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DEDICATÓRIA

À memória de Karl Raimund Popper (1902-1994),


Filósofo liberal austríaco da Epistemologia Científica!

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AGRADECIMENTOS

A Karl R. Popper, por definir este brilhante critério de


demarcação entre o que é científico e o que não o é:
O cientista não é aquele que procura provar que uma
hipótese seja verdadeira. Pelo contrário, tenta provar que
ela seja falsa. Pois, só será, realmente, verdadeira, depois
que todas as objeções tiverem sido esgotadas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 12

1. O NÃO-IMPOSSÍVEL ............................................................................... 16

2. GIGÁLITOS NÃO-ANTRÓPICOS ............................................................... 20

3. DO FOGO AO GELO ................................................................................ 24

4. ABUSOS DOS ACADÊMICOS DE OUTRAS ÁREAS ..................................... 27

5. POSSÍVEIS MEGÁLITOS .......................................................................... 29

6. O ET BILÚ ESTÁ DE VOLTA! ...................................................................... 42

7. SENSACIONALISMO EM CALÇOENE ....................................................... 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 50

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PREFÁCIO

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INTRODUÇÃO

Ao contrário dos autores pseudocientíficos e dos programas


sensacionalistas, pretende-se, com este livro, apresentar um estudo sobre
os megálitos brasileiros, sem basear as explicações, sobre eles, nos seguintes
tópicos abaixo relacionados:
Sobreviventes de civilizações avançadíssimas, que sucumbiram a algum
cataclisma ou desapareceram inexplicavelmente, tais como Atlântida,
Hiperbórea, Lemúria, Mu, Julfar, Shangri-Lá, Shambhala, El Dorado, Aztlan,
a cidade Z, Paititi, Ratanabá, Akakor, cidade do ano 3.000 dC, etc ;
Alienígenas do passado, greys, reptilianos, pleiadeanos, ET Bilú, anunnakis
de Nibiru, deuses-astronautas de Von Däniken, etc;
Tecnologias tão ou mais avançadas do que a nossa, como lasers, phasers,
trombetas tibetanas que ressonam e fazem rochas levitar, etc;
Sobrehumanos, tais como gigantes, mutantes com superpoderes
telecinéticos, iluminados que superutilizam a energia cósmica ou telúrica,
monges que levitam e fazem coisas levitarem só com o poder da mente, etc;
Civilizações estrangeiras, fenícios, sumérios, minóicos, romanos, helênicos,
egípcios, incas, vikings, babilônios, hebreus, selêucidas, povos do mar, etc;
E qualquer outra coisa que eu tenha esquecido de mencionar ou que seja
novidade pra mim, no sentido de divergir de técnicas plausíveis utilizadas
por povos de culturas primitivas.
Não posso garantir que estarei sempre correto quanto às minha
suposições de serem megálitos os objetos deste estudo e nem seria esta a
minha pretensão. O propósito deste livro é ajudar a abrir a mente das
pessoas, para considerar novas hipóteses sem preconceitos, mostrando que,
às vezes, o que parece improvável, não plausível, ao contrário do que
pensam muitos, é tão possível, que até já pode ter acontecido antes, em
algum outro lugar.

A você, boa leitura!

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MEGALITOLOGIA BRASILEIRA
SEM MISTIFICAÇÕES

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1. O NÃO-IMPOSSÍVEL

Começarei pela famosa Pedra da Gávea, que tem sido objeto de


especulações desde há muito tempo. Na totalidade, ela lembra muito um
querubim mesopotâmico. E alguns chegaram a acreditar que houvesse
inscrições fenícias no topo da cabeça. Porém, ninguém achou evidências de
que tenha sido esculpido. Mas, o que interessa, neste livro, é responder a
seguinte questão: Algo, semelhante à face da Pedra da Gávea (figura 1),
poderia ter sido construído por um povo de cultura primitiva?

Figura 1

Sim, poderia. Não seria tão difícil fazê-lo. Porém, seria, com certeza,
demorado para concluir a obra. Você deve saber que, hoje em dia, um
montão de gente, os escaladores, atravessam, de um lado para outro, aquela
região que corresponde aos olhos, apenas por diversão e atletismo. Então,
poderia-se supor que, no início, alguém, que tivesse a habilidade de escalar,
pudesse começar a obra, instalando andaimes de bambu, como os orientais,
ainda hoje, fazem.

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Durante a fase inicial, o trabalho poderia ser pesado e moroso, uma
porção de gente quebrando a rocha com instrumentos rústicos e precários,
feitos com rocha mais dura – embora, não seja tão descartável a hipótese
do uso de metais fundidos. Mas, assim que houvesse um pouco de espaço,
já se poderia aplicar uma técnica ancestral, chamada de feuersetzen
(germânico) ou fire-setting (britânico), que vou traduzir como “assentar
fogaréu” (figura 2).

O fogo foi bastante empregado, durante a antigüidade, para


acelerar obras de mineração. Como nossos ancestrais não tinham aquele tal
phaser, do filme de ficção Jornada nas Estrelas, eles precisavam de algo que
produzisse um efeito semelhante e o fogaréu serviu bem para isso. Acho,
inclusive, bem mais viável do que domesticar e condicionar preguiças
gigantes, da megafauna pleistocênica, para escavar túneis.

Figura 2

Outra característica que considero propícia para facilitar o trabalho


é que a pedra já possuía a forma do contorno de uma cabeça, então, tudo
que se precisaria fazer seria acrescentar alguns traços, para fazê-la parecer
mais humana. E, se você parar pra pensar bem, a Pedra da Gávea não seria
uma obra tão colossal. São só uma sobrancelha, dois olhos e um nariz, que,

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vistos sob determinado ângulo, produzem o efeito pareidólico de um rosto
humano:

Se a Pedra da Gávea for apenas um acidente físico-geológico da


natureza, sem participação humana alguma, deve, então, entrar na
categoria de classificação que chamo de Gigálito Não-Antrópico: grande
demais para ser um megálito, atrativo demais para ser considerado apenas
uma rocha. Já havia mencionado, no meu livro anterior, que alguns
megálitos não são construídos; podem ser, apenas, reconhecidos e adotados
por uma cultura primitiva, como algo sagrado. Ou podem ser reconhecidos
e adotados por uma civilização, como a nossa, para servirem de exóticos
objetos de admiração turística.

Ela é tão cultural e megalítica que perturbou a nobreza e o clero. O


rei Dom João VI tinha medo dessas coisas e, influenciado por um padre,
chamado Manuel Gomes Souto, conseguiu, junto ao Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, uma autorização para destruir a Pedra da Cabeça
(figura 3), localizada na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ainda não satisfeito, o
reverendo Souto tentou, mais tarde, destruir, também, a Pedra da Gávea,
mas não teve força política para tal. Segundo ele, as cabeças de pedra eram
símbolos pagãos, que afrontavam os valores cristãos.

Realmente, não saberia dizer se a Pedra da Gávea foi construída ou


se é resultado de um processo aleatório natural. Talvez, nem a Geologia
possa provar uma coisa ou outra. Mais importa que este monumento lítico
é nosso e é fascinante, fantástico!

Quanto à Pedra da Cabeça, ou Pedra Santa, só posso lamentar que


nunca mais alguém irá poder conhecê-la e se surpreender com ela.

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Figura 3 – Obra de Henry Chamberlain, 1819.

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2. GIGÁLITOS NÃO-ANTRÓPICOS

Entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, há três


candidatos ótimos a pertencer a esta categoria. Vou começar pelos dois
primeiros, dos quais restam poucas dúvidas: A Íbis ou Fênix do Pão de
Açúcar, da cidade do Rio de Janeiro - RJ, e a Pedra da Ema, do distrito de
Burarama, no município de Cachoeiro de Itapemirim - ES (figura 4).

Figura 4

Algo assim, exigiria demasiado esforço humano e material. Seria


pagar caro por algo que, eventualmente, a própria natureza geológica
consegue produzir por acidente. Seria mais oportuno crer que elas teriam
sido adotadas como gigálitos do que imaginar que um povo nativo, de
alguma cultura pré-histórica, se dispusesse a construí-los.
E, por falar em nativos, lembrei de uma crítica que gostaria de fazer
a esses que nomeiam as pedras. Neste caso, o que tenho percebido é um
excesso de vício de linguagem, chamado estrangeirismo. A Íbis e o Benu
(Fênix helênica) são aves egípcias! Por que não se adotar os nomes de aves
brasileiras, que são muito mais parecidas com aquelas figuras pareidólicas?

Se eu, realmente, achasse a pareidolia, no Pão de Açúcar, parecida


com a imagem da Íbis egípcia, sugeriria chamá-la de Tapirucu, que, também,
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é uma ave que pertence ao gênero Threskiornidae. O Tapirucu, às vezes,
me assusta, porque ele é a cara do deus egípcio Toth. Contudo, não é este
o caso...

Devido à forma triangular da cabeça, ela se assemelha muito mais


ao Biguá carioca (figura 5).

Figura 5

Agora, vamos analisar a outra gafe cultural, que chamam de Pedra


da Ema. É como se um bisonho chamasse um cisne de pato. Se a pessoa
que chamou aquela pedra de Ema soubesse como os pré-históricos
desenhavam itacoatiaras de emas, nos paredões rochosos, não teria feito
aquilo.

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Biguá, do tupi-guarani, se refere a quase todo tipo de ave bicuda que
caça na água. É por isso que esta pedra deveria se chamar de Biguatinga.
A diferença entre o Biguá e o Biguatinga (figura 6) é que este último
apresenta uma cabeça chata e bicuda pelicaniforme. O sufixo tinga significa
branco, mas nem toda ave desta espécie é branca.

Figura 6

Pareidolias deste tipo, também, existem em outros países, como é


o caso das Pedras das Águias (figura 7), dos EUA.

Figura 7

E, por último, apresento-lhe a Pedra do Cão Sentado (figura 8),


localizado próximo à cidade de Nova Frigurgo - RJ, mas que, também,
poderia ser entendido como um jaguar sentado, junto a outra pareidolia, de
um crânio humano. Pois não se sabe, ainda, se houve cães domésticos na
nossa pré-história sulamericana. O que se sabe, com certeza, é que havia
lobos e felinos selvagens, inclusive o Tigre-de-dentes-de-sabre.

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Figura 8

Estou dividido entre as duas hipóteses, a antrópica e a não-


antrópica, sobre esta pedra. Não valeria mais a pena fazer um monumento
menor e bem definido, como uma escultura clássica ou realista? Toda uma
enorme carga de trabalho, com riscos de vida, valeriam esta pareidolia
paleolítica? Penso que não. Mas, as considerações sobre custos e
benefícios variam de pessoa para pessoa, de acordo com a razoabilidade ou
com a megalomania de cada um.

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3. DO FOGO AO GELO

Acredito que os pré-históricos não tenham usado apenas o fogo e


ferramentas, com material mais duro do que a rocha, para construir
megálitos, mas, também, a água. Imagino que não foi difícil, para quem
viveu na era do gelo, perceber que a água pode conter poder físico de
dilatação, conforme a variação de temperatura. Quem guardava água numa
cuia, por exemplo, pode tê-la visto ficar partida, após uma grande queda de
temperatura. Também devem ter notado que um processo semelhante
acontecia nas rochas. Depois do inverno, perceberiam rochas, antes
inteiras, aparecerem rachadas e, algumas vezes, até de forma bem retilínia.
Isto se deve a um fenômeno físico-químico chamado de pontes de
hidrogênio, que é uma espécie de cristalização (figura 9). E isto causa uma
dilatação anômala na água, pois, geralmente, os corpos se contraem, a
medida em que são resfriados e as partículas perdem energia cinética.

Figura 9

Todavia, não é isto que acontece, entre 4 e 0 graus Celsius. A


medida em que esfria, a água, congelando-se, adquire mais volume!

Não seria possível, então, que os pré-históricos tivessem usado este


conhecimento para fazer cortes bem precisos nas rochas?

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Não seria possível, por exemplo, esquentar a água durante o inverno
congelante e depositá-la em sulcos quebrados na rocha, para que a água
congele dentro dela e a faça se partir (figura 10)?

Figura 10

O escritor e pesquisador indiano Praveen Mohan apresenta uma


versão um tanto diferente do uso da água para cortar as rochas. Segundo
ele, os antigos construtores cavavam pequenos buracos na rocha (figura 11)
e os preenchiam com madeira. Depois, molhavam todas as madeirinhas,
socadas dentro da rocha, com água fervente. Desta forma, a madeira
absorvia a água e inchava, fazendo com que a rocha também se expandisse
e se partisse. A madeira é uma estrutura orgânica que se desenvolveu para
absorver água e fazê-la fluir em seu interior (seiva).

Figura 11

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Atualmente, usam cunhas, como estas abaixo, para partir as rochas:

E fico a imaginar que tipo de material nossos ancestrais pré-históricos


poderiam utilizar, se não há evidências de que usassem metais, mas
ferramentas feitas de rocha mais dura. Será que poderiam usar madeira e
bastonetes de rocha no lugar destes instrumentos de metal modernos?

É preciso tomar muito cuidado com a interpretação da História: A


Idade do Ferro teria começado em 1.200 aC, caracterizando-se por uma
intensa metalurgia deste metal. Porém, povos mais antigos já produziam
utensílios de ferro há, pelo menos, 4.000 aC. “Pelo menos” – entendeu?

Então, esta estória de que tal povo não poderia ter construído isto
ou aquilo, porque não conheceriam tais materiais ou tais técnicas, pode ser
conversa pra enganar trouxas. Também, não é por que os arqueólogos não
encontraram evidências disto e daquilo que isto e aquilo, necessariamente,
não tenham existido.

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4. ABUSOS DOS ACADÊMICOS DE OUTRAS ÁREAS

Há muito tempo atrás, quando era um colegial, escutei, ao acaso,


uma conversa entre o professor e outros alunos. Ele explicava como
algumas rochas, misteriosamente, apareciam, de maneira estranha, umas
por cima de outras. Segundo ele, deslizamentos de terra arrastavam rochas
sobre outras, que estariam soterradas, e a erosão, ao longo do tempo,
removeria a terra que existiria entre elas, acomodando umas sobre as
outras. Não sei por que minha mente foi gravar e manter de forma tão nítida
o registro daquele acontecimento em sala de aula, que permaneceu tão
acessível em minhas memórias. Sabe quando alguém procura dar
explicações sobre algo, sem você ter pedido, e, daí, começa a desconfiar da
veracidade das explicações? Talvez, tenha sido esta impressão subliminar
que ficou marcada. Contudo, hoje, sei que poderia haver outras explicações
para aquele tipo de fenômeno.

Existe uma coisa chamada de Miopia Científica, que pode conter


muitos significados, mas, neste caso em particular, se refere à tendência dos
cientistas explicarem os fenômenos de forma bitolada, à área específica de
conhecimento deles. Assim, geólogos tenderão a explicar tais fenômenos
como intemperismo, erosão, ou quaisquer outros acidentes geológicos,
aleatoriamente, naturais. E nem os arqueólogos escaparão disso. Também,
eles têm uma visão muito restrita e limitada às evidências materiais que
encontram. Já ouviu aquela frase “A ausência de evidência não é evidência
de ausência”? Foi uma forma do cientista Carl Sagan manifestar uma crítica
à famosa falácia lógica, chamada Argumentum Ad Ignorantiam (ou Apelo à
Ignorância): Uma proposição não seria falsa, porque, até então, ninguém
provou ser verdadeira; e não seria verdadeira, apenas porque ninguém
provou ser falsa. Portando, historiadores e arqueólogos deveriam ser mais
humildes e usar menos as expressões “Foi”, “Não havia” e “Com certeza” e,
muito mais, as expressões “Acredita-se que” e “Pode ser que”. Sempre
restará a possibilidade de que novas evidências apareçam e destituam
narrativas atuais do título de fatos históricos.

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Mas, então, o que mais se poderia dizer das rochas que se
amontoam sobre outras?

Atualmente, posso afirmar, com certeza, que haja certos casos em


que elas são postas por cima de outras intencionalmente, por humanos. No
Brasil, há, possivelmente, alguns destes casos. Posso mencionar o Dólmen
de Anicuns - GO e o Dólmen de Paramirim - BA, também conhecida como
Pedra de Santana (figura 12).

Figura 12

Dólmen é uma palavra céltica-bretã, que se originou da expressão


Dol Maen e que se traduz por Mesa de Pedra: Dol = mesa, Maen = pedra.
Note que, há um tipo de dólmen que se caracteriza pelo
posicionamento bem distribuído de três pedras-base ou pedras-suporte.
Como já disse no meu outro livro, O Enigma e A Letra, é possível que o
número 3 (três) fosse considerado sagrado em muitas culturas primitivas.

Lamento não poder discorrer sobre todos os casos, tem muita coisa
por aí e este livro não é uma enciclopédia dos megálitos brasileiros. Que
triste, né?

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5. POSSÍVEIS MEGÁLITOS

Só recentemente, começaram a perceber a existência da Pedra do


Osso (figura 13), cujas imagens passaram a circular com maior freqüência
nas redes sociais. Leio comentários sobre a questão, se a pedra seria um
fenômeno natural ou se seria antrópico. As opiniões se dividem. Eu, por
outro lado, não tenho opinião a respeito. Eu apenas investigo
possibilidades.

Poderia ter sido feito por povos primitivos?

Figura 13

Os comentários que li, na internet, demonstram opiniões muito


leigas, bisonhas, de principiantes. Por exemplo, “seria impossível ter sido
feito por alguém, porque imagine o trabalho pra levar esta pedra até lá e
levantá-la”. Ora, ora, mas quem foi que disse que ela foi levada até lá?
Quem foi que disse que ela precisou ser erguida, para parar de pé?

Se eu fosse o construtor dela, faria diferente, com certeza.

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Eu iria destacá-la da rocha maior a que pertencesse, causando enormes
rachaduras entre as duas. Se funcionasse, se não terminasse em
tragicomédia acidental, organizaria uma escala de obra folgada, para que os
trabalhadores da tribo passassem o resto do ano rachando a rocha maior e
fazendo rolar, morro abaixo, os ecombros.

Às vezes, o que parece impossível é só questão de mágica, de


truque, que quase ninguém sabe como fazer. Depois que você conhece o
truque, perde a graça, né?

Perde? Continuo achando fascinante! E, sem sair do estado do Rio


de Janeiro, pode-se observar mais alguns mistérios (figura 14):

Figura 14 – Imagem extraída do GE Pro.

À aprox. 30 km, na direção sudoeste, da Pedra Cão Sentado (ou


Jaguar Sentado), encontra-se a Pedra Caixa de Fósforos e à aprox. 30 km, na
direção sudeste, da Pedra Cão Sentado, encontra-se a Pedra Peito de Pombo
(figura 15). As três pedras se dispõem como se fossem vértices de um
triângulo isósceles imaginário. E, no centro dele, a cidade de Nova Friburgo.

Quando alguém olha para a Caixa de Fósforos, pode imaginar se


tratar de um fenômeno natural, pois quem seria tão estúpido para construir

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uma coisa tão perigosa? Um monte de rocha que pode cair sobre a cabeça.

Figura 15

Eu já penso o contrário: aquilo poderia ser uma obra de fé, um


desafio aos construtores. Entes humanos se amarram em jogos de
equilíbrio. Qual a graça de uma simples rocha que não se equilibra?

Veja como o povo de Miamar, literalmente, adora a Pedra Dourada


(sem trocadilhos): A pedra se encontra inclinada, à beira de um precipício
(figura 16). Segundo a lenda, é um fio do cabelo do Buda o que a impede

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de deslizar e cair. Uma grande quantidade de pessoas vêm a este local para
tocar a pedra e orar sobre ela!

Figura 16

Mas, esta é uma reinterpretação religiosa do megálito. Não poderia


esta pedra ter sido arrastada até ali, por outro povo, mais antigo, pré-
histórico?

Pedras equilibradas, também, há muitas no Brasil. E a mais


fascinante de todas é a do município de Mariana Pimentel - RS, que,
provavelmente, foi apontada na direção da pedra equilibrada, do município
de Tubarão - SC (figura 17).

Figura 17 – Pedra do Equilíbrio e Pedra Equilibrada.


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Contudo, existe outra característica que pode ajudar muito a
identificar um megálito: Alinhamentos com astros, solstícios e equinócios.
E, no estado de Santa Catarina, há uma grande quantidade deles. Os
bonecos de Itaguaçu, por exemplo, sinalizam o local de observação de um
pôr de sol de solstício de verão, que aconteceu há muitos milênios atrás
(figura 18).

Figura 18 – Alinhamento com a Lua para simular


um solstício pré-histórico.

Outra característica, que os tornaria reconhecíveis, seria a


semelhança com seres vivos, principalmente, os animais da megafauna. Só
que, por serem paleolíticos, esta semelhança nem sempre fica clara.

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Melhor: vou fazer um resumão de como identificar megálitos...

1. São feitos de rocha. Pétros e Lithos, significam rocha. Porém, a palavra


helênica Lithos se refere mais às pedras (rochas que adquirem valor
antrópico). Daí, vem o sufixo “lítico”.

2. São enormes. Alguns ancestrais primitivos passaram a acreditar que


fossem carregados ou fabricados por gigantes.

3. Alguns têm a forma de mesas ou de cabanas de pedra, são chamados de


dólmens ou antas. Um certo tipo deles é uma pedra maior suportada por
outras três menores, bem posicionadas.

4. Alguns têm a forma alongada, são menires ou pedras levantadas, de pé.

5. Alguns têm a forma de seres vivos ou partes de seres vivos.

6. Alguns têm a forma de objetos de uso variados.

7. Alguns têm a forma de meios de transporte.

8. Alguns têm a forma de deuses.

9. Alguns desafiam as forças físicas da natureza, a gravidade, a sustentação,


o equilíbrio, etc.

10. Alguns são alinhados com astros, ou com solstícios, ou com equinócios,
ou com outros megálitos, ou com algo específico que pretendam sinalizar.

11. Alguns são petróglifos gigantescos.

12. Alguns são miniaturas de megálitos maiores, quilólitos.

13. Alguns apresentam mais de uma única característica megalítica.

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Vamos reforçar o que você aprendeu, com exemplos:

São enormes e feitos de rocha. A Pedra de Jararacuçu, de Gravatal - SC


(figura 19), tem essa característica que faz lembrar os gigantes. A estética
megalítica, certas vezes, apresenta qualidades lúdicas e humorísticas, como
uma enorme pedra sendo suportada por outra muitíssimo menor. Mas isto
faz parte do “truque de mágica”. E as sombras da “jararacuçu” também.

Figura 19

Podem ter a forma de mesa, uma pedra maior sustentada por três menores.
É o que torna o Dólmen de Itu - SP (figura 20), mais uma possibilidade
megalítica.

Figura 20

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Alguns têm a forma alongada, são menires ou pedras levantadas, de pé.
Acredita-se que os bonecos de Itaguaçu - SC, sejam menires
antropomórficos (figura 21).

Figura 21

Alguns têm a forma de seres vivos ou partes de seres vivos. A Pedra do


Cavalo, de Aceguá - RS (figura 22), lembra uma cela de cavalo, mas pode ser
a representação paleolítica da cabeça de algum animal da megafauna pré-
histórica.

Figura 22

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Alguns têm a forma de objetos de uso variados, como a Poltrona do Rei, de
Florianópolis - SC (figura 23).

Figura 23

Alguns têm a forma de meios de transporte. A legendária Pedra de Icó,


Campina Grande - PB (figura 24), pode ser a representação de um barco.

Figura 24

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Alguns têm a forma de deuses. A Pedra do Abraão, Florianópolis - SC, parece
um Buda (figura 25).

Figura 25

Alguns desafiam as forças físicas da natureza, a gravidade, a sustentação, o


equilíbrio, etc. Tal é o caso da Pedra de Águas Belas - PE (figura 26).

Figura 26

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Alguns são alinhados com astros, ou com solstícios, ou com equinócios, ou
com outros megálitos, ou com algo específico que pretendam sinalizar.
Deve ser o caso das Pedras da Mão, cuja pedra menor, na forma de falange
distal, indica o solstício de verão, no costão da Barra da Lagoa, em
Florianópolis - SC (figura 27).

Figura 27

Alguns são petróglifos gigantescos. Pode ser o caso da Pedra do Pé, de


Paranaíta - MT (figura 28), se ela já existia antes do Instituto Dákila aparecer
por lá. Petróglifo Megalítico ou Megálito Petroglífico!

Figura 28
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Alguns são miniaturas de megálitos maiores, Quilólitos. Este é o caso da
Pedra do Pensador, de Florianópolis - SC, alinhada ao pôr do sol do solstício
de inverno (figura 29).

Figura 29

Alguns apresentam mais de uma única característica megalítica. Como é o


caso das Pedras de Caiacanga Mirim, de Florianópolis - SC. Pedras que
representam sagüis olhando na direção do pôr do sol do solsticio de verão
(figura 30).

Figura 30

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6. O ET BILÚ ESTÁ DE VOLTA!

O mito da moda, aqui no Brasil, é Ratanabá. E parece que ele é


promovido pelo mesmo inventor do ET Bilú, de quem, ainda, sou fã, por
achá-lo uma figura cômica. Realmente, ele conseguiu divertir muita gente e
se popularizar. Porém, nem tudo é engraçado nesta estória. Assim como a
fantasia do ET Bilú foi contestada por ufólogos (do tipo que levam a sério,
cientificamente, as pesquisas deles), por ajudar a desacreditar a Ufologia,
também o mito de Ratanabá pode gerar efeitos colaterais adversos.

Recentemente, o pessoal da organização Dákila fez um vídeo,


mostrando o petróglifo de um pé gigante. E isto começou a me preocupar,
porque, se aquele petróglifo for verdadeiro, poderá cair em descrédito,
devido a associação dele com a estória de Ratanabá. Nem, eu mesmo, sei
mais, se posso confiar na originalidade daquilo! E, para pesquisadores como
eu, que não querem ser tratados com o rótulo de pseudocientíficos, isto
dificulta ainda mais o esforço para merecer uma boa reputação.

Não bastando isso, essa gente de “Rabanataba” conseguiu ir mais


longe do que ressuscitar o mito do El Dorado, eles, também, conseguiram
trazer de volta a crença na Terra Plana!

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O perfil das pessoas que acreditam nisso parece ser de
ultranacionalistas, que têm potencial para acreditar em loroteiros. Isto não
lembra, vagamente, a Sociedade Thule, Madame Blavatsky, Hiperbóreos e
Arianos?

Tenho me perguntado se o meu esforço, por tornar visíveis os


megálitos brasileiros, não seria uma pulsão inconsciente de
ultranacionalismo. Mas, acredito que não. Eu, realmente, sou um patriota,
não desejo que o nosso país fique desvalorizado ou seja destruído por forças
obscuras, ou claras, internas ou estrangeiras. Contudo, não sou mais
nacionalista do que isto e tenho admiração pelos outros povos e nações.
Bem lá no fundo, a humanidade, somos todos parentes, de irmãos a primos
mais distantes.

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7. SENSACIONALISMO EM CALÇOENE

Como se não bastasse toda a negligência acadêmica sobre os


megálitos brasileiros (não reconhecidos), ainda se tem que agüentar ouvir o
sensacionalismo da mídia, chafurdada em erros de classificação primários.
A cromeleque de Calçoene não é megalítica!

Stonehenge Brasileira? Não tem nem estrutura e nem peso para


ser comparável àquela obra megalítica da Grã-Bretanha. Aquelas pedras já
se chamavam megálitos (milhão de pedras) porque acreditava-se que só
gigantes poderiam carregá-las. Portando, o que há em Calçoene - AP, trata-
se, em verdade, de uma Cromelech : do galês antigo, Crwm, que significa
torto, e Lech, que significa laje.

E como têm se esforçado para enfiar algum alinhamento


astronômico naquilo, é uma forçação! Toda vez que encontram um buraco
numa pedra dessas, já querem sair declarando um alinhamento (realmente,
não é a primeira vez que vejo algo assim acontecer).

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POSFÁCIO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredito ter alcançado o objetivo pretendido com este livro, que era
indicar um caminho para aqueles que desejam pesquisar e estudar sobre os
megálitos brasileiros, sem precisar se envolver com as milhares de formas
de mistificação que se fazem sobre eles. Deixe os hippies abraçarem a rocha,
de mãos dadas, cantando Kumbaya My Lord, e siga o caminho do cientista!
Aqui, procurei apresentar a maior quantidade possível de evidências
para sustentar a tese de que haja muito mais megálitos do que, oficialmente,
se pretenderia afirmar com aquela bagunça lítica que há em Calçoene - AP.
Sabe-se que o mundo está repleto de mistificadores, que desejam
revisionar, de forma pseudocientífica, alguns achados arqueológicos, porém
isto não justifica que se trate de uma maneira tão aversiva e cruelmente
sistemática aqueles que contribuem de formas heterodoxas às Ciências em
geral.
Por fim, deixo-lhe meu e-mail de contato, caso queira manifestar
algum elogio ou indignação sobre este livro, ou solicitar qualquer coisa que
eu possa fazer para ajudá-lo:

contateme@rocketmail.com

MUITO AGRADECIDO POR SUA ATENÇÃO!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIVINO GÊNESE, 2018


Adnir Ramos

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Rui Boaventura, Rui Mataloto e André Pereira

PRÉ E PROTOHISTÓRICAS ARQUITETURAS DE PEDRA, 2018


Florian Cousseau e Luc Laporte

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Jacques Derrida

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