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Curso de preparação para o concurso de ingresso na carreira diplomática

O mercado interno: as quatro liberdades e as políticas comuns

17 de fevereiro de 2022

Miguel Mota Delgado


Doutorando no Instituto Universitário Europeu, Florença – Investigador Colaborador do Centro de Investigação de Direito Público
Advogado
LL.M., Colégio da Europa, Bruges
Artigo 26.º TFUE
[…]
2. O mercado interno compreende um espaço sem fronteiras internas no qual a livre circulação das mercadorias, das pessoas, dos
serviços e dos capitais é assegurada de acordo com as disposições dos Tratados.

[…]
ESTADO-MEMBRO A
ESTADO-MEMBRO B
UE

ESTADO-MEMBRO A
ESTADO-MEMBRO B
UE

ESTADO-MEMBRO A
ESTADO-MEMBRO B
Tabela 14.1 in Robert Schütze, European Union Law, Cambridge University Press, 2.ª ed. (2018), p. 550
Artigo 114.º TFUE

1. Salvo disposição em contrário dos Tratados, aplicam-se as disposições seguintes à realização dos objetivos enunciados no artigo 26.º.
O Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo legislativo ordinário, e após consulta do Comité Económico
e Social, adotam as medidas relativas à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-
Membros, que tenham por objeto o estabelecimento e o funcionamento do mercado interno.
2. O n.º 1 não se aplica às disposições fiscais, às relativas à livre circulação das pessoas e às relativas aos direitos e interesses dos
trabalhadores assalariados.
3. A Comissão, nas suas propostas previstas no n.º 1 em matéria de saúde, de segurança, de proteção do ambiente e de defesa dos
consumidores, basear-se-á num nível de proteção elevado, tendo nomeadamente em conta qualquer nova evolução baseada em dados
científicos. No âmbito das respetivas competências, o Parlamento Europeu e o Conselho procurarão igualmente alcançar esse objetivo.
4. Se, após a adoção de uma medida de harmonização pelo Parlamento Europeu e o Conselho, pelo Conselho ou pela Comissão, um
Estado-Membro considerar necessário manter disposições nacionais justificadas por exigências importantes a que se refere o artigo 36.º
ou relativas à proteção do meio de trabalho ou do ambiente, notificará a Comissão dessas medidas, bem como das razões que motivam a
sua manutenção.
5. Além disso, sem prejuízo do disposto no n.º 4, se, após a adoção de uma medida de harmonização pelo Parlamento Europeu e o
Conselho, pelo Conselho ou pela Comissão, um Estado-Membro considerar necessário adotar disposições nacionais baseadas em novas
provas científicas relacionadas com a proteção do meio de trabalho ou do ambiente, motivadas por qualquer problema específico desse
Estado-Membro, que tenha surgido após a adoção da referida medida de harmonização, notificará a Comissão das disposições previstas,
bem como dos motivos da sua adoção.
6. No prazo de seis meses a contar da data das notificações a que se referem os n.ºs 4 e 5, a Comissão aprovará ou rejeitará as disposições
nacionais em causa, depois de ter verificado que não constituem um meio de discriminação arbitrária ou uma restrição dissimulada ao
comércio entre os Estados-Membros, nem um obstáculo ao funcionamento do mercado interno.
Na ausência de decisão da Comissão dentro do citado prazo, considera-se que as disposições nacionais a que se referem os n.ºs 4 e 5
foram aprovadas.
Se a complexidade da questão o justificar, e não existindo perigo para a saúde humana, a Comissão pode notificar o respetivo Estado-
Membro de que o prazo previsto no presente número pode ser prorrogado por um novo período de seis meses, no máximo.
7. Se, em aplicação do n.º 6, um Estado-Membro for autorizado a manter ou adotar disposições nacionais derrogatórias de uma medida
de harmonização, a Comissão ponderará imediatamente se deve propor uma adaptação dessa medida.
8. Sempre que um Estado-Membro levante um problema específico em matéria de saúde pública num domínio que tenha sido previamente
objeto de medidas de harmonização, informará do facto a Comissão, que ponderará imediatamente se deve propor ao Conselho medidas
adequadas.
9. Em derrogação do disposto nos artigos 258.º e 259.º, a Comissão ou qualquer Estado-Membro pode recorrer diretamente ao Tribunal
de Justiça da União Europeia, se considerar que outro Estado-Membro utiliza de forma abusiva os poderes previstos no presente artigo.
10. As medidas de harmonização acima referidas compreenderão, nos casos adequados, uma cláusula de salvaguarda que autorize os
Estados-Membros a tomarem, por uma ou mais razões não económicas previstas no artigo 36.º, medidas provisórias sujeitas a um
processo de controlo da União.
Diretiva 2009/48/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de Junho de 2009, relativa à segurança dos brinquedos, OJ L
170, 30.6.2009, p. 1–37

[…]

Artigo 12.o
Livre circulação
Os Estados-Membros não podem levantar obstáculos à disponibilização no mercado no respectivo território de brinquedos que cumpram
o disposto na presente directiva.
C-376/98 - Alemanha/Parlamento e Conselho
24. Ora, não é esse aqui o caso. Dado que a única publicidade admitida, ou seja, a efectuada nos locais de venda, só representa 2% das
despesas de publicidade da indústria do tabaco, a directiva implica, de facto, uma proibição total dessa publicidade. Por conseguinte, em
vez de favorecer o comércio dos suportes da publicidade dos produtos do tabaco e a livre prestação de serviços neste domínio, a directiva
suprime quase totalmente estas liberdades. Além disso, segundo a recorrente, a directiva cria novos obstáculos, anteriormente
inexistentes, às trocas comerciais. Deste modo, no mercado dos produtos do tabaco, a proibição da publicidade tornaria quase impossíveis
a importação e a comercialização de produtos novos e levaria, portanto, à esclerose do comércio interestadual.

(...)

83. Resulta da conjugação destas disposições que as medidas previstas no artigo 100.°-A, n.° 1, do Tratado se destinam a melhorar as
condições do estabelecimento e do funcionamento do mercado interno. Interpretar este artigo no sentido de que o mesmo atribui ao
legislador comunitário uma competência geral para regulamentar o mercado interno seria não só contrário ao próprio teor das referidas
disposições, mas igualmente incompatível com o princípio consagrado no artigo 3.°-B do Tratado CE (actual artigo 5.° CE) segundo o
qual as competências da Comunidade são competências de atribuição.

84 Além disso, um acto adoptado com fundamento no artigo 100.°-A do Tratado deve ter efectivamente por objecto a melhoria das
condições do estabelecimento e do funcionamento do mercado interno. Se a mera constatação de disparidades entre as regulamentações
nacionais bem como do risco abstracto de entraves às liberdades fundamentais ou de distorções de concorrência fosse suficiente para
justificar a escolha do artigo 100.°-A como base jurídica, a fiscalização jurisdicional do respeito da base jurídica ficaria privada de
eficácia. O Tribunal de Justiça seria então impedido de exercer a função, que lhe incumbe por força do artigo 164.° do Tratado CE (actual
artigo 220.° CE), de garantir o respeito do direito na interpretação e aplicação do Tratado.

(...)

86. É um facto que, como o Tribunal de Justiça assinalou no n.° 35 do acórdão Espanha/Conselho, já referido, o recurso ao artigo 100.°-
A como base jurídica é possível a fim de evitar o aparecimento de obstáculos futuros às trocas comerciais resultantes das legislações
nacionais. Todavia, o aparecimento de tais obstáculos deve ser verosímil e a medida em causa deve destinar-se à sua prevenção.
C-491/01 - British American Tobacco
60. Há que observar, antes de mais, que resulta dos n.os 83, 84 e 95 do acórdão sobre a publicidade ao tabaco que as medidas visadas por
essa disposição se destinam a melhorar as condições do estabelecimento e do funcionamento do mercado interno e devem efectivamente
ter esse objecto, contribuindo para a eliminação de entraves à livre circulação de mercadorias ou à livre prestação de serviços ou ainda
para a supressão de distorções da concorrência.

C-436/03 - Parlamento/Conselho
44. Nestas condições, não se pode considerar o regulamento impugnado, que deixa inalteradas as diferentes legislações nacionais
existentes, como tendo por objecto a aproximação das legislações dos Estados-Membros aplicáveis às sociedades
C-547/14 - Philip Morris Brands e o.

122. De acordo com a jurisprudência referida no n.° 59 do presente acórdão, o recurso ao artigo 114.° TFUE como base jurídica é possível
a fim de evitar o aparecimento de obstáculos futuros às trocas comerciais resultantes da evolução heterogénea das legislações nacionais,
quando o aparecimento desses obstáculos seja verosímil e a medida em causa tenha por objeto a sua prevenção.

(…)

124. Há que lembrar igualmente que, de acordo com a jurisprudência referida no n.° 64 do presente acórdão, as medidas que podem ser
adotadas com base no artigo 114.° TFUE podem consistir, nomeadamente, em proibir, provisória ou definitivamente, a comercialização
de um ou mais produtos.

125. Daí resulta que a eliminação das divergências entre as regulamentações nacionais respeitantes à composição dos produtos do tabaco,
ou a prevenção da sua evolução heterogénea, incluindo pela proibição, ao nível da União, de certos aditivos, visa facilitar o bom
funcionamento do mercado interno dos produtos em causa.
TÍTULO II
A LIVRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS

(…)

Artigo 34. TFUE


São proibidas, entre os Estados-Membros, as restrições quantitativas à importação, bem como todas as medidas de efeito equivalente.
C-8/74 – Dassonville

5. All trading rules enacted by Member States which are capable of hindering, directly or indirectly, actually or potentially, intra-
Community trade are to be considered as measures having an effect equivalent to quantitative restrictions.
C-120/78 - Rewe/Bundesmonopolverwaltung für Branntwein (Cassis de Dijon)

8. (…) Os obstáculos à circulação intracomunitária decorrentes da disparidade entre legislações nacionais relativas à comercialização
dos produtos em causa devem ser aceites na medida em que tais medidas possam ser consideradas necessárias para a satisfação de
exigências imperativas atinentes, designadamente, à eficácia dos controlos fiscais, à protecção da saúde pública, à lealdade das
transacções comerciais e à defesa dos consumidores.
(…)
14. Decorre do que precede que as disposições relativas ao teor em álcool mínimo das bebidas alcoólicas não prosseguem uma finalidade
de interesse geral susceptível de primar sobre as exigências de livre circulação das mercadorias, que faz parte das regras fundamentais
da Comunidade.
O efeito prático de disposições desse tipo consiste essencialmente em conceder vantagens às bebidas alcoólicas de forte teor em álcool,
afastando do mercado nacional produtos de outros Estados-membros que não correspondam a tal especificação.
Conclui-se, assim, que a exigência unilateral, imposta pela regulamentação de um Estado-membro, de um teor em álcool mínimo para a
comercialização de bebidas alcoólicas constitui um obstáculo às trocas comerciais incompatível com as disposições do artigo 30.° do
Tratado.
Não existe, portanto, fundamento válido para impedir que bebidas alcoólicas, legalmente produzidas e comercializadas em outros
Estados-membros, sejam introduzidas em qualquer outro Estado-membro, sem que se possa opor ao escoamento desses produtos a
proibição legal de comercialização de bebidas com teor em álcool inferior ao limite fixado pela regulamentação nacional.
C-267/91 - Keck e Mithouard
16. Em contrapartida, impõe-se considerar que, contrariamente ao que até agora foi decidido, a aplicação de disposições nacionais que
limitam ou proíbem determinadas modalidades de venda a produtos provenientes de outros Estados-membros não é susceptível de
entravar directa ou indirectamente, actual ou potencialmente, o comércio intracomunitário na acepção da jurisprudência Dassonville
(acórdão de 11 de Julho 1974, 8/74, Colect., p. 423), desde que se apliquem a todos os operadores interessados que exerçam a sua
actividade no território nacional e desde que afectem da mesma forma, tanto juridicamente como de facto, a comercialização dos produtos
nacionais e dos provenientes de outros Estados-membros.
C-110/05 - Comissão/Itália (Reboques)

56. A este respeito, importa observar que uma proibição de utilização de um produto no território de um Estado-Membro tem uma
influência considerável no comportamento dos consumidores, o qual afecta, por sua vez, o acesso desse produto ao mercado desse
Estado-Membro.

57. Com efeito, os consumidores, sabendo que lhes é proibido utilizar o seu motociclo com um reboque especialmente concebido para o
mesmo, não têm praticamente nenhum interesse em comprar esse reboque (v., por analogia, no que se refere à proibição de colocar
autocolantes coloridos no pára-brisas dos veículos automóveis, acórdão de 10 de Abril de 2008, Comissão/Portugal, C-265/06, ainda não
publicado na Colectânea, n.° 33). Assim, o artigo 56.° do Código da Estrada impede a existência de uma procura no mercado em causa
para esses reboques, criando assim obstáculos à importação dos mesmos.

58. Daqui resulta que a proibição estabelecida no artigo 56.° do Código da Estrada, na medida em que tem por efeito criar obstáculos ao
acesso ao mercado italiano dos reboques especialmente concebidos para os motociclos e que são legalmente produzidos e comercializados
em Estados-Membros diferentes da República Italiana, constitui uma medida de efeito equivalente a restrições quantitativas à importação,
proibida pelo artigo 28.° CE, a não ser que possa ser objectivamente justificada.
Artigo 36.º TFUE
As disposições dos artigos 34.º e 35.º são aplicáveis sem prejuízo das proibições ou restrições à importação, exportação ou trânsito
justificadas por razões de moralidade pública, ordem pública e segurança pública; de proteção da saúde e da vida das pessoas e
animais ou de preservação das plantas; de proteção do património nacional de valor artístico, histórico ou arqueológico; ou de
proteção da propriedade industrial e comercial. Todavia, tais proibições ou restrições não devem constituir nem um meio de
discriminação arbitrária nem qualquer restrição dissimulada ao comércio entre os Estados-Membros.

C-120/78 - Rewe/Bundesmonopolverwaltung für Branntwein (Cassis de Dijon)


8. Os obstáculos à circulação intracomunitária decorrentes da disparidade entre legislações nacionais relativas à comercialização dos
produtos em causa devem ser aceites na medida em que tais medidas possam ser consideradas necessárias para a satisfação de exigências
imperativas atinentes, designadamente, à eficácia dos controlos fiscais, à protecção da saúde pública, à lealdade das transacções
comerciais e à defesa dos consumidores.
Tabela 13.4 in Robert Schütze, European Union Law, Cambridge University Press, 2.ª ed. (2018), p. 535
C-174/82 - Sandoz
18. Nevertheless the principle of proportionality which underlies the last sentence of Article 36 of the Treaty requires that the power of
the. Member States to prohibit imports of the products in question from other Member States should be restricted to what is necessary to
attain the legitimate aim of protecting health. Accordingly, national rules providing for such a prohibition are justified only if
authorizations to market are granted when they are compatible with the need to protect health.
Communication from the Commission concerning the consequences of the judgment given by the Court of Justice on 20 February
1979 in case 120/78 ('Cassis de Dijon') OJ C 256, 3.10.1980, p. 2–3

(…)

The Commission's work of harmonization will henceforth have to be directed mainly at national laws having an impact on the functioning
of the common market where barriers to trade to be removed arise from national provisions which are admissible under the criteria set
by the Court.

COMPLETING THE INTERNAL MARKET: WHITE PAPER FROM THE COMMISSION TO THE EUROPEAN COUNCIL
(MILAN, 28-29 JUNE 1985) /* COM/85/0310 FINAL */
(…)
[W]here barriers to trade are created by justified divergent national regulations concerning the health and safety of citizens and consumer
and environmental protection, legislative harmonization will be confined to laying down the essential requirements, conformity with
which will entitle a product to free movement within the Community.

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