falou Filippo.
— Eu nasci e fui criado aqui mesmo em São Paulo. Tenho dezenove
anos de idade, meus pais morreram quando eu tinha treze e desde então fui
morar com minha tia Amélia. Trabalho desde que saí do ensino médio como
garçom no Benedetti e estou tentando uma bolsa para cursar faculdade de
Odontologia. — Enquanto eu falava era observado atentamente por cada
irmão Aandreozzi.
— Como seus pais morreram? — perguntou Lucca e meu corpo ficou
tenso.
— Acidente de ônibus. O meu pai tinha uma casinha no interior e
estava muito a fim de passar o fim de semana por lá, eu iria com tia Amélia
no dia seguinte. Quando estava arrumando a minha mochila para viajar pela
manhã, minha tia recebeu a ligação — disse cabisbaixo ao lembrar daquele
dia, parecia que havia sido ontem que tudo aconteceu.
— Sinto muito, Luti. Nós mais que ninguém sabemos como a família
é importante. Você fala deles com tanto carinho que deu para perceber que
eles eram ótimos pais — disse Luna pegando minha mão e eu dei um sorriso
ao lembrar de meus pais.
— Acho que é por isso que dói tanto. Eu tive ótimos pais e do nada
os perdi. Meu pai era o homem mais alto astral que eu conhecia, já minha
mamãe, era tímida e muito carinhosa. Era o casal mais estranho e mais
funcional que existia.
— Isso nós sabemos, pois, nossos pais também são tão diferentes,
mas ao mesmo tempo se completam perfeitamente. Se você acha que
Filippo é sério, meu pai é pior ainda, mas é tão família quanto nós. Mamãe é
um doce, histérica e dramática, mas é um amor de pessoa. Pode ter certeza
que quando ela te conhecer, você vai ganhar uma mãe sem nem ter pedido
— disse Enzo sorrindo e fazendo carinho nos cabelos de Luna.
— Tomara que isso aconteça — falei olhando para qualquer lugar
menos para um deles.
— Não se preocupe, nós temos certeza disso. Tenho certeza que
assim que mamãe conhecer você, do jeito que nós estamos conhecendo, ela
vai fazer um perfume especial só para você — falou Lucca.
Eu devo ter feito a melhor cara de interrogação.
— Dona Arianna é uma perfumista muito boa e para cada pessoa da
família, ela faz uma essência com suas características. E com você não será
diferente, coiato — disse Luna carinhosamente.
— Por isso que eu acho o seu perfume sem igual, Filippo? —
perguntei com fascinação, pois o cheiro dele era maravilhoso e único.
— Acho que sim, bello. Minha mãe quem fez. Fico feliz que ache o
meu cheiro sem igual — falou com a mesma cara séria de sempre e me deu
um selinho na frente dos irmãos, fazendo eu ficar muito envergonhado.
— Vocês viram isso! Deveríamos ter tirado uma foto, Lippo nunca
beijou ninguém na nossa frente. Isso é um marco na história! — falou Lucca
alegremente, fazendo-me ficar mais sem graça ainda.
— Smettere di essere un fottuto stronzi (Deixem de ser uns escrotos
de merda) — disse Filippo muito irritado, porém, não entendi nada do que
ele disse. — Não queira que eu traduza isso para você, bello.
— Que horas são? — perguntei e Filippo me falou. — Cadê meu
celular, eu vim com ele?
— Veio sim, eu deixei no escritório. Vou pegar para você. — Filippo
levantou-se e seguiu por um corredor.
— Olha... Vamos ser rápidos antes que ele volte — falou Lucca,
assustando-me com o modo apressado dele falar.
— Filippo é o nosso irmão mais velho e já passou por muita ruim
nessa vida, coisa que não vem ao caso agora e não será nenhum de nós a
falar sobre isso. E pelo jeito que estamos vendo ele olhar e tratar você,
posso dizer com toda sinceridade do mundo que isso nunca aconteceu.
Achamos que ele gosta realmente de você — disse Enzo, enquanto eu ouvia
atentamente.
— Por isso nunca o machuque. Nunca pense em o machucar, nós
gostamos de você de verdade, mas o nosso irmão é o nosso porto seguro,
assim como nós somos o dele — falou Luna.
— Estou vendo que se você quiser tem o poder de destruí-lo, mas
antes que isso aconteça, destruiremos você e com muita dor. Desculpe falar
assim, mas somos perversos quando queremos ser — falou Lucca como se
quisesse ver alguma falha ou deslize meu.
— Isso não vai acontecer, podem ter certeza. Não machucarei o
irmão de vocês, pois se fizer isso, estarei me machucando primeiro. Acho
que… já que estamos sendo sinceros, eu vou falar. Eu me apaixonei por ele.
O que eu sinto, nunca senti antes na vida. Sei que sou novo, mas não sou
besta. — Se eu dissesse que não me assustei com eles, estaria mentindo,
mas tentei passar o máximo de segurança e acho que deu certo, pois eles
me olharam com sorrisos nos rostos.
— Só precisávamos ouvir isso. Bem-vindo a família, Luiz Otávio! —
disse Enzo vindo me abraçar assim como os outros irmãos.
— Porra! Eu só dou uma saída e vocês já estão agarrando ele.
Procurem o de vocês! — disse Filippo de punhos cerrados e marchando em
minha direção.
— Isso vale para mim também, posso encontrar o meu? —
perguntou Luna me dando uma piscadela marota.
— NEM PENSAR! — falaram os três ao mesmo tempo, fazendo eu e
Luna rir.
Filippo me passou o celular e fiquei feliz que ainda tinha um pouco
de bateria. Assim que destravei o aparelho, quase caí para trás. Tinha mais
de trinta ligações e incontáveis mensagens tanto de texto quanto no
WhatsApp.
Dei uma olhada rapidamente e vi que a maioria eram da minha tia
perguntando o porquê não dormi em casa. As outras eram de Beto
perguntando se eu estava bem, e tinha também algumas de Ângela. Só
respondi a minha tia dizendo que dormi na casa de um amigo e que já
estava voltando. Com Beto e Angel eu falaria depois. Tinha que ir para casa o
mais rápido possível.
— Olhe só, eu tenho que ir para casa. Minha tia Amélia deve estar
louca de preocupação, eu nunca dormi fora.
— Eu achei que você fosse passar o dia com a gente, quem vai
cozinhar o almoço é Enzo — disse Luna.
— Por que eu e não você, minore? — perguntou Enzo
— Não posso, quem sabe outro dia.
— Quem sabe amanhã não saímos para jantar? — perguntou Lucca,
enquanto Filippo me olhava atentamente.
— Amanhã eu tenho trabalho. Não posso faltar.
— Sério você vai trabalhar amanhã, mas é domingo — disse Luna.
— Vida de garçom não é brincadeira, como eu não trabalhei no
domingo passado, tenho que trabalhar nesse. É a escala, minha gente! —
Tentei aliviar o clima, mas foi impossível.
— Tudo bem, vamos. Veremos você em breve — disse Filippo
enigmático. — Vamos lá, Rita lavou sua roupa de ontem e já está lá no
quarto à sua espera.
Pedimos licença aos irmãos e segui Filippo até seu quarto. Ao
entramos, ele me agarrou abruptamente fazendo eu me desmanchar em
seus braços. Ao me beijar, fez com que eu gemesse de excitação. Eu estava
muito duro e posso dizer que ele também estava, pude o sentir firme roçar
na minha barriga e isso me causou um êxtase a mais.
— Aqui estão suas roupas, estarei lá em baixo pedindo para tirar o
carro para lhe levar para casa — falou e eu assenti ainda desnorteado pelo
beijo gostoso que ganhei. — Não demore, bello, estarei te esperando.
Saiu sem olhar para trás, me deixando olhar para suas costas largas e
musculosas. Deus! Esse homem é demais para mim.
Depois de colocar minha roupa, cheguei à sala e vi que os irmãos
conversavam animadamente. Deixe eu reformular; três Aandreozzi
conversavam animadamente enquanto um, o mais velho, continuava sério e
balançando a cabeça confirmando alguma coisa que não fazia ideia sobre o
que era, já que os espertalhões estão falando na sua língua nativa.
Senti que iria ser sempre assim, quando eles não quisessem que eu
não entendesse alguma coisa, falariam em italiano. Como eu não era besta e
nem nada, começaria um curso online para já.
“YouTube é vida! Deve ter algum curso de italiano lá com certeza.”
— Está pronto? Então vamos andando — disse Filippo ao perceber
minha presença.
— Foi muito bom conhecê-lo, Luti. Espero que não tenhamos o
assustado — disse Enzo vindo se despedir com um abraço.
— Foi bom conhecer vocês também, pode ter certeza disso — falei
com um sorriso pequeno.
— Sei que eu sou o irmão mais bonito e quando enjoar desse aí,
pode me procurar — falou Lucca recebendo um soco no braço de Filippo. —
Retiro o que disse, está bom assim, irmão? — disse esfregando o local onde
lhe foi dado o soco.
— Ainda bem que você se tocou sem eu precisar fazer nada — disse
Filippo impassível, me fazendo olhar incrédulo para ele.
— Vamos nos ver em breve, coiato — disse Luna me abraçando. —
Faça meu irmão feliz, ele mais que ninguém merece um pouco disso —
sussurrou em meu ouvido e eu assenti.
Fiquei abismado ao passar por uma porta e perceber que era um
elevador particular. Tudo isso era tão estranho. Descemos e lá estava um
homem alto e loiro com uma cara de mau. Filippo me apresentou a ele e
descobri que seu nome era Elijah e que era o segurança particular dele.
Elijah estava ao lado de um Bugatti preta, muito foda. Olhei para Filippo que
indicou que eu entrasse no carro e assim fiz.
— Uau, cara! Nunca achei que um dia entraria em um desses — disse
empolgado sorrindo como uma criança no parque pela primeira vez.
— Você gosta do carro, bello? Gostaria de um desses? — perguntou
Filippo.
— Fala sério, Filippo! Quem em sã consciência não iria querer um
carro desses — falei e ele confirmou com o pensamento longe. — Minha
paixão é motocicleta, trabalho muito duro para quitar a minha belezinha
que está em casa.
Filippo me olhou de cara feia.
— Não acho uma motocicleta muito seguro, bello. Acho que deveria
repensar nisso — disse e eu fiz uma careta.
— Você falando assim, parece até minha tia. Eu sou ótimo em uma
moto — falei com convicção.
— Eu nunca lhe daria uma moto, um carro sim! Mas moto não! —
falou e eu arregalei os olhos.
— Nem pense em querer me dar alguma coisa, Filippo. Nem pense
em uma coisa dessas. Sério mesmo! — falei nervoso.
— Depois falaremos sobre o que eu não posso fazer. Agora se eu vou
lhe dar ouvidos, eu não sei.
— Limites, Filippo! Conhece o que é isso? — perguntei e ele me
olhou confuso. — Só não faça isso, estou te avisando — disse apavorado.
O carro parou em um sinal e ele se virou para mim, dando-me um
beijo rápido.
— Não prometo nada, bello. Não prometo nada — disse com um
pequeno sorriso formando no canto da boca.
Como o trânsito estava uma lentidão dos infernos, dei um de
intrometido e fui mexendo no som do carro, fiquei indignado por Filippo não
ter nenhuma música. Quando eu perguntei, ele disse que nunca foi de ouvir
música e que preferia o silêncio. Balancei a cabeça negativamente. Comecei
a olhar as estações de rádio e achei uma ideal para o momento que tocava
Tiago Iorc - Amei te ver. Aumentei o volume e comecei a cantar.

Ah, e sai sem eu dizer


O tanto que eu gosto
Me desmancho quando encosto em você, êh iêh êh…

Vi pelo canto do olho Filippo me olhando atentamente, sequer liguei


e continuei a cantar.
O coração dispara
Tropeça, quase para
Me encaixo no teu cheiro
E ali me deixo inteiro
Eu amei te ver
Eu amei te ver…

Quando dei por mim, já estávamos em frente à minha casa. Um


pequeno pavor tomou conta de mim. Minha mente começou a enlouquecer
e pensar mil coisas ruins. Tive medo de que eu e ele não fosse mais
acontecer depois que saísse daquele carro. Sem dúvidas eu iria sofrer. E se
ele me dissesse que não queria mais me ver, que tudo não passou de uma
brincadeira entre ele e os irmãos?
“É isso! Talvez, durante o caminho, ele tenha se tocado de que não
está interessado, que foi só um momento louco.” Minhas mãos estavam
suando e eu estava nervoso. Sim! Muito nervoso. Não queria que ele
dissesse que não me queria mais.
— Bello? — chamou-me e olhei para ele aflito. — O que foi? Te
chamei e você estava distante.
— Não foi nada. Então, é isso, vou entrar! — falei rápido esperando
ele destravar a porta.
“Por que esses carros fodas têm que ser assim? Sinto falta das portas
de antigamente.”
— Ecco che arriva bello — disse e o olhei sem entender. Filippo
repetiu traduzindo. — Vem aqui, bello. — Aproximei-me e ele me beijou.
Afastei-me assustado pensando que alguém poderia ver. — Pare com isso!
Se acostume, Luiz Otávio. Com esse vidro é impossível alguém ver alguma
coisa aqui dentro. — Beijou-me novamente.
— Tudo bem, agora acho que posso entrar — disse tirando os
pensamentos loucos da cabeça.
— Mais tarde eu te ligo para saber como está, mas será depois do
treino com meus irmãos. — Olhei estranho para ele. — Treinamento de tiro,
lutas com os seguranças, essas coisas... — esclareceu como se não falasse
nada demais.
— Como assim? Vocês usam armas? Todos vocês?
— Claro que sim, bello! Te disse que a vida da nossa família não é
normal, todos nós treinamos muito. — Mexeu em alguma coisa no
portaluvas. — Aqui. Olhe! — Ele tirou de lá uma pistola automática toda
negra, muito linda. Olhei-a e percebi que embaixo do cabo tinha um
desenho em forma de brasão. Passei o dedo distraidamente sobre o relevo.
— Cada um da família tem uma arma como essa, esse é o presente de nosso
pai que cada um recebeu.
— Nossa, ela é muito linda! — falei com admiração.
— Sim, ela é. Sei que você ainda não entende o que eu digo, mas em
breve eu vou te contar tudo. Só não agora, tudo bem? — perguntou com a
voz grossa e intimidante. — Agora vai, bello!
Dei o último beijo nele e saí do carro. Entrei em casa e logo senti o
cheirinho gostoso de comida. Percebi que estava com fome, pois minha
barriga roncou vergonhosamente. Na cozinha, fui recebido pela carranca
nada amistosa de tia Amélia. Ignorei a cara feia e lhe dei um beijo na
bochecha.
— Olhe aqui, moleque. Eu vou te falar só uma vez. Quando você for
passar a noite fora de casa, avise, pois eu fiquei aqui morrendo de
preocupação. O que ajudou a me tranquilizar foi Paulo dizendo que você
naturalmente arranjou uma menina na festa e foi passar a noite com ela —
disse minha tia muito irritada.
— Olha, tia, eu… eu… — Não consegui falar nada, só abaixei a
cabeça.
— Ainda tenho esperança de ver você namorar com a Ângela, acho
que vocês fariam um par muito lindo, mas não posso impedir você de se
divertir — falou voltando a mexer na panela.
— Já disse para senhora esquecer isso! Ângela é só minha amiga e
não será mais do que isso — falei irritado com esse assunto.
— Que seja, mas eu gosto dessa menina. — Deu de ombros.
— Eu também gosto dela, assim como ela gosta de mim, mas como
amigos e nada mais!
— Vai tomar um banho para almoçar, a comida está quase pronta.
Saí da cozinha e fui para o meu quarto pegar a toalha. No banho, foi
impossível não pensar em Filippo. Não sei até onde isso tudo iria, mas eu
queria muito saber. Os irmãos dele eram pessoas muito leais e protetoras,
pude perceber que essa característica se encaixava em Filippo também.
Lembrar dos nossos beijos fez com que um sorriso involuntário surgisse no
meu rosto. Balancei a cabeça para tirar tais pensamentos da mente.
O almoço com minha tia foi bom como sempre, mas cada vez que ela
me perguntava sobre a noite anterior, eu mudava de assunto. Até que ela
viu que não sairia nada de mim e parou de insistir.
Ao cair da tarde, Paulo chegou para buscar minha tia para sair e
quando ele me viu, lançou um sorriso estranho que fez meu corpo
estremecer desconfortável. O ignorei e liguei para Beto e Ângela, para
conversar sobre a noite anterior. Enquanto esperava por eles, coloquei um
filme para assistir. Não demorou muito e logo eles chegaram.
— E aí, pessoal? Como vocês estão? — perguntei depois de abraçar
os dois.
Eles me lançaram um olhar debochado.
— Qual é, mano?! Sem enrolação, conta logo o que está
acontecendo. E não vai me dizer que não é nada, senão eu paro de falar
contigo — disse Beto sentando emburrado no sofá.
— Deixa de ser um jumento, Beto! Fale só se você se sentir à
vontade, Luti — disse Ângela me confortando.
— Tudo bem, vocês querem saber o que está acontecendo?
— Acho que foi por isso que nós viemos aqui — falou Beto.
— Eu acho que… Acho não, eu tenho certeza que sou gay! — disse e
abaixei minha cabeça esperando Beto ou Angel falarem alguma coisa.
— Sim e daí? Isso eu já estava quase certo que você era — disse Beto
e eu levantei em um pulo do sofá.
— Como assim você já tinha quase certeza? Eu nunca demonstrei
gostar se homens — disse atordoado.
— E você também nunca demonstrou muito interesse em mulher,
Luti. Quase nunca teve iniciativa em fica com mina nenhuma. E não vem me
falar que é porque é tímido, que isso não vai colar comigo — disse Beto e
não tive como negar.
— E daí se você é gay ou não? Eu sou lésbica, o que isso tem demais?
— perguntou Ângela com desdém.
— O QUÊ? — gritou eu e Beto ao mesmo tempo.
— Sim, estava esperando um tempo para contar, mas com a
revelação de Luti tive que falar também. E nossa, isso é um alívio! — falou
minha amiga sorrindo.
— Caralho! Eu não fazia ideia… Oh, porra! Por que não pegou
ninguém ontem? Seria minha fantasia de pivete — falou Beto e eu e Ângela
fizemos cara de nojo.
— Deixa esse nojento de mente suja para lá e me conte o que está
rolando entre você e aquele homem lindo com cara de mau — pediu Angel.
— Não sei te dizer com exatidão, mas acho que me apaixonei por ele
.
Beto e Ângela olharam para mim impressionados.
— Não sou ninguém para dizer quem você deve ou não gostar, mas
espero que você não se decepcione — falou Ângela de modo amigável.
— Se por algum acaso esse ricaço filho de uma mãe aprontar com
você, eu acabo com ele — ameaçou Beto sério, fazendo eu rir. — Agora
vamos deixar de conversa e coloca um filme novo aí para gente assistir,
porque vou te contar, meu filho, esse filme aí é horrível.
— Eu trouxe todos os filmes de Anjos da Noite, podemos assistir tudo
de vez. O mais novo estreou no cinema, podemos ir ver depois — disse
Ângela e eu me animei, pois eu gostava dessa saga.
— Que filme é esse que eu nunca vi? — perguntou Beto.
— Não acredito nisso, Beto! Ah, mas você vai assistir agora. Coloca
aí, Luti.
E assim fiz, coloquei o filme e começamos a assistir e como eu já
imaginava, Beto gostou muito e ficou reclamando que eu nunca mostrei o
filme a ele. Depois de um tempo levantei para fazer pipoca e deixei os dois
assistindo e brigando na sala. Eles discutiam porque Beto ficava o tempo
todo perguntando alguma coisa sobre o filme e Ângela não falava nada. Isso
me fez rir demais, pois Beto começou a chamá-la de malvadona.
Quando estávamos colocando o terceiro filme, tia Amélia chegou e
se juntou a nós. Mais tarde, ouvi meu telefone tocar lá do quarto. Corri para
ver quem era e me assustei ao ver que tinha várias ligações perdidas do
mesmo número desconhecido. Tinha algumas mensagens dizendo: “Você
está aí? Por que não atende? Aconteceu alguma coisa? Bello, fala comigo?
LUIZ OTÁVIO, ATENDE ESSA PORRA?!” Não perdi mais tempo e liguei para o
número que tinha certeza ser de Filippo.
— Bello, você está bem? Aconteceu alguma coisa? Eu liguei e você
não atendeu, por quê? Fale alguma coisa, Luiz Otávio! — Ouvi a voz rouca
em um tom de desespero.
— Calma, eu estou bem, estive em casa desde o momento que você
me deixou aqui, não saí para lugar nenhum. Aconteceu alguma coisa? —
perguntei calmamente.
— Claro que aconteceu, passei um bom tempo ligando e mandando
mensagem para você e nada! — Seu tom de voz mostrava o quanto estava
se esforçando para se controlar.
— Por que você achou que aconteceu alguma coisa? — perguntei
curioso.
— Não! Deixe isso para lá. Você está bem mesmo?
— Sim, estava assistindo filme com Beto e Ângela — disse sorrindo.
— Não sei se eu gosto muito disso. Só por você estar com outras
pessoas e não ser eu, sinto uma coisa estranha — falou Filippo confuso.
— Isso se chama ciúmes sem cabimento algum, irmão — gritou
algum dos irmão Aandreozzi, mas não consegui identificar quem.
— Que inferno você está fazendo aqui, Lucca? E ainda ouvindo minha
conversa? — perguntou Filippo muito irritado.
— Finja que eu não estou aqui e continue o que você está fazendo. —
Ouvi de longe a voz de Lucca.
— Saia daqui. AGORA! — gritou e eu afastei o celular do ouvido. —
Desculpe por isso, bello, mas é impossível não se irritar.
— Eu entendo. Não se preocupe à toa, eu estou bem. Quando vou te
ver? — perguntei sem graça.
— Breve, muito em breve.
Ouvi Beto me chamar para voltar ao filme.
— Deixe-me ir, pois se você ouviu, o povo já está me chamando.
— Vai! Não fique mais sem o celular, va bene?
— Sim, Sr. Aandreozzi — falei sorrindo e o ouvi resmungar.
— Não me provoque, bello, é só um aviso.
— Certo! Boa noite, Filippo!
— Buona notte e dormire bene! — falou e, desta vez, eu acho que
entendi.
Desliguei o celular e fiquei um bom tempo tentando entender o
porquê do desespero de Filippo por eu não ter atendido o telefone antes.
Voltei para sala ainda pensativo e sentei ao lado de minha tia que ficou me
olhando estranho. Voltei atenção para o filme, mas sempre minha mente
viajava para outro lugar.
Depois que todos os filmes terminaram, Beto e Ângela foram
embora, e como estava tarde, dei boa-noite a minha tia e fui dormir.

Acordei no dia seguinte com uma preguiça terrível, sem vontade


nenhuma de sair do meu conforto. Levantei, fui tomar um banho para tentar
reagir e tomei meu café na maior paciência. Quando estava sentado
assistindo algum programa chato de dia de domingo, vi Paulo sentar ao meu
lado no sofá. Fingi que ele não existia e voltei minha atenção ao programa
tedioso. Percebi que esse sujeito ficava olhando para mim e isso já estava
me incomodando. Deixei Paulo no sofá e fui para meu quarto separar minha
roupa para ir trabalhar. Quando deu meu horário, me arrumei, tirei minha
moto da garagem e fui para o restaurante. Arrumei-me no vestiário
masculino e fui direto à cozinha, lá já estava todos os cozinheiros ajeitando
tudo para à noite.
— Luti, chegue aqui! — gritou o chefe.
— Algum problema, chefe? — perguntei curioso com sua
empolgação.
— Luti, eu quero que você atenda muito bem a mesa oito hoje, não
quero erros. O serviço tem que ser impecável — falou sério.
— Sem problemas, chefe. Deixarei Analú sobre aviso que assim que a
pessoa da mesa oito aparecer, para que a mesma me informe como sempre
— falei profissionalmente.
— Por isso que eu gosto de você. Sua eficiência é divina, lembre-se
que não quero erros.
Assenti e saí para arrumar o salão para abertura do restaurante.
Terminei de arrumar tudo quando já estava em cima do horário para
abrirmos. Quando o restaurante abriu as portas, comecei a atender as
mesas, mas tenho que dizer que não estava com disposição para muita
coisa, acho que iria ficar doente e isso não era uma coisa muito agradável.
Em determinado horário, Analú chegou avisando-me que o pessoal já tinha
chegado, então, peguei as coisas e saí para atender a mesa em que Marco
colocou uma pressão da porra.
Ao chegar no salão e olhar em direção à mesa oito, eu quase voltei
correndo para cozinha. Lá estavam os quatro Aandreozzi sentados
conversando como se tudo fosse simples e a vida fosse um poço de
maravilhas. Respirei fundo e segui para fazer o meu trabalho. Assim que me
viram chegar, os três irmãos mais novos me olharam com um sorriso no
rosto e Filippo continuou com sua cara séria de sempre.
— Boa noite, senhores. Bem-vindos ao Benedetti! O que vão querer?
— perguntei com o meu melhor sorriso profissional, mas fui surpreendido
com Luna que levantou da cadeira e veio me abraçar.
— Você fica tão lindo de modo garçom, coniato! Queremos que se
sente conosco para jantar — disse Luna sorrindo lindamente.
— Eu não posso, estou no meu horário de trabalho — falei nervoso
olhando para todos os lados e vendo que muita gente estava olhando a
cena. — Claro que você pode, bello. Basta querer e eu resolvo isso em um
minutinho — disse Filippo em um tom de empresarial, me causando
calafrios.
Não sei que inferno eles foram fazer ali, mas de uma coisa tinha
certeza, se eles continuassem com isso eu iria perder meu emprego.
Ligar para Luiz Otávio e ele não atender as chamadas, ou muito
menos responder minhas mensagens de texto — sim, mensagem de texto,
uma coisa que eu odiava fazer e fiz por causa dele —, tirou-me do sério. A
cada ligação que eu fazia para o seu celular, me preocupava pensando que
tinha acontecido algo de grave com ele, ou que algum inimigo da minha
família descobriu nosso envolvimento e o fez algum mal. Tudo de ruim que
minha cabeça poderia produzir surgiu do nada. E tudo isso porque ele não
lembrou de ficar com o celular por perto. Nunca imaginei que gostar de
alguém poderia me dar tanto trabalho e dor de cabeça. Só consegui pensar
nas coisas ruins que poderiam acontecer com ele.
Despois da nossa conversa, saber que seus amigos estavam lá o
fazendo companhia, rindo e assistindo um filme ridículo qualquer, não me
agradou em nada. Fui informado que isso era ciúmes. Uma sensação horrível
que estava sentindo e só me causou uma raiva fora do comum.
“Eu nunca senti ciúmes, por que estou sentindo isso agora? Não tem
cabimento uma coisa dessas.”
Agora estava olhando para o meu garoto com uma cara de assustado
impagável, morrendo de medo de perder o emprego. Luna ainda continuava
de pé esperando Luiz Otávio falar alguma coisa ou até mesmo se sentar logo
com a gente. O safado saiu deixando eu e meus irmãos sem resposta, mas
isso não ficaria assim.
— Vai atrás dele, irmão? — perguntou Enzo.
— O que você acha? Ele vai jantar conosco!
— Se ele não quiser, você não pode obrigá-lo, ele não é nenhum
funcionário seu da empresa. Olhe o que você vai falar, Lippo — disse Luna
me auxiliando.
— Certo, ele já sabe, agora vá lá trazer nosso cunhado. Estou
morrendo de fome e parece que essa lasanha de quatro queijos é boa —
disse Lucca olhando o cardápio.
Levantei e fui andando na direção em que Luiz havia saído. Passei
sem olhar para ninguém e quando percebi, estava em um local cheio de
armários. Ali com certeza era o vestiário, vi ele mexendo em alguma coisa de
costas para mim.
— Bello? O que está fazendo? — perguntei com os braços cruzados.
— Sabe, você não pode vir aqui e exigir que eu pare meu trabalho
para jantar com vocês. Isso é errado, estou trabalhando — disse ainda de
costas.
— Tudo bem, bello? — perguntei me aproximando.
— Sim, estou bem! Pelo menos eu acho que sim — falou com um
sorriso contido.
— Senti sua falta. Nunca senti falta de alguém que não fosse da
minha família antes. — Rodeei meus braços em sua cintura.
— Também senti sua falta, mas você tem que me soltar para eu
poder voltar a trabalhar.
— Vou te esperar para te levar para casa.
— Não precisa, eu estou de moto — disse e eu me irritei.
— Bello, quando todo mundo souber da gente você não vai mais
poder ficar saindo de moto, vai ser perigoso — falei e ele me olhou
atentamente.
— Ainda não entendo — disse e eu respirei fundo.
— Deixa eu te levar hoje, pode ser?
— Se você quer, mas vai ter de mandar algum dos seus capangas
levarem ela.
— Será feito!
Luiz Otávio saiu na frente e pediu para eu esperasse um pouco, assim
eu fiz. Ao chegar no salão, vi que ele já estava em pé ao lado da minha mesa
conversando aos risos com meus irmãos. Era tão bom saber que meus
irmãos já o tinham como parte da família, esperava que meus pais também
o aceitassem, pois eu não o deixarei por nada.
Quando eu estava quase chegando à mesa, vi que Marco se
aproximou e falou algo que Enzo não gostou nem um pouco. Apressei meus
passos e o ouvir dizer:
— Você não pode vir aqui e tratá-lo desse jeito, estávamos sendo
muito bem atendidos até você aparecer. — Meu irmão estava muito sério.
— Desculpe, Sr. Aandreozzi, mas achei que estivesse acontecendo
alguma coisa — falou Marco com os olhos arregalados.
— Aconteceu algo aqui? — perguntei olhando para meu irmão.
— Não aconteceu nada, Sr. Aandreozzi, foi só um mal-entendido. —
Ouvi Luiz me chamar de senhor me fez mal.
— Pare de me chamar de senhor, bello! Odeio quando você faz isso
— disse sentando à mesa e sem perceber que Marco olhava para mio
ragazzo sem entender nada.
— Não entendi. Por que ele pode te chamar pelo nome e os outros
não? — perguntou Marco fazendo Luiz arregalar os olhos e ficar muito
vermelho.
— Não é da sua incumbência! — disse rude. — Mande outro garçom
vir nos atender pois Luiz irá sentar conosco para jantar.
— Mas ele não pode! Estamos precisando dele para servi as mesas —
disse Marco se alterando e lancei-o um olhar que não teria como ele
questionar.
— Só mande logo o outro garçom, estou com fome! — falou Lucca,
recebendo um tapa de Luna.
— Não entendo essa coisa com Luti, ele é só um garçom. Vocês
podem até serem amigos, mas ele tem um trabalho a realizar. Se querem
companhia para jantar, eu posso fazer. Basta pedir! — Todos na mesa
olharam para ele incrédulo, inclusive Luiz.
— Não queremos sua companhia, Luiz faz parte da família. E outros
que não são da família não fazem parte do nosso ciclo — disse Enzo e eu
concordei plenamente.
— Vocês se conheceram onde para já terem um Romance? — falou o
bastardo do Marco apontando para Luna e Luiz.
Eu me enfureci. Não gostei de ouvir isso, mesmo que a pessoa em si
seja minha irmã.
“Ele é meu!”
— Acho melhor irmos para casa, já deu por aqui — disse Lucca muito
enfezado.
— Também acho! Vá buscar suas coisas, bello. Você irá com agente.
— Ele não pode ir, ainda falta muito tempo para o fim do expediente.
Se você for será demitido, Luiz Otávio!
— Marco saia daqui antes que eu desfaça essa sociedade de merda e
você fique sem sua verba — falei entredentes e o vi arregalar os olhos.
— A sociedade já foi feita e você não pode desfazer isso! — falou
exaltado.
— Eu posso fazer tudo o que eu quiser, basta ter vontade. Vai logo
trocar de roupa, bello.
Luiz Otávio saiu de cabeça baixa sem olhar para ninguém e seguiu
para o vestiário. Ao ver que ele estava fora da minha vista, perguntei a
Marco se poderíamos ter uma conversa em seu escritório.
— Lucca e Luna, esperem Luiz sair lá fora. Pegue a chave da moto
dele e mande Brian levá-la. — Os dois assentiram e saíram em direção à
porta do restaurante.
Nem precisei chamar, pois Enzo já estava vindo logo atrás de mim.
Entramos no escritório de Marco e lá estava ele com um olhar rude e
questionador, esperando eu explicar o que quer que fosse.
“Não vá por aí. Bastardo!”
— Olhe só, Filippo... Luti é o meu melhor garçom e mesmo que ele
esteja tendo um caso com sua irmã, não há necessidade de empatar o
serviço que ele é pago para fazer — falou Marco na maior autoridade. Ouvi
o riso rouco de Enzo ao meu lado.
— Para você é, Sr. Aandreozzi. Filippo é só para os íntimos e você
não é da família. — Sentei-me na cadeira diante de sua mesa. — Pouco me
importa se Luiz é o melhor ou pior funcionário desse estabelecimento. Por
mim, ele nem estaria mais aqui.
— O senhor não pode vir aqui e interferir no que bem entender —
falou ele exaltado.
“Cansei dessa merda!”
— Essa conversa está muito cansativa, então vou falar logo o que eu
quero. Hoje eu vim aqui na intenção de jantar com meus irmãos e meu
namorado. Achei que seria uma coisa fácil de ser resolvida, por eu ser sócio,
mas por ironia do destino, não foi nada fácil e ainda vi o mio bello sair triste
e de cabeça baixa! — Marco olhou-me incrédulo e depois em direção à
Enzo. — Luiz Otávio, não sei por que, gosta de trabalhar aqui, mas espero
que minha relação com ele não interfira no seu trabalho.
— E-eu não sabia que Luti era gay ou o senhor! — disse gaguejando.
— O que meu irmão é ou deixa de ser, não é da sua conta de merda
— disse Enzo entredentes. Olhei para que ele pedindo em silêncio que se
acalmasse.
— Se eu souber que ele foi tratado diferente, eu mesmo passarei
como um trator por cima de você e não sobrará nada para contar história,
va bene?
— Va bene. Desculpe por isso! Gosto muito de Luti e espero que não
esteja desconsiderando a nossa sociedade.
— Tudo dependerá de você, Benedetti. Goste menos de mio ragazzo,
pois ele já tem um homem que gosta dele. — Levantei e fui até à porta.
— Olhe o que falará depois com meu coniato, maledetto. — Revirei
os olhos ao ouvir Enzo falando e saí.
Sempre fomos muito protetores com os nossos e com Luiz Otávio
não seria diferente. O problema com um Aandreozzi era problema de todos.
Deixei o restaurante e encontrei Luiz dentro do carro com Luna, entrei e
puxei ele para o meu colo que veio de bom grado.
— Desculpe fazer você passar por isso, bello. Eu só queria jantar com
você — falei cheirando seus cabelos.
— Tudo bem, já conversei com a Luna. Só não queria perder meu
emprego, pois eu preciso dele.
— Se isso acontecer, que sei que não vai, você pode muito bem ir trabalhar
na minha empresa.
— Deus me livre! — Olhei para ele ofendido. — Desculpe, Filippo,
mas pelo pouco tempo que te conheço, sei que você é complicado demais
para lidar.
— Como é que é? Eu não sou! — falei realmente ofendido e ele me
lançou um olhar debochado. — Tudo bem. Talvez, um pouco, não muito.
— Deixe de ser um bastardo mentiroso, irmão. Todo mundo tem
medo de você na empresa — disse Luna.
— Viu só! Deixa que eu mesmo me arranjo. Obrigado pela oferta.
À caminho de casa, olhei para frente e vi Elijah enrijecer e me olhar
pelo retrovisor. Logo percebi que algo não estava certo. Não podia ficar
nervoso, pois Luiz nunca passou por aquilo, eu tinha que seguir o protocolo.
— Qual é o código, Elijah? — perguntei encarando seus olhos no
retrovisor.
— Código Amarelo, senhor! — disse tranquilo.
— São quantos? — perguntei e Luiz levantou a cabeça me
observando atentamente. Lhe dei um beijo e olhei para Luna. — Luna! —
chamei e ela já sabia, por isso me passou as minhas duas armas e os
cartuchos do porta luvas.
— São três motos e um carro, senhor. Todos armados e prontos —
disse Elijah.
Sentir o corpo de Luiz ficar tenso.
— O que está acontecendo, Filippo? Para que essas armas? Quem
são essas pessoas? — Luiz Otávio estava despertado sem entender nada.
— Bello, presta bem atenção o que eu vou te pedir. Eu quero que
você abaixe a cabeça e se deite aqui no banco. Não me faça perguntas, não
agora. Pode ser? — Ele assentiu. — Eu disse que nossa vida não era fácil,
mas confie em mim que eu não vou deixar nada te acontecer. — Dei um
beijo e liguei para Enzo. — Enzo siga o protocolo, não precisamos de
nenhuma plateia. Descrição, irmão!
— Pode deixar. Lucca está aqui afoito para uma aventura.
— Mande esse louco maneirar e deixar algum vivo — falei sério.
— Para tudo e por tudo, irmão!
— Sempre! — Desliguei o celular e voltei minha atenção para futura
briga.
Elijah levou o carro para rota de emergência, um lugar com antigas
construções abandonado. Quando estávamos longe de olhares públicos, eu
apertei o botão que abaixa o vidro traseiro do SUV e Luna mudou de lugar
com Elijah. Por incrível que pareça, minha irmãzinha era ótimo na direção
nesses casos.
Armas começaram a disparar a todo vapor. Consegui derrubar um
motociclista e Elijah outro. Alguém no carro de trás, onde estava Enzo e
Lucca, derrubou o terceiro motociclista, restando apenas um carro. Paramos
o nosso no terreno abandonado e saí usando a porta traseira como escudo
de proteção. O nosso segundo veículo desacelerou e deixou o carro inimigo
no meio. Quando ele parou, percebi que tinha cinco pessoas dentro e todas
armadas até os dentes, mas não seria isso que iria me fazer recuar. Se eles
queriam sangue, era sangue que eles iriam ter, mas não seria da minha
família ou muito menos dos meus homens, não contratava gente
incompetente.
Mais tiros foram disparados e gritos foram ouvidos. Procurei olhar
para as pessoas mais importantes para mim. Lucca estava com um sorriso
sádico na cara, Enzo concentrado em não errar a mira, Luna colocando
munição na arma e Luiz Otávio olhando para mim. Não sei por que ou se era
coisa da minha cabeça, mas ele olhava para mim com admiração. Não sei,
talvez eu não soube identificar. Não sabia quanto tempo ficamos na troca de
fogo, mas logo os tiros cessaram.
— Elijah, fique aqui com Luna e Luiz que eu vou averiguar as coisas.
— disse e ele assentiu firmemente.
— Eu quero ir, Lippo! — pediu Luna.
Parei de andar e virei-me para ela.
— Não! Você fica e faz companhia ao Luiz.
Ela percebeu minha intenção e mandou um olhar de desculpas.
— Algum vivo, irmão? — perguntei a Enzo.
— Não que eu tenha visto. Quem será que mandou esses aqui?
— Não faço ideia, mas papai tem que saber.
— Isso sem sombra de dúvidas. Ele vai pirar!
— Achei um aqui! — Ouvimos a voz de Lucca e fomos em sua
direção.
Ao chegarmos, vimos um cara que levou um tiro na barriga
agonizando de dor. Aproximei-me e abaixei para ouvir o que ele falava.
— Chi ti ha mandato? Cosa vuoi? (Quem te mandou? O que
querem?) — perguntei o mais sombrio possível. Esperei ele responder e
nada. Pressionei dois dedos no buraco do seu ferimento e ele gritou de dor.
— Lo chiederò ancora una volta e se mi dite presto, sarò in grado di
uccidere presto e non lasciare qui lentamente morendo. (Irei perguntar mais
uma vez e se você me disser logo, serei capaz de te matar rapidamente e
não o deixar aqui morrendo aos poucos.)
— Pensi di essere invincibile che può tutto, ma vuole ciò che è stato
promesso (Vocês pensam que são invencíveis e que podem tudo, mas ele
quer o que lhe foi prometido) — disse o verme cuspindo o sangue em meu
rosto.
— Che cosa è stato promesso? Chi vuole che cosa? Parla! (O que foi
prometido? Quem quer o quê? Fala!) — perguntou Enzo chutando o homem
que gritou de dor.
— Il nostro capo non si darà pace fino a quando si dispone di ciò che
si desidera (Nosso chefe não vai descansar enquanto não tiver o que quer)
— falou e começou uma crise de tosse.
— O che lui vuole? (O que ele quer?) — perguntei rápido, sabia que
ele não iria durar muito.
— Si! Egli vi vuole!(Você! Ele quer você!) — disse apontando o dedo
para mim, morrendo logo em seguida.
— O que será que querem com você? — perguntou Lucca e neguei
com a cabeça.
— Não faço ideia, mas só tem uma pessoa que poderá responder.
— O nosso pai! — dissemos em uníssono.
Deixamos os outros seguranças limpando a bagunça e fomos os três
para o carro onde estavam Luna e Luiz. Assim que me viu, Luiz correu ao
meu encontro me abraçando forte.
— Você está bem? — perguntou ele ainda nos meus braços.
— Sim, bello! Estou bem, está tudo muito bem — disse e ele me
empurrou olhando com raiva.
— Você quer ficar comigo? Porque eu quero ficar com você. E você
não pode me tratar assim. Não pode me mandar ficar quieto, enquanto você
vira o super-herói do dia — gritou e eu olhei para ele incrédulo.
— Entendi, o que você quer? — perguntei achando divertido a sua
cara.
— Eu também quero uma arma e quero aprender a lutar. POR QUE
EU NÃO SOU SUA DONZELA INDEFESA! — gritou outra vez fazendome
arregalar os olhos e depois cair na gargalhada.
Meus irmãos me olharam espantados. Havia anos que eu não sabia o
que era rir se verdade e mio bello conseguiu tal feito, um riso verdadeiro. Ele
estava conseguindo o que ninguém nunca conseguiu, me fazer sentir
felicidade.
Enquanto eu ria, percebi que Luti começou a tremer. Conhecia bem
os sinais e sei que ele estava entrando em estado de choque. Puxei-o para
os meus braços e comecei a falar palavras tranquilizantes no seu ouvido.
Quando senti que seu corpo parou de estremecer, o levei para o carro e o
coloquei no colo.
O trajeto para minha casa foi silencioso, nenhum dos meus irmãos
falavam nada. Luiz continuou do mesmo jeito e com a cara enterrada no
meu pescoço. Chegamos e eu levei mio ragazzo para tomar um banho. No
quarto, fui para o banheiro levando Luiz comigo. Tirei nossas roupas e
entramos na ducha. Ao sentir a água batendo no seu corpo, Luiz levantou a
cabeça e ficou me encarando.
— Estamos tomando banho juntos? — perguntou com os olhos fixos
nos meus.
— Acho que sim, bello. Isso te incomoda?
— Não. É estranho, porque nunca fiz isso com ninguém, mas é muito
bom fazer isso com você.
— Também nunca dividi um banho com ninguém, mas gosto de ser
íntimo com você.
— Você vai me contar o que está acontecendo?
— Vou te contar tudo que você quiser saber, só prometa não se
assustar e sair correndo para as colinas.
— Só se você quiser vir comigo, mas se não, prefiro ficar com você e
aprender a ser forte.
— Por que quer aprender a ser forte?
— Porque eu já perdi pessoas que amava e não pude fazer nada, mas
se for para lutar, quero lutar com você. Hoje eu vi você em ação e foi a coisa
mais linda do mundo.
— Farei tudo que quiser, bello.
— Se é assim, então não me deixe.
— Farei tudo o que estiver ao meu alcance.
Terminamos o nosso banho e fomos até o closet. Chegou a ser
engraçado a cara que ele fez ao entrar e ver o espaço. Nos vestimos e
descemos indo à cozinha. Lá encontrei todos os meus irmãos. Luna e Enzo
estavam sentados à ilha, enquanto Lucca mexia na panela fazendo alguma
coisa no fogão.
— Como você está, Luti? Você ficou abatido depois do ocorrido —
falou Enzo analisando Luiz.
— Estou bem. Sei lá, foi a primeira vez que me deparei com uma
troca de tiros. Mas foi incrível ver que o homem por quem decidi me
apaixonar, ficou muito foda segurando uma arma — disse rápido e depois se
tocou do que falou, ficando vermelho.
— Não fica enchendo esse homem de elogios, Luti. Tenho certeza
que sou muito melhor que ele em ação — disse Lucca abrindo a geladeira.
— Oh, pare com isso! Você e essa sua mania besta de gostar de tudo
isso — disse Luna irritada.
— Não é gostar, é aceitar. Ainda pegamos a parte leve. Filippo e Enzo
receberam as bombadas — disse Lucca e depois olhou para mim. —
Desculpe, irmão, falei demais.
— Tudo bem, Lucca. Querendo ou não Luiz terá que saber, já que ele
está em nossas vidas — falei e Luiz me olhou com atenção.
— Se você quiser, podemos sair e deixar vocês conversarem — falou
Enzo calmamente.
— Não se preocupem, vamos para o escritório — falei levantando do
banco.
— Não se preocupe. Quando o jantar estiver pronto, eu te chamo —
disse Luna e eu assenti puxando Luiz para me seguir.
Entrei no escritório e sentei na minha cadeira esperando Luiz se
sentar também, mas ele estava muito encantado olhando as fotos que eu
tinha da minha família espalhada por todo canto.
— Você tem uma família muito linda, Filippo. Sinto até uma ponta de
inveja — falou em um tom melancólico.
— Oh, não, bello. Não precisa sentir isso. Só pelo simples fato de
estarmos juntos, minha família passará a ser a sua também — disse com
firmeza.
— Isso se seus pais não invocarem com nosso envolvimento e tudo
isso acabar — falou com tristeza.
— Mesmo que meus pais não aceitem, eu não vou te deixar.
— Mas eu não conseguiria seguir adiante se por algum acaso
acontecer brigas na sua família. Eu preferiria me afastar. Sua família é muito
unida para eu me meter assim.
— Cale-se, Luiz Otávio! Não fale besteiras, fica aí tirando conclusões
precipitadas. Senta aqui para eu te atualizar de algumas coisas — falei
severo, o fazendo sentar na cadeira diante da minha mesa.
— Se não quiser falar, não tem problema. Não irei te cobrar nada. —
Lancei-o um olhar zangado. — Tudo bem, não está mais aqui quem falou. —
Levantou braços em sinal de redenção.
— Meu pai é um ex-integrante da maior e mais antiga máfia de toda
Itália. — Ele me olhou assustado. — Donatello, meu pai, se apaixonou por
minha mãe, uma simples vendedora de essências naturais. Com o
desenvolvimento do relacionamento, minha mãe pediu para que meu pai
saísse dessa vida de mafioso, porque ela estava grávida e não queria criar
seus filhos nesse meio de mortes, armas, drogas e prostituição.
— Nossa, eu achei que isso era só coisa de filme — disse Luiz sem
pensar, fazendo-me olhar sério para ele. — Desculpe, continue.
— Meu pai fez de tudo para sair dessa vida e depois de muitas brigas
ele conseguiu sair quando meu avô morreu. Na época, meu avô era o Capo.
Nonna nunca foi muito aceita pela máfia, pois eles alegavam que ela não
sabia se portar como uma “mulher da Máfia”. Quando eu nasci, os
seguidores mais fiéis de meu avô começaram a ameaçar meu pai para fazer
com que o desejo de nonno fosse atendido e babo se tornasse o Capo da
Finastella. Meu pai lutou muito para proteger minha mãe, eu e, meses
depois, Enzo. Ele abriu a construtora que cresceu muito. Esse é o legado na
minha família. — Levantei-me e andei de um lado para outro.
— Quantos anos seus irmãos têm? — perguntou curioso.
— Eu tenho vinte e nove, Enzo vinte e oito, Lucca vinte e cinco e Luna
vinte e um. Mas tudo de ruim que já aconteceu, quem viu e passou por tudo
foi eu e Enzo. Não será hoje que contarei, mas vou contar tudo, não se
preocupe — falei e ele assentiu.
— Tudo bem! Para mim está bom por hoje, eu estou com fome, va
bene?
Olhei para ele encantado.
— O italiano combina com você, bambino — disse me aproximando
vagarosamente.
Ele se colocou de pé.
— Ah, não! Você falando sua língua natal e altamente perfeito —
sussurrou ao encostar sua boca na minha.
— Ti voglio tanto bene (Eu te amo muito, meu bem) — falei
avançado com minha boca na sua.
O beijei com volúpia, meu corpo estava ardendo de desejo só por
sentir o sabor gostoso dos seus lábios. Desci minhas mãos até as duas
bandas durinha e bem redondas de sua bunda linda, que tive o prazer de ver
descoberta ao tomarmos banho juntos. Apertei ainda mais seu corpo no
meu descendo beijos molhados até chegar no lóbulo de sua orelha direita e
a mordi puxando de leve ouvindo ele arfar de surpresa e desejo.
— Eu te desejo como nunca desejei nada na vida — sussurrei em seu
ouvido, vendo os pelos da sua nuca se arrepiarem.
— Oh, céus! Eu nunca senti isso antes.
Desci minha língua passando vagarosamente pelo seu pescoço. Luiz
roçou seu membro duro a procura de algum alívio. Voltei a beijá-lo
saboreando o gosto de sua língua doce. Precisava tê-lo, necessitava me
enterrar nele, mas sei que nenhum de nós dois estava preparado para isso
ainda. Interrompemos o beijo ao ouvir um toque na porta.
— A comida está na mesa, andiamo! — chamou Lucca do lado de
fora.
— Estamos indo, irmão! — gritei ainda recuperando o fôlego.
— Vamos antes que ele entre aqui e me veja neste estado — disse
ele apontando para calça formando uma tenda.
— Não estou tão diferente de você, bello.
Saímos do escritório depois de nos ajustar e fomos para cozinha
comer a lasanha feita pelo meu irmão, que ficou todo cheio de si com os
elogios que recebeu de nós. Tenho que admitir, estava muito boa mesmo.
Pedi ao Luiz que fosse indo na frente para o quarto, para que eu pudesse
conversar com meus irmãos.
— Temos que ligar para o babo, ele tem que nos dizer quem é esse
que está atrás de você, irmão — disse Enzo, assim que Luiz saiu.
— Verdade isso está muito estranho. Uma conversa errada de
promessa — falou Lucca ainda mastigando.
— Essa história não está me cheirando nada bem — disse
Luna.
— Chegou a contar tudo ao Luti? — perguntou Enzo e eu levantei o
olhar. — Pela sua cara sabemos que não, mas eu entendo. Depois você fala,
sem pressão, irmão.
Fiz a ligação para papai e coloquei no viva voz.
— Para você ligar uma hora dessas, é porque aconteceu algo. O que
foi? — disse babo assim que atende o celular.
— Hoje sofremos um código amarelo, babo — falei e ouvi um suspiro
do outro lado da linha.
— Quantos foram? Limparam a bagunça, não é? — perguntou nosso
pai calmamente.
— Claro, babo, somos a eficiência em pessoa. Foram três motos e um
carro — respondeu Lucca fazendo papai rir.
— Estou vendo que estou no viva voz. Olá, meus garotos! Enzo, você
terá alguns problemas quando voltar para empresa. Lucca, espero que você
não esteja dando trabalho a Filippo. Filippo, meu filho, estou orgulhoso que
mandou a Antonella pastar. Luna, minha princesinha, está aí?
Com a gente papai falava com seriedade e com Luna e mamãe, ele
sempre endossava a voz.
— Oi, babo mio caro! — disse toda meiga.
Olhamos para ela com cara de desgosto e a danada nos mostrou o
dedo do meio.
“Fingida!”
— Não ligue para seus irmãos mais velhos babacas, você sempre será
la mia bella principessa — disse papai sério, mas senti um sorriso na voz.
— Eu sei, papai. Eu amo esses babacas controladores.
— Se não é para ficar de olho nela, então nos diga, babo. Assim eu
deixo os ragazzos se aproximarem — disse Lucca de cara amarrada.
— Nem pensar! Nada de garotos para minha garotinha — falou babo
com a voz rouca e severa.
— Vocês são impossíveis, por isso que gosto de conversar com a
mamma — falou Luna indignada.
— Podemos voltar ao assunto? — perguntei revirando os olhos. — E
obrigado, pai, mas deixa essa mulher lá, va bene?
— Conseguiram arrancar informação de alguém? — perguntou
nosso pai.
— Ai que está a coisa, pai. O maledetto que estava vivo, disse que o
Capo dele quer o que lhe foi prometido. Essa promessa sou eu! O senhor
está me escondendo alguma coisa? — perguntei severo e ouvi outro suspiro.
— Figlio, eu pensei que isso nunca iria chegar até você, mas não
posso contar por celular — disse mio babo com pesar na voz.
— Va bene babo, não perguntarei mais nada. Mas quero que me
conte tudo, não sou homem de viver no escuro. Tenho um alguém para me
preocupar agora — falei irritado.
— Alguém para se preocupar? Está apaixonado, mio bambino?
Quando contar a sua mãe, se prepare para casar.
Meu corpo enrijeceu.
— Isso é conversa para se termos pessoalmente, pai — disse Enzo
fazendo eu relaxar.
— Oh sì, sì, naturalmente (Oh, sim, sim, naturalmente) — falou e em
seguida ouvimos ele gritar. — Va dove con questi sacchetti mamma? (Vai
aonde com essas malas, mamãe?)
— Vedrò i miei nipoti, il più vecchio ha bisogno di me (Vou ver meus
netos, o mais velho precisa de mim) — gritou nonna e todos nós ouvimos.
— Ti ho detto di smettere di ascoltare le mie conversazioni. (Já disse
para senhora parar de ficar ouvindo minhas conversas.)
— Sarà scopare mio figlio! Lasciami andare le foglie d'acqua in
mezz'ora. (Vai se foder, meu filho! Deixe-me ir, o jatinho sai daqui a meia
hora.)
— Mamma!
— Nonna! — gritamos todos juntos, como se ela pudesse nos ouvir.
— A presto mios bellos, la nonna ti ama (Até daqui a pouco, meus
lindos. A vovó ama vocês) — disse e ouvimos um som de beijo estalar.Em
seguida papai gritou para nonna voltar e ela o mandou se foder.
Papai se despediu e encerrou a ligação em seguida.
— Por que ela é assim? — perguntei aos meus irmãos.
— Não sei! Mas eu amo aquela senhorinha da boca suja —
respondeu Lucca sorridente.
— Não tem como não amar a nonna — disse com pesar. Pois se era
chato com ela, era para que ela durasse por muitos e muitos anos.
— Está preparado para contar a nossos pais sobre, Luti? —
perguntou Luna.
— Preparado ou não, tenho que contar. Papai tem que saber dele o
quanto antes. Isso para segurança de Luiz Otávio.
— Quero ver a reação de nonna. Lembram quando ela nos ensinou
sobre sexualidade? Dio! Isso foi constrangedor — disse Enzo fazendo todos
rirem, até eu. Aquilo havia sido muito constrangedor.
— Lembro dela dizendo que; não era porque um homem gosta de
receber uma coisa no traseiro ou uma mulher passar a língua em uma
perereca até ficar dormente, que eles são diferentes de nós. O diferente
assusta, mas sabendo aceitar é legal! — disse Lucca rindo — Eu
definitivamente amo essa senhora.
Todos nós concordamos com a cabeça.
Dei boa-noite aos meus irmãos e subi para o meu quarto. Abrindo a
porta, vi Luiz mexer animadamente no celular. Tirei minha camisa e a calça
ficando somente de cueca boxer preta. Joguei a roupa em qualquer lugar e
caminhei em direção à cama. Os olhos de Luiz vidraram em mim. O celular já
tinha sido esquecido desde o momento que tirei a camisa.
— O que está olhando, bello? — perguntei chamando sua atenção e
ele abaixou a cabeça envergonhado.
— Eu... olhando... para lugar nenhum — disse se atrapalhando com
as palavras.
— Não precisa ter vergonha. Eu sou seu e você é meu, pode ter
certeza que quando estiver pronto… Nossa! Nem vou falar mais nada. —
Beijei-o.
— Que porra! Você é bom nisso, muito bom para ser sincero — disse
depois do beijo.
— Com quem estava falando todo alegrinho? — perguntei já
sentindo o inferno do ciúme, mas me contive e não deixei aparentar na voz.
Deitei-me na cama e bello se deitou ao meu lado, apoiando a cabeça
em meu ombro.
— Mandei uma mensagem para minha tia avisando que não dormiria
em casa e uma para Beto dizendo que não vou malhar amanhã. Aí o maluco
ficou fazendo graça com minha cara. — Sorriu alisando no meu peito,
enquanto eu ainda controlava meu ciúme. — Não precisa ter ciúmes do
Beto, ele é como um irmão para mim. Sabia que quando eu contei que tinha
me apaixonado por você, ele nem ligou?
Olhei com estranheza para ele. Eu havia disfarçado tão bem meu
ciúme, como ele ainda o detectou?
— Mas como… Como você sabe que estou com ciúmes da
conversinha no celular? — perguntei.
— Simples, italiano. Seu corpo ficou todo rígido. Pareceu até que eu
estava deitado abraçado ao chão de tão duro que ficou — falou dando
risada e eu continuei sério. — Oh, vamos! Dê mais um sorriso para mim —
pediu docemente sem ter como dizer não.
— Só para você, bello! — Grudei minha boca na sua. — Terei de
contar o quanto antes para meu pai sobre a gente.
Luiz afastou a cabeça rapidamente, me encarando.
— Mas por quê? Não sei não, Filippo, você não acha que devemos
esperar um pouco? Estou nervoso por minha tia, ela vive querendo me
arrumar uma namorada — disse nervoso.
— Não tem como adiar, você faz parte da minha vida e agora
estamos passando por problemas e meu pai tem que saber sobre você —
falei firme, vendo-o assentir. — Sua tia tem que saber do nosso
envolvimento por você e não dá para enrolar, Luiz. Eu sou um homem
público e uma hora ou outra as pessoas vão saber do nosso relacionamento.
Vamos procurar evitar o máximo de sermos pegos por algum fodido
paparazzo.
— Sei, eu entendo, mas vai ser complicado. Não sei como chegar e
contar para ela.
— Você vai conseguir, bello. Ela é sua tia e te ama muito. Não
acontecerá nada.
— Onde está minha moto?
— Está na minha garagem particular.
— Amanhã tenho que ir com Angel ver se conseguimos a bolsa.
Estou tão ansioso.
Ele se aninhou mais em meus braços.
— Assim que receber a notícia, me avise. Também quero saber.
Ele bocejou cansado.
— Agora durma, bello.

Acordei no dia seguinte com meu bello ainda aninhado em mim.


Como era bom, acho que podia me acostumar com aquilo sem sombra de
dúvidas. Levantei-me, troquei de roupa e chamei Luiz para ir treinar. Ele
malhava com aquele amigo, não custaria nada fazer comigo também.
Infantil? Talvez, mas foda-se! Assim que lhe acordei, ele se empolgou para ir
comigo. Depois de Luiz pronto, fomos para minha academia e lá já se
encontrava meus irmãos acompanhados de seus seguranças e Elijah.
— Olhe quem veio malhar com a gente — disse Lucca enquanto
treinava uns chutes com Christian.
— Resolvi trazê-lo já que ele vai faltar a dele hoje — disse chegando
na esteira — Sabe o que tem que fazer, bello?
— Sei sim, Carlos fez uma nova série de exercícios para mim. Nossa!
Essa academia é perfeita. Se Beto estivesse aqui falaria alguma besteira.
Típico dele! — falou sem pensar, olhando para todo lugar encantado.
— Quem é Carlos? — perguntei apertando os botões da esteira forte
demais.
— Vai quebrar a esteira, irmão? Pelo que eu estou vendo, a
pobrezinha não te fez nada — zombou Enzo na esteira ao lado.
— Carlos é o treinador da minha academia. Vou ali, Luna está me
chamando — esclareceu Luiz dando-me um selinho em seguida e indo em
direção à minha irmã.
— Controle um pouco o ciúme, irmão. Está tão visível — disse Lucca.
— Muito visível — enfatizou Enzo dando risada.
Percebi os seguranças prendendo o riso, mas com um simples olhar
meu, os idiotas tomaram as suas posturas.
Quando o treino acabou, eu vi que Luiz estava visivelmente
esgotado. Também, todos os meus irmãos acabaram com o meu ragazzo.
Foi diferente ter ele por perto em mais uma coisa que era só minha, mas foi
um diferente muito bom.
Um tempo depois eu já estava pronto com o meu terno habitual e
Luiz com sua roupa da noite anterior lavada por Rita. Tomamos o nosso café
e quando fui buscar a minha pasta, vi a porta do elevador se abrir.
— Sono venuto qui per dare un abbraccio a tua nonna, Filippo! (Vem
aqui dar um abraço na sua vovó, Filippo!)
— Nonna! — meus irmãos gritaram enquanto íamos abraçá-la com
todo carinho, estava com saudade de nonna e só na sua presença percebi.
— Siamo arrivati veloce nonna (Chegou rápido, vovó.) — falou Luna a
abraçando.
— Il volo era molto veloce (O voo foi rápido) — respondeu
sorridente.
— Chi è quel bel ragazzo finalmente un fidanzato Luna? (Quem é
aquele rapaz lindo? Finalmente arranjou um namorado, Luna?) — Olhava
para Luiz.
— Non nonna. Dopo Rodrigues non ha avuto nessun altro (Não, vovó.
Depois de Rodrigues não tive mais ninguém.)
— Niente incontri a questo ci! Questo è il fidanzato di Lippo (Nada de
namoro para essa aí! Aquele é o namorado do Lippo. — disse Lucca com sua
boca maior do mundo, fazendo nonna me olhar assustada e depois olhar
para Luiz novamente, que não estava entendo nada.
— Ele não sabe nada em Italiano, não é? — perguntou nonna ainda
com os olhos vidrados em Luiz, que estava vermelho igual a um tomate.
“Como ele fica lindo assim.”
— Não, nonna. Esse é Luiz Otávio, meu namorado! — falei e vi Luiz ir
de vermelho a branco em milésimo de segundos.
— Sei innamorato? Ti fa bene? (Você está apaixonado? Ele te faz
bem?) — perguntou ela desviando sua atenção de Luiz para mim,
olhandome olho no olho.
— Sì Nonna (Sim, vovó) — respondi firmemente.
— Venha aqui, mio bel ragazzo — chamou nonna Francesa e Luiz foi
com passos incertos. — Bem-vindo a família, Luiz Otávio. Faça meu neto
feliz, ele merece.
— Obrigado, Sra. Aandreozzi! — disse ele sem graça, mas com um
sorriso no rosto — Me chame de Luti!
— Ahh... Se é assim, me chame de nonna, pois é o que eu sou para
você agora! — falou nonna e vi os olhos de Luiz se encherem de lágrimas.

Receber um abraço caloroso da nonna Francesca depois da noite


anterior, foi muito reconfortante. Nunca imaginei que a vida e Filippo fosse
tão perigosa. Sabia que deveria repensar se eu realmente estava preparado
para enfrentar essas coisas, mas o que poderia fazer se queria tanto estar
perto dele? Gosto de sentir seu corpo perto do meu, me causando uma
sensação incrível de conforto.
Quando vi os quatro Aandreozzi abraçar uma senhora de idade, logo
soube que era a nonna deles. Ou melhor... deles não, minha também. Assim
que ela me soltou de seus braços, Filippo me puxou para os dele.
— Por que está chorando, bello? Não é para chorar, nonna gostou de
você — disse Filippo me apertando forte.
— Não é choro de tristeza, eu só fiquei feliz — disse e ele balançou a
cabeça.
— Fique menos feliz, então. Não gosto de lhe ver chorando — falou
com a voz confusa.
— Tudo bem, parou. Viu só?! — falei sorrindo e limpando as lágrimas
quando me afastei.
— Assim é bem melhor — falou com sua carranca normal.
— Eu juro que achei que iria morrer e nunca veria meu neto mais
velho protagonizar uma cena dessas — disse nonna com um sorriso
divertido no rosto.
— A senhora ainda não viu nada, nonna. O nosso ogrinho virou um
ursão fofo — zombou Enzo recebendo um tapa no braço de nonna.
— Deixe seu irmão ser um urso feliz e lembre-se do que eu sempre
digo.
— Filippo merece um pouco mais de amor — disseram os três irmãos
juntos, fazendo nonna rir e Filippo aprofundar mais ainda sua carranca.
— Estou feliz que ele finalmente encontrou alguém para se
apaixonar. Independentemente dessa paixão ter um pau ou boceta — disse
nonna tranquilamente me deixando constrangido.
— Nonna! — repreende Filippo, levando os outros a gargalhadas.
— Deixe de besteira, Lippo. Só estou dizendo que estou feliz. Sempre
quis um neto gay. Acho isso quente!
“Acho que preciso enterrar minha cara em algum lugar.” —
Nonna, assim a senhora vai assustar o pobre Luti — falou Luna.
— Dio mio! Ele é daqueles tímidos fofos. Não seja assim, querido.
Vou te colocar nos meus esquemas — falou nonna maliciosa, me fazendo ter
medo.
— Nem por cima do meu cadáver vou deixar a senhora sair com Luti
— falou Filippo exasperado.
— Você não manda em nada, principalmente, nele. Você vai deixar
Filippo te controlar, meu lindo? — perguntou com desdém.
— Claro que não! Se a senhora me chamar, eu vou sim — disse com
confiança, não ligando para o rosto enfurecido de Filippo.
— Agora eu sei por que Lippo se apaixonou, até eu me encantei por
você, mio ragazzo.
— Vamos marcar uma noite, nonna? Luti vai adorar sair conosco —
falou Luna.
— Vamos sim. Vi na Internet um lugar ideal para levá-lo — falou
nonna sorridente. — Tenho que tomar umas tequilas no tanquinho de algum
gostoso.
— A senhora não deveria fazer essas coisas — bradou Filippo.
— Ora, Filippo. Deixe de ser um chato! O que você está precisando é
ter orgasmos, muitos e muitos! — disse nonna fazendo os irmãos caírem na
gargalhada.
Estava prestes de ver a hora de Filippo estourar uma veia na
têmpora.
— Estou por dentro de todos os lugares indecentes para levar Luti.
— Eu também quero ir com vocês! — disse Lucca se convidando.
— Nonna, a senhora está muito atualizada — disse Enzo sorrindo de
braços cruzados.
— Estou sim, tenho que ver meus pornôs para ficar atualizada.
Aprendi cada coisa meu, neto, que eu nunca imaginaria existir e olhe que eu
sou experiente. — Arregalei os olhos e ela percebeu meu susto. — Não me
olhe assim, os pornôs gays são os mais quentes. Vou te mandar uns links
depois. — Lançou-me uma piscada e começou a se abanar com seu leque.
— Luiz, você não tinha que pegar o resultado da prova? — perguntou
Filippo fazendo todo mundo dar risada.
— Está querendo livrar Luti das garras da nossa avó, irmão? —
perguntou Luna.
— Sim e não! Foi o que realmente ele me disse ontem — falou ele
sério e eu confirmei.
— É verdade! Ainda tenho que passar na casa de Ângela para levá-la
comigo. Foi um grande prazer te conhecer, nonna. — Sorri e ganhei um
abraço gostoso dela.
— O prazer foi todo meu. Não deixe as carrancas desse aí te assustar.
Ouviu bem?
— Pode deixar que isso não acontecerá.
— Gostei mesmo de você, bambino.
— Estarei na empresa, qualquer coisa é só me ligar. Vamos, bello! —
chamou Filippo me puxando.
Entramos no elevador e descemos direto para uma garagem cheia de
carros de luxo e alguns SUV que deviam ser dos seguranças. Mais o que me
encantou foi uma moto incrivelmente foda, que estava do lado da minha
pobrezinha.
— Aquilo ali é uma Ducati XDiavel? — perguntei com a certeza que
meus olhos brilharam.
— Sim. Achei ela bonita e trouxe comigo de Milão. — Deu de ombros
como se não fosse nada demais.
— Você disse que não gostava de motos e agora vejo que tem a
moto mais linda na sua garagem. — Não conseguia parar de encarar a moto.
— Não, bello. Eu disse que não era seguro você ficar andando de
moto, mas não disse nada que não gostava — justificou-se.
“Espertinho!”
— Que seja! Um dia quero andar nessa belezinha. — Sorri.
— Se quiser agora, eu posso pedir a chaves.
— Não! Outro dia quem sabe. — Peguei meu capacete e me ajeitei
na minha moto.
— Bello, vou mandar uma mensagem para você com os códigos para
quando você quiser vir — disse me dando um selinho.
— Tudo bem. Até depois. Vai me ligar mais tarde? — perguntei
colocando o capacete e o vi assentir.
Dei um último aceno e saí do estacionamento. Segui pelas ruas de
São Paulo e não demorei muito para chegar na casa da Ângela. Parado na
porta, mandei uma mensagem para que ela saísse e logo minha amiga
estava lá, linda segurando um capacete para vir montar na minha garupa.
Perguntei de quem era e ela me disse que era do irmão que se mudou e
esqueceu de levar.
Ângela me perguntou se eu estava com Filippo, segundo ela eu
estava com um cheiro diferente. Não tive como negar, pois estava mesmo.
Pouco depois chegamos à universidade e entramos para buscar os
resultados. Demos nossos nomes e uma moça, que suspeitei ser secretária
do reitor, nos passou a lista de aprovados da bolsa. Como o nome de Ângela
começa com A vimos logo seu nome no topo da lista. Descendo mais um
pouco vimos o meu. Senti uma alegria absurda.
— PASSAMOS PORRA! — gritou Ângela pulando em cima de mim.
— Caralho, não dá para acreditar! Passamos, cara! — falei ainda em
choque.
— Sim! Minha mãe vai ficar muito feliz. Fala sério! — Ângela soltava
risadas alta.
— Minha tia Amélia também! Acho que ela vai ficar mais feliz que eu.
Muito bom essa sensação de vitória.
— O dia estava tão legal, mas como nada é totalmente perfeito...
Olhe quem está vindo ali — disse Ângela com desgosto e cara amarrada.
Olhei para onde ela olhava e vi Verônica vindo em nossa direção.
— Olha, o destino nos quer juntos mesmo, Luti. Acredita que eu
também passei. Só que eu vou fazer moda — falou colocando os braços em
volta de meu pescoço.
— Parabéns pela conquista, Verônica, mas é só isso. Não existe nós
dois — disse calmamente me retirando do seu aperto.
— Luti, Luti… tão iludido meu gostoso, Luti.
Fiz uma cara de desgosto. A garota precisava de alguém
urgentemente.
“Que carma!”
— Iludida aqui é você garota, se toca! E outra, Luti está namorando,
solta o homem dos outros! — disse Ângela irritada com a aproximação de
Verônica.
— NAMORANDO? IMPOSSÍVEL!! Quem é essa vadia? — gritou
Verônica me assustando.
— Sim, estou namorando e não é ninguém que você conheça. E não
fale assim.
— Falar como? Magoada? Porque é assim que estou sentindo no
momento — disse com cara de choro.
Ângela começou a rir.
— Se toca, sua louca. Deixa o meu amigo em paz!
— Você ainda vai me procurar, Luiz Otávio. Escreva o que estou
dizendo — falou saindo pisando duro.
— Não sei que invenção é essa dela. Nunca dei nenhum indício que
queria ela — falei confuso com seu comportamento anormal.
— E para gente louca tem isso? Vamos para casa que temos que dar
a notícia da nossa vitória. — Puxou-me.
— Vamos sim, depois de falar com minha tia, tenho que ligar para
contar a novidade ao Filippo.
— Olha, esse lance está ficando sério, não é? Aproveita amigo!
— Está sim, amiga. Está sim!
Fomos embora sabendo que em dois dias retornaríamos para fazer
nossa matrícula e pegar a grade curricular. Deixei minha amiga em casa e fui
para minha. Estava com tanta empolgação, que achava que iria contar logo
de uma vez a minha tia sobre meu relacionamento com Filippo. Ao abrir a
porta, vi Paulo sentado no sofá trocando de canal na TV. Cumprimentei-o e
fui direto para cozinha comer alguma coisa. Estava de costas mexendo na
geladeira, quando senti alguém atrás de mim passando a mão pelo meu
braço. Levei um susto e virei rapidamente vendo Paulo com um sorriso
sacana no rosto.
— Você acha que eu não sei o que você é? Sei que me deseja — falou
Paulo se aproximando, me fazendo recuar com medo.
— Olha, cara. Acho melhor você se afastar. Não sei do que você está
falando — falei o mais firme que consegui.
— Olhe só você falando grosso comigo, mesmo sabendo que eu sei
que você não passa de uma bixinha — falou me imprensando na geladeira.
— Se afasta, filho da puta! — Empurrei-o, mas o desgraçado era
muito mais pesado e alto do que eu.
— Eu sei o que você quer, percebi como olhou para mim quando eu
estava passando a pica na sua tia — disse fazendo meu estômago revirar em
repulsa.
— NÃO FALA ASSIM DA MINHA TIA! — gritei tentando lhe dar um
soco, mas foi em vão.
— Vou te dar o que você quer, viado. Gente do seu tipo gosta de
uma rola gorda socando no cu. Eu te dou isso! — disse com um riso de
escárnio vindo na minha direção.
Ele acertou-me um tapa e agarrou meus braços.
— Pare, me solta! Me deixe em paz! — Supliquei com lágrimas nos
meus olhos.
— Vai ser rápido e muito legal, Luti. — Puxou-me pelo ombro, tentando me
beijar.
— Não encoste suas mãos nojentas em mim!
— Não se faça de difícil, garoto. Aproveite que ainda está achando
alguém para te comer.
— Pare! Me solta, por favor.
— Qual o homem de verdade vai querer um viadinho órfão
encostado como você? — Gargalhou diabolicamente.
Em um movimento rápido, eu consegui acertar um chute com muita
força em suas bolas, onde já se encontrava um pau duro. Que nojo desse
desgraçado! Quando me soltou gritando de dor, eu corri pegando minha
chave e meu capacete e saí de casa sem rumo algum. As lágrimas
embaçaram minhas vistas dificultando de enxergar a pista. Pilotei sem
destino e muito desnorteado até parar no parque Ibirapuera. Sentei
justamente no banco onde eu e meu pai costumávamos sentar.
Não sei por quanto tempo fiquei sentado ali, olhando para o nada
sentindo nojo de mim mesmo. Olhei para o meu celular e vi que Filippo
havia mandado uma mensagem com os códigos do seu apartamento, e foi aí
que chorei mais. Do jeito que Filippo era, não poderia contar o que o
maníaco do namorado da minha própria tia tentou. Estava me sentindo um
lixo humano, mas de uma coisa eu sabia. Tinha que contar para tia Amélia,
para que ela se tocasse o tipo de homem que seu namorado era. Não podia
esconder e deixar para lá.
Levantei do banco com a intenção de ir para casa e contar para
minha tia tudo o que estava acontecendo. Ela era minha tia, iria entender e
não deixaria mais aquele nojento encostar suas mãos sujas em mim.
Cheguei em casa e assim que entrei, vi minha tia sentada no sofá com o
rosto enterrado nas mãos.
— Tia Amélia, nós precisamos conversar — falei sem dar tempo de
perder a coragem.
— Você é gay, Luiz Otávio? — perguntou minha tia. Sua voz saiu
abafada nas mãos.
— O que você perguntou, tia?
— VOCÊ É GAY? — gritou me assustando, olhando para mim.
— Tia, você…
— Responda a minha pergunta, Luiz Otávio! — interrompeu-me. —
Responda a porra da minha pergunta! — Levantou-se em um pulo.
— Se acalme, tia… — Tentei segurar seu ombro para acalmá-la, mas
ela me empurrou.
— RESPONDA, PORRA!
— Sou sim — disse abaixando a cabeça envergonhado.
Ela segurou meu queixo, levantou minha cabeça e me acertando um
tapa forte e estalado.
— Deus! Bem que Paulo me alertou! Ele me disse que você era gay e
vivia dando em cima dele. Eu não acreditei nele, não acreditei no que ele
falou. E hoje você fez pior, Paulo me contou tudo.
Suas revelações me surpreenderam.
— Isso é mentira, tia! Eu nunca fiz isso! — falei desnorteado.
— Fez sim! Você é gay! Você fez! Deu em cima do homem que me
ama! Não bastou eu ter ficado com você depois que seus pais morreram? —
disse cega de raiva e sem noção alguma do que esteva falando.
— Não fale isso, tia! Não faça isso comigo. Olha, sou eu, Luti. A
senhora tem que acreditar que eu nunca faria isso com esse nojento — disse
chorando em súplica.
— Eu perdi minha juventude toda só para cuidar de você, garoto, e é
assim que você me retribui?
— Não foi isso que aconteceu! Quando eu cheguei em casa para te
contar a novidade, Paulo veio com a conversa errada dele. Não tive culpa de
nada.
— Não minta para mim, Luiz Otávio! Já tem dias que Paulo me fala
que você dá em cima dele.
— Isso nunca aconteceu! Por favor, tia, acredite em mim.
— Vai embora daqui, Luiz Otávio!
Parei de chorar e olhei atônito para ela.
— Não, tia, não! Eu não tenho para onde ir. A senhora prometeu
cuidar de mim. A senhora é minha família.
— Pensasse em família antes de me trair assim.
— Por favor, tia! Não faz isso!
— VAI EMBORA! EU NÃO TE QUERO MAIS AQUI! — gritou me
enchendo de tapas.
— Para onde eu vou? — perguntei a mim mesmo.
— SAIA DA MINHA CASA! MALDITA HORA QUE FIQUEI COM VOCÊ!
Ouvir isso de minha tia foi pior do que receber uma facada no
coração. Peguei minha carteira e as chaves da moto e saí outra vez.
“Para onde vou? Quem vai acreditar em mim? Se nem minha tia
acreditou acho que ninguém mais vai.”
Saí sem rumo para tentar apagar as palavras de ódio de Amélia.

Depois que Luiz Otávio saiu, peguei meu carro para ir à empresa.
Chegando lá, Melissa já me lançou a bomba que Antony Mantovani ligou e
que mais tarde retornaria a ligação. Não estava nem um pouco a fim de
ouvir a voz daquele homem falso dos infernos, eu já estava ciente qual era o
assunto que ele queria tratar. Não via a hora de contar logo para os meus
pais e de Luiz contar para tia dele sobre nós. Assim eu iria deixar saber
publicamente e que se foda o que os fodidos preconceituosos iriam achar.
Nunca me importei com opinião de gente abaixo de mim e não seria agora.
— Senhor! O Sr. Pierri está aqui querendo falar com você — disse
minha secretária pelo viva voz do meu ramal.
— Pode mandar entrar! — A porta foi aberta e Luigi entrou com a
cara arrasada.
— Não que eu me interesse, mas sua cara está horrível. Aconteceu
alguma coisa? — perguntei sem interesse algum.
— Bom dia para você também, meu caro.
— Para de enrolar e conta logo, se quiser. — Dei de ombros.
— Problemas familiares chatos do inferno — disse irritado.
— Família, ou você ama ou você tolera. — Mal fechei minha boca e a
porta foi aberta novamente.
— Não precisa avisar nada, cosa più carina. (coisa fofa) — Ouvi a voz
de Lucca conversando com Melissa.
— Altro è il mio lavoro per avvertirti (Mas é meu trabalho avisar,
senhor.) — Ouvi a resposta de Melissa e o som de admiração de meu irmão.
— Relax carino, questo è mio fratello (Relaxe, gracinha, esse aqui é o
meu irmão.) Irmão! Sua secretária é muito eficiente. Vamos trocar? A minha
é horrível, acho que só fico com ela ainda porque ela me traz o melhor café
— disse Lucca entrando de cabeça baixa, mexendo no celular.
— Não sei como você consegue ser tão inconveniente — resmunguei
fazendo Lucca levantar a cabeça.
— Opa! Desculpe, não sabia que estava ocupado — falou sem graça
com os olhos vidrados em Luigi.
— Tudo bem, eu já estava quase de saída — falou Luigi todo
atrapalhado, também olhando para o meu irmão.
— Não se incomode por mim — disse Lucca sem graça.
“Lucca sem graça? Aí tem!”
— Senta aí, irmão. Não vá embora ainda — falei apontando para o
sofá.
— Posso voltar depois e deixar você conversar com seu irmão —
falou Luigi levantando da cadeira.
— Sente-se, Luigi, e fale o que há para você vir aqui.
Olhei para Lucca e vi que ele prestava atenção em nossa conversa.
— Vou ter que ir a Roma, problemas familiares — falou Luigi com
suspiro pesado.
— Tudo bem, alguma coisa que eu possa ajudar? — Não que eu
ligasse para o que ele estava passando, mas queria ver a reação de Lucca à
suas respostas, ele estava muito estranho com a presença de Luigi e
interessado demais em nosso papo.
— Se você pudesse me ajudar a não me casar com uma mulher que
não amo, só porque ela está grávida, seria bom — disse com um sorriso
contido.
— Mas se você não a ama, não deveria se casar. Isso só causa
desgosto futuro. E quanto a gravidez, você pode dar assistência. Às vezes, é
até melhor para criança — disse meu irmão, fazendo Luigi o olhar com mais
atenção.
— Não sabia que tinha mais irmãos, Filippo. Só conhecia Enzo.
— Tenho sim. Lucca e Luna são os mais novos da família. Lucca está
na filial de Chicago e Luana ainda estuda — esclareci observando tudo
atentamente.
— E como é as coisas lá em EUA? — perguntou Luigi a Lucca.
— Muito bem. A mesma loucura de todas as outras filiais —
respondeu voltando atenção ao celular.
— Pode ir tranquilo à Roma, está tudo tranquilo por aqui. Qualquer
coisa eu mando um e-mail.
Ele levantou-se.
— Foi um prazer te conhecer, Lucca.
— O prazer foi meu, Luigi. Boa viagem!
— Obrigado, vou precisar! — disse com um sorriso amarelo, antes de
deixar a sala.
— O que veio fazer aqui, Lucca? — perguntei fazendo ele voltar a
realidade.
— Só queria uma das suas salas para fazer uma videoconferência.
— Pode pedir a Srta. Oliveira que ela arrume uma para você. Quer
conversar sobre isso? — perguntei pelo seu jeito que o vi ficar ao ver Luigi.
Meu irmãozinho ficou muito estranho na presença dele.
— Isso o quê? Não estou entendendo — disse sem mostrar interesse,
desconversando.
— Se é assim, tudo bem. Agora vaza!
— Tão gentil e amoroso. Não sei como Luti suporta você.
— Deixe, mio bello, para lá e vai cuidar da sua vida.

Passei a maior parte da manhã trabalhando em vários contratos para


futuras construções, esperando o contato de Luiz e nada, nenhuma ligação
ou mensagem. Voltei ao meu trabalho até Lucca entrar na minha sala e me
chamar para almoçar. Antes de sair, mandei a mensagem que tinha
prometido para ele que iria mandar.
No restaurante tentei sondar se meu irmão se ele havia se
interessado por Luigi, mas eu era péssimo nessas coisas. Porém, ele não me
enganaria, eu havia visto interesse claro em seu olhar para com meu
funcionário. Assim que terminamos de comer, Lucca foi para casa e eu voltei
para empresa.
— Senhorita Oliveira, se por algum acaso o Sr. Mantovani ligar,
informe que eu não estou, mesmo que eu esteja — mandei sério para fazer
ela entender.
— Tudo bem, senhor. Farei o manda.
As horas foram passando e nada de Luiz Otávio ligar. Eu também não
liguei, pensei que ele devia estar ocupado com alguma coisa, talvez, mais
tarde eu faria isso. Concentrei-me no trabalho e fui despertado pelo toque
do meu celular. Atendi rapidamente pensando ser bello, mas era Brian.
— O que foi, Brian? Aconteceu alguma coisa com Luiz? — perguntei
preocupado.
— Acho que sim, senhor. Ele saiu de casa duas vezes a primeira ficou
sentado no parque Ibirapuera com expressão pensativa, mas logo voltou
para casa. Depois saiu novamente, ele acelerou muito a moto, tanto que o
perdi de vista — disse em um tom profissional.
— Como assim perdeu ele? Que porra é essa? Usou o rastreamento
do celular — perguntei muito enfurecido.
— Sim, senhor, mas indica que ele está em casa. Só que o vi sair.
— Onde ele está, porra? — perguntei a mim mesmo. — Fique
esperando para ver se ele chega em casa. Qualquer coisa me ligue.
— Sim, Sr. Aandreozzi.
Encerrei a chamada.
Arrumei as minhas coisas e saí da minha sala. Ao chegar na frente da
empresa, Elijah já estava com o carro preparado para sairmos, com certeza
ele já havia sido atualizado. Não podia perder tempo, sentia que alguma
coisa havia acontecido com Luiz. Eu não sabia explicar, apenas sentia.
— Sabe onde fica a casa do manobrista? — perguntei e ele assentiu.
— Então é para lá que vamos. — Entrei no carro e seguimos para casa do
amigo de Luiz.
“O que será que aconteceu para ele sair em disparada com a moto?”
Luiz sempre se gabou ser ótimo piloto, por isso tinha que confiar que ele
estava bem e que não aconteceu nenhum acidente ou algo que o
machucasse fisicamente.
Chegamos à frente da casa do manobrista. Elijah bateu na porta e
não demorou muito para ele sair. Ao me ver, ele se assustou.
— Luiz Otávio está aí? — perguntei sem rodeios.
— O que você fez com ele? Eu sabia que gente como você não iria
prestar e acabar machucando o meu amigo! — disse enraivecido.
O olhei impassível, sem me alterar com seu insulto sem
sentido.
— Não que eu deva te dar alguma explicação, mas Luiz estava lá em
casa mais cedo e estava bem. Disse que iria sair para ver o resultado da
prova com a amiga, depois disso fiquei esperando sua ligação e nada. Agora
recebi o relatório que ele saiu de casa em tamanha velocidade e que o
segurança dele o perdeu — expliquei-o o que havia ocorrido, mas por
dentro queria socá-lo.
— Segurança? Você está colocando gente para vigiar, meu amigo?
Você é louco?
Eu já estava perdendo a paciência.
— Não é da sua conta, rapaz! Ele está aí, sim ou não? — perguntei
rude, fazendo-o afastar um passo.
— Luiz não apareceu aqui hoje, mas eu posso ligar para Ângela e ver
se ele não está lá — falou desnorteado e foi pegar o celular.
Quando ele voltou, estava conversando com a garota, mas eu estava
sem paciência nenhuma e resolvi tomar o celular de sua mão e falar com
quem quer que fosse do outro lado da linha.
— Ei! Essa porra de celular é meu, mano. Que caralho! — gritou e eu
nem me importei.
— Alô. Aqui quem fala é Filippo Aandreozzi. Ângela é seu nome, não
é? — perguntei para pessoa na chamada.
— Sou eu mesma! Aconteceu algo? — perguntou a garota com uma
voz preocupada.
— Luiz Otávio está com você? Aconteceu algo quando vocês estavam
juntos hoje mais cedo?
— Não! Tínhamos pego o resultado e estávamos felizes por
conseguirmos. Ele disse que iria para casa e que depois ligaria para você
para contar a novidade.
Por um breve segundo fiquei feliz por ele ter conseguido o que tanto
queria, mas ainda estava preocupado. A hora de comemorar seria depois ao
seu lado.
— Então ele estava bem quando foi para casa? Não aconteceu nada
de estranho?
— Fora a maluca da Verônica que cismou ter um relacionamento
com Luti e o estressou com isso, ele estava bem.
Apertei o celular com toda força. Informação desnecessária no
momento incerto que só me fez ter raiva e ciúme.
— Não teve nada! — assegurou ela.
— Obrigado pela informação. — Desliguei a chamada.
— Você é muito grosso! Precisava encerrar a ligação assim?
Não dei importância ao que ele falava e fui para o carro.
— Eu vou com você, seja lá para onde você vai.
— Não, você não vai!
— Tente me impedir. Luti é o irmão que nunca tive, cara. Quero
saber o que aconteceu com ele, tanto quanto você. — Entrou no meu carro.
Não falei mais nada e entrei. Mandei que Elijah seguisse para casa
dele. O amigo de Luiz não falava nada, mas ficava batucando a porta com a
perna, fazendo um barulho muito irritante. Tentei não estrangulá-lo. Se eu
fizesse isso, com certeza Luiz brigaria comigo, então procurei ignorar o
sujeito irritante sentado ao meu lado. Verifiquei meu celular para ver se
tinha alguma mensagem ou ligação de mio bello e ainda nada.
“Por que ele não me ligou ou procurou?”
Chegamos à sua casa e ao bater, quem atendeu foi um homem que
devia ser o namorado da tia.
— Tia Amélia está por aí, Paulo? — perguntou o manobrista ao
homem.
— Está sim, vou chamá-la. Podem entrar se quiserem — falou e se
virou deixando a porta aberta.
— Obrigado, cara! — agradeceu o amigo de Luti.
Entrei na casa simples e pequena, mas muito bem limpa e
organizada. O amigo de Luiz sentou no sofá e eu preferi ficar de pé. Logo
pareceu uma mulher que parecia ser bonita, mas que estava com os olhos
inchados de tanto chorar. Ao olhar para Beto, ela começou a chorar
novamente. Vi que o homem que atendeu a porta, a abraçou e falou algo no
seu ouvido que ela negou com a cabeça.
— Vocês vieram aqui saber de Luiz Otávio, mas ele não mora mais
aqui — disse o homem com uma expressão séria. Entrei logo em alerta.
— Como assim, tia Amélia? O que aconteceu? — perguntou o Beto.
— Descobri que ele traiu minha confiança. Eu não merecia o que ele
fez comigo — falou e começou a chorar outra vez.
— Querida, você não está em condições de conversar — disse o tal
Paulo.
Desde a primeira vez que vi fotos deste homem não fui com sua cara.
— Eles têm que saber o que Luiz fez — disse encarando o tal Paulo
que suspirou e assentiu.
— O que aconteceu, tia Amélia?
— Luiz estava se insinuando para o meu namorado. No início, eu não
acreditava. Pensava que o meu sobrinho fosse homem e gostasse de
mulher. Quando Paulo me contou, eu não acreditei. Sempre incentivei que
ele namorasse aquela menina, a Ângela. Gosto dela, ela é uma boa moça. —
Ela continuava a chorar enquanto Paulo passava sua mão em um gesto de
carinho no seu braço.
Não sei, mas olhar para aquele sujeito já estava me dando vontade
de pegar minha arma e descarregar nele.
— Não é possível, tia. Tem alguma coisa errada nisso aí! — falou Beto
se levantando e me olhando a espera de alguma reação minha, mas eu só
estava observando a cena que desenrolava diante de mim.
— Não tem nada de errado, ele fez de novo hoje! Quando ele chegou
em casa, perguntei se ele era gay. Porque se ele me dissesse que não, ainda
haveria esperança de que pudesse ser coisa da cabeça do Paulo. Mas ele
confessou! Sim, confessou que era gay, que gosta de homem — falou com
repudio, em um choro melancólico.
Meu controle já estava por um triz.
— O que a senhora fez, tia Amélia? O que a senhora fez com o Luti?
— perguntou Beto.
Eu já estava me preparando psicologicamente para não matar essa
mulher, ela ainda era tia de Luiz.
— Eu o mandei ir embora de minha casa. Não poderia aceitar ele
fazer isso comigo. Eu amo o Paulo, é o primeiro relacionamento que me faz
bem depois que os pais Luti morreram e eu fiquei com ele — disse e o
bastardo a abraçou.
— O QUÊ? COMO A SENHORA PODE? — gritou Beto. — Você
não vai me dizer que acreditou em uma história dessas, vai? — perguntou
para mim.
— O que esse homem tem a ver com isso? Eu nem o conheço —
disse a mulher me olhando pela primeira vez.
— Se acalme, ragazzo! — pedi acalmando o amigo de Luiz. — Vou
responder à sua pergunta — disse encarando a mulher. — Amélia é seu
nome, não é mesmo?
Ela assentiu.
— Sou eu mesma! De onde você conhece, Luti?
— Luiz Otávio é o meu namorado! — falei entredentes, encarando o
Paulo que ficou pálido de uma hora para outra. Como já suspeitava, havia
algo de muito errado.
— Como? Ele não me disse nada que estava namorando.
Ignorei o que ela dizia e continuei a encarar o bastardo.
— Acho que não estamos falando do mesmo Luiz, Amélia. Ele é o
rapaz mais envergonhado que eu conheci. Não teria condições dele se
insinuar para quem quer que seja, pois nem para mim, que sou seu
namorado, ele faz coisas assim. Ele é um doce, engraçado e sincero.
Ninguém me falou coisas tão honestas na vida como ele. E esse bastardo aí
está mentindo. Não sei qual a sua intenção, mas ele mentiu. E você, sendo
tia de meu Bello, conseguiu ser uma cadela com ele. Como pode não
conhecer o garoto que você cria desde a morte de seus pais?
— Eu... Eu... Não sei em quem…
— Sabia que ele passou na prova? — interrompi-a. Ela negou em um
aceno. — Hoje tínhamos acertado para ele contar sobre o nosso
relacionamento. E olhe onde estamos agora! Luiz está sumido, mas eu vou
encontrá-lo. E você... — Apontei para o crápula. — Corra! Corra para bem
longe, pois quando eu encontrar Luiz e ele me contar o que aconteceu, eu
vou atrás de você. Vou te caçar, te torturar e depois de muito sofrimento irei
te matar. Maledetto!
Virei para sair e senti uma mão segurar meu braço. Olhei para tia de
Luiz com toda raiva que estava sentindo e soltei meu braço do seu aperto.
Ela me olhou com medo.
— Eu não queria dizer as coisas que eu disse a ele. Foi no calor da
raiva. Estou arrependida — falou ainda chorando.
“Vagabunda!”
— E é com muita raiva que eu vou te dizer isso agora. Se afaste de
Luiz! Porque uma vadia que confia em uma foda qualquer e não ouvi seu
próprio sobrinho, é mais desprezível que um lixo para mim. — Parei na porta
e olhei para trás onde o bastardo estava. — Se você fez alguma coisa com o
que é MEU, Paulo... Tenho até pena de você. Eu, Filippo Aandreozzi, te
reduzirei a pó.
Saí da casa de Luiz sentindo meu sangue ferver. Minhas mãos
tremiam muito e todo meu corpo gritava para eu voltar lá e tirar da boca
daquele vagabundo todas as mentiras que ele inventou para tia ordinária de
Luiz. Agora eu tinha que me acalmar e procurar pelo meu namorado. Dio!
Esperava fervoroso que nada tivesse acontecido quando ele saiu pilotando.
Precisava ir em casa e pedir ajuda aos meus irmãos.
Deixei Beto em sua casa e ao sair do carro, ele se virou para mim.
— Bom saber que você não acreditou naquelas coisas. Luti não é
assim!
— Eu vou encontrá-lo e o fazer ficar comigo na minha casa — disse
olhando para frente.
— Você é uma boa pessoa. Luti tem sorte de ter você.
— Não! Sou eu quem tenho sorte. Vou encontrar e cuidar do mio
bello.
— Faça isso, tenho certeza que ele está precisando.
Ele se foi e eu senti o carro entrar em movimento. A única coisa que
tinha em minha cabeça era encontrar Luiz Otávio. Não fazia ideia para onde
ele poderia ter ido.
“Isso é uma merda!”
Tinha medo do que eu poderia ouvir de Luiz. O medo que vi nos
olhos de Paulo, me deu a resposta que já sabia. Ele estava mentindo sobre
tudo e ainda tinha mais alguma coisa que eu ainda não sabia o que era, mas
iria descobrir. Nada fica oculto por muito tempo.
Cheguei em casa e fui direto para meu escritório, ignorando os
chamados de meus irmãos.
— Filippo, o que aconteceu? — perguntou Enzo entrando no
escritório.
— Luiz Otávio sumiu. Não faço ideia de onde foi parar. Já fui em
todos os lugares que ele poderia ir. — Sentei-me na minha cadeira,
enterrando os dedos nos meus cabelos.
— Tem certeza, irmão? Ele pode ter saído sozinho e esquecido o
celular — perguntou Lucca entrando junto com Luna e nonna.
— Não. Eu fui até à casa dos amigos e ele não estava. Daí fui à casa
da tia e descobrir que aquela mulher o acusou de seduzir o namorado dela,
só porque ele é gay. Dá para acreditar? — falei muito nervoso.
— Calmati mio nipote che vi mostrerà vedrà (Acalme-se, meu neto,
ele vai aparecer, você vai ver) — disse nonna desgrudando minhas mãos que
estavam agarradas ao meu cabelo e passando a mão nas minhas costas para
me acalmar, mas foi sem sucesso. Só tinha uma pessoa que me acalmaria
agora.
— Ela deve ter dito muitas coisas horríveis para ele. Luiz é órfão,
deve estar se sentindo muito mal — falei exaltado, sentindo meu peito
apertar.
— Essa conversa está muito errada, Filippo. Luti fica vermelho com
qualquer coisa. Ninguém inventa ficar envergonhado, ele não fez nada disso
— disse Luna com firmeza.
— Esse namorado da tia dele inventou tudo, com certeza. Mas a
pergunta é: por quê? — falou Lucca pensativo.
— Não sei, mas vou descobrir. Pode apostar. Agora eu preciso achar
Luiz — disse levantando.
— Nós vamos juntos. Qual é o plano? — perguntou Enzo.
— Vamos procurar por todos os lugares. Nem que eu tenha que
colocar São Paulo de cabeça para baixo, mas eu vou encontrá-lo — falei
saindo do escritório, colocando o coldre com duas armas carregadas nas
costas, pois nunca se sabe.
Quando estávamos indo para porta do elevador, vi que ele estava se
movimentando do térreo par cobertura. Esperei para ver quem estava
chegando, naturalmente devia ser Elijah com alguma notícia. As portas
foram abertas e lá dentro está Luiz Otávio de joelhos, chorando
compulsivamente.
— LUIZ OTÁVIO! — Corri e o coloquei em meus braços.
— Amor! Eu juro que não fiz nada, eu juro! Por favor você tem que
acreditar em mim — falou me abraçando e percebi que seu corpo estava
muito quente, suando e tremendo. — Eu juro! Eu não sei para onde ir,
minha tia não me quer mais lá.
— Eu acredito em você, bello! Você está muito quente. Dio mio!
— Obrigado por acreditar — sussurrou e desmaiou logo em seguida.
— Liguem para um médico! — mandei. Tudo o que sentia era raiva
por aquilo estar acontecendo. — AGORA! — gritei assustando todo mundo,
que só então se mexeram.
Peguei meu bello nos braços e levei para o nosso quarto. Sim, nosso
quarto! Porque dali em diante ele ficaria comigo. Coloquei-o na cama e vi
em seu corpo marcas de agressão. Apertei meus punhos me causando dor,
precisa controlar minha fúria. Luiz necessitava de mim. Depois eu iria atrás
de quem fez aquilo.
Estava pilotando sem saber para onde ir, meu coração estava
sangrando por lembrar das palavras de minha tia. Nunca imaginei que cuidar
de mim depois da morte de meus pais, foi uma coisa tão horrível para ela.
Nunca tive o que dizer do tratamento dela comigo, sempre cuidou
muito bem de mim. E agora, por causa de um homem que ela conhecia há
pouco tempo e que inventou coisas ao meu respeito, ela simplesmente
esqueceu quem sou e me mandou embora.
Pensei que o dia do enterro dos meus pais tivesse sido o pior
momento da minha vida, mas este dia estava se igualando aquele. Perder
meus pais foi devastador, encarar aqueles dois caixões fechados com seus
corpos desfigurados dentro e ouvir pessoas inconvenientes com sua
tentativa falha de me prestar condolências, foi aterrorizante para um
menino de apenas treze anos.
Eu tive a felicidade da minha aprovação sendo esmagada por um
sujeito sem escrúpulos. Ainda sentia o cheiro do perfume barato que
emanava do corpo sujo daquele homem ao me imprensar na cozinha. Sentia
o aperto doloroso de suas mãos imundas nos meus braços e o tapa que ele
me deu estava muito fresco em minha memória. Sentia-me sujo, muito sujo!
“Como vou encarar Filippo agora?”
Vi que minha moto estava ficando sem combustível, parei no
primeiro posto que vi na minha frente. Abasteci e entrei na lanchonete.
Sentei em uma das mesas e abaixei minha cabeça. Não queria mais sentir
aquele aperto no peito. Ainda ouvia os gritos de minha tia na minha cabeça.
Comecei a sentir muito frio e minha cabeça a doer demais. Todos os
poros do meu corpo pedia para se aninhar em Filippo. Eu precisava vê-lo, ele
tinha que acreditar em mim, pelo menos ele tinha que saber. Saí das minhas
lamúrias e fui embora da lanchonete, precisava chegar até o prédio de
Filippo urgentemente.
Consegui subir na moto depois de muito custo, pois meu corpo doía
e se tremia todo. Tudo só piorou após minha pele ter contato com o vento.
Cheguei em frente ao prédio e coloquei minha moto em qualquer lugar. Ao
chegar no hall, fiquei em frente ao elevador privado e me lembrei que não
sabia onde estava meu celular com a senha que Filippo mandou.
— O senhor precisa de alguma coisa? — perguntou uma mulher que
devia ser a recepcionista.
— Eu tenho que subir para cobertura — falei baixo.
— O senhor tem que ter a senha. Está com ela em mãos?
— Não! Deixei no celular — falei e ela fez cara de desgosto.
— Então infelizmente não poderei liberar a sua entrada.
— Ligue para Filippo. Não! Chame Elijah. Isso, chame o Elijah. — disse
sentindo meu corpo tremer muito.
Vi ela sair e ir até o telefone. Falou algumas palavras e desligou em
seguida, vindo na minha direção toda sorridente perguntando se eu
queria me sentar. Neguei com a cabeça e vi Elijah andando na minha
direção.
— Jessica, olhe bem para esse homem. Ele é o namorado do Sr.
Aandreozzi. Da próxima vez que ele aparecer, o trate melhor. Pois você pode
ficar sem emprego em lugar nenhum — disse Elijah olhando severamente
para moça, que arregalou os olhos assustada.
— Eu não... eu não sabia. Me desculpe, senhor! — pediu a tal Jessica
e eu não tive o que falar, pois estava me sentindo muito mal no momento.
— O senhor está se sentindo bem? — perguntou Elijah em um tom
profissional.
— Acho que não! Você poderia colocar a senha para eu subir, Elijah?
— perguntei colocando a mão na cabeça.
— Claro, pode ir, senhor. O Sr. Aandreozzi estava preocupado.
Assenti e entrei no elevador.
Senti o elevador subir e meus joelhos fraquejaram fazendo-me cair
ajoelhado no chão do mesmo. Vi as portas se abrirem e um grito chamar por
meu nome. Senti o cheiro do perfume e sabia que estava abraçado ao meu
italiano. Depois disso, sequer vi ou ouvi mais alguma coisa, tudo escureceu.

Acordei em um sobressalto. Ao levantar a minha cabeça muito


rápido, vi tudo girar. Deitei novamente e comecei a me habituar com o local
onde estava. Era o quarto de Filippo, mas estava sozinho. Procurei-o por
todos os lados e não o vi. Permaneci deitado me sentindo bem melhor do
que estava antes, quando vi a porta do quarto ser aberta e nonna entra com
uma bandeja em mãos. Senti-me um pouco decepcionado por não ser
Filippo ao passar pela porta.
“Será que ele não quer me ver?”
— Vejo que acordou, bambino. Você deve estar com fome. —
Colocou a bandeja ao meu lado na cama. — Não me olhe assim, sei que
esperou o gostoso do meu neto, mas o tirei daqui e o coloquei para comer.
Desde ontem que ele não se alimentava direito.
— Desculpe por isso, nonna! É que quando vi você, pensei...
— Não tire conclusão precipitadas, il mio angelo (meu anjo) —
interrompeu-me. Riu abafado e colocou a bandeja em meu colo assim que
me sentei. — Filippo saiu para comer, ficou até à pouco com você.
Assenti abaixando a cabeça.
— É que, às vezes, tenho pensamentos loucos — sussurrei cansado.
— Não abaixe sua cabeça para ninguém. — Segurou firme meu
queixo, erguendo minha cabeça. — Vou ter que te ensinar a mandar esse
povo tudo ir se foder. Agora coma, o médico disse que você precisa se
alimentar.
— Médico? Por que um médico, nonna? — perguntei alarmado, sem
entender.
— Você chegou aqui queimando de febre e desmaiou logo em
seguida. O médico te examinou e disse que você não teve nada além de
febre emocional. Acredita nesse puto? Ele falou de um jeito como se não
fosse nada demais — disse nonna me arrancando um pequeno sorriso.
— Obrigado, parece estar tudo uma delícia — falei olhando para
bandeja recheada de coisas gostosas.
— Então pare de falar e comece a comer — disse apontando para
comida com uma expressão séria.
— Tudo bem. De quem são essas roupas que estou usando? —
perguntei bebendo suco.
— Luna saiu e comprou umas peças para você. Seria uma grande
visão o ver nu, mas soube que o ursão do seu namorado é ciumento. — Riu
e deitou na cama.
— A senhora é a pessoa mais alto astral que conheço. — Recebi um
carinho da vovó Aandreozzi.
— Luti, a vida já está cheia de gente chata, patética e sem noção. Vivi
uma vida infeliz com meu falecido marido e decidi viver o resto da vida que
eu tenho sem amargura — desabafou e eu vi pura sinceridade no seu olhar.
— Apoio totalmente esse seu ponto de vista. A vida é tão
curta.
— Pois é, aprenda comigo, Luti. Se não agradou, mande todos irem
ao inferno receber pipoca quente do capeta.
Engasguei com a comida. Eu definitivamente já amava aquela
senhora.
— Nonna e sua boca cheia de coisas preciosas a serem ditas.
Virei a cabeça rápido e vi Filippo encostado na porta me encarando.
— Bem, já que seu ursão chegou, vou deixá-los sozinhos — disse
nonna levantando da cama.
— Obrigado, pela comida e pela companhia, nonna — agradeci e ela
balançou a mão em um jeito desdenhoso.
— Fazemos coisas legais pela família, Luti. Lembre-se disso. —
Deume uma piscadela e saiu. Ao passar por Filippo, acertou-lhe um tapa na
bunda o fazendo saltar assustado.
Fiquei esperando Filippo falar alguma coisa, mas ele somente
continuou a me encarar. Então, ele fechou a porta do quarto e caminhou em
minha direção sentando-se na cama. Retirou a bandeja de comida de meu
colo e me puxou para o seu. Foi aí que todas as lembranças do dia ruim
voltaram com força. Chorei, chorei muito, desabei em lágrimas enquanto
Filippo continuou somente me abraçando forte.
— Está pronto para me contar o que houve? Não quero que me
esconda nada, e antes de qualquer coisa, saiba que eu acredito e confio em
você — disse cada palavra olhando nos meus olhos e eu assenti.
— Depois de receber o resultado da prova, eu corri para casa para
contar à minha tia e ligar para você depois. Quando cheguei em casa, só
quem estava era Paulo. Ele veio atrás de mim na cozinha e começou a me
agredir, me chamando de viadinho. E quando ele… ele ia... — interrompi-me
e comecei a tremer. Não conseguia mais falar.
— Caspita! (Ceus!) Shhh… Passou, bello. Você está aqui comigo. —
sussurrou calmamente em meu ouvido, fazendo-me tranquilizar.
— Eu tive que sair de casa e fui ao parque pensar no que fazer. Decidi
que minha tia tinha que saber do ocorrido, mas quando cheguei lá, ela
começou a me acusar de me insinuar para o homem que ela ama. Disse que
Paulo já alertava ela há muito tempo e que só não tinha acreditado antes,
porque não sabia se eu era gay. Mas depois que teve a certeza, percebeu
que ele não estava mentindo. Ela não quis me ouvir, disse coisas terríveis —
falei chorando ainda abraçado a Filippo.
— Essas marcas no seu corpo foi ele quem fez, Luiz? — perguntou
Filippo entredentes e eu afirmei.
— Ele me apertou forte e me deu um tapa. Me desviei dele o
máximo que pude, mas minha pele é clara e qualquer coisa fica assim —
disse tentando não deixar Filippo com mais raiva do que já me mostrava
estar.
— Eu disse para aquele maledetto que se ele tivesse feito alguma
coisa com você, ele iria pagar. E vai! — disse Filippo me apertando bem
forte, tentando controlar a raiva.
— O quê? Você foi lá em casa? — perguntei levantando a cabeça
para olhá-lo.
— Fui sim! Na verdade, foi eu e seu amigo.
— Ela deve ter dito coisas horríveis de mim. Eu não sou assim. Como
ela pôde acreditar em um homem que conheceu há pouco tempo, do que
em mim que sou sua família? — Sentia raiva.
— Eu estou com raiva assim como você, mas ela é sua tia e acho que
quando as coisas esfriarem vocês deviam conversar — falou Filippo
cautelosamente.
— NÃO! Não mesmo, nunca vou esquecer as coisas que ela me disse.
Você me conhece há pouco e acreditou que eu não faria uma coisa dessas. E
o que Amélia fez? Me expulsou de casa como se eu fosse um nada.
— Eu entendo suas razões e não vou dizer o que você deve ou não
fazer, mas eu vou atrás desse Paulo. Ele não perde por esperar — disse
Filippo com os punho cerrados.
— Eu não quero que você lute minhas batalhas por mim, Filippo.
Tenho que aprender a ser forte — disse com firmeza.
— Não vai deixar nem eu dar uma surra nele? — perguntou com uma
cara que me fez rir.
— Eu quero fazer isso! Me ensina, amor? — pedi e em seguida
percebi o que tinha feito. O chamei de amor. Minhas bochechas
esquentaram na hora.
— Você me chamou de que, bello? — perguntou com um sorriso
enorme.
— Nada! Eu disse alguma coisa? Não lembro. — Fiz minha melhor
cara de poker face.
— Não se faça de fingindo! Me chame de novo — pediu firme e eu
neguei com a cabeça. — Eu não vou mandar de novo, Luiz Otávio. —
Jogoume na cama, prendendo-me sob ele.
— Nem se você me torturasse! — Sorri tentando sair de seu colo,
mas ele não permitiu.
— Tem certeza disso? — perguntou e começou a fazer cócegas em
mim.
Filho da mãe! Eu odiava isso. O pior de tudo era que ele era muito
mais forte do que eu.
— Pa-para! Pode parar, amor! Viu só, amor? Amor! — gritei tentando
sair debaixo dele. — Como se fala amor em Italiano? — perguntei e ele
parou com as cócegas.
— Amore! Amore mio. Me chame como você quiser. Eu adoro ver o
sorriso no seu rosto — falou me olhando atentamente. — Não faça mais isso
comigo. Quando algo acontecer, me procure imediatamente, Luiz. Eu fiquei
muito preocupado.
— Desculpe, eu estava muito desnorteado pelas coisas que ouvi. Eu
só saí sem rumo! — disse sem graça.
— Só não faça mais. Ver você com febre, chorando, tremendo nos
meus braços, foi aterrorizante. Eu quero ser aquele que você procura. Sei
que tenho, assim como você, que aprender o que é ter alguém para quem
contar as coisas e partilhar outras. Eu nunca soube ser assim, a não ser com
a minha família. Nós temos que ser amigos, amantes, companheiros. Eu
nunca senti por alguém o que estou sentindo por você. Isso me assusta
demais, só que eu não sou homem de correr, prefiro ficar e enfrentar —
Filippo falou me olhando nos olhos e isso me emocionou.
— Desculpe mesmo, tudo bem? Ficava rolando pensamentos
obscuros em relação a você. Pensava que você também não acreditaria, vim
parar aqui na cara e na coragem. Agora eu vou ter que arrumar um
apartamento ou uma casa para morar — falei desviando meu olhar triste.
— Você vai morar aqui. Já mandei Brian ir pegar suas coisas. Quero
você aqui! — disse Filippo com muita certeza.
Fiquei nervoso.
— Não! Eu não vou morar com você, isso é um absurdo — disse
levantando rapidamente. — Não tem cabimento uma coisa dessas, posso
muito bem morar sozinho.
— Bello, não tem porque você ir morar em outro lugar. Aqui é muito
grande e eu fico sempre sozinho. Meus pais já devem estar chegando e logo
nosso namoro vai ao público, estou passando por um momento delicado —
falou com uma expressão séria que me fez até considerar.
— Nós nos conhecemos há pouco tempo. Você... Você pode me
ensinar a lutar. Você prometeu, lembra?
— Meus irmãos depois do jantar do meu aniversário, já estarão indo
embora junto com meus pais. Só não sei se nonna irá com eles, mas todos
vão embora e eu ficarei aqui sozinho — disse fingindo uma cara de tristeza
que não combinava com ele.
— Gosta de barganhar, Sr. Aandreozzi? Você mesmo disse que gosta
de ficar sozinho — falei cruzando os braços. Não estava a fim de ceder.
— Isso foi antes, muito bem antes de você entrar na minha vida! Que
inferno, Luiz Otávio! Eu sou filho de um ex-mafioso, entendeu? —
esbravejou nervoso. — Aqueles homens vieram atrás de mim. Não entendo
o porquê, mas meu pai sabe o motivo e vai nos explicar. Essas pessoas vão
vir novamente mais cedo ou mais tarde, sei que vão.
— Tudo bem, não precisa se exaltar. Ficarei com você, mas depois
que acabar isso tudo, eu procurarei meu canto. Tudo bem assim? — disse
aconchegado nossos corpos de pé.
— Se você acha que vou te deixar sair daqui, está muito engano.
Siamo spiacenti bello, ma sei bloccato con me (Desculpe, desculpe. Mas você
está preso comigo.) — disse o sacana em Italiano.
Acho que enfezei o cara.
— Dá para você traduzir? Eu tenho que procurar um curso de italiano.
Para ontem! — falei saindo dos seus braços, mas ele me puxou de volta.
— Desculpe, lindo, mas você está preso a mim. Foi isso que eu disse.
Satisfeito? — falou com um sorriso pequeno e eu assenti.
— Esse lance de preso a mim, saiu um pouco estranho. Fazer o que,
né?
Ele selou meus lábios.
— Oh, cale-se. Estou tentando aqui, seu ingrato — disse sério e eu ri.
— Tentando o quê? Só estou sendo sincero, a sinceridade é tudo no
relacionamento.
— Não me viu sendo romântico? Não farei mais se for
assim.
— Não, amor. Isso não foi romântico. Foi esquisito! — Ri e ele
aprofundou a carranca. Filippo deu-me as costas e saiu. — Vai sair assim?
Filippo!
— Vai sair eu e minha esquisitice. — Foi andando e eu saí correndo
pulando em suas costas.
— Bem que Enzo falou e eu não levei fé. Você é um ursão, meu
amor.
Ele riu com alegria.
— Você é pesado, sabia? E olhe que você é pequeno — falou me
segurando, enquanto seguia para sala comigo.
— Eu não sou pesado, meu corpo não tem gordura é tudo músculo.
Viu o tamanho dos meus braços? — Beijei seu rosto.
— Não me faça comparar a minha musculatura com a sua, você
perde feio, piccolo.
— Você é um convencido, Aandreozzi — falei de cara amarrada,
descendo de suas costas.
Chegando na sala, estavam os irmãos Aandreozzi juntos com nonna,
todos de roupas de banho. Quando viram eu e Filippo chegar, Luna veio
correndo me abraçar.
— Você me assustou muito, coniato. Não está sentindo mais nada,
não é? — Luna perguntou me analisando.
— Estou bem, obrigado pela preocupação e pela roupa também.
Acertou em cheio meu tamanho. — Sorri agradecido.
— Não precisa agradecer, somos família — disse ela me lançando
uma piscadela.
— Ahh... Se prepare para nossa linda, mamma, ela adora comprar
nossas roupas e com você não será diferente — disse Enzo vindo também
me abraçar. — Não nos assuste mais assim, nunca vi meu irmão daquele
jeito — sussurrou em meu ouvido e eu assenti.
— Tenho que te dizer, Luti, que minhas armas estão prontas e
carregadas. Querendo, é só me chamar e vamos atrás do figlio di una cagna
bastardo (filho de uma puta bastardo) — falou Lucca recebendo um tapa no
braço de Luna. — Inferno, parem de me bater!
— Então pare de falar besteiras. — Fez menção de bater nele de novo.
— Luti, está bem. Tudo ficou bem. Agora vai lá em cima e coloca uma
sunga branca que eu fiz questão de mandar Luna comprar para você. Vai
ficar mais gostoso do que já é — disse nonna me fazendo ficar vermelho de
vergonha.
— Nonna! — repreendeu Filippo.
— Cale-se, Lippo! Você fica uma delícia com essa bunda dura naquela
sunga preta que a nonna te deu — disse maliciosa e Filippo revirou os olhos.
— Eu vou usar meu calção, nonna. Nada de sunga — falou
balançando a cabeça negativamente.
— Claro que vai! Se eu vou usar, você também vai. Seus irmãos estão
de sunga, olhe isso. — Apontei para Enzo e Lucca, e precisava confessar, eles
ficaram muito bem em uma sunga.
— Pode dizer, Luti, eu fico muito gostoso de sunga — brincou Lucca
convencido.
— Sai, seu ridículo! Eu fico muito mais gostoso — reclamou Enzo.
— Parem vocês dois, estão me dando ânsia de vômito — bradou
Filippo com cara enojada.
— Vamos lá, amor. Vamos nos trocar e mostrar a esses dois quem
fica mais gostoso em uma sunga. — Sorri e pulei nas costas de Filippo
novamente o fazendo sorrir.
— Tenho que confessar que vocês dois ficam bem juntos — disse
Enzo.
— Realmente, meu filho. A cara de apaixonado combina com seu
irmão — falou uma voz masculina, muito grave, com o sotaque mais
carregado que o dos irmãos Aandreozzi.
Olhei em direção à voz e vi um casal de pé olhando para nós. A
mulher linda vestida em um vestido nude que valorizava seu corpo esbelto,
cabelos negros e soltos na altura dos ombros, tinha um rosto choroso. Não
um choroso triste. Reparei que além de chorando ela estava sorrindo
agarrada ao homem. Esse estava de terno, muito bem alinhado na cor cinza.
Seu rosto, por mais que estivesse sério, carregava uma expressão suave.
Pelo forte, sotaque e a semelhança incrível a Filippo, sabia que estava à
frente di casal Aandreozzi, meus sogros. Estava fodidamente com medo!

Toda sala ficou em silêncio ao perceber a presença do casal.


Toqueime de que ainda estava enganchado nas costas de Filippo e pulei
rapidamente para o chão. Tinha total certeza que estava muito vermelho, o
constrangimento que estava sentindo me murchou por completo. Não
imaginei que iria conhecer os pais dele justamente naquela hora, depois do
que eu passei com minha tia Amélia.
“E se eles me rejeitarem também? Acho que não aguentarei mais
ouvir coisas ruins por um bom tempo.”
O pai de Filippo continuava a nos encarar. Eu não consegui suportar o
seu olhar e abaixei meus olhos imediatamente. Ao levantar minha cabeça vi
a mãe de Filippo vir ao seu encontro. Ela estava com um lindo sorriso no
rosto e lhe deu dois beijos na bochecha antes de um abraço bem apertado.
— Não vai nos apresentar seu namorado, meu amor? — perguntou
sua mãe olhando em minha direção.
Filippo deu de ombros e segurou minha mão.
— Mamma, babo... Este aqui é Luiz Otávio, o meu namorado — disse
passando os braços por meu ombro.
— Prazer, querido. Meu nome é Arianna. Mãe desses seres humanos
impossíveis. — Abriu os braços me chamando.
Olhei para Filippo que assentiu me incentivando.
— O prazer é todo meu, senhora — disse respeitosamente e ela me
puxou para me aconchegar no seu braço.
— Oh, querido. Não fique com vergonha. Você não pensou que eu
seria uma megera. Pensou? — perguntou sorrindo.
— Não, claro que não. Todo mundo fala muito bem da senhora —
disse rapidamente.
— Então é esse o alguém que você tem que proteger, meu filho? —
perguntou Sr. Aandreozzi depois de abraçar Filippo.
— Sim, babo. Acho que me apaixonei — disse sem jeito.
Olhei para o seu pai.
— Oh, ele acha? Está vendo isso, nonna? — perguntou Luna a nonna.
— Acha coisa nenhuma! Você precisa ver como ele fica um idiota
perto do garoto dele, Don — falou nonna apontando para o neto — Mais
ainda acho que você foi pior, quando ficava perto de Arianna, filho.
— Mamma! Eu não fiquei um idiota — falou Donatello sério. —
Prazer conhecê-lo, Luiz Otávio — Dei a mão para cumprimenta-lo, mas ele
me puxou para um abraço.
— Estava com saudade, babo — disse Luna docemente.
— Começou, ela já estava demorando — disse Lucca para Enzo.
— Não sabe como essa daí fica quando papai está por perto? —
perguntou Enzo para Lucca.
— Parem de falar assim de sua irmã — disse Donatello puxando Luna
para os seus braços.
— Eles são uns idiotas! — falou Luna.
— Depois vamos sentar e nos conhecer melhor Luiz Otávio. Saiba que
por meu filho lhe escolher e confiar, você já faz parte da família e eu vou
gostar muito de saber sobre o rapazinho que domou o coração zangado
desse garanhão aqui — falou Donatello com muita seriedade, olhando nos
meus olhos. Eu me senti muito bem, como se estivesse diante de um
verdadeiro pai.
— Don tem essa cara de homem mau, mas é muito dócil. Você é
muito lindo e já me conquistou só por eu chegar aqui e ver um belo sorriso
no rosto do meu filho mais velho. Um sorriso que eu não via há muito tempo
— disse Arianna com um sorriso singelo.
Eu não aguentei tudo aquilo, toda aquela receptividade e amor. De
repente, desabei em lágrimas. Sim, chorei muito. Como essas pessoas que
acabaram de me conhecer, já me aceitam e querem que eu faça parte de
sua família? Enquanto eles me deram seus braços abertos, minha tia — a
única pessoa que eu tinha como família — me pôs para fora de casa e disse
coisas horríveis que deixaria marcas eternas em meu peito.
Senti os abraços de Arianna me apertarem em um abraço materno.
Isso fez com que a saudade que eu tinha da minha mãe só aumentasse.
— Fizemos alguma coisa de errada? — Ouvi o pai de Filippo
perguntar e eu me prontifiquei a responder engolindo o choro.
— Desculpe por estar chorando, mas vocês dois me emocionaram.
Confesso que fiquei com muito medo de ser rejeitado por vocês, como eu
fui por minha tia ontem.
Filippo me aconchegou em seu peito e vi sua mãe ficar horrorizada
com o que eu disse e balançar a cabeça negativamente.
— Perdi meu pais muito cedo e fazer parte de uma família tão linda
como a de vocês, me deixou muito feliz. Obrigado por isso.
Donatello assentiu e Arianna me abraçou novamente.
— Tem como não se apaixonar por esse garoto? Já sabe, não é, Luti?
Se não quiser mais Filippo estou aqui — disse Lucca e Filippo enfezou a cara
na mesma hora.
— Acho melhor você parar de falar essas coisas com meu bello —
ameaçou Filippo.
— Deixe o ursão ciumento quieto, Lucca — disse Enzo com o sorriso
brincalhão.
— Eu só quero que vocês me deem netos. Não me olhem com essas
caras assustadas, eu quero netos! Adotem! E como vocês se amam, temos
que resolver logo os preparativos do casamento.
Arregalei os olhos. “Casamento?”
— Anna, amore mio, ainda está muito cedo para planejar um
casamento — disse Don nos salvando.
— Nada disso! Quando há amor, têm que se concretizar a relação.
Somos católicos! — disse fazendo Filippo revirar os olhos e eu reprimir uma
risada.
— Oras, parem de enrolar salsicha e querer planejar um casamento
em cima da hora, ainda temos tempo. Vamos para piscina! Arianna, na sua
mala tem biquíni? — Ela assentiu. — Então vá colocar, minha filha, você está
precisando de um sol. Don, meu filho, coloque esses seus cambitos de fora.
E Luti, vá com seu ursão colocar a merda da sunga — disse nonna com voz
de comando.
— Desculpe, mamma, mas vou levar Filippo, Enzo e Lucca ao
escritório. Vamos conversar — disse Donatello olhando para os filhos.
— Uma porra que vai! Olha, Don, você chegou agora e já quer
colocar banca nessa merda — falou nonna irritada. — Vamos para piscina e
depois conversamos todos juntos! Nada de ficar trancado no escritório. —
Saiu andando. — Andem logo seus lerdos, fiz lanches para nós.
— Acho que a reunião ficará para depois, nonna fica impossível
quando está assim — disse Arianna.
— Vamos, bello. Vamos pôr essas merdas.
Pedimos licença aos seus pais e fomos para o quarto de Filippo. No
closet, tinha uma parte que estava livre e nele tinha algumas peças
guardadas, coisas que Luna comprou para mim. Filippo disse que o espaço
estava liberado para minhas coisas, mas eu ainda não sabia se isso estava
certo. Ainda achava que eu deveria procurar um lugar para ficar, mas ele
queria que eu ficasse com ele. Então, tudo bem!
Filippo colocou a bendita sunga preta. E minha nossa! Ele ficou
perfeito. A peça combinou perfeitamente com ele. Tudo bem preenchido e
muito lindo. Ele tinha pernas musculosas, cintura fina, bunda incrivelmente
perfeita, o peitoral largo e peludo... Oh, céus! Um inferno de homem!
Coloquei a minha sunga branca e vi que Filippo contorceu a cara em
desgosto.
— O que foi? Está feio? — perguntei me olhando no espelho do
closet.
— Não, bello. Pelo contrário, você está incrivelmente comível. Não é
assim que falam? — disse confuso e eu rir.
— Acho que sim, mas você está muito mais. Pode apostar! — Falei e
ganhei um beijo. — Eu ainda estou assustado com a reação dos seus pais.
— Meu pai é um homem muito sério e muito rigoroso quando quer,
mas é um grande homem e carrega as mesmas ideologias que minha mãe;
que o amor está acima de tudo.
— Olhando para eles assim, só me dá mais saudade dos meus. Me
pergunto se eles nos aceitariam — falei com pesar.
— Pelo carinho que você sempre fala sobre eles, eu tenho certeza
que sim, bello.
— Eu também acho que sim. Eu só queria tê-los por perto. — Soltei
um suspiro.
— Não fique mais pensando no que lhe aconteceu, agora você tem a
nós. Somos um bando de gente louca, com uma história mais loucas ainda,
mas ainda assim somos uma família. — Abraçou-me.
— Que história é essa de casamento? — perguntei sorrindo fazendo
Filippo revirar os olhos.
— Minha mãe sempre disse que quando encontramos a pessoa que
nos faz bem, é para casar logo e não perder tempo. Antonella era louca para
que eu me casasse com ela, seus pais queriam esse casamento arranjado
desde sempre, mas os meus nunca aceitariam uma coisa dessa.
— Quem é essa Antonella? Você foi apaixonado por ela? — perguntei
saindo dos seus braços e vi que o italiano sorriu, mas disfarçou.
— Você realmente vai me fazer essa pergunta? — Continuei a
encarálo, esperando ele começar falar. — Tudo bem, mas saiba que se
demorarmos, nonna vai vir nos buscar.
— Você está me enrolando, pode parar com isso. — Cruzei os braços.
— Não estou te enrolando, só não acho um assunto importante para
ser tratado agora — falou enraivecido e eu continuei a olhar esperando
sentado em uma poltrona ao canto. — Tudo bem! Lembra daquela mulher
com quem eu estava no restaurante? Bem, tínhamos um caso. Só isso, um
caso. Os pais dela queriam nos casar e isso nunca iria acontecer. Satisfeito?
— Não! Sei que tem mais coisa aí, mas não vou querer saber agora.
Naquele dia vi que vocês tinham uma certa intimidade — falei com
desgosto.
— Não existia intimidade alguma, nunca tive intimidade com
ninguém além de você. Ela ou qualquer outra nunca dormiu comigo, tomou
banho junto, ou eu fiz tanta questão de ficar tão perto quanto eu faço de
você. — Olhou em meus olhos, me mostrando o quão sincero estava sendo
e isso encheu meu peito de alegria.
— Tudo bem, só não quero que ela ou qualquer outra apareça
dizendo que são noivos e que vão se casar. Eu também tenho loucas que
inventam relacionamentos comigo. — Levantei-me para sair do closet vendo
a cara de confusão do italiano.
Saí do quarto ouvi ele gritar me chamando. Desci para sala correndo
e dando muita risada dos gritos enfurecidos de Filippo. Ao chegar na área da
piscina, fiquei encantado. Era a coisa mais linda da cobertura. A piscina era
enorme e a área bem ampla, tinham umas espreguiçadeiras acolchoada e
duas mesas, cada uma com quatro cadeiras. Era gradeada e tinha placas de
vidro. A vontade era grande de me aproximar da beirada, mas sei que se eu
chegasse para olhar lá em baixo iria sentir muito medo. Como alguém pode
mora em um lugar tão alto assim?
Vi que já estavam todos ali. Nonna boiava na água conversando com
Lucca, que dava gargalhadas. Ariana conversava com Luna sentadas à mesa
tomando suco juntas, enquanto Donatello e Enzo conversavam entre si
sentados ao lado delas. Ouvi Filippo me chamar novamente em um grito e
toda sua família parou para escutar a confusão que estava prestes a
começar. Eu fiz minha melhor cara de desentendido.
— Come si esce bene e non spiega il cazzo che hai appena detto
(Como você sai assim e não explica a porra que você acabou de dizer) —
disse em italiano e eu não entendi absolutamente nada.
Já havia percebido que quando ele estava com raiva, falava em sua
língua materna sem nem perceber.
— Acho que meu irmão está bem zangado. O que você fez, coniato?
— perguntou Luna sorrindo.
— Eu não fiz nada. Estávamos somente conversando e ele me falou
sobre a tal da Antonella — disse vendo o homem à minha frente bufar
raivoso.
— Ahh... Agora está explicado, você deve ter dito algo que ele não
gostou. Estou certo? — perguntou Enzo ao irmão, segurando uma risada.
— Sim! Saiu me dizendo que também tinham loucas que criaram
relacionamentos com ele. E agora quero saber quem é! — disse em um tom
autoritário.
— Não é ninguém que você conheça, então para de falar sobre isso
— disse cinicamente.
— Isso mesmo, Luti! Não se entregue tão facilmente... Vou fazer um
hashtag no meu Twitter. O que acham da hashtag somos todos do time Luti?
— perguntou nonna fazendo todos rirem, menos Donatello e Filippo que
ainda estavam me encarando.
— Não sabia que a senhora tinha Twitter, nonna, vou começar a te
seguir — disse Luna.
— Está por fora de muitas coisas, minha neta — respondeu
ela.
Encarei Filippo.
— Não me provoque, bello. Não sou um homem de ser provocado. —
disse Filippo e eu me aproximei passando os braços na sua cintura e
beijando seu peito. Seu corpo começou a relaxar com o meu carinho.
— Está melhor agora? Respira, amor, não é nada demais — falei
calmo, fazendo Filippo se acalmar rapidamente.
— Desculpe me descontrolar assim. Sei lá, acho que fico cego em
pensar em quem quer que seja querendo você — disse cheirando meus
cabelos e abraçando-me bem forte grudando meu corpo no seu.
— Dio, eterno! É possível pai e filho ser tão parecido assim? — Ouvi a
voz da mãe de Filippo e me recordei que não estávamos sozinhos.
Tinha que parar de fazer aquilo, mas esse homem me fazia esquecer
de tudo.
— O que é isso, Anna? Filippo é muito mais rabugento que eu —
defendeu-se Donatello e Filippo lançou um olhar ofendido para ele.
— Você virou comediante agora, meu filho? Você é chato desde que
nasceu. Oh, bebezinho com cara de joelho que chorava! — falou nonna de
olhos fechados tomando sol na piscina. — Mas ainda assim eu te amo. E
vocês dois, parem de agarramento e entrem na água, está uma delícia.
— Acho que eu ainda tenho muito o que me acostumar com sua
família — sussurrei para Filippo.
— Faça isso bem rápido, bello. Eles são bastantes espaçosos —
sussurrou de volta.
— Você fala assim, mas sei que não vive sem eles.
Ele assentiu olhando para todos.
Dei um mergulho e nadei para perto de Lucca e nonna. Ficamos
conversando coisas aleatórias, até que vimos Arianna com seu maiô preto
com detalhes dourado que tinha certeza ser ouro. A mulher tinha um porte
tão elegante de forma natural, que deixava qualquer um encantado.
Luna estava vindo com ela e as duas conversavam animadas. Ficamos
todos juntos, falei um pouco sobre meus pais, sobre a faculdade que irei
cursar, e isso me fez lembrar que eu teria que me matricular logo mais.
Nonna, Arianna e Luna se ofereceram para ir comigo e depois fazer compras.
Ao ouvir a palavra compras, me desesperei, eu odiava essas coisas.
Mais tarde, nonna e Arianna foram para cozinha fazer nosso jantar.
Eu e Filippo fomos tomar um banho para jantarmos com a família. Quando
Filippo foi para o banheiro me chamou para ir junto, pensei em não ir. Já não
estava mais conseguindo esconder o meu desejo por ele. Ficar junto estava
ficando difícil. Eu era a pessoa mais inexperiente que se possa imaginar,
tinha medo de fazer alguma coisa errada, ainda mais com um homem tão
intimidante como Filippo.
Fiquei parado no banheiro o vendo se despir e abrir a torneira para
encher a banheira. Seu mastro estava lá, majestoso. Mesmo em meia
bomba era fodidamente grande e grosso. Minha cabeça ficava trabalhando
com imagens quentes protagonizadas por nós dois. Minha boca encheu
d’água na intenção de provar um pouco dele.
— O que tanto olha, bello? — perguntou ele me assustando e
fazendo eu levantar as vistas correndo.
— Eu? Eu acho que nada, por quê? — perguntei tentando disfarçar.
— Diga o que você quer. Pode dizer que eu te dou. É só você pedir.
— falou com a voz rouca.
Olhei para baixo novamente e reparei que seu pau estava muito
duro. E Nossa! Era muito mais perfeito do que eu imaginei. Minha boca
salivou ainda mais. Precisava prová-lo.
— Eu quero provar você — disse o fazendo arregalar os olhos. — Eu
nunca fiz isso antes. Deixa eu fazer isso com você. Quero sentir seu gosto —
falei e Filippo soltou um gemido rouco de pura excitação.
— Sabe que podemos esperar um pouco, mas quem sou eu para
rejeitar um pedido desse. Você não sabe o quanto te quero, bello.
— Se eu fizer algo de errado, me fale por favor — falei me
aproximando dele, que já havia se sentado à borda da banheira.
— Faça como você quiser, mas só faça — disse sério me fazendo ficar
com mais vontade.
Ajoelhei-me à sua frente e olhei nos seus olhos que tinham mudado
de coloração, para um azul-escuro. Ver o quanto excitado ele estava, só me
deu mais força para continuar o que eu queria. Deu-me muita vontade de
cheirá-lo e assim fiz. Filippo não era um homem depilado como eu, ele
deixava os pelos pubianos bem aparados e cuidados, mas os tinha. Não
sabia que gostava de pelos até ver que nele ficava muito sexy.
Subi a mão por sua panturrilha até chegar nas suas coxas grossas e
musculosos. Apertei-as bem forte o fazendo arfar. Peguei em seu membro
que já escorria gostas de pré-sêmen e passei a língua na sua glande com
muita vontade sentindo o sabor explodir nas minhas papilas gustativas. O
gosto de Filippo tornou a melhor coisa que já provei em toda minha vida,
nem em todos os meus sonhos mais eróticos que tive com ele, fazia jus ao
prazer que estava sentindo no momento. Ignorei os gemidos dele e comecei
a chupá-lo. Chupei-o muito. Queria muito, queria tudo o que ele pudesse me
dar. Esqueci de tudo a minha volta, só queria sentir o gosto viciante que
Filippo estava me proporcionando.
— Ahhhh... Questo! Chupa. l'assunzione del maschio. (Isso! Chupe.
Toma tudo do teu macho.)
Não entendi porra nenhuma, mas também não liguei, só queria
continuar a chupá-lo.
— Che grande bocca dell'inferno mazza. (Que inferno de boca
gostosa do cacete.)
Os gemidos de Filippo eram tão maravilhosos quanto sua voz com o
puro e verdadeiro sotaque italiano. Continue a chupar massageando suas
bolas pesadas e aprofundei minha boca no seu pau até onde eu consegui ir e
voltei o chupando com muita força percebendo que Filippo se contorcia,
gemia e falava coisas desconexas em sua língua.
— Bello, amore mio. Se você não parar agora, eu vou acabar gozando
na sua boquinha gulosa — disse apertando minha nuca.
Eu nem sequer tive a decência de levantar as vistas e continuei a me
lambuzar no seu pau. Não demorou muito e senti jatos quentes e grossos
invadir minha boca. Engoli tudo o que eu pude, mas era muito. Nunca vi
uma pessoa gozar tanto como estava vendo Filippo.
Senti seu esperma sujar meu peitoral. Olhar para Filippo e ver sua
expressão de puro deleite, foi o meu melhor prêmio da vida. Não tive tempo
de raciocinar nada e fui puxando para um beijo devorador de almas. Filippo
me beijava sem pudor.
— Bello, que delícia de orgasmo você me proporcionou. Obrigado,
amor! — disse entre beijos.
— Você gostou mesmo? — perguntei escondendo meu rosto no seu
pescoço.
— Se eu gostei? Nossa! Estou sem palavras. Foi uma delícia! —
Abraçou-me. — Mas... Mas e você, bello? — perguntou e eu fiquei com mais
vergonha ainda.
— Não há necessidade. Quando vi você gozar, gozei junto na sunga
— assumi completamente envergonhado, fazendo Filippo soltar um outro
gemido e me beijar novamente na mesma intensidade.
— Oh, Dio! Isso é muito bom! Tem certeza que nunca fez isso Luiz?
— perguntou enraivecido e eu me soltei de seu abraço.
— Não faça perguntas idiotas, não sou um mentiroso — falei
ofendido.
— Desculpe. Perdão, bello. Confio em você. Agora vem, vamos entrar
na água.
Filippo entrou primeiro e eu entrei logo em seguida colando minhas
costas no seu peitoral forte. Tomamos nosso banho com uma conversa legal
e carinhos espontâneos. Saímos do banho e ao entrar no seu closet, vi que
minhas roupas já se encontravam no local que Filippo havia separado para
mim.
Procurei por tudo e vi meu celular na pequena bancada ao canto.
Observei que tinha várias mensagens e ligações. Mandei uma mensagem
para Beto avisando que estava com Filippo e bem. Para Ângela, fiz o mesma.
Vi que tinha mensagem da tia Amélia, mas ignorei e apaguei sem ler. Não
queria saber dessa mulher.
Depois do arrumados, descemos para sala onde todos estavam
juntos. Sentei-me com Lucca que ficou me falando de sua vida nos EUA. Em
determinado momento, observei Filippo atender uma ligação e uma
expressão de pura raiva tomou seu rosto. Ele olhou para o pai, Enzo e Lucca,
que entenderam o recado e foram ao seu encontro. Filippo falou algo e eles
concordaram. Depois ele veio em minha direção e abaixou para ficar com
seus olhos na altura dos meus, que estava sentado no sofá.
— Bello, vou sair com meu pai e irmãos, mas daqui a pouco eu volto
— disse cauteloso.
Fiquei com o pé atrás. Algo estava errado.
— Está tudo bem? Algum problema? — perguntei curioso.
— Nada que você precise se preocupar, não vou demorar. Logo
estarei aqui. — Deu-me um beijo.
— Tudo bem. Seja o que for, tome cuidado.
Depois de outro beijo ele saiu falando alguma coisa com os homens,
que não consegui ouvir.
— Acho que já sei o que eles vão fazer — disse Luna se sentando ao
meu lado.
— Se você sabe, então me diz aí. Estou curioso aqui. — Encarei-a.
— Tenho certeza que Filippo foi atrás do maledetto que fez mal a
você.
Arregalei os olhos.
— Você acha? Mas Filippo disse que não iria fazer nada — falei
chateado.
— Ele disse com todas as letras que não iria fazer? — Luna
perguntou
e eu parei para pensar.
— Não, ele não falou.
— Não fique assim, meu doce. Aprenda uma coisa; ninguém nunca
faz mal a um de nós e sai impune. Don é assim e seus filhos são iguais —
disse Arianna se aproximando.
— Ele disse que iria deixar eu cuidar disso — falei chateado com a
situação
— Soubemos o que o namorado da sua tia disse ao seu respeito e fez
com você. Desculpe por isso, mas quando Don soube, ficou com muita raiva
também. Digo-lhe para deixar eles fazerem isso — falou Arianna.
Assenti.
— Você quer se vingar por meu neto não ter lhe contado o que iria
fazer? — perguntou nonna.
Estranhei sua pergunta, mas vi Arianna e Luna rirem.
— Como é isso? Ele vai ficar muito irritado? — perguntei já querendo
saber do que se tratava.
— Claro que vai! Vamos sair. Vamos dar um perdido nesses
seguranças e sair — nonna disse com malícia.
— A melhor coisa é ver um Aandreozzi enfurecido com quem ama —
disse Arianna sorridente.
Eu não entendi o que se passava, acho que a expressão de confusão
ficou obvia em minha face.
— Não queria entender, meu coniato. Eu também não quero saber
— disse Luna fazendo uma careta.
— Só saiba que você vai adorar o resultado depois, pode apostar —
disse nonna piscando para mim.
— Se é assim, vamos sair! — disse levantando.
Todas as mulheres Aandreozzi deram um grito de felicidade. No
fundo, sabia que iria me arrepender. Acho que Filippo ia tirar meu rim,
quando me encontrasse.
Ver Luiz tão fragilizado nos meus braços, quebrou alguma coisa
dentro de mim naquele momento. Não sei o que foi e nem vou ficar me
questionando para tentar entender. Só queria tirar a sua dor o mais rápido
possível no colocar nos meus braços e nunca mais vê-lo daquela maneira.
O médico veio e o examinou sob meus olhos atentos, pois não queria
e nem iria sair de perto dele. Assim que Luiz foi medicado para baixar sua
febre, o médico foi embora me deixando sozinho com meu bello
novamente.
Fui ao banheiro, molhei uma toalha de mão e voltei para o quarto.
Tirei sua roupa com cuidado e o limpei. A cada marca roxa que encontrei no
corpo de Luiz, eu soube que não deixaria quem fez aquilo sair impune.
Depois de ver meu bello limpo, tomei meu banho e me deitei ao seu lado
puxando Luiz para meus braços. Queria protegê-lo do mundo se fosse
necessário.

Acordei no outro dia e vi que Luiz ainda dormia tranquilamente.


Fiquei velando seu sono esperando que ele acordasse logo para
conversamos e eu ver novamente o seu sorriso que tanto me acalmava.
Minha nonna apareceu no quarto me obrigando a ir comer alguma
coisa, já que eu não me alimentei depois que vi meu bello daquela maneira.
Após muitas ameaças, fui comer.
Vi meus irmãos, mas não estava nem um pouco a fim de conversa,
somente fui até à cozinha e comi alguma coisa, enquanto assistia nonna
fazer uma bandeja e levar para o meu quarto. Terminei de comer e fui ao
escritório. Liguei para Beto, o amigo de Luiz, avisando que ele estava bem e
comigo na minha casa. Disse também que depois bello falaria com ele. Após
encerrar a breve chamada, liguei para Elijah. Mandei que ele providenciasse
uma equipe para ir atrás do desgraçado de Paulo. Deixei claro que não
queria desculpas ou falhas, necessitava desse desgraçado capturado para
termos uma pequena conversa. Ninguém mexe com o que é meu e sai
impune. Nunca! Jamais isso iria acontecer.
Depois de acertar tudo com Elijah e acreditar que com ele o serviço
seria feito, voltei para o meu quarto. Entrar e ver meu namorado acordado e
conversando animadamente com minha avó, não teve preço. Quando
conversamos, vi o quanto Luiz estava triste com toda a situação. Fiquei com
mais raiva ainda do bastardo mentiroso, mas, principalmente, de sua tia.
Como uma pessoa da família, que cuidou dele desde criança, pode ficar tão
cega e acreditar fielmente em um homem que não deve estar nem aí para
ela? Quer dizer, homem não, lixo. Ele tentou abusar de seu sobrinho por
causa de sua opção sexual e a vadia sequer deu o benefício da dúvida a ele,
preferiu acreditar em um amor que não existe da parte desse sujeito.
Mas o ápice da minha fúria foi Luiz Otávio me pedir para não fazer
nada com o desgraçado e dizer que era ele quem queria fazer. Agora me
diga se eu poderia permitir uma coisa dessa? Claro que não! Eu prometi
àquele bastardo e iria cumpri. Não via a hora de pôr minhas mãos nele.
Eu amava Luiz e já havia dito isso a ele. No entanto, pronunciei a
declaração em italiano para que o mesmo não pudesse entender. Foi
covardia de minha parte? Foi sim! Sei disso, mas achava que ele merecia
saber que o amava de uma maneira especial. Eu ainda não sabia como ou
quando, mas faria logo.
Ouvir mio bello me chamar de amor, foi algo fora do comum.
Sentime um homem importante. Piegas, eu sei, mas foda-se, foi assim que
me senti.
Depois de conversamos e eu perceber que Luiz estava bem melhor,
descemos para nos juntar aos outros. Quando estávamos brincando em um
momento de descontração juntos, vimos meus pais parados diante de nós,
olhando fixamente para mim e Luiz que estava grudado em minhas costas. A
recepção de meus pais com Luiz, foi o que eu já esperava. Eles nunca foram
pessoas preconceituosas e não seriam pela primeira vez comigo, filho deles.
Mamãe ficou radiante quando percebeu que eu estava realmente
apaixonado por Luiz. Mães sabem das coisas e eu nem precisei dizer nada.
Meu pai permaneceu naquela seriedade de sempre, mas sabia que estava
feliz por mim, porém, isso não queria dizer que eu escaparia do seu
interrogatório depois.
O dia foi passando e tudo foi ficando mais leve. Poderia ser coisa da
minha paixão por ele, mas ficar perto de Luiz só me deixava mais feliz.
Depois de um dia de piscina em família, subi com ele para tomarmos um
banho. Gostava tanto de tê-lo comigo que o chamei para se juntar a mim.
Ver o olhar desejoso de meu bello sobre meu corpo, me deixou em alerta. O
que ele fez em seguida me deixou espantado, maravilhado, excitado e
satisfeito. Foi muito, muito especial. Nossa! Nunca ninguém conseguiu me
satisfazer como o meu bello fez. Eu era um filho da puta sortudo. Que boca
mágica meu namorado tinha. Depois de nosso banho, descemos e assim que
cheguei, senti meu celular vibrar no bolso da calça. Afastei-me de Luiz e fui
atender.
— Aandreozzi falando — atendi Elijah.
— Sr. Aandreozzi, encontramos o sujeito. O que fazemos? —
perguntou ele em seu tom habitual.
— Levem-no para o quartinho que tem no salão de treinamento.
Daqui a meia hora ou mais estarei chegando. — Olhei para meu pai e meus
irmãos que já sabiam o que eu pretendia fazer.
— Será feito, senhor!
Encerrei a ligação. Fui até meu pai e meus irmãos se levantaram do
sofá vindo ao meu encontro.
— Encontraram o maledetto, vou ter que sair para um acerto de
contas — disse e vi meu pai balançar a cabeça firmemente. Enzo alongou o
pescoço e Lucca deu-me o seu sorriso sádico de sempre.
— Vamos com você, filho. Ninguém mexe com um dos nossos e sai
impune para cantar vitória — meu pai falou segurando meu ombro direito.
— Eu também vou. Luti é meu coniato e não merecia isso — falou
Enzo sério.
— Até que enfim uma ação! Já estava ficando entediado — disse
Lucca empolgado.
— Menos empolgação, filho. Lembre-se que o acerto de contas é do
Filippo — meu pai alertou Lucca.
— Ele não vai ser tão ruim em não deixar eu dar um soquinho no bastardo.
Não é, irmão? — perguntou Lucca esperançoso, olhando de meu pai para
mim.
— Acho que eu posso fazer isso, só não podemos matá-lo. Se eu
fizer, bello me mata. — Olhei para Luiz que estava sentado no sofá nos
observando.
— Então vai logo lá falar com ele, temos que ir. Não é mesmo? —
Enzo perguntou e eu assenti.
Fui até meu bello e disse que não iria demorar. Senti que ele queria
me fazer algumas perguntas, mas decidiu não fazê-las no momento. Saí com
meu pai e meus irmãos deixando Luiz conversando com Luna. Entramos no
carro pensando no que eu faria assim que colocasse as mãos no disgraziato
(desgraçado).
Ninguém falou nada durante o trajeto e eu agradeci mentalmente,
não estava muito a fim de papo. Chegamos no salão e eu já avistei a equipe
que foi atrás do maledetto. Passei por eles e os cumprimentei com um
aceno de cabeça, seguindo para o quartinho que Paulo estava preso.
Abrindo a porta e vi no canto direito Elijah e Brian, encostados fazendo a
guarda. Assim que nos viram entrar, pediram licença e saíram do local. Ao
perceber minha presença, Paulo arregalou os olhos de susto e tentou se
soltar. Ele estava de pé, com os punhos presos por uma corrente laçada em
uma viga no teto do quartinho.
Paulo até que era um homem bem-apanhado; pele bronzeada,
cabelos cortados baixo em um tom castanho-avermelhado, corpo musculoso
e alto. As mulheres com certeza caiam em sua lábia de homem forte, mas
para mim ele não passava de uma merda qualquer.
— O que você quer comigo? O que eu estou fazendo aqui? — Paulo
perguntou com o seu medo evidente.
— Eu te disse, Paulo. Disse que quando encontrasse Luiz Otávio e
descobrisse a verdade, eu iria atrás de você. Sempre cumpro o que eu
prometo — falei em um tom altamente perigoso, dobrando a manga da
minha camisa.
— Tudo o que aquela bixinha falou é mentira. Ele é uma puta que
queria me dar o rabo — disse com um sorriso debochado.
Não gostei do que ouvi e desferi dois socos no seu rosto, o fazendo
cuspir sangue.
— Meça suas palavras com cuidado antes de falar besteira, Paulo.
Tenho a intenção de te deixar sair vivo daqui — falei calmamente, andando
até à mesinha onde tinha instrumentos de tortura deixados para mim.
— Eu já disse que não fiz nada! — gritou.
Neguei com minha cabeça sua mentira. Peguei a seringa que
continha uma dose de uma droga especial.

— Não é isso que eu quero ouvir de você. Na verdade, eu estou mais


interessado em ouvir qual é o seu problema com o Luiz Otávio. —
Aproximei-me dele. — Então me diga, disgraziato! Por que inventou essas
mentiras sobre Luiz? — perguntei com um tom ameaçador.
— O que é isso que você tem na mão? — perguntou observando a
seringa.
— Vou responder suas perguntas, mas antes quero a minha resposta
— falei com bastante calma, abaixando a seringa na mesa e pegando o taco
de beisebol.
— Não vou te falar nada, seu filho da puta escroto do caralho! Só
porque tem dinheiro e está comendo aquele cuzinho virgem, se acha no
direito de vir me interrogar — cuspiu as palavras fazendo meu sangue
ferver.
Comecei a bater com o bastão em suas pernas, ouvindo um estalo.
Desconfiei que desloquei sua rótula. Isso me fez sorrir, porque eu sabia que
aquilo doía muito. Quando me cansei de bater nele com o bastão, peguei
novamente a seringa e fui em sua direção.
— Responda a minha pergunta anterior, Paulo. Se por algum acaso
eu não gostar do que eu vou ouvir, você sabe o que vai acontecer, mas dessa
vez arranco sua língua fora — disse enxugando o meu suor da testa em uma
toalha de rosto.
— Está bem, está bem! Eu respondo tudo que você quiser, só não me
bata mais. Por favor — pediu com dificuldade de respirar.
— Qual é a porra do seu problema com Luiz Otávio? Fale! — Usei a
minha melhor voz de comando.
— Eu odeio essa raça dele! — gritou enfurecido e eu o olhei com
confusão. — Luiz Otávio é o tipo menino triste que perdeu os pais e que a tia
fazia de tudo por ele. E ver isso só me deu raiva e nojo. O moleque é bixa!
Uma bixinha! Essa raça para mim deveria ser exterminada da face da terra.
Eu só queria tirá-lo de perto de mim, eu estava começando a gostar da
Amélia e queria ele bem longe, mas antes queria tirar a virgindade daquele
cuzinho nojento. Já falei. Satisfeito? Agora me solte, seu merda!
Ouvi cada palavra que saiu da boca do crápula de braços cruzados.
Prestando bastante atenção. Olhei para trás e vi meu pai e meus irmãos
apertando os punhos pelo ódio reprimido que estavam sentindo. Sabia que
estavam loucos para amassar a face do mostro.
— Vou deixar cada um de vocês descontar um pouco da raiva que
estão sentindo no momento — falei me virando para minha família.
Vi meu pai se aproximar com uma carranca muito séria.
— Nojo, é o que estou sentindo ao olhar para sua cara, seu bastardo
inútil — babo disse desferindo um soco bem forte no estômago de Paulo,
mas antes de sair, cuspiu em sua cara.
— Luti é da família e ninguém mexe com alguém da nossa família —
falou Enzo dando um soco no rosto dele.
— Preconceito é algo tão sujo e muito desumano. Você é um
monstro que deveria morrer! — disse Lucca muito sério, dando um chute
bem forte nas bolas de Paulo. Aquele chute doeu até em mim. Meu
irmãozinho tinha o chupe mais forte de nós.
Olhei no rosto de Paulo e vi que ele estava com alguns hematomas se
formando ali. Gostei muito do que estava vendo. Isso é para ele pagar as
marcas rochas que deixou no corpo do meu bello ao tentar abusar dele. Ele
estava gemendo de dor e seus gemidos eram músicas para os meus ouvidos.
— Chega, por favor. Eu não aguento mais. Eu juro que se você me
deixar sair, eu não conto nada a ninguém. Só me deixe ir — pediu Paulo
cansado com os olhos fechados.
— Claro que você vai sair e não vai contar nada à ninguém. Sabe por
quê? Porque estaremos de olho em você. Isso mesmo, qualquer passo em
falso e você, Paulo, é um homem morto.
Vi esperança surgir no seu rosto, mas ainda faltava a melhor parte de
todas.
— Você me perguntou para que era esta seringa, Paulo. — Apliquei o
conteúdo em seu braço esquerdo.
— Por favor, pare! Por favor! — suplicou Paulo.
— Deixa eu te explicar. Nesta seringa continha uma droga especial.
Essa droga causa um tesão instantâneo. Já está sentindo o efeito? — Olhei
para suas calças e vi que seu pau começa a ficar duro. — Pois bem, toda vez
que você pensar em estuprar alguém, você irá lembrar disso.
Peguei seu pau sujo e com toda força que eu tinha no meu corpo, o
quebrei ao meio. Ouvido seus gritos de dor que logo pararam quando ele
desmaiou.
“Covarde! Eu deveria cortar fora.”
Saí do quartinho e fui direto ao banheiro. Fiz o que tinha que ser feito
para que pudesse me vingar do que ele fez com o homem que amava. Mas
fazer aquilo me trouxe lembranças terríveis de alguns anos atrás.
Lembranças que eu fazia questão de esquecer, porque só me faziam mal. E
foram essas memorias que me tornaram em homem frio e, às vezes, sem
escrúpulos. Mas graças aos sentimentos novos para com Luiz Otávio, a dor
de antes estava sumindo aos poucos.
Nunca gostei de falar sobre isso, foi uma época sombria que eu
passei e esperava nunca mais passar. Tinha coisa ruim nisso tudo. O fato de
eu gostar de fazer isso, talvez, devesse ser atribuído ao sangue ruim de um
mafioso que corria em minhas veias. E se fosse, o que poderia fazer?
“Eu sou assim! E não me importo de ser assim. Só jamais feriria gente
inocente. Isso eu nunca faria.”
Saí do banheiro e já encontrei meu pai dando algumas
recomendações para alguns seguranças. Nessas horas era sempre bom ter o
babo por perto, ele era sempre prático e gostava de tudo limpo para não
haver problemas no futuro.
— Já acertei tudo com os homens, se quiser podemos ir — disse
papai quando eu me aproximei.
— O que o senhor mandou fazerem? — perguntei apenas por
perguntar, não que isso me interessasse de alguma forma.
— Mandei que o deixassem em um hospital avisando que o
encontraram jogado em qualquer canto depois de um assalto e deixei
Richard vigiando ele.
Assenti.
Saímos do salão e fomos direto para minha cobertura. Chegando lá,
senti o clima um pouco diferente. Entrei no quarto à procura de Luiz e não o
encontrei em lugar nenhum. Isso era estranho. Rodei praticamente a
cobertura inteira e nada de Luiz Otavio, Luna, mamma, ou a pior de todos,
nonna.
Vi meu pai andar de um lado para outro na sala, sabia que estava
preocupado. Ele não gostava que mamãe saísse sozinha, principalmente,
com a nonna. Minha avó tinha as piores ideias sempre. Teve uma vez que
ela levou minha mãe para uma corrida de motos ilegal. Quando papai ficou
sabendo, foi um inferno na terra. E é claro que ele foi lá buscar as duas e ao
chegar, estava nonna incentivando minha mãe a montar em uma moto de
um desconhecido. Meu pai ficou tão louco que quase matou o cara que
estava chamando minha mãe para moto. Foi uma loucura!
— Você já percebeu que seu namorado, minha mulher, sua irmã e a
minha dobrável mamãe não estão em casa, não é? — perguntou meu pai
cuspindo fogo de pura raiva.
— Sim, babo, eu já percebi — disse trincando os dentes.
— Para onde foi todo mundo dessa casa? — Lucca perguntou
enquanto bebia algo.
— Eu não sei, mas adoraria saber — falei enraivecido, imaginando
todos os lugares absurdos que nonna possa ter levado Luiz Otávio.
— Mamãe passou dos limites! Ela não pode sair assim sem mais e
nem menos, sem nem avisar — papai disse revoltado.
— Já chamei Timóteo e ele vai nos explicar como não ficamos
sabendo da saída deles — disse Enzo sério.
Não demorou muito e Timóteo, Christian, Alejandro e Jeremiah, os
quatro seguranças patetas, chegaram nos olhando com suas caras
ridiculamente e patéticas em confusão. Vi meu pai olhar para eles com
muita raiva e apontar o dedo para cara um.
— Sabe o que eu vejo na minha frente? Quatro seguranças
incompetentes! Me pergunto o porquê de pagar seus salários se não
conseguem fazer a porra do trabalho de vocês direito! — explodiu meu pai
em gritos com os quatro à nossa frente.
— Onde estão as mulheres Aandreozzi e Luiz Otávio? — perguntei
com toda calma possível, mas por dentro estava louco para socar os
miseráveis burros.
— Não os vimos sair. Na verdade, vimos só a senhora Francesca
quando apareceu nos oferecendo um lanche — Alejandro disse na maior
inocência e eu ouvi a gargalhada de Lucca.
— Dio santo! Vocês já trabalham a tanto tempo para gente e ainda
não conhecem as artimanhas de nonna? — Enzo perguntou impassível.
— Não vimos nada de estranho nisso, senhor — Timóteo falou
recebendo um olhar mortal de Enzo.
— Isso vai ser fácil de se resolver — Lucca disse sorridente. — Eu juro
que um dia desses, nonna vai matar papai do coração.
— Como vamos resolver isso, Lucca? Fala logo, temos que
encontrálos! — papai perguntou rude.
— Simples! Babo, mamãe está usando aquela corrente que o senhor
deu a ela? — perguntou Lucca e papai assentiu. — Então, é só rastrear.
Vocês esquecem que somos precavidos em caso de sequestro — disse
tranquilamente sentando no sofá.
— Isso! Jeremiah, seu caminhão carregado de incompetência, vá
rastrear e encontrar minha mulher até no inferno se for possível — ordenou
meu pai e ele puxou um aparelho do bolso rapidamente.
— Achei! O sinal está bom, podemos ir quando o senhor quiser —
falou Jeremiah.
“Idiota!”
— Então vamos logo, parem de perder tempo, porra! — gritei,
assustando a todos.
— Vai assustar o diabo, Filippo! — Enzo disse irritado.
— Vai se foder! Um dia você vai se apaixonar e nonna vai inventar as
suas travessuras e levar sua namorada com ela — falei entrando no
elevador.
— Vira essa boca para lá, irmão! Vamos logo, o tempo está passando.
Saímos do prédio e entramos no carro. Meu pai foi dirigindo e eu
estava no carona observando a localização marcada pelo rastreador,
enquanto Lucca e Enzo estavam no banco de trás. Ao chegar no local
indicado, fiquei muito puto. Muito puto mesmo! Sabia que clube era aquele
e eu não estava acreditando que o meu tímido e pacato Luti estava naquele
lugar.
— Esse é o lugar que eu acho que é? — Lucca perguntou prendendo
uma risada.
— Sim, é isso mesmo, meu irmão. Nonna e suas ótimas ideias de
diversão — Enzo disse balançando a cabeça negativamente.
— Que lugar é esse? — perguntou babo e todos nós ficando calados
— Respondam!
— Esse é o clube Chicote Quente, um clube exclusivo BDSM — falei
com muita raiva.
— Caspita! Sua nonna não fez isso comigo. Vamos entrar logo nessa
porra. Enzo você pega sua avó e Lucca tire sua irmãzinha desse lugar —
ordenou papai irritado.
Bem lá no fundo eu sabia que não iria gostar muito do que iria ver lá
dentro e comecei o mantra na minha cabeça: “Não vou matar o homem que
eu amo”. Esperava que não precisasse segurar o meu bello pelo pescoço e o
tirá-lo a força do clube maldito.
“Lembre-se, Filippo, ele é o seu primeiro amor, e vocês tem um futuro
juntos.” Com esse pensamento, avancei para entrar no local na intenção de
tirar meu namorado de lá e foder seus miolos quando chegássemos em casa.
Foda-se o romance!
Adentramos no clube depois de muito custo, pois os seguranças do
local não queriam nos deixar entrar e depois de quase uma briga bem feia
entre meu pai e um deles, nossa entrada foi liberada.
Ao entrar no salão, vasculhei todo o local atentamente e vi de tudo
que nunca imaginei ver, pois esse estilo de vida nunca me encheu os olhos.
Mulheres vestidas de roupas de couro, nuas ou praticamente nuas com
coleiras no pescoço e algumas ajoelhadas aos pés de seus respectivos
dominadores. Vi homens na mesmo posição submissa que as mulheres,
enquanto seus dominadores conversam e bebiam seu uísque na maior
tranquilidade.
Continuei a olhar o local e o que eu vi fez meu coração parar. Luiz
Otávio, meu piccolo, estava em cima do palco segurando um chicote de
montaria, olhando incerto para um homem pequeno e magro debruçado no
encosto de uma poltrona, com a bunda imunda virada para o meu
namorado.
Isso foi demais!
“Acho que esse infeliz oferecido vai morrer hoje!”
Vi que Luiz olhava para um lugar específico e balançava a cabeça
negativamente. Olhei para onde ele estava olhando e sentadas à mesa
estavam minha irmã, mamãe e vovó. As traidoras Aandreozzi. Elas gritavam
empolgadas para que Luiz batesse o diabo do chicote no rabo do sujeito.
— Filippo, aquele lá em cima é o Luti? — Enzo perguntou apontando
para o palco.
— Infelizmente sim! — disse com a respiração acelerada.
— Olhe para mãe de vocês. Quanta empolgação! Vou comprar um
negócio daqueles para ver se ela fica assim empolgada — papai falou com
muita raiva, fazendo eu e meus irmãos olharem para ele enjoados. — O
quê? Estão achando que vocês vieram pela cegonha?
— Caspita babo! Não fala uma coisa dessas. Que nojo! — Lucca disse
enojado e eu tive que concordar.
— Entendam, meus filhos. Eu e a mãe de vocês ainda fodemos e
fodemos para caralho! — falou papai malicioso.
— Não! Por favor, eu queria ser surdo nesse momento — Enzo falou
inconformado.
Neguei aquele acontecimento com a cabeça.
— Lippo, se eu fosse você olharia para o palco — Lucca disse
apontando para lá.
Luiz ainda estava no palco com o chicote na mão, mas agora tinha
um outro cara forte e malhado, que eu tinha certeza ser algum fodido
dominador enviado dos infernos. O maledetto estava abraçando o meu
namorado por trás, na tentativa infame de mostrar ao meu bello como
açoitar o submisso de bunda nua.
“Chega! Para mim já foi o suficiente, não dá mais!”
Andei pisando duro até o palco. Ao me aproximar, Luiz me viu e
arregalou os olhos.
“Isso mesmo, meu amor, fique com medo, pois quando eu te pegar...
Ahh… quando eu te pegar não deixarei você andar amanhã.”
Continuei andando até o palco e quando cheguei lá, tirei Luiz dos
braços do dominador morto, pois iria matá-lo por tocar no que é meu.
— Por favor, não fale nada! Não quero ouvir sua voz, não agora e não
assim — falei rude, assim que fiquei de frente para Luiz.
— Amor, eu… eu... — interrompi-o lançando um olhar furioso.
— O que foi que eu falei? Calado, Luiz Otávio! — falei entredentes.
Ele assentiu de olhos arregalados.
Virei-me para descer do palco agarrado ao braço de Luiz e vi meu pai
e meus irmãos também fazerem o mesmo com minha mãe, Luna e nonna.
Elas por sua vez começaram a gritar dizendo que não queriam ir embora,
pois estavam se divertindo. Nonna gritou que Enzo era um matador de
velhinhas, fazendo com que todos no local parassem para ver o que estava
acontecendo. Quando estava descendo com Luiz, algo me barrou. Olhei para
o meu braço e vi uma mão me agarrando com força.
— Se eu fosse você, me soltaria agora — disse em um tom calma,
mas por dentro estava contente por estar tendo a oportunidade de socar a
cara desse agarrador de merda.
— Você não pode o levar contra sua vontade, estávamos nos
divertindo — disse o dominador grosseiro.
— Ele é o meu namorado, não existe a possibilidade de qualquer
divertimento aqui — falei com meu sangue fervendo por dentro.
— Aqui não temos esse lance de namoro, se você for um dominador
podemos compartilhar essa gracinha — falou o dominador morto olhando
para Luiz, que o lançou uma careta enojada.
— Viu o tipo de lugar que você aceitou vir? — perguntei olhando
para bello que continuou calado.
“Melhor assim, amor!”
— E aí, cara? O que me diz?
“Sério que ele perguntou isso? Inútil!”
Soltei mio bello e me virei o mais rápido que consegui, lhe acertando
um belo soco pesado na caixa torácica do dominador. Ele caiu no chão como
uma bagunça de homem, digna de uma cena de cinema. Ele não se
contentou e levantou tentando me atingir, mas fui mais rápido e deferi dois
socos em seu rosto. Quando eu ia lhe acertar mais um, outro homem
apareceu para me socar por trás. Covarde! Desviei e consegui acertá-lo nas
costelas. Eu conseguia ouvir muitos gritos e xingamentos por todo clube.
Meu pai e meus irmãos também estavam brigando, cada um com um
homem.
Nonna acertou uma cadeirada em um cara que conseguiu desferir
um soco no meu pai. Luna pegou uma submissa pelos cabelo e a socou com
gosto em seu rosto, a jogando em qualquer lugar desacordada e começou
uma briga com uma dominatrix. Lucca estava tentando tirar o quarto cara de
cima de Enzo que surgiu do nada.
Senti algo atingir meu rosto e minha barriga. Caralho, aquilo doeu! Vi
que o cara que eu havia derrubado, levantou e me acertou. O submisso do
palco estava tentando me acertar com algo, mas Luiz tomou frente e bateu
com vontade no carinha pelado.
Nossos seguranças e os da boate entrarem no local depois da
bagunça iniciada. Só então a briga foi apartada e nós conseguimos sair do
lugar sem mais problemas com nossos seguranças formando uma barreira
protetora.
No carro, Luiz não falou uma palavra sequer. Ele olhou de relance
para minha mãe e começaram a rir. Olhei para meu pai e ele estava tão
confuso quanto eu. Resolvi ignorar os risinhos. Chegando em casa, coloquei
Luiz por cima do ombro e o levei para o nosso quarto.
— Vamos sair e tomar alguma coisa, Lucca? — escutei Enzo
perguntar.
— Obrigado por isso, irmão, vamos sim — respondeu Lucca com
alívio.
— Eu também quero ir! — Luna disse suplicante.
— Nem fodendo! Vai ler um livro, sua sem vergonha — Lucca e Enzo
disseram juntos e eu ouvi depois pisadas duras no chão.
Entrei em meu quarto e joguei Luiz em cima da cama. Ele olhou para
mim com o rosto tomado por surpresa. Não falei nada e comecei a tirar
minha roupa, precisava tomar um banho antes. Mas quer saber, foda-se!
Tranquei a porta e continue a me despir. O olhar assustado de antes no
rosto de Luiz não existia mais. Sua face havia sido tomada por um desejo
carnal intenso.
— Tire a roupa, Luiz Otávio — falei com voz de comando que usava
com os seguranças. — Agora!
Ele levantou em um pulo da cama e tirou cada peça com os olhos
grudados aos meus.
— Sabe, bello. Eu juro que estava pensando em preparar um clima
agradável para fazermos amor pela primeira vez, mas hoje à noite você
despertou um lado primitivo que eu nunca soube que existia em mim. Estou
com tanta vontade de te foder. — Aproximei-me. — Meu amor, quero uma
foda suja e suada, só para você saber a quem pertence — pronunciei cada
palavra apertando o meu pau rígido como pedra e percebi que Luiz estava
tão excitado quanto eu. — Agora ajoelhe-se e coloque essa sua boquinha
gostosa do meu pau.
Meu bello não perdeu tempo fazendo perguntas desnecessárias e se
ajoelhou à minha frente abocanhando o meu pau com gosto. Nunca iria me
cansar de sua boquinha. Nenhuma das muitas mulheres que já comi
chegaram a alcançar a satisfação que Luiz me proporcionava. Era
incrivelmente delicioso esse momento íntimo com ele. Só com ele!
— Isso, amore. Chupa gostoso! Vai até onde você conseguir. Ahhh...
Que delícia! — Soltei um gemido rouco. — Bello, se você continuar assim eu
não vou aguentar por muito tempo — avisei o pegando pelos ombros e
puxando para ficar de pé.
— Vai fazer amor comigo? — perguntou Luiz acanhado.
Um pequeno sorriso brotou nos meus lábios, mas o fechei
rapidamente e neguei com a cabeça.
— Quem sabe depois, bello. Agora eu só quero te foder! — Beijei-o
com voracidade.
Continuei a beijá-lo com tudo que havia em mim. Um beijo bruto e
com força. Posso dizer que beijar um homem é totalmente diferente de
beijar uma mulher, ainda mais sendo o homem que amava. Tudo ficava
muito mais gostoso e forte, muito forte. Imprensei Luiz na parede o virando
de costas para mim, levantei seus braços e abrir suas pernas.
— Ver você assim é muito prazeroso. Nossa, bello, você não tem
noção de como me deixa louco — disse apertando sua cintura e dando
beijos molhados em sua nuca.
Fui descendo beijos por toda suas costas e ouvi os gemidos de Luiz
me fez continuar o que eu pretendia. Observei sua bela bunda redonda e
abri as duas bandas enfiando a língua varrendo o lugar por todo seu buraco
enrugado.
“Delícia!”
— Ohhhh, inferno! Que coisa boa... O que… o que é isso? — gemeu
Luiz embriagado de desejo. — Ahhh… amor! Continue e não ouse parar.
Porra! — E lá se foi sua timidez.
“É assim que eu gosto Bello.”
Continuei a chupar com gosto seu cuzinho. A cada gemido delirante
de meu bello, tive que usar todo meu autocontrole para não começar a
fodê-lo sem dó. Levantei sobre o protesto de Luiz e o levei até à cama
novamente, colocando-o de quatro e admirado sua posição. Ele estava todo
aberto para o meu bel-prazer. Caminhei até minha gaveta do criado-mudo,
sob olhar atento dele, e retirei de lá tudo que eu precisaria para o momento.
Voltei até meu bello e me ajoelhei atrás dele.
— Sabia que eu sonhava com isso? Eu sonhava em tê-lo assim. Isso é
fodidamente bonito de se ver. Vou te foder agora, amor. Se quiser que eu
pare, é só pedir. Espero que você não peça, estou com muita vontade de
você — falei passando a mão por toda a suas costas e desci até chegar no
seu cuzinho.
Abri a tampa do lubrificante e passei nos meus dedos. Penetrei o
primeiro dedo em seu ânus, sentindo seu corpo enrijecer e o ouvindo gemer
alto. Quando percebi que ele já estava relaxado, não perdi tempo e o
penetrei com mais outro dedo. Comecei a abri-lo com movimentos de vai e
vem deixando o meu amor enlouquecido de tesão. Tive que adiantar e enfiei
mais um dedo. Três dos meus dedos estavam fodendo o traseiro de Luiz
para que ele pudesse me receber.
— Ahhh… Que coisa boa! Como eu nunca fiz isso antes? Oh, céus!
Isso, amor! Isso! Me fode, Filippo! Me fode agora! — pediu enlouquecido.
Era tão bom vê-lo pedindo por mim.
“Chega! Não dá mais, não consigo mais aguentar.”
Rasguei o pacote do preservativo e em seguida deslizei-a no meu
membro. Posicionei meu pau na entrada rosada do meu bello e comecei a
invadir seu corpo, mas parei quando ele pediu e esperei até que se
acostumasse. Nossas respirações estavam ofegantes, nossos corpos suados
e colados um no outro.
— Pode ir, amor! Vai, eu não aguento mais esperar — falou me
incentivando.
— Tem certeza, amore? Eu posso esperar — falei com dificuldade.
— Não! Pode ir e não pare, eu quero tudo!
Fui o penetrando até encaixar tudo perfeitamente. Que coisa incrível
sentir o interior dele. Esperei até que ele se acostumasse com meu
tamanho, e quando menos percebi, ele já estava me incentivando a
movimentar.
Comecei devagar e depois de um tempo aumentei a velocidade. Isso
era fodidamente bom, os gemidos de Luiz eram altos e fazia com que eu o
penetrasse mais forte dando tudo de mim. Quando percebi que estava perto
de gozar, mudei de posição, estava disposto a demorar um pouco mais.
Deitei-o na cama de lado, prendendo Luiz entre minhas pernas, e aumentei
mais a velocidade das minhas investidas.
— Ohhh, Deus! Preciso gozar! Ah, Inferno! — gritou Luiz entre
gemidos.
— Deus, não! Filippo, quem está aqui. Só Filippo! — Mordi seu
ombro com força.
— Porra! Isso, Filippo… Ahhh... Me faça gozar, amor!
Aumentei ainda mais minhas investidas e quando eu estava à beira
do orgasmos novamente, peguei o pau de Luiz e comecei a masturbá-lo. Não
consegui mais me segurar e gozei. Nossa! Gozei muito! Gozei como nunca
antes. Senti o cuzinho dele aperta meu pau e ele gozar também.
— Ahhh… — gritou ele enchendo minha mão com seu sêmen.
Abracei-o e ficamos olhando para o teto do quarto, com as
respirações aceleradas e os nossos corpos molhados de suor. Luiz aninhou-
se em meus braços e eu apertei-o mais cheirando seu cabelo. Não tinha
palavras para descrever a sensação que estava sentindo naquele momento.
Olhei nos olhos de mio bello e só consegui enxergar satisfação e amor.
“Oh, amore, não sabe o quanto te amo.”
— Eu te amo, Filippo Aandreozzi! Obrigado por me fazer completo.
— Luiz disse olhando nos meus olhos, antes de me dar um beijo que foi
correspondido na hora.
— Eu te disse isso uma vez, mas falei em italiano. Acho que tive
medo de me declarar, por isso não quis que você entendesse o que eu tinha
para falar. Mas agora, eu digo com todas as letras. Eu te amo, Luiz Otávio. E
te amar me faz bem.
Ele virou-se para mim e eu o abracei forte novamente, adormecendo
logo em seguida com meu bello. Estava feliz, muito feliz.

Acordei e passei as mãos na cama, mas não encontrei Luiz. Onde ele
estaria? Sentei-me pensando na noite anterior. Nunca imaginei que me
sentiria tão feliz um dia, como eu estava me sentindo. Saí dos meus
pensamentos ao ver Luiz deixar do closet todo arrumado para sair.
Estranhei.
— Vai aonde, bello? — perguntei o vendo saltar de susto.
— Quer me matar do coração, Filippo? — disse com a mão no peito.
— Vou fazer minha matrícula da faculdade e depois sua mãe me chamou
para fazer compras — falou se aproximando da cama.
— E você ia sair sem falar comigo? — perguntei sério, cruzando os
braços.
— Claro que não! Eu ia vir aqui e te encher de beijos — disse
sentando em meu colo de frente para mim. — Mas você acordou antes. —
Selou meus lábios.
— Pensei que iríamos tomar café juntos — falei enfezado, desviando
dos seus beijos.
— Oh, pare com isso, ursão! Não faça birra, que coisa feia! — disse
segurando meu rosto entre suas mãos.
“Eu fazendo birra? Ele falou isso mesmo?” —
Eu não faço birra! — falei irritado.
— Tudo bem, eu acredito em você. Nossa noite foi perfeita, amor.
Muito obrigado. Te amo, mas agora tenho que sair. — Deu-me o último
beijo e saiu do meu colo.
—- Sobreviva a uma saída com minha mãe. Boa sorte! — Levanteime
da cama e percebi que mio bello estava olhando para meu corpo nu. — O
que foi, bello?
— Nada! Já estou saindo. Ah, e antes que você saia pelo mundo me
procurando, vou na casa de Beto depois.
Assenti.
Tomei meu banho, me arrumei e desci para cozinha. Lá encontrei
somente meu pai e meus irmãos comendo. Ao me verem, eles começaram a
soltar risinhos e eu fingi não ser comigo a palhaçada.
— Eita, que a noite foi boa, não é? Nem levantar para malhar você
levantou — disse Enzo prendendo o riso e eu revirei os olhos.
— Não vou falar da minha intimidade com o meu bello para você,
irmão — falei sério sentando na mesa sendo servido por Rita.
— Sério isso? Mas você sempre nos fala uma coisinha. Não vai nem
dizer como foi a experiência? — Lucca perguntou e eu continuei impassível.
— Não é do interesse de vocês dois — falei rude.
— Parem de ser idiotas com seu irmão! Olha, filho, eu queria
conversar contigo sobre o garoto, mas dá para ver nitidamente que vocês
estão apaixonados um pelo outro e eu estou muito feliz por você. Sua mãe
só tem elogios para falar de Luiz. Viva isso, mio bambino, você merece —
falou meu pai segurando no meu ombro direito.
— Obrigado, babo! Agora eu quero saber o que está acontecendo.
Por que os homens da Finastella estão atrás de mim? — perguntei
— Vou ser direto, filho. Nós, homens Aandreozzi, não somos de
enrolar. — Olhamos atentamente para ele. — Quando fazemos nosso
juramento de fidelidade a Finastella, prometemos o nosso primogênito para
servir a máfia — disse calmamente e eu o olhei com raiva.
— E o que eu tenho a ver com isso? O senhor já não faz mais parte da
máfia, eles deveriam me deixar em paz — disse enraivecido, batendo a com
mão na mesa.
— Tem que você é o único primogênito de sangue Aandreozzi para
ser o Capo deles. Não tem outro a não ser você e é por isso que eles o
querem. Lá tem regras filho. Não se preocupe, farei o que for possível e
impossível para lhe proteger e proteger, principalmente, Luiz Otávio.
Fiquei em alerta.
— Por que principalmente Luiz, pai? — perguntou Enzo e eu agradeci
mentalmente pela pergunta.
— Porque eles não aceitam homossexuais e vão associar Luiz Otávio
a sua queda ao pecado, é assim que eles dizem — falou meu pai cauteloso,
encarando-me que continuava calado.
— Quem é o atual Capo da Finastella, pai? Quem sabe não podemos
negociar? — Lucca perguntou.
— É aí que complica. Esse homem Filippo conhece muito bem e sabe
que ele é o pior tipo de ser humano do mundo.
Meu corpo inteiro enrijeceu. Eu já sabia quem era. Só precisava ouvir
o nome do desgraçado que me fez sofrer quando eu era apenas um garoto,
para enlouquecer de ira. Olhei para o meu pai e assenti para que ele
dissesse.
— O Capo é o tio de vocês, o homem que sequestrou Filippo anos
atrás. Meu irmão, Paolo Aandreozzi.
Eu queria gritar, quebrar as coisas, pegar o primeiro jatinho que
estivesse pronto e ir matar o desgraçado com uma única bala, mas não iria
adiantar de nada. Agora não era mais só eu, tinha o meu bello para amar e
proteger. Não podia me abater, tinha que permanecer uma rocha e era isso
que eu iria ser. Senti meus irmãos me abraçarem cada um de um lado, pois
eles sabiam muito bem quem era o maledetto do nosso tio Paolo.
Sair com as mulheres Aandreozzi foi uma experiência única. O jeito
que nonna conseguiu burlar os seguranças, pegar um dos SUV e ir parar no
clube Chicote Quente, foi demais. Até agora eu dou risada das coisas que
nonna fez, nunca iria esquecer a bendita noite.
Aquele clube não condizia com o meu gosto, na verdade, aquilo
assustou o inferno fora de mim, mas continuei porque era muito engraçado
ver nonna gritar para o dominador que estava no palco, que eu precisava ter
mais pulso na minha relação, pois o meu ursão era um homem turrão e
chato. E assim o homem me chamou para subir e chicotear o seu submisso
que estava pelado debruçado na poltrona. Todas as mulheres Aandreozzi
quando me viram no palco, gritaram enlouquecidas para eu chicotear no
pobre rapaz, mas eu não consegui fazer.
Quando o sujeito me abraçou por trás, segurando minha mão que
estava com o chicote, olhei para frente e vi Filippo todo sério com um ar
aterrorizante vindo em direção ao palco. Confesso que me assustei ao
perceber o quanto chateado ele estava. Com tamanha raiva, iniciou uma
briga com o dominador, que logo desencadeou uma confusão no clube onde
a família Aandreozzi era a principal protagonista de todo o fuzuê.
Quando chegamos em casa, eu pensei de verdade que eu já estava
morto. A respiração irritada e a feição calma de Filippo me deu muito medo,
mas ele me surpreendeu quando o vi tirar a roupa. Nossa! Não sei descrever
a excitação que senti no momento. Nunca em toda minha vida pensei
desejar ser fodido da maneira que meu maldito italiano prometeu. Minha
noite com Filippo foi totalmente inexplicável, meu corpo ainda estava
dolorido, mas era uma dor que me fazia querer fazer tudo novamente.
“Deus! Esse homem é fora do comum e o incrível é que ele é todo
meu.”
Acordar no dia seguinte e ter que deixar Filippo na cama, podendo
simplesmente continuar a olhá-lo dormi com sua respiração calma e suave,
sem aquela carranca de homem sério que me excitado e me tirava do eixo
dando coragem para enfrentar a vida agitada que ele levava com sua família,
foi difícil. Mas, como eu tinha marcado com minha sogra — estranho falar
essa palavra; sogra —, mesmo sem muita vontade levantei, fui tomar banho
e me arrumar. Quando já estava quase saindo, vi meu ursão acordado e me
despedi com muito custo dele antes sair. Ao chegar na sala, vi nonna e
Arianna arrumadas me esperando.
— Desculpe a demora, mas já estou aqui. Podemos ir quando
quiserem — disse depois de dar um abraço em Arianna e um beijo no rosto
de nonna.
— Claro que iria acordar tarde depois da noite quente que seu ursão
lhe proporcionou. Tenho que dizer, meu filho, que seus gritos ontem foram
mais altos do que os de Arianna — disse nonna com um sorriso sacana e eu
olhei sem graça para Arianna que estava aos risos.
— Céus! Eu não acredito que vocês ouviram alguma coisa — falei
escondendo o rosto com as duas mãos envergonhado.
— Oh, se ouvimos! Nós sabíamos que isso iria acontecer. Por isso que
Lucca e Enzo saíram ontem — disse Luna vindo em nossa direção. — Aqueles
maledettos saíram e nem me levaram.
— Desculpem, não foi minha intenção. Sei lá, só... desculpe — disse
sentindo meu rosto esquentar.
— Oras, não se preocupe, Luti. Eu te disse que os homens Aandreozzi
enfurecidos era bem melhor do que em seu estado normal. Domenico, meu
falecido marido, era do mesmo jeito. Eu adorava aprontar para ser fodida
com selvageria também — disse nonna fazendo todos rirem.
— Obrigado pela força, nonna. — Sorri em agradecimento.
— Não me agradeça, percebi que vocês andavam muito devagar.
Então resolvi dar um empurrão — disse nonna com fazendo sinal de desdém
com a mão. — Vamos logo, estou louca para ir à universidade do meu novo
netinho, vai que eu arranjo um universitário forte para me foder também.
— Nonna! — gritamos os três presentes em uníssono, recebendo o
dedo do meio.
“Um doce essa senhora!”
Saímos do prédio e ao passar pelo hall, percebi que a recepcionista
me encarava. Do lado de fora, já havia dois carros e quatro seguranças nos
esperando. No primeiro carro; foi Arianna junto com seu segurança
Jeremiah, um moreno alto de cabelos enrolados e olhos verdes. Nonna foi
junto com seu segurança Atílio, que eu nem sabia que ela tinha. Ele era um
homem maduro, mas muito bem-apanhado. Tinha uma cara de mau que
dava um pouco de medo, cabelos grisalhos, maxilar forte e olhos castanhos.
No segundo carro; foi Luna com seu segurança Alejandro, um típico
espanhol de pele bronzeada, olhos e cabelos negros e bastante alto. Além
deles eu e meu mais novo guarda-costas, Brian, designado por Filippo para
me proteger, fomos junto com eles. Brian era alto como os outros
seguranças, pele como chocolate derretido, careca e de olhos incrivelmente
cor-de-mel.
Fiz minha matrícula feliz da vida ouvindo as loucuras de nonna, que
perguntava por onde andava os universitários gatos, enquanto Luna fazia de
tudo para controlar a língua da avó. Depois de todos os trâmites feitos, fui
para forca. Ops! Errei, quis dizer compras. Tive que aturar minha linda e
doce sogra montar roupas para mim para todas ocasiões. Roupas para ir à
faculdade, para algum evento importante que eu teria de ir com Filippo,
roupas casuais, e, não menos importante, também houve sapatos para
combinar com cada peça.
Era incrível estar perto dessas mulheres, me sentia tão bem com a
doçura, gentileza e o sorriso fácil de Arianna, a espontaneidade de Luna e o
humor ácido e ousado de nonna, por isso suportei tudo sem me importar ou
queixar. Todas concordaram que eu agora era um Aandreozzi e que não
poderia sair de qualquer jeito pela rua.
Quando elas me contaram que dali alguns dias seria aniversário de
Filippo, eu fiquei irritado. Ele havia comentado, mas pensei que demoraria
chegar a tal data. Ele não teve a decência de me contar que estava tão
próximo. Inferno de homem! Mas isso era assunto para ser discutido com
ele outra hora.
Almoçamos juntos e quando elas resolveram que era hora de ir para
casa, eu disse que tinha que ir na casa de meu amigo Beto, conversar sobre
tudo o que de novo estava acontecendo. Elas deixaram eu e Brian em frente
à residência de Beto e voltaram para cobertura.
— Sabe, Brian.... Você não precisa ficar aqui fora me esperando, pode
ir e depois eu te ligo, sei lá... — disse enquanto batia no portão.
— Obrigado, mas não, senhor! Ficarei aqui e esperarei até quando o
senhor for embora — disse em um tom profissional e eu fiz uma careta.
— Olha, Brian, eu quero ser seu amigo, já que vamos ficar tão
próximos, por isso me chame de Luti — falei com um sorriso constrangido.
— Como o senhor… quer dizer. Como você quiser, Luti — disse e
acho que vi um sorriso, pode ser coisa da minha cabeça, mas acho que vi.
— Até que enfim deu as caras, Lutito — disse Beto ao abrir o portão
e eu o abracei.
— Bom te ver, irmão! — disse com a mais pura sinceridade.
— Vamos entrar, mano, precisamos conversar. Estive preocupado
com você, mas o ricaço me ligou dizendo que você estava bem — falou Beto
sentando no chão em frente ao sofá que me sentei na pequena sala.
— Não sabia que você e Filippo tinham conversado depois — disse
visivelmente surpreso. Alguém bateu no portão. — Deve ser Ângela, mandei
uma mensagem para ela antes de vir.
Beto abriu e lá estava minha amiga. Quando ela me viu, correu e se
jogou em cima de mim. Por mais que tivéssemos pouco tempo de amizade,
tinha um enorme carinho por Ângela.
— Estive preocupada com você, Lutito. Você está bem? — perguntou
Angel e eu assenti sorrindo.
— Estou bem agora, depois de ser quase abusado pelo namorado de
minha tia e em seguida ser acusado pela mesma por uma coisa que não fiz.
Ah, e não vamos esquecer que fui posto para fora de casa como um
cachorro sarnento. Isso não me fez muito bem — disse sério sobre o olhar
curioso de meus amigos. — Mas, ser acolhido por Filippo e sua família me
fez sentir melhor. Eles são únicos, meus amigos.
— Caralho, Luti! Eu achei que eles não fossem aceitar, mas estou surpresa.
Nunca imaginei que sua tia pudesse fazer uma coisa dessas — disse Beto
derrotado.
— Nem eu achei, Beto, mas é a vida. Eu não posso fazer nada sobre
isso. — Soltei um suspiro.
— Você não acha que depois ela vai te procurar? Pelo o que Beto me
disse, ela pareceu se tocar que o que fez foi errado — falou Ângela.
Neguei com a cabeça.
— Não me interessa se ela se arrependeu ou não. As coisas que tia
Amélia me falou, me machucaram muito. Não quero vê-la, pelo menos não
agora — pronunciei cada palavra com firmeza.
— Você está diferente, Lutito, mas um diferente bom. Esse italiano
está te fazendo bem — Beto falou me analisando e eu senti meu rosto
enrubescido.
— Não me diga que vocês… Você sabe... — falou Ângela curiosa.
Arregalei os olhos para ela.
— Deus! Isso não é da sua conta, Ângela! — gritei abismado e
envergonhado ao mesmo tempo.
— Com certeza não é um assunto que eu esteja a fim de ouvir —
disse Beto exasperado.
— Tudo bem, mas quando estiver somente eu e você, vou querer
saber de tudo — disse Ângela e eu fiquei quieto.
— Já foi fazer sua matrícula na universidade? — perguntei a ela,
tentando mudar o rumo da conversa.
— Fui hoje mais cedo, pensei que iria te encontrar por lá.
— Saí com as mulheres Aandreozzi hoje, elas decidiram me fazer de
manequim. — Deitei-me no sofá cansado.
— Elas parecem ser boas pessoas. Podemos marcar uma saída. O que
você acha, Beto? — perguntou Ângela e eu me sentei no sofá novamente,
negando com a cabeça rapidamente.
— Não vou poder sair por agora, ontem segui na onda de nonna e fui
parar no Chicote Quente. Já ouviram falar? — perguntei e vi meus amigos
soltarem uma gargalhada divertida. — Filippo ainda está um pouco
revoltado com essa saída e estou procurando evitar brigas desnecessárias
com o
Italiano.
— Esqueci que meu amigo agora é um homem casado. — debochou
Beto.
— Vai se foder, Beto! Mas é sério, Filippo ontem começou uma briga
feia no lugar. Tudo porque eu estava no palco com um chicote na mão para
açoitar um cara pelado e o dominador queria se “divertir” comigo — falei
com indignação e vi meus amigos rolarem de tanto rir.
— Isso tudo você fez com a avó dele? — perguntou Ângela entre
risos.
— Sim! Ela é a senhorinha mais incrível que conheci na vida, vocês
vão adorá-la. — Sorri ao lembrar de nonna.
— Isso nunca irá acontecer, Lutito. Esse povo bacana não se mistura
— Beto falou.
— Aí que você se engana. Arianna mandou eu convidá-los para o
jantar de aniversário do Filippo. — Sorri e foi a vez deles arregalarem os
olhos.
— Não sei se é uma boa ideia, Lutito — Beto falou com dúvida.
— Não seja um idiota, Beto! Temos que ir, não podemos fazer essa
desfeita. As mulheres italianas são muito cordiais. Se querem nossa
presença, quer dizer que vão nos receber muito bem — minha amiga falou
severa.
— Tudo bem, então vamos. Luti, você ainda vai trabalhar no
Benedetti? — perguntou Beto.
— Para falar a verdade, eu não sei. Passei por uma situação chata por
lá. Não sei se quero continuar, vou tentar arranjar outro emprego — disse
com bastante dúvida do que fazer.
— Eu também estou querendo trabalhar com outra coisa. Não quero
mais ficar ali, Analú anda me humilhando demais — disse cabisbaixo e eu
me aproximei dele o abraçando de lado.
— Vou ver o que posso arranjar para você, meu brother. Mas sabe
que vai ter que voltar a estudar, não é? — perguntei e ele assentiu.
Eu iria pedir um emprego para Beto ao Filippo. Ele tinha me
fornecido antes e eu não aceitei. Sabia que trabalhar com ele não devia ser
uma coisa fácil, mas sabia também que Beto com seu jeito único, poderia
dar certo. Mas antes precisava conversar com Filippo sobre isso.
Passei boa parte da tarde com meus amigos, mas já estava no meu
horário de ir. Saí da casa de Beto e na frente já estava um carro me
esperando.
“Oh, isso é tão estranho!”
Brian estava com a porta do carro aberta. Olhei para Ângela e quis
lhe dar uma carona que ela aceitou na hora. Depois de deixarmos minha
amiga em sua casa, seguimos para o prédio de Filippo. Ainda era estranho
dizer que era minha casa também, mas precisava me acostumar. Chegando
lá, encontrei Donatello e Arianna sentados no enorme sofá.
— Boa tarde, família! — disse assim que olharam na minha direção.
— Você falou com Filippo? Ele te ligou? — perguntou Arianna aflita.
— Não, por que a pergunta? — perguntei já temeroso.
— Ele conversou com o pai, logo depois voltou para o escritório e
agora não atende o telefone. Para Filippo não atender nossas ligações, é
porque ele está muito chateado — Arianna falou preocupada.
— Eu vou vê-lo! Será que ele está ainda na empresa? — perguntei e
Donatello assentiu. — Logo estarei de volta.
Antes de sair, mandei uma mensagem para Brian que já tinha me
alertado sobre isso. Ele disse que sempre quando eu fosse sair, era para
avisálo. Quando cheguei no hall, Brian, já estava à minha espera.
Entrei no carro e seguimos para Aandreozzi SPA. Ao chegar no local,
tomei um baita susto. Céus, o lugar era enorme e lindo! Na recepção havia
uma mulher muito bonita, tinha certeza que ela poderia ser uma modelo se
quisesse. Cheguei perto dela com Brian em meu encalço e vi que seu nome
era Suzana.
— Boa tarde, senhorita! A senhorita pode me informar onde fica o
andar de Filippo Aandreozzi? — perguntei na maior gentileza possível.
— Tem hora marcada? — Suzana perguntou.
Olhei automaticamente para Brian, que pediu para eu esperar um
momento. Vi meu segurança falar com alguém no celular e desligar
rapidamente. Não demorou e o telefone da recepção tocou. Suzana atendeu
e vi seu semblante mudar. Ela deu um risinho sedutor para outra pessoa do
outro lado da linha e isso me deixou confuso.
— Pode ir, senhor. Elijah disse que sua entrada é sempre permitida
— ela disse ainda sorrindo.
“Mulher estranha!”
Entrei no elevador com Brian e perguntei se ele sabia qual era o
andar. Ele apertou o último botão e subimos. Ao chegar, observei o quanto
era tudo bonito. A estrutura era toda em aço e vidro, mas não era hora de
observar o lugar. Vi que Elijah estava parado mais à minha frente e eu lhe
dei um sorriso amigável.
— Cadê ele, Elijah? — perguntei.
— Está em sua sala com a secretária — disse temoroso e eu franzi a
testa. — Não é nada disso, senhor! Na verdade, ele está gritando com ela.
— Para de me chamar de senhor. Eu sou Luti, nada de formalidade comigo.
Deixe-me ir ver o que esse homem tem. — Passei por Elijah e fui até à porta
que ele me indicou.
— Você é muito burra! Que porra de relatório é esse? — gritou
Filippo enfurecido e isso me fez estremecer.
— Desculpe, senhor! Irei consertar meu erro. Desculpe novamente.
— Ouvi uma voz feminina bem calma, mas trêmula.
— Não vai ser… — Abri a porta o interrompendo.
— Bello? O que faz aqui? — perguntou Filippo de olhos arregalados
ao me ver no seu escritório.
— Vim te levar para casa, mas vejo que está ocupado — disse
virando-me para moça que mais parecia uma garotinha assustada, mas que
devia ser mais velha que eu. A pobre mulher me olhou com os olhos
arregalados e até admirados, eu acho.
— Ainda estou ocupado, bello. Não vou para casa agora — Filippo
falou enfezado, sentando na sua cadeira.
— Como é seu nome? — perguntei a moça que me olhava ainda
bestificada.
Ela olhou para Filippo e abaixou a cabeça.
— Deixe ele para lá e me diga seu nome.
— Melissa Oliveira, senhor — sussurrou.
— Bem, Melissa... Tenho certeza que seu dia hoje foi terrível. —
Olhei para Filippo que me retornou com um olhar ofendido. — Pode sair,
Melissa. Deixe-me aqui com esse senhor. — A observei olhar para Filippo
que fez um gesto com a mão despachando a moça.
Assim que ela saiu, olhei para Filippo. Ele estava com uma expressão
horrível. Aproximei-me devagar, afastei sua cadeira e sentei em seu colo.
Quando fiz, Filippo me abraçou e cheirou meus cabelos aspirando-os bem
forte. Levantei minha cabeça e lhe dei um beijo lento e amoroso. Beijei sua
boca macia e quente de sabor indescritível. Encerrei o beijo e me aninhei a
ele novamente.
— Agora vai me contar o que há com você? — perguntei.
— Estive conversando com meu pai hoje e descobri o porquê aqueles
caras estavam atrás de mim.
Levantei a cabeça para encará-lo.
— O que eles querem com você?
Ele suspirou cansado.
— Querem que eu seja o Capo deles, já que eu sou o único
primogênito de sangue Aandreozzi.
Minha cabeça deu um nó.
— Me explique isso direito. O que é um Capo? — perguntei confuso.
— Capo significa chefe. Eles querem que eu seja o novo chefe da
máfia Finastella. — Deu outro suspiro. — Todo soldado quando entra na
Finastella, promete seu primeiro filho homem para servir à máfia quando
chegar na idade certa. Meu pai quando entrou, fez esse maldito juramento e
lá tem regras. Regras que devem ser cumpridas. Eles me querem a qualquer
custo, principalmente, o Capo que eles servem no momento. Esse sim me
quer lá de qualquer jeito — falou entredentes.
— E quem é esse homem? Se seu pai não faz mais parte disso, por
que eles te querem tanto?
— Porque esse desgraçado é o mesmo que me sequestrou na porta
da escola quando eu tinha apenas onze anos de idade. Esse desgraçado é o
irmão de meu pai, o fodido Paolo Aandreozzi — falou com uma calma de
arrepiar os cabelos da nuca.
Abracei-o forte na tentativa de conseguir emanar um pouco da dor
que estava sentindo.
— Não sabia que nonna tinha outro filho — falei baixo.
— Paolo não é filho de nonna Francesca, é filho de uma das amantes
de meu avô. Mas ele morou com nonna quando tinha uns quinze anos de
idade, só que nunca gostou dela e fazia de tudo para infernizá-la.
— Quer me contar o que aconteceu quando você esteve com Paolo?
— perguntei e senti seu corpo endurecer. — Não precisa me falar agora,
amor. Quando quiser desabafar, estarei aqui para te ouvir.
— Obrigado, bello. Eu precisava disso. Te amo! — declarou-se
olhando em meus olhos.
Sorri.
— Estou chateado com você, ursão mal-humorado — falei com uma
falsa cara de zangado.
— O que foi que eu fiz para merecer tal chateação? — perguntou
confuso.
— Não me contou que seu aniversário é em poucos dias, disse
apenas que estava próximo. Isso não se faz, homem! — disse o fazendo
gargalhar.
— Não gosto muito do meu aniversário, bello — disse
sucinto.
— Estou pouco me fodendo para isso, vai ser seu primeiro
aniversário comigo. Não é uma coisa boa? — Sorri e recebi um selinho.
— É uma coisa ótima, mio bello — disse com a voz rouca.
— Vamos para casa, italiano carrancudo. Estou morrendo de fome.
— Saí de seu colo.
Vi Filippo levantar e arrumar suas coisas na pasta. Antes de sair pela
porta, deu-me um beijo bem gostoso que me fez suspirar. Oh, inferno! estar
apaixonado nos torna patéticos, mas eu gostava de ser patético. Saímos e
quando eu estava passando por Melissa, parei e puxei Filippo pela mão.
Indiquei-a com a cabeça e pedi apenas com o olhar para que ele falasse com
ela.
— Ei, Melissa. Filippo quer falar uma coisa com você. — Sorri para
pobre moça que sofria na mão do ursão.
— Tenho? Eu não estou sabendo de nada que eu tenha que falar com
ela — disse sério com sua habitual carranca de homem mau.
— Tem sim, ele quer te pedir desculpas pela ignorância de mais cedo.
Não é? — perguntei sério olhando para ele.
— Tudo bem. Olha, senhorita Oliveira, me desculpe por ter gritado.
Mas a porra do relatório estava uma porcaria, conserte essa merda e quero
na minha mesa amanhã — disse rude.
Balancei a cabeça negativamente. Impossível! Filippo era totalmente
impossível.
— Prazer te conhecer, Mel! — falei sendo puxado por Filippo, mas
antes dei uma piscadela para moça que deu um sorriso discreto.
— Que porra de intimidade é essa com minha secretária? —
perguntou Filippo enraivecido.
— Ciúmes, amor? Não precisa, eu sou teu. — Sorri.
— Acho bom mesmo! — falou severo e me beijou na frente de quem
quer que estivesse passando por ali.
Depois de ser beijado pelo dono da empresa, na frente de todos os
seus funcionários, fui embora para casa com meu homem sério, ciumento,
grosso e mal-humorado. O mais importante disso tudo, era que todos viram
que ele era meu. Amava seu jeito ogro de ser. Não o mudaria em nada.

Era o meu aniversário. Eu não gostava da data desde o momento que


fui levado pelo meu tio. Desde esse dia, me tornei outra pessoa com uma
casca dura em volta. Mas depois que Luiz entrou em minha vida, estava me
sentindo melhor. Não posso dizer que seria diferente com os outros, pois eu
não podia.
Acordei no meu horário habitual e fiz meus exercícios diários. Até
isso se tornou mais prazeroso de fazer, já que meu bello acordava junto
comigo para se exercitar também.
Não contei a Luiz sobre meu bate papo com Paulo, sabia que ele
devia ter uma noção de que naquele dia eu fui encontrá-lo, mas como ele
não perguntou, não seria eu a entrar no assunto.
Há alguns dias Luiz me disse que não queria mais trabalhar de
garçom, essa notícia me deixou mais relaxado, trabalhar à noite o deixava
mais acessível aos meus inimigos. Eu achava que Paolo ainda não sabia do
meu relacionamento com Luiz, mas isso não demoraria a acontecer.
Havia acabado de voltar da obra que estava em andamento no antigo
bairro de Luiz. Por lá tudo se encaminhava como tinha que ser. Estava
trancado em meu escritório depois de ligar para Luigi, que já havia
retornado de viagem. Convidei-o para o jantar que minha mãe estava
fazendo em comemoração ao meu aniversário, enquanto esperava meu
bello aparecer para almoçarmos juntos. De repente, comecei a ouvir uns
gritos do lado de fora. Quando menos esperei, a porta foi aberta
abruptamente e a imagem de Antonella surgiu com Melissa logo atrás.
— Amore mio, essa sua secretariazinha não quis liberar minha
entrada. Não pude acreditar na sua audácia — disse Antonella.
— Desculpe, senhor, mas não pude evitar essa situação — disse
Melissa visivelmente envergonhada.
— Que isso não se repita, não quero gente inconveniente entrando
na minha sala sem permissão — falei com irritação.
— Sim, senhor. Desculpe.
— Agora pode ir, senhorita Oliveira.
Ela saiu.
— Como assim gente inconveniente, amore? Sou eu, sua futura
esposa — disse me fazendo irritar mais ainda.
Coloquei-me de pé e saí de trás da mesa.
— Que porra você quer aqui, Antonella? Não me chame assim, sua
puta dos infernos! Eu não sou nada seu, você nunca será minha mulher —
esbravejei cuspindo puro ódio.
“O que essa puta está fazendo aqui?”
— Não fale assim comigo, Filippo! Pensei que o tempo que eu estive
fora você ficaria mais calmo e nós poderíamos resolver a nossa situação —
disse com cinismo.
“Vadia!”
— Que relação, Antonella? Já te falei que nunca existiu nada entre a
gente. Eu só te fodia quando estava a fim. — Cada palavra que saia de minha
boca era de puro ódio. Minha vontade era de enforcar a mulher e ver sua
vida esvair pelas minhas mãos.
— Eu vim aqui te ver. Trouxe até seu presente de aniversário,
querido. Depois podemos passar a noite juntos. — Aproximou-se.
— Saia daqui, Antonella! Vai embora. Me deixe em paz, seu lugar não
é aqui! — falei entredentes.
— Deixa eu te fazer relaxar, querido. Sei que esse tempo que fiquei
fora você não esteve com ninguém.
Se eu não tivesse com muita raiva, poderia até dar risada.
“Vagabunda! Eu amo o meu bello.”
— Filippo? — chamou uma voz que eu já conhecia muito bem.
Meu bello estava parado na porta com um olhar triste, olhando
diretamente para Antonella que estava próxima demais do meu corpo.
— Bello, não é nada disso — falei exasperado e vi que Luiz estava se
afastando para ir embora. — Luiz, não vá! Espere, bello! — Mas já havia sido
tarde, Luiz saiu sem olhar para trás.
— Bello? O que está acontecendo aqui, Filippo? Quem era aquele
pobretão? — perguntou Antonella.
Virei-me abruptamente e peguei-a pelo pescoço com muita força, a
imprensando na parede. Antes que eu pudesse fazer alguma coisa com a
vadia, liguei para Elijah.
— Elijah, diga para Brian que não deixe Luiz ir embora. — Desliguei a
chamada e voltei a encarar Antonella que estava muito vermelha. —
Antonella... Você deixou meu bello entristecido e isso é uma coisa que eu
não posso aceitar. Já te pedi para me deixar em paz! Faça isso, me deixe em
paz, estou namorando! — disse com toda calma do mundo.
— Mas… mas você não pode! — disse ela com dificuldade.
— Posso sim, eu o amo. Amo de um jeito que nunca chegarei a amar
ou aceitar você. — Apertei mais seu pescoço. — Eu poderia te matar agora,
sabia? — disse assistindo seu rosto ficar roxo.
— Filippo, não faça isso! Solte ela! Amor?! — Senti os braços de meu
bello envolta da minha cintura.
Soltei a vagabunda que começou a puxar respiração com força e
tossir muito.
— Bello, ela apareceu aqui…
— Não fale nada, Filippo — interrompeu-me. — Desculpe por sair
assim. Eu confio em você — disse firmemente e eu assenti lhe dando um
beijo.
— Você é gay, Filippo? Gay?! Agora eu sei porque você não me quer,
não existe homem no mundo que não me queira — gritou Antonella
parecendo um pato rouco e doente.
Não me dei o trabalho de virar para olhá-la e continuei abraçado a
Luiz.
— Já deu para ver que você não tem mais nada para fazer aqui. — Ele
virou-se para ela e eu o abracei por trás. — Por isso peço que se retire —
pediu sério. Tão sério que me deixou excitado, ainda mais ele roçando sua
bunda no meu pau.
— Como é que é? Com que direito você pode me mandar embora
daqui? — perguntou ela com sua voz aguda e enjoativa.
— Como o direito de marido dele! — disse Luiz com a maior
naturalidade e eu enchi meu peito de orgulho.
“Gostei disso, gostei mesmo disso!”
— Marido? — Deu uma gargalhada forçada, mas depois voltou a nos
encarar e viu que Luiz não estava brincando e que eu nem me importei.
Continuei a cheirar o cabelo de meu bello.
— Você já acabou por aqui? Porque temos um almoço para ir —
disse Luiz.
Antonella fez uma cara de desgosto.
— Sua felicidade vai acabar, assim que Paolo descobrir que você
corrompeu o pupilo dele — falou Antonella com desdém e eu quis avançar
novamente nela, mas Luiz me impediu.
— Não me importa o que esse Paolo ache. Só quero que vá embora!
— Luiz falou sem se alterar, não sei como ele conseguia.
— Isso não vai ficar assim! Você vai morrer, coisinha. Escreva o que
estou dizendo — Antonella falou irada.
Eu estava usando todo meu autocontrole para não matá-la ali e agora.
— Posso até morrer amanhã, daqui a uma semana ou um mês. Mas
lembre-se de uma coisa, Antônia. Ops! Antonella. Lembre-se que você só
não morreu hoje por causa do meu bom coração, mas não se engane. Se
você tentar mais uma vez encostar a mão no meu italiano, eu mesmo te
matarei.
Esta avisada, capisce? — disse Luiz sem demonstrar nenhuma raiva.
“Cadê meu bello tímido?”
Caspita! Eu realmente estava excitado, meu bello deixou Antonella
paralisada. Ele aproveitou a deixa e pegou o celular. Após digitar alguma
coisa, Brian entrou na sala e puxou Antonella colocando-a para fora sem
dizer mais nenhuma palavra. Assim que a porta foi fechada, agarrei Luiz o
colocando em cima da mesa e beijando sua boca gostosa. Desci minha boca
até seu pescoço, mordi, lambi, cheirei, fiz tudo o que eu queria para aplacar
o meu desejo ardente pelo meu bello naquele momento.
— Ei, amor.... Não! Espere aí, homem! Temos um restaurante para ir
— disse Luiz ofegante entre beijos.
— Podemos ficar aqui e foder na minha mesa. Nunca fiz isso só para
você saber.
Ouvi Luiz dar uma risada.
— Outro dia, quem sabe. Mas agora temos que ir. Estou com fome,
amor.
Soltei-o a contragosto.
— Tem certeza que entendeu que eu não estava me agarrando com
Antonella?
— Sim. Quando Elijah me encontrou e falou quem era a vadia, me
lembrei dela naquela noite no restaurante. Por isso eu voltei. Me desculpe
de novo por sair assim — falou com uma expressão sentida.
— Tudo bem, bello, não se fala mais nisso. Vamos almoçar!
Saímos juntos para ir ao restaurante, precisava ficar um tempo
sozinho com Luiz, ainda não havíamos tido isso. Não que eu estivesse
reclamando da presença da minha família, mas eu iniciei meu primeiro
relacionamento no meio dos Aandreozzi e não era uma coisa fácil de lidar.
Por isso que decidi almoçar no dia do meu aniversário somente com ele, e
claro que mamma não gostou muito. Ela queria um almoço em família como
os típicos italianos fazem.
Depois de um almoço calmo com Luiz, tive que voltar ao trabalho e o
meu namorado — ou marido, ainda não sabia — saiu para se encontrar com
a sua amiga Ângela. Voltei ao escritório e tive uma notícia que não me
agradou muito, pois teria que viajar à trabalho. Tinha certeza que Luiz não
iria comigo, já que suas aulas começariam em breve tanto na faculdade
quanto no curso de línguas que eu mesmo o matriculei sobre o protesto do
meu jovem independente. Devido a isso, estava certo de que ele não me
acompanharia.
Não conseguia mais me imaginar dormindo sozinho. Podia até ser
loucura da minha parte, mas as noites que dormi com Luiz eram muito
reconfortantes e me davam paz. Por causa disso, não me via mais ficar sem
sentir o calor do corpo de meu bello ao meu.
Saí da empresa e fui direto para casa. Chegando lá, vi minha mãe
colocando flores em alguns vasos. Ao me verem entrar, me deram mais um
abraço dos vários que recebi ao acordar. Saí do aperto de minha mãe e segui
para o meu quarto encontrando meu bello mexendo no celular. Coloquei
minha pasta em qualquer lugar e subi na cama.
— Eu não sei como você não gosta do dia do seu aniversário — disse
ele assim que me aproximei.
— Só não gosto, bello. Deixa esse assunto para lá. Vem tomar um
banho comigo — pedi sugestivamente.
— Você é um ursão grande, velho e safado — disse Luiz caindo na
risada.
— Velho? Como assim velho, Luiz Otávio? Está vendo algum velho
aqui? — perguntei rude e ele desatou a rir mais ainda.
— Desculpe, não foi minha intenção magoar seu ego, meu amor —
falou docemente e me amoleceu.
“Bandido!”
— Vamos ter que conversar sobre Antonella? — perguntei cauteloso.
— Nem se eu quisesse poderia. Brian foi buscar meus amigos e acho
que já chegaram — falou saindo da cama. — Não me olhe assim, mais tarde
eu te recompenso.
Ele me jogou um beijo e saiu. Já que meu bello não quis ir comigo
para o banho, tive que ir sozinho. Terminei meu banho e fui ao closet me
arrumar. Não me assustei quando vi que minha roupa já estava separada,
isso com certeza era obra de minha mãe. Coloquei a calça Jeans, uma camisa
branca, um blazer preto e meus sapatos de mesma cor. Depois de terminar
de me arrumar, desci para encontrar Luiz e assim que cheguei à sala, o vi aos
risos conversando com o amigo manobrista, uma menina que devia ser a tal
Ângela, nonna e Luna.
Olhei para outro canto da sala e vi Enzo, Lucca e Luigi conversarem.
Percebi que meu irmãozinho Lucca prestava bastante atenção em tudo que
Luigi falava. Não sei dizer, mas suspeitei que ali tinha interesse de alguma
forma. Quando olhei novamente para meu bello, meu pai entrou na minha
frente.
— Eu conheço essa cara e sugiro que você desfaça ela. Não precisa
ter ciúmes dele, filho. É nítido para todos que ele te ama — falou meu pai
Olhei para Luiz, ele olhou-me de volta lançando uma piscadela.
— Obrigado, pai, mas agora eu tenho que ir até lá.
Meu pai assentiu.
— Olhe só como ele ficou gostoso nessa calça apertada — disse
nonna e eu olhei sério para ela.
— Nonna, olhe lá o que a senhora vai falar — disse observando os
risinhos dos amigos de Luiz.
— Cara, sua avó é mó barato. As coisas que ela contou aqui, é
maravilhoso — disse Beto abraçando minha avó e eu não gostei nada
daquilo.
— Não use gírias comigo! E dá para você soltar minha nonna? —
perguntei irritado. — Soggetto più abusato. (Sujeito mais abusado.)
— Eu poderia estar abraçado a sua irmã, mas estou aqui com sua avó
— falou ele com cinismo, olhando para minha irmã.
Aquilo me fez querer socá-lo ainda mais.
— Isso faria com que você perdesse os braços. Pode apostar! —
Estava muito irritado.
Luiz me abraçou pela cintura.
— Calma, fratello maggiore. È il tuo compleanno (Calma, irmão mais
velho. É o seu aniversário) — disse Luna e eu assenti.
Oh, esse carinha era irritante.
— Você não seria capaz de uma coisa dessas — Beto desafiou-me
fazendo querer mostrar a ele do que eu era capaz de fazer.
Luiz soltou uma gargalhada.
— Beto, meu amigo. Fique quieto, porque você não tem noção das
coisas que Filippo é capaz de fazer — disse meu bello olhando para mim.
— Com certeza acho melhor você não saber, continue assim. É só
uma dica — disse Luna e voltou sua atenção a amiga de Luiz.
— Buon Compleanno, Filippo! (Feliz aniversário, Filippo!) — desejou
Ângela.
— Grazie, Ângela! — agradeci surpreso com suas felicitações vindas
em italiano.
— Você sabe falar em italiano, Angel? — perguntou Luiz e todos a
olharam com curiosidade.
— Um pouco, meu falecido avô era italiano e me ensinou algumas
coisas — respondeu gentilmente.
— Eu não vejo a hora de aprender logo, Filippo, às vezes, fala sem
perceber e isso me deixa confuso — falou Luiz e eu o lancei um olhar de
desculpas.
— O jantar já está servido, pessoal — disse minha mãe fazendo todos
nós irmos para mesa.
Seguimos até lá e, como sempre, minha mãe deixou tudo
perfeitamente arrumado e alinhado, mas como uma típica família italiana,
nada ficaria daquele jeito por muito tempo.
Já sentamos para comer, todos conversavam uns com os outros. Não é
porque eu era antipático, mas eu nunca fui muito de falar e por isso que
meus irmãos ficavam sempre puxando assunto comigo. Todos conversam
animados e meus olhos só estavam em Luiz, pois as coisas que Antonella
falou ainda não tinham saído da minha cabeça.
“Será que meu relacionamento com Luiz vai lhe causar a morte?
Será que Paolo virá atrás dele? Como posso viajar e deixá-lo aqui sozinho?”
— Filippo, irmão, por onde você anda? — perguntou Lucca me
fazendo voltar à realidade.
— O que foi, irmão? Desculpe estava distraído — falei ainda com a
expressão endurecida pelos meus pensamentos nada agradáveis.
— Percebemos que estava distraído. Vamos querer saber o que
estava pensando? — Enzo perguntou com preocupação.
— Não! — disse e voltei minha atenção à conversar na mesa. — Do
que vocês estavam falando?
— Nada demais. Luiz quem estava aqui contando que Beto é muito
bom com números e quem sabe não tenha um emprego lá na empresa para
ele — disse Luigi e vi Luiz assentir confirmando a ideia.
— Por que não me falou antes, bello? — perguntei o olhando sério.
Não gostava de ser o último a saber das coisas.
— Eu ia falar, mas acabei esquecendo. Aí o assunto surgiu do nada —
disse visivelmente envergonhado.
— Tudo bem, depois podemos falar sobre isso. Luigi, você cuida de
um lugar para o amigo irritante de meu namorado — falei observando o
olhar de espanto de Luigi e o de desgosto do Beto.
— Eu não sou irritante! — Beto se defendeu.
— É sim, mas é um irritante legal — disse Ângela fazendo todos rirem
pelo modo em que ela falou, menos eu.
— Está fazendo quantos anos italiano? — perguntou o amigo
irritante de Luiz.
— Não acho que isso seja de sua conta, por isso continue a comer e se
possível calado — fui grosseiro.
— Filippo! — fui repreendido por todos de minha família,
principalmente, por Luiz que me lançou um olhar repreensivo.
— Não fale assim com o Beto, ele é um bom garoto. Fora que é um
gatinho — disse nonna e em seguida lhe soprou um beijo.
— Obrigado, linda, não me incomodo com a cara feia desse aí. Eu
ainda gosto de você, Filitito! — falou sorrindo fazendo Luiz e Ângela
gargalharem.
Eu assim como os outros olhei sem entender o nome esquisito pelo
qual me chamou.
— Deixa eu explicar — falou Luiz controlando a risada. — Beto
quando gosta de uma pessoa, por mais irritante que ela seja, ele lhe dá um
apelido carinhoso. O meu é Lutito, Ângela é Anjito e agora é a sua vez de
receber um, amor.
— É, irmão, acho que você encontrou alguém além de mim, Lucca e
Luna para te encher o saco — disse Enzo sorridente e eu continuei sério.
— Não ouse me chamar assim! Já está de sobreaviso — falei
apontando para o manobrista.
— Não sei, sabe?! Vai depender do meu humor. Você não manda em
mim! — retrucou Beto.
Deu-me a mais pura vontade de lhe jogar pela sacada.
— Já está avisado — rosnei para ele e voltei a comer.
Depois disso seguimos com o jantar maravilhoso que mamma havia
feito questão de preparar. Quando acabou, fomos à sala e eu comecei a
receber os presentes. Não era muito ligado a isso, só a presença de todos ali
já estava de bom tamanho.
Nonna me deu uma caixa que eu fiz questão que permanecesse
fechada, pois só pelo simples fato de ela dizer que o presente não era só
meu, já me fez imaginar do que se tratava. Lucca e Enzo me deram uma
camisa escrita “Cuidado! Urso Feroz!”. Filhos de uma mãe! Luna me deu um
relógio muito bonito, papai uma caneta toda em ouro branco e mamãe uma
nova fragrância que ela mesmo fez pensando em mim. Luigi me deu um
vinho francês de uma safra incrível e especial. Olhei para Luiz que estava
indo em direção à cozinha.
— Vai aonde, bello? — perguntei.
— Espere, já volto. Vou pegar uma coisa com Rita — disse e sumiu.
Enquanto minha mãe separava os presentes para guardar, o
restantes das pessoas continuaram a conversar. Pouco tempo depois Luiz
voltou com uma caixa branca com um grande laço vermelho. Ele se
aproximou com um sorriso pequeno no rosto e me deu a caixa.
— O que é isso na caixa, bello? — perguntei balançando a caixa e Luiz
gritou fazendo-me parar.
— Não faz isso! Abra a caixa e você verá. — Vi nele um sinal de
apreensão.
Desfiz o laço e abrir a caixa vendo algo dentro que me deixou
confuso, muito confuso.
“Como ele soube disso?” Olhei para ele sem entender.
— Como… Como você... — tentei dizer tirando da caixa um filhote de
Buldogue Inglês de cor branca com manchas marrons e um laço vermelho no
pescoço.
Vi que todos estavam nos olhando com atenção.
— No dia em que eu saí com as mulheres Aandreozzi, sua mãe
deixou escapar que você quando era criança sempre quis ter um cão, mas
nunca teve. Então... aí está! — falou Luiz apontando para filhote.
— E como sabia que gosto dessa raça e por que uma fêmea? —
perguntei e a filhote lambeu meu rosto.
— Eu não sabia sobre a raça, só acho uma gracinha e não resisti a
essa carinha. Ela é muito meiga, Rita quase não quis me deixar colocá-la na
caixa para trazer, ela se apaixonou. — Luiz sorriu e passou a mão na cabeça
do filhote.
— Fala logo se gostou ou não, irmão, por que se não gostou, eu levo
essa lindinha comigo — disse Luna avançando para pegar a filhote mais eu
não deixei.
— Você não vai levar o presente que meu bello me deu — disse
grosseiro fazendo Luiz rir.
— Então isso prova que você gostou dela? — perguntou ele.
— Obrigado, bello! Só... obrigado — agradeci abraçando-o com o
filhote entre nós. — Te amo, não sabe o quanto está me fazendo feliz —
sussurrei em seu ouvido e o vi assentir.
— Pronto, agora que você já viu, deixe-nos ver essa coisinha linda do
tio — disse Lucca pegando o filhote de mim.
— Que nome você vai colocar nela? — mamãe perguntou alisando a
cadela.
— Não sei! — Olhei para Luiz.
— Eu acho que ela combina com Amora. O que você acha, Luti? —
perguntou Luna tirando o filhote de Lucca.
— Gostei! O que você acha, amor? — perguntou e eu assenti. —
Ótimo! Seu nome será Amora!
A comoção foi generalizada, todo mundo queria segurar Amora e eu
só fiquei observando o primeiro presente que bello me deu, passar de mão
em mão. Sentia que nossa vida com Amora seria boa. Acho que começamos
uma família sem perceber.

O aniversário de Filippo passou e eu tive medo que ele não fosse


querer o meu presente. Não sabia por que, mas tive medo. Filippo era um
homem estranho, às vezes, e o fato dele gostar de Amora me deixou feliz.
Ele gostou tanto que à noite deixou ela dormir com a gente. No início, ele
não gostou nem um pouco da ideia, mas consegui dobrá-lo alegando que ela
estava estranhando a casa. E no fim, ela dormiu debaixo do braço do italiano
carrancudo.
Quem me ajudou na compra do filhote foi Ângela. Quando cheguei
ao pet shop, já tinha noção de que raça levar. Sempre gostei do Buldogue
Inglês, eles tinham aquela carinha de cachorro bravo, mas era considerado
um animal muito dócil. Eu, particularmente, gostava muito e por pura sorte,
ou jogo do destino, Filippo também gostava da raça. Ao ver aquela pequena
bolinha branca com manchas marrons deitadinha ao canto, enquanto seus
irmãos de ninhada mordiam uns aos outros, me encantei de primeira.
Quando cheguei em casa, pedi Rita para que cuidasse da minha
bolinha. Ela não recusou e depois queria até ficar com ela para si, mas é
claro que isso não iria acontecer. Rita era uma pessoa muito boa. Conheci
ela por acaso na cozinha, já que Filippo não teve a decência de nos
apresentar, e apesar de ela ser muito profissional, era muito agradável e
ainda casada com Brian.
Passado o aniversário, era hora de lidar com a despedida. A família
Aandreozzi inteira já estava indo embora e isso me deixava triste, muito
triste para ser sincero. Essa família era maravilhosa. Enzo era sério e
brincalhão na medida certa. Lucca era muito fácil de lidar e Luna era
adorável e divertida. O que falar de nonna? Nonna era simplesmente a
pessoa mais cativante que já existiu. Aquela boca suja e espírito livre era
fascinante. Arianna e Donatello eram um exemplo de pais que protegiam
seus filhos independentemente da idade de cada um, distância ou o que
quer que fosse. Todos eles estavam indo cuidar de suas vidas e iriam fazer
muita falta.
— Luiz Otávio, será que você pode vir aqui comigo no escritório um
minuto? — perguntou Donatello me surpreendendo.
— Claro que posso! — Segui-o até o escritório de Filippo.
Assim que entramos ele se sentou na cadeira e mandou que me
sentasse também.
— Gostei de você, Luiz, gostei de verdade. A maneira que eu cheguei
aqui e vi vida nos olhos de meu filho, me deixou sem palavras. Não sou um
homem preconceituoso, talvez, eu tenha sido um dia, mas quando tive o
prazer de conhecer minha mulher eu mudei muito o meu modo de ver a
vida — disse olhando-me diretamente, enquanto eu o ouvia atentamente.
— O que eu estou querendo te lembrar, é que nossa vida não é fácil. Sei que
você sabe o que eu era antes de ser um empresário de sucesso e essa vida
ainda assombra a mim e os membros da minha família. Paolo não é um
homem de desistir fácil do que ele quer e eu sei muito bem o porquê da
fixação dele pelo meu filho e espero que Filippo nunca descubra.
— Como assim? Descobrir o quê? — perguntei confuso.
— Nada demais! Isso é outro assunto — disse rapidamente vendo
que havia falado demais. — O que estou querendo te dizer, é que continue a
fazer o que está fazendo com meu Filippo, pois ele nunca foi tão aberto
como está sendo agora. Arianna me ajudou muito e espero que você possa
ajudá-lo também.
— Obrigado pela confiança. Como eu já disse aos seus outros filhos,
eu me apaixonei por Filippo. Tudo bem que ele não é a melhor pessoa de
lidar, mas é por quem meu coração bate mais forte. Com ele estou
descobrindo que posso ser mais do que um carinha envergonhado que
perdeu os pais em uma fatalidade — disse e agradeci mentalmente por não
ter gaguejado.
Donatello era com certeza um homem que intimidava facilmente
alguém.
— Algum problema aqui? — perguntou Arianna entrando no
escritório.
— Não, bel fiore. (bela flor) Só estávamos conversando, não há
problema — disse Donatello docemente.
— Já estão todos prontos só esperando você, Don. Não queria ir. Não
queria mesmo — Arianna disse com um olhar triste.
— Também queria que você ficasse — falei em um tom baixo.
— Você tem que fazer Filippo o levar o quanto antes para Milão. —
Arianna me levantou da cadeira e me abraçou com carinho.
— Pode deixar, farei isso sim — disse com os olhos ardendo de
emoção, mas me recusei chorar.
— Então vamos. Temos horário para chegar em casa. Vá rápido aprender a
nossa língua, meu rapaz, pois quando você chegar lá não te darei mole
falando em português — disse Donatello saindo do escritório.
— Não ligue para o Don. Ele odeia despedidas, sei que ele o tem
agora como um filho.
Saímos do escritório.
Na sala estavam todos juntos e os irmãos estavam terminando de se
despedir de Filippo. Quando cheguei, Luna veio em minha direção.
— Olha, cunhado... Quando tiver alguma folga da faculdade, vou vir
te buscar para você ver a vida de Madri — disse ela me abraçando chorosa.
— Nada disso, irmã! As noites de Chicago são muito melhores, fora
que o próximo aniversário é o meu. Então será para Chicago que Luti vai
primeiro — falou Lucca vindo me abraçar com Amora nos braços.
— Cuide-se e não deixe meu irmão fazer besteiras sem pensar. E
qualquer coisa, me ligue que eu venho correndo — Enzo falou segurando
meu ombro e depois me abraçou.
— Não esqueça aqueles links que eu deixei para você. Melhor, vou
mandar uns vídeos no seu WhatsApp — disse nonna me deixando
envergonhado. — O presente que eu dei para Filippo é para você também,
então, não deixe de usar — sussurrou em meu ouvido. — Ali tem
lubrificante sabor Café, eu achei interessante. — Sorriu alegre.
Eu quis cavar um buraco para esconder minha cara.
— Eu vou sentir falta das suas peripécias, nonna. — Abracei-a
apertado.
— Cuide de Filippo, ele é um turrão, mas um turrão adorável que
precisa de amor — disse e ouvi Filippo bufar.
— Meus filhos, fiquem bem os dois e lembrem-se que a vida a dois
não é fácil, mas com paciência tudo segue normalmente — Arianna falou
abraçada a Donatello.
— Você vai levar minha cadela para onde, Lucca? — gritou Filippo ao
perceber que Lucca estava indo para o elevador com Amora.
— Eu não quero deixar essa bolinha carente com um sujeito chato
como você — disse Lucca fazendo bico.
“Criança!”
— Como você disse que seu aniversário está próximo, eu te dou um
filhote que eu achar parecido com você. Tudo bem? — perguntei e vi que
Filippo não gostou nada da minha ideia.
— Nada disso, bello! Se ele quer um filhote, que arranje um
namorado para ele. Que abusado! — Filippo cerrou os lábios e pegou Amora
de Lucca.
— Eu gostei da ideia! Eu quero. Você é o melhor cunhado que
alguém poderia ter — disse Lucca sorrindo e veio me dar um beijo na
bochecha.
— Se você encostar sua boca imunda no meu bello, eu vou quebrar
todos os seus dentes — ameaçou Filippo entredentes.
Lucca recuou com as mãos para cima.
— Muito possessivo você, irmão. Um verdadeiro urso! — disse Lucca
fazendo todos rirem, menos Filippo, é claro.
— Eu também quero um filhote! — disse Luna e Enzo ao mesmo
tempo e eu neguei com a cabeça.
— Quanti anni hai? L'inferno! (Quantos anos vocês têm? Inferno!) —
disse Filippo irritado apontando paras os irmãos.
— Vaffanculo bastardo! (Foda-se, bastardo!) — falou os três irmãos juntos,
mas logo em seguida sorriram e vieram abraçar o irmão mais velho.
— Para tudo e por tudo! — falaram juntos novamente.
— Sempre! — respondeu Filippo.
Depois de todas as despedidas feitas, toda família Aandreozzi foi
embora deixando a casa estranhamente silenciosa. Aproveitei que Filippo
não iria trabalhar e o chamei para assistir um filme. Foi uma luta, pois o
italiano considerava sentar e assistir um belo filme perca de tempo, mas
depois de muita insistência, ele finalmente se deu por vencido e resolveu
assistir comigo.
O cômodo para o qual ele me levou, me encantou. Se você está
achando que na cobertura não tinha uma sala de cinema, você está bastante
errado!
— Se você não é de assistir filmes, então por que tem uma sala de
cinema? — perguntei confuso.
— Não sei, bello, comprei assim. — Deu de ombros.
— Que tipo de filmes você gosta? — perguntei procurando onde
ligava a tela do tamanho do mundo.
— O que você quiser, bello, não tenho preferência — falou ligando
tudo.
— Você é daquele tipo de pessoa que só vivia para trabalhar. Não é
mesmo?
— Sim! Falando em trabalho, esqueci de te contar que vou viajar
daqui alguns dias. Você quer ir comigo?
Não tive reação para novidade.
— Você sabe que eu não posso, minhas aulas já vão começar. Você
vai para onde? — perguntei não gostando de ficar sem ele.
— Vou para Portugal, tenho uma reunião com uma pessoa
importante de lá — disse sem me dar chance de eu fazer perguntas.
— Eu vou ficar bem. Tenho a Rita e Amora para me fazerem
companhia. Fora ainda que tenho o meu homem de preto — falei e senti um
solavanco no braço, ficando de cara com um Filippo muito irritado.
— Como assim SEU homem de preto? Você é MEU, ouviu bem? —
perguntou fazendo um som gutural sair de sua garganta.
— É só o modo de falar. Amor, você às vezes me dá medo, mas é um
medo excitante. — Joguei-me em cima dele, lhe dando um beijo.
— Não brinque comigo, bello. Já disse que não sou homem de
brincadeiras — falou me aconchegando nos seus braços.
— Eu já sei disso, pode acreditar que eu já sei. Falando nisso, quando
eu vou começar meu treinamento? Você prometeu! — falei passando a mão
na sua tatuagem, que descobrir que todos os irmãos Aandreozzi tinham.
— Quando eu chegar de viagem. Quero estar por perto, quero ser eu
a te ensinar — disse sério e eu assenti.
Encerramos o assunto e eu iniciei o filme Invasão a Londres, nunca
tinha assistido e eu gostei muito. Filippo não disse uma palavra durante o
longa, mas sempre o via bufar ou balançar a cabeça de forma negativa ou
afirmativa. Quando o filme terminou, perguntei se ele havia gostado.
— Foi interessante, mais muito mentiroso — respondeu.
Olhei para ele incrédulo e saí sem falar mais nada. O filme havia sido
perfeito, não entendi sua opinião.
Tomei meu banho e me arrumei, já que tinha sido convidado para
jantar fora. Fui para sala falar com Filippo e o vi tentando dar algum
comando a Amora, mas tive que tirar essa ideia da cabeça dele, afirmando
que ela ainda era muito novinha para isso.
Quando ele finalmente desceu arrumado, saímos para o restaurante.
Decidimos ir ao Benedetti, assim eu poderia falar logo com Marco. Eu havia
ido até lá no decorrer da semana para dar baixa em minha carteira, mas
Marco não estava. Então, deixei apenas um recado que voltaria outro dia.
Chegando lá, pedi a Analú uma mesa e fomos nos sentar, estava
ciente de que Beto não trabalharia naquela noite. Fui até à cozinha e vi todo
o pessoal. Falei com Marco sobre a minha demissão e ele disse que já
suspeitava que isso iria acontecer. Disse que no dia seguinte todos os
trâmites da minha demissão seriam ajeitados. Despedi-me de todos na
cozinha e fui me juntar a Filippo.
Fomos servidos por Eloísa com muita atenção. Eu sabia que toda
aquela atenção não era para mim e sim para meu namorado. Terminamos
de comer e fomos direto para casa.

O dia da viagem de Filippo chegou e era horrível a falta que ele já


estava fazendo sem nem ao menos sair de casa. Minhas duas aulas já
haviam começado tanto no curso de italiano quanto na faculdade. Tinha que
dizer que eu fiz a escolha certa, pois estava adorando as aulas, os
professores, a universidade, o curso, enfim, estava gostando de tudo. Minha
sorte maior era Ângela ser da mesma turma que eu e ter a companhia de
alguém conhecido no mar de rostos nunca vistos por mim antes.
Fiz amizade com um carinha da minha sala, Thiago era seu nome. Ele
era sempre muito bem atencioso e prestativo. Ângela não gostou muito
dele, disse que ele estava a fim de mim. Claro que notei que Thiago era
muito bonito. Ele era um pouco mais alto que eu, branco, cabelos loiros
encaracolados, olhos castanhos e um corpo forte de quem gostava muito de
uma boa academia. Não via nada demais na aproximação dele, além de
amizade. Tanto que ele não falava só comigo, sempre era agradável com
algumas pessoas. Deixei as suposições esquisitas de Ângela para lá e
continuei a tratá-lo da mesma maneira que lidava com as outras pessoas.
Fora isso, estava tudo caminhando como tinha que ser, menos essa viagem
de Filippo que eu ainda não havia aceitado muito bem, mas não podia fazer
nada. Ele era um homem de negócios.
Passei praticamente a noite inteira fazendo amor com meu ursão,
mas mesmo assim não conseguia me acostumar com a ideia de o ver longe
por alguns dias.
— Não fique longe do celular, mandei Srta. Oliveira comprar um novo
para você, para não ter desculpa de problemas com esse seu celular
ultrapassado — disse Filippo e eu fiz uma cara de desgosto.
— Meu celular não é ultrapassado! — exclamei ofendido e vi que ele
continuou com a mesma cara. — Tudo bem! Talvez, ele possa ser um pouco
ultrapassado. Talvez! Ouviu bem?
— Que seja, se você está dizendo. Mesmo assim me atenda sempre e
não deixe de ficar com Brian — falou sério.
— Tudo bem, amor! Mas alguma coisa, comandante? — falei fazendo
gesto de sentido.
— Tão engraçadinho, bello. Tão engraçadinho.
Ele puxou-me para um beijo de pura saudade, saudade que eu já
estava sentindo e não queria me alegrar muito. Senti que meu italiano
também estava sentindo isso.
— Eu vou sentir sua falta. Como é possível uma coisa dessas? —
perguntou Filippo com sua boca próxima da minha.
“Viu só? Ele vai sentir minha falta!” — Eu sei,
amor, estou sentindo a mesma coisa.
— Tem certeza que não pode ir comigo?
— Tenho sim, você sabe que eu não posso.
— Isso que é o foda da questão, não gosto de deixá-lo aqui.
— Já disse que não vou estar sozinho, tenho Amora comigo — falei
apontando para Amora.
— Não esqueça de deixar o celular sempre à vista — lembrou-me de
novo e eu revirei os olhos.
— Posso usar a sua Ducati algum dia desses aí? — perguntei e o vi
respirar fundo.
— Sabe que não apoio muito bem essa sua adoração por motos, mas
é só pedir a chave ao Brian que ele irá lhe dar.
— Obrigado por isso. Viu só? Até que você não é ruim. — Sorri.
— Cadê o meu bello tímido? — perguntou Filippo de um modo
engraçado.
— Ele está se moldando para aguentar um certo italiano de humor
mutável.
— Fica bem esses dias sem mim e se acontecer alguma coisa, uma
pequena coisa que seja, me avise que venho correndo — falou demostrando
preocupação.
— Já disse para ir despreocupado. Agora vai que já deu seu horário!
— falei sério e ele assentiu.
Depois de mais alguns beijos, o vi entrar no elevador e partir. Aquele
italiano carrancudo estava me deixando mal-acostumado a ficar sempre em
sua presença. Não tinha noção de como ia passar esses dias sentindo sua
falta.
Passei a mão por meu rosto e vi uma lágrima sacana descer.
“Está vendo, ursão, o que você faz em mim? Filho da mãe!”
— Pois é, Amora, ele saiu! Vai sentir falta daquele chato? Claro que
vai! — perguntei para Amora que estava deitadinha em frente ao elevador
fechado. — Vamos, garota. Vamos ver Rita. Quem sabe ela não tem um bolo
de chocolate lá para aliviar a falta de seu outro pai.
Peguei minha bolinha no colo e segui para cozinha na tentativa de
aliviar minha mente de Filippo — Maldito — Aandreozzi.
Faziam seis dias que Filippo havia ido para Portugal e eu não sei
descrever a falta que ele me fazia. Estava ficando difícil de aguentar.
Perguntava-me sempre como uma pessoa que entrou há tão pouco tempo
na minha vida poderia causar um significado imenso. Não sabia dizer, não
sabia mesmo. Só que a cada vez que ouvia sua voz no telefone, me dava
vontade de gritar: “Hey! Volte para casa seu sacana! Não acha que já
chega?” Mas não podia fazer isso, era o seu trabalho, era a sua vida e eu
estava chegando naquele momento.
O primeiro dia que ele viajou fiz de tudo para me distrair. Conversei
com Rita, brinquei com Amora, assisti a filmes, conversei muito no
WhatsApp com a família Aandreozzi. Luna havia feito um grupo com todos
da família, inclusive Donatello e Filippo, apesar de não falarem nada, mas
mesmo assim eles estavam lá. Diverti-me demais com as coisas que nonna
falava, ou com as brigas dos irmãos. Mesmo assim, depois de tantas coisas,
sentia a falta dele. Os outros dias procurei não ficar muito sozinho, por isso
estava indo malhar com Beto na minha antiga academia.
Havia acordado cedo, tomado meu banho, trocado de roupa e ido à
cozinha com Amora nos braços. Chegando lá, vi que Rita e Brian
conversavam na maior cumplicidade. Olhei a cena do casal tão lindo, mas
tão diferente e suspirei alto. Brian era o tipo cara amigo, não demorei muito
para fazer com que ele conversasse comigo. Andávamos sempre juntos e
nada mais do que justo pelo menos sermos amigos. Rita era séria e leva
muito a sério tudo que Filippo queria nos mínimos detalhes, mas por dentro
era uma mãezona. Apesar da pouca idade, percebia que ela adorava cuidar
de todos, principalmente, de seu marido Brian.
— Bom dia, casal! — desejei entrando na cozinha e sentando ao lado
de Brian.
— Bom dia, Luti! Onde você pensa que vai? — perguntou Rita e eu fiz
de tudo para não revirar os olhos.
— Não liga, Luti. Ela hoje acordou assim — falou Brian e vi o olhar
furioso de Rita na sua direção.
— Assim como, Brian, posso saber? — perguntou ela colocando
comida para Amora.
Olhei para Brian e ele sorriu para mim concordando.
— Muito Chata! — falamos juntos e Rita fez uma cara de ofendida.
— Eu vou malhar com Beto hoje. Vai comigo, Brian? — perguntei
tomando um copo de suco que foi servido por Rita.
— Você quer me ver desempregado? Imagine só se o Sr. Aandreozzi
chega e descobre que você saiu sem mim. Não, obrigado, prefiro arrancar os
meus dentes — Brian falou estremecendo e me arrancou uma gargalhada.
— Filippo não é tão mal assim — defendi meu ursão.
— Oh, pare com isso. Ele é gentil com você. Só com você! — disse
Rita e eu a olhei sorrindo.
— Você também não foi muito aberta comigo quando nos
conhecemos. Mas olhe como estamos agora nos amando — falei e vi Brian
sorrir divertido.
— Termine de comer e vá logo, pois daqui a pouco você tem o curso
de línguas para ir — disse Rita saindo com Amora logo atrás.
— Tão mandona! Mais eu amo essa mulher — falou Brian com ar de
apaixonado.
— Pode apostar que eu sei como é. Vamos lá, já me acostumei com
você. — Levantei e saí da cozinha.
Pegamos o carro e fomos até minha antiga academia, demoramos
um tempo para chegar. Brian ia treinar junto comigo e assim que entramos,
chamamos atenção de todo mundo ali presente. Meus amigos me viram e
vieram logo me cumprimentar.
— Demorou a chegar, Lutito. E você, cara, beleza? — Beto falou
comigo e cumprimentou Brian que o respondeu com um simples aceno de
cabeça.
— Pois é, cara, sabe que agora estou morando um pouco longe daqui
— falei com meu amigo. — E vocês, como vão? — perguntei a Silvinho e
Rick.
— O sumido aqui é você, Luti. Por onde andou, mano? — perguntou
Silvinho e fizemos um toque em cumprimento.
— Não moro mais com tia Amélia, tivemos uma diferença de opinião
— falei com uma expressão neutra, mas vi Rick e Silvinho ficarem
espantados.
— E você está morando aonde? Quem é esse cara que está atrás de
você? Não vai me dizer que ele é seu namorado — brincou Rick e olhei para
Brian que cerrou os lábios e o olhou seriamente. Eu apenas continuei do
mesmo jeito que estava. — Brincadeira, Luti, sei que você não é dessas
coisas — tentou contornar a situação, mas eu respirei fundo e o encarei.
— Não! Brian não é meu namorado e sim meu segurança e amigo —
falei calmamente e vi Rick e Silvinho me olharem confusos.
— Por que segurança? Como assim? Você ficou rico e não nos
contou, Luti? — perguntou Rick, sempre inconveniente.
— Longe de mim ser rico, mas o meu namorado é e foi ele quem me
obrigou a ter um segurança, já que ele não é muito querido — disse
simplesmente.
Olhei para Rick e ele balançava a cabeça em negativa. Silvinho
continuou a olhar sem esboçar qualquer reação.
— Tudo bem, mas você está legal, não é verdade? — perguntou
Silvinho e eu assenti.
— Sim, estou muito bem. Está tudo caminhando como tem que ser.
— Sorri, mas logo meu sorriso se foi ao olhar para Rick.
— Não! Não é possível você ser gay, Luti. É por que o cara tem
dinheiro? Eu não consigo entender como você, um homem que pode ter a
mulher que quiser, foi namorar outro homem! — Rick disse com irritação e
muito indignação.
Brian iria tomar minha frente, mas eu o impedi colocando a mão no
seu ombro.
— Quando você se apaixonar, Henrique, vai perceber que
independente de raça, tamanho, idade, credo ou sexo, não tem para onde
correr. Eu decidi cair de cabeça no que sinto por Filippo e sou um homem
muito feliz. Esse sentimento é recíproco e não tem nada melhor do que
amar e ser amado — falei com muita calma e com um sorriso no rosto
deixando Rick espantado. — O dinheiro que ele tem não me diz nada e
nunca vai dizer. Olhe bem o que você fala, amigo, as palavras machucam.
Não a mim, pois estou muito bem para me abater por pouca coisa.
— Senhor, vamos começar os exercícios, pois daqui a pouco teremos
que ir — disse Brian chamando minha atenção.
— Pare de me chamar assim, Brian, eu sou Luti — falei lhe dando um
soco de leve no ombro.
— Quem é você? E o que fez com meu amigo calado? — perguntou
Silvinho.
— Esse sou eu na versão 2.0. Tenho que me adaptar a vida, Silvio.
Ele concordou.
— Gostei dessa sua versão, gostei mesmo. Fico feliz por você, temos
que marcar uma saída — disse Silvinho e eu assenti.
Já ia sair para os aparelhos junto com Beto e Brian, mas me virei para
Rick novamente.
— Não se engane com beleza, Henrique. Filippo é o homem mais
bonito que conheço, sua beleza não deixa com que ele me ame menos ou
esmague alguém feito uma barata indesejada.
Saí de perto de Rick com um aperto no peito, o que ele disse foi baixo
e preconceituoso, e de pessoas assim eu queria distância. Não é errado
amar, mesmo que seja uma pessoa do mesmo sexo que o seu. Não é errado
se você se sente bem com o toque do homem que você ama, se o quer por
perto, ou sentir o gosto dos seus lábios... Não, com certeza não é errado. Eu
me recusava a me sentir coagido por palavras sujas, saídas da boca de gente
que não sabe o que é estar sentindo o que eu sentia por Filippo.
Fiz todos meus exercícios com Brian e depois de toda série feita tive
que sair, mas antes voltei para falar com Beto.
— Beto, você tem que ir na empresa amanhã. Filippo me disse que já
deixou Luigi de sobreaviso, é só chamar e pedir para falar com Luigi Pierri.
Beto me deu um abraço, mas me afastei logo. O cara estava muito
suado.
— Caralho, Beto! Você está suado, porra!
— Como se você não estivesse também, seu fresco. Até que você
está cheirosinho. Vem cá, meu irmão! — falou sorrindo me puxando pelo
braço.
— Vai se foder, Beto! Não esqueça de ir ao cursinho à noite — falei
lhe apontando o dedo.
— Sim, pai! Mais alguma coisa? Quer que eu deite para você me
bater? — perguntou apontando para o chão.
— Você é ridículo, muito ridículo! — Saí da academia ouvindo a
risada de Beto.
Ao pisar na rua, tive a mesma sensação ruim que vinha sentindo
sempre que ia para algum lugar. A sensação de estar sendo observado. Isso
não era uma coisa muito boa. Não gostava nada daquilo. Quando Filippo
chegasse, teria que conversar sobre isso com ele.
Segui para casa na companhia de Brian. Ao entrar no carro, lembrei
da minha primeira discussão que tivemos, tudo porque ele não queria que
eu fosse na frente ao seu lado. Sentei-me mesmo ele afirmando que Filippo
iria matá-lo se soubesse e deixei para lá dizendo a ele que com o ogro eu me
entenderia depois. Entrei no elevador e quando as portas se abriram, vi
Amora sentada olhando para o mesmo. Ao me ver, ela veio correndo me
receber.
— Quem é a bolinha linda? — A peguei no colo e beijei a cabecinha
de minha cadelinha. -— Cadê seus brinquedos? — falei colocando ela no
chão e lhe dando um brinquedo que estava jogando no canto.
— Deixe a Amora aí é vá logo, Luti, você está atrasado — disse Rita
limpando a mesa de centro.
— Rita você é uma pessoa muito mandona. Mesmo assim é linda. Se
não fosse casada, quem sabe... — brinquei.
— Fale isso quando o Sr. Aandreozzi estiver aqui. Não quero nem
estar por perto. — Virou-se para sair.
— Pensei que falaria que Brian não iria gostar! — gritei e ela virou
olhando-me sobre o ombro, com um sorriso debochado.
— O ciúmes de Brian é um nada perto do de Sr. Aandreozzi. Estou
mentindo? — perguntou e eu analisei o dia que estávamos na cozinha
conversando sobre isso e neguei logo com a cabeça. — Vai logo, você está
atrasado!
— Já vou! Filippo saí e deixa vários mandões no seu lugar. — Saí
resmungando e vi Amora tentando subir a escada. — Não, lindinha, fica aí
que eu já volto.
Subi para o quarto e a primeira coisa que vi era se tinha ligação ou
mensagem de Filippo. Desde a noite anterior que não conseguia falar com
ele. Esperava que não tivesse acontecido nada de ruim, acho que não
suportaria perder mais um alguém que amo. Não! Não podia pensar aquilo,
ele estava bem, sei que estava.
Deixei o celular em cima da cama e fui tomar um banho que relaxou
todos os meus músculos doloridos dos exercícios. Tinha que confessar que
Brian pegava muito pesado comigo. Dizendo ele que tinha que me
acostumar, pois logo eu começaria o treino de defesa e tiro. Estava ansioso
para começar logo e isso só dependia de Filippo.
Saí do banho e fui ao closet. Toda vez que entrava ali, eu sempre
parava diante as roupas de Filippo muito bem organizadas por Rita. Achava
que olhar para as roupas dele, indicava que ele iria voltar para mim.
“Porra, amor! Sinto saudade, muita saudade!”
Deixei minha saudade um pouco de lado e coloquei minha roupa;
uma calça skinny branca, camisa de manga curta azul, um tênis iate preto e
peguei a bolsa que Luna fez questão que eu começasse a usar. Dizendo ela
que eu já havia passado da idade de usar mochila. Depois de arrumado e
cheiroso, desci a escada sabendo que só chegaria em casa mais tarde.
Despedi-me de Rita e Amora, e mandei uma mensagem para Brian
avisando que pegaria a Ducati de Filippo, estava a fim de sentir o vento
bater no meu corpo. Saí do prédio e fui direto para aula de italiano. Tinha
que admitir que estava adorando estudar a língua e fora que ouvir Filippo
falar e não entender era muito chato. Quando a aula terminou, parei para
almoçar em um restaurante de comida caseira que tinha perto da faculdade.
Terminei de comer e fui direto para universidade. Ainda tinha um tempinho
livre, então, esperei Ângela chegar do lado de fora. E de novo a sensação
arrepiante de estar sendo observado. Olhei para os lados e do outro lado da
rua tinha um carro todo preto estacionado. Não sei, mas acho que era de lá
que a pessoa me olhava. Sabia que não era Brian, pois conhecia todos os
carros dos seguranças.
— Luiz Otávio, está com algum problema?
Pulei sentindo com meu coração acelerar. Olhei para o lado e vi
Thiago olhando para mim preocupado.
— Desculpe, Thiago. Foi só um susto besta. E aí, como vai? —
perguntei ainda sentindo o efeito do susto.
— Eu vou bem, obrigado por perguntar. Está sabendo que o
professor de introdução irá passar um fichamento sobre o texto lido na aula
anterior? — perguntou sorridente.
— Estou sabendo sim, já peguei o texto e estou começando a fazer o
fichamento. — Retribui o sorriso.
— Essa moto linda, é sua? — perguntou analisando a Ducati de
Filippo.
— Não, é do meu namorado, peguei emprestado.
Ele olhou para mim espantado.
— Você é gay? Jurava que você fosse hétero! — falou me analisando
e eu me senti desconfortável.
— Sim, eu sou! — falei olhando para todos os lugares, menos para
ele, pois o mesmo continuava a olhar para o meu corpo.
— Por onde anda seu namorado? Ele não deveria deixá-lo sozinho
assim. Vai que alguém tenta roubá-lo.
Olhei novamente para ele.
— Isso não teria condições, amo demais Filippo para deixar outro
alguém se aproximar — falei calmamente com a expressão séria.
— Nunca se sabe, amores mudam o tempo todo — disse me
analisando.
— Tenho certeza que não o de Luti e Filippo. Ainda mais que Filippo
não é nenhum jovem ridículo — Ângela falou chegando ao meu lado e eu
respirei aliviado.
— Oi, minha linda. Vamos para sala? — perguntei segurando sua
mão.
— Vamos sim, a aula já deve começar! Até mais, Thiago! — despediu
Angel.
Despedi-me dele com aceno de cabeça e segui com minha amiga.
Olhei para os lados novamente, ainda sentindo aquela sensação. Parecia que
quem estivesse a me observar, estava ficando cada vez mais próximo.
— O que tanto você olha para os lados?
— Não sei, estou com a sensação ruim de estar sendo
observado.
Angel olhou para os lados também.
— Deve ser o Brian fazendo sua segurança como sempre. — Deu de
ombros.
— Não! Antes quando eu não sabia que Filippo tinha colocado ele na
minha cola, não sentia esse sentimento ruim. Agora é diferente. Fora que
Brian está logo ali. — Apontei para onde ele estava. Brian sorriu e nos
cumprimentou com discrição.
— Vamos para aula, Luti, depois vemos isso direito. — Angel me
puxou pelo braço para adiantar o passo.
Fomos para aula de Bioestatística e me sentei ao lado de Ângela que,
assim como eu, prestava bastante atenção na matéria a qual
particularmente não ia muito com a cara. Terminada a aula, tivemos um
pequeno intervalo. Sentei em uma das mesas do refeitório com Angel.
— O que foi aquilo com Thiago? — perguntou ela mastigando uma
batatinha.
— Aquilo o quê? — perguntei roubando uma batatinha.
— Não se faça de desentendido, Luiz Otávio — falou irritada.
— Está certo! Eu tenho que confessar que achei a conversa dele
errada e não gostei da maneira que ele me olhou — falei envergonhado.
— Pois é, acho melhor você corta a onda dele, pois seu homem é
ciumento pelo o que você me disse.
Revirei os olhos.
— Ciumento é pouco para classificar Filippo.
Ela olhou-me debochada.
— E você nem gosta, seu safado — falou me cutucando.
— Vamos, amiga, deixe de graça e vamos voltar. — Levantei-me.
— Vamos sim, mas só tome cuidado. Eu só enxergo Thiago como um
otário — falou me seguindo.
— Tudo bem, Angel!
Voltamos para sala e tivemos aula de Genética, muito incrível essa
matéria. Depois que a aula acabou, Angel se despediu de mim e seguiu para
encontrar sua mãe, enquanto eu fui em direção onde tinha estacionado a
moto, mas antes que eu pudesse chegar até ela, Thiago me chamou e veio
correndo na minha direção.
— Luiz Otávio... Gostaria de sair para comer alguma coisa comigo? —
perguntou ele recuperando o fôlego.
— Infelizmente não vai rolar, Thiago. Já disse que sou comprometido
— falei abrindo minha bolsa e pegando meu celular.
— Vai ser uma saída de amigos, Luti. Não é assim que sua amiga te
chama?
Assenti.
— Sim, é! Mas mesmo assim não vou sair com você.
Ele colocou seu braço por cima do meu ombro.
— Não seja assim, somos jovens. E nós jovens temos que nos divertir.
— Sorriu e me deixou irritado com a aproximação.
— Acho bom você soltar meu namorado, não gosto muito de ver
gente desconhecida próxima a ele!
Meu corpo se arrepiou por inteiro ao ouvir a voz do homem que
amava. Olhei em direção à voz e lá estava ele, lindo e muito sexy com seu
terno de empresário foda e sua carranca de homem mau. Minhas pernas
começaram a amolecer e o coração a bater muito forte. Não perdi tempo e
empurrei Thiago correndo para abraçar meu amor.
— Oh, cara! Você chegou, estava morrendo de saudade. Dá próxima
vez me leve com você — disse me aconchegando no abraço apertado de
meu ursão.
— Essa merda de viagem foi um inferno sem você, bello. Não quero
mais ficar longe de você — disse abafado com seu rosto enterrado no meu
cabelo. — E você... Minha conversa agora é com você, moleque! — disse me
colocando de lado e olhando friamente para Thiago que nos olhava
atentamente.
Ouvir Filippo falar e revirei meus olhos, não podia negar que ele
ficava muito gostoso quando possessivo. Observei Thiago e vi que ficou mais
branco que papel. Filippo continuou o encarar e o medo era evidente no
rosto do pobre homem.
— Não vai falar nada? — perguntou Filippo com a expressão muito
séria.
— De-desculpe, cara! Não tive a intenção de ofender ninguém. Luiz é
só meu amigo — falou Thiago gaguejando totalmente intimidado pelo ursão.
— Veja bem o que eu vou lhe dizer e passe para suas rodinhas
patéticas de amigos infames. Esse ragazzo tem namorado. — Apontou para
mim sem me dirigir o olhar e eu cruzei os braços indignado. — E um
namorado que não gosta de ver um infeliz insistente querer ter o que é seu.
— Filippo se aproximou de Thiago o fazendo recuar.
— Pode deixar... Pode deixar, senhor! Eu falarei sim, não se preocupe
— disse o coitado e eu tive que rir da situação.
— Acho bom mesmo! Saiba que eu tenho uma ótima pontaria e
nunca errei um tiro. Nunca mais encoste nele. — Vi Thiago afirmar com a
cabeça. — Mais antes de eu sair... — falou Filippo e quando dei por mim,
Thiago já estava no chão se contorcendo de dor, segurando o nariz
ensanguentado. — Pronto. Agora estou mais feliz! — disse Filippo sério.
— Podemos ir agora? Quero matar a saudade que estou de você! —
disse indo atrás de meu ursão que saiu em disparada para o carro.
— Entre no carro, Luiz Otávio! — falou sem me olhar abrindo a porta.
— Cadê a sua moto? Eu vim com ela e não a encontro — perguntei e
ele continuou impassível.
— Já foi levada, não se preocupe. Agora entre no carro. — Filippo
continuou com a mesma expressão.
— Você vai continuar com essa cara? Eu não fiz nada de
errado.
Ele somente apontou para o carro. Entrei no carro bufando de raiva,
sem entender o porquê de Filippo estar assim comigo. Durante a viagem
meu namorado continuou calado olhando para frente e eu fiquei ainda mais
irritado com a situação.
“Por que eu não estou entendendo porra nenhuma? Não é justo isso,
simplesmente não é justo! Eu achando que iria rolar um encontro explosivo
com muito sexo envolvido, mas pelo o que estou vendo vou ser ignorado.”
— É sério que você vai ficar assim comigo? Eu não fiz nada! — falei
explodindo e Filippo continuou quieto.
— Saia do carro, Luiz Otávio! — falou abrindo a porta e só então
percebi que já havíamos chegado em casa.
— Não! Eu me recuso a sair sem você falar comigo! — Fiz birra e Filippo me
olhou com aquela cara de quem não estava brincando. — Tudo bem, eu
saio. Inferno de homem!
Saí do carro e fomos direto para o elevador. Eu já não estava
aguentando o gelo que estava recebendo, se Thiago aparecesse na minha
frente naquele momento, eu o socaria sem dó e nem piedade.
“Tudo culpa daquele infeliz!”
Quando me virei para reclamar novamente do tratamento, Filippo
me imprensou na parede da caixa de metal, rasgando minha blusa e fazendo
todos os botões pularem para todos os lados. Minha bolsa caiu no chão, e
sua boca quente e macia me devorou por inteiro fazendo meu corpo todo se
arrepiar. Entrelacei minhas pernas na sua cintura e fui tirando a parte de
cima de seu terno me atrapalhando todo com sua maldita gravata.
“Odeio essas coisas!”
Quando a porta do elevador se abriu, nossas bocas ainda estavam
unidas e algumas peças de roupas espalhadas no chão. Filippo não deixou
que eu descesse e me levou carregado para o quarto. Meu ursão era forte.
Chegamos no nosso recinto e ele me levou direto para o banheiro. Quando
dei por mim já estávamos debaixo do chuveiro ainda vestidos com o que
restou de nossas roupas.
— Amor… Estamos vestidos ainda! Ahhh… coisa gostosa! — falei
enquanto Filippo descia beijos e lambidas por meu pescoço.
— Calado, bello! De sua boca só quero ouvir gemidos — disse rude e
continuou sua tortura.
Tiramos o restante de nossas roupas e eu ouvi o xingamento de
Filippo ao tirar minha calça Jeans apertada e molhada. Nossos corpos nus,
molhados, grudados um no outro como um só corpo. Estava tudo tão
gostoso, cada ponto do meu corpo queria ser aclamado por ele.
Meu amor pegou o lubrificante a prova d’água, que ficava no
banheiro, e passou nos dedos. Em seguida, senti seus dedos grossos e
másculos me penetrarem. Um suspiro saiu de minha boca seguido por um
gemido de pura apreciação e desejo carnal. Os dedos de Filippo iam
trabalhando dentro de mim me alongando cada vez mais. Eu tinha a certeza
que necessitava dele, precisava do seu pau grande e suculento dentro de
mim.
— Por favor, amor! Chega! Estou pronto... pronto para você! — disse
em meio os gemidos.
— Segura na parede, bello! Segura e não solta! Está me ouvindo? —
Assenti. — Eu quero te ouvir! Fala! — gritou e em seguida me deu um tapa
estalado na bunda.
— Oh, inferno... Sim! Sim, estou ouvindo. Agora vai! — gritei
exasperado.
Sem demora ele me penetrou. Nossa! Que delícia... Estava sentindo
falta de meu amor, meu amor bruto e selvagem. Cada estocada que Filippo
dava, me fazia delirar de puro prazer. Senti ele invadir meu corpo com seus
movimentos frenéticos e precisos, me enlouquecendo, torturando, tirando
do eixo.
“Foda! Quero mais dele! Muito mais!” Como se adivinhasse os meus
pensamentos, ele aumentou a velocidade das estocadas. Filippo agarrou
meu pau e me masturbou com sintonia aos seus movimentos.
— Eu vou… Eu vou gozar, amor! — falei sentindo minhas pernas
fraquejarem, então, gozei. — Porra! — gritei em meio a gemidos.
— Porra! Como eu senti falta desse cuzinho guloso. Vou gozar…
Ohhh... — gemeu e eu senti jatos quentes preencher meu interior.
Depois que chegamos ao orgasmo, sentamos no chão do banheiro
apreciando as gotas do chuveiro cair nas nossas cabeças. As respirações
estavam ofegantes. Aproximei-me de Filippo e lhe dei um selinho.
Levantamos do chão e terminamos nosso banho juntos. Ao sair do banheiro,
deitamos na cama e ficamos em um silêncio confortável.
— Amor, eu sei que estamos em um silêncio bom, mas eu preciso te
fazer uma pergunta — falei passando a mão no seu peito cheio de pelos
bem aparados.
— Pode perguntar, bello — disse com suavidade.
— Por que não transamos no elevador? — perguntei e Filippo me
olhou com ar de riso. — Sério, eu estava crente achando que iríamos fazer
um sexo puro e forte no elevador — falei rindo levando Filippo comigo.
— Bello, eu só queria te dar banho antes de entrar em você, porque
eu senti o cheiro daquele sujeito impregnado no seu corpo. Mas não deu,
minha vontade de você foi mais forte — falou me encarando em seguida. —
Por que ele estava tão insistente em te levar para cama?
— Thiago não queria me levar para cama, só queria sair. Sei lá... —
falei ofendido.
— Deixe de ser ingênuo, Luiz. Estava na cara que o bastardo queria
você — disse enraivecido e eu deitei minha cabeça novamente em seu
ombro.
— Tudo bem, amor. Não quero mais falar sobre isso. Você já
assustou o rapaz e tenho certeza que ele não tentará mais nada. — Beijei
seu peito.
— Assim espero, não quero ter que matar ninguém. Preste bem
atenção a quem você dá confiança — falou sério.
— Por que não me ligou ontem? Fiquei preocupado. — Mudei de
assunto.
— Desculpe por isso, estava ocupado. Quando voltei para o hotel, caí
na cama cansado e acordei já querendo entrar no jatinho e vir para casa.
Assenti.
— Senti sua falta, mesmo com Rita e Brian sendo ótimas companhias.
Nada se compara ter você por perto. — Respirei fundo.
— Rita? Você está de amizade com Rita? Ela é sempre tão séria e
profissional.
— Ela é séria e chata com você, que é um sério e chato. Comigo é
uma grande mãezona mandona. — Sorri.
— Então quer dizer que eu sou sério e chato?
— Quem falou isso, amor? Deus! Quem mentiu assim, que coisa feia!
— ironizei fingindo espanto.
— Muito engraçado você. Quero ver se vai estar sério quando eu
estiver enterrado em você novamente. — Prendeu-me embaixo dele.
— Como você faria isso? — Senti meu pau já duro roçar no seu.
— Fazendo amor com você, para demonstrar a saudade que eu
estava sentindo.
Pegou o lubrificante passando no seu pau e no meu ânus em
seguida.
— Então, me mostre, amor. Me mostre tudo — gemi sentindo seu
pau afundar em mim. — Ohh... Que delícia!
Filippo me mostrou com beijos, carícias e palavras carinhosas
sussurradas ao meu ouvido. Quando estávamos no nosso ápice, gozamos
juntos adormecendo cansados logo depois.
Acordei primeiro alguns minutos depois com a barriga roncando de
fome. Levantei, tomei um banho rápido, coloquei um short de flanela e uma
camiseta, antes de descer para pegar algo para mim e Filippo comer. Desci a
escada e fui direto à cozinha.
— Ritinha, estou com fome. Tem o que para o jantar? — perguntei
olhando Amora dormir no cantinho da parede.
— Tem risoto de camarão e de sobremesa torta de limão.
Dei-lhe um beijo na bochecha.
— Você é a melhor, Ritinha. Literalmente a melhor! — Peguei minha
cadelinha no colo. — Viu quem é a melhor, Amorinha?
— Está feliz, não é? Já que Sr. Aandreozzi chegou de viagem —
perguntou Rita e eu sorri assentindo.
— Oh, sim! Estou muito feliz e faminto. — Sentei na bancada.
— Vai querer levar ou vai comer por aqui? — ela perguntou, mas
antes que eu pudesse responder, Filippo apareceu.
— Vamos comer aqui mesmo. Obrigado, Rita. — respondeu ele e Rita
assentiu. — Obrigado por cuidar de Luiz quando eu não estava.
Eu e Rita olhamos espantados para ele.
— Não há o que agradecer, senhor. Gosto de Luti — ela disse séria e
eu sorri alegre.
— Pare com essa chatice, Ritinha. Diga a ele o quanto você me ama.
Rita revirou os olhos discretamente.
— Me deixou aliviado saber que ele estava sendo cuidado — falou
sério, aquecendo meu coração.
Ele estava tentando ser mais aberto, pelo menos com Rita. É assim
que começa!
— Tudo bem, senhor. Ele é adorável quando quer — falou colocando
os pratos à nossa frente e eu a olhei sem entender.
“Como assim quando quer?”
— Entendo muito bem isso. Às vezes, ele é tão desatento e
atrapalhado... — falou Filippo com Rita.
— Parem de falar de mim. Eu estou aqui, lembra? — Derrubei os
meus talheres assustando Amora.
— Com certeza atrapalhado, senhor! — Rita balançou a cabeça com
um sinal de desdém.
— Quer saber, vou comer! Fiquem aí falando sobre mim, vou fingir
que vocês não estão aqui. — Ignorei eles.
— Esqueci de dizer dramático — falou Filippo, fazendo Rita assentir e
eu continuei ignorá-los.
Terminamos de comer e subiu Filippo, eu e Amora para o quarto.
Chegando lá, vi que tinha muitas mensagens no grupo da família, mas não
pude ver, pois Filippo tomou o celular dizendo que estava com sono e me
queria dormindo com ele e Amora, que já estava bem pertinho de Filippo.
Até a cadelinha sentiu falta do italiano arrogante. Ignorei seus protestos e
abri o grupo mesmo assim.
Coloquei o celular no criado-mudo sob o olhar atento de Filippo e
deitei para dormir. Italiano chato! Virei para o lado oposto no intuito de não
olhar para ele e quando estava quase pegando no sono, sou arrastado para
os braços dele.
“Até que enfim ele fez isso!”
— Dormi esses dias sem você e não será hoje, depois que eu voltei,
que iria deixá-lo longe de mim — disse de forma grosseira e eu me controlei
para não rir. — Dormire mio bello. Avere un sonno della buona notte.
(Durma, meu lindo. Tenha uma boa noite de sono.)
— Buonasera! Ti voglio tanto bene! (Boa noite. Te amo tanto, meu
bem.) — Arrisquei o meu italiano fajuto e olhei para Filippo — falei certo? —
perguntei receoso.
— Falou tudo muito certo, bello! Boa noite e eu também te amo. —
Filippo sorriu e eu fechei os olhos.
Senti-me bem sabendo que estava nos braços dele.

Acordei no dia seguinte e fiz toda minha rotina com Filippo. Fomos
malhar juntos, mesmo ele brigando comigo por causa do meu
comportamento de intimidade com Brian, mas logo o contornei falando que
Brian era somente meu amigo e que eu não gostava da maneira de sempre
ser chamado de senhor. Depois de muito custo Filippo não falou mais nada.
Quando terminamos os nossos exercícios, fomos tomar um banho, e
como eu não teria aula no curso de línguas, coloquei uma roupa qualquer e
Filippo um dos seus termos para ir à empresa. Tomamos café e logo ele já
tinha saído.
Fui para seu escritório estudar, claro que eu perguntei antes se
poderia fazer isso lá. Filippo me olhou com uma cara de quem dizia: “Isso é
pergunta que se faça?”, e saiu sem me dizer mais nada. Fiz meu fichamento,
revisei os assuntos dado nas aulas anteriores, ou seja, estudei de verdade
com Amora o tempo todo ao meu lado, deitada no chão na maior preguiça.
Na hora do almoço, Filippo chegou e comemos a comida maravilhosa
de Rita. Assim que terminei de comer, corri para o quarto para tomar um
banho e me arrumar para ir à faculdade. Desci e Filippo já estava à minha
espera com Amora do colo fazendo carinho. Quando me viu, deixou a
filhotinha no chão e levantou para sairmos.
Filippo me deixou na faculdade e como eu já estava quase atrasado,
tentei adiantar meus passos andando de pressa. Mas só tentei mesmo, já
que fui interrompido por um corpo que parou à minha frente. Alguém que
eu jurava que não veria mais sua cara tão cedo.
— Precisamos conversar, Luti! — disse tia Amélia diante de mim.
— Desculpe, mas eu não tenho nada o que falar com você. Com
licença, que tenho que ir à aula — falei sem olhá-la tentando passar, mas ela
me impediu novamente de andar.
— Vim te chamar para irmos para casa! Queria me desculpar por
tudo que eu te disse. Sinto sua falta, meu sobrinho.
Olhei bem para sua cara que estava com uma expressão chorosa e ri.
Sim! Eu ri.
— Sério isso, tia? É sério que a senhora quer que eu volte para casa?
Ela me olhou confusa, não sei se pela minha pergunta ou por eu estar
rindo.
— Claro que é sério, Luiz! Seu lugar é em casa e comigo. Fui lá no seu
trabalho e soube que você não trabalha mais lá. O que você está fazendo da
sua vida?
Balancei a cabeça em negação.
— Sim, eu não trabalho mais no Benedetti — falei sucinto.
— Viu só! Você precisa de mim, esse cara aí que você namora, não é
uma boa influência para você.
Fiquei logo em alerta.
— Você ainda está com o Paulo? — Ela respirou fundo e não falou
nada. — Responda minha pergunta, tia Amélia. Você ainda está com o
Paulo?
— Estou sim! Ele sofreu um assalto e está todo quebrado. Estou
cuidando dele. Uma moça muito bonita me disse que esse seu tal namorado
a abandonou para ficar com você e que eles iriam se casar. Está vendo que
esse homem não é para você? Ele usa as pessoas. — O que disse fez toda
minha raiva que estava guardada transbordar.
— Chega! Você não aprendeu nada com a vida, não é? Como você,
uma mulher mais velha, pode ser tão inutilmente influenciada? — perguntei
com muita raiva.
— Do que você está falando, Luiz Otávio? — perguntou confusa.
— Você me abandonou! Você me jogou na rua por causa de uma
paixão ridícula pelo homem que tentou me estuprar na sua cozinha. Você
não quis me ouvir, somente achou necessário mandar embora o peso morto
que você carregava após a morte da sua irmã. E agora você vem aqui com
essa cara nojenta me pedindo para voltar para casa? Por quê? Que saber...
Não precisa se dar ao trabalho de responder, eu sei a resposta. Porque de
novo decidiu acreditar em alguém, e esse alguém é uma vadia, uma grande
vadia maluca — falei cada palavra mostrando todo o ódio que estava
sentindo. Minhas mãos estavam tremendo muito.
— Luiz, não fale assim. Tenho certeza que tudo vai se resolver, só
volte para casa. Esse homem rico só quer te usar, depois ele vai te largar e
voltar com a noiva — falou com lágrimas de crocodilo nos olhos.
— Filippo me ama! Você sabe o que é isso? Claro que não! Você se
apegou ao primeiro que te disse coisas legais e te proporcionou uma boa
foda e acha que é amor, mas vou te dizer uma coisa. Você não sabe o que é
amor! E não serei eu a te ensinar. Não me procure mais. Finja que eu morri
naquele acidente com meus pais, pois tenho certeza que assim você vai se
sentir menos presa a mim — disse controlando a minha respiração.
— Senhor, algum problema aqui? — perguntou Brian parado ao meu
lado.
— Não há nada aqui. Você pode me levar para casa? — perguntei e
ele assentiu ainda olhando sério para tia Amélia.
— Mas e sua aula, senhor? Tem certeza que não quer ir?
— Sim — respondi rápido.
— Tudo bem, então, vamos.
Já estava saindo quando virei novamente para tia Amélia parada
ainda no mesmo lugar.
— Cuidado com Antonella, ela é uma mulher que anda com gente da
pesada. Eu tenho quem me defenda. E você tem? Acho que não, por isso
tenha cuidado e não acredite em tudo que falam. As pessoas mentem, tia —
falei calmo, olhando nos seus olhos chorosos. — Filippo e sua família são
pessoas maravilhosas que me receberam de braços e corações abertos. Não
queira que eu a odeie, você ainda é minha família. Só precisa tirar a cabeça
para fora de sua bunda e ver as coisas melhor.
Segui em silêncio para o carro, deixando tia Amélia para trás. Ao
entrar, vi que Brian não parava de me olhar pelo retrovisor. Sabia que não
devia estar com uma cara muito boa. Meu coração estava doendo, minha tia
fez de novo. Como ela pôde? Só que agora era em Antonella quem ela
acreditava.
“Deus! Como uma pessoa pode ser tão burra e desacreditada em
mim?”
— Sabe, Luti... Você está andando muito com nonna Aandreozzi. O
que foi aquilo? “Tirar a cabeça para fora de sua bunda?”
Eu não aguentei ouvi-lo repetir aquilo e caí na risada.
— Nonna faz falta! E obrigado por me fazer rir, estava precisando —
falei abaixando a cabeça.
— Você é um cara legal, Luti, não ligue para essas coisas. Quer saber?
Vou pedir para Rita fazer brigadeiro para você, ela sempre come isso quando
está chorosa. Diz ela que melhora — falou Brian pensativo.
— Obrigado, cara! Você é um ótimo amigo. — Olhei-o pelo
retrovisor.
Seguimos o restante da viagem em silêncio e eu sabia que tudo o que
eu precisava era ficar um pouco só, parado em algum lugar para pensar e
esquecer que vi minha tia Amélia.
Aquela foi sem dúvida a pior viagem que eu já fiz em toda minha vida
como empresário. Não tinha paciência alguma de ficar indo de uma reunião
a outra. As pessoas me irritavam pelo simples fato de falar sobre negócios
comigo. O pior de tudo, foi ter que lidar com o governo de Portugal. minha
vontade era mandar todo mundo para puta que pariu e voltar para casa e
ver como meu bello estava.
Ligava para ele sempre quando eu podia e ficava muito aliviado ao
saber que ele estava bem e que nada de ruim aconteceu. Não sei o que seria
capaz de fazer se algo acontecesse e eu estivesse longe.
Ao chegar em casa, vi meu filhote e foi diferente chegar e ter uma
coisa tão miúda e carente, querendo minha atenção. Mas foi um diferente
muito bom. Sinceramente, foi o melhor presente que meu bello poderia me
dar.
Depois de ter dado um pouco de atenção a Amora, fui atrás de meu
bello. Chegar na faculdade de Luiz e ver aquele moleque fazendo de tudo
para levar mio bello para cama, me fez querer arrancar sua cabeça fora, mas
como um bom homem, tive que só lhe dar um pequeno soco e ameaçá-lo.
Minha noite com Luiz foi fora do comum. Pude matar a saudade que
estava sentindo dele, mesmo eu estando furioso com ele por deixar aquele
moleque colocar seus bracinhos a sua envolta.
Recordar que acordei e tive uma manhã ótima ao lado de Luiz, mas
que agora estava diante de um grande erro em uma das minhas
contribuições, feita por um dos empreiteiros que era muito burro ao ponto
de não saber ler uma anotação corretamente, era deprimente. Todas as
anotações eram passadas por mim, pois essas construções eram bastante
significativas para minha empresa.
— Que merda é essa aqui? — perguntei analisando uma das partes
da infraestrutura.
— Eu não estou entendendo o que o senhor está dizendo, pois não
estou vendo o que há de errado — falou o empreiteiro.
— Ou você é um analfabeto ou displicente, porque eu mesmo
verifiquei essas anotações e não tem como isso está desse jeito — disse
sério e vi o empreiteiro bufar.
— Eu fiz como estava na planta, senhor. O erro com certeza não foi
meu — disse arrogante.
— Não, não fez! Se tivesse feito não iria acontecer isso — falei
pegando uma barra de ferro e batendo com toda minha força na estrutura
que ele achava estar em perfeito estado.
E como eu já sabia, metade da construção veio a baixo. Eu já disse
que odiava incompetência, não tinha como aquelas anotações estarem
erradas. Um erro desses não passaria por mim despercebido. Voltei minha
atenção novamente para o analfabeto e reparei que seu rosto está com uma
expressão de puro susto.
— Eu não tinha noção que isso iria acontecer — falou o sujeito.
— Claro que não sabia! Esse seu erro poderia causar um enorme
acidente e a responsabilidade seria da minha empresa. Não preciso de gente
como você trabalhando para mim! — falei arrumando meu terno que
desalinhou com meus movimentos bruscos anteriores.
— Gente como eu? Ao que o senhor está se referindo? Está falando
isso porque sou negro? Eu posso te processar! — gritou o empreiteiro
irritado e eu o observei pela primeira vez.
— Você é negro? Sério? Eu sou gay! E me relacionar com um homem
não tem nada a ver com a competência do meu trabalho — falei impassível
e o observei arregalar os olhos. — A cor da sua pele não me interessa, o que
me importa é a perfeição que eu exijo nas minhas obras. Não quero você
aqui nem mais um segundo. Gente burra não trabalha para mim! — falei
saindo do local. Eu podia ser tudo, mas um fodido preconceituoso eu não
era!
“Bastardo!”
Entrei no carro com muita raiva, seria desastroso se acontecesse um
acidente em uma das minhas obras por desleixo de um dos meus
funcionários. Isso nunca aconteceu na gestão de nenhuma de nossas
empresas e não seria com a minha que iria acontecer. Vi o meu celular tocar
e ao ver que era de casa, atendi imediatamente.
— Aandreozzi falando! — disse assim que atendi a ligação.
— Sr. Aandreozzi, desculpe incomodá-lo, mas o senhor me deixou
informada que se acontecesse algo estranho com Luti era para te informar
— Rita falou tentando usar um tom séria, mas percebi a preocupação em
sua voz.
— Onde está Luiz, Rita? — perguntei em alerta.
— Chegou em casa e está na área da piscina. Não está com a cara
muito boa.
— Logo mais estarei em casa. — Desliguei em seguida. — Elijah, para
casa! — ordenei e fiquei pensando o que teria feito Luiz voltar para casa.
Senti o carro dar a volta e seguir caminho para cobertura. Não sabia
o que tinha acontecido com o meu bello, mas só de saber que ele não estava
bem, fez com que eu quisesse machucar o infeliz que lhe causou essa dor.
Não sabia explicar essa minha necessidade de querer protegê-lo do
mundo, devia vir do fato de o amar muito e me sentir completo ao seu lado.
Pensar que poderia surgir algo ou alguém para me afastar dele, me causava
uma revolta instantânea.
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi tirar o paletó e jogá-lo
em qualquer canto da sala. Fui até à área da piscina e vi meu bello sem a
roupa com a qual tinha saído, estava usando somente um short.
Luiz estava sentado em uma das poltronas, alisando os pelos de
Amora que estava bem quietinha recebendo o carinho. Aproximei-me
cauteloso e sentei na poltrona ao lado da sua.
— Vai me contar quem te deixou assim? — perguntei e ele continuou
de cabeça baixa. — Amore, se você não me contar, não poderei te ajudar.
Ele continuou sem falar nada, só levantou e se sentou no meu colo.
Então, ficou ele e Amora aconchegados a mim. Esperei o tempo dele, sabia
que uma hora ele iria falar. Luiz levantou a cabeça para me encarar pela
primeira vez desde que havia chegado.
— Quem te chamou? Foi a Rita, não foi?
Assenti.
— Sim, ela me falou que você não estava bem. Por isso vim te ver. Fiz
mal? — perguntei confuso.
— Nunca! Você aqui me faz bem. Obrigado por vir! — Deu-me um
beijo.
— Faço tudo por você! Vai me contar o que houve? — perguntei e
Luiz respirou fundo.
— Minha tia Amélia apareceu lá na faculdade hoje.
Irritei-me profundamente. Como ela ousava?
— O que ela queria com você, bello? — questionei e Luiz deu uma
risada sem graça.
— Acredita que ela teve a cara de pau de me pedir para voltar para
casa? Pois é, eu também não acreditei no início, aí perguntei se ela ainda
estava com Paulo. E sim! Ela está com ele curando das feridas que você
provocou. É, eu sei que você bateu no vadio! — falou sério e eu somente
assenti.
— Tenho que admitir que sua tia tem muita cara de pau mesmo —
falei irritado.
— Mas ainda não é a pior parte, amor — falou baixo.
— Não? O que pode ser pior que sua tia querer que você more
debaixo do mesmo teto que o homem que tentou te estuprar? — perguntei
rangendo os dentes de ódio.
— Pior foi ela achar que eu estou com você depois de destruir seu
noivado com Antonella e que você é um homem rico que só quer me usar.
Ah! Também tem o fato que você é uma má influência, pois eu não sou mais
um garçom no Benedetti.
Contei até dez, de trás para frente, para controlar o meu
temperamento. Tirei Luiz do meu colo e levantei.
— Como ela ficou sabendo sobre a vagabunda louca da Antonella? —
perguntei com punhos cerrados.
— Naturalmente a vadia descobriu sobre ela e foi até lá conversar.
— O que Antonella pensa que está fazendo, porra? — gritei
perguntando a mim mesmo e vi meu bello se encolher no lugar que
estava.
— Não sei, amor! Só me magoou profundamente minha tia pensar
algo errado sobre mim de novo. Porra, Filippo, dá para acreditar nisso? Ela
achou que eu estava seduzido por você por causa do dinheiro! O que ela vai
acreditar agora, que eu matei alguém? — disse Luiz e começou a chorar.
Deixei minha raiva de lado por um momento eu abracei meu bello.
— Desculpe, mio amore! Eu não deveria me exaltar dessa maneira,
você está precisando de mim no momento — sussurrei o abraçando forte.
— Não importa o que os outros pensam ou no que acham que acreditam. O
importante é que nós dois somos um casal e nos amamos. Não haverá
nenhuma pessoa fodida no mundo que irá tirar você de mim. Você é meu
para cuidar e amar! Só meu! E foda-se os outros.
— Obrigado, amor! Obrigado de verdade, não sei o que seria de mim
sem você nesse momento — falou Luiz choroso.
— Eu cuido de você, entendeu? — Segurei seu rosto entre minhas
mãos. — Não existe Amélia, Antonella, o diabo ou quem quer que seja que
possa abalar isso que nós temos. Entendeu?
Ele assentiu olhando nos meus olhos e me beijou.
— Entendi! — Saiu me puxando para dentro de casa. — Você vai
voltar para empresa?
— Não, bello! Vou ficar aqui com você — falei carinhoso e o vi
sorri.
— Ótimo! Então vou pedir para Ritinha fazer um lanche para nós
assistirmos um filme — falou quando chegamos à sala e eu não escondi a
cara de desgosto.
— Filme? Sério? Essas coisas são ruins, bello!
Ele me olhou entristecido.
— Sabe, amor... eu ainda estou meio deprimido. Adoraria assistir um
filme ou seriado com você, mas estou vendo que você não quer. Tudo bem!
— Saiu e eu entrei em parafuso.
— Está bom, amor! Vamos assistir o que você quiser — falei não
querendo vê-lo triste.
— Obrigado, amor. Você é muito atencioso. — Sorriu.
“Espere aí, ele não estava triste?”
— Você me enganou, bello? Fez isso mesmo? Que safado!
Ele soltou uma gargalhada gostosa.
— Eu amo você, ursão! Você é muito doce! — disse com alegria.
— Eu? Doce? Sério isso, Luiz? Você finge estar triste e agora me
chama de doce. Você está se comunicando muito com Luna. — Balancei a
cabeça negativamente e andei em direção ao escritório.
— Vai para onde, amor? — perguntou Luiz e eu virei para olhá-lo.
— Vou ao escritório, quando você for assistir sei lá o que, me chame
— disse e respirei fundo.
— Ficou bravo comigo? — perguntou com as bochechas vermelhas.
— Não, bello. Eu jamais ficaria puto com você. Só não quero mais
esse tipo de brincadeira. Odeio ver você triste, isso me dói — falei com o
sorriso pequeno e Luiz correu grudando suas pernas na minha cintura.
— Desculpa, ursão! Não farei mais isso — disse baixo e me deu um
beijo bem gostoso.
— Tudo bem! Agora vai, prometo não demorar.
Saí indo em direção ao escritório, eu tinha que resolver aquilo. Não
podia deixar simplesmente que Antonella ficasse por aí inventando coisas,
enchendo a cabeça das pessoas com mentiras, mesmo que essa pessoa
fosse a puta da tia de Luiz. Aquela seria outra que depois teria que bater um
papo bem longo. Mandei ela se afastar e ela não ouviu.
“Por que as pessoas têm tendências a ir de contra o que eu mando?”
Peguei meu celular e liguei para Antonella, o telefone só dava caixa
de mensagem, mas eu não iria desistir de passar o meu recado. Por isso
liguei para uma das pessoas que mais odiava.
— Mas veja se não é meu futuro genro. Como vai você, Filippo? —
falou Antony Mantovani do outro lado da linha.
— Corta logo essa porra de genro! Nunca serei nada seu, muito
menos seu genro — falei trincando os dentes.
— Você está muito agressivo, Filippo. Aconteceu algo? — perguntou
em um tom de preocupação.
“Fingindo!”
— Aconteceu! Aconteceu que eu quero que você tire sua filha de São
Paulo. Antonella está mexendo com alguém que não se deve mexer — falei
exaltado.
— Minha filha te ama, ela está tentando fazer dar certo! Quando
minha filhinha coloca uma coisa na cabeça, ela vai até o fim — disse em um
tom de riso.
— Ama? Vai se foder, Mantovani! Eu só quero que você faça sua filha
se afastar. Eu nunca encostei a mão em uma mulher e espero que sua filha
não seja a primeira. Não sou um homem para ser contrariado, Mantovani!
— falei em um tom perigoso e ouvi um riso anasalado do outro lado da
linha.
— Eu nunca te vi tão fervoroso. Você sempre foi tão controlado e
agora está aí, mostrando que realmente tem o sangue de meu saudoso
Domenico.
Bati com o punho fechado na mesa.
— Não falarei novamente! Por isso, afaste sua filha de mim.
Lembrese, Mantovani, não gosto de ser contrariado. — Encerrei a ligação.
Sabia que o maledetto do Mantovani não faria nada, Antonella sempre
foi conhecida por ser muito protegida pelos pais, mas para mim isso não
queria dizer nada. Se ela continuasse com suas loucuras, quebraria o seu
pescoço sem pensar duas vezes.
Saí do escritório e subi para meu quarto. Tinha que trocar de roupa,
como Luiz inventou de querer assistir a um filme, não podia evitar de lhe
fazer companhia. Mesmo que eu não gostasse de ver o que meu namorado
gostava, eu curtia muito ficar com ele, então, ninguém sairia perdendo.
Coloquei uma bermuda qualquer e camiseta, cheguei à sala e vi Luiz
sentado com alguns sanduíches preparados. Ao me ver, ele abriu um sorriso
e me chamou para sentar ao seu lado. Sequer lembro qual era o nome do
filme, na verdade, isso não me interessava. Só de ficar com meu bello e ver
sua expressão suave, já me fazia bem.
Terminamos a sessão de massacre e subimos para nos aprontar, eu
lhe prometi que iniciaria o seu treinamento quando voltasse. Por mais que
eu não quisesse Luiz envolvido, sabia que esse treinamento seria muito
necessário. Era sempre bom saber se proteger, ainda mais com os
problemas que eu carregava. Prontos, fomos para o salão de treinamento.
Ao ver o local, Luiz ficou observando tudo com muita curiosidade. Alguns
seguranças já estavam lá se preparando para algumas lutas corpo a corpo.
— Você vai me ensinar a lutar, Filippo? — perguntou Luiz olhando
para o ringue.
— Não, essa parte será Brian. É sempre bom o treinamento físico ser
feito pelo segurança, e tenho que reconhecer que no treinamento de
defesa, Brian é o melhor — falei sob o olhar atento de Luiz.
— Entendi! Como treino é com Brian, nós dois vamos ter mais
consciência dos nossos movimentos, já que ele passa maior parte do tempo
comigo, além de que vai me estudar e ajudar com o que eu precisar. Não é
verdade?
Assenti.
— Isso mesmo, bello! Muito inteligente, gosto disso em você. —
Deilhe um beijo.
Levei meu bello para o estande de tiros e mostrei a ele quais eram as
armas que mais usávamos. Ensinei ele a colocar os cartuchos de balas e a
travar e destravar uma pistola. Quando tinha lhe passado todo básico,
comecei a ensiná-lo a atirar. Não porque ele era meu namorado, mas o meu
bello sabia atirar muito bem. Perguntei se ele já havia feito aquilo antes e o
espertinho me disse que aprendeu tudo nos jogos de vídeo game. Depois da
noite de treinamento, voltamos para casa.
— Nossa, eu sempre gostei de armas — falou assim que entramos no
quarto.
— Não se empolga muito, bello. Usar uma arma não é uma coisa
muito gratificante — falei tirando minha roupa.
— Desculpe, amor. Isso é verdade! Não é nada para se ter orgulho.
— Isso mesmo! Se eu pudesse, nunca usaria. — Respirei fundo.
— Quando você pegou uma arma pela primeira vez? — perguntou e
eu viajei em pensamentos, voltando há uma época que adoraria esquecer.

Estava andando pela cozinha procurando pela cozinheira. Não sabia


seu nome, perguntei certa vez e ela não me falou. Tio Paolo falava que eu
não devia conversar com os empregados, já eu era o dono de tudo, mas eu
não gostava de ficar sozinho por muito tempo.
Ali só tinha homens armados e mulheres quase nuas, não queria ficar
naquele lugar. Queria ir para casa ver meus irmãos. Prometi a Lucca que
levaria ele para ver o cachorro grande que o vizinho tinha. Ele me fez jurar
que o levaria e eu não desfazia uma promessa ao meu irmãozinho.
Gostava muito dos meus irmãos, de todos eles, mas Luna era a minha
bambina. Ela ainda era pequenina. Um dia, peguei Enzo tentando
fazer ela chorar e quando vi isso, lhe dei um soco no olho. Não gostei
do que eu fiz, não gostei mesmo, mas ele não podia tratar nossa
bebê assim. Depois que vi o olho dele ficar preto e mamma me
colocar de castigo, eu jurei que nunca mais iria fazer mal aos meus
irmãos de novo.
— Filippo! Vieni qui il mio guerriero (Filippo! Venha aqui, meu
guerreiro) — gritou meu tio.
Só de ouvir sua voz, sentia vontade de chorar. Não podia me
esconder. Se fizesse, seria pior.
— Vieni qui ora! (Venha aqui já!) — gritou novamente e eu tive que ir
correndo.
— Giuro che non ho fatto niente zio! Volevo solo per mangiare
qualcosa (Eu juro que não fiz nada, tio! Eu só queria comer alguma coisa) —
disse apressado, assim que parei diante dele.
— E 'stata la domestica che non le diede cosa mangiare? (Foi a
empregada que não lhe deu o que comer?) — perguntou com seu rosto bem
próximo ao meu.
— Non zio Paolo! (Não, tio Paolo!) — disse o mais firme que eu
consegui.
— Bene. Ora mi segua! (Tudo bem. Agora siga-me!) — falou meu tio
virando-se para andar e eu fiquei muito feliz, achei que iria para casa.
— Mi vuoi portare a casa, lo Zio? (O senhor vai me levar para casa,
tio?) — perguntei e senti um tapa bem forte atingir minha face, fazendo-me
cair no chão.
— La sua casa è ora qui Filippo! Voi siete il futuro Finastella (Sua casa
agora é aqui, Filippo! Você é o futuro da Finastella) — falou com muita raiva,
muita raiva mesmo.
Fiquei com medo e me encolhi no chão frio.
— Mi zio dispiace, sono Miss della mamma (Me desculpe, tio. Estou
com saudade da mamãe.) — falei tentando não chorar. Meu tio disse que
não devia chorar. Nunca!
— Non hai bisogno di un piccolo, mi avete. Sono quello che vi serve
(Você não precisa de ninguém, pequeno, você tem a mim. Sou eu quem você
precisa) — disse meu tio abaixando-se e segurando meu rosto. - Hai sentito
quello che ho detto? (Ouviu o que eu disse?)
— Sì zio!(Sim, tio!) — falei e ele me levantou do chão.
— Ora andiamo! Inizierò il tuo allenamento di oggi (Agora vamos!
Vou iniciar seu treinamento hoje) — disse ele andando comigo logo atrás.
Entramos em uma sala, mas parei próximo a porta quando vi um
homem todo sujo de sangue, amarrado em uma cruz de madeira. Uma cruz
que se parecia com a de Jesus Cristo, como a que tinha lá na catedral. Ao me
ver parado, meu tio Paolo me puxou com tudo para perto dele.
Alguns homens que andavam armados pela casa, estavam dentro da
sala também e todos olharam para mim. Eu estava com medo, mas meu tio
disse que eu era um Aandreozzi e nós somos fortes e não há o que temer,
mas mesmo assim eu estava com medo. Meu tio me mostrou uma arma, ela
parecia muito com a que meu babo guardava no carro dele, a qual meus
irmãos e eu éramos proibidos a pegar.
— Questo in attesa di? Prendete questa merda! (Está esperando o
que? Pegue essa porra!) — gritou meu tio fazendo eu pular de susto.
— Io ... lo zio non posso! (Eu... Tio, eu não posso!) — falei dando um
passo para trás.
Meu tio empurrou a arma com toda força no meu peito causando
dor, muita dor.
— Naturalmente è possibile la vostra merda! E si otterrà la pistola e
sparare alla testa di quel traditore misera (Claro que pode, seu merda! E
você vai pegar essa arma e atirar na cabeça daquele desgraçado traidor) —
falou meu tio me puxando pela camisa.
— No zio! Non posso, per favore. Non lo zio! (Não, tio! Eu não
consigo, por favor! Não, tio!) — supliquei choroso para meu tio não deixar
eu fazer aquilo.
— Fatelo! In caso contrario, io ucciderò ognuno di suo fratello.
Pensate al piccolo Luna piena di sangue, come quel maledetto lì. Ha
pensato? (Faça! Senão eu matarei cada um dos seus irmãos. Pense na
pequena Luna cheia de sangue, como aquele maldito ali. Pensou?) —
sussurrou meu tio no meu ouvido e meu corpo começou a tremer.
“Minha sorellina não! Meus irmãos não!”
— Va bene, lo farò! Se si tira nei miei fratelli, io ti uccido! (Tudo bem,
eu faço isso! Se você encostar nos meus irmãos, eu mato você!) — falei
enraivecido e meu tio sorriu feliz.
— È così che si parli il mio ragazzo! Tu sei il nostro futuro Filippo. (É
assim que se fala, meu garoto! Você é o nosso futuro, Filippo.) — disse
sorrindo e depois apontou para o homem.
Destravei a arma como meu tio me ensinou e tive que segurar com
muita força, pois ela era muita pesada. Depois de olhar na direção certa que
deveria atirar, mirei bem e respirei fundo pensando nos meus irmãos. Não
podia deixar que ele fizesse com eles o que fazia comigo, tinha que
protegêlos. Eu era o irmão mais velho deles! Respirei fundo mais uma vez e
atirei.

— Amor? Amor, volta para mim! Filippo, esquece isso, tira isso da
cabeça! Filippo! — Ouvi a voz de meu bello e despertei dos meus
pensamentos.
— Bello? — perguntei desnorteado.
— Sim, amor, sou eu! Desculpe por fazer você lembrar de coisas
ruins. Vou cuidar de você, ursão! Esqueça tudo, você está aqui comigo —
disse Luiz me abraçando forte.
— Obrigado, bello! Te amo! — falei abraçando Luiz para tirar toda
lembrança ruim de Paolo de minha cabeça.
— Eu também te amo! — Beijou-me e eu aceitei de bom
grado.
Meu bello era a minha redenção, sabia que ele era. Esperava que os
nossos sentimentos pudessem fazer com que eu me desligasse daquela vida
maldita que Paolo me proporcionou. Faria de tudo para que nada
acontecesse ao meu bello, nem que eu tivesse que dar a minha vida por isso.
Aprendi a nunca subestimar Paolo e sua capacidade de me ferir.
Ver Filippo parado olhando para o nada com um olhar sem vida me
cortou o coração. Nunca imaginei vê-lo dessa maneira, era como se ele
estivesse em outra dimensão em um mundo só dele, não gostei de ver isso,
não gostei mesmo. Fiz de tudo para tirá-lo do transe, mas estava difícil, até
que gritei e consegui o trazer de onde quer que sua mente tivesse o levado.
Depois que Filippo se acalmou, fomos tomar um banho juntos. Liguei
a torneira da banheira e a deixei encher. Entramos nela e percebi que Filippo
ainda estava estranho. O que ele fez a seguir me deixou espantado.
Simplesmente começou a cantar baixinho uma música conhecida por mim,
Don't Cry - Guns N' Roses. Ver Filippo cantando aquela música, mesmo que
fosse quase sussurrado, me fez chorar. Minha mãe gostava muito dela, ela a
cantava enquanto estava limpando a casa e papai ficava olhando para ela
como um homem apaixonado, dizendo o quanto ela era linda e cantava
como um anjo. Acompanhei Filippo junto a música.

“...You gotta make it your own way


Você tem que superar isso sozinha
But you'll be alright now, sugar
Mas você ficará bem, docinho
You'll feel better tomorrow
Amanhã você se sentirá melhor

Come the morning light now, baby


Com a luz da manhã, querida
Don't you cry tonight
Não chore esta noite
There's a heaven above you, baby
Existe um paraíso acima de você, querida…”

— Minha mãe costumava cantar essa música quando estava


arrumando a casa. Minha tia Amélia lhe deu um CD com diversas músicas de
rock clássico e essa era uma das que mamãe mais gostava — falei baixo e
Filippo me olhou com atenção. — Eu acabei aprendendo por osmose.
— Não sou muito de ouvir música ou assistir televisão, mas eu gosto
de Guns N' Roses. Paolo me fez fazer coisas ruins, bello, Às vezes, para
esquecer tudo, ouvia o único CD que eu achei perdido por lá. Não fazia ideia
de quem era a banda, eu era apenas uma criança, mas peguei e fiquei para
mim — Filippo falou com uma expressão dura.
— Não posso imaginar o que você deve ter passado por lá, amor,
mas seja o que for você vai superar.
Ele soltou um suspiro alto.
— A primeira vez que peguei em uma arma, eu tinha doze anos de
idade. Paolo dizia que estava iniciando meu treinamento. Ele mandou eu
atirar em um dos seus capangas que tinha lhe traído.
Arregalei meus olhos.
— Porra! Como ele pode fazer isso com uma criança? Ele é um
monstro! Que filho da puta — disse enraivecido.
— Eu não queria fazer aquilo, mas ele me forçou, bello. Ele disse que;
se eu não fizesse mataria ser meus irmãos, principalmente, Luna. Eu não
poderia deixar ele encostar nos meus irmãos. Naquela época eu não sabia
que a fixação dele era só por mim. Eu vivi um ano no inferno com Paolo
Aandreozzi. Foi um ano que me mudou, bello. Eu não conseguia mais ser a
mesma criança de antes de ser levado por ele — disse Filippo de olhos
fechados e dentes cerrados.
— Eu não posso sequer imaginar o que você passou, amor — falei
com pesar.
— Paolo queria que eu fosse sua cópia fiel. Desejava me transformar
em um monstro. Ele fez meus pais de palhaço. Vi meu pai entrar naquela
mansão para pedir ajuda, pois não estava conseguindo me encontrar. O
desgraçado teve a coragem de rir da cara de meu pai. Até hoje eu não sei
como babo conseguiu me tirar daquele inferno. — Cada palavra saída de sua
boca era dura e enraivecida.
— Deixa ver se eu entendi... Paolo te raptou, você ficou desaparecido
por um ano, e quando seu pai não tinha mais nenhuma alternativa, foi pedir
ajuda para o irmão. Irmão esse que te levou e causou muitos traumas em
você — falei organizando meu raciocínio.
— Isso mesmo! Mesmo depois de eu ter saído de lá, ele sempre fazia
de tudo para me encontrar. Sempre pegava ele me observando ou me
colocando em situação difícil. Paolo dizia que era para me proteger com suas
vigilâncias ou para me fazer amadurecer — disse Filippo com o pensamento
longe.
— Eu não entendo o porquê dessa fixação dele por você. Isso é muito
estranho.
— Nem eu. Antes eu achava que Paolo só queria infernizar minha
vida, me fazer de capacho ou seu soldado. Hoje em dia, eu sei que tem mais,
tem muito mais. — Filippo estava furioso.
— Também acho que tem, mas não pense mais nisso agora, amor.
Você é bom, você é um anjo que me ajuda muito e me dá muito amor. —
beijei-o na boca.
— Eu estou mais para demônio, bello. Mas espero que você possa
me salvar do meu inferno — disse com pesar, encostando sua testa na
minha. Vi pelos seus olhos que ele não estava bem.
— Olha... Quer saber? Vamos sair desse banho, comer alguma coisa é
ir dormir. Amanhã meu dia vai ser corrido.
— Vamos sim! Vai fazer o que amanhã? — perguntou curioso.
— Bem... Amanhã tenho aulas, vou levar Amora ao veterinário e vou
almoçar contigo. — Sorri.
— Por que vai levar Amora ao veterinário? Ela está doente? —
perguntou rapidamente.
— Não! É só uma revisãozinha. — Saí da banheira.
— Tudo bem! Vamos, pois estou com fome. — Fez careta.
Saímos do banheiro, colocamos uma roupa qualquer e descemos
para cozinha. Rita tinha preparado uma lasanha digna de gemidos
apreciativos. Comemos muito! Eu, pelo menos, repeti umas três vezes.
Filippo aproveitou meu barco e também comeu para caralho.
Percebi que depois que ele conversou comigo, seu semblante
melhorou muito. Não estava mais tão carregado como antes e isso me
deixou feliz. Depois de finalizarmos o jantar, subimos para quarto e quando
chegamos lá, percebi que o celular de Filippo estava tocando.
— Buonasera babo! — cumprimentou Filippo. — Não, pai, não
aconteceu nada ainda… Espere aí, pai — disse e colocou o celular no viva
voz.
— Filippo, eu realmente quero saber se está acontecendo algo? —
perguntou Donatello. — Boa noite, Luiz! Antony Mantovani me ligou.
— Boa noite, Donatello! — respondi-o.
— Então quer dizer que o filho da puta te ligou? Se ele lhe disse que
eu ameacei a filha dele, é a mais pura verdade — disse Filippo calmo.
— O que foi que essa vagabunda fez? — perguntou Don com ar
cansado.
— Ela foi procurar a tia de Luiz Otávio e, como sempre, falando coisas
que não existem.
— E como sempre minha tia Amélia acreditou nos outros — disse
revirando os olhos.
— Não é possível! Como ela sabe tanta informação dele assim? —
perguntou Donatello.
— Não faço ideia, babo! Mas assim que eu encontrar Antonella vou
arrancar a verdade dela na marra, se for preciso — disse Filippo decido.
— Tudo bem, filho. Só tomem cuidado. Espero que não aconteça
nada, mas se vir acontecer, me liguem imediatamente e logo estarei no
Brasil — falou Donatello me fazendo rir.
— Fique despreocupado, não acontecerá nada por aqui — falei e
ouvi um suspiro.
— Espero que seja verdade, meu genro! Deixem-me ir. — Desligou.
— Como podem pai e filho ser tão parecidos? — resmunguei e vi o
olhar confuso de Filippo.
— Como assim, bello?
— Vocês dois tem essa mania triste de desligar sem se despedir —
falei resignado e Filippo revirou os olhos.
— Oras, bello! Eu odeio essas despedidas — falou como se não fosse
nada.
— Tudo bem, amor! Vamos dormir. — Corri para cama.
— É impressão minha, ou você correu para não desligar a luz do
quarto? — perguntou Filippo e eu sorri travesso.
— Quem? Eu? Claro que não, amor! — falei me cobrindo com o
lençol.
— Claro que é você! Amora que não foi! — balançou a cabeça
negativamente.
Depois de rir muito da cara de meu ursão, acabamos dormindo
abraçados, mas logo me soltei de seu abraço, estava suando litros, o homem
era muito quente.
“Que calor da porra!”

Acordei no dia seguinte na maior preguiça, não quis ir com Filippo


malhar, não estava a fim. Não era obrigado! Quando decidi levantar, me
arrumei para ir ao curso de italiano e levei Amora comigo, tinha que deixá-la
no veterinário. Rita disse que passaria para pegá-la depois. Fui para minha
aula e quando saí, fui direto para empresa de Filippo.
— Olá, Suzana. Como você está? — perguntei ao passar pela
recepção.
— Oi, chefinho. Vou bem e você? — Olhei para ela sem entender o
porquê do: Chefinho.
— Chefinho? Sério, Suzana? Nada disso, é Luiz ou Luti!
Ela sorriu largamente.
— Mas você é o marido do nosso patrão! Por isso pensei…
— Nada disso! Quem te falou sobre mim e Filippo? — perguntei a
interrompendo. Senti minhas bochechas esquentarem.
— Eu vi, gato! Vi o beijo de vocês dois aqui na empresa — falou
Suzana com empolgação e eu fiquei muito envergonhado.
— Certo… O beijo! Olha, Suzana, deixa eu ir! Depois nos falamos. —
Saí apressadamente.
— Não dê muita confiança a esse povo da empresa do Sr. Aandreozzi,
Luti. São todos um bando de fofoqueiro — disse Brian quando entramos no
elevador.
— Caralho! Percebi isso, meu amigo, pode deixar — concordei e vi
Brian voltar para sua pose de segurança foda.
Saímos do elevador e eu fui diretamente para sala de Filippo. Ainda
não havia me acostumado com a grandeza do lugar. Tudo ali era tão lindo,
tão rico, me sentia totalmente em outro mundo quando estava ali. Brian me
falou que eu um dia iria me acostumar, esperava que sim, porque eu não
pensava em deixar meu Italiano. Jamais!
— Mel, cadê Filippo? Está na sala dele? — perguntei ao me
aproximar dela.
— Não, senhor, ele está em uma reunião fora daqui — falou em tom
profissional.
— Melissa, relaxa um pouco aí, ok? Eu não sou senhor, sou Luiz ou
você pode me chamar de Luti também. — Vi ela ficar com vergonha.
— Não posso tratar o senhor assim, seria antiético.
Revirei os olhos.
— Lutito, amor da minha vida! — Ouvi a voz de Beto atrás de mim e
vi Melissa bufar.
— O senhor conhece esse sujeito? — perguntou Melissa.
— Sim, Beto é o meu melhor amigo. — A pobre moça ficou branca e
eu corri para segurar sua mão. — Eu sei que ele é um marrentinho, muitas
das vezes inconveniente, mas é um doce quando você o conhece direito.
— Estou ouvindo você falar mal de mim, Lutito. Que coisa feia! —
falou Beto em um tom ofendido, fazendo eu revirar os olhos. — Meu
fechamento é você, mozão! — Apontou para Melissa que não entendeu
nada. E eu? Bem, eu comecei a rir. Esse Beto não era normal.
— Olhe para você, amigo. Não sabia que ternos combinavam tão
bem com você — elogiei-o depois de rir olhando para meu amigo, vestido
como um homem de negócios.
— Não é, cara?! Eu fico gostoso com qualquer roupa.
Mel bufou novamente.
— Oh, céus! Você é um cara muito convencido. Fala sério, Beto! —
disse com indignação.
— E você, Mel da minha panqueca? Já resolveu se vai sair comigo?
Olha, eu sou uma ótima companhia — disse Beto tentando ser sedutor.
Mel fez uma cara de desgosto.
— Isso não vai acontecer, Sr. Cabral — disse ela séria.
— Pare com isso! Uma saidinha entre amigos, vou chamar também
Luti e Ângela — disse Beto tentando convencer Melissa.
— Vamos exatamente onde? — perguntei.
— Vamos ver Sorriso Maroto. Estou precisando beber e chorar, e
nada melhor que um pagodinho sofrido.
Comecei a gargalhar.
— Mas você nem gosta de pagode — falei sorrindo.
— E daí? Mais eu quero chorar. Tenho certeza que com aquelas
músicas vou chorar muito. — Colocou a mão no peito.
— Você é um grande filho da puta dramático. — Ri e ele riu também.
— Desculpe o atraso, bello. O trânsito dessa cidade é um absurdo —
disse Filippo vindo em minha direção.
— Tudo bem. Eu estava aqui conversando com Beto e Melissa. —
Sorri para o meu amor.
— Está fazendo o que aqui, Sr. Cabral? Que eu saiba, sua área é a
administrativa e não a presidência — disse Filippo em um tom sério, sendo
um verdadeiro chefe.
— Desculpe, Sr. Aandreozzi. Fui informado que Luiz estava aqui e vim
lhe fazer companhia — falou Beto sério, me surpreendendo.
— Então volte para o seu setor.
Beto assentiu. Quando estava saindo, ele voltou e se aproximou de
mim.
— Viu como posso ser profissional? Mas ele vai ser sempre o Filitito
para mim — disse Beto baixo no meu ouvido, fazendo-me gargalhar alto.
Depois saiu em direção ao elevador.
— O que foi que ele falou, bello? — perguntou Filippo com
curiosidade.
— Você não vai querer saber, amor. Não vai querer saber mesmo! —
Sorri.
Filippo endureceu a expressão.
— Que seja! Vamos almoçar, tenho outra reunião daqui a uma hora.
— Tchau, Mel! Pensa com carinho na nossa saída — disse e Filippo
me olhou carrancudo.
— Que saída é essa? Não estou gostando nada disso, bello. Nada
disso! — falou rude.
— Relaxa, amor. Vou te levar para curtir um pagode também. —
Sorri e Filippo me olhou confuso.
Saímos da empresa e fomos ao restaurante para almoçar. Não
conseguia parar de sorrir imaginando meu amor em um show de pagode.
Não era um lugar onde Filippo poderia querer ir, mas se ele quisesse vir
atrás de mim, não poderei fazer nada. Mas que eu estava rindo, isso eu
estava. Amava demais meu ursão!
Depois de almoçarmos juntos, segui meu caminho com Brian, dessa
vez eu nem pude conversar direito com Filippo, pois ele já estava atrasado.
No carro, meu celular tocou. Ao ver o nome de quem me ligava, um sorriso
automático apareceu em meu rosto.
— Quem é o cunhado mais lindo que você tem, Luti? — perguntou
Lucca em um tom divertido.
— Você! Com certeza é você, Luc. Que Enzo e Luna não ouça. —
Sorri. — O que devo a honra?
— Honra mesmo, pois sou um homem ocupado.
Revirei os olhos, mesmo sabendo que ele não veria.
— Mas falando sério, eu preciso conversar com alguém. E pensei que
você poderia me ajudar.
— Aconteceu alguma coisa, cara? Você está bem? — perguntei
preocupado.
— Meu corpo está bem, mas minha cabeça anda meio confusa. Só
queria conversar.
Fiquei feliz pela confiança que ele estava depositando em mim.
— Ficarei bem em te ouvir cunha… — Antes que eu pudesse terminar
minha frase, senti um baque forte atingir o carro.
— Que barulho foi esse, Luiz? — perguntou Lucca.
— Não sei… O que foi isso, Brian? — perguntei em alerta.
— Estamos sendo atacados, senhor! — disse Brian tentando mexer
no comunicador.
— Quem seriam eles, Brian? O que eles querem? — perguntei quase
gritando de puro medo.
— Eu não sei, Luti, mas seja o que for não é nada bom. Porra! Não
estou conseguindo pedir ajuda! — gritou Brian.
— Eles querem a mim. Eles querem a mim — sussurrei para mim
mesmo de olhos fechados.
Rezei para que isso não passasse de um engano, teste, o inferno que
fosse. Eles não podiam me levar, mas não seria um frangote, fosse o que
fosse, enfrentarei de cabeça erguida.
Olhei para todos os lados e reparei que tinha quatro carros. Dois na
frente e dois atrás nos impedindo de andar ou recuar. Encontrei o olhar de
Brian pelo retrovisor e percebi que estávamos perdidos. Lucca gritava meu
nome pelo alto falante, mas eu não conseguia respondê-lo. Todos os poros
do meu corpo gritavam perigo. Vi que vários homens desceram dos carros
armados. Brian ia pegar a arma dele, mas eu o impedi.
— Não, Brian! Eles querem a mim, não vou deixar você se machucar
por minha causa — disse tentando ser forte, mas no fundo só queria deitar e
chorar.
— Isso não vai acontecer, Luti! Eu sou seu protetor, meu dever é
prezar pela sua segurança. Deixe-me fazer o meu trabalho — disse sério.
Assenti.
Olhei para meu celular e vi que a ligação de Lucca foi finalizada e que
meu celular está sem sinal. Perguntei a Brian o que seria, ele me disse que
tem quase certeza que eles cortaram os nossos sinais.
“Filhos da puta!”
Eles gritavam para que saíssemos do carro, olhei para Brian e por
mais que ele disfarçasse, sabia que estava complicado sair daquela situação.
Então fiz o que meu coração mandou, abri a porta do carro e saí.
— Não faça isso, Luiz Otávio! Eles vão te matar. Porra! — gritou Brian
enraivecido.
— Desculpe, Brian. Não posso deixar que se machuque por mim —
falei com a voz trêmula. — NÃO! — gritei ao ver Brian sair do carro.
Dois tiros foram disparados e vi meu amigo ir parar no chão.
— Porra, Brian! Porra! — gritei. Lágrimas saíram dos meus olhos.
— Vamos, mocinha, tem alguém que quer você vivo — disse um
homem com forte sotaque italiano, me puxando pelo braço e eu comecei a
lutar para me soltar.
— Me solta, seus filhos da puta! Me solta, caralho! — gritei em
plenos pulmões.
— Cale a boca! Cale a boca, filho da puta! — O bandido me jogou no
chão e começou a me chutar com toda raiva.
Brian estava sangrando muito. O modo que eu tentei ir sem
machucálo foi por água abaixo. Ele tentou levantar do chão segurando a
barriga, mas eu lhe pedi pelo olhar que ficasse onde estava. Ele não estava
morto, podia ainda se salvar. Não suportaria saber que ele morreu por
minha culpa.
— Vi ho dato una lezione, ora dormire! (Já te ensinei uma lição, agora
dorme!) — falou e deu-me um forte soco no rosto, fazendo tudo escurecer
em seguida.
Acordei desnorteado sem saber onde estava. Senti cheiro muito forte
de urina. Abri os olhos e vi que o lugar era escuro, tinha pouca
luminosidade. Estava deitado em uma cama pequena e consegui ver que o
teto era de madeira. Tentei sentar, mas minhas costelas doíam, doíam muito
fazendo eu me encolher pela dor. Tentei novamente sentar e depois de
muito custo eu consegui, mas até para respirar doía.
Observando direito o local, percebi que estava em um porão ou algo
do tipo. Virei minha cabeça para direita e vi uma escada de madeira com um
corrimão de ferro. Nem me daria ao trabalho de levantar para ver se estava
aberta, já sabia que não estaria. Movi minha cabeça para o lado esquerdo e
a imagem que vi fez meus olhos se arregalaram. Olhos não, somente um
olho, pois meu direito estava inchado e não se abria.
Ao meu lado esquerdo tinha duas crianças, mais precisamente uma
menininha; de menos de dez anos e um menino deitado com a cabeça no
colo da garotinha. Eles não estavam com uma boa aparência, a garotinha
estava com algumas marcas no corpo, vestindo um vestido vermelho
surrado e com os pés descalços. O garotinho estava tremendo e todo suado,
vestindo uma blusa amarela e short jeans também surrados. Eles me
olhavam assustados, com certeza estavam com muito medo. Queria me
aproximar, mas estava com receio de amedrontá-los mais ainda.
Ouvi um barulho da porta sendo aberta. Tirei meus olhos das
crianças e vi um homem olhando na minha direção com uma bandeja. Era o
mesmo homem que me bateu e deixou desacordado.
— Aqui está a comida de vocês, por isso comam essa merda! Vocês
têm que estar fortes para viajar — disse o homem asqueroso, jogando a
bandeja em uma mesinha que reparei estar ali somente naquele momento.
— Onde eu estou? Eu não vou a lugar algum com você! — falei o
mais forte que consegui, mas minhas costelas doíam.
— Vejo que a surra que eu te dei mais cedo não adiantou muito, não
é, mocinha? — falou irritado e em seguida cuspiu no chão.
— Meu irmão precisa de remédio, ele está doente! Ele vai morrer! —
gritou a menininha irritada. Ao fazer isso o homem virou em direção à ela.
— Você é uma bambina muito insolente e ainda gosta de apanhar!
Vou te dar mais uma lição, vadiazinha — disse indo até à menina.
— Por favor, não! Eu só quero um remédio para o meu irmão —
disse chorando quando o homem puxou-a forte, fazendo o garotinho cair no
chão em um baque.
— Cale boca, sua porra! — Deu-lhe um tapa no rosto.
— Não bata nela, seu covarde filho da puta! Desgraçado! — gritei me
levantando no impulso e esquecendo minha dor.
Avancei no homem libertando a garotinha dele e o empurrei com
toda a força que tinha naquele momento, fazendo-o se bater contra a
parede. Quando ele se recuperou do empurrão, veio com tudo para cima de
mim. Caí no chão e comecei a ser agredido. Ouvi as crianças chorarem e
gritar para o meu agressor que ele parasse.
— Ei, Nicco! Pare com isso, cara! — disse outro homem impedindo o
tal Nicco de me bater mais.
— Esse filho da puta me empurrou! Ele merece tomar uma surra
para parar de ser um machinho ousado — disse meu agressor com ódio.
— Cara, o chefe mandou levá-lo com vida. Está louco, porra? —
perguntou o cara.
— Vai se foder, Rogério! Ainda tem essa vadiazinha gritando comigo.
— Nicco apontou para garotinha.
— Eles são mercadoria, Nicco! Depois que a prostituta morreu, esses
merdinhas serão vendidos. E sabe que se vier com defeitos os casais não
compram — falou Rogério fazendo meu estômago embrulhar.
— Va bene! Vamos antes que eu os mate! — gritou Nicco, mas antes
de sair chutou forte meu rosto, me levando novamente para escuridão.

— Sai daí! Você vai acordar ele — disse uma vozinha feminina
sussurrada.
— Voxe tem que gadecer o moço! Ele não deixou o homem mau te
bater de novo. — Uma outra vozinha falou e meu coração se encheu de
ternura pelo seu modo de falar.
— Eu sei, irmãozinho, mas ele está dodói, está vendo? — perguntou
a garotinha.
— Puxa! Eu sei, mana, tô vendo que ele está dodói — falou o
garotinho fofo.
— Então sai daí! — a garotinha disse com a voz séria.
— Tudo bem, tô saindo! Veja aqui o olho do moço.
Não conseguia ficar mais de olhos fechados, estava muito curioso
para ver essas coisinhas de vozes doces. Assim que abri meus olhos, vi dois
pares de incríveis olhos azuis muito meigos e inocentes me encarando. Ao
perceber que eu acordei, os dois deram um pulo para trás assustados.
Olhando de perto, vi que estava diante de duas crianças incrivelmente
lindas. Tentei sentar no chão até que eu consegui. Sorri para passar um
pouco de conforto e não os assustar.
— Olá! Eu não vou machucar vocês. Eu me chamo Luiz Otávio, mas
todos me chamam de Luti. Como é o nome de vocês? — falei o mais calmo
que consegui e eles me olharam atentamente.
— Me chamo Petro. Aí! — resmungou o garotinho quando sua irmã o
puxou ao seu encontro.
— Não conhecemos ele, irmão! Pare de falar — sussurrou a
garotinha, mas eu consegui ouvir.
— Puxa! Voxe é chata! Ele disse o nome dele, mana — sussurrou o
garotinho de volta.
— Olhe só, eu sou uma pessoa legal, vamos nos conhecer. Tudo bem?
Os dois me olharam e depois de um tempo assentiram.
— Como é o nome de vocês?
— Meu nome é Eduarda e o dele é Pietro — disse ela tímida com
suas bochechinhas vermelhas.
— É bom conhecer vocês, crianças... — interrompi-me quando senti
dor.
— Pode chamar ela de Duda e eu de bebê, é assim que a mana me
chama — disse Pietro andando para sentar bem perto de mim.
— Você é um lindo bebê e sua irmã é a mais bela princesa que já vi
na vida.
Pietro se animou e Eduarda sorriu pela primeira vez desde que
coloquei meus olhos nela.
— Por que você está aqui? Você é sozinho como eu e meu irmão? É
por isso que eles querem te levar também? — Eduarda disparou perguntas.
— Eu não sei o que eles querem comigo, Duda. E como assim vocês
são sozinhos? — perguntei e vi ela ficar com os olhinhos caídos e o pequeno
Pietro deitou a cabeça na minha perna.
— Nossa mãe morreu e os homens maus que ela trabalhava nos
trancaram aqui. Dizem que vão levar meu irmão para longe de mim — disse
Eduarda soltando um soluço forte.
— Se voxe for sozinho também, aí voxe pode ficar com a gente —
falou Pietro com esperança. Isso me cortou o coração.
— Vem cá, Duda. Senta aqui perto de mim. — Apontei para o meu
outro lado. — Eu também perdi meus pais. Depois disso fui morar com
minha tia, éramos uma família pequena, mas nos amávamos muito.
— Nossa mamãe amava a gente também, nué, mana? — disse Pietro
olhando para irmã que assentiu.
— Agora eu faço parte de uma nova família, uma família grande e
muito linda. Todos eles são italianos, mas italianos bons, não como esses
daqui — falei lembrando dos Aandreozzi e uma vontade súbita de chorar
surgiu. Sentia falta de meu ursão.
— Por que você está chorando? Sua família nova não é legal com
você? — perguntou Duda e uma pequena mãozinha limpou meu rosto, a
mãozinha de Pietro.
— Eles são maravilhosos, alegres, amáveis e muito divertidos. Eu caí
de paraquedas na família de Filippo. — Os dois me olharam confusos. —
Filippo é o meu namorado. Seus pais se chamam Donatello e Arianna. Eles
são ótimas pessoas. Filippo tem três irmãos; Enzo, Lucca e Luna. Sua avó
Francesca, é única. E eu os amo muito, principalmente, Filippo — disse
vendo as crianças me olharem com olhos atentos.
— Você namora um menino. Isso pode? — perguntou
Duda.
Fiquei pensando no que responder.
— Quando se ama uma pessoa de verdade, não importa se é menino
ou menina. O bom é ser amado por uma pessoa especial — falei lembrando
de Filippo.
— Eu adoraria uma família grande assim. Deve ser bom — disse Duda
com tristeza.
— Vai ter sim, minha princesa. Um dia você vai ter — falei passando
a mão no seu rosto e reparei que ela estava com os olhos cansados,
naturalmente por cuidar sempre do seu irmão.
— Eu também quelia. Sua família tem espaço para nós dois? —
perguntou Pietro sonolento.
— Na família Aandreozzi sempre tem espaço para mais um. Agora
durma, pequenos, eu vou estar aqui com vocês e não deixarei ninguém lhes
fazer mal .
Mesmo com o corpo todo quebrado e sentido dores em todos os
lugares possíveis, deixei que eles se aconchegassem a mim. Fiquei pensando
nessas pobres crianças, não podia imaginar o que elas possam ter passado
nessa vida.
Olhei para baixo e vi dois anjinhos inocentes que estavam presos
para serem vendidos por bandidos filhos da puta. Se eu conseguisse sair dali,
levarei os dois comigo, mesmo que eu tivesse que morar em outro lugar se
Filippo não aceitasse minha decisão. Eu os queria bem. Pietro e Eduarda não
mereciam ser tratados como moeda de troca ou mercadoria
contrabandeada. Deixei eles dormirem e tentei tirar um cochilo. Faria de
tudo para que nenhum mal nos acontecesse.
Não sabia quanto tempo se passou, mas tinha consciência que havia
sido mais de um dia. Esse tempo que estava ali, fiquei muito mais próximo
as crianças. Descobri que Duda tinha oito anos e Pietro tinha três. Eles eram
as criaturinhas mais inteligentes que eu conheci, e apesar de Pietro falar
algumas palavras do seu modo, eu achava aquilo a coisa mais fofa do
mundo. Seu jeitinho esperto era demais.
Olhei para ele e vi um mini homem. Já Duda, depois de uma presença
adulta amiga, deixou seu lado superprotetor de irmã mais velha e relaxou
um pouco mais.
Sabia muito bem o que era não ter família. Não tinha conhecimento
do que ao certo aconteceu na vida deles, mas ninguém merecia não ter
alguém que cuidasse de você. Quando eu perdi meus pais, por mais que eu
tivesse minha tia Amélia, sempre me senti sozinho. Ao olhar para essas
pequenas crianças, me fez pensar que elas poderiam ficar no sistema por
muito tempo ou que poderiam ser separados por diferentes famílias e isso
me deixa louco. O sistema de adoção é tão sacana, que só de pensar me
dava calafrios. Tirei tais pensamentos de minha cabeça e voltei minha
atenção para Pietro e Eduarda.
Contei a eles um pouco mais sobre Filippo, de como ele era um
grande urso mal para as pessoas ruins, mas um urso amável para as pessoas
que ama. Pietro achou interessante, disse que queria ver o Filippo urso. Já
Duda, se encantou em saber que tinha uma cadelinha chamada Amora.
Não sei se conseguiria mais ficar longe deles, me sentia na obrigação
de protegê-los. Eles precisavam de uma família e achava que eu poderia dar
isso a eles. Éramos os três órfãos à procura de um alguém para compartilhar
uma vida. Apaixonei-me por eles assim que os vi, os dois tinha o mesmo tom
de pele branca, cabelos castanhos claros e olhos azuis muito lindos, tão
lindos quanto os de Filippo.
Passamos o tempo inteiro na companhia um do outro. As únicas
vezes que os capangas vinham ao nosso encontro, era para nos dar comida e
levar para tomar um banho. Depois de meus pedidos incansáveis, eles, pois
no banheiro dali só tinha uma torneira e um vaso sanitário.
Mesmo ferido e todo quebrado, fiz o possível para deixar as crianças
com um odor agradável, pois esses bandidos miseráveis deixaram elas lá
largadas sem nenhuma higiene.
Meus pensamentos foram cortados quando vi Duda chorar. Puxei-a
para que se aproximasse de mim.
— O que foi que aconteceu, minha querida? — perguntei fazendo ela
me olhar.
— Depois que você ficou com a gente, meu irmãozinho nunca mais
teve febre. Eu não quero que os homens maus me levem, ou façam mal a
você ou a ele — disse Duda chorando alto.
— Tenho certeza que vamos sair daqui e quando isso acontecer, você
vai ficar comigo — falei firme, tentando fazer com que eu mesmo
acreditasse nas minhas palavras.
— Viu só, mana? Luti vai ficar com a gente, voxe não pecisa mais
cholar — disse Pietro abraçando a irmã.
— Tenho certeza que Filippo está me procurando e quando ele
achar, vamos sair todos juntos. Ninguém vai separar vocês de mim.
Duda se jogou nos meus braços e uma dor excruciante tomou conta
do meu corpo, mas não iria rejeitar um abraço daquela garotinha linda.
— Tenho ceteza que o urso bavo vai tirar a gente daqui, mana —
disse Pietro com sua vozinha doce, já achando que Filippo era um
superherói.
— Vai sim! Não é mesmo meu campeão? — perguntei bagunçando
os cabelos cheio de cachinhos como de um pequeno anjo.
Depois que Duda parou de chorar, distrai eles contando sobre meus
amigos Beto, Angel, Rita e Brian. Falei o quanto Beto era engraçado e
adorava tirar Filippo do sério. Contei como Ângela era amiga e carinhosa.
Como as comidas de Rita eram fenomenais e que ela era tão mandona
quanto Filippo, e que Brian era um grande amigo.
Lembrar de Brian me fez ficar triste, ele se feriu por minha culpa.
Esperava que alguém tivesse o socorrido e que nada de muito grave o tenha
acontecido, pois se aconteceu, eu jamais me perdoaria. A porta foi aberta e
Nicco, Rogério e mais dois homens entrarem no local.
— Vamos! É hora de ir. Vamos logo, levantem, maledettos! — gritou
Nicco apressado.
— Vai nos levar para onde? — perguntei confuso.
— Calado, porra! Vamos logo. Vocês, idiotas, peguem logo esses
bastardinhos — mandou Nicco apontando para as crianças.
— Não! Vocês não vão levá-los! Teriam que passar por mim primeiro
— gritei parando na frente das crianças.
— Sai da frente! Eu te suportei esse tempo todo sem te matar,
porque o querem vivo, mas ninguém falou para não quebrar suas pernas —
disse Nicco apontando o dedo em meu rosto.
— Não! Voxe não pode fazer isso! — falou Pietro abraçando minhas
pernas e Duda agarrou minha camisa forte.
— Sai daí! Peguem-nos logo, temos que sair daqui rápido, porra!
Os dois homens que vieram junto com Nicco e Rogério pegaram as
crianças a força de mim. Elas gritaram e esticaram os braços para que eu as
alcançasse e impedisse de serem levadas.
“Isso não pode estar acontecendo!”
Não era para ser daquele jeito, se saíssemos dali Filippo nunca iria
nos encontrar. Eu estaria morto pela pessoa que queria me fazer mal,
Eduarda e Pietro seriam separados e vendidos para alguns escrotos de
merda.
— Me solte, seu filho da puta! Me solte! Filippo vai te encontrar, ele
vai te torturar, vai matar você bem lentamente, seu merda! — Lutei para me
soltar das garras de Rogério.
— Serio mesmo? Cadê ele? Onde está o poderoso Filippo Aandreozzi
que acha que pode ser o nosso Capo? — perguntou Nicco com deboche.
— Ele não quer ser porra nenhuma, seu fodido de merda! Ele só quer
ter um pouco de paz e vocês dessa máfia estúpida não deixam — gritei e
levei um soco no rosto.
— Não fale da nossa máfia, seu pecador! Não ouse falar nada! —
disse Nicco entredentes.
— Vai se foder! Eu ainda vou ver vocês caírem! Seus putos! Larguem
as crianças! — gritei ao ver meus meninos chorando. Sim! Eles eram meus,
pelo menos no meu coração eles já eram.
— Você não vai ver nada, pois isso nunca irá acontecer! Antes de
qualquer coisa você estará morto — disse Nicco gargalhando e levando os
seus capangas com ele.
— Vamos ver, seu inútil! Eu tenho fé no Filippo, sei que ele vai me
encontrar — falei querendo chorar, mas não os daria essa ousadia.
— Já acabamos por aqui! Agora é hora de ir. Levem-nos. Agora! —
mandou Nicco apontando para saída.
Se eu saísse do país, sabia que seria minha morte, isso não poderia
acontecer. Eu prometi que ficaria com as crianças, que as protegeriam.
“Por favor, amor. Nos encontre antes que seja tarde, eu sinto sua
falta. Por favor, Filippo, me encontre!” Fiz uma oração silenciosa na
esperança de que meu amor pelo meu urso não acabasse com minha morte
prematura, ainda tínhamos tanta coisa para viver.
“Eu o amo! Não quero morrer, tenho que dizer isso a ele novamente.”

O meu dia estava muito corrido, era tão complicado lidar com tantos
problemas de merda. Nem um almoço decente com meu bello eu pude ter,
logo naquele manhã que ele decidiu seguir o dia na preguiça. O safado não
quis nem fazer seus exercícios.
A primeira reunião, no início da manhã, foi feita em uma empresa de
um cliente em potencial. Odiava ter que sair do meu escritório para fazer
reuniões em outros lugares, mas eu não podia fazer nada a não ser aceitar.
Tinha um nome e uma imagem a zelar.
Depois do almoço com Luiz, voltei para empresa e logo dei de cara
com Beto de novo. Eu não ia muito com a cara dele, mas sabia por Germano
que ele era um funcionário atencioso e, por mais que não tivesse um ensino
superior, ele era bom com os números. Mandei Germano procurar uma boa
faculdade para que ele fizesse o curso que desejasse, mas já sabia qual devia
ser sua escolha. Com toda minha implicância, eu sabia que Roberto Cabral
era um bom sujeito. E por meu bello, faria o possível para me dar bem com
ele.
Tive que parar no meu escritório antes de ir à reunião, para pegar
alguns documentos que necessitava. Peguei tudo que iria usar e saí. Estava
quase entrando na sala quando percebi meu celular tocar, ao ver que era
Lucca estranhei, mas não atendi. Desliguei a ligação e entrei na sala de
reunião.
— Boa tarde, senhores! — falei ao entrando.
Comecei a reunião e estava tudo andando nos conformes e a porra
do meu celular não parava de tocar, já estava impaciente. Pedi licença e saí
para atender a ligação.
— Espero que seja urgente para me fazer sair de uma reunião
importante — disse sério, não querendo brincadeira alguma.
— Cale a boca, Filippo! A porra do assunto é sério — disse Lucca
nervoso e eu entrei logo em alerta.
— O que foi que aconteceu? Nossos pais estão bem?
— Sim! Está tudo bem aqui ou em Milão, mas escute irmão. — Ouvi
Lucca suspirar do outro lado da linha. — Acho que aconteceu alguma coisa
com Luiz Otávio.
— O quê? Você está maluco! Luiz está bem, nós estávamos juntos há
pouco tempo — falei praticamente gritando e chamando atenção dos outros
homens na sala de reunião.
— Eu estava no celular com ele agora a pouco, irmão. E eu posso te
dizer com toda certeza que é um código vermelho.
Senti o ar faltar nos meus pulmões.
— Como… como isso é possível? — perguntei desnorteado.
— Estávamos conversando quando ouvi um baque no carro. E logo a
ligação caiu, tenho certeza que usaram um inibidor de sinal — disse Lucca
firme.
— Che cazzo! ciò che questi bastardi vogliono? Non l'ha fatto!
L'inferno! (Que porra! O que esses filhos da puta querem? Ele não! Inferno!)
— Minha raiva estava muito grande, grande demais.
— Acalme-se, Filippo. Tudo vai se resolver, irmão — falou Lucca
tentando me acalmar, mas lamentava que isso não aconteceria.
— Não me peça isso, irmão. É impossível! — falei entredentes. —
Não posso perder tempo aqui conversando com você, tenho que saber o
que está acontecendo.
— Daqui a pouco estamos todos aí, irmão. Já estou no jatinho —
disse e meu coração encheu-se no peito de pura gratidão.
— Obrigado por isso!
— Família acima de tudo, sempre! — disse e eu desliguei a ligação.
Peguei minhas coisas da sala de reunião para sair correndo. Não
queria criar coisas na minha cabeça, gostava de lidar com fatos e iria
averiguar a história. E seja quem fosse o bastardo fazendo aquilo, iria pagar.
No meu bello ninguém podia encostar, nem sequer mesmo gostava que
olhassem torto para ele. Esperava que tudo isso não passasse de um engano
infeliz. Enquanto arrumava minhas coisas, tentei ligar para Luiz e nada dele
atender as minhas ligações.
— Senhores, terei que sair, marcaremos a reunião para outro dia —
disse saindo, mas antes que passasse pela porta, ouvi algo que não gostei.
— Ele se acha muito importante, chega tarde e nem concluiu a
reunião — falou um homem que eu concluí ser o Camargo.
— Não use tais palavras para se referir a mim. Perto do meu
potencial você é um nada! Deixe-me sair agora e não fale nada Sr. Camargo,
pois para eu matar um neste momento não me custará nada. Nada mesmo!
Foda-se, bastardo! Não farei mais negócios com você! — falei me
controlando para não descontar minha raiva súbita naquele sujeito.
Saí da sala o mais rápido que consegui e encontrei com Elijah. Passei
para ele as informações que Lucca me contou e fomos direto para o carro.
Elijah começou a procurar o sinal do rastreador do veículo usado por Brian.
Pouco tempo depois já tínhamos a localização, estava em tempos de
arrancar meus cabelos pela demora de chegar. Quando entramos na rua
indicada, vimos uma pequena comoção logo adiante. Saí do carro correndo
para ver se encontrava com o meu bello.
Ao afastar os curiosos filhos da puta, vi Brian caído no chão envolto
por uma poça grande de sangue. Elijah foi correndo na sua direção e
verificou seus batimentos cardíacos. Na confirmação de que ele estava vivo,
olhei para dentro do carro na tentativa falha de achar Luiz. Dei muitos socos
na lataria que chegou a sangrar os nós de meus dedos.
— Senhor! Temos que levar Brian para o hospital, não tem como
esperar pela ambulância — Ouvi a voz de Elijah e voltei a mim.
— Não podemos levá-lo para um hospital da cidade, farão perguntas,
perguntas essas que não estou a fim de responder ou me importar no
momento! — falei me afastando do carro.
— Já liguei para o pessoal da limpeza, já podemos levar o Brian —
disse Elijah com o celular em mãos.
— Ótimo! Vamos levá-lo na clínica de Ygor Pacov, lá ele deverá saber
o que fazer. Quero Brian acordado o quanto antes — falei indo em direção à
Brian ferido.
— Será feito, senhor! — disse Elijah
Pegamos Brian e o deitamos no banco de trás sujando o meu carro
de sangue, mas nada disso me importava. A única coisa que me interessava
era encontrar Luiz Otávio e fazer com que aqueles bastardos desgraçados
pagassem por tirá-lo de mim. Eu iria caçá-los e torturá-los, e enquanto eu
não me sentisse satisfeito, trabalharia no seu sofrimento por um longo
tempo. Quem quer que estivesse por trás disso, seria um homem ou mulher
morto!
Chegamos na clínica de Ygor e ao nos ver entrar com Brian no colo,
as enfermeiras correram com a maca em nossa direção e depois o levaram
para dentro.
— O que aconteceu, Filippo? — perguntou Ygor assim que me viu,
vindo em nossa direção.
— Faça seu trabalho, Ygor, depois quando você conseguir deixar o
segurança do meu namorado acordado, nós conversamos. Ou não! — falei
sério sem dar motivos para perguntas.
— Sempre agradável, Aandreozzi, mas farei o possível para salvá-lo
— disse Ygor em um tom profissional.
Conheci Ygor em um jantar beneficente. Ele era um grande médico
vindo da Rússia e o usava ao meu benefício. Pagava uma fortuna a ele para
que, quando esses casos acontecessem, a clínica sempre estivesse à
disposição da minha família e meus funcionários.
Brian estava passando por uma cirurgia, esperava que não fosse nada
grave, pois mesmo ele ferido, necessitava vê-lo acordado. Isso poderia soar
sem coração e eu não ligava de ser classificado assim no momento, tudo o
que me interessava era encontrar meu bello.
Pouco tempo depois vi Rita passar pelas portas da clínica.
— Senhor, o que aconteceu? — perguntou Rita visivelmente nervosa.
— Uma emboscada, Rita. Não sei lhe dizer ao certo, só Brian para
contar os fatos — respondi a ela.
— Brian teve alguma coisa muito grave? E cadê Luti, está aqui? —
perguntou Rita olhando para todos os lados.
— Ele foi levado, não me pergunte por quem, pois se eu soubesse
não estaria aqui — falei desgostoso e vi Rita arregalando os olhos.
— Oh, meu Deus! Sei que o senhor irá o encontrar — disse Rita me
passando confiança e eu assenti.
Claro que iria encontrá-lo, nem que isso fosse a última coisa que eu
fizesse na minha vida maldita. Iria achá-lo e dar uma lição em quem fez meu
bello passar por aquilo. Não deveriam ter feito isso, sei que foi somente para
me atingir e se sendo assim, eles conseguiram.
Após um longo tempo Ygor veio ao meu encontro.
— A cirurgia foi um sucesso! Nenhuma das duas balas atingiu sequer
um órgão ou a coluna. Ele estava fraco pela perda de sangue, mas isso já foi
resolvido — disse Ygor sorrindo.
Não sei o porquê da felicidade, pois eu não estava feliz!
— Obrigada, doutor! Eu já posso vê-lo? — perguntou Rita.
— A senhora é a esposa? Se for, pode ir. Uma das enfermeiras a
levará até o quarto dele — disse Ygor e uma enfermeira apareceu levando
Rita.
Ela foi ver o marido e eu continuei ali na sala de espera, não podia
sair dali até eu ter alguma resposta. Ygor tentou puxar assunto comigo, mas
lhe dei o meu silêncio, não estava a fim de conversa sem sentido, um sorriso
amigável ou um olhar com pesar. Somente queria saber de alguma coisa que
me ajudasse a encontrar o homem que eu amava. E que se foda quem me
achasse grosso, estava pouco me fodendo para opiniões e sentimentos
fúteis de pessoas que não eram importantes para mim.
Depois de um tempo, Rita apareceu me informando que Brian tinha
acordado e que desejava falar comigo. Ao entrar no quarto, reparei que ele
estava com uma cara péssima, mas não era isso que eu havia ido fazer ali.
— Desculpe, Sr. Aandreozzi. Eu juro que eu tentei não deixá-lo sair
do carro, mas Luiz saiu não querendo que eu morresse — disse Brian
entristecido e eu não entendi o porquê.
— Conte o que aconteceu desde o início — pedi o mais calmo que
consegui.
— Estávamos indo em direção à universidade e o nosso carro foi
abordado. Eram quatro veículos, dois vieram pela frente e dois por trás.
Imediatamente saíram de cada carro quatro pessoas, todos estavam
armados. Tentei usar o comunicador e Luiz o celular para ligar para o
senhor, mas todos os aparelhos de comunicação estavam sem sinal —
contou tentando se lembrar de tudo.
— Esses infelizes usaram inibidor de sinais. Bastardos desgraçados!
— falei grunhido de ódio.
— Quando estávamos sendo ameaçados para sair do carro, Luiz disse
que era ele que eles queriam e que não iria me deixar ser morto. Então, saiu
do carro se rendendo aos energúmenos e quando eu tentei ir até ele, fui
baleado.
Soquei a parede com muita força.
— Porra! Porra! Filhos da puta, desgraçados! Eles encostaram a mão
nele, Brian? — perguntei e ele abaixou a cabeça. Mesmo imaginando a
resposta, gostaria muito de ouvir ele falar em voz alta. – Fala, Brian!
— Antes de perder a consciência vi que ele estava sendo agredido.
Desculpe, senhor, eu tentei chegar a ele só que foi impossível — disse com
pesar.
— Obrigado pelas informações. Espero que fique bom logo. — Abri a
porta para sair.
— Senhor! — Brian chamou e eu voltei. — Sei que vai encontrá-lo,
ele tem muito amor pelo senhor.
Eu assenti e saí.
Deixei a clínica ouvindo os chamados de Ygor ao ver que minha mão
sangrava, mas o mandei para puta que pariu e saí mesmo assim. Estava com
muita, mas muita raiva de tudo. Raiva de Brian por falhar na segurança, raiva
de Luiz por ser uma pessoa boa em querer proteger os outros, raiva dos
bastardos que o levaram e, principalmente, com raiva mais profunda de
anos de Paolo Aandreozzi. Sabia que havia sido ele quem mandou levar Luiz.
E isso não ficaria daquele jeito, mas para chegar até Paolo eu não podia
estar com as emoções abaladas.
Nunca, em todos os meus trinta anos de vida, pensei que odiaria
chegar em casa. Todos os lugares na cobertura me lembravam Luiz. Oh,
inferno! Isso era muito ruim. Passei direto por todos os cômodos e fui para o
escritório. Não sei quanto tempo fiquei ali fazendo ligações, procurando de
todas as maneiras encontrar os bastardos que capturaram o meu bello.
Senti uma mão acariciar meus cabelos, poderia pensar ser meu Luiz,
mas o cheiro inconfundível do perfume de mamma chegou nas minhas
narinas. Levantei minha cabeça fazendo meus olhos se acostumarem com a
claridade do ambiente. Olhei para frente e lá estava meu babo, os meus três
irmãos bagunceiros e minha adorável nonna, todos olhando para mim.
— Eu disse que não iriamos demorar e todos nós estamos aqui para
te ajudar — falou Lucca sério e eu assenti.
— Ninguém mexe com a nossa família e sai impune — disse Enzo
com fervor.
— Não podemos perder tempo, temos que sair logo daqui. Estou
louca para chutar algumas bundas bastardas — disse nonna.
— Mio bambino, o que aconteceu com sua mão? — perguntou
mamma e eu não consegui responder.
Levantei e olhei para cada pessoa importante na minha vida, diante
de mim.
— Eu amo cada um de vocês. Não tenho palavras para dizer o quão
feliz estou por estarem aqui.
Todos vieram me dar um abraço coletivo.
— Depois dessa demonstração de afeto, peço que vá tomar um
banho. Você está todo sujo de sangue, filho — disse meu pai pegando meu
ombro.
— Pode deixar que vamos ficar à frente das buscas de Luiz — falou
Enzo.
— Não vamos descansar até encontrá-lo, irmão. Vá tomar um banho
e descansar — falou Luna com um sorriso pequeno.
— Vamos lá, meu gostoso, sua nonna vai fazer uma comida para você
e sua mãe fará um curativo nessa sua mão. Tenho certeza que ficou
esmagando paredes por aí — disse nonna amenizando meu humor.
— Obrigado! — disse sendo guiado por minha mãe para sair do
escritório.
Subimos para o meu quarto e ao perceber que Luiz não estava ali,
meu coração pesou no peito. Fui para o banheiro, tomei meu banho e ao
sair procurei não ficar olhando demais para o lugar. Bello estava em tudo,
sua roupa no meu closet, seus materiais de higiene pessoal se encontravam
no meu banheiro, ou seja, tudo me lembra ele.
“Filho da mãe!”
Saí do closet já vestido. Ao chegar no quarto, minha mãe estava com
o kit de primeiros socorros na mão. Mamma fez todo o curativo sem me
falar uma palavra e eu agradeci muito por isso. Logo após, nonna entrou no
quarto com uma bandeja de comida. Comi o que consegui e deitei na cama.
— Vamos encontrá-lo, meu filho. Eu sei que vamos. Te amo para
todo sempre! — disse minha mãe me dando um beijo na testa.
— Você sabe que eu não suporto formalidades e que estou sempre à
frente de mentes pequenas, mas eu te amo muito il mio piccolo limone (meu
pequeno limãozinho) — disse nonna e eu balancei a cabeça negativamente.
— Nonna, eu não sou mais um garoto.
Levei um tapa na perna.
— Calado, homem! Estou tentando aqui ser carinhosa — disse ela
enfezada.
Depois que mamma e nonna saíram, eu tentei dormi, mas não estava
conseguindo. Só de pensar nas coisas que meu bello poderia estar passando,
me sentia angustiado.
Levantei da cama e desci a escada. Ao chegar na sala, todos pararam
de falar para me olhar. Passei o olho por todo local e vi o que eu estava
procurando no colo de Lucca. Sem falar nada, tirei minha Amora do colo de
meu irmão e virei para voltar ao meu quarto. Deitei com meu filhote na
cama e senti ainda mais falta de meu Luiz.
— Vamos dormir, Amora, pois amanhã é um novo dia e eu trarei seu
outro dono para casa — falei fechando os olhos e caindo no sono em
seguida.
Dois dias se passaram e minha aflição só aumentava. Fizemos de
tudo para conseguirmos encontrar Luiz, mas nada deu resultado. Beto e
Ângela estavam sabendo do desaparecimento do amigo e estavam bastante
apreensivos também.
Aconteceu duas coisas que me surpreendeu. A primeira; foi Ângela
ter me contado que Luiz estava com a sensação de estar sendo vigiado,
saber disso por outra pessoa me deixou muito irritado com meu namorado.
Ele poderia ter certeza que não escaparia das minhas reclamações. A
segunda; foi Beto dizer que confiava totalmente em mim para encontrar o
amigo dele. A sua confiança me ajudou a não desistir, mesmo que isso não
fosse acontecer.
Levando em conta o que Ângela contou, meu pai me lembrou que Antonella
esteve vigiando a vida e as pessoas que rodeavam meu bello. Para ela ter
encontrado com a tia de Luiz, isso queria dizer que ela sabia muitas coisas
sobre ele. Então todos os nossos esforços foram para encontrar a
vagabunda e finalmente a encontramos. Estava de olho na sujeita que um
dia tive o desprazer de enterrar meu pau em sua boceta. Lembrar desse fato
me embrulhava o estômago. Já tínhamos um tempo tentando tirar alguma
coisa dela e nada até o momento.
— Me diga, Antonella. Fale logo de uma vez. Onde está Luiz Otávio?
— perguntei com meu rosto próximo ao da vadia.
— Eu não sei, meu amor. Eu não sei! — disse a vadia fingida
chorando.
— Sabe sim, sua puta! Fale logo, porra! — gritei a
assustando.
— Eu não sei! Já disse que não sei onde ele está! — berrou com sua
voz nojenta e afinada.
— Você pode até não saber onde ele está, mas sabe muito bem
quem o pegou. Me fale, Antonella! Me fale e eu não farei nada com você.
Prometo — falei passando o máximo de segurança para ela.
— Tudo bem. Eu fiquei mesmo vigiando aquele pobretão que roubou
você de mim. E não poderia deixar ele sair impune, falei com Paolo o que
estava acontecendo e imediatamente ele mandou um dos seus homens de
confiança averiguar o que eu lhe disse — falou a maldita, desgraçada,
vagabunda, com um choro remelento sem noção.
— Quem foi o homem que Paolo mandou? — perguntei me
controlando por dentro — FALE, PORRA!
— Nicco Zanetti — falou a vadia baixo, mas eu consegui ouvir.
Peguei meu telefone e ligue para Elijah encontrar o bastardo.
— Meu irmão prometeu não lhe bater, mas eu não lembro de ter
prometido nada, sua vagabunda enviada das profundezas do inferno. Cada
porrada que eu irei te dar, será para você lembrar que não se deve mexer
com a minha família — disse Luna com muita raiva.
Minha irmã foi com tudo para cima de Antonella, lhe dando muitos
tapas na cara, gritando a frase: “Puta merece tomar na cara.” Ela lhe deu
alguns socos na barriga e no rosto, minha sorellina acabou com a vadia. Luna
bateu muito em Antonella até tirar sangue de seus lábios. Eu fiquei muito
contente em ver aquela cena.
— Pronto, agora estou de alma lavada — disse minha irmã deixando
Antonella desacordada no chão.
— Sempre quis fazer isso, ela sempre me irritou — disse Enzo
sorrindo.
— Ah, todos nós, meu irmão. Todos nós — disse Lucca olhando para
Antonella, enraivecido.
— Sr. Aandreozzi? — Olhei para trás e vi Elijah na porta.
— Sim, Elijah? — perguntei.
— Encontramos ele, senhor. O meu pessoal já está localizado o lugar
onde ele está, só esperando suas ordens para atacar.
Fiquei parado sem saber o que falar ou pensar.
— Está esperando o que, irmão? Vamos buscar seu bello! — disse
Enzo me fazendo acordar.
— Isso ai, vamos recuperar meu bello e matar alguns bandidos filhos
da puta — falei com um sorriso de lado.
Olhei para meus irmãos e cada um estava com uma expressão
diferente: Enzo com expressão de raiva. Lucca com o mesmo sorriso sádico
de sempre e Luna estava esperançosa. Minha família era louca, mas era a
melhor!
“Você vai voltar para casa, bello. Espere que estou chegando.”
Conhecia Nicco Zanetti desde sempre. O pai dele era amigo do meu
pai, eles faziam trabalhos juntos na sua época da máfia e já os vi algumas
vezes na minha casa. Nós nunca nós gostamos e não escondemos isso um do
outro. Quando eu colocasse minhas mãos naquele desgraçado, tinha certeza
que ele se arrependeria por colocar suas mãos sujas naquilo que era meu.
Com pensamento de vingança, fui trocar de roupa. Vesti uma
camiseta preta, uma calça cargo de mesma cor e minhas botas. Peguei
minhas duas Glock e coloquei no coldre. Estava pronto para pegar meu bello
e leválo para casa.
Dentro do carro o silêncio era estranhamente necessário, ninguém
falava nada. Todos estavam concentrados em trazer Luiz de volta para casa.
Chegamos no local indicado por Elijah e paramos diante de uma casa
isolada. Assim era bom, não teríamos testemunhas e muito menos a polícia
metida onde não foi chamada. Sei que eu deveria acionar os homens da
justiça, mas fazer isso envolvia falar sobre o passado obscuro de minha
família e exposição não era uma coisa boa para os negócios.
Parei de perder tempo e saí do carro vendo alguns dos meus homens
espalhados. Quando eu ia avançar alguém me puxou pelo ombro.
— Você não é feito de aço, não tente achar que é invencível. Por isso
trate de ser cauteloso. Sei que está ansioso, mas quando tudo sai no seu
tempo as coisas ocorrem com perfeição. Caspice? — falou meu pai e eu
assenti.
— Vamos dar cobertura a você e ao pai. Podem ir! — disse Enzo!
— Tire nosso cunhado de lá, irmão! — falou Lucca.
Seguimos adiante e antes que nós avançássemos mais um passo,
balas começaram a vir na nossa direção. Usamos o carro como escudo e
depois de um tempo conseguimos acabar com quem quer que fosse
tentando nos deter. Os desgraçados não iriam me impedir de entrar e tirar
meu bello de lá.
Avancei meus passos com cautela. Ao chegar em frente à porta da
casa, um homem avançou para me acertar um soco. Desviei com bastante
agilidade acertando dois socos em suas costelas. O vadio tentou me acertar
novamente, mas fui por trás e consegui quebrar o seu pescoço. A ação foi
tão rápida que sequer deu tempo de respirar. Não estava com paciência.
Ouvi tiros atrás de mim e sabia que era meu pai e meus irmãos. Abrir
todas as portas da casa e ainda nenhum sinal de Luiz Otávio. Mais um veio
na minha direção e, antes de matá-lo, dei uma rasteira fazendo ele cair em
um baque forte. Sentei em suas pernas e fui desferindo socos no seu rosto.
— Dove si trova Nicco? (Onde está o Nicco?) — perguntei e o
bastardo começou a rir.
— Ora so perché Nicco non ti piace. Sinner! (Agora eu sei por que
Nicco não gosta de você. Pecador!) — disse com ódio e eu lhe dei mais dois
socos.
— Dove si trova? (Onde ele está?) — gritei em plenos pulmões.
Antes que eu fizesse alguma coisa, ouvi uma porta fechar nos fundos
da casa.
— Ouviu isso, filho? — perguntou meu pai e eu assenti.
— Grazie per niente, disgraziato (Obrigado por nada, desgraçado.) —
falei levantando e pegando minha arma. Dei-lhe um único tiro na cabeça.
Corri para os fundos da casa e pude ouvir os gritos de meu bello e em
seguida, ouvi também a voz de Nicco falando coisas para o meu namorado.
Não perdi a porra do meu tempo e arrombei a porta com toda a minha
força. O que eu vi me fez enxergar tudo em tom vermelho. Luiz estava todo
machucado, carregando uma expressão cansada no rosto e um olho muito
roxo. Um dos capangas de Nicco o segurava forte. Olhei para o lado e vi mais
dois homens, cada um com uma criança nos braços que chorava alto. Olhei
para frente e encarei o bastardo com a passagem garantida para o inferno.
Ele me olhava com um sorriso ridículo no rosto
— Filippo! Você está aqui! — disse meu bello chorando.
Eu queria tê-lo nos meus braços, mas sabia que não era o momento.
— Vim te levar de volta para casa — falei sem tirar os olhos de Nicco.
— Acho que isso não vai acontecer, Aandreozzi. Tenho um trabalho
para fazer e não será você a me impedir — falou Nicco e um quarto homem
ali presente apontou a arma para cabeça de Luiz.
— Por favor, não! As crianças estão aqui — disse Luiz apontando para
as crianças.
— Eles não são nada para mim, a não ser meras mercadorias — disse
Nicco com desdém.
— Você não vai sair daqui, Nicco. Pelo menos não vivo — falei
respirando fundo.
— Não sei de onde vem essa sua confiança, já que está aqui sozinho
— disse enraivecido.
— Ele nunca vai estar sozinho. Ao contrário de você, ele tem família
— disse Enzo.
Olhei para trás e vi meus irmãos e meu pai.
— Viu só! Agora vamos voltar aos nossos assuntos. Solte o meu
namorado, Nicco — falei calmo. — Você não vai querer perder mais homens
do que já perdeu, certo? — perguntei e meus irmãos apontaram suas armas
para cada um dos outros homens.
— Não me faça rir! Eu vou mostrar ao meu Capo que eu sou muito
mais capaz de ser seu sucessor do que você! — disse perigoso.
— Estou pouco me fodendo para isso, eu só quero que você tenha a
inteligência de soltar o que é meu — falei respirando fundo já impaciente.
— Podemos quando você quiser, irmão — disse Lucca.
Olhei para as crianças e depois para Luiz, e acho que ele entendeu o
meu recado.
— Crianças, olhem para mim — chamou bello e elas tiraram os olhos
das armas e viraram o rosto para ele. — Eu quero que vocês fechem os
olhos, tudo bem? Vocês podem fazer isso por mim? — perguntou Luiz
calmamente e vi que assentiram temerosas.
Assim que as crianças colocaram as mãos nos olhos, três disparos
foram feitos ao mesmo tempo e três corpos sem vida dos capangas de Nicco
caíram no chão. As crianças também foram ao chão ainda de olhos fechados.
Bello correu para alcançá-los e eu fiquei olhando aquela cena e um
sentimento estranho surgiu de repente. Balancei a cabeça e apontei minha
arma para Nicco que estava chocado e desarmado pelos meus irmãos.
“Foi esse idiota que Paolo mandou vir? Muito burro, muito burro
mesmo!”
— Luna, leve Luiz e as crianças para fora e os coloque em segurança
no carro — falei sem tirar minha atenção de Nicco.
— Não, amor! Eu preciso de você, por favor, Filippo — pediu bello
choroso, ainda abraçando as crianças.
— Por favor, bello. Eu não demorarei aqui. Vá com a Luna — falei
voltando meus olhos aos seus.
— Jura que não demora? Por favor, Filippo! — suplicou bello
novamente.
— Luiz Otávio! Você se importa com esses bambinos? — perguntei e
ele assentiu. — Então saia desse ambiente ruim e vá para o carro me
esperar.
— Desculpe, você está certo!
Luna e Lucca tomaram frente e cada um pegou uma criança. Assim
que saíram, voltei minha atenção ao maledetto.
— Bem, já que meu bello não está mais aqui, vamos ter uma
pequena conversa — falei me aproximando de Nicco.
— Eu sempre quis lhe matar, Filippo, mas nunca pude. Não entendo
a fixação dele por você — disse Nicco enraivecido.
— Não me interessa o que você quer, eu vou simplesmente lhe
ensinar a não mexer com o homem que eu amo — falei entregando minha
arma a Enzo. — Terei o prazer de te matar com minhas próprias mãos.
Nicco avançou com tudo para cima de mim, acertando-me um soco
no queixo. Não deixei ele se afastar muito e revidei com três socos seguidos
em sua face. Ele caiu no chão com a mão no rosto. Nicco aproveitou que
estava no chão e tentou me dar uma rasteira, mas percebi sua intenção
antes e pulei pisando com todo o meu peso em cima de sua perna esquerda.
Foi tão gratificante vê-lo gritar e se contorcer de dor, que nem liguei ao
chutar seu rosto. Ele continuou no chão, enquanto eu descarregava todo
meu ódio nos meus chutes certeiros no seu corpo.
— Por favor! Chega, não dá mais, você venceu! — gritou Nicco me
fazendo parar de bater.
— Não! Não acabou, Nicco! Eu fui ao inferno quando soube que o
homem que eu amava foi levado de mim. Você tem noção do que é isso?
Claro que não, seu puto dos infernos! — Chutei sua perna quebrada. — Eu
vou matar você! Pode até ser loucura da minha parte, mas eu necessito ver
você morto!
— Eu vou embora e você nunca mais vai me ver — disse ele
gemendo de dor.
— Claro que não vou mais te ver, você vai morrer! — disse me
virando para pegar minha arma da mão de meu irmão.
— Irmão, cuidado! — gritou Enzo.
Virei-me rapidamente e vi Nicco tentando pegar a arma caída no
chão de um dos seus capangas mortos.
— Não vai ser assim, maledetto! — Chutei seu ombro o fazendo
deitar no chão de peito para cima. — Sua cabeça será enviada para meu
adorado tio. Adeus, filho da puta! — Dei um tiro bem no meio de sua testa,
vendo a vida sair de seus olhos instantaneamente.
Parei olhando para o corpo de Nicco sem vida. Odiava fazer essas
coisas, odiava de verdade. Fazia de tudo para não me envolver nesse tipo de
situação. Mas a Finastella, Finastella não, o desgraçado do Paolo não
conseguia me deixar viver em paz. Até no Brasil ele queria infernizar minha
vida, mas uma coisa que ele não sabia era que jamais, em hipótese alguma,
ele deveria envolver o meu bello nos seus joguinhos sujos.
“Sinto muito, Nicco, por você ser um grande filho da puta que
aceitava ordens de um bastardo sem noção, mas você machucou o meu
amor. E isso eu jamais deixarei passar!”
— Vamos sair daqui, irmão. Você tem Luiz te esperando. — Ouvi a
voz de Enzo e assenti.
— Obrigado por tudo, irmão! — falei virando para encará-
lo.
Saí da casa sem ver mais nada, minha intenção maior agora era
abraçar e beijar meu bello. Ao chegar na porta da casa, olhei para todos os
lados procurando por ele. Ouvi a porta do carro ser aberta e de lá saiu o
meu ragazzo. Ele ficou parado me encarando com um sinal de alívio
presente no seu rosto machucado.
Dei passos rápidos até alcançá-lo e parei à sua frente. Fiquei olhando
para ter a certeza que realmente era ele quem estava bem na minha frente.
Em um impulso forte, nossas bocas estavam grudadas uma na outra. Meu
beijo e de meu bello, era repleto de saudade, muita saudade. Sentir o gosto
dele depois desses dias loucos de procura, era bom demais. Ao apertar o seu
corpo no meu, ouvi um gemido de dor escapar.
— Bello, o que houve? Você precisa de um médico com urgência! —
falei olhando para seu corpo machucado.
— Eu sei que eu preciso, amor, mas no momento eu só quero olhar
para você. Estive com tanto medo, Filippo — disse ele e eu o abracei.
— Desculpe a demora, Amore. Eu fiz de tudo para te encontrar o
quanto antes — falei ainda abraçado a ele.
— Eu sei disso, meu amor! Eu sabia que você iria me encontrar. Te
amo, meu ursão! — falou chorando.
— Eu te amo muito mais, bello! Foi horrível ficar sem você, espero
que isso não aconteça nunca mais. — Senti minha garganta arder. — É tão
bom te sentir novamente. Eu pensei… eu pensei… Não deixei ele falar e
grudei nossas bocas de novo.
— Não fale mais nada, amor. Acabou! Eu estou aqui com você agora.
Continuei abraçado ao meu bello, até que senti algo puxar minha
calça. Olhei para baixo e vi o garotinho que há pouco tempo estava
chorando, mas agora ele me olhava com curiosidade. Reparei no menino
pela primeira vez e vi que ele era bem pequeno. Ele continuou a me encarar
e depois de um tempo abriu os braços pedindo para eu carregá-lo. Fitei Luiz
que sorriu e me incentivou a pegar o menininho. Então, eu fiz. Carreguei o
seu corpinho e senti seus bracinhos curtos e magros entrelaçar meu
pescoço. Todos os presentes estavam nos encarando.
— Voxe não parece um urso, mas é muito bavo igual a ele — disse o
garotinho de um jeito engraçado.
— Sério? Você me acha bravo? — perguntei curioso.
— Sim! Mais Luti disse que voxe só é bavo com gente mal. Isso é
vedade, nué? — perguntou e eu assenti intrigado. — Voxe defendeu a gente.
Obigadu!
— Como é o seu nome? — perguntei e vi Luiz chamar a menina com
a mão.
— Meu nome é Petro — disse e eu olhei para Luiz que sorria, sem
entender.
— O nome dele é Pietro e tem três anos. Essa linda aqui, é a Eduarda.
Tem oito anos. Eles iriam ser levados para serem vendidos, Filippo — disse
meu bello entristecido.
— Olá, Eduarda. Você está com medo de mim? — perguntei para
garotinha que negou rapidamente com a cabeça. — Então vem aqui! —
chamei e ela veio.
— Luti disse que você é legal e que não ia deixar os homens maus me
separar de meu irmão. E você veio! — disse chorando e meu coração
acelerou muito forte no peito.
— Onde estão seus pais, principessa? — perguntei e ela chorou mais
forte.
— Não sei direito, amor, mas acho que eles morreram — disse Luiz
triste.
— Sinto muito! Vocês gostaram de mim e de Luiz? — perguntei e os
dois assentiram, principalmente, o menininho. — Quer morar com a gente?
Eles que olharam para Luiz que estava com os olhos arregalados para
mim, assim como meu pai e meus irmãos.
— Eu quelo sim! Mas só vou se Duda vai também — disse Pietro
cruzando os bracinhos e me arrancando um sorriso sincero depois desses
dias ruins.
— Você vai quer, mia piccola? — perguntei.
— Você vai ser o que meu? — perguntou a garotinha e eu olhei para
Luiz.
Estava nítido para quem quisesse ver, que o meu bello se apegou
muita as crianças no tempo que ficaram juntos. Eu não podia mentir, pois eu
também estava encantado. Porra, eles eram tão lindos, eu tinha certeza que
Luiz era meu para todo sempre. Por que esperar mais? Foda-se! Eles eram
meus! Os três eram meus.
“Acho que agora eu sou um pai de família.”
— Eu vou ser o pai de vocês! Na verdade, eu e Luiz vamos ser seus
pais. Pronto! Agora vem aqui! — disse abaixando Pietro fazendo Eduarda se
aproximar de mim. — Você e seu irmão não estão mais sozinhos, va bene?
perguntei a interrompendo e ela sorriu.
Abracei a garotinha linda que seria minha filha daquele momento em
diante.
— Caspita! Eu sou tio! Eu sou tio, porra! — gritou Lucca feliz,
recebendo um tapa forte de babo na nuca.
— Controle sua boca! Não quero que meus netos aprendam essas
coisas — falou meu pai sério e logo virou em minha direção. — Obrigado e
parabéns, meus filhos! — disse babo feliz.
Sempre soube da vontade que meus pais tinham em ter netos, mas
eu nunca pensei que um dia isso iria acontecer na minha vida. Nunca me vi
casado ou tendo filhos, mas agora olhando para meus irmãos querendo
atenção das crianças, fazendo apresentações e brigando para saber quem
iria ser o tio melhor do mundo, esse desejo despertou em mim. Pode ser até
loucura decidir isso sem pensar, mas parece que era o certo a se fazer.
Pietro estava no colo de Luna e Enzo discutia com Lucca deixando um sorriso
feliz no rosto de Eduarda.
— Obrigado, amor! Obrigado de verdade, eu já queria cuidar deles —
disse bello com o rosto abatido.
— Luiz, você está bem? — perguntei preocupado.
— Não sei. Acho que não — disse desmaiando em seguida. Se eu não
seguro, ele teria caído no chão.
— Preparem o carro! Temos que ir à clínica do Ygor. Agora! — gritei
assustando todos.
Fomos todos para seus veículos. As crianças foram no mesmo carro
que Lucca, Luna e Enzo. No outro carro, fui eu carregando Luiz desacordo,
Elijah dirigindo e meu pai no banco do carona.
Deixei a limpeza daquela maldita bagunça provocada por Paolo,
encarregada a uns dos seguranças. Não pensei mais em nada, a não ser na
saúde de meu bello.
Chegamos a clínica do Ygor e assim que nos viram chegar, às
enfermeiras de plantão já foram trazendo uma maca e levando Luiz dos
meus braços. Ao verem Luiz ser levado, as crianças correram ao meu
encontro. Tive que acalmá-las dizendo que não foi nada demais e que logo
Luiz estaria de volta. Fiquei impressionado de como eles me ouviram e
confiaram em mim. Deixei eles com meus irmãos e fui ver se conseguia
informações do estado de meu bello. Vi Ygor vindo na minha direção, não
dei tempo dele falar nada e o empurrei contra a parede.
— O homem que você vai atender é o meu futuro marido. Cuide bem
dele! Se isso não acontecer, eu mesmo farei questão de te matar. Estamos
entendidos? — Ele assentiu. — Agora vai! Não perca mais tempo aqui!
Ygor saiu apressado para ala de atendimento. Esperava que ele
cumprisse com o que eu pedi e cuidasse muito bem de Luiz, senão não
queria nem imaginar o que seria capaz de fazer.
Voltei para ver como as crianças estavam, peguei Pietro no colo de
Enzo, a mão de Eduarda e sentei com eles no sofá da sala de espera. Sei que
meu bello logo estaria bem. Por mais que eu tenha ameaçado Ygor, sabia
que ele era um bom profissional. Agora só me restava esperar por notícia na
companhia dos meus dois filhos.
“Oh dolce inferno! Io ora sono un padre! Riesci a crederci?” (Oh, doce
inferno! Eu agora sou pai! Dá para acreditar nisso?)
Abri meus olhos e percebi que estava em um lugar que não era
minha casa, com certeza ali era um hospital diferente dos que já frequentei
na vida e bastante luxuoso. Olhei por todo o lugar e em uma poltrona está
sentando Filippo com nossas duas crianças no colo, eles conversavam
alguma coisa que eu não conseguia compreender. Ver essa cena me deixa
muito feliz.
Aceitação de Filippo com Eduarda e Pietro, foi uma surpresa muito
grande. Nunca pensei que meu namorado fosse se apaixonar logo de
primeira por eles. Isso só me mostra o quanto Filippo era um homem
fascinante e o quanto eu fui muito sortudo em tê-lo por perto.
Quando o vi chegar com toda sua família para me salvar, me senti
muito especial e querido. Porra, fiquei realmente sem palavras para dizer o
quão feliz estava em ser amado. Sentia-me preparado para viver o resto da
minha vida com ele e as crianças.
— Bello, você acordou! — disse Filippo me fazendo encará-lo.
— Oi, amor. Oi, bebês! Quando eu vou poder ir para casa? —
perguntei sentindo minha garganta arranhar.
— Puxa, voxe dumiu muito! Eu fiquei peocupado, mas a Duda e o
papai me disseram que voxe só tava dumindo — disse Pietro do seu jeito
fofo, fazendo meu coração amolecer ao ouvi-lo chamar Filippo de papai.
— Eu disse a você, Pê, que papai Luti ia ficar bem. Está com sede? —
perguntou minha Dudinha e logo depois ela me trouxe um copo de água.
“Ela me chamou de papai!” Felicidade me definia.
— Filippo, você pode colocar os dois aqui em cima da cama? —
perguntei e Filippo que me olhou com estranheza.
— Você não pode, bello! Não pode ficar se mexendo, quatro costelas
suas foram faturadas — disse Filippo e eu revirei os olhos.
— Por favor, amor! — pedi mais uma vez e ele bufou.
Filippo colocou Pietro ao meu lado direito e Eduarda ao meu lado
esquerdo. Assim que sentaram, abracei os dois como eu pude. Era tão bom
sentir o que eu sentia quando os tinha nos meus braços. Já os amava demais
e parecia que meu ursão também caiu de amores por eles.
— Prestem bastante atenção vocês dois — falei e recebi total
atenção dos meus filhos. Filhos! Sim, meus filhos! — Vamos ser os melhores
pais que conseguirmos ser, mas somos novos nisso. Filippo e eu vamos
cuidar, proteger e amar vocês.
— Podemos te chamar de pai? — perguntou Duda tímida.
— Não é o que eu sou seu e de seu irmão agora? — perguntei e ela
assentiu. — Então é claro que você pode me chamar de pai, meu amor.
— Eu já ia chama mesmo! — disse Pietro dando de ombros e me
fazendo rir.
— Você está bem, bello? — perguntou Filippo e deu-me um beijo na
testa.
— Estou sim, amor. Eu só quero ir para casa — disse cansado de
tanto lugar estranho.
— Vamos sim, só falta Ygor te libertar — falou Filippo e eu assenti.
Ouvimos a porta ser aberta e vi que a família Aandreozzi estava
entrando.
— Mamma, nonna! Filippo e Luti tem uma surpresa para vocês —
disse Enzo parando na frente da porta, impedindo a passagem das mulheres
Aandreozzi.
— Vai se foder, garoto! Estou muito puta com todos vocês, minha
arma está ficando enferrujada sem uso. Eu queria a ação e não tive. Estou
muito puta aqui — ouvi a voz de nonna irritada.
— A senhora vai ter que controlar essa sua boca suja, nonna — disse
Luna rindo.
— Ninguém manda em mim! — falou nonna indignada.
— Nem perto de meus filhos a senhora vai se controlar, nonna? —
perguntou Filippo sério, fazendo os irmãos pararem de bloquear a entrada
do quarto.
Arianna e nonna correram os olhos por todo o quarto e quando
olharam em minha direção, viram que tinha mais duas criaturas pequenas
do meu lado. Arianna começou a chorar e nonna por mais que se fizesse
uma mulher muito forte, também chorou. Elas ficaram paradas na porta.
Donatello aproximou de sua esposa e falou algo em seu ouvido, antes de
deixar o quarto. A vi assentir e sorrir. Nonna continuou com uma cara de
descrença muito engraçada.
— Puquê elas está cholando, papai? — perguntou Pietro para mim.
— Porque elas estão muito felizes que vocês dois agora são seus
netos — falei olhando para cada um.
— Querem conhecer elas? — perguntou Filippo e as crianças assentiram. —
Mamma, nonna... esses aqui são os meus filhos e de Luiz. Pietro e Eduarda.
Crianças essas são minha mãe e minha avó.
— Dio mio! Eles são muito lindos. Mas como isso aconteceu? Quer
saber, não importa! Vocês são tão lindos — disse Arianna passando a mão
no rosto corado de Duda.
— Obrigada, vovó! — agradeceu minha menina, fazendo Arianna
chorar mais ainda e abraçar Duda.
— E você, meu bem? Você é lindo, sabia? — perguntou Arianna
olhando para Pietro que abriu os braços para ser carregado. Que menino
oferecido, viu?!
— Puxa você é bunita! Duda me chama de bebê, pode me chama
assim. — Pietro pegou nos cabelos de minha sogra.
— Como é que pôde uma coisa dessa? Você é sequestrado e quando
volta para gente, nos traz esses presentes lindos — disse nonna me fazendo
rir.
— Não sei, nonna. Acho que coisas boas podem acontecer quando a
gente menos espera — disse emocionado ao ver as crianças se adaptando
tão bem com a nova família.
— As crianças já sabem quem é o tio preferido deles. Não é verdade?
— perguntou Lucca.
— Já sim, tio! — disse Duda rindo.
— Claro! Voxe me pometeu sorvete de socolate. Eu quero! — disse
Pietro deixando Lucca sem graça.
— Você é muito ridículo, Lucca. Tem necessidade de comprar as
crianças? — perguntou Luna indignada.
— Sem noção você, irmão! Eles já sabem quem é o tio melhor aqui —
disse Enzo carregando Duda.
— Lippo, você já reparou como seus filhos são lindos. Nossa vou comprar
muitas coisas para eles — disse Arianna sonhadora.
— Vamos ter trabalho com essa garotinha aqui, irmão — disse Enzo.
— Nada de namorar antes dos quarenta anos, gatinha.
— Minha filha não vai namorar, idiota! E me dê logo ela aqui! Vem
princesa! — disse Filippo irritado, tomando Duda dos braços de Enzo.
— Olha, eu nem vou dizer nada viu — falei balançando a cabeça
negativamente. Tadinha de Duda com esses homens Aandreozzi.
— Como você está, meu querido? — perguntou Arianna carinhosa.
— Estou muito bem agora. Obrigada por estar aqui — falei e ela ficou
séria.
— Você é da família, Luiz, e agora me fez uma nonna. Tem como
você ser mais perfeito? — falou Arianna me deixando envergonhado.
— Perfeito nada! Cadê Donatello, queria agradecê-lo também. —
perguntei.
— Don disse que ia resolver alguns problemas e que logo nos
encontra em casa — respondeu Arianna.
Pietro estava conversando com nonna Francesca cheio de
empolgação.
— Eu não entendi o que a tinhola disse — disse meu garotinho
confuso, pois nonna falou alguma coisa em italiano.
— Eu disse que você é um ursinho que vai fazer sucesso com as
garotas — explicou nonna e Pietro fez cara feia.
— Galotas são chatas, bisa! — disse Pietro com indignação.
— Diga isso daqui alguns anos quando você estiver traçando todas
que tiverem uma…
— Nonna! — Filippo a interrompeu, repreendendo-a. — Pietro só
tem três anos, se controle!
Comecei a rir, mas parei, pois, tudo doeu.
— Vai se… — Ela olhou para Pietro e para Duda, e respirou fundo. —
Vai ser difícil! As crianças de hoje em dia não são como vocês. Tapados como
uma toupeira!
— Ei, nonna! Não éramos umas toupeiras — disse Lucca
inconformado.
— Não sou obrigada a responder o óbvio — falou nonna com
desdém. Com certeza ela ainda estava irritada com eles.
A porta foi novamente aberta e entrou um homem alto, loiro,
trajando um jaleco e um sorriso no rosto. Descobri que esse era o meu
médico Ygor Pacov. Achei o sotaque dele bem engraçado. Ele disse que eu já
estava liberado para ir, que era para seguir com todas as recomendações.
Agradeci e fiquei muito feliz por voltar para casa.
Minha sogra pediu para levar as crianças para fazer compras, Filippo
não queria deixá-los longe de sua vista, foi difícil, mas Luna finalmente
conseguiu fazer com que ele deixasse que elas levassem as crianças ao
passeio.
Pietro, antes de sair, me disse que ia me trazer um doce para eu ficar
bem logo. O jeitinho esperto daquele garotinho encantava todos. Duda era
uma linda menininha meiga.
Quando todos saíram, fui ao banheiro, tomei meu banho e vesti a
roupa que trouxeram para mim. Assim que fiquei pronto, falei com Filippo
que queria ver como Brian estava. Fui com cuidado até chegar o quarto dele,
me recusei a usar a cadeira de rodas. Quando cheguei à frente da porta, bati
e uma voz mandou que eu entrasse. Pedi a Filippo para esperar e entrei.
— Luti! Que bom que você está bem — disse Brian assim que me viu
entrar.
— Só tenho a agradecer a Filippo e sua família. E não posso esquecer
de você também. Obrigado! — falei e vi Brian balançar a cabeça
negativamente.
— Da próxima vez deixe eu fazer meu trabalho, fiquei preocupado.
Não gostei do que você fez — disse Brian sério.
— Está tudo bem agora, não vamos ficar pensando em coisas ruins.
Pelo menos aquele inconveniente me trouxe algo de bom — falei sorrindo e
Brian me olhou confuso.
— O que aqueles bastardos poderiam te trazer de bom?
— Eu agora tenho dois filhos lindos, meu amigo — disse feliz da vida
e Brian continuou confuso. — No cativeiro tinha duas crianças que seriam
vendidas. Nos apegamos muito e agora não me vejo mais sem eles. Você vai
conhecê-los e vai ser impossível não se apaixonar — falei lembrando dos
meus lindos.
— Sério? Se for assim, Sr. Aandreozzi não salvou somente a você,
mas as crianças também.
— Trate de ficar bom logo, pois eu e as crianças precisamos de você!
Agora eu já vou. — Sorri.
— Amanhã já estou em casa. Vê se toma cuidado por aí. Obrigado.
Deixei o quarto e encontrei com Filippo que já estava com cara de
impaciente. Dei-lhe um beijo para ver se o acalmava e saímos da clínica. Eu
estava na maior felicidade porque iria voltar para casa. Essa sensação era
única.
Só de me lembrar que fiquei preso por dias tendo minha vida
controlada por bandidos que queriam me fazer mal pelo simples fato de
amar quem eu amava, me causava dor de cabeça. Apanhar e ficar sempre
em alerta naquele ambiente sujo e fedido para não deixar que fizessem mal
as minhas crianças, foi horrível e o pior que eu poderia passar na vida, mas
não podia ficar com essas coisas na cabeça. Tinha duas crianças para cuidar
e meu corpo para curar.
Chegamos em casa e, assim que a porta do elevador se abriu, vi
minha Amorinha linda vindo na minha direção. Eu não podia me abaixar
para pegar, mas Filippo fez a graça de me entregar minha bolinha.
— Estava com saudade de mim, minha linda? Que cachorrinha mais
linda! — falava e o toquinho de rabo de Amora balançava com felicidade.
— Vamos subir, bello, para você descansar um pouco. Ygor disse que
esse seu remédio vai te dar muito sono — falou Filippo me lembrando do
efeito colateral da medicação.
— Luti! Que bom que você está bem e em casa novamente. — Virei a
cabeça e vi Ritinha feliz ao me ver.
— Então venha cá e me dê um abraço — chamei e ela veio.
— Você fez falta! O Sr. Aandreozzi estava muito aflito — falou ela em
meu ouvido e eu assenti.
— Rita, eu quero que você arrume o quarto disponível que temos
aqui para receber as crianças — mandou Filippo com seu habitual tom sério.
— Crianças? — perguntou Ritinha me encarando.
— Sim. Meu sequestro nos trouxe algo muito bom. Eles se Pietro e
Eduarda — falei sorrindo e já com saudade deles.
— Onde eles estão? — perguntou Rita.
— Minha família sequestrou meus filhos, mas já liguei para trazerem
eles para casa — disse Filippo irritado.
— Você acha mesmo que eles vão trazer as crianças agora? —
perguntei e não obtive resposta. — Pois é, então fica calmo que eles daqui a
pouco estão em casa.
— Vou me acalmar, mas o senhor tem que subir. Licença, Rita, mas
ele tem que descansar — disse Filippo me levando.
Subimos para o quarto e a primeira coisa que fizemos foi tirar nossas roupas
para um banho. Depois de tomarmos banho juntos e sentir o toque do
corpo de um no outro, saímos do banheiro.
Filippo me ajudou a colocar meu short, esse ato dele me encantou,
nunca imaginei o meu ursão tão cuidadoso daquela maneira. Fomos para
cama e assim que deitamos eu me aconcheguei nos seus braços, ao me
sentir protegido novamente, não pude conter as lágrimas que veio nos meus
olhos.
— Não chore, bello. Já passou, estamos em casa. Você está bem, está
aqui comigo e não lá. Tente dormi, amore. Eu vou continuar aqui com você
— meu amor disse baixo.
— Eu sei, amor. Eu não tenho palavras para agradecer você e toda
sua família. Eu te amo muito, amor. Só pensava em você em todo momento
— falei com a voz rouca pelo choro.
— Eu vivi um inferno esses dias, bello. Parecia que até respirar era
difícil. Minha preocupação com você era imensa. — Abraçou-me.
— Obrigado por aceitar as crianças também. Eu pensei que iria ter
que me mudar para ficar com elas, caso você não as aceitasse. — Levantei a
cabeça para encará-lo e vi sua expressão endurecer.
— Eu nunca deixaria você sair de perto de mim, Luiz! Em relação as
crianças, eu nunca acreditei no sobrenatural, mas a ligação que tive com elas
foi algo inexplicável. Eu me apaixonei por eles, isso foi tão estranho — disse
em confusão e eu ri.
— Comigo foi a mesma coisa, eles são tão lindos e perfeitos. Quando
eu vi o desgraçado do Nicco bater em Eduarda, só porque ela queria
remédio para o irmão que estava com febre, me doeu por dentro — falei
lembrando da cena horrível.
— Se eu não tivesse matado o desgraçado, o mataria nesse
momento. Ninguém mais encosta na minha princesa — falou entredentes e
eu concordei. — Temos que levar Pietro ao médico para saber o que foi a
causa da febre — disse preocupado.
— Sim! Temos sim, mas tenho para mim que foi emocional. Mesmo
assim temos que levar os dois ao pediatra.
— Vou mandar minha secretária marcar com o melhor daqui. E já
vou acionar meus advogados, quero adotá-los o mais rápido possível.
— Será que vão tirá-los de nós? — perguntei aflito e Filippo respirou
fundo.
— Ninguém fará uma coisa dessas. Eu não permitirei. Agora durma
um pouco, amore mio — disse e eu assenti um pouco mais relaxado,
sabendo que meu amor cuidaria de tudo.

Acordei sozinho na cama, olhei para todos os lados procurando por


Filippo e não o encontrei. Levantei com toda cautela do mundo e fui até no
closet, coloquei uma blusa, minhas sandálias e saí do quarto.
Na metade da escada vi que todo mundo estava na sala. Pietro e
Duda estavam no chão brincando com Amora, enquanto todos apreciavam a
cena de meus filhos rindo muito com a pequena cadela que tentava morder
o brinquedo que Duda tinha na mão. Filippo estava discutindo algo com a
irmã. Quando cheguei nos últimos degraus, as crianças vieram na minha
direção.
— Papai! Amora é muito linda! Eu posso brincar mais com ela? —
perguntou Duda com Amora nos braços.
— Pode sim, princesa, mas cuidado para não derrubá-la. Você está
muito linda! — disse olhando minha garotinha, que usava uma blusa rosa,
short jeans, tênis branco e com seus cabelos lavados e cortados alguns
centímetros.
— Papai! Babo não gostô da roupa de mana — disse Pietro como se
contasse um segredo.
— Você está vendo alguma coisa demais nessa roupa de Duda, Luti?
— perguntou Luna.
Olhei para minha garotinha e não vi nada demais.
— O que tem a roupa de Duda? — perguntei rindo.
— Como você faz essa pergunta, Luiz Otávio? Não está vendo que
esse short está muito curto e essa blusa muito colada? — perguntou meu
ursão com indignação.
— Você é um ridículo ciumento! — disse Luna irritada. — Quando eu
voltar a próxima vez de Madri, vou trazer mais coisas para minha sobrinha.
— Encarou Filippo.
— Não fique colocando minha sobrinha com essas roupas, sua sem
vergonha — disse Enzo apoiando as loucuras do irmão mais velho.
— Cale boca, Enzo! Não se meta! — Luna disse e as crianças riram.
— Minha sobrinha é muito linda, parece até que é minha filha —
disse Lucca convencido.
— Quer roubar minha filha também? Já não basta meu namorado e
minha cadela? Minha filha não! — disse Filippo muito irritado.
— Você gostou das coisas que sua avó e tia compraram, meu amor?
— perguntei e Duda assentiu. — Então chegue para seu babo e fale.
Ela caminhou até Filippo.
— Eu gostei de tudo, babo. Eu posso ficar com tudo? Diz que sim, por
favor! — disse Duda juntando as duas mãozinhas.
— Não me olhe assim, Eduarda! — Respirou fundo. — Tudo bem,
mas nada de maquiagem e não se fala mais nisso — falou Filippo ganhando
um abraço de Duda.
— Obrigadinha! Fiz certo, tia? — perguntou Duda a Luna, fazendo
todos rirem. Menos Filippo que olhou para irmã indignado.
— Você está acabado com essa menina sendo influenciada por essa
daí — disse Enzo balançando a cabeça negativamente.
— Você também está muito lindo, bebê! — falei passando a mão nos
cachinhos aparados do meu garotinho que vestia bermuda e blusa polo
verde, mas ao contrário da irmã, estava descalço.
— Eu xei! Eu disse para vovó que eu quelia ficar igual ao papai urso
— disse Pietro orgulhoso.
— E ficou mesmo! Ficou mais bonito que ele — falei e Filippo deu um
sorriso de lado.
— Oi, bello. Por que saiu da cama? Você sabe que tem que ficar em
repouso — disse Filippo vindo em minha direção e me dando um beijo.
— Não quero ficar parado na cama parecendo um doente — disse
correspondendo ao beijo.
— Babo! Me peda aqui! — pediu nosso filho estendendo os
bracinhos.
— Se fala pega, filho! Repita! — Filippo carregou Pietro.
— Está ceto, babo! — disse assentindo, mas não repetiu o que pediu.
— Vamos jantar, gente? Estou morrendo de fome aqui — reclamou
Lucca.
— Quando você não está com fome, meu filho? — perguntou
Arianna.
— Nunca, mamma! Isso aí é uma draga — disse Luna e todos nós
fomos jantar.
— Vamos que eu quero dar uma chegada na rua — disse nonna
maliciosa.
— Acho melhor a senhora repensar isso aí — disse Don calmo.
— Acho melhor você lembrar quem é a mãe de quem aqui. Eu ainda
te dou umas bifas, Don! — falou nonna irritada.
O jantar foi diferente e maravilhoso. Como sempre, havia muita
conversa e algumas brincadeiras dessa família incrível. A diferença era que
tínhamos duas crianças à mesa.
Pietro por ser pequeno, pediu para Filippo lhe dar comida na boca e
eu quase me engasgo com a comida ao ouvir ele pedindo isso ao Filippo.
Meu ursão me surpreendeu ao dar de bom grado toda comida de meu
menininho. Já Duda, como uma garotinha grande e esperta, comeu tudo
sozinha me deixando muito feliz e tendo a certeza que eu e Filippo
podíamos fazer dar certo. Eu não me via mais sem minhas crianças, isso era
tão bom. Essa sensação de cuidar de alguém tão importante para mim era
incrivelmente maravilhosa.
Após o jantar Donatello pediu atenção de todos os presentes.
— Gostaria de dizer que estou muito feliz. Além de você estar bem,
Luiz, nós tivemos a graça de ganhar dois netinhos lindos. Nunca imaginei
que me sentiria tão feliz como estou me sentindo nesse momento. Por isso,
eu resolvi dar um presente para vocês quatro. Aqui está — disse Don me
dando uma caixinha preta em formato retangular.
— O que é isso? — Abri a caixa. — Nossa! — Dentro da caixinha
continha uma chave, uma chave de uma casa.
— Essa é a chave da casa de vocês. Não quero que meus netos sejam
criados em um lugar sem que eles possam correr livremente. Todos meus
filhos cresceram brincando nos jardins de nossa casa em Milão, então nada
melhor que eles tenham uma casa para eles — disse Arianna sorrindo.
— Obrigado! Eu não tenho palavras para agradecer esse presente
maravilhoso — falei recebendo um aperto da mão de Filippo em meu
ombro, me passando conforto.
Abraçamos meus sogros que ficaram falando sobre como a casa era
linda e grande. Os irmãos Aandreozzi já estavam brigando para ver quem iria
escolher seus quartos e eu tive que me meter, pois se eles não tomarem os
quartos dos meus filhos isso já me deixava feliz.
Depois de tanta conversa, era hora de finalmente dormi. Nonna e
Arianna levaram as crianças para tomar banho e na hora de colocá-las na
cama, Filippo foi até lá. Eu estava em muita dor e sabia que já era hora de
tomar meu remédio. Já estava deitado, somente esperando meu amor
chegar para dormimos juntos, quando a porta foi aberta e Filippo entrou
com nossas duas crianças.
— Bello! Eles estão com medo de dormir sozinhos. Vão dormir aqui,
tudo bem? — perguntou Filippo e eu sabia que isso poderia acontecer, os
dias que ficamos presos naquele sótão eles dormiam grudados em mim.
— Claro que podem! Venham logo deitar, o remédio me dá muito
sono e eu estou em tempo de apagar qualquer momento — falei e os dois
correram para cama enorme.
— Obrigada, papai! Boa noite, amo você — disse minha Duda
bocejando.
— Eu tumbém amo, viu?! — disse Pietro passando a irmã e me dando
um beijo na bochecha.
— E a mim? Ninguém aqui me ama não? — perguntou Filippo
deitando na cama.
— Olha, crianças... O babo de vocês está achando que ninguém ama
ele. Eu amo muito e vocês?
— Eu amo sim! Te amo, babo! — disse Duda ganhando um beijo na
testa.
— Eu amo! — disse Pietro deitando a cabeça no braço de Filippo.
— Eu amo muito cada um de vocês. Estou me tornando um homem
melhor e por vocês faço de tudo, pois são meus para amar e proteger. Amori
della mia vita (Amores da minha vida) — disse meu amor com sua habitual
possessividade que amo.
Antes de dormir, vi Filippo beijar o rostinho adormecido de Duda e
cheirar os cachinhos lindo do nosso garotinho. Duda grudou todo seu
corpinho no meu e adormeci agradecendo por estar vivo, ter uma família
linda e só minha.
O final de semana passou e já era segunda-feira. Decidi que tinha que
ir à faculdade, não podia ficar faltando. Mesmo sentindo algumas dores eu
iria sim. Não faria muito esforço, então, não havia porque não ir.
No final de semana fui forçado a ficar na cama, Filippo não me deixou
ficar descendo a escada, a não ser para comer com todo mundo à mesa. Eu
havia me revoltado e dito que iria descer e pronto. Poxa, entendam o meu
lado! Eu só queria passar o final de semana em algum lugar com as crianças,
mas não, tive que ficar de repouso parecendo um morto-vivo.
De tempo em tempo vinha Duda, Pietro e Amora para me fazer um
pouco de companhia. Filippo disse que só iria ver a casa que ganhamos
quando eu estivesse melhor. Já que eu estava bem para ir à faculdade, nada
melhor que também aproveitar e ir ver nossa casa. Estava muito ansioso.
Beto e Ângela me ligaram para saber como eu estava. Conversamos
muito, mas não contei sobre os meus filhos, preferi contar pessoalmente.
Desci a escada depois de me arrumar, procurei pelas crianças e as
encontrei na cozinha com Rita. Despedi-me com um beijo em cada um,
afirmando que não demoraria. Como Brian ainda estava indisponível, Lucca
resolveu me levar já que eu não poderia ir de moto. Ao entrarmos no carro,
me lembrei daquela quase conversa que tive com Lucca naquele dia fatídico.
— Luc, nós estávamos conversando naquele dia. Quer me contar o
que está lhe incomodando? — perguntei chamando sua atenção.
— Não sei, acho que nem vale a pena falar mais. Deve só ser coisa da
minha cabeça — falou e eu fiquei muito confuso.
— Fale logo, Lucca! O que está acontecendo? — perguntei
novamente.
— Como foi que você descobriu estar apaixonado por meu irmão? —
perguntou Lucca olhando para frente.
— Sério que você quer saber sobre isso? — perguntei olhando-o.
— Sim, eu quero! Acho que isso vai me ajudar.
— No primeiro momento em que vi seu irmão, o achei horrível pelo
seu modo de tratar as pessoas, mas querendo ou não sua beleza chamou
muito a minha atenção. Depois meu corpo e minha mente só ficou
condicionado a pensar nele e em querer vê-lo. — Sorri ao lembrar da
primeira vez de Filippo no Benedetti e de como eu adoraria arrancar sua
cabeça fora.
— Falando assim, acho que eu posso afirmar a você que me
apaixonei. Como isso é possível? — perguntou de uma maneira distante,
não sei se falou comigo ou consigo mesmo.
— Posso saber quem é essa pessoa? — perguntei por pura
curiosidade.
— Não! Acho que não estou preparado para falar isso em voz alta.
Eu senti um pouco de tristeza em sua voz.
— Me fale só como você se sente. Pelo menos você vai desabafar. —
Tentei ajudá-lo de alguma forma, nem que fosse ouvindo-o desabafar.
— Eu preciso contar isso para alguém. Foda-se! É o Luigi Pierri. —
disse de uma só vez.
Eu arregalei os olhos sem acreditar.
— Luigi? Luigi que trabalha com Filippo, o meu Filippo?
Ele me olhou me olhou envergonhado. Fiquei esperando o momento
de ele desabafar.
— Eu me sinto um idiota na sua presença, não sei o que falar, como
agir, meus pensamentos não são mais meus. Isso não é normal, Luti! Porra,
eu sou Lucca Aandreozzi! Eu não posso ser tão idiota na presença da pessoa
que eu gosto. Eu acho que estou devidamente apaixonado. Isso é ridículo!
Eu sou um homem de atitude! E daí que aquele filho da mãe está com
casamento marcado? Se eu pudesse, prenderia ele em um cofre só para
mim — disse irritado.
Dei uma gargalhada, a parte do cofre foi engraçada.
“O que há com os irmãos Aandreozzi quando estão apaixonados? São
tão possessivos!”
— Como assim casamento marcado, Lucca? — Vi a tristeza nos olhos
de meu cunhado.
— Pois é, tem uma mulher grávida dele, e parece que a família de
Luigi é daquelas italianas tradicionais. — Bufou com indignação.
— Porra, isso é foda! Eu quando me apaixonei por Filippo achei que
nunca iria rolar nada. E olhe agora?
Ele assentiu.
— Eu só não queria estar apaixonado por ele. Tanto homem e mulher
solteira por aí. Eu sou bissexual, não ligaria quem quer que fosse, só não um
cara complicado como ele — disse em revolta, mas eu o compreendi muito
bem.
— Ah, meu cunhado! Quando certos tipos de coisas acontecem, não
tem explicação e nem para onde correr.
Lucca atendeu o celular sincronizado ao som do carro,
interrompendo nossa conversa.
— Luiz Otávio está com você, irmão? — perguntou Filippo
visivelmente irritado, me fazendo revirar os olhos.
— Está sim, irmão. Estou levando ele à faculdade — respondeu Luc
rindo, esquecendo do assunto anterior.
— E os outros seguranças dele? — perguntou Filippo e eu arregalei
os olhos.
“Como assim; outros?”
— Espera aí, Filippo! Que história é essa de os outros seguranças?
Meu segurança é o Brian! — disse irritado.
— Se você me falasse que iria cometer a loucura de ir para faculdade,
ainda tendo que estar em repouso, teria lhe contado o seu esquema de
segurança, mas como é um teimoso, não pude falar — falou meu urso
bravo.
— Olhe só, Filippo, acho melhor conversarmos depois. — Respirei
fundo.
— Mesmo assim, agora você tem dois seguranças — falou e percebi
que ele iria desligar.
— Ei, amor! Não desligue sem antes se despedir.
Lucca começou a gargalhar.
— Está fodido com esse seu namoro, viu, irmão?! — disse Luc
controlando a risada.
— E eu não sei, Lucca? Mais tarde vou te buscar, bello. — Desligou.
“Que sacana! Grosso!”
— Esse seu irmão... — resmunguei balançando minha cabeça
negativamente.
— Mesmo ele sendo assim, você sabe que ele te ama muito.
Assenti.
— Também o amo, cunhado. Pode ter certeza disso. Não se
preocupe, sua vida se ajeitará também.
Chegamos à faculdade e quando saltei do carro, tinha dois homens
enormes me esperando. Oh, inferno! Isso foi constrangedor! Os dois novos
seguranças chamavam bastante atenção de todos que passavam por nós. O
loiro com cabelos de comprimento nos ombros, se chamava Ethan. O
moreno com barba por fazer, se chamava Adrian. Pelo sotaque de Ethan eu
tive certeza que era americano, enquanto Adrian era brasileiro.
Segui meu caminho e entrei na sala, fiquei esperando por Ângela,
mas percebi que ela não viria. Assisti aula de anatomia e achei o assunto
muito interessante, mas passei o dia inteiro incomodando pelas dores. No
intervalo, encontrei com Thiago que fez questão de nem ao menos olhar em
meu rosto. Não podia fazer nada por ele, a não ser lamentar.
No final do dia eu tomei o meu remédio e minhas dores pararam um
pouco. Quando estava andando pelo corredor, um corpo colidiu contra o
meu atingindo-me em cheio e quase me fazendo cair, mas consegui ficar de
pé. A dor que senti no momento me faz querer morrer. Olhando para frente
e vi Verônica que deve ter brotado dos confins do inferno, enquanto eu
tentava respirar sem sentir uma dor excruciante nas minhas costelas. A
maluca ficava me olhando com um sorriso no rosto.
— Oi, meu Luti! Como você está? — perguntou a louca. — Aí! O que
é isso? — gritou.
Olhei para baixo e vi meu menininho chutando a perna de Verônica.
“De onde meu filho veio?”
— Você machucou nosso pai! O senhor está bem, papai? Está
doendo? — perguntou Duda.
Tentei responder a minha menina linda, mas a dor não deixou.
— Bate nela, babo! Ela bateu no papai. Buxa feia! — gritou Pietro e
Filippo veio correndo na minha direção.
— Bello, você está bem?
Assenti e Filippo virou irritado para Verônica.
— Que porra tem na cabeça para ficar se jogando nele dessa
maneira?
— Não é da sua conta! Não te devo resposta nenhuma. Esse pestinha
aqui ainda me chutou — disse Verônica irritada.
Eu esqueci minha maldita dor e parei bem à sua frente.
— Essa é a última vez que eu vou te pedir para me deixar bem longe
da sua maluquice, Verônica! Esse aqui é o meu marido, essas coisas lindas
são os meus filhos. Dá próxima vez que você, ou qualquer outra pessoa,
chamar meu caçula de pestinha, eu acabo com a vida dessa ameba. Nunca
mais, ouviu bem? Nunca mais me dirija a palavra ou encoste em mim
novamente! Eu acabo com você. Minha família vem em primeiro lugar —
falei com muita raiva deixando a maluca me olhar assustada.
— Você era para ser meu namorado, Luti. Eu te amo tanto — disse a
vadia chorando.
Eu quase bati com minha mão nela, mas não conseguia levantar os
braços.
“Oh, diabos! Isso dói.”
— Vá se tratar, minha filha! Está vendo esse homem grande aqui?
Pois é, ele é o meu marido, por isso me esqueça, sua louca — disse
entredentes, vendo Filippo me olhar atentamente.
— Você... você é...
— A única coisa que tem que saber de mim, é que estou louco para acertar
minha mão em você no momento — interrompi-a. Estava com dor e com
raiva, só quero ir embora. — E sim! Eu sou gay! Cuidado com o que vai sair
da sua boca, sua puta maluca — disse raivoso, aguentando firme minha dor.
— Está doendo muito, papai? — perguntou Duda
preocupada.
— Vai melhorar, minha filha — respondi me segurando em Filippo.
— Amore, você não deveria vir, não está bom ainda — falou Filippo
preocupado.
— Agora eu sei disso. Por favor, me leva para casa — pedi e Filippo
assentiu.
Segurei a mão de Duda e Filippo segurou a de Pietro. Entramos no
carro e reparei que Filippo estava com a sua Mercedes. No banco de trás
estava uma cadeirinha para nosso menininho. Com certeza tinha dedo da
mãe dele naquela compra. Quando Filippo arrumou as crianças no assento,
eu, mesmo com dor, me virei para o meu pequenino herói.
— Olha, meu bebê, você não pode sair chutando as pessoas. Isso não
está certo, estamos entendidos? — perguntei e Pietro que fez uma cara de
choro. Meu coração se cortou em vários pedaços.
— Aquela buxa machuco você, papai. Eu não gostei disso. Papai te
defende e eu também quero. Eu sou gande — disse chorando.
Vi que Filippo ficou tão derrotado quanto eu, mas não podia deixar
essas coisas acontecerem.
— Tudo bem, bebê, mas não pode bater nos outros. E não chora,
amor. Só falo isso para o seu bem. Te amo, pequeno urso.
Ele sorriu e Duda como uma grande irmã mais velha, limpou suas
lágrimas.
— Eu xei disso! Viu só, mana, eu também sou um urso. — Pietro
começou a chamar a irmã de ursinha, do seu modo fofo de falar, é claro.
Seguimos para casa, e ao olhar para Filippo percebi que ele estava
louco para soltar os cachorros em mim, mas como nós já havíamos nos
acertado de nunca brigarmos na frente das crianças e por isso ele não fez.
Ele ia ter que esperar até quando chegássemos em casa. Eu já sabia que iria
ouvir e muito. Quando chegamos, subi direto para o quarto. Só precisei me
sentar na cama para Filippo começar o discurso.
— Merda! O que você acha que estava fazendo indo à faculdade? Eu
sabia que você poderia se machucar. E olhe agora, você se machucou! —
falou muito irritado, mas sem levantar o tom de voz.
— Filippo, eu só não quero ficar perdendo aula — falei e logo gemi
de dor.
Filippo correu e me deu dois comprimidos do remédio.
— Caspita! Você sabia que pode levar a porcaria do atestado — disse
com indignação.
— Tudo bem, amor. Desculpe por te deixar preocupado. — Tentei
amenizar.
— Olhe só, bello... Eu só consigo pensar em te foder no momento.
Um foda com muita raiva e muito gostosa para me livrar dessa minha
irritação — falou me fazendo soltar um gemido apreciativo.
— Eu posso tomar o remédio e depois podemos namorar, amor. O
que você acha? — perguntei bocejando de sono.
— Quando você estiver curado, vou foder até sua alma se for preciso,
mas agora durma, mio amore. — Deu-me um beijo na boca.
— Vai ficar aqui comigo? — perguntei já de olhos fechados.
— Não, bello mio. Vou ligar para os advogados, mais tarde temos
uma reunião com eles.
Eu assenti sonolento.
— Tudo bem! Te amo, ursão!
— Eu também te amo, meu Luiz teimoso dos infernos. — Selou meus
lábios e eu apaguei.
Acordei tempos depois sentindo beijos no meu rosto. Abri os olhos e
sorri ao ver Duda olhando para mim. Seus olhinhos azuis me faziam tão bem
e me davam muita paz.
— Oi, minha linda. Aconteceu alguma coisa? — perguntei sentando
na cama.
— Tem dois homens lá embaixo conversando com o babo. Será que
eles vão levar eu e meu irmão para longe daqui? — perguntou Duda
demonstrando medo e ansiedade.
— Ninguém vai levar você e seu irmão de mim e Filippo. Vocês são
meus filhos e não há ninguém capaz de fazer isso, entendeu? — Olhei em
seus olhos passando confiança.
— Desde que aqueles homens maus pegaram eu e Pê, fico com medo
— disse me fazendo pensar no que responder.
— Presta atenção, filha. Sempre vai ter homens maus querendo fazer
coisas ruins a nossa família, mas nunca vamos deixar que nada aconteça,
certo?
Ela assentiu.
— Então quem são esses homens?
— Eles são os homens que vão cuidar para você e seu irmão serem
legalmente filhos meu e de Filippo. — Sorri e ela assentiu novamente.
— Babo disse que viria te chamar, mas eu pedi a ele para me deixar
fazer isso. Ele já está te esperando no escritório. — Minha garotinha passou
o recado.
— Obrigado, meu anjo. Se é assim, então, deixe eu ir logo antes que
seu outro pai impaciente venha me buscar.
Fui ao banheiro, escovei meus dentes e lavei meu rosto, não precisei trocar
de roupa, eu havia dormido com a mesma que fui à faculdade. Voltei para o
quarto, peguei meu celular e saí com Duda.
Desci a escada e vi que Rita estava com Pietro. Deixei Duda com ela e
fui para o escritório, onde toda família Aandreozzi já estava presente só
esperando por mim. Cumprimentei os dois advogados que se chamavam
Rodolfo e Emílio.
Filippo começou a reunião indo direto ao ponto falando a sua
intenção em adotar as crianças. Os advogados ouviram tudo com muita
atenção, mas quando falaram que talvez as crianças fossem para alguma
instituição até o momento de nós conseguirmos a guarda provisória, Filippo
levantou de sua cadeira.
— Meus filhos não sairão de perto de mim e de meu companheiro,
nunca! Ouviu bem? Nunca! — disse Filippo alterado.
— Sr. Aandreozzi, é o normal isso acontecer — disse o Dr. Rodolfo.
— Não! Eu não quero saber! Eles não vão a lugar nenhum. Pagarei o
que for preciso para vocês dois fazer o que for necessário para que isso não
aconteça.
— Certo, senhor! Faremos o possível, mas saiba que as crianças
passaram por profissionais psiquiátricos e terá visitas da assistente social —
falou Dr. Emílio.
— Que seja! Todos podem fazer suas avaliações de merda, mas daqui
os meus filhos não saem — falou Filippo sentando novamente.
— Seria muito bom também se você e seu companheiro fossem
casados. Isso adiantaria muito o processo — disse Rodolfo e eu olhei para
Filippo.
— Casamos sim! Se for preciso vamos casar mês que vem.
Eu o olhei com desgosto.
— Não é assim, Filippo! Cadê o pedido de casamento? Deixe de ser
um ogro! — falou minha sogra indignada.
— Realmente fui insensível, desculpe por isso, bello — falou
envergonhado.
— Só desculpo se fizer um pedido decente. — Sorri e vi toda a família
sorrir também.
— Não quero nada de casamento às pressas, sempre sonhei em casar
meus filhos. E você não vai casar em um casamento sem graça no mês que
vem — falou minha sogra irritada.
— Mamma, eu nem fiz o pedido ainda — falou Filippo sério.
— Senhores, o momento agora é de família. Comecem a resolver
logo a adoção dos meus sobrinhos o mais rápido possível. Boa noite para
vocês — disse Enzo fazendo eu rir mentalmente da cara dos advogados.
Vimos os advogados levantar e sair do escritório. Enzo os
acompanhou, mas logo voltou de mãos dadas com meus filhos que vieram
na minha direção e na de Filippo sem entender nada. Filippo levantou e foi
até uma parte do escritório, que percebi ser um cofre. Tirou de lá uma
caixinha de veludo me fazendo arregalar os olhos em surpresa.
— Bello, eu não sou e acho que nunca vou ser um homem romântico.
Eu sou esse aqui que você está vendo, um homem cheio de defeitos. Mas é
esse homem aqui que te ama, te ama demais. Doce inferno! Eu nunca fui de
me abrir para ninguém e com você foi tão natural e espontâneo. Nosso
relacionamento e nosso amor foi a melhor coisa que me aconteceu. Quero
uma família com você, quero dormir e acordar todos os dias ao seu lado,
assistir filmes sem graça, ver você dançar aquelas músicas barulhentas
parecendo uma minhoca doente, brigar com sua teimosia, criar nossos filhos
juntos, ou seja, bello... quero tudo, tudo com você. — Filippo respirou fundo
e veio em minha direção. — Depois de me fazer falar essas palavras na
frente da minha família inconveniente... Luiz Otávio, você aceita se casar
comigo?
Minhas mãos estavam suando e meu coração batia acelerado no nível
máximo. Olhei para caixinha aberta com duas alianças lindas. Olhei para
família de Filippo, ou melhor... família somente dele não, minha também,
pois não me via sem aquelas pessoas na minha vida. Amava meu ursão,
ogro, ciumento, irritadiço. Então por que esperar?
— Vamos lá, bello, estou ficando impaciente aqui — disse Filippo no
seu habitual tom sério e eu revirei os olhos.
— Você é um grosso, ciumento, carrega um monte de problemas,
mas eu não consigo nem mais respirar sem você. Minha resposta não seria
outra que não fosse sim! Amo você, ursão, e aceito me casar contigo.
Filippo abriu o sorriso mais lindo e sincero que eu já vi desde o
momento que o conheci. Esse sorriso iria ficar guardado para sempre na
minha memória. Ele me beijou com sua boca quente e macia, mordiscando
meus lábios. Sua língua doce acariciava minha boca.
“Nossa... eu amo esse homem! Minha vida era tão difícil mais ao
mesmo tempo tão excitante com ele. Eu preciso dele, preciso agora!” —
Bem... queríamos dar os parabéns, mas parece que está impossível — ouvi a
voz de Lucca, mas não estava nem aí.
— Isso mesmo, ursão! Mostre a esse franguinho quem manda nessa
relação. Meu orgulho, esse meu neto — disse nonna.
Todos foram saindo e levando as crianças junto com eles. A porta foi
fechada e finalmente ficamos a sós.
— Você está doente ainda, bello, não pode fazer esforço — disse
Filippo gemendo após eu apertar seu pau rígido.
— Foda-se! Você me quer debruçado ou deitado na mesa? —
perguntei beijando seu pescoço.
— Diabos, Luiz! Estou tentando me controlar aqui — falou irritado.
Eu o beijei em seguida.
— Cale a boca e me foda! Carinhoso, baby, só seja carinhoso. — Dei
um risinho.
— Carinho… Vou me lembrar disso. — Começou a tirar sua roupa.
Filippo retirou minha roupa inteira, mas sempre com muito cuidado
para não me machucar. Ele mordia meu pescoço, descia a língua por toda
extensão, passava suas mãos grandes e pesadas por todo meu tórax,
descendo até chegar ao meu pau duro. Com a mão direita ele varreu todas
as coisas de cima da mesa e me debruçou sobre a mesma com rapidez e
delicadeza, me assustando com o movimento.
— Não sabe como estou excitado nesse momento, bello. Pena que
não vou poder te pegar do jeito que eu gosto, mas vou tentar não te
machucar. — Tirou sua roupa me olhando com fome crua.
— Por favor, amor... Vem logo! — disse gemendo.
Sem que eu esperasse, senti sua língua quente e molhada no meu
cuzinho.
— Oh, coisa gostosa!
A língua deliciosa do caralho, explorava meu corpo de uma maneira
alucinante. Vi Filippo levantar e abrir a gaveta e pegar o lubrificante. Ele
devia ter lubrificante guardado por toda casa. Meu amor enfiou seus dedos
me lubrificando e abrindo para recebê-lo. Meu urso penetrou-me com
cautela para não me machucar.
— Como pode me fazer amar tanto você? — perguntou Filippo
durante os movimentos. — Ahh… que delícia!
— Mais forte, amor! Porra! — falei entre gemidos, sentindo o corpo
suado de Filippo grudado nas minhas costas.
— Nada de força, não vou te machucar — disse Filippo com sua voz
grossa sussurrada no meu ouvido.
— Então me faça gozar!
Os movimentos dele eram precisos, mas sem me machucar ou
movimentar demais meu corpo. Ele me imobilizou com seu corpanzil
delicioso. As sincronias dos seus movimentos, a respiração de Filippo
no meu ouvido, nossos gemidos, nosso amor, tudo fez com que eu
gozasse sem nem ao menos segurar meu pau. Filippo veio logo em
seguida derramando todo seu líquido dentro de mim. Ele se afastou
me levando junto para se sentar na cadeira.
— Quando a pessoa é pedida em noivado, ela automaticamente usa
o anel que lhe foi dado — disse Filippo colocando a aliança de ouro branco
com pedrinhas de diamante negro no meu dedo.
— Por que a sua não tem diamantes também? — perguntei ao
colocar sua aliança de ouro polido e sem pedras no seu dedo.
— Achei que o diamante negro combina com seus olhos — falou e eu
assenti. Ela era muito masculina e linda.
— Use sempre! É sempre bom que os inconvenientes, saibam que
você tem dono — falou rude e eu respirei fundo.
— Digo o mesmo a você, amor. Obrigado. — Entrelacei nossas mãos.
Colocamos nossas roupas de volta e ficamos conversando por um
tempo até que eu comecei a sentir as dores novamente. Filippo preocupado,
preferiu que eu fosse para o quarto me deitar um pouco.
“Agora me diga, como não amar este homem?”
Casar. Eu nunca na minha vida poderia imaginar me casar com
alguém. E olhe para mim hoje em dia, apaixonado, querendo formar uma
família com meu bello. Eu não poderia escolher pessoa melhor na minha
vida. Luiz Otávio era uma figura excepcional. Ele era doce na medida certa,
engraçado e muito bom com as crianças. Elas o amava muito e faziam
questão de sempre estar por perto dele.
Ele me aturava quando estava no meu pior momento, aceitava e
sabia contornar todo o meu gênio ruim, mas como todo ser humano, meu
bello também não era perfeito. Luiz conseguia ser tão teimoso que muitas
vezes dava vontade de torcer seu pescoço, mas não havia defeito no mundo
que não me fizesse o aceitar da mesma maneira que ele me aceitava.
O que Luiz não sabia era que antes dele ser sequestrado pelo maldito
do Nicco Zanetti, eu havia pedido para Melissa, minha secretária, contatar as
melhores joalherias para me trazer alianças de diversos modelos. Não
precisei olhar muito, pois assim que bati meus olhos na de ouro branco com
pequenos diamantes negros, eu soube que aquela era aliança do meu bello.
Vê-lo usar uma aliança dada por mim, foi algo sem explicação. Esperava que
assim todos os malditos e malditas que tinham olhos para o meu ragazzo
vissem que ele pertencia a alguém e esse alguém era eu.
Algumas semanas se passaram e nossa rotina estava voltando ao
normal. Quer dizer... Não tão normal, pois tínhamos dois filhos para cuidar.
A maior parte da minha família já havia ido embora, só Luna que resolveu
ficar mais um pouco.
Nunca vi uma despedida tão demorada em toda minha vida. Mamma
começou a chorar porque não queria morar longe dos netos e babo tentava
acalmá-la dizendo que sempre poderia vir vê-los, enquanto nonna dizia que
iria morar no Brasil. Quando ela disse isso, eu só faltei ter um infarto. Amava
muito minha nonna, mas achava que não aguentaria morar com ela
novamente.
Minha avó tinha uma mania esquisita de esquecer de pôr a roupa e
sair andando nua pela casa. Lembrar da última vez que ela fez isso, me deu
calafrios. Pode até parecer que sou um homem ruim, coisa que eu não me
importo se pensarem, mas nonna ali não iria dar certo.
Lucca teve que ir às presas para Chicago, bem que ele adoraria ficar
mais um pouco, mas não podia. Enzo me ajudou a montar a proteção para
minhas crianças, me lembrou de sempre estar por perto e nunca os deixar
longe de minha vista por muito tempo.
Mesmo com toda confusão em nossas vidas, minha família conseguia
ser sempre excepcional. Receberam as crianças de uma maneira muito boa.
Mamma e babo sempre quiseram ser avós, Eduarda e Pietro só vieram para
deixá-los encantados.
Falando das crianças, elas finalmente começaram a estudar há alguns
dias depois de uma pequena audiência com um juiz corrupto que me
arrancou muito dinheiro. Eu e bello conseguimos a guarda das crianças.
Estava pouco me fodendo para opiniões desnecessárias sobre não comprar
as pessoas para ter o que quer, pois eu fiz e faria novamente se assim
necessitasse. Pelo menos eu tinha as crianças comigo e elas estavam bem
assim.
Descobri que a mãe deles era uma dançarina e também fazia
programas em uma boate que fazia lavagem de dinheiro para as coisas
ilegais de Nicco. As crianças moravam em uma casinha junto com ela, e
mesmo depois de tantas pesquisas ninguém nunca ouviu falar sobre maus
tratos. Saber disso me deixou feliz, a mãe deles poderia ser uma vadia, mas
era uma vadia que gostava dos filhos.
Saí do trabalho e fui para casa. Há uma semana nos mudamos para
casa que meus pais nos deram. Aliás, casa não. Mansão! Meu pai nos deu
uma mansão muito bem estruturada para ser o meu lar com meu futuro
marido e meus filhos. Não observei muitos detalhes, odiava isso! O que
importava é que o local era enorme e podia acomodar toda minha família
com muito conforto.
A estrutura da mansão foi feita por um grande engenheiro francês
amigo de meus pais. Tinha uma área grande o suficiente para que meus
filhos fossem livres para correr e brincar por lá, como já faziam.
Mandei que Rita contratasse mais empregados e todos passaram por
uma investigação profunda que eu fiz questão de fazer. Elijah ficou com o
controle do monitoramento de segurança. Mesmo eu querendo ficar à
frente de tudo, seria impossível. Tinha muitas coisas para dar conta e se por
algum acaso ele falhasse comigo, eu o mataria. Simples assim!
Cheguei em casa e escutei um som alto de uma das músicas de doido
que o meu bello gostava de ouvir. Fui em direção ao som e vi que em uma
das áreas de lazer estava dançando Luiz, Luna e meus filhos, junto com os
amigos de bello. Parei para observar a diversão deles. Bello estava dançando
com Pietro uma coisa estranha com os braços. Eduarda e Luna estava uma a
cada lado de Beto. Mesmo querendo torcer o pescoço dele por estar muito
próximo e dançando com minha filha e minha irmãzinha, o sorriso que cada
uma tinha rosto me fez recuar um pouco do ciúme que estava sentindo no
momento.
“Ah, foda-se! Não sou tão forte assim.”
— Roberto, é melhor você afastar das mulheres da minha família —
falei rude fazendo todos me encararem.
— Papai! — Duda e Pietro gritaram ao mesmo tempo, correndo em
minha direção.
— Babo, tio Beto e tia Angel são muito legais! — disse Eduarda com
empolgação.
— A Ângela pode até ser, filha, mas esse aí eu não sei não — falei
apontando para Beto e ela riu.
— Eu estou pledendo a dançar. Viu como sou bom? — perguntou
Pietro feliz.
— Você vai ser bom em muitas coisas, meu filho, tenho certeza
disso. O inconveniente do Beto passou os braços no ombro de minha
irmã.
— Você pode até não admitir, italiano, mas sei que você gosta de
mim — falou Beto sorrindo.
— Se você tirar suas patas de cima de minha irmã, tenho certeza que
podemos conversar antes de eu te socar — falei entredentes.
— Muito ciumento você, Filippo, coitado do Lutito — Beto disse
piscando para o meu bello que revirou os olhos.
— Não só ele como todos os homens Aandreozzi — disse bello vindo
em minha direção. — Oi, amor. Como foi seu dia? — perguntou fazendo eu
me curvar e lhe dar um selinho.
— Foi tudo bem, bello. Apesar de chegar em casa e ver um
inconveniente agarrando minhas garotas.
Beto abriu um sorriso malicioso.
— Aprenda a dividir, estou muito feliz porque agora eu tenho
sobrinhos. Você tem que deixar de ser um tantinho egoísta — Beto falou me
irritando e levou um empurrão de Luna.
— Pare de querer provocar meu irmão, você ainda não viu Filippo
chateado de verdade — disse Luna fazendo Beto ficar sério de repente.
— E nem quero ver, pelo menos não antes da gente oficializar esse
nosso namoro.
As crianças começaram a gritar de alegria e eu querendo avançar
para socar o bastardo, mas minha irmãzinha linda fez isso por mim. Luna
deu uma rasteira em Beto fazendo-o cair com tudo no chão, mas ela fez algo
em seguida que não gostei nem um pouco. Minha sorellina montou nos
quadris do sujeito irritante. Eu sabia que era uma forma de ataque, mas a
cara de admiração que ele fez, começou a me tirar do sério.
— Nem se você fosse o último homem da face da terra, eu aceitaria
namorar com você — disse Luna com o rosto muito próximo ao dele.
Eu realmente não estava gostando de nada daquilo.
— Eu sou um cara paciente. Quem sabe do amanhã? — disse ele
sério.
— Vamos parar com essa porra agora mesmo! Levanta daí, Luna!
Luna se levantou em um pulo.
— Sei un grande fastidioso quando si vuole! Non so come Luti ti
sopporto! (Você é um grande chato quando quer! Não sei como Luti te
aguenta!) — disse minha irmã irritada e eu revirei os olhos.
— Io non voglio che tu lo sfregamento con nessuno! (Não quero você se
esfregando com quem quer que seja!) — falei com bastante calma fazendo
ela me olhar incrédula.
— Io non mi stava massaggiando nessuno (Eu não estava me
esfregando em ninguém) — falou ofendida.
— Questo non è quello che ho visto (Não foi isso que eu vi) — disse
com indiferença.
— Vuoi sapere ... Cazzo Filippo! (Quer saber... Vai se foder, Filippo!)
— gritou e saiu irritada.
— Que mulher! Não entendi nada, mas está valendo mesmo assim!
— falou Beto fazendo eu cerrar os punhos.
— Fique longe de minha irmã! — falei apontando em sua direção.
— Você e seus irmãos vão acabar deixando a pobre Luna doida com
esse ciúme todo! — bello disse balançando a cabeça negativamente.
— Só protegemos nossa sorellina, assim como vamos proteger a
nossa piccola principessa — falei olhando minha filha, que brincava com o
irmão de correr.
— Nossa! Ainda bem que meu irmão mais velho não é ciumento
assim — disse Ângela sorrindo.
— Pena que você não curte, Anjito, pois eu faria questão de deixar
você me namorar — falou Beto e Ângela bufou um sorriso.
— Você realmente se acha, meu amigo! — falou bello fazendo Beto
rir.
— Vamos logo, pois mais tarde vamos sair — falou Ângela chamando
o sujeito chato.
— Nos encontramos no pub mais tarde — disse bello acompanhando
os amigos até à porta.
— Que história de pub é essa? — perguntei curioso.
— Eu já ia te falar, amor. Estamos com vontade de sair um pouco.
Você vai conosco?
— Você acha mesmo que eu te deixaria ir à esses lugares sem mim?
— perguntei grosseiro e ele me abraçou pela cintura.
— Claro que não! Eu nem ousaria uma coisa dessas — disse com
cinismo e eu apertei seu corpo no meu.
— Você está me saindo um grande dissimulazione (grande fingido) —
falei o fazendo gargalhar e os amigos dele nos olhar sem entender.
Beto e Ângela se despediram das crianças prometendo que não
demoraria aparecerem por ali, para minha tristeza. Depois que eles saíram,
Luiz mandou Duda ir tomar banho e levou Pietro para tomar o dele. Fui para
o quarto tirar a roupa formal e tomar um banho também. Ao sair do
banheiro com uma toalha amarrada na cintura, Luiz entrou no quarto. Ele
ficou parado um bom tempo me olhando até que caiu em si e saiu correndo
tomar seu banho. Com certeza ele sabia que se demorasse mais um pouco,
eu o agarraria e o foderia naquele momento.
Logo após o jantar e ter colocado as crianças na cama, demos várias
recomendações a Rita, ela era a única pessoa quem Luiz confiava em deixar
as crianças.
Para o meu desespero, Luna estava com o vestido preto que não
passa de um pedaço indecente de pano. Quase tive uma síncope quando a vi
descendo a escada. A minha irmãzinha ainda teve a cara de pau de dizer: “Se
mandar eu trocar de roupa, eu não falo mais com você!” Muita abusada para
o meu gosto.
Bello estava de tirar o fôlego também. Resumindo a vestimenta
deles, eu era um fodido homem que não teria paz. Saímos de casa os três no
mesmo carro comigo dirigindo e mais dois carros com os nossos respectivos
seguranças. Luiz pediu para buscarmos os seus amigos e assim fiz a
contragosto, mas para ver meu amor feliz eu podia fazer aquilo.
Já no local, sentamos em um dos camarotes. Percebi a empolgação de
todos para descer até à pista de dança. Cada um pediu uma bebida diferente
e eu somente uma água tônica, isso não passou despercebido dos olhos
curiosos.
— Por que não vai beber? Pensei que você gostasse de um uísque. —
perguntou Beto.
Quando eu ia dar a resposta que ele merecia, bello se adiantou em
responder.
— Filippo não gosta de bebidas alcoólicas, a não ser uma taça de
vinho e somente — falou me olhando e eu assenti.
— Isso é bem admirável — falou Ângela e minha irmã concordou.
— Nunca vi Lippo bêbado e acho que se isso acontecesse alguma vez
não seria nada agradável — disse minha irmã.
“Odeio ser o centro das atenções!”
— Não tem nada demais nisso, acho uma perca de tempo beber uma
coisa em uma intensidade desnecessária que pode me fazer passar mal no
dia seguinte — falei sem paciência nenhuma.
— Vamos pôr em prática as nossas danças de mais cedo? —
perguntou Ângela mudando de assunto. Por isso que gostava dela.
— Falou tudo, Anjito! — disse Beto levantando em um pulo.
— Vem também, amor? — perguntou Luiz e eu neguei com a cabeça.
— Vai você, mas tome cuidado!
Antes dele sair, me beijou e eu o correspondi com toda paixão que
sentia por ele. Tudo bem! Eu admito, foi uma marcação de território
também, mas ele era meu e tinha que mostrar isso aos filhos da puta.
Continuei onde estava e pude ficar olhando atentamente para onde
bello desceu para se divertir. A cada música que tocava, ele dançava e todas
as vezes me procurava com o olhar. Em certo momento percebi um
movimentação estranha. Em um canto tinha uns homens de olho onde meu
bello, Luna e os amigos estavam dançando. Parei para prestar bastante
atenção e realmente eles estavam de olho em Luiz. Um deles disse algo com
os amigos e riram com diversão. Depois falaram mais alguma coisa e sem
perder tempo, o cara já estava indo em direção à Luiz. Desci correndo do
camarote e fui ao encontro do cara antes mesmo que pudesse chegar mais
perto.
— Onde você pensa que vai, maledetto? — perguntei com muita
raiva segurando o homem pelo ombro.
— Qual é, mano? Eu nem te conheço! — falou o rapaz querendo se
exaltar.
— Mas pelo visto conhece o carinha ali. Estava indo de encontro a
ele — falei jogando verde.
— Não conheço, só achei ele uma gracinha. Adoro um viadinho e ele
está dando a maior pinta que quer um macho — disse com malícia e
recebeu dois socos fortes e discretos na barriga, fazendo o lixo se curvar de
dor. Não estava muito a fim de chamar atenção, aproveitei e abaixei para
falar no seu ouvido.
— Deixe-me te dizer uma coisa. Aquela gracinha tem dono e um
dono muito ciumento e impaciente. Por isso sugiro que você dê meia volta e
vá embora. Você não passa de um homofóbico, eu percebi isso de longe. Eu
odeio gente do seu tipo. Para mim todos mereciam morrer, mas não sou
nenhum justiceiro, só não quero que mexam com o que é meu — falei cada
palavra no seu ouvido sentindo seu corpo endurecer.
— Sr. Aandreozzi? — Desviei meu olhar do maldito e vi Elijah.
— Jogue esse sujeito longe de minhas vistas — falei e Elijah assentiu
pegando o cara.
Depois do acontecimento, subi novamente para o camarote e bello já
estava por lá. Percebi que ele olhava para todos os lados à minha procura.
Dei um pequeno sorriso e fui ao seu encontro.
— Me procurando, amore? — perguntei o fazendo saltar de susto.
— Sim! Onde esteve? — perguntou meu bello irritado.
— Ciúme, bello? — Passei o braço na sua cintura.
— O quê? É claro que não! — disse com indignação e eu continuei a
olhar para ele o fazendo confessar — Como não ter? Você é tudo isso aí…
Não tem como não sentir ciúme.
— Não sei onde você vê isso, mas tudo bem. E tem outra, eu só
quero você!
Ele me olhou irritado.
— Filippo! Você é um sexo andante, as vadias estão tudo de olho em
você — falou encarando algo atrás de mim e nem me dei o trabalho de virar
para ver o que era — Tira o olho, vadia! — gritou para alguém as minhas
costas.
Com certeza meu bello estava alto por causa dos drinques que
tomou.
— Vamos para casa? Você já está meio alto e não quero ver você
acordar com ressaca amanhã — falei o puxando para mais perto.
— Vamos sim! Agora sei como você consegue ser um chato
possessivo. — Encarou-me e eu o olhei sem entender. — O quê? Não vem
dizer que eu estou errado, ursão!
A nossa ida para casa foi tranquila, deixamos Beto e Ângela nas suas
casas e seguimos para nossa. No caminho Luna mostrou algo no celular para
bello que começou a se contorcer de rir. Quando perguntei o que era, eles
começaram a tentar disfarçar, mas foi aí que fiquei mais curioso. Luna virou
a tela para mim e lá tinha uma foto de mio babo dormindo no sofá com um
pênis desenhado na testa. Nem preciso dizer quem foi que fez aquela arte
com o meu pobre babo. Olhando a imagem novamente, nem eu consegui
segurar a risada, nonna era impossível! Ela, às vezes, quando não tinha o
que fazer, inventava e meu pai era quem pagava por suas invenções. Mas,
mesmo assim, ele não conseguia ficar longe dela.

Acordei no dia seguinte no mesmo horário de sempre. Tentei acordar


bello, o que não houve resultado. Fui para academia e fiz tudo que tinha que
fazer. A academia era muito maior e mais completa do que a que tinha na
cobertura. Quando estava saindo, vi um pequeno homem com a roupa de
dormir e tênis desamarrado.
— O que está fazendo aqui, filho? — perguntei fazendo ele levantar a
cabeça me encarando com o rosto amassado do sono.
— Eu quelo ser folte como você! Tentei acoda mais cedo, mas eu
estava no soninho bom, papai. Puxa! Eu perdi o holario — disse chateado.
Eu me abaixei para que ele me olhasse melhor.
— Você ainda está pequenino e não pode malhar, mas quando você
crescer, eu vou te ensinar tudo o que eu sei. Você vai querer, bambino? —
perguntei e o rostinho dele se iluminou em alegria.
— Eu quelo sim! Vou coblar, viu?! — disse Pietro de um modo só
dele.
— Tudo bem. Agora vamos lá que o senhor tem que tomar um
banho. Hoje eu vou levar você e sua irmã para escola — disse colocando ele
montado no meu pescoço.
— Puxa! Eu tenho um pai muito glandão, aqui é bem alto — falou
mio bambino encantado.
Era tão fácil agradar uma criança, não sabia como tinha gente que
ainda maltratava uma coisinha inocente como esta.
Dei um banho no meu garoto, não sei se foi perfeito, mas eu fiz um
meu melhor. Quando terminei, deixei ele com Rita e fui tomar meu banho.
Cheguei no quarto e vi meu bello já pronto para sair. Dei-lhe um beijo de
bom-dia e fui me ajeitar para o trabalho.
Depois de pronto e debater tomando café com minha família, levei
meus filhos para escola. Quando chegamos, dei um beijo na minha
menininha linda e em meu menininho encantador. Deixei eles em segurança
e virei para ir embora, mas fui barrado por uma das mães.
— Estava aqui conversando com as outras mães e nós estávamos
falando como é bonito um pai solteiro cuidar dos filhos assim. Você aceitaria
jantar lá em casa qualquer dia desses? É sempre bom nossos filhos terem
amigos para conviver — disse a mulher como um rádio quebrado.
Tirei sua mão de meu peito imediatamente, pois estava fazendo uma
carícia chata e desnecessária com os dedos.
— Eu sou casado, muito bem casado. No dia que você se chamar Luiz
Otávio e não se comportar com uma cadela carente e oferecida, quem sabe
eu possa fazer isso. Mas, como não é, acho melhor se afastar de mim. Não
vou nem me dar o trabalho de ser educado, isso cansa! Sai da minha frente!
— falei entredentes fazendo a mulher me olhar assustada. Foda-se!
Fui para meu carro com muita raiva. O que há com essas mulheres?
Para falar a verdade, eu nem queria saber. Deixei as mulheres loucas e
vadias onde estavam e segui meu caminho para empresa. Quando cheguei,
fui direto para minha sala. Como não tinha nenhuma reunião marcada,
resolvi trabalhar com alguns documentos atrasados. Estava quase no horário
do almoço quando recebi uma ligação. O número era desconhecido para
mim, mas identifiquei que era da Itália.
— Andreozzi a parlare! (Andreozzi falando!) — disse ao atender a
ligação.
— Come stai mio caro successore? Già pronto a prendere il suo
posto? (Como vai você, meu querido sucessor? Já está pronto para tomar o
seu lugar por direito?) — disse a voz que anos atrás causava medo, mas hoje
em dia só me fazia querer matá-lo na primeira oportunidade.
Não fazia a mínima ideia do porquê daquela ligação inesperada de
Paolo Aandreozzi para mim, mas sabia que coisa boa não vinha por aí. Fosse
o que fosse, não iria deixá-lo me coagir por nada! Eu o odiava com cada poro
do meu ser e ele podia ter certeza que o que era dele estava bem guardado,
mas não era hora de pensar em vingança. Ia simplesmente ouvir o que il
maledetto bastardo tinha a me dizer.
Minha respiração estava acelerada, o ódio que eu sentia por aquele
homem ultrapassava todos os limites do meu corpo. Lembranças ruins
assombraram minha mente da época que vivi sendo obrigado a matar e ferir
pessoas. Sim! Um garoto era obrigado a fazer esses tipos de coisas. Na
mente suja e doentia de Paolo, isso era um aprendizado importante para
minha formação de mafioso. Nunca conheci uma pessoa mais doente do que
ele e, para minha desgraça, essa pessoa era sangue do meu sangue. Ele era
meu próprio tio.
Tentei controlar o meu instinto de correr até onde o desgraçado se
encontrava e matá-lo, faria isso com o maior prazer do mundo, mas agora
eu não era um homem sozinho, tinha que pensar e ser esperto e precavido.
— È più di chiunque sa che questo non accadrà mai Paolo (Você mais
do que ninguém sabe que isso nunca irá acontecer, Paolo) — falei com toda
a tranquilidade que eu consegui ter no momento.
— Filippo ragazzo mio, sei perduto. Non so cosa sta succedendo con
voi per avventurarsi in una fascina, ascia il nostro nome è la nostra eredità
(Filippo, meu rapaz, você está se perdendo. Não sei o que está acontecendo
com você para se aventurar como uma bixa, manchando o nosso nome e o
nosso legado) — disse Paolo com revolta.
— Misurare i dannati parole per parlare di me il vostro cattivo. Non
sarò mai come te (Meça suas palavras malditas para falar de mim, seu
bandido. Eu nunca vou ser como você) — disse entredentes.
— E 'nel tuo destino mio caro Filippo. Ho avuto il suo futuro
pianificato tutto, ma si doveva andare contro di me (Está no seu destino,
meu caro Filippo. Eu tinha seu futuro todo planejado, mas você tinha que ir
contra a mim) — falou Paolo com indignação.
— A única coisa que eu quero de você, é que esqueça que eu existo.
Eu e minha família precisamos que você nos esqueça — falei em português,
pois sabia que ele me entenderia muito bem.
Minha raiva era tanta que fui apertando o braço da cadeira com
muita força.
— Isso que você tem não é família, você está vivendo em pecado,
meu filho. Eu vou me livrar desse sujeito para você e vamos esquecer tudo
isso — falou no seu português fajuta com esperança na voz, e todo meu
autocontrole foi para o espaço.
— Você nunca encostará suas mãos imundas no meu bello! Ouviu
bem? Ele é meu! Meu para cuidar e amar, só meu! MEU! SEU PORRA DOS
INFERNOS! — gritei as últimas palavras em plenos pulmões.
— L'amore non esiste, questa è pura illusione per gli uomini si
sentono deboli mio figlio (O amor não existe, isso é pura ilusão para os
homens se sentirem fracos, meu filho) — falou com indiferença.
— Para de me chamar assim! Eu não sou seu filho, seu puto escroto
de merda! Eu nunca odiei tanto uma pessoa como eu te odeio, Paolo
Aandreozzi! — desabafei meu ódio.
— Não me importa! Tudo o que você está falando é da boca para fora.
Eu vou te livrar do pecado e Deus vai te perdoar.
Soltei uma risada sem emoção.
— Você continua mais louco a cada dia — falei balançando a cabeça
negativamente.
— Não sei onde você esteve com a cabeça para roubar minhas
mercadorias. Saiba que eu tive que me virar para reembolsar os casais
compradores das crianças. Eu fiquei no prejuízo, enquanto você brincava de
casinha — disse enraivecido.
— NÃO FALE ASSIM DOS MEUS FILHOS! — gritei e minhas mãos
começaram a tremer.
— Filhos? Não acredito que você deu nosso sobrenome a eles. Olhe
só, meu filho, eu deixo você ficar com o garoto. Ele pode ser um bom
soldado no futuro. Vamos iniciar o treinamento dele, mas a menina teremos
que nos livrar. Garotas são frágeis e fúteis!
Ouvi tudo isso sem acreditar. Meu coração estava doendo por ouvir
tais coisas.
— Escute a promessa que estou lhe fazendo agora. Eu vou te caçar,
te matar e enquanto estiver fazendo isso, serei o homem mais feliz do
mundo. Hoje sou um homem diferente, o amor que sinto por Luiz Otávio e
nossos filhos me fizeram mais forte. Não adianta nenhuma dessas suas
ameaças sem sentido, pois eu não vou desistir de te matar com minhas
próprias mãos — falei recuperando meu alto controle.
— Esse é o meu garoto! Sempre tão fervoroso com aqueles que se
importa. Infelizmente eu só me importo com você, Filippo. Você tem um
grande poder nas mãos, é só querer usá-lo — disse o bastardo.
— Eu não quero porra de poder nenhum. Vai se foder, Paolo! — falei
revoltado.
— Sei que um dia você voltará para casa, meu filho — disse com
tranquilidade, como se tivesse a mais pura certeza daquilo.
— Isso nunca irá acontecer! Pode ter certeza disso. Chega! Não vou
perder meu tempo com você — falei querendo desligar, mas ouvi ele me
gritar e coloquei o celular novamente no ouvido.
— Vou acabar com toda sua família preciosa. Vou fazer isso até você
ser o Capo da Finastella. Não brinque comigo, Filippo, esse é o seu legado —
falou Paolo perigoso e eu fiquei atento a suas ameaças.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei não querendo
demonstrar emoção, mas falhei miseravelmente. O desgraçado me conhecia
muito bem.
— Não vai demorar muito para ver. Lembrem-se que eu tenho olhos
em todos os lugares que eu queira. Falando nisso, acho melhor você ir ver
como está sua… Como você disse mesmo? Filha! Eduarda é seu nome, não
é?
Levantei da cadeira em um pulo.
— O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA FILHA? — berrei e vi
Melissa invadir meu escritório com olhar nervoso.
— Só estou começando, Filippo. Te espero quando estiver pronto! —
disse e encerrou a ligação.
Olhei Melissa que continuava encarar-me assustada.
— O que houve? Fala logo, porra! — perguntei nervoso fazendo ela
saltar de susto.
— Se-Senhor! O seu companheiro acabou de ligar dizendo que está
indo para o hospital com a filha de vocês.
Senti uma pancada forte no meu coração. Não falei nada, apenas
peguei meu celular e liguei para Luiz.
— Filippo! Nossa menininha, amor, nossa garotinha! — disse Luiz
chorando do outro lado da linha.
— Onde vocês estão? — perguntei vendo Melissa guardar minhas
coisas na pasta.
— Estamos levando ela para o hospital, Duda passou mal na escola e
recebi a ligação da direção — falou tentando controlar o choro.
— Leve ela direito para clínica de Ygor. Eu já estou à caminho.— Saí
correndo da empresa.
Estava uma pilha nervos. Minha garotinha. Porra, minha menina! Ele
não poderia fazer uma coisa dessas, seja lá o que ele tenha feito! Paolo não
podia simplesmente ferir as pessoas que eu amava no intuito de conseguir o
que tanto queria. Eu iria cumprir minha promessa que fiz a ele. Mais cedo ou
mais tarde ele iria perecer nas minhas mãos.
Entrei no meu carro o mais rápido possível e segui direto para clínica
de Ygor. Minha chegada foi rápida, assim que entrei dei de cara com bello
andando de um lado para o outro no corredor. Quando ele me viu, correu ao
meu encontro.
— Nossa menininha, amor. A pobrezinha está sentindo muita dor —
disse Luiz abraçando a mim chorando muito.
— Ela vai ficar bem, bello. Eduarda é uma Aandreozzi e nós somos
fortes. — Acalentei meu amor, mas no fundo estava me sentindo muito
culpado.
— Isso mesmo! Ela vai ficar bem, tenho certeza disso — disse bello se
afastando de mim e controlando os ânimos.
— Me conta o que aconteceu? Como você ficou sabendo?
Ele respirou fundo.
— Eu estava em casa quando recebi uma ligação da escola das crianças,
avisando que Eduarda não estava muito bem. Disseram que estava com dor
forte no estômago e febre muito alta. Não perdi tempo e corri com Brian
para escola. Chegando lá, Duda estava na enfermaria. Peguei-a às pressas e
corri de lá com ela para um hospital. No caminho liguei para seu celular, mas
estava dando ocupado — disse mais calmo.
— Eu estava no celular com o imundo do Paolo, isso de Eduarda tem
dedo dele, amor. Me sinto tão culpado — falei com pesar e bello ficou
assustado.
— Como assim; “dedo dele”? O que ele fez com minha filha? —
perguntou enraivecido.
Respirando fundo, contei toda minha conversa de mais cedo com o
infeliz.
— Ele disse que ia atingir cada pessoa da minha família, até eu
aceitar ser o Capo. — Senti ódio ao lembrar da conversa.
— Não podemos deixar ser chantageados por esse monstro. Somos
mais que isso, Filippo! Eu sei que você vai pegar esse desgraçado, sempre
tive e vou continuar tendo fé em você. Ele vai ter o que merece e pode
apostar que eu vou te ajudar nisso! — disse olhando em meus olhos e me
passando toda sua confiança em mim.
— Não existe pessoa melhor para estar ao meu lado — falei com
fervor, segurando seu rosto entre minhas mãos.
— Gente, alguma notícia da Duda? — perguntou Luna vindo na nossa
direção com Pietro no colo.
— Ainda nada, ela está sendo atendida — disse bello
Luna entregou-me meu filho e afastou-se para o lado conversando
com Luiz.
— Minha maninha, papai. Ela estava glitantando de dor na barrilga
— disse Pietro chorando.
— Ela vai ficar bem, campeão! Você confia em mim?
— Confio sim! Só não quelo ver minha mana dodói. — Fungou o
choro.
— Então, eu te prometo que nossa Duda vai ficar bem, tenho certeza
disso.
Ele assentiu deitando a cabeça na curva do meu pescoço.
Bello voltou para o meu lado e Luna disse algo que concordei na
hora. Seria bom contar ao nosso pais depois de tudo resolvido na clínica,
pois era bem provável de papai querer invadir o recinto de Paolo sozinho e
totalmente vulnerável. Não poderia deixar de concordar com a invasão, mas
quem iria dar uma bela morte a Paolo seria eu e ninguém mais.
Tempos depois, Ygor apareceu para nos dar informações.
— Como está a nossa filha? Ela está bem, não é? — perguntou Luiz
assim que Ygor apareceu.
— Sim, ela agora está bem! Mas se demorasse mais um pouco a filha
de vocês poderia ter vindo a óbito — disse Ygor com pesar.
— Deixe de enrolação e fale logo, porra! — falei irritado.
— Eduarda foi envenenada, mas pude fazer todo o procedimento
rapidamente e ela está bem agora. Está dormindo no momento por causa
do sedativo.
Ouvir aquilo foi um baque para mim. Ele mandou envenenar minha
filha? Como pode?
— Tem certeza que não vai ter sequelas e que nossa garotinha está
bem mesmo? — perguntou Luiz e Ygor confirmou.
— Dio Santo! Isso é bom… Isso é bom! — falou Luna ao meu lado.
— Eu também tenho filhos, sei como é ruim receber uma notícia
dessas, mas agora a filha de vocês precisa de carinho. Ela passou por muita
coisa hoje.
Assenti.
— Sem dúvida é isso que vamos fazer! — disse Luiz aliviado, mas eu
não estava ainda. Tinha que achar quem fez aquilo a mando de Paolo.
Afastei-me um pouco das pessoas e, mesmo com Pietro no colo,
puxei meu celular do bolso para fazer uma ligação para Elijah. Não podia
deixar que ficasse viva essa pessoa que ajudou Paolo a quase matar minha
filha. Tinha que mostrar a eles e aos outros que poderiam vir, que não se
devia mexer com a minha família, eles eram meus para proteger e amar.
— Elijah! Eu quero que você encontre a pessoa que envenenou
minha filha e quero isso para ontem — disse assim que meu chefe de
segurança atendeu.
— Será feito, senhor. Eu já estava investigando o que houve e
descobri algo — falou Elijah e senti raiva na sua voz. Também não poderia
ser menos, as crianças haviam cativado todos.
— Então me diga, seja o que for! — mandei esperando o que quer
que fosse.
— Conversei com algumas pessoas na escola das crianças e descobri
que um dos nossos homens deixou um lanche para elas, dizendo que foi a
mando do Sr. Luiz Otávio. Como o horário do lanche de Pietro é mais tarde
do que o de Eduarda, ele não chegou a comer.
Foi preciso conter minha fúria para não socar a parede, lembrei que
carregava meu filho.
— Quero todo o material sendo levado para análise, ache o
desgraçado corrupto. Quero pôr minhas mãos nele e descarregar um pouco
do meu ódio — falei entredentes, apertando o celular com força.
— Será feito, senhor! Se me permite dizer, espero que a sua filha
fique bem — disse Elijah pela primeira vez fugindo do profissionalismo.
—- Obrigado por isso! Agora vai! Não perca tempo! — Encerrei a ligação.
— Filippo, já podemos ver nossa filha. Vamos logo, homem! — disse
bello andando, mas parou rapidamente virando para mim. — Não me deixe
de fora dessa vez. Quero machucar quem fez isso tanto quanto você.
Lembrese que está na hora de eu também defender minha família — falou
Luiz e eu afirmei sucinto.
Fomos para o quarto onde estava Eduarda e ver minha pequena
princesa deitada naquela cama muito grande para ela com um rostinho
apático, me rasgou por dentro. Coloquei Pietro deitado na outra cama que
tinha no quarto, pois ele estava em um sono bastante pesado. Aproximei da
cama e observei Luiz passar as mãos pelos cabelos castanhos de nossa filha
adormecida.
Sabia que para ele não devia ser nada fácil, assim como para mim
também não estava sendo, mas Luiz nunca passou por essa vida ruim com
vários perigos. Isso não foi feito para ele e as crianças. Às vezes, me pego
pensando se não seria melhor me afastar, pois assim poderei tirar o homem
que eu amava da zona de perigo que era minha vida. Estava me sentindo
muito culpado pelo o que aconteceu a minha criança.
— Pode ir parando com isso, Filippo Aandreozzi! — disse bello me
encarando com raiva e lágrimas nos olhos. — Sei muito bem o que está
passando por sua cabeça dura e pode ir parando por aí!
— Bello, só estou pensando que, talvez, seria melhor afastar você e
as crianças desse perigo. Olhe para eles, são tão pequenos e nós os amamos
tanto — falei sentindo meus olhos arderem.
— Nem pense em uma loucura dessas, não me faça lhe dar um soco,
Filippo. Somos uma família, porra! Sua família! Você não pode vir assim,
querendo nos afastar por medo de Paolo. Você é forte, é o homem mais viril
que eu conheço. Porra, cara! Tenho tanto orgulho de ser seu, não ouse nos
afastar de você, Aandreozzi. Eu te amo, ursão! Amo demais e só de você
pensar um inferno desses me dói tudo por dentro — disse com o rosto
vermelho pelo choro e raiva.
— Desculpe, amor. Eu só pensei na proteção de vocês. Pode ter
certeza que afastá-los de mim iria me cortar por inteiro, mas eu só penso em
vê-los seguros e bem. Paolo não vai parar até conseguir o que quer. —
Abracei meu bello bem forte.
— Foda-se esse mafioso do capeta! Assim como ele não vai desistir,
nós também não vamos. Juntos somos mais fortes que separados, ursão.
Chega de ser sozinho, amor, isso não existe mais para você. — Deu-me um
beijo salgado pelas suas lágrimas.
— Babo, papai! Onde eu estou? — Ouvimos a vozinha rouca de Duda
e corremos para vê-la.
— Como você está se sentindo, minha filha? — perguntou Luiz
carinhosamente.
— Eu estou bem agora, papai, mas a barriga estava doendo muito. Eu
não vou ter mais isso, não é? — perguntou minha princesa assustada e eu
lhe dei um beijo na testa.
— Não, minha piccola! Você está bem agora. Nada mais vai te
machucar. Te amo, pequena — falei com muito fervor e vi bello sorrir.
— Ouviu seu babo? Daqui a pouco você vai para casa. Te amamos
muito — Luiz falou sorrindo.
— Cadê o Pê? — perguntou bebendo a água que Luiz lhe
deu.
— Ali. Seu irmão capotou no sono — falei e vi um sorriso lindo surgir
no seu rostinho.
— Eu codei! Você está bem, mana? — falou Pietro esfregando os
olhos e eu o coloquei sentado na cama com a irmã. — fiquei peocupado com
você. — Deu um beijo no rosto de Duda.
— Estou bem agora, irmãozinho. Daqui a pouco vou embora. —
respondeu como uma grande irmã mais velha que era.
— Com licença, gente, mas Elijah disse que encontrou o que você
queria, irmão — disse Luna entrando no quarto e eu assenti olhando para
bello. — Olhe, minha gatinha está acordada e bem agora. — Sorriu para
Eduarda.
— Estou sim, titia! — respondeu minha filha.
— Olhe só, bambinos. Eu e bello vamos resolver um pequeno
problema, mas deixarei vocês aqui com tia Luna. Tudo bem? — perguntei
olhando diretamente para os dois.
— Sim, babo! — responderam juntos.
— Prometemos não demorar e quando chegarmos, vamos para casa.
Tenho certeza que Amora está com saudade dos dois — disse Luiz fazendo
as crianças ficarem felizes.
— Cuide deles. Eu confio em você e sei que não vai deixar nada
acontecer — falei com minha irmã que assentiu seriamente.
— Alejandro está fazendo a segurança junto com Adrian e Ethan.
Fora os outros espalhados pelo perímetro. Pode ir e faça uma coisinha no
babaca comprado por mim também — pediu Luna cuspido raiva.
— Pode deixar que isso é comigo! — disse bello com um sorriso
perigoso e muito sexy.
“Inferno! Não é hora para isso.”
Saímos da clínica de Ygor e já sabia que tinha que ir ao salão de
treinamento. Seguimos no meu carro e fui o mais rápido que consegui.
Quando entramos, fomos direto para o quartinho. Não me surpreendi ao ver
um dos seguranças novatos que eu sequer lembrava o nome. Ele estava
amarrado e um com olhar amedrontado. Tirei meu terno, dobrei as mangas
da minha camisa sem dizer nada e olhei para bello.
— Tem certeza que quer estar aqui? Não quero que você mude sua
visão de mim, tenho que confessar que fui condicionado a isso e que gosto
— falei rude com Luiz que assentiu.
Fui à mesa preparada especialmente para mim, passei o olho
rapidamente por toda a superfície plana e achei o que eu queria. Peguei
uma pequena faca que desferida nos lugares certos causaria uma dor
infernal e um sangramento lento e preciso. Minha raiva era tanta, que
sequer perguntei algo para o sujeito antes de começar a cravar a faca no seu
corpo. Como ele era um homem treinado, não gritou ou esperneou pedindo
para parar.
— Como Paolo entrou em contato com você? — perguntei com o
meu rosto próximo ao seu.
— Desculpe, senhor. Eu não sabia que ele iria tentar matar sua filha.
Eu só queria o dinheiro — disse o sujeito.
— Não foi isso que perguntei! Responda a porra da minha pergunta
— falei com calma.
— Um dos homens dele me barrou na porta da escola e me entregou
o celular. Conversei e de início não queria aceitar, senhor, mas eu precisava
do dinheiro.
— Precisa de dinheiro para quê? Para sua família, problemas de
saúde? Não! Você não tem cara de ser tão bondoso ou um doente. Na
verdade, eu não quero saber! — Descontei toda minha raiva nele. Dei vários
socos e pontapés até me sentir cansado. — Não sei quando vão aprender
que não se deve mexer com minha família — falei com indignação e olhei
para bello.
— Acho que você não deve matar ele, mas se quiser, fique à vontade
— falou Luiz encostado na parede.
— Tem certeza disso, bello? — perguntei limpando o sangue de
minhas mãos.
— Sei lá... — Deu de ombros. — Você tem filhos? — perguntou ao
sujeito que assentiu.
— Dois garotos, senhor! — falou cansado pela perda de
sangue.
— Ótimo! Você vai ficar vivo. Pelo menos eu espero que você
aguente. Quando você estiver se recuperando na cama de hospital e seus
filhos forem fazer uma visita para saber de sua saúde, quero que você olhe
bem para cara inocente de suas crianças e pense em seus filhos no lugar da
minha linda filhinha inocente, que neste momento está se recuperando do
mal que você ajudou um homem pobre de espírito a fazer. Pergunte a si
mesmo se a vida dos seus filhos vale o preço que você recebeu para matar
minha Eduarda. — Bello pegou uma faca e a cravou na barriga do sujeito. —
Agora estou um pouco mais vingado.
— Vou fazer o que meu namorado quer, mas não se engane. Pois se
eu souber que você está próximo de minha família novamente, não terei
misericórdia. — Segurei a mão de Luiz e saímos do local.
Fui direto para o banheiro me lavar com bello ao meu lado sem falar
uma palavra. Sabia que a sua cabeça estava fervilhando por dentro, mas
fiquei feliz por ele ficar quieto. Minha vontade maior era mandar o sujeito
para os quintos dos infernos, mas gostei do jogo mental que Luiz fez nele.
Após terminar de nos limpar, saí do salão, mas não antes de dar as
devidas recomendações a Elijah do que fazer com o cara. Quando estávamos
no carro indo para casa na intenção de tomar um banho e ir buscar Duda no
hospital, senti a mão de bello passear pela minha perna e ir em direção ao
meu pau que ficou rígido na hora.
— Ursão! Seria muito doentio de minha parte se eu estivesse louco
para ser fodido por você nesse momento? — perguntou me fazendo
encarálo.
Não estava acreditando nas palavras que saíram da boca de Luiz.
Como pode acontecer essa sintonia tão forte entre duas pessoas? Tudo o
que eu mais queria naquele momento era me enterrar e liberar toda a
tensão que esse dia infeliz nos causou. Agora me diga... Como recusar um
pedido desses?
“Ah, bello, você está muito ferrado!”
Passei a mão pelo corpo de Filippo, enquanto entravamos na enorme
garagem de nossa casa. Joguei-me com tudo no colo dele e meu amor
rapidamente afastou o banco do carro para nos dar mais espaço. Beijei o
meu italiano com muita vontade. O cheiro de suor limpo que emana de
Filippo estava me deixando louco. Oh, inferno! Eu precisava ser fodido
naquele momento!
— Se é assim, eu também sou um doente, pois eu adoraria te foder
— disse Filippo e um gemido rouco saiu de sua boca.
— Ver você daquele jeito, todo voraz para proteger a nossa filha me
levantou um puto tesão. Me fode, amor — pedi e prendi os lábios de meu
ursão entre os dentes.
— Vamos subir, amor. Temos uma cama nos esperando no quarto —
disse ele com a respiração rápida, enquanto eu lambia seu pescoço.
— Não, eu te quero aqui e agora! Duro e rápido, amor! Você nem
precisa fazer nada, deixa que eu resolvo esse impasse — disse tirando minha
camisa.
Saí do colo de Filippo e fui tirando minha roupa sob o olhar
devorador de meu ursão. Não estava ligando para nada, sabia que ninguém
entraria ali, nem mesmo os seguranças. Tirei sua camisa e ele abaixou sua
calça social ficando somente com sua cueca preta, que quase explodia pela
sua enorme ereção. Passei a língua nos lábios observando como o meu
quase marido era maravilhoso.
Puxei seu pau da cueca e caí de boca saboreando o gosto alucinante
que só Filippo tinha. Chupei com toda força passando a língua pela sua
glande rosada e descendo até seus testículos pesados. Nossa, que delícia!
Quando vi que Filippo estava perto de gozar, tirei seu pau de minha boca e
sentei novamente no seu colo. Puxei ele pelo pescoço para um beijo
delicioso. Nu, peguei seu membro e o posicionei em minha entrada.
— Bello, deixe eu te preparar, não quero te machucar. — Antes que
ele terminasse sua frase, já estava dentro de mim. — Oh, porra! Que
cuzinho apertado e viciante! — disse cheio de tesão.
— Shhh… Não fala nada, amor, só curte o momento. Céus, que
delícia! — falei assim que senti tudo em mim.
— CAZZO! Ah! Questo amore, ricevere il cazzo del suo uomo!
(Caralho! Ah! Isso amor, receba o pau de seu homem!) — Era
impressionante como eu já estava aprendendo coisas em italiano e putaria
era uma delas.
Abracei o corpo grande e peludo do meu amor, subindo e descendo
como um louco. As mãos grandes de Filippo me seguraram com força me
ajudando com os movimentos de subida e descida. Tinha certeza que meu
corpo ficaria com grandes marcas mais tarde e isso era o que menos me
importava.
Nossos corpos estavam grudados e suados juntos em uma sincronia
perfeita. Ele gozou forte mordendo o meu ombro com toda força. Não liguei
para dor desgraçada que Filippo estava me causando, só precisava gozar e
foi isso que aconteceu assim que ele pegou no meu pau. Nossa... Foi um
orgasmo fabuloso!
Ficamos abraçados por um tempo, até que eu comecei a não sentir
minhas pernas. Ao perceber isso, comecei a rir fazendo Filippo me olhar sem
entender nada. Beijei sua boca e ri novamente.
— Por que está rindo, bello? — perguntou Filippo confuso.
— Estou rindo porque não estou sentindo minhas pernas. Acho que
vou sentir câimbras, amor — falei sem parar de rir.
— Isso é o que dá querer foder no carro, é desconfortável para
caralho — disse Filippo tentando me tirar de seu colo.
— Ninguém mandou você ser um gigante, muita gente faz sexo no
carro sem problema — disse ao sair de seu colo.
— Com quem foi? — perguntou com muita raiva na voz e eu não
entendi.
— Quem foi o que, ursão? — perguntei sem entender.
— Não se faça de fingido, bello! Quem foi o desgraçado com quem
você fez sexo no carro?
Eu prendi os lábios entre os dentes para não rir.
“Homem possessivo!”
— Você acha que eu já fiz sexo no carro, Filippo? — perguntei
tentando ficar sério, mas foi sem sucesso, pois eu ri de novo.
— Foi o que você me deu a entender! E eu não gostei de saber disso.
Revirei os olhos pela cara de raiva que ele estava fazendo.
— Você às vezes é impossível, Aandreozzi! — Coloquei minha camisa,
cueca e saí do carro.
— Bello! Vai aonde? Bello, você não vai andar pela casa vestido
assim, não é? Luiz Otávio! — gritou Filippo, mas eu já estava destrancando a
porta que ligava a garagem a casa com a minha digital.
— Estou te esperando no banho, não demore homem das cavernas!
— Segui para dentro.
A casa que Donatello nos deu era digna de cinema, muito fantástica.
Era ampla, grande, muitos quartos, área de lazer, piscinas, academia e muito
mais. A cozinha era enorme para felicidade de Arianna, nonna e Rita. As
crianças adoravam correr por todo lado, sem falar da minha bolinha, Amora,
que caia na gandaia com as crianças também. Quando estava chegando na
sala, ouvi as pisadas fortes de Filippo se aproximar.
— Bello, amore mio! Você não pode simplesmente sair e me deixar
falando sozinho.
Filippo me pegou e jogou meu corpo em seu ombro largo.
— Por Deus, ursão! Para de me jogar assim — disse com indignação.
— Calado, bello! Vamos tomar banho juntos e buscar nossas
crianças. Desculpe por ter sido um ogro contigo — pediu assim que
entramos em nosso quarto.
— Tudo bem, amor, mas saiba que você é o primeiro de muita coisa
na minha vida sexual — falei sucinto vendo ele assentir.
— Só peço que não ande assim pela casa, agora temos muitos
empregados e não estou a fim de ser preso por assassinar um funcionário
por olhar seu corpo delicioso — disse Filippo com indignação e eu o beijei
com fervor.
— Muito ciumento, ursão! Se controle um pouco. Às vezes, acho que
você quer me prender em uma jaula. — Liguei a ducha do meu lado do
banheiro. Tínhamos dois chuveiros separados, mas sempre tomávamos
banho no mesmo.
— Até que não seria uma má ideia. — Sorriu de lado.
Que sorriso mais lindo era o de meu amor.
“Ahh... Amo esse homem!”
— Nem vou te dar essa ousadia de me irritar, Aandreozzi! — Balancei
a cabeça negativamente.
— Já aprendi que quando você está arrabbiato (zangado) comigo,
usa meu sobrenome. Non è vero? (Não é verdade?) — perguntou sorrindo.
Seu sorriso aberto fazia meu coração acelerar.
— Muito observador, meu amor. Agora para de graça, pois nossas
crianças estão esperando. — Beijei-o.
Tomamos nosso banho, nos vestimos rapidamente e antes de
sairmos de casa, peguei Amora para deixar minha Duda um pouco mais
sorridente.
Eu não parava de me perguntar como alguém poderia ser capaz de
prejudicar uma criança só para atingir os pais. O que Paolo fez foi baixo e
desumano. Aquele monstro sem coração tinha que pagar pelo o que causou
a minha garotinha e, principalmente, a Filippo. Não conseguia imaginar o
que ele passou nas mãos nojentas daquele homem sem amor no coração.
Receber a ligação da escola das crianças, dizendo que Eduarda não
estava nada bem, me fez entrar em parafuso. Ver minha filha naquele
estado com o corpo molhado de suor e se contorcendo de dor, foi terrível.
Nunca mais gostaria de ter que ver nenhum deles dois nesse estado, tinha
que fazer de tudo para proteger minha família. Iria me esforçar bastante nos
treinamentos com Brian, pois eu gostava de me sentir forte daquela
maneira.
Chegamos na clínica e assim que as crianças nos viram entrar com
Amora nas mãos, ficaram eufóricas para brincar com ela. Filippo levou
Amora para próximo de Duda, mas não a colocou em cima da cama
hospitalar, mesmo com nossa garotinha pedindo e fazendo um biquinho
lindo. Troquei sua roupa por uma que havia pego em casa.
— Como foi lá com o nojento traidor? — perguntou Luna.
— Foi como tinha que ser, mas ele ficou vivo — falei e ela assentiu
distraidamente.
— Por que vocês demoraram tanto para chegar? — perguntou ela
com curiosidade.
— Você realmente quer que eu te dê a responda desta pergunta? —
Sorri com malícia.
— Caspita! Não, claro que não! — disse minha cunhada enojada.
— Vocês dois aí, vamos logo! Andiamo! — disse meu urso impaciente
carregando Duda.
— Não sei como você aguenta esse homem chato, coniato. — disse
Luna fazendo-me rir.
— Às vezes, me pergunto a mesma, cognata. (cunhada)
Luna me olhou sorridente.
— Vem para o colo do papai, Pietro! — chamei meu garoto que
estava levando Amora.
— Eu tô tentando levar Amola, papai! — disse se matando todo para
carregar a cadelinha gorducha.
— Ela é pesada para você meu amor, deixa que a tia Luna leva ela.
Vem aqui bebê — chamei novamente e ele suspirou alto.
— Eu sou glande e folte como o meu babo, mas a Amolinha é bem
pesadinha, papai.
Luna correu para pegar Amora.
— Agora você pode vir aqui, estou carente de amor, sabe? Quero um
abraço de meu ursinho. — Fiz cara de triste e ele abriu os braços para que
eu pudesse o carregar.
— Não plecisa ficar tliste, papai. Pode pedi que dou um montão de ablaços.
— Agarrou-me apertado com os braços e pernas, como um filhote de bicho
preguiça.
— Vamos para casa cuidar de sua maninha — falei agarrado ao meu
garotinho.
Olhando para frente, vi que Filippo não estava muito diferente de
mim. Ele se agarrava a Duda que estava com a cabeça enterrada no seu
pescoço. Depois do acontecido com as crianças, foi difícil desgrudar delas. Se
Pietro também tivesse comido a porra do lanche envenenado, ambos
poderiam estar mortos naquele momento. Não gostava nem de pensar
nessa hipótese, preferia continuar grudado na minha família e perceber
através de muito grude que eles estavam bem de verdade e que iriamos
protegê-los do nosso mal chamado Paolo Aandreozzi.
Chegamos em casa e a primeira coisa que fiz, foi levar as crianças
para tomar um banho relaxante na enorme banheira do meu quarto. O
banho foi divertido demais, Pietro ficou fazendo suas coisas engraçadas e
Duda, que já estava com uma carinha melhor e mais disposta, entrou na
brincadeira também. Ao terminarmos o banho tive que trocar de roupa, pois
na brincadeira acabei me molhando todo. Filippo estava em uma ligação e
pelo que pude ver a conversa estava muito tensa. Troquei a roupa de Pietro,
enquanto Duda se trocava sozinha e descemos para esperar o jantar.
Quando Filippo desceu para nos encontrar, me contou que estava
falando com os pais. Ele relatou o acontecido e teve que afirmar várias vezes
que tudo estava sob controle. Disse que não havia necessidade de tê-los
aqui, a mãe dele estava indo viajar para dar uma palestra sobre essenciais
em Dubai e ele não queria que os pais interrompessem sua viagem.
Duda não correu do interrogatório dos avós superpreocupados
quando Filippo passou a ligação para ela. Era lindo de ver o amor, carinho e
atenção que Donatello e Arianna tinha com as crianças. Queria que os meus
pais estivessem vivos para compartilhar o amor de avós com minhas
crianças também.
Após o jantar, levamos as crianças para seus quartos. Pietro já estava
dormindo sentado à mesa. Tadinho do meu ursinho! Graças a isso o
coloquei na cama sem nem precisar contar uma história. Saí do seu quarto e
fui dar um beijo de boa-noite em Duda, mas parei na porta assim que ouvi a
voz de Filippo.
— Você desculpa seu pai, mia principessa? — perguntou ele com a
voz baixa.
— Desculpar pelo que, babo? — Ouvi minha garotinha perguntar.
— Por não estar sempre por perto quando coisas ruins acontecem
com você ou seu irmãozinho.
Senti o pesar na voz de Filippo e isso me cortou o coração.
— Coisas ruins sempre acontecem, pai. Sei que agora eu sempre vou
ter você e o papai para nos amar e proteger. Não é assim? — perguntou
minha menina esperta arrancando um sorriso de Filippo.
— Sim, figlia! Vocês são meus para proteger e amar. Você está me
saindo uma ótima Aandreozzi — falou meu ursão contente.
— Titia disse hoje à tarde, que somos a família urso e que o papai
urso sempre protege seus filhotes.
Não aguentei mais e entrei no quarto.
— Pode apostar que sim, ursinha! Não existe família mais linda que a
nossa. Não é verdade, amor? — perguntei vendo o sorriso de minha filha e o
olhar amoroso de meu futuro marido.
— Verdade, bello! Falando em ursos, o filhote dormiu? — perguntou
e eu gargalhei pelo modo engraçado que ele falou.
— Sim, ele já estava cochilando e capotou de vez assim que o
coloquei na cama. — Dei um beijo em Duda. — Durma bem, minha linda.
Sabe onde estamos se precisar de alguma coisa. Te amo, ursinha!
— Buonasera principessa. Nos vemos amanhã. Amo você! — disse
meu ursão antes de lhe dar um beijo na testa.
Fomos para o nosso quarto sabendo que as crianças estavam bem e
seguras no conforto de nosso lar. Adormecemos cansados em seguida, mas
acordei sentindo o lado que Filippo dormia vazio. Olhei para todos os cantos
do quarto e nada dele. O relógio marcava três horas da manhã. Levantei já
tendo uma noção de onde ele poderia estar. Cheguei no escritório e abri a
porta devagar. Filippo estava sentado à mesa digitando rapidamente algo no
laptop, usando óculos de leitura. Nossa... preciso dizer que ele ficava
perfeito com eles.
Nossos olhos se encontram e ele respirou fundo afastando a cadeira
da mesa, indicando desejar minha aproximação. Caminhei a passos lentos e
me sentei em seu colo.
— Por que está aqui a essa hora, amor? — perguntei deixando
escapar um bocejo.
— Não conseguia dormir, por isso vim trabalhar um pouco. —
Abraçou-me forte.
— Sei que não é só isso, amor, mas vou deixar passar por hoje. Você
sabe que sempre que quiser conversar, eu estarei aqui, não é?
Ele assentiu.
— Por que você não vai para cama? Algo te acordou?
Revirei os olhos.
— Claro que algo me acordou, você não estava na cama, Aandreozzi.
E eu só volto se você for comigo! — falei me aconchegando mais no seu
enorme peitoral.
— Tudo bem, bello. Vamos dormir. — Desligou o laptop.
— Você fica uma graça de óculos. Não sabia que usava — falei ao vê-
lo retirar o óculos de armação preta.
— Não uso muito, na verdade, eu odeio usar essa porra. Mas para ler
à noite não tenho escolha — falou inconformado.
“Oh, homem reclamão!”
— Olhe, amor, sei que você está preocupado, mas as crianças estão
bem. Eu estou bem, seus pais estão em Dubai, Enzo e Lucca sabem se
defender muito bem e Luna está aqui. Então você tem que relaxar só um
pouco, pelo menos tenta dormir. Tudo bem? — Olhei em seus lindos olhos
azuis.
Ele assentiu.
— Te amo, bello! — Beijou-me.
— Eu sei disso, mas agora temos que ir dormir, ursão!
Filippo revirou os olhos me fazendo rir, pois era tão estranho o ver
fazer aquilo.
— Tão convencido, bello… Tão convencido. — Sorriu.
Voltamos para o nosso quarto e deitamos bem agarradinhos
dormindo em seguida.
O final de semana chegou e com ele a incrível vontade de fazer algo
diferente com as crianças. Queria ir em algum parque para elas correrem
livremente, mas o dia estava muito frio. Então, sendo assim, decidi ir com
eles ao Shopping assistir um filme. Foi um trabalhão fazer Filippo sair de
casa, mas depois de várias promessas sexuais e ameaças, ele se deu por
vencido e saiu conosco.
No cinema foi a maior briga para escolher qual filme assistir. Filippo não
opinou em nada e deixou o trabalho todo para mim. Duda queria assistir
Moana, enquanto Pietro queria ver ao filme do Max Steel. Ele não sabia
sequer falar o nome direito, mas eu entendi muito bem seu desejo.
Acabamos por escolher Sing - Quem Canta Seus Males Espanta. Foi o filme
que os dois concordaram em ver, assim que avistaram o cartaz. Compramos
pipocas e refrigerantes e fomos assistir. O filme acabou e as crianças ainda
estavam eufóricas falando sobre a animação. Filippo sugeriu que
comêssemos alguma coisa por ali mesmo antes de ir para casa. Tinha
certeza que a alegria das crianças contagiou o ursão mal-humorado.
— Lutito, você por aqui? — Ouvi uma voz me chamar.
Ao virar, me deparei com Rick, Silvinho e mais duas mulheres.
— E aí, caras! Quanto tempo. Como vocês estão? — perguntei
levantando da cadeira para cumprimentar meus amigos.
— Estamos tranquilos, mano. Nunca mais nos vimos. Pergunto
sempre por você para Beto — falou Silvinho.
Filippo levantou e passou os braços na minha cintura fazendo meus
amigos levantar a cabeça para olhar o homenzarrão ao meu lado.
— Esse aqui são meus amigos, Filippo. Acho que já te falei sobre eles.
— Filippo fez uma carranca. — Esse é meu…
— Marido! — Filippo interrompeu-me. — Eu sou o marido do Luiz
Otávio — apresentou-se em um grunhido.
Olhei-o em sinal de repreensão.
— Prazer em te conhecer, cara! — disse Silvinho estendendo a mão
para cumprimentar o grosso do Filippo que a apertou sem dúvidas com
muita força, Silvinho fez uma careta de dor.
— Oi, Luiz Otávio. Lembra de mim? Você está casado, nossa! —
perguntou a garota que estava do lado de Rick.
— Sim, casado e esses aqui são nossos filhos. Desculpe, mas não me
lembro.
A garota ficou com um olhar triste.
— Eu sou, Malu. Daquele dia na festa lá na comunidade.
Malhávamos na mesma academia.
Lembrei-me imediatamente dela. Malu era a garota com quem fiquei
e, de repente, um cara veio para me bater.
— Sim, lembrei. Muito bom te ver novamente — falei sem graça.
— Com licença, mas já estávamos indo para casa, temos coisas de
família para fazer. Vamos, bello! — disse Filippo e beijou-me na frente dos
meus amigos.
“Impressão minha, ou Filippo está me marcando como um cachorro
marca um poste? Todo estranho esse italiano!”
— Vamos sim! Foi muito bom ver vocês novamente, mas realmente
temos que ir — falei limpando a boca de Pietro que estava suja de molho de
tomate.
Despedi-me dos meus amigos e das garotas. Filippo só deu um aceno
de cabeça típico dele. A volta para casa foi tranquila. Apesar de meu ursão
ser um cara muito ciumento, dessa vez ele não se encrencou muito comigo
como das outras vezes. Assim que chegamos à sala, vimos nonna em pé de
costas. As crianças quando viram a bisa, correram ao seu encontro.
— Olhe como esses pequenos ursinhos estão crescendo rápido —
disse ela beijando cada uma das crianças.
— Nonna, sentiu saudade tão rápido — disse Filippo sério, mas com
um pequeno sorriso. Sabia que ele adorava ter a avó por perto.
— Sim! Cheguei há pouco tempo, mas dessa vez foi Arianna quem
mandou eu vir depois do que aconteceu. E quando estava passando pela
entrada do condomínio, vi essa moça querendo falar com você, Luti. — Ela
apontou para direita, nos fazendo olhar.
A pessoa que estava ali me fez ficar sério no mesmo
instante.
— O que está fazendo aqui, tia Amélia? — perguntei nervoso.
— Luti, por favor, o assunto é muito sério. Eu preciso falar com você!
— disse minha tia com a expressão triste.
— Que assunto seria esse de tamanha importância? — questionei um
pouco mais calmo.
— Seus pais, Luti! Acho que seus pais estão vivos — respondeu ela
sem me encarar.
Uma raiva sobre humana misturada a confusão tomou conta de mim.
— Não! Não pode ser, meus pais morreram, eu sei disso. Tenho
certeza, isso é algum joguinho da minha tia Amélia — disse olhando para
Filippo.
“Ela não pode brincar comigo assim! Que Deus me perdoe, mas
minha vontade agora é de matá-la.”
Continuei a olhar para minha tia Amélia sem saber o que pensar ou
como agir. Minha raiva era muito grande. Tinha que me controlar para não
falar ou fazer algo que podia me machucar depois.
Filippo chamou por Rita e pediu para que ela levasse as crianças para
outro lugar. Isso foi a melhor coisa que ele poderia ter feito, não queria que
meus filhos me vissem daquela maneira e muito menos que ficassem
próximos da mulher que um dia tive como uma mãe.
— Então quer dizer que você é a tia Amélia vadia, que prefere um
pau te socando até à morte do que seu próprio sobrinho? — perguntou
nonna enraivecida, assim que Rita subiu com as crianças.
— Quem a senhora acha que é para falar comigo dessa maneira? O
assunto é entre eu e meu sobrinho — retrucou minha tia ofendida.
— Ele passou a fazer parte da minha família assim que começou a
amar o meu neto e quando você o pôs para fora de casa, sua imunda —
respondeu nonna.
Somente continuei a observar, minha cabeça estava confusa demais.
— Estou muito arrependida do que fiz. Sei que foi errado e
desumano. Eu sinto tanto, Luiz Otávio — disse minha tia.
Virei o rosto para não olhá-la.
— Posso ser o pior pesadelo de uma vadia como você! Sei bater
muito bem, viu?! Só para você saber — disse nonna fazendo minha tia
recuar um passo.
— Podemos falar em um lugar reservado, Luti? — perguntou tia
Amélia me encarando.
— Olhe, eu vou sair, mas eu acho melhor você andar de olhos
abertos, pois minha mão está coçando para lhe dar uns tapas. Slut senza
alcun amore per la famiglia (Vagabunda sem amor nenhum pela família) —
falou nonna antes de sair batendo os seus saltos no piso da casa.
— Bello, vá para o escritório. Lá você pode conversar com sua tia
melhor e sem interrupções — disse Filippo sem tirar seus olhos sérios de
cima de minha tia.
— NÃO! Eu quero você por perto, por favor, amor. Sei que tudo que
vai sair daquela boca são mentiras, mas o quero perto de mim — pedi com
uma expressão suplicante.
— Nem precisa pedir duas vezes, amore mio. — Beijou minha
cabeça.
Fomos os três para o escritório. Ao entrar, Filippo indicou uma
cadeira para minha tia se sentar. Ele sentou à mesa e sem se importar com
ela, me puxou para sentar em seu colo e eu fui de bom grado. Ao ver o ato
de Filippo, tia Amélia arregalou os olhos e se remexeu na cadeira como se
estivesse incomodada pelo que estava vendo. Foda-se o que estava
sentindo! Tinha que saber o que se passava pela cabeça maluca e sem noção
dela. Sabia que meus pais estavam mortos.
— Primeiramente, quero saber como descobriu onde eu moro? A
tempos não te vejo e não sei como me achou — disse e agradeci
mentalmente por não fraquejar.
— Eu pedi ao Beto para que me falasse. Não brigue com ele! Eu disse
que era importante — falou com a voz baixa.
— Lembre-me de enforcar o seu amigo irritante, bello — disse Filippo
entredentes. — Comece a falar o que você veio fazer aqui. Tenho que te
dizer que, se for algum tipo de brincadeira de mau gosto com Luiz, vou te
destroçar mesmo sendo do mesmo sangue que o dele — falou Filippo e vi
minha tia se estremecer.
— Eu já disse que sinto muito, foi um erro acreditar que o que Paulo
falava era verdade. Eu vim aqui em paz — disse entristecida.
— Para de enrolar, tia, e fale logo. Por favor.
— Quando soube do acidente de ônibus em que seus pais estavam,
foi o pior dia da minha vida. Minha irmã estava lá e eu não pude fazer nada.
Aí veio o momento terrível de reconhecimento dos corpos. Ver aquelas
pessoas sem vida, onde muitos estavam destroçados e sem forma alguma,
me chocou muito. Saber que poucas horas antes de entrar naquele ônibus,
essas pessoas estavam bem e até mesmo felizes, me abalou bastante. Os
corpos dos seus pais não foram encontrados naquele meio, Luiz.
Dei um pulo do colo de Filippo.
— Como assim? Eu vi os caixões! Eu tinha treze anos, mas me lembro
de tudo. Tudo mesmo! Vi os caixões serem enterrados. Você só pode estar
brincando comigo! Não pode ser! — gritei em desespero.
— Luti, nesse dia estava chovendo demais, foi por conta das chuvas
fortes que ocorreu esse fatídico acidente. Como teve alguns deslizamentos
no local que o ônibus caiu depois de capotar, os bombeiros tentaram muito,
mas eles só encontraram alguns e outros; como seus pais, os policiais
acharam que, como os corpos não foram encontrados, podiam dá-los como
mortos. Por isso os caixões fechados. Só havia areia lá dentro — disse
chorando muito.
Não sentia um pingo de verdade nas suas palavras. Não sei como,
mas sentia que era mentira.
— E por que isso agora? POR QUE ESSA PORRA AGORA? — berrei
enraivecido. — Eles estão mortos! MORTOS! Pessoas mortas não voltam a
vida.
— Bello, se acalme! Oh, mio amore, andrà tutto bene. Tu sei forte e
sa come trattare con ciò che è. Giusto? (Oh, meu amor, vai dar tudo certo.
Você é forte e vai saber lidar com o que for. Certo?) — disse Filippo me
puxando para seus braços.
Entendi só metade do que ele disse, mas sabia que ele estava
querendo me acalmar.
— Por favor, meu sobrinho. Eu sei que é loucura e eu nem mesmo sei
se isso é verdade. Um conhecido meu disse que viu um homem muito
parecido com seu pai pelas bandas de Campinas — falou ela ainda chorando.
— Então, por que resolveu me contar se nem ao menos sabe se é
verdade? Que porra de conhecido é esse? — perguntei sem força para mais
nada. Minha cabeça doía.
— Não queria tocar nesse assunto, mas falei porque é sobre seus
pais e se fosse comigo eu ficaria muito feliz de descobrir que eles podem
estar vivos — disse com esperança na voz.
— Você poderia até ficar feliz, mas eu não! Descobrir que seus pais
estão vivos, quando se passou seis anos sem te procurarem não é muito
legal, tia. — Soltei um soluço alto.
— Eu sei, meu querido, eu sei! Mas mesmo com toda tristeza do abandono,
só por saber que eles podem estar vivos é bom, meu lindo.
Filippo me apertou mais nos seus abraços.
— Estou bem como estou! Não está vendo? Faço parte de uma
família grande e linda, tenho uma pessoa que me ama, amigos maravilhosos
e filhos. — Ela olhou-me com espanto. — Sim, tia! Eu tenho filhos e posso te
dizer que nunca me afastaria deles por qualquer motivo que fosse. Filippo,
Eduarda e Pietro, são minha vida — desabafei enxugando as lágrimas.
— Você tem crianças? Aquelas crianças são suas? — perguntou com
curiosidade, olhando-me com olhos vermelhos pelo choro.
— Sim! Eles são meus e de Filippo. Vamos nos casar e se for pela
vontade de Arianna será logo — disse duro, mas um pequeno sorriso
escapou ao me lembrar de minha sogra amável.
— Estou perdendo tanto de sua vida. Tudo isso por minha culpa. Por
favor, Luiz, me perdoe! — Pediu se aproximando de mim.
Eu queria correr para ela não encostar em mim.
— Eu fui uma grande cadela com você. Sinto tanto ter falado aquelas
palavras. Você é o filho que eu nunca tive, te amei desde o momento que
minha irmã me contou que estava grávida, cuidei de você. Eu amo você,
querido!
— Foi duro ouvir tudo de ruim que você falou, tia. Sempre quis ser
motivo de orgulho e não de tristeza. Fiquei me perguntado como você, uma
pessoa que me conhece desde sempre, pode acreditar em pessoas ruins.
Não merecia isso! — falei com a mais pura mágoa que ainda vivia em meu
coração.
— Acordei para vida, Luti! Me perdoe, meu filho, eu só posso te pedir
perdão. Se pudesse voltar no tempo, eu voltaria, mas infelizmente não
posso. Me livrei de tudo de ruim. Sei que está cheio de pessoas na sua vida
agora, mas sinto sua falta.
— Amélia, eu não confio em você e nunca vou confiar — disse Filippo
tomando frente, quando eu ia lhe dizer mais algumas coisas. — Não sei o
que meu bello vai fazer ao seu respeito, mas você não poderá se aproximar
dos meus filhos até que eu saiba o que está acontecendo de verdade.
Desculpe, bello, mas é preciso! Sua tia teve contato com Antonella e ela
ainda está por aí fazendo sabe Deus o que. Eu não gosto de você, Amélia! —
falou rude.
Vi minha tia ficar com um olhar estranho, acho que foi raiva, mas ela
mudou rapidamente. Não sei não, viu?! Naquele mesmo instante me
lembrei do dia em que ela me parou na faculdade para falar que Filippo só
estava me usando e que logo ele voltaria para Antonella. Ouvir aquilo dela
fez com que eu me sentisse um lixo descartável, mas como eu conhecia a
vadia da Antonella e sabia das pessoas ruins com quem ela se envolvia, não
acreditei. Sem falar que o meu ursão me amava muito e para que prova
maior que a enorme aliança que usávamos.
Não podia dizer que as palavras de minha tia não me tocaram, eu
não era um homem sem coração que estava pouco se importando com a
redenção das pessoas. Sabia que isso poderia acontecer, mas, mesmo assim,
Filippo estava certo e aprendi que não devemos confiar nas pessoas,
principalmente, sendo tia Amélia, aquela que me magoou demais. Não
poderia deixar uma pessoa qualquer se aproximar de meus filhos e correr o
risco de fazer algum mal a eles, nunca sabemos do amanhã. Ainda tinha o
Paulo, mas pelo que minha tia deu a parecer, ela não estava com ele. Porém,
não iria ser inocente em acreditar nela assim tão facilmente. Iria ficar com os
meus olhos bem abertos.
— Como você conheceu Antonella? — perguntei e minha tia soltou
um suspiro.
— Ela apareceu lá em casa. Primeiro chegou toda educada procurando por
você e quando eu disse que não estava, ela começou a chorar. Disse que
você causou a separação dela com o noivo, mas que logo ele iria voltar para
ela — contou puxando as lembranças da memória. — Pediu para te alertar a
não ficar no meio da família Andreazi, ou coisa parecida, pois eles eram
perigosos.
— Slut! Avrei dovuto uccidere quel verme biondo quando potevo!
(Vagabunda! Eu deveria ter matado aquele verme loiro quando eu pude!) —
disse Filippo com muito ódio.
Minha tia fez uma cara de confusão.
— Se acalme, amor… Não liga para o que Antonella disse, sei que sua
família é composta por pessoas maravilhosas — falei tentando acalmar
Filippo e achei que deu resultado, pois ele sentou novamente na cadeira.
— Eu não sabia no que acreditar, Luiz. Vi aquela mulher educada
chorando na minha frente e eu só… Me desculpe! — falou sentida.
— Olhe só, tia. Tenho muito no que pensar. Quero muito você na
minha vida, mas eu ainda preciso assimilar muita coisa. Essa história de que
meus pais podem estar vivos, eu prefiro esquecer, não quero saber. Se a
senhora não estiver mais com o bandido do Paulo, quem sabe eu não possa
te fazer uma visita.
Ouvi Filippo bufar de desgosto e minha tia me olhar com esperança.
— Não! Paulo não existe mais, você é minha família, Luti!
Assenti rapidamente.
Eu já não queria ficar mais perto de minha tia, por isso me despedi
dela com um abraço simples e totalmente sem jeito. Depois pedi a Brian que
já estava de prontidão, para levá-la até em casa.
Não sabia no que pensar, tudo estava uma grande confusão na
minha cabeça, não podia impedir Filippo de não confiar na minha tia se até
eu mesmo não confiava, principalmente, pelo fato de Antonella se
aproximar dela tão facilmente. Não podia simplesmente fazer com que
meus filhos convivessem com ela sem ter certeza de que não estaria mais
envolvida com Paulo, Antonella ou qualquer outra pessoa que pudesse fazer
mal a minha família. Não era mais sozinho, tinha com quem me preocupar e
proteger.
Enquanto Filippo conversava com Elijah, fui procurar meus filhos.
Alegrei-me ao ouvir risadas altas vindo da cozinha fazendo meu corpo antes
tenso, relaxar automaticamente. A cena que vi ao chegar lá me fez rir muito.
Pietro, Eduarda e nonna estavam muito sujos de farinha de trigo. Aquela
cena fofa me fez ver como realmente minha vida estava boa e que não
existia nada no mundo que me fizesse desistir dela.
— Papai! Olhe o que eu tô aplendendo a fazer! — gritou Pietro vindo
correndo na minha direção e pulando em meu colo.
— Você está sujando nosso pai todo, irmão — repreendeu Duda e eu
balancei a cabeça negativamente.
— Não se preocupe, meu amor, eu também quero meter a mão na
massa — falei com minha garotinha que sorriu e voltei meu olhar para o
meu ursinho. — Está fazendo o que com sua bisa, meu ursinho?
— Eu estou fazendo massa flesca para fazer macalão! — disse e eu
não tive como não rir do seu modo de falar.
— Então esse macarrão vai sair muito gostoso, já que meus ursinhos
resolveram ajudar a nonna a fazer o jantar de hoje. — Coloquei Pietro no
chão.
— Eu dei a ideia, Pietro disse que o senhor estava com o rosto triste
quando viu aquela moça. E para não te deixar triste, resolvemos fazer o
jantar. Bisa disse que iria nos ajudar — falou Duda como uma mocinha e
meu coração se encheu no peito.
Fui até minha ursinha e agachei à sua frente.
— Obrigado por querer me ver bem, ursinha. Já te disse que você é a
menina mais linda do mundo?
Suas bochechas ficaram vermelhas.
“Amo essa garotinha!”
— Pensei que você fosse convidar sua tia vadia para jantar. Não me
culpe por pensar em querer jantar com minha arma do lado, caso você a
convidasse — disse nonna rindo.
— Não! Ainda não sei o que pensar, nonna. Ela me pediu perdão
pelas coisas que me fez. — Lavei minhas mãos.
— Posso te falar uma coisa? Não gosto de dar conselhos, acho que
cada um faz da merda de sua vida o que quer, mas você é meu neto, então,
eu posso. — Nonna me encarou. — Não faço ideia do que vocês
conversaram, mas se a cagna estiver se desculpando de verdade, vale a
pena dar a ela uma oportunidade, e se ela aprontar contigo novamente,
podemos sempre usar uma faca afiada para rasgar sua carótida. Aqueles
olhinhos de santa puta arrependida eu não comprei, não abaixe a guarda
ainda.
— Obrigado, nonna! Não sei porque, mas eu não senti uma energia
boa. Sempre quis ouvir minha tia me pedir desculpas, só que eu não vi
verdade. Aquela história da morte dos meus pais foi muito fantasiosa —
expus o que eu estava sentindo.
— Isso se chama sexto sentido. Confie nele, meu querido. Ainda bem
que eu não fui com a cara dela — falou nonna mexendo na panela. —
Vamos esquecer um pouco as coisas ruins da sua tia e vamos tomar umas
margaritas que eu preparei. Esse troço me dá um fogo! — Sorriu com
malícia.
— Eu também quelo ficar com fogo — disse Pietro e eu arregalei os
olhos.
— Não, filho! Você não pode tomar, isso é bebida de adultos — falei
calmamente, não tocando na parte do fogo.
A bebida estava muito deliciosa. Aproveitando que as crianças estavam
concentradas em amassar a massa para fazer o macarrão, inicie uma
conversa com nonna e contei a ela tudo o que aconteceu com Duda. Como
já era de se esperar, ela ficou muito puta e disse que não via a hora de pôr
as mãos em Paolo. Era como ela mesmo disse, não iria ser um trabalho fácil,
mas iriamos conseguir fazê-lo pagar.
Nunca poderia imaginar o que aquela mulher passou sendo esposa
de um mafioso, tendo que aceitar muitas coisas, como por exemplo: cuidar
do filho que o marido teve com uma de suas amantes. Nonna disse que
Paolo já demonstrava ser uma pessoa ruim desde novo.
Pouco tempo depois levei as crianças para tomar banho, eles
estavam muito sujinhos. Quando desci para jantar, passei os olhos na sala,
mas não encontrei Filippo em lugar algum. A demora dele de vir me
encontrar estava me deixando um pouco nervoso. Na sala só estava nonna e
Luna. As duas tomavam uma taça de margarita e é claro que me juntei a
elas. Filippo apareceu depois e não estava com uma cara muito boa, eu
fiquei com um pé atrás, mas não perguntei nada. Fomos jantar e a expressão
dele ainda não tinha melhorado, mesmo com todas as coisas engraçadas
que nonna estava contando sobre suas aventuras.
— Você acredita que eu estava outro dia em uma loja com Arianna,
que resolveu mudar as cortinas da sala de uma hora para outra, e uma velha
safada me parou para fazer um convite para eu ir ao bingo que seu filho
organizava? — falou nonna revoltada.
— E a senhora falou o que, nonna? — perguntou Luna
rindo.
— Mandei ela enfiar o bingo naquele lugar especial que não posso
falar o nome, pois os bambinos estão aqui — respondeu fazendo eu e Luna
rir ainda mais.
— Que lugar especial é esse, bisa? — perguntou Duda na mais pura
inocência.
— Um lugar que seu pai Filippo conhece muito bem — disse nonna
fazendo Filippo engasgar com a água que estava tomando.
Eu senti meu rosto ficar vermelho, mas Luna estava em tempo de
morrer de rir.
— Nonna, i bambini sono al tavolo. Controllati un po ', per favore!
(Vovó, as crianças estão aqui à mesa. Controle-se um pouco, por favor!) —
disse Filippo depois de se recuperar.
Ela bateu na mesa com as mãos para chamar atenção dele.
— Você quer dizer o porquê dessa sua cara feia? O jantar foi feito
pelos seus filhos e você está com essa cara de cu azedo. E antes que venha
controlar minha boca, olhe lá, viu?! Eu tenho uma faca na mão! — disse
nonna seria.
— Desculpe, o jantar está ótimo, mas recebi uma notícia que me
irritou. Depois da reunião que eu e bello tivemos com Amélia, Enzo me ligou
mandando que fossemos com urgência para Itália — falou Filippo
enraivecido.
— O que houve, irmão? Não me diga que alguém está ferido! —
perguntou Luna nervosa.
— O desgraçado infeliz do Paolo explodiu a perfumaria de mamma.
— disse e todos nós arregalamos os olhos com espanto.
— Como assim? Deus! Arianna ama a Charms Roses, sempre me
conta como o lugar é lindo e a cara dela. Teve algum ferido? — perguntei
triste.
— Ainda não fui informado dos feridos, mas vamos para lá amanhã
bem cedo. Já mandei arrumar nossas coisas. Rita vai conosco, precisamos de
alguém de confiança para cuidar das crianças e ela se prontificou, isso é
menos uma preocupação para mim. Lá vamos saber de tudo o que está
acontecendo. — Filippo levantou-se.
Por mais que ele fosse um homem forte, sabia que estava se
sentindo culpado com o que aconteceu. Paolo já estava cumprindo com suas
ameaças.
“Mostro!”
Depois desse momento o clima ficou muito pesado na casa. Filippo
se trancou no escritório, mas antes deu um beijo em cada uma das crianças
de boa-noite e me disse que logo estaria na cama comigo. Não falei nada,
sabia que ele não estava em um momento muito bom. Coloquei as crianças
para dormir no quarto comigo e em certo momento da noite, acordei
quando senti Filippo me abraçar por trás.
Acordamos cedo, arrumamos as últimas coisas e fomos pegar o
jatinho. Assim que entrei, parei de boca aberta. Eu nunca tinha visto coisa
mais linda. O bendito avião era muito digno. Filippo não parava de falar no
celular com alguém em italiano. Algumas coisas eu entendia, outras passava
batido. Tinha que me empenhar mais nas aulas.
Depois de onze horas cansativas de viagem, finalmente estávamos
em solo italiano. Assim que desembarcamos para ir ao encontro dos carros
que já estavam nos esperando, algo muito louco aconteceu. Barulhos de
tiros foram disparados em nossa direção e ouvi Filippo soltar um grito de
dor. Não vi onde ele levou o tiro, mas vê-lo ferido me apavorou demais!
— FILIPPO! Oh, inferno! Você foi baleado — falei exasperado e a
correria começou.
Tentei ir em sua direção, mas todos os seguranças tomaram nossa
frente e puxaram suas armas.
— LUIZ OTÁVIO! Entre no jatinho, fique deitado no chão protegendo as
crianças — gritou Filippo pegando suas armas no coldre, sem ligar para o
seu sangramento ou a dor que devia estar sentindo.
Brian virou para trás e colocou uma arma na minha mão. Olhei para
Filippo paralisado e ouvi outro berro dele.
— ISSO É UMA ORDEM! VAI!
— Luiz, se alguém que você não conhece se aproximar. Atire no
desgraçado, você pode fazer isso! — Brian falou rapidamente e eu assenti
desorientado.
Corri para dentro do jatinho novamente e fui de encontro as minhas
crianças. Para nossa sorte, Enzo havia trago mais homens com ele. Os
seguranças principais: Elijah, Brian, Adrian, Ethan, Alejandro e Atílio, já
estavam conosco. Fiquei no chão do jatinho abraçado aos meus filhos que
choravam muito. Eu não conseguia pensar em mais ninguém, só em Filippo
ensanguentado e em meus filhos desesperados. Tinha certeza que essa
viagem não iria ser nada fácil! A pergunta que não saia da minha cabeça era:
“Como que eles descobriram sobre a nossa chegada?”

Considerava-me um homem de negócios, não era fácil comandar a


Finastella. Consegui o cargo de Capo por meu próprio mérito, tive que matar
meu pai para estar ali e era claro que Donatello, o filho preferido e mais
velho de Domenico, não sabia dessa parte.
Quando aconteceu a retaliação da máfia irlandesa por causa da
morte de dez dos seus homens que vieram fazer negócios conosco, armei
para que meu pai estivesse na linha de frente. Quando a bagunça estava
quase finalizada e meu incrível papai se encontrava ferido no chão, não
aguentei vêlo tão vulnerável na minha frente. Então, aproveitei o embalo e o
matei rindo de sua cara de grande filho da puta que ele sempre foi comigo.
Eu o odiava muito!
Sabia do grande desejo de Donatello para sair da Finastella, o que eu
não sabia era que ele estava envolvido com a vagabunda sonsa da Arianna.
Eles afirmavam tanto se amar e isso me deixava enojado! Tinha muita
vontade de matar aquela mulher, mas meu irmão era muito esperto e
precavido, nunca me deu uma brecha sequer.
A Finastella sempre foi minha vida. Nunca pude entender como
Donatello pode ser tão influenciando para sair do lugar onde nós fomos
criados para servir.
Antes de minha mãe morrer de overdose, a vadia me deixou nas
mãos imundas de Domenico. Ele era um homem ridículo. Sempre tive muita
raiva de meu pai, o disgraziato (desgraçado) nunca fez questão de me ter
como filho. Era nítido para quem quisesse ver que ele gostava de Francesca,
uma mulher sem classe que adorava tirar ele do sério. Nunca entendi a
fixação que meu pai tinha por aquela mulher nojenta. Eles eram a família
perfeita da qual eu nunca iria fazer parte.
Nessa vida inteira só existiu apenas uma pessoa pela qual me
importei de verdade. Sempre tive muito carinho por Filippo, mas do meu
jeito torto, é claro. Sabia que aquele rapaz seria um ótimo Capo para nossa
Finastella. Vêlo perder tempo com aquele garoto que mal saiu das fraldas,
me causava muita raiva.
Filippo era o meu espelho de homem. Mesmo desvirtuado do seu
caminho, sabia que ele iria acabar tomando seu lugar por direito. Poderia,
no fim, até aceitar o seu ninfetinho conosco. Está vendo? Não era esse
monstro que os outros pensavam e falavam de mim. Era maleável quando
eu queria. Poderia facilmente aceitar se meu campeão estivesse feliz
comendo un asinello (um rabo jovem).
Estava sempre de olho em Filippo, gostava sempre de saber como
andava a vida dele. Não poderia dizer que não me decepcionei ao saber que
ele gostava daquele garoto. O amor só causa desgosto! Não era o amor que
move o mundo que vivíamos e sim o poder. Filippo era um homem que
emanava poder desde que nasceu. Ele seria um Capo excepcional.
— O trabalho que mandou fazer na perfumaria, já foi efetuado,
senhor! — disse Frank Attenezi, meu executor e um dos meus homens de
maior confiança. Apesar de jovem, todos os trabalhos que lhe designava
eram feitos com maestria.
— Tinha certeza que você era o homem certo para esse trabalho! —
Peguei um charuto na caixa.
— Obrigado, senhor! — disse e eu fiz um gesto de desdém.
— Já sabe se o meu adorável irmão recebeu a notícia? — perguntei
sorrindo de pura felicidade.
— Isso não sei informar, senhor.
Ouvi uma batida na porta e um dos meus soldados entrou em meu
escritório.
— Com licença, senhor, mas a Srta. Mantovani quer vê-lo. Posso
deixar entrar?
— Pode ir, Frank. Fique atento as informações que já estamos
esperando. — Ele se virou e saiu. — Pode mandar essa cadela entrar!
Não precisei esperar muito e logo a imprestável entrou com seu ar
sedutor de sempre. Mesmo ela sendo uma cadela burra, tinha que admitir
que Antonella era uma mulher muito linda, se vestia impecavelmente, seu
corpo era uma delícia de se ver, fodia muito bem e sempre me deixava fazer
o que eu bem entendesse com aquele seu corpo ousado. Ela achava que eu
era algum idiota e não percebia a jogada dela e de seu pai.
Há anos Antony Mantovani tenta tomar a Finastella das mãos dos
Aandreozzi, também não poderia esperar menos, já que nós somos os
melhores e mais ricos de toda Itália. Antony sempre quis ser como nós, mas
ele nunca poderia ser. Afinal, vermes não nasceram para ser nada, além de
vermes.
Eu consegui tudo pelo modo ilegal de ver a vida, quadruplicando o dinheiro
que Domenico fez antes de morrer. Já o dinheiro de meu irmão otário, vinha
através das suas empresas espalhadas por todo o mundo, tinha que dizer
que Donatello era um homem inteligente e de visão. Isso me fazia ter ainda
mais raiva dele.
— Querido! Como você está? — perguntou Antonella sorrindo para
mim.
— O que você quer aqui? — questionei direto, recostando-me em
minha poltrona e descansando meu charuto no cinzeiro.
— Não sei o que há com vocês Aandreozzi, que sempre gostam de ir
direto ao ponto. — Aproximou-se.
— Desculpe, querida, mas para você vir aqui, sempre tem algo para
me dizer ou fazer. O que é desta vez? — perguntei e ela se jogou no meu
colo.
— Meu pai mandou te informar que ele conseguiu fechar negócio
com o traficante de pedras preciosas na Tailândia e que logo entrará em
contato com você — disse muito orgulhosa.
Não sabia do que tanto se orgulhava.
— E eu com isso? Os negócios de Antony não me dizem respeito. Eu
só quero que ele pague o meu dinheiro. — Ela me olhou assustada pelo
modo rude que falei. — Não está sabendo que seu pai está me devendo
quase dois milhões de euros? — perguntei vendo ela balançar a cabeça
negativamente.
— Não, eu não sabia! Não quero falar sobre isso, podemos fazer uma
coisa bem agradável. Você não acha? — Beijou meu pescoço. — Você é um
homem tão bonito... Posso dizer que é mais bonito que seu sobrinho
desgraçado.
— Olhe como você fala de Filippo! — disse enraivecido, puxando
seus cabelos loiros com muita força.
— Desculpe, meu bem! Eu odeio aquela família, ainda tenho esperança que
você deixe eu me vingar pela surra que levei da vadia da Luna.
Ela ainda vai me pagar. — Ficou vermelha pela ira.
Gargalhei.
— Se contente por eu não ter deixado Giano Zanetti lhe matar por
você ter delatado o filho dele Nicco a Filippo. — Parei de gargalhar e puxei
seus cabelos com ainda mais força.
— Eles iam me matar, antes Nicco do que eu! Vamos nos casar,
esqueceu?
Joguei-a no chão.
— Caspita! Casar com você? Nunca me casei com vadia nenhuma e
não será logo com você que irei me casar. — peguei meu charuto
novamente.
— Qual o problema comigo? — perguntou e eu a ouvi fungar, mas
nem me dei ao trabalho de me virar para ela.
— Você é uma puta gasta! Sabe a raiva que eu senti ao descobrir
seus planos e de seu pai ao tentar unir sua família a minha? — perguntei
com ódio, vendo-a encolher-se de medo. — Ainda bem que Filippo teve a
decência de nunca lhe dar essa ousadia! Esse é o meu sucessor! — falei com
muito orgulho.
— Um sucessor que agora virou gay! Muito apresentável para ser o
novo Capo da Finastella! — retrucou-me enraivecida.
Fui rápido e ajoelhei-me diante dela, enfiando o cano da minha arma
na sua boca.
— Shhhh… Sabia que eu poderia lhe matar agora? — sussurrei em
seu ouvido, fazendo-a se apavorar. — Filippo é o meu pupilo, meu sucessor,
meu orgulho. Não posso culpá-lo. O seu garoto, pelo que eu soube, é
apaixonante. Nunca me questione! Entendeu? — Retirei a arma de sua boca.
Ela assentiu.
— Desculpe, querido, eu…
Acertei sua face com um forte e estalado tapa,
interrompendo-a.
— Calada! Sua voz me irrita! Vá tomar um banho e se vestir
lindamente, porque nós vamos ao meu cassino hoje à noite. — Levantei-me.
— Está fazendo o que aí, porra? Vai logo!
Vi Antonella levantar do chão e sair do meu escritório correndo. Ah...
Isso me divertia muito! Não aceitava que falassem mal de Filippo por estar
comendo um rabinho. Sabia todos os passos que o tal Luiz Otávio dava e
posso dizer que não vi nada de errado nele, mas como a Finastella foi
fundada através do catolicismo, muitos não aceitavam a relação do mesmo
sexo.
Filippo se envolver com um homem, foi terrível para mim e muitos
soldados da máfia aceitar, mas como eu o queria de qualquer maneira à
frente dos negócios da família, seria capaz de fingir aceitar o
relacionamento. Faria isso não só para ele, como para os membros da
Finastella também. Para tê-lo comigo, faria o impossível. Filippo nasceu para
comandar tudo isso. Nada iria me impedir de logo após matar o ninfetinho,
arrumar uma esposa digna para o novo Capo.
Ao cair da noite, meu humor estava consideravelmente perfeito.
Havia acabado de saber que tudo estava saindo como planejei. Logo mais
Filippo estaria chegando à Itália. E, desta vez, eu sabia que conseguiria fazer
com que ele ficasse onde nunca deveria ter saído. Ali era o lugar dele!
Arrumei-me com meu smoking e fui ao encontro de Antonella.
Queria expor a sua beleza ao meu lado, era somente para isso que eu ela me
servia. A via como um objeto de luxo! Saímos em minha limusine e no
caminho, fiz questão de passar em frente da perfumaria de Arianna para ver
o amontoado de cinzas que me alegrou ainda mais.
Meu cassino era maravilhoso, ali se encontra todo tipo de figura rica
e suja da sociedade italiana. Tínhamos de ministros até advogados de
bandidos ricos, gente como eu, juízes e muitos outros. Todos esses,
querendo ou não, tinha uma parte lucrativa na Finastella. Eu amava aquele
lugar, ele era o meu mimo para fazer dinheiro.
— O que viemos fazer aqui, meu bem? — perguntou Antonella. Ela
estava linda como sempre, usando um vestido preto que a deixa quase nua.
— Hoje vim resolver um problema e gostaria que você pudesse me
acompanhar — disse com o meu sorriso de predador.
— Você me convidou para ver você fazer negócios? — perguntou
Antonella radiante de felicidade.
— Sim, querida. Hoje você vai ver como é o meu jeito de fazer
negócios — respondi-a suspendendo seu queixo com o meu indicador. — Ele
já está à minha espera? — perguntei a um dos meus funcionários no cassino.
— Sim, senhor!
De braços dados, seguimos em frente. Entrei na sala e lá estava
quem eu tanto queria ver. Fabrizio Spinato estava sentado esperando por
mim para tratarmos de negócios. Esse era o maior trambiqueiro que existia,
adorava uma jogatina. Jogos de azar, era com ele mesmo.
Meu gerente do cassino, Otto Trivelato, me informou que ele estava
devendo muito dinheiro para nós. Como já tinha um tempo que seu prazo
para pagamento havia estourado, ali estava eu para desestressar um pouco
e ele para me desestressar. Nada melhor do que ter uma conversa com
quem estava me devendo, não é verdade?
— Sr. Paolo Aandreozzi… O que faz por aqui? — perguntou Fabrízio,
com um medo evidente nos seus olhos.
— Querida, fique ali sentadinha me esperando, acho que não vou
demorar aqui — falei com Antonella, apontando para uma poltrona ao canto
direito. Quando ela sentou-se, voltei minha atenção ao meu convidado. —
Estava entediado, por isso resolvi ter uma conversa definitiva com você. —
Ele tentou sair correndo, mas um dos meus soldados o segurou. — Amarrem
ele na cruz. Agora!
— Não, senhor! Eu vou te pagar! Eu juro que irei te pagar, assim que
possível — gritou em desespero e eu balancei a cabeça negativamente.
— Seu tempo acabou! — Peguei minha arma e apontei-a para o
viciado sem noção, não estava a fim de muita conversa.
Assim que o vi bem amarrado, disparei quatro tiros na sua direção;
um em cada mão, um no meio do seu tórax e o último em sua testa. Olhei
para trás e vi Antonella gritar em plenos pulmões. Fui em sua direção
fazendo-a se encolher inteira onde estava sentada. Seu corpo estava
tremendo.
— Querida, quando você ver alguém empunhando uma arma, não
grite. Isso atrapalha! Mas agora eu quero que você vá até o seu pai e o
informe que se ele não me pagar, isso que aconteceu com Fabrízio, foi
pouco perto do que vou fazer com ele. Eu odeio gente que quer ser mais
esperto do que eu. — Dei-lhe um beijo na testa e saí logo em seguida.
Andando pelos corredores do cassino, pronto para ir para casa, fui
parado por um inconveniente querendo falar sobre negócios. Ele estava
querendo abrir uma boate nova e precisava comprar umas meninas para
fazer o serviço que sua casa noturna pretendia oferecer. Como não estava
muito a fim de conversar, não lhe dei resposta alguma e saí do local. Antes
que eu pudesse entrar no carro, meu celular começou a tocar.
— Diabos! — resmunguei pegando-o. — O que é? — disse ao
atender a ligação de Frank.
— O senhor pediu para informar quando o jatinho chegasse. Eles
pousaram a mais ou menos uma hora — falou Frank e eu me irritei.
— Por que está me falando isso agora e não há uma hora, idiota? —
perguntei entredentes.
— Esse é o problema, senhor. Assim que eles desembarcaram, foram
recepcionados por atiradores.
Respirei fundo para me acalmar. Desta vez não havia sido
eu!
— Quem foi? Quem mandou os atiradores? — Conhecendo Frank
como eu conhecia, sabia que ele havia ligado porque tinha informações
completas.
— Foram os homens de Giano Zanetti!
Saber daquilo não me causou nenhuma surpresa, sabia que Giano iria
querer se vingar pela morte de Nicco uma hora ou outra, mesmo tendo
ordens claras para não fazer.
— Sabe me dizer se Filippo está bem? — perguntei realmente
preocupado.
— Ele foi encaminhado para o hospital, foi o que eu vi antes de fazer
a ligação, mas não sei qual é o seu verdadeiro estado de saúde — disse
Frank, aliviando-me um pouco.
Filippo foi treinado por mim, sabia que ele iria se sair muito bem.
— Como ele ficou sabendo da chegada de Filippo? — questionei com
punhos cerrados.
— Ele estava na sede hoje mais cedo quando recebemos a
informação de sua chegada.
Fiquei pensando como a vingança pode deixar uma pessoa burra e
sem noção.
— Já conseguiram localizar Giano? — perguntei e ouvi um sim do
outro lado da linha. — Mandem ele e todos os homens que o ajudaram nisso
para aquele galpão. Levem as armas pesadas, logo estarei chegando lá.
Encerrei a ligação e entrei no carro. Segui caminho direto para o
galpão na intenção de confrontar os maledettos que tentaram matar Filippo,
aquele que seria o futuro chefe deles. Ao descer do carro, vi vinte homens
meus armados com todos os tipos de armamento pesado, parados à frente
da porta do galpão que estava trancado. Mandei dois dos meus homens
abrirem a porta. Os filhos da puta que estavam dentro do galpão, fizeram
menção de dar um passo à frente em minha direção, mas antes que
fizessem, todas as armas foram destravadas e apontadas para eles.
— Ora, mais quem eu vejo aqui… Como vai a vida, Giano, meu
amigo? — perguntei com mais puro sarcasmo.
— Vai se foder seu bastardo! — gritou ele enfurecido e eu
ri.
— Giano, eu te disse para não ir atrás de Filippo, não foi? Cadê o
respeito pelo futuro Capo da Finastella? — questionei abrindo meus braços.
— Você está levando o nome da nossa Finastella para lama por
apoiar a bixinha do seu sobrinho como nosso líder! Ele matou o meu filho!
— falou enraivecido, batendo os punhos fechados no peito.
— Matou, porque seu filho foi um incompetente! Aquele ragazzo foi
treinado por mim, posso dizer que ele é o melhor! — Sorri.
— Você é um doente, Paolo! Um verdadeiro doente! — Balançou a
cabeça negativamente.
— Agradeço a gentileza, mas agora nossa conversa acaba por aqui.
Mande lembranças ao capeta por mim — disse de braços cruzados.
— Posso morrer agora, mas do inferno eu verei você morrer pelas
próprias mãos do seu pupilo querido. Sua hora vai chegar, Paolo Aandreozzi.
— Encarou-me cheio de fúria.
— Estão preparados? — perguntei olhando para meus vinte soldados.
Todos assentiram. — MATEM TODOS! — gritei em plenos pulmões e uma
sequência linda de tiros foram disparados ao mesmo tempo.
Vi todos os corpos que estavam dentro do galpão virarem uma
peneira humana ensanguentada e caírem mortos no chão. Dei as costas para
eles indo em direção ao meu carro. Tinha que me preparar para encontrar
com meu sobrinho amado, mas antes de lhe fazer essa visita, iria esperar e
observá-lo mais um pouquinho. Tinha que deixar Filippo se acalmar antes de
lhe fazer algumas revelações.
Amélia era uma vagabunda da pior espécie, não conseguia acreditar
em nada que saiu daquela boca de vadia mentirosa. Não sei o que ela estava
querendo ao tentar se aproximar de meu bello, mas fosse o que fosse, eu
não iria deixar que nada de ruim acontecesse com ele ou com os nossos
filhos.
Ver o jeito que Luiz ficou ao ouvir aquelas mentiras, me cortou por
dentro. Tinha certeza que tudo foi invenção daquela cabeça doentia. Pelo
carinho que o Luiz falava sobre os pais, podia apostar minha fortuna que
jamais eles fariam aquilo com o seu filho único. Foi sujo e baixo o que ela
fez, isso para mim era terrível.
Assim que ela pôs os pés para fora da minha casa, sob a vigilância de
alguns seguranças, a primeira coisa que eu fiz foi ligar para Beto, mas não
obtive resposta. Tinha que averiguar se foi ele mesmo quem falou sobre o
nosso endereço para aquela mulher, ou se havia sido outra pessoa. Sentia
que tinha muita coisa por trás dessa visita, podia até demorar, mas
descobriria e quando isso acontecesse, não seria bondoso com meu castigo.
Chamei Elijah no meu escritório e bolamos um esquema para fazer a
vigilância da tia cobra de bello. Quando eu estava quase saindo e dando o
dia por encerrado, Enzo me ligou para contar sobre a tragédia que
aconteceu na perfumaria de nossa mãe. Não conseguia dizer como aquela
notícia me abalou. Sabia como minha mãe amava o trabalho que fazia. Para
ela, criar essências era muita mais que um simples trabalho lucrativo, a
carreira de mamma como perfumista profissional começou naquele local.
Saber que aquele filho da puta sem alma destruiu aquele lugar, me
deixou com muita. Uma raiva que foi se misturando com uma culpa, pois
sabia que ele estava fazendo tudo aquilo para conseguir me levar para
aquela maldita organização criminosa que eu ODIAVA.
O meu ódio por Paolo estava crescendo em um nível que eu já não
estava sabendo lidar, por isso era hora de agir. Eu precisava começar a fazer
alguma coisa, não podia mais ficar parado! Não podia mais ficar sentado e
ver ele destruir minha família, tirar minha paz. Ele tinha que morrer e essa
morte teria que ser feita pelas minhas mãos, mas antes tinha que proteger
minha família. Queria cuspir todo meu ódio massacrando aquele rosto
repugnante com o meu punho. Com esse pensamento, decidi ir à Itália e só
voltar de lá depois da morte do meu inimigo.
Acertei a viagem em cima da hora, pedi a Rita que arrumasse as
coisas de todos, inclusive as dela, não deixaria ninguém para trás. Depois de
todos os acertos prontos, tive de contar a Luiz, Luna e nonna o que
aconteceu, e como eu já sabia, ninguém recebeu essa notícia bem.
Após o jantar, fiquei no escritório resolvendo muitas coisas para que
pudéssemos viajar sem me preocupar com a empresa ou qualquer outra
coisa. Organizei também minha chegada com Enzo, contando sobre o
horário que iríamos aterrissar. O que eu não esperava, era que assim que
desembarcássemos, iriamos ter uma recepção tão calorosa. Antes que eu
pudesse reagir e pegar minha arma, senti uma queimor no meu ombro
esquerdo. A primeira coisa que veio em minha mente foi mandar Luiz se
esconder e proteger nossos filhos. Logo que o vi entrar no jatinho
novamente, comecei atirar também. Não ligava para minha dor no ombro.
Enzo, Lucca e Luna, se juntaram a mim no mesmo instante. Nonna
estava em um canto destravando sua arma e colocando os óculos. Não tinha
noção de quantos estavam nos atacando, eles surgiram do nada, mas uma
coisa estranha aconteceu me deixando confuso. Depois de vários tiros
contra nós, os homens começaram a recuar e eu não entendi porra
nenhuma do que estava acontecendo, e nem queria saber. Para falar a
verdade, só pensava em como estava meu bello e as crianças.
— Que porra foi essa aqui? Os caras aparecem do nada, abrem fogo
contra nós, mas depois que veem que não estamos despreparados, eles
recuam? Voltem aqui, seus bastardos! — gritou Lucca com indignação. Ele
adorava essas coisas.
“Sádico de merda!”
— Isso não está me cheirando coisa de Paolo, mas, mesmo assim,
temos que ficar de olhos abertos! — disse e senti uma fisgada em meu
ombro.
— Filippo, irmão! Você está ferido! — gritou Lucca e eu revirei os
olhos.
— Me diga uma novidade, tenho que ir ver o bello e as crianças —
disse entredentes sentindo dor e caminhei em direção ao jatinho.
— Você está perdendo muito sangue, Lippo. Vamos logo para o
hospital, nós levamos Luti e as crianças — contestou Enzo, e eu quis socar
seu rosto bonito.
— Foda-se! Não tente me impedir de subir nessa porra de jatinho e
pegar eu mesmo minha família — disse enraivecido.
Saí em disparada para alcançar o jatinho, precisava ver se bello e as
crianças estavam bem. Subi a escada depressa, mas foi preciso parar no
meio do caminho quando senti uma dor aguda vindo do meu ombro.
Ao entrar, vi Rita no fundo do jatinho tremendo e chorando de olhos
fechados. Corri os olhos mais uma vez e avistei as pernas de meu bello entre
uma poltrona e outra, abaixado e protegendo as crianças com seu corpo. Ao
perceber que alguém se aproximava, Luiz destravou a arma em uma
velocidade impressionante e apontou em minha direção.
— Bello! Sou eu, amore. Abaixe essa arma — falei calmamente e
respirei fundo. — Sou eu, mio bello!
— Desculpa, amor, estou tentando. Acho que eu travei! — disse
bello tremendo e me olhando em desespero.
— Só abaixe, amor. Estou me aproximando de vocês. Tudo bem? —
disse esquecendo minha dor e abaixando à sua frente. — Me dê a arma! —
pedi e ele com todo cuidado colocou-a em minha mão direita, se jogando
nos meus braços em seguida.
— Oh, céus, Filippo! Desculpe apontar aquilo para você. Desculpe,
por favor — pediu chorando. Seu corpo estava tenso demais.
— Podemos levantar, papai? — perguntou Eduarda, deitada no chão
abraçada a Pietro.
— Sim, filha, podem levantar! Acabou! — disse sentindo meu corpo
ficar estranhamente pesado.
— Ursão, você está gelado! — Bello saiu dos meus braços e correu
para fora do jatinho.
— Puxa, babo. Isso tudo é sangue? Babo está filido, papai? — Pietro
perguntou, olhando-me assustado.
— Temos que ir ao hospital, papai. Os homens maus podem voltar —
disse Eduarda em desespero. Era nítido que as crianças e bello estavam em
choque.
— Vamos sair daqui! — Tentei me apoiar para levantar, mas quase
caí no chão.
— Você é uma grande idiota, controlador de merda! — falou Enzo
furioso, vindo em minha direção. — Poderia ser um homem inteligente e ir
ao hospital, mas não, tem que se fazer de herói. — Terminou de me insultar
e me apoiou para levantar.
— Enzo, eu só… — Tentei falar quando estava saindo no jatinho, mas
Lucca não deixou.
— Só sendo um babaca! Porra, você está ferido, idiota! Se você
morrer pela falta de sangue, eu vou no inferno te buscar — disse enfurecido.
Assenti.
— Onde estão bello, Luna, nonna e as crianças? — perguntei aos
sussurros.
— Estamos todos aqui, Filippo, estamos…
De repente, não ouvi mais nada e apaguei logo em seguida.
Acordei sentindo um cheiro diferente no meu nariz. Abri meus olhos
e vi um ambiente desconhecido. Naturalmente concluí que estava no
hospital. Passei os olhos por todo o local e não vi ninguém. Em meu ombro
esquerdo havia uma atadura grande. Ao tentar me mexer, aquilo doeu para
o caralho.
Tinha certeza que aqueles homens que nos atacaram não eram
homens de Paolo, sabia como era o modo que aquele energúmeno
trabalhava e sair em retirada não era uma delas.
A porta do quarto foi aberta e por ela passou uma enfermeira muito
bonita. Assim que ela me viu acordado, veio em minha direção com um
enorme sorriso.
— Buongiorno, signore Aandreozzi! Come ti senti? (Bom dia, Sr.
Aandreozzi! Como está se sentindo?) — perguntou a enfermeira sorridente.
— Quanto tempo era che ero incosciente? (Quanto tempo foi que eu
fiquei desacordado?) — perguntei sendo direto, não estava a fim de
simpatia exagerada.
— Due giorni! Hai perso molto sangue. (Dois dias! O senhor perdeu
muito sangue.) — disse e veio olhar o curativo em meu ombro.
Tirei suas mãos de cima de mim, arranquei o soro e os fios que me
ligavam aos aparelhos que emitiam sons irritantes ao meu lado. A cada fio
que tirava, foi ouvindo protestos da enfermeira. Levantei da cama e senti
ficar meio tonto.
“Foda-se isso!”
Eu não podia ficar em um hospital sabendo que Paolo poderia já
estar sabendo que eu e minha família estávamos na Itália, não podia deixar
que ele tentasse algo com eles. Tinha que matar aquele desgraçado. Paolo
tinha que pagar por tudo que nos fez.
Percebi que estava com roupa hospitalar, precisava me trocar e sair
rápido dali.
— Dove diavolo sono i miei vestiti? (Onde diabos estão minhas
roupas?) — perguntei encarando a enfermeira que me olhava fixamente.
— Non si può andare fuori in questo modo nel recupero. Il medico ha
anche per valutare lui (O senhor não pode sair assim, está em recuperação.
O médico ainda tem que lhe avaliar) — falou a enfermeira aproximando-se
de mim.
— Né voi né nessun altro mi può tenere fuori da questa merda! (Nem
você e nem ninguém pode me impedir de sair dessa porra!) — falei rude,
fazendo ela se assustar.
Aquela mulher com ar sedutor estava me irritando.
— Filippo, meu neto, você está mostrando essa sua bunda grande
para enfermeira. Ela está te olhando como quem quer ser fodida. Prendere
la cagna occhio si è sposato! (Tira o olho, vadia, ele é casado!) — disse
nonna.
Ao olhar para trás vi nonna, meus irmãos e bello parados na porta do
quarto. Luiz estava com os olhos cheio de raiva direcionados para
enfermeira. Meus irmãos estava rindo de algo que eu não fazia noção do
que era e nonna estava com ar de deboche.
— Que inferno você está fazendo em pé, Filippo Aandreozzi? —
perguntou meu bello feroz, vindo em minha direção.
— Eu não quero mais ficar aqui, bello. — Puxei-o de encontro ao meu
corpo.
— Você não pode fazer isso, amor. Você perdeu muito sangue com
esse ferimento — disse Luiz.
Dei-lhe um beijo.
— Bello, você está bem? Cadê as crianças? — perguntei preocupado
e ele voltou a se irritar.
— Pode ir parando, Filippo! As crianças ficaram com Rita e eu estou
bem, se preocupe um pouco com você. Deite! — mandou apontando para
cama hospitalar.
— Luiz Otávio! Eu tenho coisas para fazer. — Fiz birra, não ligava por
estar sedo ridículo. Para o caralho com isso!
— Não vou falar novamente, Filippo. As coisas estão caminhando
como tem que ser, seus pais já estão a caminho e não há nada que você
possa fazer agora, a não ser se recuperar. — Virou-se para os meus irmãos.
— Não está tudo sob controle? — perguntou para eles.
Todos assentiram sorrindo.
— L'inferno! Si cammina molto prepotente Bello, molto prepotente!
(Inferno! Você anda muito mandão, bello. Muito mandão!) — falei
deitandome na cama, revoltado.
— Ho imparato dal migliore, il mio amore! (Aprendi com o melhor,
meu amor!) — disse ele passando a mão por minha barba que havia crescido
bastante nos dois dias.
— Isso mesmo, meu lindo. Coloca ordem nesse meu neto ogro —
disse nonna rindo.
Bello voltou seus olhos para enfermeira que estava nos encarando
com curiosidade.
— E voi... Si prega di inserire il siero indietro e se per caso mi rendo
conto che stai approfittando di mio marito ho tagliato la mano fuori. Offerto
da inferno! (E você... Faça o favor de colocar o soro nele de volta. Se por
algum acaso eu perceber que está tirando proveito do meu marido, lhe
corto a mão fora. Oferecida do inferno!) — disse meu bello fazendo todos se
assustarem, menos eu, é claro. Já conhecia esse seu lado voraz e vê-lo assim
me dava muito tesão.
A enfermeira que ninguém fez questão de saber o nome, veio sem
falar nada e de cabeça baixa em minha direção. Ela recolocou tudo que eu
tirei de volta em seu lugar e saiu em disparada. Assim que ela fechou a porta
atrás de si, várias gargalhadas foram ouvidas. Meus irmãos riram tanto que
se eu não estivesse tão revoltado por estar ali ainda, com certeza estaria
rindo também.
— Irmão, você está tão fodido com esse seu Lutito — disse Enzo
rindo muito.
— Você viu ele falando em italiano? Que coisa mais fofa — disse
Lucca fazendo meu bello ficar vermelho de vergonha e eu com raiva.
— Deixe o meu bello, seu idiota! — disse e senti uma pontada no
ombro.
— Viu só! Ciúmes demais dói, ursão do Luti — disse Luna sorridente.
— Tutti vanno all'inferno! Meno si nonna. (Vão todos para o inferno!
Menos você, vovó.)
— Também te amamos, Lippo — falaram os três juntos, me fazendo
dar um pequeno sorriso.
— Amo vocês também! Obrigado por me trazerem a tempo para o
hospital — agradeci com sinceridade.
— Já estamos acostumados com sua teimosia — disse Luna.
— Me explica uma coisa, Luti. Como você aprendeu a xingar em
italiano tão rápido? — perguntou Enzo ao meu bello.
— Aprendi com os melhores professores que poderiam existir.
Apontou para cada um que estava no quarto. — Você é o pior, amor! —
Beijou-me e eu neguei com a cabeça.
— Descobriram de quem foram aqueles homens? —
perguntei.
— Sim! Para falar a verdade, foi nonna que descobriu. Você precisava
ver, ela deu monte de porrada no único capanga que sobrou — falou Lucca
com empolgação.
Olhei para nonna que estava distraída mexendo em alguma coisa no
quarto.
— Como assim? Me explica isso direito — pedi com curiosidade.
— Encontramos um dos sujeitos que nos atacaram. Quando
estávamos trazendo você para o hospital, pedimos que levassem o cara para
o nosso local. Assim que você foi atendido e soubemos que iria ficar bem,
Luiz ficou aqui com você e nós fomos interrogar o sujeito, mas ao chegar lá,
Atílio me disse que nonna já havia conseguido a informação — explicou Enzo
com orgulho na voz.
— Nonna, a senhora não pode ficar fazendo essas coisas —
repreendi-a, preocupado com a minha avó.
Ela já havia entrado muito vezes em ação antes, mas não tinha mais a
mesma força.
— Vai se foder, Filippo! Eu só estava descontando um pouco da raiva
que estava sentindo. Ninguém tenta contra a vida dos meus netos e
bisnetos. E eu também estava sentindo falta de uma ação — falou ela de um
jeito engraçado.
— E foi Paolo que fez isso? — perguntei.
— Não! Foi Giano Zanetti. Descobrimos que depois que você matou
Nicco, ele tinha dito que vingaria a sua morte, mas o porquê e como eles
descobriram que você estava chegando, é um mistério ainda — respondeu
Enzo, fazendo eu trincar os dentes.
— Quero mais é que Giano se foda! Ele queria o quê? Que eu
deixasse o filho dele vivo depois do que fez ao meu bello e aos meus filhos?
A morte de Nicco foi uma coisa totalmente satisfatório para mim —
esbravejei e senti as mãos de bello no meu peito.
— Concordo com você, irmão, mas temos que pensar em como nos
vingar de Paolo — disse Lucca com o mesmo sorriso de sempre.
— Eu conheço perfeitamente de um lugar que Paolo tem muito
prazer em dizer que é o seu orgulho — falei e vi que meus irmãos
entenderam de imediato.
— Espere aí! É impressão minha ou só eu que não estou sabendo que
lugar é esse? — perguntou bello com uma expressão confusa.
— Vamos explodir o local que ele mais adora. Se chama Cattedrale
D'oro. Esse é o cassino que mais dá lucro para ele — expliquei calmamente.
— Vai ser lindo ver aquele lugar onde só tem pessoas corruptas e
medíocres, queimar até não existir mais. Faremos como ele, exatamente o
que fez com a perfumaria de mamma — falou Enzo.
— Temos que planejar direito para que tudo saia perfeito — disse
Luna e eu concordei.
— Antes de embarcar, Donatello ligou avisando que já estava a
caminho. Ele não contou nada do que aconteceu a Arianna, quer falar
quando estiver com toda família reunida — comunicou nonna, abrindo a
porta do quarto. — Já que você está bem e estava mostrando essa bunda
peluda para enfermeira, eu vou para casa ver os pequenos e fazer uma
comida gostosa.
Ela saiu do quarto acompanhada por Luna. Assim que eu, meus
irmãos e bello ficamos sozinhos, começamos a tramar nosso plano para
acabar com o maldito cassino de Paolo.
Depois de um tempo, o médico responsável sobre meu caso
apareceu no quarto dizendo o que eu não estava interessado a saber.
Conversei o que tinha que conversar com ele e o obriguei a me dar alta.
Pouco tempo depois eu já estava pronto para sair daquele hospital ridículo.
Minha sorte era que o médico era amigo dos meus pais e não acionou a
polícia sobre o meu ferimento a bala.
Meu bello estava o tempo inteiro preocupado com o meu bem-estar
e vê-lo preocupado comigo, enchia meu peito de amor.
Chegar na casa de meus pais, me fez muito bem. Só tinha memórias
boas e felizes naquele lugar. Eu e meus irmãos tivemos a melhor vida que
um pai e uma mãe poderia dar, não digo isso em termos financeiros e sim de
amor e carinho. Tinha muitas lembranças de mamma usando seus vestidos
simples, correndo por todo jardim atrás de nós, Lucca com sete anos
chorando porque não conseguia pegar o sapo que encontrou no lago atrás
da casa, Enzo correndo de babo, pois nosso pai tinha descoberto que ele
dormiu com a filha de um dos seus sócios, e sem falar na festa de quinze
anos de Luna que eu soquei um carinha por roubar um beijo de mia
sorellina.
Deixei as lembranças de lado e entrei em casa. Quando passei pela
porta, as crianças vieram correndo em minha direção.
— Babo! Por que demolou a voltar pla casa? Já melhorou do dodói?
— perguntou Pietro em disparada.
Abaixei-me à sua frente para ficar da sua altura.
— Desculpa a demora filho, estou melhor agora — esclareci e recebi
um abraço gostoso do meu bambino.
— Eu pensei que os homens maus iriam te machucar de novo, papai,
mas a Rita disse que estava tudo bem — disse Eduarda Abracei-a também.
— Sim, minha princesa, está tudo bem agora. Estão gostando da casa
do nonnos de vocês? — perguntei e os dois pularam de alegria.
— Sim! Eu vi o lago que tem logo aqui atrás. Você precisa ver, papai,
é muito lindo — falou Eduarda com empolgação para bello, que sorriu
lindamente.
— Eu vou ver tudo com vocês amanhã, ursinhos. Vocês podem me
levar, não é verdade? — perguntou ele carinhosamente e as crianças
assentiram.
Subi para o meu antigo quarto com Luiz e ao chegar, percebi que ele
ficou olhando para todos os lugares com muita curiosidade. Tomamos um
banho juntos, trocamos de roupas e descemos. Ao descer, ficamos sentados
no sofá da sala de estar. Meus irmãos se juntaram a nós e começamos uma
conversa agradável em família. Pouco tempo depois, a porta da frente foi
aberta e nossos pais entraram. Ao olhar para o rosto choroso de mamãe,
percebi logo de cara que papai não conseguiu guardar segredo e lhe contou
tudo o que houve com sua perfumaria.
— Ha distrutto tutto il mio lavoro! Per quel maledetto fatto un paio di
cose di che? (Ele destruiu todo o meu trabalho! Por que aquele maldito fez
uma coisa dessa?) — perguntou mamma, antes de cair no choro sofrido.
Todos nos levantamos correndo do sofá e fomos abraçar nossa dolce
mamma. Dona Arianna não merecia o que aquele homem sem escrúpulos
fez com ela. Aquela empresa empregava tanta gente de bem, pessoas que
dependiam do salário que mamãe paga a eles para sobreviver. Nunca vi
patroa mais amada do que ela. Ficamos acalentando-a de todas as formas
possíveis.
— Mamma, já estamos começando com a reforma, está tudo
encaminhando bem. Vamos continuar a pagar todos os funcionários — disse
Enzo.
Mamãe o agradeceu, mas continuou a chorar.
— Vamos escolher toda a decoração juntas, a nonna também vai —
falou Luna e nonna beijou a cabeça de mamãe em seguida.
— Vamos nos vingar pelo que ele fez. Isso é uma promessa! — disse
o maluco por ação da família.
— Está vendo, mamma? Tudo vai dar certo. O que eu posso fazer
para deixar a senhora mais feliz? — perguntei e vi mamma parar de chorar e
olhar em minha direção.
— Você quer me ver bem, meu filho? — perguntou e eu assenti meio
desconfiado.
— Sim, mamma. Para ver a senhora feliz, eu faço tudo. Não gosto de
vê-la assim.
Um grande sorriso surgiu em seu rosto.
— Se é assim, eu vou começar a planejar o seu casamento com Luiz
Otávio para daqui uma semana. Obrigada, meu filho! — falou e deu-me um
tapinha carinhoso em meu rosto assustado.
— Como assim casar em uma semana? — perguntou bello confuso.
— Sim! Para me ver feliz e sem pensar na minha linda perfumaria
destruída, vou começar a preparar o seu casamento. Ah! E vai ser na nossa
capela.
Mamma saiu em disparada levando Luna e nonna consigo para ver as
crianças. Seu choro de antes sofrido, já havia sido esquecido. Continuei
olhando para o nada sem entender porra nenhuma.
“Como foi que esse casamento surgiu assim, do nada?”
— Amor, acho que você está em choque. — A voz de bello
despertou-me da paralisação que mamma me casou.
— Minha mãe sabe me deixar sem palavras quando quer.
Bello respirou fundo.
— Eu entendo, ursão. Não precisa casar, se você não quiser.
“Por que eu não iria querer?”
— Do que inferno você está faltando?
Ele abaixou a cabeça por um momento e a ergueu novamente
respirando fundo.
— Já entendi, amor. Tudo bem se você não quiser casar comigo por
agora, eu vou entender. Nos conhecemos há pouco tempo e é normal ficar
inseguro — disse Luiz esses absurdos.
Continuei a olhá-lo e uma enorme vontade de lhe dar uns tapas
surgiu. Saí arrastando Luiz Otávio para um lugar afastado e bem longe dos
olhos da minha família, não queria plateia quando fosse tentar colocar um
pouco de juízo na cabeça de meu futuro marido e mostrá-lo que o que ele
acabou de me falar era a mais pura besteira. Fui para o banheiro social que
tinha naquele andar de baixo e tranquei a porta.
Minha derrota maior era que eu não podia fodê-lo do modo que eu
sabia que ele estava precisando ser fodido. A merda do meu corpo ferido
ainda estava debilitado e tinha consciência que não poderia fazer muito
esforço, mas isso não queria dizer que eu não podia fazer meu bello para de
pensar besteira.
— Amor… O que você... Por que você me trouxe até aqui? —
perguntou Luiz de olhos arregalados.
Não disse nada e nem me dei ao trabalho de lhe dar algum tipo de
explicação, simplesmente puxei meu bello para um beijo arrebatador e
devorei sua boca com muito gosto.
Sentia raiva por ele ter pensado na possibilidade de eu não querer
me casar com ele e de desejar esperar o inferno de tempo que seja. Foda-
se! Não estava nem aí se nos conhecíamos há pouco tempo, sabia o que
queria e independentemente do tempo que fosse, queria muito que Luiz
Otávio tivesse o meu sobrenome.
Beijei a boca macia e rosada dele, pressionando meu pau rígido no
seu, mostrando a ele o quanto estava explodindo para tomá-lo ali mesmo.
— Como você ousa pensar que eu não quero me casar com você? —
perguntei com sua boca junto a minha, ouvindo ele resmungar em um
gemido.
— Inferno, homem... Que beijo gostoso! — sussurrou e continuamos
a devorar um ao outro.
— Pena que não estou podendo te foder, senão, você iria ver. Iria te
pegar com tanta força para aprender a não falar mais besteiras. Apertei sua
nuca com minha mão direita.
— Desculpe, amor. Mas ver seu rosto assustado quando sua mãe
falou sobre o casamento, me deixou mal. Não quero que…
Não deixei que ele terminasse de falar mais nada e o beijei
novamente.
— Você é meu, bello! Como eu não iria querer oficializar a nossa
união? — perguntei com nossas testas coladas uma na outra.
— Tudo bem. Então, acho que vamos nos casar. Sua mãe é ótima em
aproveitar o momento — Luiz falou humorado e soltou uma risada.
— Nem me lembre, viu?! Mas eu entendo. Ela está procurando uma
distração e fora que ela sempre foi louca para casar todos os filhos. — Dei
um pequeno sorriso.
— Vamos, que você precisa comer e descansar um pouco por causa
desse ferimento — disse bello, fazendo-me concorda.
Voltamos para sala como se não tivéssemos saído em momento
algum. Lucca, como sempre, assim que nos viu começou a soltar suas
piadinhas desnecessárias. Se eu estivesse mais próximo lhe daria um soco.
O jantar foi recheado por uma rica comida gostosa que só a casa de
nossa mãe era capaz de proporcionar. Pietro não queria comer o polvo com
batatas que tinha como prato principal, mas depois de mostrá-lo como era
gostoso, ele se pôs a comer de bom grado. Luiz Otávio era como se dizia na
Itália: buona forchetta. Uma expressão que usamos para dizer que a pessoa
é “bom de garfo”.
Não seria um jantar com a minha família se eu não dissesse que rolou
uma briga por comida. Luna e Lucca começaram uma discussão para saber
quem ficaria com último pedaço de panetone e para acabar com a briga
ridícula, nonna pegou duas taças de vinho e jogou uma na cara de cada um.
Dizendo ela que se joga água para separar a briga entre duas galinhas, mas
como ela estava com preguiça de encher o copo de água foi o vinho dela e
de mamma mesmo.
Em certo momento, depois do jantar, fui até o escritório atender
uma ligação de trabalho. Quando voltei para sala, encontrei minha mãe
cheia de álbuns de família. Fiquei me perguntando porque toda mãe gostava
de nos fazer passar por esse tipo de constrangimento mostrando nossas
fotos para respectivos namorados e namoradas. Assim que me viu, bello
abriu um sorriso e apontou para uma das fotos.
— Você era um bebê muito fofo, Filippo — disse sorrindo e eu revirei
os olhos.
— Mamma! Por que a senhora está mostrando essas fotos? —
perguntei e vi meus irmãos se aproximarem para ver a foto a qual Luiz se
referia.
— Oras! Eu preciso de motivos para mostrar como meus filhos eram
uma graça quando pequenos? — perguntou ela ofendida.
Balancei a cabeça negativamente.
— Eram não, mãe! Eu pelo menos contínuo uma graça. Olhe para
isso, Luiz. Olhe como eu sou muito lindo — disse Lucca muito próximo de
Luiz e eu me irritei.
— Acho melhor você se afastar do que é meu, ou eu lhe darei uma
surra! — disse enraivecido.
Lucca caiu na gargalhada.
— Eu ainda procuro entender o porquê desse seu ciúme — disse
Enzo com uma expressão de pura confusão.
— Já disse que você entenderá assim que se apaixonar de verdade —
respondi-o sério.
Voltei meus olhos ao meu bello que estava distraído olhando as fotos
e conversando com minha mãe.
— Tenho certeza que isso nunca acontecerá comigo, gosto de como
estou agora — disse Enzo e Luna o olhou debochada.
— Olhe lá, viu, Zuco?! Gravei muito bem o que você acabou de falar,
e pessoas do seu tipo que falam que nunca vão se apaixonar, são os piores
tipos de apaixonados — disse ela, causando uma irritação visível em nosso
irmão.
— Vou esperar por esse dia. Pode apostar que sim! — disse Lucca
sorrindo.
— E você, Lucca? Quando vai contar o que está acontecendo com
você? — perguntei e todos os olhos se voltaram para ele.
— Não está acontecendo nada! Não entendi a pergunta, estou bem
— disse ele rapidamente.
— Não vai me dizer que você encontrou alguém e nem contou para
sua família — reclamou mamma.
— Eu não encontrei ninguém, mãe. Só ando cheio de trabalho
ultimamente — falou sem jeito.
— Eu também já percebi que você está estranho, mas vou esperar
quando quiser se abrir conosco — disse Luna sentando-se no colo de nosso
irmão.
— Obrigado, mas nada está acontecendo.
Percebi seus olhos meio caídos.
— Tudo bem, vamos voltar para essas fotos aqui. Olhe só, Luiz, essa é
única foto que eu tenho dele Filippo pelado — falou minha mãe.
Respirei fundo.
— Olhe só isso! Eu tinha esquecido como esse ursão já tinha o pau
grande desde pequeno. Meu orgulho esses homens Aandreozzi! — disse
nonna fazendo todos rirem.
— Mamma! — repreendeu babo, seguido de mim. Ato esse, que foi
como sempre sem sucesso.
— Vocês dois são tão chatos, só não vou mandar vocês irem para
puta que pariu porque estou boazinha. — Nonna levantou-se do sofá. —
Agora vou dormir, estou muito cansada e preciso descansar minha beleza.
Ficamos mais um tempo conversando na sala de estar como uma
família normal. Quando senti que meu corpo precisava de um descanso,
chamei bello para subirmos para o quarto. Rita já havia levado as crianças
para dormir, então, antes de seguirmos para lá passamos para dar boa-noite
as crianças. Mas, ao chegar, constatamos que elas já haviam dormido em
um sono profundo.
Após ver as crianças, fomos tomar um banho. Bello me ajudou a tirar
minha roupa, já que eu estava sem poder movimentar a porra do meu
ombro esquerdo. Assim que terminamos nosso banho, coloquei uma calça
de moletom e bello um short muito escroto que marcava sua bundinha linda
e maravilhosa, enchendo-me com um tesão dos infernos. Sentado na cama,
o vi andar de um lado a outro somente com esse short absurdamente
provocante.
— Bello, você com essa roupa só me dá ainda mais vontade de te
foder — confessei com a voz rouca de tesão.
— Vai ter que esperar até se curar, ursão. Não vamos correr o risco
de você desmaiar enquanto estivermos no nosso momento — disse
sorrindo.
Trinquei os dentes de raiva.
— Vem aqui! Vou te mostrar quem é que vai desmaiar — disse
tentando tirar a porra da tipoia que imobilizava meu braço, mas Luiz me
impediu.
— Nem pense em uma coisa dessas. Eu estava brincando. Sei como
você é voraz na cama, ursão, mas nem pense em tirar isso aí —
repreendeume e juntou seus lábios aos meus. — Vamos dormir, amor.
— Vamos sim, estou precisando descansar um pouco — falei me deitando e
puxando bello para os meus braços.

Acordei no dia seguinte com a sensação de estar sendo observado.


Ao abrir meus olhos, percebi que Luiz estava olhando diretamente para o
volume da minha calça marcada por minha ereção matutina. Seu olhar
guloso já me dava a ideia do que ele pretende fazer. Nem ousei fazer
qualquer movimento, mas por dentro eu estava torcendo para meu amor se
decidir logo e chupar o meu pau com aquela sua boca faminta. Não esperei
muito e logo senti a mão de meu bello apertar minha coxa me fazendo
quase soltar um gemido.
— Bello... — Luiz pulou de susto. — Se você for fazer o que eu acho
que vai fazer, faça logo! Você está me matando aqui.
— Quer me matar coração, homem? Eu estava aqui tão distraído, só
te observando... — Luiz colocou a mão no peito.
— Você que quer me matar de provocação! — resmunguei puxando
ele de encontro a mim.
— Bom dia, meu amor! Dormiu bem? — perguntou Luiz com um
sorriso lindo.
Assenti.
— Poderia acordar melhor se você concluísse a sua linha de
pensamento. — Cheirei seus cabelos úmidos, que entregaram que ele havia
acabado de sair do banho.
Bello soltou uma risada rouca e gostosa, me fazendo parar o
perceber o quanto eu o amava.
— Amo você até quando está sendo um escroto de merda — disse
controlando a risada.
Ouvimos batidas na porta e Luiz levantou para atender. Assim que
ele abriu, duas crianças muitos felizes saltaram em cima dele lhe dando
beijos de bom-dia. Sentei-me na cama esperando para receber um pouco de
carinho de meus filhos e quando se afastaram de Luiz, vieram em minha
direção.
— Bom dia, meus bambinos felice! — desejei a eles, assim que recebi
o abraço dos dois.
— Bom dia, babo! — responderam juntos.
— Babo, a vovó fez pão flesco! Estamos te espelando pla tomar café
— disse Pietro, arrancando-me uma risada.
— Va bene! Vamos levantar antes que seu tio Lucca coma todo o pão
fresco feito por mamma — disse levantando-me da cama e indo direto para
o banheiro.
Tomei meu banho, fiz tudo o que tinha que fazer, coloquei minha
roupa sem precisar da ajuda de bello e depois de pronto, descemos para
tomar café com minha família.
O café da manhã dos Aandreozzi era sempre com muita conversa e
animação, mas percebi que Luna havia cordado de mal humor. Aprendemos
desde que minha irmã era nova, que não podíamos mexer com ela quando
estivesse daquele jeito. Já babo estava calado demais, perdido em
pensamentos. Sabia que ele devia estar pensando no que faríamos para
darmos o troco ao maledetto do Paolo.
Terminamos nosso café da manhã e fomos todos para o escritório de
babo, menos mamma e nonna que preferiram ficar com Pietro e Eduarda.
Nos acomodamos e esperamos todos os nossos seguranças de confiança se
juntarem a nós para que pudéssemos começar a reunião. Poucos minutos
depois, nossos seguranças chegaram e babo levantou-se da sua cadeira
chamando nossa atenção.
— Já é do meu conhecimento que vocês pretendem destruir o cassino
de Paolo — disse papai e nós assentimos. — Eu apoio totalmente essa
decisão, mas minha raiva é tão grande, que eu quero dar mais um pouco de
prejuízo ao bastardo doente.
— Eu já gostei disso! O que vamos destruir além do cassino? —
perguntou Lucca, sorrindo de orelha a orelha.
— Se controle, está muito visível que você está adorando isso —
disse Enzo e Lucca o olhou com raiva.
— Deixe de ser hipócrita, irmão. Nós odiamos aquele sujeito e vê-lo
perder algo é muito bom. Vai me dizer que é mentira? — perguntou Lucca.
Enzo negou com a cabeça.
— As duas madames já terminaram de interromper nosso pai?
Podemos continuar com a linha de raciocínio? — perguntei rude e os dois
reviraram os olhos.
— Leccaculo! (Lambe cu) — disseram meus três irmãos ao mesmo
tempo, usando uma expressão italiana para dizer que eu era um puxa-saco
chato.
Observei que todos os presentes se controlavam para não rir,
principalmente, bello.
— Basta! Vamos ao que interessa, va bene? — perguntou babo
batendo na mesa. — Descobri que justamente hoje um carregamento de
drogas e armas estão chegando para Paolo. Esse carregamento está vindo
de um negócio muito sujo que ele fez com os irlandeses — disse babo
fazendome entrar em alerta.
— Quem foi que falou com o senhor sobre esse carregamento? —
perguntei calmamente.
— Uma pessoa que não vem ao caso ser incluída no assunto agora —
falou meu pai rude.
— Mas o senhor não pode ir cegamente acreditando no que esse
informante lhe falou. E se for uma cilada? Já pensou se os policiais
estiverem de olho nessa entrega para pegar Paolo? — disse Enzo, fazendo
todos concordarem.
— Não acredito que seja emboscada, vocês sabem muito bem que
Paolo comprou a polícia daqui para que o deixassem fazer seus negócios —
disse babo bastante tranquilo.
— Tudo bem! Sendo assim, um de nós vai pegar o carregamento e os
outros ficaram com a parte do cassino — disse Lucca.
Neguei rapidamente.
— Paolo sabe que andamos sempre juntos, a nossa ida separada para
o cassino, vai criar algumas desconfianças e sabemos que desconfianças
gera reforço na segurança. Não podemos ter muito trabalho, as coisas têm
que ser bem organizadas e sem surpresas — falei chamando atenção total
para mim.
— Sei que você já pensou no que fazer. Vamos compartilhar, meu
irmão? — perguntou Luna.
Olhei para Enzo e lhe fiz um curto aceno de cabeça, pois seria ele
quem ficaria à frente de tudo.
— De início, pensei em três equipes — pronunciou Enzo. — A
primeira ficará responsável por instalar os explosivos na base estrutural do
cassino. A segunda equipe ficará responsável por fazer a distração e causar a
evacuação do prédio, não temos a intenção de ferir ninguém. A terceira
equipe será responsável pelo nosso transporte em segurança. — todos nós
concordamos.
— Temos que pensar que se vamos chamar atenção das pessoas, os
nossos seguranças têm que fazer presença também — disse bello, atraindo
nossa atenção para ele.
— Você levantou uma questão que eu e Filippo não tínhamos
pensado, coniato — disse Enzo e eu concordei.
— Nos fale o que você pensou, bello — incentivei-o.
— Daria muita suspeita se principalmente você aparecesse em um
lugar sem Elijah. — Apontou para mim. — Então, como você e seus irmãos
vão fazer presença no cassino para atrair Paolo, todos os respectivos
seguranças têm de estarem bem visíveis no local. Poderiam ficar os cinco
seguranças, cada um em um ponto estratégico para facilitar nossas saídas
separadas e assim confundir os capangas de Paolo — falou bello,
deixandome tão fascinado quanto surpreso. — E como está me parecendo
que Donatello quer ficar à frente da apreensão das mercadorias, podemos
montar uma equipe junto com Atílio e deixá-los fazer isso. Está bom assim?
Todos na sala estavam bestificados com os planos de Luiz.
“Dolce inferno! Questo ragazzo è stato fatto per me!” (Inferno doce!
Esse rapaz foi feito para mim!)
— Será que vende um Luiz Otávio em alguma loja? Puta merda! Eu
adoraria comprar um para mim — brincou Lucca sem noção e Enzo lhe deu
um soco no braço. — Ai! Essa porra doeu!
— Como Filippo está ferido, eu fiz o que ele gostaria de ter feito —
disse Enzo e eu o agradeci com um aceno de cabeça.
— Está ótimo assim! Obrigado pela ideia maravilhosa e por perceber
o que eu queria, mio figlio — disse babo deixando Luiz muito envergonhado.
Após a linha de pensamento de meu bello, terminamos de montar o
nosso esquema. Como Enzo conseguiu a planta do cassino, ficou muito fácil
para nós resolvermos o que fazer. Então, tudo ficou decidido da seguinte
forma: as equipes de Elijah e Christian ficariam para instalação dos
explosivos. A equipe de Brian ficaria para distração e evacuação do local. As
equipes de Timóteo e Alejandro ficariam com os nossos transportes e a
melhor rota de fuga.
Babo ficou formulando a melhor forma para que seu plano desse
certo. Esperava que tudo saísse como tinha que ser e que pudéssemos voltar
para casa sem nenhuma surpresa indesejada. Quando todos já estavam
saindo do escritório, babo chamou nossa atenção quando gritou o nome de
Luiz.
— Eu queria te dar esse presente no dia do seu casamento com o
meu filho, mas como hoje você vai se aventurar junto conosco, nada melhor
do que ir já preparado — disse ele estendendo uma pequena maleta
prateada em direção à Luiz, que aceitou com uma expressão confusa no
rosto.
Eu e meus irmão já sabíamos muito bem o que havia dentro da
maleta. Luiz apoiou a mesma sobre a mesa e abriu-a. Seus olhos se
arregalaram.
— Eu… Eu não sei o que falar! Nossa... Elas são lindas! — falou
desencaixando uma das suas Glock da proteção aveludada. Com
curiosidade, ele a olhou de perto.
— Você faz parte dessa família, Luiz Otávio. Nada mais justo do que
eu lhe dar o presente que já era seu. Filippo, trate logo de tirar o porte de
arma do seu noivo — disse papai.
Luiz deu a volta na mesa, pegando meu pai de surpresa com um forte
abraço.
— Non avrei potuto scelto una famiglia migliore di aderire. Grazie!
(Eu não poderia ter escolhido família melhor para fazer parte. Obrigado!) —
disse bello assim que se separou do abraço.
— Justamente hoje que estou de TPM, papai resolve fazer uma coisa
dessas? Assim não tem como não chorar — disse Luna com indignação antes
de deixar o escritório após dar um abraço em meu bello.
Depois de receber o presente de meu pai, Luiz ficou todo sorridente,
parecendo uma criança que tinha acabado de sair do parque de diversões.

O almoço como sempre foi maravilhoso. Mamma e nonna na cozinha


formavam um time excepcional. Meus filhos falaram que também ajudaram
cozinhar, fazendo-me ficar feliz com a felicidade deles.
Depois do descanso merecido após o almoço, meus irmãos decidiram
jogar bola no jardim com as crianças. Os times ficaram assim: no time um
estava babo, Luti, Enzo e Pietro. No time dois ficou Lucca, Luna, mamma e
Duda. Nonna decidiu que seria a juíza da partida. Aquele foi o jogo mais
louco que eu já vi na minha vida. Lucca começou a reclamar por ficar no
time das mulheres, fazendo mamma lhe atirar o sapato na testa. O time de
babo eram “os sem camisas”, o que deixou Pietro todo feliz por mostrar que
era forte como o pai, o tio e o avô.
Nonna começou a reclamar dizendo que meu pai estava muito velho
para jogar bola como um menininho e que se ele pisasse na bola e caísse, ela
iria filmar e colocar no YouTube. No final do jogo, eu já não sabia mais porra
nenhuma do que estava acontecendo.
Ao cair da noite, todos já estavam arrumados para ir ao cassino.
Enzo, Lucca, bello e eu, estávamos vestidos usando smokings. Minha
sorellina estava usando um vestido vermelho muito do indecente que
mostrava muita coisa. Meus irmãos e eu queríamos fazer ela subir e trocar
de roupa, mas mamma e nonna quase nos bateram. Ficava me perguntando
onde ela escondeu sua arma. Não! Na verdade, eu não estava nem um pingo
interessado em saber. Isso não era da minha conta.
Verificamos nossos coletes, munições e nosso comunicador, que foi
uma ideia brilhante de Lucca. Confesso que isso ajudaria muito com o plano.
Saímos com a formação que Brian organizou e assim que chegamos
na frente do local, entramos todos juntos na maior tranquilidade. Nossa
entrada chamou atenção de todos os presentes. Como já sabíamos, o
cassino tinha muita gente suja da alta sociedade italiana que perdia seu
tempo e dinheiro naqueles jogos de azar medíocres.
Os seguranças ficaram em suas posições e meus irmãos foram pegar
alguns drinques, enquanto eu fiquei junto ao bello. Caminhamos de
encontro ao Enzo, no caminho fomos barrados por Enrico Ceccato, um
sujeito ridiculamente simpático e dono de vários bordéis com meninas
menores de idade como atrativo. Aquele homem inescrupuloso obrigava as
jovens garotas a venderem seus corpos.
— Oras quello che vediamo qui. Come è la tua vita in Brasile il mio
vecchio amico? (Oras, o que vemos por aqui. Como vai sua vida no Brasil,
meu velho amigo?) — perguntou Enrico.
Olhar para ele me causava nojo.
— Va bene, non che siano affari tuoi. (Muito bem, não que isso seja
da sua conta.) — respondi impassível.
— E questo piccolo uomo accanto a lei. Non andare a presentarmi? (E
esse pequeno homem ao seu lado. Não vai me apresentar?) — perguntou
ele.
Lacei com meu braço a cintura de bello.
— Non voglio inviare il mio marito da introdurre a qualcuno come te.
(Não vou sujeitar o meu marido a ser apresentado a alguém como você.)
O nojento soltou uma risada debochada.
— Un bel marito che hai. Non sapevo che le voci che rotolavano là
fuori fossero vere (Arranjou um belo marido. Não sabia que os boatos que
rolavam por aí eram verdade) — disse analisando o corpo do meu bello.
Eu só não lhe soquei, porque tinha coisas mais importantes para me
preocupar, como por exemplo: a entrada de Paolo naquele exato segundo
no cassino.
Paolo Aandreozzi continuava do mesmo jeito que a última vez que
tive o desprazer de cruzar com ele. Cabelos grisalhos e penteados para trás,
olhos azuis como os de babo e os meus, corpo forte que mesmo de roupa
dava-se para notar, barba por fazer também grisalha, um grande sorriso de
dentes alinhados, mas não tão brancos por causa dos charutos fedorentos
que ele fazia questão de fumar.
Olhei para seu rosto risonho e continuei sem esboçar nenhuma
reação. Não podia falar o mesmo de Luiz que o encarou literalmente de boca
aberta. Minha vontade era de lhe dar umas sacudidas para o acordar, mas
fiz melhor e lhe dei um beliscão discreto na cintura.
— Quando ho saputo che la mia bella nipoti erano qui, io non riuscivo
a crederci. Questo godendo la notte gioco? (Quando eu soube que meus
adorados sobrinhos estavam por aqui, não pude acreditar. Está gostando da
noite de jogos?) — perguntou o homem que eu mais odiava na minha vida
inteira. — Questo deve essere Luiz Otavio il suo futuro marito. quello che
dicono è vero Filippo, suo marito è molto bello. (Esse deve ser Luiz Otávio. O
que falam é verdade, Filippo, seu futuro marido é muito bonito.) — Paolo
lançou um sorriso para bello, que não escondeu a cara enojada.
— La tua opinione non significa nulla per me! (Sua opinião não quer
me dizer nada!) — falei calmamente.
— C'è un problema qui, fratello? (Algum problema aqui, irmão?) —
perguntou Enzo.
Eu sequer havia me dado conta que meus irmãos estavam ao meu
lado.
— Come sei forte e potente! Guardati, Enzo e Lucca si sono un
Aandreozzi legittima. E la principessa Luna ogni giorno più simile alla mia
amata Arianna. (Como vocês estão fortes e poderosos! Olhe só para vocês.
Enzo e Lucca, vocês estão uns legítimos Aandreozzi. E você, princesa Luna,
está a cada dia mais parecida com minha adorada Arianna.)
Não sabia se aguentarei ficar tão perto daquele desgraçado e não lhe
dar um tiro. Meus olhos se voltaram para os meus irmãos que continuaram
sem esboçar nenhuma emoção.
— Si può parlare zio, semplicemente non toccare le mani su di me
(Pode falar, tio, só não encosta suas mãos em mim) — disse Enzo, quando
Paolo o tocou no rosto, em forma de cumprimento.
— Guardate il modo di parlare con il capo della Finastella (Olhe o
modo que você fala com o chefe da Finastella) — disse o executor da máfia.
Se eu não estava enganado, seu nome era Frank Attenezi.
— Mi danno un cazzo su di esso! Quello che il cane? (Estou pouco me
fodendo para isso! O que a cadela vai fazer?) — provocou Enzo, querendo
avançar em Frank.
Luna tomou frente, mas mesmo assim os dois continuaram a se
encarar como se fizesse uma promessa com o olhar.
— Cosa sta succedendo? (O que está acontecendo?) — perguntou
Enrico assustado, despertando Frank e Paolo. Sequer me lembrava mais da
existência daquele sujeito ao nosso lado.
A distração começou no tempo que tínhamos cronometrado para
acontecer. Uma fumaça branca e espessa começou a sair dos ductos de ar,
fazendo com que as pessoas do cassino ridículo começassem a dizer que o
local estava pegando fogo. Olhei para os meus irmãos e bello, em sinal para
que pegassem suas armas por precaução. Nunca se sabia quando iriamos
precisar.
Aproveitei que Paolo estava tentando acalmar seus clientes e dar
ordem aos seus capangas, e mandei Brian, através do comunicador, levar
bello para onde seria o nosso ponto de encontro. Como um ótimo parceiro
que era, Luiz foi sem muitos questionamentos.
Procurei por meus irmãos e cada um já estava saindo tentando não
ser notado. Sorrateiramente me aproximei de Paolo.
— Se tu morissi oggi sarei molto felice, ma spero di poter uccidere
con le mie mani. Questo è solo il ritorno del regalo di mia mamma. Fino a
quando il nostro prossimo incontro zio Paolo (Se você morresse hoje, eu
ficaria muito feliz, mas espero poder te matar com minhas próprias mãos.
Isso é só o retorno do presente que você deu para minha mamãe. Até o
nosso próximo encontro, tio Paolo) — disse em seu ouvido. Afastei-me e vi
seu rosto endurece com a raiva mais crua que existia.
Saí do local às pressas com Elijah no meu encalço. Pelo tempo
acertado, dali a pouco aconteceria a explosão. Quando eu estava chegando
perto do lugar onde os carros estavam, foi-se ouvido o estrondo dos
explosivos. Não perdi tempo para ver a nossa obra de arte e continuei a
seguir meu caminho.
— FILIPPO! Vamos logo! — gritou Lucca no volante.
Assim que entrei no carro, ele acelerou. Bello se jogou nos braços
averiguando se eu estava bem.
— Babo ligou e disse que tudo deu certo, o caminhão virou uma
massa de ar quente assim como o cassino do maledetto — informou Enzo
entredentes.
— Espero que esse homem tenha morrido junto a explosão — disse
bello ainda em alerta.
— Vamos para casa, eu preciso dormir. Essa agitação toda cansa a
minha beleza — disse Luna imitando nossa nonna, fazendo meu bello cair na
risada.
Voltamos todos juntos para casa, mesmo sabendo que ainda não
havia acabado. A sensação de ter me vingado pelo o que ele causou a minha
mãe, era a melhor possível. Agora, só me restava esperar pelo dia do meu
casamento, o qual oficializaria o amor que sentia por Luiz.
Acordar no dia seguinte após tudo o que aconteceu, foi como se um
peso tivesse saído dos meus ombros. Estava bastante aliviado que depois do
atentado contra Paolo, conseguimos chegar em casa sem nenhum
problema. Preciso dizer que jurava que os homens dele iriam nos seguir.
Ficar cara a cara com o monstro que tentou me matar por diversas
vezes, não foi uma tarefa fácil. Ainda mais ele sendo tão bonito do jeito que
era. Nunca imaginei Paolo Aandreozzi daquela maneira. Acho que por ele ser
um homem horrível, minha mente o fantasiava a pessoa mais feia que já
existiu, uma coisa que o energúmeno não era.
Fiquei parado ali olhando para ele, sem acreditar até que Filippo me
deu um beliscão e me acordou. Oh, beliscão doído do caralho! Olhei para
todos os lugares com bastante atenção e pude ver que aquele cassino foi
feito com muito esmero, pois o luxo daquele lugar era encantador.
Logo na entrada do local, dava-se para ver as mesas de jogos de todos
os tipos, mulheres perambulando por todo o lugar servindo charutos e
bebidas para os jogadores, ou sentadas em seus colos fazendo carinho nos
seus rostos. Tudo naquele ambiente me chamou atenção, mas tudo veio
abaixo logo depois.
Se Paolo tivesse o amor que Filippo falou que ele sentia pelo cassino
luxuoso, tinha certeza que a raiva devia estar lhe consumindo. Isso se ele
não estivesse morto. Esperava no fundo do meu coração que o fogo o
tivesse consumido, assim como o seu cassino. Seria muito bom não viver
mais com medo de que ele poderia fazer mal a nossa família. Meus filhos
mereciam viver em um ambiente bom e sem correr risco de vida.
Depois do almoço com toda a família, minha cunhada, sogra e nonna
resolveram me levar para fazer compras. Elas disseram que precisava
comprar o terno para o dia do meu casamento que seria no fim de semana.
Ainda estava sem saber o que falar quando se tratava do meu casamento
com Filippo. Sabia que o meu relacionamento com ele era recente, mas o
amor, carinho, respeito e admiração que eu sentia por ele, era tão imenso
que não me via tendo um casamento com outra pessoa. Meu incrível ursão
me completava em todos os sentidos. Com ele, descobri o que era ter uma
família enorme e amorosa. Por essas e outras coisas me casaria sem nem ao
menos titubear, pois ele era o meu amor.
Estávamos há horas andando por todos os lados na incrível Milão,
que por mais que eu ainda não tivesse tido a oportunidade de passar por
todos os pontos turísticos e conhecer o lugar que a família Aandreozzi
pertencia, pude ter o gostinho de turistar em partes a cidade perfeita.
Andando pela Monte Napoleone, Luna me disse que era considerada
uma das dez ruas de compras mais luxuosas do mundo e, embora as ruas
não fossem muito longas, a quantidade de lojas concentradas por ali era
enorme. Paramos para fazer um lanche e eu já sentia-me muito cansado de
andar por todos os lugares com uma penca de segurança para fazer a nossa
proteção.
— Temos mais alguma coisa para fazer ou já podemos ir para casa?
— perguntei desanimado.
— Está reclamando demais! Porém, temos mesmo que ir, você tem
que descansar — disse nonna com um sorriso sacana e eu entrei em alerta.
— Onde a senhora quer chegar com isso, nonna? — questionei meio
desconfiado.
— Achou que você iria casar sem nem ao mesmo ter uma despedida
de solteiro? Claro que não! — respondeu Arianna toda sorridente, fazendo
as outras rirem.
— Filippo não vai gostar nada de saber que essa despedida vai
acontecer — falei pensando na cara irritada que meu ursão faria.
— Pense comigo meu caro, Luti. Imagine a foda incrível que vai ser
quando o seu ursão souber. Impedimos Filippo de dormir com você esses
últimos dias e hoje será sua despedida de solteiro, a qual ele só ficará
sabendo quando estivermos lá, ou seja, estamos te ajudando a ter um sexo
selvagem com meu neto irritadiço — falou nonna com malícia. Comecei a
considerar seu ponto de vista.
Logo pela manhã, naquele dia, as mulheres Aandreozzi se juntaram
para tirar Filippo de casa e enviá-lo para o apartamento de Enzo. Quando
elas fizeram isso, foi a maior briga. Filippo não queria ir de jeito nenhum,
disse que isso de afastá-lo de mim assim, sem motivos, não existia. Depois
começou a dizer que tinha que me proteger e que as crianças não dormiam
sem seu beijo de boa-noite. Filippo reclamou e esperneou, até que tirou
nonna do sério. Ela pegou um vaso de flores sobre a mesinha de centro da
sala e ameaçou jogá-lo nele. Não posso mentir, fiquei com muita pena de
Filippo, mas a cena cômica descontraiu meu sentimento de dó.
— Temos que ir, pois tem uma surpresa para você lá em casa — disse
Luna, atraindo minha atenção para ela.
— Que surpresa é essa? — perguntei na mais pura
curiosidade.
— Só saberá quando chegarmos. E pare de ficar me perguntando! —
disse Luna irritada, pois ela sabia que eu tinha essa mania de perguntar o
tempo inteiro quando estava curioso.
— Vamos. Donatello e Lucca ficaram com as crianças. Estou com
medo do que podemos encontrar quando chegarmos em casa — falou
Arianna e nós rimos.
— Babo é responsável, mas Lucca é tão criança quanto Pietro e Duda
— disse Luna bebericando seu suco.
— Não sei se eu posso concordar com isso. Don é sério, mas quando
quer sabe ser tão ridículo como os filhos — disse nonna.
Luna a olhou sem acreditar no que a avó dizia.
— Filhos? Eu estou fora disso aí, sou muito calma e nada estressada
— disse Luna fazendo eu, Arianna e nonna rirmos.
— Acho que ainda não vi uma pessoa calma nessa família — disse
controlando minha risada.
— E você que era todo calminho e agora, olhe só para você! Já sabe
até manusear uma arma — retrucou Luna cruzando os braços.
— Eu continuo sendo calmo, minha cunhada linda. — Dei-lhe um
beijo no rosto.
— Um grande tapeador, isso que você é. Vamos logo que a surpresa
já deve estar lá em casa — disse ela levantando-se da mesa.
Terminamos de comer e esperamos a boa vontade de Brian,
Alejandro, Atílio e Jeremiah, para podermos sair do local. Depois de toda
verificação e da busca dos carros, finalmente estávamos ganhando o
caminho para casa de meus sogros.
Apesar de ter sido um dia muito cansativo, cheio de trocas de roupas,
alfinetadas e ser observado pelos olhos avaliadores das mulheres
Aandreozzi, havia sido muito legal. Toda vez que saia com elas, não tinha
como o dia ser ruim. Todas as três com suas diferentes personalidades eram
incríveis.
Chegamos em casa e ao entrar na sala, logo tomei um susto ao ver
Beto e Ângela sentados no gigantesco sofá de Arianna, conversando com
Pietro e Eduarda. Assim que as crianças me viram, Pietro correu em minha
direção na maior felicidade.
— Papai! Olhe só quem chegô! Tio Beto disse que tava de xaudade
do Petro — disse meu ursinho saltitante.
— Não tem quem não sinta falta do Pietro, porquê Pietro é um
ursinho muito lindo — falei enchendo meu filho de beijos.
— Como assim você vai casar e eu só fico sabendo disso quando
foram até minha casa me sequestrar? Muito obrigado pela consideração!
Está vendo isso, Anjito? Nossa amizade não vale de nada para esse sujeito —
disse Beto no maior drama.
Revirei meus olhos para ele.
— Deixe de idiotice, Roberto Cabral! Fique sabendo que eu só soube
que iria me casar, quando cheguei aqui — contei abraçando Angel.
— Estou muito feliz por você, amigo. Conhecer a Itália era um grande
sonho meu, estou muito feliz — disse Ângela e eu lhe abracei novamente.
— Caraca, mano! Eu não tinha noção que Luna me amasse tanto ao
ponto de ir me buscar — disse Beto fazendo minha cunhada se irritar.
— Pensi che l'ultimo pacchetto di biscotti, — disse Luna irritada.
— Se vai me xingar, Lunita, me xingue em uma língua que eu
conheço — retrucou Beto sorridente.
— Ela disse: “você se acha a última bolacha do pacote, Beto”, mas
não liga, ela gosta de você — falou minha sogra, indo de cumprimento aos
meus amigos.
— Eu sempre soube que ela gostava de mim, isso tudo dela é charme
— falou ele.
Minha sogra negou com a cabeça sorrindo em divertimento.
— Como foram de viagem? Estão muito cansados? — perguntou
Arianna.
— Foi tudo maravilhoso e confortável. Obrigada pela hospitalidade,
Sra. Aandreozzi — respondeu Angel com um sorriso no canto dos lábios.
— Já falei que vocês podem me chamar de Arianna e fico feliz que a
viagem foi tranquilo — disse ela.
Ambos assentiram.
— Quando vai deixar eu arranjar uma mulher bem gostosa para você,
Beto? — perguntou nonna.
— Quando a senhora quiser, nonna. Precisamos sair para senhora me
apresentar as noites quentes da Itália — disse meu amigo folgado, fazendo
os olhos de nonna brilharem.
— Hoje tem um lugar perfeito para satisfazer todos os gostos, vai ser
a despedida de solteiro de Luti, mas também vamos nos divertir. Até você,
Angel, vamos arranjar uma mulher bem gostosa para você — nonna falou
com toda malícia existente em seu ser.
— A senhora é a melhor, nonna! — disse Beto abraçando-a.
— Eu também quero sair com vocês! Estou precisando foder! —
gritou Lucca vindo em nossa direção e deixando Arianna irritada.
— Controle sua boca perto de seus sobrinhos! — bradou ela.
— Mi dispiace, mamma! (Me desculpe, mamãe!) — desculpou-se
dando um beijo na bochecha da mãe. — Também quero sair com vocês. Está
impossível ficar perto de Filippo hoje, o homem quando está com saudades
de seu bello fica mais chato do que o normal.
— Posso imaginar, ele não pode nem sonhar com a nossa saída de
hoje — disse Luna.
Assenti firme.
— Ele vai me matar se souber que eu quero sair hoje à noite, ainda
mais após os atentados de Paolo — falei um pouco pensativo.
— Vai matar sim, mas só se for de outro jeito — falou nonna
soltando uma risadinha sugestiva.
— Vou preparar um lanche para seus amigos, Luti. Tenho certeza que
devem estar querendo conversar — disse Arianna, antes sair com os meus
filhos.
— Grazie mamma! — agradeci e ela saiu toda sorridente.
Todos saíram me deixando à vontade com meus amigos, tínhamos
muitas coisas para conversar, ainda não tinha conseguido entrar em contato
para perguntar se foram eles que deram meu novo endereço para minha tia
Amélia. Sentei-me no sofá e meus amigos me encararam. Respirei fundo e
me aconcheguei no estofado.
— Luti você está muito pensativo. O que está acontecendo? Já sei!
Você não quer casar com o senhor mandão, não é? — perguntou Beto.
Arregalei os olhos com sua suposição.
— Claro que não, Beto! Eu amo Filippo e vou adorar me casar com
ele — disse rapidamente.
— Então o que é que você tem? Tenho que confessar que olhar para
sua cara, me fez pensar o mesmo que Beto — disse Angel.
— Eu só gostaria de saber se algum de vocês dois deram o endereço
da minha nova casa para minha tia Amélia. E aí? Foram vocês? — perguntei
meio sem graça.
— Não foi eu! Ela andou me ligando um tempo atrás, mas como você
me disse que não queria conversar com ela, eu não falei nada sobre você
para sua tia — disse Angel logo de imediato.
— Foi eu! Me desculpa, Luti, mas sua tia veio toda chorosa falando
que queria te encontrar para conversar. Ela disse que precisava pedir perdão
por tudo que lhe falou e que estava muito arrependida — confessou Beto.
Abaixei a cabeça respirando fundo. — Não vai me dizer que ela foi lá brigar
contigo outra vez?
— Até hoje não entendi o que tia Amélia foi fazer na minha casa.
Tudo o que ela me falou sobre meus pais estarem vivos, não pode ser
verdade — disse com pensamento longe.
Tomei um susto quando vi Beto levantar do sofá em um
pulo.
— Como assim; “seus pais estão vivos”? Sua tia é louca! — falou ele
alto e nervoso, encarando-me com olhos arregalados.
— Não faço ideia, Beto. Ela veio querendo conversar sobre isso,
depois ficou me pedindo desculpas, falou que não estava mais com Paulo e
que queria participar da minha vida.
— Isso é tudo mentira dessa mulher! Como uma pessoa pode ser tão
cachorra a esse ponto? — perguntou Beto revoltado.
— Como assim, Beto? O que você está querendo dizer? — perguntou
Angel curiosa.
— Foi o meu pai quem ajudou nos transmites do velório de seus pais,
Luiz. Sinto muito falar sobre isso, mas não tem como seus pais estarem
vivos. Na época, me lembro bem de minha mãe falar que queria cuidar de
você, pois foi muito triste perder os pais daquela maneira. Mas sua tia disse
que cuidaria de você — falou Beto irado.
— Então, por que será que sua tia inventou essa história maluca? —
perguntou Ângela confusa.
Neguei com minha cabeça, não sabia o que dizer.
— Não faço ideia! Eu fico pensando nisso o tempo inteiro e nada
muito significativo vem à minha mente — falei cabisbaixo e ouvi Beto
resmungar algo que não entendi. — O que disse, Beto?
— Eu disse que sua tia é uma vadia mentirosa. Eu a vi com o marginal
do Paulo antes de vir para cá — contou ele, assustando-me com a novidade.
— Ela me jurou que eles não estavam mais juntos! — disse irritado
com os punhos cerrados.
— Você sabe que Silvinho mora perto da casa dela, então, outro dia,
eu estava indo lá bater um papo com ele e vi os dois saindo de carro. Tenho
certeza que aquele carro era do Paulo — falou Beto convicto, deixando-me
bastante confuso.
— Como é possível que ela tenha mentido para mim dessa maneira?
Vocês precisavam ver como ela chorou! — falei derrotado.
— Isso está muito estranho, meu amigo. Primeiramente, que eu
nunca imaginaria que sua tia pudesse ser desse jeito — disse Angel.
— A cada dia que passa, me surpreendo mais e mais com ela. Porém,
é sempre daquele pior tipo de surpresa — falei com tristeza.
— Você não pode pensar nessas coisas ruins, Lutito. Principalmente
hoje que é sua despedida de solteiro! Vamos nos divertir muito — disse
Ângela arremessando uma almofada em minha direção, tirando-me dos
pensamentos confusos e deprimentes sobre minha tia.
— É verdade! Hoje vamos te embebedar novamente — brincou Beto
com um sorriso sacana.
Meu corpo inteiro se arrepiou com as lembranças da minha primeira
ressaca.
— Nem pensar! Você está louco, Beto? Agora é que estou feito! Você
saí do Brasil para vir até aqui me causar problemas? — perguntei com
indignação.
— Estou só aproveitando o momento, meu caro amigo e Lutito do
italiano casca grossa — disse ele fazendo Angel gargalhar.
— Sua sorte maior é que colocaram Filippo para ficar bem longe de
mim até o dia do casamento, porque senão, ele estaria te matando neste
momento — disse tentando ficar sério, mas era impossível.
— Porra nenhuma! Ele pode ser um grandão assustador, mas eu não
me abaterei com a sua cara feia — disse Beto estufando o peito.
— Você está falando isso porque ele não está aqui — disse Angel e
eu tive que concordar.
— É claro! Quem quer bater de frente com aquele homem? —
perguntou ele sorrindo. — Luti, você não sabe dá maior — chamou minha
total atenção para ele, mudando de assunto bruscamente. Lá vinha fofoca.
— Caralho! Esse rapaz é pior que qualquer vizinha fofoqueira — disse
Angel bufando com indignação.
— Calada, Anjito! Você adora quando conto os babados — falou Beto
fazendo uma voz fina.
“Ridículo!”
— Desembucha, porra! — gritou eu e Angel em uníssono.
— Agressivos do caralho! — resmungou meu amigo, mas logo
começou a falar. — Fui ao Benedetti jantar com algumas pessoas lá da
empresa e que confesso que me senti o empresário de sucesso. Marco
apareceu todo sorridente falando sobre você e de como era sortudo por
laçar um Aandreozzi. Disse também que estava feliz por você e tudo mais.
Não disse nada a ele, mas no final do jantar, quando fui me despedir, vocês
acreditam que Marco me chamou para sair com ele? — Beto falou fazendo
uma careta.
Olhei para Ângela que retornou o olhar e imediatamente caímos na
gargalhada.
— E você? Você falou o quê? — Ângela perguntou ainda rindo.
— Caralho, mano! O que você acha que eu iria dizer? Claro que disse
que não! — respondeu ele cruzando os braços irritado.
— Coitado do Marco! Ele queria dar uma saída amigável com você,
Beto. Principalmente agora que você é um empresário de sucesso — falei
rindo da feição que meu amigo estava fazendo.
— O mal de vocês é esse! A pessoa conta uma coisa e acaba sendo
motivo de chacota. Quer saber, eu vou procurar a Arianna e nonna para
comer essa comida italiana maravilhosa que elas fazem — disse Beto antes
de sair sem rumo. Fiquei olhando para ver onde ele iria. Do nada ele parou e
coçou a cabeça. — Onde fica a cozinha nessa mansão que mais parece um
museu?
— Vamos logo todos juntos! Tenho de ir contar essa história de
Marco para Luna — falei pegando Angel pelo braço e guiando-os em direção
à cozinha.
— Pera aí, Luti! Não pode ficar contando nossos assustados para
minha futura esposa, cara — gritou Beto vindo atrás de nós.
Encontramos com Arianna, nonna, Luna, Rita e as crianças na
cozinha. Lá mesmo ficamos conversando e comendo. Havia tanta comida
gostosa, que daquele jeito eu acabaria engordando. Assim que voltasse para
o Brasil, teria de correr atrás do prejuízo.
Não demorou muito e Lucca se juntou a nós. Um pouco mais tarde,
jantamos e eu subi com meus filhos para ajeitá-los para dormir. Eles ficaram
me perguntando sobre Filippo e eu tive que ligar para que pudessem
conversar com o meu ursão. A primeira a falar com ele foi Duda.
— Babo, por que não está em casa? Sentimos sua falta. Tio Beto e Tia
Angel estão aqui na casa de nonna — contou Duda que ouvia
atenciosamente tudo que Filippo falava do outro lado da chamada.
— Tudo bem, babo. Buonasera e amo você! — continuou minha
ursinha e passou o celular para o seu irmãozinho saltitante.
— Puxa, babo, eu estou com xaudade! Você está com outla
namorada? — perguntou Pietro e eu arregalei os olhos de surpresa. —
Porque não pode! Você vai casar com o meu papai! Eu batelia na piliguete
— esbravejou.
Assustei-me ainda mais. Onde ele teria aprendido aquelas palavras?
— Está bem! Eu palo de falar piliguete — meu ursinho disse
inconformado. Sem dúvidas Filippo estava corrigindo-o. — Bonusela babo.
Te amo também — despediu-se com seu italiano fofo e passou o celular
para mim.
Pedir para Filippo esperar um pouquinho na linha, coloquei cada um
dos meus bens mais preciosos na cama, dei um beijo de boa-noite em cada
um e saí do quarto. A caminho do antigo quarto de Filippo, começamos a
conversar.
— Você ouviu nosso filho falar a palavra “piriguete”? Esse menino
está muito grudado com nonna — disse meu amor com sua voz rouca e
gostosa, fazendo-me escapar um suspiro — Bello, você está me ouvindo?
— Estou sim, ursão! Estou com saudade de você — deixei escapar.
— Nem me fale uma coisa dessa, bello. Não sei por que essas
mulheres inventam essa coisa de não ficar próximo antes do casamento. Que
besteira! — disse Filippo e percebi de longe a sua irritação.
— Falta pouco, ursão. Logo estaremos juntos novamente. Controle
um pouco esse seu gênio, Lucca estava reclamando — falei rindo.
— Ele acha que me engana! Lucca fugiu do apartamento de Enzo,
porque Luigi acabou de chegar e vai ficar até o nosso casamento.
Meus olhos se arregalaram. Não estava acreditando que Lucca estava
fugindo de Luigi.
— Como assim, amor? Por que Lucca fugiria do Luigi? — perguntei
no maior fingimento.
Ursão soltou uma risada gostosa do outro lado da linha.
— Não finja que você não sabe de nada, bello. Mentir não combina
com você. Amore mio, você é péssimo nisso! — disse ele de um jeito
amoroso e engraçado.
— Tudo bem! Eu não fazia ideia que Luigi iria vir para o nosso
casamento relâmpago. — Olhei para roupa sobre a cama, que já estava
separada para que eu pudesse me arrumar para despedida. Arianna e o seu
jeito supermãe de ser.
— Nem eu, foi Enzo quem o convidou. Pelo que Duda me falou, seus
amigos também estão aí, certo? — perguntou Filippo.
— Sim, Luna mandou buscá-los e quando eu cheguei da rua com sua
mãe, eles já estavam aqui.
Ouvi a voz de Enzo do outro lado da linha chamando por Filippo.
— Per restare a chiamarmi, dannazione! Non vedi che sto parlando
con il mio bello (Pare de ficar me chamando, porra! Não está vendo que
estou conversando com o meu bello) — reclamou para Enzo.
— Avanti presto! Per andiamo fuori e hanno un appuntamento.
(Adiante logo! Pois vamos sair e temos hora marcada.)
“Como assim ele vai sair?”
Ouvi Filippo dizer um “va bene” e voltar a falar comigo.
— Bello, eu tenho que ir. Mais tarde ligo novamente para
conversarmos sobre o que Beto falou sobre sua tia vagabunda.
Minha curiosidade estava em alta.
— Onde vai com Enzo e Luigi? — perguntei antes que eu pudesse
controlar minha boca.
— Não faço ideia, bello. Só sei que Enzo me disse que tinha algo a me
mostrar — respondeu em confusão.
Nós despedimos e mesmo com muita curiosidade para saber onde o
meu futuro marido iria com os dois homens que eu sabia que eram bastante
cafajestes, fui tomar meu banho. Depois de um banho relaxante, saí do
banheiro com a toalha amarrada na cintura, peguei uma cueca e a vesti
abandonado a toalha em seguida.
Coloquei a calça jeans de lavagem escura e corte reto, uma camisa
branca, um blazer azul-marinho e calcei sapatos esporte fino branco. Depois
de arrumar meus cabelos, passei um perfume delicioso que minha sogra
havia feito especificamente para mim.
Mais cedo, Ariana havia vindo até mim com um perfume novo que
ela estava criando e disse que a essência havia sido desenvolvida
especialmente para mim. Minha felicidade foi muito grande e quando eu
senti as notas do perfume, fui ao céu e voltei. O cheiro era masculino e
delicado, trazia uma leveza incrível. Nem tive palavras para dizer a minha
sogra o quanto havia amado o presente que ela me deu com tanto amor.
Pronto, saí do quarto para encontrar com o restante do povo. Não
sabia o porquê, mas estava com o pressentimento que aquela noite seria
uma completa loucura.
Cheguei na sala e todos já estavam me esperando, cada um com sua
beleza impressionante. Nonna e Arianna estavam muito chiques, mais ao
mesmo tempo casuais. O ar de mulher importante se fazia presente em
todos os momentos daquelas duas mulheres.
Nonna estava com um vestido cinza na altura dos joelhos e Arianna
de vestido preto moldando perfeitamente seu corpo magro com curvas
acentuadas. Luna estava deslumbrante com um short preto e uma blusa
branca folgada ao tronco, presa na cintura e de modelo frente única
deixando suas costas nuas. Nos pés calçava um salto de tiras preto e bem
alto. Angel estava usando um vestido verde de mangas compridas todo
colado ao corpo e saltos altíssimos. Aquelas mulheres estavam com muita
vontade de causar um grande impacto naquela noite.
Os homens também não ficaram de fora do luxo e elegância. Lucca
estava com uma blusa de mangas três quartos de cor preta bem justa ao
peitoral musculoso, uma calça de couro que não tinha como não observar
sua bunda e coxas grossas e sapatos sociais. Surpreendi-me com a figura de
Beto que estava impecável. Ele havia deixado seu estilo menino-moleque
para apostar no social. Meu amigo estava vestindo calça jeans de lavagem
azulclaro, uma camisa jeans um tom mais escuro que a calça e sapatênis de
camurça marrom-escuro.
De repente, estranhei o fato de não ter visto Donatello ainda, mas
minha sogra disse que ele havia resolvido ir se encontrar com Enzo e Filippo.
Segundo ela, seus filhos e o marido haviam saído. E claro que, assim como
eu, minha sogra não gostou muito daquilo.
Ao ouvir nossa conversa, nonna mandou irmos para o inferno e
deixarmos de ser hipócritas, pois se estávamos saindo, eles também tinham
o direito. Ela ainda disse o seguinte: “hoje é o dia de ser livre, depois vem o
chumbo grosso do casamento”.
Saí na frente para chegar até o carro, ainda procurando entender
como nonna Francesa tinha mais energia que nós todos juntos.
Fomos em três carros. Luna e Lucca foram no primeiro com Christian
e Alejandro, nonna e Arianna foram no segundo junto com Atílio e Jeremiah,
Beto, Ângela e eu fomos no último com Brian e Adrian.
No caminho até o local desconhecido, eu e meus amigos fomos
conversando sobre as coisas que estavam acontecendo em nossas vidas.
Angel ficou dizendo que eu iria acabar perdendo a bolsa se continuasse a
faltar daquele jeito e comentou sobre o seu quase namoro com a menina
que conheceu recentemente em uma festa. Beto ficou muito curioso e
começou a fazer várias perguntas, mas Angel com seu jeito discreto de ser,
não lhe deu muitas palavras. Beto comentou que ele já iria começar a fazer
faculdade de contabilidade e que o pessoal da empresa era muito agradável.
Estava parecendo que meus amigos estavam muito bem encaminhados e
saber disso me deixava muito feliz.
Chegamos ao lugar onde aconteceria minha despedida de solteiro e
de cara percebi que se tratava de um clube de stripper. Isso não me
surpreendeu em nada, pois já sabia que poderia esperar um lugar assim
quando a organização estava nas mãos de nonna.
Entramos todos juntos e logo já deu para ver que aquele não era um
clube qualquer, a riqueza do local era incrível. Olhando para todos os lados,
vi mesas espalhadas de frente para um palco em forma de “T”, onde a
maioria das mesas já estavam lotadas por alguns homens e mulheres que
vierem curti a noite. Ao canto um bar com dois homens e duas mulheres
servindo drinques, chamou minha total atenção. Os homens eram muito
musculosos e lindos. Eles vestiam apenas uma cueca de couro preto
apertado e gravata borboleta de mesma cor. As mulheres igualmente lindas
e de corpos perfeitos, estavam usando calcinha e sutiã de couro preto.
Enfim havia entendido o porquê Lucca havia apostado no couro!
— Bem-vindos ao Il Piacere e Seduzione Club (Clube Prazer e
Sedução). Meu clube! — disse nonna parada à nossa frente, com um
enorme sorriso e braços abertos.
— COMO É QUE É? — gritou eu, Arianna, Lucca e Luna ao mesmo
tempo. Estávamos todos surpresos.
— Sim! Eu comprei esse clube há pouco tempo. Em uma das minhas
saídas descobri que esse lugar, que eu tanto gostava, estava entrando em
falência. Eu não perdi tempo em acionar o meu advogado e comprá-lo —
disse nonna orgulhosa.
— Eu sempre vir aqui com a senhora e resolveu comprar sem nem ao
mesmo me dizer? — disse Lucca fazendo bico.
Nonna sorriu com divertimento de sua cara.
— Benvenuto! L'arrivo di voi era già previsto (Sejam bem-vindos! A chegada
de vocês já estava sendo esperada) — disse uma voz masculina, atraindo
minha atenção.
— Ciao Andrea! Tutto è già pronto per la festa di laurea di mio nipote
Luti? (Olá, Andrea! Tudo já está preparado para despedida de solteiro do
meu neto Luti?) perguntou nonna ao rapaz.
Andrea era um homem de mais ou menos minha altura, olhos verdes
e dentes perfeitos e brancos, corpo magro e sem músculos aparentes. Ele
tinha uma pele morena meio bronzeada e cabelos loiros-escuros. Andrea era
lindo, dono de uma beleza delicada.
— Grazie per raddrizzare tutto per me cara, quando si sposare l'uomo
sarà suo (Obrigada por ajeitar tudo para mim, querido. Quando você casar, o
homem será só seu) — disse nonna fazendo o pobre rapaz ficar com as
bochechas vermelhas.
— Quindi spero! Godetevi la notte! (Assim espero! Aproveitem a
noite!) — disse o rapaz saindo em seguida.
— Quem é esse, nonna? — perguntou Lucca com interesse.
— Esse é o meu gerente, Andrea Giardino. A história desse menino é
muito interessante, mas tudo que você precisa saber é que ele é muito
esforçado e agradável — disse nonna com o olhar longe, como se lembrasse
de algo. — Sem falar que é lindo e muito gay, mas tira o olho que você já
está apaixonado e Andrea é um menino para casar — sussurrou para Lucca,
mas consegui ouvir.
Meu cunhado me olhou assustado, dei de ombros e saí seguindo
nonna. Ele achava que ninguém percebia que ele estava apaixonado. Ledo
engano.
Sentamos em uma mesa bem próxima ao palco. Antes que eu
pudesse me dar conta, duas bandejas com shots de tequila foram servidas.
Beto começou a ficar alegrinho e foi logo paquerar a pobre da garçonete,
mas ela nem lhe deu muito assunto. Todos nós começamos a beber, até
mesmo Arianna me surpreendendo bastante.
A noite estava muito incrível e ficou ainda melhor quando Andrea
subiu no palco e apresentou o primeiro dançarino da noite. As poucas luzes
azuis que tinham no ambiente foram apagadas e de lá saiu um Tarzan muito
lindo de cabelos longos e selvagem, dançando ao som de Glass Animals –
Gooey. O homem dançava passando a mão no seu peitoral musculoso e
brilhante pelo óleo corporal aplicado em toda superfície de pele.
— Questo è tutto Tarzan! Permettetemi di essere la tua Jane! Oh
gustoso uomo! (É isso ai, Tarzan! Me deixe ser sua Jane! Oh, homem
gostoso!) — gritou nonna levando todos nós a cair na gargalhada.
— Eu sou muito mais gostoso que esse aí. Bem que a senhora
poderia me colocar para trabalhar aqui nas minhas férias — brincou Beto
meio grogue e Angel tapou sua boca.
— Você fala demais, Betito! — disse Angel sorrindo com aquele
típico sorriso de bêbado.
— Você faz as melhores coisas, minha amiga! — falei referindo-me a
ela ter tapado a boca falastrona de Beto, já sentindo o efeito da tequila e
das outras bebidas que já havia tomado.
As apresentações foram seguindo adiante e desde então, só alegria.
Dávamos muita risada com tudo, principalmente, com algumas das
mulheres que subiram no palco para dançarem com os dançarinos. Nada
melhor que curtir a noite com as pessoas que você tanto gosta e admira.
Luna gritava enlouquecida a cada homem que subia no palco, mas o
que lhe mais chamou atenção, foi um moreno vestido de pirata realmente
muito bonito. Diria que se eu não fosse um homem comprometido e não
amasse meu ursão, me apaixonaria fácil por ele. Mas a diversão dela acabou
mais cedo quando Lucca, movido por seu ciúmes para com sua sorellina,
subiu no palco e a tirou de lá.
Em determinado momento, nonna e Lucca pediram licença e saíram
da mesa. Pouco tempo depois ela reapareceu, mas desta vez em cima do
palco.
— Buona notte pervertiti e perversa! Oggi è una notte molto speciale
perché uno dei miei nipoti sposarsi e che mi fa una cagna molto creativo, così
ho deciso di creare uno spettacolo speciale per il mio caro Luti (Boa noite,
pervertidos e pervertidas! Hoje é uma noite muito especial, pois um dos
meus netos vai casar e isso me deixou uma vadia muito criativa, por isso
resolvi armar um show especial para meu querido Luti) — disse nonna.
Um refletor destacou bem nossa mesa levando a galera aos gritos.
Tinha certeza que meu rosto estava muito vermelho.
— Smettila il ragazzo è timido! Essi vanno in estasi per i ragazzi
Aandreozzi (Parem com isso que o menino é tímido! Se deliciem com os
meninos Aandreozzi) — continuou nonna, fazendo não só eu, mas como
todos à mesa arregalar os olhos.
Assim que Nonna saiu do palco, Enzo surgiu vestido de policial. Sua
farda estava totalmente grudada no seu corpo como uma segunda pele. Os
óculos escuros e o cassetete completava sua vestimenta. Meu cunhado
estava com um sorriso sacana olhando para nossa mesa.
Quando a música Love Faces - Trey Songz se iniciou, Enzo começou a
se movimentar no ritmo da batida. Todo mundo no clube foi ao delírio
gritando pelo nome dele. Naquele instante comecei a perceber que a família
Aandreozzi era muito conhecida por ali, um fato que eu ainda não tinha
percebido. Uma coisa não escapou de meu olhar observador. À minha
direita, ao canto, estava Andrea de pé olhando de boca aberta para meu
cunhado. Acho que o gerente de nonna estava gostando do que via.
Quando Enzo saiu do palco, para tristeza de muitos no clube, Lucca
subiu em seguida vestido de príncipe encantado, mas não um príncipe
qualquer. Sua roupa era composta por uma calça colada marrom, uma
camisa folgada ao corpo estilo medieval e uma coroa na cabeça.
A música Motivation - Kelly Rowland feat. Lil Wayne começou a tocar
fazendo Lucca ostentar aquele seu sorriso de quando está louco para bater
em alguém. Segui seu olhar fixo e vi que estavam direcionados para Luigi,
que encontrava-se encostado no balcão do bar conversando com uma
mulher, mas o olhar perfurante de meu cunhado fez com que Luigi olhasse
para o palco. Imediatamente seus olhos se encontram com os de Lucca, não
sei dizer o que, mas algo aconteceu. Os olhos de Luigi ficaram somente no
meu cunhado que dançava mordendo o lábio inferior e passando as mãos
pelo corpo. Estava nítido que esse show era especificamente para uma
determinada pessoa.
— Aquele ali é quem eu acho que é? — ouvi a voz meio bêbada de
Arianna perguntar a alguém e apontar para o palco.
— Você conhece seus filhos muito bem, bel fiore — respondeu
Donatello.
Eu sequer tinha visto quando ele se aproximou. E como poderia se
estava tão entretido olhando as reações de Luigi, que por sinal não
demostrou nada? Esse meu sogro era um ninja!
— Foi o maior trabalho fazer com que ele fizesse isso, mas é ele
mesmo. Como ele mesmo disse várias vezes: “faço tudo pelo meu bello”,
então, eu me aproveitei disso — disse nonna, chamando a minha total
atenção e fazendo-me virar para frente imediatamente.
A próxima pessoa que entrou no palco fez meu coração pular de
susto. Não podia acreditar no que estava vendo. Se você está pensando em
Filippo Aandreozzi, mais conhecido por mim como ursão, você acertou! Meu
amor estava em cima do palco com sua típica cara de poucos amigos,
usando uma roupa de motoqueiro sexy do caralho, composta por uma calça
jeans preta, camiseta branca, uma jaqueta de couro preta e surrada, uma
corrente com plaquetas de identificação no pescoço e óculos escuros. Oh,
Deus! Só de pensar que aquele homem era todo meu, fazia meu ego ir parar
no céu.
Filippo andou até o meio do palco segurando uma cadeira e
posicionou-a de frente para o público. Ele olhou para mim me chamando
com o dedo indicador e eu fiquei parado sem acreditar no que estava
acontecendo, até que recebi um tapa de Beto me fazendo acordar. Levantei
da poltrona e subi no palco com ajuda de meu ursão. Antes de me colocar
sentado na cadeira, ele sussurrou em meu ouvido:
— Vou dançar para você e depois vamos sair daqui e ir direto para o
camarim, eu preciso te foder! Acho que não vou aguentar esperar até nossa
lua de mel. — Mordeu o lóbulo de minha orelha. — Esqueça o resto, agora
só tem eu e você. Ti voglio bene mio bello!
A música romântica e muito sexy do meu cantor favorito começou a
tocar e meus olhos se voltaram de encontro ao corpo grande e forte que o
meu futuro marido ostentava. Ele começou a dançar ao som de Make Love
Chris Brown. Filippo fazia seus movimentos sutis, mas para mim era muito
mais erótico do que todos os sonhos pervertidos que já tive com meu amor.
Ele tirou a jaqueta e a camisa, pegou minhas mãos colocando em cima no
seu peitoral musculoso e definido. Meu corpo estava pegando fogo de puro
desejo cru que estava sentindo naquele momento. Foda-se a dança do
inferno! Eu precisava de meu ursão naquele instante! Levantei em um pulo,
grudando minha boca a de Filippo.
— Me leva daqui, ursão, senão começarei a tirar minha roupa aqui
mesmo — falei olhando diretamente em seus olhos azuis após tirar seus
óculos e os jogar longe.
— Não precisa pedir duas vezes, bello! — Filippo pegou-me nos
braços e jogou-me sobre o ombro.
Olhei para mesa onde estava nossa família e dei uma piscadela
marota. Saí do palco com Filippo e quando dei por mim, já estava deitado
em algo macio que parecia ser um sofá. Passei meus olhos rapidamente pelo
lugar e percebi que estávamos em um camarim e não tinha ninguém ali.
Filippo subiu com beijos no meu pescoço, até chegar em minha boca
e aprofundar o seu beijo devorador. Tiramos as nossas roupas com muita
rapidez. Antes que ele pudesse me jogar na sofá novamente, me ajoelhei
diante dele e enfiei seu pau suculento em minha boca. Enquanto subia e
descia a língua por todo comprimento de seu pau grosso e pesado, meu
ursão urrava de prazer.
— Não, bello! Eu preciso gozar dentro de você!
Ele me puxou deitando-me de costas novamente no assento do sofá.
— Eu quero fazer isso olhando nos seus olhos.
— Vai, amor! Pode ir, sou todo seu.
Lentamente, ele se afundou em mim.
— Ahh! Porra! — gemi ao senti-lo.
— Geme! Eu quero ouvir você gemer… Isso! Só para mim! — pediu
Filippo com a voz rouca de desejo.
— Mais forte! Ahh… Mais forte! — gemi mais alto sentido os
movimentos dele ficaram mais rápidos.
Adorava sentir o homem que amava dentro de mim. A entrega dos
nossos corpos era a coisa mais magnífica que podia existir. Sem que eu me
desse conta, Filippo anunciou que estava gozando e derramando seu líquido
quente no meu interior. Ao me sentir preenchido, gozei logo em seguida. A
cada vez que fazíamos amor, tudo ficava mais perfeito. Tudo em nós era
perfeito.
Mesmo depois que nos acalmamos, ainda respirava com um pouco
de dificuldade, o peso de Filippo estava todo em cima de mim. Como
esse homem pesava, céus!
— Amor, tenho que dizer que você pesa muito. Saí de cima de mim,
por favor! — pedi em plena falta de ar.
— Mi scusi amore! — pediu Filippo deitando ao meu lado, quase
fundindo seu corpo no meu.
— O que deu em você para dançar assim para mim? — perguntei na
pura curiosidade e vi Filippo entorta o bico.
— Obras de nonna Francesa! Ela praticamente me ameaçou para eu
fazer isso — contou de cara amarrada. — Você mais do que ninguém sabe o
quanto eu odeio chamar atenção.
— Saiba que eu adorei a surpresa e te amo muito mais por isso. Meu
motoqueiro sexy como o inferno! — Recebi um tapa na bunda estalado. —
Ai! Por que fez isso, seu maldito?
— Isso foi por você ficar olhando aqueles outros filhos da puta
tirarem a roupa naquele showzinho de merda — disse irritado.
Caí na gargalhada.
— Eu não estava olhando para lugar nenhum, isso tudo é invenção
de sua cabeça — falei tentando fechar o grande sorriso no meu rosto, mas
foi impossível.
— Você está muito fingindo, bello. Às vezes, eu tenho vontade de te
encher de tapas — disse causando-me um ataque de risos. — Vai rindo, seu
sem vergonha!
Parei de rir ao perceber que Filippo me encarava.
— O que está olhando, meu ursão? — perguntei passando a mão no
seu rosto másculo.
— Niente! Penso solo che tutto di te perfetto. E solo la mia! (Nada! Eu
só acho tudo em você perfeito. É tudo só meu!) — disse meu amor. Então,
ele recebeu um beijo calmo de mim.
— Viu que você sabe ser doce quando quer?
Ele ia me dar uma resposta malcriada, mas eu coloquei a mão
tapando sua boca.
— Ti voglio bene!
— Está difícil dormir sem você, na verdade, odeio ficar longe de você
— confessou Filippo.
Respirei fundo me aconchegando em seus braços.
— Eu sei, também me sinto assim, querido — disse recebendo um
carinho na cabeça.
— Temos que nos arrumar, daqui a pouco vão querer tirar você de
mim e acho que o senhor tem que ir para casa tomar um banho, dormir e
pode esperar uma ressaca amanhã.
Fiz uma careta já imaginando como seria o dia seguinte logo que eu
acordasse.
— Vira essa boca para lá, amor! Eu, hein! Vai com sua praga para lá!
— levantei-me do sofá.
— Não é praga, mio bello. É uma afirmação! E o pior de tudo, é que
eu não vou estar lá para te ajudar — falou aprofundando sua carranca.
— Não se preocupe, querido, ficarei bem.
Assim que fechei a boca, ouvimos uma batida na porta.
— Filippo Aandreozzi! Se você não liberar Luiz Otávio de suas garras,
entrarei aí e lhe darei uns tapas nessa sua bunda cabeluda — gritou uma
nonna irritada do outro lado.
— Já vamos sair, nonna! — gritei acalmando a fera.
Vesti minha roupa rapidamente e virei para o meu ursão, com quem
eu logo estaria casado.
— Me espere no altar… Te amo!
— Estarei te esperando, pode apostar sua vida nisso. Também te
amo! — disse e nos beijamos antes de abrir a porta.
Voltei para casa com a mesma formação de antes, só que com dois
diferenciais. Donatello, que conseguiu fugir da dança no palco, voltou no
carro de nonna e Arianna. E em meu carro, Angel ajudava o bebum do Beto
que estava passando muito mal. Eu jamais esqueceria essa minha despedida
de solteiro. Meu ursão motoqueiro dançou sensualmente para mim e isso
eu tinha certeza que ele jamais faria novamente.

Finalmente o dia do meu casamento com Filippo havia chegado. Eu


acordei com uma linda bandeja de café da manhã com tudo que tinha
direito, enviada pelo meu noivo. Assim que terminei de tomar meu café,
corri para o banheiro. A cerimônia estava marcada para o período da
manhã. Como o tempo fazia muito frio, não teríamos de nos preocupar em
derreter de calor com as roupas sociais. Por isso decidimos realizar a
cerimonia neste horário, para assim também podermos aproveitar mais o
dia com a linda e bagunceira família italiana.
Tomei meu banho calmamente e a imagem dos meus pais vieram à
minha mente. Daria tudo para que eles pudessem estar ao meu lado nesse
dia tão importante. Adoraria ouvir que eles me amavam e sentir seus
abraços bem apertados me passando tranquilidade naquele dia. E com isso,
eu chorei. Queria que seu Orlando e dona Amanda pudessem conhecer o
Filippo que eu conhecia. Amava-o tanto e sabia que meus pais o amariam
também, não tinha a menor dúvida disso.
Após o banho, decidi me arrumar sozinho na intenção de ter um
espaço para pensar. Terminei de ajeitar o terno de três peças branco de
modelo Slim da Armani, com uma gravata de mesma cor que minha sogra
fez questão que eu usasse. Eu me apaixonei à primeira vista ao olhar meu
reflexo. Ver aquele homem pronto para seu próprio casamento, me fez ter a
maior certeza de que era isso mesmo que eu queria com todo meu coração.
Um dos seguranças veio avisar que já estava na hora. Desci para me
encontrar com Filippo na capela da sua família, mas fui barrado por Luna
que veio correndo em minha direção.
— Cunhado, você está parecendo um lindo príncipe. Aqui, deixe-me
colocar isso em você.
Luna estava linda em um vestido lilás de comprimento até os joelhos.
— O quê? — perguntei e ela apontou para flor que tinha em mãos
para colocar na lapela de meu terno.
Era um cravo branco com as pontas das pétalas pretas. Aquela flor
era a coisa mais linda e delicada que eu já tinha visto.
— Nossa, que lindo! — falei encantado.
— Peguei especialmente para você. Boa sorte! — desejou e deu-me
um beijo na bochecha, saindo em seguida.
Como eu não tinha meus pais para entrar na capela comigo, entrei
com meus dois ursinhos. Duda usava um vestido branco e rodado, com uma
faixa preta na cintura. Pietro estava todo de preto como o babo e um cravo
branco destacava-se na lapela da sua vestimenta.
Ao entrar na capela ao som de alguma música clássica que eu não
conhecia, vi a decoração composta por lindos arranjos de hortênsias e rosas
brancas. Cada arranjo que enfeitava a capela, era perfeito. Não poderia
esperar menos das mulheres Aandreozzi, elas eram tão detalhistas que não
tinha como não sair tudo perfeito.
Olhei por toda capela e só vi pessoas que eram importantes para mim
e Filippo. No entanto, a mais importante estavam parada em cima do altar
esperando por mim. Filippo usava um belo terno preto como a noite e um
brilho indescritível nos seus olhos azuis da cor das águas cristalinas do
Caribe. Ele me encarava com um lindo sorriso que me fez derreter todo por
dentro.
Assim que cheguei ao meu destino, depositei um beijo na testa dos
meus filhos e esperei até que Filippo fizesse o mesmo. De mãos dadas
encaramos fixamente e emocionados um ao outro por um tempo.
Respiramos fundo e demos o aval para que o padre começasse a cerimônia.
O padre que aceitou celebrar o nosso casamento era um senhor
muito divertido. Durante todo o sermão da cerimônia, nós não conseguimos
deixar de sorrir com algumas coisas que ele dizia. Enfim ele fez a tão
esperada pergunta a nós. Primeiro a Filippo e depois para mim. Nossas
respostas não poderiam ser outra que não fosse; “sim!”. Não havia
nenhuma dúvida do nosso amor. Antes de trocarmos as alianças, observei
nossos nomes e a data do nosso casamento gravado nelas.
— Confermare il Signore, benignamente, il consenso che avete
espresso verso la sua Chiesa, e noi dovrebbe arricchire con la sua
benedizione. Nessun uomo separi ciò che Dio ha congiunto (Confirme o
Senhor, benignamente, o consentimento que manifestastes perante a sua
Igreja, e se digne enriquecer-vos com a sua bênção. Não separe o homem o
que Deus uniu) — encerrou o padre, então, ele olhou para nós. — Si è in
attesa per mio figlio? Puoi baciare il tuo ragazzo! (Está esperando o que,
meu filho? Pode beijar seu noivo!) — disse risonho para Filippo.
Filippo e eu nos beijamos selando o compromisso que fizemos diante
de Deus e nossos familiares. Ouvimos as palmas dos nossos entes queridos e
sorrimos um para o outro com nossas testas unidas.
— Te amo, Luiz Otávio! Você será meu para todo sempre — disse Filippo,
fazendo uma lágrima escorrer no meu rosto. — Você agora é Luiz Otávio
Aandreozzi.
— Eu te amo muito mais! Obrigado! — Selei seus lábios novamente.
— Molto carino! C'è un matrimonio in famiglia e non sono stati
invitati. (Muito bonito! Há um casamento na família e eu nem fui
convidado.)
Olhamos para entrada da capela e demos de cara com Paolo parado
na porta, como se ele fosse um convidado qualquer.
— Ebbene, dal momento che io sono qui è il momento di mettere il
catch up. Nemmeno la famiglia Aandreozzi? (Pois bem, já que eu estou aqui,
é hora de colocarmos o papo em dia. Não é mesmo, família Aandreozzi?)
Que inferno aquele homem estava fazendo ali? Já sabíamos que
coisa boa não seria, pois o bastardo estava apontando uma pistola na nossa
direção.
— Cosa vuoi qui Paolo? Fuori di qui! (O que você quer aqui, Paolo?
Saia imediatamente daqui!) — gritou Donatello com raiva.
— Questo è il modo di trattare il vostro fratello? Sono venuto qui per
parlare, avere cose da dire. Non credi Don? (É assim que você trata seu
irmão? Só vim aqui para conversarmos, tem coisas a serem ditas. Você não
acha, Don?) — perguntou Paolo, ainda com a arma apontada na minha
direção.
— Se si apre la bocca sporca che ti ucciderà. Giuro che ti ammazzo
Paolo. (Se você abrir essa sua boca imunda, vou te matar. Eu juro que vou te
matar, Paolo.) — ameaçou Don.
Minha sogra começou a chorar copiosamente.
— O que está acontecendo aqui? Que inferno você quer, Paolo?
Como você soube do meu casamento? — perguntou Filippo com muito ódio.
— Você está muito nervoso, meu filho. Acho que tenho que te ensinar
mais algumas coisas. Controlla il tuo umore! (Controle o seu
temperamento!) — disse Paolo com ar de riso e com seu português
enferrujado.
Eu não estava entendendo nada e não sabia o que eu poderia fazer,
por isso voltei meus olhos para Rita que já estava ao lado esquerdo da
capela abraçada as minhas crianças. Assim que ela me olhou de volta, dei
sinal para que eles saíssem da capela o mais discreto possível. Ela entendeu
o que eu estava querendo dizer, se abaixou falando algo baixinho para as
crianças e rapidamente Pietro e Eduarda voltaram seus olhos para mim me
fazendo soltar um sorriso pequeno tentando mostrar que tudo daria certo e
que eles poderiam ir tranquilamente.
Passei meus olhos por toda a capela e vi Ângela agarrada a Beto com
os olhos assustados. Os irmãos Aandreozzi e nonna estavam cada um com
sua arma apontada para Paolo, que não estava nem ligando para o tanto de
armas em sua direção. O padre que não era besta nem nada, saiu correndo
para os fundos da capela.
— Não me chama de filho, seu puto! Você é um doente, Paolo! Deixe
a minha família em paz, você sabe que nunca assumirei a Finastella — disse
Filippo pegando a sua arma também.
— Por favor, vá embora! Você não está vendo que está em
desvantagem? — Fiz com que ele voltasse sua atenção para mim
novamente.
— Você acha que iria vir aqui sozinho, pequeno Luiz Otávio? Claro
que não! Prendere di nuovo uno sguardo. (Dê uma olhada novamente.) —
disse Paolo na maior tranquilidade, fazendo-me olhar tudo à minha volta
com atenção.
Olhando novamente para todos, vi pontos vermelhos de laser no
meio da testa de Beto, Ângela e Luigi. Não consegui ver Rita e as crianças,
acreditei que ela havia conseguido tira-los dali, isso era bom. No entanto,
ainda não entendia como aquilo estava acontecendo. A segurança havia sido
montada por Filippo, seu pai e irmãos, especialmente, para nosso
casamento.
Filippo estava tão surpreso quanto eu, naturalmente se fazendo a
mesma pergunta que rondava minha cabeça: “Onde estavam os nossos
seguranças?”
— Che diavolo sta succedendo? Che cosa volete che il vostro fottuto
bastardo? (Que inferno está acontecendo? O que você quer, seu desgraçado
de merda?) — perguntou Filippo com muita raiva.
— É simples! Tive muita gente comprada por mim. Não é mesmo
Atílio e Jeremiah? — chamou Paolo e vi os dois traidores apontarem suas
armas em direção à Donatello, Arianna e nonna, que estavam juntos.
— Como você pôde fazer isso, escroto de merda? Eu confiava minha
vida a você! — gritou nonna para Atílio, que não esboçou nenhuma reação.
— Jeremiah? Por quê? — perguntou Arianna chorosa.
— Eles não irão mais falar com vocês, Atílio e Jeremiah recebem
minhas ordens agora — disse Paolo guardando suas armas na maior
tranquilidade. — Foi tão fácil! Vocês realmente acharam que eu iria deixar
por isso mesmo o que fizeram ao meu cassino e as minhas drogas e armas?
Vocês me fizeram perder muito dinheiro, mas como sou uma pessoa muito
boa, não matei todos os seguranças, somente alguns. E foi Jeremiah quem
fez esse trabalho sujo para mim, enquanto Atílio ficou responsável pela
nossa entrada no local. Como cresci nesse lugar, não foi muito difícil
também — disse com desdém.
— Isso não vai ficar assim! Eu vou matar cada um de vocês. Eu vou
fazer isso! — Filippo disse querendo avançar para pegar Paolo, mas o impedi
ao ouvir o som das armas destravando.
— Adoro casamentos, as pessoas ficam tão felizes que esquecem que
coisas ruins podem acontecer — disse Paolo.
A ira de Filippo triplicou e ele tentou ir novamente de encontro a ele,
e mais uma vez o impedi.
— Não, amor, vai com calma. Lembre-se que estamos nas mãos deles
agora, tenha calma — falei baixo, atraindo seu olhar para mim. Ele
encaroume por alguns segundos e assentiu. — Obrigado!
— Vamos todos nós sentarmos para podermos conversar. Depois
dessa conversa, Filippo voltará para casa comigo — disse Paolo sentando-se
em um dos banco da capela de pernas cruzadas. — Vocês não vão se sentar,
preferem ficar de pé? Tudo bem! Ah! Mais antes tem duas pessoas que
também deveriam estar nessa conversa. Jeremiah vá buscar os nossos
outros convidados.
Jeremiah saiu sem nem olhar para os lados e foi até uma das portas
da capela. As duas pessoas que ele puxou para entrar, me fizeram ficar
estático e de olhos arregalados. Não podia acreditar no que meus olhos
estavam vendo. Minha tia Amélia e Paulo estavam de frente para mim com
rostos machucados e as mãos amarradas atrás em suas costas.
Jeremiah se aproximou segurando os dois e pude ver claramente a
situação deplorável em que eles se encontravam. Minha tia estava usando
um vestido vermelho todo sujo, pés descalços e os seus cabelos longos
escuros todo emaranhado. Paulo não estava em uma situação muito
diferente, sua blusa amarela estava suja de sangue seco, calça jeans rasgada
e seus pés descalços e tão sujos e feridos quanto os de Amélia. Seus rostos
estavam inchados, com muitas marcas roxas como se tivessem apanhando
bastante.
— Tia Amélia... Paulo... O que esses dois tem a ver com tudo isso? —
perguntei nervoso.
— Vou deixar você perguntar isso a eles, já os usei como queria. Para
mim, eles não tem mais nenhuma serventia — disse Paolo. — Depois você
conversa com eles, agora é hora da minha conversa em família.
— Não! Agora é hora de acertarmos nossas contas, vou fazer o que já
deveria ter feito antes — esbravejou Donatello com o rosto vermelho de
ódio.
— Tudo isso para eu não revelar que sua santa Arianna teve um caso
comigo e que Filippo é fruto dessa relação? — revelou Paolo fazendo
Arianna derramar um choro sofrido e colocar as duas mãos no ouvido.
— PARE DE MENTIR, SEU DESGRAÇADO! — gritou Enzo com raiva.
— Você não vai vir aqui atrapalhar o casamento do meu irmão para
falar uma barbaridade dessa — disse Lucca com muita raiva.
— Isso é tudo invenção dessa sua mente doentia. Não é verdade,
mamma? — perguntou Luna, mas ela não obteve resposta de Arianna. —
Nonna? — Nonna Francesa abaixou sua cabeça. — Agora quem não estava
entendendo nada ali, era eu. Como assim Paolo era pai do Filippo?
— Vamos as verdades. Filippo você é meu filho. Sim! Meu filho, meu
herdeiro, meu sucessor... — disse Paolo sendo interrompido por um grito
desesperado de Arianna.
— NÃO!!! Depois de tudo o que você e Domenico me fez passar, não
é justo eu ter que reviver tudo isso de novo. Eu odeio você! Odeio! SEU
DESGRAÇADO ESTUPRADOR! — gritou Arianna em plenos pulmões,
chamando atenção de todos, até dos capangas de Paolo.
— Mamma! — chamou Filippo baixo e eu agarrei sua mão com força.
— Não fale sobre isso, Bel fiore! Não quero te ver assim — falou Don
com a voz engasgada.
— Deixe ela falar, meu filho! Chega de segredos! — disse nonna
entristecida.
— Eu era uma pobre jovem que vendia essências nas ruas de Nápoles
para poder sustentar minha pequena família. Certo dia, um homem muito
bem-apanhado comprou uma das minhas essências e disse que as daria de
presente para sua esposa no dia do aniversário de casamento deles. Vendi a
minha mercadoria e lhe desejei sorte no casamento. Passaram-se alguns
meses e esse senhor voltou novamente, mas, desta vez, ele veio
acompanhado de um jovem que no primeiro momento que o vi me
apaixonei. — Arianna olhou para Don que lhe retribuiu o olhar com carinho.
— O velho me ofereceu trabalho aqui em Milão e disse que se tudo desse
certo, logo eu poderia abrir minha lojinha que tanto sonhei, mas ao chegar
aqui, descobri que o trabalho não era nada daquilo que eu imaginava. O
velho só se encantou com minha aparência e queria vender o meu corpo. —
A fala de Arianna foi interrompida pelo choro forte.
— Eu não sabia sobre as intenções do meu pai — disse Donatello. —
Naturalmente, ele viu o meu interesse por Arianna e sabia que eu poderia
impedir seus planos. Quando a vi toda machucada em um dos galpões que
meu pai tinha para guardar mercadorias, fiquei louco e fui tirar satisfações
com ele. Ele me disse que era o seu herdeiro e que não poderia me envolver
com uma mulher que não fosse da máfia. Mesmo assim, o enfrentei. Disse
que ficaria com Arianna e cuidaria dela, pois estava apaixonado. Como já
era de se esperar, meu pai me deu uma lição que me deixou de cama por
dias. Só me recuperei, porque mamma cuidou de mim passando por cima
das ordens de meu pai. Se não fosse pela dona Francesa, estaria morto.
Quando me vi recuperado, a primeira coisa que fiz foi ir atrás de Arianna,
mas eu tinha chegado tarde mais. — Uma lágrima escorreu por seu rosto,
mas ele fez questão de limpá-las rápido.
— Donatello estava alguns dias sem me ir ver. Na minha cabeça ele
não queria mais saber de mim, do nosso amor e todas as minhas esperanças
já estavam mortas. Em uma noite que eu estava lá no galpão, deitada e toda
encolhida, um outro jovem apareceu. Esse era Paolo com uma aparência
bem-apanhada, mas seu rosto de pura maldade me fez entrar em alerta. Ele
não disse uma palavra e já veio rasgando minha roupa e fazendo o que bem
queria comigo. Quando terminou, olhou para o lado e sorriu feliz ao
perceber que seu irmão mais velho estava parado à sua frente vendo tudo.
Tentei chamar Don, mas desmaiei logo em seguida.
Sem se preocuparem, Enzo, Lucca e Luna correram para abraçar a
mãe que estava em prantos. Olhei para Filippo que continuava com a cabeça
baixa, olhos fechados e os punhos cerrados com muita força. Seu corpo
estava tremendo de pura ira.
— Quando fui atrás de Donatello, vi ele trocando socos com o irmão
e uma jovem desmaiada no chão frio. Ver aquela cena me cortou o coração.
Nesse dia soube que por mais que eu quisesse, Paolo nunca seria um filho
para mim — disse nonna em um tom entristecido.
— Calada, sua velha vagabunda! Não sei o que você tem a falar, eu
sempre odiei você e a família perfeita que você tinha com o meu pai — disse
Paolo perdendo um pouco da sua postura cínica.
— Família perfeita? Você acha perfeito uma mulher casar contra sua
vontade por causa de um tratado da máfia e depois de casada apanhar do
marido todos os dias? Acha perfeito posar de boa mulher para os seus
amigos do crime, criar o filho que ele teve com uma amante e ser
maltratada pelo mesmo, sendo que para minha desgraça eu consegui me
apaixonar como mãe por aquele menino revoltado que só tinha raiva no
coração e ainda por cima viver presa sem amor, carinho e atenção? Isso é
uma vida perfeita para você? Eu nunca fui uma mulher que abaixava a
cabeça para filho da puta nenhum e ser como eu sou, só me fez sofrer muito
mais. Mesmo depois de tudo isso, ainda tentei fazer com que você me
aceitasse, mas você sempre foi ruim, Paolo — desabafou nonna.
Lágrimas saltaram em seus olhos me fazendo chorar também. Tudo
isso era tão ruim que me deixou mal, com um grande aperto no peito.
— Nada disso me importa! Filippo é meu filho e sendo assim, ele tem
que assumir o legado que eu vou deixar para ele — disse Paolo muito
nervoso.
— Por que agora? O que você quer trazendo todo esse sofrimento à
tona? — perguntei com muita raiva.
Filippo continuava na mesma posição sem esboçar nada.
— Por que querer ser o pai agora? — continuei a questionar.
— Bene, ragazzo sciocco! (Ora, menino tolo!) Soube que ele era meu
filho quando o deixei passar uns dias comigo, mas nunca quis ser seu pai.
Meu irmão fazia esse trabalho muito bem, já que ele gostava disso. Só
queria um soldado forte para assumir a Finastella. A satisfação de ver a cara
do Don quando lhe contei que seu filho mais velho na verdade era meu filho,
foi maravilhosa. Para falar a verdade, eu gosto de lhe ver sofrendo. Nosso
pai sempre gostou mais dele, pois Donatello era fruto do seu casamento.
Grande merda! Grande porcaria! Eu era o filho inteligente, por isso pouco
me importava, sabia que conseguiria a Finastella, mas vê-lo sofrer por ter
roubado a virgindade da menina por quem ele se apaixonou, não teve preço
— falou Paolo com uma satisfação absurda.
Ouvi Filippo balbuciar algumas palavras, mas resmungou tão baixo
que não consegui ouvir o que ele estava dizendo.
— CHEGA! — berrou ele. — Você não é, nunca foi e jamais será o
meu pai. Eu sou filho de Donatello Aandreozzi e Arianna Aandreozzi, irmão
mais velho de Enzo, Lucca e Luna Aandreozzi, neto somente de Francesca
Aandreozzi, marido de Luiz Otávio Aandreozzi, pai de Eduarda e Pietro
Aandreozzi. Esse sou eu! Uso o sobrenome Aandreozzi, porque tenho o
maior orgulho da minha família que só inclui estas pessoas. Você, Paolo, não
chega aos pés do meu pai, ele sim é um homem incrível, digno de ser
chamado de pai. Minha mãe é a mulher mais forte que conheço e saber de
tudo o que ela passou, agora só me mostra o quanto ainda mais ela é
maravilhosa — esbravejou Filippo com uma voz forte e segura, olhando para
sua família que estavam chorando e, assim como eu, cheios de orgulho
daquele ursão. — Eu odeio você! Saber que carrego o seu DNA, só me faz
ainda mais te odiar. Quero ver a sua morte e quero ser a sua destruição.
Você tem que pagar por tudo o que fez com minha mãe. Se você achou que
iria me corromper com essa sua conversa barata e medíocre, saiba que eu
sou homem e não um moleque! Como já disse, sou filho de Donatello
Aandreozzi e nunca deixarei de ser.
— Oh, mio figlio! Ti amo così, tanto. (Oh, meu filho! Eu te amo tanto,
tanto.) — disse Arianna correndo ao encontro de Filippo e se jogando em
seus braços. — Me desculpe, meu filho, eu fui fraca! Deveria ter te
contando, mas não tive coragem — falou Arianna abraçada ao filho mais
velho.
— Não se desculpe, mamma! A senhora sempre me amou mesmo
depois do que aconteceu — disse Filippo com a voz rouca pelo choro não
derramado.
— Que cena emocionante! Mamãe vadia interesseira fazendo drama
— disse Paolo com deboche.
Filippo avançou com tudo em sua direção e o derrubou no chão
sentando na sua cintura.
— Lave essa sua boca imunda para falar de minha mãe e minha
família! DESGRAÇADO! Você tem que morrer! — gritou Filippo segurando a
gola do terno de Paolo e desferindo socos no seu rosto.
Com o ataque de Filippo, a comoção do local foi geral. Aproveitando
a fraqueza da oposição, corri até onde tinha alguns homens de costas e
puxei minha arma com cautela, acertando dois tiros em suas cabeças. Olhei
para frente e vi Beto jogar Angel no chão e ser barrado por um outro
capanga. Corri em sua direção e desferi dois socos e uma rasteira no sujeito,
o matando com dois tiros no peito. Beto me agradeceu, mas não fiquei para
conversar.
Olhei para o lado e vi Filippo ainda socar Paolo. Tentei ir até ele e só
parei ao ouvi Lucca gritar para Luna se abaixar. Quando ela fez, ele deu três
tiros consecutivos fazendo três homens de preto caírem no chão. Um outro
homem veio em minha direção me derrubando sem nem eu perceber sua
aproximação. Minhas armas caíram cada uma para um lado e o homem me
acertou um soco no rosto deixando-me tonto. Tentei o segurar, mas ele foi
rápido pegando a arma e apontando para mim. Peguei sua mão e usei toda
minha força para virar o cano da arma em sua direção. Um estrondo foi
ouvido próximo a mim e o sujeito que estava sobre meu corpo caiu morto
ao meu lado.
— Desculpe a demora, mas eu e os outros fomos meio que apagados
— disse Brian me estendendo a mão para me ajudar a levantar.
— Caralho! Fiquei preocupado contigo, o que foi que aconteceu? —
perguntei pegando minhas armas no chão.
— Os traidores Atílio e Jeremiah foderam com a gente soltando um
gás no local do monitoramento da segurança. Depois conversamos melhor,
temos que acabar com esses caras — disse ele e eu assenti.
Enzo estava lutando com dois homens quando Timóteo apareceu
para ajudá-lo. Eles trocaram algumas palavras e voltaram sua atenção para
outros dois homens que se juntaram aqueles com quem Enzo estava lutando
antes.
Alguém passou correndo por mim e vi Lucca indo em direção à um
dos capangas que estava apontando a arma para Luigi. Meu cunhado deu
uma voadora nas costas do homem, fazendo-o cair de cara no chão. Antes
que ele levantasse, Lucca atirou disparando dois tiros; um na nuca e o outro
nas costas. Ele olhou para Luigi, mediu seu corpo de cima a abaixo para ver
se estava ferido, quando viu que estava tudo bem, saiu logo em seguida
trocando o cartucho de sua arma.
Arianna gritou algo para Atílio e logo em seguida atirou no seu peito.
Um grito de dor foi ouvido e vi nonna cair no chão. Donatello lutava com um
sujeito e quando ouviu a mãe, o jogou no chão com um baque forte e atirou
no meio de sua testa, antes de correr até ela. Enzo, Lucca e Luna pararam o
que estavam fazendo para olhar na direção deles.
Corri para ver nonna, mas parei no meio do caminho ao ver Filippo
ser atingido por uma arma de choque que o fez cair para frente nos braços
de um dos capangas do inimigo, que eu suspeitei ser Frank. Comecei a gritar
o nome de Filippo e corri em sua direção, mas foi tarde. Os homens que
sobraram de Paolo, fizeram uma barricada com seus corpos para que ele
pudesse fugir, pois estava muito ferido pela surra que Filippo lhe deu. Eles
baterem em retirada levando o meu marido desacordada com eles. Tentei
correr atrás junto com Lucca que apareceu ao meu lado, mas eles
conseguiram escapar.
“Inferno!”
— Precisamos chamar uma ambulância urgente! — gritou Don
agachado ao lado de nonna.
— Nonna! — Lucca e eu gritamos indo de encontro a ela.
— Dio Santo, nonna! A senhora está ferida — disse Luna com a mão
cobrindo a boca em espanto.
Nonna havia levado um tiro na barriga e sangrava muito.
— Cadê Filippo, Luiz? — perguntou Arianna e eu abaixei minha
cabeça negando. — Aquele desgraçado levou meu filho? Caspita!
— Oh, parem de se importar tanto com esse corpo velho e vão
buscar Filippo. Sabe-se lá o que aquele maluco fará com ele — disse nonna.
Meus olhos ardiam pelas lágrimas não derramadas.
— Não diga isso, nonna! Vamos buscar ele sim, mas a senhora vai
ficar bem também — disse Lucca.
— A ambulância chegou! — gritou Luigi vindo em nossa direção.
Senti um aperto forte em meu antebraço. Nonna segurou-me firme e
me encarou.
— Escutem bem o que eu vou dizer, Enzo, Lucca, Luna e você, Luiz.
Vão tirar o meu neto de lá. Deixe que Arianna e Donatello fiquem comigo.
Luiz, meu querido, sei que você não é mais aquele jovem tímido. Você é
capaz. Por isso vá buscar o seu ursão — disse nonna séria.
Assenti.
— Vou fazer o impossível para que Filippo volte logo para casa,
temos uma lua de mel para ir — disse tentando sorrir, mas não consegui.
— Certo! Agora me levem daqui, essa porra dói! Espero que quem
cuide de mim seja um enfermeiro bem gostoso — disse nonna, enquanto os
paramédicos lhe atendiam.
Tudo foi destruído por Paolo e seus capangas. A capela que estava
tão linda e arrumada por minha sogra, estava com os bancos quebrados,
arranjos jogados pelo chão e as flores pisoteadas. Ver tudo aquilo daquele
jeito, me bateu uma tristeza grande que não consegui evitar. Nunca pensei
que o dia do meu casamento seria assim; tudo tão lindo, mas ao mesmo
tempo cheio de surpresas desagradáveis e pura destruição.
— LUTI! — Ouvi o grito de Brian e virei para olhá-lo.
Ele estava apontando duas armas, uma para minha tia Amélia e outra
para Paulo, que estavam encolhidos no chão.
— Eu tinha esquecido desses dois. O que vamos fazer com eles? Enzo
perguntou se aproximando de mim.
— Tenho que fazer algumas perguntas e depois resolvo o que
podemos fazer — falei e meu cunhado assentiu. — Mas antes, vou ver com
os meus filhos estão.
—Tudo bem! Vamos levá-los para nossa salinha do interrogatório. —
disse Lucca olhando os dois com um sorriso de lado.
Fui andando de encontro até onde Rita e meus filhos estavam, mas
fui barrado por Beto.
— O que foi isso tudo, Luti? Cara, você tem uma arma e sabe usar
muito bem. Não estamos entendendo nada — disse ele abraçado a Angel,
que me olhava nervosa.
— Beto, essa é a vida do meu marido e eu estou completamente
dentro dela, desde o momento que resolvi me apaixonar por ele. Sinto
muito que vocês tiveram que ver isso, mas é o que é e eu não posso mudar
— falei sério, não estava a fim de brincadeiras.
— Entendo, irmão! Só quero dizer que você tem meu apoio, cara. O
que precisar de mim, estarei aqui — disse Beto.
Angel veio me abraçar.
— Pode contar comigo também, Luti! — disse ela.
Assenti para ambos.
— Se é assim, peço para que vocês fiquem com meus filhos. Vou ver
eles agora, mas precisarei me ocupar para trazer Filippo de volta. Confio
minhas crianças a vocês dois.
Eles aceitaram rapidamente.
Cheguei na casa de meus sogros e fui direto para o quarto de meus
filhos. Assim que eles me viram, correram em minha direção. Recebi-os de
braços abertos. Acho que estava estampado em minha face a tristeza que
estava sentindo naquele momento e isso fez com que meus filhos não me
perguntassem nada, somente me abraçarem forte. Prometei para eles
mentalmente, que eu mesmo iria trazer Filippo para casa.
Antes de sair do quarto, conversei com Rita que contou-me que foi
ela e as crianças quem acordaram os seguranças que estavam adormecidos.
Agradeci muito a eles e fui até meu quarto tirar a roupa do casamento que
estava em condições trágicas. Coloquei uma calça jeans preta, uma camiseta
de mesma cor, meu tênis All Star velhinho que usava para treinar com Brian
e desci para ir me encontrar com tia Amélia e Paulo. Passando por um dos
corredores, ouvi duas vozes em uma conversa que me fez parar
imediatamente.
— Você sabe que eu sou a fim de você e não precisa disfarçar, Luigi
— disse Lucca.
Eu devia passar reto, mas a curiosidade foi maior que tudo me
fazendo parar para ver o que iria acontecer a seguir depois daquela
revelação.
— Eu não sei do que você está falando. Sou noivo de uma mulher e
vou me casar em breve — disse Luigi com seriedade, olhando fixamente
para meu cunhado que estava se aproximando devagar.
— Você não vai casar com ninguém, a não ser comigo, Luigi. Pode até
tentar, só que isso não vai acontecer. Sabe por quê? Porque quando um
Aandreozzi se apaixona, ele vai até o fim para ter o que seu coração
escolheu. E você... você é meu! — disse Lucca fazendo o pobre Luigi respirar
com dificuldade.
— Por que você me olha desse jeito? — perguntou Luigi tentando se
afastar da proximidade, mas Lucca o impediu.
— Assim como? Com desejo? Por nada, minha adrenalina está em
alta e antes que eu vá invadir a fortaleza de Paolo sem saber se vou viver ou
não, tenho que fazer isso — disse meu cunhado segurando na nuca de Luigi.
— O que você pensa que… — Luigi não completou a frase, Lucca o
interrompeu com um beijo em seus lábios, fazendo-o corresponder com
fervor.
Juro que estava tentando não olhar, mas era impossível. A
desenvoltura e coragem de Lucca ao fazer aquilo me encheu de orgulho.
Luigi, após perceber sua entrega, empurrou meu cunhado com força contra
a parede, fazendo-o bater forte com as costas.
— Nunca mais faça isso! Eu só não lhe quebro a cara, porque você é
irmão do Filippo. Entenda que eu não sou gay e vou me casar! — gritou Luigi
limpando a boca, enquanto meu cunhado tinha um sorriso safado
estampado na cara.
— Diga o que você quiser. Já tive a prova do seu gosto e agora eu
posso morrer em paz. Coisa que não vai acontecer, você vai ser só meu.
Escreva o que estou lhe dizendo, Luigi Pierri! — provocou Lucca, sorrindo.
Ele saiu deixando seu amado com cara de raiva e veio em minha
direção parando à minha frente.
— Tenho um cunhado bem curioso.
— Foi impossível não olhar para sua ousadia — falei ainda
espantado, encarando Lucca com sua seriedade rara.
— Agora tenho mais certeza ainda que o quero para mim, Luti. Mas
agora eu tenho que me concentrar em recuperar meu irmão. Vamos lá bater
um papo com sua tia vadia.
Entramos no local onde minha tia e seu amante estavam. Muita raiva
tomou conta do meu corpo, comecei a respirar com dificuldade chamando
atenção de meus cunhados que já haviam trocado de roupa. Luna disse que
Enzo conseguiu fazer com que Paulo confessasse que estavam trabalhando
para Paolo por dinheiro e vingança pelo que Filippo lhe fez. Disseram
também ter o conhecido através de Antonella. Ao saber disso, me aproximei
de tia Amélia e segurei seu queixo com força a fazendo me encarar.
— Então é isso que você é, Amélia? Uma vadia que ajuda bandidos a
prejudicar uma família por causa de dinheiro? — perguntei com raiva
apertando com ainda mais força sua mandíbula. — O que você foi fazer na
minha casa naquele dia? Responda!
— Estou pouco me importando com o que você acha de mim — disse
tia Amélia.
— Não diga nada para essa bixinha esperta. Você se casou com um
ricaço, então, não venha querer nos dar lição de moral! Eu deveria ter tirado
a virgindade desse... — Não deixei que o energúmeno do Paulo abrisse mais
a boca, então, peguei minha arma e dei um tiro em sua perna. — Ahhh...
Filho da puta! Olhe o que você fez! — gritou Paulo com dor.
— Eu não estou falando com você, Paulo, sua voz me enoja. Fica
caladinho, pois eu já matei hoje pela primeira vez e não vou hesitar em fazer
novamente — respondi sem interesse. — Vamos, titia... Responda o que te
perguntei.
Ela encarou-me com medo e esse medo fez ela soltar o
verbo.
— Quando fui na sua casa inventar sobre a morte dos seus pais,
coloquei um aparelho de escuta embaixo da mesa do italiano. Antonella me
deu o aparelho e quando coloquei lá, recebi o dinheiro prometido. Mais eu
me arrependo de tudo o que eu fiz, meu querido. Perdoe-me — disse tia
Amélia chorando como suas incríveis lágrimas de crocodilo.
— Sabe, tia Amélia... Hoje sou um novo homem. Sou casado, pai de
dois filhos e o mais importante é que eu não sou mais aquele pobre Luti de
antes. A única coisa que sinto por você é pena. Você é digna de pena. Vou
fazer questão de deixar você sofrer sozinha, pois eu sei que vai. Agora não
posso perder meu tempo com você, tenho o meu marido para resgatar e um
bandido para matar — deixei minha tia chorando e olhei para Paulo que
estava apertando sua perna que sangrava muito.
— Para onde mandamos esses aqui? — perguntou Adrian para mim.
— Não sei! Joga em qualquer lugar, o destino deles não me interessa
— falei sério, sem olhar em direção onde eles estavam.
Fiquei com meus cunhados e algumas pessoas de confiança,
acertando um jeito de tirar Filippo das garras amaldiçoadas do bastardo do
Paolo Aandreozzi. Sentia-me culpado por não ter conseguido impedir que
levassem Filippo, mas custasse o que for, eu iria tirá-lo de lá.
— Será que você está com medo de morrer nas minhas mãos?
Olhando para você amarrado dessa maneira, tenho que confessar que me
dá uma certa felicidade — disse o cão adestrado de Paolo, mas conhecido
como Frank.
— Eu vou matar você e o fodido do Paolo — falei em um sussurro
exasperado.
Não lembrava como conseguiram me derrubar, só recordava do
exato momento em que eu estava quase ganhado minha luta corpo a corpo
com Paolo, até que senti uma picada no pescoço, transmitindo uma corrente
elétrica para todo o meu corpo, fazendo-me desmaiar logo em seguida.
Quando voltei a consciência, estava na casa de Paolo, no mesmo
lugar em que ele gostava de me ensinar a arte da tortura, sem camisa,
amarrado na maldita cruz de madeira que sempre odiei. Para piorar a minha
desgraça, estive sendo machucado pelo infeliz do Frank, na intenção de me
fazer aceitar liderar a Finastella. Como se me torturar fizesse com que eu
mudasse de ideia, decidisse parar de odiar Paolo e começasse a ser um
exemplar Capo para sua organização criminosa. Eu queria mais era destruir
todos eles até que não restasse mais ninguém para contar história.
— Acho que você daria um grande Capo. Basta dizer sim e essa sua
dor vai passar. O que você me diz? Serei leal a você assim como sou para o
seu tio — falou o homem que mataria usando a mesma faca de caça, que ele
usou pra cravar em minha costela, torcendo e me causando uma dor
infernal.
— Você é um homem morto, Frank. Escreva o que digo — ameacei
apertando os dentes com tamanha força, que poderia quebrá-los.
— Vamos lá! Diga aquilo que o meu Capo quer ouvir e acabarei com
isso. — Ele continuava frio e impassível.
— Não sei como uma pessoa vive sua vida inútil para fazer tudo o
que outra pessoa quer. Me diga, Frank... Você é apaixonado por Paolo ou
simplesmente queria ter aquele desgraçado como pai? — perguntei e vi
raiva atravessar seu rosto, mas rapidamente foi substituída pela sua máscara
fria.
— Meu único objetivo aqui, é te fazer enxergar a verdade! — Socou
meu rosto.
— Você e seu chefe tem um péssimo modo de persuasão! — Dei uma
risada rouca e cuspi o sangue que se acumulava em minha boca.
— A Finastella será a sua família. Você será um bom líder, está no seu
sangue — disse fazendo-me rir.
— Você não sabe o significado da palavra família. Tenho a melhor
família que alguém poderia querer. Sabe o que é chegar em casa de um dia
fodido no trabalho e a única coisa que passa por sua mente é a vontade de
esquecer o mundo, mas, de repente, tudo some ao ver as três pessoas que
você mais ama brincando no chão da sala de estar com o seu filhote de
cachorro? Não, você não sabe e nunca saberá. — Senti meu corpo chegar ao
meu limite.
— Vou deixar você processar tudo o que lhe disse, logo voltarei. —
Frank saiu. Acreditei brevemente conseguir mexer um pouco com cão
adestrado dos infernos.
Dizem que quando você está prestes a morrer, um filme sobre sua
vida passa por sua cabeça em câmera lenta. Poderia afirmar que isso é uma
grande mentira. Comigo não aconteceu nada disso. Talvez fosse porque
tivesse certeza que eu, Filippo Aandreozzi, havia vivido minha vida da
melhor forma possível. Considerava-me o homem mais sortudo do mundo. E
como não seria, porra?
Primeiramente, tinha pais incríveis. Donatello era o homem mais
forte e honrado, que ensinou-me tudo o que sabia na vida. Minha mãe, se já
a adorava, depois de saber de tudo o que aquele crápula fez com ela, eu a
amava ainda mais. Tinha um tremendo orgulho de minha mamma. Ela não
permitiu que nenhum trauma do passado ofuscasse a sua vida e me amou
mesmo tendo todo o direito de me odiar por ser a prova do seu sofrimento.
Não culparia minha mãe se chegasse a me odiar, depois de saber que
era filho biológico de Paolo, passei a me odiar também. Não podia fazer
nada, aquele ódio veio totalmente involuntário, não conseguia suportar
compartilhar o mesmo DNA que aquele sujeito.
Muitas coisas aleatórias passaram por minha cabeça, como por
exemplo: como adoraria ter a chance de matar Paolo com minhas próprias
mãos, mas do jeito que me encontrava fisicamente, seria pouco provável
que conseguiria fazer algo, a não ser morrer.
Meus irmãos... ficava me perguntando como os meus irmãos
estariam lidando com as revelações feitas por Paolo no dia do meu
casamento. Sempre protegi os meus irmãos, nunca liguei que Enzo tivesse
quase a minha idade, ou que Lucca era independente e conseguia fazer
nome como um grande CEO que era, muito mesmo se Luna estava quase se
formando e era uma mulher forte que sabia lidar com os problemas da vida.
Para mim, aquilo nunca importou. Queria continuar a cuidar e preservar os
meus irmãos como sempre fiz desde a época que éramos crianças.
Eu era o irmão mais velho que ajudou a bater em um dos colegas de
escola do Enzo. Aquele que cuidou do machucado feio de Lucca ao cair no
quintal de casa e deixou sua irmãzinha dormir na sua cama, quando seus
irmãos deixaram ela assistir um filme ridículo de terror que a deixou com
medo.
Olhar para minha única tatuagem no ombro, onde estava escrito
“Pour tous et pour tous”, doía. Aquela frase tinha um grande significado para
mim e meus irmãos. Era o nosso pacto de estar sempre juntos, não
importando a dificuldade. Sempre iriamos estar lá para ajudar, ou até
mesmo para dar um grande sermão se preciso fosse. Éramos os irmãos
Aandreozzi e juntos éramos capazes de fazer qualquer coisa, até mesmo
cometer a loucura de invadir uma fortaleza que era a casa de Paolo. Sabia
que eles estavam vindo e só esperava que eles não caíssem na loucura de
trazer o meu marido com eles.
Oh, meu marido. Eu era um homem casado e sequer tive o gosto de
saborear um pouco dessa palavra em minha boca, pois meu casamento foi
envolvido no meio de uma grande confusão. Isso fazia-me odiar ainda mais
Paolo. Os meus planos para depois do casamento, era pegar o mio bello e
passar uma temporada viajando por vários lugares na Europa. Seria uma
surpresa para Luiz e tinha certeza que ele iria adorar.
Conhecer Luiz Otávio foi a melhor coisa que poderia me acontecer na
vida. Eu que antes era um lobo solitário, me via construindo um futuro com
uma pessoa que fez meu mundo ter mais cor. Amava demais o meu bello.
Fazia de tudo para ver um sorriso lindo que só ele poderia me dar. Sentia-
me um homem melhor quando estava ao seu lado. Nossas conversas, o jeito
intenso que fazíamos amor, os nossos beijos cheios de afeto, os seus olhos
castanhos carregados de ternura direcionados a mim...
Graças a Luiz eu pude ter a felicidade de ser chamado de pai. Logo
eu, um homem que nunca se viu tendo filhos, acabei com duas
preciosidades. Eduarda e Pietro eram os anjinhos iluminados carregados de
amor que me faziam gostar de ter a responsabilidade de ser pai. Se eu
conseguisse ser metade do pai que Donatello foi para mim, tinha certeza
que meus filhos iriam se orgulhar de me ter como pai, assim como me
orgulhava de ter Don.
Meus ursinhos, como Luiz gostava de chamá-los, eram os meus
melhores tesouros. Faria de tudo para que a fraqueza do meu corpo ferido
não me ganhasse, pois queria ter o prazer de olhar nos rostos inocentes
deles outra vez e dizer o quanto era feliz por ser seu pai. Queria ter também
o prazer de amar o meu marido por mais um longo tempo.
Não sabia quando e nem quanto havia dormido, acordei com a
sensação de estar sendo observado. Ao abrir meus olhos inchados, vi Paolo
sentado em uma cadeira de ferro à minha frente, olhando para mim com
uma expressão que não conseguia decifrar. Porém, consegui ver que fiz um
estrago com a surra que lhe dei. Se não tivesse sido pego desprevenido,
tinha certeza que teria matado o desgraçado com meus punhos.
Levantando um pouco minha cabeça dolorida, vi Frank encostado na
porta com os braços cruzados, esperando as ordens do seu chefe lunático.
Paolo não dizia nada. Ele levantou-se da cadeira, caminhou até uma mesa ao
canto direito, encheu um copo com água e veio até mim.
— Você sabe que isso tudo pode acabar, basta você me aceitar como
seu pai e, principalmente, aceitar a Finastella como seu legado — disse com
tranquilidade, levantando o copo em direção à minha boca.
— Isso nunca vai acontecer! Posso morrer aqui hoje, mas nunca
cederia aos seus caprichos doentios — disse após beber um pouco da água.
Não podia me dar ao luxo de recusar, sabia que iriam me buscar.
— Filippo, você é o meu filho! Eu esperei por tanto tempo até ter a
certeza de que estava pronto para assumir o meu lugar. Não pode falhar
comigo! — gritou ele segurando minha nuca.
Meu estômago embrulhou.
— Não me toque! Você é um bastardo que causou dor e sofrimento a
minha mãe. Tenho ódio por você, ainda o verei morrer! — disse com raiva,
sentindo meu corpo tremer.
— Como pode ser tão teimoso! Está vendo isso, Frank? Ele é capaz
de rejeitar a nossa família por causa de sentimentos sem sentido. — Olhou
para o seu capanga, que balançou a cabeça em negativa.
— Eu tenho uma família, sou casado e sou pai. O único sem sentido
aqui é você! — Se estivesse sentindo minhas mãos, elas estariam cerradas
com força, tremendo para socar sua face inchada. — Vou matar você, seu
filho de uma puta!
— Que tipo de filho mataria o próprio pai? — perguntou Paolo
fingindo surpresa.
“Maledetto!”
— Eu não sou seu filho! — gritei.
Paolo sacou sua arma e apontou-a na minha direção.
— Que tipo de filho rejeita o próprio pai? Isso não se faz, Filippo!
Acho que você está querendo que Frank li dê mais alguns incentivos. —
Sorriu frio.
Quando eu era mais novo, aquele seu sorriso gélido me dava medo.
Agora, só me fazia ter mais vontade de acabar com sua vida miserável.
Paolo calou-se e olhou em direção da porta ao ouvir barulhos de tiros
e explosões vindo do interior de sua fortaleza. Ele virou a cabeça
bruscamente para me encarar, mas somente dei de ombros. Vi Frank
falando através de um comunicador com alguém, mas devido a sua distância
não consegui ouvir o que estava sendo dito. Assim que terminou de falar
com quem quer que fosse, Paolo fez sinal para que ele falasse.
“Sabia que eles não iriam me abandonar. Você mexeu com a pessoa
errada!”
— Senhor, estamos sendo invadidos! Furaram as nossas barreiras e
conseguiram entrar na fortaleza — comunicou Frank entredentes.
— Malditos sejam! É bom que esses homens matem cada um deles, estou
cansado dessa família. Temos que aproveitar e acabar com todo eles!
— Paolo jogou contra a parede o copo que estava na sua mão.
— O que faremos, senhor? — perguntou Frank.
— Não podemos deixar que eles nós alcance. Vou tirar Filippo daqui
e levá-lo pelos túneis antigos. Você resolve essa bagunça e me encontrar
naquele lugar — respondeu pegando a faca e cortando as cordas que
estavam amarrando meus pulsos na cruz.
— Tem certeza que não quer minha ajuda com isso? — perguntou
seu capanga, recebendo um olhar furioso de Paolo.
— Deixe que do meu filho cuido eu! Você tem que dar um jeito
nesses insetos!
Frank assentiu e saiu pela porta me deixando sozinho com Paolo.
Não sabia que estava tão fraco até ver meu braço direito cair sem nenhuma
firmeza, após ser desamarrado da cruz de madeira. E como poderia não
estar depois de ficar algumas horas sem comer, levando socos, pontapés,
sendo perfurado em vários lugares na intenção de me causar muita dor?
Para minha sorte, os ferimentos não sangraram muito, eram superficiais
deixando-me apenas fraco. Perfurar sem matar, foi umas das coisas que
aprendi com o filho de uma cadela doente do Paolo Aandreozzi. Esse foi um
dos seus ensinamentos.
— Vamos sair daqui. Vou te levar para um novo lugar e lá tenho
certeza que você vai repensar sobre a sua nova vida — disse Paolo
desamarrando minha outra mão.
Antes que meu corpo se chocasse sem forças contra o chão, ele
amparou-me.
— Não vou a lugar nenhum com você! — falei sentindo-me meio
zonzo.
— Nem todo machucado você consegue parar de querer dar ordem
— disse ele em um tom de voz feliz. — Será um ótimo Capo, meu filho!
— Não me chame assim! — falei com um pouco de dificuldade.
Saímos do quartinho do terror e Paolo arrastava-me sentindo uma
certa dificuldade para suportar o meu peso, mas, mesmo assim, ele
conseguiu andar comigo por um corredor que conhecia muito bem. Aquela
era o mesmo corredor que me levava a um lugar onde me escondia das
loucuras de Paolo quando eu era criança. Com certeza o lugar para onde
estávamos indo era o porão. Não fazia ideia que através do porão tinha uma
saída específica que dava para túneis. Se soubesse disso antes, já teria
invadido esse lugar e explodido tudo com Paolo e seus capangas dentro.
— O que está acontecendo, Paolo? O que você fez com Filippo? —
Ouvi a voz de Antonella.
Levantei minha cabeça para encará-la. Sua cara de espanto fez com
que eu tivesse uma grande noção do estrago que Paolo mandou que seu cão
fizesse em mim. Senti o corpo de Paolo ficar rígido ao perceber que seus
planos estavam sendo atrasados.
— Saia da minha frente, Antonella! Tenho um lugar para ir e você
está atrapalhando — disse ele entredentes.
— Para onde você vai levar Filippo? — perguntou ela ainda espantada.
— Não é da sua maldita conta, vagabunda! — respondeu Paolo,
fazendo Antonella dar um passo para trás.
— São os irmãos Aandreozzi quem estão invadindo a casa, não é?
Eles querem Filippo de volta — constatou ela, como se descobrisse naquele
momento o formato da terra.
— O meu filho tem um dever a cumprir e não será eles quem irão
impedir — disse Paolo com a respiração acelerada.
— Você não pode fazer isso, irá matá-lo! — disse ela elevando a voz.
— Cale-se e saia da minha frente! — mandou novamente.
Antonella estava com a cara de dúvida, ela não sabia se deixava ou
não o lunático do Paolo levar meu corpo enfraquecido com ele.
— Eu não posso fazer isso, você já matou meu pai. Não posso deixar
você matar Filippo também. Agora eu sei o monstro louco que você é! —
disse Antonella sem muita firmeza.
Paolo soltou um riso fraco.
— Antonella... Minha querida Antonella. Você é mais burra do que eu
poderia imaginar!
Apoiando meu peso do lado esquerdo, ele puxou sua arma da cintura
e apontou-a para ela.
— Seu pai só foi um pequeno acerto de contas. Ele estava
atrapalhando os meus negócios.
— Não! Por favor, não faça isso. Deixe ele ir para sua família, você
pode sair antes que eles te alcancem — falou Antonella com medo evidente
na sua voz.
— Muita burra, Antonella! Adeus!
Disparou três tiros contra ela e vi seu corpo cair sem vida no chão.
— Culpa sua. Tudo culpa sua! Deveria ter feito o que eu mandei! —
disse Paolo, ainda apontando a arma para o corpo ensanguentando de
Antonella.
Passos atrás de nós foram ouvidos e, então, alguém me chamou em
um grito.
— Filippo! — gritaram-me novamente, mas fui incapaz de virar para
olhar ou responder.
— Quem será dessa vez a me atrapalhar? — perguntou Paolo a si
mesmo.
— Oh, meu Deus! O que você fez com ele? Seu filho da puta, eu vou
te matar!
Aquela voz eu conhecia bem. Era meu bello. O que ele fazia ali
sozinho?
— Não se meta no meu caminho, franguinho. Posso te matar
também — esbravejou Paolo.
— Deixe o meu marido! Solte ele e nós vamos poder conversar —
disse Luiz com a voz tranquila. Como eu amava aquele homem, ele havia
vindo por mim.
— Seu marido? Essa é a coisa mais sem noção que já ouvi em toda
minha vida. Filippo vai se casar de verdade com a uma jovem moça que
escolherei e fará herdeiros para assumir a Finastella. E você, Luiz, não está
nestes planos — Paolo falou o nome do meu bello com nojo, pingando ódio.
Aproveite a distração de Paolo e usei de todo o resto da minha força
para segurar seu braço que estava apontada a arma para o homem que
amava e lhe dei uma cabeçada no rosto quebrando seu nariz. Consegui fazer
com que ele derrubasse a arma no chão e soltasse meu corpo. Como não
tinha mais nenhuma energia sobrando, caí batendo com força contra o
chão.
— Oh, não! Filippo! — gritou bello, correndo em minha direção.
— Seu infeliz! Estou tentando fazer você ver a verdade e escolher a
sua família e é assim que você me agradece? — perguntou Paolo segurando
o nariz quebrado que sangrava muito. Eu teria rido de suas palavras se
pudesse.
— Desculpe ter demorado tanto tempo, meu amor. Desculpe, por
favor. O que ele fez com você, ursão? — perguntou Luiz segurando minha
cabeça e chorando muito.
— Eu… — Tentei dizer, mas me interrompi arregalando os olhos ao
ver Paolo recuperar a arma e apontar para Luiz.
— Não tão rápido, disgraziato! — disse Lucca, disparando em
seguida um tiro na mão de Paolo, o fazendo derrubar novamente a arma e
gritar de dor.
— Obrigado, cunhado, mas esse bastardo é meu! Fique quieto aqui,
que eu já volto — pediu bello, segurando meu rosto entre suas mãos. —
Lucca, fique com Filippo.
— Ei, irmão, que bagunça está você, hein? — perguntou Lucca, mas
nada respondi. Minha atenção estava toda no meu bello.
Luiz caminhou em direção à Paolo que segurava sua mão
ensanguentada pelo tiro recém tomando. A determinação em seus passos
eram a coisa mais sexy que vi em toda a vida. Sabia que não deveria estar
pensando em como meu marido ficava lindo em sua roupa toda preta, com
seus tênis gastos que ele nunca deixa de lado, mas era impossível.
Paolo tentava alcançar a arma, mas Luiz foi mais rápido que ele e
chutou seu rosto com força, o fazendo cair para trás impedindo-o de pegar
sua pistola. Em seguida, ele montou nos seus quadris e começou a socar sua
face imunda sem dó. Paolo pegou uma faca e tentou esfaquear Luiz, mas foi
sem sucesso. Ele desviou de seu golpe com maestria segurando firme seu
pulso que empunhava a faca.
— Então foi com essa arma que você estava massacrando o corpo do
meu marido? Posso ver como funciona?
Com sua graça de sempre, Luiz tomou a faca de sua mão e o
apunhalou no meio do peito.
— Você acha que pode me matar? Você não pode, seu gayzinho de
merda! — gritou Paolo sentido a dor do golpe de Luiz.
— Nunca acreditei na expressão: “ver vermelho”, mas hoje você
conseguiu com que eu acreditasse. Ver o estrago que você fez com o meu
marido, me fez querer ter uma grande vingança. Pode ser que depois que
acabar com você precise de anos de terapia, mas quem liga para isso, não é?
— perguntou bello.
Pouco a pouco, ele foi cravando a faca bem fundo em vários lugares
pelo o tórax de Paolo.
— Você é podre! Um sujeitinho pobre com alma imunda, merece
pagar por tudo o que causou a esta família que me recebeu de braços
abertos — disse Luiz. — Sua inveja de Donatello é tão nítida, que pode ser
tocada. Você viveu sua vida na intenção de ver seu irmão sofrer. Ninguém
tem culpa se sua mãe viciada preferiu as drogas do que a você! — Levantou-
se de cima dos quadris de Paolo e pegou sua arma. — Depois desse tiro, irei
saber que você nunca mais fará mal a minha família novamente. Como diz o
meu marido: “Te vejo no inferno, maledetto!” — Atirou na cabeça de Paolo.
O estrondo do tiro ecoou pelo corredor. Uma possa de sangue se
formou embaixo da cabeça do maldito Paolo. Nem mais um ruído foi ouvido
dele. Nada!
— Irmão... Esse seu marido tem sangue nos olhos! — disse Lucca
com orgulho na voz.
Então era isso... ele estava morto. Paolo Aandreozzi havia sido morto
pelas mãos daquele que mais amava e admirava. Finalmente eu poderia
viver em paz sabendo que ele nunca mais alcançaria minha família de novo.
Meu bello fez isso. Ele realizou o que algumas vezes achei ser impossível.
Ele fez pelos meus pais,
pelos meus irmãos,
pela minha nonna,
pelos nossos filhos e
por mim... por nós!
Ao saber que acabou, fechei meus olhos e deixei a escuridão me
levar. Estava cansado demais para resistir.

Não sabia como consegui fazer aquilo com Paolo, mas consegui.
Olhar para o seu corpo morto, me dava a maior certeza de que ele não iria
mais querer me matar, sequestrar meus filhos e vendê-los para algum casal
doente como ele, ou machucar o meu marido novamente. Simplesmente
havia acabado!
Encontrar Paolo em um dos corredores da casa carregando Filippo,
para não sei onde, foi a gota d'água. Ele tinha que ser parado. Eu havia
pedido aos irmãos Aandreozzi que deixassem Paolo comigo, eu o queria
enfrentar. Então, tive a chance de acabar logo com aquilo de uma vez por
todas.
— Luiz! Corre aqui, Luiz! Filippo, irmão. Acorde! Não faça isso, cara!
Não é hora de brincar, temos que sair daqui.
Saí do meu estupor ao ouvir a voz desesperada de Lucca.
— O que houve, Lucca? — perguntei vendo-o sacudir o corpo
amolecido de Filippo.
— Não sei, ele estava com os olhos vidrados em você e depois
suspirou alto e os fechou — explicou.
Corri para conferir os batimentos cardíacos de Filippo e não
encontrei nada. Apavorei-me.
— Não! Não pode ser! Você não vai fazer isso comigo, Filippo
Aandreozzi! Me recuso a ser viúvo dois dias depois do nosso casamento —
falei com fervor, iniciando a reanimação.
— Luiz eu acho que…
— Cale a boca! — interrompi-o em um berro. — Cale a sua maldita
boca! Ele não vai fazer isso! — gritei sem perder o ritmo da reanimação.
Um, dois, três... Respiração boca a boca.
— Vamos, ursão! Não me decepcione, porra! O que eu falarei para os
nossos ursinhos? Sabia que Pietro lhe tem como um super-herói? Claro que
você sabia! — Assoprei sua boca e voltei a massagem cardíaca.
Ouvi passos de pessoas correndo em nossa direção, mas não liguei,
apenas continuei com o que eu estava fazendo.
— Lucca? Luiz? O que está acontecendo? Fiquei esperando vocês e
nada, estavam demorando muito — disse Enzo ao se aproximar.
— Dio Santo! Filippo? O que aconteceu com meu irmão? — Ouvi a
voz desesperada de Luna, chorando.
Aquele tumulto me irritou.
— Ele não morreu! Pare de chorar! Você vai ver só! — continuei o
meu trabalho, mesmo com meus braços doendo eu sabia que não poderia
parar.
— Eduarda vai crescer, Filippo. Você tem que acordar para espantar
todos os pretendentes que apareceram na nossa porta. Vamos lá, amor!
Vamos minha vida, por favor! — implorei deixando lágrimas quentes e
salgadas banharem o meu rosto.
— Luiz, não há nada que você possa fazer, ele se foi. Chegamos
tarde, meu cunhado — disse Enzo me levantando a força do corpo de
Filippo, passando seus braços em torno da minha cintura.
— Ahh! — berrei louco. — Não! Porra, não!
Soltei-me do seu aperto e caí novamente ao lado do corpo do meu
marido. Enfurecido, comecei a socar com toda força seu peito.
— Volta, amor! Por favor, volta para mim. Eu não tenho mais
ninguém. Se você morrer, eu morrerei em seguida. Vamos, Filippo! Acorde!
E como um milagre divino, Filippo voltou a respirar. Fiquei parado de
boca aberta deixando soluços fortes escapar, eram precisos ele saírem por
minha boca, estava me engasgando com eles.
— Obrigado, meu Deus, universo ou qualquer outra força suprema!
Ele voltou para mim. Sabia que voltaria. — Abracei seu corpo e chorei
descontrolado.
— Isso não é possível, ele voltou! Grazie Dio! — disse Lucca
assustado e confuso.
— Por Dio, Filippo! Não faça mais isso! — Ouvi a voz chorosa de Luna.
— O que está acontecendo? — perguntou Filippo com dificuldade.
Levantei a cabeça para olhá-lo em seus lindos olhos.
— Você não estava mais aqui. Estava me deixando, mas você voltou.
Eu te amo muito por isso! — falei rápido, atropelando as palavras. Beijei
seus lábios machucados.
— Não podemos mais perder tempo aqui. Vamos sair logo, antes que
mais homens de Augusto apareçam e nós vejam. Vamos logo! — disse Enzo
tomando a iniciativa de sair do lugar.
Ninguém, fora alguns selecionados por Augusto, amigo de Enzo que
nos ajudou na invasão, poderiam nos ver. Carregamos Filippo com a ajuda
de nossos seguranças de maior confiança. Deixamos a casa com o auxilio de
um amigo do Enzo que pertencia a uma força especial privada da Itália.
Augusto Nardelli era o típico homem da lei que montou uma força especial
na intenção de derrubar a máfia mais antiga de Milão. Há tempos que eles
queriam pegar Paolo, mas todas as vezes foram sem sucesso.
O acerto de Enzo com Augusto, era que iríamos ajudar com tudo,
mas estaríamos livres de qualquer tipo de envolvimento. Seria como se tudo
o que aconteceu na invasão, foi causada e feita pela força especial. Nossos
nomes não seriam citados de maneira nenhuma, nunca! Fizemos tudo
direito, usamos luvas e armas da força especial. Tudo foi feito para que a
polícia jamais nos encontrasse. Mas, em compensação pela culpa que
levariam, a força especial seria conhecida pelo mundo como aquela que
derrubou a Finastella de uma vez por todas.
Acomodamos Filippo no banco traseiro em uma das SUV e seguimos
para o hospital mais próximo. Não conseguia parar de olhá-lo e averiguar
seus batimentos cardíacos que estavam fracos, mas com um ritmo
constante. Não tinha vergonha de ficar cutucando ele a todo momento para
ver se abria os olhos. Depois do susto que ele me deu, não teria como não
fazer isso.
A nossa chegada ao hospital foi rápida. Assim que nos viram entrar
gritando por um médico, enfermeiras vieram correndo e colocaram meu
marido em uma maca para ser atendido com rapidez. Quando o vi sendo
levado, corri para alcançá-los e parei ao seu lado para poder falar com ele.
— Senhor, necessitamos levar o paciente com urgência! — disse uma
das enfermeiras.
Eu queria socar o seu rosto que estava fazendo careta, mas não
podia, ela estava apenas fazendo seu trabalho.
— Não vou demorar. Só preciso falar uma coisa para ele — disse e
me virei para Filippo. — Se você morrer, eu juro que vou te buscar
novamente. Não faça isso comigo e com seus filhos. Te amo e fica bom logo.
— Não sou louco de morrer antes de te foder na nossa lua de mel —
sussurrou Filippo, fazendo-me rir enquanto debulhava em lágrimas. — Ti
voglio bene mio bello.
Os médicos o levaram direto para ser atendido e me deixando com o
coração apertado, mas também com a esperança de que o meu amor ficaria
bem. Não sei o que seria da minha vida sem o meu Filippo.
— Tive tanto medo. Nunca imaginei que veria você ali, deitado no
chão frio, sem batimentos cardíacos. Aquele foi o pior momento da minha
vida. — Ouvi a voz de meu bello, mas continuei de olhos fechados. —
Querem que eu vá para casa descansar. Sei que nossas crianças precisam de
mim, mas não conseguirei ficar longe de você.
Senti o toque quente e acolhedor de meu amor em minha mão direita.
— Você nunca se livrará de mim, bello! — disse sentindo minha
garganta seca.
Abri os olhos e olhei-o. Luiz levantou a cabeça e me olhou com
lágrimas brilhando em seus olhos.
— Oh, graças a Deus você acordou! — disse grudando seus lábios nos
meus ressecados.
— Me dê um pouco de água, bello, por favor — pedi e vi Luiz correr
para encher um copo com água para mim.
Tentei me sentar na cama, mas meu corpo estava doendo para
caralho. Fiquei olhando para bello e vi que o amor que sentia por ele
triplicou de um jeito incondicional. Lembro perfeitamente de tudo o que
passei nas mãos de Paolo e não eram coisas que eu queria lembrar com
facilidade, mas o que importava era que Luiz juntamente com meus irmãos
foram me tirar de lá. Imagens do ex-tímido Luiz Otávio, golpeando o inimigo
de minha família com o único intuito de nos vermos livres de qualquer
atentado contra as nossas vidas, seria sempre um momento muito
marcante.
Bello me trouxe a vida. Não sabia como, mas aconteceu. Quando
fechei os olhos ao perceber que Paolo não estava mais vivo, sabia que minha
morte era certa e que não haveria nada o que eu pudesse fazer. Meu corpo
estava muito fraco e aceitei o que poderia estar por vir, só que
inexplicavelmente estava vivo. No fundo, eu sabia que havia sido o amor de
bello quem me trouxe de volta para estar ao seu lado.
— Dá para ver daqui o seu cérebro fritando. O que tanto você pensa,
meu amor? — perguntou direcionando o copo d’água em minha boca, coisa
que achei desnecessário, eu poderia beber água sozinho. No entanto, se ele
queria me mimar, aceitaria de bom grado.
— Nada demais, meu bello. Quanto tempo fiquei fora do ar? —
perguntei após refrescar minha garganta.
— Dois dias. Fiquei com medo que você… que você... — Um soluço
escapou, interrompendo-o.
Sem me importar com meu corpo que estava todo fodido, fiz todo o
esforço necessário e puxei meu adorável marido para os meus braços.
Deixeio chorar o tanto que ele quisesse com a cabeça deitada em meu peito.
Eu tinha noção do quanto foi difícil para ele tudo o que aconteceu. Bello
nunca precisou segurar uma arma em sua vida antes. Ter que matar algumas
pessoas para sua própria segurança, não foi uma coisa legal de ter que se
fazer. Ao contrário de mim, que cresceu tendo que aprender a me proteger.
Minha família não era a mais querida de todas, tínhamos muitos inimigos e
Paolo foi só mais um. Mais enquanto eu pudesse evitar de colocar o meu
marido em certas situações, eu iria fazer. Não só ele como os nossos filhos
também.
— Ei, mio amore! Está tudo bem agora, estamos bem. Nossa família
está bem e segura. Nossas vidas agora vão voltar a ser o que era antes —
disse sentindo o cheiro gostoso que emanava dos seus cabelos castanhos.
— Onde já se viu que um Aandreozzi tem uma vida normal? —
perguntou Luiz.
Ele encarou-me e um lindo sorriso se formou em seus lábios
inchados pelo choro.
— Olhando por esse lado, me faz querer concordar com você. —
Franzi minha testa.
— Viu o que eu disse? Eu sempre tenho razão! — falou bello fingindo
arrogância e tirando seu peso de cima de mim.
— Você não pode falar nada, pois eu te alertei sobre o lugar que
estava se metendo — disse sorrindo.
Ele assentiu.
— Tenho que chamar o seu médico, amor. — Pegou o telefone do
quarto, discou alguns números e falou com alguém.
— Minha situação foi muito feia? — perguntei tocando no meu
rosto, onde ainda sentia que havia algum inchaço.
— Está tudo bem agora, logo você estará cem por cento de novo,
ursão.
A porta foi aberta e o médico entrou no quarto.
— Bene, vedo che il mio paziente ha deciso di svegliarsi (Bem, vejo
que o meu paciente resolveu acordar) — disse ele.
Não gostei nada do olhar que ele deu para o meu marido.
“Sei que ele é lindo, mas tira o olho!”
— Voglio sapere quando esco da questo luogo miserabile (Quero
saber quando vou poder sair desse lugar miserável) — falei entredentes,
assustando o médico.
— Calma si Aandreozzi, appena svegli e la necessità di fare qualche
test (Calma, Sr. Aandreozzi. O senhor acabou de acordar e precisamos fazer
alguns exames) — disse o médico olhando de mim para bello.
— Ei, ursão... Pare com isso, tudo bem? — Bello virou meu rosto,
fazendo-me encará-lo.
— Você mais do que ninguém sabe que eu odeio hospitais — disse
me derretendo sob o olhar carinhoso de meu amor.
— Sei sim, mas também sei que você precisa se recuperar logo. Por
isso seja um pouco mais paciente — pediu e deu-me um beijo casto nos
lábios.
— Va bene! — concordei olhando para o médico.
Bello saiu do quarto avisando que iria ligar para o resto da família e
dizer que eu havia acordado. O médico jovem se apresentou como Heitor
Acco, mas não dei muita importância. Para falar a verdade, eu só queria sair
dali e voltar para o Brasil, para assim dar continuidade em minha rotina
junto a minha família. Sentia falta de casa.
O médico fez vários exames em mim, iria me dar mais algum
medicamento, mas eu disse a ele que estava bem e que não queria dormir e
sim comer. Pouco tempo depois fui com ajuda do meu bello tomar banho.
Luiz fez questão de não deixar nenhuma enfermeira me ajudar, isso me fez
sorrir. Não era só eu o possessivo!
Assim que acabamos com meu banho, me senti muito melhor. Voltei
para aquela cama sentindo um inválido. Trouxeram-me a minha refeição e
eu comi tudo de bom grado, estava com uma fome filha da mãe. Quando
terminei, fiquei olhando para Luiz que escrevia algo no celular distraído.
— Bello, o que tanto faz aí? — perguntei chamando sua
atenção.
— Estou conversando com Beto. Ele disse que está muito feliz que
você esteja bem — falou com um sorriso esperto.
— Ele não falou só isso né? Vou querer saber? — perguntei vendo
bello dar uma risada.
— Eu pedi para ele e Angel cuidar das crianças enquanto iríamos te
recuperar. Ele está me dizendo que disse a Ângela que estava fielmente
pensando em fazer um filho com ela. Daí minha amiga se irritou e lhe deu
um soco no rosto, falando que já tinha uma namorada — disse Luiz
controlando a risada.
Aquilo me fez rir junto com ele, mas parei imediatamente quando
senti uma dor maledetta por dentro.
— Cadê nossos filhos? Quero vê-los, peça para trazê-los para mim.
Bello me olhou com carinho.
— Eles fazem uma falta muito grande, não é? — perguntou se
aproximando da cama.
— Não só eles, como Amora também — falei com uma certa
melancolia.
Alguém bateu na porta do quarto e bello pediu que entrasse. Assim
que a porta foi aberta, meu pai entrou empurrando a minha nonna sentada
em uma cadeira de rodas. Tanto nonna Francesca quanto meu babo olharam
para mim com uma expressão de puro alívio. Antes que pudesse perguntar
como minha avó estava se sentindo, ouvi alguém chorar baixinho e logo
atrás de babo estava mamma como se estivesse com medo de entra no
quarto.
— Mamma? Eu estou bem. Venha aqui, por favor — pedi e ela
correu ao meu encontro.
— Grazie a Dio si sono ben mio figlio! (Graças a Deus que você
esteja bem, meu filho!) Perdoe-me por não ter lhe contado antes sobre o
que aquele desgraçado fez comigo e por não conseguir impedi-lo. — Ela
chorava copiosamente com o rosto enterrado no meu peito.
— Não fale nada, mamma. Isso não fará diferença. Não mudará o
amor e a admiração que tenho por você e babo — disse com a voz rouca,
sentindo minha garganta arranhar.
— É tão bom saber disso, meu filho! — respondeu mamma,
passando a mão em meu rosto machucado.
— Fico feliz em te ver bem, meu filho — disse babo com um sorriso
pequeno.
— É bom estar bem novamente, pai, e, finalmente, livre. — Olhei
para nonna e a vi enxugar os olhos chorosos. — Está chorando, nonna? —
perguntei e ela lançou-me um olhar raivoso.
— Quem está chorando aqui? Você está vendo alguém chorar aqui,
Luti? — perguntou a velha durona.
— Quem? Chorar? Jamais! Não é mesmo, nonna? — perguntou Luiz,
arrancando uma risada de mamma.
— Não liga para minha sogra, meu querido, ela está irritada com
Donatello hoje — falou mamma.
Babo soltou um som de insatisfação.
— E quando é que mamma não está irritada comigo? Ecco! —
perguntou e levou um tapa na barriga dado por nonna.
— Se você não se intrometesse quando estava flertando com o meu
médico, com certeza eu não estaria querendo te matar — disse ela cruzando
os braços.
— Olhe para mim e veja bem se eu deixaria aquele coroa pervertido
ficar de papo com a senhora — disse meu pai com a testa franzida de raiva.
— Fez muito bem, babo. Nada de dar moleza a esses pervertidos. E
quanto a senhora, se comporte — falei sendo apoiado por babo, mas
recebendo um olhar mau de bello, mamma e nonna.
— Fique na sua, Filippo Aandreozzi, antes que eu também lhe dê uns
sopapos. Sabia que esse meu soro pode voar na sua cabeça? — perguntou
dona Francesca em tom de ameaça.
— Tudo bem, não falarei nada. Mas pelo o que vejo, a senhora já
está bem, non è vero? — perguntei com um pouco de preocupação.
— Oh, sim, já levei tiros piores na minha vida. Foi um ferimento
limpo com entrada e saída, sem atingir nenhum órgão — explicou ela com
desdém.
Olhei para babo e o vi revirar os olhos.
— Sua avó é mais forte que todos nós juntos — disse mamma com
carinho.
— Não diga essas coisas a mamma, Bel fiore. Ela já se acha un super
signora (uma supersenhora) — disse meu pai.
— Por que você não vai simplesmente se foder? Deixe de ser fresco,
Don — falou nonna.
Meu pai bufou com descrença.
A porta foi aberta novamente e meus três irmãos entraram com
sorrisos nos rostos. Luna não falou nada e veio logo em minha direção,
abraçando-me. Ela sussurrou em meu ouvido o quanto estava feliz que seu
irmão mais velho estava bem. Enzo me deu um abraço, assim que Luna se
afastou com os olhos brilhando em lágrimas. Sabia que ele também estava
feliz em me ver bem. Lucca ostentava o sorriso sacana de sempre, parado na
porta segurando um grande urso de película.
— Alguém chamou pelo homem mais gostoso de todo o mundo? —
perguntou ele se escondendo atrás do urso, fazendo-me revirar os olhos. —
Enzo, Luna e eu, lhe trouxemos esse presente — disse jogando o urso nos
meus braços.
— Me tire desse meio, seu idiota! Sabe muito bem que não
concordei com isso, sabia que Filippo iria se irritar — disse Luna apontando
para os nossos irmãos infantis.
— Deixe de ser maccolona sorellina! (puxa-saco) — disse Enzo
apertando Luna em seus braços musculosos.
— Me solta la sua infelice (seu infeliz!) Babucchione! (Tapado!) —
disse ela irritada.
— Foi você quem escolheu o presente para darmos ao Lippo e ainda
disse: “um urso para o nosso grande ursão!” — dedurou Lucca.
Enzo estava controlando uma risada que estava prestes a explodir. E
eu? Eu estava irritado, mas ao mesmo tempo satisfeito por estar com a
minha família.
— Deixe minha sorellina em paz! Sei que ela não faria uma coisa
dessas, foram vocês, seus bastardos! Quando eu sair daqui, vou chutar seus
traseiros — falei entredentes, apontando para meus dois irmãos idiotas.
— Fratello maggiore impossibile! (Impossível, irmão mais velho!) —
disse Enzo e Lucca ao mesmo tempo.
— Eu achei esse urso muito fofo, mas vocês dois deixem meu marido
em paz, capisce! — disse bello em sinal de advertência.
Ouvi-lo falar daquele jeito, deixou-me excitado.
— Esses recém-casados me deixam enjoado — disse Enzo em tom de
brincadeira.
— Deixe só você encontrar o seu “alguém”. Quero só ver como você
vai ficar — disse Lucca sorridente.
— Não fale essas coisas, irmão. Sabe que isso não vai acontecer —
disse Enzo fazendo gestos de desdém.
— Estou louca para lhe ver pagar língua, meu neto. Você vai ser o
pior do lote — disse nonna fazendo Enzo estremecer.
— Agora sem brincadeiras. Fico feliz que esteja realmente bem, meu
irmão — disse Lucca sério.
Assenti.
— Obrigado por vocês terem ido por mim. Só... obrigado! — falei
olhando para os três.
— Não fizemos nada que você não faria por nós. Somos os
Aandreozzi! — disse Enzo com determinação.
— Para tudo e por tudo! — disse Luna emocionada.
— Sempre! — respondemos os três homens em uníssono.
— Arianna! Você e Don colocaram quatro babacas no mundo, mas
são os quatro babacas mais fodas que existem — disse nonna melancólica.
Todos nós rimos. Aquilo era raro.
— Aproveitando que estamos todos juntos, temos que conversar
sobre o que aconteceu. Como vocês conseguiram entrar na fortaleza da
Finastella? — perguntei e vi os olhares significativos entre Enzo, Lucca, bello
e Luna.
— Olhe só, amor... Temos uma coisa para te contar, mas não fique
muito irritado, lembre-se que você está em recuperação — pediu Luiz
tentando fazer com que eu não me irritasse, mas foi sem sucesso.
— O que vocês quatro fizeram? — perguntei respirando fundo, já me
preparando para o pior.
— Você lembra daquele meu amigo, o Augusto? — perguntou Enzo e
meu corpo enrijeceu na hora.
— Augusto Nardelli? Aquele bastardo que queria nos usar nos planos
contra Paolo? — perguntei enraivecido.
Ele assentiu.
— Eu pedi ajuda a ele para invadirmos a fortaleza de Paolo — disse
Enzo.
— Que porra estava na sua cabeça em se envolver com federais
nesse caralho? Você mais que ninguém sabe o quanto eu mandei Nardelli ir
se foder, Enzo! — esbravejei espumando de raiva. Imediatamente senti
minha cabeça doer como o inferno. — Mataram pessoas... Bello matou
Paolo! E se ele resolver prender o meu marido? — perguntei desnorteado.
Senti o toque calmo de bello no meu peito.
— Ei, calma. Nada vai acontecer. Para de se estressar assim, nós já
cuidamos de tudo — disse ele fazendo-me acalmar.
— Desculpe, mas nunca quis envolver a lei nos nossos assuntos. —
Olhei para babo que estava tranquilo.
— Sabemos disso, mas agora você tem que deixar de ser um escroto
autoritário e ouvir o que eu e seus irmão temos a dizer — disse Luiz sendo
severo.
Sorri.
— Onde está meu tímido Luiz Otávio? Mio ragazzo agora é feroz. —
Puxei-lhe para um beijo, mas interrompemos ao ouvirmos um pigarreado vir
de meu pai.
— Vamos deixar essa agarração para depois — disse Lucca. — Fale
aí, Enzo.
Enzo começou a me contar sobre o acerto que ele fez com Nardelli.
Meus irmãos ajudariam ele e sua força especial a encontrar o local exato da
fortaleza da Finastella, mas em troca eles teriam de ajudar em meu resgate.
Perguntei a Enzo como confiar que Nardelli cumpriria com o acordo de não
envolvimento da nossa família no meio daquilo tudo e ele me respondeu
que formulou um contrato com urgência, fazendo o seu amigo assinar. Lucca
afirmou que Nardelli estava desesperado para acabar logo com o caso que já
durava sete anos sem nenhum sucesso.
Não gostava muito daquilo, mas tinha que concordar que Enzo não colocaria
a nossa família em risco, pois fazíamos nossas coisas por conta própria e não
precisávamos de ninguém se metendo em nada, principalmente, a lei.
Éramos o que éramos e aceitávamos ser daquele jeito. Ninguém mexia com
a gente e saía por aí contando vantagem. Poderia demorar para acontecer,
mas aprendi que na vida temos que ter paciência para resolvermos nossos
assuntos.
— Conseguiram pegar Frank, Jeremiah e Atílio? — perguntei e mais
uma vez eles se entreolharam com cumplicidade.
— Jeremiah foi preso e quanto ao Atílio, foi mamma quem deu um
jeito nele — disse Luna.
Olhei para mamma que afirmou envergonhada.
— Mas o desgraçado do Frank conseguiu fugir.
— Claro que o cão adestrado tinha que fugir — falei cerrando os
punhos. — Foda-se! Espero que ele nunca cruze meu caminho. Estou louco
para pôr minhas mãos nele.
— Agora vamos sair e deixar você descansar um pouco. Amanhã
viremos te ver — disse mamma, aproximando-se e deixando um beijo em
minha testa.
— Espero que amanhã eu já esteja saindo daqui — disse e recebi um
olhar de advertência vindo dela.
— Não seja um estúpido com os médicos! — advertiu mamma.
Assenti.
— Falar isso com Filippo é a mesma coisa que nada — disse Lucca
sorridente.
— Não se meta, seu bastardo! — falei entredentes.
— Te amo, irmão. É bom vê-lo mais rabugento que nunca — disse
ele.
— Amo vocês também! — falei lhes dando um sorriso pequeno.
— Sabemos disso, pois é impossível não nos amar — retrucou.
Enzo e Luna concordaram imediatamente com ele.
Após toda minha família ir embora e levar Luiz com eles sob seus
protestos, fiquei sozinho para descansar. Era ruim estar sozinho, mas não
podia manter meu bello comigo o tempo todo, nossos filhos precisavam dele
por perto também, ainda mais depois de todas as coisas violentas que as
crianças viram nos últimos dias. Pietro e Duda tinham que saber que havia
acabado e que os pais deles estavam lá sempre para eles.
Era bom estar vivo. Sabia que nunca fui o homem mais aberto para
vida, mas iria tentar mudar isso com a segunda chance que estava
recebendo.

Na manhã seguinte, após fazer minha higiene e tomar o café da


manhã horrível do hospital, tive o desprazer de receber uma visita. Ouvi
uma batida na porta e gritei que poderia entrar. A mesma foi aberta, então,
Augusto Nardelli surgiu.
— Sr. Aandreozzi, é bom vê-lo inteiro de novo — disse ele sorrindo.
Sua presença fez minha máscara fria assumir meu rosto.
— Sempre estive inteiro, Sr. Nardelli. Qual o motivo da sua visita? —
perguntei, fazendo-o se aproximar.
— Quero te fazer umas perguntas…
— Não temos nada para conversarmos, Nardelli! — interrompi-o. —
Você acha que eu não sei que você usou meus irmãos para conseguir ganhar
seu maldito caso que dura há anos? Por causa de sua incompetência não foi
capaz de resolver, então, usou do desespero dos meus irmãos e marido. —
Estava irritado. — Pois bem, escute o que tenho a lhe dizer. Honre o maldito
contrato que acertou com meu irmão de não envolver minha família nos
negócios sujos da Finastella — disse com toda calma que consegui no
momento.
— Mas é claro que farei isso. Enzo é meu amigo e tudo isso foi uma
via de mão dupla. Ele me ajudou e nós o ajudamos — falou com firmeza.
— Não me interessa, não confio em você. Para falar a verdade, eu
não confio em ninguém, por isso te darei um aviso. Cumpra com o que disse
e não vou precisar interferir. Não me interessa se você é da força especial,
CIA, FBI, o caralho que seja, esteja ciente que vou atrás de você — ameacei-
o, olhando-o nos olhos.
— É bom ver uma família tão unida, isso é difícil de se ver nos dias de
hoje — disse e deu um sorriso pequeno.
— Você não tem noção do que eu faria pela minha família, Nardelli
— falei perigosamente.
Vimos a porta do quarto ser aberta e bello passar por ela,
juntamente com meus dois anjinhos. Meus filhos correrem gritando por
mim e vieram em minha direção. Meus bambinos estavam com rostos
felizes e com olhinhos brilhantes ao me ver. Luiz parou na porta percebendo
que Nardelli estava ali. Ele olhou-me cheio de confusão.
— Bom dia! Se estivermos atrapalhando alguma coisa, podemos
voltar depois — disse bello.
— Você nunca atrapalha nada, amore! Eu e o Sr. Nardelli já
terminamos nossa conversa — falei ajudando meus bambinos a subirem na
cama.
— Sim, Luiz Otávio. Não temos mais o que falar. Como você está? —
perguntou Nardelli, colocando a mão imunda no ombro do meu marido.
— Eu estou bem. Agora está tudo bem. — Bello olhou para mim com
olhos cheios de amor.
— Isso é muito bom, Luiz — falou Nardelli. Sua mão ainda estava em
meu marido.
— Será que dá para você se afastar um pouco do meu marido? Não
gosto de pessoas estranhas tocando ele — resmunguei fazendo Luiz se
irritar.
— Filippo! — repreendeu-me ele, fazendo as crianças prenderem a
risada com suas mãozinhas na boca.
— Tudo bem, conheço o jeito de ser do Filippo há anos. Fico feliz que
ele esteja bem. Vocês dois tem uma família linda — disse Augusto.
Senti uma certa melancolia no tom de sua voz, mas logo mudou e
sorriu.
— Vou deixar vocês à vontade.
— Até mais, Augusto! — despediu-se bello, antes de Nardelli fechar a
porta. — Muito me admira você, Sr. Aandreozzi. Quanta ignorância com o
homem. Ele sempre foi muito gentil comigo — disse e dei de ombros.
— Não gosto dele e não gosto mais ainda dele com as mãos em você
— falei nervoso.
Bello me olhou como se não acreditasse no que eu estava dizendo.
— Mas que… — interrompeu-se e respirou fundo. — Olhe, quer
saber? Tudo bem! — Sentou-se na poltrona bufando de raiva.
— Cês tão bligando? Não pode bligar, papais! — disse meu garotinho
cruzando os braços.
— Não, ursinho. Não estamos brigando. Não é mesmo, amor? —
perguntou bello.
Assenti.
— Nós não brigamos, o pai cabeça dura de vocês é o amor da minha
vida — disse.
Meus filhos abriram um grande sorriso.
— Viu só, papai. Babo só sente ciúmes de você. Isso é bom! Eu, Pê e
Amora sentimos sua falta, babo — disse minha garotinha com os olhinhos
caídos. — Eu sei que aqueles homens maus te machucaram.
— Eu quelia bater naqueles homens maus! — disse Pietro com uma
careta.
— Eu sei que você é um rapazinho muito forte e corajoso, quando
crescer será igual ao babo — falei.
Pietro afirmou rapidamente.
— Só não quero mais que eles façam isso com a gente — disse Duda
de cabeça baixa.
— Eles nunca mais farão uma coisa dessas, ursinhos. Acabou e logo
estaremos em casa, vocês dois tem que ir à escola — disse bello e eu
concordei.
— Eu não gosto de estudar — disse Pietro fazendo bico.
— Já eu gosto, arranjei vários amigos e sinto falta deles — falou
Eduarda, surpreendendo-me.
— Como assim amigos? Espero que não sejam meninos, está me
ouvindo, mocinha? Não quero ter que torcer pescoços desde cedo — falei
enciumado.
Bello gargalhou e minha filha me olhou sem acreditar no meu
pequeno surto de ciúmes.
— Isso mesmo, nada de meninos, moxinha! — disse Pietro.
Levantei a mão para um hi-fi com meu garoto. Ele bateu sua
mãozinha com força contra a minha palma.
— Vai proteger sua irmã dos garotos? — perguntei feliz da vida ao
meu filhão.
— Vou sim! Nada de meninos! — disse com seu jeito fofo,
fazendome rir.
— Está vendo isso, papai? — perguntou Duda chateada ao Luiz.
— É para o seu bem, minha princesa. No futuro você vai me pedir
para chutar o traseiro de algum bastardo — falei puxando minha filha para
um abraço e cheirando seus cabelos castanhos longos.
— Eu não acredito que estou ouvindo isso! — disse bello balançando
a cabeça negativamente.
Passei boa parte do meu dia ao lado dos meus filhos e do homem
que amava. Apesar de que logo sairia daquele maldito hospital e voltaria
para casa com minha família, tive que me contentar em ficar um pouco com
eles, mas logo tiveram que ir embora.
Conversei com bello e tivemos que adiar nossa viagem juntos, ele me
disse que estava perdendo muita coisa na faculdade e que nas férias
poderíamos viajar tranquilamente sem ter a pressa de voltarmos tão cedo.
Tive de concordar. Luigi havia voltado para o Brasil para arrumar alguma
bagunça que algum incompetente fez. Isso deixou-me irritado e
preocupado. Por causa disso, tinha que voltar logo também ao meu trabalho
o quanto antes. Alguém tinha que pôr ordem naquela porra!

Cinco dias se passaram e eu finalmente havia sido liberado para ir


embora. Bello não sabia, mas tinha acertado um curto passeio para nós dois
em Veneza. Não poderia deixar que algo tão importante como o nosso
casamento passasse em branco depois de tanta confusão. Logo após a alta,
levei meu marido para o heliporto do hospital, onde o helicóptero de Enzo
estava a nossa disposição.
— Vai me dizer para onde está me levando, amor? — perguntou
bello, enquanto subíamos para o terraço de elevador.
— Você achou mesmo que nosso casamento iria passar em branco?
— perguntei aproximando meus lábios dos seus.
— Como assim? Não vamos ter que viajar para o Brasil? — perguntou
sem entender o que estava havendo.
Quando as portas do elevador se abriram, ele arregalou os olhos e
olhou-me surpreso e sem palavras.
— Dois dias, bello. — Posicionei-me atrás dele e segurei levemente
seus ombros. — Dois dias são tudo o que eu preciso para poder te foder
intensamente e comemorarmos a dádiva de estarmos casados — sussurrei
ao seu ouvido, vendo seu corpo se arrepiar e ele suspirar.
— Irei com você para onde quiser me levar. Sou teu, meu
amor!
— Como certeza você é! Meu e de mais ninguém, até que a morte
nos separe.
Parei à sua frente e beijei-o com todo o amor que sentia fervilhar
dentro de mim.

Não conseguia acreditar que mesmo Filippo debilitado em cima de


uma cama de hospital, ele planejou um momento só para nós dois. Andei
pela primeira vez de helicóptero e foi a experiência mais fascinante que
poderia ter tido na vida, ainda mais com o meu lindo marido ao lado. Fiquei
olhando o tempo inteiro para seu rosto de homem sério e isso só me fez
querer chegar logo ao nosso destino para fodermos como dois coelhos,
palavras do próprio Filippo.
Não conseguia parar de pensar que ele poderia estar morto. Sempre
que fechava meus olhos, voltava para aquele momento o qual quase o perdi
e um grande medo tomava conta de mim. Por esse motivo não conseguia
tirar meus olhos de cima dele, tinha medo de que algo pudesse acontecer e
levá-lo de mim. Sabia que podia parecer loucura de minha parte, mas
infelizmente era assim que me sentia.
Naquele curto espaço de tempo que iriamos ficar sozinhos. Seria
muito bom para acalmar meu coração e fazer minha mente acreditar que o
pesadelo havia acabado, que estávamos bem e iriamos continuar assim.
Deixamos o helicóptero e passamos pelas belas ruas de Veneza, eu
estava extasiado com a cidade vista antes por mim somente através de
filmes e a internet. Estava muito curioso para saber para onde o meu ursão
estava nos levando, mas Filippo só revelou quando chegamos em terra
firme, ou nem tão firme assim se tratando de Veneza.
O carro andou por uma estradinha e depois de mais alguns minutos,
parou diante uma casa de dois andares, toda de estrutura feita em madeira
e vidro fumê. Era nítido que aquela era uma casa de campo, o verde era
muito presente para qualquer lugar que olhasse. Saímos do carro e percebi
que Filippo fez uma careta ao se mexer, o teimoso do meu marido ainda
estava um pouco dolorido, mas não dava o braço a torcer.
— Amor, onde estamos? — perguntei observando cada canto do
lindo lugar.
— Bem, eu comprei este lugar especialmente para nós. Sempre que
quisermos um pouco de descanso de tudo, podemos vir para cá.
Olhei novamente a casa e os arredores, respirei fundo puxando o ar
limpo e maravilhoso, percebendo que não havia mais nenhuma casa a vista,
estávamos exilados.
— Nossa, isso aqui é muito lindo! As crianças vão amar poder correr
livremente por aqui — disse lembrando-me dos meus pequenos seres
humanos.
— Pensei neles também quando comprei. Nos fundos dá para ver o
pôr-do-sol — disse Filippo passando o seu braço forte pelo meu ombro.
— Eu amei esse lugar.
— Eu também — disse e apalpou minha bunda.
— O que você está querendo, meu ursão? — sussurrei apreciando o
aperto repentino.
— Você sabe muito bem o que eu quero.
Filippo me puxou para si e aproximou nossas bocas, roçando seus
lábios nos meus.
— Não vou saber se você não disser — disse passando minha língua
por seus lábios carnudos.
— Não me provoque, bello. Estou a ponto de te foder aqui do lado de
fora mesmo. — Esmagou nossas bocas em um beijo ardente, moendo
nossos paus rígidos um no outro.
— Alguém ficará conosco aqui na casa? — perguntei assim que
cessamos o beijo.
— Não, será só eu e você! Ninguém conhece, ou tem acesso a esse
lugar. Estamos seguros.
Assenti.
— Já que é assim, vou correr para encontrar o nosso quarto. Deve ser
o maior da casa, estou errado? — perguntei afastando-me dele.
— Não, bello, você não poderia estar mais certo.
Vi seus olhos azuis-claros, escurecerem de desejo.
— Se adiante, pois estarei nu na nossa cama. Se você demorar, eu
posso já estar gozando sozinho. — Sorri com malícia e corri porta a dentro.
— Nem ouse gozar sem mim, o direito do seu prazer só cabe a mim e
a mais ninguém, nem a sua mão! — escutei-o gritar distante.
Enquanto corria para o andar de cima, vi como a casa era iluminada e
espaçosa. O cheiro de madeira era presente e bastante satisfatório ao meu
olfato. Queria parar e olhar cada detalhe, mas o desejo correndo em minhas
veias falou mais alto.
Ao chegar no segundo andar da casa, não precisei pensar muito para
adivinhar qual era a porta que dava para o quarto do casal, pois a mesma
era a última do corredor. Abri tirando os meus sapatos e logo que entrei,
arranquei o jeans. Parei e observei o cômodo. Puta merda! Que porra era
aquela? Tínhamos uma lareira! Sempre achei incrível uma lareira no quarto,
coisa de novela! A janela de vidro me dava uma vista magnífica da natureza
que nos cercava. Não ligava para aquilo naquele momento, precisava tirar o
resto da roupa e esperar pelo meu marido terminar sua caçada a mim. Tirei
o restante das peças e deitei no meio da cama.
— Bello, bello... Espero que você esteja nu me esperando — disse
Filippo do outro lado da porta do quarto.
— Abra a porta e veja, meu amor.
No instante que fechei a boca, Filippo abriu a porta. Seus olhos
passearam por todo o lugar, até que parou me encarando olho no olho,
prendendo seu olhar no meu. O desejo cru estava enraizado no rosto
perfeito dele e eu não precisava ler mentes para saber as coisas sujas que
passavam pela cabeça de Filippo. Ele foi tirando o seu suéter cinza, seus
sapatos e o cinto, ficando somente de calça social preta.
— Você não sabe o quão prazeroso é te ver assim — disse com a voz
rouca de desejo.
— Não, eu não sei, mas seria bem legal se você me mostrasse —
disse contorcendo meu corpo ao sentir os toques quentes das grandes mãos
dele.
— Farei até o impossível para te mostrar, meu amor.
Com seu grande corpo pairando sobre o meu, Filippo juntou nossos
lábios. Seu beijo acendeu ainda mais o meu corpo. Ele desceu seus beijos
por meu tórax e parou no meu mamilo direito. Raspou os dentes e o puxou
com força me fazendo arfar de susto e prazer. Meus quadris estavam
balançando, esfregando minha ereção contra seu tronco em busca de um
pouco de alívio.
— O que você quer de mim? Pode pedir que farei de tudo para te dar
— falou trilhando beijos por minha barriga.
— Chupe o meu pau! Por favor, eu quero sua boca quente e macia
no meu pau. — Foda-se, eu estava implorando, mas quem ligava? Eu estava
com meu marido.
— Oh, sim! Farei isso, quero sentir o seu gosto. Você quer minha
boca em você, bello? — perguntou o infeliz com um sorriso safado.
— Inferno! Sim! Por Deus, Filippo, não me faça implorar de novo —
disse irritado.
Sem mais ou delongas, senti sua língua poderosa passar pela cabeça
de meu pau, pegando para si a gota do pré-sêmen que escorria. Sua boca
começou a trabalhar em todo o meu comprimento, que não era nem tão
grosso e nem grande como o dele, mas não me fazia passar vergonha. Eu
gemia e agarrava com força os lençóis macios sob mim, quase os rasgando.
Não estava sabendo lidar com os prazeres que estava sentindo naquele
momento.
Filippo afastou sua boca sob meus gemidos de protesto, é claro, e foi
até à calça caída no chão e puxou do seu bolso um pequeno tubo de
lubrificante. Ele abriu-o e derramou uma quantidade generosa em seus
dedos grandes. Olhando em meus olhos, começou a introduzir o primeiro
dedo em meu ânus e depois o segundo, fazendo seus movimentos de vai e
vem, levando-me à loucura. Quando ele introduziu o terceiro dedo, eu já
não aguentava mais esperar. Precisava dele!
— Chega! Preciso de você e eu preciso agora! Não me torture assim
— pedi vendo Filippo abrir um largo sorriso.
— Sério, bello? Você está muito mandão hoje. Também cansei de
esperar, quero sentir meu pau enterrado no seu interior apertado — falou
tirando a cueca, fazendo seu enorme membro balançar me deixando
hipnotizado. Ele pegou o lubrificante novamente e passou em abundância
no seu glorioso pau.
— Vamos, amor. Vamos logo — falei sem paciência alguma. Peguei
seu pau e o direcionei em meu buraco.
— Como você quiser, Sr. Aandreozzi — disse e beijou-me.
Sem desviar seus olhos dos meus, Filippo foi me penetrando. Arfei
em contentamento. Ao sentir que estava todo acomodado, ele me beijou
novamente e começou a se movimentar lentamente. Cada vez que fazíamos
amor, era como se ele me permitisse olhar o que estava dentro de sua alma.
Não sabia dizer com palavras o tamanho da emoção que sentia.
Quando seus movimentos se tornam constantes e precisos com sua
pele suada colada na minha, sabia que estávamos quase lá. Ciente disso, ele
apertou meu pau com sua mão grande e masturbou-me no ritmo das suas
estocadas.
— Estou no meu limite... Vou gozar. Porra! — disse sem fôlego
algum.
— Dê-me isso, bello. Dê-me o seu prazer. Agora! — sussurrou ele em
meu ouvido, fazendo os pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Oh, merda! Ahh… —
Gozei e no mesmo instante percebi que Filippo também jorrava seu
líquido quente dentro de mim. Ele saiu e se deitou ao meu lado. Era incrível
a satisfação que eu estava sentindo naquele instante. Ao olhar para o lado,
vi que meu marido me olhava com amor e carinho. Aconcheguei meu corpo
ao seu sem quebrar a conexão forte entre os olhares.
— Você é a criatura mais linda que já vi. É foda saber que você é meu
— disse Filippo fazendo-me ficar vermelho.
— Pare! Até parece, você já se olhou no espelho? Você que é o lindo
aqui. — Meu corpo foi puxado para mais perto dele.
— Eu amo tanto você, Luiz Otávio, que às vezes não consigo lidar
com esse amor. É tudo tão surreal.
As palavras saídas da sua boca aqueceram meu coração.
— Eu também te amo muito. Minha vida era tão sem graça até que
um sujeito ignorante apareceu no restaurante onde eu trabalhava e me
tratou mal para caralho — falei acariciando os pelos em seu peitoral.
— Desculpe por isso, amore. Você parecia um cordeirinho com
medo. Chegou até ser adorável.
Olhei-o ofendido.
— Eu não era um cordeirinho assustado — defendi-me e recebi um
olhar de Filippo que dizia: “é sério isso?” — Ok! Eu poderia ser um pouco
tímido.
Ele sorriu.
— Caralho, é tão bom te ver sorrir — falei admirado-o.
— Meus sorrisos sinceros são somente para você e nossos bambinos
— confessou aquecendo ainda mais meu coração.
— Eu sei, ursão. Amo demais você por isso. Nunca me importei em
estar com um velho carrancudo e que não é simpático com os outros.
Em uma ação rápida, Filippo virou-me de barriga para cima e cobriu
meu corpo com o seu.
— Quem você chamou de velho? — perguntou fingindo confusão.
— Eu falei alguma coisa? Falei? Não estou lembrando — disse
sorrindo.
— Não seja um fingido, bello. Eu deveria te mostrar quem é o velho
aqui.
— Eu adoraria ver isso, de verdade.
— De quatro para mim, bello. Você mexeu com o homem errado.
Sorri e acatei sua ordem.
— Oh, sim! Puta merda! — gritei ao sentir Filippo se encaixar
perfeitamente dentro de mim em um impulso.
— Isso mesmo, bello! Grite para mim — pediu me acertando um tapa
estalado na bunda.
Meu ursão fez questão de me mostrar o quão errado eu estava em
lhe chamar de velho. O homem era bom no que fazia e sabia me deixar
maluco de tesão. Porra, nem conseguia pensar em nada!
Depois de fazermos amor, acabamos pegando no sono. Acordei no
início da noite e Filippo fez questão de me perguntar se eu queria dar um
passeio por Veneza, mas sabia que ele havia abusado na nossa tarde quente
e suada, então, por este motivo eu disse que deveríamos aproveitar a noite
que tínhamos sozinhos. Para me encher de amor ainda mais, meu ursão
resolveu cozinhar para nós dois, após um banho saliente no qual o chupei
cheio de desejo.
— É sério que você sabe cozinhar? — perguntei enchendo a taça com
o vinho escolhido por mim na adega.
— Nonna ensinou todos nós a cozinhar, confesso que Luna e Lucca
cozinham muito melhor que eu e Enzo, mas eu sei me virar.
— Tem que cozinhar para mim e as crianças, amor. Principalmente se
eu gostar do que você vai fazer agora — falei e beberiquei meu vinho.
— Bello, vamos lembrar que eu não sou nenhum chefe de cozinha —
falou sério, fazendo-me rir.
— Oh, sim. Já vou logo avisando que se ficar ruim, vou espalhar para
toda sua família. Tenho certeza que Lucca vai adorar saber disso. — Ri e
Filippo fez careta.
— Dio Santo bello! Pare com isso, va bene?
— Não prometerei nada, ursão!
— Eu sabia que te apresentar para minha família seria um erro, você
está tão espaçoso quanto eles — disse em um desgosto fingido.
— Já foi, amor. Agora eu também sou um Aandreozzi! — Gargalhei.
— Fico feliz que seja um Aandreozzi, você não faz ideia do quanto
isso me alegra.
Pude ver a verdade nas suas palavras.
— Eu também. Ser casado com você me faz bem. — Rodeei o balcão
da cozinha, agarrando Filippo por trás e enterrando meu rosto nas suas
costas.
— Mesmo tendo que viver rodeado de seguranças e sabendo que a
qualquer momento algum filho da puta que odeia minha família, pode
tentar me atingir através de você? — perguntou virando-se para mim.
— Mesmo com tudo isso eu continuarei ao seu lado, fora que agora
sei me defender — falei me exibindo.
— Sim, bello. É foda ver você em ação. — Deu-me um beijo.
— Está tudo muito lindo, mas estou com fome. Você esgotou todas
as minhas forças. — Afastei-me deixando Filippo terminar o seu trabalho na
cozinha.
O nhoque que ele preparou estava uma delícia, honestamente.
Aquele homem tinha que cozinhar mais vezes. Depois do jantar, ficamos
conversando por um bom tempo. Conversa vai e conversa vem, chegamos
ao fatos ocorridos e enfim, ao assunto de tema: “tia Amélia”. Não fazia ideia
para onde ela havia ido, mas achava que Elijah a mandou junto com o filho
da puta do Paulo para São Paulo novamente. Para falar a verdade, pouco me
importava o rumo que a vida dela possa ter tomado. Se eu dissesse que não
me doía pensar coisas assim, estaria mentindo, mas não queria e não iria
fazer nada por ela. Para mim, Amélia havia morrido.
Após algumas horas fomos dormir, mas não antes de namorarmos
gostoso outra vez.

Estávamos voltando à casa dos meus sogros para buscar nossos filhos
e meus amigos, para assim voltarmos ao Brasil. Foram só dois dias que fiquei
com Filippo naquela casa linda e no meio do nada, mas foram os dias mais
gostosos. Eu pude conhecer mais o homem com quem me casei, saímos um
pouco para passear pelas ruas da bela Veneza, almoçamos e jantamos em
lugares lindos e aconchegantes...
Chegamos à casa dos meus sogros e fomos recebidos pelas crianças
que já tinham sido informados sobre a nossa chegada para buscá-los. Filippo
carregou Eduarda lhe dando muitos beijos e abraços. Pietro veio para mim e,
mesmo de cara amarrada, me deu um abraço forte.
— Puxa, vocês esquecelam da gente — disse ele
emburrado.
— Não esquecemos não, ursinho. Sentimos muito sua falta — disse
olhando para o meu garotinho.
— Viu que eu te disse, seu chato. Ele chorou ontem de noite dizendo
que vocês esqueceram a gente — disse Duda parecendo uma mocinha.
— Cale boca, sua buxa! Eu não cholo, eu sou homi — disse descendo
do meu colo.
Olhei para Filippo e o vi prender o riso.
— Nada de chamar sua irmã de bruxa, ursinho, ela é uma princesa e
você é um príncipe — repreendeu Filippo, já esperando uma resposta que
ele sabia que viria.
— Eu não sou plincipe, babo. Eu sou forte e um super-helói como
você — falou Pietro irritado.
— A cada dia que passa esse menino fica mais parecido com o
Filippo, isso é tão impressionante — disse Arianna vindo em nossa direção.
— Aproveitaram a viagem, meus queridos?
— Você ainda pergunta, mamma? Olhe a cara do Lippo. Está
parecendo um gato que comeu o canário — disse Lucca aparecendo do
nada.
— De inconveniente passou a ser um fantasma agora? — perguntou
Filippo irritado.
— Seu amor por mim é tão gratificante — disse Lucca no puro
sarcasmo.
— Pensei que vocês já tivessem ido para suas vidas — disse Filippo.
Luna e Enzo apareceram.
— Eu estou indo hoje à tarde e vou levar nonna comigo — disse Luna
depois que me abraçou.
— Babo está sabendo disso? A mãe dele e sua “filhinha inocente” na
Espanha juntas? Isso não vai prestar — disse Enzo carregando Pietro que
tentou fugir, mas foi impossível.
— Se eu fosse você, cuidaria da sua vida, garoto. Minha neta disse
que cuidaria de mim enquanto sou uma velha debilitada — disse nonna
apontando muito irritada para Enzo.
— Isso vai ser bom para senhora, nonna — disse indo cumprimentá-
la.
— Olhe para você. Sua pele está tão boa. Sem dúvidas fodeu a noite
toda! Já disse que tenho orgulho da porra desse meu neto viril? —
perguntou nonna, fazendo-me ficar vermelho.
Os irmãos Aandreozzi caíram na gargalhada deixando Filippo
irritado.
— Controle a boca, nonna! — brigou Filippo descontente.
— Não me diga o que fazer! Lembre-se quem é a nonna aqui, ursão!
— disse ela apontando seu sapato.
— Ei, casal! Vocês chegaram? Não queria deixar Milão, às vezes
sinto que nasci no país errado — disse Beto descendo a escada com Ângela.
— Por que ele continua irritante? — murmurou Filippo.
— São seus olhos, Filitito — falou Beto, piscando para o meu marido.
— Eu gosto de você, garoto. Você é um ragazzo muito corajoso —
disse Don vindo se despedir de nós também.
Nos despedimos de toda a família após de discussões, palavreados e
gargalhadas. Finalmente, depois de esperarem arrumar tudo para nossa
saída, fomos pegar o jatinho que nos levaria para casa. Com meus amigos e
as crianças acomodados, Filippo aproveitou para dar uma olhada nos e-mails
e eu fiquei puxando papo com todo mundo, se não fizesse isso estaria
dormindo logo mais.
Depois de várias horas massacrantes e cansativas de viagem, enfim
chegamos em solo brasileiro. Amei a Itália de todo meu coração, mas nada
se comparava ao nosso lar. Um carro chegou e levou meus amigos para suas
respectivas casas. Logo outros dois estacionaram e nos levaram para nossa
residência. Ao abrir a porta, senti o cheirinho que só o nosso lar tinha.
Aqueles segundos ao entrar seguido de minha família, me deu a maior
certeza que não trocaria aquela vida que tinha com o meu marido e meus
filhos por nada no mundo.

Meses depois...

Alguns meses se passaram e minha vida andava muito corrida. Meus


dias se resumiam a faculdade, filhos, marido, e não sobrava quase tempo
algum para mais nada. Não que estivesse reclamando, longe disso, mas
tínhamos que relatar os fatos.
Meu casamento com Filippo não era uma coisa fácil, ele sempre seria
o grande homem mal que adorava assustar as pessoas que se aproximavam
de mim, fosse para fazer amizade ou com outras intenções. Já havíamos tido
inúmeras brigas bem feias do tipo que me faziam sumir durante um dia todo
sem segurança, celular ou nada mais com que ele pudesse me localiza. Isso
fazia com que meu ursão ficasse louco de preocupação e talvez fosse essa
minha intenção. Quando voltava para casa, brigávamos mais um pouquinho
e terminávamos fodendo em qualquer lugar que pudéssemos fechar as
portas e nos amar longe de testemunhas.
A família Aandreozzi continuava cada um nos seus repetitivos
lugares, mas sempre estávamos entrando em contado ou recebendo uma
visita inesperada de algum membro, menos de Lucca que estava evitando
São Paulo a todo custo. Alguns dias atrás havíamos nos falado e o mesmo
me disse: “não posso ir aí e me arriscar de cometer a loucura de dar um
ultimato a Luigi”. Aquela história dos dois ainda iria render um bom bocado.
Nesses meses que se passaram ocorreu o meu aniversário e para
minha sorte estava com o semestre na faculdade finalizado. Tinha que dizer
que foi o melhor aniversário de todos na minha vida, Filippo me deu um
Audi v8 de presente. A história desse carro foi bem engraçada, só de me
lembrar começava a rir. A possessividade de Filippo, às vezes, passava dos
limites.
Tudo aconteceu no dia em que eu e Ângela estávamos fazendo um
trabalho da faculdade no escritório de casa. Minha amiga e eu estávamos
discutindo uma passagem do último livro da trilogia cinquenta tons de cinza,
na qual Grey dava um carro à Anastácia. Em um instante brinquei com Angel
dizendo que seria ótimo ser Anastácia naquele momento e nós rimos como
loucos, mas eu não sabia que tinha um certo alguém prestando atenção em
nós pela fresta da porta entreaberta. Somente quando Angel foi embora,
notei que Filippo havia chegado em casa. Encontrei-o com as crianças e
Amora na nossa área de lazer. Percebi que meu marido estava bastante
irritado, mas ao perguntar o que estava acontecendo, ele não me disse
nada.
Justamente alguns dias antes do meu aniversário, entrei na garagem
e vi um Audi estacionado ali que não estava antes. Corri para perguntar a
Filippo de quem era aquela coisa linda e ele me disse: “É seu! Isso é para
você ver que não tem necessidade de desejar ser outra pessoa! E eu sou
capaz de te dar o mundo se assim for o seu desejo.” Então entendi. Ele havia
ouvido nossa conversa e por isso estava irritado quando me aproximei dele.
Filippo tinha se chateado e ficado com ciúmes por eu desejar ser outro
alguém por um bem material.
Apesar de ter pirado com o presente, acabamos discutindo quando
lhe disse que não havia o porquê daquele ciúme tolo do personagem de um
livro, isso era loucura! Mesmo feliz com meu novo carro, ele merecia
aprender uma lição. Não toquei no Audi por um bom tempo, e quando ele
me pediu desculpas depois de semanas mostrando-se triste pelo gelo que
estava dando nele, percebi que Filippo havia aprendido a lição.
Em comemoração ao meu vigésimo aniversário, decidimos fazer uma
viagem em família para o Hawaii. Foi tudo muito bom, apesar de Filippo não
querer deixar que Duda usasse o biquíni lindo que ganhou de sua tia Luna,
mas depois de muitos pedidos da filha, ele acabou deixando a menina usar o
que bem entendia.
Pietro foi o que mais gostou da viagem. Ele dizia que sempre quis
brincar na areia da praia. Meus filhos eram fofos, mas às vezes davam
trabalho.
Semanas antes da viagem, descobrimos que Pietro havia se metido
em uma briga com outro garoto na creche. Isso me causou preocupação e
me fez abandonar a aula. Mandei uma mensagem para Brian pegar o carro
que tinha a cadeirinha de Pietro e ir me buscar. Saí correndo do prédio e vi
dois carros SUV parados diante da universidade à minha espera. Em um
estava Brian aguardando por mim e no outro, nossa escolta de segurança.
Assim que entrei, ele me lançou um olhar divertido.
— O mini Aandreozzi aprontou novamente? — perguntou
fazendome bufar descontente.
— Esse serzinho humano está aprendendo demais com o pai dele —
falei balançando a cabeça negativamente.
— Antes de brigar com ele, você tem que saber o que está acontecendo —
orientou-me Brian.
— Anda lendo muitos livros sobre crianças agora que Rita está
grávida? — perguntei com divertimento na voz.
— O que fazer se quero saber tudo antes do meu filho nascer —
disse sorrindo.
Há pouco tempo Rita havia anunciado que estava grávida. Isso me
deixou muito contente. Achava estar grávida a coisa mais linda e perfeita do
mundo, mas ao falar isso com Rita, ela quase me matou e disse que eu
poderia muito bem sofrer dos enjoos matinais no seu lugar. A mulher estava
mais brava e mandona do que antes.
— Você faz bem, meu amigo, muito bem. — Sorri.
— Como anda Beto lá em Portugal?
Gargalhei.
— Você acredita que ele me ligou ontem, só para xingar Filippo?
Disse que é injustiça ele o mandar para longe só para que parasse de
azucrinar os ouvidos do Chefe — falei contendo minha risada.
— E o Sr. Aandreozzi ouviu esta conversa? — perguntou Brian
curioso.
— Claro que ouviu, eu coloquei no viva voz. Não me aguentei em
ouvir Beto provocar um Filippo muito irritado.
— Posso imaginar — disse Brian fingindo um tremor.
Beto estava em Portugal. No início ele não gostou muito da ideia,
mas agora estava adorando. Filippo o transferiu para ter uma pessoa de
confiança para ficar de olhos na construção gigantesca que a empresa
estava fazendo em parceria com o governo português. Meu marido me disse
que seria ideal se fosse Luigi, mas ele não queria fazer nenhum empecilho
caso Lucca e Luigi resolvessem se acertar. Beto transferiu seu curso para
uma universidade de lá, ele disse jamais querer parar os estudos. Fiquei
orgulhoso. O tempo exato que levaria para finalizar sua faculdade era o
tempo de terminar a construção. Sentiria muita saudade de tê-lo por perto,
mas sabia que seria muito bom para o seu amadurecimento e currículo.
Chegamos à escola das crianças e fui direto para Ala da creche. Logo
a diretora veio ao meu encontro e avisou-me que o meu ursinho deu um
soco no nariz do coleguinha, fazendo-o sangrar. Meu menino podia ser tudo,
mas não era violento a esse nível, ele só tinha três anos. Com toda certeza
havia algo me cheirando mal.
— A senhora sabe me dizer o que aconteceu para iniciar essa briga?
— perguntei com uma expressão séria.
— Bem, a professora diz que só viu na hora que Pietro deu um soco
no Carlos Eduardo Vasconcelos. Nós não aceitamos violência aqui, Sr. Santos
— falou tranquilamente.
— É Sr. Aandreozzi! Agora sou um homem casado e devo ser
classificado como tal. Acho que a senhora antes de alegar que meu filho de
três anos é violento, tem de averiguar direito o que está acontecendo, pois
tenho certeza que tem algo a mais nisso tudo — disse de modo frio,
fazendoa arregalar os olhos.
— Está querendo dizer que não sei administrar uma das melhores
escolas de São Paulo? — Seu rosto ficou vermelho.
— Pode ser! Conversarei com meu filho e se eu não gostar do que ele
tem a me dizer, se prepare para conversarmos novamente.
Afastei-me.
— Eu ainda não terminei de falar com o senhor. Será necessário ligar
para o seu marido? — falou de modo autoritário.
Parei, virei-me para ela e ri de sua cara.
— Se eu fosse você, não faria isso. Filippo Aandreozzi não é um
homem que se deve mexer. Tenho certeza que não restaria nem o pó dessa
escola. Certamente ele aconselharia você a não mexer comigo também. Eu
sou educado, mas até certo ponto. — Dei-lhe as costas e fui buscar meus
filhos.
Ao passar pelo corredor, vi meu ursinho sentado de cabeça baixa.
Pelo balançar dos seus ombros, percebi de imediato que ele estava
chorando.
Apressei-me a ir ao seu encontro e quando ele me viu, chorou mais ainda.
— Ei, ursinho, o que houve? Pode me contar o que foi que
aconteceu? — perguntei me ajoelhando à sua frente.
— Você vai bligar comigo, mas Cadu me deixou com laiva — disse
meu filho chorando alto.
— Você tem que me contar tudo, aí eu vou saber o que aconteceu.
Pode fazer isso para o papai, meu bebê?
Ele assentiu.
— Eu estava cotando os desenhos que a plofessora mandou, aí o
Cadu chegou e disse que era feio ter dois papais. Também disse que ele
tinha mamãe e eu não. Ele riu de mim dizendo que falo elado.
Oh, Deus! Meu coração estava cortado em pedaços.
— E por ele falar essas coisas você se irritou e bateu nele? —
perguntei.
Ele chorou de cabeça baixa.
— Sim. Eu gosto de ter dois papais. Eu e Duda gostamos disso! —
falou em meio a soluços.
— Então é isso que importa, ursinho. Nós amamos ter você e Duda
como filhos e não importa o que os seus coleguinhas dizem. Você sabe que a
sua mamãe te amava muito, mas agora ela está lá em cima com papai do
céu protegendo você e sua irmã. Ela deve estar feliz por você ter uma família
bem legal. Você gosta de seus tios Enzo, Lucca e Luna? — perguntei e ele
assentiu abrindo um sorriso. — E de seus nonnos Arianna e Donatello? E não
podemos esquecer de sua bisa!
— Eu amo todo mundo no tantão assim — disse abrindo os braços.
— Eu sei. E é por isso…
— Então foi esse molequinho que bateu no meu filho? — Um homem
gritou alguns metros atrás de mim, interrompendo-me. — Como vocês
podem permitir que o meu filho apanhe de um qualquer? — disse o homem
e eu poderia jurar que conhecia aquela voz.
— Senhor Vasconcelos, isso é coisa de criança… — tentava dizer uma
mulher, na intenção falha de acalmar o homem que estava com muita raiva.
— Eu não quero saber! Eu exijo a expulsão desse moleque daqui —
gritou o homem.
— Bello! — chamou Filippo ao se aproximar.
“Fodeu de vez!”
— O que houve com o ursinho? — perguntou ele todo preocupado,
abaixando para carregar o filho que começou a chorar novamente quando o
viu.
— Já conversei com Pietro e ele me contou tudo o que aconteceu —
falei tranquilamente e ouvi passos em nossa direção.
— Não posso acreditar nisso. Então quer dizer que esse moleque é
filho do poderoso Aandreozzi e o merdinha do garçom?
Virei e dei-me de cara com Miguel Vasconcelos, o mesmo homem
que por incontáveis vezes fez de tudo para me levar para cama, quando eu
ainda trabalhava como garçom no Benedetti.
— Olhe como você fala do meu marido, Vasconcelos. Minha ameaça
ainda está de pé — disse Filippo entredentes.
— Seu filho bateu no meu filho e tudo vai ficar bem porque você é
um italiano rico e temido? — debochou Vasconcelos.
— Não brinque comigo, Miguel. Pare de falar besteira, seu
maledetto! — disse Filippo tentando conter seu temperamento.
— Chega! Não temos nenhum assunto para tratar, Miguel. Você
deveria saber criar seu filho melhor, para que ele não fique menosprezando
os filhos dos outros por ter dois pais — disse calmamente, vendo a diretora
que estava logo atrás de Miguel arregalar os olhos.
— Eu não sabia disso — falou ela desnorteada.
— Claro que não sabia! Ficou mais preocupada em acusar meu filho
pelo ato violento que cometeu, do que procurar saber o que o motivou a
isso.
Olhei para o lado e vi Filippo passar sua mão nas costas de Pietro. Ele
ainda olhava com ira para Miguel.
— Sinto muito, Sr. Aandreozzi. Eu não sabia que se tratava disso —
disse a diretora.
— Eles são crianças e o erro não são delas e sim dos pais. Pode deixar
que com o nosso filho nós vamos conversar e ensinar que com violência não
se resolve nada. Eu espero que você, seu energúmeno, faça o mesmo.
Espero que seu filho não cresça para ser um sujeito de merda como você é.
Capisce? — disse Filippo com raiva.
— Vamos pegar nossa ursinha e passar uma tarde com eles. Tenho o
lugar ideal para levá-los — sussurrei para Filippo, que assentiu. — Vai indo
na frente que eu tenho uma coisa para fazer.
Filippo ergueu uma sobrancelha e encarou-me sabendo o que eu iria
fazer. Por incrível que pareça, ele foi buscar Duda deixando-me ali com
Miguel. Assim que vi meu marido virar o corredor com o nosso filho no colo,
me virei para o sujeito ruim, aproximei-me dele e lhe dei um soco em seu
rosto, que o fez cair para trás no chão com o nariz sangrando. Abaixei ao seu
lado sob o olhar assustado da diretora.
— Esse soco foi por todas as vezes que você insistentemente tentou
me levar para cama com suas investidas sujas para cima de mim, mesmo eu
dizendo que não lhe queria. Você continua o mesmo verme de sempre —
falei tirando aquele peso que nem eu sabia que carregava.
Levantei-me e segui para encontrar Filippo e meus filhos.

No carro, nós dois conversamos com Pietro sobre não bater nos
coleguinhas, mesmo que eles tenham dito alguma coisa que não o agradou.
Pietro era um menino muito inteligente, ele nos ouviu e prometeu não fazer
novamente. Eduarda ficou chateada quando viu Pietro chorando e como
uma boa irmã mais velha, o distraiu brincando com ele.
Fomos até o parque Ibirapuera. Ir para aquele lugar sempre me faz
bem. Aquela foi a primeira vez que levei Filippo e as crianças até lá. Sentei
no banco me apoiando em meu marido que apertou seus braços em torno
de mim, e fiquei observando nossos pequenos brincarem.
— Bello... Percebi que você está aéreo. Aquele disgraziato do
Vasconcelos te disse alguma coisa, porque se ele fez… — interrompi-o com
um beijo.
— Não, meu amor. Estou aqui me lembrando dos meus pais. Eu
costumava sempre vir aqui com meu pai e agora estou aqui com meu
marido e meus dois filhos. Só queria que eles pudessem ver como estou
feliz. — Senti meus olhos arderem.
— Eu tenho certeza que eles estão te vendo e se orgulhando do
homem cheio de caráter que eles colocaram no mundo. E sei que minha
sogra me amaria — brincou Filippo.
— Com certeza minha mãe não iria lhe falar nada, ela era a mulher
mais tímida que já vi. Já meu pai, se daria muito bem com Lucca, ele adorava
uma boa dose de brincadeira. Papai fazia de tudo para ver um sorriso no
rosto de mamãe, o amor deles era muito lindo — disse recordando-me dos
rostos doces dos meus pais.
— Eles deveriam ser pessoas muito especiais — falou Filippo com
olhar longe.
— Oh, sim, eles eram! Se papai estivesse aqui, estaria nesse
momento correndo com as crianças, era assim que ele fazia comigo.
Quando desse o horário de ir, ele nos mandaria ir à sua casa para que
mamãe pudesse dar as crianças biscoitos de goma que ela adorava fazer. —
Sorri.
— Você fica lindo quando está com essa expressão leve. — Selou
meus lábios.
— Papai, babo! — As crianças gritaram correndo em nossa direção
acompanhadas por mais duas crianças.
Duda vinha ao lado de uma menininha de cabelos loiros compridos e
olhos azuis-acinzentados, ela era linda. Já Pietro, vinha ao lado de um
menininho de cabelos e olhos pretos. As vestimentas bem-postas o fazia
parecer um mini homem. Eles deviam ter mais ou menos a mesma idade
que Eduarda e Pietro. Meus filhos vieram saltitantes, era visível que estavam
felizes porque tinham feito novos amigos
— Viu que eu disse que eu tinha dois papais também — disse Duda
para menina, que ficou vermelha de vergonha.
— Olhe só para o meu babo, ele é glandão. Ele é um super-helói! —
disse no ouvido do menininho, mas foi tão alto que todos ouviram.
— Ele é bem grande mesmo, mas o meu papai também é — disse o
menininho que deveria ter quase quatro anos.
— Olá, crianças! Eu sou Luti e esse é Filippo, meu marido. Como
vocês se chamam? — perguntei.
— Eu sou Sofia e esse é o meu irmãozinho Joaquim — respondeu a
menina, segurando a mão de Duda.
— Sofia! Joaquim! — Dois homens grandes apareceram à procura
das crianças, naturalmente deviam ser os pais deles.
As crianças foram em sua direção e o homem loiro carregou Joaquim,
enquanto o moreno carregou Sofia.
— Olhe só, painho! Fizemos novos amigos. Aqueles ali são Eduarda e
Pietro. Os homens ali são os seus pais — disse Sofia ao moreno como um
sorriso doce, apontando para nós.
— Que coisa boa! Desculpe aparecer assim gritando, mas não somos
daqui e ficamos preocupados com o sumiço de nossos filhos — disse o
homem loiro.
Olhando bem para ele e Sofia, percebi que eles tinham enormes
semelhanças.
— Não se preocupem, nós entendemos perfeitamente. Não é
mesmo, bello? — perguntou Filippo colocando-se de pé.
— Sim. — Levantei-me em seguida.
— Eles estavam seguros conosco.
As quatro crianças já estavam juntas novamente.
— Deixe-me nos apresentar. Eu sou Breno e esse é o meu marido
Noah Albuquerque. Prazer em conhecê-los — disse
Breno nos cumprimentando com um aperto de mão.
— Eu sou Luiz Otávio, mas podem me chamar de Luti e esse é o meu
marido Filippo Aandreozzi.
Os dois arregalaram os olhos ao ouvirem o nome de Filippo e se
entreolharam nervosos.
— Nossa! Estou conhecendo o italiano mais linha dura dos negócios que o
Brasil já viu — disse Noah, recebendo uma cotovelada do marido. — Ai,
gatinho, essa doeu! Oxente!
— Eu só sou exigente nos meus negócios, nada demais —
defendeuse Filippo, com uma carranca.
Lancei-o um olhar de repreensão.
— Vocês disseram não ser daqui, não é? Percebo um sotaque
engraçado, de onde são? — perguntei curioso. O modo arrastado em que
eles falavam era diferente e isso era legal.
— Você acha que temos sotaques? Nunca percebi! Somos de
Salvador, já foi até lá? — perguntou Breno.
— Não! Mas adoraria ir um dia. — Fui simpático.
Isso era difícil de acontecer, mas eu havia ido com a personalidade
deles, pereciam ser pessoas do bem.
— Se você quiser, podemos ir em uma viagem rápida neste final de
semana, é só preparar o jatinho. Você quer, bello? — perguntou já puxando
o celular do bolso interno do paletó.
— Acalme-se, amor. Você às vezes é tão surreal — disse ouvindo a
risada leve de Breno.
— Eu te entendo perfeitamente. Acho que vivemos o mesmo drama.
Seu marido é tão ciumento ao ponto de deixar uma viagem de trabalho,
porque não confia no seu amigo? — perguntou Breno, fazendo-me soltar
uma gargalhada e assentir.
Noah e Filippo nos olharam confusos.
— Nem me fale, viu?! Acredita que o meu marido ficou com ciúmes
do Christian Grey? O seu é assim? — perguntei vendo Breno ainda rir.
— Minha amiga Chloe faz de tudo para deixar Noah com ciúmes —
revelou Breno.
— No meu caso é o meu amigo Beto e os irmãos de Filippo.
— Nós estamos aqui! — disse Filippo.
Olhamos para ele e Noah e os vimos nos encarar de braços cruzados.
— Breno, não temos um jantar com seu amigo mala sem alça para ir?
— Noah perguntou.
Breno olhou as horas e assentiu.
— Nós também vamos à um jantar, bello. Temos que levar as
crianças para comer — disse Filippo olhando-me sério.
— Tudo bem, foi muito bom conhecer vocês. Breno e Noah, vocês
tem filhos lindos — disse.
Breno sorriu e entregou-me seu cartão.
— Aqui, eu gostei de vocês. E os filhos de vocês também são lindos
— disse ele e então, deu-me um breve abraço em seguida.
— Boa sorte com o amigo mala, odeio esse tipo de gente! — disse
Filippo apertando a mão de Noah.
— Nem me fale, Aandreozzi! Obrigado! — disse Noah cordialmente.
Esperamos as crianças se despedirem de seus novos amigos, era
muito bom ver famílias lindas como a de Noah e Breno. Isso me dava mais
certeza que ainda existia amor puro e bonito no mundo cheio de
preconceito, violência e muitas outras coisas ruins.
— Amor, onde vamos comer? — perguntei levemente curioso, ao
entrarmos no carro.
— Vamos ao Benedetti, quero mostrar aos meus filhos o lugar que
tive o prazer de conhecer o homem que amo e que me faz feliz — disse o
meu ursão fazendo meu coração saltar no peito.
— Por mais que odeie admitir, tenho que confessar que me
apaixonei por você naquela noite, mesmo sendo um grosseirão.
Ele sorriu abertamente.
— Lo so, è successo anche a me bello. (Eu sei, isso aconteceu comigo
também, bello ) — disse Filippo com um olhar doce.
— Ti amo molto.
— Ti amo più, il mio bello.

À noite, seguimos para o restaurante. Quando nosso carro parou à


frente do lugar, fui invadido por uma imensa nostalgia. O manobrista abriu a
porta traseira para nós e Filippo desceu primeiro ajudando a mim e as
crianças saírem depois.
Olhei para os lados e respirei fundo. Não podia crer que a vida
fantástica que vivia começou ali. Não fazia tanto tempo assim, mas ao
mesmo tempo parecia fazer anos. Entrei de mãos dadas com Filippo e Duda,
enquanto meu marido levava Pietro no colo. Avistei Analú atrás de seu
balcão confirmando as reservas e sorri. Desde a última noite em que saí dali,
nunca mais tinha a visto. Nos aproximamos e ela sorriu abertamente ao me
ver.
— Luti? Meu Deus, é bom te ver!
— Digo o mesmo. Como você está?
— Bem.
— Há alguns meses Beto esteve aqui. É impressionante como ela está
diferente. — Diminuiu seu sorriso.
Eu gostava de Analú, ela sempre foi uma ótima colega de trabalho,
mas sempre estava esnobando Beto. Esnobou ele ainda mais quando
confessou estar apaixonado por ela. Disso eu jamais esqueceria.
— O mundo dá voltas, Analú — disse com um pequeno sorriso nos
lábios.
Ela assentiu e forçou um sorriso sem graça. Tinha certeza que ela
havia entendido o que eu quis dizer em uma pequena frase.
— Vou pedir ao garçom que os acompanhe até à mesa.
— Certo. Obrigado.
— Tenham uma boa noite e bom apetite.
Sentamos em nossa mesa e Filippo tomou frente fazendo nosso
pedido.
— É aqui que você trabalhava, papai? — perguntou Duda.
— Sim. E foi bem aqui, nesta mesa, que vi seu babo pela primeira vez
e me apaixonei por ele.
— Foi amor à primeira vista? — perguntou ela sorridente.
— Sim — respondi emocionado, olhando para Filippo.
— Você também amou o papai à primeira vista, babo? — perguntou
curiosa, encarando o pai.
— Foi sim — disse Filippo com olhos brilhantes, olhando-me.
— Voxes se amam muito, nun é? — perguntou Pietro.
— Nosso amor é infinito — disse Filippo.
— E não é somente entre mim e o babo que é infinito.
— Não? — perguntou Duda confusa.
— Não. Nós amamos infinitamente vocês, ursinha. Você e seu irmão
vieram para completar a família que eu e Filippo desejamos ter mesmo sem
saber.
— Eu te amo, babo. Também te amo, papai. — disse Duda olhando
para nós dois.
— Não! Eu amo mais! — disse Pietro emburrado, cruzando os
bracinhos.
Duda revirou os olhos e encarou o irmão.
— Tudo bem, bobinho. Pode amar eles mais do que eu.
Olhei para minha menina surpreso. Acho que alguém estava se
tornando uma mocinha. Filippo olhou para mim e sorriu cheio de
orgulho da filha. Duda nos olhou e piscou para nós. Pietro sorriu
satisfeito e se sentindo o dono do pedaço.
Não sabia explicar o que era estar com minha família ali naquele
lugar onde tudo começou. Era incrível a sensação de evolução. Olhar para
trás, era olhar para tudo o que passamos e ver que nem tudo havia sido
flores, mas nada foi menos importante para nos tornar um casal de fibra e
resistente a tempestades.
Havia passado por coisas terríveis desde que beijei Filippo pela
primeira vez, mas não me arrependia. Pelo ao contrário, não conseguia
imaginar o que seria da minha vida sem aqueles acontecimentos. Sem a
chuva, não há arco-íris.
Olhei para ele e sorri com carinho e eterna gratidão por tudo aquilo
que ele me deu. Eterna gratidão por ele ter cruzado minha vida. Eu o amava
tanto, que esse amor não cabia em mim. Acho que por isso os casais tinham
filhos. O amor deles eram tanto, que chegava a transbordar e não podia ser
desperdiçado.
Enfim, eu era um homem completo e feliz. Muito feliz! Pai e marido
da família mais incrível que o mundo já teve o prazer de conhecer. Não
concorda?
15 anos depois...

Às vezes, minha cabeça esquecia como o tempo passa fodidamente


rápido. Percebi nitidamente isso quando me deparei treinando mais um dia
com o meu filho de dezoito anos. Pietro já estava um homem feito e isso
assustava o inferno fora de mim. Por que ainda conseguia enxergá-lo como
o meu garotinho? Como meu ursinho que olhava-me com olhos brilhantes e
fantasiava-me como o seu super-herói favorito, cresceu tão rápido? Minha
criança pequena havia ido embora e dado lugar a jovem.
Agora era diferente, meu ragazzo havia perdido totalmente as
características de menino, principalmente, o seu jeito de falar de modo
engraçado e infantil. Agora ele me chamava de “velho” ao invés de babo ou
papai urso.
Observei-o atentamente à minha frente com seu sorriso maroto de
dentes perfeitos, cuidados minuciosamente pelo seu outro pai. Só de olhar
para Pietro, sentia um orgulho fora do tamanho da família incrível que eu e
o amor da minha vida formamos. Ele era o homem mais fantástico que
existiu no meu mundo. Mio bello... Só de pensar no tamanho do amor que
sentia por ele, eu enlouquecia.
— Porra! — grito frustrado ao receber um forte chute no meu
estômago.
— Você está ficando muito lento, meu coroa — disse Pietro,
fazendome cerrar os olhos na sua direção.
— Olhe como fala comigo, está achando que eu sou o quê? —
perguntei sério e desviei de seus golpes.
Ele era rápido, tinha uma boa concentração, mas ainda era muito
novo.
— O pai mais rabugento e amável que existe — respondeu ele,
provocando-me.
Sua provocação não funcionou. Na verdade, quase ri dele, mas não
lhe daria essa ousadia.
— Presta atenção no que você está fazendo. — Alertei-o e ele sorriu
de modo descarado.
— Por que diz isso, babo?
Meu filho perguntou e eu o surpreendi levando-o para o chão. Em
um movimento rápido, ele estava perdendo em um mata leão.
— Quem é o velho aqui, garoto? — perguntei entredentes, vendo
Pietro se debatendo para se soltar.
— Pai! Puta merda, pai! — disse ele com dificuldade.
Seu lindo e expressivo rosto estava contorcido mostrando sua dor,
mas mesmo assim ele estava lutando para se soltar do meu aperto.
— Bata no chão, ursinho — provoquei o levando a ficar mais irritado.
— Não!
— Vamos lá, meu filho, não seja um tolo teimoso — falei em um tom
baixo, vendo seu rosto ficar mais vermelho.
— Cazzo! — xingou ele batendo no chão.
Eu respirei aliviado, odiaria ter que deixar meu filho desmaiar por
causa da sua teimosia.
— Olhe a boca, Pietro! — Ouvimos a voz do meu marido.
Nós dois viramos e o encontramos parado na porta da academia com
os braços cruzados. Tão foda e lindo! Era impressionante como o tempo só
enalteceu a beleza do meu bello.
Luiz Otávio se tornou um renomado cirurgião dentista em São Paulo,
ganhou fama muito rápido por todo trabalho duro que ele desempenhou
nos últimos anos. Eu sempre soube que ele seria um profissional fora do
comum, pois eu estive vendo suas horas e horas de estudos. Por isso fiz
questão de que a clínica em que ele e Ângela eram sócios, fosse a mais bem
equipada do país. Trabalhamos juntos no projeto e confesso que foi o
projeto mais bemfeito por mim, em pessoa. Nunca permitiria que outra
pessoa fizesse os sonhos do meu marido se tornarem realidade, aquele
trabalho era puro e exclusivamente meu. Pois ele pertencia a mim!
— Desculpe, papai, mas é impossível vencer esse trator humano —
disse Pietro ainda sentado na lona, enquanto tentava recuperar o fôlego.
— Se você fosse menos teimoso, não estaria nessa situação. —
Levantei puxando meu ragazzo comigo.
Dei um tapinha em suas costas e puxei-o para lhe dar um beijo na sua
testa.
— Eu acho que ele tem a quem puxar, sabe ursão?! — provocou Luiz,
dobrando as mangas de sua camisa social até os cotovelos, enquanto vinha
em nossa direção.
“Porra! Tão sexy!”
— Sim, com certeza, ele deve ter puxado a você — falei com uma
expressão séria.
— Sua cara de pau é muito grande. Tem vergonha não, Filippo? —
perguntou bello, negando com a cabeça.
— Vocês dois têm que entender que eu sou a metade maravilhosa de
cada um de vocês — disse Pietro de modo convencido, fazendo a mim e Luiz
rir.
— Essa sua segurança é impressionante, filho — disse bello e beijou
nosso menino na testa, mas logo se afastou com cara de nojo. — Vai tomar
um banho, rapaz, você está muito nojento.
— Assim o senhor me ofende, papai. Olhe aqui o babo, ele também
está todo suado. — Pietro apontou para mim.
Bello deu uma boa olhada malicioso em minha direção.
— Bem, a única coisa que posso dizer é que o suor desse grande urso
é um afrodisíaco instantâneo para mim — disse ele me olhando de cima a
baixo.
Arquei a sobrancelha gostando muito daquele olhar, para ser
honesto.
— Vem aqui, bello! — chamei com a voz rouca.
— Oh, não! Não façam isso, é constrangedor verem os pais fazendo
isso. Estão de pegação aqui na minha frente! — disse Pietro enojado.
— Está fazendo o que aqui ainda? — perguntei fechando a curta
distância entre eu e meu bello, laçando sua cintura.
— Vocês deveriam respeitar a criança em mim — disse Pietro.
Bello e eu olhamos confusos para o nosso filho.
— Vá embora daqui! — rosnei com uma carranca brava.
Ele levantou as mãos em sinal de rendição.
— Dio santo! Che uomo rude! — Pietro saiu resmungando, fazendo
seu pai rir baixinho.
— Eu ouvi isso, Pietro! Depois vou querer saber quem é o homem
rude aqui — disse e bello riu mais ainda.
— Te amo, papai urso! — ele gritou de volta, fazendo-me bufar.
— Esse menino está um verdadeiro mascalzone (malandro) —
resmunguei.
Bello passou os braços no meu pescoço.
— E nós o amamos demais — disse com um sorriso amoroso.
Aquilo era tão doce. Beijei-o apaixonado.
— Sim, bello. Ele é o nosso bambino.
Apertei mais o seu corpo contra o meu e beijei-o novamente. Eu
amava o seu beijo, seu cheiro e seu calor, não resistia a aquele homem na
minha frente. O meu homem! Ele era tão lindo, tão gostoso e eu não fazia
ideia de como o meu amor por ele só crescia.
Luiz Otávio era o melhor parceiro de vida que alguém poderia ter, e é
claro que esse alguém era eu. Ninguém tomava o meu bello de mim, ele era
somente meu e eu, com toda certeza do mundo, era completamente dele.
Nossa vida juntos era feita de muito amor, companheirismo,
fidelidade e brigas — porque bello fazia muita pirraça quando queria —, mas
além de tudo ou qualquer coisa, nesse casamento havia muito respeito.
Podíamos ser tudo um para o outro, mas nós respeitávamos mutuamente.
Deixava meu marido ser aquilo que ele quisesse ser, somente dando a ele
toda proteção e afeto que ele precisava. Amava Luiz como um louco, mas a
minha admiração por ele ser o que era com todo seus esforço e dedicação,
era muito maior.
— Você está indo para clínica? — perguntei sem desgrudar nossos
corpos.
— Sim, tenho um paciente logo cedo — respondeu apertando-me
mais contra si.
— Você está todo sujo com o meu suor.
Ele riu.
— É o que você faz comigo. Me tira totalmente da linha, Filippo —
disse deixando-me muito satisfeito.
— Gosto disso, gosto muito!
Agarrei Luiz e fiz com que ele pulasse e abraçasse minha cintura com
suas pernas. Beijei-o novamente com loucura, apertando seus glúteos
arredondados com força. Ele era gostoso demais!
— Se não pararmos vamos nos atrasar — disse ele tentando descer
do meu colo.
— Não, amor, não tem problema — relutei, mas bello olhou-me
negando com a cabeça.
— Amor, hoje à noite podemos fazer tudo o quisermos, mas agora
temos que ir trabalhar — foi incisivo.
— Você é uma criatura incrível, nunca imaginei que iria continuar
amando você com toda essa loucura — falei sem nenhum tipo de
constrangimento. O homem diante de mim era meu marido há quinze anos.
— Eu também nunca imaginei, ursão, mas fico feliz que somos muito
felizes — disse descansando sua testa na minha.
— Eu também, amor.
Nos beijamos mais uma vez.
Bello desceu do meu colo e começou a reclamar que teria que trocar
de roupa novamente. Encarando-o com a sobrancelha arqueada, porque eu
sabia que ele havia adorado ficar amarrotado daquele jeito. Peguei sua mão
e sem falar nada e o arrastei para o nosso quarto. Chegando lá, eu fui direto
para o meu banho enquanto bello foi trocar sua roupa. Às vezes, achava
engraçado a dinâmica do nosso casamento. Vivíamos tão bem que isso de
vez em quando chegava a me assustar.
Eu amava o modo que éramos, mesmo que às vezes surgissem
inimigos querendo nos atingir, nosso casamento permanecia intacto.
Acreditem ou não, isso ainda acontecia. Mesmo com a morte de Paolo e o
desaparecimento da sua tia Amélia, sempre surgia pessoas insignificantes
em nossas vidas para tentar algo. Mas era óbvio que todas as tentativas
foram levadas ao fracasso, isso porque além de ter um marido incrível que
lutava ao meu lado, tinha também os meus irmãos. Aqueles mesmos
bastardos que adoravam me fazer perder a paciência constantemente.
Continuamos como sempre fomos, cada um cuidando das suas vidas e das
suas respectivas famílias, mas não deixávamos nunca de ser um pelo outro.
Enzo, Lucca e Luna, a cada dia que passava me enchiam de orgulho.
Cada um deles sabia como manusear suas vidas, mas quando algo surgia,
eles não hesitavam em me procurar. Eu sempre seria o seu irmão mais
velho, sempre seria o porto seguro deles e estava bem com isso. Mesmo eu
sendo do jeito que era, eles me conheciam bem o suficiente para saber que
os amava incondicionalmente e os respeitava sem precedentes.
— Ursão, estou descendo! — Bello surgiu no banheiro. — Vou te
esperar para o café. — Desliguei o chuveiro e peguei minha toalha.
— Estou terminando aqui e já desço — falei e ele continuou parado.
— Luiz Otávio, não me olhe assim! — pedi sério.
Ele mordeu seu lábio inferior em provocação.
— Olhar assim como? — perguntou de modo dissimulado.
— Como se quisesse que eu sugasse seu pau.
Ele gargalhou.
— Você é tão direto, ursão.
Dei de ombros.
— Vai mentir? — perguntei dando um passo para fora do box,
enrolando a toalha na cintura.
— Nunca, adoraria isso de verdade, mas temos que trabalhar. —
Deume uma piscada, antes de se virar para sair. — Ah, Filippo! — Ele parou
e virou-se para mim. — Você sabe que a nossa ursinha está vindo hoje de
Londres, não é?
Assenti.
— Claro, não iria esquecer da minha garotinha — disse bravo.
Luiz soltou um suspiro.
— Eu já estava com saudades dela — disse ele com um ar saudoso.
— Amor, vimos ela não tem nem um mês.
Ele revirou os olhos.
— Mesmo assim, estou feliz que vou ter minhas duas crias em casa
— disse e eu dei um sorriso curto.
— Eu também! — confessei e ele abriu um largo sorriso.
— Te amo, ursão! — falou e saiu sem esperar que eu dissesse que
também o amava, mas não importava, pois eu sei que ele sabia.
Observei o meu marido sair e sorri, era muito bom ver como ele
ficava contente quando tinha Duda e Pietro em casa. Não podia mentir e
dizer que também não ficava satisfeito. Depois que Duda foi morar em
Londres para estudar, nosso lar ficou incompleto. Mesmo sabendo que
sempre que possível estávamos indo visitá-la ou que muitas das vezes eu
chegava em casa do trabalho e era recebido com a surpresa de minha filha
pulando nas minhas costas, não era a mesma coisa do que tê-la em casa
todos os dias acordando de mau-humor ou deitada entre mim e bello
juntamente com Pietro, para conversarmos sobre qualquer coisa. Não, com
certeza não era a mesma coisa, mas tivemos que nos acostumar.
Os filhos crescem e voam para fora do ninho. Duda estava ganhando
asas a cada dia que passava, e mesmo que Pietro tenha escolhido ficar em
São Paulo, eu sabia que ele logo iria querer sua independência também. Só
de pensar nisso, sentia um calafrio. Saber que Pietro ficaria longe dos meus
olhos, me fazia ver o quanto estava ficando velho. Não sabia como babo e
mamma souberam administrar eu e meus irmãos tão bem, principalmente,
com cada um morando em lugares diferentes depois de se formar.
Certo dia, logo quando Duda foi para Londres, perguntei ao meu pai
como ele lidava com Luna na época em que foi para Madri. Ele somente deu
um leve tapinha em meu ombro e disse que sabia os filhos que tinham
criado e só isso bastava para ele se acalmar todos os dias. Aquilo me fez ver
que pensava da mesma forma que ele. Meus filhos eram excepcionais e com
personalidades incríveis. Eu os ensinei muito bem, tudo o que pude. Então
sim, eu sabia que eles iriam ficar bem.
Terminei de me arrumar com meu terno escuro habitual e saí para
encontrar meu marido no café da manhã. Bello e eu tomamos nosso
desjejum juntos e logo estávamos saindo de casa. Elijah, meu chefe de
segurança, avisou que estava tudo sobre controle e assim poderíamos seguir
nossos caminhos. Deixei bello na clínica e ele afirmou que mais tarde Brian
irá pegálo, disse que eu não precisava me preocupar. Despedi-me do meu
marido e segui direto para empresa
— Bom dia, Sr. Aandreozzi! — Ouvi minha secretária desejar.
Dei-lhe um breve aceno de cabeça ao passar por ela.
— Bom dia, Srta. Fernandes! — respondi e ela sorriu para mim, mas
eu continuei com a mesma expressão. — Daqui a pouco lhe chamo. — Entrei
no meu escritório, mas não antes de vê-la assentir.
Eu sentia falta dos serviços da Srta. Oliveira, mas não podia mais
prendê-la ali comigo. Ela precisava crescer na empresa e merecia isso. Então,
a promovi. Quando descobri que ela estava prestes a se formar em
engenharia civil, dei a ela um estágio. Antes, honestamente, não me
interessava muito pela vida dos meus funcionários, mas isso com o tempo
mudou e comecei a ver quem realmente era merecedor de minha atenção.
Entrei em minha sala e me acomodei em minha poltrona. Quando
estava pronto para começar o trabalho, ouvi meu celular tocar sobre a
mesa.
Olhei seu visor e revirei os olhos ao ver o número de Enzo.
— Você não tem mais o que fazer? — perguntei rude.
Ele bufou frustrado.
— Acho que agora que você está ficando mais velho, a sua
rabugentice está pior — disse ele.
Soltei um rosnado baixo.
— Eu não sou velho, tenho somente quarenta e cinco anos! — falei
entredentes e Enzo riu.
— Sim, tudo bem, o que você achar melhor — disse deixando-me
louco para socá-lo.
— Sim e você nos seus... O quê? Quarenta e três anos? Se estou
velho, você também está! — falei e meu irmão resmungou do outro lado da
linha.
— Vamos deixar esse papo de idade para lá. Temos coisas mais
importantes para tratar — disse ele.
— Do que se trata? — perguntei curioso.
— Espere, vou ligar para os outros.
Respirei fundo e esperei. Não demorou muito e estávamos os quatro
em ligação.
— Ursão, saudades, te amo! Diga que me ama também! — pediu
Lucca.
Revirei os olhos.
— Oi, Lucca — falei de modo direto e sem emoção.
— Não é assim que fala com seus irmãos, Lippo. — disse Luna.
Revirei os olhos mais uma vez.
— Oi, sorellina. — Ouvi o riso deles. — Não sei o que vocês querem,
mas vou logo dizendo que tenho que trabalhar — falei rapidamente e pude
ouvir suas fortes respirações.
— A verdade é que estamos ligando para deixa você em sobreaviso
— disse Lucca, deixando-me preocupado.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa com vocês, meus cunhados ou
as crianças? — perguntei preocupado.
— Não, irmão, estamos bem. Laila está te mando um beijo. Ela está
ajudando a Hope que acordou meio febril hoje. — disse Luna.
— Está tudo bem com minha sobrinha?
— Ela está bem, é um resfriado bobo! Fala “oi” para os seus tios
idiotas, filha — disse minha irmã e então ouvi a risada de Laila ao fundo.
— Oi, titios, eu estou bem! Amo vocês! — disse Hope com a voz
fanha pela gripe.
— Oi, querida — disse.
— Oi, bebê — falou Lucca.
— Olá, princesa — cumprimentou Enzo.
Ela se despediu de nós e voltamos a falar com minha irmã.
— E as outras crianças? — perguntei e eles ficaram em silêncio. — O
que aconteceu? — perguntei sério.
— Bem, é sobre isso que queremos falar. Acabamos de saber que
Otto, Samantha, Justin e até mesmo Viktor estão indo para o Brasil para se
juntar com Pietro e Eduarda — informou Lucca.
Neguei a situação com a cabeça.
— Isso não vai prestar — falei me sentindo cansado de repente. Pior
de tudo era que o meu dia mal havia começado.
— Eu sei, conheço a encrenca que é a minha marretinha. Fora que
Isabel não me deixa em paz, falando que não vê a hora de fazer dezoito anos
e essas merdas de adolescentes — falou Lucca em um tom esgotado.
— Pelo menos não é como os gêmeos que só sabem aprontar — Enzo
resmungou.
— Eles puxaram a você! — Lembrei a Enzo que me ignorou.
— Justin é um verdadeiro cavalheiro e minhas meninas são calmas.
Mesmo Hope doente ela se preocupa com a Ella, que é só um bebê — disse
Luna calmante.
Dei um curto sorriso ao ouvi-la falar de seus filhos.
Continuei a conversar com os meus irmãos, mas o meu pensamento
ainda estava na pequena reunião entre os meus filhos e os meus sobrinhos
mais velhos. Eu estava com muito medo desse encontro! Eles separados já
causavam, então, imaginem juntos. Teria que preparar para o que estava
por vir.
Estava sentado na sala de aula, louco para sair dali. Eu tinha planos
para realizar com minha irmã e meus primos. Mas antes de qualquer coisa,
tinha que focar no meu compromisso primeiro. Se meus pais,
principalmente, se meu pai Luiz descobrisse que estava faltando aulas…
nossa, eu nem gostaria de imaginar! Tinha a maior certeza do mundo que
ele me mataria. Eu tinha plena certeza que papai cortaria meu corpinho
todo trabalhado na academia em pedaços e me jogaria em qualquer vala por
aí. Pobre de mim, meu pai nem mesmo velaria seu filho.
Abaixei a cabeça para disfarçar o sorriso que surgiu nos meus lábios
ao ter aqueles pensamentos loucos. Nunca que meu pai faria aquilo comigo,
claro que me colocaria em algum castigo e meu babo forçaria meus limites
no treinamento, mas depois ficaria tudo bem.
Ainda estava no meu primeiro ano em medicina, foi uma grande
surpresa para minha família quando mesmo sem ter exposto minha vontade
em ser médico, cheguei em casa afirmando que havia passado para o curso
de medicina. Lembro-me da cara de meu babo, ele ficou por um bom tempo
com o cenho franzido pensando que eu estava fazendo uma das minhas
muitas brincadeiras sem graça, mas quando percebeu que eu estava falando
a verdade, meu velho deu um dos seus muitos raros sorrisos e veio me
abraçar.
Meu pai Luiz começou a chorar e a ligar para todos da família, foi
bem constrangedor, principalmente, pelo choro de minha nonna Arianna.
Ela, papai e tia Laila, eram os que mais choravam por tudo na família. Mas a
parte mais engraçada foi ter que ouvir minha bisa gritar do outro lado da
linha que eu iria foder muito mais se eu dissesse que ia ser médico. Minha
bisa Francesa não era desse mundo.
Nunca neguei que idolatrava o meu pai Filippo, por isso muitos
acharam que eu ia seguir seu caminho, mas isso eu deixei para Duda que
estava finalizado sua faculdade de engenharia. Ela queria comandar as
empresas da família, mas eu não, não mesmo!
Minha irmã mais velha podia ser chata feito o inferno quando queria,
mas ela tinha uma força e uma garra que eu invejava. Eduarda tinha muito
mais do nosso babo do que ela queira admitir e eu estava feliz com isso,
porque éramos e sempre fomos muito unidos.
Senti uma dor nas minhas costelas e olhei para o lado para reclamar
com meu amigo Erick.
— Puta merda, Erick. Isso dói, caralho! — falei colocando a mão no
lugar dolorido.
— Oh, cara. Você estava aí viajando — disse e eu cerrei os olhos na
sua direção.
— O que você quer? Me causar alguma lesão? — perguntei
entredentes e o idiota riu.
— Você é tão melodramático, Dr. Aandreozzi — disse rindo.
Revirei os olhos.
— Vai se foder que estou longe de ser um doutor ainda — falei em
forma de resmungo.
Meu amigo revirou os olhos e bufou.
— O pensamento positivo faz com que o tempo passe mais rápido —
disse ele atraindo minha atenção.
— Nunca ouvi isso. De onde tirou essa ideia descabida? — perguntei
com o cenho franzido.
— Tudo isso veio dessa cabecinha pensante, mané! — Apontou para
sua cabeça.
— Você está no curso errado então, amigo — falei, e ele soltou uma
risada.
— Não, eu prometi a minha madrinha que seria médico. Eu sei que
tenho cara de empresário, mas eu vou ser um bom médico — brincou ele
segurando o riso.
— Vamos lá, Erick, a aula acabou — falei levantando-me.
Ele me deu um soco de leve no braço.
— Você é lerdo. A aula acabou já faz tempo, era por isso que eu
estava te chamando.
— Vamos então. — Peguei minhas coisas.
Nós dois saímos da sala e eu observei meu amigo. Erick era dois anos
mais velho que eu e veio do interior de São Paulo para estudar medicina.
Quando nos conhecemos no primeiro dia de aula, eu sabia que esse idiota
de cabelos pintados e cheios de luzes, seria meu amigo. Como eu soube
disso, não fazia ideia, foi algo totalmente inesperado e deu muito certo.
Já havia o convidado centenas de vezes para ir à minha casa e enfim um dia
ele aceitou. Meu pai Luti foi logo com a cara do Erick, ao contrário de babo
que resmungou algo sobre segurança, sobre ele ser algum maluco e muito
mais, mas logo Erick conquistou o velho também.
— Ei, cara! — Erick chamou minha atenção.
— O que foi? — Olhei para ele.
— O idiota está vindo na nossa direção — sussurrou Erick.
Meus olhos reviraram e foram em busca do bobo de quem ele estava
falando.
— Sai da frente, seu idiota! — disse Ian para um menino no corredor
que andava a sua frente.
— Eu detesto esse sujeito! — disse Erick e eu tive que concordar.
Ian, ou cabeça como algumas pessoas na faculdade o chamavam, era
uma figura muito idiota. Todas as vezes que nos encontrávamos, ele estava
soltando algum tipo de ofensa gratuita para algum dos alunos da
universidade. Parecia que ele ainda estava preso na época da escola. Não
sabia qual o problema dele, mas ninguém podia sequer olhar para ele ou
para sua namorada por muito tempo, que logo saia agredindo as pessoas.
Tudo o que mais queria na vida, desde o dia que meus olhos bateram
naquele sujeito, era lhe ensinar uma bela lição. Seria bem engraçado um
cara como eu, ainda com aparência de menino, levar ao chão um cara tão
alto, forte e cheio de tatuagens como Ian.
Cerrei os punhos e fechei os olhos por um momento. Por mais que eu
odiasse ele, não podia deixar de admirá-lo. Ian era o cara mais fodido de
lindo que já havia visto na faculdade. Mesmo que, às vezes, eu tivesse
vontade de pegar a minha arma e mirar bem na sua testa, eu sempre queria
observá-lo melhor. Idiota demais eu sei, porque eu era um cara gay que era
atraído por um ser humano desprezível. Porque era exatamente isso que Ian
era, uma criatura desprezível e além de tudo era hétero possivelmente
homofóbico.
Senti vontade de gargalhar com a ironia que era a porra da minha
vida, porque nem meus pais sabiam que era gay e eu estava ali afirmando
que achava o desgraçado do veterano um gostoso. Balancei a cabeça e
desviei meu olhar de Ian que estava agora beijando sua namorada.
— Tenho que ir, Erick — disse olhando para fora da faculdade e
vendo Alex, meu segurança, esperando por mim.
— Mas já? Pensei em te chamar para comermos algo — disse ele e
eu neguei rindo.
— Não posso, Duda está chegando hoje junto com meus primos.
— Então vá, não quero assunto com sua irmã ou com aqueles seus
primos.
Comecei a rir. Erick morria de medo da minha irmã.
— Você ainda tem medo da Duda? — perguntei.
Ele negou rapidamente.
— Não tenho medo, só não quero que ela tenha a intenção de me
matar. Sua irmã é uma fera.
Foi impossível não gargalhar.
— Você é muito medroso, meu amigo.
Ele fez uma careta.
— Medroso não, idiota, sou precavido. — Fez um gesto de desdém e
saímos da faculdade.
— Certo, senhor não medroso, tenho que ir. — Despedi-me dele.
— Vai lá, mano. Até mais! E aí, Alex! — Erick acenou para meu
segurança que assentiu brevemente.
— Vamos, Alex! — Entrei no SUV.
— Como foi a aula? — perguntou ao assumir a direção do carro.
Respirei fundo.
— Foi tranquilo, mas a vontade de ir para casa foi maior.
Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Alex.
Seguimos o caminho de casa em completo silêncio. Enquanto ele
dirigia atento a rua, eu fiquei distraído mexendo em meu celular. Nele tinha
uma mensagem de Sam afirmando sua chegada em minha casa. Junto com a
mensagem, vinha uma foto dela deitada na minha cama. Dei risada da sua
ousadia e respondi sua mensagem com outra foto lhe mostrando o dedo
médio.
Era bem engraçado a diferença de personalidade entre nós. Viktor
era o mais velho de todos com vinte e oito anos. Ele era muito calado, um
observador frio, mas muito protetor. Duda era a segunda mais velha
juntamente com Otto, eles tinham vinte e quatro anos. Enquanto Duda era
muito mandona, decidida e alegre, Otto era muito calmo, estudioso e um
risinho solto. Samantha tinha vinte e dois anos e era o nosso furacão. Eu
nunca vi mulher mais briguenta que ela. Depois vinha Justin com vinte anos.
Ele era muito amoroso e calmo, qualquer pessoa adorava conversar com ele.
Meu primo era sempre muito amável, mas não se engane ele era um lutador
formidável.
— Até que enfim você chegou, ursinho — disse Duda assim que
passei pela porta de casa.
— Não me chame assim, ursinha — falei entredentes indo até minha
irmã mais velha.
— Como foi a aula, irmão? — perguntou se jogando não meus
braços.
Eu podia ser mais novo que ela, mas era bem mais alto e eu adorava
isso.
— Foi tranquila. Tem muito tempo que chegou? — Dei um beijo em
sua bochecha.
— Não muito, cheguei primeiro com Justin e Sam. Viktor e Otto
chegaram logo depois — disse ao nos afastarmos um do outro.
— Então... Cadê todo mundo?
Ela apontou para o outro lado da casa.
— Estamos nos reunindo na outra sala, Rita trouxe lanches. — Sorriu
e saiu em direção à outra sala, levando-me junto.
Assim que entramos na outra sala, pude ver o restante dos meus
primos queridos. Sam estava de pés descalços andando de um lado para o
outro, enquanto explicava algo para Justin que estava sentado de modo
relaxado com uma perna dobrada sobre o joelho, rindo do que ela dizia
enquanto ele acariciava os pelos do seu cão guia chamado Tom. Viktor
estava sentado em uma poltrona e ao seu lado estava seu irmão Otto. Os
dois observavam Samantha gesticular como uma louca. Otto estava rindo da
maluca da nossa prima, mas Viktor a olhava fixamente, até que desviou os
olhos para mim e acenou brevemente. Ele sempre foi caladão na dele, mas
eu o amava como um irmão mais velho e sabia que podia contar com ele
para qualquer coisa.
— Caras, eu estava com saudades de vocês — disse fazendo eles
notarem minha presença.
— Hey, little bear? (E aí, ursinho?) — cumprimentou-me Sam em
inglês e abraçou-me.
— you can stop, stubborn! (Pode ir parando, marrenta!) — respondi.
Ela começou a rir.
— Como anda a faculdade de medicina, primo? — perguntou.
— Está bem, ainda não começou a parte difícil. — Sorri.
— Ele agora está todo na seriedade porque vai ser médico —
provocou Samantha.
Encarei-a de olhos cerrados.
— Já está se preparando para trabalhar na empresa com tio Lucca e
tio Luigi? — perguntei com provocação.
Ela negou com a cabeça.
— Golpe baixo! — disse ela cruzando os braços.
— Eu quero só ver isso, essa empresa vai abaixo — disse Duda
fazendo todos rirem, menos Viktor.
— Não vai ser assim, tenho certeza que Sam e nossos tios vão saber
trabalhar juntos — apaziguou Justin.
— Sua positividade é invejável, Justin! — disse Duda, fazendo nosso
primo tirar seus óculos escuros enquanto ria divertido.
— Ele acha que todos são iguais a ele, paciente e gentil — falou Otto
e todos concordamos.
— Eu trabalhei superbem com minha mãe Luna quando ela estava
grávida da Ella — disse Justin.
Joguei uma almofada para acertá-lo, mas ele foi mais rápido e a
agarrou.
— Idiota, poderia ter acertado no Tom. Ele iria destruí-la ao meu
comando — disse Justin calmamente, colocando a almofada ao lado dele
sem se abalar.
Era inacreditável seu reflexo. Poderia dizer que isso era um
superpoder. Meu primo poderia ser cego, mas assustava o inferno fora de
mim quando queria.
— Papai iria te matar.
Ele sorriu largamente.
— Eu iria dizer a ele que foi você.
Olhei-o horrorizado, não duvidava que ele faria isso. Estava retirando
o que eu disse sobre ele ser amável.
— E aí, Viktor... Como vai em Nova York? — perguntei ao meu primo
mais velho, que virou a cabeça para me encarar.
— Trabalhoso, mas satisfatório. Eduarda foi me visitar na semana
passada — respondeu ele.
Olhei para minha irmã surpreso, acho que nem meus pais sabiam
dessa sua viagem.
— Sim, eu amo Nova York, mas aquela cidade é louca — disse ela e
nosso primo confirmou.
— Próxima vez eu vou também! — disse Justin.
— Também vou — falou Sam empolgada.
— Certo! — Viktor respondeu sério, desviando os olhos de Justin e
Sam.
— Vocês têm certeza que será uma boa sairmos hoje à noite? — Otto
perguntou e eu gemi em frustração.
— Não começa, Otto. Nossa intenção aqui é comemorar minha
entrada da faculdade — falei piscando para minha irmã.
Duda bufou e revirou os olhos.
— Babo não vai ficar feliz com isso — disse minha irmã.
Dei de ombros.
— Nada vai acontecer — falei e todos me olharam céticos.
— Você fala como se não atraíssemos problemas — disse Otto. Sam
caminhou até ele. — Ainda lembro de ter ficado preso em Londres.
— Relaxa, bonitinho. Nada vai acontecer e se acontecer eu vou te
defender — disse Samantha.
Otto arregalou os olhos para ela.
— É dessa parte que tenho medo. Você é maluca! — disse Viktor
sério, levantando-se da poltrona e fechando o botão do seu paletó.
— Vamos logo antes que tio Filippo chegue e…
— Não vou mentir e dizer que não adoro vocês juntos, mas sempre
que isso acontece, acaba com algum de vocês preso ou no hospital — disse
babo entrando na sala e interrompendo Sam.
Olhei para ele e vi meu pai Luti ao seu lado assentindo firmemente.
— Oi, tios! — Meus primos disseram em uníssono.
Eu me encolhi sob o olhar de meu pai Luiz para mim.
— Oi, papais! — disse Duda toda feliz, abraçando-os.
Eu logo já comecei a me preparar para o sermão dos dois e após isso
acontecer, nós ficamos finalmente livres de suas preocupações para
sairmos. Claro que não foi tão simples assim, babo encarava a mim e a
Samantha de um jeito como se estivesse desconfiado que nós dois iríamos
causar uma confusão. Mas Viktor nos salvou garantindo a babo que ele seria
responsável por todos nós, e é óbvio que Duda não gostou daquilo. Minha
irmãzinha era muito independente e não aceita que ninguém,
principalmente um homem, dissesse que iria olhar por ela. Mas para evitar
discursões com nossos pais e tios, ficamos todos tranquilos e deixamos que
Viktor acalmasse babo.
À noite jantamos todos juntos e fomos nos arrumar para sair.
Prontos, seguimos em três carros com nossos seguranças para boate.
Estávamos todos vestidos para matar, principalmente minha irmã e
Samantha. Elas chamavam atenção de todos os bastardos famintos.
Chegamos na área VIP, logo avistei alguns dos meus colegas de
faculdade. Cumprimentei-os com um aceno breve e fui fazer os pedidos das
bebidas no bar. Assim que o barman terminou de tomar nota dos meus
pedidos, voltei para ficar com minha família. Ao chegar, percebi que
Samantha havia puxado Justin para pista de dança e ele como não conseguia
negar nada a ela, foi.
— Justin realmente foi com aquela maluca? — perguntei.
Otto riu alto.
— Ninguém resiste a agitação daquela menina — disse ele.
Duda riu.
— Vamos dançar, Viktor? — Duda o chamou, mas ele somente a
encarou com a sobrancelha arqueada e uma feição dura. — Tudo
bem, eu só chamei por educação.
Viktor aceitou o copo de whisky que o garçom o serviu e deu um
grande gole.
— Спасибо (Obrigado) — disse ele em russo para o garçom em um
tom de voz forte e firme.
O pobre garçom olhou-o confuso e seguiu servindo o restante de
nós. Percebi que Viktor sentou e seus olhos não saiam da pista de dança,
mas precisamente de Justin que estava rindo de algo que Sam falou no seu
ouvido. Comecei a achar que ele está levando a sério essa coisa de cuidar de
nós.
— Eu estava louco por um pouco de álcool — disse Otto bebendo sua
cerveja.
— É sempre bom um pouco para relaxar — disse Duda bebericando
seu Martini. — Não vá ficar bêbado, viu, ursinho?! — provocou-me.
— Não em chame assim, ursinha — disse irritado. Eu havia crescido,
por que ela inda me chamava daquele jeito ridículo?
Duda soprou um beijo em minha direção.
— Pietro! — Ouvi alguém chamar por mim e olhei para trás. Ao ver
Erick, sorri.
— Você veio cara! — Cumprimentei meu amigo.
— Você praticamente me ameaçou.
Dei de ombros e o apresentei aos meus primos.
— Olá, boa noite! — disse Otto e Duda.
Viktor somente levantou o copo com o líquido âmbar dentro, em
forma de cumprimento.
— É bom que você esteja aqui — disse observando meu amigo olhar
tudo a sua volta.
— Sam, deixe-me beber algo. — Ouvi a voz de Justin.
Virei-me em sua direção e lá vinha ele acompanhado da nossa prima.
— Você é minha melhor companhia, Justin, não me abandone! — Fez
drama.
Meu primo veio andando com a sua bengala até nós.
— Deixe o pobre Justin em paz, mulher. Você faz isso porque ele não
sabe dizer não a você — ralhou Duda.
Sam foi a até ela pegando a bebida de sua mão e levando a boca
bebendo um grande gole.
— Folgada! — resmungou minha irmã.
— Olá, Erick! — disse Justin, chamando atenção de meu amigo que
arregalou os olhos assustado para ele.
— Como você sabia que estou aqui? — perguntou meu amigo
embasbacado.
Meu primo sorriu divertido.
— Seu perfume. Eu reconheci o seu perfume — explicou Justin,
deixando meu amigo boquiaberto.
— Vocês me assustam as vezes, mas... — interrompeu-se ao se
esbarrar em alguém ao dar um passo para trás.
O homem em quem ele esbarrou acidentalmente o empurrou com
força para frente, quase o jogando no chão.
— Que porra! Olhe por onde anda, seu filho da puta! — gritou Ian.
“Merda!”
— Cabeça, eu não te… — Ian o interrompeu lhe dando outro
empurrão.
— Você é cego, porra?
O modo agressivo como estava agindo, louco para brigar, mostrou-
me que ele estava sobre efeito de álcool ou drogas.
— Não, eu não...
— Cale a boca! — Ian o interrompeu mais uma vez. — Eu vou matar
você!
Ian armou mão para socar Erick, mas fui mais rápido do que ele
bloqueando o seu golpe antes de chegar a face do meu amigo. Revidei e
soquei seu rosto com força. Ele cambaleou para trás com o meu golpe e caiu
de joelhos no chão. Aproveitei a sua queda diante de mim e enfiei minha
mão nos seus cabelos, puxando sua cabeça para trás.
— Estou cansado de ver você ser sempre um grande filho da puta o
tempo todo. Acho que está na hora de te mostrar o que é ser gente de
verdade — disse com raiva, olhando para o filho da puta à minha frente.
“Por que tem que ser tão lindo?”
— Parece que não vou poder cumprir a promessa que fiz ao meu tio.
— Ouvi Viktor dizer.
Olhei para os meus primos e depois para minha irmã que encarava o
babaca de braços cruzados. A noite não iria terminar tão pacífica como
imaginei. Estávamos longe disso.
Bianca Brito vive em uma cidade no interior da Bahia, mais
precisamente localizada no recôncavo baiano, juntamente de seu
namorado. Formada em técnico de enfermagem, se dedica profundamente
ao seu futuro na escrita, escrevendo romances LGBTQIA+.
Sua primeira obra foi escrita no ano de 2016 na plataforma do
Wattpad, onde continua a escrever até os dias de hoje. Sua vida na escrita
começou como uma forma de desabafo, mas com o passar do tempo se
transformou em algo maior.
O que mais almeja do seu futuro é poder continuar a escrever, e
quem sabe sobreviver somente da sua escrita, levando muito amor para as
pessoas em todas as suas formas.

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