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TECNOLOGIA

DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO:
MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO

Sílvia Eidt Monteiro


Coberturas: elementos
e traçado de telhados
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os componentes do telhado (água, beiral, espigão, etc.).


„„ Identificar o número de águas de um telhado e o passo a passo do
seu traçado.
„„ Especificar os elementos de drenagem de um telhado, relacionados
à sua quantidade e ao seu posicionamento.

Introdução
A cobertura de uma edificação é um dos principais elementos de projeto,
com infinitas possibilidades de solução, conseguindo alterar as caracterís-
ticas arquitetônicas e influenciar diretamente em questões como conforto
térmico, incidência de radiação solar sobre os ambientes internos, etc.
Ela ainda serve como proteção das intempéries e desvia corretamente
as águas da chuva para um destino adequado, por meio de um sistema
de captação e drenagem.
Neste capítulo, você estudará os componentes de um telhado con-
vencional (planos de água, beiral, cumeeira, espigão, rincão e oitão);
como desenhá-lo, desde o mais simples até um com múltiplas águas; seu
posicionamento e sua quantidade; bem como os elementos de drenagem
e captação da água da chuva, por exemplo, calhas e condutores verticais.

Componentes do telhado
Uma cobertura convencional de um edifício é composta de estrutura e te-
lhado. Conforme Azeredo (1997), ela tem como finalidade principal abrigá-lo
contra as intempéries, deve possuir propriedades isolantes, bom escoamento
e ser impermeável, resistente, inalterável quanto à forma e ao peso, leve, de
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secagem rápida, fácil colocação, longa duração, custo econômico e de fácil


manutenção, bem como prestar-se às dilatações e contrações. Seus elementos
são apresentados a seguir e na Figura 1.

„„ Água: plano inclinado que define o caimento de um telhado.


„„ Beiral: parte da estrutura do telhado que se projeta além da alvenaria
externa.
„„ Cumeeira: linha mais alta do telhado.
„„ Espigão: divisor de águas inclinado, formando um ângulo saliente.
„„ Rincão ou água-furtada: linha de encontro entre duas águas do telhado,
que formam um ângulo reentrante servindo como receptor de águas
inclinadas.
„„ Empena ou oitão: parte da alvenaria de elevação que acompanha o
caimento do telhado.

Figura 1. Elementos de uma cobertura convencional.


Fonte: Salgado (2014, p. 115).

As lucarnas ou trapeiras são outro elemento muito encontrado em coberturas


de casas americanas, como mostra a Figura 2. Trata-se de “estruturas que
se projetam de um telhado em vertente e que normalmente apresentam uma
janela ou uma veneziana de ventilação” (CHING; ECKLER, 2015, p. 277).
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Figura 2. Coberturas com lucarnas.


Fonte: Adaptada de romakoma/Shutterstock.com.

O telhado pode ainda ser finalizado com platibanda (Figura 3). É um


recurso muito utilizado quando não se quer a volumetria inclinada visível na
fachada e consiste na continuação das paredes, passando ou até a altura da
cumeeira (AZEREDO, 1997).

Figura 3. Coberturas com platibanda.


Fonte: Adaptada de Santiago Cornejo/Shutterstock.com; Carvalho Júnior (2017, p. 207).

Pode-se, ainda, encontrar edificações que utilizam tanto o telhado escondido


por platibanda como aquele aparente, assim, é possível diferenciar os volumes
que compõem o projeto, conforme apresentado na Figura 4.
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Figura 4. Residência com telhado aparente em um volume e telhado escondido por


platibanda em outro.
Fonte: Adaptada de Dariusz Jarzabek/Shutterstock.com.

Traçado de telhados
Para o traçado de telhados, deve-se entender que eles possuem de um até
múltiplos planos de águas, que se chamam também de água simplesmente,
uma superfície plana e inclinada. Por exemplo, os telhados de duas águas
apresentam dois caimentos em relação a uma cumeeira, em geral centrali-
zada, e formam uma empena em cada extremidade. Já telhados de várias
águas têm mais de duas vertentes que se encontram em ângulos inclina-
dos — espigões e rincões (AZEREDO, 1997). Na Figura 5, você pode ver
os planos de água.

Figura 5. Disposição de planos de água.


Fonte: Azeredo (1997, p. 154–155).
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O oitão é o triângulo que se forma quando há a divisão do telhado em duas


águas. Esse fechamento lateral pode ser de alvenaria e seguir o prolongamento
da parede, ou receber outro revestimento e servir como um elemento compo-
sitivo na arquitetura da edificação, conforme mostra a Figura 6.

Figura 6. Telhado com duas águas e fechamento do oitão com vidro.


Fonte: Adaptada de Radovan1/Shutterstock.com.

Quando o telhado é dividido com caimento para todas as laterais da construção,


não há formação de oitão ou empenas, como no gazebo apresentado na Figura 7.

Figura 7. Gazebo com telhado dividido em partes iguais.


Fonte: Adaptada de tamara321/Shutterstock.com
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Segundo Azeredo (1997), as águas são sempre definidas pela concordân-


cia das bissetrizes dos ângulos salientes (espigões), reentrantes (rincões) ou
simplesmente por um único divisor (cumeeira).

A cota mais elevada dos planos é chamada de cumeeira, já a bissetriz se trata de um


segmento de reta que divide o ângulo do triângulo em duas partes iguais e une o seu
vértice ao lado oposto (AZEREDO, 1997).

De acordo com Azeredo (1997), o projeto de uma cobertura, por mais


complexa que seja a planta, segue as seguintes etapas para a sua subdivisão
em figuras mais simples (Figura 8):

„„ Dividir a planta em retângulos quadriláteros ou triângulos.


„„ Traçar as bissetrizes dos ângulos reentrantes e salientes — aquelas com
90° ou menos são as cumeeiras ou os espigões, já as maiores que 90°
se tratam dos rincões ou da água-furtada.
„„ Procurar as concordâncias (cumeeira).
„„ Verificar se as águas têm sempre o mesmo caimento ou inclinação.
„„ Apagar as linhas de apoio.

Figura 8. Passo a passo para o traçado de telhado complexo.


Fonte: Azeredo (1997, p. 155).
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Na Figura 9, você pode visualizar outras plantas de cobertura com múltiplas


águas, cujo traçado segue a indicação anterior. Nesse momento, deve-se tomar
as decisões de projeto, como a existência de oitões, sem traçar as bissetrizes
na face e levar a cumeeira ao seu encontro.

Figura 9. Telhados com múltiplas águas.


Fonte: Azeredo (1997, p. 156).

A divisão do telhado em múltiplas águas é um recurso muito utilizado em


edificações residências e, além de tornar a volumetria interessante, permite a
marcação visual de elementos que se quer destacar no projeto, como o acesso
principal, conforme você pode ver na Figura 10.

Figura 10. a) Vista superior. b) Vista frontal de telhados com múltiplas águas.
Fonte: Adaptada de A) John Wollwerth/Shutterstock.com; B) Breadmaker/Shutterstock.com.
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Elementos de drenagem das águas pluviais de


telhados
O sistema de águas pluviais e drenagem (Figura 11) se trata de um conjunto
de calhas, condutores, grelhas, caixas de areia, de passagem e demais dis-
positivos responsáveis por captar as águas da chuva de coberturas e pisos,
com a finalidade de conduzi-las a um destino adequado. Ele é fundamental,
pois evita alagamentos, diminui a erosão do solo e protege as edificações
(CARVALHO JÚNIOR, 2017).

Figura 11. Sistema de coleta das águas pluviais


Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 203).

O destino adequado pode ser o descarte de águas coletadas em rede plu-


vial, que não pode estar interligada com a rede de esgoto. É possível também
realizar a coleta e o armazenamento de águas da chuva para reuso posterior,
como lavagem de carros, pisos, irrigação de jardins ou descargas sanitárias.
A norma que fixa as exigências pelas quais devem ser projetadas e exe-
cutadas as instalações prediais de águas pluviais, atendendo às condições
técnicas mínimas de higiene, segurança, durabilidade, economia e conforto
dos usuários é a Norma Brasileira (NBR) 10844:1989, de título Instalações
Prediais de Águas Pluviais. Ela se aplica à drenagem dessas águas em cober-
turas e demais áreas associadas ao edifício, como terraços, pátios, quintais e
similares (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).
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A calha é o canal que recolhe a água de coberturas, terraços e similares e


a conduz a um ponto de destino. Ela pode ser instalada na linha de beiral da
cobertura, na linha de encontro da cobertura com a platibanda, ou na linha
de água-furtada da cobertura, conforme mostra a Figura 12 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).

Figura 12. Disposição da calha em platibanda e água-furtada.


Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 214).

Ela pode ter seção retangular, circular, semicircular, em U ou V, conforme


apresentado na Figura 13. Os materiais utilizados para a coleta e condução
das águas pluviais em calhas incluem aço galvanizado, folhas de flandres,
cobre, aço inoxidável, alumínio, fibrocimento, policloreto de polivinila (PVC)
rígido, fibra de vidro, concreto ou alvenaria (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).

Figura 13. Seções usuais das calhas.


Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 214).

Já um condutor vertical, também chamado de tubo de queda, é a tubulação


destinada a recolher águas de calhas, coberturas, terraços e similares e conduzi-
-las até a parte inferior do edifício (Figura 14). Ele admite os seguintes materiais:
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ferro fundido, fibrocimento, PVC rígido, aço e chapas de aço galvanizado, cobre,
folhas de flandres, chapas de cobre, aço inoxidável, alumínio ou fibra de vidro
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).

Figura 14. Detalhe de ligação da calha ao condutor embutido. Cobertura com platibanda.
Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 218).

Os condutores verticais podem ser instalados de forma aparente ou embu-


tidos na construção, o que varia de acordo com a solução de projeto adotada,
conforme mostra a Figura 15. A vantagem de ele estar aparente é sua manu-
tenção em caso de entupimento, sendo possível desmontar essa estrutura e
remontá-la com maior facilidade. Já no condutor embutido, deve-se realizar o
desentupimento com arames e outras ferramentas, optando, em último caso,
pela quebra da parede.
Conforme a norma, a inclinação das calhas de beiral e platibanda deve
ser uniforme, com valor mínimo de 0,5%. Já as calhas de água-furtada têm
inclinação de acordo com o projeto da cobertura. Quando não se tolera nenhum
transbordamento ao longo delas, os extravasores (canalização destinada a es-
coar eventuais excessos de água) podem ser previstos como medida adicional de
segurança (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).
Para o dimensionamento de calhas e condutores, deve-se conhecer a área
de contribuição de uma água, a qual, de acordo com a norma, considera os
incrementos devido à inclinação da cobertura e às paredes que interceptam
águas da chuva que devam ser drenadas pela cobertura. Para o cálculo dessa
área com superfície inclinada, observe a Figura 16.
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Figura 15. Condutores embutido e aparente. Cobertura com beiral.


Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 232).

Figura 16. Cálculo da área de contribuição com superfície inclinada.


Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 212).
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Segundo Salgado (2014), para efeito prático, é possível estabelecer uma regra
simples (Quadro 1) para o dimensionamento das seções de calhas e condutores
verticais. A fim de ter informações mais criteriosas, deve-se consultar a NBR
10884:1989 e dimensionar as calhas com a fórmula de Manning-Strickler.

„„ Calhas: 1,50 cm2 (seção transversal) de calha para cada metro quadrado
de superfície do telhado; em regiões onde a incidência de chuva é muito
forte, deve-se aumentar esse valor.
„„ Condutores: metade da seção estimada para a calha.

Quadro 1. Exemplo de cálculo de calha e condutor vertical para telhado com área de
contribuição de 100m²

Seção da calha Semicircular

Área de contribuição do telhado 100,00 m2

Seção da calha: 100,00 m2/1,50 cm2 p/m2 66,67 cm2

Diâmetro da calha (seção semicircular) 13,04 cm

Seção do condutor 33,34 cm2

Diâmetro do condutor 6,52 cm

Fonte: Salgado (2014, p. 125).

Segundo a NBR 10884:1989, o diâmetro interno mínimo dos condutores


verticais de seção circular é 70 mm. Para o dimensionamento correto da se-
ção, essa norma deve ser consultada, utilizando informações como vazão de
projeto, altura da lâmina de água na calha e comprimento do condutor vertical.
Conforme o dimensionamento da seção do condutor e o comprimento da
calha, às vezes, são necessários mais de um condutor por calha, que devem
estar localizados nas extremidades, com inclinação direcionada a eles, como
você pode conferir na Figura 17.
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AP AP
Ø100 Ø100

Calha

Figura 17. Cobertura com uma água, calha e dois tubos de queda com diâmetro de 100.
Fonte: Carvalho Júnior (2017, p. 221).

Neste capítulo, você aprendeu a identificar os componentes de uma cober-


tura, como traçar telhados com variados formatos e posicionar os elementos de
captação e drenagem das águas da chuva, como as calhas, em beiral, com ou
sem testeira, ou platibanda, bem como os condutores verticais, sejam aparentes
ou não. Além disso, você conheceu a norma que rege seu dimensionamento
e suas condições mínimas.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10844: instalações prediais de


águas pluviais: procedimento. Rio de Janeiro, 1989. 13 p.
AZEREDO, H. A. O edifício até sua cobertura. 2. ed. São Paulo: Blucher, 1997. 182 p.
CARVALHO JÚNIOR, R. Instalações hidráulicas e o projeto de arquitetura. 11. ed. São Paulo:
Blucher, 2017. 373 p.
CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2015. 432 p.
SALGADO, J. C. P. Técnicas e práticas construtivas: da implantação ao acabamento. São
Paulo: Érica, 2014. 168 p.

Leitura recomendada
TIGRE TUBOS E CONEXÕES. Orientações técnicas sobre instalações de Drenagem: águas
pluviais e drenagem predial. Joinville, jun. 2016. 72 p. Disponível em: <https://www.
tigre.com.br/themes/tigre2016/downloads/catalogos-tecnicos/ct-drenagem.pdf>.
Acesso em: 25 jan. 2019.
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