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PROJETO DE LEI, Nº _______ DE 2024

Dispõe sobre a criação do Conselho


Nacional de Assistência a População Negra
– CNAPN, institui o Fundo Nacional de
Compensação dos Danos da Escravidão e
do Racismo – FUNDO PALMARES, e dar
outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a criação do Conselho Nacional de Assistência a


População Negra – CNAPN, e institui o Fundo Nacional de Compensação dos
Danos da Escravidão e do Racismo, denominado FUNDO PALMARES.

CAPÍTULO I
DO CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA A POPULAÇÃO NEGRA

Seção I
Objetivos, Princípios e Diretrizes

Art. 2º Fica criado o Conselho Nacional de Assistência a População Negra –


CNAPN, com o objetivo de:

I – Implementar políticas e programas de investimentos e subsídios


promovendo e viabilizando o acesso a melhores condições de vida da população
negra, por meio da educação, trabalho e geração de renda;

II – Articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e


órgãos que desempenham funções de apoio a população negra;

III – Propor, elaborar e ofertar programas e ações que promovam a inclusão


da população negra em todos os ambientes institucionais do país;

IV – Instituir órgão gestor e a estrutura organizacional e funcional do


respectivo, com metas anuais e plurianuais. O órgão será composto por 7 (sete)
membros com perfil técnico comprovado, indicados pelo Conselho, provenientes
prioritariamente de órgãos públicos da União, estados e municípios, entidades
sem fins lucrativos, mediante concessão;

V - Formular parcerias e convênios com entidades públicas e privadas,


concernentes as necessidades de promoção da população negra a melhores
condições de vida, mediante inserção em todas as áreas possíveis;

VI - Coordenar outras ações inerentes a sua competência;

Art. 3º A estruturação, a organização e a atuação do CNAPN devem observar:

I – os seguintes princípios:

a) compatibilidade e integração das políticas de desenvolvimento


socioeconômicas dos entes da federação, bem como das demais políticas
setoriais de educação, habitação popular, saúde, segurança pública, direitos
humanos, meio ambiente e de inclusão social;

b) democratização, descentralização, controle social e transparência dos


procedimentos decisórios;

II – as seguintes diretrizes:

a) prioridade para ações, programas e projetos direcionados a população


negra de menor renda, articulados no âmbito federal, estadual, do Distrito
Federal e municipal;

b) utilização prioritária de instituições de propriedade do Poder Público para


a implantação de projetos de interesse social da população negra, extensivo a
população em geral;

c) sustentabilidade econômica, financeira e social dos programas e projetos


implementados;

d) incentivo e apoio ás diversas entidades que atuam na defesa da população


negra;

e) incentivo e apoio ás ações da sociedade organizada ou não, que visem o


desenvolvimento socioeconômico da população negra e o combate à
discriminação;
f) adoção de mecanismos de acompanhamento e avaliação e de indicadores
de impacto social das políticas, planos e programas.

Seção II
Da Composição

Art. 3º Integram o Conselho Nacional de Assistência a População Negra os


seguintes órgãos e entidades, com a devida proporção:

I – Ministério da Igualdade Racial, 01 (um) membro,

II – Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, 01 (um) membro;


III – Ministério da Justiça, 01 (um) membro;

IV – Ministério da Educação, 01 (um) membro;


V – Ministério da Saúde, 01 (um) membro;

VI – Ministério do Trabalho, 01 (um) membro;


VII – Ministério Público Federal, 01 (um) membro;

VIII – Senado Federal, 01 (um) membro;


IX – Câmara dos Deputados, 02 (dois) membros;

X – Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 01 (um) membro;


XI – Entidades representativas da população negra, 05 (cinco) membros,

(01 de cada região do Brasil, com pelo menos um ano de constituição)


XII –Territórios Quilombolas homologados, 02 (dois) membros;

XIII – Estados (total de 03) com maiores proporções de negros, conforme


dados do IBGE, 01 (um) membro por Estado.

Art. 4º Os Conselheiros e seus respectivos suplentes serão indicados pela


direção dos órgãos e entidades os quais integram, mediante ofício destinado ao
Ministério da Igualdade Racial, que formará comissão para organizar os tramites
necessários a posse dos respectivos, no prazo definido nesta Lei;

Art. 5º Os membros do Conselho e seus respectivos suplentes terão mandato


de 02 (dois) anos, podendo ser reconduzidos por mais um período, exceto nos
últimos dois anos, quando finda a vigência da Lei.
Seção III
Da Competência

Art. 6º O Conselho é órgão de caráter consultivo, deliberativo e de


fiscalização;

§ 1º A Presidência do Conselho será exercida pelo Ministério da Igualdade


Racial;

§ 2º O presidente do Conselho exercerá o voto de qualidade;

§ 3º O Conselho, após a sua aprovação terá 90 dias para instituir o seu


regimento interno;

§ 4º Competirá ao Ministério da Igualdade Racial proporcionar ao Conselho


os meios necessários ao exercício de suas competências;

CAPÍTULO II
DO FUNDO NACIONAL DE COMPENSAÇÃO DOS DANOS DA ESCRAVIDÃO E DO
RACISMO, DENOMINADO FUNDO PALMARES

Seção I
Objetivos e Fontes de Recursos

Art. 7º Fica instituído o Fundo Nacional de Compensação dos Danos da


Escravidão e do Racismo, denominado FUNDO PALMARES, com o objetivo de
centralizar e gerenciar recursos orçamentários destinados a compensação de
famílias negras, por danos morais objetivos, advindos da escravidão e do racismo
e para implementar políticas e ações afirmativas direcionadas a população negra,
durante o período de 10 (dez) anos;

Art. 8º Constituirão recursos do FUNDO PALMARES:

I – Recursos advindos de transferências obrigatórias da União e voluntárias dos


Estados, Distrito Federal e Municípios, doações de particulares, de fundos e
empresas privadas nacionais e internacionais, de convênios estaduais, de outros
países por meio de tratados ou acordos internacionais, de instituições nacionais e
internacionais não-governamentais, recursos de emendas parlamentares
individuais e de bancadas;
II – Recursos advindos da destinação do salário de 01 (um) assessor parlamentar
de cada deputado e senador federal, podendo se estender para as casas
legislativas estaduais, municipais e distrital, mediante adesão a legislação;

III – Recursos advindos da destinação voluntária do imposto de renda devido


por empresas e pessoas físicas, sendo até 6% para pessoa física e 2% para pessoa
jurídica;

IV – Recursos advindos da criação do Título Palmares, para oferta no território


nacional e no exterior, com resgate em até 10 (dez) anos e garantia do Tesouro
Nacional. Os detentores do título poderão utilizá-lo para abater multas e juros
devidos a União. O benefício poderá se estender aos estados e municípios,
mediante adesão a legislação;

V – Recursos da ordem de 50% (cinquenta por cento), advindos de termos de


ajustamento de conduta (TACs), e multas aplicadas em ações por danos ao direito
coletivo, devido racismo e trabalho análogo a escravidão;

VI – Recursos da ordem de 30% (trinta por cento), advindos das quantias não
reclamadas no prazo legal dos prêmios líquidos de concursos de prognósticos e
do PIS/Pasep, e que são destinados ao Tesouro Nacional;

VII – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos do prêmio líquido


de concursos de prognósticos;

VIII – Recursos advindos da criação da Loteria “Livre”, conforme modelo a ser


apresentado, e que será administrada pela Caixa Econômica Federal, com 02 (dois)
sorteios semanais. Do montante arrecadado, 40% (quarenta por cento) irá para os
ganhadores, 40% (quarenta por cento) para o FUNDO PALMARES e 20% (vinte por
cento) para os custos operacionais;

IX – Recursos advindos da criação da Raspadinha “Livre”, conforme modelo a


ser apresentado, e que será administrada pela Caixa Econômica Federal, com
prêmios instantâneos. Do montante arrecadado, 40% (quarenta por cento) irá para
os ganhadores, 40% (quarenta por cento) para o FUNDO PALMARES e 20% (vinte
por cento) para os custos operacionais. A Raspadinha poderá ser comercializada
por empresas privadas e ser utilizada em promoções e campanhas publicitárias
alinhadas aos objetivos da legislação;
X – Recursos da ordem de 0,5% (meio ponto percentual), advindos do valor
emprestado pelo BNDS e Caixa Econômica Federal e 0,25% pelo Banco do
Nordeste, Banco da Amazônia e Banco do Brasil, as empresas estrangeiras que
venham a se instalar ou já estejam no Brasil, e das brasileiras de capital aberto que
negociam ações no mercado exterior, até o prazo de vigência do FUNDO
PALMARES;

XI – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos das plataformas de


comércio eletrônico por compras realizadas no exterior, com valores superiores a
50 dólares;

XII – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos da arrecadação das


plataformas que atuam com apostas de jogos de futebol e outras modalidades
esportivas;

XIII – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos da arrecadação de


bens leiloados, originados de atos de corrupção em instituições públicas federais
e órgãos da União, medida que poderá se estender para estados e municípios,
mediante adesão a legislação;

XIV – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos das concessões de
bens da União repassados a iniciativa privada, a exemplo de aeroportos, portos,
rodovias, reservas minerais, dentre outros;

XV – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da tributação sobre


a aquisição de bens adquiridos no exterior com valor superior a US$ 500
(quinhentos dólares);

XVI – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos do montante da


arrecadação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), decorrente das
compras efetuadas com cartões de crédito no exterior;

XVII – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da venda de


ingressos para os jogos da seleção Brasileira em território nacional e no exterior,
mediante acordo com as entidades envolvidas;

XVIII – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos da transferência


para o exterior de jogadores de futebol ou de outra modalidade esportiva, que
supere a quantia de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), mediante acordo com
as entidades envolvidas;
XIX – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos da venda de
ingressos de shows com artistas internacionais, em casas de espetáculos ou
estádios de futebol ou similares com capacidade superior a 3.000 (três mil) pessoas,
mediante acordo com as entidades envolvidas;

XX – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos do imposto sobre


importação de veículos, aeronaves e embarcações, com valores superiores a R$
300,000,00 (trezentos mil reais), medida que poderá se estender para os estados e
Distrito Federal, mediante adesão a legislação;

XXI – Recursos da ordem de 20% (vinte por cento), advindos da arrecadação


em dinheiro e de bens leiloados, originados de atos de corrupção e improbidade
administrativa em instituições federais e órgãos de economia mista da União,
medida que poderá se estender para estados e municípios, mediante adesão a
legislação;

XXII – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos de transferências


de países ou instituições internacionais, destinados a fundos de desenvolvimento
ligados ao meio ambiente, direitos humanos, combate a violência, mediante
adesão a legislação;

XXIII – Recursos da ordem de 30% (trinta por cento), advindos da arrecadação


em dinheiro dos bens leiloados pela Receita Federal, originados do contrabando
ou descaminho;

XXIV – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos da arrecadação


do IPI (ou outro imposto substituto), sobre a fabricação de cigarros e produtos
derivados do tabaco, medida que poderá se estender para estados e o Distrito
Federal, mediante adesão a legislação;

XXV – Recursos da ordem de 5% (cinco por cento), advindos da arrecadação


do IPI (ou outro imposto substituto), sobre a fabricação de bebidas com teor
alcoólico superior a 20% (vinte por cento), medida que poderá se estender para
estados e o Distrito Federal, mediante adesão a legislação;

XXVI – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução no


uso da frota de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), utilizados por ministros
e demais autoridades do governo federal, mediada que poderá se estender aos
órgãos legislativos e judiciais, mediante adesão ao projeto;
XXVII – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução de
gastos dos cartões corporativos utilizados por autoridades do governo federal e
de outros órgãos da União, medida que poderá se estender para estados, Distrito
Federal e municípios, mediante adesão a legislação;

XXVIII – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução no


consumo de combustíveis pela frota oficial do governo federal e outros órgãos da
União, exceto os de fiscalização e serviços essenciais, medida que poderá se
estender aos órgãos legislativos e judiciais, mediante adesão a legislação;

XXIX – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução no


consumo de energia elétrica nos ministérios e repartições públicas federais, exceto
as utilizadas para o atendimento do público e serviços essenciais, medida que
poderá se estender aos órgãos legislativos e judiciais, mediante adesão a
legislação;

XXX – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução nas
emissões de passagens aéreas para viagens nacionais e internacionais, por parte
de autoridades e servidores do governo federal, medida que poderá se estender
aos órgãos legislativos e judiciais, mediante adesão a legislação;

XXXI – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução nas
despesas com eventos nacionais e internacionais realizados pelo governo federal,
exceto os de grande relevância para a saúde pública, segurança e meio ambiente,
medida que poderá se estender aos órgãos legislativos e judiciais, mediante
adesão a legislação;

XXXII – Recursos da ordem de 10% (dez por cento), advindos da redução no


número de cargos comissionados e de livre nomeação pelo governo federal,
medida que poderá se estender aos órgãos legislativos e judiciais, mediante
adesão a legislação;

XXXIII – Receitas operacionais e patrimoniais de operações realizadas com


recursos do FUNDO PALMARES;

XXXV - Receitas decorrentes da alienação dos imóveis da União que lhe


vierem a ser destinadas;

XXXVI - Outros recursos que lhe vierem a ser destinados.


Seção II
Montante e Aplicações dos Recursos do FUNDO PALMARES

Art. 9º O montante de recursos necessários a consecução dos objetivos do


FUNDO PALMARES durante a sua vigência, corresponderá a quantia necessária a
compensação de 10 (dez) milhões de famílias negras, conforme caput do Art. 7º,
contemplando 01 (um) milhão de famílias por ano, mediante critérios
estabelecidos pela regulamentação da Lei e deliberação do Conselho de
Assistência a População Negra, a saber:

I – 92% (noventa e dois por cento) do total dos recursos do Fundo Palmares
serão destinados a compensação das famílias negras;

II – Prioridade para as famílias que vivem em estado de pobreza e


vulnerabilidade social, utilizando para seleção das mesmas o Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), dentre outros critérios
definidos pelo IBGE, a exemplo do percentual da população negra residente em
cada estado;

III – Prioridade de compensação as famílias com matriarca ou patriarca (ou


ambos) com mais idade. Assim, a idade definirá a fila para compensação durante
a vigência da lei;

IV – Prioridade na compensação para portadores de necessidades especiais,


acamados, indivíduos que residam em asilos ou similares, dentre outras condições
a ser definidas pelo Conselho;

V – Definição de quantias diferentes para compensação as famílias, conforme


o número de membros registrados oficialmente no núcleo familiar. Sendo 18
(dezoito) salários mínimos para famílias com até 5 (cinco) membros, 22 (vinte e
dois) salários mínimos para famílias com 6 (seis) e até 10 (dez) membros e 26 (vinte
e seis) salários mínimos para famílias com 11(onze) ou mais membros;

Art. 10º O órgão gestor do Fundo Palmares criará mecanismos para o cadastro
das famílias, fiscalização e cruzamento dos dados cadastrais e estabelecerá critérios
para cancelamento e exclusão de cadastros que violarem as normas;

Art. 11º Os 8% (oito por cento) dos recursos remanescentes do FUNDO


PALMARES serão utilizados para contemplar políticas, programas e ações
afirmativas em benefício da população negra, com proveito para toda sociedade,
a saber:

I – Criação e implantação do Centro de Desenvolvimento Comunitário, a ser


implantado em todos os municípios do país, especialmente nas áreas de maior
vulnerabilidade social, podendo funcionar nas escolas públicas federais, estaduais
e municipais, mediante convênio. O Centro funcionará todos os finais de semana
para práticas esportivas, artísticas, de lazer e outras atividades destinadas às
crianças a partir de 05 (cinco) anos, acompanhadas dos pais ou responsáveis,
jovens e adolescentes em condições de vulnerabilidade social. Cada unidade
contará com corpo técnico e de apoio, em conformidade com os projetos a serem
desenvolvidos, material didático e alimentação para todos os participantes;

II – Criação da função de Agente de Desenvolvimento Comunitário, que fará


parte do corpo de apoio do Centro de Desenvolvimento Comunitário, trabalhará
prioritariamente em dupla, fazendo busca ativa e acompanhamento do público
alvo do centro, evitando que esse abandone as atividades;

III – Implantação do Museu Nacional do Povo Negro. A ser implantado na


cidade de Salvador – Bahia;

IV – Realização anual de Conferência Internacional de Combate ao Racismo e


da Semana Nacional da Cultura Negra, esse último a ser realizado nos vinte e sete
estados e no Distrito Federal, eventos que deverão ocorrer em períodos distintos;

V – Instituir o Prêmio Nacional Maria Bernadete Pacífico, para agraciar


anualmente 27 iniciativas (uma por estado) advindas de pessoas físicas, empresas
e entidades do terceiro setor, que tenham desenvolvido ações de combate ao
Racismo. A entrega do Prêmio se dará em evento nacional;

VI – Produção de obra literária (livro e vídeo) por especialistas da área,


retratando a contribuição do povo negro para o Brasil. A obra será distribuída em
universidades, escolas públicas e privadas, dentre outras entidades;

VII – Concessão de 1.000.000 (um milhão) de bolsas de estudos para cursos


técnicos, destinados a população negra de baixa renda. Sendo 100.000 mil
bolsas/ano, a serem ministradas por entidades de excelência nas áreas;

VIII – Concessão de 200.000 (duzentas mil) bolsas de incentivo esportivo em


diversas modalidades, para jovens e adolescentes negros de baixa renda. Sendo
20 (vinte) mil bolsas/ano, a serem ministradas por entidades de excelência nas
áreas;

IX – Concessão de linha especial de crédito para financiamento de 200.000


(duzentos mil) empreendedores negros. Sendo 20 (vinte) mil ao ano, isentos do
pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da cobrança de
quaisquer taxas, tarifas, comissões, serviços de terceiros, taxas de retornos ou
demais modalidades de cobranças, objetivando a modernização e
desenvolvimento de atividades que fomentem a geração de emprego e renda;
X – Implantação de programas de treinamento para 100.000 (cem mil) micro e
pequenos empresários negros, sendo 10 (dez) mil ao ano, a serem ministrados por
entidades qualificadas;

XI – Apoio a formação e estruturação de milhares de entidades negras,


legalmente constituídas, que trabalham com a temática da inclusão social, direitos
humanos, educação, saúde, habitação popular, violência, combate ao racismo e
outras ações que visam o fortalecimento da cidadania e dignidade humana;

XII – Criação de campanhas publicitárias de combate ao racismo, a serem


disponibilizadas a órgãos públicos e privados, instituições de ensino, entidades de
defesa dos direitos humanos e cidadania, canais de comunicação, dentre outros;

XIII – Aplicação de recursos em outras políticas públicas, programas e ações


afirmativas em benefício da população negra, extensivo a toda população,
podendo se estender aos Estados, Distrito Federal e Municípios, na forma
aprovada pelo Conselho e definidas em lei;

Art. 12º Os recursos do FNAPN também serão aplicados de forma


descentralizada, por intermédio dos Estados, Distrito Federal e Municípios, que
deverão:

I – Constituir fundo, com dotação orçamentária própria, destinado a


implementar políticas e ações afirmativas em benefício da população negra;

II – Instituir conselho que contemple a participação de entidades públicas e


privadas sem fins lucrativos, bem como de segmentos da sociedade ligados à
área de assistência a população negra, na falta desse, ligados a aérea em defesa
dos direitos humanos, garantido o princípio democrático de escolha de seus
representantes e a proporção de 1/3 (um terço) das vagas aos representantes de
movimentos populares devidamente reconhecidos;

III – Apresentar Plano de ação e metas, considerando as especificidades do


local e da demanda;

IV – Firmar termo de adesão ao CNAPN;

V – Elaborar relatórios de gestão.

§ 1º As transferências de recursos do FNAPN para os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios ficam condicionadas ao oferecimento de contrapartida
do respectivo ente federativo, nas condições estabelecidas pelo Conselho
Nacional de Assistência a População Negra;
§ 2º A contrapartida a que se refere o § 1º dar-se-á em recursos financeiros,
bens móveis ou serviços.

§ 3º Serão admitidos conselhos e fundos estaduais, do Distrito Federal ou


municipais, já existentes, que tenham finalidades compatíveis com o disposto
nesta Lei.

§ 4º O Conselho do FNAPN poderá dispensar municípios específicos do


cumprimento dos requisitos de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo,
em razão de características territoriais, econômicas, sociais ou demográficas e
que tenha população inferior a 10 (dez) mil habitantes.

§ 5º É facultada a constituição de fundos e conselhos de caráter regional.

§ 6º Os recursos do FNAPN também poderão, na forma do regulamento, ser


aplicados por meio de repasse a entidades privadas sem fins lucrativos, cujos
objetivos estejam em consonância com os do Fundo, observados os seguintes
parâmetros:

I – A definição de valor-limite de aplicação por projeto, ação afirmativa e por


entidade;

II – O objeto social da entidade ser compatível com o projeto a ser


implementado com os recursos repassados;

III – O funcionamento regular da entidade por no mínimo 2 (dois) anos;

IV – A vedação de repasse a entidade que tenha como dirigentes membros


dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal
de Contas da União, bem como seus respectivos cônjuges, companheiros e
parentes em linha reta, colateral ou por afinidade até o 2º grau, ou servidor
público vinculado ao Conselho do FNAPN ou aos Ministérios titulares do mesmo,
bem como seus respectivos cônjuges, companheiros e parentes em linha reta,
colateral ou por afinidade até o 2º grau;

V – O repasse de recursos do Fundo será precedido por chamada pública às


entidades sem fins lucrativos, para seleção de projetos ou entidades que tornem
mais eficaz o objeto da aplicação;

VI – A utilização de normas contábeis aplicáveis para os registros a serem


realizados na escrita contábil em relação aos recursos repassados pelo FNAPN;

VII – A aquisição de produtos e a contratação de serviços com recursos da


União transferidos a entidades deverão observar os princípios da impessoalidade,
moralidade e economicidade, sendo necessária, no mínimo, a realização de
cotação prévia de preços no mercado antes da celebração do contrato, para
efeito do disposto no art. 116 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993

VIII – O atendimento às demais normas aplicáveis às transferências de


recursos pela União a entidades privadas.

Seção III
Do Órgão Gestor do FUNDO PALMARES

Art. 13. Ao Órgão Gestor do FUNDO PALMARES compete:

I – Gerenciar as diretrizes e os critérios de alocação dos recursos do FUNDO


PALMARES, observado o disposto nesta Lei;

II – Gerenciar os orçamentos e planos de aplicação e metas anuais e


plurianuais dos recursos do FUNDO PALMARES;

III – Gerenciar as contas do FUNDO PALMARES, submetendo os resultados ao


Conselho;

IV – Dirimir dúvidas quanto à aplicação das normas regulamentares,


aplicáveis ao FUNDO PALMARES, nas matérias de sua competência;

V – Fixar os valores de remuneração dos agentes operadores, submetendo os


mesmos para aprovação do Conselho;

VI – Aprovar seu regimento interno.

Art. 14. A forma de contratação, remuneração e exoneração dos membros


do Órgão Gestor será definida na regulamentação da lei;

Art. 15. A Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil, ou ambos, atuarão


como instituições depositárias dos recursos do FUNDO PALMARES;

CAPÍTULO III
DISPOSIÇÕES GERAIS, TRANSITÓRIAS E FINAIS

Art. 16. É facultada ao Ministério da Igualdade Racial, a aplicação direta dos


recursos do FUNDO PALMARES até a regulamentação desta Lei.

§ 1º O Ministério da Igualdade Racial poderá aplicar os recursos de que trata


o caput deste artigo por intermédio dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios;
Art. 17. Esta Lei será implementada em consonância com a Política Nacional
de Promoção da Igualdade Racial e a Política Nacional dos Direitos Humanos.

Art. 18. Dentro de 60 (sessenta) dias, a contar da data da publicação desta Lei,
o Ministério da Igualdade Racial dará posse aos membros do Conselho Nacional
de Assistência a População Negra – FNAPN.

Art. 19. Dentro de 90 (noventa) dias, a contar da data da publicação dessa Lei,
os Ministérios da Igualdade Racial e o dos Direitos Humanos e da Cidadania
regulamentarão o Fundo Nacional de Compensação dos Danos da Escravidão e do
Racismo, denominado Fundo Palmares, em consonância com esta Lei.

Art. 20. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, data.

Presidente da República...
Ministro de Estado...

Justificativa

São muitos os autores e historiadores que retratam a escravidão no Brasil, seus


efeitos e consequências para a população negra. Ademais, todos os estudos e
dados estatísticos divulgados por órgãos e instituições públicas e privadas, a
exemplo do IBGE, IPEA, Fundação Seade, ONGs e dezenas de universidades que
tratam de questões relevantes na sociedade, mostram claramente o fosso que
ainda existe entre a população branca e negra no país.

O professor Gilberto Maringoni, na edição de nº 70 da revista de Informações do


IPEA, de 29/12/2011, deixa uma frase emblemática e muito verdadeira sobre o fim
da escravidão: “A campanha abolicionista, em fins do século XIX, mobilizou vastos
setores da sociedade brasileira. No entanto, passado o 13 de maio de 1888, os negros
foram abandonados à própria sorte, sem a realização de reformas que os
integrassem socialmente”.
Como os negros, agora “livres”, mas apenas “livres”, iriam conquistar melhores
condições de vida, se o Estado Brasileiro os abandonou sem fornecer condições
dignas e necessárias ao mínimo de desenvolvimento em toda sua plenitude?

As estatísticas e a realidade nua e crua vivenciada pela população negra no Brasil,


nas diversas dimensões, são por si só, suficientes para justificar um ato concreto
do Estado Brasileiro para compensar tanto sofrimento, negligência e descaso com
esse grupo de seres humanos, durante quase 500 anos.

É plausível afirmar, que nas últimas duas décadas algumas leis e ações afirmativas
foram realizadas no Brasil para contribuir com o desenvolvimento e a integração
mais igualitária da população negra na sociedade. A exemplo da Lei nº
12.711/2012, também conhecida como Lei de Cotas, que reserva um percentual de
vagas a candidatos autodeclarados Pretos, Pardos e Indígenas nas universidades
federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia. Medida também
adotada por inúmeras universidades estaduais, dentre outras.

Neste contexto, a população negra que antes tinha muita dificuldade para
ingressar num curso superior, passou a ter mais oportunidade. Outra medida
importante, refere-se a Lei 12.990, instituída em 2014, que reserva aos negros 20%
das vagas oferecidas nos concursos públicos. Além da União, estados, municípios,
universidades, instituições públicas e privadas vêm adotando políticas afirmativas
para reduzir e mesmo eliminar definitivamente o racismo e suas consequências
para a população negra.

Algumas leis, no entanto, têm uma característica similar que é a temporariedade,


ou seja, um tempo certo para findar os benefícios. De forma que não existe
garantias reais que ao findar o tempo de duração tenham cumprido seus objetivos,
que é reduzir significativamente o grau de desigualdade entre a população negra
e branca, no que se refere às condições socioeconômicas, observadas e
materializadas nas estatísticas presentes em todo território nacional, produzidas e
reproduzidas pelas condições históricas que sempre desfavoreceram os negros,
mas também pela discriminação e pela omissão do Estado Brasileiro.

É do conhecimento público e comprovado por todas as estatísticas, que a


população negra brasileira lidera os dados referentes ao encarceramento, do total
de quase um milhão de presos, mais de 65% são negros. São maioria entre os
moradores de rua, os que vivem em moradias insalubres e nas favelas, são as
maiores vítimas das mortes por ações policiais e casos de torturas, prisões
arbitrárias, assassinatos por armas de fogo, desempregados, baixos salários,
lideram no índice de evasão escolar, do analfabetismo, desnutrição infantil, no
grupo em condições de extrema pobreza e acesso à serviços de saúde e justiça,
dentre outros necessários a formação plena da cidadania.
Além dos dados que coloca os negros no “porão social” da educação, saúde,
segurança pública, distribuição de renda, habitação e tantas outras estatísticas
desrespeitosas, desumanas, imorais, incivilizadas e inconcebíveis para o século
vinte e um, num mundo repleto de recursos naturais, humanos, financeiros,
políticos, jurídicos e tecnológicos, a população negra ainda tem que conviver com
a descriminação racial, crime protagonizado todos os dias, país afora.

Diante do disposto e dos fundamentos legais e morais que compreende a Lei em


questão, é plenamente justo que o Estado Brasileiro compense a população negra,
por quase 500 anos de sofrimento injustificado, tendo em vista que todos os seres
humanos merecem igualdade de direitos e oportunidades, o que a Escravidão e o
Racismo extirparam dessa parcela de brasileiros e brasileiras, posto que a Lei Áurea,
assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, declara extinta a escravidão
no Brasil, mas não estabeleceu forma de compensação para garatir o mínimo de
condições para que a população negra liberta da escravidão pudesse viver com o
mínimo de dignidade material e outros meios de igualdade de direitos e
oportunidades, conforme descreve o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995) no
livro clássico, chamado A integração do negro na sociedade de classes:

“A desagregação do regime escravocrata e senhorial se operou, no Brasil, sem que


se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e
garantias que os protegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Os
senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos
libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos
especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização
da vida e do trabalho. (...) Essas facetas da situação (...) imprimiram à Abolição o
caráter de uma espoliação extrema e cruel”.

PROJETO ELABORADO PELO PROFESSOR E ECONOMISTA AMARILDO GOMES DE


OLIVEIRA (MESTRE EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL URBANO), COM APOIO DE
LIDERANÇAS DA COMUNIDADE NEGRA E DE ENTIDADES QUE ATUAM NA
DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E COMBATE A DISCRIMINAÇÃO RACIAL.

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