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Betão Armado

VIGAS

Sc=20 kN/m
CP=30 kN/m

6.00 6.00

série ESTRUTURAS

joão guerra martins 1.ª edição / 2003


Prefácio

Este texto resulta do trabalho de aplicação realizado pelos alunos de sucessivos cursos de
Engenharia Civil da Universidade Fernando Pessoa, vindo a ser gradualmente melhorado e
actualizado.

A sua fonte assenta em sebentas das cadeiras congéneres de diversas Escolas e Faculdade de
Engenharia (Universidade do Porto, Instituto Superior Técnico de Lisboa, Universidade de Coimbra
e outras), bem como outros documentos de entidades de reconhecida idoneidade (caso do
L.N.E.C.), além dos tratados clássicos desta área e outra bibliografia mais recente, cuja referência se
encontra no final deste trabalho.

Contributo decisivo teve, igualmente, o Eng.º Fernando Tavares Machado, sendo parte importante
do texto apresentado conteúdo revisto da monografia de licenciatura por si elaborada.

Apresenta-se, deste modo, aquilo que se poderá designar de um texto bastante compacto, completo
e claro, entendido não só como suficiente para a aprendizagem elementar do aluno de engenharia
civil, quer para a prática do projecto de estruturas correntes.

Certo é ainda que pretende o seu teor evoluir permanentemente, no sentido de responder quer à
especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ao que se julga pertinente e alargar-se ao que se
pensa omitido.

Para tanto conta-se não só com uma crítica atenta, como com todos os contributos técnicos que
possam ser endereçados. Ambos se aceitam e agradecem.

João Guerra Martins


Estruturas Betão Armado

ÍNDICE

CAPITULO I

INTRODUÇÃO

CAPITULO II

FLEXÃO SIMPLES

1. Estados limites últimos de resistência para esforços normais e de flexão.


Extensões limites ............................................................................................................ 1
2. Teoria do comportamento em flexão .............................................................................. 3

3. Flexão simples

3.1. Considerações gerais ............................................................................................... 6

3.2. Diagrama parábola-rectângulo ................................................................................. 7

3.3. Diagrama rectangular ............................................................................................... 19

3.4. Fórmulas simplificadas

3.4.1. Vigas rectangulares ........................................................................................ 26

3.4.2. Vigas em T ..................................................................................................... 27

4. Exemplos de aplicação

4.1. Exemplo 1 ................................................................................................................ 28

4.2. Exemplo 2 ................................................................................................................ 31

4.3. Exemplo 3 ................................................................................................................ 33

4.4. Exemplo 4 ................................................................................................................ 36

5. Pré-dimensionamento de vigas rectangulares ................................................................. 38

Índices e Bibliografia I
Estruturas Betão Armado

CAPÍTULO III

ESFORÇO TRANSVERSO

1. Abordagem global

1.1. Generalidades .......................................................................................................... 1

1.2. Elementos sem armadura específica de esforço transverso ..................................... 2

1.3. Elementos com armadura específica de esforço transverso .................................... 6

1.4. Forças aplicadas na vizinhança dos apoios .............................................................. 10

1.5. Elementos submetidos a esforços normais de compressão ...................................... 11

1.6. elementos de altura variável .................................................................................... 13

2. Disposições do REBAP

2.1. Generalidades .......................................................................................................... 14

2.2. O termo Vwd ............................................................................................................. 15

2.3. O termo Vcd quando existem armaduras específicas de esforço transverso ............ 16

2.4. O termo Vcd quando não existem armaduras específicas de esforço transverso ..... 18

2.5. Valor máximo do esforço transverso resistente ....................................................... 20

2.6. Constituição das armaduras e espaçamento dos varões ........................................... 21

2.7. Armadura mínima de estribos .................................................................................. 22

2.8. Translação dos momentos ........................................................................................ 23

3. Exemplos

3.1. Exemplo 1 ................................................................................................................ 25

3.2. Exemplo 2 ................................................................................................................ 29

Índices e Bibliografia II
Estruturas Betão Armado

CAPITULO IV

TORÇÃO

1. Abordagem global

1.1. Generalidades .......................................................................................................... 1

1.2. Elementos de secção oca de parede fina .................................................................. 2

1.3. Elementos de secção cheia ....................................................................................... 3

1.4. Torção associada a flexão ........................................................................................ 6

1.5. Torção associada a flexão e a esforço transverso .................................................... 9

2. Disposições do REBAP

2.1. Generalidades .......................................................................................................... 10

2.2. A secção oca eficaz .................................................................................................. 12

2.3. Valor máximo do momento torsor resistente ........................................................... 13

2.4. Constituição da armadura e espaçamento dos varões .............................................. 14

2.5. Torção associada a flexão ........................................................................................ 15

2.6. Torção associada a flexão e a esforço transverso .................................................... 15

3. Exemplos práticos

3.1. Exemplo 1 ................................................................................................................ 17

3.2. Exemplo 2 ................................................................................................................ 19

Índices e Bibliografia III


Estruturas Betão Armado

CAPITULO V

FENDILHAÇÃO E DEFORMAÇÃO

1. Verificação da segurança em relação à fendilhação

1.1. Comportamento do betão armado à tracção ............................................................ 1

1.2. Fendilhação estabilizada .......................................................................................... 1

1.3. Distância média entre fendas ................................................................................... 2

1.4. Extensão média da armadura .................................................................................. 5

1.5. Critérios para o controle da fendilhação

1.5.1. Definição de estados limites ......................................................................... 9

1.5.2. Agressividade do ambiente ........................................................................... 10

1.5.3. Sensibilidade das armadura à corrosão ......................................................... 11

1.6. Estados limites de fendilhação a considerar ............................................................ 11

1.7. Estado limite de descompressão .............................................................................. 12

1.8. Estado limite de largura de fendas ........................................................................... 14

1.9. Dispensa de verificação ........................................................................................... 14

1.10. Algumas indicações práticas para controle da fendilhação

1.10.1. Armadura mínima .................................................................................... 15

1.10.2. Armadura no caso de acções directas (N, M) ............................................ 16

1.11. Exemplos práticos .................................................................................................. 17

1.12. Algumas razões para o controle de fendilhação .................................................... 21

1.12.1. Aparência ............................................................................................................ 21

1.12.2. Estanqueidade aos líquidos e aos gases .............................................................. 22

1.12.3. Protecção contra a corrosão ................................................................................ 22

Índices e Bibliografia IV
Estruturas Betão Armado

2. Verificação da segurança em relação à deformação

2.1. Introdução ............................................................................................................... 22

2.2. Princípio do cálculo ................................................................................................ 23

2.3. Dispensa de verificação .......................................................................................... 24

2.4. Algumas razões para o controle das deformações .................................................. 25

CAPÍTULO VI

DISPOSIÇÕES CONTRUTIVAS

1. Introdução ........................................................................................................................ 1

2. Condicionantes geométricas ........................................................................................... 1

3. Armaduras

3.1. Armaduras principais e secundárias ........................................................................ 4

3.2. Armadura longitudinal de flexão

3.2.1. Percentagem mínima e máxima de armadura ................................................ 4

3.2.2. Agrupamento de varões .................................................................................. 6

3.2.3. Espaçamento máximo da armadura longitudinal ........................................... 7

3.2.4. Recobrimento mínimo da armadura ............................................................... 7

3.2.5. Interrupção da armadura longitudinal ............................................................ 9

3.2.6. Armadura longitudinal nos apoios ................................................................. 12

3.2.7. Curvatura máxima da armadura ..................................................................... 14

3.3. Armadura transversal de esforço transverso

3.3.1. Tipos de varões .............................................................................................. 16

Índices e Bibliografia V
Estruturas Betão Armado

3.3.2. Disposições regulamentares ........................................................................... 18

3.4. Armadura de torção ................................................................................................. 21

3.5. Casos especiais

3.5.1. Armadura de alma .......................................................................................... 22

3.5.2. Armadura de ligação dos banzos à alma ........................................................ 23

3.5.3. Armaduras de suspensão

3.5.3.1. Ligação entre uma viga secundária e uma viga principal ................. 24

3.5.3.2. Cargas Suspensas .............................................................................. 26

3.5.3.3. Armadura de absorção de forças de desvio ...................................... 27

CAPITULO VII

APLICAÇÕES NUMÉRICAS

Índices e Bibliografia VI
Estruturas Betão Armado

ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS

CAPITULO II
FLEXÃO SIMPLES

Fig. 1 – Relação tensões-extensões de cálculo do betão (artigo 20.º do REBAP). 1


Fig. 2 – Relação tensões-extensões de cálculo do aço (artigo 25.º do REBAP). 2
Fig. 3 - Extensões limites no betão e nas armaduras. 4
Fig. 4 – Situação de rotura pelo aço. 7

Fig. 5 – Rotura pelo aço com extensão no betão ≤ 3,5 × 10 −3 . 10

Fig. 6 – Rotura pelo betão. 13

3,5 × 10 −3
Fig. 7 – Rotura pelo betão com valores de < α < 1.
3,5 ×10 −3 + ε syd 15

Fig. 8 – Diagrama parábola-rectângulo. 18


Fig. 9 – Diagrama rectangular para secções de largura constante ou em que esta aumente
Na direcção da fibra mais comprimida. 20
Fig. 10 – Diagrama rectangular para secções em que a largura diminui na direcção da fibra mais
comprimida. 20
Fig. 11 – Diagrama parábola rectângulo para 0 < α ≤ 0,167 . 21

3,5 ×10 −3
Fig. 12 – Diagrama parábola rectângulo para 0,167 < α ≤ .
3,5 ×10 −3 + ε syd 22

3,5 × 10 −3
Fig. 13 – Diagrama parábola rectângulo para < α < 1.
3,5 ×10 −3 + ε syd 24

Fig. 14 – Exemplo 1 de aplicação. 29


Fig. 15 – Exemplo 2 de aplicação. 31
Fig. 16 – Exemplo 3 de aplicação. 34
Fig. 17 – Exemplo 4 de aplicação. 36
Fig. 18 – Exemplo de aplicação. 40

Quadro I – Valores de µ , a partir dos quais são mais económicas as vigas duplamente armadas. 19

Índices e Bibliografia VII


Estruturas Betão Armado

CAPÍTULO III
ESFORÇO TRANSVERSO

Fig. 1 - Esquema de comportamento até à rotura por esforço transverso. 2


Fig. 2 - Forças desenvolvidas nos “dentes” . 3
Fig. 3 - Forças na armadura longitudinal antes das fendas de esforço transverso. 4
Fig. 4 – Forças na armadura longitudinal depois das fendas de esforço transverso. 5
Fig. 5 – Treliça de Mörsch e sua generalização para uma inclinação qualquer das bielas. 6
Fig. 6 – Efeito de arco. 9
Fig. 7 – Factores que contribuem para a resistência ao esforço transverso. 9
Fig. 8 – Forças junto aos apoios. 10
Fig. 9 – Influência dos esforços normais de compressão na resistência ao esforço transverso. 12
Fig. 10 - Esforço transverso em elementos de altura variável. 13
Fig. 11 - Variação do esforço transverso devido à inclinação dos banzos. 14
Fig. 12 – Translação do diagrama de momentos. 24
Fig. 13 – Esquema de viga para verificação da capacidade resistente ao esforço transverso. 25
Fig. 14 – Diagrama dos esforços transversos. 29

QUADRO I – Expressões gerais dos esforços nos diversos elementos da treliça para um valor de θ = 45º . 8

QUADRO II – Valores de τ 1 . 17

QUADRO III – Valores de τ 2 . 20

CAPITULO IV
TORÇÃO

Fig. 1 – Torção de equilíbrio e torção de compatibilidade. 2


Fig. 2 – Esquema da treliça espacial. 3
Fig. 3 – Distorção das paredes das peças. 5
Fig. 4 – Espessura fictícia das secções cheias. 6
Fig. 5 – Diagramas de interacção torção-flexão. 8
Fig. 6 – Forças nas armaduras longitudinais na torção associada a flexão. 9
Fig. 7 - Tensões tangenciais na torção associada a esforço transverso. 10
Fig. 8 – Definição da secção oca eficaz. 13
Fig. 9 – Secção oca eficaz duma secção em L. 13
Fig. 10 – Estribos fechados no caso de torção. 15

Índices e Bibliografia VIII


Estruturas Betão Armado

Fig. 11 – Esquema de viga para dimensionamento ao esforço transverso e à torção. 19


Fig. 12 – Secção da viga com a armadura adoptada. 22

CAPITULO V
FENDILHAÇÃO E DEFORMAÇÃO

Fig. 1 – Área da secção traccionada de betão envolvente das armaduras. 4


Fig. 2 – Extensões relativas da armadura. 5
Fig. 3 – Extensão média da armadura. 7
Fig. 4 – Extensão relativa da armadura em relação ao betão adjacente. 8

QUADRO I – Estados limites de fendilhação. 10


QUADRO II – Agressividade do ambiente. 11
QUADRO III – Grau de sensibilidade à corrosão. 11
QUADRO IV – Estados limites de fendilhação para armaduras ordinárias. 12
QUADRO V – Estados limites de fendilhação para armaduras de pré-esforço. 12
QUADRO VI – Espaçamento máximo dos varões da armadura longitudinal de vigas (cm). 15
QUADRO VII – Diâmetro máximo dos varões para o qual a verificação ao estado limite de fendilhação
pode ser omitida. 17
QUADRO VIII – Altura mínima de vigas: valores de α . 24

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES CONTRUTIVAS

Fig. 1 – Definição do vão equivalente. 2


Fig. 2 – Esquema de secção rectangular e diagrama de tensões. 4
Fig. 3 – Agrupamentos possíveis de varões. 6
Fig. 4 – Armadura de pele. 9
Fig. 5 – Translação do diagrama de momentos flectores. 10
Fig. 6 – Escalonamento dos varões longitudinais. 11
Fig. 7 – Esforço de tracção em apoio com liberdade de rotação. 12
Fig. 8 – Amarração das armaduras longitudinais em diferentes tipos de apoio. 13
Fig. 9 – Amarração de armaduras de cobertura a momento de encastramento ou continuidade. 14
Fig. 10 – Curvatura de varões. 14
Fig. 11 – Curvatura de varões. 15
Fig. 12 – Curvatura de varões. 15
Fig. 13 – Diâmetros interiores mínimos de dobragem de varões de armadura ordinária (A400). 16

Índices e Bibliografia IX
Estruturas Betão Armado

Fig. 14 – Varões inclinados são pouco adequados para dar apoio às bielas de compressão inclinadas. 17
Fig. 15 – Largura média das fendas por esforço transverso para diversos tipos de armaduras transversais. 18
Fig. 16 – Formas de executar os estribos. 19
Fig. 17 - Alguns arranjos de armaduras transversais a adoptar em vigas T. 20
Fig. 18 – Disposição da armadura de torção. 21
Fig. 19 – Altura hw onde deve ser colocada a armadura de alma. 22
Fig. 20 – Armadura de alma (h ≥ 1,00 m ) . 23

Fig. 21 – Abertura de fendas no banzo traccionado de vigas em T, em função da distribuição, na secção da


armadura longitudinal. 24
Fig. 22 – Transmissão de carga da viga secundária à viga principal é feita na parte inferior desta. 25
Fig. 23 – A armadura de suspensão deve ser distribuída na zona tracejada. 25
Fig. 24 – Estribos de suspensão na viga 1 para a viga 2 apoiada indirectamente. 26
Fig. 25 – Laje apoiada na parte inferior da viga. 27
Fig. 26 – Suspensão de uma consola. 27
Fig. 27 – Forças de desvio de compressão: a) exemplo de uma ruptura; b) dimensionamento de armaduras. 28
Fig. 28 – Armadura de nós de pórticos com grandes dimensões, sob acção de momento positivo. 28
Fig. 29 – Hipótese de solução adequada à absorção das forças de desvio. 29

QUADRO I – Relação l/h em vigas para a definição da altura mínima. 3


QUADRO II – Percentagem mínima para os betões e aços correntes. 5
QUADRO III – Espaçamento máximo dos varões da armadura longitudinal de vigas (cm). 7
QUADRO IV – Recobrimento mínimo da armadura, em cm. 8
QUADRO V – Recobrimento mínimo da armadura, em cm. 8

QUADRO VI - Valores de a l (Art.º 92º). 9

Índices e Bibliografia X
Série Estruturas Betão Armado

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

É objecto deste trabalho o estudo de vigas em betão armado na perspectiva do Regulamento


de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado (REBAP), documento elaborado com base
no Model Code de 1978 do CEB. Diga-se, a propósito, que mais recentemente foi publicada
uma nova versão do Model Code (1990) do CEB/FIP, não sendo, contudo, objecto deste
estudo.

Aguardando-se, com alguma expectativa, a demorada publicação da versão definitiva do


Eurocódigo 2 (EC2), vai-se aproveitar esse evento para a actualização da versão agora
apresentada, pois que, em boa verdade, a legislação em vigor em Portugal impõe a adopção
do REBAP (não fazendo sentido debruçarmo-nos sobre uma publicação - EC2 - que além de
provisória não está em vigor).

Independentemente da situação atrás traduzida, far-se-á um estudo com a profundidade


necessária à caracterização da problemática em assunto, através de modelos e formulações
que tem permanecido bastante inalteráveis no tempo. De facto, os princípios dos mecanismos
de funcionamento das vigas, enquanto elementos estruturais sujeitos às deformações e tensões
provocadas pelas solicitações de serviço, encontram-se no fundamento estabelecidos, muito
embora a nossa preocupação sobre a regulamentação dominante na análise a efectuar não seja
negligenciável.

Deste modo, as teorias de flexão, de esforço transverso e de torção serão apresentadas ao


longo dos capítulos 2, 3 e 4, respectivamente, bem como o funcionamento conjunto destes
efeitos. Serão ainda patenteados exemplos ilustrativos da aplicação prática dos conceitos
doutrinários, respeitantes a estes Estados Limites Últimos.

A preocupação com a fendilhação e a deformação (respeitantes ao Estados Limites de


Utilização) estará presente no capítulo 5. Se bem que sendo certo que esta temática, na prática
do projecto, se mostra parcialmente ultrapassável pela observação de recomendações
geométricas e de outra natureza, os aspectos globais (que se podem mostrar pertinentes para
condições menos correntes) serão aqui aflorados.

Vigas / Introdução Capítulo I / 1


Série Estruturas Betão Armado

O capítulo 6 prende-se com as importantes disposições construtivas, essenciais para que o


funcionamento das peças estruturais decorra com o previsto no cálculo. A forma e o rigor do
detalhe na colocação das armaduras é essencial para o funcionamento correcto e expectável
das estruturas.

Por último serão no capítulo 7 apresentados diversos exemplos complementares de toda a


matéria exposta nos capítulos antecedentes.

1.2. Comparação entre vigas aparentes e vigas embebidas

1.2.1. Vigas Aparentes

É a melhor solução, pois possuem uma maior rigidez e consequentemente menor deformação,
porém deixam a desejar um pouco quanto à estética e à resistência à torção.

Características:
q Mais rígidas;
q Lajes mais delgadas;
q Menos armadura para esforços de flexão e transversos;
q Situação mais económica.

VA
h1

1.2.2. Vigas Embebidas

Esta por sua vez possui menor inércia e logo uma maior deformação, já quanto à torção pode
actuar de melhor forma que as vigas aparentes, quando a sua geometria se aproxima mais de
um quadrado.

Vigas / Introdução Capítulo I / 2


Série Estruturas Betão Armado

Características:
q Mais flexíveis,
q Lajes mais espessas;
q Mais armadura para esforços de flexão e transversos;
q Situação menos económica.

VE VE VA

h2
b

Resistência à torsão aproximada

De modo geral, utiliza-se as vigas invertidas em terraços, pois em outras situações correntes
não justifiquem, até mesmo devido o efeito estético negativo que causam.

1.2.3. Comportamento às Acções Verticais

Deslocamentos

Vigas mais rígidas => Menores flechas ou deformações.


Q Q

+ flexivel (deformável) + rigida (menos deformável)

Ou seja, tendo os pilares a mesma rigidez em ambos os casos, a viga mais rígida terá menor
flecha (menos deformabilidade).

Vigas / Introdução Capítulo I / 3


Série Estruturas Betão Armado

Esforços

Flexão

Viga Aparente Viga Embebida

Ac1 Ac2

fc1 fc2

Z2
M2
Z1

M1 fs2
As2
fs1
As1

M1 = M2 => fs1 = fc1 < fs2 = fc2, pois Z1 > Z2

M = f * Z = f1 * Z1 = f 2 * Z 2

As1 * Fsyd * Z 1 = As 2 * Fsyd * Z 2

Z 1 > Z 2 ⇒ As1 > As 2

Ac1 * Fcd * Z1 = Ac 2 * Fcd * Z 2

Z 1 > Z 2 ⇒ Ac1 > Ac 2

Logo maior rendimento ao Momento Flector em vigas aparentes.

Esforço Transverso

Vcd = τ 1 × bw × d

Vigas / Introdução Capítulo I / 4


Série Estruturas Betão Armado

d
Coeficiente de aproveitamento =
h

d1

h1

d2

h2
a1

a2
b1 b2

d1 d 2
Se: a1 = a 2 => > , logo maior rendimento ao Esforço Transverso em vigas aparentes.
h1 h2

1.2.4. Comportamento Acções Horizontais

Deslocamentos

Vigas mais rígidas => Menores deslocações ( ∆ ), devido à mobilidade existente ser inferior.
1 2

H H

+ rigida (menos deformável) + flexivel (deformável)

1 2

Também se houver compressões na viga há um aumento significativo da resistência ao


Esforço Transverso.

1.2.5. Comparação com o comportamento em relação à distribuição de Momentos


Flectores

Vigas / Introdução Capítulo I / 5


Série Estruturas Betão Armado

Q Q

Ql/2 Ql/2 Ql/2 Ql/2


l l

De acordo com a espessura da viga e dos pilares, no conjunto do pórtico, poder-se-á


dizer:
• Se a viga for fina e os pilares espessos, a viga irá actuar como se os seus apoios
fossem mais encastrados, tendo assim momentos negativos equilibrados com os
positivos;
• Se o pórtico tiver viga espessa e os pilares finos, a viga irá actuar como se os seus
apoios fossem apoiados, tendo assim momento flector positivo elevado e menores
momentos negativos que na primeira situação.

Q Q
> M-

> M+

+ rigida + flexivel (deformável)

Aqui, em termos de deformação a situação não é totalmente clara, pois:


• Se as vigas fossem de igual altura (e largura), igual rigidez, a flecha maior seria no
pórtico com pilares mais flexíveis;

Vigas / Introdução Capítulo I / 6


Série Estruturas Betão Armado

• Contudo, se os pilares mais rígidos pertencerem ao da viga mais flexível e os


menos rígidos ao da viga mais rígida, a resposta não é imediata, carecendo de
cálculo, pois a flecha da viga depende:
1. Das condições de apoio nos pilares (quer dizer da sua maior ou menor rígidez);
2. Da própria inércia da viga, ou seja, da sua própria rigidez.

Q*l 4
Flecha instantânea = f = α *
EI
Em que α para as duas situações acima é:
5
• Simplesmente apoiadas: α = ;
384
1
• Encastrada: α = .
384

Pelo que a viga encastrada tem 5 vezes menos flecha que a simplesmente apoiada, mas
a inércia da própria viga tem importância igualmente linear (no denominador).
Ø

a b

l
Ø

c d
l

a b

Uma coisa é certa, para o mesmo vão e viga de igual rigidez: ?c, ?d < ?a, ?b.

Vigas / Introdução Capítulo I / 7


Estruturas Betão Armado

CAPITULO II

FLEXÃO SIMPLES

1. Estados limites últimos de resistência para esforços normais e de flexão. Extensões

limites.

Para a determinação dos esforços resistentes é necessário quantificar o estado limite em


relação ao qual esses esforços são definidos, o que presentemente é feito em termos de
extensões máximas no betão e nas armaduras. Estas extensões darão lugar a estados limites
quando ocorre uma delas ou quando ocorrem simultaneamente.

Tal quantificação não foi fácil de estabelecer. Com efeito, a primeira solução que surgiu foi a
de identificar o estado limite em causa com a máxima capacidade resistente e, assim, o estado
limite seria definido pelo esforço resistente máximo da peça. No entanto, conclui-se que tal
definição não correspondia ao pretendido, pois, bastante antes de se alcançar a capacidade
resistente máxima, a deformação e a fendilhação verificadas já eram suficientes para que a
peça não cumprisse a função a que se destinava. O estado limite teria que ser definido,
consequentemente, como um estado anterior ao esgotamento da resistência, em termos de
parâmetros relacionados com uma deformação e fendilhação ruinosas.

Esses parâmetros foram, deste modo, as extensões no betão e no aço.

Valores que conduzem a resultados satisfatórios, estabelecidos pelo Comité Euro-


international du Béton (CEB) no seu MODEL CODE 78, são de 3,5 × 10 −3 para o betão e

10 × 10 −3 para o aço 10 × 10 −3 . Estes índices foram adoptados pelo Regulamento de Estruturas


de Betão Armado e Pré-Esforçado (REBAP), bem como forma incluídos na legislação de
muitos de outros países. Note-se, no entanto, que é vulgar encontrar noutros regulamentos
estrangeiros valores como 2 × 10 −3 para o betão e 5 × 10 −3 para o aço (situação mais
restritiva).

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 1 / 44


Estruturas Betão Armado

Fig. 1 – Relação tensões-extensões de cálculo do betão (artigo 20.º do REBAP).

Fig. 2 – Relação tensões-extensões de cálculo do aço (artigo 25.º do REBAP).

Um outro problema está relacionado com os gradientes de tensão na secção, através da


influência que tal fenómeno tem na fendilhação e na capacidade resistente das peças.

Verifica-se, por exemplo, que a resistência à tracção por flexão é bastante maior que em
tracção simples, e ainda que a fendilhação microscópica que se verifica antes da rotura por
compressão surge para tensões mais elevadas no caso de flexão do que no caso da compressão
simples.

Estes factos são explicáveis em virtude de a existência de gradientes de tensão dar lugar a uma
migração dos esforços existentes numas fibras para as suas adjacentes menos solicitadas, isto
é, os gradientes permitem uma redistribuição de esforços, evitando que a fendilhação
incipiente em dado ponto conduza desde logo á rotura.

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 2 / 44


Estruturas Betão Armado

Este fenómeno penaliza a compressão simples no que se refere à extensão máxima admissível
relativamente à flexão e, por isso, a regulamentação portuguesa estipulou para a compressão
simples uma extensão limite de 2 × 10 −3 que varia gradualmente até 3,5 × 10 −3 à medida que a
flexão vai introduzindo gradientes de tensão nas secções.

2. Teoria do comportamento em flexão

A teoria de comportamento necessária à determinação dos esforços resistentes terá que


relacioná-los com parâmetros definidores do estado limite em causa, ou seja, deve ser uma
teoria que relacione os esforços nas secções de betão armado com as extensões no betão e nas
armaduras, que se verificam nas secções, quando esses esforços actuam.

Uma das hipóteses de abordagem ao problema é a teoria de Bernoulli, na qual durante a


deformação se admite que as secções se mantêm planas e que o betão não resiste à tracção. Há
ainda a considerar, evidentemente, as equações de equilíbrio de forças e de momentos, bem
como as relações constitutivas entre as tensões e as extensões do betão e do aço.

De acordo com o artigo 52.º do REBAP, tais hipóteses podem enunciar-se resumidamente da
seguinte forma:

• As secções mantém-se planas na deformação;

• As variações das deformações no aço e betão envolvente são iguais (aderência


perfeita);

• O betão não resiste à tracção;

• A deformação máxima de encurtamento no betão é limitada a 3,5 × 10 −3 , excepto


quando toda a secção estiver sujeita a tensões de compressão, situações em que
variará gradualmente entre 3,5 × 10 −3 e 2 × 10 −3 , correspondendo este ú1ttimo
valor ao caso em que as extensões são uniformes em toda a secção;

• A máxima deformação de alongamento nas armaduras ordinárias é de 10 × 10 −3 .

Na figura 3, onde As e As' são, respectivamente, as áreas das armaduras de tracção e

compressão, h é a altura da secção da viga e d é a altura útil da viga (distância do centro de


gravidade da armadura de tracção à fibra comprimida extrema), apresenta-se uma

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 3 / 44


Estruturas Betão Armado

esquematização das condições limites referidas anteriormente.

O valor da profundidade relativa da linha neutra, α = x / d , sendo x a profundidade da linha


neutra (divide a zona traccionada da zona comprimida) e d a altura útil da viga, é dado por:

εc
α=
εc + ε s

em que ε c e ε s são as extensões no betão e no aço, respectivamente.

+10 x 10 -3 0 -2 x 10 -3 -3,5 x 10 -3
A's
x 0,0 ,16
7d

3/7 h
x= 0

x= αεsydd
x =
L. N.
2
59d
1 = 0,2
x
h d
x = - infinito

limd

h
x = + infinito
α

x=
d
x=
3

x=
5
4a
As
εsyd

Alongamento Encurtamento

+10 x 10 -3 0 -2 x 10 -3 -3,5 x 10 -3

εc
2x 10 -3 Aço εsyd α= ε εsyd
α= = 0,167 c+
2x 10 -3 + 10 x10 -3
A235 1,020 x 10 -3 0,774
-3
α= 3,5 x 10 = 0,259 A400 1,740 x 10 -3 0,668
3,5x 10 -3 + 10 x 10 -3 A500 2,175 x 10 -3 0,617

Fig. 3 - Extensões limites no betão e nas armaduras.

Zona/Domínio 1 (ângulo 1 do gráfico)

• Secção inteiramente traccionada.

• O estado limite é definido pela extensão máxima na armadura + 10 × 10 −3 . ( )


• Linha neutra fora da secção (isto é, a distância x do eixo neutro à fibra mais próxima
varia entre de -: a 0).

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 4 / 44


Estruturas Betão Armado

• Tracção simples ou composta com pequena excentricidade (apenas as armaduras


resistem).

• Rotura dúctil ou de tracção (pelas armaduras).

Zona/Domínio 2 (ângulo 2 do gráfico)

• (
O estado limite é ainda definido pela extensão máxima na armadura + 10 × 10 −3 , com )
extensões de encurtamento no betão inferiores a − 3,5 × 10 −3 (só no final do domínio
atingirão este valor).

• A secção transversal só está parcialmente traccionada.

• O eixo neutro é interior à secção, entre o bordo superior da secção e uma profundidade
x = 0,259d .

• Flexão simples ou composta com pequena e média excentricidade.

• Rotura dúctil ou de tracção (pelas armaduras).

• Esta zona pode-se dividir em duas:

Ø uma em que a extensão do betão varia entre 0 e − 2,0 ×10 −3 , sendo, pois,a tensão no
betão inferior a 0,85fcd e o diagrama de tensões da parábola é incompleto;

Ø outra em que a extensão do betão varia entre − 2,0 ×10 −3 e − 3,5 × 10 −3 , onde o
diagrama de tensões da parábola é completo e uma parte já é rectangular.

Nota: esta zona também se poderia dividir em outras duas possibilidades, que seriam quando
εs ≤ εsyd ou εs = εsyd.

Zona/Domínio 3 (ângulo 3 do gráfico)

• ( )
O estado limite é definido pela extensão máxima no betão − 3,5 × 10 −3 com extensões na

armadura inferiores a + 10 × 10 −3 .

• A linha neutra situa-se entre a profundidade x = 0,259d e até αlimd, dependendo αlim do
tipo de aço, pois que é igual a εc / (εc + εsyd), sendo neste caso εc fixo e igual a

− 3,5 × 10 −3 .

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 5 / 44


Estruturas Betão Armado

• Flexão composta ou flexão simples.

• Rotura provavelmente frágil e eventualmente dúctil (conforme for pelo betão ou pelo
aço).

Zona/Domínio 4 (ângulo 4 do gráfico)

• ( )
O estado limite é definido pela extensão máxima no betão − 3,5 × 10 −3 com extensões na
armadura inferiores a εsyd.

• O aço das armaduras não está bem aproveitado (tensão abaixo do patamar de cedência).

• A linha neutra situa-se entre a profundidade x=αlimd e o bordo inferior da secção.

• Flexão composta ou flexão simples.

• Rotura muito provavelmente frágil (pelo betão).

• No domínio 4 a) a rotura é necessariamente frágil (pelo betão), existindo uma muito


pequena zona em tracção.

Zona/Domínio 5 (ângulo 5 do gráfico)

• Secção inteiramente comprimida.

• O estado limite é definido pela extensão máxima no betão (compreendida entre


− 3,5 × 10 −3 e − 2 × 10 −3 , estando a fibra a 3/7h neste último valor de extensão para x=h).

• Linha neutra fora da secção (de h até +:).

• Flexão composta com compressão ou compressão simples.

• Rotura frágil ou de compressão por esmagamento do betão.

O problema da determinação dos esforços resistentes pode ser formulado da seguinte forma:

• Dada uma secção de betão armado determinar os esforços normais ou os momentos


flectores, ou a combinação de ambos, que conduzem em tal secção a serem atingidas
as condições definidoras do estado limite último de resistência.

Poderá proceder-se do seguinte modo:

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 6 / 44


Estruturas Betão Armado

1. Define-se a secção pela sua geometria, tanto no que se refere ao betão como às
armaduras, e ainda a classe de betão e tipo de aço utilizados.

2. Arbitra-se uma qualquer condição limite, ou seja, atendendo à hipótese de Bernoulli e


aos valores definidores do estado limite, admita-se que, na secção, a distribuição de
extensões está, por exemplo, situada na zona 2 da fig. 3 (extensão 3,5 × 10 −3 e dada
profundidade da linha neutra).

3. Atendendo aos diagramas tensões-extensões do betão e das armaduras, convertam-se


as extensões nas diversas fibras de betão e nas armaduras em tensões, tendo em conta
que o betão, por hipótese, não resiste à tracção e portanto na zona onde há extensões
de alongamento não há tensões no betão.

4. Determinem-se as forças correspondentes às tensões assim obtidas, atendendo ás áreas


de actuação destas, obtendo-se uma força de compressão no betão (bem como o seu
ponto de aplicação), uma força de compressão na armadura, situada na zona de
extensões de encurtamento, e uma força de tracção na armadura, situada na zona de
extensões de alongamento.

5. Procure-se a força e o momento que equilibram as forças determinadas na alínea


anterior, e que serão, evidentemente, os esforços resistentes procurados, ou seja, os
esforços na secção em causa correspondentes à condição limite arbitrada.

6. Repita-se o indicado nas alíneas 2) a 3) mas arbitrando sucessivamente condições


limites e posições da linha neutra de forma a percorrer todas as possíveis distribuições
de extensões correspondentes ao estado limite (fig. 3) desde a linha de início da zona 1
(tracção simples) até á linha vertical da zona 4 (compressão simples). Para cada
arbítrio feito obter-se-ão os correspondentes esforços resistentes.

Note-se que na prática o problema da verificação da segurança não se põe, de um modo geral,
nos termos referidos anteriormente. Na verdade, em geral, o projectista o que pretende é
determinar as dimensões dos elementos da sua estrutura de modo a que ela possa suportar
com segurança as acções actuantes. Para tal, e na generalidade dos casos, ele procederá da
seguinte forma:

- arbitra a forma e geometria da estrutura e das suas secções;

- atendendo á utilização da estrutura determina as acções que deve considerar e


quantifica-as pelos seus valores característicos;

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 7 / 44


Estruturas Betão Armado

- aplica essas acções á estrutura e determina os esforços correspondentes, admitindo em


geral a hipótese de comportamento elástico dos materiais;

- determinados os esforços correspondentes aos valores característicos das acções,


calcula os valores de cálculo dos esforços actuantes tendo em consideração as
combinações de acções, e os coeficientes respectivos;

- em função dos valores de cálculo de combinação dos esforços actuantes, e escolhidas


as classes do betão e do aço a utilizar, determina as armaduras nas diversas secções
compatíveis com esses esforços.

3. Flexão simples

3.1. Considerações gerais

A flexão simples corresponde a um estado limite último situado nas zonas 2 a 4 do esquema
da figura 3, quando não existe esforço axial.

É a partir da análise dos diagramas das extensões e das tensões, em termos de serem
resolvidas as equações de equilíbrio das forças em jogo, que se pode determinar a capacidade
resistente duma secção.

Consideremos as seguintes grandezas adimensionais:

M Rd
Momento flector reduzido, µ : µ=
bd 2 f cd

As f syd
Percentagem mecânica de armadura, ω : ω= ⋅
bd f cd
x
Profundidade relativa da linha neutra, α : α=
d
sendo b a largura da viga.

3.2. Diagrama parábola-rectângulo

Apresenta-se, seguidamente, o comportamento à flexão simples de uma secção rectangular de


betão armado, simplesmente armada, em que o diagrama das tensões é descrito por uma

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 8 / 44


Estruturas Betão Armado

parábola até que a extensão atinja os 3,5 × 10 −3 , valor a partir do qual se dá a plastificação do
betão e o diagrama passa a linear rectangular.

Zona 2 ( fig. 3) Para 0 < α ≤ 0,167 :

0 < ε c < -2 x10 -3 σc < 0,85 fcd


L. N.
O x Fc

h d

As Fs
ε s = +10x10 -3
b

Fig. 4 – Situação de rotura pelo aço.

Temos que:

x y y
ε c máx = × 10 × 10 −3 ε c = ε c máx εc = × 10 × 10 −3
d −x x d−x

 10 y 
( )
σ c = 0 ,85 f cd ε c − 250 ε c2 × 10 3 = 0 ,85 f cd  −
25 y 2


 d − x (d − x )
2

x  5x 25 x 2 
Fc = ∫0
σ c b .d y = 0 ,85 f cd bx  −
 d − x 3 (d − x )
2


x
como α = , vem x = αd , substituindo e simplificando fica:
d

5α (3 − 8α )
Fc = 0,85 f cd bα d ×
3(1 − α )
2

fazendo:

5α (3 − 8 α )
ϕ = 0 , 85 ×
3 (1 − α )2

surge:

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 9 / 44


Estruturas Betão Armado

F c = ϕ f cd b α d

que é a resultante das tensões de compressão no betão, determinando-se agora c, que demarca
a sua posição.

O momento das tensões relativamente ao ponto O é dado por:

x  10 x 25 x 2  5α (8 − 23α )
∫o c y
σ = ×  −  = 0 ,85 f cd bx 2 ×
2
by .d 0 ,85 f bx  3(d − x ) 4 (d − x )2  12 (1 − α )
cd 2
 

Este momento é igual ao da resultante, pelo que fazendo c = λ. x = λαd , fornece a equação:

5α (8 − 23α )
Fc (1 − λ )x = 0 ,85 f cd bx 2 ×
12 (1 − α )
2

que, substituindo Fc pelo seu valor, permite obtermos:

4 − 9α
λ=
12 − 32α

As equações de equilíbrio de forças e momentos na secção são:

Fc = Fs

Fs = As f syd

F c = ϕ f cd b α d

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

A s f syd = ϕ f cd b α d

e se dividirmos ambos os membros por bd f cd , obtemos:

ω = ϕα

como c = λαd , vem:

M Rd = F c (d − c ) = ϕ f cd b α d (d − λα d )

ou seja:

M Rd = ϕ f cd b α d 2
(1 − λα )

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 10 / 44


Estruturas Betão Armado

que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = ϕα (1 − λα )

ω
ou, substituindo α = ,
ϕ

 λ 
µ = ω 1 − ω 
 ϕ 

5α (3 − 8α ) 4 − 9α
com: ϕ = 0 ,85 × e λ =
3(1 − α )2
12 − 32 α

Geralmente é dado o momento de solicitação M Sd , pretendendo-se que M Rd seja igual (ou


superior, mas próximo).

Dada a complexidade das fórmulas, pode-se recorrer à determinação de ω por aproximações


sucessivas, atribuindo-se sucessivos valores a α , através de adequado enquadramento até que
M Rd = M Sd , com a aproximação desejada.

Zona 2 ( fig. 3) Para 0,167 < α ≤ 0, 259 :

-2 x10 -3 < ε c < -3,5 x10 -3 σ c = 0,85 fcd

x
L. N. Fc
O

h d

As Fs
εs = +10 x 10 -3
b

Fig. 5 – Rotura pelo aço com extensão no betão ≤ 3,5 × 10 −3 .

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 11 / 44


Estruturas Betão Armado

x y y d −x
ε c máx = × 10 × 10 −3 ε c = ε c máx εc = × 10 × 10 −3 y0 =
d −x x d−x 5

No troço parabólico, do mesmo modo que para 0 < α ≤ 0,167 , salvo no limite do integral:

d−x d−x
 10 y 25 y 2 
F c1 = ∫
0
5
σ c b .d y = 0 ,85 f cd b ∫
0
5  −
 d − x (d − x )2

 .d y

2  1 
F c 1 = 0 , 85 f cd bx ×  − 1
15  α 

No troço rectangular:

1 1
Fc 2 = 0,85 f cd b( x − y0 ) = 0,85 f cd bx × 6 − 
15  α

A força de compressão no betão será:

1  1
Fc = Fc1 + Fc 2 = 0,85 f cd bx × 16 − 
15  α

x
como α = , vem x = αd , substituindo e simplificando fica:
d

1  1 
F c = 0 ,85 f cd b α d ×  16 − 
15  α 

fazendo:

1 1
ϕ = 0,85 × 16 − 
15  α

surgindo:

F c = ϕ f cd b α d

que é a resultante das tensões de compressão no betão, determinando-se agora c, que fixa a
sua posição.

O momento das tensões relativamente ao ponto O é dado por:

d −x
 2(d − x )3 (d − x )4  2
 = 0,85 f cd bx 2 ×  − 1
1 1
∫o
5 
σ c by.d y =0,85 f cd b −
 75(d − x ) 100(d − x )
2 
 60  α 

Este momento é igual ao da resultante, pelo que fazendo c = λ. x = λαd , fornece a equação

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 12 / 44


Estruturas Betão Armado

149α 2 + 2α − 1
Fc (1 − λ )x = 0,85 f cd bx × 2

300α 2

que, substituindo Fc pelo seu valor, permite determinar:

171α 2 − 22α + 1
λ=
320α 2 − 20α

As equações de equilíbrio de forças e momentos na secção são:

Fc = Fs

Fs = As f syd

F c = ϕ f cd b α d

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

A s f syd = ϕ f cd b α d

e se dividirmos ambos os membros por bd f cd , obtemos:

ω = ϕα

Como c = λαd , vem:

M Rd = F c (d − c ) = ϕ f cd b α d (d − λα d )

ou seja:

M Rd = ϕ f cd b α d 2
(1 − λα )
que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = ϕα (1 − λα )

ω
ou, substituindo α = :
ϕ

 λ 
µ = ω 1 − ω 
 ϕ 

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 13 / 44


Estruturas Betão Armado

1 1 171α 2 − 22α + 1
com: ϕ = 0,85 × 16 −  e λ =
15  α 320α 2 − 20α

3,5 ×10−3
Zona 3 (fig. 3) Para 0,259 < α ≤
3,5 ×10−3 + ε syd

Para os diversos tipos de aço, de acordo com o gráfico da relação tensões-extensões (Fig. 2) e
com o quadro da figura 3, será:

−3 εc 3,5 × 10 −3
A235: ε syd = 1,020 × 10 ⇒ = = 0,774
ε c + ε syd 3,5 × 10 −3 + 1,020 × 10 −3

εc 3,5 × 10 −3
A400: ε syd = 1,740 × 10 −3 ⇒ = = 0,668
ε c + ε syd 3,5 × 10 −3 + 1,740 × 10 −3

−3 εc 3,5 × 10 −3
A500: ε syd = 2,175 × 10 ⇒ = = 0,617
ε c + ε syd 3,5 × 10 −3 + 2,175 × 10 −3

εc = -3,5 x10 -3 σc = 0,85 fcd

x Fc
L. N.
O

h d

As Fs
εsyd < ε s < +10 x10 -3
b

Fig. 6 – Rotura pelo betão.

4
ε c = 3,5 × 10 −3 y0 = x
7

No troço parabólico:

 y2 
( ) y
σ c = 0,85 f cd ε c − 250ε c2 × 10 3 = 0,85 f cd  3.5 × − 3,0625 × 2 
 x x 

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 14 / 44


Estruturas Betão Armado

4  3,5  4  2 3,0625  4  3 
Fc1 = ∫ 7 σ c b.d y = 0,85 f cd bx × − ×  
0  2  7  3  7  

No troço rectangular:

3 
Fc 2 = 0,85 f cd b x 
7 

A força de compressão no betão será:

 3,5  4  2 3,0625  4  3 3 
Fc = Fc1 + Fc 2 = 0,85 f cd bx × − ×  + 
 2  7  3  7  7 

x
como α = , vem x = αd , substituindo e fazendo:
d

F c = 0 , 6881 f cd b α d

que é a resultante das tensões de compressão no betão, determinando-se agora c, que delimita
a sua posição.

O momento do troço parabólico, relativamente ao ponto O é:

4  3.5  4  3 3,0625  4  4 
∫ σ c by.d y =0,85 f cd bx  × − ×  
 3  7 
7 2
o
 4  7  

O momento do troço rectangular é dado por:

3 5,5
0,85 f cd bx 2 × ×
7 7

O momento total será, então:

 3.5  4  3 3,0625  4  4 3 5,5 


0,85 f cd bx  × − ×  + ×  = 0,4019 f cd bx 2
 3  7 
2

4  
7 7 7 
 

Este momento é igual ao da resultante, pelo que fazendo c = λ. x = λαd , fornece a equação:

Fc (1 − λ )x = 0,4019 f cd bx 2

que, substituindo Fc pelo seu valor, permite determinar:

λ = 0,4159

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 15 / 44


Estruturas Betão Armado

As equações de equilíbrio de forças e momentos na secção determinam-se como nos casos


anteriores:

Fc = Fs

Fs = As f syd

Fc = 0,6881 f cd bαd

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

A s f syd = 0 ,6881 f cd b α d

e se dividirmos ambos os membros por bd f cd , obtemos:

ω = 0,6881α

Como:

c = λα d = 0 , 4159 α d , vem

M Rd = F c (d − c ) = 0 , 6881 f cd b α d (d − 0 , 4159 α d )

ou seja:

M Rd = 0 ,6881 f cd b α d 2
(1 − 0 , 4159 α )

que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = 0,6881α (1 − 0, 4159α )

ω
ou, substituindo α = ,
0,6881

µ = ω (1 − 0,6044ω )

3,5 × 10 −3
Zona 4 ( fig. 3) Para <α <1
3,5 × 10 −3 + ε syd

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 16 / 44


Estruturas Betão Armado

−3 3,5 × 10 −3 1 
ε c = 3,5 × 10 α= −3
⇒ ε s =  − 1 × 3,5 × 10 −3
3,5 × 10 + ε s α 

É semelhante à situação anterior, pelo que temos Fc = 0,6881 f cd bαd e c = 0 ,4159 α d .

εc = -3,5x10 -3 σc = 0,85 fcd

x
Fc

h d
L. N.
O

As Fs
εs < εsyd
b

3,5 × 10 −3
Fig. 7 – Rotura pelo betão com valores de < α < 1.
3,5 ×10 −3 + ε syd

A tensão de tracção no aço será:

εs 3,5 × 10 −3 1 
σs = f syd =  − 1 f syd
ε syd ε syd α 

e as equações de equilíbrio das forças e momentos:

Fs = Fc

Fs = As σ s

Fc = 0,6881 f cd bαd

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

As σ s = 0,6881 f cd bαd

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 17 / 44


Estruturas Betão Armado

3,5 × 10 −3  1 
As  − 1 f syd = 0,6881 f cd bαd
ε syd  α 

dividindo ambos os membros por bd f cd , obtemos:

3,5 × 10 −3 1 
ω  − 1 = 0,6881α
ε syd α 

ε syd α2
ω = 0,6881 × ×
3,5 × 10 −3 1− α

que, substituindo ε syd pelos valores vistos anteriormente para os diversos tipos de aço, assume

o seguinte aspecto:

0, 2005α 2
A235: ω=
1−α

0,3421α 2
A400: ω=
1−α

0,4286α 2
A500: ω=
1−α

Como c = 0,4159αd , vem:

M Rd = Fc (d − c ) = 0,6881 f cd bαd (d − 0, 4159αd )

ou seja,

M Rd = 0,6881 f cd bαd 2 (1 − 0,4159α )

que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = 0,6881α (1 − 0, 4159α )

Devido à complexidade de aplicação das expressões anteriores existem tabelas e ábacos


elaborados através das expressões anteriores – por exemplo, Lima, J. D’Arga e Monteiro
(1985). Esforços Normais e de Flexão”, Lisboa, L.N.E.C. – que nos dão a percentagem
mecânica de armadura, ω , e a profundidade relativa da linha neutra, α , em relação a um
momento flector reduzido, µ .

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 18 / 44


Estruturas Betão Armado

Um problema que por vezes surge é o de utilizar vigas simplesmente armadas, isto é, sem
armadura de compressão ou duplamente armadas, isto é, com armadura de compressão. A
dúvida põe-se devido ao facto de, a partir de valores elevados do momento flector, a armadura
traccionada ficar sujeita a tensões inferiores à de cedência e ser consequentemente mais
rentável colocar armadura de compressão (que aumenta o braço das forças interiores) do que
apenas aumentar a armadura de tracção.

εc σc = 0,85 fcd
A's a F's
ε's
x Fc
L. N.

h d

As Fs
εs
b
Fig. 8 – Diagrama parábola-rectângulo em viga duplamente armada.

No caso de secções duplamente armadas (fig. 8) as equações de equilíbrio de forças e de


momentos são respectivamente:

Fs = Fc + Fs'

Fs = As σ s

Fs' = As' σ s'

 a
M Rd = Fc (d − c ) + Fs' ( d − a) = Fc (d − c ) + Fs' d 1 − 
 d

em que a é a distância da armadura de compressão à face.

Neste caso, a complexidade do problema aumenta, no que diz respeito à dedução das
expressões da percentagem mecânica de armadura, ω , e do momento flector reduzido, µ .

Do mesmo modo que para as secções simplesmente armadas, existem tabelas e ábacos

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 19 / 44


Estruturas Betão Armado

elaborados através das expressões anteriores (por exemplo “Esforços Normais e de Flexão”,
L.N.E.C.) que nos dão, em relação às razões a / d e β = As' / As , a percentagem mecânica de

armadura, ω , e a profundidade relativa da linha neutra, α, em relação a um momento flector


reduzido, µ .

Verifica-se que as vigas rectangulares duplamente armadas são mais económicas do que as
simplesmente armadas a partir dos valores de momentos flectores reduzidos, conforme o tipo
de aço e a relação a / d , constantes do quadro I.

Relação Tipo de aço

a
d A235 A400 A500

0,05 µ = 0,320 α = 0,631 ω = 0,434

0,10 µ = 0,330 α = 0,661 ω = 0,455 µ = 0,316 α = 0,617 ω = 0,424

0,15 µ = 0,339 α = 0,691 ω = 0,475 µ = 0,332 α = 0,668 ω = 0,460

QUADRO I – Valores de µ , a partir dos quais são mais económicas as vigas duplamente armadas.

3.3. Diagrama rectangular

Pode-se adoptar, para a relação tensão-deformação do betão comprimido, de acordo com o


REBAP (art. 20º, ponto 2), um diagrama rectangular.

Tal diagrama é definido por:

• numa zona igual a 0,2 x medida a partir da linha neutra, a tensão é nula;

• na restante zona (0,8 x ) a tensão é constante e igual a 0,85 f cd , para secções de

largura constante ou em que a largura aumente na direcção da fibra mais

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 20 / 44


Estruturas Betão Armado

comprimida (fig. 9) e 0,8 f cd para secções em que a largura diminui na direcção da


fibra mais comprimida1 (fig. 10).

εc σc = 0,85 fcd
A's F's
ε's 0.8x
x Fc
L. N.

h d

As Fs
εs

Fig. 9 – Diagrama rectangular para secções de largura constante ou em que esta aumente

na direcção da fibra mais comprimida.

εc σc = 0,80 fcd
A's F's
ε's 0.8x
x Fc
L. N.

h d

As Fs
εs

Fig. 10 – Diagrama rectangular para secções em que a largura diminui na direcção da fibra mais comprimida.

A utilização deste diagrama conduz, quase sempre, a resultados satisfatórios, podendo com

1
Esta disposição faz sentido uma vez que conforme no afastamos da linha neutra, e as tensões aumentam,
estamos a diminuir à área de compressão, o que será contra a segurança no que à avaliação da força total.

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 21 / 44


Estruturas Betão Armado

vantagem ser empregue quando as secções são irregulares e para as quais não se disponham
de tabelas.

Pode, também, ser empregue em rotinas de cálculo para computadores ou máquinas de


calcular.

Consideremos o caso de uma secção rectangular simplesmente armada:

Zona 2 ( fig. 3) Para: 0 < α ≤ 0,167

0 < εc < -2 x10 -3 σc < 0,85 fcd


L. N. x
O Fc
0.8x

h d

As Fs
εs = +10 x10 -3
b

Fig. 11 – Diagrama parábola rectângulo para 0 < α ≤ 0,167 .

x ε c máx x
ε c máx = × 10 × 10 −3 σ c = 0,85 f cd −3
= 0,85 f cd × 5 ×
d −x 2 × 10 d−x

x x
Fc = 0,8 xσ c b = 0,8x × 0,85 f cd × 5 × = 3, 4bx f cd
d −x d−x

ou, como x = αd ,

α2
Fc = 3,4bd f cd
1−α

Equações de equilíbrio:

Fc = Fs

Fs = As f syd

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 22 / 44


Estruturas Betão Armado

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

3, 4α 2
As f syd = bd f cd
1−α

e se dividirmos ambos os membros por bd f cd , obtemos:

3,4α 2
ω=
1−α

M Rd = Fs (d − c ) = As f syd (d − 0,4 x )

ou seja, como x = αd ,

M Rd = As f syd bd (1 − 0,4α )

que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = ω (1 − 0,4α )

3,5 × 10 −3
Zonas 2 e 3 ( fig. 3) Para: 0,167 < α ≤
3,5 × 10 −3 + ε syd

-2 x 10 - 3 < ε c < -3,5 x 1 0 - 3 σ c = 0,85 fcd

x 0.8x
Fc
O

h d

As Fs
ε syd < ε s < +10 x 1 0 -3

3,5 ×10 −3
Fig. 12 – Diagrama parábola rectângulo para 0,167 < α ≤ .
3,5 ×10 −3 + ε syd

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 23 / 44


Estruturas Betão Armado

Para os diversos tipos de aço, de acordo com o gráfico da relação tensões-extensões (Fig. 2) e
com o quadro da figura 3, será:

εc 3,5 × 10 −3
A235: ε syd = 1,020 × 10 −3 ⇒ = = 0,774
ε c + ε syd 3,5 × 10 −3 + 1,020 × 10 −3

εc 3,5 × 10 −3
A400: ε syd = 1,740 × 10 −3 ⇒ = = 0,668
ε c + ε syd 3,5 × 10 −3 + 1,740 × 10 −3

εc 3,5 × 10 −3
A500: ε syd = 2,175 × 10 −3 ⇒ = = 0,617
ε c + ε syd 3,5 × 10 −3 + 2,175 × 10 −3

e para o betão:

ε c = 3,5 × 10 −3

a força de compressão no betão vem:

Fc = 0,8 xσ c b = 0,8 x × 0,85 f cd b f cd = 0,68bx f cd

ou, como x = αd ,

Fc = 0, 68αbd f cd

Equações de equilíbrio:

Fc = Fs

Fs = As f syd

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

As f syd = 0,68αbd f cd

e se dividirmos ambos os membros por bd f cd , obtemos:

ω = 0,68α

M Rd = Fs (d − c ) = As f syd (d − 0,4 x )

ou seja, como x = αd ,

M Rd = As f syd bd (1 − 0,4α )

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 24 / 44


Estruturas Betão Armado

que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = ω (1 − 0,4α )

ou:

µ = 0,68α (1 − 0,4α )

Neste caso é simples determinar directamente o valor de α a partir de um dado µ :

α = 1,25 − 1,252 − 3,6765µ

3,5 × 10 −3
Zona 4 ( fig. 3) Para <α <1
3,5 × 10 −3 + ε syd

ε c = -3,5 x10 -3 σc = 0,85 fcd

0.8x
x Fc

h L. d
N.
O

As Fs
εs < ε syd
b

3,5 × 10 −3
Fig. 13 – Diagrama parábola rectângulo para < α < 1.
3,5 ×10 −3 + ε syd

3,5 × 10 −3 1 
ε c = 3,5 × 10 −3 α= −3
⇒ ε s =  − 1 × 3,5 × 10 −3
3,5 × 10 + ε s α 

εs 3,5 × 10 −3 1 
σs = f syd =  − 1 f syd
ε syd ε syd α 

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 25 / 44


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3,5 × 10 −3  1 
Fs = As σ s = As  − 1 f syd
ε syd  α 

Fc = 0,8 x × 0,85bx f cd = 0,68αbd f cd

Equações de equilíbrio:

Fs = Fc

M Rd = Fc (d − c ) = Fs (d − c )

logo:

3,5 × 10 −3  1 
As  − 1 f syd = 0,68αbd f cd
ε syd  α 

e se dividirmos ambos os membros por bd f cd , obtemos:

0,68ε syd α2
ω= ⋅
3,5 × 10 −3 1−α

que, substituindo ε syd pelos valores vistos anteriormente para os diversos tipos de aço, assume

o seguinte aspecto:

0,1982α 2
A235: ω=
1−α

0,3381α 2
A400: ω=
1−α

0,4226α 2
A500: ω=
1−α

M Rd = Fc (d − c )

ou seja, como x = αd ,

M Rd = 0,68αbd f cd (d − 0,4 x ) = 0,68αbd f cd (d − 0,4αd ) = 0,68αbd 2 f cd (1 − 0,4α )

que, dividindo ambos os membros por bd 2 f cd , fornece:

µ = 0,68α (1 − 0,4α )

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 26 / 44


Estruturas Betão Armado

Neste caso também é simples determinar directamente o valor de α a partir de um dado µ :

α = 1,25 − 1,252 − 3,6765µ

3.4. Fórmulas simplificadas

3.4.1. Vigas rectangulares

À custa dum menor rigor é possível admitir certas hipóteses que conduzem a fórmulas
simplificadas que nos dão valores de armadura por excesso (pelo lado da segurança, portanto).

Assim, independentemente do tipo de aço, as vigas rectangulares simplesmente armadas são


económicas se:

α ≤ 0,601

µ ≤ 0,31

ω ≤ 0,41

Então, considerando que as vigas rectangulares serão duplamente armadas se µ > 0,31 , poder-
se-ão adoptar as seguintes fórmulas:

- se µ ≤ 0,31 (vigas rectangulares simplesmente armadas)

ω' = 0

ω = µ (1 + µ )

- se µ > 0,31 (vigas rectangulares duplamente armadas)

µ − 0,31
ω' =
a
1−
d

ω = ω ' + 0, 41

em que ω ' é a percentagem mecânica da armadura de compressão, isto é:

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 27 / 44


Estruturas Betão Armado

As' f syd
ω =
'
⋅ ,
bd f cd

e os restantes símbolos têm o significado referido anteriormente.

A expressão de ω para vigas rectangulares simplesmente armadas ajusta-se com aproximação


satisfatória à função ω = f (µ ) , que poderia ser obtida a partir das expressões deduzidas do
diagrama parábola-rectângulo.

As expressões para vigas rectangulares duplamente armadas podem deduzir-se considerando


que a partir de valores de µ superiores a 0,31 os acréscimos de momentos, ? M Rd ou ? µ ,
mantendo-se a altura da linha neutra correspondente àquele limite, são suportados pela
armadura de compressão, As' , e pelo aumento da armadura de tracção, ? As .

As' = ? As

 a
?M Rd = ? A s f syd (d − a ) = A s' f syd d  1 − 
 d 

Dividindo agora por bd 2 f cd e atendendo a que ? µ = µ − 0,31 , por definição, temos

 a
? µ = ω ' 1 −  = µ − 0,31
 d

donde :

µ − 0,31
ω' =
a
1−
d

Como se viu, o valor da percentagem mecânica de armadura correspondente a µ = 0,31 é


ω = 0,41 , donde:

ω = ω ' + 0,41 .

3.4.2. Vigas em T

Em muitos casos correntes a verificação da segurança de uma viga em T pode ser realizada
como se tratasse de uma viga rectangular com largura igual á largura do banzo daquela.

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 28 / 44


Estruturas Betão Armado

Poder-se-á utilizar, portanto, os elementos apresentados para as vigas rectangulares, bastando


verificar se a linha neutra não sai fora do banzo, isto é se α ≤ h f / d , em que h f representa a

espessura do banzo.

Note-se que, em geral, não se porá para as vigas em T o problema da necessidade de


armaduras de compressão, dado que o banzo pode suportar elevadas forças de compressão.

Os valores reduzidos dos momentos flectores, ou das percentagens mecânicas de armadura, a


partir dos quais as vigas em T não podem ser consideradas como vigas rectangulares, obtém-
se fazendo-se α = h f / d , pelas expressões do diagrama parábola-rectângulo, surgindo:

hf  h 
µ = 0,6881 1 − 0,4159 f 
d  d 

hf
ω = 0,6881
d

Para valores superiores a estes ter-se-á α > h f d , ficando a linha neutra fora do banzo. Nestes

casos, pode-se, de modo simplificado, desprezar a contribuição da alma da viga para a


absorção das forças de compressão - o que é do lado da segurança, pois se bem que o braço do
binário é maior a área de compressão é menor) - correspondendo a tomar b / bw = ∞ , em que

b designa a largura do banzo e bw a largura da alma.

Considerando então que em toda a espessura do banzo se desenvolvem tensões de compressão


de valor igual a 0,85 f cd , obter-se-á o seguinte valor máximo para momento resistente:

'
M Rd = 0,85 f cd bh f (d − 0,5h f )
Para valores do momento inferiores a este poderá determinar-se a armadura necessária,
admitindo que o aço está em cedência, pela expressão:

M Rd
As =
(d − 0,5h f ) f syd

4. Exemplos de aplicação

Nota: Refira-se que há disposições de projecto e construtivas, fixadas pelo REBAP, que

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 29 / 44


Estruturas Betão Armado

podem condicionar o dimensionamento das secções. Estes condicionamentos não são


contudo tidos em conta nos exemplos seguintes, já que o objectivo é apenas o
dimensionamento à flexão simples.

4.1. Exemplo 1

Determinar a capacidade resistente à flexão simples de uma secção rectangular de


0,30 × 0,50 m, cuja armadura principal de tracção é composta por 4φ 25 . O betão é da classe
B30 e o aço do tipo A400.

f cd = 16,7 MPa = 16,7 × 103 kN/m 2

f syd = 348 MPa = 348 × 10 3 kN/m 2


h d
b = 0,30 m
h = 0,50 m
d = 0,45 m

As = 19,63 cm 2
4Ø25
b

Fig. 14 – Exemplo 1 de aplicação.

Resolução

Determinar a capacidade resistente à flexão simples é determinar o valor máximo do momento


de cálculo. Logo, admite-se o betão no máximo da extensão, isto é ε c = 3,5 × 10 −3 (zona 3 das
fórmulas vistas anteriormente).

Calculamos:

As f syd 19,63 × 10 −4 348 × 10 3


ω= ⋅ = ⋅ = 0,303
bd f cd 0,30 × 0,45 16,7 × 10 3

a) Pelo diagrama parábola-rectângulo

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 30 / 44


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Pelas fórmulas vistas anteriormente, se 0,259 < α ≤ 0,668 ,

ω = 0,6881α

0,303 = 0,6881α ⇒ α = 0,440

que é o caso, pois α está dentro dos limites.

Então,

µ = ω (1 − 0,6044ω )

µ = 0,303 × (1 − 0,6044 × 0,303) = 0,248

Como:

M Rd
µ=
bd 2 f cd

vem:

M Rd
0,248 = ⇒ M Rd = 251,6 kN.m
0,30 × 0,45 2 × 16,7 × 10 3

b) Pelas tabelas (Esforços normais e flexão, L.N.E.C.)

ω = 0, 299 → α = 0, 435 → µ = 0,245


ω = 0,303 , pelas tabelas temos: 
ω = 0,307 → α = 0,446 → µ = 0,250

Por interpolação, µ = 0,248 , como:

M Rd
µ=
bd 2 f cd

vem:

M Rd
0,248 = ⇒ M Rd = 251,6 kN.m
0,30 × 0,45 2 × 16,7 × 10 3

c) Pelo diagrama rectangular

Pelas fórmulas vistas anteriormente, se 0,259 < α ≤ 0,668 :

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 31 / 44


Estruturas Betão Armado

ω = 0,68α

0,303 = 0,68α ⇒ α = 0,446

que é o caso, pois α está dentro dos limites, confirmado o resultado considerando o
diagrama parábola-rectângulo.

Então,

µ = ω (1 − 0,4α )

µ = 0,303 × (1 − 0, 4 × 0,446 ) = 0,249

Como:

M Rd
µ=
bd 2 f cd

M Rd
vem: 0,249 = ⇒ M Rd = 252,6 kN.m
0,30 × 0,45 2 × 16,7 × 103

d) Por simples equilíbrio de forças

Fc = Fs

do que:

b . x . fcd = As . fsyd

ou seja:

x = As . fsyd / (b . fcd)

sendo x (profundidade da linha neutra) a única incógnita que se estima tendo por
bom que o aço está no patamar de cedência.

As f syd 19,63 × 10 −4 348 ×10 3


x= ⋅ = ⋅ = 0,136
b f cd 0,30 16,7 × 10 3

então: z = d - x/2 = 0,45 – 0,136/2 = 0,382

assim: M Rd = As × fsyd × z =19,63x10 −4 × 348 × 103 × 0,382 = 260,9 KNm

pelo que temos um erro insignificante (≅ 3,8%) nesta avaliação expedita.

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 32 / 44


Estruturas Betão Armado

4.2. Exemplo 2

Calcular a armadura necessária para uma secção rectangular de 0,30 × 0,60 m sujeita a um
momento flector cujo valor de cálculo é de 350 kN.m. O betão é da classe B25 e o aço do tipo
A400.

f cd = 13,3 MPa = 13,3 × 10 3 kN/m 2

f syd = 348 MPa = 348 × 10 3 kN/m 2

h d b = 0,30 m
h = 0,60 m

As d = 0,55 m
M Sd = 350 kN.m

Fig. 15 – Exemplo 2 de aplicação.

Resolução

M Rd 350
Calcula-se: µ= = = 0,290
bd f cd 0,30 × 0,55 2 × 13,3 × 10 3
2

a) Pelo diagrama parábola-rectângulo

Admitindo-se que estamos na zona 3 das fórmulas vistas anteriormente:

µ = 0,6881α (1 − 0, 4159α )

0,290 = 0,6881α (1 − 0,4159α ) ⇒ α = 0,545

temos; 0,259 < α ≤ 0,668 , então:

ω = 0,6881α

ω = 0,6881 × 0,545 = 0,375

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 33 / 44


Estruturas Betão Armado

13,3 × 10 3
As = 0,375 × 0,30 × 0,55 × × 10 4 = 23,65 cm 2
348 × 10 3

b) Pelas tabelas (Esforços normais e flexão, L.N.E.C.)

µ = 0,290 , pelas tabelas temos:

µ = 0,290 → α = 0,545 → ω = 0,375

então:

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

13,3 × 10 3
As = 0,375 × 0,30 × 0,55 × × 10 4 = 23,65 cm 2
348 × 10 3

c) Pelo diagrama rectangular

Admitindo-se que estamos na zona 3 das fórmulas vistas anteriormente,

µ = 0,68α (1 − 0,4α )

0,290 = 0,68α (1 − 0,4α ) ⇒ α = 0,545

temos 0,259 < α ≤ 0,668 , então,

ω = 0,68α

ω = 0,68 × 0,545 = 0,371

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

13,3 × 10 3
As = 0,371 × 0,30 × 0,55 × × 10 4 = 23, 40 cm 2
348 × 10 3

d) Pelas fórmulas simplificadas

µ < 0,31 , logo a viga é simplesmente armada e temos:

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 34 / 44


Estruturas Betão Armado

ω' = 0

ω = µ (1 + µ ) = 0, 290 × (1 + 0, 290 ) = 0,374

então:

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

13,3 × 10 3
As = 0,374 × 0,30 × 0,55 × × 10 4 = 23,58 cm 2
348 × 10 3

4.3. Exemplo 3

Calcular a armadura necessária para secção rectangular de 0,30 × 0,50 m sujeita a um


momento flector cujo valor de cálculo é de 375 kN.m. O betão é da classe B25 e o aço do tipo
A400.

a
A's f cd = 13,3 MPa = 13,3 × 10 3 kN/m 2

f syd = 348 MPa = 348 × 10 3 kN/m 2

b = 0,30 m
h d
h = 0,50 m
d = 0,45 m

As M Sd = 375 kN.m

Fig. 16 – Exemplo 3 de aplicação.

Resolução

a 0,05
Vamos considerar a = 0,05 m , então: = = 0,11
d 0, 45

M Rd 375
Calcula-se: µ= = = 0,464
bd f cd 0,30 × 0, 45 2 × 13,3 × 10 3
2

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 35 / 44


Estruturas Betão Armado

a) Pelas fórmulas simplificadas

µ ≥ 0,31 , logo a viga é duplamente armada e temos

µ − 0,31 0, 464 − 0,31


ω' = = = 0,173
a 1 − 0,11
1−
d

ω = ω ' + 0,41 = 0,173 + 0,41 = 0,583

então:

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

13,3 × 10 3
As = 0,583 × 0,30 × 0,45 × × 10 4 = 30,08 cm 2
348 × 10 3

As' f syd f
ω' = ⋅ ⇒ As' = ω 'bd cd
bd f cd f syd

13,3 × 10 3
As' = 0,173 × 0,30 × 0, 45 × × 10 4 = 8,93 cm 2
348 × 10 3

A relação entre armaduras de compressão e tracção é:

As' 8,93
β= = = 0,30
As 30,08

b) Pelas tabelas (Esforços normais e flexão, L.N.E.C.)

Por motivos de comparação, vamos manter a relação entre armaduras, β = 0,30 :

a 0,05
µ = 0,464 e = = 0,11 ≈ 0,10
d 0, 45

µ = 0, 460 → α = 0,585 → ω = 0,575


Pelas tabelas temos: 
µ = 0, 470 → α = 0,602 → ω = 0,591

Por interpolação, ω = 0,581, então:

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 36 / 44


Estruturas Betão Armado

13,3 × 10 3
As = 0,581 × 0,30 × 0, 45 × × 10 4 = 29,98 cm 2 ,
348 × 10 3

As'
β= ⇒ As' = βAs
As

As' = 0,30 × 29,98 = 8,99 cm 2

4.4. Exemplo 4

Calcular a armadura de tracção necessária na secção de momento flector máximo positivo


cujo valor de cálculo é de 1400 kN.m para secção T representada na figura 17. O betão é da
classe B30 e o aço do tipo A400.

hf

h d

As

bw

Fig. 17 – Exemplo 4 de aplicação.

Dados:

f cd = 16,7 MPa = 16,7 × 103 kN/m 2

f syd = 348 MPa = 348 × 10 3 kN/m 2

b = 1,30 m

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 37 / 44


Estruturas Betão Armado

bw = 0,30 m

h = 1, 00 m

d = 0,95 m

h f = 0,10 m

M Sd = 1400 kN.m

Resolução

M Rd 1400
Calcula-se: µ= = = 0,071
bd f cd 1,30 × 0,95 2 × 16,7 × 10 3
2

a) Pelas fórmulas simplificadas

O valor de µ , a partir do qual a secção deixa de poder ser tratada como rectangular
com base igual à largura do banzo é:

hf  h  0,10  0,10 
µ = 0,6881 1 − 0,4159 f  = 0,6881 × × 1 − 0, 4159 ×  = 0,069 < 0,071
d   0,95  0,95 
d 

Trata-se, portanto, de uma viga em T.

O momento máximo até ao qual a fórmula simplificada pode ser aplicada é:


'
M Rd = 0,85 f cd bh f (d − 0,5h f )
'
M Rd = 0,85 × 16,7 × 10 3 × 1,30 × 0,10 × (0,95 − 0,5 × 0,10) = 1660 kN.m > 1400 kN.m

A armadura será:

M Sd 1400
As = = × 10 4 = 44,70 cm 2
f syd (d − 0,5h f ) 348 × 10 × (0,95 − 0,5 × 0,10 )
3

b) Pelas tabelas (Esforços normais e flexão, L.N.E.C.)

Calcula-se

b 1,30 hf 0,10
µ = 0,071 = = 4,3 ≈ 4 = = 0,11
bw 0,30 d 0,95

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 38 / 44


Estruturas Betão Armado

µ = 0,070 → α = 0,151 → ω = 0,074


Pelas tabelas temos: 
µ = 0,075 → α = 0,160 → ω = 0,079

Por interpolação, α = 0,152 e ω = 0,075 , então:

x = αd = 0,152 × 0,95 = 0,14 m > h f = 0,10 m

Portanto a linha neutra encontra-se fora do banzo, tratando-se de uma viga em T.

As f syd f
ω= ⋅ ⇒ As = ωbd cd
bd f cd f syd

16,7 × 10 3
As = 0,075 × 1,30 × 0,95 × × 10 4 = 44,45 cm 2
348 × 10 3

5. Pré-dimensionamento de vigas rectangulares

Um problema que frequentemente se põe ao projectista é o do pré-dimensionamento de


secções.

Tendo as solicitações na viga – cargas permanentes (sem peso próprio) e sobrecargas – que
valores adoptar para as dimensões da secção da viga?

Uma maneira de contornar o problema é previamente determinar os esforços, de forma


aproximada, sem considerar o peso próprio da peça. Estes podem ser determinados de modo
aproximado através de tabelas de estruturas que nos dão, para vãos e cargas semelhantes, os
momentos flectores máximos positivos e negativos através de relações do tipo:

pl 2
n

em que p é a carga, l a dimensão do vão de cálculo e n um número adimensional.

Podemos estabelecer valores de optimização para o momento flector reduzido ( µ económico,


que corresponde uma extensão no aço entre 3 e 40/00) e para a relação entre a base e a altura da
viga:

0,20 < µ < 0,30

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 39 / 44


Estruturas Betão Armado

b ≈ 0,4d , com b ≥ 20cm

Tendo o momento flector actuante M Sd , e o valor da tensão de cálculo do betão f cd ,

podemos determinar as dimensões da secção da viga, admitindo µ = 0,25 e a largura da viga


b ≈ 0,4d :

M Sd
µ= ,
bd 2 f cd

do que:

M Sd
0,25 =
0,4 d 3 f cd

colocando a altura útil em evidência:

M Sd
d3 =
0,25 × 0,4 f cd

donde:

M Sd
d =3
0,1 f cd

Quando existe possibilidade de contar com armadura de compressão (sobretudo nas secções
de apoio de vigas contínuas), pode ser atribuído um valor de:

0,30 < µ < 0,35

Por vezes, por questões arquitectónicas, uma das dimensões é imposta.

Supondo que essa dimensão é a base, o raciocínio é semelhante e temos:

M Sd
µ=
bd 2 f cd

M Sd
0,25 =
bd 2 f cd

M Sd
d2 =
0, 25bf cd

donde:

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 40 / 44


Estruturas Betão Armado

M Sd
d=
0,25bf cd

Se for a altura a dimensão imposta, vem:

M Sd
µ=
bd 2 f cd

M Sd
0,25 =
bd 2 f cd

donde:

M Sd
b=
0, 25d 2 f cd

Face ao esforço transverso, as dimensões mínimas da secção transversal são condicionadas


pela expressão:

bw × d ×τ 2 ≥ VSd

do que:

VSd V Sd
bw ≥ ou d ≥
τ2 × d τ 2 × bw

se b ≈ 0,4d :

VSd VSd
bw ≥ ou d ≥
τ 2 × 0 ,4 τ 2 × 0, 4

Obviamente que outras condicionantes podem ser introduzidas, como a altura mínima para
dispensa de verificação dos estados limites de deformação, que será vista no capítulo V.

Em termos de área de aço aproximada, como processo expedito podemos adoptar:

M Sd M Sd
As = ou As =
0,85hf syd 0,9df syd

Exemplo

Determinar as dimensões da secção da viga representada na figura, sendo o betão da classe


B25 e o aço do tipo A400.

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 41 / 44


Estruturas Betão Armado

Sc=20 kN/m
CP=30 kN/m

6.00 6.00

Fig. 18 – Exemplo de aplicação.

Temos a combinação com acção de base a sobrecarga:

Sd = 1,5 × CP + 1,5 × Q = 1,5 × 30 + 1,5 × 20 = 75 kN/m

Determina-se, de forma aproximada os momentos máximos em valor absoluto:

75 × 6,00 2
Momento positivo, M Sd = = 192,8 kN.m
14

75 × 6,00 2
Momento negativo, M Sd = − = −337,5 kN.m
8

Vai-se fazer o pré-dimensionamento para o momento maior em valor absoluto.

Considerando apenas factores económicos: µ = 0,25 e b = 0,4d , e b ≥ 0.2 m , vem:

337,5
d =3 = 0,63 m
0,1× 13,3 × 10 3

b = 0,4d = 0,4 × 0,63 = 0,25 m

Poderíamos adoptar:

d ≈ 0,65 m ⇒ h = 0,70 m , b = 0,25 m

Verificação:

Peso próprio da viga = 0,25 × 0,70 × 25 = 4,4 kN/m

Cargas permanentes totais = G = CP + 4,4 = 34,4 kN/m

Combinação: Sd = 1,5 × G + 1,5 × Q = 1,5 × 34,4 + 1,5 × 20 = 81,6 kN/m

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 42 / 44


Estruturas Betão Armado

81,6 × 6,00 2
M Sd = = 367, 2 kN.m
8

M Sd 367, 2
µ= = = 0, 261 ,
bd f cd 0,25 × 0,65 2 × 13,3 × 10 3
2

Portanto temos: 0,20 < µ < 0,30 .

Admitindo que a base, por razões arquitectónicas, seria de b = 0,30 m, teríamos:

M Sd 337,5
d= = = 0,58 m
0,25bf cd 0,25 × 0,30 × 13,3 × 10 3

Podemos adoptar d ≈ 0,60 m ⇒ h = 0,65 m

Verificação:

Peso próprio da viga = 0,30 × 0,65 × 25 = 4,9 kN/m

Cargas permanentes totais = G = CP + 4,9 = 34,9 kN/m

Combinação: Sd = 1,5 × G + 1,5 × Q = 1,5 × 34,9 + 1,5 × 20 = 82,4 kN/m

82, 4 × 6,00 2
M Sd = = 370,8 kN.m
8

M Sd 370,8
µ= = = 0,258
bd f cd 0,30 × 0,60 2 × 13,3 × 10 3
2

Admitindo agora que a altura, por razões arquitectónicas, seria de h ≤ 0,60 m, teríamos:

h = 0,60m e d = 0,55 m

M Sd 337,5
b= = = 0,34
0, 25d f cd 0, 25 × 0,55 2 × 13,3 × 10 3
2

Podemos adoptar b = 0,35 m

Verificação:

Peso próprio da viga = 0,35 × 0,60 × 25 = 5,3 kN/m

Cargas permanentes totais = G = CP + 5,3 = 35,3 kN/m

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 43 / 44


Estruturas Betão Armado

Combinação: Sd = 1,5 × G + 1,5 × Q = 1,5 × 35,3 + 1,5 × 20 = 83,0 kN/m

83,0 × 6,00 2
M Sd = = 373,5 kN.m
8

M Sd 373,5
µ= = = 0,265
bd f cd 0,35 × 0,55 2 × 13,3 × 10 3
2

Portanto temos: 0,20 < µ < 0,30 .

Vigas / Flexão Simples Capítulo II – 44 / 44


Estruturas Betão Armado

CAPITULO III

ESFORÇO TRANSVERSO

1. Abordagem global

1.1. Generalidades

O estudo do comportamento de peças de betão armado sujeitas a esforços que dão origem a
tensões tangenciais, e em particular o esforço transverso, tem sido feita normalmente por
sistemas simplificados assentes em quantificações directas de dados experimentais, visando a
resolução simples dos problemas correntes da prática.

O Bulletin d’Information n.º 126 do CEB (Comité Euro-International du Béton) dá-nos uma
visão global sobre esta matéria e fornece dados para a compreensão das disposições relativas
a esta matéria, que constam do Model Code, 1978, (MC78) do CEB.

Neste boletim destacam-se duas séries de artigos: uma, da autoria de Thurlimann, em que é
exposto um método para determinação da capacidade resistente de peças de betão armado
sujeitas a esforço transverso, baseado em hipóteses de cálculo plástico e em que a rotura
corresponde a serem atingidas as tensões de cedência nas armaduras específicas de esforço
transverso e nas armaduras longitudinais de tracção; a outra, de autoria de Leonhardt, Taylor e
Regan, são apresentadas interpretações justificativas do comportamento dos elementos
sujeitos esforço transverso, bem como os resultados dos ensaios que permitem estabelecer
fórmulas para o dimensionamento.

Estes artigos pretendem justificar os dois métodos preconizados no Model Code 78 do CEB
relativos ao esforço transverso: o artigo de Thurlimann refere-se ao método aí designado por
“accurate method”, os artigos dos outros autores ao método aí referido como “standard
method”.

No REBAP resolveu-se que apenas deveria figurar um destes métodos o optou-se pelo de
mais simples aplicação, ou seja, o método “standard” do MC78. Por isso, o que se segue

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 1 / 31


Estruturas Betão Armado

baseia-se nas ideias expostas nos artigos de Leonhardt, Taylor e Regan (método “standard” do
Model Code).

1.2. Elementos sem armadura específica de esforço transverso

No comportamento, até à rotura por esforço transverso, dum elemento de betão armado é
possível distinguir nos casos correntes três fases (figura 1):

1. na primeira, na face traccionada do elemento, formam-se fendas normais ao eixo


deste;

2. numa 2ª fase, algumas fendas, em geral apenas uma, aumenta de comprimento,


inclinando-se em relação ao eixo do elemento, para, finalmente,

3. na 3ª fase, se dar a rotura do betão por compressão/esmagamento na fase comprimida


da peça.

fenda de esforço transverso rotura de compressão

3ª fase

2ª fase

1ª fase

fendas de flexão
fendas devidas ao efeito
de ferrolho ( 2ª e 3ª fase )

Fig. 1 - Esquema de comportamento até à rotura por esforço transverso.

Analisemos com maior pormenor cada um dos fenómenos descritos. A fendilhação da 1ª fase
corresponde ao aparecimento de tensões de tracção elevadas na face inferior do elemento,
tensões essas provocadas pela acção do momento flector. Esta fendilhação dá lugar à
existência no elemento de pequenas consolas ou "dentes" (figura 2), ligadas na parte inferior
pela armadura longitudinal da peça, encastradas na parte superior desta, sendo o deslizamento

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 2 / 31


Estruturas Betão Armado

entre elas dificultado pelo atrito desenvolvido nas superfícies de contacto.

efeito de consola

efeito de interbloqueamento
dos inertes

F- F F

efeito de ferrolho

Fig. 2 - Forças desenvolvidas nos “dentes” gerando efeito de ferrolho

Estes "dentes" dão assim lugar, quando da deformação da peça, aos seguintes efeitos;

- efeito de consola, desenvolvendo tensões de compressão e de tracção na parte superior


do elemento;

- efeito de ferrolho, desenvolvendo na armadura longitudinal forças de corte;

- efeito de interbloquemento dos inertes, desenvolvendo nas superfícies entre dentes


esforços relacionados com as irregularidade criadas pelos inertes ao longo dessas
superfícies.

Todos estes efeitos têm como consequência travar a deformação da armadura longitudinal e,
por isso, observa-se nesta primeira fase – apesar de se tratar já duma fase fendilhada – que a
tensão nessa armadura segue, praticamente, o diagrama de tensões correspondente ao
momento flector (figura 3).

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 3 / 31


Estruturas Betão Armado

Força correspondente dos valores de (M/Z)

Força realmente existente

Fig. 3 - Forças na armadura longitudinal antes das fendas de esforço transverso.

A certa altura, porém, com o aumento das cargas, os efeitos de ferrolho e de


interbloqueamento dos inertes diminuem de eficiência, as tensões nos encastramentos dos
dentes aumentam o suficiente para fender o betão nessa zona e, em consequência, as fendas
verticais de flexão inclinam-se dando lugar a fendas de esforço transverso. Verifica-se
fendilhação junto à armadura longitudinal (fendas devidas ao efeito de ferrolho) e a tensão
nesta armadura começa a registar aumentos relativamente à tensão correspondente à acção do
momento flector (diagrama M / z , sendo M o momento flector e z o braço das forças de
compressão e tracção).

Estes fenómenos caracterizam a 2ª fase referida anteriormente que, prosseguindo, reduz a


zona de compressão da peça de tal forma que se dá a rotura do betão por compressão e,
consequentemente, a rotura da peça – 3ª fase.

Esta descrição do comportamento até à rotura por esforço transverso não pode, como é
evidente, conduzir a dados quantitativos, mas tem o mérito de poder orientar a
experimentação no sentido de os obter, o que, aliás, de facto tem sido feito.

Assim, poderá dizer-se, em resumo, que tal tipo de rotura é fortemente condicionado pela

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 4 / 31


Estruturas Betão Armado

deformação da armadura longitudinal de tracção e, portanto, a resistência ao esforço


transverso aumenta com uma maior percentagem desta armadura e com uma maior
aderência das armaduras ao betão.

Verifica-se, ainda, que também aumenta a resistência ao esforço transverso à medida que
diminui a altura dos elementos, o que pode ser explicado por haver nas peças pouco altas um
efeito de interbloqueamento dos inertes bastante pronunciado e por em tais elementos os
"dentes" entre fendas disporem de grande rigidez à flexão.

Um outro parâmetro influente é, evidentemente, a resistência do betão, pois ela condiciona


tanto o efeito de consola, como o efeito de interbloqueamento dos inertes.

Força correspondente dos valores de (M/z)


Força realmente existente

Fig. 4 – Forças na armadura longitudinal depois das fendas de esforço transverso.

Finalmente, uma outra conclusão importante é que a tensão na armadura longitudinal de


tracção, por efeito do esforço transverso, aumenta em relação à tensão nela implantada
considerando apenas o momento flector (figura 4). Repare-se como as forças na armadura
longitudinal aumentam junto aos apoios (comparando com as da figura 3), onde o esforço
transverso é maior e a flexão menor.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 5 / 31


Estruturas Betão Armado

M
Este facto dá lugar à conhecida regra, da translação do diagrama dos esforços , adoptada
z
pelo REBAP.

1.3. Elementos com armadura especifica de esforço transverso

Os elementos de betão armado com armadura específica de esforço transverso, apresentam em


relação a este esforço um comportamento bastante diferente do descrito anteriormente para os
elementos em que tal armadura não existe. O processo de abordar o problema foi, e de certo
modo ainda continua a ser, baseado na clássica teoria da treliça de Mörsch (figura 5), onde se
podem distinguir dois banzos (o superior constituído pela zona de compressão da viga e o
inferior constituído pelas armaduras longitudinais) e duas diagonais (umas de tracção -
estribos ou varões inclinados - e outras de compressão - betão da alma entre fendas. A
fendilhação, que surge na direcção das bielas de compressão, é suposta na treliça de Mörsch
fazer com o eixo da peça um ângulo θ aproximado aos 45º.

z (cotg θ + cotg α) sen θ


ao al
O C

α z /2
Fc Fs z
Fs
θ α θ
T
s
V z (cotg θ + cotg α) V

Fig. 5 – Treliça de Mörsch e sua generalização para uma inclinação qualquer das bielas.

De acordo com a figura 5 podemos deduzir expressões gerais dos esforços nos diversos
elementos da treliça para um valor de θ qualquer:

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 6 / 31


Estruturas Betão Armado

Forças interiores:

Fs = Asσ s
z
(cotgθ + cotgα )
s

Fc = σ c b z (cotgθ + cotgα ) senθ

Equilíbrio de forças:
V = Fs senα

V = Fc senθ

e, portanto:

V = Asσ s
z
(cotgθ + cotgα ) senα (1)
s

1
σc =V
b z (cotgθ + cotgα ) sen 2θ

Distância al

al =
z
(cotgθ − cotgα ) (2)
2

ou, eliminando cotgθ entre (1) e (2),

V s 1
al = - z cotgα
2 Asσ s senα

Equilíbrio de momentos em relação ao ponto A:

T z = V (ao + al )

e:

Vao Val M V
T= + = + (cotgθ − cotgα )
z z z 2

No quadro I estão estas expressões para o caso de θ = 45º .

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 7 / 31


Estruturas Betão Armado

θ = 45º

α qualquer α = 45º α = 90º

V Asσ s
z
(1 + cotg α ) sen α As σ s
z
2 Asσ s
z
s s s

1 V 2V
σc 2V
b z (1 + cotg α ) bz bz

+ (1 − cotg α )
M V M M V
T +
z 2 z z 2

al
z
(1 − cotg α ) -
z
2 2

QUADRO I – Expressões gerais dos esforços nos diversos elementos da treliça para um valor de θ = 45º .

A experimentação veio, porém, demonstrar que as tensões implantadas nas armaduras de


esforço transverso (estribos ou varões levantados), sob efeito das acções, eram sempre
inferiores aos valores teóricos deduzidos a partir da treliça de Mörsch ( θ = 45 º) e que,
portanto, tal esquema não era suficientemente correcto.

De facto, os resultados experimentais evidenciam que, normalmente, as fendas de esforço


transverso têm inclinações inferiores a 45º, podendo atingir valores da ordem dos 30º. Tal
facto alivia, consequentemente, as tensões nas armaduras de esforço transverso, aumenta as
tensões nas bielas e na armadura longitudinal de tracção. Por outro lado, a teoria da treliça não
tem em conta o efeito de arco que encaminha directamente para o apoio as cargas aplicadas
(figura 6).

Evidentemente que tal facto vai aumentar também a tensão na armadura longitudinal de
tracção, em relação à que aí se implanta só por efeito do momento flector.

Em resumo, tem-se que a determinação do esforço transverso resistente de um elemento de


betão armado, com armaduras específicas para absorver tal esforço, pode ser feita pela treliça
de Mörsch, mas devidamente corrigida para atender, pelo menos, ao facto das bielas

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 8 / 31


Estruturas Betão Armado

comprimidas serem inclinadas, em geral, a menos que 45º e, ainda, a que parte desse esforço
transverso é transmitido, por efeito de arco, directamente aos apoios.

Fig. 6 – Efeito de arco.

Na figura 7 reproduz-se um esquema, retirado dos artigos de Leonhardt já citado, onde se


exemplifica a parte de esforço que é absorvido pela treliça, pelo efeito de arco e por outros
factores, entre os quais o efeito de consola, o de ferrolho e o efeito de interbloqueamento dos
inertes, de que se falou anteriormente para os elementos sem armadura específica de esforço
transverso. Note-se que o parâmetro b / bw , ou seja, a relação entre a largura do banzo e a
largura da alma da viga, tem uma influência acentuada nas proporções em que o esforço
transverso se distribui, sendo o efeito de treliça mínimo para as vigas rectangulares.

V
outros efeitos

efeito de arco

treliça bw

1 2 3 6 15 b/b w

Fig. 7 - Factores que contribuem para a resistência ao esforço transverso.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 9 / 31


Estruturas Betão Armado

Há ainda a salientar que a regra da translação do diagrama dos esforços M / z que pretende
ter em conta o aumento das tensões na armadura longitudinal de tracção, que foi referido
anteriormente, quando se tratou de elementos sem armadura específica de esforço transverso,
encontra também uma justificação importante no caso presente, ou seja, de elementos em que
existam tais armaduras.

1.4. Forças aplicadas na vizinhança dos apoios

Uma força aplicada junto a um apoio transmite-se directamente a este (figura 8), sendo que
todos os outros efeitos de resistência ao esforço transverso, de que se falou anteriormente
(consola, ferrolho, interbloqueamento, treliça), têm pouca importância em face do efeito de
arco.

Haverá, portanto, nestas zonas um aumento da resistência ao esforço transverso, que será
dependente, como é evidente, da inclinação da biela comprida, o que pode ser traduzido cm
função da relação d / a v , ou seja, entre a altura útil da viga e a distância da carga ao apoio.

O CEB considera que neste caso a resistência ao esforço transverso se pode obter
multiplicando o valor corrente pelo factor 2d / a v , o que equivale a dizer que para

a v = 2d deixa de haver qualquer tratamento preferencial em relação à força concentrada.

av

Fig. 8 - Forças junto aos apoios

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 10 / 31


Estruturas Betão Armado

No caso da existência de varias forças concentradas, evidentemente que idêntico fenómeno se


verifica.

Note-se, no entanto, que o mecanismo referido constituído por uma biela de compressão e por
um tirante (armadura longitudinal) exige que tanto as forças que actuem na parte superior das
vigas como a armadura longitudinal resistam ao esforço em causa, sendo esta última
convenientemente amarrada no apoio.

1.5. Elementos submetidos a esforços normais de compressão

No caso dum elemento de betão armado, trabalhando à flexão, estar sujeito a um esforço
normal de compressão, quer devido a uma acção exterior, quer devido a um pré-esforço,
verifica-se que a sua resistência ao esforço transverso é maior do que a de igual elemento em
que o esforço normal não existisse.

A razão deste facto deve-se a vários factores, entre os quais se podem citar, como mais
importantes, os seguintes:

- A aplicação dum esforço normal de compressão a um elemento submetido à flexão faz


aumentar o momento correspondente à fendilhação de flexão, consequentemente, a
fendilhação de esforço transverso (formada, como se viu, a partir da fendilhação de
flexão) surge também para momentos mais elevados do que aqueles em que apareceria
se a compressão não existisse;

- O efeito de arco é bastante mais importante no caso da existência dum esforço normal
de compressão do que no caso da não existência de tal esforço, favorecendo,
significativamente, o aparecimento e a resistência da biela comprimida que descarrega
a solicitação no apoio.

Uma quantificação simplificada do fenómeno pode fazer-se impondo que o esforço transverso
resistente ( V ) dum elemento flectido sujeito à acção dum esforço normal de compressão, seja
obtido somando o esforço transverso relativo ao início da fendilhação por flexão ( V0 ), com o
esforço transverso correspondente ao acréscimo do momento flector até à formação completa
da fendilhação de flexão e de esforço transverso ( V1 ).

O valor V0 pode identificar-se com o que corresponde ao valor do momento que anula a

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 11 / 31


Estruturas Betão Armado

tensão de tracção na fibra inferior do elemento (momento de descompressão) e o valor V1


representa o esforço transverso resistente do elemento em causa, sem esforço normal.

Então temos:

V = V0 + V1

e como à esquerda do ponto de aplicação da força concentrada (figura 9):

M0
V0 =
x

fenda de esforço transverso


N
fenda de flexão

A
R x

Fig. 9 – Influência dos esforços normais de compressão na resistência ao esforço transverso.

em que M 0 é o momento de descompressão (secção A), ter-se-á, portanto:

M0 ⎛ M0 ⎞
V = + V1 = V1 ⎜⎜1 + ⎟⎟
x ⎝ V1 ⋅ x ⎠

e como:

V1 ⋅ x < M

em que M é o momento actuante na secção, surge:

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 12 / 31


Estruturas Betão Armado

⎛ M ⎞
V > V1 ⎜1 + 0 ⎟
⎝ M ⎠

Se tomarmos a igualdade entre os dois membros, evidentemente que ficamos do lado da


segurança.

Deve notar-se que poderá ocorrer outro tipo de fendilhação de esforço transverso que não
surge a partir de fendas de flexão, mas antes aparece a meio da alma do elemento flectido.
Esta fendilhação está relacionada com as tensões principais de tracção e com a tensão de
rotura do betão à tracção e é tida em conta no CEB impondo a condição:

M0
1+ ≤2
M

limitando superiormente a contribuição que uma compressão favorável poderá ter no


desempenho da peça ao Esforço Transverso.

1.6. Elementos de altura variável

A capacidade resistente ao esforço transverso de elementos de altura variável é, naturalmente,


influenciada pelas componentes verticais das forças que se desenvolvem nos banzos
comprimido e traccionado da treliça de Mörsch, uma vez que parte do esforço transverso
actuante é directamente absorvido por essas mesmas componentes verticais (figura 10).

M /z
βs
M/z.Tg ( β1 )

C
β1 C

V M z d V´ V
M/z.Tg ( β 2)

T
T
βi β2
M /z

Fig. 10 - Esforço transverso em elementos de altura variável.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 13 / 31


Estruturas Betão Armado

Para ter em conta tais efeitos bastará corrigir o valor do esforço transverso actuante, como
seguidamente se indica.

Designando por V e M os valores do esforço transverso e do momento flector actuantes, o


esforço transverso corrigido V tomará o valor:

V' =V −
M
(tg β1 + tg β 2 )
z

tomando:

tg β 1 tg β s
= e β2 = βi
z d

Ter-se-á:

⎛ tg β s tg β i ⎞
V ' =V − M⎜ + ⎟
⎝ d z ⎠

Relativamente aos sinais a atribuir a tg β s e a tg β i eles serão positivos quando, ao andar-se


ao longo do eixo do elemento, o braço do binário z e o momento flector variarem no mesmo
sentido.

Na figura 11 exemplificam-se algumas situações típicas, devendo notar-se que, enquanto nos
casos a) e b) a inclinação do banzo conduz a uma redução do esforço transverso actuante, no
caso c) , pelo contrário, verifica-se um acréscimo deste esforço.

c
c T

V V V
V´ V´ V´

a) b) c)
Fig. 11 - Variação do esforço transverso devido à inclinação dos banzos.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 14 / 31


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2. Disposições do REBAP

2.1. Generalidades

O Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA),


complementado pelo REBAP, estipulada as condições em que deve ser verificada a segurança
duma estrutura de betão armado.

É conveniente relembrar que a verificação da segurança ao esforço transverso é uma


verificação em relação a um estado limite último de resistência, em geral feita em termos de
esforços, e que consiste em satisfazer a condição:

VSd ≤ VRd

em que VSd é o valor de cálculo do esforço transverso actuante e VRd é o valor de cálculo do
esforço transverso resistente.

Note-se que no caso de elementos de altura variável haverá que corrigir o valor de VSd tal
como se indicou anteriormente. Também no caso de elementos pré-esforçados com cabos
inclinados há lugar à correcção do valor do esforço transverso actuante, diminuindo-o ou
aumentando-o do valor da componente vertical do pré-esforço, conforme esta for ascendente
ou descendente.

Relativamente à determinação dos valores dos esforços resistentes, o REBAP contém


disposições que seguem aproximadamente as disposições congéneres do MC78 do CEB,
filiando-se, portanto, nas teorias e experimentação de que anteriormente se procurou fazer um
resumo.

Assim, o REBAP estipula que, em geral, o valor de cálculo do esforço transverso resistente
(VRd ) pode ser calculado pela expressão:
VRd = Vcd + Vwd

em que o termo Vwd traduz a resistência das armaduras de esforço transverso segundo a teoria

da treliça de Mörsch (bielas inclinadas a 45º) e o termo Vcd representa, não só uma correcção

a fazer ao termo Vwd (por nele não se ter considerado o efeito de arco, nem o facto das bielas
terem em geral uma inclinação inferior a 45º), mas também uma parte do esforço transverso

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 15 / 31


Estruturas Betão Armado

absorvido por outros efeitos (ferrolho, consola, interbloqueamento dos inertes).

2.2. O termo Vwd

Como se disse, o termo Vwd corresponde à resistência das armaduras específicas de esforço
transverso segundo a teoria de Mörsch, em que a inclinação das bielas é de 45º.

Atendendo às expressões dadas no Quadro I deste capítulo1, podemos expressar:

Asw
Vwd = 0,9d f syd (1 + cotg α ) senα
s

em que:

- d é a altura útil da secção;

- Asw é a área da secção da armadura de esforço transverso (no caso de estribos


compreende os vários ramos do estribo);

- s é o espaçamento das armaduras de esforço transverso;

- f syd é o valor de cálculo da tensão de cedência ou da tensão limite convencional de

proporcionalidade a 0,2% do aço das armaduras de esforço transverso;

- α é o ângulo formado pelas armaduras de esforço transverso com o eixo do elemento.

2.3. O termo Vcd quando existem armaduras específicas de esforço transverso

O REBAP estipula que neste caso o termo Vcd pode ser calculado pela expressão:

Vcd = τ 1bw d

onde bw é a largura da secção (no caso de esta não ser constante dever-se-á tomar para este
valor a menor largura existente numa altura de três quartos da altura útil da secção, contada a
partir da armadura longitudinal de tracção), d é a altura útil da secção e τ 1 é uma tensão dada

z
1
Sendo V = Asσ s (1 + cotg α ) sen α , tomando z ≅ 0,9d, σ s = f syd .
s

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 16 / 31


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pela expressão

0,085
τ 1 = 0,085 f ck2 / 3 = f ctk = 0,4 f ctk = 0,6 f ctd
0,21

em que:

- f ck é o valor característico da resistência do betão à compressão;

- f ctk é o valor característico da resistência do betão à tracção;

- f ctd é o valor de cálculo da tensão de rotura do betão à tracção.

Os valores assumidos por τ 1 encontram-se no quadro seguinte:

Classe do betão B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 B55

τ 1 (MPa) 0,50 0,60 0,65 0,75 0,85 0,90 1,00 1,10 1,15

QUADRO II – Valores de τ1 .

Tal expressão que, como se referiu, se destina principalmente a corrigir os valores que se
obtém para o termo Vwd correspondente à treliça de Mörsch, é baseada em resultados
experimentais que evidenciam uma dependência directa da resistência do betão e conduz a
resultados do lado da segurança, normalmente.

O termo Vcd , independentemente de existirem ou não armaduras específicas de esforço


transverso, é susceptível, no entanto, de ser aumentado em duas circunstâncias que podem,
aliás, ser cumulativas:

• a primeira, quando existam cargas concentradas junto ao apoio e,

• a segunda, quando existe um esforço de compressão actuante no elemento.

Sobre esta matéria o REBAP estipula que nas zonas junto dos apoios e numa distância igual a
2d , contada a partir do eixo do apoio, o valor de Vcd a considerar pode obter-se a partir do

definido anteriormente, multiplicando-o pelo factor:

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 17 / 31


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VSd
VSd ,red

em que VSd é o valor de cálculo do esforço transverso actuante e VSd ,red é o valor de cálculo

do esforço transverso reduzido, considerando que, na zona em causa, as cargas são minoradas
a
na proporção de , sendo a a distância de cada carga ao eixo do apoio.
2d

Esta correcção, que tem interesse no caso da existência de fortes cargas concentradas, só pode
contudo ser utilizada se as cargas são aplicadas de modo a formar biela de compressão
diagonal com a reacção de apoio. Além disso, no caso de apoios extremos com liberdade de
rotação (ou fraco grau de encastramento), a armadura longitudinal de tracção necessária na
secção de aplicação das cargas deve ser prolongada até ao apoio e aí convenientemente
amarrada. No caso de apoios intermédios de elementos contínuos, a armadura de tracção
necessária na secção do apoio deve ser prolongada até à secção de aplicação das cargas e
amarrada para além dessa secção.

No caso de elementos sujeitos a flexão composta com compressão (ou pré-esforço), os valores
de Vcd podem ser majorados, como atrás se demonstrou, pelo factor:

M0
1+
M Sd

em que M Sd é o valor de cálculo do momento actuante e M 0 é o momento que aplicado à


secção, anularia a tensão de compressão resultante do esforço normal actuante de cálculo e do
pré-esforço de cálculo na fibra extrema da secção que, por acção exclusiva de M Sd , ficaria
traccionada.

O valor deste último factor não deve ser tomado superior a 2, e para o cálculo de M 0 –
momento de descompressão – devem adoptar-se as hipóteses correspondentes a considerar-se
a fase não fendilhada do betão e comportamento elástico perfeito dos materiais. Os momentos
M Sd e M 0 devem ser referidos à secção em estudo, obviamente.

Uma outra disposição do REBAP, aliás constante também do MC78 do CEB, é a que estipula
que o termo Vcd deve ser considerado igual a zero se o elemento estiver sujeito a esforços
normais de tracção significativos, isto é, tais que a fibra neutra, determinada com base nas

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 18 / 31


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hipóteses estipuladas para a determinação da capacidade resistente à flexão, se situe fora da


secção (toda a secção está traccionada).

De facto, a existência de tracções em toda a altura da secção, prejudica, só por si e


intuitivamente, a mobilização do atrito entre as faces das fissuras.

2.4. O termo Vcd quando não existem armaduras específicas de esforço transverso

Convém, primeiramente, chamar a atenção para que, em geral, os elementos de betão armado
devem dispor duma armadura mínima de esforço transverso, pois, no caso contrário, não
poderá evitar-se uma elevada dispersão dos valores da sua resistência ao esforço transverso.

Esta imposição poderá ser dispensada no caso de lajes, quer porque este tipo de elementos
apresentam grande capacidade de redistribuição de esforços, quer porque, normalmente, as
tensões tangenciais nelas desenvolvidas são pouco elevadas.

Resulta, assim, que só para as lajes o REBAP permita a não existência duma armadura
mínima de esforço transverso, sendo então o esforço resistente dado pela seguinte expressão:

V Rd = Vcd = 0,6(1,6 − d )τ 1bw d

na qual o factor (1,6 − d ) , com d expresso em metros, não deve ser tomado inferior à
unidade.

A justificação desta expressão encontra-se no MC78 do CEB e é exposta seguidamente.

Em primeiro lugar, no MC78 do CEB, como aliás duma maneira geral em toda a literatura da
especialidade, há um tratamento totalmente diferenciado para os problemas de resistência ao
esforço transverso de elementos com armaduras específicas e de elementos que não
contenham tais armaduras. Neste segundo caso, que é o que presentemente interessa, o MC78
preconiza a expressão:

V Rd = τ Rd η (1 + 50 ρ )bw d

em que:

- VRd é o valor de cálculo do esforço transverso resistente;

- η = 1,6 − d , mas não menor a 1 (com d expresso em metros);

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 19 / 31


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0 , 035
- τ Rd = 0 , 035 f ck2 / 3 = f ctk = 0 ,17 f ctk = 0 , 25 f ctd ;
0 , 21

- ρ é a percentagem de armadura longitudinal;

- bw é a largura da alma do elemento;

- d é a altura útil.

Na expressão em causa figuram os parâmetros que, como se viu anteriormente (em 1.2),
influenciam o comportamento, como seja a percentagem de armadura longitudinal
(deformabilidade do tirante), a altura do elemento (efeito de interbloqueamento dos inertes e
rigidez das consolas) e a resistência do betão.

Se nessa expressão se tomar ρ = 0,008 e se relacionarmos o valor de τ Rd = 0,25 f ctd com o

valor de τ 1 = 0,6 f ctd , isto é, τ Rd = 0,42τ 1 , obter-se-á exactamente a expressão do REBAP que
não é mais do que a preconizada pelo MC78, em que, por simplificação prática (contudo nem
sempre do lado da segurança) se fixou a percentagem de armadura longitudinal em 0,8%.

Ainda como se viu, o REBAP permite também (e é até para esta situação da não existência de
armaduras de esforço transverso que os comportamentos em causa são directamente
deduzidos) que no presente caso o valor de cálculo do esforço resistente sofra acréscimos
quando da existência de cargas concentradas junto dos apoios ou quando os elementos
estejam submetidos a esforços de compressão apreciáveis. Os dois efeitos podem ser
cumulativos e a sua quantificação é feita da forma indicada em 2.3.

2.5. Valor máximo do esforço transverso resistente

Para atender a que uma das possíveis formas de rotura por esforço transverso, no caso da
existência de armadura específica para absorver este esforço, corresponde ao esgotamento da
resistência das bielas comprimidas da treliça, há que limitar a tensão de compressão nestas, o
que, para efeitos práticos, se consegue limitando, para uma dada secção, o valor do esforço
transverso que ela é capaz de absorver.

O REBAP fixa, para tal, valor o seguinte:

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 20 / 31


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⎧VRd = Vcd + Vwd



⎩VRd ≤ τ 2 bw d

com τ 2 = 0,3 f cd , sendo f cd o valor de cálculo da tensão de rotura do betão à compressão. Os

valores de τ 2 são os do quadro III.

Classe do betão B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 B55

τ 2 (MPa) 2,4 3,2 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0

QUADRO III – Valores de τ2.

Observe-se que o valor de τ 2 deveria, em princípio, ser função do facto das armaduras
específicas de esforço transverso serem constituídas por varões a 90º ou inclinados a 45º, pois
as tensões nas bielas comprimidas (figura 5) são no primeiro caso duplas das que lhe
correspondem no segundo caso, podendo identificar-se, dum ponto de vista prático, com os
valores de 2τ 2 e τ 2 , respectivamente.

A adopção do valor único τ 2 = 0,3 f cd conduzirá, portanto, no caso de estribos verticais, a

tensões máximas nas bielas comprimidas da ordem de 0,6 f cd enquanto que tais tensões não

excederão 0,3 f cd no caso de varões inclinados a 45º. Existe, assim, uma segurança adicional
neste último caso em comparação com o primeiro, em que o valor máximo da tensão de
compressão é relativamente elevado, tendo em conta não só a possibilidade de fendimento e
destacamento do betão das bielas comprimidas, devido à existência de armaduras no seu
interior, mas também ao eventual surgimento de encurvadura nos estribos verticais.

2.6. Constituição das armaduras e espaçamento dos varões

As armaduras de esforço transverso podem ser constituídas por varões inclinados ou por
estribos, podendo estes ser inclinados segundo o eixo do elemento ou normais a este.

A literatura da especialidade é unanime em evidenciar as vantagens de utilização de estribos

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 21 / 31


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(verticais ou inclinados) em vez de varões inclinados, o que se justifica não só porque os


estribos permitem uma melhor distribuição de armadura, como asseguram a cintagem e a
ligação eficaz dos banzos traccionado e comprimido de treliça de Mörsch.

Muitos regulamentos fixam mesmo uma percentagem mínima do esforço transverso que deve
ser absorvido por estribos, no caso em se utilizam conjuntamente estribos e varões inclinados.
O REBAP, embora não quantifique tal percentagem, sugere também que se dê preferência à
utilização de estribos.

Os estribos devem abranger a totalidade da altura da viga, os seus ramos não devem estar
espaçados mais do que essa altura, com um máximo de 60 cm, devendo envolver as
armaduras longitudinais e, nas suas extremidades, devem existir ganchos ou, pelo menos,
cotovelos no caso de varões de alta aderência. Recomenda-se, além disso, para valores
elevados de esforço transverso, o emprego de estribos fechados.

Quanto ao espaçamento dos estribos, o esquema da treliça obriga, para que qualquer fenda a
45º seja atravessada por armaduras, a que ele seja no máximo igual a 0,9d (1 + cotgα ) , o que
para estribos verticais conduz ao valor 0,9d .

É, porém, necessário, quando os esforços transversos são grandes, diminuir tal espaçamento a
fim de permitir uma boa distribuição da armadura e, como tal, um melhor controle da
fendilhação devida a esforço transverso. Nesse sentido o REBAP estipula os seguintes valores
para estribos verticais:

1
Nas zonas em que VSd ≤ τ 2 bw d : s ≤ 0,9d , com o máximo de 30 cm.
6

1 2
Nas zonas em que τ 2 bw d < VSd ≤ τ 2 bw d : s ≤ 0,5d , com o máximo de 25 cm.
6 3

2
Nas zonas em que VSd > τ 2 bw d : s ≤ 0,3d , com o máximo de 20 cm.
3

Nestas expressões s é o espaçamento dos estribos e VSd é o valor de cálculo do esforço

transverso actuante. No caso de estribos inclinados dum ângulo α , os valores anteriores


podem ser multiplicados por (1 + cotgα ) , não excedendo, porém, em qualquer caso 30 cm.

No que se refere ao espaçamento dos varões inclinados, ele não deve exceder
0,9d (1 + cotgα ) , o que para varões a 45º conduz ao valor 1,8d , que deve porém ser reduzido

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 22 / 31


Estruturas Betão Armado

2
para metade quando o valor de cálculo do esforço transverso actuante, VSd , exceder τ 2 bw d .
3

2.7. Armadura mínima de estribos

Como já se referiu, a fim de evitar grande dispersão no comportamento, toma-se em geral


necessário dispor duma armadura de esforço transverso mesmo naqueles casos em que, em
princípio, tal não seria necessário.

Tal armadura, no caso das vigas, deve ser constituída por estribos e numa quantidade tal que
evite roturas súbitas dos varões quando surja a fendilhação do betão (roturas frágeis). Deste
facto deriva a imposição de dispor de uma percentagem mínima de armadura que deveria, em
princípio, ser função da resistência do betão do elemento e da resistência do aço dessa
armadura. No entanto, por simplificação, o REBAP fixa as percentagens em causa apenas
atendendo ao tipo de aço. Tais percentagens, ρ w , são definidas pela expressão

Asw
ρw = × 100
bw s senα

em que:

- Asw é a área total da secção transversal dos vários ramos do estribo;

- bw é a largura da alma da secção considerada;

- s é o espaçamento dos estribos;

- α é o ângulo formado pelos estribos com o eixo da viga.

Em geral o valor de ρ w não deve ser inferior a 0,16 para o aço A235, a 0,10 para o aço A400
e a 0,08 para o aço A500. No entanto, se a viga tiver dimensões tais que para absorver o
esforço transverso actuante não seja, em princípio, necessário dispor de armadura específica,
ou seja, se tivermos VSd < τ 1bw d , os valores das percentagens mínimas de estribos
anteriormente fixados podem ser reduzidos multiplicando-os por

VSd
τ 1 bw d

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 23 / 31


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2.8. Translação do diagrama de momentos

Nas secções anteriores por várias vezes foi chamada a atenção para que, devido à formação de
fendas de esforço transverso, as tensões nas armaduras longitudinais de tracção dos elementos
submetidos à flexão são maiores do que as que se obtêm pela simples consideração dos
momentos flectores actuantes. Tal facto dá lugar à obrigatoriedade da translação do diagrama
de momentos para o dimensionamento das armaduras longitudinais, o que aliás é considerado
no REBAP quando trata do assunto em causa.

É evidente que tal problema não diz directamente respeito à determinação da resistência ao
esforço transverso, mas, dado que com este esforço está ligado, faz-se seguidamente um
resumo das disposições regulamentares pertinentes.

Assim, o REBAP especifica que a armadura longitudinal de tracção das vigas só pode ser
interrompida desde que garanta a absorção das forças de tracção correspondentes a um
diagrama obtido por translação, paralela ao eixo da viga, do diagrama de M Sd / z , em que

M Sd é o valor de cálculo do momento actuante numa dada secção e z é o braço do binário das
forças interiores na mesma secção, (figura 12).

al

b a

al al
a
b

al al

a - diagrama Msd/z (Msd - valor de cálculo do momento flector actuante)

b - diagrama das forças de tracção a absorver pela armadura

Fig. 12 – Translação do diagrama de momentos.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 24 / 31


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O valor da translação al depende do valor de cálculo do esforço transverso actuante, VSd , e


do tipo de armadura de esforço transverso, de acordo com o que a seguir é indicado.

2
Nas zonas em que VSd ≤ τ 2 bw d :
3

al = d (no caso de estribos verticais)

al = 0,75d (no caso de estribos verticais associados a varões


inclinados a 45º)

al = 0,5d (no caso de estribos inclinados a 45º)

2
Nas zonas em que VSd > τ 2 bw d :
3

Os valores indicados anteriormente para al poderão ser

diminuídos de 0,25d

O valor fixado para a translação al está nas suas linhas gerais de acordo com a expressão
aplicável que consta da página 7, pois aumenta quando se passa de estribos a 45º para estribos
a 90º (acréscimo do ângulo α ), mas diminui quando aumenta a percentagem de armadura de
esforço transverso.

3. Exemplos de aplicação

3.1. Exemplo 1

Vamos considerar a viga em betão armado a seguir representada sujeita à flexão simples.

Dados: Secção: (0,30x0,60) m2

Ambiente pouco agressivo

B25 ( τ 1 = 0,65 MPa e τ 2 = 4,0 MPa )

A400NR (fsyd = 348 MPa)

Determinar a capacidade resistente ao esforço transverso da viga esquematizada na figura 13.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 25 / 31


Estruturas Betão Armado

2Ø12 2Ø12

0,60
4Ø25
1,50 4Ø25
0,30
Est. 2 r Ø8//0.15 m Est. 2 r Ø6//0.20 m

Fig. 13 – Esquema de viga para verificação da capacidade resistente ao esforço transverso.

a) Valor de cálculo do esforço transverso resistente VRd na zona de Est. φ 8mm//0,15m


(Artº 53.1)

VRd = Vcd + Vwd

Determinação de Vcd (Art.º 53.2)

Vcd = τ 1 bw d τ 1 = 0,65 MPa

bw = 0,30 m

(Art.º 78.2 – recobrimento mínimo 2,0 cm não devendo ser inferior ao diâmetro das armaduras
ordinárias, neste caso recob.=2,5cm )

1
d = h - ( recob. + φ est. + φ arm. ord. )
2

⇒ d = 0,60 - ( 0,025 + 0,008 + 0,0125 ) = 0,555 ≈ 0,55m

Logo,

Vcd = 0,65 × 103 × 0,30 × 0,55 ≈ 107 kN

Determinação de Vwd (Art.º 53.3)

A sw
Vwd = 0,9 d f syd (1 + cotgα ) senα
s

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 26 / 31


Estruturas Betão Armado

Est. φ 8mm de 2 ramos = 1,01cm2

s = 0,15m

fsyd – 348 MPa (Artº 25.1)

Logo,

1,01 × 10 -4
Vwd1 = 0,9 × 0,55 × × 348 × 10 3 × (1 + 0) × 1 ≈ 116 kN
0,15

Portanto,

VRd = 107 + 116 = 223 kN

Valor máximo do esforço transverso resistente (Art.º 53.4)

VRd ≤ τ 2 bw d

τ 2 = 4,0 MPa
Logo,

223 ≤ 4,0 × 103 × 0,30 × 0,55 = 660 kN (verifica)

Armadura de esforço transverso (Art.º 94)

A distância entre 2 ramos consecutivos do mesmo estribo não deve exceder a altura útil da
viga nem 60 cm (Art.º 94.1)

temos s = 0,15 m (verifica)

Percentagem mínima de estribos (Art.º 94.2)

A sw 1,01E - 4
ρw = × 100 ⇒ ρw = × 100 ≈ 0,22 > 0,10 ( verifica)
b w s sin α 0,30 × 0,15 × 1

Espaçamento dos estribos s, no caso de estribos normais ao eixo da viga (Art.º 94.3)

Nas zonas em que VSd ≤


1
τ 2 bw d
6

s ≤ 0,9 d, com o máximo de 30 cm

1
Vsd ≤ × 4,0 × 10 3 × 0,30 × 0,55 ⇒ 223 kN > 110 kN (não é o caso)
6

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 27 / 31


Estruturas Betão Armado

Nas zonas em que


1
τ 2 bw d < VSd ≤
2
τ 2 bw d
6 3

s ≤ 0,5 d, com o máximo de 25 cm

⇒ 110 kN < 223 kN < 440 kN (estamos nesta condição)

logo,

s ≤ 0,5 d ≤ 0,5 × 55 ≤ 27, 5 cm ; temos s = 0,15 m (verifica)

Nas zonas em que VSd >


2
τ 2 bw d > 440 kN (não é o caso)
3

s ≤ 0,3d, com o máximo de 20cm

b) Valor de cálculo do esforço transverso resistente a partir da transição de


Est. φ 8mm//0,15 m para Est. φ 6mm//0,20 m

VRd = Vcd + Vwd

Vcd =107KN

A sw
Vwd = 0,9 d f syd (1 + cotgα ) sinα
s
0,56 × E - 4
Vwd2 = 0,9 × 0,55 × × 348E3 × (1 + 0) × 1 ≈ 48 kN
0,20
Logo,

VRd = 107 + 48 = 155kN

Percentagem mínima de estribos (Art.º 94.2)

A sw 0,57 E - 4
ρw = × 100 ⇒ ρw = × 100 ≈ 0,10 = 0,10 ( verifica)
b w s sin α 0,30 × 0,20 × 1

Nota: O Art.º 94.3 também verifica como atrás foi visto.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 28 / 31


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c) Comentários

A viga dada está sujeita, na secção mais desfavorável, a um esforço transverso actuante
máximo VSd = 223 kN e a 1,50m do apoio a VSd = 155 kN , que corresponde ao diagrama a
seguir representado (no caso de uma carga uniformemente distribuída):

Vsd (KN)
Vsd <= t1 bw d

Armadura mínima de Esforço Transverso


223 kN
155 kN Vsd <= t1 . bw . d = Vcd
Vwd1
Vwd2
107 kN

Vcd A

1,50 L(m)

Fig. 14 – Diagrama dos esforços transversos.

Poder-se-ia, de acordo com o Art.º 94.2, calcular a distância a partir da qual VSd < τ 1 b w d <107
kN (zona A), isto é, distância a partir da qual o betão resistiria por si só ao esforço transverso
actuante e reduzir a percentagem mínima de estribos multiplicando-os pela relação
VSd / τ 1 b w d , em que VSd é o valor de cálculo do esforço transverso actuante.

Teríamos contudo de observar o disposto no Art.º 94.3 (s ≤ 0,9d, com o máximo de 30cm).

3.2. Exemplo 2

Determinar a armadura de esforço transverso (estribos verticais) necessária para absorver um


esforço transverso de cálculo de 180 kN, numa viga de secção rectangular com 30 cm de base
e 45 cm de altura útil. O betão é da classe B30 e o aço é da classe A400.

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 29 / 31


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Resolução:

Dados

f syd = 348 MPa = 348 × 10 3 kN/m 2

τ 1 = 0,75 MPa = 0,75 × 10 3 kN/m 2 τ 2 = 5,0 MPa = 5 × 10 3 kN/m 2

bw = 0,30 m d = 0, 45 m

VSd = 180 kN

ρ w = 0,10

VRd , max = τ 2bw d = 5,0 × 103 × 0,30 × 0,45 = 675 kN

temos:

Vsd = 180 kN < 675 kN = Vrd (verifica).

Vcd = τ 1bw d = 0,75 × 10 3 × 0,30 × 0,45 = 101,25 kN

VSd = Vcd + Vwd ⇒ Vwd = 180 − 101,25 = 78,75 kN

Armadura mínima

Asw A 0,10 × 0,30 × sen 90º


ρw = × 100 ⇒ sw = = 0,0003 m4/m = 3,00 cm2/m
bw s sen α s 100

Armadura necessária

Asw
Vwd = 0,9d f syd (1 + cotg α ) sen α
s

Asw 78,75
= = 0,00056 = 5,60 cm2/m > 3,00 cm2/m
s 0,9 × 0,45 × 348 × 10 3

Espaçamento dos estribos

1 5,0 × 10 3 × 0,30 × 0,45


• τ 2 bw d = = 112,5 kN
6 6

2 2 × 5,0 × 10 3 × 0,30 × 0,45


• τ 2 bw d = = 450 kN
3 3

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 30 / 31


Estruturas Betão Armado

Temos,

1 2
τ 2 bw d < 180 < τ 2 bw d ⇒ s ≤ 0,5d , com o máximo de 25 cm
6 3

s ≤ 22,5 cm

Adoptando estribos de 2 ramos de φ 8 , teríamos:

Asw = 2 × 0,50 = 1,00 cm2

Asw 1,00
= 5,60 cm2/m ⇒ s= = 0,178 m < 22,5 cm (satisfaz)
s 5,60

Poder-se-ia utilizar estribos com φ 8 espaçados 17 cm .

Vigas / Esforço Transverso Capítulo III – 31 / 31


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CAPITULO IV

TORÇÃO

1. Abordagem global

1.1. Generalidades

As considerações gerais que se podem fazer relativamente à torção são as mesmas que,
anteriormente, foram feitas a propósito do esforço transverso, ou seja, o assunto está longe de
ter alcançado um tratamento teórico totalmente satisfatório. No entanto, nos últimos anos, têm
sido nesse sentido desenvolvidos muitos esforços, do que resultou dispor-se, presentemente,
de teorias que servem bem os fins práticos a que se destinam.

Diga-se, porém, que ao contrário do que sucede para o esforço transverso, em que o CEB
preconiza dois métodos – um simplificado, "standard", e outro mais rigoroso, "accurate" – no
caso da torção apenas é especificado o "accurate" baseado na teoria da plasticidade com
inclinação variável das bielas comprimidas. É tal método, consequentemente, que se expõe no
que se segue, até porque nele se fundamenta o REBAP quando trata desta matéria, tendo
porém, como adiante se verá, introduzido algumas simplificações.

Uma questão que convém desde já abordar é a distinção entre torção de compatibilidade e
torção de equilíbrio.

Designa-se por torção de compatibilidade (figura 1) aquela que resulta para um elemento
duma estrutura em virtude de condições de compatibilidade de deformação: se a resistência à
torção for nula há possibilidade de grandes deformações e fendilhação excessiva, mas a
estrutura é estável, ou seja e sobretudo, está salvaguardo o seu equilíbrio estático.

Pelo contrário, na torção de equilíbrio é necessário existir resistência à torção para que este
equilíbrio se verifique: na falta de resistência à torção a estrutura, ou parte dela, a mesma é
instável.

Vigas / Torção Capítulo IV – 1 / 22


Estruturas Betão Armado

Atendendo às definições dadas, compreende-se que, quando estejam em consideração apenas


estados limites últimos, só seja, em princípio, de ter em conta a torção de equilíbrio. A torção
de compatibilidade interessa fundamentalmente os estados limites de utilização (controle de
fissuração e, eventualmente, de deformação).

Conceitos genéricos de tipos de Torção

Torção de equilibrio Torção de compatiblidade

Fig. 1 – Torção de equilíbrio e torção de compatibilidade.

1.2. Elementos de secção oca de parede fina

O modelo mais frequentemente utilizado para analisar o comportamento de elementos de


betão armado sujeitos a torção circular é o que se baseia na hipótese de que, depois de surgir a
fendilhação, se forma uma treliça espacial (figura 2) que equilibra o momento torsor,
desenvolvendo forças de tracção nas armaduras longitudinais situadas na periferia da secção,
forças de tracção nas armaduras transversais (estribos), e forças de compressão nas bielas de
betão entre fendas, inclinadas em relação ao eixo do elemento dum ângulo θ .

Este modelo, tal como aqui foi exposto simplificadamente, pressupõe uma torção pura (sem
outros esforços em conjunto), contudo o mesmo à adaptável mesmo na presença de outros
efeitos, embora corrigido, como veremos.

Vigas / Torção Capítulo IV – 2 / 22


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Varões longitudinais Estribos

Σl=u
As - área do varão dos estribos
Fendas
Al - área dda totalidade dos varões longitudinais
l
τ= T
2 Ae he
T
θ

s Área interior Ae

l cotg θ

lc
os
θ
F F F
θ
l Fs Fc Fs Fc Fs τ Fs Fc
θ
F F

Esquema da treliça por face

Fig. 2 – Esquema da treliça espacial.

l cot gθ
Forças interiores: Fs = Asσ s
s

∑F = Aσ l s

Fc = σ c he l cosθ

Tl
Equilíbrio de forças: Fs = τhe l ∴ Fs =
2 Ae

Tu
∑F = ∑F s cot gθ ∴ ∑ F = 2A cot gθ
e

Fs Tl
Fc = ∴ Fc =
senθ 2 Ae senθ

As Al
e portanto: T = 2 Ae σ s cot gθ ∴ T = 2 Ae σ s t gθ
s u

T
σc =
2 Ae he senθ cosθ

Vigas / Torção Capítulo IV – 3 / 22


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As Al
Para θ = 45º : T = 2 Ae σs ∴ T = 2 Ae σs
s u

T
σc =
Ae he

No caso de elementos de secção oca (figura 2), o momento torsor, T, quando se dá a


plastificação, origina um fluxo de tensões tangenciais que, quer pela analogia da acumulação
da areia, quer pela fórmula de Bredt, é dado por:

T
τ=
2 Ae he

em que Ae representa a área interior à linha média da secção oca e he é a espessura da parede
dessa secção.

Partindo desta expressão e atendendo às equações de equilíbrio, acima estão deduzidos dois
valores para o momento torsor, um em que entram os estribos, outro em que entram as
armaduras longitudinais e, ainda, uma expressão que dá o valor da tensão de compressão nas
bielas. Em todas as expressões deduzidas figura o ângulo de inclinação das bielas, θ .

Ora, o critério de rotura da teoria da plasticidade obriga a que sejam atingidas as tensões de
cedência nas armaduras longitudinais e nos estribos, o que, evidentemente, só se consegue
fazendo variar o ângulo θ . Tal facto verifica-se nos ensaios, verificando que ao aumentar o
momento torsor há uma redistribuição de esforços pelas duas armaduras, acompanhada duma
variação do ângulo θ .

Tal variação, segundo Thurliman, para que a largura das fendas se mantenha dentro de certos
limites e não haja uma deterioração completa do efeito de interbloqueamento dos inertes, deve
estar compreendida entre 1 / 2 ≤ cot gθ ≤ 2 , ou seja, o ângulo θ pode variar entre,
aproximadamente 26,6º e 63,4º. Segundo o MC78 do CEB, do lado da segurança, são
admitidas variações para e entre 31º e 59º ( 3 / 5 ≤ cotgθ ≤ 5 / 3 ).

Chama-se a atenção para que o que ficou dito diz respeito a um comportamento depois da
peça fendilhada, pois antes da fendilhação, há apenas que contar com a resistência do betão,
praticamente.

Observe-se ainda que o aparecimento da fendilhação faz cair abruptamente a rigidez da peça à

Vigas / Torção Capítulo IV – 4 / 22


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torção. Idêntico fenómeno se passa para a flexão, mas a queda que se verifica é, neste último
caso, bastante menor.

Finalmente, no que se refere à possível rotura por esmagamento do betão das bielas
comprimidas, ela é normalmente evitada pela adopção de valores de cálculo da resistência do
betão à compressão, suficientemente seguros, que têm em conta não só os valores das tensões
de compressão deduzidos atrás, mas também os importantes acréscimos dessas tensões
devidos à distorção das paredes que constituem os lados da peça (figura 3).

A B

CORTE A - B
T

Fig. 3 – Distorção das paredes das peças.

1.3. Elementos de secção cheia

Por via teórica e experimental foi possível concluir que, no caso da torção de elementos de
betão armado de secção cheia, a parte interior da secção pouca ou nenhuma influência tem na
capacidade resistente da peça. Assim, as secções cheias podem ser tratadas como secções
ocas, sendo-lhes então arbitradas uma espessura de parede fictícia, hef , a que corresponde

uma área interior à linha média dessas paredes, Aef .

Os ensaios mostraram também que o valor de hef pode ser tomado igual a 1/6 do diâmetro do

maior círculo inscrito no polígono cujos vértices coincidem com a posição dos varões da
armadura longitudinal (figura 4).

Vigas / Torção Capítulo IV – 5 / 22


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d
hef = 6

d
Fig. 4 – Espessura fictícia das secções cheias.

No caso porém de secções compostas de rectângulos (secções em T, L ou U) a aplicação das


regras anteriores encontra uma justificação bastante mais precária, razão que se supõe
justificar o facto de na edição final do MC78 do CEB tais tipos de secções não serem
considerados. No entanto, numa edição preliminar eram tidas em conta, aceitando-se que as
regras dadas no parágrafo anterior para a determinação de Aef e hef fossem primeiramente

aplicadas a cada um dos rectângulos componentes, suprimindo-se depois as partes comuns, de


forma a obter uma única secção oca fictícia.

Impunha-se ainda que tal processo de cálculo devia ser aplicado somente se a relação h / b
entre os lados maior e menor de cada rectângulo fosse no máximo igual a 3. Se tal relação
fosse maior que 3 apenas devia ser considerada a secção com h = 3b .

1.4. Torção associada a flexão

No caso da existência de acções que provoquem esforços de torção simultaneamente com


esforços de flexão é possível deduzir as seguintes expressões para curvas de interacção dos
dois esforços (secções rectangulares, armaduras longitudinais nos cantos):

- Admitindo cedência das armaduras longitudinais superiores:


2
⎛ Tu ⎞ M u Asl ,inf
⎜⎜ ⎟⎟ − ⋅ =1
⎝ TM =0 ⎠ M T =0 Asl ,sup

Vigas / Torção Capítulo IV – 6 / 22


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- Admitindo cedência das armaduras longitudinais inferiores e dos estribos:


2
⎛ Tu ⎞ Asl ,sup Mu
⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ + =1
⎝ TM =0 ⎠ Asl ,inf M T =0

em que:

- Tu é o esforço resistente último de torção;

- TM =0 é o esforço resistente último de torção para um momento flector nulo;

- M u é o esforço resistente último de flexão;

- M T =0 é o esforço resistente último de flexão para um momento torsor nulo;

- Asl ,sup é a secção da armadura longitudinal junto à face superior;

- Asl ,inf é a secção da armadura longitudinal junto à face inferior.

No caso de se considerar o ângulo de inclinação das bielas com o valor fixo de 45º, as
expressões são idênticas, apenas desaparecem os quadrados dos termos de torção.

Na figura 5 apresentam-se os diagramas correspondentes às expressões anteriores nos casos


de armaduras longitudinais iguais nos quatro cantos e θ = 45º , bem ainda como para
armaduras longitudinais inferiores com três vezes a área das armaduras superiores e θ = 45º
ou θ variável.

A análise das expressões de interacção e dos diagramas que as representam permite fazer as
seguintes observações:

- A interacção torção-flexão depende muito da distribuição na secção da armadura


longitudinal ( Asl ,inf / Asl ,sup );

- A existência duma flexão é benéfica para a resistência à torção no caso da secção das
armaduras longitudinais inferiores ser superior à secção das armaduras longitudinais
superiores. Com efeito, após se ter atingido a cedência nas armaduras superiores (as
inferiores têm uma secção maior), devido apenas à actuação do momento torsor, o
efeito do momento flector vai aliviar essas armaduras (figura 6) e o esgotamento da

Vigas / Torção Capítulo IV – 7 / 22


Estruturas Betão Armado

capacidade resistente só se dá para um momento torsor maior, quando a cedência se


verifica em todas as armaduras longitudinais;

- Não há qualquer aumento de resistência à torção pela existência de flexão quando a


armadura longitudinal esteja simetricamente distribuída na secção; neste caso haverá
sempre diminuição de tal resistência;

- A resistência à flexão é sempre diminuída pela actuação simultânea da torção.

Tu
TM = 0

cedência 2
cedência Asl,inf
=3
√3 Asl,sup

√2
Asl,inf
=1 cedência de estribo θ = 45º
Asl,sup

cedência 1 flexão dominante cedência


torção dominante

θ = 45°

θ variável

-1 - 1/3 0 + 1/3 +1 Mu
MT = 0

Fig. 5 – Diagramas de interacção torção-flexão.

T F T+F
T F T+F

T F T+F
T F T+F

Torção Flexão Torção + Flexão

Fig. 6 – Forças nas armaduras longitudinais na torção associada a flexão.

Vigas / Torção Capítulo IV – 8 / 22


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1.5. Torção associada a flexão e a esforço transverso

É possível para a acção simultânea de torção, flexão e esforço transverso calcular curvas da
interacção da mesma forma que o foi anteriormente para a acção combinada de apenas torção-
flexão. As conclusões, do ponto de vista prático, a tirar de tais curvas não diferem, porém,
grandemente, do que aí foi dito. Deve, no entanto, chamar-se a atenção para que as tensões
tangenciais se vão repartir desigualmente pelas faces do elemento (figura 7), havendo,
contudo, uma face em que as tensões tangenciais devidas à torção se somam às tensões
tangenciais devidas ao esforço transverso.

τT τT
τT τV τT+τV

τT τV τT+τV
τT τT
Torção Torção + Esforço
Esforço transverso
transverso

Fig. 7 - Tensões tangenciais na torção associada a esforço transverso.

2. Disposições do REBAP

2.1. Generalidades

A verificação da segurança em relação ao estado limite último dos elementos sujeitos a


esforços de torção consiste em satisfazer a condição:

TSd ≤ TRd

em que TSd é o valor de cálculo do momento torsor actuante e TRd é o valor de cálculo do
Vigas / Torção Capítulo IV – 9 / 22
Estruturas Betão Armado

momento torsor resistente.

Da mesma forma que para o esforço transverso o REBAP trata do problema da determinação
do momento torsor resistente apoiando-se nas disposições do MC78 do CEB, que
anteriormente se resumiram, adopta, porém, a hipótese simplificada de considerar a inclinação
das bielas comprimidas constante e igual a 45º.

Assim estipula-se que o valor de cálculo do momento torsor resistente, TRd , é dado pelo
menor dos valores obtidos pelas expressões seguintes:

TRd = Tcd + Ttd

TRd = Tld

O termo Ttd refere-se à contribuição da armadura transversal (estribos) e é dado por (ver 1.2):

Ast
Ttd = 2 Aef f syd
s

em que:

- Aef é a área interior à linha média das paredes da peça no caso de secções ocas ou da

secção oca eficaz no caso de secções cheias (a secção oca eficaz é definida em 2.2);

- Ast é a área da secção do varão dos estribos;

- s é o espaçamento dos estribos;

- f syd é o valor de cálculo da tensão de cedência ou da tensão limite convencional de

proporcionalidade a 0,2% do aço dos varões dos estribos.

Quanto ao termo Tld , ele refere-se à contribuição da armadura longitudinal e é dado por (ver
1.2):

Asl
Tld = 2 Aef f syd
u ef

em que:

- Asl é a área total das secções dos varões que constituem a armadura longitudinal;

- u ef é o perímetro da linha média da secção no caso de secções ocas, ou da secção oca

Vigas / Torção Capítulo IV – 10 / 22


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eficaz no caso de secções cheias.

Finalmente o termo Tcd tem em conta a contribuição do betão devido a vários efeitos entre os
quais o interbloqueamento dos inertes e ainda o facto de, no caso presente, se adoptar para
inclinação das bielas um valor fixo e igual a 45º. O seu valor é dado por:

Tcd = 2τ 1 hef Aef

em que:

- τ 1 é a tensão definida em 2.3 do capítulo II e cujo valor é igual a 0,6 f ctd ;

- hef é a espessura da parede da secção no caso de secções ocas ou da secção oca eficaz

no caso de secções cheias.

Note-se que, para valores elevados do momento torsor actuante, da ordem de 3,6 f ctd hef Aef , o

MC78 do CEB, que adopta método idêntico mas permitindo variar o ângulo θ de inclinação
das bielas comprimidas, prescreve que o termo Tcd se deve anular. A razão deste facto está
em que para valores elevados do momento torsor a fendilhação é grande, sendo neste caso
duvidoso contar com a resistência do betão.

O REBAP ( θ = 45º ) mantém porém tal termo pelas razões já apontadas. No entanto, como se
verá, também considera a sua anulação no caso da torção associada a esforço transverso.

2.2. A secção oca eficaz

No caso de secções cheias o REBAP define uma secção fictícia equivalente que designa por
secção oca eficaz e que é definida pelos parâmetros hef , Aef e u ef . Tal secção obtém-se

traçando uma linha poligonal fechada cujos vértices coincidem com as armaduras
longitudinais de torção (figura 8) e tomando para um e outro lado desta linha distâncias iguais
a d ef / 12 , sendo d ef o diâmetro do maior círculo que nela pode ser inscrito, não podendo a

secção assim definida ter pontos exteriores à secção real.

A área interior à linha média de secção oca eficaz é designada por Aef , a espessura das suas

Vigas / Torção Capítulo IV – 11 / 22


Estruturas Betão Armado

paredes por hef e o perímetro da linha média da secção por u ef .

O REBAP estipula ainda que no caso de secções em T ou em L as regras estabelecidas


anteriormente podem ainda ser aplicadas, desde que se considere como secção oca eficaz a
que resulta da justaposição das secções ocas eficazes relativas aos rectângulos componentes
(figura 9), suprimindo os troços de paredes justapostos por forma a se obter uma única parede
contornando toda a secção. Esta parede terá, em princípio, espessura hef diferente de

rectângulo para rectângulo, devendo considerar-se o menor valor de hef para o cálculo de Tcd

e para a definição do valor limite superior de TRd , que se refere em 2.3. Além disso o
comprimento de cada rectângulo componente do banzo não deve exceder 3 vezes a espessura
deste (figura 9).

Linha média da secção


oca eficaz
f
de

área interior à linha média


da secção oca eficaz Aef

h ef def
≤ def
12 12

Fig. 8 – Definição da secção oca eficaz.


hef2

b2
b'2

hef1
b'1
hef1 =
6
a1

b'2
hef2 =
6
a2 ≤ 3b2

b'1
b1 a2

Fig. 9 – Secção oca eficaz duma secção em L.

Vigas / Torção Capítulo IV – 12 / 22


Estruturas Betão Armado

2.3. Valor máximo do momento torsor resistente

Como já foi referido, um dos possíveis modos de rotura na torção é por esmagamento do
betão das bielas comprimidas, razão pela qual, e da mesma forma que para o esforço
transverso, se evita que tal ocorra limitando o momento torsor máximo ao valor:

TRd = 2τ 2 hef Aef

em que τ 2 (igual a 0,3 f cd ) toma os valores definidos em no Capítulo II.

2.4. Constituição da armadura e espaçamento dos varões

A armadura transversal de torção deve ser constituída por estribos fechados por meio de
emendas executadas de acordo com as regras gerais sobre esta matéria contidas no REBAP.
Assim, as extremidades dos estribos devem sobrepor-se num comprimento lb ,0 dado por:

As ,cal
l b , 0 = α 1l b
As ,ef

com:

φ f syd
lb = ⋅
4 f bd

em que:

- α 1 é o coeficiente que toma o valor de 0,7 no caso de amarrações com extremidades


curvas e é igual à unidade nos restantes casos;

- As ,cal é a secção do varão dos estribos requerida pelo cálculo;

- As ,ef é a secção do varão dos estribos efectivamente adoptada;

- φ é o diâmetro do varão do estribo;

- f syd é o valor de cálculo da tensão de cedência ou da tensão limite de

proporcionalidade a 0,2% do aço que constitui os estribos;


Vigas / Torção Capítulo IV – 13 / 22
Estruturas Betão Armado

- f bd é o valor de cálculo da tensão de rotura da aderência.

Além disso, em qualquer caso, os valores mínimos dos comprimentos de sobreposição


deverão ser de 15φ ou 20 cm.

Na figura 10 apresentam-se três formatos de estribos fechados que podem ser adoptados. O
formato indicado na figura 10 c) só deve, porém, ser utilizado no caso de varões de alta
aderência.

Quanto ao espaçamento dos estribos, a regulamentação portuguesa estipula que, no mínimo,


seja de u ef / 8 , em que u ef é o perímetro anteriormente definido, mas não ultrapassando em

qualquer caso 30 cm.

lb,o lb,o
≥ 10Ø
≥10Ø

≥ 10Ø

lb,o

a) b) c)

Fig. 10 – Estribos fechados no caso de torção.

No que se refere à armadura longitudinal, os varões devem ser dispostos ao longo do contorno
interior dos estribos, com um espaçamento máximo de 35 cm, bem como em cada vértice do
contorno referido deverá existir um varão, pelo menos.

2.5. Torção associada a flexão

Vigas / Torção Capítulo IV – 14 / 22


Estruturas Betão Armado

Como se viu anteriormente, só em casos especiais a resistência à torção é beneficiada pela


existência de flexão. Pelo contrário, na generalidade dos casos, a existência de flexão faz
diminuir o momento torsor resistente. Por esta razão, as secções das armaduras necessárias
para a verificação da segurança, quando da actuação simultânea dos dois esforços, devem ser
determinadas independentemente para um e outro esforço e depois somadas.

Nas armaduras superiores das vigas poder-se-ia, em princípio, considerar o efeito benéfico da
compressão aí existente devida à flexão, efeito, no entanto, de pouca monta e que a regu-
lamentação portuguesa não contempla.

2.6. Torção associada a flexão e a esforço transverso

No caso da torção existir simultaneamente com flexão e esforço transverso há que determinar,
separadamente para cada um desses esforços, as armaduras necessárias e, seguidamente,
somá-las.

No que se refere aos termos Vcd e Tcd deverão, de acordo com o REBAP, observar-se as
seguintes condições:

- No caso de τ V + τ T ≤ τ 1 :

⎛ τV ⎞
Vcd = τ 1 ⎜⎜ ⎟⎟bw d
⎝τV + τT ⎠

⎛ τT ⎞
Tcd = 2τ 1 ⎜⎜ ⎟⎟hef Aef
⎝τV + τT ⎠

- No caso de τ V + τ T > τ 1 :

Vcd = τ 1bw d

Tcd = 0

Nestas expressões τ 1 tem o significado e o valor dados anteriormente, sendo:

VSd TSd
τV = e τT = .
bw d 2hef Aef

Chama-se a atenção para que no caso de τ V + τ T ≤ τ 1 se terá também:


Vigas / Torção Capítulo IV – 15 / 22
Estruturas Betão Armado

⎛ τV ⎞
τ 1 ⎜⎜ ⎟⎟ ≥ τ V
⎝τV + τT ⎠

⎛ τT ⎞
τ 1 ⎜⎜ ⎟⎟ ≥ τ T
τ
⎝ V + τ T ⎠

donde resulta:

Vcd ≥ VSd

Tcd ≥ TSd

e, portanto, apenas é preciso dispor no elemento a armadura mínima de esforço transverso,


além da armadura longitudinal de torção, calculada pela respectiva expressão.

Finalmente, há que ter em conta a possibilidade de rotura por esmagamento do betão das
bielas comprimidas e para tal a regulamentação portuguesa estipula que os valores de cálculo
do esforço transverso e do momento torsor resistentes não podem ser superiores a

⎛ τV ⎞
V Rd = τ 2 ⎜⎜ ⎟⎟bw d
⎝τV + τT ⎠

⎛ τT ⎞
Tcd = 2τ 2 ⎜⎜ ⎟⎟hef Aef
⎝τV + τT ⎠

em que os símbolos têm o significado anteriormente referido.

3. Exemplos práticos

3.1. Exemplo 1

Consideremos uma secção rectangular de uma viga com base 0,30 m e altura 0,60 m,
submetida a um momento torsor de 20 kN.m.

Proceder ao dimensionamento, adoptando para materiais B25 e A400.

Resolução:

Vigas / Torção Capítulo IV – 16 / 22


Estruturas Betão Armado

Dados:

b = 0,30 m h = 0,60 m

f syd = 348 MPa = 348 × 10 3 kN/m 2

τ 1 = 0,65 MPa = 0,65 × 10 3 kN/m 2 τ 2 = 4,0 MPa = 4,0 × 10 3 kN/m 2

TSd = 20 kN.m

Considerando um recobrimento de 3 cm, o diâmetro dos estribos 8 mm e o diâmetro dos


varões longitudinais 10 mm, temos:

d ef 21,4
d ef = 30 − 2 × (3 + 0,8 + 1 / 2) = 21,4 cm = ≈ 1,8 cm
12 12

hef = 2 × 1,8 = 3,6 cm

Aef = 21,4 × (60 − 2 × (3 + 0,8 + 1 / 2 )) = 1100 cm 2 = 0,11 m 2

u ef = 2 × (21,4 + 60 − 2 × (3 + 0,8 + 1 / 2 )) = 145,6 cm = 1,46 m

Valor máximo do momento torsor

TRd ,max = 2τ 2 hef Aef = 2 × 4,0 × 10 3 × 0,036 × 0,11 = 31,7 kN.m

Temos:

TSd = 20 kN < 31,7 kN.m (verifica)

Tcd = 2τ 1 hef Aef = 2 × 0,65 × 10 3 × 0,036 × 0,11 = 5,1 kN.m

Tsd = Tcd + Ttd ⇒ Ttd = 20 − 5,1 = 14,9 kN.m

Armadura transversal

Ast A 14,9
Ttd = 2 Aef f syd ⇒ st = = 0,000195 m 4 /m = 1,95 cm 2 /m
s s 2 × 0,11 × 348 × 10 3

Espaçamento dos estribos

Vigas / Torção Capítulo IV – 17 / 22


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⎧ u ef 1,46
⎪ = = 0,18 m
s≤⎨ 8 8 ⇒ vamos adoptar 0,17 m
⎪0,30 m

Então temos:

Ast
= 1,95 cm 2 /m ⇒ Ast = 1,95 × 0,17 = 0,33 cm 2
s

Adopta-se estribos φ 8 espaçados 0,17 cm.

Armadura longitudinal

Tld = TRd = 20 kN.m

Asl 20 × 1,46
Tld = 2 Aef f syd ⇒ Asl = = 0,00038 m 4 = 3,80 cm 2
u ef 2 × 0,11 × 348 × 10 3

Espaçamento dos varões da armadura longitudinal

s ≤ 0,35 m

Adopta-se, não considerando a flexão, 4φ10 + 2φ 8 (4,15 cm 2 )

3.2. Exemplo 2

Vamos considerar a viga indicada na figura 11 (repare-se que só a sobrecarga é excêntrica).

0.40 0.20

Q=20 kN/m 20 kN/m


G=30 kN/m
0.50

8.00
0.30

0.70

Fig. 11 – Esquema de viga para dimensionamento ao esforço transverso e à torção.

Vigas / Torção Capítulo IV – 18 / 22


Estruturas Betão Armado

Os apoios permitem a rotação de flexão mas impedem a rotação de torção.

Admita-se que a armadura de flexão é de 4φ 25 + 2φ 20 (25,92 cm 2 ) na alma e que os varões


longitudinais no banzo são 2 e de 10 mm.

Dimensione-se as armaduras de torção e de esforço transverso a colocar na viga, sendo as


cargas permanentes e sobrecargas uniformemente distribuídas com os valores respectivos de
30kN/m e 20kN/m.

Os materiais são B30 e A400. O recobrimento é de 2,5 cm.

Resolução

Tem-se :

τ 1 = 0,75 MPa τ 2 = 5,0 MPa

8 8
VSd = 1,35 × 30 × + 1,5 × 20 × = 282 kN
2 2

8
TSd = 1,5 × 20 × 0,40 × = 48 kN.m
2

d ≈ 75 cm

Vamos considerar a contribuição do banzo e vai-se admitir que a armadura transversal é de


estribos de 10 mm na alma da viga e de 6 mm no banzo (para fixação dos diâmetros destas
armaduras).

b1' = 40 − 2 × (2,5 + 1 + 1,25) = 40 − 9,5 = 30,5 cm

b1' 30,5
hef 1 = = = 5,1 cm
6 6

b2' = 30 − 2 × (2,5 + 0,6 + 0,5) = 30 − 7,2 = 22,8 cm

b2' 22,8
hef 2 = = = 3,8 cm
6 6

⎡ ⎛ 3,8 5,1 ⎞⎤
Aef = ⎢30,5 × (80 − 9,5) + 22,8 × ⎜ 30 − + ⎟⎥ = 2849,1 cm 2 = 0,285 m 2
⎣ ⎝ 2 2 ⎠⎦

Vigas / Torção Capítulo IV – 19 / 22


Estruturas Betão Armado

⎡ ⎛ 3,8 5,1 ⎞⎤
u ef = 2 × ⎢30,5 + (80 − 9,5) + ⎜ 30 − + ⎟⎥ = 263,3 cm = 2,63 m
⎣ ⎝ 2 2 ⎠⎦

hef 2 < hef 1 ⇒ hef = hef 2

VSd 282
τV = = = 940 kN/m 2
bd 0,40 × 0,75

TSd 48
τT = = = 2216 kN/m 2
2hef Aef 2 × 0,038 × 0,285

Valores máximos para os esforços resistentes:

⎛ τV ⎞ ⎛ 940 ⎞
V Rd = τ 2 ⎜⎜ ⎟⎟bw d = 5,0 × 10 3 × ⎜ ⎟ × 0,40 × 0,75
⎝τV + τT ⎠ ⎝ 940 + 2216 ⎠

V Rd = 446,8 kN > 282 kN (verifica)

⎛ τT ⎞
⎟⎟hef Aef = 2 × 5,0 × 10 3 × ⎛⎜
2216 ⎞
TRd = 2τ 2 ⎜⎜ ⎟ × 0,038 × 0,285
⎝τV + τT ⎠ ⎝ 940 + 2216 ⎠

TRd = 76,0 kN > 48 kN (verifica)

Como τ V + τ T = 940 + 2216 = 3156 kN/m 2 > τ 1 , temos:

Vcd = τ 1bd = 0,75 × 10 3 × 0,40 × 0,75 = 225 kN

VSd = Vcd + Vwd ⇒ Vwd = 282 − 225 = 57 kN

Tcd = 0 kN

TSd = Tcd + Ttd ⇒ Ttd = 48 − 0 = 48 kN.m

Armaduras transversais (estribos verticais):

Asw A Vwd 57
Vwd = 0,9d f syd ⇒ sw = =
s s 0,9df syd 0,9 × 0,75 × 348 × 10 3

Asw = 0,000243 m 2 /m = 2,43 cm 2 /m (para 2 ramos)

Ast A Ttd 48
Ttd = 2 Aef f syd ⇒ st = =
s s 2 Aef f syd 2 × 0,285 × 348 × 10 3

Atd = 0,000242 m 2 /m = 2,42 cm 2 /m (por ramo)

Vigas / Torção Capítulo IV – 20 / 22


Estruturas Betão Armado

Armadura de suspensão:

Fs 1,5 × 20
As /m = = = 0,000086 m 2 = 0,86 cm 2 (para 2 ramos)
f syd 348 × 10 3

adopta-se estribos φ 6//0,15 m (3,80 cm 2 / m ) nos banzos

Armadura total por ramo:

As 2,43 0,86
= + 2,42 + = 4,07 cm 2 /m
s 2 2

adopta-se estribos de φ 10 espaçados 0,15 m (5,24 cm 2 /m )

Armadura longitudinal de torção:

Asl Tld × u ef 48 × 2,63


Tld = 2 Aef f syd ⇒ Asl = =
u ef 2 Aef f syd 2 × 0,285 × 348 × 10 3

Asl = 0,000636 m 2 = 6,36 cm 2

( )
adopta-se 4φ 12 + 4φ 10 7,66 cm 2 , a compatibilizar com a armadura de flexão.

0.40 0.20
2Ø12
20 kN/m

Estr Ø10//0.15 m
0.50

Estr Ø6//0.15 m
4Ø10

2Ø12
0.30

0.70
2Ø10
4Ø25+2Ø20

Fig. 12 – Secção da viga com a armadura adoptada.

Os dois varões de 12mm de torção da face inferior poderiam ser absorvidos pela armadura de
( )
flexão de 4φ 25 + 2φ 20 25,92 cm 2 , de que resultariam 6φ 25 (29,45 cm 2 ) , por exemplo, que

é superior a 4φ 25 + 2φ 20 + 2φ12 (28,18 cm 2 ) .

Vigas / Torção Capítulo IV – 21 / 22


Estruturas Betão Armado

Nota: Refira-se que há disposições de projecto e construtivas fixadas pelo REBAP, que
poderiam condicionar o dimensionamento da secção, pressupondo a sua necessária
verificação. Estes condicionamentos não foram tidos em conta nos exemplos
anteriores, interessando-nos apenas o problema da torção, isolada ou conjugada com
outros esforços.

Vigas / Torção Capítulo IV – 22 / 22


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CAPITULO V (versão longa)

FENDILHAÇÃO E DEFORMAÇÃO

(texto provisório – em revisão)

1
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INDICE Pag.

1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 - REGRAS PARA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO Á FENDILHAÇÃO E


DEFORMAÇÃO.................................................................................................................................5

1.1.1 – INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................5

1.1.2 - ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO ....................................................................................5

1.1.3 - PRINCIPIOS PARA VERIFICAÇÃO DO PROJECTO ..............................................................6

1.1.4 - COMBINAÇÕES DE ACÇÕES ..................................................................................................7

1.2 - COMPORTAMENTO DO BETÃO Á TRACÇÃO .............................................................................8

1.2.1 – INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................8

1.2.2 - MECANISMO DE FORMAÇÃO DE FENDAS NUMA BARRA Á TRACÇÃO......................9

1.2.3 - DISTÂNCIA MÉDIA ENTRE FENDAS...................................................................................14

1.2.4 - EXTENSÃO MÉDIA DA ARMADURA ..................................................................................16

1.2.5 - MODELOS DE CÁLCULO.......................................................................................................22

2 - VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO À FENDILHAÇÃO

2.1 - TIPOS DE FENDAS ..........................................................................................................................27

2.1.1 - FENDILHAÇÃO DEVIDO A ACÇÕES DIRECTAS..............................................................27

2.1.2 - FENDILHAÇÃO RESULTANTE DE DEFORMAÇÕES IMPOSTAS...................................29

2.1.3 - FENDILHAÇÃO DEVIDO À RETRACÇÃO PLÁSTICA E AO ASSENTAMENTO DO


BETÃO ARMADO ....................................................................................................................30

1
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2.1.4 - FENDILHAÇÃO DEVIDO À CORROSÃO .............................................................................31

2.1.5 – RESUMO ...................................................................................................................................32

2.2 - RAZÕES PARA CONTROLE DA FENDILHAÇÃO.......................................................................34

2.2.1 – APARÊNCIA.............................................................................................................................34

2.2.2 - ESTANQUICIDADE DOS LÍQUIDOS E GASES....................................................................35

2.2.3 - PROTECÇÃO CONTRA A CORROSÃO.................................................................................35

2.3 - CRITÉRIOS PARA O CONTROLE DA FENDILHAÇÃO..............................................................36

2.3.1 - DEFINIÇÃO DOS ESTADOS LIMITES ..................................................................................36

2.3.2 - CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO................................................................................................37

2.3.3 - SENSIBILIDADE DAS ARMADURAS À CORROSÃO.........................................................37

2.4 - ESTADOS LIMITES DE FENDILHAÇÃO A CONSIDERAR........................................................38

2.4.1 - ESTADOS LIMITES DE DESCOMPRESSÃO ........................................................................40

2.4.2 - ESTADO LIMITE DE LARGURA DE FENDAS.....................................................................41

2.4.3 - VERIFICAÇÃO DE TENSÃO MÁXIMA DE COMPRESSÃO...............................................47

2.5 – ALGUMAS INDICAÇÕES PRÁTICAS PARA CONTROLE DA FENDILHAÇÃO.....................47

2.5.1 – ARMADURA MÍNIMA............................................................................................................47

2.5.2 – ARMADURA NO CASO DE DEFORMAÇÕES IMPOSTAS.................................................49

2.5.3 – ARMADURA COMPLEMENTAR DA ARMADURA PRINCIPAL ......................................52

3 – VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO À DEFORMAÇÃO

3.1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................................................54

2
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

3.2 – RAZÕES PARA O CONTROLE DAS DEFORMAÇÕES...............................................................54

3.3 – ESTADOS LIMITES A CONSIDERAR ..........................................................................................59

3.4 – DETERMINAÇÃO DA DEFORMAÇÃO ........................................................................................61

3.4.1 – CÁLCULO DE CURVATURA.................................................................................................62

3.4.2 – CURVATURA MÉDIA – FLEXÃO SIMPLES........................................................................63

3.4.3 – CÁLCULO DAS DEFORMAÇÕES POR INTEGRAÇÃO......................................................65

3.4.4 – CÁLCULO DAS FLEXAS........................................................................................................66

3.4.4.1 – EXEMPLO.......................................................................................................................72

3.4.5 – ESTIMATIVA DAS FLEXAS – METÓDO DOS COEFICIENTES GLOBAIS .....................73

3.4.5.1 – EXEMPLO.......................................................................................................................79

4 - DISPOSIÇÕES DAS ARMADURAS

4.1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................................................95

4.2 - COLOCAÇÃO DAS ARMADURAS................................................................................................95

4.3 - DISTÂNCIA MINIMA ENTRE ARMADURAS ..............................................................................95

4.4 - RECOBRIMENTO MINIMO DAS ARMADURAS.........................................................................96

4.5 - CURVATURA MÁXIMA DAS ARMADURAS..............................................................................97

4.6 - AMARRAÇÃO DE VARÕES DE ARMADURAS ..........................................................................98

BIBLIOGRAFIA

3
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4
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
1.1 – REGRAS PARA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO À
FENDILHAÇÃO E DEFORMAÇÃO

1.1.1 – INTRODUÇÃO

O objectivo primordial de um projecto estrutural é garantir que a estrutura


desempenha com segurança as funções para as quais foi concebida durante o seu
período de vida. O critério usado para a verificação de segurança numa estrutura, é feito
através da comparação dos estados a que a estrutura é conduzida pela actuação das
acções a que esta sujeita com os correspondentes estados definidos através do REBAP
(art.º 10, 11º Estados Limites de Utilização e art.º 65 ao 73...). Por estado limite
entende-se o estado a partir do qual se considera que a estrutura fica total ou
parcialmente prejudicada e incapaz de desempenhar as funções para a qual foi
projectada.
Segundo o REBAP, são dois os estados limites a considerar na verificação da
segurança.
- Estados limites últimos – que correspondem à máxima capacidade da estrutura
em resistir em função de determinados coeficientes de segurança a possível situação de
ruptura ou danos excessivos.
- Estados limites de utilização – que se referem à capacidade de utilização normal
de estrutura e sua durabilidade.

1.1.2 – ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO

Os estados limites de utilização a considerar na verificação da segurança de


estruturas de betão armado e pré-esforçado são:

- Estados limites de fendilhação;


- Estados limites de deformação;
- Estados limites de vibração.

Os estados limites de fendilhação são baseados na imposição de certos critérios na


zona de betão sob tracção tendo em vista, fundamentalmente, garantir a durabilidade da

5
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

estrutura em especial da armadura. Para secções sujeitas a altas tensões de compressão


sobre áreas limitadas, dando origem a tensões de tracção transversais (ex. articulações,
vigas fortemente armadas), pode ser necessário limitar as tensões de compressão (ou
prever cintagem adequada) para evitar a fendilhação longitudinal por efeito das tensões
transversais da tracção.
Os estados limites de deformação são os que correspondem à ocorrência de
deformações na estrutura que prejudiquem o desempenho das funções que lhe são
atribuídas. Uma situação corrente corresponde à limitação de flechas em vigas com o
objectivo de evitar danos nos elementos não-estruturais que sobre elas se apóiam.
Os estados limites de vibração devem ser tidos em consideração em certos casos em que
há risco da estrutura ficar sujeita a vibrações devido às acções das forças de vento,
máquinas, ou veículos em movimento. Poderá assim ser necessário limitar as vibrações
de forma a evitar o desconforto ou a impressão de insegurança dos utilizadores.
Os estados limites de utilização podem também classificar-se quanto à duração
das acções em:
- Muito curta duração – corresponde a acções que solicitam a estrutura durante
apenas algumas horas do seu período de vida.
- Curta duração – que corresponde a durações da ordem de 5% do período de vida
da estrutura.
- Longa duração – correspondendo a duração da ordem de metade da vida da
estrutura.

1.1.3 – PRINCIPIOS PARA VERIFICAÇÃO DO PROJECTO

Já que nos estados limites de utilização se referem aos requisitos funcionais a que
as estruturas devem obedecer, os quais podem variar consideravelmente dependendo do
tipo de estrutura, os valores representativos dos estados limites de utilização para uma
estrutura particular podem resultar de um acordo entre o projetista e o cliente em vez de
serem tomados os correspondentes valores regulamentares. Os valores limites
estabelecidos no REBAP, dizem respeito apenas aos elementos estruturais mais
frequentes e não sendo considerados determinados requisitos funcionais e estéticos que
por vezes devem ser tidos em conta.
A verificação dos estados limites de fendilhação e deformação dos elementos de
uma estrutura em condições de serviço pode ser feita mostrando que:

6
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- As tensões no betão ou a largura de fendas calculada não ultrapassa certos


valores tomados como limites.
- As deformações obtidas da análise da estrutura são inferiores às deformações
limite permitidas.

A comparação directa destes valores pode ser muitas vezes omitida se


determinadas disposições construtivas forem observadas no projecto.

1.1.4 – COMBINAÇÕES DE ACÇÕES

Devem ser consideradas as combinações das acções cuja actuação simultânea se


verifique ao longo da vida útil da estrutura e que produzam efeitos mais favoráveis.
No caso de verificações da segurança em relação aos estados limites de utilização,
as combinações de acções a considerar dependerão da duração do estado limite em
causa. Assim de acordo com os art.º 7º do RSA, teremos:

- Combinações raras – correspondentes a estados limites de muito curta duração;


- Combinações quase permanentes – correspondentes a estados limites de longa
duração.
No seguinte quadro são definidas as respectivas combinações de acções.

Combinação de acções Definição

Raras Gm+P+Q1k(ou Q1serv.)+Σ (Ψ1i . Qik)

Gm+P+ ψ1.Q1k + Σ (Ψ2i . Qik)


Frequentes
i<1
Gm+P+ Σ (Ψ2i . Qik)
Quase permanentes
i<1

QUADRO 1.1 – COMBINAÇÕES DE ACÇÕES

em que:
Gm - Valor médio das acções permanentes (peso próprio, etc.)
P - Valor do pré-esforço

7
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Q1k – Valor característico da acção variável de base da combinação


Qik – valor característico das outras acções variáveis
Ψ1, Ψ2 – Coeficiente a aplicar às acções variáveis para encontrar os seus valores
freqüente e quase permanente respectivamente.

No quadro 1.2 apresentam-se alguns dos factores de combinação Ψ (segundo o


RSA)

Acção Ψ1 Ψ2
Variações de temperatura 0,5 0,3
Vento 0,2 0
Neve 0,3 0
Sismos 0 0
Sobrecargas em pavimentos
- caracter privado 0,3 0,2
- escritórios 0,6 0,4
- garagens 0,7 0,6

QUADRO 1.2 – FACTORES DE COMBINAÇÃO

1.2 – COMPORTAMENTO DO BETÃO ARMADO À TRACÇÃO


1.2.1 – INTRODUÇÃO

O betão possui uma baixa resistência à tracção o que provoca a fendilhação


(rotura por tracção) das peças estruturais de betão mesmo para tensões de tracção
relativamente pequenas. Na maioria dos casos além das tensões devidas às cargas,
actuam também tensões de tracção provenientes de esforços de coacção (internos ou
externos) dependentes das condições de cura e endurecimento do betão. Estes esforços
podem atingir valores tão elevados em certas zonas que levem à fendilhação do betão
mesmo antes das acções exteriores serem aplicadas. A retracção do betão vai também
contribuir para este processo de coacção.

8
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Por isso, em geral só se pode confiar na resistência do betão à tracção numa escala
muito limitada. Essa razão porque se dimensiona as armaduras de uma viga de betão
para atender a todo o esforço de tracção, partindo-se da hipótese que o betão não
colabora na absorção deste esforço.
Para cargas de serviço as peças de betão armado encontram-se fendilhadas em
zonas mais ou menos extensas, e o comportamento do betão armado fendilhado tem
implicações directas na verificação dos estados limites de utilização. É este
comportamento não-linear do betão armado fendilhado que torna mais laborioso o
cálculo aos estados limites de fendilhação e de deformação.
Pretende-se, com a breve apresentação do comportamento do betão armado à
tracção que se vai seguir, explicitar as definições e os princípios fundamentais que o
REBAP adopta para proceder à verificação aos estados limites de utilização. As
disposições para verificação e cálculo da fendilhação e da deformação podem assim ser
utilizadas de forma mais clara, permitindo que resolução de situações menos correntes e
aparentemente não cobertas pelo regulamento possam ser tratadas pelos projectistas.

1.2.2 – MECANISMO DE FORMAÇÃO DE FENDAS NUMA BARRA À


TRACÇÃO

Consideremos uma peça de betão armado traccionado axialmente. Quando se


atinge a resistência do betão à tracção, fct , numa dada secção abre-se uma fissura
através de toda a secção, e a força que antes era suportada pelo betão passa
instantaneamente para a armadura. A força aplicada à armadura aumenta
consideravelmente na secção da fenda, dando lugar a um aumento de deformação axial
do varão. Esta deformação arrasta consigo as camadas de betão envolventes da
armadura devido à aderência desenvolvida na superfície de contacto. A partir da secção
da fenda são assim introduzidas gradualmente novas tensões de tracção no betão
envolvente que por sua vez condiciona a deformação da armadura. Nas figuras 1.1 a) e
b) ilustra-se o mecanismo descrito.
Seja uma peça com áreas de secção transversal, Ac, de betão e As de aço isenta de
tensões intrínsecas (figura 1.2). Antes da fendilhação um comportamento elástico linear
é admitido para os materiais, e tem-se:

9
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σc = N = N e σs = α σc
Ac + (α-1) As Aeq

sendo,
α = ES
Ec

Aeq – área equivalente de betão (Aeq ≅ Ac)

10
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 1.1 – Mecanismo de interacção aço-betão numa zona fendilhada.

Fig. 1.2 – Mecanismo de fendilhação de um tirante de betão armado

11
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A primeira fissura ocorre na zona da barra em que o betão apresenta menor


resistência à tracção, f1ct, para um valor de N igual a

Nr1 = [Ac + (α - 1) As] f 1ct

no local da fissura a tensão no aço aumenta bruscamente de,

σ 1s = α f1ct
para

σ1sr = Nr1 = f1ctm [ 1 + (α - 1)]


As ρ

Ou seja a variação de tensão no aço é de,

∆σs = Nr1 - α f 1ctm = f 1ctm [1 – 1]


As ρ

donde se conclui que ∆σs aumenta com fct e com a redução da percentagem de armadura
ρ. As variações de tensão no aço podem atingir valores de 20 a 500 MPa. A figura 1.3
mostra as tensões no aço no local da fissura para diferentes percentagens de armaduras
para valores crescentes de N ou M. Na fissura surgem então elevadas tensões de
aderência devido à diferença de deformações entre o aço e o betão o que leva em geral à
destruição de aderência numa zona restrita vo (figura 1.1 b). As tensões de aderência, tb,
desenvolvidas na zona de contacto aço-betão fazem a transferência de tensões de
tracção do aço para o betão (figura 1.2). A partir duma dada distancia, sr , a transferencia
de tensões do aço para o betão foi total e as tensões de aderência anulam-se. O
comprimento s pode ser obtido aproximadamente por,

τbm = fctm
Sr . τbm . Σu = f 1ctm.Ac

em que,
τbm – é a tensão média de aderência
Σu – é o somatório do perímetro das armaduras.

12
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Com um aumento ligeiro da força de tracção N uma segunda fissura poderá


formar-se a uma distância da primeira em geral superior a sr, pois só a partir desta
distância o betão está sujeito à sua tensão máxima (figura 1.2).
A possibilidade de difusão das tensões de tracção transmitidas ao betão por
aderência é limitada devido à curta distância compreendida entre duas fendas. Assim,
após a fendilhação, a secção de betão colaborando com o aço na absorção de esforços de
tracção pode não ser toda a secção de betão fendilhada, mas apenas as áreas envolventes
dos varões. Há assim lugar à definição de uma área efectiva de betão traccionado
envolvente da armadura. A figura 1.4 ilustra a variação da área efectiva de betão que
colabora com a armadura entre duas fendas.

Fig. 1.3 – Variação da tensão na armadura com a formação de fendas

13
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 1.4 – Ilustração do princípio da difusão das tensões de tracção no betão, entre duas
fendas.

1.2.3 – DISTÂNCIA MÉDIA ENTRE FENDAS

Como se pode observar da distribuição de tensões numa barra traccionada (figura


1.5) A 2.ª fenda poderá surgir a uma distância em geral maior que sr numa zona de
menor resistência. Se, no entanto, a distância entre a 1.ª e a 2.ª fendas for maior que 2sr
é possível que entre elas se forme nova fissura. A distância entre fissuras num estado
estabilizado variará entre sr e 2sr sendo o seu valor médio dado por,

Srm = 1 vo + sr + k1 (c, s)
2

sendo,
vo – comprimento de aderência destruída, dado aproximadamente por

∆σ
s φ (Kg, cm)
450

sr – distância mínima entre fendas dada pela expressão (6).


k – termo correctivo determinado experimentalmente que tem conta a influencia do
recobrimento, c, e o espaçamento, s, das armaduras.

14
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 1.5 – Distribuição das tensões no betão após a primeira fenda

Na expressão (7) o termo em vo pode ser desprezado atribuindo nesse caso a k1


(c,s) o valor de,

k1 (c,s) = 2 (c + s ) (8)
10

À expressão de sr pode ser dada a forma,

Sr = ( fctm ) ( Ac ) = η1 η2 φ (9)
τbm Σu σ
sendo,

η1 = fctm - um parâmetro que depende da aderência aço-betão


τbm
e

A
c = As = nπφ2 = 1 φ = η2 φ
Σu nπφρ 4nπφρ 4 ρ ρ

15
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η2 – coeficiente dependente da distribuição de tensões de tracção do betão na


secção.( η2 = 0,25 . ε1 + ε2 ou η2 = 0,25 para tracção pura).
2ε1

À expressão da distância média entre fendas pode assim dar-se a seguinte forma,

Srm = 2 (c + s ) + η1 η2 φ (10)
10 ρr

η1 – depende das características das armaduras

1.2.4 – EXTENÇÃO MÉDIA DA ARMADURA

Como pode ser observado na figura 1.2 a tensão no aço, σs atinge um valor
máximo na secção da fenda e um valor mínimo a meio da distância entre fendas. O
valor médio da extensão na armadura, εsm , para um dado comprimento da peça
corresponderá ao valor médio da tensão, σsm, a dividir pelo módulo de elasticidade Es,

εsm = σsm (11)


Es

A diferença entre a tensão média e a tensão máxima na armadura depende do


grau de contribuição do betão envolvente entre fissuras que assim influi decididamente
no valor da extensão média da armadura. A figura 1.6 ilustra resultados experimentais
para os diagramas tensões no aço – extensões médias de barras traccionadas para
diferentes percentagens e diferentes diâmetros de armaduras. Após o início da fissura há
um aumento rápido da extensão média, devido à formação das diversas fendas com a
conseqüente perda de tensão no betão. Em seguida, com a fendilhação já estabilizada a
contribuição do betão vai diminuindo à medida que se deteora a ligação aço-betão com
o aumento da força N, mas a extensão média é sempre inferior àquela que se obteria se
a peça fosse de aço.

16
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 1.6 – Resposta tensões no aço – versus – extensão média de barras traccionadas
axialmente

Na figura 1.7 esta esquematicamente representada a variação da extensão média


da armadura com a tensão instalada no aço na secção da fenda, σsr . A deformação
relativa média da armadura vale para N ≥ Nr:

εsm = ∆l = εs2 - ∆εs (12)


l

onde ∆εs, representando a contribuição do betão traccionado, segue uma lei hiperbólica
aproximando-se assimptoticamente da recta εs2 para as tensões superiores a σsr , lei que
foi estabelecida experimentalmente:

17
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

∆εs = ∆εsmax . (σsr/ σs2) (13)

Fig. 1.7 – Deformações relativas da armadura

Introduzindo o valor de ∆εs na expressão (12) obtém-se:

εsm = εs2 - ∆εsmax . (σsr / σs2)

= εs2 – (εs2r - εs1r) . (σsr / σs2)


= εs2 . [ 1 - εs2r . (σsr / σs2)] + = εs1r . (σsr / σs2)
εs2
= εs2 . [ 1 - (σsr / σs2)2] + εs1 . (σsr / σs2)2

Esta ultima expressão pode ser escrita na forma:

εsm = ( 1 - ζ ) . εs1 + ζ . εs2 (14)

18
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

onde ζ é um coeficiente de repartição definido por:

ζ = 1 - σ2sr (15)
σ2s2

ζ = 0 para σs2 < σsr

O significado das notações introduzidas nas expressões anteriores é o seguinte:

σs2 – tensão da armadura numa secção fendilhada, sob a combinação das acções
consideradas;

σs1 – tensão da armadura calculada na hipótese de secção fendilhada, correspondente ao


esforço que provoca o inicio da fendilhação (tensão máxima do betão à tracção seria
igual a fct);

εs1 – deformação relativa da armadura calculada em estado l, isto é, considerando


secções não fendilhadas;

εs2 – deformação relativa da armadura calculada em estado llo, isto é, desprezando a


contribuição do betão traccionado entre fendas;
εs1r – deformação relativa da armadura correspondente à tensão σsr em estado l;
εs2r – deformação relativa da armadura correspondente à tensão σsr em estado llo .

Nós tratamos o caso dum tirante sujeito à tracção pura; as mesmas expressões são
no entanto válidas também para a flexão. A extensão média da armadura, tendo em
conta a contribuição do betão traccionado, pode ser definida duma forma geral pela
expressão (ver figura 1.9 a):

εsm = ( 1 - ζ ) . εs1 + ζ . εs2 (16)


εsm = εs2 - ( 1 - ζ ) . ( εs1 - εs2 )

19
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

A influência das características de aderência dos varões e da percentagem de


armadura na deformação relativa da armadura está ilustrada na figura 1.8. A fim de ter
em conta as características da aderência

Fig. 1.8 – Influência de diferentes parâmetros sobre a extensão média da armadura.

dos varões da armadura, assim como a influência da duração da aplicação e da repetição


das cargas, são introduzidos dois coeficientes β1 e β2 na expressão (15) que define ζ:

ζ = 1 - β1 . β2 . ( σsr )2 (17)
σs2
ζ = 0 para σs2 < σsr
com,
β1 = ___1__ - coeficiente caracterizando as características de aderência dos
. 2 . 5η1
varões (pode ser retirado do REBAP art. 70.2 b).

β2 - coeficiente representando a influência da duração da aplicação


ou da repetição das carga

20
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

A extensão média da armadura em relação à extensão do betão adjacente é


diferente por (ver figura 1.9 b):
εsm,r = ξ . εs2 εs2 = σs2
Es

Quando do cálculo da abertura de fendas deve considerar-se, com efeito, apenas


este acréscimo. Para evitar confusões este acréscimo será designado por εsm,r (figura 1.9
b), substituindo obtém-se a expressão dado no art.º 70 b do REBAP,

εsm = εs2 [ 1 - β1 β2 ( σs2 )2] (18)


Es σs

O valor da extensão média das armaduras não pode em caso algum ser inferior a 0,4
σs/Es, o que quer dizer que

σ
1 - β1 β2 ( s2 )2 ≥ 0,4
σs

Fig. 1.9 – a) Extensão média da armadura; b) Extensão relativa média da armadura em


relação ao betão adjacente

Na expressão (18) é imposto um limite inferior para o valor de εsm,r usando no


cálculo da abertura de fendas. As expressões indicadas para obter εsm fornecem medidas
da extensão média para o conjunto da peça. As extensões relativas que daí resultam
conduzem provavelmente a subestimar as extensões médias locais ( e por conseqüência

21
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

a subestimar a abertura de fendas) nos primeiros estados de desenvolvimento da


fendilhação ( ver figura 1.10 ). Com base em resultados experimentais encontrou-se
uma forma cômoda de ter em conta este desvio especificando um limite inferior para o
coeficiente de repartição ξ .

Fig. 1.10 - Deformação local e deformação de conjunto de um elemento fendilhado de


betão armado

1.2.5 – MODELOS DE CÁLCULO

As estruturas de betão armado e pré-esforçado tem tendência a fendilhar e estão


sujeitas aos efeitos diferidos ( fluência, retracção, relaxação ). Resulta assim num
comportamento descontinuo segundo se considera a secção fendilhada ou as secções
vizinhas. É esta a razão porque necessitamos de definir:

22
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

- o valor médio da extensão da armadura traccionada para estimar a fendilhação;


- o valor médio da curvatura para calcular as deformações.

Estes valores médios obtêm-se a partir dos valores extremos correspondentes


respectivamente:

- ao estado I : secções não fendilhadas, considerando o betão traccionado, o betão


comprimido e a armadura;
- ao estado II – secções fendilhadas, não considerando senão o betão comprimido
e a armadura;

e podem ser definidas com a ajuda de coeficientes de repartição indicando as


contribuições respectivas do estado I e do estado II .
O modelo real pode ser representado por um modelo constituído por duas partes
de comprimento l1 e l2 variáveis em função das solicitações: uma trabalhando em estado

I e outra em estado II. O modelo fica definido se nós conhecermos o comportamento


nos estados I e II e os comprimentos l1 e l2 ; estes fixam a partição dos estados extremos

ao valor médio. Esta partição é dada pelo coeficiente re repartição ζ que define os
comprimentos:

l1 = ( 1 - ζ ) – l e

l2 = ζ . l

1 – Elementos solicitados à tracção pura.


O elemento real de comprimento l, em que actua a força de tracção N constante, é

substituído por um modelo composto de duas partes ( figura 1.11 ):

- uma trabalhando em estado I ( secções não fendilhadas )


- a outra trabalhando em estado II ( secções fendilhadas, não considerando senão a
armadura).

A igualdade das extensões médias da armadura para o elemento real e para o


modelo dá:

23
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

εsm = ∆l = ∆l1 + ∆l2 = l1 . εs1 + l2 . εs2


l l l

Fig. 1.11 – Modelo de cálculo para a tracção pura

com a ajuda do coeficiente de repartição ζ :

εsm = ( 1 - ζ ) . εs1 + ζ . εs2 (19)

com,

(1-ζ)= l1 e ζ = l2
l l

A expressão média do betão será:

εcm = ( 1 - ζ ) . εc1 (20)

e o valor da extensão média relativa da armadura em relação à do betão vale:

εsm,r = ζ . εs2 (21)

O coeficiente de repartição ζ é obtido por:


24
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

ζ = 1 - β1 . β2 . ( σsr )2 = 1 - β1 . β2 ( Nr )2 (22)
σs2 N

= 0 para σs2 < σsr , seja N < Nr


onde,

Nr = A1 , fctm ≅ Ac . fctm

Nr - esforço normal quando da fendilhação do betão;

A1 e Ac – área homogeneizada e secção do betão ( estado I ).

2 – Elementos solicitados em flexão simples


O elemento real de comprimento l, ao longo do qual se supõe um momento de

flexão constante, é substituído por um modelo composto de 2 partes ( figura 1.12 ):

- uma trabalhando em estado I ( secções não fendilhadas);


- a outra trabalhando em estado IIo , denominado por flexão simples IIo ( secções
fendilhadas, não considerando o betão comprimido e a armadura).

Fig. 1.12 – Modelo de cálculo para a flexão simples

25
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

A igualdade das extensões médias da armadura no elemento real e no modelo


conduz a:

εsm = ∆l = ∆l1 + ∆l2 = l1 . εs1 + l2 . εs2


l l l

donde,

εsm = ( 1 - ζ ) . εs1 + ζ . εs2 (23)

com,

( 1 - ζ ) = l1 e ζ = l2
l l

Da mesma forma, a deformação relativa média do betão situado na fibra extrema


comprimida será:

εcm = ( 1 - ζ ) . εc1 + ζ . εc2

O coeficiente de repartição ζ intervindo nestas equações é dado por:

ζ = 1 - β1 . β2 ( σsr )2 = 1 - β1 . β2 ( Mr )2
σs2 M

= 0 para σs2 < σsr , seja M < Mr

onde, Mcr é o momento crítico de fendilhação.

26
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

De forma idêntica poderia ser definido o modelo de cálculo para a flexão


composta, mas neste caso a posição do eixo neutro x depende não somente das
propriedades geométricas e mecânicas da secção mas também dos esforços.

2 – VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA EM RELAÇÃO À FENDILHAÇÃO

2.1 – TIPOS DE FENDAS

Nesta secção será dada uma breve descrição das diferentes causas da fendilhação
em estruturas de betão assim como as características das fendas resultantes.

2.1.1 – FENDILHAÇÃO DEVIDA A ACÇÕES DIRECTAS

Corresponde a fendilhação resultante das solicitações nas secções ( flexão, esforço


transverso, tracção, etc.) devidas às cargas aplicadas. Trata-se do tipo de fendilhação
normalmente analisado pelas fórmulas de aberturas de fendas e pela teoria da
fendilhação que consta do REBAP. Quando se observa fendas com aberturas grandes
sob a acção das cargas, isso constitui quase sempre uma indicação que os cálculos em
relação ao estado limite último foram mal efectuados. Poderá resultar de erros, ou dos
efeitos de um caso particular de cargas que foi mal compreendido ou desprezado. A
conseqüência será a ausência de armadura para resistir a uma solicitação particular, ou
uma quantidade de armadura insuficiente para essa solicitação que acaba por plastificar
sob cargas de serviço.
Na figura 2.1 e 2.2 exemplificam-se alguns tipos de fendas que podem ocorrer por
efeito de cargas aplicadas:

- fendas de tracção – que atravessam em geral toda a secção;


- fendas de flexão – que se desenvolvem do bordo mais traccionado para a linha
neutra;
- fendas de corte – que se desenvolvem obliquamente ao eixo da viga;
- fendas de torção – inclinadas em relação ao eixo da viga e que se desenvolvem
em hélice;
- fendas de aderência - fendas que se desenvolvem ao longo das armaduras,
partindo freqüentemente de fendas de flexão;

27
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

- fendas introduzidas por cargas concentradas – que se desenvolvem na direcção


da carga aplicada

28
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.1 – Fendilhação produzida por cargas aplicadas

Fig. 2.2 – Fendilhação devido a cargas aplicadas

2.1.2 – FENDILHAÇÃO RESULTANTE DE DEFORMAÇÕES IMPOSTAS


Corresponde à fendilhação resultante de causas tais como o assentamento
diferencial das fundações, a retracção ou a variação de temperatura. A característica de
tais acções indirectas reside no facto de as tensões, por conseqüência as fendas,
poderem aparecer quando a estrutura é hiperestática ou no interior das secções, certas
partes se opõe aos deslocamentos impostos. Quanto mais rígida for a estrutura ou as

29
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

suas ligações para o deslocamento imposto, maiores serão as tensões e mais abertas
serão as fendas. As juntas de dilatação nas pontes e nos edifícios constituem uma
medida para minimizar os efeitos das acções indirectas.
Um caso típico de uma fendilhação precoce de origem térmica associada também
à retracção é a que se pode desenvolver num muro de comprimento bastante superior à
altura, encastrado na fundação ou ligado a uma etapa precedente de betonagem. Quando
a parede arrefece e tende a encurtar é impedida pela fundação e a fendilhação pode
desenvolver-se. A fendilhação típica dum muro sem juntas é a ilustrada na figura 2.3.
Uma tal fendilhação pode ser controlada: i) limitando a elevação de temperatura devida
à hidratação; ii) betonando etapas de pequeno comprimento; ou iii) por uma disposição
adequada da armadura.

Fig. 2.3 – Fendilhação de um muro devido principalmente às deformações térmicas


precoces

2.1.3 – FENDILHAÇÃO DEVIDA À RETRACÇÃO PLÁSTICA E AO


ASSENTAMENTO DO BETÃO ARMADO

A fendilhação plástica aparece passadas algumas horas após a colocação em obra


do betão, durante as quais este se encontra ainda num estado plástico. Fendas
superficiais em rede (figura 2.4 a) originadas geralmente pelas condições iniciais de
secagem e desenvolvendo-se na camada superficial com apenas alguns milímetros de
profundidade são típicas de retracção plástica.

30
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.4 – Formas de fendilhação plástica

Na fendilhação devida ao assentamento do betão fresco é a migração da água que


sob a acção das forças de gravidade, provoca uma redução do volume de betão fresco
que tem tendência a descer na cofragem. Se este movimento é impedido, quer pela
armadura quer pela cofragem, pode resultar em fendilhação. Em numerosos casos as
fendas formam-se ao longo dos varões da armadura superior (ver figura 2.4 b).
Torna-se claro que a armadura não pode ajudar a controlar a fendilhação plástica:
com efeito, ela pode ser uma das causas.

2.1.4 – FENDILHAÇÃO DEVIDA À CORROSÃO

O desenvolvimento da ferrugem do aço é um processo expansivo: os produtos da


corrosão ocupam em geral 2 a 3 vezes o volume do metal a partir do qual tiveram
origem. Resultam assim forças que tendem a afastar o betão envolvente dos varões,
podendo originar a fendilhação ou o descascamento da camada de recobrimento. Esta
fendilhação é normalmente a primeira manifestação visível de um problema de corrosão
no interior de um elemento. O aspecto geral da fendilhação devida à corrosão está
ilustrada na figura 2.5.

31
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.5 – Fendilhação devida à corrosão

2.1.5 – RESUMO

Na figura 2.6 é indicada a idade para a qual as várias formas de fendilhação se


pode esperar que ocorram. No quadro 2.1 estão resumidos alguns tipos de fendilhação
com indicação do momento de aparição e a respectiva forma de manifestação. As seis
primeiras categorias de fendilhação deste quadro são provavelmente as que dão origem
a problemas mais freqüentemente na pratica. As fendas resultantes do uso da estrutura
são raramente causa de reclamação, desde que as secções mínimas de armadura
requeridas pelo cálculo tenham sido colocadas. O engenheiro deve estar ao corrente das
diferentes maneiras possíveis segundo as quais o betão pode fendilhar e não deve crer
que, por ter feito alguns cálculos para controlar as fendas de flexão, estará assegurado
que a fendilhação não porá qualquer problema.

32
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Causa Período de aparição Manifestação Notas


Fendas ao longo dos As fendas podem ser
Assentamento do Algumas horas após a varões; fendas nas largas; podem ser evitadas
betão fresco betonagem mudanças de secção por medidas adequadas
(figura 2.4) quando da execução
Fendilhação em rede ou
fendas compridas na
As fendas compridas
Retracção Alguns dias após a superfície de lajes
podem ser largas 2 a 4
plástica betonagem betonadas em condições
mm, pode ser frequente
de secagem rápida (fig.
2.4)
Pode ser controlada por
Fendas longas nas juntas
uma armadura, limitando a
Fendas precoces de Alguns dias após a de betonagem de muros;
dimensão das etapas de
origem térmica betonagem outras fendas dependendo
betonagem, ou
da coacção (fig. 2.1)
controlando a temperatura
Geralmente alguns Semelhante às fendas de
Retracção Normalmente ligeira se
meses após a flexão ou de tracção (fig.
existe armadura suficiente
construção 2.1)
Ligeira a principio,
Fendas ao longo dos aumenta com o tempo;
Alguns anos após a
Corrosão varões provocando o aparição de indícios de
construção
descascamento (fig. 2.5) ferrugem se o ambiente é
húmido
Aparece com certos tipos
de agregados em
Reacção Alguns anos após a As fendas podem ser
ambientes húmidos,
Álcali-agregados construção largas
freqüentemente como uma
fendilhação em rede
As cargas permanentes
são mais importantes que
as de curta duração;
Cargas durante Depende do uso da fendas largas indicam
(ver figuras 2.1 e 2.2)
A utilização estrutura geralmente uma má
compreensão do
comportamento da
estrutura

QUADRO 2.1 – Resumo das diferentes formas de fendilhação

33
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.6 – Indicação da idade para a qual podem ocorrer as várias formas de fendilhação

2.2 – RAZÕES PARA CONTROLE DA FENDILHAÇÃO

Vejamos algumas das razões principais para controlar a fendilhação em estruturas


de betão.

2.2.1 – APARÊNCIA

As fendas podem ser desagradáveis e incomodar os ocupantes ou os proprietários


dos imóveis. Hoje em dia não pode ser adoptado o ponto de vista de que interessa
apenas uma estrutura segura sem preocupação com o aspecto. Um dos principais
elementos para analisar da qualidade da vida humana é a qualidade das habitações e
outras estruturas no interior ou junto às quais teremos de viver. Um dos factores mais
importantes para estimar a qualidade é o aspecto.
Estudos efectuados sugerem que fendas sobre superfícies lisas com aberturas
superiores a 0,25 a 0,3 mm, podem causar preocupação no público, sendo por isso de
admitir aberturas máximas por volta deste valor.

34
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

2.2.2 – ESTANQUICIDADE AOS LIQUIDOS E AOS GASES

Para certas categorias de estruturas a possibilidade de fuga de água ou de outros


líquidos ou gás armazenado através das fendas, deverá ser considerada. A importância
das fugas depende da natureza e da pressão do liquido ou gás, depende do tipo de fendas
(atravessa toda a espessura ou não) e depende ainda da abertura das fendas.

2.2.3 – PROTECÇÃO CONTRA A CORROSÃO

Trata-se da razão mais freqüentemente invocada para controlar a fendilhação. A


protecção contra a corrosão tem a ver fundamentalmente com requisitos de
durabilidade; os limites e estabelecer para a fendilhação terão a ver, quer com a
agressividade do ambiente, quer com a sensibilidade das armaduras à corrosão.
Um adequado recobrimento das armaduras e um betão de boa qualidade (não
poroso) são muito importantes como meio para proteger a armadura para além dos
limites de fendilhação a impor. Na figura 2.7 indicam-se as aberturas de fendas junto à
superfície do varão variando o recobrimento, c, e a tensão na armadura. Vemos que as
aberturas junto ao varão são pequenas e aproximadamente iguais, não causando
inconvenientes quanto à corrosão, independentemente da abertura verificada na
superfície.
Deve-se resistir à tentação de controlar a fendilhação pelo emprego de um número
elevado de varões de pequeno diâmetro. O aumento de varões no seio do betão
fendilhado aumenta o risco de aparição de corrosão importante. Para controlar as fendas
com vista à corrosão será preferível se necessário recorrer a uma redução da tensão na
armadura em vez do uso irrealista de varões e de espaçamentos muito pequenos.

35
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.7 – Abertura interna de fendas

2.3 – CRITÉRIOS PARA O CONTROLE DA FENDILHAÇÃO

2.3.1 – DEFINIÇÃO DOS ESTADOS LIMITES

São considerados, basicamente, três estados limites de fendilhação:

- Estado limite de descompressão;


- Estado limite de formação de fendas;
- Estado limite de largura de fendas.

O estado limite intermédio de formação de fendas não é contemplado no REBAP,


podendo no entanto ser útil no caso de verificação de depósitos e de secções pré-
esforçadas em fase de construção. O estado limite de largura de fendas compreende
ainda três estados limites, correspondendo a três diferentes valores permissíveis de
abertura de fendas. No quadro 2.2, definem-se os estados limites de fendilhação por
ordem decrescente de severidade.
Quando o recobrimento das armaduras for superior aos mínimos especificados é
permissível aumentar os valores de w1, w2 e w3 de um factor c/cmin > 1.5 (código modelo
CEB-FIP). Esta forma de proceder atende ao facto de que a abertura das fendas se reduz
à medida que se aproxima da armadura e que uma maior abertura de fenda com um
36
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

maior recobrimento é mais aconselhável (corrosão) do que uma menor abertura com um
menor recobrimento.

2.3.2 – CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO

De acordo com as condições de exposição os ambientes podem ser divididos em 3


categorias conforme o seu grau de agressividade (Quadro 2.3).

2.3.3 – SENSIBILIDADE DAS ARMADURAS À CORROSÃO

Dois níveis diferentes de sensibilidade à corrosão são considerados conforme a


definição do Quadro 2.4 (art.º do REBAP).

ESTADO LIMITE DEFINIÇÃO

O estado no qual, sob a combinação de acções consideradas, as


1 Descompressão tensões de compressão são no extremo levadas a zero para a
fibra considerada

Estado no qual, sob a combinação de acções consideradas, a


2 Formação de fendas
tensão de tracção característica do betão em flexão

3 Largura de fendas Estado no qual, sob a combinação de acções consideradas, a


W1 = 0,1 mm abertura característica da fenda é igual a 0,1 mm

4 Largura de fendas
Idem, com a abertura limite de 0,2 mm
W2 = 0,2 mm

5 Largura de fendas
Idem, com a abertura limite de 0,3 mm
W3 = 0,3 mm

QUADRO 2.2 – Estados limites de fendilhação

37
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Categoria Definição
Ambientes em que a humidade relativa é habitualmente
baixa e em que não é de esperar a presença de agentes
Ambientes pouco agressivos
corrosivos (ex. interiores de edifícios de habitação, de
escritórios, etc)
Ambientes interiores em que a humidade relativa é
habitualmente elevada ou em que é de esperar a presença
Ambientes moderadamente agressivos temporária de agentes corrosivos; ambientes exteriores
sem concentração especial de agentes corrosivos; águas e
solos não especialmente agressivos

Ambientes com forte concentração habitual de agentes


Ambientes muito agressivos corrosivos; líquidos agressivos (águas muito puras,
águas salinas, etc); solos especialmente agressivos.

QUADRO 2.3 – Agressividade do ambiente

Sensibilidade Tipos de armadura

- todas as armadura com diâmetros menores que 4


mm;
- aços tratados – todos os diâmetros
Muito sensíveis
- armaduras de aço endurecido a frio submetidas
permanentemente a tensões de tracção superiores a
400 MPa

Pouco sensíveis - todos os outros tipos de armaduras

QUADRO 2.4 – Grau de sensibilidade à corrosão

2.4 – ESTADOS LIMITES DE FENDILHAÇÃO A CONSIDERAR

Para assegurar a conveniente durabilidade das estruturas os estados limites de


fendilhação devem ser escolhidos atendendo ao disposto nos art.º (67 – 71 do REBAP):
- tipo de combinação de acções (sua duração)
- agressividade do ambiente
- sensibilidade das armaduras à corrosão

38
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

No caso de armaduras ordinárias, o estado limite a considerar é o de largura de


fendas, nas condições indicadas no Quadro 2.5.

Ambiente Combinações de acções Estado limite

Largura de fendas
Pouco agressivo Freqüentes
W = 0,3 mm

Largura de fendas
Muito agressivo raras
W = 0,1 mm

QUADRO 2.5 – Estados limites de fendilhação. Armaduras ordinárias

No caso de armaduras de pré-esforço, os estados limites a considerar são o de


descompressão e o de largura de fendas, nas condições indicadas no Quadro 2.6.

Ambiente Combinações de acções Estado limite

Largura de fendas
Freqüentes
Pouco W = 0,2 mm

agressivo
Quase frequentes Descompressão

Largura de fendas
Freqüentes
W = 0,1 mm
Moderadamente agressivo

Quase freqüentes Descompressão

Largura de fendas
Raras
W = 0,1 mm
Muito agressivo

Frequentes Descompressão

QUADRO 2.6 – Estados limites de fendilhação; Armaduras de pré-esforço

39
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

2.4.1 – ESTADOS LIMITES DE DESCOMPRESSÃO

Por definição, nenhuma tensão de tracção deve estar presente na secção para este
estado limite. O cálculo das tensões pode assim ser efectuado de acordo com a teoria
elástica, admitindo como activa toda a secção de betão. Quando a secção contiver uma
percentagem considerável de armaduras aderentes (sejam ordinárias ou de pré-esforço),
elas devem ser tidas em conta na definição das características da secção efectiva.
As tensões podem então ser obtidas pelas fórmulas usuais:

i) Flexão e força axial

N ± M.y = σ
A I

onde,

N – força axial (inclui o pré-esforço e qualquer força externa aplicada axialmente)


A – área efectiva da secção transversal
M – momento na secção (inclui o momento devido ao pré-esfoço e o devido ao
carregamento)
I – momento de inércia efectivo
y – distância do eixo neutro à fibra considerada (em geral a fibra extrema)
σ - tensão na fibra considerada

ii) Esforço transverso

τ= V.S
I .b

onde,
τ - tensão tangencial na fibra considerada
V – esforço transverso
S – momento estático em relação ao eixo neutro da área acima da fibra
considerada

40
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

b – largura da secção ao nível da fibra considerada


Se for de considerar a combinação de σ e τ teremos de determinar as tensões
principais nas fibras nas condições mais desfavoráveis.
Para a determinação da área e do momento de inércia efectivo da secção, o
REBAP define os seguintes valores para o coeficiente de homogeneização α = Es/Ec,
que depende da duração das acções para ter em conta a fluência do betão com o tempo,

α = 6 – para acções de curta duração


α = 18 – para acções com caracter de permanência

Note-se que o estado limite de descompressão deve ser apenas verificado em


relação às armaduras de pré-esforço e destina-se a assegurar que, para a combinação de
acções em causa, estas armaduras se situem em zona comprimida. Para além das acções
aplicadas, outros factores devem estar presentes na verificação ao estado limite de
descompressão como sejam a fluência, a retracção e a variação de temperatura.

- Estado limite de formação de fendas

O controle do estado limite de formação de fendas pode ser efectuado


exactamente da mesma forma que o estado limite de descompressão; a única diferença
reside no facto que as tensões de tracção são permitidas no betão. No modelo código
CEB-FIP sugere-se tomar os valores seguintes para resistência do betão à tracção:

- tensão característica inferior fctk0.05, no caso em que o valor médio do pré-esforço


(Pm) é utilizado para calcular as tensões;
- a tensão média fctm, no caso em que o valor característico do pré-esforço (Pk,min
ou Pk,max) é utilizado.

2.4.2 – ESTADO LIMITE DE LARGURA DE FENDAS

A verificação do estado limite de abertura de fendas está na pratica dificultada


pela morosidade do calculo o que a aplicação das formulas conduz no entanto, o

41
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Regulamento nos seus artos. 91 e 105, define valores de espaçamento nas vigas que só
obedecidos dispensam a verificação explicita no estado limite de abertura de fendas.
Tal regra é baseada nas hipóteses de admitir a tensão nos aços em serviço para as
combinações freqüentes de acções iguais a 0,5 fsyd e de desprezar a participação do
betão entre fendas, além de outras pequenas hipóteses de pormenor.
Os valores regulamentares são os apresentados:

Espaçamento de varões
TIPOS DE
AÇO
AMBIENTE A235 A400 A500
POUCO AGRESSIVO
⎯ 12,5 10
W = 0,3 mm
MODERADAMENTE AGRESSIVO
⎯ 7,5 5
W = 0,2 mm

Se em geral tais limites verificar a expressão:

A segurança em relação ao estado limite de largura de fendas considera-se


satisfeita se o valor característico da largura das fendas, ao nível das armaduras mais
traccionadas não exceder os valores especificados no Quadro 2.6.
O valor característico wk é obtido por,

wk = 1.7 wm

wm = srm . εsm
em que,

wm – valor médio da largura das fendas


srm – distância média entre fendas
εsm – extensão média da armadura

Os valores de srm e εsm já foram discutidos para o caso de uma barra traccionada
axialmente. Segundo o REBAP (art.º 70), para o caso de elementos sujeitos a tracção ou
a flexão, simples ou composta, estas quantidades podem ser definidas como se indica:

42
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

a) Distância média entre fendas

srm = 2 ( c + s ) + η1.η2 φ
10 ρr

em que:

c – recobrimento da armadura
s – espaçamento dos varões da armadura s > 15 φ
η1 – coeficiente que depende das características de aderência dos varões
= 0,4 varões de alta aderência
(A400 EL e redes electrosoldadas de A500EL são incluídos)
= 0,8 varões de aderência normal
η2 – coeficiente que representa a influencia da forma do diagrama de extensões

η2 = 0,125 em flexão
η2 = 0,25 tracção axial
η2 = 0,25 . ε1 + ε2 em tracção excêntrica ou para a zona da alma de uma viga
2.ε1
φ - diâmetro dos varões

ρr – As/Ac,r

As – área da secção da armadura (contida em Ac,r)


(excluindo as armaduras pós-tensionadas)
Ac,r – área da secção de betão traccionado que efectivamente envolve as
armaduras (ver figura 2.8).

43
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.8 – Área da secção traccionada de betão envolvente das armaduras

b) Extensão média das armaduras traccionadas

εsm = σs [ 1 - β1.β2 ( σsr )2 ]


Es σs

em que,

σs – tensão na armadura na secção fissurada, sob a combinação de acções em


consideração. Para tracção centrada teremos σs = N
As

σsr – tensão na armadura calculada em secção fendilhada, correspondente ao


esforço que provoca o inicio da fendilhação (com fctm para resistência do betão à
tracção).

Para tracção centrada, por exemplo, teremos

σsr = fctm [ Ac + ( α - 1 ) As ]
As

β1 – coeficiente dependente das características de aderência da armadura


β1 = 1 / (2.5 η1 )
= 1.0 para varões de alta aderência (inclui A400EL e redes A500EL)
= 0.5 para varões de aderência normal

44
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

β2 – coeficiente dependente da permanência ou da repetição das acções


= 0.5 para combinações permanentes ou freqüentes
= 1.0 para combinações raras de acções

Para efeito de cálculo da abertura das fendas o valor da extensão média das
armaduras não deve ser considerado inferior a:

0.4 σs / Es (ver figura 1.10)

donde teremos:

εsm < 0.4 σs


Es

Para a determinação das tensões nas armaduras em secção fendilhação (σs, σsr)
pode admitir-se comportamento elástico perfeito dos materiais com um coeficiente de
homogeneização que pode ser simplificadamente tomar-se α = 15. Para elementos
lineares (vigas) pode adoptar-se simplificadamente.

σs = 0.7 . fsyk

No caso de elementos de betão pré-esforçado, a verificação da segurança em


relação ao estado limite de largura de fendas fica em geral satisfeita se o valor da tensão
de tracção na fibra extrema da secção não exceder o valor característico da tensão de
rotura do betão à tracção simples indicado no art.º 16º; a determinação daquele valor da
tensão pode ser efectuada de acordo com as hipóteses estipuladas no art.º 69º.
Nos casos correntes de vigas e de lajes considera-se (REBAP) satisfeita a
verificação da segurança em relação ao estado limite de largura de fendas, quando se
trate de armaduras ordinárias e de ambientes pouco ou moderadamente agressivos,
desde que sejam cumpridas as disposições relativas a espaçamento dos varões contidas
nos art.º 91º e 105º (ver quadro 2.7)

45
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

ESTADOS LIMITES DE FENDILHAÇÃO

REBA REBAP
67. AGRESSIVIDADE DO AMBIENTE
Ambientes pouco, moderadamente ou muito
agressivos;
- Sensibilidade das armaduras à corrosão
Muito sensíveis (armaduras de préesforço);
Pouco sensíveis (armaduras ordinárias)

18. SEGURANÇA EM RELAÇÃO À 68. ESTADOS LIMITES DE FENDILHAÇÃO


FENDILHAÇÃO 69. Descompressão (Betão préesforçado);
wk = 0.3 (estruturas protegidas; sol. tipo I) 70. Largura das fendas;
= 0.2 (estruturas não protegidas; sol tipo I) 68. Formação de fendas (depósitos, B.PE, ...);
71. Tensões de compressão no betão (nalgumas
situações)
Exemplo: E.L. LARGURA DE FENDAS
(armaduras ordinárias)
Wk = 0.3 mm (Amb. Pouco agressivo; acções
frequentes);
= 0.2 mm (Amb. Moderadamente agressivo; acções
raras)
= 0.1 mm (Amb. muito agressivo; acções raras)
67. A segurança à fendilhação em vigas é satisfeita 91 Nos casos correntes de vigas e lajes considera-se
se os φ máximos dos varões da armadura principal satisfeita a verificação da segurança em relação ao
de tracção obedecem aos valores mínimos E.L. Largura de fendas para armaduras ordinárias e
indicados: ambientes pouco ou moderadamente agressivos, se
φmax
< φ (tipo aço; tipo estrutura)
ref o espaçamento dos varões da armadura longitudinal
68. Espaçamento de varões, números e constituição de tracção for menor do que os valores de
de camadas. referência indicados
67. Para o aço A24 não se impõe limites smax < sref (ambiente; tipo aço)
54. Em lajes smax < min (15 cm; 1.5 h) 12.5; 10 cm (w = 0.3 mm)
Ex:s = {
ref

7.5; 5 cm (w = 0.2 mm)


- Para o aço A235 não se impõe limites
- Para vigas com armadura mínima não há que
exigir o condicionamento de smax
105. Em lajes sref < 2 x sref (vigas)

QUADRO 2.7 – Resumo da verificação aos estados limites de utilização

46
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

No caso de peças sujeitas a esforços transversos a à torção a verificação ao estado


limite de largura de fendas considera-se satisfeita nos casos correntes de vigas desde
que sejam observadas as disposições construtivas da armadura, nomeadamente a
armadura transversal mínima o espaçamento de estribos no que se refere ao esforço
transverso.

2.4.3 – VERIFICAÇÃO DA TENSÃO MÁXIMA DE COMPRESSÃO

Para combinações raras de acções durante a construção ou em uso, as tensões de


compressão do betão não devem exceder 1.0 fcd, em que fcd é o valor de cálculo da
tensão de rotura à compressão do betão. Esta verificação torna-se apenas necessária para
aqueles casos em que se prevê altas tensões de compressão (por exemplo em secções
fortemente armadas de vigas ou secções de apoio de algumas vigas contínuas,
elementos pré-esforçados). O objectivo é reduzido o perigo de excessiva deformação de
fluência e/ou de fendilhação longitudinal sob a influência de elevadas tensões de
compressão localizadas que originam tensões transversais de tracção.
No caso de o betão não ter atingido a idade de 28 dias, o valor limite da tensão
deve ser 1.0 fct,j/Yc , em que fck,j é o valor característico da tensão de rotura do betão à
compressão (proventes cilíndricos) à idade j e Yc = 1.5.
A verificação deve ser feita admitindo um comportamento elástico perfeito dos
materiais e considerando a secção fendilhada ou não fendilhada consoante existam ou
não tensões de tracção (calculadas em secção não fendilhada) de valor superior a fctm.

2.5 – ALGUMAS INDICAÇÕES PRÁTICAS PARA CONTROLE DA


FENDILHAÇÃO

2.5.1 – AMADURA MÍNIMA

Quando da fendilhação, gera-se uma redistribuição importante de esforços no


interior da secção: a força de tracção previamente suportada pelo betão é transmitida à
armadura. Se a quantidade de armadura colocada na secção é insuficiente para tomar
esta tracção, ela plastifica quando da aparição da primeira fenda e o controle de

47
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

fendilhação não é por conseqüência possível. Daqui resulta que será necessário prever
uma secção mínima da armadura, para resistir pelo menos às forças libertadas quando
da fendilhação, em qualquer situação em que a tracção se possa desenvolver sob o efeito
de cargas ou de uma restrição às deformações. Deverá por conseqüência ser prevista
uma armadura mínima, definida como segue:

As,min = fctm fsyk – art.º 25 REBAP


Ac,ef fsyk

As,min = fctm . Ac,ef fctm – art.º 15 REBAP


fsyk

As,min., é a área da secção mínima de armadura traccionada e Ac,ef é a área da secção de


envolvimento. A definição da secção de envolvimento (efectiva) dada na figura 2.8 nem
sempre é apropriada neste caso; em geral é mais indicado considerar aqui Ac,ef como
sendo igual à área total da secção de betão traccionado.
Note-se que um lintel de travação de um edifício que seja posto sob tracção terá
de possuir a seguinte percentagem mínima:

B25 – fctm = 2.2 MPa

A235 – fsyk = 235 MPa

σmin = As,min = fctm = 2.2 = 0.0094 = 0.94%


Ac fsyk 235

Ac – 25 40 cm2 donde As,min = 9.4 cm2 → 5 φ 16

Pelas Tabelas dos anexos do REBAP podemos comprovar que o valor que satisfaz a
armadura mínima são 5 φ 16

48
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

2.5.2 – ARMADURA NO CASO DE DEFORMAÇÕES IMPOSTAS (Acções


indirectas)

Já vimos na secção anterior que será de prever sempre uma quantidade mínima de
armadura:

ρr = As = fctm
Ac,ef fsyk

A percentagem apropriada da armadura mínima pode ser obtida, sem cálculo, com a
ajuda da figura 2.10, admitindo que Ac,ef é igual à área da secção total no caso de
elementos solicitados à tracção, ou que Ac,ef é igual a 1/3 da área da alma no caso de
elementos flectidos (ver figura 2.9).

Fig. 2.9 – Definição de Ac,ef no caso da flexão simples

Confronte-se a percentagem ρmin obtida para o exemplo anterior do lintel (secção


2.51) com a percentagem resultante da consulta do gráfico (B25 ≡ C20).

49
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.10 – Percentagens mínimas de armadura (acções indirectas)

Para limitar a abertura das fendas que resultam duma restrição às deformações
impostas poderemos utilizar as equações já descritas na secção 2.42 e tomando wk igual
a 1.3.wm em vez de 1.7.wm . A razão de tomar um valor característico da abertura das
fendas menor é devido ao seguinte:

- a fendilhação leva a uma diminuição da rigidez;


- a dispersão dos valores das aberturas de fendas são menores no caso de acções
indirectas.

As figuras 2.11 e 2.12 fornecem valores (pelo lado da segurança) das percentagens
de armadura e dos diâmetros de varões a usar para proceder ao controle da fendilhação.

50
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.11 – Armadura necessária no caso da tracção impedida


ρ = As / Ac , Ac = secção total
S400 + S500 ------- S500

Fig. 2.12 – Armadura necessária no caso de flexão impedida


ρw = As / Acw’ Acw = secção da nervura

51
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

2.5.3 – ARMADURA COMPLEMENTAR DA ARMADURA PRINCIPAL

Existem numerosas situações praticas nas quais é necessário prever uma armadura
construtiva para controlar a fendilhação. As figuras 2.13 a 2.16 ilustram algumas destas
situações.

Fig. 2.13 – Controle da fendilhação em secções com abas à tracção

Fig. 2.14 – Disposição duma armadura de pele para controlar a fendilhação

52
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 2.15 – Controle da fendilhação na alma de vigas de grande altura

Fig. 2.16 – Altura hw sobre a qual é necessário colocar armadura de alma

53
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

3 – VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO À DEFORMAÇÃO

3.1 – INTRODUÇÃO

A forma de introduzir a segurança no método dos estados últimos é dupla, e vem


representada nos dois tipos de coeficientes: as de minoração (γm), referente à resistência
dos materiais (γs para o aço e γc para o betão) e os de majoração das acções γf.
De uma forma simplificada pode admitir-se que o coeficiente de segurança global
vem medido por o produto dos seguintes elementos:
- para falhas devidas ao aço (vigas): γ ≅ γs . γf
- para falhas devidas ao betão (suportes): γ ≅ γc . γf

A diferença do coeficiente de segurança do método clássico e o coeficiente de


segurança global (γ), é a medida da distancia que existe entre o estado de serviço e o
estado limite correspondente (rotura, deformação excessiva, fissuração excessiva, etc.).
Se variam os coeficientes γm, γf , varia a probabilidade da estrutura ficar fora de serviço.
Na pratica e para simplificar, os coeficientes γm, são adoptados uns valores fixos,
variando somente γf para adoptar cada caso o mais conveniente possível. Assim, por
exemplo, se nos referirmos ao estado ultimo de rotura, em aumento de γf, implicará um
dimensionamento mais folgado (maiores secções de betão e aço), e por conseguinte
maior custo, mas menor probabilidade de deformação. Ao contrario, uma diminuição de
γf, conduz a estruturas mais finas, delgadas, mais econômicas e com maior
probabilidade de se deformarem.

3.2 – RAZÕES PARA O CONTROLE DAS DEFORMAÇÕES

De uma forma geral as deformações das estruturas compreendem deslizamentos


longitudinais, deslizamentos transversais e rotação das secções.
Estas deformações são provocadas pela actuação de cargas de curta ou longa
duração, por retracção pela fluência, variações térmicas (temperatura) e variações de
humidade (no meio ambiente).

54
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Nos estados limites de deformação deve comprovar-se quando venham


especificados os limites por razões estéticas. Em particular, que fazem o calculo de
deformações quando seja previsível a aparição de alguns dos seguintes fenómenos:

- flechas excessivas, devidas a uma grande deformação da estrutura, provocada


pelos efeitos de fluência;

- fissuras de tabique ou outros elementos suportados pela estrutura, como


conseqüência do excesso de deformação desta;

- apoio de elementos estruturais em elementos não resistentes, por excesso de


flexão;

- fissuras devidas a uma incompatibilidade de deformações (por retracção, fluência


ou cargas), entre elementos da estrutura outros ligados a ela;

- vibrações inadmissíveis debaixo de cargas de serviço.

Os cálculos das deformações efectuam-se a partir dos valores característicos das


acções, da resistência dos materiais, dado que se trata de conhecer o comportamento da
estrutura de serviço. Por conseguinte, se considera que o γf = γs = γc = 1.
O método geral de calculo das deformações consiste em integrar, ao longo da
peça, as deformações relativas ocasionadas pelos diferentes tipos de solicitações. As
flechas devidas à flexão obtêm-se por dupla integração das curvaturas. As flechas
devidas ao esforço das distorções.
O projectista deve decidir, em cada caso, quais as verificações que são
necessárias para controlar as deformações das estruturas em serviço normal. Estas
deformações podem ser flechas, rotações, deslocamentos, etc.
O objectivo será:
- Satisfazer às condições de serviço estabelecidas;
- Evitar estragos ou destruição de elementos não estruturais;
- Usar contra – flechas quando aconselhável.

55
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

É geralmente considerado que flechas maiores que l (vão) / 250 devem ser evitadas
sob ponto de vista da aparência. A manifestação mais típica das flechas excessivas é no
entanto a fissuração de paredes não estruturais ou problemas com janelas. Há dois
possíveis caminhos para tratar este problema: ou as flechas são limitadas a um nível que
não cause fissuração nos panos de enchimento ou os elementos não estruturais devem
ser projectados para acomodar os movimentos da estrutura. Casos típicos de fendilhação
em paredes (alvenarias, tijolo) podem ser observados nas figuras 3.1 e 3.2. Os valores
usualmente especificados para as flechas de forma a atenuar estes problemas são de
1 /500 ou 1 cm (o menor dos dois), para flechas que ocorrem depois da construção dos
panos de enchimento.
Um outro factor a ter em conta é a possível diminuição de utilidade da estrutura por
efeito do apodrecimento de deformações excessivas. Alguns casos podem ser
mencionados:

- poças de água – se a flecha duma laje de cobertura é excessiva, pode conduzir à


acumulação de água nos pontos baixos com formação de poças, crescendo os
riscos de infiltrações;
- interferência com o funcionamento de portas e janelas;
- interferência com o alinhamento de maquinas e de aparelhos – a conservação
dos alinhamentos pode ser dificultada com o desenvolvimento de flechas no
tempo;
- problemas de vibração.

56
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 3.1

57
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 3.2 – Avarias em paredes divisórias. Fendas inclinadas na parede devido a


excessivas tensões de corte

É de salientar que critérios absolutos para limitar as flechas e outros estados


limites de utilização são difíceis (senão impossíveis) de ser especificados. O mesmo não
acontece com os estados limites últimos onde o objectivo do cálculo é bastante claro. O
projectista deve escolher o sistema estrutural mais adequado e pode então decidir por

58
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

limites apertados que encarecem a estrutura ou então adoptar valores menos severos que
podem levar mais tarde a gastos com a conservação.
Entre os meios para limitar as flechas, particularmente sob acções de longa
duração, os seguintes pontos devem ser tidos em conta:

- baixos valores da relação vão/altura, l/h;

- uso de sistemas estruturais que forneçam restrição às rotações nos suportes, por
exemplo, por meio de continuidade;
- betões de alta resistência, tendo baixa relação água/cimento, boa cura e
endurecimento adequado antes da aplicação da carga, evitar carga excessiva
durante a construção;
- reduzir as zonas fendilhadas pré-esforçando;
- adicionar armadura de compressão, se as tensões de compressão para acções de
longa duração são altas;
- reduzir as tensões sobre-dimensionado a armadura de tracção longitudinal.

3.3 – ESTADOS LIMITES DE DEFORMAÇÃO A CONSIDERAR (REBAP)

De uma forma geral as deformações das estruturas compreendem deslizamentos


longitudinais, deslizamentos transversais e rotação das secções. Estas deformações são
provocadas pela actuação de cargas de curta ou longa duração, por retracção, pela
fluência, variações térmicas (temperatura), e variações de humidade (no meio
ambiente).
Nos estados limites de deformação deve comprovar-se quando as deformações
podem afectar o bom serviço (uso) da estrutura, ou quando venham especificados os
limites por razões estéticas. Em particular a que fazer o calculo de deformação quando
seja previsível a aparição de alguns dos seguintes fenômenos:

- flexões excessivas, devidas a uma grande deformação da estrutura, provocada


pelos efeitos da fluência;
- fissuras de tabiques ou outros elementos suportados pela estrutura, como
conseqüência de excesso da deformação desta;
- apoio de elementos estruturais em elementos não resistentes, por excesso de
flexão;
59
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

- fissuras devidas à sua incompatibilidade de deformações (por retracção, fluência


ou cargas) entre elementos da estrutura ou outros ligados a ela;
- vibrações inadmissíveis debaixo de cargas de serviço.

Os cálculos das deformações se efectuam a partir dos valores característicos das


acções, das resistências dos materiais, dado que se trata de conhecer o comportamento
da estrutura em serviço. Por conseguinte, se considera que o γf = γs = γc = 1.
O método geral de calculo das deformações consiste em integrar, ao longo da
peça, as deformações relativas, ocasionadas pelos diferentes tipos de solicitações. As
flechas devidas à flexão obtêm-se por dupla integração das curvaturas. As flexões
devidas ao esforço cortante, se obtém por simples integração das distorções.
Os valores limites das deformações a considerar com vista à verificação da
segurança em relação ao estado limite de deformação, dependem do tipo de estrutura e
das condições da sua utilização, portanto, ser convenientemente estabelecidos em cada
caso.
Nos casos correntes de vigas e lajes de edifícios, a verificação da segurança em
relação aos estados limites de deformação poderá limitar-se à consideração de um
estado limite definido por uma flecha igual a 1/400 do vão para combinações freqüentes
da acções; porem, se a deformação do elemento afectar paredes divisórias, e a menos
que a fendilhação dessas paredes seja contrariada por medidas adequadas, aquela flecha
não deve ser tomada com valor superior a 1.5 cm

Vigas e lajes de edifícios f ≤ 1 l (vão)


400

ou f ≤ 1.5 cm (divisórias)
Segundo o REBAP, a verificação da segurança à deformação de vigas e lajes de
edifícios considera-se satisfeita desde que se cumpram as disposições construtivas
expressas nos art.º 89.º, 102.º e 113.º.
Estas disposições limitam o valor máximo da relação l/h em função das condições

de apoio ou tipo e da qualidade de aço utilizado. No quadro 3.1 faz-se um sumário da


verificação aos estados limites de deformação.

60
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

3.4 – DETERMINAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES

A determinação das deformações em peças de betão armado fissuradas tendo em


conta as combinações de acções, a fluência e a retracção do betão leva a cálculos
laboriosos e por vezes complexos. As flechas de peças flectidas podem ser calculadas,
com generalidade, pela integração numérica das curvaturas de pequenos troços em que
uma viga pode ser dividida (Figura 3.3). Diagramas momento-curvatura e fórmulas
simplificadas para obter as flechas em casos simples de vigas e lajes são dados no
Manual do CEB “Deformações” (REF. 2). Espera-se que em breve a publicação entre
nós de formulas simples e de ábacos (baseados nas directrizes do REBAP), possa
permitir uma estimativa das flechas para os casos mais correntes de lajes e vigas com
diversas condições de apoio e de carga.
No que se segue pretende-se dar uma iniciação a alguns métodos simplificados de
cálculo de flechas. Para um estudo mais completo indica-se o Manual do CEB sobre
fendilhação e deformação (REF. 2).

ESTADOS LIMITES DE DEFORMAÇÃO


REBA REBAP
9. Solicitações do tipo I 65. Estados limites de muita curta e de longa duração
Em flechas a curto e longo prazo γf = 1.0 ; γm = 1.0
f < 1 (CP + SC) – Lajes e vigas em geral 72. f ≤ 1 - Comb. Freqüentes – Lajes e vigas
l 300 l 400 (casos correntes)
f < 1 (SC) ≤ 1.5 cm – se suporta paredes divisórias
l 500
A VERIFICAÇÃ É DISPENSADA SE:
Solicitações do tipo II
89. li ≤ 20 η ; li = αl l – vão
Ex: deslocamentos entre andares ≤ 1 a 2 cm
h h – altura
η = 1.4 (A235) α = 1.0 (simples apoio)
A VERIFICAÇÃO É DISPENSADA SE: = 1.0 (A400) = 0.6 (encastrada)
53 e 52 Lajes l ≤ k1 k2 = 0.8 (A500) = 0.8 (enc. – apoiada)
h tipo de aço =1.6 (pré-esf.) = 2.4 (em consola)
tipo de laje
li/h ≤ 30 η - paredes divisórias
63. Vigas l ≤ k1 k2
h tipo de aço 102. Para além dos valores especificados em 102.1
tipo de viga
li ≤ 30 η li = lα
h
α - depende do tipo de laje
QUADRO 3.1 – Resumo da verificação aos estados limites de deformação REBA versus REBAP

61
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

3.4.1 – CÁLCULO DE CURVATURA

Em cada ponto de uma estrutura linear, a curvatura é determinada a partir da seguinte


relação:

Fig. 3.3 – Variação da rigidez e da curvatura ao longo de uma viga em função do


diagrama de momentos e da rigidez à flexão EI

Fig.3.4 – Definição de curvatura

62
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

A curvatura total no tempo t é a soma da curvatura elástica e das curvaturas


devidas à fluência e à retracção,

(1 / r)t = (1 / r)o + (1 / r)ϕ + (1 / r) cs

onde cada um dos termos do segundo membro se refere, dependendo do caso


considerado, ao estado I ou estado II com fendilhação estabilizada ou a um estado
intermédio.
A curvatura média depende das curvaturas no estado I e no estado II (para a
flexão simples) que representam os extremos possíveis conforme vimos na secção 1.25.
O cálculo das curvaturas no estado I e II pode efectuar-se a partir da curvatura de base,

1 / rc = M / EIc

que se modifica por meio de coeficientes k afim de ter em conta:

- o efeito da armadura;
- o efeito da fluência;
- o efeito da retracção.

3.4.2 – CURVATURA MEDIA – FLEXÃO SIMPLES

A curvatura média é definida duma maneira geral pela expressão seguinte:

1 = M = εsm - εcm (1)


rm EIm d

Em referência ao modelo de cálculo apresentado (secção 1.25), obtêm-se (ver


figura 3.5):

εsm = ( 1 - ζ ) . εs1 + ζ . εs2 (2)

εcm = ( 1 - ζ ) . εc1 + ζ . εc2

63
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 3.5 – Curvatura media – flexão simples

Substituindo (2) em (1) teremos para a curvatura média:

1 = (1-ζ).1 +ζ.1 (3)


rm r1 r2

As curvaturas 1/r1 e 1/r2 correspondem aos estados I e II respectivamente. O


coeficiente de repartição ζ é dado por:

ζ = 1 - β1 . β2 . ( Mr )2
M
= 0 para M < Mr

com β1 e β2 tendo o significado já especificado.


O momento de fendilhação é dado por:

Mr = W1 . fct ≅ Wc . fct

Com,
fct = fctk0.05 – se se trata de evitar danos
= fctm – se se trata de calcular contra flechas
W1 – modulo de flexão da secção no estado I (com armadura)
Wc – módulo de flexão da secção de betão apenas.
64
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3.4.3 – CÁLCULO DAS DEFORMAÇÕES POR INTEGRAÇÃO – PRINCIPIOS

A deformação a (flecha, rotação angular) de um elemento de estrutura linear pode


ser obtido por integração das curvaturas médias aplicando o teorema dos trabalhos
virtuais (ver figura 3.6):

Fig. 3.6 – Teorema dos trabalhos virtuais aplicado ao cálculo da flecha

O procedimento a seguir para o cálculo é o seguinte:


- determinação da rigidez à flexão EIc;
- determinação do diagrama de momentos Mc;
- determinação das curvaturas em cada secção (troços de comprimento finito)
1 = Mc
rc EIc

- cálculo das curvaturas 1 / r1, e 1 / r2 em estados I e II respectivamente;


- cálculo de curvatura média 1 / rm.

Em geral será necessário o uso de computador para executar a integração acima


por meio de um somatório de troços de comprimento finito, dada um com curvatura
média constante, em que a peça é dividida. No caso de estruturas hiperestáticas haverá
lugar à redistribuição de momentos e o cálculo da flecha terá de ser iterativo.

65
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

3.4.4 – CÁLCULO DE FLECHAS

A- Calculo de Flechas originadas pela Flexão – Flechas Instantâneas –

Chamamos flechas instantâneas aquelas que aparecem debaixo de cargas de curta


duração. O seu valor depende do modulo de rigidez à flexão, EI, das secções da peça
considerada. Pois este modulo toma valores diferentes, sempre que se trate de secção
sem fissuras (Estado I), ou de secção com fissuração (Estado II). O estado em que se
encontra a peça depende do valor relativo do momento máximo de serviço (Mk).
Comparado com o momento de fissuração Mcr, na figura seguinte se ilustra o diagrama
momentos-curvaturas da secção central de uma peça em flexão, que consta de tramos
rectilíneos correspondentes às fases mencionadas. Para valores inferiores ao momento
de fissuração Mcr , a pendente da recta representa a rigidez da secção sem fissuras (EI1).
Para valores superiores a Mcr , à uma transição que pode supor-se linear, entre o ponto F
(fissuração) e p ponto P (plastificação), correspondendo a este a rigidez (EI2) da secção
totalmente fissurada.

a) o momento da fissuração

Mcr = f ctm . I
yt

fctm – resistência do betão à flexo-tracção – fctm (flexo-tracção) = 0,6 + 0,4 ftcm


4
√0,6
(Art.º 16 do REBAP)
I – momento de inércia de uma secção do betão, desprezando as armaduras
Yt – distância do centro de gravidade da secção à fibra mais longa.

b) a rigidez da flexão (EI), para a secção sem fissurar, se obtém utilizando o


momento de inércia de uma secção homogeneizada e o modulo de deformação do betão

E = 19.000 √fcf (Kg/cm2)

fcf – resistência à compressão do betão

66
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

c) rigidez à flexão (EI2) em uma viga totalmente fissurada pode calcular-se


facilmente, de acordo com a hipótese de deformação plana (Wovier – Bernonilli)

1 = dθ = d2y = M = εs + εc = εs
r dx dx2 EI2 d d-x

Por outra parte se tem,


εs = σs
εs
M = As . σs . Z

Sendo Z o braço das forças interiores. Assim das três equações anteriores, eliminando
εs, y e σs resulta:

(EI)2 = Es . As . Z ( d – x )

Es – modulo de elasticidade do aço


As – área da secção da armadura de tracção
Z – braço das forças interiores
d – altura útil
x – profundidade da fibra neutra

Assim, o cálculo da flecha instantânea σ0, de uma viga à flexão simples é dado
pela expressão,

σ0 = α M
k . l2
Ec . Ic

α - coeficiente que depende do tipo de carga


Mk – momento flector característico máximo na viga
L – largura da viga
Es – modulo de deformação do betão
Ic – momento de inércia efectivo

67
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

B- Flechas Reais
Chamamos flechas reais, às que aparecem no decorrer do tempo, debaixo de
cargas de longa duração. Estas flechas, vêm somar-se às flechas instantâneas, são
originadas pelos efeitos de retracção e fluência. O seu cálculo preciso é praticamente
inabordável, por depender de vários factores, ou variáveis; temperatura, humidade, cura
e idade do betão, quantidade de armadura de compressão, valor da carga permanente,
etc. Por outra parte, a fissuração do betão vem a complicar o problema, ao variar as
condições de deformação da secção
Um procedimento simples consiste em calcular a flecha diferida de igual forma
que a instantânea, mas empregando o modulo de deformação E do betão mais pequeno.
Segundo as normas Noruegas, o valor de E pode tomar-se igual à terceira parte do
modulo inicial instantâneo.

C- Método Bilinear

Este, é um método simplificado que será limitado ao cálculo de flechas. É baseado


sobre a constatação que, no estado de utilização, a relação momento-flecha pode ser
aproximada por meio de uma lei bilinear (ver figura 3.7) que representa de algum modo
uma lei ponderada das relações momento-curvatura.

M = As . σs . Z

sendo Z o braço das forças interiores, eliminando εs, y e σs resulta:

(EI)2 = Es . As . Z (d – x )

Es – Modulo de elasticidade do aço


As – Área da secção da armadura de tracção
Z – Braço das forças interiores
d – Altura útil
x – Propriedade da fibra neutra
Assim, o calculo da flecha instantânea a0, de uma viga à flexão simples é dado
pela expressão

68
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

a0 = α Mk . l2
Ec . Ic

α - Coeficiente que depende do tipo de carga


Mk – Momento flector característico máximo na viga
l – Largura da viga

Ec – Modulo de deformação do betão


Ic – Momento de inércia efectivo

Fig. 3.7 – Relação bilinear momento-curvatura

O método consiste em calcular em principio, a partir da flecha de base ac


(resultante de um cálculo elástico com rigidez EIc do betão apenas), os valores extremos
a1 e a2 da flecha nos estados I e II (Figura 3.7). A flecha provável toma um valor
intermédio, definido por meio de um coeficiente de reparação ζ , entre as flechas
extremas a1 e a2. O cálculo das flechas extremas a1 e a2 é efectuada considerando
apenas as características da secção determinante o que leva a desprezar o efeito da
variação da armadura ao longo do elemento. Consideremos a viga bi-encastrada sujeita
a carga uniforme (Figura 3.8). A flecha resultante do cálculo por integração é
fundamentalmente ditada pela zona determinante a que corresponde à secção de
69
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

momentos positivos máximos no vão que aproximadamente coincide com a secção de


que queremos determinar a flecha.

Fig. 3.8 – Zona e secção determinantes para o cálculo da flecha

Flexão simples

i) Simplificação relativa ao coeficiente de repartição, ζ

ζ = 1 - β1 . β2 . M2r
M2
ζ = 0 para M < Mr

Para um dado nível de cargas este coeficiente é variável ao longo do elemento.


Vamos no entanto admitir as seguintes simplificações:
- o momento de fendilhação Mr é suposto constante ao longo do elemento e igual ao
momento de fendilhação calculado na secção determinante:
Mr = MrD
- o momento flector M, variável, é suposto constante; admite-se igual à media
geométrica dos momentos MrD e Md na secção determinante, onde MD é o momento
total devido às cargas nesta secção:

70
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

M= MrD . MD

O coeficiente de repartição, ζb, para o método bilinear é assim:

ζ = 1 - β1 . β2 MrD
MD
ζ = 0 para MD < MrD
com,

MD – momento flector total, sob a combinação das acções consideradas, na secção


determinante;

MrD – momento de fendilhação na secção determinante;

β1 β2 – coeficientes já definidos.

ii) Simplificação relativa às flechas extremas a1 e a2

Se a variação das armaduras na zona determinantes é ligeira, podemos calcular as


flechas extremas a1 e a2, duma maneira aproximada, apenas considerando as
características da secção determinante.
As flechas extremas a1 e a2 para os estados I e II são obtidas a partir da flecha ac
(considerando o betão no estado I e desprezando a armadura) multiplicando esta flecha
por coeficientes de correcção k (ver REF. 2) a fim de ter em conta:

- o efeito da armadura (coeficientes ks1 e ks2, para os estados I e II);

- o efeito da fluência (coeficientes kϕ1 e kϕ2);

- o efeito da retracção (coeficientes kcs1 e kcs2).

71
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

3.4.4.1 – EXEMPLO

Façamos um resumo dos passos a seguir na utilização deste método aplicando-o ao


exemplo da secção 1.13.

a) – Secção determinante – secção M a meio do primeiro tramo;

b) – Momento MD na secção determinante, devido às combinações freqüentes de


acções; admitamos para este momento o valor:
MD = 100.0 kN.m

c) – Momento de fendilhação MrD na secção determinante tomando apenas a


secção de betão e considerando este da classe B25:

Ic = 0.00260 m4 fctm = 2.2 MPa

MrD = 2.2 * 0.00260 = 0.023 MN.m = 23.0 kN.m


0.25

d) – Coeficiente de repartição ζd

ζd = 1 - β1 . β2 MrD = 1 – 1.0 * 0.5* 23.0 = 0.885


MD 100.0

e) – Cálculo das flechas extremas a1 e a2.

Determina-se ac e os coeficientes de correcção k. Simplificadamente vamos proceder


como segue:

a1 ≅ ac = 0.74 cm já tinha sido obtido (secção 1.13)

para obter a2 teremos de determinar o momento de inércia da secção em estado II secção


50 * 25 cm2 de betão.

72
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Admitamos,
As = 12.5 cm²
α = Es = 200 = 10
Ec 21

Ir = (25*17³) + 12.5*10 *29² ⇔ Ir = 146000 cm4 ⇔ Ir = 0.00146 m4


3

a flecha a2 pode ser obtida por proporção simples pois admite-se que toda a viga tem as
características da secção determinante,

a2 = a1 Ic = 0.74 x*0.00260 = 1.32 cm


Ir 0.00146

f) A flecha provável a será então,

a = ( 1 - ζ b ) . a1 + ζ b . a2

a = ( 1 – 0.885 ) x*0.74 + 0.0885 x*1.32

a = 1.25 cm

a = 1.25 ≅ 1_
l 600 480

3.4.5 – ESTIMATIVA DE FLECHAS – Método dos coeficientes globais

Na maior parte dos casos que se apresentam na pratica, especialmente em ante-


projecto, o engenheiro não está interessado senão numa estimativa ( ± 30% ) da flecha
provável. O método dos coeficientes globais é um método simples e rápido que permite
ao projectista fazer uma estimativa da flecha provável a a partir da flecha de base ac
(calculada elasticamente com a rigidez EIc apenas do betão, considerado homogêneo)
que será de seguida corrigida por meio de coeficientes globais de correcção k, a fim de

73
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

ter em conta os efeitos da armadura, da fendilhação e da fluência. Estes coeficientes são


obtidos do método bilinear por meio de certas simplificações.

A flecha ao sob cargas instantâneas, isto é, não tendo em conta a fluência ( ϕ = 0 )


é dada por:
ao = ac . ko
em que,
ko – é um coeficiente global de correcção para as flechas instantâneas, dependente
do nível de solicitação (relação MrD / MD ) e da armadura traccionada ( ρ e α . ρ ). A
influência de armadura de compressão é pequena e considera-se ρ’ / ρ = 0.25 (const.).
(ver Figura 3.9).
Para a flecha sob cargas de longa duração ( ϕ ≠ 0 ) a flecha at é obtida pela
expressão:
at = ac . kt . η
em que:
kt – é um coeficiente global de correcção para as flechas sob cargas de longa
duração, tendo em conta o nível de solicitação (relação MrD / MD), a armadura
traccionada e a fluência (ver Figura 3.10).
η - é um coeficiente de correcção tendo em conta a influência da armadura de
compressão.
O valor dos coeficientes globais de correcção ko, kt e η fornecidos pelo manual do
CEB (ref. 2) estão representados graficamente nas figuras 3.9 e 3.10. A fim de permitir
uma leitura mais fácil e mais precisa do valor dos coeficientes globais de correcção para
as aplicações praticas, estes gráficos são reproduzidos em maior escala em anexo.

Efeitos da retracção em elementos estruturais

A retracção é uma deformação imposta que provoca tensões de tracção e, por


conseguinte, fissuras, quando se encontra impedido de encurtar livremente o betão, por
isso tem tanta mais influência quanto mais rígida é na estrutura.
Este é o caso dos arcos muito rebaixados e de pouca luz, do betão em massa, e
aonde começa a aparecer fissuras de retracção, também o de vigas com luz média ou
muita luz, se está fortemente restringida, limitada nos seus extremos
74
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

A ) EM VIGAS

FISSURA

ALÇADO SECÇÃO

PLANTA

B) EM MUROS C) EMBUTIDAS

As armaduras supõe também impedimento interior ao livre encurtamento do


betão. Por isso, em vigas muito armadas com recobrimento grande, este pode fissurar-se
por retracção, dado a relação existente entre a superfície livre (aonde a retracção é
máxima) e a armadura que impões a limitação do betão circundante.

Quando o betão se combina com outros materiais, deve recordar-se o fenômeno


da retracção e estudar a compatibilidade das deformações em conjunto.

É o caso dos revestimentos sobre betões aplicados prematuramente, em que, estes


se contraem, e o revestimento fica submetido à compressão, acabando por fissurar-se e
muitas das vezes cair.

A probabilidade de fissuração por retracção está inteiramente ligada com o


enlongamento do betão.

75
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

A ELÁSTICA INSTANTÂNEA (E.I)

P.D.
ELÁSTICA DEFERIDA (E.D.)
E.D.
E
DEFORMAÇÕES

C
F

E.I
PLÁSTICA DEFERIDA (E.D.)
O
B
T0 T1 TI T2 Tn T
TEMPO

01
TENSÕES

0 T1 T2 T
TEMPO DE APLICAÇÃO DA CARGA TEMPO

Para que a magnitude da retracção do betão seja suficientemente grande como


para provocar fissuras, devem passar dias, semanas ou meses. Estes largos períodos
distinguem as fissuras de retracção das de afagamento. Por outra parte, as primeiras
surgem no betão já endurecido, com um traço limpo e agudo, característico de tal
circunstancia. Em elementos do tipo superficial, as fissuras de retracção são
relativamente freqüentes, especialmente se aparecem associadas a vigas nervuradas que
actuam de pontos duros de conjunto, dada a sua maior rigidez.
É frequente a fissuração por retracção de vigas, sobretudo, se são largas e estão
muito restringidas nos seus extremos. Em tais circunstâncias, pode sair na fissura
(ajudada pela flexão provocada pelas cargas), o mais provavelmente fissuras junto aos
apoios.
As fissuras de retracção podem resumir-se em:
• aparição retardada (após semanas, meses, inclusive anos);
• se há vários elementos idênticos, as fissuras aparecem somente;
• juntas, finas em elementos muito armados;
• separadas e largas em elementos pouco armados;
• separados regularmente, fissuras retilínea sem ramificações;
• pequena largura, constante em todo o seu traçado;
• rápida estabilização da sua largura.

76
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Medidas preventivas contra as fissuras de retracção, são todas aquelas que evitam os
efeitos e causas provocadas que se tenha respostas.

Fissuras por corrosão

As armaduras estão protegidas do exterior pelo betão que as rodeia, e é


basicamente neste, que está a segurança delas. O oxigênio do ar, o anídrico carbónico e
a água, são os três agentes mais comuns, que atacam o ferro e o oxidam, a uma
velocidade tanto maior quanto mais acido é o meio. As fissuras de corrosão têm o
mesmo traçado que a armadura afectada, tanto nos pilares como em vigas, e é freqüente
que apareçam manchas de óxido seguindo o mesmo traçado. Por conseguinte, na fissura
paralela às barras principais deve ser motivo de alarme com fundamento.
A melhor protecção contra os efeitos da corrosão é no recobrimento bem compacto
e de suficiente espessura.

Fissuras por acção das cargas

Debaixo da acção das cargas exteriores, o betão fica submetido a um estado de


tensão se considera uma peça prismática, cada uma das secções esta submetida a um
esforço simples, ou a uma solicitação composta por vários esforços. Os esforços simples
são a tracção, a compressão, a flexão, corte e torção, cada um deles tem um tipo
diferente de fissuração.

As características principais das fissuras de flexão são:


• não afectam todo o canto, ficando detidas na fibra neutra;
• aparecem sempre varias e bastante juntas, especialmente se forem de alta
aderência;
• aparecem por baixo da carga, e desaparecem ao retirar a carga;
• são perpendiculares ao eixo da peça e se inclinam segundo o valor do esforço
cortante;

77
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Resistência característica do betão

A resistência à compressão simples é a característica mecânica mais importante de


um betão. A sua determinação efectua-se mediante o ensaio de probetes, seguindo
métodos de execução normalizados.

Métodos de RILEM

Este método tem por objectivo determinar as resistências à compressão, a


flexão/tracção e a tracção indirecta do betão, no que diz respeito ao controle na
fabricação do betão, mediante a determinação da resistência nos probetes: tira-se uma
amostra de betão durante a descarga (do betão) na hora da betonagem, ou
imediatamente depois, e portanto, não se tem em conta o tipo de transporte, o modo que
se coloca a obra, nem a sua compactação.
Determinação nas condições muito próximas às executadas em obra

Patologias do betão armado

Entre os sintomas patológicos mais importantes se encontram:


• a aparição de rugosidades superficiais;
• a formação de película superficial, aderente ou não, constituída por reacção
química entre agentes agressivos do meio, e betão endurecido;
• a mudança de colocação do betão;
• a aparição de espoliações, e degradações superficiais, mais ou menos
profundas.
• A aparição de fissuras.

78
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Causas mais frequentes dos efeitos/desordens patológicos


Erros na concepção. Erros na avaliação das cargas. Erros de calculo
Defeito de projecto (numéricos, não ter em conta a retracção, fluência, temperatura e
outros)*1
Defeitos de materiais Cimento, água, aditivos, armaduras e tipos de betão
Cofragens (assentamentos ou desmoronamentos, juntas mal concebidas).
Defeitos de execução
Betonagem (mal compactado, segregação, etc.). Protecção inicial. *2
Causas posteriores à sua Retracção. Tensões de origem térmica (variações da temperatura
execução atmosférica e interna). Absorção de água no betão. *3

*1 – Erros de desenho de detalhes (recobrimentos, larguras, empalmes, nós e uniões,


juntas de dilatação, outros).
*2 – (mal afagado, gelo); curado (escasso de tempo na curaçao, água não idônea), juntas
(mal orientação, falta de aderência). Outros detalhes (projecto, desenho, etc).
*3 – Corrosão de armaduras (provocadas por agentes químicos). Erosão e abrazão.
Tensões originadas por acções (de cargas ou acções directas, deformações impostas).
Incompatibilidade das deformações.

3.4.5.1 – EXEMPLO

A aplicação deste método ao exemplo iniciado na secção 1.13 vai permitir que se
faça um resumo dos passos para aplicação deste método.

a) Cálculo da flecha de base ac

Para o caso de combinações freqüentes de acções, esta flecha já foi obtida (secção
1.13 – pág. 7 )

Ac = 0.74 cm
b) Cálculo de MD na secção determinante

Escolhida em geral como secção de momento positivo máximo. Para consolas, a


secção M a meio do primeiro tramo onde pretendemos determinar a flecha.
Seja,
MD = 100 kN.m

79
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 3.9 – Método dos coeficientes globais para cálculo da flecha instantânea

80
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Fig. 3.10 – Método dos coeficientes globais para cálculo da flecha sob cargas de longa duração

c) Calculo do momento de fendilhação MrD na secção determinante.

Para flexão simples:


MrD = W1 . fct = Wc . ftc,

Já determinado na secção 1.4.41


MrD = 23.0 kN.m (B25)
81
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

d) Estimativa do valor do coeficiente de fluência ϕ (ver anexo 1 do REBAP).


Admitamos no caso presente ϕ = 0
e) Determinação do valor dos coeficientes globais de correcção fornecidos em
anexo.
Precisamos de conhecer os seguintes parâmetros: ρ, ρ’, α, d/h, MrD / MD e ϕ se
for diferente de zero.
Seja,

As = 25 * 50 = 12,5 → ρ = 12.5 = 1%

ρ’ = 0.25%

α = 200 = 9.5 ; α ρ = 0.095

h = 50 cm ; d = 46 cm d/h ≅ 0.9

Mrd /MD = 23.0 / 100.0 = 0.23

Por consulta dos gráficos (β2 = 0.5 ; d/h = 0.9) da figura 3.9, ou do
correspondente gráfico do anexo, obtêm-se:
Ko ≅ 1.9

f) Cálculo da flecha provável

ao = ko . ac – carga instantânea
at = η . kt . ac – carga de longa duração

Teremos então no presente caso,


Ao = 1.9 * 0.74 = 1.51 cm

Pelo método anterior (secção 1.4.41) tínhamos obtido:


A = 1.25 cm

82
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Tomando para estado limite de deformação (REBAP) um valor da flecha menor


ou igual a 1/400 do vão, para combinações frequentes de acções:

Ar = 600 = 1.5 cm ; As = 1.41 cm ; As ≤ Ar O. K.


400

Vejamos a aplicação do método para o caso de cargas de longa duração. Seja o


mesmo exemplo de secção 1.13 em que obtivemos um valor para a flecha ac para
combinações quase-permanentes de acções:

Ac = 0.64 cm
Admitamos:

MD = 70 kN.m, e
ϕ = 2.5

obtemos sucessivamente,

α . ρ = 0.095 ; ρ’ / ρ = 0.25 → η ≅ 0.92

ϕ = 2.5 ; MrD / MD = 0.33 ; α . ρ = 0.095 ; d/h = 0.9 → kt ≅ 3.2

at = 0.92 * 3.2 * 0.64 = 1.88 cm


flecha para combinações quase permanentes de acções (em causa o aspecto da
construção) – aR ≤ l
250

as = 1.88 ≅ 1 . l
320

83
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3.4 – ANEXO – Coeficiente globais de correcção


(Manuel CEB fissuration et Deformations – Referencia 2)

84
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4.4. (1)

85
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4.4. (2)

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4.4 (3)

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4.4. (4)

88
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4.4. (5)

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94
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

4 – DISPOSIÇÕES DAS ARMADURAS


4.1 – INTRODUÇÃO

As armaduras que se dispõem no betão armado, podem classificar-se em


principais e secundarias, devendo distinguir-se entre as primeiras as armaduras
longitudinais e as transversais.
As armaduras longitudinais têm por objectivo, absorver os esforços de tracção
originados nos elementos submetidos à flexão ou tracção directa, ou então reforçar as
zonas comprimidas pelo betão.
As armaduras transversais dispõem-se para absorver as tensões de tracção
originadas pelos esforços tangenciais (cortantes e torsores), assim como para assegurar
a necessária ligação entre as armaduras principais, de forma a impedir a formação de
fissuras localizadas.
Na figura (8.3) representa-se na viga de betão armado, onde a armadura A
trabalha à tracção e a A’ à compressão. Pode ainda apreciar-se nas barras levantadas a
45º a na armadura transversal constituídas por laços (a), estribos (b), encarregadas de
absorver as tracções originadas por esforços cortantes.
Enquanto que as armaduras secundárias, são aquelas, que se dispõem, por razões
meramente construtivas, para absorver esforços não preponderantes. O seu traçado pode
ser longitudinal ou transversal. A missão específica das armaduras secundárias é ajudar
a impedir a fissuração excessiva e contribuir para o bom amarramento dos elementos
estruturais, facilitando o trabalho real e que responda por suposto ao cálculo efectuado.

4.2 – COLOCAÇÃO DAS ARMADURAS

As armaduras devem colocar-se limpas, isentas de ferrugem, pintura, gordura,


ou qualquer outra substância prejudicial. Colocam-se nas cofragens apoiadas por calços
ou separadas adequadamente. Os calços podem ser de plástico, amianto – cimento,
desaconselhando-se os de madeira. Também não se aconselha a utilização de calços
metálicos, especialmente no betão à vista, devido a poder aparecer manchas provocadas
pela oxidação.
Não é tão pouco, conveniente o em prego de aços de diferentes limites elásticos
para armar uma mesma peça, devido ao perigo de confundir nas barras com outras. No

95
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

entanto podem usar-se aços diferentes para armaduras principais, por uma parte e
estribos por outra.

4.3 – DISTÂNCIA MÍNIMA ENTRE ARMADURAS

Os distintos varões que constituem as armaduras de peças de betão armado,


devem ter mais separações mínimas (art.º 77 do REBAP), para permitir realizar uma
betonagem em boas condições, assegurando-lhes desta forma um bom envolvimento
pelo betão e as necessárias condições de aderência:
a) No caso de armaduras ordinárias a distância livre entre varões, não deve ser inferior,
ao maior diâmetro dos varões em causa, 2 cm.
b) No caso de armaduras pós-tensionadas, a distância livre entre bainhas ou entre
agrupamentos não deve ser inferior a 4,0 e 5,0 cm ou 1,2 a 1,5 vezes o maior
diâmetro das bainhas.
c) No caso de armaduras pré-tensionadas, as distâncias livres não devem ser inferiores
ao maior diâmetro das armaduras, 1,0 a 2,0 cm.
No caso de vigas ou elementos similares podem colocar-se os varões da
armadura principal em contacto, um sobre o outro, sempre que sejam de aderência
melhorada.

4.4 – RECOBRIMENTO MÍNIMO DAS ARMADURAS

Chama-se recobrimento das armaduras à distância livre entre a superfície e o


paramento mais próximo da peça. O objectivo do recobrimento é proteger as armaduras,
tanto pela corrosão como pela acção do fogo, e manter uma eficiente transmissão das
forças entre as armaduras e o betão. Os recobrimentos mínimos a adoptar (REBAP art.º
78) em elementos não laminares e que se utiliza o betão de classe inferior a B30 e
armaduras ordinárias.
- ambientes pouco agressivos – 2,0 cm
- ambientes moderadamente agressivos – 3,0 cm
- ambientes muito agressivos – 4,0 cm
havendo que aumentar e 1,0 cm estes valores no caso de armaduras de pré-esforço.
Os valores referidos podem no entanto ser diminuídos:
- 0,5 cm – em elementos laminares

96
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

- 0,5 cm - para betões B30, B35, B40


- 1,0 cm – para betões superiores a B40.
Não se deve adoptar em caso algum recobrimento inferior a 1,5 cm. Certas
condições particulares, poderão impor a utilização de recobrimentos superiores aos
mínimos indicados no artigo.
Porém quando o recobrimento ultrapassar os 5,0 cm, é recomendável o emprego
de uma armadura de pele.

Deverá ainda ter em atenção que os recobrimentos deverão ser compatibilizados


com a máxima dimensão do inerte utilizado.

4.5 – CURVATURA MÁXIMA DAS ARMADURAS

A curvatura, ou dobragem dos varões em peças de betão armado, devem dobrar-


se com raios amplos para não provocar concentração de tensões no betão que seria
prejudiciais. A operação de dobragem dos varões deve efectuar-se ao frio e à velocidade
moderada, admitindo-se a dobragem a quente somente para varões de aço superiores ou
iguais a 25 mm.
A curvatura máxima (art.º 79 do REBAP) que pode ser imposta a uma armadura,
deve ser tal que não afecte a resistência desta e não provoque o esmagamento ou
fendimento do betão por efeito da pressão que se exerce n zona da curva.

97
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

No caso de armaduras ordinárias, as dobragens dos varões devem ser executados


com diâmetros não inferiores aos indicado no Quadro A.

QUADRO A – Diâmetros inferiores mínimos de dobragem de armaduras ordinárias

GANCHOS, COTOVELOS, LAÇOS, ESTRIBOS E CINTAS


ARMADURAS
TIPOS DE AÇO (DIÂMETRO DOS VARÕES φ MM)
EM GERAL
φ ≤ 18 18 < φ ≤ 32 32 < φ ≤ 40
A235NL 2,5 φ 5φ 5φ 15 φ
A235NR 4φ 7φ 10 φ 15 φ
A400NR ⎯ ⎯ ⎯ ⎯
A400ER 5φ 8φ 12 φ 20 φ
A400EL ⎯ ⎯ ⎯ ⎯
A500NR
A500ER 5φ ⎯ ⎯ 20 φ
A500EL

1 – No caso de laços, há também que satisfazer a condição indicada

(0,7 + 1,4 φ / a ) . (σs Sd / 1.5 fcd) φ

2 – Os valores indicados pode ser reduzidos de 5 φ , quando o recobrimento lateral da


dobra for maior que 5 cm ou 3 φ.

No caso, de armaduras ordinárias, formando laço, o diâmetro de dobragem não


deve ser inferior ao dado pela expressão:

(0,7 + 1,4 φ / a ) . (σs Sd / 1.5 fcd) φ

em que σs Sd é a tensão na armadura no inicio da dobragem, correspondente ao valor de


cálculo do esforço actuante, e a é a menor das duas quantidades seguintes: distância
entre o plano do laço e a face da peça; distância entre o plano do laço e o plano do laço
vizinho.

98
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

4.6 – AMARRAÇÃO DE VARÕES DE ARMADURAS

As amarrações nos extremos dos varões deve assegurar a transmissão dos


esforços no betão sem perigo para este. Em geral se efectuam mediante as seguintes
disposições.
- por prolongação recta
- por gancho ou cotovelo
- por armaduras transversais soldadas
- por dispositivos especiais.
Assim as extremidades dos varões das armaduras ordinárias devem ser fixadas
ao betão por amarrações (art.º 81 do REBAP) que pode ser realizada por
prolongamentos rectos ou curvos ou outros.

- Tratando-se de varões de aderência normal, devem utilizar-se apenas amarrações


por ganchos, excepto se os varões estiverem sujeitos à compressão, que deverá usar
amarrações rectas.
- Tratando-se e varões de alta aderência devem utilizar-se amarrações rectas, excepto
se os varões estiverem sujeitos à tracção em que se deverá usar amarrações de
ganchos ou cotovelos.
Nas zonas de amarração de varões, estes devem ser cintados por uma armadura
transversal (estribos ou cintas) distribuídas ao longo da zona de amarração.
No caso de varões traccionados com amarrações rectas e concentrada junto aos
extremos dos varões.
Nas amarrações dos varões comprimidos a armadura de cintagem deve ser ainda
abrangida uma zona que se entende para além da amarração, de um comprimento igual
a 4 vezes o diâmetro dos varões amarrados.
A exigência desta armadura pode ser dispensada no caso de amarrações
traccionadas em zonas dos elementos sujeitos à compressão transversal à direcção dos
varões.

99
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

Os comprimentos de amarração Lb, net são definidos,


Lb,net = Lb As,cal α1
As,ef
Em que,
Lb = φ fsyd
4 fbd
não devendo, porém , em caso algum ser tomados inferiores a qualquer dos seguintes
valores:
- 10 φ
- 100 mm
- 0,3 Lb - no caso de varões traccionados
- 0,6 Lb - no caso de varões comprimidos.
As,cal – secção de armadura requerida pelo cálculo
As,ef – secção de armadura efectivamente adoptada
α1 – coeficiente que forma o valor de 0,7 no caso de amarrações curvas e tracção, e 1,0
nos restantes casos.
φ - diâmetro do varão ou diâmetro equivalente do agrupamento.
Fsyd – valor de cálculo da tensão de cedência ou tensão de limite convencional de
proporcionalidade a 0,2% do aço.
Fbd – valor de cálculo da tensão de rotura da aderência, definido no art.º 80 do REBAP.

100
Estruturas Especiais – Fendilhação e Deformação Universidade Fernando Pessoa

BIBLIOGRAFIA

1 – CEB – FIP Model Code for Concrete Structures – Comité Euro- internacional du
béton, 1976.
2 – Comité Euro – international du Béton – Bulletin d’ information n.º 153 – F, Manuel
CEB Fissuration e Deformations, 1983.
3 – Comité Euro – international du Béton – Bulletin d’information n.º 143, Manuel de
Calcul “Fissuration et deformations”, 1981.
4 – F. Leonhardt, Construções de Concreto, Volume 4, Editora Interciencia, 1979.
5 – J. A . S Appleton e J. C. F. Almeida, Fendilhação e Deformação em Estruturas de
Betão, curso de especialização, IST, 1983.
6 – Regulamento de Estruturas de betão armado e pré-esforçado (REBAP), 1984.
7 – Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA),
1983.
8 – Regulamento de Estruturas de Betão Armado (REBA), 1970.
9 - Montoya –Meseguer –Moraán-Volume 1,Betão Armado, Editorial Gustavo Gili,
S.A.-Barcelona 1987-1988.
10 – Nova Regulamentação de Estruturas –FEUP-1988.

101
Estruturas Betão Armado

CAPÍTULO VI

DISPOSIÇÕES COTRUTIVAS

(texto provisório – em revisão)

1. Introdução

O projecto de arquitectura, deve ser executado por engenheiros e arquitectos, em trabalho


conjunto, dependendo intimamente um do outro.

Para a realização do projecto de estrutura, a experiência é muito importante, permitindo uma


escolha adequada sob o ponto de vista técnico e económico e um sistema estrutural adequado.

A arte de projectar e construção de uma obra pressupõe o conhecimento dos materiais, do


desenvolvimento dos esforços, do dimensionamento, da execução e do comportamento, assim
como um acompanhamento constante da obra.

Para um perfeito entendimento entre proprietário, arquitecto, engenheiro e empreiteiro na


implantação de uma obra, são necessários os seguintes documentos técnicos: desenhos do
projecto, memória de cálculo com desenhos estruturais, desenhos de execução, relação de
itens e quantidades de serviço, especificações e exigências de qualidade, cronograma de
execução e verificações especiais de segurança.

2. Condicionantes geométricas

No que respeita às disposições a adoptar em vigas, temos de ter em linha de conta as


condicionantes geométricas dos elementos a estudar (vigas) e à distribuição das armaduras.

No aspecto geométrico, a dupla engenheiro/arquitecto deve ter em atenção quais são as


geometrias das peças que melhor se adaptam no aspecto funcional à estrutura em estudo,
nunca desprezando o aspecto económico.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 1/ 29


Estruturas Betão Armado

O Art.º 89 do REBAP apresenta considerações sobre a altura mínima de vigas, as quais sendo
adoptadas, dispensa a verificação ao estado limite de deformação (Art.º 72 e 73), no caso
corrente de vigas para edifícios.

No caso geral a altura das vigas deve ser:

li
≤ 20η
h

em que:

- h é a altura total da viga;

- l i é o vão equivalente ( l i = αl , sendo α um coeficiente dependente das condições de


apoio da viga;

- η é um coeficiente dependente do tipo de aço: 1,4 para o A235, 1,0 para o A400 e 0,8
para o A500.

VIGA REAL VIGA EQUIVALENTE

Fig. 1 – Definição do vão equivalente.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 2/ 29


Estruturas Betão Armado

O vão equivalente é o vão de uma viga simplesmente apoiada de secção constante que
apresenta a mesma relação entre a flecha e o vão, que a viga em estudo quando sujeita a uma
carga uniformemente distribuída que lhe provoque na sua zona central uma curvatura,
M/(E.I), igual àquela que a viga real apresenta na mesma zona.

A expressão l i / h ≤ 20η , corresponde à relação flecha/vão, a / li = 1 / 400 (Art.º 72, REBAP),

conduzindo à relação l / h apresentada no quadro I. A prática recomenda a relação


l i / h ≤ 14η .

VÃO SIMPLES VIGAS CONTÍNUAS

ESQUEMA vão extremo vão intermédio

TIPO
AÇO
=1.0 =0.6 =0.8 =2.4 =0.8 =0.6

A235 28 46.6 35 11.6 35 46.6

A400 20 33.3 25 8.3 25 33.3

A500 16 26.6 20 6.6 20 26.6

QUADRO I – Relação l/h em vigas para a definição da altura mínima.

Em casos especiais, tais como vigas em betão pré–esforçado, devemos utilizar a relação l/h
com valores duplos dos definidos no quadro I para o aço A500 (ou considerar η = 1,6 ).

Se a deformação da viga afecta paredes divisórias é exigida, para além da verificação anterior,
uma limitação da flecha máxima a 1,5 cm, que corresponde á formula

li 120η

h li

Em casos correntes é condicionante para a determinação da altura das vigas, a sua verificação
aos estados limites últimos de resistência, pelo que se podem seguir as regras expostas no
ponto 5 do capítulo II sobre o pré-dimensionamento de vigas rectangulares.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 3/ 29


Estruturas Betão Armado

3. Armaduras

3.1. Armaduras principais e secundárias (Art.º 74, REBAP)

Armaduras principais são as armaduras dimensionadas de acordo com o REBAP,


nomeadamente as que se destinam a resistir a esforços de flexão simples e composta, esforços
transversos e torção.

Armaduras secundárias são armaduras com função de:

- garantir a eficiência das armaduras principais

- ligar os blocos de betão com tendência a destacar-se

- limitar a fendilhação

3.2. Armadura longitudinal de flexão

3.2.1. Percentagem mínima e máxima de armadura (Art.º 90, 91, 92, e 93)

Pretende-se, impor uma percentagem mínima de armadura longitudinal, para dotar as vigas de
uma armadura capaz de equilibrar o momento correspondente à 1ª fissuração da secção
transversal.

L.N.

~ d/2
As Rt

bw f ctm

Fig. 2 – Esquema de secção rectangular e diagrama de tensões.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 4/ 29


Estruturas Betão Armado

A resultante das tensões no betão, que a armadura terá de absorver no momento da 1ª


fissuração pode, de forma aproximada considerar-se, supondo a linha neutra a d/2,

bw d
Rt ≈ f ctm .
4

o qual se traduz numa área de aço

bw d
As . f syd = f ctm
4

As f
= 0,25 ctm
bw d f syd

ou, em percentagem e representando por ρ a percentagem mínima,

As
ρ= × 100
bw d

A percentagem mínima depende, quer da classe do betão, quer da classe do aço. Por aplicação
da fórmula, obtemos a percentagem mínima para os betões e aços correntes.

AÇO
A235 A400 A500
BETÃO

B15 0.20% 0.12% 0.09%

B20 0.23% 0.13% 0.11%

B25 0.27% 0.16% 0.13%

B30 0.31% 0.18% 0.15%

QUADRO II – Percentagem mínima para os betões e aços correntes.

O Art.º 90º do REBAP apresenta as percentagens mínimas a respeitar, com o valor de tensão
de cedência do aço e independentes das classes de betão (0,25 para o aço A235, 0,15 para o
aço A400 e 0,12 para o aço A500):

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 5/ 29


Estruturas Betão Armado

As
ρ= × 100
bt d

em que,

- As é a área da secção da armadura;

- bt é a largura média da zona traccionada da secção; no caso de vigas com banzo


de compressão e em que a linha neutra se situa no banzo, a largura deste, não deve
ser tida em conta para o cálculo de bt ;.

- d é a altura útil da viga.

O REBAP, fixa a percentagem máxima da armadura longitudinal de tracção ou de


compressão em 4% da área total da secção da viga, para impedir grande concentração de
armadura e permitir a betonagem em boas condições.

3.2.2. Agrupamento de varões (Art.º 76, REBAP)

O diâmetro equivalente de um agrupamento de varões é dado pela expressão:

φn = ∑φi
i
2

não devendo ultrapassar 55 mm.

agrupamento na horizontal

agrupamento na vertical

agrupamento de três varões com o

máximo de dois em cada direcção

agrupamento de quatro varões só permitida


em armaduras verticais sempre comprimidas

Fig. 3 – Agrupamentos possíveis de varões.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 6/ 29


Estruturas Betão Armado

3.2.3. Espaçamento máximo da armadura longitudinal (Art.º 91, REBAP)

As disposições deste artigo têm por objectivo a dispensa da verificação ao estado limite de
fendilhação (Art.º 68 e 70 ).

Os valores indicados no quadro III, para o espaçamento máximo dos varões longitudinais,
foram calculados, tendo em consideração a largura das fendas em vigas, tendo-se adoptado
para σ s valores da ordem de σ s = 0,5 f syd e desprezado a contribuição do betão entre fendas.

AÇO
A235 A400 A500
AMBIENTE

pouco agressivo(w=0.3mm) - 12.5 10

moderadamente agressivo(w=0.2mm) - 7.5 5

QUADRO III – Espaçamento máximo dos varões da armadura longitudinal de vigas (cm).

Para ambientes muito agressivos, ou tratando-se de armaduras de pré-esforço, a limitação


entre varões, não garante por si só, o controle da fissuração, havendo nestes casos que limitar
as tensões nas armaduras ordinárias ou variação de tensões nas armaduras pré-esforçadas.

3.2.4. Recobrimento mínimo da armadura (Art. º 78, REBAP)

O recobrimento mínimo deve ser adoptado de acordo com o diâmetro dos varões e o risco da
corrosão (ver quadros IV e V).

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 7/ 29


Estruturas Betão Armado

VALORES BÁSICOS CORRECÇÃO PARA

condições de exposição classe de betão

moderadamente agressivos

(muito sensívies à corrosão)


armadura de pré-esforço
B30 B45
pouco agressivos

muito agressivos

paredes

cascas
lajes
B35 B50

B40 B55

2.0 3.0 4.0 +1.0 -0.5 -0.5 -1.0

QUADRO IV – Recobrimento mínimo da armadura, em cm.

ARMADURAS ORDINÁRIAS cmin.(cm) > ∅

CLASSE DE BETÃO

CONDIÇÕES
B15, B20, B25 B30, B35, B40 B45, B50, B55
AMBIENTAIS
paredes paredes paredes
em geral lajes em geral lajes em geral lajes
cascas cascas cascas

ambiente pouco
agressivo 2.0 1.5 1.5 1.5 1.5 1.5

ambiente
moderadamente 3.0 2.5 2.5 2.0 2.0 1.5
agressivo

ambiente muito
agressivo 4.0 3.5 3.5 3.0 3.0 2.5

QUADRO V – Recobrimento mínimo da armadura, em cm.

O recobrimento mínimo da armadura deve ainda ser limitado pelo diâmetro dos varões (ou
agrupamento).

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 8/ 29


Estruturas Betão Armado

Quando o recobrimento é superior a 5 cm, recomenda-se a armadura de pele, não sendo


necessário o seu cálculo da largura de fendas.

< 600mm
d-x

s > 100mm

Fig. 4 – Armadura de pele.

3.2.5. Interrupção da armadura longitudinal

O REBAP fixa, no art.º 92, os valores da translação, que dependem do valor de cálculo e do
tipo de armadura do esforço transverso actuante, VSd .

2 2
VSd ≤ τ 2 bw d VSd > τ 2 bw d
3 3

Estribos verticais d 0,75d

Estribos verticais mais


0,75d 0,5d
varões a 45º

Estribos inclinados a 45º 0,5d 0,25d

QUADRO VI - Valores de a l (Art.º 92º)

2
A diminuição dos valores de a l , quando VSd > τ 2 bw d , resulta de termos uma grande parcela
3
de esforços transversos a ser coberta pela armadura.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 9/ 29


Estruturas Betão Armado

Vsd2

-
Mmáx

Vsd1 a

b a

a a
a
b

+
Mmáx

a - diagrama Msd/z (Msd - valor de cálculo do momento flector actuante)

b - diagrama das forças de tracção a absorver pela armadura

Fig. 5 – Translação do diagrama de momentos flectores.

Os varões dispensados devem ser prolongados para além da secção em que o diagrama o
permita dos comprimentos de amarração definidos nos artigos 81º e 82º do REBAP.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 10/ 29


Estruturas Betão Armado

b, mín.

b, net

-
Mmáx

b a

a a
a
b

+
Mmáx

b, net

Fig. 6 – Escalonamento dos varões longitudinais.

Os comprimentos de amarração, l b,net , são definidos pela expressão

As ,cal
l b, net = l b α .1
As ,ef

Onde:

φ f syd
lb = .
4 f bd

e em que:

As ,cal – secção da armadura de cálculo

As ,ef – secção da armadura adoptada

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 11/ 29


Estruturas Betão Armado

α .1 – coeficiente que toma o valor de 0.7 no caso de amarrações curvas em tracção e


1.0 nos restantes casos.

φ – diâmetro do varão, ou diâmetro equivalente do agrupamento.

f syd – valor de cálculo de cedência ou da tensão limite convencional de

proporcionalidade .

f cd – valor de cálculo da tensão de rotura da aderência definida no Art.º 80.

No Art.º 81 é apresentado um quadro correspondente aos comprimentos de amarração ( l b,net ),

tendo em linha de conta, a qualidade de betões, aços e a sua aderência.

3.2.6. Armadura longitudinal nos apoios

O REBAP, no art.º 93, prevê que sejam mantidos até ao apoio das vigas pelo menos ¼ da
armadura máxima de tracção, devendo esta armadura ser capaz de absorver o esforço

al
Fs = Vsd
d

em que Vsd é o valor de cálculo do esforço transverso no apoio, a l é a translação do momento

(Art.º 92) e d é a altura útil da viga. Deve ser f s ≥ 0,5Vsd (CEB).

Fs

Vsd ⋅ a l = Fs ⋅ z
Z

Vsd al
Fs = Vsd ⋅
d

Fs

Vsd

Fig. 7 – Esforço de tracção em apoio com liberdade de rotação.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 12/ 29


Estruturas Betão Armado

A distribuição de armadura longitudinal, ao longo do vão deve obedecer às prescrições


indicadas na figura, onde se apresenta os comprimentos de amarrações para apoios directos e
indirectos, de encastramento e de continuidade.

Apoios directos Apoios indirectos

a a

b
2/3 b, net b
a> 3 a> b, net
10Ø

Apoio de encastramento
Apoio de continuidade

a a

As1 As2
As,ap
2/3 b, net 2/3 b, net
a> a>
10Ø 10Ø

Fig. 8 – Amarração das armaduras longitudinais em diferentes tipos de apoio.

As amarrações das armaduras de cobertura a momentos de encastramentos e continuidade,


devem efectuar-se tendo em atenção os Art.º 81 e 82 e ser contados a partir de uma secção, S,
situada a uma distância da face interior do apoio igual ao menor dos valores: largura do apoio
(b), ou duas vezes a altura útil da viga (d).

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 13/ 29


Estruturas Betão Armado

a
b,net a

b,net
d
b

Consola Ligação viga - pilar

a b,net

d
b
Apoio de continuidade

Fig. 9 – Amarração de armaduras de cobertura a momento de encastramento ou continuidade.

3.2.7. Curvatura máxima da armadura

A curvatura máxima da armadura deve:

1º - não afectar a resistência da armadura, devendo o diâmetro mínimo respeitar o quadro X


do Art.º 79 do REBAP;

aço endurecido

aço macio

micro-fissuração

Fig. 10 – Curvatura de varões.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 14/ 29


Estruturas Betão Armado

2º- não leve ao esmagamento e á fendilhação e destacamento do recobrimento de betão por


efeito da pressão exercida na zona da curva (quadro X do Art.º 79 do REBAP).

na zona de curvatura

biela comprimida

pressões localizadas que podem


levar ao esmagamento do betão

Fig. 11 – Curvatura de varões.

3º- garantir a não ocorrência de fendilhação com destacamento do betão no plano de um laço
de ancoragem.

PLANTA

ALÇADO
>3Ø início da ancoragem

F 2F

C1
d

Ø
F 2F
C2 C>3Ø>3cm

Fig. 12 – Curvatura de varões.

No caso de armaduras ordinárias, formando laços, o diâmetro de dobragem não deve ser
inferior ao dado por:

φ σ ssd
d = (0,7 + 1,4 ). .φ
α 1,5 f cd

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 15/ 29


Estruturas Betão Armado

Em que:

σ ssd – tensão da armadura no inicio da dobra, corresponde ao valor de cálculo do


esforço actuante;

α – menor dos valores: distância entre o plano do laço e a face da peça e a distância
entre o plano do laço e o plano do laço vizinho.

CASO GERAL
ESTRIBO LAÇO
D2=20Ø=500mm

>50mm Ø8
Ø25

D1=8Ø=200mm
D1=5Ø=40mm D3

Ø25mm

Fig. 13 – Diâmetros interiores mínimos de dobragem de varões de armadura ordinária (A400).

3.3. Armadura transversal de esforço transverso

3.3.1. Tipos de varões

As armaduras transversais de absorção de esforços transversos devem ligar com eficiência,


através da alma, os banzos comprimidos e traccionados, pelo que deve garantir uma eficiente
amarração.

Com armaduras transversais, poderemos utilizar:

a ) VARÕES INCLINADOS

Seria uma solução ideal, pois permitiria a utilização das barras de flexão longitudinal
dispensadas e a sua colocação perpendicular em relação à direcção das fissuras, mas apresenta
o grande inconveniente de originar a fendilhação das bielas de betão que nelas se apoiam.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 16/ 29


Estruturas Betão Armado

fenda de esforço
transverso

Zs

Fig. 14 – Varões inclinados são pouco adequados para dar apoio às bielas de compressão inclinadas.

O regulamento recomenda que no caso da sua utilização seja atribuída aos estribos um valor
elevado do esforço transverso atribuído às armaduras (aproximadamente 2/3 do valor a
absorver por armaduras transversais).

b) ESTRIBOS VERTICAIS

Estes estribos, envolvem as armaduras longitudinais de compressão e como se encontram


junto às faces dos elementos de viga, têm a vantagem de controlar aí a abertura de fendas.

c) ESTRIBOS INCLINADOS.

Teoricamente são o ideal para o esforço transverso, controlam melhor a abertura de fendas,
diminuem o valor dos esforços de compressão nas bielas de betão e o valor do deslocamento
do diagrama dos esforços de tracção.

Da leitura do gráfico da figura 15, os varões inclinados aparentemente seriam a melhor


solução mas se por um lado são de difícil aplicação em obra, por outro lado só trabalham para
um sinal do esforço transverso,(não respondem, por exemplo, à acção dos sismos), por outro
lado os estribos verticais, apesar da sua menor eficiência na absorção de esforços transversos
num determinado sinal, têm a vantagem de serem igualmente eficazes para esforços de sinais
contrários (caso das acções sísmicas), assim é aconselhável a utilização de estribos verticais.
Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 17/ 29
Estruturas Betão Armado

ABERTURA DE FENDAS

0.80
a
0.70 b a
0.60

0.50 b
c
0.40

0.30 c
d
0.20

0.10 d

0
carregamento

a sem armadura transversal


b varões inclinados
c estribos verticais
d estribos inclinados

Fig. 15 – Largura média das fendas por esforço transverso para diversos tipos de armaduras transversais.

3.3.2. Disposições regulamentares

As vigas devem ser armadas ao longo de todo o vão com estribos que abranjam a totalidade
da sua altura, os quais devem envolver a armadura longitudinal de tracção e compressão,
quando esta seja considerada como resistente.

Os estribos, devem terminar em ganchos ou cotovelos no caso de varões de alta aderência


(Art.º 81).

A distância entre dois ramos consecutivos não deve exceder a altura útil da viga, nem 60cm.

O REBAP define, como já vimos, uma percentagem mínima de armadura transversal, ρ w ,


que, tem por objectivo conseguir uma armadura transversal capaz de absorver o esforço de
tracção resistido pelo betão da alma, no momento da abertura das primeiras fendas.

Assim o REBAP, fixa para ρ w o seguinte valor:

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 18/ 29


Estruturas Betão Armado

Asw
ρw = × 100
bw s sen α

Em que:

Asw – área total da secção transversal dos vários ramos de estribos

bw – largura da alma da secção (Art.º 53).

s – espaçamento dos estribos.

α – ângulo formado pelos estribos com o eixo da viga (45º ≤ α ≤ 90º).

ρ w toma os seguintes valores: 0,16 para o aço A225, 0,10 para o aço A400 e 0,08 para o aço
A500.

armaduras
transversais
a b c d

armaduras
transversais
e f g h i

Fig. 16 – Formas de executar os estribos.

Na figura 16 estão representadas formas de estribos. O estribo se for armado numa zona que
está sempre à compressão, não necessita ser fechado (caso a) e termina em gancho, podendo
terminar em cotovelo (caso b) para varões de alta aderência.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 19/ 29


Estruturas Betão Armado

No caso de haver necessidade de realizar ganchos ou cotovelos voltados para fora, é


necessário dispor de uma armadura transversal para absorver os esforços introduzidos no
banzo da viga.

A disposição indicada na letra e), estribos fechados, é a mais usual e aconselhável em


situações comuns, pois garante o conveniente funcionamento de treliça, quer para momentos
negativos, quer para momentos positivos.

Na solução f) estribos abertos com armadura transversal com continuidade, é aceitável,


mesmo para momentos negativos.

As soluções g), h) e i), são soluções que nos permitem garantir uma melhor transmissão de
momentos viga/laje.

pequenas secções grandes secções

grandes secções

Fig. 17 - Alguns arranjos de armaduras transversais a adoptar em vigas T.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 20/ 29


Estruturas Betão Armado

O espaçamento dos varões inclinados s, deve ser:

2
Se VSd ≤ τ 2 bw d , s < 0,9d (1 + cotgα )
3

2 1
Se VSd > τ 2 bw d , s < 0,9d (1 + cotgα )
3 2

3.4. Armadura de torção

A armadura mais favorável seria constituída por uma hélice com inclinação a 45º em relação
ao eixo da peça, no entanto este tipo de armadura, para além da dificuldade de execução.
Apresenta a desvantagem de só trabalhar num sentido de torção, por esse motivo é normal que
a armadura de torção seja constituída por cintas fechadas e varões longitudinais.
(recomendável 10 a 20 cm)
<35cm

t<30cm

>1

Fig. 18 – Disposição da armadura de torção.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 21/ 29


Estruturas Betão Armado

O REBAP, define para espaçamento entre cintas, um valor que não deve exceder 1/8 uef, nem
30 cm, sendo uef, o perímetro da linha média da secção oca eficaz, definida no Art.º 55. Por
outro lado os varões da armadura longitudinal de torção devem ser colocados ao longo do
contorno interior das cintas, com um espaçamento máximo de 35 cm, devendo em cada
vértice do contorno existir pelo menos um varão.

É recomendável utilizar menores espaçamentos entre varões longitudinais (aproximadamente


10 cm a 15 cm), para controle de fendilhação.

3.5. Casos especiais

3.5.1. Armadura de alma

O REBAP, no art. 96º, impõe nas vigas de altura superior a 1 m, seja disposta uma armadura
na alma, constituída por varões colocados junto às faces laterais da viga e distribuídas ao
longo da altura da secção transversal, na sua zona traccionada, a qual deve ter em cada face,
uma área total não inferior a 4% da área da secção da armadura longitudinal.

O C. E. B. apresenta o gráfico, que em função da posição do eixo neutro e da largura


características das fendas, permite determinar a altura hw da alma onde deve ser colocada a
armadura da alma.

É sugerido a utilização de varões com espaçamento na ordem de 15 a 25 cm, espaçamento


este que deve aumentar gradualmente a partir da armadura principal até ao eixo neutro,
sempre que h ≥0,70m.

O regulamento impõe uma área de 4% da área da secção da armadura longitudinal, note-se


que para vigas fortemente armadas essa percentagem pode ser insuficiente.

A armadura principal deve ser colocada numa zona com cerca de 0,2 d.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 22/ 29


Estruturas Betão Armado

hw (mm)

800

m m m
m m 4m
0 .1 0.2 0.
600 k= k= k=
W W W

400

200

200 400 600 800 1000 1200 1400 h-x2 (mm)

x2
L. N.

h-x2

hw

Fig. 19 – Altura hw onde deve ser colocada a armadura de alma.

Fig. 20 – Armadura de alma (h ≥ 1,00 m ) .

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 23/ 29


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3.5.2. Armadura de ligação dos banzos à alma

Em vigas com banzo é necessário assegurar a ligação banzo/alma, (quer se trate de uma zona
à tracção ou à compressão), com armaduras horizontais perpendiculares ao plano de flexão.
Estas armaduras, deverão absorver as forças de corte que se desenvolvem na ligação da aba ao
banzo (e deverão ser dimensionadas pela “regra das costuras”).

No caso de não existir uma junta de betonagem na zona de corte, pode dispensar-se o
dimensionamento, desde que a área da sua secção não seja inferior a metade da área total da
secção dos estribos e tenha o mesmo espaçamento destes.

Distribuição das armaduras longitudinais em banzos traccionados:

Nas vigas em T, nas zonas em que o banzo se encontra traccionado, a armadura


longitudinal, deve ser distribuída uniformemente numa largura de cerca de 0,5bef,
devendo sempre ter 2 varões na largura da alma, (tendo em atenção o espaçamento
entre varões imposto pelo art.º 91).

80

HS 5 Fe=10.3 cm2
60

40
Abertura das fendas
[1/100mm]

20
HQ 2 Fe=10.2 cm2

0
0 10 20 30 40 50
P P
Carga 2P [Mp]

Fig. 21 – Abertura de fendas no banzo traccionado de vigas em T, em função da distribuição, na secção da


armadura longitudinal.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 24/ 29


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3.5.3. Armaduras de suspensão

3.5.3.1. Ligação entre uma viga secundária e uma viga principal

No apoio de uma viga secundária numa viga principal, a transmissão das acções faz-se na
parte inferior, através de bielas de compressão, o que se torna necessário a utilização de uma
armadura de suspensão que transmita a reacção aos membros comprimidos da viga principal.

Esta armadura de suspensão deve ser realizada por estribos adicionais na viga principal, cuja
secção seja suficiente para absorver a força de reacção de apoio da viga secundária, ou seja:

Rsd
As ,est =
f syd

1 2

esquema estático

a) hipótese errada a) hipótese correcta

1/2R
1
R R
1 2 2

1/2R

Fig. 22 – Transmissão de carga da viga secundária à viga principal é feita na parte inferior desta.

Estes estribos devem ser distribuídos na zona de intersecção das duas vigas, zona que pode
estender-se ao longo da viga principal, para um e para outro lado da viga secundária, de um
comprimento igual ao maior dos valores b2/2 e h1/2, sendo b2 a largura da viga secundária e h1
a altura da viga principal. No caso de vigas de alturas diferentes, a área da secção dos estribos
de suspensão pode ser reduzida na relação h2/h1, no caso de as vigas terem as faces superiores
ao mesmo nível.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 25/ 29


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h1/2>b2/2 h1/2>b2/2
viga 1

b1
h2/2>b1/2
zona de cruzamento V1, V2
viga 2
h1, h2 - altura de V1, V2
b2

Fig. 23 – A armadura de suspensão deve ser distribuída na zona tracejada.

As armaduras longitudinais da viga secundária que termina na viga principal, devem ser
amarradas nesta, segundo as regras do art.º 93.

2 2

esquema estático

corte a-a1
a
h2

2 1 2 1 2
h1

a1

estribos de suspensão

esquema estático

corte a-a1
a
h2

1 2 1 2
h1

a1

estribos de suspensão

Fig. 24 – Estribos de suspensão na viga 1 para a viga 2 apoiada indirectamente.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 26/ 29


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3.5.3.2. Cargas Suspensas

No caso de cargas aplicadas à parte inferior das vigas ( por exemplo, quando a nervura está
para a parte de cima da laje, deve dispor-se uma armadura de suspensão ligando a zona de
aplicação da carga à parte superior da viga, onde deve ser amarrada.

armadura de
suspensão

laje

Fig. 25 – Laje apoiada na parte inferior da viga.

A área da armadura de suspensão deve ser dimensionada para absorver a totalidade da carga
em causa.

No caso de uma viga invertida, com laje inferior, esta deve ser tratada como suspensa.

laje em consola pendurada

Fig. 26 – Suspensão de uma consola.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 27/ 29


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3.5.3.3. Armadura de absorção de forças de desvio

Sempre que ocorrem mudanças de direcção em barras de armaduras traccionadas,


comprimidas ou de forças de compressão no betão, surgem forças de desvio.

a)

Db
U
b) U Db
secção transversal
Db Db

estribos para
M U=2.Db.sen. /2

Z Z

Fig. 27 – Forças de desvio de compressão: a) exemplo de uma ruptura; b) dimensionamento de armaduras.

A solução de pormenor a adoptar na absorção das forças de desvio, que se formam em barras
traccionadas de cantos reentrantes, depende da intensidade dessas forças e da geometria do
problema. As figuras ilustram várias soluções usuais em vigas.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 28/ 29


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Fc

b,net
Fs

h>50cm
estribos de canto
dispostos em leque

Fc Fs

Fig. 28 – Armadura de nós de pórticos com grandes dimensões, sob acção de momento positivo.

Fc
Fc Fs
Fs

Fig. 29 – Hipótese de solução adequada à absorção das forças de desvio.

Vigas / Disposições Construtivas Capítulo VI – 29/ 29


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CAPÍTULO VII

APLICAÇÕES NUMÈRICAS

(texto provisório – em revisão)

PROBLEMA 1

Considere a secção indicada na figura constituída por B25 e A500 com


uma secção de 0,45 * 0,25.
Determine o momento resistente da secção:
5φ12

a) Com base no método do diagrama rectangular

b) Com base no diagrama parábola + rectângulo pelas tabelas de dimensionamento.

Resolução:

Pelo equilíbrio de momentos:

Mrd = Fc.z (1)


Mrd = Fs.z (2)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 1/84


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Assim da igualdade
(1) = (2) (=) Fc.z = Fs.z ó Fc = Fs

Em que:
Fc - Resultante das tensões de compressão.
Fc - Resultante das tensões de tracção.
z - Braço do binário realizado entre as forças de compressão e tracção.

- Cálculo da força de compressão:


Fc = 0,8x* 0,85 fcd * b (3)
- Cálculo da força de tracção:
Fs = As σs (4)
- Cálculo de Mrd através de Fc (3) e Mrd(1)

Mrd = 0,8x * 0,85fcd * b * (d – 0,4x)

Considerando que Es = -3,5% , temos:


σs = fsyd aço encontra-se na sua situação de cedência.

Dados:

A 500 (art.º 25 do REBAP fsyd = 435 Mpa)


b= 0,25 m
d = h – rec (=) d = 0,45 – 0,04 ⇔ d = 0,41 m
5φ12 (Área de aço 5,65 cm2 tabela REBAP)
B25 (art.º 19 Quadro IV REBAP fcd = 13,3 MPa)

Substituindo na equação (4) temos:

Fs = 5,65 *10-4 * 435 *103 ⇔ Fs = 245,8 KN

Substituindo na equação (4) obtemos:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 2/84


Estruturas Betão Armado

245,8 = 0,8x * 0,85 *13,3 * 103 ⇔


245,8 = 2,261x * 103 ⇔ x = 0,108 m

Assim temos que o braço do binário será


z = 0,41 – 0,4 *0,108 ⇔ z = 0,367 m
Mrd = 245,8 * 0,357 ⇔ Mrd = 90,21 KNm

b) Parábola + rectângulo secção simplesmente armada pela tabela do L.N.E.C. pag. 90

α = x (1) ? = 100 As (2)


d bd
ρ = 100 *5,65 *103
0,25 * 0,41
ρ = 0,551
Interando os respectivos valores:
f x
0,258 0,541
0,262 0,551
0,264 0,555

0,006  0,014
α’  0,01 αf = 0,258 + α’
α’ = 0,0043 αf = 0,262
Pela equação (1) :
0,262d = x ⇔ x = 0,108
Analisando na viga através da parábola + rectângulo a respectiva situação se

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 3/84


Estruturas Betão Armado

0,85 fcd

y x

Fc
d

Z=d- y x

Fs

αf =0,262
Ζ = d - λx (3)

Como αf = 0,262 estamos então no domínio 3 já que 0,52 <0,617 por este motivo temos:

Fc=ψ * b * x * fcd (4)

Sendo ψ =0,688 e λ =0,416

Assim substituindo em (4)

Fc=0,6881*0,25 *0,108 *13,3x 103

Logo

Fc=247,1 KN

Calculo do braço do binário

Ζ=0,41-0,416 * 0,108 ⇔ Ζ=0,365 m

Calculo de Mrd

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 4/84


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Mrd =247,1 * 0,365 ⇔ Mrd = 90,19 KN.m

Pode então concluir-se que :

Mrd tirado pelo diagrama rectangular é aproximadamente igual ao valor tirado pelo diagrama
parábola + rectângulo.

Mrd (a) = Mrd (b)

ANEXO II
PROBLEMA 2.4

Considere a secção de betão armado representada na figura. Adoptando como materiais


B25 e A500. Determine a secção de armadura de tracção necessária para Msd = 400 KN/m e
de esforço transverso.

0.05 0,35 0,05

0,2

0,2
0,75

0,35

0,25

RESOLUÇÃO:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 5/84


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Conforme foi analisado nos problemas anteriores e já que não foi dado o valor do
esforço transverso actuante na secção, adopta-se para o esforço transverso o valor da
armadura mínima. (art.º 91 do REBAP)

Vamos então calcular a armadura de tracção necessária para resistir ao momento


aplicado.
Considerando uma primeira aproximação considerando d = 0,70, banzo comprimido
igual a 0,35, calculo através do diagrama rectangular simplificado.

Assim temos,

0,35
0,85 fcd

0,8
Fc
0,70

Z = d - 0,4x

As
Fs
0,25

• Na flexão simples
• Fc = Fs (1)
• z = d – 0,4x

Resultante das tensões de compressão temos:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 6/84


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Fc = 0,35 * 0,8x * 0,85fcd

Fc = 0,35 *0,8x * 0,85 . 13,3 *103 ⇔


Fc = 3,1654 * 103 x

Resultante das tensões de tracção considerando σs = fsyd que no caso em estudo para o

A500 são 435 MPa:


Fs = As * fsyd ⇔ Fs = 435 * 103 As

Da igualdade (1) temos:


3,1654 * 103x = 435 *103 * 10-4 As ⇔ 3,1654x = 435 As

Calculo da posição da linha neutra para a secção:

Msd = z * Fc
400 = z * 3,1654x * 103 sendo Z = d – 0,4x ⇔ Z = 0,7 – 0,4x

400 = ( 0,7 – 0,4x ) * 3,1654x * 103

1392,776x2 – 2215,78x + 400 = 0


x = 1,39 V x = 0,207618 ≅ 0,208 m

Valor de x da LN = 0,208 m

Assim temos:

Fc = 3,1654 x 103 x 0,208 ⇔ Fc = 658,4 KN


3,1654 * 0,208 = As ⇔ As = 1,51 *10-3 m2
435
As = 15,1 cm2

Embora a armadura não seja muito alta poderá melhorar-se a quantidade de armadura
considerando a peça dividida em 3 zonas conforme as assinaladas na figura

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 7/84


Estruturas Betão Armado

Zona 1

Zona 2

Zona 3

Da analise da peça é previsível que a linha neutra se situa na zona 1, daí que no
diagrama rectangular se considere em vez de 0,85 fcd, 0,8 fcd devido à secção estreitar no
sentido das fibras que sofrem maiores deformações.

Resultante das tensões de compressão sendo a área carregada num trapézio

0,20

b
M

Calculo de bx para determinação da área carregada

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 8/84


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0,20  0,05
x  y

donde se tira:
0,20 y = 0,05 * x

y = 0,05x ⇔ y = 0,25x
0,20

Assim temos que o valor de bx será dado por:

bx = 0,35 + 2y ⇔ bx = 0,35 + 2 . 0,25x

bx = 0,35 + 0,5x (largura da secção à distância x do topo)

Vamos então agora calcular para a profundidade de 0,8 x do topo.

0,8 fcd

0,8x
Fc

Z = d - 0,4x

As
Fs

bx = 0,35 + 0,5 * 0,8x ⇔ bx = 0,35 + 0,4x

Calculo da área do trapézio

A =( bx + b )*0,8x ⇔ A = (0,35 + 0,4x + 0,35 )* 0,8x

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 9/84


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2 2
A = 0,28x + 0,16x2

Calculo da força Fc

Fc = A * 0,8 fcd ⇔ Fc = (0,28x + 0,16x2) *0,8 * 13,3 x 103

Fc = ( 2,9792x + 1,7024x2) *103 ⇔

Fc = 2979,2x + 1702,4x2

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 10/84


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Calculo de z

z = d – xG, onde xG representa a distancia ao topo, do centro de gravidade da área carregada.

C3
C1 C1 h

bM

Como temos um rectângulo e dois triângulos, então o centro de gravidade do trapézio é:

XG = h . ( b + 2 bm )
3 b + bm

Para a secção em analise temos:

h = 0,8x b = 0,35 bm = 0,35 + 0,4x

XG = 0,8x * ( 0,35 + 2 (0,35 + 0,4x ))


3 0,35 + 0,35 + 0,4x

donde

XG = 0,28x + 0,21x2
0,7 + 0,4x

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 11/84


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Calculo da posição da Linha neutra

z = d – xG ⇔ z = 0,7 – ( 0,28x + 0,21x2)


0,7 + 0,4x

Como M = Z * Fc temos:

400 = ( 2979,2x + 1702,4x2) * [ 0,7 – (0,28x + 0,21x2)]


0,7 + 0,4x

Por iterações partindo de:

X(m) MKNm

0,20 409,94
0,19 390,1
0,195 400,03

Assim como era de esperar a linha neutra está na zona 1. Logo adopta-se x = 0,195

Calculo agora de Fc

Fc = 2979,2 x 0,195 + 1702,4 . (0,195)2


Fc = 645,68 KN

Como Fc = Fs temos 645,68 = 435 x 103 As ⇔ As = 1,48 x 10-3 m2 ⇔ As = 14,8 cm2

Verificação das extensões:

Admitindo εs = 10% vem

εs = 10% ⇔
xG d - xG

εs = 10% * (0,195) ⇔
0,70 – 0,195
εs = 3,38%

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 12/84


Estruturas Betão Armado

como εs > εsyd garante-se então que a armadura se encontra na cedência


Verificação da quantidade da armadura (art.º 91 do REBAP)

Armadura mínima

Asmin = ρbd ⇔ Asmin = 0,12 *0,25 * 0,7 *104 ⇔ Asmin = 2,1 cm2
100 100

Armadura máxima

As = 0,04 * 0,7 * 0,25 * 104 ⇔ As = 70 cm2

Pormenorização da armadura:

Sendo As = 14,8 cm2 (4 φ 22 (15,25 cm2)

Considerando rec = 2,5 cm

φ est = φ 8

s = 0,25 – 2 * 0,025 – 2 * 0,008 – 4 * 0,022


3
s = 0,088 m

logo s = 8,8 cm

4 Ø 22

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 13/84


Estruturas Betão Armado

Pormenor da Armadura

0,05 0,35 0,05

10 Ø 10

0,75

Est. Ø 8

0,25

4 Ø 22

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 14/84


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ANEXO III
PROBLEMA 2.5

0,55

0,25

Considere a secção rectangular representada na figura. Os materiais são B25 e A500. O


recobrimento são 2,5 cm e os estribos são φ 8. Dimensione a armadura necessária para resistir
a um momento de 180 KNm, e ao esforço transverso. Determine a armadura de esforço
transverso ( Asw ).

a) Com base no diagrama rectangular


b) Com base no diagrama parábola + rectângulo, não utilizando tabelas de dimensionamento.

RESOLUÇÃO:
a)

0,85 fcd

0,8 x Fc

d
Z = d - 0,4x

Fs

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 15/84


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Flexão simples
Msd = Fc . z (1)
Fc = As . σs (2)

Considerando εs = -3,5%, então temos σs = fsyd aço na tensão de cedência.


Logo:
Fc = As . fsyd (3)

Como também

Msd = Fs . z (4)

Analisando (1) e (4) temos Fc = Fs pelo equilíbrio

Cálculo da altura útil d

d = h – (rec + φest + φest ) pela analise da figura (5)


2

Varão
Estribo

rec + φest + φ varão


2

Cálculo da força de compressão

Fc = 0,8 x * b * 0,85 fcd (6)


fcd = 13,3 MPa (art.º 19 REBAP Quadro IV)
fsyd = 435 MPa (art.º 25 REBAP)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 16/84


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Substituindo em (6) temos:

Fc = 0,8 x * 0,25 * 0,85 * 13,3 * 103 ⇔


Fc = 2,261 x * 103 KN

Calculo da força de tracção

Fs = As* fsyd ⇔ Fs = As * 435 *103 *10-4 KN ⇔ Fs = 43,5 As

Admitindo para a armadura longitudinal varões de φ 25 para resistir ao momento aplicado,


temos substituindo em (5)

d = 0,55 – (0,025 + 0,008 + 0,025) ⇔ d = 0,5085


2 2

Tomamos então d = 0,50 m

Vamos então calcular o braço do binário :

z = d – 0,4 x ⇔ Z = 0,50 – 0,4 x

Calculo da posição da linha Neutra:

Msd = Fc . z

180 = 2,261 x * (0,50 – 0,4x) *103 ⇔

180 = 1130,5 x – 904,4 x2 ⇔

904,4 x2 – 1130,5 x + 180 = 0 ⇔

x1 = 1,062 m (fora da peça)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 17/84


Estruturas Betão Armado

x2 = 0,187 m

Consideramos então a posição L.N x = 0,187

Verificação das extensões:

εc

d-x

εs

Partindo da hipótese εc = 3,5%

εc = εc
d–x x

εs = 3,5%
0,50 – 0,187 0,187

εs = 5,86%

temos então que

εs < 10%
Do aço A500 temos εsyd ≅ 2,16% logo εs > εsyd

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 18/84


Estruturas Betão Armado

Calculo da armadura:

Fc = 2,261x . 103 ⇔ Fc = 2,261 x 0,187 x 103 ⇔

Fc = 422,81 KN

Sendo flexão simples temos:

Fc = Fs donde:

422,81 = 43,5 As ⇔ As = 9,72 cm2

calculo de Z = d – 0,4x ⇔ Z = 0,50 – 0,4 * 0,187

Z = 0,4252 cm

Como Z ≅ 0,9 d ⇔ Z = 0,9 * 0,50 ⇔ Z = 0,45 cm

Logo está em conformidade.

- Cálculo da armadura de esforço transverso atendendo ao art.º 94 e considerando o aço


A500 definido:

ρw = 0,08 estribos verticais logo α = 90º

ρw = Asw x 100 ⇔ ρw.bw.senα = Asw ⇔


bws.sen α 100 s

Asw = 2 x 10-4 m2/m


s

Verificação art.º 94.3

Considerando as situações deste artigo temos nas zonas em que:

Vsd ≤ 1/6 τ2 bwd


Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 19/84
Estruturas Betão Armado

s ≤ 0,9 d com um máximo de 30 cm

s ≤ 0,9 . 0,5 ⇔ s ≤ 0,45 m com máximo de 30 cm

s = 30 cm
Nas zonas em que 1/6 τ2 bwd < Vsd < 2/3 τ2 bwd

s ≤ 0,5 d com um máximo de 25 cm.

s ≤ 0,5 . 0,5 ⇔ s ≤ 0,25 m logo s = 25 cm

b) Sem recorrer às tabelas de dimensionamento considerando parábola + rectangular

εc 0,85 fcd

λ
Fc
d
h
Z=d-λ
d-

εs Fs
(5,86%)
b

εc = εs
x d-x

3,5 = 5,86 ⇔ x = 0,187 cm


x 0,50 – x

Da viga simplesmente armada temos:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 20/84


Estruturas Betão Armado

α = xd (1)

α = 0,187d logo α = 0,187 x 0,50 ⇔ α = 0,0935 cm

como α = 0,0935 estamos na situação da zona 2 porque 0,167 < α ≤ 0,259

Atendendo então a que:

Msd = Fc . z (2)

Vamos calcular z para podermos calcular Fc.

z = d - λx

Calculo de λ:

λ = 171 α2 – 22 α + 1 substituindo α = 0,0935


320 x α2 - 20α

temos λ = 0,472

z = 0,50 – 0,472 * 0,187 ⇔ z = 0,412 m

Substituindo em (2)

180 = Fc * 0,412

180 = Fc ⇔ Fc = 436,89 KN
0,412

Como Fs = As . fsyd ∧ Fs = Fc

436,89 = As
435 x 103

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 21/84


Estruturas Betão Armado

10,04 cm2 = As

Verificação z ≅ 0,9 d

z = 0,9 * 0,50
z = 0,45 como z = 0,41 está em conformidade

Verificação da quantidade de armadura pelo art.º 90 do REBAP temos:

ρ = As * 100 ρ = 0,12 no A500 (90.1 Armadura mínima)


bt * d

0,12 * 0,25 * 0,50 = Asmin ⇔ Asmin = 0,00015 m2 ⇔ As = 1,5 cm2


100

Pelo art.º 90 no seu ponto 2 temos armadura máxima

Asmax = 0,04 * b * d

Assim

Asmax = 0,04 * 0,25 * 0,50 ⇔ Asmax = 0,005 cm2 ⇔ Asmax = 50 cm2

Vamos então optar pela armadura calculada já que ela é superior à armadura mínima e
inferior à máxima.

Como no diagrama rectangular chegamos a:

As = 9,72 cm2 e no rectângulo + parábola

As = 10,04 cm2 optamos por armar com:

As = 10,04, assim optamos por 4 φ 20 temos Asefectivo = 12,57 cm2

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 22/84


Estruturas Betão Armado

12,57 > 10,04 logo pormenorizando a armadura temos:

s = b – 2 x rec – s φest - η φvarões


n–1

s = 0,25 – 2 x 0,025 – 2 x 0,008 – 4 x 0,020


3
s = 0,035 m

Atendendo ao art.º 77.2 do REBAP que nos diz que no caso de armaduras ordinárias a
distância livre entre varões não deve ser inferior ao maior diâmetro dos varões em causa.
Temos:
0,035 > 0,020 (com um máximo 30 cm)

Pormenor da Armadura.

Ø 8 estribo

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 23/84


Estruturas Betão Armado

2 Ø 10 (armadura mínima)

2 Ø 8 (armadura construtiva)
rec 2,5 cm

0,55
Est. Ø 8

4 Ø 20
0,25

ANEXO IV
PROBLEMA 2.7

Na figura está representada a secção transversal de um elemento estrutural. Adoptando


como materiais o B25 e A500. Dimensione a armadura sabendo que o momento de cálculo é:
Msd = 1000 KNm
Dimensione também a armadura de esforço transverso

1,00
0,15

1,00 = d

As

0,30

1) Através das tabelas de dimensionamento

2) Através das formulas simplificadas

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 24/84


Estruturas Betão Armado

Resolução:

1) Características da secção

b = 1,00 m
bw = 0,30 m
hf = 0,15 m
d = 1,00 m

Calculo da armadura longitudinal através das tabelas:

b = 1,00 = 3,33 ; hf = 0,15 = 0,15


bw 0,30 d 1

Armadura de flexão para Msd actuante

µsd = Msd (1)


bd2fcd

Como se trata de um B25 (através do art.º 19 pag. 37 do REBAP)

fcd = 13,3 MPa substituindo em (1)

µsd = 1000 ⇔ µsd = 75,2 *10-3 ⇔


3
1 *1 *13,3 * 10

µsd = 0,075

Analisando as tabelas do LNEC considerando um aço A500 temos:

Pagina 100

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 25/84


Estruturas Betão Armado

b = 4 como no caso em estudo


bw
b < 4 vamos então considerar a secção equivalente rectangular.
bw

1,00

0,85 fcd

0,15

X 0,8 x
Fc

1,00 1,00

1,00 Fs

Considerando o diagrama rectangular para determinação da posição da linha neutra


Considerando que o aço se encontra no seu estado de cedência temos:

εc

εs

εs = 3,5% então σs = fsyd

Fs = As . σs

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 26/84


Estruturas Betão Armado

Msd = Fc . z com Msd = 1000 KNm

1000 = 0,85 * 13,3 * 0,8 x 10-3

1000 = x
0,85. 13,3 .0,8 x 10-3

1 = x ⇔ x = 0.11 m
0,85 *13,3 * 0,8

Podemos então considerar a secção rectangular porque 0,11 < 0,15

Então temos:

α=x *d
α = 0,11 * 1 ⇔ α = 0,11

Pelas formulas simplificadas temos:

Fc = 0,85 * 13,3 *1 * 0,8 * 0,11 * 10-3

Fc = 0,99484 * 10-3 = 994,84 KN

994,84 = As * 435 * 10-3

As = 22,9 cm2

Verificação da armadura máxima e mínima

Art.º 90 do REBAP

Asmin = b * ρ * d que para o aço A500 é 0,12 (Art.º 90.1)


100

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 27/84


Estruturas Betão Armado

Asmax = 0,04 * b * d (Art.º 90.2)

Asmin = 0,12 * 1 * 1 ⇔ Asmin = 12 cm2


100

Asmax = 0,04 = 400 cm2

Considerando então a situação da armadura calculada temos:

As = 22,9 cm2

Adoptam-se 5 φ 25 ou 8 φ 20

Calculo da armadura de esforço transverso Art.º 94

Atendendo ao seu ponto 94.2 para A500 temos:

ρW = Asw x 100
bw * s * senα
ρW = 0,08 % no caso do A500

Calculo de bw pelo Art.º 53 e considerando estribos verticais α = 90º no seu ponto a)


pela definição de bw temos:

bw = 0,25

0,08 * 0,25 * sen 90º = Asw ⇔


100 s

Asw = 0,0002 m2 ⇔ Asw = 2 cm2/m


s s

1.ª Hipotese

Vsd ≤ 1 τ2 bw d
6
b ≤ 0,9 d com um máximo de 30 cm

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 28/84


Estruturas Betão Armado

b ≤ 0,9 x 1 ⇔ b ≤ 0,9 m tomamos então


b = 30 cm

2.ª Hipotese

1 τ2 bw d < Vsd < 2 τ2 bw d


6 3
b ≤ 0,5 d ⇔ b ≤ 0,5 com um máximo de 25 cm

3.ª Hipotese

Nas zonas em que Vsd > 2 τ2 bw d


3
b ≤ 0,3 d com um máximo de 20 cm
b ≤ 0,3 * 1
b = 20 cm

Assim atendendo a

Asw = 2 cm2/m (4 varões φ8/m)


s
s = 0,25 (Asw)/ramo = 1 cm2/m
s
Considerando s = 0,20 e atendendo ao Art.º 94.1 para A500
Estribos de 2 ramos

(Asw)/ramo = 1 cm2/m
s

Assim atendendo ao art.º 94.1, não deve exceder a altura útil da viga com o máximo de 60
cm.
Adoptam-se então estribos de φ8 afastados de 20 cm com 2 ramos (Asw ≅ 1,00 cm2)
Pormenor da Armadura para As =22,9 cm2 no fim da resolução do exercício.

2- Através das formulas simplificadas

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 29/84


Estruturas Betão Armado

Em casos correntes a verificação de uma viga em T pode ser realizada como se tratasse de
uma viga rectangular com largura igual à largura do banzo. Poderão portanto utilizar todo o
processo de calculo das vigas rectangulares bastando verificar se alinha neutra não sai for ado
banzo, isto é α ≤ hf/d, sendo hf a espessura do banzo .

Assim os valores reduzidos dos momentos flectores ou das percentagens mecânicas de


armadura a partir das quais as vigas em T não podem ser consideradas como vigas
rectangulares, podem ser obtidos por:

µ=0,688 hf (1-0,416 hf )
d d

W = 0,688 hf
d

Para valores superiores a estes ter-se-á α> hf a linha neutra estará fora do banzo.
d

Nestes casos pode-se desprezar o comprimento da alma da viga para a absorção de forças de
compressão o que corresponde a tomar b =∝
bw

b= Largura do banzo
bw = Largura da alma

Considerando então que em toda a largura do banzo se desenvolvem tensões de compressão


de valor igual a 0,85 fcd temos momento máximo resistente.

Mrd = 0,85 fcd * bhf (d- 0,5 hf) para valores de momentos inferiores a este poder-se-á
determinar a armadura necessária admitindo que o aço está na cedência por:

As= Mdr
fsy (d-0,5 hf)

Atendendo ao problema proposto temos:

bw = 0,30 m

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 30/84


Estruturas Betão Armado

b = 1,0 m
d = 1,0 m
h = 0,15 m

Msd = Mrd = 1000 KN.m

B25 (13,3 x 103 KN/m2 )


A500 (fsyd= 435x103 KN/ m2 )

Por aplicação das formulas simplificadas temos:

µ = Mrd ⇔ µ = 1000 ⇔ µ= 0,075 ; W →0,079 ; α ≤ 0,15 (Ok)


2 3
bd fcd 1* 1* 13,3 x 10

Calculado na alínea anterior é 0,11 < 0,15 verifica .


Passamos agora à analise do valor de µ para o qual a secção em T deixa de poder ser tratada
como rectangular:

µ = 0,688 hf (1-0,416 hf )
d d
µ = 0,688 * 0,15 (1-0,416 * 0,15)
1 1
µ = 0,097
w = 0,688 hf
d
w = 0,103

Pode então ser considerada como viga rectangular, já que µ < 0,097 e w < 0,103
Assim, utilizamos as formulas simplificadas das vigas rectangulares com µ < 0,35

Temos:
W’= 0
W = µ (1+ µ )
W= 0,075 (1+ 0,075 ) ⇔ W= 0,0806

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 31/84


Estruturas Betão Armado

Atendendo a que

W = As fsyd
bd fcd
As = W . bd . fcd ⇔ As= 0,0806 *1* 1* 13,3 x 103
Fsyd 435 x 103
As= 2,46 x 10 –3 ⇔ As= 24,6 cm2

Pormenor da Armadura

12 Ø 12
EST. Ø 8 // 0.20
1,00

0,15

4Ø8

EST. Ø 8 // 0.20

0,30 5 Ø 25

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 32/84


Estruturas Betão Armado

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 33/84


Estruturas Betão Armado

ANEXO V
PROBLEMA 4

Calcule o momento torsor resistente de uma secção rectangular com as dimensões de


0,40x0,60 com armadura transversal (estribos de φ 8 af. 0,175) e armadura longitudinal (8 φ
12)
Considere B25 e A500

f
de

0,60

0,40

Resolução:

Atendendo ao art.º 55 no seu ponto 2 temos:

Trd = Tcd + Ttd (1) entraremos em linha de conta com o menor dos valores

Trd = Tld (2)

Tcd = 2 τ1 hef Aef (3)

Ttd = 2 Aef Asf fsyd (4); Ted = 2 Aef Asl fsyd (5)
s µef

- fsyd do aço A500 = 435 Mpa (art.º 25)

- τ1 para B25 é de 0,65 MPa (art.º 53 Quadro VI)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 34/84


Estruturas Betão Armado

- τ2 para B25 é de 4 MPa (art.º 53 Quadro VII)

Satisfação da condição com base no art.º 55.2

Trd ≤ 2 τ2 hef Aef (6)

1.ª hipotese rotura pelos estribos

Est. φ 8 / 0,175 ; Ast = 2,86 cm2/m


s

Calculo de Ttd pela expressão (4)

Ttd = 2 Aef Ast fsyd


s

Calculo de def, hef, Aef, µef

def = b – 2 (rec + φest + φvarão)


2
Admitindo o recobrimento de 3 cm temos:

Def = 0,40 – 2 (0,03 + 0,008 + 0,012) = 0,312 m


2

hef = 2 . def (art.º 55.2)


12

hef = 2 . def ⇔ hef = 2. 0,312 ⇔ hef = 0,052 m


12 12

Calculo de hef = 0,026 m


2
considerando agora o valor de :

rec + φest + φvarão = 0,044 m

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 35/84


Estruturas Betão Armado

verifica-se que hef < 0,044 m toma-se então 0,044


2

Calculo Aef

Aef = def * (h – 2 * (rec + φest + φvarão ))


2
Aef = 0,312 * (0,60 – 2 * 0,044) ⇔ Aef = 0,160 m2

µef = 2 . (def + (h – 2 * (rec + φest + φvarão))


2
µef = 2 . (0,312 + (0,60 – 2 (0,03 + 0,008 + 0,012)) ⇔
2
µef = 2 * (0,312 + 0,512) = 1,65 m

h - 2 . ( rec + Øest + Øvarões )


2

def
(secção eficaz)

Cálculo Ttd = 2 . Aef . Ast fsyd


s
Ttd = 2 . 0,160 . 2,86 . 4,35 . 103 . 10-4 ⇔ Ttd = 39,81 KN/m

Cálculo de Tcd = 2 δ 1 hef Aef

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 36/84


Estruturas Betão Armado

Tcd = 2 . 0,65 x 103 * 0,052 * 0,160

Tcd = 10,82 KNm

Logo pela expressão 1 temos:

Trd = 10,82 + 39,81 ⇔ Trd = 50,63 KN/m

2.ª Hipotese - Rotura pela armadura longitudinal

Cálculo de Tcd = 2 Aef Asl fsyd


µef

Asl = 9,05 cm2 (8 φ 12, REBAP – Tabelas)

Tcd = 2 . 0,160 . 9,05 x 10-4 . 435 . 103 ⇔ Tcd = 76,35 KNm


1,65

3.ª Hipotese - Rotura pelo betão

Trd = 2δ2 hef Aef ⇔ Trd = 2 . 4 . 103. 0,052 . 0,160

Trd = 66,6 KNm

O momento torsor resistente vem pelo menor valor de Trd tirado pela expressão (1), (5) e (6)

Assim consideramos Trd = 39,81 KNm

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 37/84


Estruturas Betão Armado

Pormenor da Armadura

3 Ø 12

EST. Ø 8 // 0.175

0,60 MAT B25 A500


rec 3 cm

8 Ø 12

0,40

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 38/84


Estruturas Betão Armado

ANEXO VI
PROBLEMA 4.6

Considere uma secção rectangular com as dimensões 0,30x0,60, submetida a um


momento torsor de 25 KN/m. Proceda ao dimensionamento adoptado para materiais B25 e
A500

0,60

0,30

fsyd = 435 MPa (art.º 25º)

Resolução:
art.º 55

Valor de calculo de momento torsor (considerando o menor dos valores)

Trd = Tcd + Ttd (1)

Trd = Ttd (2)

Tcd = 2 τ1 hef Aef (3)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 39/84


Estruturas Betão Armado

Ttd = 2 Aef . Ast fsyd (4)


µef

Tld = 2 Aef . Asl fsyd (5)


µef
Trd = 2 τ2 hef Aef (6)

Para que o problema tenha solução é necessário verificar que Tsd ≤ Trd
Assim temos substituído em (6)

Trd = 2 * 4 * 103 * hef *Aef τ2 = 4 MPa (art.º 53.4 Quadro VII)

- Cálculos def

def = b – 2 (rec + φest + φvarão)


2
Adoptando :

Recobrimento  3 cm

Diâmetro do estribo  0,8 cm

Diâmetro varão  2,5 cm

Temos:

def = 0,30 – 2 (0,03 + 0,008 + 0,025) ⇔


2
def = 0,199 m considerando def ≅ 0,20

- Cálculo de hef

hef = 2 . def (art.º 55.2 REBAP)


12
hef = 2 . 0,20 ⇔ hef = 0,033 m
12

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 40/84


Estruturas Betão Armado

Cálculo hef = 0,0165


2
Cálculo rec + φest + φvarão = 0,051
2
como hef < 0,051 toma-se 0,051
2

Cálculo Aef:

Aef = def . (h – 2 . 0,051) ⇔

Aef = 0,20 . (0,60 – 2 . 0,051) ⇔ Aef = 0,0996 m2

Calculo de µef

Perímetro da secção

h - 2 . ( rec + Øest + Øvarões ) = h1


2

def

Cálculo de h1

h1 = 0,60 –2 (0,03 + 0,008 + 0,025)


2
h1 = 0,499 m

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 41/84


Estruturas Betão Armado

µef = 2 * (def + h1)

µef = 2 * (0,20 + 0,499) ⇔ µef = 1,398 cm

Substituindo na expressão (6)

Trd = 2 . 4 . 103. 0,053 . 0,0996 ⇔ Trd = 25,5 KNm

Como Tsd = 25 KN/m < 25,5 tem solução

Dimensionamento das armaduras

Armaduras transversais da expressão (3)

Tcd = 2 τ1 hef Aef τ1 = 0,65 MPa (art.º 53 Quadro VI)

Tcd = 2 . 0,65 x 103 x 0,035 x 0,0996 ⇔

Tcd = 4,72 KNm

Da expressão (1)

25 = Ttd + 4,72 ⇔ Ttd = 20,25 KN/m

Da expressão (4)

20,28 = 2 . 0,0996 Ast . 435 x 103


s

20,28 = (Ast) ⇔ Ast = 0,234 *10-3 m2/m


3
2* 0,996 * 435 * 10 s s

(Ast) = 2,34 cm2/m (estribos φ 6 af. 0,15)


s

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 42/84


Estruturas Betão Armado

Armadura longitudinal

Tld = Tsd = 20 KNm

Asl = Tld*. µef ⇔Asl = 25 * 1,398


2 Asf* fsyd 2 *0,0996 * 435 *103

Asl = 0,403 *10 –3 m2 ⇔ Asl = 4,03 cm2

4 φ 10 + 4 φ 8 (5,15 cm2)

- Espaçamento máximo da armadura transversal:


1 µef
8 (art.º 95 do REBAP)
smax = min
0,30 cm

s = 1 x 1,398 ⇔ s = 0,175 recomenda-se no entanto que smax não exceda 12 φv que é de 12


cm

- Espaçamento máximo da armadura longitudinal


smax = 0,35

Pormenor da Armadura

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 43/84


Estruturas Betão Armado

2 Ø 12

EST. Ø 6 // 0.15

0,60

2Ø8

4 Ø 12

0,30

ANEXO VII
PROBLEMA DO TESTE 22/05/86 (T1)

Considere a viga indicada na figura. Os apoios permitem a rotação de flexão mas


impedem a rotação de torção. A viga está sujeita à acção do peso próprio e de uma
sobrecarga, sendo ambas acções uniformemente distribuídas ao longo da viga.

Q 0,30

Cp 0,25
0,75

Q/2
0,20

6,50

0,55

Dados:
B25 A500
Pp = 30 KN/m h = 0.75

Q = 20 KN/m
Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 44/84
Estruturas Betão Armado

γg = 1,35 γq = 1.5

a) Dimensione as armaduras a meio vão e dos apoios.

b) Indique qual o comprimento de amarração das armaduras longitudinais junto à face


inferior na secção de apoio.

c) Pormenorize as armaduras na secção a meio vão.

d) Calcule a armadura de torção associadas ao esforço transverso e as armaduras totais no


apoio.

p.p = 30 (γg = 1,35) KN/m p.p. = 1,35 x 30 ⇔ p.p = 40,5 KN

Q = 20 = 10 (γg = 1,5) KN/m Q = 1,5 x 10 ⇔ Q = 15 KN


2 2 2 2

Cálculo dos esforços actuantes

ΣFV = 0 ⇔ RA + RB = 55,5 * 6,5 RA = 180,4 KN

ΣMA = 0 ⇔ 6,5 RB – 85,5 * 6,52 = 0 ⇔ RB = 55,5 * 6,5 ⇔ RB = 180,4 KN


2

- Diagrama de esforços transverso

(V) V(x) = 180,4 – 55,5 x


180,4 +
M (x) = ? V (x) dx
Logo
-180,4
M (x) = 180,4 x – 55,5 x2
2

com 0 ≤ x ≤ 6,5
Diagrama de Momentos Flectores

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 45/84


Estruturas Betão Armado

6,50 m

A B

243,2 KNm

- cálculo Mmax. é para valores V(x) = 0

180,4 – 55,5x = 0 ⇔ x = 180,4 ⇔ x = 3,25


55,5

Mmax. = 180,4 x 3,25 – 55,5 x 3,252 ⇔ Mmax.= 293,2 KNm


2

- Dimensionamento das armaduras longitudinais

µsd = Msd ⇔ µsd = 293,2 ⇔ µsd = 149x10-3 ⇔ µsd = 0,149


2 2 3
bd fcd 0,30*0,70 *13,3*10

µsd = 0,149 < 0,31 logo, pelas formulas simplificadas

W’ = 0
W = µ (1 + µ) ⇔ W = 0,149 (1 + 0,149) ⇔ W = 0,171
W = As . fsyd
bd fcd

As = 0,171 * 0,30 * 0,70 * 13,3 * 103 ⇔


435 x 10³

As = 10,99 x 10-4 m2 ⇔ As = 10,99 cm2

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 46/84


Estruturas Betão Armado

(6 φ 16) (12,06 cm2)

Posição da linha neutra para a secção equivalente


- Área de aço para a armadura:

6 φ 16 = 12,06 cm2

- Do diagrama rectangular temos:

Fs = As . σs σs = fsyd (εs = - 3,5 ‰ )

Fs = 12,06 *10-4 * 435 *103 ⇔ Fs = 524,6 KN

0,85 fcd

0,8 x

Fc

Z = d - 0,4x

Fs

Como do equilíbrio temos:

Fc = Fs
0,8 x * 0,85 fcd * b = Fc ⇔

x= Fc
0,8.0,85fcd.b

x= 524,6
0,8*0,85*13,3*103*0,3

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 47/84


Estruturas Betão Armado

x = 193,4 * 10 -3 ⇔ x = 0,193 m (Posição a linha neutra)

Mrd = Fc.z sendo (z = d – 0,4 x)

Mrd = 524,6 (0,70 – 0,4 . 0,193) ⇔ Mrd = 484,1 KN/m

Mrd > Msd logo a secção é a correcta equivalente à solicitada já que xLN = 0,193

- Verificação das armaduras mínimas e máximas (Art.º 90)

Asmin = ρ b d (A500 0,12% do art.º 90.1)


100

Asmin = 0,12 * 0,30 * 0,70 ⇔ Asmin = 2,52 x 10-4 m2 ⇔


100
Asmin = 2,52 cm2

Asmax = 0,04.b.d (art.º 90.2)

Asmax = 0,04 * 0,30 *0.70 ⇔ Asmax = 84 * 10-4 m2 ⇔

Asmax = 84 cm2

Como a armadura calculada está compreendida entre Asmin e Asmax serve.

- Dimensionamento da armadura transverso (art.º 53 do REBAP)

Vrdmax = δ2 . b . d δ2 = 4 MPa (art.º 54.3)

Vrdmax = 840 KN

Como Vsdmax = 180,4 < 840 tem solução

- Termo corrector da teoria de Morch (art.º 53.1 e 53.2)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 48/84


Estruturas Betão Armado

Vcd = t 1.bwd em que t 1 = 0,65 MPa

Vcd = 0,65 * 103 * 0,30 * 0,70 ⇔ Vcd = 136,5

Vwd = Vsd – Vcd ⇔ Vwd = 180,4 – 136,5 ⇔ Vwd = 43,9 KN (art.º 53.3)

Asw = Vwd (estribos verticais)


s 0,9d fsyd

Asw = 43,9 ⇔ Asw = 1,60 *10-4 m2/m


3
s 0,9*0,7*435*10 s

Asw = 1,60 cm2/m


s
- Verificação da armadura mínima (art.º 94.2)

( As ) = 0,08 * 0,3 * sen 90º ⇔ Asw = 2,4 cm2/m


s min 100 s

como ( Asw ) < ( Asw )


s cal s min

então toma-se Asw = 2,4 cm2/m como temos estribos de 2 ramos ( Asw ) = 1,2 cm2/m
s s

Afastamento entre estribos (art.º 94.2 REBAP)

1/6 t 2 bwd = 140 KN

2/3 t 2 bwd = 560 KN

como 140 < 180,4 < 560 então: s ≤ 0,5 d ^ s ≤ 0,25

s ≤ 0,35 ^ s ≤ 0,25 logo toma-se no máximo s = 0,25

Vamos considerar t 2 = 0,20 afastamento dos estribos considerando estribos de 2 ramos temos:
( Asw ) = 2,4 ⇔ ( Asw ) = 1,2 cm2/m teremos então:
s /ramo 2 s

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 49/84


Estruturas Betão Armado

4 φ 8 /m → 2,01 cm2/m logo o afastamento não é 0,20 mas 0,25 φ 8 af. 0,20

b) os varões estão em condições de boa aderência, dai que, atendendo ao art.º 93 REBAP
temos:

As (apoio) = Max  As ; Asmin; Fsd 


4 fsyd

As = 12,06 = 3,02 cm2 As (área de armadura referente aos varões adoptados)


4 4

Asmin = 2,4 cm2

- Cálculo de Fsd (art.º 93.2 a)

Fsd = Vsd . al (al definida pelo Art.º 92 do REBAP)


d

Como consideramos estribos verticais então al = d donde da expressão anterior vem:

Fsd = Vsd

As = Vsd ⇔ As = 180,4 ⇔ As = 4,15 x10-4 m2


fsyd 435x103

As = 4,15 cm2

As apoio é valor máximo das armaduras anteriormente calculadas.

Logo As = 4,15 cm2 no apoio

Área de aço efectiva 12,06 cm2

- Cálculo do comprimento da amarração de varões de armaduras ordinárias (art.º 81


REBAP)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 50/84


Estruturas Betão Armado

lb,net = lb . As cal . α1 (1)


Asef

lb = φ fswd (2)
4 fbd

lb com um máximo  10 φ ; 10 cm ; 0,3 lb

Para a determinação de lb, net consideramos α1 = 0,7 (art.º 8.13)

lb, o valor de fbd é retirado do art.º 80, que no nosso caso é varões de alta aderência no caso

da utilização B25 = 2,4 MPa

Substituindo na expressão (2) temos:

lb = 0,016 . 435 * 103 ⇔ lb = 0,73


4 2,4 * 103

Substituindo agora em (1)

lbnet = 0,73 * 4,15 *0,7 ⇔ lbnet = 0,176 m


12,06

10 φ = 10 * 0,016 ⇔ 10 φ = 0,16 m

0,3lb = 0,3 * 0,73 ⇔ 0,3lb = 0,22

como lb ≅ 0,18

tomamos então lb = 0,22 para satisfazer as condições definidas no artigo, já que

lbmax  0, 16; 0,10; 0,22 é 0,22

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 51/84


Estruturas Betão Armado

c) Secção a meio vão

A armadura longitudinal a meio vão é a que resulta do momento positivo máximo na


secção e é a que foi calculada na alínea a) 6 φ 16. A meio vão porque o Mf actuante é
máximo, o esforço transverso é zero, como podemos verificar pelas formulas de determinação
do valor de x para Mmax. Assim sendo vamos colocar a armadura mínima para resistir a Vsd.

( Asw ) = 2,4 cm2/m estribos 2 ramos φ 8 // 0,25


s min

Cálculo da armadura de flexão da pala

Q 0,25
2
Q
2

As

0,20
d

Dimensionamento por metro linear

- Cálculo de carga R

R = γq . Q ⇔ R = 1,5 . 20 ⇔ R = 15 KN
2 2

- Cálculo do momento

Msd = R. 0,25 ⇔ Msd = 15 x 0,25 ⇔ Msd = 3,75 KN/m

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 52/84


Estruturas Betão Armado

µsd = Msd ⇔ µsd = 3,75


bd2 fcd 1*0,152 *13,3 *103

µsd = 12,5 *10-3 ⇔ µsd ≅ 0,013

µsd < 0,31

W’ = 0

W = µ. (1 + µ) ⇔

W = 0,013 * 1,013 ⇔

W ≅ 0,013

- Cálculo da armadura

As = 0,013 * 0,15 13,3 * 104 = 0,60 cm2/m


435

4 φ 6 para se manter 0,25 φ 6 af. 0,25 (1,13 cm2/m)

- Cálculo da armadura de suspensão

Dimensionamento por/m

Q = 10 KN
2

Asw = F (1)
s fsyd

Substituindo o valor temos:

10 * 1,5 * 104 = ( Asw ) ⇔ 0,034* 10 = Asw ⇔ 0,34 = ( Asw ) total


435 * 103 s s s

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 53/84


Estruturas Betão Armado

Esta armadura tem de ser adicionada à do esforço transverso.

Zona de apoios temos:

( Asw ) total = 2,4 + 0,34 = 2,74 cm2/m


s

( 7 varões φ 8 / m ) logo estribos de φ 8 af. 0,20 (armadura efectiva 3,02 cm2)

Zona central:
Sendo a armadura de suspensão inferior à mínima, adopta-se a mínima, logo
Est. φ 8 af. 0,25
Armadura de ligação do banzo à alma pelo art.º 97 fica dispensado o cálculo de
armadura, colocando armadura no banzo igual à da alma.

Cálculo da armadura de torsão

0,30

0,25
0,75 10 KN

0,25

0,55

Est. φ 8 af. 0,20

6 φ 16 (12,06 cm2)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 54/84


Estruturas Betão Armado

Atendendo aos diagramas calculados temos:

Cálculo dos esforços na secção de apoio

Msd = 0

Vsd = 180,4 KN

Tsd = 1,5 * 10 * (0,15 + 0,25). 6,5 ⇔ Tsd = 19,5 KNm


2

Cálculo dos paramentos def, hef, Aef e µef

O REBAP no seu art.º 55, refere que para secções em L, no caso do banzo ser muito
esbelto, relativo à alma, poderá esta não ser considerada para a determinação do momento
torsor resistente. No mesmo artigo refere que sendo a espessura de hef diferente de rectângulo
para rectângulo, deve considerar-se o menor valor hef para o cálculo de Tcd e para a definição
do limite superior Trd.

Analisando a secção temos:

def

1 0,75 2

def 0,25

0,55

Analisando a situação 1 e 2 depreende-se que:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 55/84


Estruturas Betão Armado

Trd (1) > Trd (2)

hef (1) > hef (2)


Aef (1) < Aef (2)

Como se sabe Trd = 2 δ2 hef Aef.

Se calcularmos Trd com hef(2) e Aef(2) e se obtiver um valor inferior ao obtido considerando
hef(1) e Aef(1), deve desprezar-se a contribuição do banzo.

Cálculos para a secção 1

def = 0,3 – 2 * (0,025 + 0,008 + 0,016)


2
def = 0,228 m

hef = 2 * 0,228 (artº 55.2)


12

hef = 0,038 m

Aef = 0,228 * (0,75 – 2*(0,025 + 0,008 + 0,016)) ⇔

Aef = 0,228 * 0,714 ⇔ Aef = 0,163 m2

µef = 2 * 0,228 + 2 * 0,714 ⇔ µef = 1,884 m

Cálculo de Trd na secção 1

Trd = 2 t 2 hef Aef

Trd = 2 * 4 * 103 * 0,163 * 0,038

Trd = 49,6 KNm

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 56/84


Estruturas Betão Armado

Cálculo para a secção 2

def = 0,25 –2* (0,025 + 0,008 + 0,016) ⇔ def = 0,178 m


2

hef = 2 * 0,178 ⇔ hef = 0,0297 m


12

Aef = (0,30 – 2 * (0,025 + 0,008 + 0,016)) * (0,5 – 2 . (0,025 + 0,008 + 0,016))


2 2

+ (0,25 – 2 * (0,025 + 0,008 + 0,016)) * (0,55 –2 . (0,025 + 0,008 + 0,016))


2 2

Aef = 0,22* 0,428 + 0,178 * 0,478 ⇔

Aef = 0,183 m2

Trd = 2 * 4 * 103 * 0,183 * 0,0297 ⇔

Trd = 43,4 KN/m

Como Trd para a secção 1 é maior que Trd 2, deve desprezar-se a contribuição do banzo
Assim temos:

hef = 0,038 m

Aef = 0,163 m²

µef = 1,884 m

Verificação do betão comprimido

Pelo art.º 56 (esforço de torsão associado ao esforço transverso)

Vsd = 180,4 KN

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 57/84


Estruturas Betão Armado

Tsd = 19,5 KNm

Cálculo

τv = Vsd (1)
bwd

τt = Tsd (2)
2 hef Aef

Substituindo em (1)

τv = 180,4 ⇔
0,3 * 0,7

τv = 859,04 KN/m2

Substituindo em (2)

τt = 19,5 ⇔
2 * 0,038 * 0,163

τt = 1574,1 KN/m2

Cálculo de τv + τt = 2433,14 KN/m2

Consulta da tabela REBAP, pág. 69, art.º 53

τ1 = 0,65 MPa ⇔ δ1 = 650 KN/m2

τv + τt > τ1 (3)
Verificação da segurança

Vrdmax = τ2 bd ( τv )

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 58/84


Estruturas Betão Armado

τv + τt

Vrdmax = 4 *103 * 0,30 * 0,70 * ( 859,04 ) ⇔


2433,14

Vrdmax = 353, 06 KN
Trdmax = 2τ2 ( τt ) . hef . Aef
τv + τt

Trdmax = 2 * 4 * 103 ( 1574,1 ) * 0,038 * 0,163


2433,14

Trdmax = 32,06 KNm


Poder-se-á verificar então que:

Vrdmax > Vsd

Trdmax > Trd

Logo fica garantida a segurança das escoras da treliça, logo é possível atendendo à expressão
(3) e ao art.º 56 a)

Como τv + τt > τ1 temos então que:

Vcd = τ1 bwd e Tcd = 0

Logo

Vcd = 136,5 KN (este valor tinha já sido calculada anteriormente)

Armadura de esforços transverso

Vsd = Vcd + Vwd (art.º 53)

Logo:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 59/84


Estruturas Betão Armado

Vwd = 43,9 KN (calculado anteriormente)

Considerando os valores já calculados na alínea anterior temos que:

(Asw) = 2,4 cm2/m (estribos verticais de 2 ramos)


s /ramo

donde (Asw)/ramo = 1,2 cm2/m


s
Armadura de torção

Ttd = Tsd

(Ast ) = Tsd ⇔
s 2.Aef. fsyd

( Ast ) = 19,5_____
s 2*0,163*435*103

(Ast) = 1,38 cm2/m


s
Toma-se então a armadura mínima (Ast) = 2,4 cm2/m
s
que considerando por ramos será 1,2 cm2/m

Assim a armadura final necessária será:

(Asw)v → devida ao esforço transverso


s
que é,

(Asw)v = 1,2 cm2/m


s /ramo

(Asw) → devido à torção que é

(Asw)T = 1,2 cm2/m


s /ramo

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 60/84


Estruturas Betão Armado

(Asw) → devido à suspensão que será:


s

(Asw)s = 2,74 = 1,37 cm2/m


s /ramo 2

Somando as três armaduras temos:

1,2 + 1,2 + 1,37 = 3,77 cm2/m < 4,15 cm2/m

logo estribos φ 8 af. 0,125 m.

Não se tendo considerado o banzo para a resistência ao momento torsor, as armaduras


transversais no banzo não são alteradas pelo que as existentes são suficientes.

- Dimensionamento da armadura longitudinal devida à torção (art.º 55.2)

Tld = Tsd = 19,5 KN/m

Tl = 2 Aef . Asl . fsyd


µef
donde

Asl = 19,5 * 1,884


2* 0,163 * 435 * 103

Asl = 2,59 cm2

Armadura longitudinal no apoio

As apoio = Max Asmin; As ; Vsd al 


4 fsyd d
Asmin = 2,4 cm2

As = 3,02 cm2 valores calculados em b)


4

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 61/84


Estruturas Betão Armado

Vsd al = 4,15
fsyd d

Logo:

As = As + Asl = 4,15 + 2,59 = 6,74 cm2

Como já se admitiu levar as armaduras longitudinais até ao apoio é suficiente.

Pormenor da Armadura

0,30 2 Ø 12 + 1 Ø 8

2 est. Ø 8 // 0,25

3 Ø 12
0,75

0,20

0,55 6 Ø 16

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 62/84


Estruturas Betão Armado

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 63/84


Estruturas Betão Armado

ANEXO VIII
PROBLEMA 6

Considere a viga indicada na figura, constituída por B25 e A500 em ambiente


pouco agressivo e de dimensões 0,35 * 0,65

Sc

Cp

0,65
6,50

0,35

SECÇÃO A - A'

Dados:

Cp = 15 KN/m
Sc = 25 KN/m
Ψc= 0,6
Ambiente pouco agressivo

1) Calcule o Momento de fissuração

2) Calcule a distribuição de tensões para Mcr no Estado I e no Estado II

3) Calcule a distribuição de tensões para Mfr

4) Verifique o estado limite para a abertura de fendas

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 64/84


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Resolução:

1) Ambiente pouco agressivo (art.º 67 REBAP)

Acções permanentes – 15 KN/m

Sobrecarga – 25 KN/m

Recobrimento – 5 cm

Sd = 1,5 * 15 + 1,5 * 25 ⇔ Sd = 60 KN/m

Calculo do Momento flector

Msd = Pl2 ⇔ Msd = 316,88 KNm


8
Verificar o estado limite último de flexão

µ sd = Msd ⇔ µsd = 316,88 ⇔ µsd = 0,188


bd2fcd 0,35 * 0,602 *13,3 *103

Pelas formulas simplificadas como µ ≤ 0,31 então temos:

W’ = 0

W = µ . (1 + µ ) ⇔ W = 0,223

Calculo da armadura

As = 0,223 * 0,35 * 0,60 * 13,3 * 103


435 * 103
As = 14,32 cm2 ( 3 varões de φ 25)

Armadura efectiva será (14,73 cm2)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 65/84


Estruturas Betão Armado

Verificação da armadura máxima e mínima art.º 91 do REBAP

Asmin = ρ bt d ⇔ Asmin = 2,52 cm2


100
Asmax = 0,04 bd ⇔ Asmax = 85,4 cm2

A escolha dos varões é portanto 3 φ 25 o que dá uma área de aço (14,73cm2)

Quantificação do estado limite para combinações frequentes

Sd = Gm + ΨQk + Σ Ψ2 Qjk

Acções:

Gm = 15 KN/m

Qk = 25 KN/m

Ψ = 0,6

Sd = 15 + 0,6 . 25 ⇔ Sd = 30 KN/m

Calculo do Momento:

Msd = 30 * 6,52 ⇔ Msd = 158,44 KNm


8

Como o Momento de fissuração é o Momento para o qual se considera a máxima tensão de


tracção admissível para as peças de betão, vamos considerar então a secção cheia,
desprezando a contribuição da armadura.
Assim e no contexto do que foi dito iremos determinar o momento crítico para a secção em
estudo.

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 66/84


Estruturas Betão Armado

Determinação do Momento Crítico

σ fctm

σ = M com w = I vem então que


w v

σ = M.v
I

Considerando agora que σ = fctm vamos calcular o Momento critico

Mcr = fctm I ⇔ Mcr = 2fctm I (1)


h h
2

Calculo do momento de inércia da secção rectangular

I = 0,35 * 0,653 ⇔ I = 0,00801 cm4


12

Pelo art.º 16 do REBAP temos que o valor médio da tensão de rotura do betão à tracção
simples (fctm) para um B25 é 2,2 MPa (Quadro II)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 67/84


Estruturas Betão Armado

Pode-se no entanto estimar o valor de fctm (Flexão) atendendo ao mesmo Art.º que nos diz
que:

fctm (flexão) = 0,6 + 0,4 . fctm (tracção)


4
√h

Substituído então na expressão:

fctm (flexão) = 0,6 + 0,4 x 2,2 ⇔


4
√0,65
fctm (flexão) = 2,3 MPa

como se vê é ligeiramente superior a fctm de tracção. Daí que se despreze e se tome o de


tracção.

Substituindo em (1)

Mcr = 2 x 2,2 x 0,00801 x 103 ⇔


0,65
Mcr = 54,22 KN/m

Calculo do Momento critico não desprezando a contribuição da armadura

εs σs

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 68/84


Estruturas Betão Armado

Atendendo á figura temos então:

- Fs = As . σs
- σs = Es . εs

donde substituindo na primeira equação obtemos:

Fs = As . Es . εs

Substituindo a área de armadura por uma equivalente de betão (que absorva a mesma força
calculada em 1)

Fc’ = As’ . Ec . εs

Como Fc’ = Fs tem-se:

As’* Ec * εs = As * Es * εs logo temos:

As’ = Es As ⇔ As’ = 200 As ⇔ As’ = 6,9 As


Ec 29

Calculando agora a nova posição do centro de gravidade temos:

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 69/84


Estruturas Betão Armado

xG

0,35

Calculo de X G

0,65 * 0,35 * 0,65 + 14,73 * 10-4 * 0,60 x 0,35


xG = 2 .
-4
0,35 * 0,65 + 14,73 * 10 * 0,35

xG = 0,326 m

Calculo do momento de inércia

I = 0,35 * 0,653 + 0,35 * 0,65 * (0,326 – 0,65)2 + 14,73 * 10-4 * (0,60 – 0,326)2 * 0,35
12 2
I = 8,01 * 10-3 + 2 * 10-7 + 2,92 * 10-5

I = 8,1 *10-3m4

I x G = 0,0081 m4

Calculo Mcr = 2,2 * 0,0081 * 103 ⇔ Mcr = 55 KN/m


(0,65 – 0,326)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 70/84


Estruturas Betão Armado

Pode-se notar então que houve uma ligeira subida em relação ao Mcr sem a contabilização de
armadura e com a contabilização da mesma, o que era de esperar já que o centro de gravidade
(xG; desceu 0,026m)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 71/84


Estruturas Betão Armado

Calculo da distribuição das tensões para M = Mcr

Estado I secção não fendilhada:

εc σc2 = fctm

εs σs

σc1 = fctm

α . 2,2 . ( d – h )
σs = 2 .
h
2

σs = 6,9 * 2,2 * (0,60 – 0,325) * 103


0,325
σs = 12,8 MPa

Estado II secção fendilhada:

b
εc2

Fc

εs σs As
Ft
εc1

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 72/84


Estruturas Betão Armado

Fc = b * x * εc2 * Ec,

como Fc = Fs temos:
Fs = Es * εs * As

bx εc2 . Ec = Es εs As (1)
2

εc2 = εs ⇔ εc2 = εsx (2)


x d-x d–x

- Substituindo em (1) temos:

bx * εs * x * Ec = Es * εs * As
2 d–x

bx2 = Es (d – x ) * As, como α = Es


2 Ec Ec

bx2 = α As (d – x ), igualdade de Momentos estáticos.


2

Resolvendo em ordem a x temos:

0,35x2 = 6,9 *14,73 * 10-4 * (0,60 – x)


2
donde x = 0,160m

- Momento de Inércia no Estado II

I = bx3 + α As (d – x)2
3

I = 0,35 * 0,1603 + 6,9 * 14,73 * 10-4 x * (0,60 – 0,160)2


3

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 73/84


Estruturas Betão Armado

I = 0,0024m4

- Relacionando xII com xI e III com II temos:

xII < xI ∧ III < II

- Cálculo das tensões:

σc2 = -Mcr x
III

σc2 = - 54,22 * 10-3 * 0,160 = - 3,61 MPa


0,0024

σc1 = α Mcr (d – x)
III

σc1 = 6,9 * 54,22 * (0,60 – 0,16 ) * 10-3 = 68,59 MPa


0,0024

Cálculo das tenções e extensões para o momento Mfr, da combinação frequente de


acções

Em 1) Calculamos o Respectivo Momento Msd = 158,44KNm

- A posição da L.N. é invariável em (I ou II) enquanto os materiais apresentam um


comportamento linear. Então temos

s c = - Cc Mfr (3) bd2

s s = a Cs Mfr (4) bd2

Cálculo dos Cc e Cs

- Através das tabelas

β=0

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 74/84


Estruturas Betão Armado

εs = M
N
Como a peça não está sujeita a esforço axial temos N = 0, se N = 0 então εs = ∞

ρ = As1 <=> ρ = 14,73 * 10-4 <=> ρ = 0,0082


bd 0,30 * 0,60

ρ = 0,0082 logo αρ = 0,0564


α = 6,9

Recorrendo então às tabelas:

αρ Cc Cs
0,05 8.14 21.98
0,0564
0,06 7.60 18.46

Para o valor 0,0564 temos então iterando:

Cc = 7,79

Cs = 19,76

Substituindo em (4):

s c = - 7,79 * 158,44 *10-3 <=> s c = - 9,8 MPa


0,35 * 0,602

Substituindo em (3):

s s = 6,9 * 19,76 * 158,44 * 10-3 <=> s s = 171,4 MPa


0,35 * 0,602

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 75/84


Estruturas Betão Armado

εc 9,8

εs
171,4

X = Cc d <=> x = 7,79 * 0,60 <=> x = 0,169


Cc + Cs 7,79 + 19,76

ec = s c = 9,8 <=> ec = - 3,4 x 10-4


Ec 29 *103

es = s s = 171,4 <=> es = 8,6 x 10-4


Es 200* 103

Cálculo de Tensões para o Momento de combinações raras:

- Pelo art.º 66.2 REBAP e atendendo ao RSA γf = γm = 1

- M raro = Mcp +Msc (não é necessário majorar as cargas RSA)

- M raro = 15 * 6,52 + 25 * 6,5 <=> M raro = 211,25 KNm


8 8
s c = - Cc M raro <=> s c = 16,92 MPa
bd2
s s = a Cc M raro <=> s s = 228,59 MPa
bd2

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 76/84


Estruturas Betão Armado

M
(KNm)

211,25

158,44

54,22

15 30 45 60 75 90 105 120 135 σs (MPa)


12,8 171,4 171,4
228,59

Verificação do estado limite para a abertura de fendas

Os estados limites de fendilhação a considerar são definidas no art.º 68 do REBAP e devem


ser escolhidos em relação a cada tipo de combinações de acções. Atendendo aos pressupostos
do problema (ambiente pouco agressivo) e consultando o art.º 68.2 REBAP temos que, o
estado limite a considerar é o da largura de fendas w = 0,3mm para combinações de acções
frequentes.
A segurança considera-se satisfeita se o valor característico de largura de fendas ao nível das
armaduras mais traccionadas não exceder o valor w.
Assim, através do art.º 70.1

Wk = 1,7 Wm

Wm = Srm . esm

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 77/84


Estruturas Betão Armado

Distância média entre fendas

Srm = 2 ( c + s ) + ? 1 . ? 2 Ø ( art.º 70.1 a) do REBAP)


10 ρr

Considerando a secção em estudo temos

0,35

Ø 8 estribo

3 Ø 25

C = rec + Ø est

S = Min { b – 2 * c – Øv ; 15Ø}
2
C = 3 + 0,8 = 3,8 cm

S min = { 0,35 – 2 * 0,038 – 0,025 ; 15 * 0,025}


2
S= Min {0,125; 0,375}

Considerando S= 0,125

De acordo com o art.º 91 o espaçamento máximo das armaduras longitudinais será para o aço
A500 10cm, o que não despensa a verificação do limite de abertura de fendas.

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 78/84


Estruturas Betão Armado

- Assim, fazendo a respectiva verificação temos:

A500 logo ? 1 = 0,4 (Art.º 70.2 a))

Calculo de ? 2 = 0,25 e1 + e2 (Art.º 70.2 a))


2 e1

ε2
Ø7,5

ε1

em que e1 e e2 são respectivamente as extensões ao nível inferior e superior da área de betão


envolvente da armadura. Esta área é definida como o somatório das áreas de influencia do
varão de armadura, cada uma das quais deveria estar contida num rectângulo centrado no
varão e com lado no máximo igual a 15φ (art.º 70.2 REBAP) e deve ser limitada pelo
contorno da secção, não devendo sobrepor as ares de influencia de varões contíguos. Estas
áreas de influencia devem situar-se na zona traccionada da secção, conforme indica a figura

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 79/84


Estruturas Betão Armado

16 cm

0,65

d1

0,35

Calculo de d1

d1 = 3,8 + Ø + 7,5 Ø

d1 = 23,8 cm

- Recorrendo à alínea anterior e ao diagrama de extensões já calculadas, para o


momento de combinações frequentes temos:

-4
3,4 x 10

0,60

ε2

-4 d1
8,6 x 10

ε1

d1 = 0,24 m (23,8 arredondado a duas casas decimais)

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 80/84


Estruturas Betão Armado

Calculo de e1 :

e1 = ( 8,6 * 10-4 + 3,4 * 10-4 ) * 0,65 – 3,4 *10-4


0,60
e1 = 9,38 * 10-4

Calculo de e2:

e2 = ( 8,6 * 10-4 + 3,4 * 10-4 ) * 0,65 – 0,24 - 3,4 * 10-4


0,60

e1 = 4,66 x 10-4

Calculo de ? 2 (art.º 70.2 a) do REBAP)

? 2 = 0,25 e1 + e2
2 e1
? 2 = 0,25 (9,38 * 10-4 + 4,66 * 10-4)
2 * 9,38 * 10-4
? 2 = 0,187

No caso de flexão simples para secções baixas poder-se-á considerar e2 = 0, pelo que:

? 2 = 0,25 * e1 <=> ? 2 = 0,125


2 e1

Tracção simples e1 = e2 logo ? 2 = 0,25

Calculo ρr (art.º 70.2)

ρr = As
Acr

As – área de secção de armadura (14,73 cm2)

Acr – área de betão da secção traccionada envolvendo as armaduras.

Acr = 0,35 x 0,24 <=> Acr = 0,084 cm2 <=> Acr = 840 cm2
Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 81/84
Estruturas Betão Armado

Substituindo os valores na expressão

ρr = 14,73 <=> ρr = 0,0175


840

Vamos então calcular a distância média entre fendas (art.º 70.2 do REBAP)

Srm = 2 ( c + s ) + ? 1 . ? 2 Ø
10 ρr
c – recobrimento (3,8 cm)

s – toma-se 10 cm já que para ambientes pouco agressivos e com A500 temos espaçamento
máximo dos varões 10 cm.

? 1 = 0,4 (art.º 70.2 a) como o aço é A500 é considerado de alta aderência)

Calculo de Srm:

Srm = 2 ( 3,8 + 10 ) + 0,4 * 0,187 * 2,5


10 0,0175
Srm = 20,29 cm

Calculo da extensão media das armaduras traccionadas (art.º 70.2 b) do REBAP)

es2 = s s [ 1 – ß1 ß2 ( s sr )2 ] (1)
Es ss

s s – tensão de tracção na armadura

Es – módulo de elasticidade do aço

s sr – tensão de tracção em secção fendilhada

ß1 – para o aço A500 é igual a 1

ß2 – para combinações frequentes é 0,5

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 82/84


Estruturas Betão Armado

É necessário verificar se a extensão média é ou não inferior a (2) 0,4 s s/Es, pois em caso
algum isto poderá acontecer. Feita a analise da formula anterior teremos que verificar se c
comparando (1) com (2)

1 - ß1 ß2 (s sr)2 = 0,4 (3)


ss

s sr = 68,59 MPa (tensão de tracção no estado II secção fendilhada)

s s = 171,4 MPa

Calculo do valor da expressão (3) e respectiva verificação

1 – 1 . 0.5 ( 68,59 )2 = 0,919 ˜ 0,92


171,4
0,92 = 0,4 (o que verifica)

Substituindo na expressão (1) temos

esm = 171,4 * 0,92 = 8,57 x 10-4


200 * 103

Assim pelo art.º 70.1 REBAP vamos calcular o valor médio da largura de fendas

Wm = Srm . esm
Wm = 202,9 * 8,57 * 10-4 <=> Wm = 0,174 mm

Determinação do valor característico

Wc = 1,7 Wm <=> Wk = 1,7 * 0,174 <=> Wk = 0,29

Do art.º 68.2 do REBAP Quadro VIII em ambiente pouco agressivo para combinações de
acções frequentes temos w = 0,3 mm como 0,29 < 0,3 está verificado e estado limite de
abertura de fendas.

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 83/84


Estruturas Betão Armado

Anexo

FORMULAS SIMPLIFICADAS PARA A DETERMINAÇÃO DE ARMADURAS DE


PEÇAS SUJEITAS Á FLEXÃO SIMPLES EM VIGAS RECTÂGULARES

• Calculo do valor de µ :
µ = Mrd
b d2 f cd
sendo:
Mrd o momento actuante na secção
b a largura da secção
d a altura útil da viga
fcd é a tensão de rotura do betão à compressão dado do Artº 19 quadro IV do REBAP e
que depende do tipo de betão.

Ø Se µ ≤ 0.31 ( vigas rectangulares simplesmente armadas )


ω’ = 0
ω = µ ( 1+ µ )
Ø Se µ > 0.31( vigas rectangulares duplamente armadas )
ω’ = µ−0.31
1-(a/d)
sendo:
ω’ a percentagem de armadura de compressão
a a distância da armadura de compressão á face
d a altura útil da viga

ω = ω’+0.41

• Calculo da armadura necessária:

As = ω b d f cd ( sendo fsyd tirado do Artº 25 do REBAP)


f syd

Vigas / Aplicações Numéricas Capítulo VII – 84/84


Estruturas Betão Armado

BIBLIOGRAFIA

Appleton, Júlio A. S., Almeida, João C. F. e Câmara, José M. N. (1984). Dimensionamento e


Pormenorização de estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado. Lisboa, Instituto Superior
Técnico.

Figueiras, Joaquim A. (1989). Estruturas de Betão II. Porto, Faculdade de Engenharia da


Universidade do Porto.

Lima, J. d’Arga e, Coelho, A. Teixeira, Monteiro, Victor (1977). Manual de Betão Armado.
Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Lima, J. d’Arga e, Monteiro, Vitor e Pipa, Manuel (1989). Esforços Transversos, de Torção e
de Punçoamento. Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Lima, J. d’Arga e, Monteiro, Vitor e Nun, Mary (1985). Esforços Normais e de Flexão.
Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado (Decreto-Lei N.º 349/C83, de


30 de Julho de 1983). Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

Índices e Bibliografia XI

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