Deus sabia que se não fosse assim eu me atrasaria Seguro o guarda-chuva rasgado duma casa de penhores Derrubo minhas chaves na grade do bueiro, mas Eu tenho que deixar pra lá e continuar correndo Me engasgo na minha pastilha pra tosse O cachorro dos vizinhos latindo pra ele mesmo no portão Latindo, se jogando como um navio nas pedras, Uma criatura que não vai se resignar com seu destino
Eu disse “me dê cinco!”[dedos, “toca aqui!”] pro vizinho canhoto
que pensou que eu tava falando de dinheiro e me deu algum
Eu devolvi pro meu amigo canhoto de quatro dedos,
Ele me mostrou o quinto adicionando seu polegar direito Ele disse, “Diane…
Por que você não sai daquele teu emprego?
Se você está sempre atrasada, deve odiar ele. Sabe, se eu fosse uma mulher eu engravidaria Pra que eu pudesse sentar em casa e ver a neve…”
Assistimos a chuva transformar o gelo antigo em vidro
Neve em vidro como o Sol faz com a areia Ele disse “você quer?” E eu disse, “acho que sim” Ele estremece sob os cinco dedos de minha mão
Meu vizinho sai de nosso beco do truque-de-mãos
e eu estou sozinho até que algo é jogado em mim Sangue na minha bocheca E a risada das crianças A pontada de uma bola de neve com uma pedra dentro Assistimos a chuva tornar o gelo antigo em vidro Eu vejo mães da vizinhança se alvoroçarem de suas janelas Assistindo o arco de seus arcanjos na neve temperaturas abaixo de zero, rígidas e rosadas Crianças cambaleiam com o brilho de uma queimadura de frio
Deus fez chover para que eu corresse pra parada
Deus sabia que senão eu ficaria em casa Ligar e dizer que está doente não é a solução final Se esconder na cama e desconectar o telefone… Às vezes você precisa trabalhar até desistir Ás vezes você precisa trabalhar até que esteja feito Olha pro caminho, a chuva abre um caminho pro céu conceber um sol imaculado...