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Betão Armado

PILARES

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I II III
N M M M

série ESTRUTURAS

joão guerra martins 1.ª edição / 2003


Estruturas Betão Armado

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

CAPITULO I

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

1.1. Introdução...................................................................................................................... 1

1.2. Caracterização das diferentes soluções estruturais para edifícios ...............................


4
1.2.1. Introdução.............................................................................................................. 4

1.2.2. Resistência a acções verticais................................................................................. 4

1.2.2.1. Lajes apoiadas em vigas................................................................................ 5

1.2.2.2. Lajes fungiformes.......................................................................................... 5

1.2.2.3. Sistemas túnel. ............................................................................................ 5

1.2.2.4. Lajes apoiadas em vigas-parede alternadas................................................... 6

1.2.3. Resistência a acções horizontais ....................................................................... 6

1.2.3.1. Introdução...................................................................................................... 6

1.2.3.2. Alvenarias estruturais.................................................................................... 6

1.2.3.3. Estrutura reticulada....................................................................................... 7

1.2.3.4. Estrutura parede ........................................................................................... 7

1.2.3.5. Estrutura mista reticulada-parede ................................................................ 8

1.2.3.6. Estrutura em tubo ....................................................................................... 9

1.2.3.7. Estrutura reticulada contraventada................................................................ 10

1.2.3.8. Estruturas híbridas......................................................................................... 10

1.3. Pré-dimensionamento.................................................................................................... 11

Índices e Bibliografia I
Estruturas Betão Armado

1.3.1. Introdução............................................................................................................... 11

1.3.2. Pilares..................................................................................................................... 11

CAPITULO II

VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AO LIMITE ÚLTIMO DE


ENCURVADURA

2.1. Introdução..................................................................................................................... 1

2.2. Encurvadura plana de um pilar elástico de secção constante em compressão simples. 1

2.3. Encurvadura de um pilar em flexão composta ............................................................. 6

2.4. Método geral de verificação da segurança em relação à encurvadura ....................... 8

2.5. Método da coluna padrão (Model-Column) ................................................................ 9

2.5.1. Comprimento efectivo de encurvadura e secção crítica ........................................ 9

2.5.2. Estruturas de nós fixos ou de nós móveis ............................................................. 14

2.5.3 Direcção de encurvadura ....................................................................................... 19

2.5.4. Momentos actuantes nas secções críticas ............................................................. 21

2.6. Excentricidades............................................................................................................. 23

2.6.1. Introdução ........................................................................................................... 23

2.6.2. Excentricidades de 2.ª ordem................................................................................. 23

2.6.3. Excentricidade acidental ....................................................................................... 27

2.6.4. Excentricidade de fluência ................................................................................... 27

2.7. Verificação da segurança de pilares em relação ao estado limite último de


encurvadura ........................................................................................................................ 30

2.7.1. Introdução............................................................................................................... 30

2.7.2. Momentos actuantes na secção critica ................................................................... 30

Índices e Bibliografia II
Estruturas Betão Armado

2.7.3. Dispensa de verificação à encurvadura..................................................................... 35

2.8. Recomendações............................................................................................................ 36

CAPITULO III

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

1º Exemplo ..................................................................................................................... 1

2º Exemplo .................................................................................................................. 7

CAPITULO IV

DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS

4.1. Disposições gerais relativas a armaduras..................................................................... 1

4.1.1. Introdução ............................................................................................................ 1

4.1.2. Agrupamento de armaduras ordinárias ................................................................ 2

4.1.3. Condicionantes geométricos.................................................................................. 3

4.1.4. Recobrimento de armaduras.................................................................................. 5

4.1.5. Dobragem de armaduras (curvatura máxima) ................................................... 8

4.1.6. Amarração de armaduras .................................................................................. 10

4.1.6.1. Aderência aço betão...................................................................................... 10

4.1.6.2. Comprimento de amarração........................................................................... 11

4.1.6.3. Cintagem das zonas de amarração................................................................. 14

4.1.7. Emendas de armaduras ordinárias.......................................................................... 15

Índices e Bibliografia III


Estruturas Betão Armado

4.2. Disposições específicas relativamente a pilares e nós de pórticos................................ 17

4.2.1. Introdução................................................................................................................ 17

4.2.2. Condicionantes geométricos.................................................................................... 18

4.2.3. Armadura longitudinal............................................................................................. 19

4.2.4. Armadura transversal .......................................................................................... 23

4.3. Disposições construtivas em nós de pórticos .............................................................. 25

4.3.1. Introdução ............................................................................................................. 25

4.3.2. Nós de pórticos sujeitos a momentos negativos .................................................. 26

4.3.3. Nós de pórticos sujeitos a momentos positivos...................................................... 29

4.3.4. Ligação viga - pilar extremo contínuo................................................................... 33

4.4. Disposições especiais para estruturas de ductibilidade melhorada ............................. 34

4.4.1. Introdução ............................................................................................................ 34

4.4.2. Condicionantes geométricos.................................................................................. 36

4.4.3. Distribuição de armaduras longitudinais .............................................................. 37

4.4.4. Dimensionamento e pormenorização das armaduras transversais ........................ 39

Índices e Bibliografia IV
Estruturas Betão Armado

ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS

CAPITULO I

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

Fig. 1.1 - Classificação das soluções estruturais para edifícios.......................................... 3


Fig. 1.2 - Deformação predominantemente por.................................................................. 7
Fig. 1.3 - Deformada essencialmente de flexão de estrutura parede................................... 8
Fig. 1.4 - Transferência de forças horizontais entre estruturas reticuladas e parede.......... 9
Fig. 1.5 - Plantas de estruturas em tubo.............................................................................. 10

Quadro 1.1 - Classificação das soluções estruturais quanto ao grau de industrialização..... 2

Quadro 1.2 - Tensão a usar no pré-dimensionamento dos pilares........................................ 13

CAPITULO II

VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AO LIMITE ÚLTIMO DE


ENCURVADURA

Fig. 2.1 – Encurvadura de um pilar de secção constante, encastrado na base e livre no


topo...................................................................................................................................... 1
Fig. 2.2 – Diagrama de momentos provocado pelo desvio da extremidade livre............... 2
Fig. 2.3 – Comprimento efectivo de encurvadura ............................................................... 4
Fig. 2.4 – Diagrama de momentos ....................................................................................... 6
Fig. 2.5 – Diagrama de momentos........................................................................................ 7
Fig. 2.6 – Comprimento efectivo de encurvadura ............................................................... 10
Fig. 2.7 – Comprimento efectivo de encurvadura de uma estrutura ................................... 11
Fig. 2.8 – Valores de α de uma estrutura reticulada........................................................... .13
Fig. 2.9 – Regidez de uma peça, derivada às suas condições de ligação ............................ 14
Fig. 2.10 – Estruturas de nós fixos e de nós móveis ............................................................ 15
Fig. 2.11 – Estrutura reticulada ............................................................................................ 16
Fig. 2.12 – Pórtico de uma estrutura .................................................................................... 17
Fig. 2.13 – Planta estrutural ................................................................................................. 18

Índices e Bibliografia V
Estruturas Betão Armado

Fig. 2.14 – Direcção de encurvadura .................................................................................. 20


Fig. 2.15 – Secção crítica de um pilar ................................................................................. 21
Fig. 2.16 – Momentos actuantes nas secções críticas .......................................................... 22
Fig. 2.17 – Deformação na base do pilar ............................................................................. 24
Fig. 2.18 – Deformação de um pilar devido à fluência do betão ......................................... 28
Fig. 2.19 – Efeitos de fluência do betão .............................................................................. 29
Fig. 2.20 – Influência de esbelteza ...................................................................................... 33
Fig. 2.21 – Influência do nível do esforço axial no comportamento de pilares................... 34
Fig. 2.22 – Resumo das disposições da segurança com as de dispensa .............................. 36

CAPITULO III

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Fig. 3.1 – Parte de uma estrutura classificada de nós fixos ................................................. 2


Fig. 3.2 – Momentos actuantes no pilar .............................................................................. 5
Fig. 3.3 – Pormenorização da armadura .............................................................................. 7
Fig. 3.4 – Pórtico de uma estrutura ...................................................................................... 8
Fig. 3.5 – Calculo dos esforços ............................................................................................ 8
Fig. 3.6 – Calculo dos esforços ............................................................................................ 9
Fig. 3.7 – Excentricidade do pilar ........................................................................................ 9
Fig. 3.8 – Excentricidade do pilar ........................................................................................ 14
Fig. 3.9 – Calculo de esforços ............................................................................................. 16
Fig. 3.10 – Calculo de esforços ........................................................................................... 17
Fig. 3.11 – Pormenorização da armadura ............................................................................ 18

Quadro. 3.1 – Dimensionamento da armadura recorrendo a tabelas ................................... 6


Quadro. 3.2 – Dimensionamento da armadura recorrendo a tabelas ................................... 15

CAPITULO IV

DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS

Fig. 4.1 – Agrupamento de armaduras ordinárias ................................................................ 2

Índices e Bibliografia VI
Estruturas Betão Armado

Fig. 4.2 – Perímetro de aderência de agrupamento de armaduras ordinárias ...................... 3


Fig. 4.3 – Tipos de espaçadores e espaçamento recomendável para a sua colocação ......... 4
Fig. 4.4 – Espaçamento de armaduras longitudinais ........................................................... 4
Fig. 4.5 – Armadura de pele ................................................................................................ 8
Fig. 4.6.a. – Curvatura permissível em face da capacidade de deformação do aço ............ 9
Fig. 4.6.b. – A curvatura máxima deve atender às pressões localizadas sobre o betão ....... 9
Fig. 4.7 – Dobragem em laço de armaduras ordinárias ....................................................... 9
Fig. 4.8 – Diâmetros interiores mínimos de dobragem de varões de armaduras ordinárias
(A400)................................................................................................................................... 10
Fig. 4.9 – Desenvolvimento de tensões de aderência, na extremidade dum varão
rectilíneo .............................................................................................................................. 11
Fig. 4.10 – Tipos de emendas por sobreposição .................................................................. 15
Fig. 4.11 – Identificação de elemento como pilar para efeito de aplicação das disposições
construtivas .......................................................................................................................... 17
Fig. 4.12 – Rotura de um pilar de betão armado ................................................................. 18
Fig. 4.13 – Condicionantes geométricas de secções transversais de pilares ....................... 19
Fig. 4.14 – Pilar com secção em excesso ............................................................................. 21
Fig. 4.15 – Disposição de armadura em secções transversais de pilares ............................. 22
Fig. 4.16 – Espaçamentos e diâmetros mínimos de cintas de pilares .................................. 23
Fig. 4.17 – Zonas de ligação de pilares com vigas e lajes onde a cintagem deve ser
aumentada; zona de emenda de varões longitudinais .......................................................... 24
Fig. 4.18 – Comportamento elástico de um nó sujeito a momentos positivos .................... 25
Fig. 4.19 – Momentos em nós de pórticos ........................................................................... 26
Fig. 4.20 – Forças que solicitam um nó sob momento negativo ......................................... 26
Fig. 4.21 – Diâmetro de curvatura em função do braço do momento resistente ................. 27
Fig. 4.22 – Detalhe de armadura na vizinhança de um nó sujeito a momento negativo ..... 28
Fig. 4.23 – Exemplos de sobreposição da armadura de um nó ........................................... 28
Fig. 4.24 – Pilar intermédio de pórtico com pequeno momento ......................................... 29
Fig. 4.25 – Pilar intermédio com momento elevado............................................................. 29
Fig. 4.26 – Fendilhação e impulso em vazio gerado num nó sujeito a momento positivo .. 30
Fig. 4.27 – Detalhes para condução das forças em nós ....................................................... 30
M 
Fig. 4.28 – Relação entre o momento resistente e o momento de rotura teórico  RU 
 MU 
para diversas disposições de armadura e diversas percentagens de armadura .................. 31

Índices e Bibliografia VII


Estruturas Betão Armado

Fig. 4.29 – Aspecto da fendilhação em nós de pórticos sujeitos a momentos positivos


para diversos tipos de armadura .......................................................................................... 31
Fig. 4.30 – Indicação para dimensionamento de nós de pórticos sob momentos positivos 32
Fig. 4.31 – Armaduras de nós de pórticos de dimensões médias e elevada ........................ 32
Fig. 4.32 – Esforços e forças na ligação viga/pilar lateral.................................................... 33
Fig. 4.33 – Pormenorização do nó com a armadura diagonal necessária para controlo de
fissuração serviço ................................................................................................................ 34
Fig. 4.34 – Diagramas momento-curvatura para situações de boa e má ductibilidade ....... 35
Fig. 4.35 – Distribuição de capacidades resistentes junto ao nó ......................................... 38

Quadro. 4.1 – Distância mínima entre armaduras .............................................................. 5


Quadro. 4.2 – Recobrimento mínimo da armadura, em cm, limitado ainda pelo diâmetro
dos varões ou agrupamento ................................................................................................. 6
Quadro. 4.3 – Recobrimento mínimo da armadura (cm) .................................................... 7
Quadro. 4.4 – Recobrimento mínimo (cm) para armaduras de pré-esforço ........................ 7
Quadro. 4.5 – Valores do comprimento de amarração, lb ,net . ................................................ 13

Quadro. 4.6 – Relação entre a secção máxima dos varões emendados e a secção total dos
varões numa dada zona em tracção...................................................................................... 16
Quadro. 4.7 – Condicionantes de percentagens e diâmetros da armadura longitudinal ...... 20

Índices e Bibliografia VIII


Prefácio

Este texto resulta do trabalho de aplicação realizado pelos alunos de sucessivos cursos de
Engenharia Civil da Universidade Fernando Pessoa, vindo a ser gradualmente melhorado e
actualizado.

A sua fonte assenta em sebentas das cadeiras congéneres de diversas Escolas e Faculdade de
Engenharia (Universidade do Porto, Instituto Superior Técnico de Lisboa, Universidade de Coimbra
e outras), bem como outros documentos de entidades de reconhecida idoneidade (caso do
L.N.E.C.), além dos tratados clássicos desta área e outra bibliografia mais recente, cuja referência se
encontra no final deste trabalho.

Contributo decisivo teve, igualmente, o Eng.º António Ribeiro de Barros, sendo parte importante do
texto apresentado conteúdo revisto da monografia de licenciatura por si elaborada.

Apresenta-se, deste modo, aquilo que se poderá designar de um texto bastante compacto, completo
e claro, entendido não só como suficiente para a aprendizagem elementar do aluno de engenharia
civil, quer para a prática do projecto de estruturas correntes.

Certo é ainda que pretende o seu teor evoluir permanentemente, no sentido de responder quer à
especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ao que se julga pertinente e alargar-se ao que se
pensa omitido.

Para tanto conta-se não só com uma crítica atenta, como com todos os contributos técnicos que
possam ser endereçados. Ambos se aceitam e agradecem.

João Guerra Martins


Série Estruturas Betão Armado

CAPITULO I

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

1.1. Introdução

No inicio do século a grande generalidade dos edifícios, nomeadamente os não industriais,


não diferia muito da reconstrução Pombalina no final do século XVIII .

O século XIX traria como elemento inovador a estrutura metálica aparecendo, em regra, em
edifícios industriais, pavilhões de grande vãos e pontes, embora a sua generalização se
verificasse mais para a execução de coberturas.

Seria por volta dos anos 30, e do rescaldo da 2ª guerra mundial, onde a carência de recursos e
a correspondente necessidade de se construir a um ritmo até então desconhecido deu início a
novas tecnologias da construção que traria até nós, embora com certo atraso, uma
diversificação das soluções estruturais utilizadas em edifícios.

Assim, na primeira metade do século XX, verificou-se uma substituição progressiva das
estruturas resistentes de alvenaria pelas estruturas reticuladas de betão armado.

Na década de 60 apareciam as primeiras construções pré-fabricadas em “sistema fechado” de


paredes resistentes a que se seguiriam anos mais tarde já nos meados de 70 as paredes de
betão moldadas em obra e os sistemas de estruturas reticuladas pré-fabricadas solidarizada em
obra.

Pontualmente, iam-se realizando outros tipos de construções, por exemplo estruturas de


pilares de betão armado com lajes nervuradas vazadas nas duas direcções, estruturas metálicas
com pavimentos de betão armando ou ainda sistemas de construção leve. Para uma descrição
mais detalhada das soluções estruturais existentes seria então interessante dispor de uma
classificação adequada. Tal classificação dependerá, obviamente, dos critérios a adoptar e
que, por exemplo, podem ser tão distintos como o grau de industrialização ou o peso.

O primeiro destes critérios corresponde ao adoptado por Lewicki (1965) e referido por
Trigo(1978) dando lugar à classificação representada no Quando 1.1.

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 1


Série Estruturas Betão Armado

Quadro 1.1 – Classificação das soluções estruturais quanto ao grau de industrialização.

I – Construção primitiva

II – Construção tradicional artesanal


GRAU DE
INDUSTRIALIZAÇÃO
III – Construção tradicional racionalizada

V – Construção com grandes painéis pré-


fabricados

Num critério quanto ao peso poderiam classificar-se soluções como de estruturas leves, semi-
leves e pesadas. Crê-se todavia que o critério mais interessante será o de basear a classificação
na tipologia de estrutura resistente dos edifícios, (Canha da Piedade, 1995) dando assim lugar
à ordenação que apresenta na Fig. 1.1.

O ideal no dimensionamento de projectos de estruturas de edifícios é o processo de


optimização que conduz a um projecto estrutural que dá a máxima resistência com o mínimo
de custo de material.
Normalmente somos conduzidos a concepções estruturais muito dependentes da solução
arquitectónica que se pretende contudo que à medida que o edifício cresce em altura deverá
ser solução estrutural que condiciona a solução arquitectónica.

Deve-se seleccionar, em função da altura do edifício, a solução estrutural que deverá ser
adoptada. Esta escolha deve basear-se na experiência e conhecimento do projecto, tendo por
base o critério de economia definido anteriormente e como resultado um bom comportamento
estrutural do edifício.

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 2


Série Estruturas Betão Armado

Estrutura Reticulada Moldada em obra


Pré-fabricada pesada com elementos maciços de betão
com elementos ocos de betão
Leve com elementos metálicos
com elementos de madeira

Estrutura Parede Moldada alvenaria de pedra


Em obra resistente de blocos cerâmicos
de betão denso
leve
de betão denso
leve de inertes leves
“aerizado”
sem finos
de betão denso
de betão leve
de blocos cerâmicos
Pré-fabricada painéis pesados

painéis leves

Estrutura reticulada metálica com pavimentos de betão


Pilares de betão e lajes nervuradas nas duas direcções (lajes fungiformes
Sistema Híbrido aligeiradas) sem vigas
Estruturas reticuladas com associação de elementos de estrutura-parede
e/ou painéis pré-fabricados, etc.

Fig.1.1. Classificação das soluções estruturais para edifícios

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 3


Série Estruturas Betão Armado

1.2. Caracterização das diferentes soluções estruturais para edifícios

1.2.1. Introdução

A primeira preocupação da engenharia que vai projectar um edifício é a escolha de uma


solução estrutural adequada que consiga conciliar a resolução dos problemas arquitectónicos e
funcionais com a necessidade de garantir resistência à estrutura actuada pelas acções a que irá
estar sujeita .

Existe um conjunto de sistemas estruturais básicos que, quer isolados quer combinados,
proporcionam variadas possibilidades para a escolha da solução estrutural a adoptar em cada
caso.

A estrutura de um edifício é um sistema tridimensional complexo formado pela associação de


elementos estruturais lineares e laminares dispostos em geral em planos horizontais e em
planos verticais e da resistência.

1.2.2. Resistência a acções verticais

A primeira finalidade dos edifícios é a sua resistência ás acções verticais, sendo este o factor
que condiciona a escolha inicial de um sistema estrutural. A localização e distribuição em
planta dos pilares e paredes corresponde ao início da organização estrutural e
consequentemente à escolha de um outro sistema.

Os sistemas estruturais resistentes às acções verticais podem-se subdividir em sistemas


horizontais, correspondentes aos pisos, e sistemas verticais, correspondentes aos pilares e
paredes, que fazem a transmissão de cargas entre pisos ou para o solo.

1.2.2.1. Lajes apoiadas em vigas

Estes sistemas tem larga aplicação. Tem as vantagens de poder vencer grandes vãos, ser
facilmente adaptável quando da existência de grandes aberturas (escadas, elevadores,

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 4


Série Estruturas Betão Armado

equipamento mecânico, etc.), ser adaptável a qualquer tamanho e forma do edifico e tem
ainda a vantagem estrutural de conferir resistência às acções verticais e às acções horizontais.

1.2.2.2. Lajes fungiformes

É um sistemas formados por lajes contínuas armadas em duas direcções e apoiadas


directamente em pilares, podendo ser aligeiradas nas zonas centrais dos vãos. Englobam-se
neste grupo as lajes nervuradas, com a forma corrente de caixotões. A resistência destes
sistemas estruturais é frequentemente limitada pelo punçoamento nas secções á volta dos
pilares, pelo que se costuma tornar maciça esta zona. Trata-se por outro lado de sistemas
estruturais que não estão vocacionados para resistirem ás acções horizontais. Têm o
inconveniente de serem sistemas sensíveis à dimensão e localização de aberturas e podem
estar sujeitos a deformações relativamente grandes.

1.2.2.3. Sistemas túnel

Neste sistema utilizam-se lajes maciças, armadas numa só direcção, apoiadas em paredes.
Esta é a solução adoptada para o emprego da chamada cofragem túnica, havendo no entanto o
problema da resolução da resistência e estabilidade da estrutura na direcção perpendicular às
paredes do túnel. Este sistema que utiliza, em geral, vãos pequenos é pouco flexível em
relação às exigências arquitectónicas.

1.2.2.4. Lajes apoiadas em vigas-parede alternadas

Este sistema, conhecido na literatura como “staggered wall beams”, é formado por lajes
maciças armadas numa só direcção, que apoiam em vigas-parede alternadas, permitindo assim
obter com um vão estrutural de lajes l um espaço de vão livre de 2 l .

1.2.3. Resistência a acções horizontais

1.2.3.1. Introdução

O crescimento em altura dos edifícios, a utilização de paredes divisórias ou de enchimentos


em materiais leves e não estruturais, o emprego de materiais de construção com elevadas

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 5


Série Estruturas Betão Armado

características de resistências conduzindo a estruturas mais esbeltas, são alguns dos factores
que conduziram à necessidade de desenvolver sistemas estruturais adequados para resistirem a
acções horizontais, como a acção do vento e dos sismos.

1.2.3.2. Alvenarias estruturais

Sendo a solução mais comuns na generalidade dos edifícios até o início do século, ainda hoje
continuam a ser utilizados um pouco por todo o país, nas construções de pequeno porte.

É um tipo de solução com capacidade para edifícios com pequenos vãos e de um a três pisos,
desde que se disponha de materiais com características mecânicas adequadas para alvenarias
resistentes. Ora é aqui precisamente que reside o principal problema, porquanto a alvenaria de
granito ou calcário implica custos elevados nomeadamente de mão de obra.

Historicamente este foi o primeiro sistema utilizado para resistir ás acções horizontais,
sobretudo em zonas de baixo risco sísmico.
As lajes dos pisos que se apoiam nas paredes, e conferem rigidez ao conjunto do edifício,
poderão ser betonadas em obra ou serem realizadas a partir de elementos pré-fabricados
complementados em obra, com vigotas e blocos cerâmicos de cofragem, pranchas vazadas,
pré-lajes, etc.

1.2.3.3. Estrutura reticulada

Neste tipo de estrutura, muito comum entre nós, a sua resistência às acções horizontais
provêm das características de rigidez dos seus elementos estruturais, vigas e pilares, e da
rigidez das suas ligações. As reticuladas sob a acção de forças horizontais têm uma
deformação predominantemente por corte Fig. 1.2.

1.2.3.4. Estrutura parede

Constituem normalmente estas soluções as estruturas de betão armado com paredes e


pavimentos moldados em obra, em regra, com o recurso a cofragens industrializadas.

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 6


Série Estruturas Betão Armado

Dentre as tecnologias mais utilizadas contam-se as das cofragens-túnel, as que usam


cofragens independentes para paredes e pavimentos e ainda, embora menos correntes, as de
cofragens deslizantes.

a) Estrutura reticulada

Fig. 1.2. Deformação predominantemente por corte duma estrutura reticulada

Sendo o processo que permite uma melhor industrialização, é também o que mais limitações
fixa para a geometria da construção.
Sob a acção de forças horizontais as estruturas parede têm uma deformação
predominantemente por flexão Fig.1.3. Comportam-se como consolas verticais com um grau
de encastramento na base variável, sendo a sua deformação a soma das parcelas de
deformação por momento flector, por esforço transverso e por rotação da base.

A relativa falta de ductilidade das estruturas parede em betão armado tem limitado a sua
utilização em edifícios altos situados em zonas sísmicas. Esta limitação tem sido reduzida ou
através da adopção de técnicas e pormenores construtivos ou através da utilização do sistema
estrutural misto reticulado-parede.

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 7


Série Estruturas Betão Armado

b) Estrutura parede

Fig.1.3. Deformada essencialmente de flexão de estruturas parede

1.2.3.5. Estrutura mista reticulada-parede

Este sistema é o resultado da associação dos dois sistemas descritos anteriormente. Sob a
acção de forças horizontais esta estrutura assume um tipo de deformação intermédia entre a
deformação da estrutura reticulada e a estrutura parede, havendo uma transferência de forças
horizontais entre os dois sistemas estruturais, como se vê na Fig.1.4

1.2.3.6. Estrutura em tubo

Este sistema estrutural é constituído por um conjunto de pilares muito próximos ligados por
vigas muito rígidas. Em geral, estas estruturas têm planta rectangular com dois planos
verticais de simetria. Sob a acção de forças horizontais as estruturas em tubo, quando não são
perfuradas, tem um comportamento semelhante ao das estruturas parede. Contudo, a
ocorrência de aberturas nestes sistemas conduz a um comportamento intermédio entre as
estruturas reticuladas e as estruturas paredes.

À medida que a estrutura cresce em altura torna-se necessário dispor de elementos estruturais
adicionais resistentes ao corte. Uma solução é a utilização do sistema tubo em que consiste
em dispor de um tubo interior formado por paredes resistentes e um tubo exterior formado

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 8


Série Estruturas Betão Armado

pelo conjunto dos pilares periféricos Fig. 1.5. Este sistema combina as vantagens da estrutura
reticulada em tubo com as da estrutura paredes. O tubo interior em paredes resistentes
aumenta significativamente as características de resistência da estrutura reticulada do tubo
exterior reduzindo a deformação por esforço transversal dos pilares. Outro sistema utilizado
por vezes para edifícios mais altos é chamado tubo modular Fig. 1.5, que permite atingir
maiores alturas para o edifício, devido à maior resistência conferida para as acções
horizontais.
Forças de interacção

c) Estrutura mista

Fig.1.4. Transferência de forças horizontais entre a estrutura reticulada e a parede

Estruturas reticuladas
Tubo em tubo Tubo modular
em tubo

Fig. 1.5. Plantas de estruturas em tubo

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 9


Série Estruturas Betão Armado

1.2.3.7. Estrutura reticulada contraventada

Este sistema estrutural é constituído por uma estrutura formada por pilares e vigas
contraventados com uma ou duas diagonais ou com um contraventamento em forma de X ou
K. É um sistema composto inteiramente de elementos estruturais lineares característicos pela
deformação axial dos elementos horizontais dos pisos e das diagonais. A dificuldade de fazer
as ligações em betão armado, aliada às vantagens dos sistemas em estrutura parede, tem
reduzido o uso desta solução em edifícios de betão armado. O contraventamento pode ser
feito interiormente ou nas paredes exteriores.

1.2.3.8. Estruturas híbridas

Incluem-se dentro deste tipo de estruturas todas as que associam as soluções atrás referidas e
dentro as diversas combinações possíveis sobressaem:

1. As estruturas reticuladas metálicas com pavimentos de betão armado;

2. As constituídas por pilares e lajes fungiformes, maciças ou vazadas, e que podem


associar ainda elementos verticais de grande rigidez ;

3. As estruturas reticuladas correntes associadas a elementos verticais de grande rigidez,


caixas de escadas ou paredes de contraventamento.

Das soluções atrás descritas a segunda apresentada apresenta uma solução que começa a ser
frequente, particularmente em edifícios do sector terciário, por permitir vencer vãos
apreciáveis sob elementos e com a vantagem de garantir pé-direito livre constante a toda a
superfície do pavimento.

1.3. Pré-dimensionamento

1.3.1. Introdução

O dimensionamento da estrutura é feito recorrendo a programas de cálculo estrutural, que se


baseia, a grande maioria, no comportamento elástico dos materiais. Para proceder a essa

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 10


Série Estruturas Betão Armado

análise é necessário conhecer antecipadamente as acções transversais dos diversos elementos


estruturais, nomeadamente dos pilares e das vigas.

Assim, antes de se proceder ao cálculo que servirão de base ao dimensionamento das


armaduras é necessário efectuar um pré-dimensionamento dos elementos estruturais.

Atendendo à hiperestaticidade da estrutura do edifício, os esforços finais nos diversos


elementos são dependentes das dimensões atribuídas a esses elementos.

Por isso se o pré-dimensionamento não tiver sido convenientemente realizado, as secções


terão de ser alteradas e a análise terá de ser repetida. Um projectista experiente consegue
estimar as dimensões das vigas e dos pilares com relativa facilidade. É essa experiência e um
conjunto de regras e processos simplificados que se pretende transmitir de forma a que um
principiante possa estimar de forma conveniente as secções dos elementos estruturais.

1.3.2. Pilares

As dimensões dos pilares são estimadas a partir do valor da carga axial, a qual pode ser
rapidamente estimada, embora a presença de momentos nos pilares causa um aumento da área
determinada com base na carga axial.

O pré-dimensionamento dos pilares é, efectuado a partir da verificação de segurança de peças


sujeitas à compressão simples, comparando os esforços actuantes Nsd, com os esforços
resistentes, Nrd.

N sd ≤ N rd (1.1)

Os esforços resistentes são calculados a partir da soma dos esforços resistentes de cada um
dos materiais, aço e betão.

N rd = N rdb + N rda (1.2)

Onde:

N rdb = 0.85 f cd Ac (1.3)

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 11


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N rda = f syd As
(1.4)

Considerando ρ = As / Ac = 1% ( esta percentagem deve variar entre 0.7 a 1.5%, para que a
tensão de compressão no betão não seja elevada e consequentemente a durabilidade da
estrutura seja a adequada), teremos:

N rd = 0.85 f cd Ac + 0.01 f syd Ac


(1.5)

Que por sua vez é igual a:

N rd = (0.85 Fcd + 0.01 f syd ) Ac


(1.6)

O valor (0.85 Fcd + 0.01 Fsyd) é uma tensão que depende das características dos materiais a
usar, betão e aço. No Quadro 1.2 apresenta-se o valor dessa tensão em função das várias
combinações possíveis de materiais, correntemente usados na construção de edifícios.

Quadro. 1.2 – Tensão a usar no pré-dimensionamento dos pilares

MATERIAL TENSÃO
Betão Aço σ = 0.85 fcd + 0.01 fsyd
B20 A235 11.135
B20 A400 12.575
B20 A500 13.445
B25 A235 13.345
B25 A400 14.785
B25 A500 15.655
B30 A235 16.235
B30 A400 17.675
B30 A500 18.545

O valor dos esforços actuantes Nsd, pode ser obtido através da seguinte expressão:

Nsd = 10. Ai . γs . n . fp (1.7)

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 12


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Em que:

10 – representa o valor médio das cargas permanentes e da sobrecarga a actuar por m2


de laje (tendo em conta o peso próprio das vigas e dos pilares);
Ai – área de influência de cada pilar i;
γ s – factor de majoração (1.5);
n – numero de andares acima do piso em que se está a pré-dimensionar o pilar;
f p – factor de posição.

A variação do espaço normal ao longo da altura do edifício é importante, dado que este cresce
de uma forma regular desde a parte superior do prédio até à parte inferior. A variação do
momento flector ao longo da altura do edifício é muito pequena. Por isso, a influência dos
momentos, comparada com a das cargas axiais, é maior nos andares superiores do que nos
inferiores. Como se referiu o pré-dimensionamento é feito só atendendo ao esforço normal,
desprezando-se a presença do momento flector. O valor de Fp, pretende ter em conta a
importância que o momento flector pode ter no pré-dimensionamento. É portanto, um factor
que deverá ser maior quando maior for a importância do momento flector em relação ao
esforço normal. Assim nos pisos superiores este valor deverá ser maior do que nos pisos
inferiores e nos pilares extremos também deverá ser maior do que nos pilares interiores.

É habitual considerar-se para Fp os valores de 1.5, 1.3 e 1.1, consoante a posição que os
pilares ocupam em planta e em altura. Assim, para pilares situados na parte de cima do
edifício, usa-se o valor de Fp = 1.5 para pilares extremos e Fp=1.3 para pilares interiores. Se o
pilar está situado na parte de baixo do edifício (normalmente considera-se a parte de baixo,
como a correspondente à parte abaixo da meia altura do edifício) o valor de Fp deve ser
tomado igual a 1.3 para os pilares extremos e 1.1 para os pilares interiores.

Genericamente, determinado o valor de Nsd, a secção do pilar obtêm-se a partir da expressão:

Nsd ≤ Nrd = σ .Ac (1.8)

Logo,

Ac = Nsd / σ (1.9)

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 13


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Contudo, por motivos de esta fórmula não contabilizar o efeito dos momentos, será de adoptar:

a) Acções verticais (ex: carga permanente, sobrecarga):

N rdb = η × f cd × Ac (1.10)
, com η entre 0,6 e 0,8

b) Acções horizotais (ex: sismo,vento):

N rdb = η × f cd × Ac (1.11)
, com η entre 0,4 e 0,6

De notar que o valor indicado para zonas de incidência sísmica, já está de acordo com as
regras mínimas para efeitos de estruturas de ductilidade melhorada (0,6).

Definida a área Ac do pilar, começa-se a definir as secções do pilar ao longo da altura do


edifício. É habitual começar-se a definir a secção do pilar ao nível do 1ºandar, já que é
normalmente neste piso que as dimensões são mais condicionantes, atendendo à presença das
divisórias.

Pilares / Concepção Estrutural Cap. I / 14


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CAPÍTULO II

VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AO LIMITE ÚLTIMO DE ENCURVADURA

2.1. Introdução

O estudo da encurvadura de peças comprimidas de betão armado de secção variável, não pode
ser entendida sem que antes seja feita uma analisa ao fenómeno da instabilidade elástica de
peças comprimidas de secção constante.

2.2. Encurvadura plana de um pilar elástico de secção constante em compressão simples

Consideremos o pilar da Fig. 2.1. encastrado na base e livre no topo, de altura l, secção
constante de área A, momento de inércia I e módulo de elasticidade E.

Fig. 2.1- Encurvadura de um pilar de secção constante, encastrado na base e livre no topo

No topo do pilar, solicitado axialmente pela força N, provoque-se um pequeno desvio e


originado pela acção de uma força horizontal que em seguida é retirada.

O desvio provocado determina o aparecimento de um momento flector ao longo do eixo da


peça, cujo valor é dado por : M(x) = N . y, originando as situações distintas que se ilustram na
Fig.2.2.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 1


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a)

b)

Fig. 2.2 - Diagrama de momentos provocado pelo desvio da extremidade livre.

a) O esforço axial N e os momentos são baixos, a deformada por eles originada é


menor do que aquela que inicialmente foi provocada, uma vez que a causa que
provocou o desvio desapareceu, o pilar virá a tomar uma deformada menor, mas ao
reduzir-se a deformação, reduz-se o momento, o qual corresponde uma menor
deformação, o fenómeno progride até se atingir uma posição de equilíbrio (uma
deformação nula). O pilar, após abandonada a força que originou o desvio, regressará
á sua posição inicial, indeformado.

b) O esforço axial N e os momentos são elevados, a deformada por eles originada é


maior do que aquela que foi provocada, aumentando a deformação e com ela os

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 2


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momentos, agravando de novo a deformação. Este processo evoluirá até que se


atingirá a rotura do pilar, na secção crítica, a da base.

No limite entre as duas situações existe um valor do esforço axial para a qual a deformação
correspondente aos momentos introduzidos, coincide com a deformação inicial, a chamada
carga crítica NE. Nesta situação é possível relacionar momentos e deformações.(*)

Em regime de pequenas deformações, pela segunda derivada da deformada, pode escrever-se:

1/r = -M/EI

1/r = y”
mas como,

M = NE . y
vem:

y” = - (NE / EI) . y (2.1)

A equação diferencial que rege o fenómeno no instante da encurvadura e cuja solução é:

π
y = sin( x) (2.2.)
l0
em que:

l = 2 l é o comprimento efectivo de encurvadura.


°

Derivando duas vezes (2.2.) e substituindo em (2.1.) obtém-se a identidade

π2 π NE π
− 2
sin( x) = − sin( x)
l 0 l0 EI l0

(*) – Extraído do livro de Costa, Amaro e, Azeredo, Manuel (1986), curso sobre Nova Regulamentação de Estruturas, Porto,
Faculdade de Engenharia.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 3


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ou seja

π 2 EI
NE = → ( carga crítica de Euler ).
l 20

A tensão média de compressão correspondente à encurvatura da peça é dada por:

N E π 2 EI i2 l
σ= = 2 = π 2E 2 = π 2E 2 (2-3)
A l0A l0 λ

onde,
l0
λ= (2-4)
i

λ - é a esbelteza da peça

i - é o raio de giração da secção i = I .


A

A esbelteza mede a maior ou menor incidência do fenómeno da encurvadura, sendo utilizada


pelo REBAP na definição dos casos em que é necessário proceder à verificação deste estado
limite último.

A Fig. 2.3, mostra a deformada correspondente à encurvadura de uma peça simplesmente


apoiada solicitada apenas axialmente que é sinusoidal.

Fig. 2.3 - Comprimento efectivo de encurvadura

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 4


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O ponto de máxima curvatura de deformada (ponto de momento máximo) define a “secção


crítica” da peça, aquela em que se dá a rotura, e situa-se a uma distância dos pontos de
momento nulo igual a um quarto do período, ou seja, l 0 /2.

A excentricidade e relativa aos pontos de momentos nulos, é a amplitude da sinusóide.


Relacionando a excentricidade com comprimento efectivo de encurvadura, nesta secção será:

M 1
= (2.5)
EI r

mas:

M = N E .e

π 2 EI
NE =
l 20

vem:
π 2 EI .e 1
2
=
EIl 0 r

ou

l 20 1 l 02 1
e= . → e≈ ⋅ (2.6)
π2 r 10 r

Da dedução feita interessa reter os seguintes aspectos:

a) O pilar em estudo rompe por encurvadura para um dado esforço axial NE.

Como Mr é o momento flector que combinado com NE provoca a rotura da secção da


base, podemos afirmar que ao dar-se a encurvadura do pilar se realizou esse momento

Mr, ou seja:

M r = N E .e

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 5


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Da expressão 2.6,
l 20  1 
Mr = NE ⋅ ⋅ 
10  r 

em que 1/r é a curvatura da secção da base correspondente a Mr.

b) O pilar submetido ao esforço axial N não sofre encurvadura. Considerando Mr o


momento de rotura na secção da base, a máxima excentricidade possível seria:

l 20 1
e= .
10 r

Se o momento flector N.e for inferior a Mr não haverá rotura. Não haverá encurvadura
se:

l 20 1
N. . < Mr
10 r

Esta fórmula é adaptada pelo REBAP no dimensionamento de pilares à rotura.

2.3. Encurvadura de um pilar em flexão composta

Consideremos o pilar idêntico ao anterior mas solicitado por um momento flector constante
Mo, como mostra a fig. 2.4

Fig. 2.4 – Diagrama de momentos


Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 6
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a) Existe esforço axial N e é pequeno, então o momento é constante.


b) Existe um esforço axial N e é significativo, então o momento é agravado, agravando-
se a deformação e de novo e assim sucessivamente.

A fig. 2.5 mostra-nos as seguintes situações:

a)

b)

Fig. 2.5 – Diagrama de momentos

a) O esforço axial N tem um valor reduzido, o agravamento do momento Mo não excede


a capacidade resistente do pilar, na secção mais esforçada, a da base.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 7


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b) O esforço axial N tem um valor elevado, o agravamento do momento Mo excede a


capacidade resistente da secção mais esforçada, a da base, dando-se a rotura nesse
ponto.

Entre as duas situações a) e b) existe um ponto em que o equilíbrio é atingido para o momento
correspondente à capacidade da secção da peça. O valor do esforço axial correspondente a
esta situação designa-se por carga critica desse pilar em flexão composta para um momento
inicial Mo.

O diagrama de momentos situa-se num diagrama intermédio entre o diagrama sinusoidal e um


diagrama constante, podendo afirmar-se que a flecha máxima do pilar em flexão composta
está compreendida entre:

esin < e < ecirc

ou seja:

l 20 1 l2 1
. <e< 0.
10 r 8 r

Ao transportar este resultado para os pilares de betão armado, pela segurança deveria tomar-se
o limite superior, mas toma-se o limite inferior, a deformada sinusoidal pelos motivos
expostos no ponto 2.6.2.

2.4. Método geral de verificação da segurança em relação à encurvadura

O método geral consiste em procurar a deformação de equilíbrio do pilar.


Começa-se por calcular a deformação provocada pela solicitação inicial e com ela o
agravamento dos momentos. Com os novos momentos totais é recalculada a deformação e
assim sucessivamente.

Trata-se de um processo iterativo que reproduz a esquematização feita na Fig. 2.5.


Em cada fase deste agravamento, o momento máximo é comparado com a capacidade
resistente da peça.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 8


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Devido á complexidade de cálculo deste método, o REBAP utiliza outros métodos mais
simplificados para a verificação da segurança de peças comprimidas em relação á
encurvadura.

2.5. Método da coluna padrão (Model-Column)

A coluna padrão é um pilar encastrado na base e livre no topo, solicitado axialmente e em


flexão plana por momentos flectores constantes ou variáveis ao longo do seu eixo. Admite-se
que a geometria da deformada sob aquelas acções é conhecida de um modo aproximado e não
necessita de ser calculada em cada caso, por exemplo pelo método geral.

O método consiste em comparar cada pilar da estrutura ao pilar padrão, quanto às solicitações
e condições de ligação. Cada pilar da estrutura será estudado através de um pilar padrão que
se encontre em situação idêntica relativamente à encurvadura.

Este método é proposto pelo Comité Euro-Internacional do Betão (CEB) no seu modelo 78 e
adoptado pelo REBAP.

Nos números seguintes apresentam-se os parâmetros fundamentais a ter em linha de conta na


aplicação deste método.

2.5.1. Comprimento efectivo de encurvadura e secção crítica

Como mostra a fig. 2.3, o comprimento efectivo de encurvadura é a distância entre dois
pontos de inflexão consecutivos da deformada sinusoidal que toma um pilar em situação de
encurvatura.

Na fig. 2.6 representa-se o comprimento efectivo da encurvadura para uma estrutura de nós
fixos e de nós móveis.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 9


Série Estruturas Betão Armado

NÓS FIXOS

Secção crítica

0 = 0.7
0 = 1/2 0 =

Secção crítica

a) b) c)

NÓS MÓVEIS

Secção crítica

Secção crítica

0 = 0 =2

d)
e)

Fig. 2.6 – Comprimento efectivo de encurvadura

Os casos a), b) e c) são pilares de nós fixos porque a sua excentricidade mantém-se na
vertical, sendo o comprimento efectivo de encurvadura no máximo igual ao comprimento do
pilar. Os casos d) e e) são pilares de nós móveis, porque existe um deslocamento das
extremidades do pilar, sendo o seu comprimento efectivo de encurvadura no mínimo igual ao
comprimento do pilar.
Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 10
Série Estruturas Betão Armado

A realidade de uma estrutura é diferente do exposto, porque as extremidades do pilar estão


quase sempre ligadas a lajes, vigas, pilares ou à fundação. Tendo em atenção na definição de

lo as situações de ligação desse pilar, são de nós móveis ou de nós fixos (existe ou não
translação significativa da extremidade do pilar), a questão é se as peças de ligação serão ou
não capazes de impedir essa translação.

Nós Móveis

Nós Fixos

Fig. 2.7 – Comprimento efectivo de encurvadura de uma estrutura

O Art.º. 59.2 do REBAP permite a determinação do comprimento efectivo de encurvadura


nos casos correntes.
Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 11
Série Estruturas Betão Armado

59.2 – O comprimento efectivo de encurvadura, l 0 , é

definido pela distância entre os pontos de momento nulo da


distribuição final de momentos ao longo do pilar.
A determinação de l 0 para os pilares de estruturas

reticuladas deve ser efectuado tendo em consideração as não


linearidades físicas e geométricas. Nos casos correntes, poder-
se-á, porém, por simplificação, definir l 0 do modo seguinte:

l0 =η ⋅l
em que l é o comprimento livre do elemento e η é um factor
que depende das condições de ligação das suas extremidades e
que pode considerar-se com os seguintes valores:
Pilares de estruturas de nós fixos: o menor dos valores
dados por:
η = 0.7 + 0.05(α 1 + α 2 ) ≤ 1
η = 0.85 + 0.05 α min ≤ 1
Pilares de estruturas de nós móveis: o menor dos
valores dados por:

η = 1 + 0.15(α 1 + α 2 )
η = 2.0 + 0.3 α min
em que:

α1 - parâmetro relativo a uma das extremidades do


pilar, dado pela relação entre a soma das rigidezes de
flexão dos pilares que concorrem no nó e a soma das
rigidezes de flexão das vigas que aí também
concorrem;

α2 - parâmetro idêntico a α1 , relativo à outra


extremidade do pilar;

α min - o menor dos valores de α.


Nas extremidades de pilares ligados a elementos de
fundação devem considerar-se os seguintes valores de
α:
No caso de sapatas que confiram ao pilar
encastramento parcial: α = 1;
No caso de sapatas que confiram ao pilar
encastramento perfeito (por exemplo, maciços de
grandes dimensões): α = 0;

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 12


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No caso de sapatas cuja ligação ao pilar não assegura


transmissão de momentos: α =10.

Os parâmetros α visam medir a maior ou menor liberdade de rotação de cada extremidade do


pilar.

V7 V8 V9

P3 P6 P9 P12 h1

V4 V5 V6

P2 P5 P8 P11 h2

V1 V2 V3

P1 P4 P7 P10 h3

1 2 3
P1 + P2
h3 h2
1= P7 + P8
V1
1 = h3 h2
V2 + V3
2 3

Fig. 2.8 – Valores de α de uma estrutura reticulada

α=
∑ rigidez.dos. pilares.que.concorrem.na.extremidade
∑ rigidez.das.vigas.que.concorrem.na.extremidade

 EI 
∑  
l  pilar
Ou seja: α =
 EI 
∑  l 
viga

Para rigidez das vigas e pilares em geral toma-se a respectiva relação I/ l , mas a rigidez de
uma peça depende das suas condições de ligação em ambas as extremidades, conforme mostra
a fig. 2.9.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 13


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Fig. 2.9 – Regidez de uma peça, derivado às suas condições de ligação

Refira-se que os valores encontrados para η são:

0.7 ≤ η ≤ 1.0 → estruturas de nós fixos

1.0 ≤ η → estruturas de nós móveis

Teoricamente o limite inferior para η seria 0.5 situação que na realidade é difícil de encontrar.
Por uma questão de segurança as expressões dão no mínimo η = 0.7.

Da análise das fig. 2.6 e 2.7 concluímos: nos pilares de nós móveis a sua secção crítica situa-
se nas extremidades do pilares e de nós móveis numa zona intermédia.

2.5.2. Estruturas de nós fixos ou de nós móveis

Para efeitos da verificação de segurança aos estados limites últimos de encurvadura, o Art.º
58.º classifica as estruturas reticuladas em estruturas de nós móveis e nós fixos, como se
disse.

Artigo 58.º - Estruturas de nós fixos e estruturas de nós móveis

Consideram-se como estruturas de nós fixos aquelas cujos nós,


sob efeito de cálculo das acções, sofrem deslocamentos
horizontais de valor desprezável; em caso contrário, as
estruturas são consideradas como estruturas de nós móveis.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 14


Série Estruturas Betão Armado

Entende-se que os deslocamentos dos nós são desprezáveis


quando o forem os efeitos secundários a eles devidos.
Do ponto de vista prático pode considerar-se que as
estruturas de nós fixos quando for satisfeita a condição:

htot
∑N ≤η
∑ EI
sendo η = 0.2 + 0.1 ⋅ n , para n (número de andares)

inferior a 4 e η = 0.6 , para n igual ou superior a 4. Nesta


expressão os símbolos significam:

htot - altura total da estrutura acima das

fundações

∑ EI - soma dos factores de rigidez de flexão,

em fase não fendilhada, de todos os elementos verticais de


contraventamento na direcção considerada; se estes
elementos não tiverem rigidez constante em altura, deve
considerar-se uma rigidez equivalente;

∑N - soma dos esforços normais ao nível da

fundação, não multiplicados pelos coeficientes

γ⋅f ,correspondentes à combinação de acções relativa ao

estado limite último em consideração.


É necessário ainda que os elementos de
contraventamento sejam dispostos de modo a garantir
suficiente rigidez de torção ao conjunto da estrutura.

A fig. 2.10 apresenta as deformações correspondente à estabilidade da estrutura para o caso de


ela ser de nós fixos a) e nós móveis b). Segundo o Art.º 58.º, as estruturas serão de nós móveis
ou de nós fixos conforme os deslocamentos horizontais são ou não desprezáveis.

a) b)

Fig. 2.10 – Estruturas de nós fixos e de nós móveis


Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 15
Série Estruturas Betão Armado

De acordo com o REBAP uma estrutura será classificada de nós fixos se:

htot
∑N <η (5.1)
∑ EI
em que:

htot – altura total da estrutura acima das fundações (ou acima do nível
que se considere muito rígido)

∑N – soma dos esforços axiais ao nível da fundação (não majorados por γF)

∑ EI – soma da rigidez de flexão de todos os elementos verticais na

direcção considerada.
η = 0.6, se o número de andares é superior a 4.
η = (0.2 + 0.1n), se o número de andares n, é inferior a 4.

Esta expressão baseia-se na seguinte hipótese:

Os efeitos geometricamente não lineares da estrutura (em especial o efeito do deslocamento


horizontal dos pisos) pode ser desprezado se os efeitos de 2ª. ordem das cargas de serviço
majorados por 1.75, não excederem 10% os valores obtidos pela teoria da 1ª. ordem, i.e.

Fig. 2.11 – Estrutura reticulada

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 16


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M.2ª ordem < 1.1 M.1ª ordem

Para o modelo da Fig. 2.11, tem-se:

2
htot
M.1ª ordem ≈ 1.75W .
2
1
M.2ª ordem = M.1ª Ordem .
1.75∑ Nhtot
2

1−
8∑ EI

E adoptando EI ≈ 0.7EI obtem-se:

htot
∑N < 0.54 ≈ 0.6 (5.2)
∑ EI

O valor desta expressão irá determinar a classificação da estrutura de nós fixos se for menor
que 0.6 e de nós móveis se for maior que 0.6.

Determinação dos esforços actuantes:

Fig. 2.12 – Pórtico de uma estrutura

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 17


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Como se mostra na fig.2.12, as cargas N serão calculadas ao nível da fundação não majoradas
pelo coeficiente de segurança γ.

Refira-se ainda que uma estrutura pode ser de nós móveis para uma combinação de acções e
de nós fixos para a outra, pelo lado da segurança a estrutura será de nós móveis, mas poderá
ser analisada de forma independente para cada acção.

Como a estrutura funciona num todo, os elementos estruturais de grande rigidez (vigas, lajes,
caixas de escada e paredes resistentes), que ligam a pórticos de menor rigidez, faz com que
seja o conjunto a sofrer ou não mobilidade apreciável. A posição correcta desses elementos de
grande rigidez, poderá impedir a mobilidade da estrutura.

x x

a) Mobilidade na direcção x b) Mobilidade na direcção x não


impedida totalmente impedida

Fig. 2.13 – Planta estrutural

a) A estrutura é de nós fixos, admitindo que as paredes são de grande rigidez.


b) A estrutura é de nós móveis, mesmo admitindo que a parede é de grande rigidez,
existe um efeito de torção na estrutura.

No caso de estruturas de nós fixos a verificação da segurança estado limite último de


encurvadura pode, em geral, reduzir-se à verificação da segurança de cada um dos pilares.
Saliente-se que nesta formulação do REBAP a rigidez dos elementos horizontais é
desprezada, o que sendo do lado de segurança é excessivamente conservativo, dado que estes

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 18


Série Estruturas Betão Armado

elementos horizontais (lajes e vigas) podem contribuir decisivamente para o travamento das
estruturas.
Segundo o REBAP. Na realidade

Vigas e lajes sem regidez Vigas e lajes com regidez


de flecção de flecção

2.5.3. Direcções de encurvadura

As peças comprimidas terão de ser estudadas nas duas direcções principais de flexão, porque
podem ter:
- diferentes momentos de inércia nessas direcções;
- diferentes ligações ao resto da estrutura nas suas extremidades;
- a estrutura pode ter diferente mobilidade nessas direcções.

Como sabemos, de acordo com as disposições do Art.º 59.º as estruturas serão classificadas de
nós fixos ou de nós móveis.

Assim temos:

1 - Estruturas com a mesma mobilidade nas duas direcções.

1.1 – É de nós fixos em ambas as direcções, as secções críticas de encurvadura


segundo as direcções x, y situam-se ambas numa zona intermédia do pilar.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 19


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1.2 – É de nós móveis em ambas as direcções, as secções críticas de


encurvadura x, y situam-se ambas num ou ambas as extremidades do pilar.

2 – Estruturas de nós fixos numa direcção e de nós móveis na outra direcção.

Para uma direcção a secção crítica encontra-se numa zona intermédia do pilar e
para a outra direcção a secção crítica situa-se num ou ambas as extremidades
do pilar, sendo necessário o estudo separado em cada direcção.

Se a estrutura tiver igual mobilidade nas duas direcções, a encurvadura será estudada
simultâneamente em ambas as direcções.

Se a estrutura for de nós fixos numa direcção e nós móveis na outra direcção, mesmo que haja
encurvadura simultânea, o agravamento dos momentos resultantes da deformação surgem em
secções diferentes, o pilar será estudado separadamente em ambas as direcções. Para a
direcção em que a estrutura é de nós fixos, a verificação de segurança será feita na sua secção
crítica, posição intermédia, agravando-se apenas os momentos flectores correspondentes à
direcção em causa. Na direcção em que há mobilidade, serão estudadas as secções críticas
das extremidades do pilar, agravando-se apenas o momento flector correspondente a essa
direcção.
a1 a2 b
N N N

My Mx My Mx My Mx

nós fixos e2x e2y e2y


nós fixos nós fixos nós móveis
nós móveis nós móveis

x y x y
x y

e2x e2y e2x

N
sec. interm. M y + N e 2x
N N Mx
Esforços na Esforços na
secção crítica M y + N.e2x M y + N.e2x N
secção crítica
sec. do topo My
M x + N e 2y M x + N e 2y M x + N e 2y

Fig. 2.14 – Direcções de encurvadura


Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 20
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2.5.4. - Momentos actuantes nas secções críticas

Para assegurar a estabilidade do pilar deverá verificar-se na sua secção crítica a desigualdade:

Msd + Nsd . e ≤ Mrd

em que:

Msd – momento inicial ou momento de 1.ªordem


Nsd . e – agravamento do momento

Como foi exposto, numa estrutura de nós móveis a localização de secção crítica está
perfeitamente definida (um, ou ambos, dos extremos do pilar), no caso da estrutura ser de nós
fixos essa secção crítica situa-se numa zona intermédia dos topos do pilar, porém se as
condições de ligação das extremidades do pilar forem idênticas, essa secção situar-se-á a meia
altura do pilar. Se uma das ligações for mais rígida, a secção crítica aproximar-se-á daquela
que tiver menor rigidez.

secção
crítica

secção
crítica

= igual rigidez
m aior rigidez

Fig. 2.15 – Secção crítica de um pilar

O Art.º. 62 do REBAP fixa os momentos a considerar:

Artigo 62.º - Momentos actuantes nas secções críticas

62.1 – Nos pilares pertencentes a estruturas de nós móveis,


pode considerar-se que as secções críticas se localizam
junto das extremidades dos pilares, sendo, portanto, em
relação aos valores de cálculo dos momentos flectores
M sd , aí actuantes, que deve proceder-se à verificação da
Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 21
Série Estruturas Betão Armado

segurança de acordo com os critérios estabelecidos no


artigo 61.º

62.2 – Nos pilares pertencentes a estruturas de nós fixos, a


secção crítica não se localiza em geral junto das
extremidades do pilar (mas antes numa zona intermédia), e
o valor de cálculo do momento M sd a considerar deve ser

o maior dos valores obtido pelas seguintes expressões:


M sd = 0.6 M Sd ,a + 0.4M Sd ,b

M sd = 0.4M Sd ,a

em que M Sd , a e M Sd ,b são os valores de cálculo dos


momentos actuantes nas extremidades do pilar, supondo-se

M Sd ,a ≥ M Sd ,b e atribuindo-lhes o mesmo sinal ou

sinais contrários consoante determinam uma deformação do


pilar com simples ou com dupla curvatura, respectivamente.

Nas estruturas de nós móveis a verificação é feita em relação aos valores de calculo dos
momentos flectores Msd aí existentes de acordo com os critérios estabelecidos no artigo 61.

Nas estruturas de nós fixos a verificação é feita em relação aos momentos Msd, o maior dos
dois valores (Art.º. 62.2):

N ós fixos N ós m óveis N ós fixos

M sd,a M sd,a M sd,b M sd,b


2 2
0.4

1 1
1 1
0.4
2 2

M sd,a M sd,a

Fig. 2.16 – Momentos actuantes nas secções críticas

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 22


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2.6 - Excentricidades

2.6.1 - Introdução

O REBAP define três tipos de excentricidades com que o esforço axial actua na secção crítica
do pilar.

e2 – excentricidade de 2.ª ordem, aquela que resulta da própria deformação do pilar na


eminência de encurvadura.

ea – excentricidade acidental, aquele que resulta de eventuais defeitos de construção,


aliado à incerteza do posicionamento do esforço axial relativamente ao eixo do pilar.

ec – excentricidade de fluência, aquele que resulta da fluência do betão com o tempo.

2.6.2 – Excentricidade de 2.ª ordem

Ao analisar nos números 2.2 e 2.3 concluímos ser possível exprimir a encurvadura elástica de
pilares pelas relações:

l 20 1
e2 = . em compressão simples (6.1)
10 r

l 20 1 l2 1
. < e2 < 0 . em flexão composta (6.2)
10 r 8 r

em que: l ° é o comprimento efectivo de encurvadura e 1/r a curvatura da secção crítica no

instante da rotura, ou seja quando está submetida ao esforço axial N e ao momento flector que
em conjunto com ele provoca a rotura.

Ao transpor este resultado para o betão armado adopta-se sempre a relação

l 20 1
e2 = . (6.3)
10 r

Interessa apresentar as seguintes justificações:

- a curvatura 1/r é calculada na secção crítica, a de menor rigidez;


Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 23
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- as restantes secções fendilhadas estão submetidas a menores momentos,


apresentando rigidez superior à da secção crítica;

- as secções entre fendas têm maior rigidez em virtude do betão traccionado colaborar
na absorção de tensões;

- quanto maior for o valor do esforço axial, mais o diagrama de momentos instalados
se aproxima do diagrama sinusoidal.

Do exposto podemos concluir que a expressão 6.3 conduz a uma excentricidade de 2.ª ordem
superior à real para as peças de betão armado, portanto do lado da segurança.

A Fig. 2.17 apresenta o diagrama de extensões na secção crítica, quando esta está submetida
ao esforço axial do cálculo e ao momento de rotura.

εs εc

Fig. 2.17 – Deformação na base do pilar

Da deformação da base do pilar pode obter-se:

1 ∈c + ∈s ∈c
= = (6.4)
r d x

em que:

εc - extensão da fibra mais comprida

εs - extensão de tracção na armadura

x - profundidade do eixo neutro

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 24


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d - altura útil.

Sabendo que α = x/d e considerando εc o valor máximo εc = 3,5 . 10-3

vem:

1 3.5 × 10 −3
= (6.5)
r α .d

expressão que permite o cálculo da curvatura, desde que se conheça previamente a armadura
já que α é dado em tabelas de capacidade resistente.

Na dificuldade de definir a armadura para a determinação da curvatura, o REBAP apresenta


uma expressão aproximada considerando as extensões 3,5%0, para o betão e 1.5%0, para o aço
traccionado.

1 5 × 10 −3
= ×η (6.6)
r h

onde η é um parâmetro que visa corrigir essas extensões nos casos em que o esforço axial é
mais importante.

O REBAP no ARTº 63.3 fixa para η os valores.

η = 0.4 . (fcd Ac / NSd)

com:
η≤ 1

l 20 1
A expressão: e2 = . adoptada para a excentricidade de 2ª. ordem tem a seguinte
10 r
justificação:

Considere-se a coluna biarticulada “perfeita”

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 25


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Para

N = NE

tem-se:
π .x
ν = A sin
l
d 2v π2 π .x 1
e: 2
= A 2 sin . ≈ .−
dx l l r
1 l2 1 l2
i.e : ν= . 2 .≈. .
R π r 10

A flecha na secção crítica é então dada por:

1 l2
νs.c. = ⋅
rs.c 10

Para esforços de pré-dimensionamento das armaduras, de forma simplificada pode adoptar-se


para 1/r o valor:

1 5
= × 10 −3 n
r h

Este valor foi obtido com base no seguinte modelo.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 26


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Msd

syd
0.0045 A 235
d

1 0.0035+ syd
0.0035 0.0052
r d A 400
d

0.0057 A 500
d

2.6.3. Excentricidade acidental

Os eventuais defeitos de construção, tais como a não verticalidade dos pilares, aliada á
incerteza do posicionamento do esforço axial relativamente ao eixo do pilar, a deficiente
quantificação do momento flector, leva a que no sentido da segurança se considere que o
esforço axial actua com excentricidade acrescida, a excentricidade acidental ea.

Esta excentricidade que se estende a toda as secção do pilar, sempre no sentido desfavorável,
será na secção crítica, aquela onde se vai proceder à verificação de segurança em relação à
encurvadura.

O REBAP no ARTº 63.2, fixa para ea o valor da excentricidade acidental em:

ea = l 0 / 300 → l 0 > 6m

ea = 2cm → l 0 ≤ 6m

2.6.4. Excentricidade de fluência

O aumento de encurvadura de pilares de betão armado com o tempo, devido à fluência do


betão, pode vir a provocar a rotura por encurvadura de um pilar inicialmente estável.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 27


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N N

e2 e0 ec e2 e0

Deformação Instantânea Deformação ao fim de certo tempo

Fig. 2.18 – Deformação de um pilar devido à fluência do betão

A secção da base inicialmente solicitada pelo momento N(eo+e2) vê este momento agravado
por aumento da excentricidade, de modo que ao fim de certo tempo o momento é
N(eo+e2+ec), em que ec é o excesso de deformação devido à fluência, podendo ao fim de um
certo tempo o momento flector na base vir a ultrapassar a capacidade resistente da secção,
dando-se o colapso.

A excentricidade de fluência ec é calculada em face dos esforços actuantes com carácter de


permanência e das propriedades reológicas do betão (ART.º 63.4).

Como o efeito de fluência tem características semelhantes ao efeito de 2ª ordem, o seu calculo
poderá ser conduzido de forma semelhante. A curvatura da secção crítica para os esforços
actuantes NSg e MSg para (t = 0) e (t = ∞).

l 02
ec =
 l   l 
10 − 
 rg∞  r
  g0



A curvatura pode ser deduzida da posição do eixo neutro e da extensão da fibra mais
comprimida do betão (expressão 6.4), grandeza que resulta do equilíbrio da secção crítica para
os esforços actuantes.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 28


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Diagrama a considerar
para o betão

=0 =

2% 3.5 % (1+ ) 3.5 %

Equilibrio da secção
para Msg, Nsg

co c

x x

1 co 1 c
rgo x rg x

Fig. 2.19 – Efeitos de fluência do betão

Recorrendo à expressão regulamentar que dá valores aproximados para ec.

 M Sg    ϕ c (t ∞ , t 0 ).N Sg  
ec =  + ea  ⋅  exp  − 1
N    N −N  
 Sg    E Sg  

em que:

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 29


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M Sg ; N Sg - esforços devido às acções com carácter de permanência, não afectadas do

coeficiente γ ;

ea - excentricidade acidental, definida no ARTº 63.2;

ϕ c ⋅ (t ∞ ,t 0 ) - coeficiente de fluência que em geral toma o valor de 2,5;

10 E c , 28. I c
NE = – carga crítica de Euler, em que E c , 28 é o módulo de elasticidade do
l 20

betão cujos valores são indicados no ARTº 17 , I c é o momento de inércia da secção

transversal do pilar na direcção e referido à área do betão e l 0 é o comprimento


efectivo de encurvadura.

Refira-se finalmente que, de acordo com o REBAP, a consideração do efeito de fluência só


terá de ser feito quando a esbelteza do pilar em questão for superior a 70.

2.7. Verificação da segurança de pilares em relação ao estado limite último de


encurvadura

2.7.1 Introdução

A verificação da segurança de pilares em relação à encurvadura consiste na verificação da


capacidade resistente das suas secções críticas ao esforços a que estão submetidas (NSd ,
MSd) e ainda ao agravamento dos momentos provocados pelas excentricidades expostas nos
números anteriores: e2 , ea , ec .

2.7.2 Momentos actuantes na secção crítica

As excentricidades são calculadas separadamente para cada uma das direcções de encurvadura
nas secções críticas.
Para estruturas de nós fixos em ambas as direcções determinada com o exposto em 2.5.4 e
ARTº 62, deverão ser considerados para esforços,

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 30


Série Estruturas Betão Armado

NSd.
MSdx + NSd ( e2y + eay + ecy)
MSdy + NSd (e2x + eax + ecx)

Naturalmente as secções das extremidades do pilar deverão ser igualmente verificadas apenas
com os seus esforços de 1ª. ordem que podem ser mais desfavoráveis.

Para estruturas de nós móveis em ambas as direcções, a verificação é semelhante à anterior


(nós móveis em ambas direcções) situando-se a secção critica nas extremidades do pilar.

Para estruturas de nós móveis numa direcção e de nós fixos na outra direcção, considerando
por exemplo nós móveis na direcção de y.

NSd
MSdx + NSd ( e2y + eay + ecy)
MSdy

e na secção intermédia

NSd
MSdx
MSdy + NSd (e2x + eax + ecx)

ex e y

MS dx
M Sdy

ex ey

M Sdx
M Sdy

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 31


Série Estruturas Betão Armado

Na definição das combinações de acções para os estados limites últimos de encurvadura há


que analisar cuidadosamente os coeficientes majorativos a adoptar:

γ Desfavorável Favorável

Acções permanentes → 1.35 (1.5) → 1.0

pré-esforço → 1.2 → 1.0

Acções variáveis → 1.5 → 0.0

Os parâmetros que afectam o comportamento das colunas são:

- esbelteza e nível de esforço axial;

- tipo de acções; duração e magnitude das acções permanentes;

- forma do pilar;

- condições de fronteira;

- propriedades dos materiais ( incluindo efeito tempo);

- quantidade e distribuição das armaduras.


A esbelteza λ de um pilar de secção constante é definida para uma dada direcção pela
expressão:

λ = l° / i (7.1)

em que:

l ° - é o comprimento efectivo de encurvadura na direcção considerada

i - o raio de giração transversal do pilar na direcção considerada, supondo-a


constituída apenas por betão.

Na Fig. 2.20 ilustra-se a influência da esbelteza no comportamento de pilares de betão armado

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 32


Série Estruturas Betão Armado

1- Pilares em que os efeitos geometricamente não lineares são desprezáveis (λ pequeno);

2- Pilares em que os efeitos geometricamente não lineares são relevantes, sendo o estado
limite último definido pela rotura da secção mais desfavorável (é esta a situação corrente
em estruturas de betão armado) (λ médio);

3- Pilares em que os efeitos geometricamente não lineares são muito importantes. O


estado lime último é definido pela carga de instabilidade da coluna (λ elevado).
N
N
e
PARAMETRO
curva de inteacção de
esforços resistentes da e constante
secção
variável
1 2
3
A

1 pequena . Teoria de 1º ordem rotura da secção A

2 média . Teoria de 2º ordem rotura da secção A

3 grande . Instabilidade elastopllásticada secção A

Fig. 2.20 – Influência de esbelteza

Na Fig. 2.21 ilustra-se a influência do nível de esforço axial (relativo ao nível de momento
flector) no comportamento de pilares de betão armado de grande esbelteza:

1) e = M / N pequeno (i.e , N grande em relação a M). Os efeitos geometricamente não


lineares são muito importantes. O estado limite último é definido pela carga de
instabilidade elastoplástica da coluna (sem rotura de secções);

2) e = M / N grande. Os efeitos geometricamente não lineares são ainda relevantes. O


estado limite último está associado à carga de instabilidade elastoplástica e, para esse
nível, a secção mais desfavorável está perto do estado limite último de resistência;

3) e = M / N muito grande. Os efeitos geometricamente não lineares são desprezáveis. O


estado limite último será associado à rotura (dúctil) da secção mais desfavorável.
Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 33
Série Estruturas Betão Armado

N
PARAMETRO e curva de interacção de e
esforços resistentes da
secção e constante
1

a< f
grande, constante
2
A
a= f

a> f
3
M

1 e pequeno . Instabilidade quase elástica


2 e grande . Instabilidade elastopllástica

3 e muito grande . Rotura dutil da secção A

Fig. 2.21 – Influência do nível do esforço axial no comportamento de pilares

Segundo o Art.º 62.º o seu estudo terá que ser efectuado para cada uma das direcções de
encurvadura, tendo para esforços de cálculo em cada direcção:

N sd

M sd + N sd (ea + e2 + ec ) = M sd/ (na secção crítica)

e nas duas direcções a verificação pode ser expressa por:

M sd/ . x M sd/ . y
+ ≤1 (7.2)
M Rd , xo M Rd , yo

em que:

ea mede o valor da excentricidade acidental

e2 a excentricidade de 2ª. ordem

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 34


Série Estruturas Betão Armado

ec a excentricidade de fluência

M sd/ , x = M sd , x + N sd (ea , x + e2, x + ec , x )

M sd/ , y = M sd , y + N sd (ea , y + e2, y + ec , y )

MRd,xo e MRd,yo são valores de cálculo dos momentos resistentes segundo cada um dos
eixos principais de inércia da secção em flexão não desviada, composta com um esforço
normal de valor igual a NSd.

2.7.3 Dispensa de verificação em relação à encurvadura

Segundo o Art.º 61.4 a dispensa é permitida se as relações entre os valores de cálculo dos
momentos flectores normais actuantes MSd e NSd sejam os seguintes:

Msd
≥ 3.5h para λ ≤ 70
Nsd

Msd λ
≥ 3.5h. para λ > 70
Nsd 70

Sendo “h” altura total da secção perpendicular ao eixo de flexão e “λ” a esbelteza da peça na
direcção considerada. A esbelteza seja:

λ ≤ 35 para estruturas de nós móveis

Msd , b
λ ≤ 50 – 15 para estruturas de nós fixos
Msd , a

em que:

Msd,b e Msd,a são os momentos de 1.ª ordem nas duas extremidades do pilar e na direcção

considerada de tal modo em que se verifique |Msd,a| ≥ |Msd,b|, atribuindo-lhe o mesmo sinal

ou sinais contrários consoante determina na deformação do pilar com simples ou com dupla
curvatura.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 35


Série Estruturas Betão Armado

Por último refira-se que segundo o Art.º 64, os pilares não devem, em caso algum, ter
esbelteza λ, definida no Art.º 59.1, superior a 140.

A figura 2.22 resume as situações de verificação da segurança com as de dispensa no caso


geral das secções críticas estarem solicitadas em flexão desviada.

I - Nós móveis ou nós fixos nas duas direcções (secções críticas coincidem)

y y (ea +e +ec)x y y
2
(ea+e2+ec)y
eox
eoy x x x x

Dispensado em ambas Dispensado na Dispensado na não dispensado


as direcções direcção y direcção x

II - Nós fixos numa direcção (x) nós móveis na outra (y)

Secção intermédia (dir. x)


y y (ea +e2+ec)x

x x

(dispensado ) (não dispensado )

Secções dos topos (dir y)


y y
(ea+e2+ec)y

x x
Posição inicial da resultante
(dispensado ) (não dispensado )
Posição de calculo

Fig. 2.22 – Resumo das disposições da segurança com as de dispensa

2.8. Recomendações

A verificação da segurança em relação à encurvadura torna-se simplificada desde que as


estruturas sejam de nós fixos nas duas direcções ortogonais. Por outro lado, nas estruturas de
nós móveis raramente é dispensada a sua verificação, pelo que se aconselha sempre que
possível a estrutura caia na classificação de nós fixos, sendo esta sem dúvida a mais favorável
às acções horizontais (ventos e sismos).

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 36


Série Estruturas Betão Armado

Em edifícios em que existam caixas de escada e elevadores em betão armado, estas devem-se
posicionar de tal forma que permita, com o auxílio ou não de paredes de travamento, englobar
a estrutura numa classificação de nós fixos, mesmo que para isso vá encarecer um pouco a
obra, é pelo lado da segurança que a estrutura deve ser definida.

Pilares / E.L. Último de Encurvadura Cap. II / 37


Série Estruturas Betão Armado

CAPÍTULO III

APLICAÇÕES NUMÉRICAS

1º - Exemplo

Considere o pilar (A-B), indicado na Fig. 3.1. que representa uma parte de uma estrutura
classificada de nós fixos, segundo o regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-
esforçado.

Da análise estrutural obtiveram-se os seguintes esforços:

Para a carga permanente

Ng = 1872 KN

Para sobrecarga

Nq = 576 KN (ψ0 = 0.4 . ψ2 = 0.2)

Para a acção de sismos

NE = 160 KN
ME = 450 KNm

Determine:

- A secção do pilar (A-B).


- As armaduras necessárias para a verificação da segurança aos estados limites últimos
- Pormenorize as armaduras e secção obtida.

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 1


Série Estruturas Betão Armado

Fig. 3.1 – Parte de uma estrutura classificada de nós fixos

RESOLUÇÃO

a) - Dados do exercício

Ng = 1872 KN

Nq = 576 KN (ψ0 = 0.4 . ψ2 = 0.2)

NE = 160 KN
ME = 450 KNm
Fcd =13.3 MPa
Fsyd =348MPa

b) - Combinação de acções

Combinação 1: acção base + Sobrecarga (Q).

Nsd = 1.5 Ng + 1.5 Nq = 3672 KN

Combinação 2: acção base + sismo (E).

Nsd = Ng + 1.5 NE + 0.4 Nq = 2342 KN

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 2


Série Estruturas Betão Armado

Msd = 1.5 ME = 675 KNm

c ) - Verificação da segurança à encurvadura

c.1) - Calculo da esbelteza

Do Art.º. 59 do REBAP.
l0
λ=
i
em que:

I
l0 =η ⋅l e i=
A
devido à geometria da estrutura , temos uma estrutura de nós fixos:

0.7 + 0.05 ⋅ (α 1 + α 2 ) ≤ 1
η = mín 0.85 + 0.05 ⋅ α ⋅ min ≤ 1
1.0

c.2) - Cálculo de α 1 e α 2

α 1 = 0 ( admitindo um encastramento perfeito no ponto B)


α 2 , (no ponto A)
E c I pil .
∑ l pil .
α2 =
E c I vig .
∑ l vig .

em que.

E c.(betão ) = 29G.Pa ( B25 )

b.h 3
I pilar =
12
b.h 3
I viga =
12

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 3


Série Estruturas Betão Armado

0.40 × 0.70 3  1 1 
29 × 10 6 × × + 
12  3.0 1.8  = 5.69
α2 =
0.30 × 0.55 3  1 1 
29 × 10 6 × × + 
12  6 .0 6 .0 

c.3). Calculo de η

0.7 + 0.05 ⋅ (α 1 + α ) = 0.98


η = mín 0.85 + 0.05 ⋅ α ⋅ min = 0.85 → η =0.85
1.0

c.4) – calculo de ι

bh 3
2
I 12 = b = b = 0.70 = 0.20
ι= =
A b⋅h 12 12 12
ι = 0.20

c.5) – calculo de λ

η ⋅ l 0.85 × 0.30
λ= = = 12.75 ≤ 140
ι 0.20

Segundo o Art.º. 61.4, para uma estrutura de nós fixos pode dispensar-se a verificação da
segurança em relação à encurvadura, desde que se verifique uma das condições:

M sd
1ª - para: λ ≤ 70 → ≥ 3 .5 h
N sd

1ª combinação: M sd = 0 → não verifica

M sd 675
2ª combinação: ≥ 3 .5 × h ⇔ ≥ 3.5 × h ⇔ 0.29 ≥ 3.5 × 0.70 = 2.5
N sd 2342

2ª - para estruturas de nós Móveis:

M sd ,b
λ ≤ 50 – 15 ×
M sd ,a

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 4


Série Estruturas Betão Armado

Como : M sd ,a e M sd ,b são os momentos actuantes de cálculo nas extremidades do pilar

M sd ,a ≥ M sd ,b , atribuindo-lhe o mesmo sinal ou sinais contrários consoante determinam

uma deformada do pilar com simples ou dupla curvatura.

No pior dos casos ter-se-à M sd ,a = M sd ,b

pelo que: λ ≤ 35 ⇒ verifica

M SD , A e M SD , B M SD , A e M SD , B

com o mesmo sinal com sinais contrários

FIG. 3.2 - Momentos actuantes no pilar

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 5


Série Estruturas Betão Armado

d) - Dimensionamento da armadura

Quadro. 3.1 - Dimensionamento da armadura recorrendo a tabelas

COMBINAÇÕES ESFORÇOS PARAMETROS ω TOTAL ARMADURAS


cm 2 φ
Nsd
(KN) 3672 ν 0.986
0.14
1 Msd ---------- ---------
(KNm) 0 µ 0

Nsd
(KN) 2342 ν 0.623 6∅25
0.50 53.5 em cada
2 Msd face
(KNm) 675 µ 0.259

e) – Verificação das armaduras

0.6
( AS )mín ≥ 0.6% AC = × 0.40 × 0.70 × 10 4 = 16.8cm 2
100
( AS )LOG → verifica

8
( AS )máx ≤ 8% AC = × 0.40 × 0.70 × 10 4 = 224cm 2
100

12 φ = 12 × 2.50 = 30 cm
( AS )CINTAS ≤ menor dimensão do pilar = 0.40 cm → vou adoptar φ 8 // 0.15

30 cm

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 6


Série Estruturas Betão Armado

f) – Pormenorização da armadura

Fig. 3.3 – Pormenorização da armadura

2º- Exemplo

Considere a estrutura indicada na Fig.3.4 que é actuada pelas seguintes acções:

Acção permanente 20 KN/m


Sobrecarga na travessa 20 KN/m
Acção sísmica FE = 28 KN

Considerando duas combinações de acções:

1ª - Carga permanente + sobrecarga


2ª - Carga permanente + sismo.

a)- Dimensione a secção do pilar

b)- Determine as armaduras necessárias para verificação da segurança aos estados limites
últimos

c)- Pormenorize as armaduras e secções obtidas

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 7


Série Estruturas Betão Armado

Fig. 3.4 – Pórtico de uma estrutura

RESOLUÇÃO

Materiais: B25; A40


Fcd = 13.3 Mpa
Fsyd = 348 Mpa

a) – Calculo dos esforços

a-1) - Cargas permanente = sobrecargas = 20 KN

Fig.3.5 – Calculo dos esforços

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 8


Série Estruturas Betão Armado

a-2) – Acção dos sismos – FH

Fig.3.6 – Calculo dos esforços

A secção crítica do pilar, é a secção da base.

b) – Combinação de acções

1ª - Combinação (cargas permanentes + sobrecargas)

M sd = 0

N sd = 1.5 × 150 + 1.5 ×150 = 450 KN

2ª - Combinação (cargas permanentes + sismo)

M sd = 1.5 × 90 = 135KNm

N sd = 1.0 × 150 = 150 KN

c) – Predimensionamento da secção do pilar

Fig.3.7 – Excentricidade no pilar

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 9


Série Estruturas Betão Armado

Tratando-se de um pilar sujeito a pequenas excentricidades (esforço axial muito superior ao


esforço flector), é usual prédimensioná-lo por uma das seguintes formas:

1ª - Partindo da hipótese que:

AS = 0.01AC e N Sd = 0.85 f Cd AC + f syd As

N Sd = 0.85 f Cd AC + f syd 0.01AC

N Sd = Ac (0.85 f Cd + 0.01 f syd )

N sd
Ac =
0.85 f cd + 0.01 f syd

2ª - Pelo Art.º 144 (disposições relativas a estruturas de ductibilidade


melhorada),impõe-se que: N sd ≤ 0.6 f cd Ac

N sd 10 N sd
Ac ≥ ⇒ Ac ≥
0.6 f cd 6 f cd

3ª - Adoptando a formula empírica : Ac = 10 −4 N sd , obtém-se assim uma estimativa da

área da secção necessária, adoptando-se valores a (b e h), que se aproximem de Ac .

b × h = Ac

4ª - Tratando-se de um pilar sujeito a médias ou grandes excentricidades (o momento


flector começa a ter importância), é usual prédimensioná-lo de forma a obter um µ ≈
0.25, sabendo que:

M sd
µ=
b ⋅ d 2 ⋅ f cd

Para o pilar em questão, atendendo aos esforços máximos obtidos pode concluir-se:

- O esforço máximo não é elevado.


- O máximo esforço axial é de 450 KN, o que adoptando por exemplo a 2ª regra viria:

450
Ac = = 0.056m 2 ⇒ b × h = 0.20 × 0.30
0.6 × 13.3 × 10 3

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 10


Série Estruturas Betão Armado

M sd 90
- Para uma das combinações a excentricidade é elevada , e = = = 0.6 assim
Vsd 150

vai predimensionar-se de tal modo que: µ ≈ 0.25, vem:

135
µ= = 0.251
0.20 × 0.45 2 × 13.3 × 10 3

Adoptou-se, (b = 0.20m; h = 0.50).

d) - Verificação da segurança à encurvadura

d.1) – Segundo o ART.º 61.4, esta verificação pode dispensar-se, nos casos em que:

M sd
≥ 3 .5 ⋅ h para h ≤ 70
N sd
e
M sd λ
≥ 3 .5 ⋅ h ⋅ para h > 70
N sd 70
ou:
estruturas de nós móveis ⇒ h ≤ 35
M sd .b
estruturas de nós fixos ⇒ h ≤ 50 − 15 ⋅
M sd .a

d.2) –Classificação da estrutura

Segundo o ART.º 58, consideram-se estruturas de nós fixos aquelas cujos nós sob efeito dos
valores de cálculo das acções sofrem deslocamentos horizontais de valor desprezável, caso
contrário são consideradas de nós móveis.

Atendendo à geometria da estrutura e à sua excentricidade (e= 0.6); esta é claramente de nós
móveis.

d.3) – Calculo da esbelteza

Segundo o ART.º 59.

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 11


Série Estruturas Betão Armado

l 0 - comprimento efectivo da encurvadura

l0
λ= sendo
i
i - raio de giração da secção

l 0 = η ⋅ l = 2 ⋅ l = 2 × 6 = 12m

I bh 3 h
i= = = = 0.144
A 12bh 12
l0 12.0
λ= = = 83.1
i 0.144

Pelo ART:ª 64 (limites de esbelteza), os pilares não devem em caso algum, ter esbelteza
superior 140.

λ = 83.1 ⇒ verifica

Como λ > 70 e tratando-se de uma estrutura de nós móveis:

Para λ ≤ 35 ( não verifica a dispensa ao calculo).

1.ª - Combinação:

M sd λ
M sd = 0 ≥ 3 .5 ⋅ h ⋅ para λ > 70 ⇒ não verifica
N sd 70

N sd =150 KN

2.ª - Combinação:

M sd λ
M sd = 135KNm ≥ 3 .5 ⋅ h ⋅ para λ > 70
N sd 70

135 83.3
N sd =150 KN ≥ 3.5 × 0.5 × ⇒ não verifica
150 70

Há pois que fazer a verificação da segurança à encurvadura.

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 12


Série Estruturas Betão Armado

Do ART:º 63 – A verificação da segurança segundo uma dada direcção, deve ser efectuada
considerando que o valor de calculo do momento flector actuante M sd , na secção crítica e na
direcção em causa é acrescido do momento definido pela expressão:

N sd ⋅ (ea + e2 + ec )

d.4) – Calculo das excentricidades adicionais

1.º- excentricidade acidental ( ea )

l0 12
= = 0.40
300 300
ea = máximo
menor dimensão do pilar = 0.20m

2.º- excentricidade de 2.ª ordem ( e2 )

1 l 20 5 l2
e2 = ⋅ = × 10 −3 η 0
r 10 h 10
0.4 f cd Ac
η= ≤ 1 .0
N sd

0.4 × 13.3 × 10 3 × 0.2 × 0.5 532


η= =
N sd N sd

para ambas as combinações N sd < 532 , temos η = 1.0, ficando:

5 12.0 2
e2 = × 10 −3 × 1.0 × = 0.144m
0.5 10

3.º- excentricidade de fluência ( ec )

A excentricidade de fluência pode ser dispensada desde que se verifique uma das
seguintes condições:

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 13


Série Estruturas Betão Armado

M sd λ
≥ 3 .5 ⋅ h ⋅
N sd 70
não verifica para ambas as combinações
λ ≤ 70

 M sg    ϕ (t , t )  
ec =  + ea  ⋅ exp . c ∞ 0  − 1
N   N −N  
 sg    E sg  

em que:

M sg = 0

M sg
= 0 (forças devido às acções com caracter de
N sg

permanência)
N sg = 150 KN

ϕ c (t ∞ , t 0 ) = 2.5 (coeficiente de fluência Constante)

0.2 × 0.5 3
E c , 28 I c 29 × 10 ×
6

N e = 10 × = 10 × 12 = 41950.6 KN
2 2
l0 12

  2.5 × 150  
ec = (0 + 0.04 ) ⋅ exp⋅   − 1.0 = 0.004m
  4195.6 − 150  
et = e a + e 2 + e c

et = 0.04 + 0.144 + 0.004 = 0.188m

1.ª - Combinação

Fig.3.8 – Excentricidade no pilar

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 14


Série Estruturas Betão Armado

N sd = 450 KN

M sd = 0 + (450 × 0.188) = 84.6 KNm

2.ª - Combinação:
N sd = 150 KN

M sd = 1 + (150 × 0.188) = 163.2 KNm


Quadro.3.2 - Dimensionamento da armadura recorrendo a tabelas
COMBINAÇÕES ESFORÇOS PARAMETROS ω TOTAL ARMADURAS
cm 2 φ
Nsd
(KN) 450 ν 0.338
0.08
1 Msd ---------- ---------
(KNm) 84.6 µ 0.127

Nsd
(KN) 150 ν 0.113 4∅20
0.50 19.1 +
2 Msd 4φ16
(KNm) 163.2 µ 0.245

N sd M sd
ν= ; µ=
bhf cd bh 2 f cd

bhf cd
As ,tot = As1 + As 2 = Wtot ⋅
f syd

e) – Verificação das armaduras

0.6
( AS )mín ≥ 0.6% AC = × 0.20 × 0.50 × 10 4 = 6.0cm 2
100
( AS )LOG → verifica

8
( AS )máx ≤ 8% AC = × 0.20 × 0.50 × 10 4 = 80cm 2
100

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 15


Série Estruturas Betão Armado

12 φ = 12 × 2.0 = 24 cm
( AS )CINTAS ≤ menor dimensão do pilar = 0.20 cm → vou adoptar φ 8 // 0.15

30 cm

f) – Armaduras de esforço transverso (ART.º 53).

1.º - Devido à carga permanente e à sobrecarga, o esforço transverso no pilar é


nulo.

2.º - Para os sismos:

Vsd = 1.5 × 15 = 22.5KN

Fig.3.9 – Calculo de esforços

Calculo de Vcd :

No caso de elementos sujeitos a flexão composta com compressão, os valores de Vcd , podem

 M 
ser obtidos multiplicando o valor de τ 1 bw d pelo factor 1 + 0  , em que M sd é o valor de
 M sd 
cálculo do momento actuante e M 0 é o momento que, aplicado à secção, anularia a tensão de
compressão resultante do esforço normal actuante de cálculo na fibra extrema da secção que,
por acção exclusiva de M sd , ficaria traccionada (ART.º 53.2, d).

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 16


Série Estruturas Betão Armado

M0
τ M0

I
M0 W=
τ M0 =
W
V

V= h
2

N sd

τ N sd

N
τ N sd =
A

Fig.3.10 – Calculo de esforços

Condições de equilíbrio:

M0 N WN
σ Mo = σ Nsd = 0 ⇔ =− ⇔ M0 = − ⇒ (N>0 → Tracção)
W A A

No caso em consideração:

N sd = 150 KN ( compressão)

M sd = 135 KNm (passou a 163.3)

bh 2
N
W ⋅N 6 bh 2 hn 0.5 × 150
M0 = − = = N= = = 12.5 KNm
A A 6bh 6 6

 M 
Vcd = τ 1 bwd 1 + 0  = 0.65 × 10 3 × 0.20 × 0.45 ⋅ 1 + 12.5  = 62.98 KN
 M 
 sd   163.3 

Como Vcd > Vsd , ou seja 62.98 > 15 (KN), basta colocar a armadura mínima de esforço
transverso.

12 φ = 12 × 2.0 = 24 cm
( AS )CINTAS ≤ menor dimensão do pilar = 0.20 cm → vou adoptar φ 8 // 0.15

30 cm

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 17


Série Estruturas Betão Armado

g) – Pormenorização de armaduras

Fig. 3.11 – Pormenorização da armadura

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 18


Série Estruturas Betão Armado

3º - Exemplo

Considere o pilar indicado na figura incluído numa estrutura classificada de nós móveis. Da
análise estrutural obtiveram-se os seguintes esforços:

Dados:

Carga permanente: N = 1600 KN


Sobrecarga: Nq = 600 KN
Sismo: NE = 200 KN ME = 400 KN.m

2.80

3.00

6.00

Admitindo vigas com b = 0.30m e h = 0.50m , pilares com b = 0.40m e h = 0.60 e adoptando
como materiais B 25 e A500NR, dimensione o pilar.

Resolução:

1º. Cálculo dos esforços

1ª. Combinação: carga permanente + sobrecarga

Nsd = 1.5 Ng + 1.5 Nq = 3300 KN

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 19


Série Estruturas Betão Armado

2ª. Combinação: carga permanente + sismo

Nsd = 1.0 Ng + 1.5 NE = 1900 KN

Msd = 1.5 ME = 600 KN.m

2. Verificação da segurança à encurvadura

2.1. Cálculo da esbelteza

λ = lo/i com lo = ηl e i = I/A

Para uma estrutura de nós móveis ( REBAP artº. 59º ) vem:

1.0 + 0.15 ( α1 + α2 )
η= min
2.0 + 0.3 α min

2.2. Cálculo de α1 e α2

Secção de apoio (B): admitindo um encastramento perfeito => α1 = 0

Secção superior (A): o parâmetro α é dado pela relação entre a soma das rigidezes de flexão
dos pilares que concorrem no nó e a soma das rigidezes de flexão das vigas que aí também
concorrem

∑i (Eii/Li ) pil
α2 = =
∑j (Eij/Lj ) vig

6 3
[ 29 × 10 × 0.4 × 0.6 / 12 ( 1 / 2.8 + 1 / 3.2)]
α2 = = 4.63
6 3
[ 29 × 10 × 0.3 × 0.5 / 12 ( 1 / 6.0 + 1 / 6.0)]

2. 3. Cálculo de η

1.0 + 0.15 ( 0 + 4.63 ) = 1.69


η = min = 1.69
2.0 + 0.3 × 0 = 2.0

Assim: λ = lo/i = η x l/i = 1.69 × 3.2 / (0.6 × 12 ) = 31.22 140

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 20


Série Estruturas Betão Armado

3
Nota: i = I A = (b h 12) b h ) = h 12

Pode dispensar-se a verificação em relação à encurvadura desde que se verifique uma das
condições:

1. λ 70 ⇒ Msd/Nsd 3.5 h

1ª. Combinação: Msd = 0 ⇒ não verifica

2ª. Combinação: Msd/Nsd = 600/1900 = 0.32

3.5 h = 3.5 × 0.6 = 2.1

0.32 < 2.1 ⇒ não verifica

2. Estrutura de nós móveis

λ 35 λ= 31.2 < 35 ⇒ verifica

Conclusão: Pode dispensar-se a verificação da segurança à encurvadura

3. Dimensionamento da armadura:

As, tot = As1 + As2 = Wtot × b × h × fcd fsyd

Tabelas ( D`Arga e Lima) não tem p/ A500NR

W=? Ábacos

Fórmulas Simplificadas

ÁBACOS

A`/A = 1
D`ARGA E LIMA → 32 →
a / h = 0.05

a = 0.05 h = 0.05 × 60 = 3 cm ⇒ Recobrimento

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 21


Série Estruturas Betão Armado

ν = 1.034

Combinação 1 ω1 = 0.15
µ=0

ω tot = max
ν = 0.595

Combinação 2 ω2 =0.58

µ = 0.313

⇒ ω tot = máx ω1 e ω2 ⇒ ω tot = 0.58

As. tot = 0.58 × 40 × 60 × 13.3 435 = 42.46 cm2

As. tot = As1 +As2, com As1 = As2

As1 = As2 = As. tot 2 = 21.28 cm2 ⇒ 7 ∅ 20 ( 21.99 cm2 )

FÓRMULAS SIMPLIFICADAS

ν = Nsd b × h ×fcd µ = Msd bh × fcd

Combinação 1

µ = 0 ; ν = 1.034

νc = ν - 0.85 = 1.034 – 0.85 = 0.184

Relação β ⇔ ν ( D´Arga e Lima )

ν ≤ 0.4 0.5 0.6 0.7 >0.85

β 1.0 0.93 0.88 0.88 0.93

→ β = 0.93

ν = 1.034
→ ω = µ αβ + νc

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 22


Série Estruturas Betão Armado

λ = 0.5 - a h com a = 3 cm e h = 60 cm

⇒ λ = 0.45

ω1 = 0 (0.45 + 0.93) + νc = 0.184 ≅ 0.18

Combinação 2

µ = 0.313 ; ν = 0.595 ⇒ β = 0.88

νc = ν - 0.85 = 0.595 – 0.85 = - 0.255

β = 0.88
ν = 0.595 ⇒
ω = ( µ + 0.55 ν - νc ) λ β

0.313 – 0.55 × 0.595 × 0.295


ω= = 0.58

0.45 × 0.88

⇒ ω tot = máx ω1 e ω2 ⇒ ω tot = 0.58

ω tot = ω1 + ω2 = 0.18 + 0.58 = 0.76

As, tot = 0.58 × 40 × 60 × 13.3 435 = 42.56 cm2

As1 = As2 = As2,tot 2 = 21.28 cm2 ⇒ 7 ∅ 20 ( 21.99 cm2 )

COMBINAÇÃO ESFORÇOS PARÂMETROS W total ARMADURA

Cm2 ∅

Nsd
(KN) 3300 ν 1.034 a) 0.15

mínima
b) 0.18
Msd 0 µ 0
(KN.m)

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 23


Série Estruturas Betão Armado

Nsd
(KN) 1900 ν 0.595
a) 0.58
42.56 14∅20

Msd b) 0.58
(KN.m) 600 µ 0.313

NOTA: a) Ábacos; b) Fórmulas simplificadas.

4. Verificação da amadura

As min = 0.006 × 40 × 60 = 14.4 cm2 < As

As máx = 0.08 × 40 × 60 = 192 cm2 > As

5. Pormenorização das armaduras

7Ø25 7Ø25

0.40

Ø8 // 0.24 2Ø16
0.60

Pilares / Aplicações Numéricas Cap. III / 24


Série Estruturas Betão Armado

CAPITULO IV

DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS

4.1. Disposições gerais relativas a armaduras

4.1.1. Introdução

Nas estruturas de betão, o cálculo das armaduras é normalmente efectuado com base na
verificação da segurança aos estados limites últimos de resistência. A correcta
pormenorização das armaduras é tão importante como o seu cálculo, por duas razões
principais:

- É necessário assegurar que o funcionamento real da estrutura não se afaste do modelo


de cálculo adoptado, em particular nas zonas de ligação entre os diferentes elementos;

- O comportamento da estrutura em serviço é fortemente dependente da pormenorização


das armaduras.

No que respeita, segundo o REBAP, art.º 74, as armaduras são classificadas em:

- Armaduras principais: são as armaduras dimensionadas de acordo com as regras


estabelecidas na 2º parte deste regulamento;

- Armaduras secundárias: são armaduras adicionais que têm as seguintes funções:

Garantir a eficiência das armaduras principais;

Ligar os blocos de betão com tendência a destacar-se;

Limitar a fendilhação localizada em zonas de singularidade da geometria (nós,


aberturas, etc) ou a resultante de deformações impostas (retracção e variação de
temperatura).

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 1


Série Estruturas Betão Armado

Como exemplo de armaduras secundárias temos:

- Armaduras de distribuição em lajes;

- Armaduras de alma em vigas;

- Armadura transversal em paredes;

- Cintas em pilares (na ausência de esforço transverso condicionante);

- Armaduras de suspensão.

Embora a presença das últimas (suspensão) seja discutível, porquanto a sua ausência pode
determinar a ruína da peça e, como tal, serem essenciais para a resistência, o que lhes poderá
atribuir um estatuto de principais.

4.1.2. Agrupamento de armaduras ordinárias (Art.º 76, REBAP)

Dever-se-á em princípio evitar o agrupamento de armaduras, sendo no entanto permitido a sua


realização até ao máximo de 3 varões (ou 4 em armaduras comprimidas), devendo ser
realizadas de tal forma que não haja mais do que 2 varões contados segundo qualquer
direcção Fig. 4.1.

agrupamento na vertical

agrupamento de três varões com o


máximo de dois em cada direcção

agrupamento de quatro varões só permitida


em armaduras verticais sempre comprimidas

Fig. 4.1 – Agrupamentos de armaduras ordinárias.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 2


Série Estruturas Betão Armado

Quando agrupados os varões tendem a comportar-se como um todo, assim, na observância


das regras em que o diâmetro do varão é o parâmetro condicionante (distância mínima,
amarrações, etc.), há necessidade de definir um diâmetro equivalente em correspondência
com o perímetro Fig. 4.2.

d1
d

d1 d1

d d1

u = d (π+3)
u = perímetro de aderência para agrupamentos de varões
d = diâmetro do núcleo do varão nervurado
d1 = diâmetro do varão incluíndo nervuras

Fig. 4.2 – Perímetro de aderência de agrupamentos de armaduras ordinárias.

Diâmetro equivalente do agrupamento é: φ n = ∑φ


i
i
2
, não devendo ultrapassar 55mm.

Como a aderência aço/betão para o caso de agrupamentos de mais de 2 varões é


deficientemente conseguida, torna-se uma solução pouco aconselhável.

4.1.3. Condicionantes geométricas

Uma distância livre mínima deve ser sempre prevista entre armaduras de forma a permitir:

- realizar a betonagem e compactação em boas condições;

- garantir um bom envolvimento das armaduras pelo betão;

- garantir condições de aderência eficientes.

O posicionamento das armaduras especificado no projecto deve ser garantido na construção.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 3


Série Estruturas Betão Armado

Recorre-se em geral ao uso de suportes de posicionamento e espaçadores que garantam


durante o processo de betonagem a distância entre as armaduras e a cofragem e das armaduras
entre si. A fixação dos varões na armação deve ser eficiente, de forma a não permitir
alterações das suas posições durante a betonagem. Na Fig. 4.3, Fig. 4.4 e Quadro 4.1, faz-se
indicação de alguns espaçadores e do espaçamento recomendável para a sua colocação.

CALÇOS
GANCHO EM U
MALHA DE APOIO

SUPORTE VERTICAL GANCHO EM S

CALÇOS PARA PILARES

CALÇOS NA DIRECÇÃO LONGITUDINAL


Varões longitudinais max S1
até 10cm 50 cm
12 a 20mm 100 cm
Sq h acima de 20mm 125 cm
CALÇOS NA DIRECÇÃOTRANSVERSAL
b e h respectivamente quantidade
até 100cm 2 calços
Sq acima de 100cm 3 ou mais calços
S1 calços max Sq =75cm
b

Fig. 4.3 – Tipos de espaçadores e espaçamento recomendável para a sua colocação.

Ch - distância na horizontal

Cv Cv - distância na vertical

Ch,Cv > 1.5 x máxima dimensão do inerte

Ch

Fig. 4.4 - Espaçamento de armaduras longitudinais

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 4


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Quadro.4-1 - Distância mínima entre armaduras

DISTÂNCIA LIVRE MÍNIMA


ARRANJO DOS
TIPO DE ARMADURA VARÕES
Horizontal, Ch Vertical, Cv

Ordinária Qualquer possível Ø, 2cm Ø ,2cm

Pós-Tensionada Ø, 5cm Ø , 4cm


(baínhas)
1.5Ø, 5cm 1.2Ø , 2cm

Ø , 2cm Ø , 1cm
Pré-tensionadas 1.5Ø , 2.5cm 1.5Ø , 1cm

2.0Ø , 3.cm 2.0Ø , 3cm

Ø - è o diâmetro do varão ou o diâmetro equivalente do agrupamento no caso


de armaduras ordinárias.

Os diâmetros e os espaçamentos das armaduras devem ser escolhidos de forma a que:

- a distância mínima entre varões garanta um bom envolvimento dos varões pelo betão:
condição para uma boa aderência;

- a distância máxima entre varões permita que a abertura das fendas permaneça abaixo
dos valores admissíveis: verificação dos E.L. de Utilização.

4.1.4. Recobrimento de armaduras (Art. º 78, REBAP)

O recobrimento das armaduras deve ser tal que permita:

- realizar a betonagem em boas condições;

- garantir a necessária protecção contra a corrosão;

- transmitir de forma eficiente as forças entre as armaduras e o betão.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 5


Série Estruturas Betão Armado

O recobrimento da armadura c (mínima distância entre a armadura e a superfície de betão


mais próxima), deve ser adoptado de acordo com os diâmetros dos varões e com o risco de
corrosão.

Quadro.4.2 – Recobrimento mínimo da armadura, em cm, limitado pelo diâmetro dos varões
ou agrupamento

VALORES BÁSICOS CORRECÇÃO PARA

condições de exposição classe de betão


armadura de pré-esforço (muito
moderadamente agressivos

B 30 B 45
sensívies à corrosão)
pouco agressivos

muito agressivos

paredes

cascas
lajes

B 35 B 50

B 40 B 55

2.0 3.0 4.0 +1.0 -0.5 -0.5 -1.0

As correcções especificadas podem ser somadas conjuntamente, mas em caso algum o


recobrimento c poderá ser menor que das seguintes disposições:

- 1.5cm;

- φ, diâmetro do varão ou agrupamento no caso de armaduras ordinárias;

- 2φ, no caso de armaduras pré-tencionadas, ou armaduras pós-tencionadas em


agrupamento horizontal (recobrimento lateral);

- φ, diâmetro da bainha em armaduras pós-tencionadas, com um mínimo de 4cm (não


necessitando de exceder 4.0 cm, Modelo Código 78 / CEB);

- dimensão máxima do inerte + 0.5cm (d máx+ 0.5).

da aplicação destas regras resulta nos valores mínimos especificados no Quadro 4.3, para
armaduras ordinárias.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 6


Série Estruturas Betão Armado

Quadro.4.3 – Recobrimento mínimo da armadura (cm).

ARMADURAS ORDINÁRIAS c (cm) > min. ∅

CLASSE DE BETÃO

CONDIÇÕES
B15, B20, B25 B30, B35, B40 B45, B50, B55
AMBIENTAIS
paredes paredes paredes
em geral lajes em geral lajes em geral lajes
cascas cascas cascas

ambiente pouco
agressivo 2.0 1.5 1.5 1.5 1.5 1.5

ambiente
moderadamente 3.0 2.5 2.5 2.0 2.0 1.5
agressivo

ambiente muito
agressivo 4.0 3.5 3.5 3.0 3.0 2.5

Quadro.4.4 – Recobrimento mínimo (cm) para armaduras de pré-esforço.

ARMADURAS DE PRÉ-ESFORÇO cmin. (cm)

ARMADURAS PÓS-TENSIONADAS ARMADURAS PRÉ-TENSIONADAS

CONDUÇÕES B30, B35, B40 B45, B50, B55 B30, B35, B40 B45, B50, B55
AMBIENTAIS
Em Estrut. Em Estrut. Em Estrut. Em Estrut.
geral laminares geral laminares geral laminares geral laminares

Amb. pouco 4.0 4.0 4.0 4.0 2.5 2.0 2.0 2.0
agressivo

Amb. mod. 4.0 4.0 4.0 4.0 3.5 3.0 3.0 2.5
agressivo

Amb. muito 4.5 4.0 4.0 4.0 4.5 4.0 4.0 3.5
agressivo

c< φ (baínhas)

c < 2φ
C < 2Ø baínhas
lateral

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 7


Série Estruturas Betão Armado

Os recobrimentos mínimos especificados deverão ser aumentados no caso de estruturas


sujeitas a condições de exposição particulares severas (obras marítimas) e quando for
necessário impor exigências de protecção contra o fogo.

Particular atenção deve ser dada na especificação dos recobrimentos no caso de superfícies de
betão aparente. Note-se que os recobrimentos mínimos devem ser observados para qualquer
tipo de armaduras, nomeadamente estribos em vigas, armadura transversal (horizontal) em
paredes e cintas em pilares.

Quando o recobrimento é superior a 5 cm, recomenda-se a armadura de pele, prevenindo o


destaque do betão, não sendo necessário o cálculo da largura de fendas Fig. 4.5.

c
< 600mm
d-x

s > 100mm

Fig. 4.5 – Armadura de pele.

4.1.5. Dobragem de armaduras (curvatura máxima )

A curvatura máxima da armadura deve:

1. Não afectar a resistência da armadura, devendo o diâmetro mínimo respeitar o quadro


V do Art.º22 do REBAP;

2. Não leve ao esmagamento, à fendilhação e destacamento do recobrimento de betão,


por efeito da pressão exercida na zona da curva (quadro X do Art.º 79 do REBAP);

3. Garantir a não ocorrência de fendilhação com destacamento do betão no plano de um


laço de ancoragem.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 8


Série Estruturas Betão Armado

aço endurecido

aço m acio

m icro-fissuração

Fig. 4.6 a – Curvatura permissível em face da capacidade de deformação do aço.

na zona de curvatura

biela comprimida

pressões localizadas que podem


levar ao esmagamento do betão

Fig.4.6 b – A curvatura máxima deve atender às pressões localizadas sobre o betão.

PLANTA ALÇADO

>3Ø início da ancoragem

F 2F

C1
d

Ø
F 2F
C2 C>3Ø>3cm

Fig. 4.7 – Dobragem em laço de armaduras ordinárias.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 9


Série Estruturas Betão Armado

No caso de armaduras ordinárias, formando laços, o diâmetro de dobragem não deve ser
φ σssd
inferior ao dado por: d = (0.7 + 1.4 ). .φ
α 1.5 fcd

Em que:

σssd - é a tensão da armadura no inicio da dobra, corresponde ao valor de cálculo do


esforço actuante

α - é o menor dos valores: distância entre o plano do laço e a face da peça e a distância
entre o plano do laço e o plano do laço vizinho.

CASO GERAL ESTRIBO LAÇO

D2=20Ø=500mm

>50mm Ø8
Ø25

D1=8Ø=200mm
D1=5Ø=40mm D3

Ø25mm

Fig.4.8 – Diâmetros interiores mínimos de dobragem de varões de armadura ordinária (A400).

4.1.6. Amarração de armaduras

4.1.6.1. Aderência aço betão (Art.º 80 REBAP)

A aderência das armaduras ao betão é uma propriedade que interessa fundamentalmente:

- ao funcionamento conjunto dos dois materiais aço e betão;

- à definição de critérios de amarração e emendas por sobreposição.

A tensão de rotura de aderência média pode ser obtida por meio de ensaios de arrancamento.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 10


Série Estruturas Betão Armado

l0

Ø
Fs
TESTE DE ARRANCAMENTO
( PULL-OUT TEST)
Fs fb - tensão de aderência ( o índice b refere-se a Bond )
fbm - tensão média de aderência
Fs - força de arrancamento
Fs
l0
Fs = f . u . dx = f .u.l0
b bm
Fb 0

u = π.φ (perímetro)

bm

Fig. 4.9 – Desenvolvimento de tensões de aderência, na extremidade dum varão rectilíneo

O valor da tensão de aderência, fbd, depende essencialmente das três condições seguintes
(Art.º 80 Quadro XI ):

- Características de aderência do aço;

- Classe de betão;

- Posição do varão em relação à direcção de betonagem.

4.1.6.2.Comprimentos de amarração (Art.º 81 REBAP)

Os tipos normais de amarração são:

- amarrações rectas;

- amarrações curvas: ganchos (150º a180º), cotovelo (90º a 150º), laços;

- amarrações por varões transversais soldados (redes de malhassol);

- amarrações por dispositivos especiais.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 11


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Varões lisos:

- regra: amarrações com ganchos;

- excepção: amarrações rectas no caso dos varões estarem comprimidos em qualquer


combinação de acções.

Varões nervurados:

- regra: amarrações rectas;

- excepção: amarrações com ganchos ou cotovelos é permitida se os varões estiverem


sempre traccionados.

As amarrações devem possuir um grau de segurança suficiente em relação à rotura, que pode
ser causada pelo destacamento do recobrimento de betão ou pelo arrancamento da armadura.

O escorregamento relativo da superfície aço-betão terá também de ser condicionado. A


fendilhação, e subsequente destacamento do recobrimento de betão, é devida ao
desenvolvimento de tensões transversais de tracção na zona de amarração.

Comprimentos de amarração de armaduras ordinárias

O comprimento de amarração efectivo, l b,net, a usar será:

l b, net = lb . As, cal .α1 ≥ lb, min


As, ef

onde:

φ f syd
lb = .
4 f bd

As,cal – área teórica de armadura requerida pelo cálculo;

As,ef – área de armadura efectivamente usada;

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 12


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α1 = 1.0 para amarrações rectas em tracção e compressão;

= 0.7 para amarrações curvas em tracção;

= 1.0 para os restantes casos.

Limites inferiores:

Em tracção: lb,min =0.3lb< 10 φ <10cm

Em compressão: lb,min =0.6lb< 10 φ <10cm

No quadro 4.5, especifica-se os comprimentos de amarração efectivos na hipótese de As,cal =


As,ef, para as classes de betão mais correntes em obras de betão armado.

Quadro 4.5 - Valores do comprimento de amarração, l b,net

COMPRIMENTOS DE AMARRAÇÃO (REBAP)

CLASSE DE BETÃO E CONDIÇÕES DE ADERÊNCIA

TIPO DE B15 B20 B25 B30 B35


TIPO DE
AÇO
AMARRAÇAO A B A B A B A B A B

A235NL Com gancho 45φ 65φ 35φ 50φ 30φ 45φ 30φ 45φ 25φ 40φ

A235NR Recta 30φ 45φ 25φ 35φ 20φ 30φ 20φ 25φ 15φ 25φ

A400NR Recta 50φ 70φ 40φ 60φ 35φ 50φ 30φ 45φ 30φ 40φ
A400ER
A400EL Com gancho 75φ 110φ 60φ 85φ 55φ 80φ 50φ 75φ 45φ 65φ

A500NR Recta 65φ 90φ 50φ 75φ 45φ 65φ 40φ 60φ 35φ 50φ
A500ER
A – Condições de boa aderência / B – Outras condições de aderência

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 13


Série Estruturas Betão Armado

Amarração de estribos, cintas e armadura de envolvimento

Esta amarração é normalmente efectuada por meio de ganchos, cotovelos ou por varões
transversais soldados. O tipo de amarração usado não deve induzir no descascamento do
recobrimento de betão.

Amarrações por ganchos (150ºa 180º) são essenciais para grandes diâmetros de varões lisos.

Amarrações por cotovelo (90º a 150º) são apenas permitidas para varões nervurados.

A amarração é considerada satisfatória se, depois da zona curva, o varão é prolongado dum
troço recto de pelo menos:

- 5φ ou 5cm para os ganchos (>2φ REBAP);

- 10φ ou 7cm para os cotovelos;

ou se no comprimento de amarração existe:

- 2 varões transversais soldados;

- 1 varão transversal soldado de diâmetro, φ t >1.4 x o diâmetro do estribo.

4.1.6.3. Cintagem das zonas de amarração

A amarração de um varão deve concretizar-se numa zona com suficiente confinamento do


betão, de forma a ficar assegurada a boa transmissão e dissipação da força da armadura.

Nas zonas traccionadas com amarrações rectas esta armadura deve ser distribuída
uniformemente ao longo da amarração, em especial nos casos em que exista uma tracção
transversal à barra que descomprime a zona de ancoragem. Na verdade, esta última situação

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 14


Série Estruturas Betão Armado

pode mesmo conduzir à formação de uma fissura ao longo da barra, mostrando-se uma tal
armadura transversal essencial à garantia do bom funcionamento de amarração.

Noutras situações, como, por exemplo, no caso de barras comprimidas esta armadura
transversal de cintagem deve ser concentrada junto à extremidade, prolongando-se para além
desta de uma distância de 4φ.

Os ganchos previstos devem de preferência ser colocados na direcção perpendicular a


possíveis fissuras.

4.1.7. Emendas de armaduras ordinárias (Art.º 84 REBAP)

As forças podem ser transmitidas de um varão para outro por:

- sobreposição de varões (com ou sem ganchos terminais);

- soldadura;

- dispositivos mecânicos.

l b,0
≤4φ

D1

l b,0
≤4φ

D1

l b,0
≤4φ

Fig. 4.10 – Tipos de emendas por sobreposição.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 15


Série Estruturas Betão Armado

O comprimento mínimo de sobreposição l b,o para emenda de varões traccionados é dado pela
fórmula:

l b , 0 = α 2 ⋅ l b ,net < l 0 min

onde:

α 2 - é um coeficiente dado no quadro XII, função da percentagem de armadura


emendada numa dada secção;

l 0 min = 0,3 ⋅ α 1 ⋅ α 2 ⋅ l b < 15φ < 20cm ;

l b,net - comprimento efectivo de amarração;

φ f syd
lb = . .
4 f bd

As percentagens permissíveis de varões, em tracção, emendados numa dada secção são


limitadas aos valores especificados no Quadro 4.6.

Quadro 4.6 – Relação entre a secção máxima dos varões emendados e a secção total
dos varões numa dada zona em tracção

Características de aderência de varões Ø <16mm Ø ≥ 16mm

Alta aderência 100 % ( 1/1 ) 50 % (1/2 )

Aderência normal 50 % ( 1/4 ) 25 % (1/4 )


_____
Tirantes (a evitar) 25 % (1/4 )
Com: Ø ≤ 16mm
e: ρ ≤ 1.5%

A distância de separação entre duas emendas adjacentes deve ser pelo menos igual a:

- 2 ∅ < 2cm ( distância livre ) na direcção transversal;

- 1.5 l b,o na direcção longitudinal (distância entre pontos médios das emendas), para
poder ser considerado que os varões são emendados em secções distintas.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 16


Série Estruturas Betão Armado

Para emenda de varões permanentemente em compressão não há limitações especiais (os


varões podem ser emendados todos numa mesma secção) e as emendas por sobreposição
devem ser feitas apenas com troços rectos:

l b0 > l b

onde:

l b , é o comprimento básico de amarração.

4.2. Disposições Específicas Relativamente a Pilares e Nós de Pórticos

4.2.1. - Introdução

Consideram-se como pilares as peças lineares solicitadas predominantemente à compressão.


Com frequência, os pilares estão também sujeitos a esforços de flexão importantes, tornando-
se difícil por vezes, classificar um elemento como pilar ou como viga. Esta distinção tem
interesse (principalmente1) para efeito de aplicação das disposições construtivas
regulamentares. Para este efeito o REBAP indica que se considere como pilar os elementos
em que o esforço normal de compressão actue com excentricidade e menor que 2 vezes a
altura de secção Fig. 4.11.

N sd
N sd
M sd

e = M sd / N sd
e < 2 h : P ila r
e > 2 h : v ig a
e

Fig. 4.11 – Identificação de elemento como pilar para efeito de aplicação das
disposições construtivas

1
Em boa verdade, quase sempre as peças de estruturas consideradas como vigas estão sujeitas a esforços
axiais. Contudo, o seu valor é, quase sempre, pouco significativo face aos valores dos restantes esforços mais
condicionantes (flexão e corte).

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 17


Série Estruturas Betão Armado

Vejamos qual a forma da rotura de um pilar pouco esbelto solicitado à compressão, pois
algumas das disposições construtivas têm em vista a garantia da sua capacidade resistente
última. Na Fig. 4.12 está ilustrado o aspecto típico desta rotura: o betão fractura por
esmagamento e corte segundo planos inclinados e a armadura longitudinal encurva-se entre
cintas.
a) b)

Betão não
confinado

a) aspecto de rotura;
b) confirnamento com cintas circulares e quadradas.

Fig. 4.12 – Rotura de um pilar de betão armado:

Verifica-se que o efeito de confirnamento do betão (contenção lateral) é de grande


importância, pois leva a que a rotura seja mais dúctil, aumentando ainda a capacidade
resistente do pilar. Este efeito de confirnamento lateral, ou cintagem, é desenvolvido pela
armadura transversal. Quanto maior for a área de betão confinado na secção transversal, tanto
melhor se comportará o pilar na resistência a carga elevada. No caso de secções rectangulares,
os varões longitudinais desempenham também um papel importante no confinamento da
secção de betão. Para aumentar a eficiência de confinamento do núcleo de betão, tanto o
espaçamento das cintas como o dos varões longitudinais deve ser reduzido.

4.2.2. Condicionantes Geométricas

A dimensão mínima da secção transversal de pilares deve ser maior ou igual a 20 cm. No caso
de secções compostas por elementos rectangulares (secções em T, L ou I) a espessura (lado

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 18


Série Estruturas Betão Armado

menor) de cada elemento não pode ser menor que 15 cm e o comprimento menor que 20 cm.
Nas secções ocas a espessura mínima das paredes não pode ser inferior a 10 cm. Na Fig. 4.13
ilustram-se os valores mínimos para algumas secções transversais.
lο
Os pilares não devem, ainda, em caso algum, ter esbelteza ( λ = ) superior a 140 (ART º
i
64º do REBAP).

Fig. 4.13 – Condicionantes geométricas de secções transversais de pilares

4.2.3. Armadura Longitudinal

No Quadro 4.7, encontra-se especificadas algumas condicionantes a ter em conta no


dimensionamento da armadura longitudinal de pilares.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 19


Série Estruturas Betão Armado

Quadro 4.7 – Condicionantes de percentagens e diâmetros da armadura longitudinal

Percentagem de armadura, ρ=100.As/Ac Diâmetro


Tipo de Aço
Limite mínimo % mínima % máxima mínimo

A235 (0,4%) 0,8% 8% 12 mm


A400 (0,3%) 0,6% 8% 10 mm
A500 (0,3%) 0,6% 8% 10 mm

O limite de 8% da percentagem máxima deve ser respeitado mesmo nas zonas de emenda de
varões por sobreposição. Para melhor explicitar a aplicação dos limites mínimos, vejamos
como obter a capacidade resistente dum pilar quando sujeita à compressão simples. No caso
de pilares solicitados à compressão, com momento flector sem significado, e em que se
verifique as condições do Art.º 61.4 do REBAP, que dispensa a verificação de segurança à
encurvadura (ex.: pilares interiores de edifícios correntes), a capacidade resistente destes
pilares pode obter-se ( em aproximação) por:

NRd = 0,85 fcd Ac + fsycd As ,

em que fsycd é a tensão do aço para uma extensão de compressão de εs = 2% , tensão essa

que toma os seguintes valores:

fsycd = fsyd para o aço A235 e A400


fsycd = 400 Mpa para o aço A500

A percentagem mínima a cumprir, em geral, é especificada na coluna 3 do Quadro 4.7. Porém


se a secção de betão for por si só suficiente para conferir ao pilar resistência superior á exigida
pelos esforços de cálculo,

0,85 fcd Ac > NRd (no caso de compressão apenas)

então esta percentagem mínima pode ser referida a uma área de betão fictícia, Arc (área

reduzida para efeito de determinação da percentagem mínima de armadura longitudinal)

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 20


Série Estruturas Betão Armado

homotética da área do pilar, Ac, e estritamente necessária para assegurar ao pilar a resistência

àqueles esforços Fig. 4.14. Os parâmetros de encurvadura continua a ser os da secção real Ac

Ac (área real)

Arc (área reduzida fictícia)

Arc = Nrd/0,85 fcd (área estritamente necessária a suportar a compressão)

Fig. 4.14 – Pilar com secção em excesso.

Note-se que em qualquer caso os limites da percentagem mínima, definida em relação à


secção reduzida Ac, são os especificados entre parênteses na coluna 2 do Quadro 4.7.

A armadura longitudinal deve compreender, no mínimo, 1 varão junto de cada ângulo de


secção (saliente ou reentrante) e 6 varões no caso de secções circulares (ou assimiláveis). O
espaçamento dos varões da armadura longitudinal não deve exceder 30cm; porém em faces
cuja a largura seja igual ou inferior a 40cm, basta dispor varões nos cantos. Na Fig. 4.15 estão
ilustradas disposições de armaduras em algumas secções transversais de pilares.

a) Pilares Rectangulares

a 40cm d d d d
d 15cm d 15cm
d 30cm

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 21


Série Estruturas Betão Armado

b ) Pilar em L

30cm 30cm 30cm

30cm Varões construtivos


sem segurança à encurvadura

c ) Pilar Circular

mín. 6 varões

d ) Pilar com momento elevado

135º

30cm 30cm

Fig. 4.15 - Disposição de armadura em secções transversais de pilares

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 22


Série Estruturas Betão Armado

4.2.4. Armadura Transversal

Como vimos, as armaduras transversais desempenham um papel importante na efectivação da


capacidade resistente última dos pilares, garantindo o confinamento da secção do núcleo do
betão, definido pelas armaduras longitudinais, e evitando o varejamento destas armaduras. As
armaduras transversais têm ainda por missão manter as longitudinais em posição durante a
betonagem e resistir a esforços transversos quando estes estão presentes.

O espaçamento s dos varões da armadura transversal, no sentido do eixo do pilar, não deve
exceder os valores da Fig. 4.16.

- 12Ø L
s< - m enor dim ensão do pilar
- 30cm

- 6m m se: Ø L < 25m m


Ø cintas >
- 8m m se: Ø L >= 25m m
s

Fig. 4.16 – Espaçamentos e diâmetros mínimos de cintas de pilares.

O traçado das armaduras transversais deve ser tal que cada varão longitudinal seja abraçado
por ramos da cinta formando ângulo não superior a 135º. Esta condição pode ser dispensada
no caso de varões que não sejam de canto e que se encontrem a menos de 15 cm de varões em
que se cumpra tal condição. Condição também dispensável no caso de pilares circulares ou a
tal assimiláveis. Toda a armadura transversal, cintas ou traçado em hélice (para pilares
circulares) deve ser bem amarrada.

Em certas circunstâncias pode ser necessário ou aumentar o diâmetro das cintas ou diminuir o
seu espaçamento:

1. Pelo valor do esforço transverso;


2. Por questões construtivas, como evitar o descascamento do betão ou qualquer
deterioração local (fendilhação).

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 23


Série Estruturas Betão Armado

Precauções especiais devem ser tomadas:

1. Nas zonas dos pilares situadas junto à sua ligação com a fundação ou acima e abaixo
de uma viga ou laje, sobre uma altura igual à maior dimensão da secção do pilar;
2. Nas mudanças de direcção dos varões longitudinais.

Na Fig. 4.17 estão ilustradas algumas zonas onde a cintagem deve ser aumentada. Esta
armadura reforçada deve ser estendida ainda a toda a altura dos nós das estruturas reticuladas.

h
l b,net l b,net d lb,net
2


d

ZONA DE MAIOR
lb,net
CINTAGEM
h

Fig. 4.17 – Zonas de ligação de pilares com vigas e lajes onde a cintagem deve ser
aumentada; zona de emenda de varões longitudinais

É de notar, referindo-nos à Fig. 4.17, que as emendas e interrupções da armadura longitudinal


devem de preferência ser localizadas a meia altura dos pilares (ver disposições relativas a
estruturas de ductibilidade melhorada – Art.º 144. do REBAP).

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 24


Série Estruturas Betão Armado

4.3 – Disposições construtivas em nós de pórticos

4.3.1 – Introdução

Fazemos referência nesta secção a algumas disposições especiais que devem ser tidas em
conta no traçado das armaduras em nós de pórticos. As dimensões dos nós devem ser tais que
a sua resistência e rigidez seja suficiente para suportar as tensões e deformações resultantes de
uma análise da estrutura como um todo, assim como as tensões e deformações locais na zona
de intersecção.

Qualquer mudança de direcção do eixo de uma estrutura provoca uma alteração na trajectória
dos esforços internos, o que modifica significantemente a distribuição de tensões em relação à
das peças lineares. A mudança de direcção dos esforços internos longitudinais provoca
tensões σy, na direcção radial, tensões essas de compressão, quando M for negativo, e de
tracção, quando M for positivo. A tensão na direcção ortogonal, σx , atinge um máximo junto
ao vértice interior do nó. As disposições construtivas deverão responder adequadamente aos
efeitos destas tensões Fig. 4.18.

Zona inerte
X

M
M

M
M
Distribuição de tensões Distribuição de deformações

Fig. 4.18 – Comportamento elástico de um nó sujeito a momento positivo.

Vamos de seguida analisar algumas disposições a ter em conta para os dois casos seguintes de
solicitação de nós de pórticos:

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 25


Série Estruturas Betão Armado

- M o m e n to s n e g a tiv o s M

( tra c ç ã o e x te rn a )

- M o m e n to s p o s itiv o s M

( tra c ç ã o in te rn a )

Fig. 4.19 – Momentos em nós de pórticos

4.3.2. Nós de pórticos sujeitos a momentos negativos

Neste caso as fibras exteriores estarão traccionadas (armadura de tracção exterior) e as fibras
interiores do nó estarão comprimidas. A Fig. 4.19, representa esquematicamente as forças e o
estado de tensão que se gera no nó. O detalhe de armadura é relativamente simples, havendo
que ter em devida consideração os dois pontos seguintes:

- o diâmetro de dobragem da armadura principal de tracção para evitar o esmagamento


ou o descascamento do betão devido às pressões localizadas na zona da curva.
- a necessidade de dispor armadura no nó que limite ou controle a fendilhação que se
pode gerar Fig.4.20.

fendilhação
As T
Fs=T=Asfy 2 T

d d T T

C=T

T 2 T
C=T fendilhação
Fs=T=Asfy

Fig. 4.20 – Forças que solicitam um nó sob momento negativo

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 26


Série Estruturas Betão Armado

O diâmetro de dobragem dos varões traccionados deve obedecer aos condicionamentos gerais
do nó c > 3φ → D = D − 5φ , ou aumentando a área de armadura, (D reduz-se na proporção
Aef / Aca1). das armaduras especificados no quadro X do Art.º 79.º do REBAP (D = 15φ a

20φ). Pode, eventualmente, conseguir-se um menor diâmetro de dobragem aumentando o


recobrimento lateral na zona

O diâmetro da dobragem deve ainda ser tal que não implique uma diminuição do braço do
momento resistente na zona do nó ver Fig. 4.21. Outro aspecto são as tensões de tracção
transversal desenvolvidas na zona do nó por efeito das pressões localizadas da dobragem de
varões.

r z M

r < z 0.8h
h D = 2r < 1.6h

Fig. 4.21 – Diâmetro de curvatura em função do braço do momento resistente.

Na Fig. 4.22 encontra-se detalhada a disposição de uma armadura para um nó sujeito a


momento negativo. As cintas transversais com pequeno espaçamento, associadas a estribos
rectangulares e varões para controle da fendilhação, fornecem um confinamento adequado do
nó e evitam fendas largas que originam o destacamento do recobrimento de betão.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 27


Série Estruturas Betão Armado

Varões e estribos para controle da fendilhação


Cintas transversais

V
M

Fig. 4.22 – Detalhe de armadura na vizinhança de um nó sujeito a momento negativo

Deve, em geral, evitar-se as emendas dos varões traccionados junto aos nós de pórticos. No
caso de percentagens de armadura moderadas (ρ≤0.5%) e pequenos diâmetros (ø<18) é
possível executar as emendas por sobreposição, por laços ou ganchos de acordo com o
indicado na Fig. 4.23. No interior dos ganchos ou laços, é conveniente dispor-se de 4 varões
transversais contra a fendilhação.

Fig. 4.23 – Exemplos de sobreposição da armadura de um nó;

No caso de pilares intermédios de pórticos de vários vãos, com momentos pequenos no topo
do pilar, é suficiente, em geral, amarrar a armadura vertical do pilar com troços rectos de

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 28


Série Estruturas Betão Armado

comprimento Lb,net Fig. 4.24. As tensões de compressão devidas à flexão da viga actuam
favoravelmente para a amarração.

Fig. 4.24 – Pilar intermédio de pórtico com pequeno momento.

Se o momento na cabeça do pilar for grande, a armadura de tracção do pilar deve ser dobrada
para dentro do banzo traccionado da viga e amarrada por sobreposição à armadura de tracção
da viga Fig. 4.25. Os diâmetros de dobragem devem ser analisados.

Fig. 4.25 – Pilar intermédio com momento elevado.

4.3.3. Nós de pórticos sujeitos a momentos positivos

A actuação de momentos de flexão positivos origina tensões de tracção no interior do nó,


causando problemas mais sérios de dimensionamento. Na Fig. 4.26 esquematiza-se o
funcionamento do nó com as forças geradas para uma solicitação vizinha da solicitação

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 29


Série Estruturas Betão Armado

última. Na diagonal do nó actua uma força de tracção de valor 2T , que tende a jogar fora o
canto; terá de ser prevista armadura que resista a esta tracção.

Fig. 4.26 – Fendilhação e impulso em vazio gerado num nó sujeito a momento positivo.

A fig. 4.27, ilustra a forma como as forças do banzo comprimido são conduzidas em função
do detalhe de armadura no nó. Na fig. 4.28, mostra-se a capacidade resistente obtida para
diversas disposições de armaduras em nós sujeitos a momentos positivos. A eficiência de cada
tipo de detalhe é representada pela relação entre o momento de rotura MRU atingido no
ensaio e o momento de rotura teórico MU na zona do nó, tendo ainda como variável a
percentagem de armadura.

a) b)

Fig. 4.27 – Detalhes para condução das forças em nós.

A fig. 4.29 ilustra os aspectos típicos das fendas no nó para as várias disposições de armadura.
Laços em forma de ganchos voltados para fora, envolvendo duplamente a zona comprimida,
apresentam o melhor resultado com momentos de rotura da ordem de 85 a 92% do teórico. No
entanto, a capacidade resistente à flexão só é atingida com a disposição de varões inclinados
adicionais no canto interno Fig.4.29-d. Os varões inclinados adicionais aumentam a

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 30


Série Estruturas Betão Armado

capacidade de absorver o esforço de tracção, conduzem a uma maior rigidez do canto e


diminuem a fendilhação. Na fig. 4.30 indica-se o dimensionamento da armadura adicional do
nó para o caso do traçado de armadura considerado mais favorável. Os diâmetros de
dobragem devem ser estudados, podendo ter-se em conta os comprimentos rectos de
amarração correspondentes a altura da secção. Em qualquer caso estes diâmetros de dobragem
do laço não devem ser menores que 10 φ.

MRU M U
140

120

100

80

60

40

20 M

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

Fig. 4.28 – Relação entre o momento resistente e o momento de rotura teórico (MRU/MU)
para diversas disposições de armadura e diversas percentagens de armadura

Fig. 4.29 – Aspecto da fendilhação em nós de pórticos sujeitos a momentos positivos para
diversos tipos de armadura

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 31


Série Estruturas Betão Armado

Fig. 4.30 – Indicações para dimensionamento de nós de pórticos sob momentos positivos

No caso de dimensões maiores para peças, h ≥ 50 cm, os estribos diagonais dispostos em


leque na direcção das tensões principais de tracção fig. 4.31, mostram-se eficientes
(comprimento de aderência suficiente) na absorção da tracção diagonal: FD = √2 Fs.

Fig. 4.31 – Armadura de nós de pórticos de dimensões médias a elevada.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 32


Série Estruturas Betão Armado

4.3.4. Ligação viga - pilar extremo contínuo

A ligação de uma viga a um pilar extremo contínuo provoca na zona de canto variações
bruscas nas direcções das tensões principais Fig. 4.32, sendo difícil encontrar uma disposição
de armaduras perfeitamente satisfatórias.

No entanto uma distribuição de armaduras pormenorizada e dimensionada como o indicado


na Fig. 4.33, é bastante aceitável. Se tal solução implicar uma grande concentração de
armadura, é preferível apertar a cintagem na viga e no pilar e dimensionar os varões
inclinados.

b)
M

c)
d)
Compressão Tração Tração

Tração Compressão
Compressão

Fig. 4.32 – Esforços e forças na ligação viga/pilar lateral

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 33


Série Estruturas Betão Armado

Zs = 0.5 Ze
Ze

D
hv

S (espaçamento reduzido dos estribos)

hp

Fig. 4.33 – Pormenorização do nó com a armadura diagonal necessária para controlo de


fissuração serviço.

No caso deste nó estar sujeito a momentos positivos importantes, devido a acções horizontais,
a pormenorização da armadura inferior da viga deve seguir o mesmo critério adoptado para a
armadura superior.

É também de referir que o esforço axial tem um efeito favorável, pois diminui, ou anula
mesmo, a tracção na armadura do pilar. Se para as acções de serviço for essa a situação, a
armadura disposta na diagonal, de controlo de fissuração, não se torna necessária.

4.4. Disposições especiais para estruturas de ductibilidade melhorada

4.4.1. Introdução

O REBAP incluí um capítulo específico para estes casos em que, através da garantia de uma
maior ductibilidade (capacidade de deformação plástica e absorção de energia), se obtém um
comportamento estrutural mais adequado sob acções sísmicas.

Segundo MODEL CODE FOR SEISMIC/CEB, no contexto da resposta de uma estrutura às


acções sísmicas, ductibilidade significa a capacidade de um elemento, ou de uma estrutura,

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 34


Série Estruturas Betão Armado

dissipar uma quantidade significativa de energia, através de uma resposta não linear para
ciclos de deformação de grande amplitude, sem uma redução substancial da resistência.

M M

l (curvatura ) l (curvatura )
R R

BOA DUCTILIDADE MÁ DUCTIBILIDADE

( os momentos mantêm-se ) ( os momentos diminuem )

Fig. 4.34 – Diagramas momento-curvatura para situações de boa e má ductilidade.

O objectivo de aumentar a ductibilidade consegue-se nomeadamente através de:

- aumento das deformações admissíveis na estrutura, sem que causem uma diminuição
significativa da capacidade resistente;

- aumento da capacidade de redistribuição de esforços;

- aumento da capacidade de dissipar energia e melhor resistir a ciclos alternados de


carga.

Como recomendações gerias podem-se apresentar as seguintes:

• Materiais:

- Betão: classe B25 ou superior;

- Aço: A235 ou A400.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 35


Série Estruturas Betão Armado

• Concepção estrutural:

- Estrutura regular sem grandes variações de rigidez de piso para piso;

- Estrutura porticada vigada (no caso de pavimentos fungiformes aligeirados maciçar


entre pilares);

- Em paredes as aberturas devem ser dispostas com regularidade.

• Critérios gerais:

- confinar convenientemente o betão;

- não utilizar percentagem de armaduras elevadas;

- adoptar armaduras de compressão;

- reduzir o nível de esforço axial;

- impedir problemas de encurvadura;

- impedir a rotura por esforço transverso;

- impedir roturas frágeis condicionadas pelo betão;

- evitar grandes variações de regidez dos elementos verticais, entre dois pisos
consecutivos;

- procurar que as roturas plásticas se formem preferencialmente nas vigas e não nos
pilares.

4.4.2. Condicionantes geométricas

As imposições à área do pilar, às suas dimensões em planta e à esbelteza são as seguintes:

Ac ≥ Nsd / 0.60fcd (área de betão)

lο
λ≥ ≤ 70 (esbelteza)
i

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 36


Série Estruturas Betão Armado

b ≥ 30cm (dimensão mínima)

Verifica-se que estas limitações são bastante mais severas que as correspondentes às
estruturas de ductibilidade normal, especialmente no que diz respeito à esbelteza.

4.4.3. Distribuição de armaduras longitudinais

As percentagens de armaduras longitudinais deverão respeitar os seguintes limites:

ρ ≥ 0.8% para A235;

ρ ≥ 0.6% para A400 e A500;

ρ ≤ 6% mesmo em zonas de sobreposição de varões.

Para que, no caso de actuação dum sismo de intensidade elevada, a plastificação se verifique
nas vigas, impõe-se que a soma dos momentos resistentes no pilar seja superior à soma dos
momentos resistentes das vigas.

As emendas ou interrupções dos varões longitudinais deve, de preferência, ser realizado a


meio dos pilares e nunca junto aos nós.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 37


Série Estruturas Betão Armado

MRd,P 1

B MRd,V1 MRd,V2

Acção Sísmica estática MRd,P 2


equivalente
MRd,P 1 + MRd,P 2 > MRd,V1+ MRd,V2

Nsd C

MRd,B

Vsd,B b2
C 10cm
l
6 Ø 8mm

l
emenda a meio do pilar

V Sd,A b2 - maior dimensão do pilar


b1+b2
M Rd,A

Fig. 4.35 – Distribuição de capacidades resistentes junto ao nó.

No que diz respeito à distribuição dos varões na secção, as limitações são as mesmas que para
estruturas de ductilidade normal.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 38


Série Estruturas Betão Armado

4.4.4. Dimensionamento e pormenorização das armaduras transversais

As armaduras de esforço transverso devem ser dimensionadas para valores correspondentes à


da actuação dos momentos resistentes nas extremidades do pilar, tomando-se como esforço
axial o correspondente à combinação de acções em que intervém o sismo.

Para garantir um maior grau de confinamento ao betão na zona dos nós, exige-se apertar aí o
espaçamento das cintas, de acordo com a figura 4.35.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 39


Série Estruturas Betão Armado

CAPITULO V

SÍNTESE COMPARATIVA DO REBAP, EC2, EC8 e MC90 PARA O


DIMENSIONAMENTO DE PILARES

5.1. Introdução

A determinação da capacidade resistente das secções de betões armado e, ou, pré-


esforçado, quando submetidas a flexão composta praticamente não sofreu alteração desde há
muitos anos.
De facto, das hipóteses adoptadas:
1) Conservação das secções planas (Bemoulli-Navier);
2) Secção de betão fendilhada à tracção (e consequentemente a inexistência de
tracção no betão);
3) Diagramas do comportamento do betão e aço até à rotura convencional;
apenas a última tem sofrido alguma evolução, sem que tal, na prática, se traduza por
substanciais diferenças nos valores obtidos.

É o caso também da introdução no EC2 de pequenas alterações, sem grande significado.


Na prática, as tabelas ou programas de cálculo que usavam os princípios adoptados no
REBAP, poderão continuar a ser utilizados sem qualquer alteração já que os valores são
genericamente idênticos. O que poderá é haver interesse em beneficiar de algumas pequenas
vantagens que o EC2 vem consagrar, adaptando aqueles programas por forma a incluir essas
vantagens.
Já no que diz respeito à encurvadura, a maior incerteza associada ao fenómeno faz com
que cada novo regulamento venha a alterar substancialmente os modos de proceder anteriores.
É esse o caso do EC2 em que o capítulo relativo a esta matéria é muito desenvolvido.
Justifica-se, portanto, que se lhe dedique uma atenção acrescida.
O EC2 consagra uma metodologia que se inspira claramente no Código Modelo MC90
do CEB.
A principal dificuldade continua a ser as estruturas de nós móveis para as quais já o
REBAP apresentava grandes lacunas que, infelizmente, o EC2 não veio preencher.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 1


Série Estruturas Betão Armado

Faz-se uma revisão da problemática da encurvadura, colocando em confronto a anterior


metodologia (REBAP) com a nova (EC2) e, como se disse, introduzindo um método de
verificação para as estruturas de nós móveis inspirado no MC90.
Em anexo são apresentados os quadros comparativos que, no caso das estruturas de nós
móveis, segue de perto o artigo citado e no restante são de fácil interpretação, já que referem
uma metodologia que não é radicalmente diferente da consagrada na anterior regulamentação.

5.2. Método simplificado de determinação dos efeitos de 2.ª ordem em estruturas


porticadas de betão armado, incluindo o efeito tridimensional

5.2.1 Resumo

(vou aqui)
Apresenta-se um método aproximado para a determinação dos efeitos de 2a ordem em
estruturas porticadas, o qual conduz à determinação de coeficientes de ampliação a afectar
uma acção horizontal que, de acordo com o Eurocódigo 2, deve ser incluída na análise: a que
resulta de se admitir uma inclinação parasita do edifício. Estes coeficientes podem ser
considerados como coeficientes adicionais de segurança a afectar as correspondentes
combinações de acções.
Este método, proposto para estruturas planas, é depois alargado a estruturas
tridimensionais de modo a traduzir a possibilidade de encurvadura por torção global do
edifício.
A importância deste efeito é discutida através de um exemplo concreto.

l.2 Introdução
Desde a entrada em vigor do REBAP[1] e mesmo após a recente introdução do
EUROCODIGO 2 (EC2) [2], a determinação dos esforços a considerar em estruturas de nós
móveis para atender à verificação da segurança em relação à encurvadura, tem constituído um
problema de difícil e insatisfatória solução na prática corrente do projecto de estruturas.
Por um lado, o regulamento português propõe uma metodologia aparentemente
simplificada mas que levanta dúvidas de interpretação e conduz, em grande número de
ocasiões, a resultados absurdos. Por outro lado, o EC2, mais
exigente, veda mesmo a adopção daquelas metodologias que não se baseiem na quantificação

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 2


Série Estruturas Betão Armado

efectiva dos efeitos de segunda ordem, o que implica que se disponibilizem ao projectista
corrente meios de o fazer com facilidade e rigor suficiente. É neste âmbito que se insere a
presente comunicação em que se expõe um método inspirado em regras práticas propostas no
Model-Code de 1990 do CEB (MC90) [3], alargando-se-lhe o campo de aplicação,
designadamente ao caso das estruturas espaciais em que o efeito de torção global pode ser
determinante.

1.3 Inclinação Parasita

Duas inovações surgem na regulamentação europeia recente, os referidos EC2 e MC90,


relacionadas com a chamada excentricidade acidental que visava agravar os momentos
flectores nos pilares para atender a eventuais imprecisões no posicionamento da resultante das
compressões, devidas designadamente a defeitos de construção que correspondessem a
desvios do eixo das peças.
A primeira inovação, comum a ambos os documentos, consiste na substituição da
excentricidade acidental, calculada separadamente para cada elemento comprimido, por uma
inclinação parasita que é suposto existir em qualquer edifício.
A segunda novidade, que só consta do EC2, consiste no contexto em que essa
inclinação é introduzida. De acordo com esta norma, em todo o edifício esta inclinação deve
ser considerada (no sentido mais desfavorável) independentemente de haver ou não que
assegurar capacidade especial para atender à encurvadura. Por outras palavras, a inclinação
parasita é uma solicitação associada a cada uma das outras a considerar no cálculo e não um
efeito associado à encurvadura como surgia no REBAP (através da excentricidade acidental)
ou no MC90.
Ao contrário da generalidade do documento, neste ponto o EC2 parece mais evoluído
do que o MC90, ao exigir que todas as estruturas tenham uma capacidade mínima para resistir
a forças horizontais, independentemente da sua sensibilidade à encurvadura.
E, portanto, proposta a introdução de uma inclinação, v, de todo o edifício que simule a
existência de imperfeições geométricas na forma da estrutura como também eventuais erros
no posicionamento da resultante das acções aplicadas aos elementos verticais. Esta inclinação
é definida no EC2 como:

1
ν≤ (2.1)

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 3


Série Estruturas Betão Armado

100 h

onde h é a altura total do edifício, sendo v, no máximo * tomado com os valores:


ν ≤ 1 200 se devem ser considerados efeitos de 2a ordem;
ν ≤ 1 400 se não é necessário considerar efeitos de 2a ordem.
A inclinação pode ainda ser reduzida em alguns casos referidos no EC2.
Para efeitos práticos a inclinação ν, conforme a figura, é convertida em forças
horizontais equivalentes, Hoi, calculadas ao nível de cada piso, i, em função da acção vertical
de cálculo nesse piso, NSdi (ver figura) [2,3]:
Hoi = ν. Nsdi ( 2.2 )
Fig 1

Nsdi

Hoi

Como a inclinação parasita deve considerar-se sempre presente e as correspondentes


forças horizontais são determinadas proporcionalmente às acções verticais, a cada
combinação de acções deve associar-se a correspondente parcela, o que na prática não levanta
qualquer dificuldade se se calcular a estrutura para uma nova acção independente, constituída
por apenas forças horizontais proporcionais à acção vertical (uma por cada diferente
distribuição em altura de forças verticais) para em seguida a fazer intervir nas combinações
através de um coeficiente apropriado.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 4


Série Estruturas Betão Armado

* Deve referir-se que no EC2 se diz "no mínimo" (as desigualdades não constam) o que é certamente um erro. Disposições análogas
se encontram no MC90, MC78 e mesmo no Eurocódigo 3, cuja orientação aqui se seguiu.

1.4 Método do Factor de ampliação das forças horizontais

O método que se expõe em seguida é um método aproximado de determinação dos


efeitos de 2a ordem em estruturas porticadas e é uma adaptação[4], que se supõe vantajosa, e
alargamento do âmbito de uma metodologia proposta em comentário no MC90. ( Deve
referir--se que, para as chamadas estruturas de nós móveis, o EC2 não propõe qualquer
método que não seja a análise rigorosa em regime não linear e, mesmo esta, em termos tão
gerais que a sua aplicação não pode deixar de levantar inúmeras dúvidas.)

1
a2 = ×a1 = β × a1 ( 3. 4 )
1- ( a1 a0 )

Isto é, para provocar na base do pilar um momento de valor Nsd (ao + az) deve
aplicar-se uma força horizontal que provoque uma flecha β vezes superior a a1, ou seja,
uma força β vezes superior à força inicial Ho.
Assim, para atender ao efeito total da força Nsd , quer devidos à inclinação
parasita, quer à própria deformação, deve ser aplicada ao pilar, considerado vertical,
uma força horizontal de valor
β Ho = β ν Nsd (3.5)

No caso de uma estrutura porticada, uma vez que a acção vertical se distribui em altura
(ou de um único pilar nestas condições), a importância de cada uma das forças verticais na
criação de momentos de 2a ordem decresce à medida que se caminha para a base aonde as
flechas são muito pequenas. No entanto, se se considerar, o que é do lado da segurança, que a
deformada é rectilínea entre o topo com flecha máxima e a base, os momentos de 2a ordem
continuam a poder ser gerados por forças horizontais equivalentes proporcionais às que
simulam a inclinação parasita.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 5


Série Estruturas Betão Armado

Mantém-se assim de forma aproximada a proporcionalidade entre o efeito da inclinação


parasita e o efeito desta adicionado do efeito de 2a ordem o que valida a aplicação do factor p
aos pórticos.
Para atender a que o cálculo das estruturas de betão armado se faz em estado
limite último, o próprio MC90 propõe que se use um módulo de elasticidade para o
betão de valor igual a metade daquele que é considerado na análise da estrutura. Tal
significa que a flecha elástica provocada pela força horizontal H será dupla daquela, ai,
que se obteve com o módulo de elasticidade convencional. O factor β toma a forma final

1
onde: β = ( 3.6 )
1- ( 2 a1 a0 )

a1 - flecha elástica do topo do pilar (edifício) correspondente à força horizontal


equivalente à inclinação parasita e calculada com ó módulo de elasticidade
comum aos restantes cálculos;
ao = ν . h é a flecha inicial parasita;
ν - inclinação parasita;
h - altura total do pilar (edifício).

O factor P é o factor de ampliação das forças horizontais e pode obter-se com toda
a facilidade através da determinação da flecha elástica da estrutura para a força inicial
Ho.
Mas o factor β é simultâneamente o factor de ampliação dos momentos flectores, isto é,
se o momento de 1a ordem era inicialmente

M1 = NSd ao, = Ho h ( 3.7 )

O momento final total é

M2 = β Ho h = βM1 ( 3.8 )

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 6


Série Estruturas Betão Armado

Como o critério mais rigoroso de classificação de estruturas de nós fixos e de nós


móveis reside precisamente na incidência dos momentos de 2a ordem relativamente aos de 1a
ordem, devendo ser inferior a 10% o aumento para que uma estrutura seja considerada
de nós fixos, tem-se que o será se

M2 <= 1.1 ( 3.9)

ou seja
β < = 1.1 => Estrutura de nós Fixos
β > 1.1 => Estrutura de nós móveis

. Deste modo, organizada a análise de modo a calcular individualmente a estrutura para


o efeito da inclinação parasita, a flecha máxima encontrada nesta solicitação, ai (valor de
cálculo), é o único valor necessário à determinação do factor de ampliação, através da
expressão (3.6) que por sua vez permite classificar a estrutura como de nós fixos ou de nós
móveis e, em seguida, actuar como um coeficiente de combinação adicional a afectar a acção
correspondente à inclinação parasita.
Os resultados da combinação assim efectuada incluem já os efeitos de 2ª ordem a
considerar.

1.5 Análise global de uma estrutura

Considere-se uma estrutura cuja planta se representa esquematicamente (fig. 4) na qual


se considera um conjunto de pórticos resistentes paralelos.
Considere-se ainda uma inclinação parasita do edifício, caracterizada por uma
translacção a0 do topo do edifício relativamente à base.
Representando por ∑Nsdi = Nnd a soma das acções verticais dos vários pórticos
(de acordo com a sua distribuição em altura), a inclinação parasita é equivalente a uma
força total horizontal
Ho = ∑Hoi = ∑Nsdi ao / htot (4.1)
em que htot é a altura total do edifício.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 7


Série Estruturas Betão Armado

d
a0 Fi

K G
Fi

Pórtico i
H0

Fig. 4
Aplicando esta acção a uma associação dos pórticos em comboio, é possível determinar
a reacção Fi, absorvida por cada um deles.
Como a posição em planta da resultante das forças horizontais Ho (centro de massa G)
não coincide com a posição da resultante das reacções horizontais Fi (centro de rigidez K),
gera-se um momento de valor M1 = Ho . d , que tende a torcer o edifício.

O1
ai a1

M1
K G

di
Pórtico i
Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 8
Série Estruturas Betão Armado

Fig. 5

Assim, o efeito das forças horizontais equivalentes a uma inclinação parasita,


inicialmente admitida como de translacção apenas, resulta numa deformação elástica,
caracterizada ao nível do último piso, por uma translacção de valor a1 por uma rotação φ1. A
translacção pode obter-se directamente do cálculo da referida associação em comboio dos
pórticos resistentes; o equilíbrio global da estrutura permite, por outro lado, deduzir ser a
rotação φ1 dada por:

M1 . a 1
φ= (4.2)
ΣF i . d 2

Do mesmo modo, a deformação total do edifício, incluindo o efeito de segunda ordem,


caracteriza-se por uma translacção e uma rotação, respectivamente a2 e φ2, que, tal como no
caso plano, vão admitir-se na mesma relação com os momentos que as geram, que aquela que
existia entre a acção inicial e as translacção e rotação elásticas. Assim, pode escrever-se:

Nsd ( ao + a2 ) a2
= ( 4.3 )
Nsd ( ao ) a1

M2 φ2
= (4.4)
M1 φ1

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 9


Série Estruturas Betão Armado

Por outro lado, a translacção total final do pórtico i é


dada por
a 2i = ao + a2 + φ2 • di (4.5)
e a força horizontal equivalente é:
H2i = Nsdi • ai / h (4.6)
Os momentos de primeira e de segunda ordem das forças horizontais equivalentes
relativamente ao centro de rigidez são então:

Mi = Σ Hi di = Σ Nsdi • ao di / h = N . d . ao / h (4.7)
M2 = ΣH2i di = Σ Nsdi • (ao . di + a2 . di + φ2 di2) / h
= (ao + a2)/h . N . d + φ2/h . ΣNsdi • di2 (4.8)

Substituindo estas expressões em (4.3) e (4.4) obtêm-se a deformada de


segunda ordem ao nível do topo do edifício:

ao + dφ2
a2 = a1 = βa . a1 (4.9)
ao – a1

ao
φ2 = . φ1 = βφ . φ1 (4.10)
2

∑ Nsdi . di
ao – a1 - ( 1 – a1 / ao ) −dφ1 . a1 ao
Nd

em que βa e βφ são os coeficientes de ampliação da translacção e da rotação elásticas,


respectivamente, devidas ao efeito tridimensional de 2ª. ordem.
Nestas expressões, para atender à redução de rigidez do betão em estado limite último
deverão tomar-se ai e φo com valor duplo do que se encontra em regime elástico.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 10


Série Estruturas Betão Armado

Podem finalmente deduzir-se os coeficientes de ampliação individuais para cada um


dos pórticos:

ao + a2 + φ2 di
β1 = (4.11)
ao
A força final a aplicar ao pórtico i, que contém a influência simultânea da inclinação
parasita e dos efeitos de 2a ordem é finalmente dada por:

Hi = βi . Fi (4.12)

onde Fi é a força horizontal de primeira ordem absorvida pelo pelo pórtico i , ou seja a
sua reacção horizontal total após o equilíbrio espacial dos pórticos inicialmente colocados em
comboio.
De acordo com a recomendação do MC90[3] para o caso plano, quando se encontrem
ampliações superiores a 25%, deve considerar-se estar em presença de uma estrutura
demasiado sensível ao efeito de 2a ordem que exige uma análise mais rigorosa.
Assim, também aqui, enquanto não há suficientes estudos de sensibilidade, se
recomenda a aplicação deste método para valores de βa e βφ inferiores a 1.25 .
Refira-se por último que no caso de a acção conter outras forças horizontais que não a
que resulta da inclinação parasita, as expressões deduzidas já não são válidas, devendo antes
ser deduzidas outras que contenham essa influência, seguindo passos idênticos aos aqui
expostos. No entanto, do ponto de vista da encurvadura são sempre as situações de acção
vertical as mais gravosas.
1.6 Exemplo de aplicação

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 11


Série Estruturas Betão Armado

Estuda-se na direcção x o edifício de um andar e pé direito 4.5m cuja planta e


dimensões se representam, submetido a uma acção vertical característica de l0kN/m2.
A inclinação parasita é de:

5.00 5.00 5.00 5.00

vigas - 0.25x .60


6.00

pilares - 0.25x0.25
3.00

parede - 0.15x3.00

6.00

ν = l / 212

a que corresponde uma acção equivalente horizontal total de :

Ho sd = 21.2 KN

Associados em combóio e submetidos a esta força, obtêm-se as reacções horizontais


seguintes:

F2 = 20.14 KN F1 = F3 = F4 = F5 = 0.266 KN

E uma flecha elástica do topo de:

a1 = = 0.0000837 m

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 12


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O efeito tridimensional, ainda em regime elástico, traduz-se por uma rotação elástica,
φ1, e por uma desigual distribuição das forças horizontais, ou seja;

φ1 = 0.000171 rad
F11 = - 1.17 KN F12 = 13.71 KN F13 = 1.53 KN
F14 = 2.89 KN F15 = 4.24 KN

Utilizando as expressões acabadas de deduzir encontra-se sucessivamente:

βa = 1.051 βφ = 1.123
a2 = 0.00018 φ2 = 0.00019
β1 = 0.96035 β2 = 1.00546 β3 = 1.05057
β4 = 1.09568 β5 = 1.14079
H1 = -1.126 KN H2 = 13.79 KN H3 = 1.61 KN
H4 = 3.16 KN H5 = 4.84 KN

forças finais a considerar aplicadas a cada um dos pórticos individuais para ter em conta
o efeito de 2ª. ordem.

É bem visível neste exemplo a diferença entre o comportamento tridimensional e aquele


que corresponde a uma análise só numa direcção. Neste último caso praticamente toda a acção
horizontal é absorvida pela parede, quando, mesmo em regime elástico, se verifica que os
pórticos mais afastados são muito solicitados pela acção devida à inclinação parasita.
Por outro lado, o efeito de 2a ordem traduz-se por acréscimos de 10% e 14% nesta acção
para os pórticos 4 e 5, o que leva a classificá-los como de nós móveis enquanto os restantes
podiam ser classificados como de nós fixos. Note-se que o pórtico l sofre mesmo uma redução
de acção devido à sua posição relativamente ao centro de rigidez.
O mesmo edifício calculado através de um programa tridimensional que inclui efeitos
de 2a ordem, descrito na referência [5], conduziu a valores

a2= 0.000173 φ2 = 0.000145

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 13


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valores ligeiramente inferiores aos que a análise simplificada forneceu, o que se deve
essencialmente ao funcionamento dos pórticos transversais que a rotação de conjunto
mobiliza.
Os dois gráficos seguintes representam a variação dos coeficientes de ampliação βi dos
cinco pórticos quando se fez variar a acção vertical, no caso do edifício anterior com 4.5m de
altura e no caso, muito mais sensível de essa altura ser 6.0m. A linha horizontal corresponde
ao valor 1.1, limite correspondente à classificação entre nós fixos e nós móveis.

Em ambos os casos o efeito de torção é muito importante, revelando-se por grandes


agravamentos nos pórticos mais afastados do centro de rigidez. Estes agravamentos crescem,
quer com a altura do edifício, quer com o aumento da acção vertical.

1.7 Conclusão

O método exposto, primeiro para estruturas planas e depois alargado ao caso


tridimensional, permite de modo muito simples a determinação dos efeitos de 2* ordem a
considerar na verificação da segurança em relação ao estado limite último de encurvadura.
Essa simplicidade resulta de recorrer apenas a cálculos elásticos e planos que em
principio já teriam de ser efectuados, e também porque como resultado se encontram
coeficientes de ampliação a afectar algumas daquelas solicitações, que portanto podem ser
tomados como coeficientes parciais de segurança a introduzir adicionalmente nessas
solicitações.

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 14


Série Estruturas Betão Armado

O exemplo anterior mostra bem como uma análise separada em duas direcções se traduz
por um completo ignorar de um efeito que pode atingir a maior relevância. A análise sísmica,
com que os fenómenos de instabilidade têm evidente semelhança, não deixa por outro lado de
considerar este funcionamento tridimensional das estruturas porticadas.
O método simplificado exposto, seguindo uma metodologia também usada na análise
das acções do vento e dos sismos, resolve o problema da acção horizontal equivalente ao
efeito de 2ª. ordem com idêntica simplicidade.

2. SINTESE COMPARATIVA DO REBAP, EC2 e EC8 PARA O


DIMENSIONAMENTO DE PILARES

2.l - Introdução

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 15


Série Estruturas Betão Armado

A introdução dos Eurocódigos na prática corrente do dimensionamento de estruturas


parece ser uma medida próxima, o que irá originar algumas mudanças significativas na prática
corrente do projecto.

Para as estruturas de betão armado tem particular importância o Eurocódigo l (EC1) -


Base para a Concepção e Acção em Estruturas, o Eurocódigo 2 (EC2) - Projecto de Estruturas
de Betão - Parte l - Regras Gerais e Regras para Edifícios e o Eurocódigo 8 (EC8) - Parte l:
Projecto de Estruturas em Regiões Sísmicas.

O EC1 e o EC2 não introduzem grandes alterações aos regulamentos que estão em
vigor; RSA - Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes e o
REBAP - Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado.

O EC8 introduz diferenças significativas, caso se deseja tirar partido das classes de
ductilidades, já que no caso geral, usando a ductilidade baixa, o seu articulado é muito
semelhante ao do EC2.

No caso de se querer tirar partido das classes de ductilidade, aí aparecem


diferenças muito significativas.

Apesar de tudo é de salientar que no dimensionamento de estruturas em regiões


sísmicas deverão ser respeitadas regras de pormenorização de armaduras, mesmo no
caso de se usar ductilidade baixa, para que essas estruturas desempenhem
convenientemente as funções para que foram concebidas.

A finalidade dessas disposições é conferir ductilidade à estrutura dando-lhe


capacidade para dissipar energia permitindo assim tirar maior partido do seu
comportamento não linear nomeadamente explorar a redistribuição de esforços entre os
diversos elementos.

2.2 – Classes de ductilidade

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 16


Série Estruturas Betão Armado

O REBAP no seu articulado prevê a existência de duas classes de ductilidade: normal e


melhorada. Para distinguir a estrutura de ductilidade melhorada da normal, segundo o
REBAP, devem ser cumpridas as disposições construtivas de projecto enunciadas no capítulo
XII e que são complementares das enunciadas nos capítulos X e XI.
O EC8 prevê três classes de ductilidade:
- Classe de ductilidade alta (DCH)
- Classe de ductilidade média (DCM)
- Classe de ductilidade baixa (DCL)
a distinção entre elas, obedece essencialmente a diferentes disposições construtivas
e de projecto que são distintas entre as diversas classes.

O que se pretende com estas classes de ductilidade é possibilitar aos projectistas


dimensionar para forças sísmicas menores à custa de uma melhor pormenorização das
armaduras e de uma melhor definição do comportamento estrutural do edifício,
impondo uma sequência de rotura.

O conceito de zona crítica, que já está no REBAP para as estruturas com


ductilidade melhorada, aplica-se no EC8 a todas as classes de ductilidade. Este aspecto é
bastante importante, já que todos os edifícios, nessas zonas terão de respeitar uma série
de regras de pormenorização, que lhe irão conferir um aumento de ductilidade e um
melhor comportamento do betão, originando nas estruturas uma ductilidade global
maior e evitando-se roturas prematuras. Este facto, roturas prematuras, são evitadas no
EC8, já que se privilegia a formação de rótulas nas vigas em vez de se formarem nos
pilares e a rotura por flexão em detrimento da rotura por corte, já que esta é uma
rotura frágil. A formação de rótulas plásticas (que se formam na zona dos nós, nas
denominadas zonas críticas) nas vigas implica, normalmente, a formação de um
mecanismo local que não envolve colapso do edifício (mecanismo de viga) enquanto a
formação de rótulas nos pilares, sendo também um mecanismo local (mecanismo do
andar), envolve normalmente a rotura global do edifício. Este tipo de mecanismo que
infelizmente é frequente, conduz normalmente ao desaparecimento de um andar do
edifício, com todas as consequências que daí advêm.

Este tipo de consideração, formação de rotulas plásticas nas vigas, conhecido como
"capacity design", obriga a verificar que o momento resistente dos pilares é sempre

Pilares / Disposições Construtivas Cap. IV / 17


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superior ao momento resistente das vigas que confluem no mesmo nó e conduz na maior
parte das situações a um acréscimo significativo dos valores dos esforços obtidos na
análise elástica para os pilares.

Por outro lado é necessário ter em conta a sobreresistência que poderão aparecer
em alguns elementos por introdução de armaduras superiores às armaduras previstas
no cálculo, nomeadamente em peças em que a armadura mínima seja necessária.

Estas sobreresistências podem alterar significativamente a distribuição de resistências


na estrutura conduzindo a mecanismos não desejáveis.

Uma particularidade das classes de ductilidade é o facto de as percentagens de


armaduras descerem e apertar a diferença entre armaduras mínimas e máximas à
medida que se explora a ductilidade das estruturas. Assim, para estruturas de alta
ductilidade as percentagens máximas de armaduras são menores do que para as
estruturas de baixa ductilidade. Isto compreende-se já que a ductilidade de uma peça de
betão armado depende essencialmente do aço, associado sempre a um betão bem
confinado.

O dimensionamento das armaduras transversais nos pilares é uma das maiores


alterações que aparecem no EC8 relativamente à regulamentação nacional (RSA, REBAP).
Este dimensionamento nas zonas críticas é bastante complexo, exigindo uma série de cálculos
e pormenorização que são bastantes trabalhosas, mesmo para as estruturas de baixa
ductilidade.

3 - Quadros Comparativos

Apresentam-se nos quadros das páginas seguintes a comparação em termos de


condicionantes geométricas, determinação dos esforços de cálculo, disposições construtivas
de armaduras longitudinais e transversais para pilares de edifícios correntes.

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Estruturas Betão Armado

BIBLIOGRAFIA

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Pormenorização de estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado. Lisboa, Instituto Superior
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Comite Euro–Internacional du Beton, CEB – FIP MODEL CODE 1990

Costa, Amaro e, Azeredo, Manuel (1986) Curso Sobre Nova Regulamentação de estruturas.
Porto, Faculdade de Engenharia.

Costa, Anibal G. (1999) Estruturas de Edifícios. Porto; Faculdade de Engenharia.

Figueiras, Joaquim A. (1989). Estruturas de Betão II. Porto, Faculdade de Engenharia

Leonhardt, Fritz e Mönning, Eduard (1977) ) Construções de concreto, Volumes I; II; e III.
Rio de Janeiro, Livraria Interciência.

Lima, J. D’Arga (1997). Armaduras: Caracterização, Fabrico, Colocação e Pormenorização.


Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

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Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado (Decreto-Lei N.º 349/C83, de


30 de Julho de 1983). Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda.B

Índices e Bibliografia IX

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