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Contabilidade

e Finanças
Material Teórico
Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jose Carlos Pereira Almeida
Prof. Esp. Wellington Rodrigues Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Fundamentos de Contabilidade e
Finanças - Noções Preliminares I

• Noções Preliminares I;
• Princípios da Contabilidade;
• Balanço Patrimonial;
• Anexo I.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Discorrer sobre Noções Preliminares I da Contabilidade, para que você consiga compreen-
der o conceito, a finalidade e o objetivo desta ciência;
• Entender também que essa ciência é regida por Princípios Contábeis que nos direcionam
e fornecem parâmetros para realizarmos nossas atividades.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
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Contextualização
Antes de iniciarmos o estudo teórico da disciplina, gostaríamos que você assistis-
se a um filme que selecionamos sobre a História da Contabilidade.

Vamos lá, sente-se confortavelmente e aproveite para assistir a uma breve história sobre a
Explor

Ciência Contábil. Disponível em: https://youtu.be/qw5wbbPwXTg

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Noções Preliminares I
Conceito de Contabilidade
Essa ciência é, possivelmente, a mais antiga do mundo. Constam registros, na
história, de que há seis mil anos o homem já se utilizava de métodos para o controle
do seu patrimônio, que, naquela época, era constituído basicamente de ovelhas ou
outras criações. Inconscientemente ele já fazia a contabilidade de seus bens, quan-
do, para cada ovelha existente em seu rebanho, ele colocava uma pedrinha dentro
de um invólucro qualquer, a fim de comparar, depois, a quantidade de pedrinhas
com a quantidade de ovelhas do rebanho.

O que o homem fazia há seis mil anos e sem qualquer conhecimento, movido
única e exclusivamente pela necessidade de controlar a sua riqueza, os contadores
fazem hoje e chamam de inventário. Quando dissemos acima que a contabilidade
tem por função apresentar a posição do patrimônio da entidade em determinado
momento, devemos entender a expressão “posição” como sendo um inventário de-
talhado de todos os Bens, Direitos e Obrigações da entidade objeto da contabilidade.

Contabilidade: ciência que tem por função apresentar a posição do patrimônio da entidade
Explor

em determinado momento, visando à tomada de decisões por parte dos administradores


desse patrimônio.
Entidade: qualquer tipo de organização, seja ela física ou jurídica, que vise ao lucro ou não.
Inventário: Contagem cíclica de seus bens, a fim de controlarem suas riquezas.

Objetivos e Importância da Contabilidade


O objetivo principal da contabilidade é o patrimônio da entidade. Você já ima-
ginou um veículo em determinada velocidade sem motorista para conduzi-lo? Um
avião em pleno ar sem piloto? Um barco sem leme? Assim devemos ver uma em-
presa sem contabilidade; seus administradores não saberiam que rumo dar à em-
presa, pois não quantificariam a dimensão de seu patrimônio. A contabilidade nor-
teia as decisões dos administradores da empresa através dos relatórios que fornece.
Relatórios esses que são feitos seguindo-se uma série de normas e procedimentos
que conheceremos mais tarde.

Muito embora, quando nos referirmos à contabilidade, em nossas aulas, esteja-


mos falando de empresas, de pessoas jurídicas, vale relembrar que o patrimônio
objeto da contabilidade pode ser de pessoas jurídicas ou também de pessoas físicas.
Costumamos dizer que, onde houver um patrimônio, lá estará a contabilidade para
controlá-lo, seja ele de pessoa física ou jurídica, tenha ou não finalidade de lucro.

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Campo de Atuação da Contabilidade


A evolução do mundo é constante e incansável e a Ciência Contábil acompanha
essa evolução, adaptando-se às novas necessidades do mercado, da economia e
das entidades. Atualmente temos vários campos de atuação para a contabilidade.
Especificamente neste e no próximo semestre, estudaremos o campo de atuação
da Contabilidade Comercial, que se dedica ao controle do Patrimônio das Empresas
Comerciais, porém existem vários outros campos de atuação e, entre eles, vamos
citar os seguintes:

Tabela 1
Contabilidade Característica
Industrial Utilizada para controlar o Patrimônio das empresas Industriais.
Pública Utilizada para controlar o Patrimônio das entidades e órgãos públicos.
Bancária Utilizada para o controle do Patrimônio das Instituições Financeiras etc.

Informações Contábeis
As informações geradas pela Contabilidade são de interesse de vários grupos de
pessoas, que podem ser divididos em usuários internos e usuários externos.

Usuários Internos
• Sócios, acionistas, proprietários: estão interessados na rentabilidade e segu-
rança de seus investimentos;
• Administradores, diretores e executivos: esses usuários avaliam as informa-
ções contábeis com uma profundidade e análise mais detalhadas, pois é com
base nessas informações que as decisões e estratégias serão tomadas.

Usuários Externos
• Bancos, capitalistas: neste caso, os usuários estão interessados na situação
financeira da entidade, ou seja, em sua rentabilidade e nos fluxos de caixa;
• Governo e economistas governamentais: primeiramente, têm a intenção
de obter conhecimento das informações contábeis para exercer seu poder de
tributar, arrecadando, assim, impostos, taxas e contribuições. Além disso,
compreender a economia de um modo geral, com base em análises globais
e setoriais.

Finalidade da Informação Contábil


Conforme Ludícibius (2010, p. 5), as finalidades da informação contábil podem
ser agrupadas da seguinte maneira:

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• Finalidade de planejamento: Planejamento é o processo de decidir que curso
de ação deverá ser tomado para o futuro;
• Finalidade de controle: Controle pode ser conceituado como um processo
pelo qual a alta administração se certifica, na medida do possível, de que a
organização está agindo em conformidade com os planos e políticas traçadas
pela administração;
• Finalidade de auxílio no processo decisório: Processo decisório é o proces-
so de escolher uma dentre um conjunto de alternativas.

Princípios da Contabilidade
Os princípios de contabilidade, como o próprio nome indica, são normas de pro-
cedimentos para a elaboração da escrita e das demonstrações contábeis. Eles pa-
dronizam os procedimentos, visando à facilidade de comparações entre demonstra-
tivos contábeis feitos por diferentes profissionais, ou seja, ao examinar um Balanço
Patrimonial de uma empresa estabelecida em São Paulo e outro de uma empresa
estabelecida no Amazonas, pode-se ter certeza de que as duas demonstrações fo-
ram feitas com os mesmos critérios de escrituração, pois, nós contadores, somos
obrigados a conhecer e praticar esses princípios.

Em 2010, foi publicada a Resolução CFC 1.282/10, alterando e atualizando al-


guns Princípios Contábeis contidos na Resolução CFC 750/93. Tal medida deu-se
por conta do processo de convergência às normas internacionais. Mais adiante, em
2016, a Resolução CFC 1.282/10 foi revogada pela Resolução 2016/NBCTSPEC, a
qual aprovou a adoção da Estrutura Conceitual. A Estrutura Conceitual é uma norma
emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) como parte do processo
de convergência das normas brasileiras de contabilidade às normas internacionais.

A Estrutura Conceitual está dividida, atualmente, em quatro capítulos, que são:


1. Objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de pro-
pósito geral;
2. Entidade que reporta a informação;
3. Características qualitativas da informação contábil-financeira útil;
4. Estrutura conceitual (1989): texto remanescente.

A Estrutura Conceitual está em processo de revisão pelo International


Accounting Standards Board (IASB), órgão responsável por editar as normas
internacionais de contabilidade que são trazidas para o Brasil por meio do CPC e
aprovadas (ou não) pelos órgãos reguladores (Conselho Federal de Contabilidade,
Comissão de Valores Mobiliários, Banco Central do Brasil, entre outros).

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Em virtude de ser um documento que caminha para uma versão final, o capítulo 2
ainda não foi editado, bem como todos os demais itens constantes do texto original
de 1989 (ainda não revisados) concentram-se no capítulo provisório de número 4,
chamado “texto remanescente”.

A Estrutura Conceitual é um documento extenso que tem por objetivo estabele-


cer conceitos e premissas (princípios) fundamentais a serem observados na elabora-
ção das demonstrações contábeis.

Dentre os principais aspectos da norma, destacam-se as características qualitati-


vas da informação contábil, que são segregadas em dois grupos: características qua-
litativas fundamentais e características qualitativas de melhoria. As características
qualitativas são aquelas essenciais (que não podem faltar no processo de elaboração
das demonstrações contábeis). Já as características qualitativas de melhoria são
aquelas que aperfeiçoam as demonstrações contábeis, conquanto jamais prejudi-
quem as características qualitativas fundamentais. São as características qualitativas:

• Relevância;
Fundamentais • Representação fidedigna.

• Comparabilidade;
• Verificabilidade;
De melhoria • Tempestividade;
• Compreensibilidade.

Figura 1

A seguir, discutiremos cada uma das características qualitativas com exem-


plos práticos.

Relevância
De acordo com a Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifo nosso):
QC6. Informação contábil-financeira relevante é aquela capaz de fazer
diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários. A in-
formação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão mesmo no
caso de alguns usuários decidirem não a levar em consideração, ou já
tiver tomado ciência de sua existência por outras fontes.

QC7. A informação contábil-financeira é capaz de fazer diferença nas


decisões se tiver valor preditivo, valor confirmatório ou ambos.

Como visto, a determinação de relevância não é dada necessariamente por


quantificação, mas pela análise se a informação é capaz de afetar as decisões
dos seus usuários, como, por exemplo, um investidor comprar, vender ou man-
ter os investimentos em ações da empresa, ou um credor decidir emprestar ou
não recursos para essa empresa.

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O valor preditivo significa uma informação que possa ser utilizada pelos usu-
ários para projetar o futuro (por exemplo, receitas históricas que podem ser
usadas para projeções de receitas futuras). O valor confirmatório diz respeito
à informação que pode atestar / validar expectativas passadas (por exemplo,
informações de liquidação de empréstimos, confirmando expectativa passada
de liquidação pela data de vencimento).

Representação Fidedigna
Nos termos da Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifo nosso):
QC12. Os relatórios contábil-financeiros representam um fenômeno
econômico em palavras e números. Para ser útil, a informação contá-
bil-financeira não tem só que representar um fenômeno relevante, mas
tem também que representar com fidedignidade o fenômeno que se
propõe representar. Para ser representação perfeitamente fidedigna, a
realidade retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser completa,
neutra e livre de erro. É claro, a perfeição é rara, se de fato alcançável.
O objetivo é maximizar referidos atributos na extensão que seja possível.

Representar fidedignamente um fenômeno significa capturar a essência eco-


nômica desse fenômeno e transcrevê-lo em números, por meio das contabiliza-
ções, e em palavras, por meio das divulgações nas demonstrações financeiras,
de forma que o usuário da informação enxergue o ocorrido por meio da infor-
mação que lhe é prestada. Por exemplo, ao captar um empréstimo junto a um
banco, uma empresa deve contabilizar e reportar o evento ao usuário, de tal
forma que seja possível ser visualizado o ingresso de recursos no caixa da em-
presa em contrapartida a um passivo (obrigação) assumido.

Informação completa, neutra e livre de erro são os atributos necessários para


se alcançar uma representação fidedigna do evento econômico.

Informação completa significa prestar aos usuários todas as informações per-


tinentes e, obviamente, relevantes, sobre a transação. As notas explicativas
(conjunto de informações que complementam o balanço patrimonial, a demons-
tração do resultado do exercício e as demais demonstrações contábeis obrigató-
rias) são a principal fonte de divulgação de informações adicionais aos usuários
das informações contábeis.

Informação neutra é aquela que não está enviesada por qualquer interesse
particular dos preparadores das demonstrações, gestores da empresa, usuários
da informação, entre outros. Por exemplo, a empresa não pode computar uma
receita no ano 1 em vez de computá-la no ano 2 para mostrar um resultado
melhor no ano 1 se a essência econômica da transação e o disposto por nor-
mas técnicas específicas claramente indicarem que é apropriado reconhecer a
receita no ano 2. Se esta receita for contabilizada em um momento inapropria-
do, meramente para atender aos interesses de qualquer pessoa que é parte do
negócio, a neutralidade da informação estará comprometida.

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Informação livre de erro não significa informação com exatidão em todos os


aspectos, mesmo porque diversas transações são registradas pela contabilidade
com base em estimativas. Informação livre de erro significa que todos os pro-
cedimentos de reconhecimento e mensuração do evento econômico foram ade-
quadamente realizados para reportar ao usuário a melhor informação possível
acerca desse evento.

Comparabilidade
Conforme a Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifo nosso):
QC20. As decisões de usuários implicam escolhas entre alternativas,
como, por exemplo, vender ou manter um investimento, ou investir em
uma entidade ou noutra. Consequentemente, a informação acerca da
entidade que reporta informação será mais útil caso possa ser comparada
com informação similar sobre outras entidades e com informação simi-
lar sobre a mesma entidade para outro período ou para outra data.

Como podemos observar na redação normativa, comparabilidade consiste


em informações que possam ser comparadas entre empresas (por exemplo, o
estoque de mercadorias de uma empresa comercial X deve ser comparável com
o estoque de mercadorias da empresa comercial Y, pois ambas as empresas
utilizam a mesma norma para registrar suas transações) ou entre períodos de
uma mesma empresa (por exemplo, a empresa Z pode comparar a receita de
vendas do ano 2 com a receita de vendas no ano 1).

A consistência é um dos principais meios para atingir a comparabilidade.


Por exemplo, ao escolher o método linear de depreciação para os seus ativos
imobilizados no ano 1, o mesmo método deve ser consistentemente aplicado
nos próximos anos para garantir a comparabilidade entre os períodos.

Verificabilidade
A Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifo nosso) diz que:
QC26. A verificabilidade ajuda a assegurar aos usuários que a informa-
ção representa fidedignamente o fenômeno econômico que se propõe
representar. A verificabilidade significa que diferentes observadores,
cônscios e independentes, podem chegar a um consenso, embora não
cheguem necessariamente a um completo acordo, quanto ao retrato
de uma realidade econômica em particular ser uma representação
fidedigna. Informação quantificável não necessita ser um único ponto
estimado para ser verificável. Uma faixa de possíveis montantes com suas
probabilidades respectivas pode também ser verificável.

Em outras palavras, a verificabilidade significa que diferentes pessoas, inde-


pendentes entre si, após analisarem as informações, chegam à conclusão de que

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a informação está apresentada de forma apropriada (ou seja, é representação
fidedigna do evento econômico).

Podemos citar, como exemplo, os profissionais de contabilidade das empre-


sas e os auditores independentes de demonstrações contábeis: os profissionais
de contabilidade registram e conciliam (verificam) os saldos contábeis com base
em documentos, e os números são repassados para validação (verificação) dos
auditores independentes. Ambos concordam que a informação está apresentada
adequadamente. Se identificada qualquer divergência, os auditores irão solicitar
que a administração da empresa efetue os ajustes necessários.

A verificação pode ser direta ou indireta. Por exemplo, o valor apresentado


no balanço patrimonial como Caixa pode ser diretamente verificado por meio
da contagem do dinheiro físico. Já o saldo contábil de estoques pode ser indire-
tamente verificado por meio da aplicação do conceito de inventário periódico,
o qual pressupõe que o estoque final deve corresponder ao estoque inicial, mais
as compras efetuadas no período, menos as baixas de estoques por venda.

Tempestividade
De acordo com a Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifo nosso):
QC29. Tempestividade significa ter informação disponível para tomado-
res de decisão a tempo de poder influenciá-los em suas decisões. Em
geral, a informação mais antiga é a que tem menos utilidade. Contudo,
certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após
o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários,
por exemplo, necessitarem identificar e avaliar tendências.

Em outras palavras, a empresa é tempestiva ao fornecer informações aos


seus usuários em um tempo razoável, de tal forma que esta informação seja
utilizada como fundamento para o processo decisório destes usuários. Nada
adianta reportar uma informação de um evento ocorrido há um ano, pois esta
informação certamente não terá utilidade aos seus usuários. Por essa razão,
as empresas de capital aberto no Brasil devem divulgar informação periodica-
mente. O prazo para divulgação das demonstrações contábeis por empresas
do mercado de capitais brasileiro é de até 45 dias após o término do trimestre
para as demonstrações contábeis trimestrais, e de até 90 dias após o término
do exercício social para as demonstrações contábeis anuais.

Tabela 2 – Prazos para divulgação das demonstrações contábeis -


Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
Prazo máximo para divulgação
Data-base
das demonstrações contábeis
1º trimestre (informações de 01/01 a 31/03) 15/05 do mesmo ano
2º trimestre (informações de 01/01 a 30/06) 15/08 do mesmo ano

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Prazo máximo para divulgação


Data-base
das demonstrações contábeis
3º trimestre (informações de 01/01 a 30/09) 15/11 do mesmo ano
Anual (informações de 01/01 a 31/12) 31/03 do ano seguinte
Fonte: investidor.gov.br

Compreensibilidade
De acordo com a Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifo nosso):
QC30. Classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza
e concisão torna-a compreensível.

De maneira geral, a organização das informações e a apresentação da forma


mais inteligível possível tornam a informação compreensível. É importante ressaltar
que existem diversas transações complexas nas empresas. A Estrutura Conceitual,
no entanto, ressalta que tais transações não devem ser omitidas, pois, neste caso,
a representação fidedigna seria comprometida por não ser fornecida a informação
completa aos seus usuários. A norma pressupõe que os usuários da informação
possuem conhecimento técnico mínimo para compreender as demonstrações con-
tábeis ou podem procurar ajuda de consultores especializados para auxiliá-los em
assuntos complexos, os quais não dominam.

Outros Aspectos Importantes da Estrutura Conceitual


• A prudência (ou conservadorismo), característica qualitativa que preconiza-
va o registro das despesas e passivo pelo maior valor possível, e das receitas
e ativo pelo menor valor possível foi eliminada da Estrutura Conceitual por
divergir da neutralidade da informação (atributo necessário para a represen-
tação fidedigna);

• A característica qualitativa de prevalência da essência sobre a forma foi


formalmente retirada da Estrutura Conceitual, uma vez que já está implícita na
característica qualitativa de representação fidedigna (não existe representa-
ção fidedigna se prevalecer a forma jurídica da transação sobre a sua essência
econômica). Isso significa que ela não deixou de existir, mas não é mais uma
característica qualitativa separada, estando hoje intrínseca na característica
qualitativa de representação fidedigna. Para exemplificamos o conceito de
essência sobre a forma, admitamos que a empresa X fez uma venda de uma
mercadoria para um cliente no dia 28/04/x2, com nota fiscal de venda emitida
nesta data. No entanto, só entregou a mercadoria ao cliente no dia 02/05/x2.
A forma jurídica (emissão da nota fiscal) atesta que a venda ocorreu dia 28/04/x2,
mas, em essência, a transferência dos riscos e benefícios do ativo transa-
cionado só ocorreu pela entrega da mercadoria ao cliente, em 02/05/x2.
Uma representação fidedigna da informação se dá pelo reconhecimento

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da receita em 02/05/x2 (pela essência econômica da transação), e não em
28/04/x2 (pela forma jurídica da transação);

• As demonstrações contábeis são elaboradas de acordo com a premissa sub-


jacente da continuidade, a qual pressupõe que a empresa está em atividade
e assim permanecerá por um futuro previsível, ou seja, a empresa não tem a
intenção ou a necessidade de ser liquidada;

• O regime de competência (accruals) pressupõe que os registros dos eventos


econômicos devem ser efetuados pelo fato gerador, independentemente da li-
quidação financeira (pagamento ou recebimento). Por exemplo, se uma empre-
sa vende um produto em 03/05/x3 (entregando-o para o cliente nesta data),
mas só vai receber daqui a 90 dias, a receita é contabilizada em 03/05/x3,
momento da efetiva venda (fato gerador), independentemente de o recebimen-
to ocorrer apenas no futuro.

Balanço Patrimonial
O Balanço Patrimonial é um demonstrativo (Relatório) contábil que apresenta,
de forma organizada e estruturada, a situação da empresa (Patrimônio) em deter-
minado momento.

No decorrer do estudo de nossa disciplina, você aprenderá muito mais sobre


esse relatório, mas, neste momento, achamos importante falar sobre ele, para que
você tenha uma noção a respeito de tudo o que falamos anteriormente.

Preste atenção no Balanço Patrimonial a seguir:

Tabela 3
Alfenas S.A
Balanço Patrimonial em 31-01-20x1
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido
Caixa 1.000,00 Passivo
Bancos 800,00 Contas a pagar 3.500,00
Contas a receber 3.000,00 Fornecedores 1.800,00 5.300,00
Estoques Patrmônio Líquido
de Materiais 3.000,00 Capital 4.000,00
Terrenos 1.700,00 Lucros Acumulados 700,00 4.700,00
Veículos 500,00
Total 10.000,00 Total 10.000,00

O lado esquerdo é representado pelo ATIVO e, no lado direito do Balanço Pa-


trimonial, apresentamos o PASSIVO e o PATRIMÔNIO LÍQUIDO. Perceba que
os dois lados resultam no mesmo valor: $10.000,00.

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

O Ativo compreende os bens e os direitos da entidade, já o Passivo representa as


obrigações a pagar. Assim, podemos definir o Patrimônio Líquido como a diferença
entre o valor do Ativo e do Passivo. Exemplificando:

Se a entidade tem um Ativo de $10.000

e um Passivo de $5.300

O Patrimônio Líquido dessa entidade será $4.700

Olhe novamente nosso Balanço Patrimonial, por favor, e perceba que o apre-
sentamos de forma simplificada, incluindo algumas contas para o ATIVO e outras
para o PASSIVO; as nomenclaturas e a quantidade de contas contábeis variam de
entidade para entidade.

No caso do Patrimônio Líquido, vamos conversar sobre a composição dessas


duas contas apresentadas em nosso exemplo:
• Capital: é o investimento inicial dos sócios, efetuado pelos proprietários em
troca de ações, quotas ou outras participações;
• Lucros: resultado dos exercícios apresentado de forma acumulada no Balanço
Patrimonial; esses valores não foram distribuídos e servem de fonte de reinves-
timento na entidade.

Normalmente, as entidades apresentam em seus Balanços Patrimoniais um


ATIVO superior ao PASSIVO, ou seja, seus bens e direitos são superiores às
suas dívidas.

Veja como a Equipe dos Professores da FEA/USP (2010, p. 20) ilustra muito
bem a configuração do Balanço Patrimonial com o seguinte exemplo:

Suponhamos uma balança de dois pratos: colocaremos no da esquerda o ATIVO e


no da direita o PASSIVO. Se ambos tiverem valores iguais, o equilíbrio estará conse-
guido. Mas, como normalmente ATIVO e PASSIVO apresentam valores diferentes, a
balança penderá para um dos lados. O peso (valor) que colocaremos apenas para a
obtenção do equilíbrio é o que chamamos de PATRIMÔNIO LÍQUIDO e, é lógico, está
no lado de menor valor.

A seguir, vamos exemplificar a criação de uma empresa, bem como suas opera-
ções, preparando, assim, um Balanço Patrimonial:

1ª Operação – Constituição da Empresa


Algumas pessoas resolvem fundar uma sociedade anônima (S/A) e decidem in-
vestir $4.000 de Capital. Com isso, subscrevem (assinam o compromisso de entre-
gar o dinheiro) e integralizam (entregam efetivamente o dinheiro) deliberando 40
ações de $100 cada uma.

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Iniciamos as atividades da empresa Alfa S.A. em 15-janeiro-x, no ramo de presta-
ção de serviços, de reparos (consertos) de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos.

Tabela 4
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 15-01-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido
Patrimônio Líquido
Caixa 4.000 4.000
Capital subscrito
Total 4.000 Total 4.000

Vamos entender essa primeira operação? Perceba que a entidade recebeu um


ativo, que reconhecemos na conta CAIXA, no valor de $4.000 e, em contraparti-
da, lançamos contra Capital Subscrito.

Neste caso, nossa “balança” está em total equilíbrio, $4.000 para cada lado.

2ª Operação – Aquisição de Edifício


A empresa decide adquirir um edifício, em 10-2-x, para abrigar suas instalações,
efetuando o pagamento à vista no valor de $1.200.

Veja, com essa transação, a empresa adquire um novo ATIVO que deve ser
classificado na conta Imóveis. Todavia, sabemos que o pagamento foi à vista, sendo
assim, o valor do CAIXA vai diminuir.

Vamos ver essa movimentação espelhada no nosso Balanço Patrimonial?

Tabela 5
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 10-02-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido
Caixa 2.800 Patrimônio Líquido
4.000
Imóveis 1.200 Capital subscrito
Total 4.000 Total 4.000

Continuamos com o mesmo equilíbrio anterior. Verifique que as alterações pro-


movidas ocorreram apenas no lado do ATIVO, pois adquirimos um novo bem,
pagando à vista.

3ª Operação – Compra de Materiais


A empresa precisa iniciar suas atividades, por isso decide adquirir materiais que
serão estocados para utilização posterior.

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Em 13-2-x, a empresa compra materiais na importância de $2.000 e paga a


prazo. Vamos ao nosso Balanço Patrimonial:

Tabela 6
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 13-02-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido
Passivo
Caixa 2.800 Fornecedores 2.000

Imóveis 1.200 Patrimônio Líquido


Estoque de Materiais 2.000 Capital subscrito 4.000
Total 6.000 Total 6.000

Por essa transação, a empresa adquiriu um novo ATIVO, que são os materiais
reconhecidos na conta de Estoques. Neste caso, movimentamos também o lado do
PASSIVO, porque não efetuamos nenhum pagamento à vista e, sim, assumimos
uma obrigação de pagamento futuro.

Como você aprendeu anteriormente, toda e qualquer obrigação deve ser regis-
trada do lado direito, lado do passivo.

4ª Operação – Compra de Veículo


Para realizar suas atividades, a Alfa S.A precisa de um veículo para atender a
seus clientes, portanto, em 20-2-x, adquire um automóvel na Beta Automóveis
S.A., à vista, por $200.

O Balanço Patrimonial apresentará a seguinte composição:

Tabela 7
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 20-02-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido
Passivo
Caixa 2.600 Fornecedores 2.000

Imóveis 1.200 Patrimônio Líquido


Estoque de Materiais 2.000 Capital subscrito 4.000
Veículos 200
Total 6.000 Total 6.000

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5ª Operação – Venda de parte do Edifício
Os diretores percebem que o edifício excede as necessidades da empresa, moti-
vo pelo qual decidem vender o pavimento superior.
Desse modo, a venda ocorre, em 23-2-x, por $800.
Lembre-se de que o imóvel custou à Alfa S.A a importância de $1.200; se di-
vidirmos por 2, já que está sendo vendida a metade do edifício, cada parte valeria
$600. Tudo bem?

Vamos pontuar todas as movimentações ocorridas nesta operação:


• O ativo aumentou em $800, representado por uma nota promissória a rece-
ber, visto que a venda não foi efetivada à vista;
• Mas o ativo também diminuiu em $600 ($1.200 da compra dividido por
2 = $600);
• Perceba que tivemos um “lucro” com a venda de parte do edifício no valor de $200.

Agora, vamos passar essas informações para o nosso Balanço:

Tabela 8
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 23-02-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido

Passivo
Caixa 2.600 Fornecedores 2.000
Imóveis 600 Patrimônio Líquido
Estoque de Materiais 2.000 Capital subscrito 4.000
Veículos 200 Lucro 200
Títulos a receber 800
Total 6.200 Total 6.200

6ª Operação – Pagamento de uma Obrigação


Em 05-03-x, a Alfa paga parte de sua dívida feita com os fornecedores quando
da aquisição dos materiais eletrônicos, pois essa é a data de vencimento do primei-
ro boleto de pagamento no valor de $1.300.

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21
UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Observe que essa operação vai diminuir o Passivo na conta Fornecedores e


também a disponibilidade de dinheiro na conta Caixa (Ativo). Veja, agora, a nova
composição do Balanço após essa operação:

Tabela 9
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 05-03-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido

Passivo
Caixa 1.300 Fornecedores 700
Imóveis 600 Patrimônio Líquido
Estoque de Materiais 2.000 Capital subscrito 4.000
Veículos 200 Lucro 200
Títulos a receber 800
Total Ativo 4.900 Total Passivo + PL 4.900

7ª Operação – Recebimento de Dinheiro


Em 10-03-x, a empresa recebe $400 referentes ao 1º pagamento da Nota Pro-
missória da aquisição do imóvel. Esse fato aumentou o caixa e diminuiu os valores
a receber. Segue:

Tabela 10
Alfa S.A.
Balanço Patrimonial 10-03-x
Em $ mil
Ativo Passivo e Patrimônio Líquido
Passivo
Caixa 1.700 Fornecedores 700
Imóveis 600 Patrimônio Líquido
Estoque de Materiais 2.000 Capital subscrito 4.000
Veículos 200 Lucro 200
Títulos a receber 400
Total Ativo 4.900 Total Passivo + PL 4.900

Bem, acreditamos que você tenha entendido as operações realizadas e também


que tenha constatado, através dos exemplos apresentados, que haverá sempre um
equilíbrio em nosso Balanço Patrimonial. Mas também fique tranquilo, caso não
tenha ainda conseguido assimilar essa situação de equilíbrio, durante o desenvolvi-
mento do estudo da disciplina, teremos muitas atividades que o ajudarão a alcançar
o objetivo proposto.

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Importante! Importante!

Vamos praticar e fixar o conhecimento adquirido na Unidade? Praticando, você assi-


mila melhor o aprendizado desenvolvido. Então, acesse o arquivo de Atividades de
Sistematização do Conhecimento e faça os exercícios propostos.
Na próxima aula, vamos conversar sobre Método das Partidas Dobradas, conceituar
as Contas contábeis, efetuar movimentações e lançamentos. Aposto que você vai
gostar muito!

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Anexo I
Como material complementar de estudo, sugerimos a leitura do texto a seguir,
extraído do livro Contabilidade Básica – 7º edição Modernizada da editora NCC
Atlas, de 2003, autoria de José Carlos Marion, que trata do início da Contabilidade
como ciência.

Início e evolução da contabilidade


Introdução
O início da contabilidade como ciência é atribuído ao frei Lucca Pacciolo, que
escreveu, num livro sobre geometria e aritmética, o princípio da partida dobrada,
isto é, que cada débito corresponde a um crédito de igual valor. Conta-se que ele foi
convidado pelo Papa para tomar conta de um convento localizado numa pequena
cidade italiana próxima à Roma. Para aceitar tal incumbência, solicitou do sumo
pontífice uma lista de tudo o que pertencia ao convento.

A lista lhe foi fornecida e continha as seguintes informações:

Caixa 2.000

Valores a Receber 4.000

Convento (Casa) 7.000

Valores a pagar 2.000

15.000

No Caixa, estava todo o dinheiro, em espécie, que pertencia ao convento.


Os Valores a Receber eram representados por pedaços de papel, onde estavam
descritos as mercadorias e serviços que as pessoas tinham adquirido do con-
vento, para o pagamento no futuro. O valor da Casa representava o custo pelo
qual tinha sido adquirida, e os Valores a Pagar eram anotações que relatavam os
serviços e as mercadorias adquiridas pelo convento às pessoas da cidade, para o
pagamento posterior.

De posse dessas informações, frei Lucca começou a refletir sobre o significado


daquela lista. Logo ele percebeu que as informações continham os valores de to-
dos os bens, direitos e obrigações que pertenciam ao convento. O Caixa ($2.000)
e a Casa ($7.000) eram os bens materiais. Os pedaços de papel que registravam
os Valores ($4.000) que o convento tinha a Receber da comunidade eram os di-
reitos (bens materiais) e, finalmente, os papéis que registravam os Valores a Pagar
($2.000) eram as obrigações do convento.

Dessa maneira, ele chegou a um conceito muito importante para a contabili-


dade, o conceito de patrimônio: é o conjunto de bens, direitos e obrigações que

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pertencem a uma pessoa física ou jurídica. Esse conceito ele expressou matemati-
camente, por meio da seguinte equação:

a) Bens (B) + Direitos (D) + Obrigações (O) = Patrimônio

9.000 + 4.000 + 2.000 = 15.000

Conceito de Patrimônio Líquido


Lucca Pacciolo achou que essa informação era importante e, por isso, merecia
ser finada. Para isso, pensou: qual seria o valor do convento se todos os seus valo-
res a receber fossem recebidos, a casa fosse vendida pelo valor registrado e, final-
mente, pagasse todas as suas dívidas? Para responder a essa questão, transformou
a equação (a) na seguinte:

b) B + D – O = PL ou

9.000 + 4.000 – 2.000 = 11.000

E, assim, ele chegou a outro conceito de fundamental importância para a con-


tabilidade: o conceito de patrimônio líquido. O patrimônio líquido pode, portanto,
ser definido como o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma pessoa física
ou jurídica, levando em consideração, porém, que os bens e direitos são valores
positivos e as obrigações são valores negativos.

Diante desse conceito, frei Lucca começou a pensar sobre o que significava o
valor de $11.000. Seria o valor de mercado da empresa? Seria o valor real? Ou
o valor contábil? Ele concluiu que o patrimônio líquido ($11.000) representava o
valor contábil da empresa, de acordo com os registros efetuados pela contabilidade,
isto é, se todos os valores a receber fossem recebidos exatamente pelos mesmos
valores constantes dos registros contábeis, se os bens fossem vendidos pelos mes-
mos valores registrados pela contabilidade, e suas obrigações fossem pagas pelos
mesmos valores que haviam sido inscritos nos livros contábeis, o valor final da
empresa, em dinheiro, seria exatamente o valor do patrimônio líquido determina-
do pela contabilidade. É evidente que essa coincidência de valores é praticamente
impossível de acontecer. Os valores a receber, assim como os valores a pagar, nem
sempre são recebidos e pagos pelos mesmos valores constantes nos registros con-
tábeis, sobretudo os bens, que dificilmente seriam realizados pelos mesmos valores
da contabilidade.

A Equação do Balanço
Diante da equação (b) que formulou para explicar o conceito de patrimônio líqui-
do, o frei, como bom matemático que era, fez o seguinte raciocínio: se eu colocar,
de um lado da equação, os valores positivos do patrimônio, e do outro, os valores
negativos, mais a diferença entre eles, terei uma equação perfeitamente equilibrada.
Agindo dessa maneira, a equação (b) foi transformada na seguinte:

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

c) B + D = O + PL ou

9.000 + 4.000 = 2.000 + 11.000

Observando essa equação, decidiu arrumar as contas representativas do conven-


to da mesma forma, isto é:

Caixa 2.000 Valores a Pagar 2.000

Valores a Receber 4.000 Patrimônio Líquido 11.000

Casa 7.000

13.000 13.000

Redefinição do Conceito de Patrimônio


Analisando essa nova forma de apresentação do patrimônio de uma empresa, o
frei observou que o lado esquerdo registrava as aplicações de recursos efetuados, e
o outro lado, o direito, registrava as origens desses recursos aplicados pela empre-
sa. Ele, então, chegou à conclusão de que o conceito inicial de patrimônio não es-
tava matematicamente correto, pois havia uma dupla contagem quando se somava
também o valor das obrigações. Ora, pensou o brilhante frei, se uma obrigação é
uma origem de recursos que foram aplicados pela empresa e, portando, registrados
no lado esquerdo na nova apresentação, seu valor já está incluído no total desse
lado; seria um erro considerar a soma das obrigações na equação do patrimônio.
Dessa maneira, ele concluiu que realmente o patrimônio de uma pessoa física ou
jurídica é representado pelo conjunto de bens, direitos e obrigações. Contudo, a
soma desse conjunto não tem sentido.

Muitos anos mais tarde, essa forma de apresentação do patrimônio de uma em-
presa passou a ser chamada de Balanço, devido ao equilíbrio sugerido por ela. Esse
formato se assemelha a uma balança com dois pratos de peso exatamente iguais.
Aliás, balança é uma palavra grega composta por duas partes: bi e lancis – bi sig-
nifica dois, e lancis é traduzido por pratos de balança.

Posteriormente, o lado esquerdo da balança foi chamado de Ativo, devido ao


fato de essas contas representarem a parte viva, ativa da empresa. Esse lado regis-
tra, em última instância, todas as aplicações da empresa, como Caixa, Valores a
Receber, Imobilizado, Investimentos, entre outras.

O lado direito foi denominado Passivo, em virtude de suas contas registrarem,


passivamente, as origens dos recursos que foram aplicados no ativo. O passivo total
de uma empresa pode ser dividido em duas partes: o passivo fictício, que repre-
senta os recursos dos proprietários e, por isso, também chamados de recursos pró-
prios; e o passivo propriamente dito, que representa as exigibilidades da empresa
para com terceiros.

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Receitas e Despesas
Diz a história que, mal o frei acabara de ter arrumado o convento, apareceu um
grupo de tropeiros pedindo para passar a noite lá porque não havia hotéis na cida-
de. O frei aceitou sob condição de receber o equivalente, hoje, a $500.

Balanço

Caixa 2.500 Valores a Pagar 2.000

Valores a Receber 4.000 Patrimônio Líquido 11.500

Casa 7.000

13.500 13.500

Conforme podemos constatar que, comparando este balanço com o anterior,


apenas o Caixa, entre as contas patrimoniais, foi alterado, passando de $2.000
para $2.500. Como consequência dessa modificação, o patrimônio líquido, que
é um valor diferencial, pois registra a diferença entre bens e direitos e obrigações,
evoluiu para $11.500.

Entusiasmado com o resultado da primeira transação, Lucca Pacciolo enviou


uma cópia do novo balanço para o Papa. Sua Santidade, o Papa, ficou muito
satisfeita com o resultado, principalmente porque a decisão da escolha de Lucca
Pacciolo para dirigir o convento fora dele. Mas seu contentamento durou pouco.
Após a saída dos tropeiros, o frei pagou $20 para fazer a limpeza do convento e
arrumar as camas. Ao registrar essa despesa na contabilidade, o balanço passou a
ter a seguinte forma:

Balanço

Caixa 2.480 Valores a Pagar 2.000

Valores a Receber 4.000 Patrimônio Líquido 11.480

Casa 7.000

13.480 13.480

Mais uma vez, ao compararmos o novo balanço com o imediatamente anterior,


notamos que houve apenas uma redução no Caixa, no valor de $20, permanecen-
do inalterados os demais itens do patrimônio.

Como consequência disso, por força da lógica da equação do balanço, o patri-


mônio líquido foi também reduzido em $20.

Como bom administrador que era, Lucca Pacciolo, a cada alteração no patrimô-
nio líquido do convento, enviava uma cópia do balanço para seu chefe. Dessa vez,
porém, a reação do Papa foi inversa à anterior.

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

O santo padre observou que o Caixa havia sido reduzido e também o patrimônio
líquido, o que, para ele, era um absurdo. Imediatamente, convocou o frei para ir
a Roma dar pessoalmente as devidas explicações. Pacciolo foi até lá e mostrou ao
chefe da Igreja que aquela não era tão absurda como podia parecer à primeira vista.
Seus argumentos surtiram bons efeitos, pois o Sumo Pontífice ficou satisfeito com
a explicação, e Pacciolo continuou gerenciando o convento.

Nosso frei, contudo, não ficou nada satisfeito de ter ido a Roma dar explicações
sobre fatos tão simples. E, muito pior, pensou ele, ter que ir novamente dar expli-
cações banais toda vez que ocorressem alterações no patrimônio líquido do con-
vento, principalmente quando fossem negativas. Diante desse quadro, ele começou
a pensar em como registrar essas operações na contabilidade de maneira tal que
não houvesse necessidade de explicações adicionais para que fossem entendidas.

A Solução Milagrosa
Evidentemente que se, para cada despesa ou receita, houvesse alteração imedia-
ta do patrimônio líquido – sem que elas fossem registradas – após várias despesas
e receitas, ao final de um determinado período, não se poderia dizer ou entender
como um resultado fora obtido. Poder-se-ia, é verdade, dizer que houve um resul-
tado no período, positivo ou negativo. Para isso, bastaria comparar o patrimônio
líquido do final do período em questão com o do período anterior; porém, não seria
possível dizer como o resultado foi constituído: quais as receitas e as despesas, e o
valor de cada uma delas.

Frei Lucca, que, como já sabemos, era matemático, resolveu aplicar no balanço
atual a equação do Patrimônio Líquido (b) e observar o resultado.

b) B + D – O = PL ou

9.480 + 4.000 – 2.000 = 11.480

Ele notou que o Patrimônio Líquido agora era $11.480, de acordo com a equa-
ção (b). Esse valor apresentava uma diferença, a maior, de $480 em relação ao Pa-
trimônio Líquido inicial, ou seja, aquele antes das operações de receitas e despesas.
Na realidade, essa diferença era exatamente o lucro do convento no período, isto é,
receitas ($500 recebidos pelos tropeiros) menos despesas ($20 pagos pela limpeza).

Ora, raciocinou o bom frei, se chamarmos o Patrimônio Líquido de antes do


início das operações de Patrimônio Líquido Inicial (PLI) ou Capital, passando a re-
gistrar na contabilidade as despesas e receitas ocorridas, poderemos acompanhar
pari passu a evolução do resultado da empresa. Ao final de um período qualquer,
poderemos informar quais foram as receitas e despesas do exercício e, consequen-
temente, o resultado que a empresa obteve. Podemos informar, também, o Patri-
mônio Líquido do final do período, que nada mais é do que o valor do patrimônio
inicial mais o resultado do exercício.

Portando, esse problema estava resolvido. O frei colocou a sua ideia em prática,
desenvolvendo a equação do balanço (c) da seguinte maneira:

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c) B + D = O + PLI ou

9.000 + 4.000 = 2.000 +11.000

Para registrar o dinheiro recebido dos tropeiros ou a receita (R) de $500, a equa-
ção (e) se transformou na equação (d):

d) B + D = O + PLI + R ou

9.500 + 4.000 = 2.000 + 11.000 + 500

E para registrar a despesa (DE) de $20, referente à limpeza do convento e à


arrumação das camas, a equação (d) evoluiu para (e):

e) B + D + DE = O + PLI + R ou

9.480 + 4.000 + 20 = 2.000 + 11.000 + 500

Assim como a equação (c) representa o balanço, a equação (e) diz respeito ao
balancete, e pode ser apresentada da forma a seguir:

Caixa 2.480 Valores a Pagar 2.000

Valores a Receber 4.000 Patrimônio Líquido Inicial 11.000

Casa 7.000 Patrimônio Líquido 500

Despesa Limpeza 20

13.500 13.500

Diferença entre Balanço e Balancete


Agora podemos conceituar qual é a diferença entre esses demonstrativos. O ba-
lanço apresenta apenas as contas patrimoniais. O balancete, além de apresentar as
contas patrimoniais, apresenta também as contas de receitas e despesas. Só nos
casos de receitas e despesas futuras, e de despesas antecipadas e diferidas, o balan-
ço pode apresentar contas de despesas e receitas, devido ao princípio contábil da
competência do exercício. Aí as despesas e receitas não foram consideradas para
apuração do resultado do período para o qual o balanço foi levantado, elas serão
levadas em consideração na apuração de resultado de exercícios subsequentes.

A Apuração de Resultado e o Levantamento de Balanço


Resolvido o problema do registro das despesas e receitas, conforme vimos, o
frei se deparou com a seguinte questão: qual o patrimônio da empresa e qual o
resultado do exercício.

Evidentemente, o balancete não responde diretamente a essas perguntas. É pre-


ciso que se façam cálculos aritméticos para respondê-las. Por isso, o frei não ficou
completamente satisfeito com essa peça contábil, o ideal seria elaborar uma de-
monstração que evidenciasse essas respostas da melhor maneira possível.

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Pensando assim, Lucca Pacciolo resolveu separar as contas que diferenciam o


balancete do balanço, ou seja, as contas que representam as receitas e despesas
consideradas para a apuração do resultado econômico de um período. E assim fez:

Parte de Cima

Caixa 2.480 Valores a Pagar 2.000

Valores a Receber 4.000 Patrimônio Líquido 11.000

Casa 7.000

13.480 13.000

Parte de Baixo

Despesa: Limpeza 20 Receita: Hospedagem 500

Ele observou que, na parte de cima, o total do ativo supera o do passivo em


$480 e, na parte de baixo, ocorria exatamente o contrário. Essa diferença era
semelhante à existente entre o Patrimônio Líquido do início e do final do período,
conforme ele já tinha percebido quando aplicou a equação (b) (B + D - O = PL) no
balancete do final do exercício. Como o Patrimônio Líquido Inicial era $11.000 e,
no final do período, evoluiu para $11.480, isso significava que o convento obteve
um lucro de $480 – e isso é o que as contas da parte de baixo traduzem: a diferen-
ça entre as receitas e despesas de um período nada mais é do que o resultado da
empresa nesse período.

Dessa maneira, o frei observou que as contas de resultado (receitas e despesas)


apenas registram os aumentos (receitas) e as diminuições (despesas) do Patrimônio
Líquido. Portanto, ao final de um período qualquer, para a apuração do resultado,
é necessário que se faça uma comparação entre as somas das despesas e receitas.
Se as receitas forem maiores, o resultado do período será lucro. Nesse caso, o
lucro será adicionado ao Patrimônio Líquido do início do exercício, aumentando o
valor contábil da empresa e, consequentemente, aumentando a riqueza dos seus
proprietários. Se, ao contrário, as despesas forem maiores, o resultado será um
prejuízo, que reduzirá o Patrimônio Líquido inicial, tornando menor a riqueza dos
proprietários da empresa.
MARION, em Contabilidade Básica. 7º edição Modernizada pela NCC Atlas, 2003.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Contabilidade Básica – 7º edição
Como material complementar de estudo, sugerimos a leitura do texto a seguir, extraído
do livro Contabilidade Básica – 7º edição Modernizada da editora NCC Atlas, de
2003, autoria de José Carlos Marion, que trata do início da Contabilidade como ciência.

Vídeos
História da Contabilidade
https://youtu.be/qw5wbbPwXTg

Leitura
Evolução do Ensino da Contabilidade no Brasil: Uma Análise Histórica
https://bit.ly/2lEU8R8
Estrutura Conceitual Básica de Controladoria nos Artigos sobre Controladoria em Periódicos Nacionais
de Contabilidade
https://bit.ly/2kkEqe1
Educação Contábil Brasileira: Reflexão sobre a Qualidade do Ensino Superior da Contabilidade no Brasil
https://bit.ly/38JhAG5

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UNIDADE Fundamentos de Contabilidade e Finanças - Noções Preliminares I

Referências
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Pronunciamento con-
ceitual básico (R1): estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório
contábil-financeiro. Brasília: 2011. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/
Documentos/147_CPC00_R1.pdf>. Acesso em 13 de ago. 2019.

IUDICIBUS, S. Contabilidade Introdutória: Equipe de Professores da Faculdade


de Economia, Adm. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

OSNI, M. R. Contabilidade Geral Fácil: Atualizado Conforme Lei 11.638/2007


e MP 449/2008. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

PADOVESE, C. L. Manual de Contabilidade Básica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

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