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DEDICATÓRIA

Ao Prof. Adnir Antônio Ramos,


quem me apresentou a este outro
universo desconhecido.

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AGRADECIMENTOS

A minha prima Luiza Faveri :


quem conseguiu me convencer a fazer este livreto.

E a minha amada companheira de aventuras,


Lara Verlaine A. Santos.

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A Atlântida é, apenas, um sonho,
submerso nas profundezas dos oceanos,
de nossas ilusões perdidas!

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 13

1. Entrevista do dia 04 de julho de 2023 ................................................................................... 19

2. Entrevista do dia 05 de julho de 2023 ................................................................................. 25

3. Entrevista do dia 06 de julho de 2023 ................................................................................. 27

4. Entrevista do dia 07 de julho de 2023 ................................................................................. 31

5. Entrevista do dia 08 de julho de 2023 ................................................................................. 35

6. Os Bonecos de Itaguaçu ....................................................................................................... 39

7. O Monte da Serpente ou Será que, desta vez, fui longe demais? ....................................... 41

8. As Pedras de Peabiru ........................................................................................................... 45

9. As Pedras da Mão ................................................................................................................ 47

10. O Megálito de Mariana Pimentel - RS ............................................................................... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 53

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PREFÁCIO

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INTRODUÇÃO

Neste livreto, explico como decifrei os dois principais petróglifos das Ilhas de
Florianópolis e, também, exponho os meus principais trabalhos de pesquisa
arqueoastronômica.

Meus conhecidos têm me sugerido escrever um livro, mas, como não tinha motivação
suficiente, pedi auxílio a minha prima Luiza Faveri e, com ela, surgiu a idéia de fazer a exposição
dos assuntos através de entrevistas. Então, empenhei-me em contatar uma velha amiga das
redes sociais, a escritora Giselle Dubois, que conheci numa comunidade de publicação e venda
de livros da língua francesa, do endereço (site) Atramenta, para convidá-la a participar como
entrevistadora, por já conhecer os meus trabalhos e ter muito interesse no assunto. Nada
surpreendente, pois, da França, já são bastante conhecidos os alinhamentos megalíticos,
dólmens, menires, tumbas e petróglifos: Carnac, Bagneux, Champ Dolent, Lascaux, Gravinis,
etc.

Após a parte das entrevistas, passo a descrever outras pesquisas que ultrapassam o
assunto central, título do livreto.

Com este pequeno trabalho, espero entreter e divertir os leitores, aguçar-lhes a


imaginação e não irritar em demasia os pseudocientíficos e nem os acadêmicos da ciência
oficial.

Boa leitura, bom entretenimento a você, minha cara leitora ou prezado leitor!

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NOTA DE ESCLARECIMENTO

Em protesto contra o abuso de querelas, sobre direitos autorais de imagens, a maioria


das ilustrações deste livro, que continham fotografias, foram propositalmente substituídas por
obras de arte. Neste livro, você irá encontrar ilustrações que representam as seguintes escolas:
Pop Art, Estruturalismo, Expressionismo, Dadaísmo, Impressionismo e Surrealismo.

Na minha opinião, a garantia de direitos autorais não deveria ser usada de forma tão
leviana e egoísta, principalmente, quando a livre disseminação de imagens, de natureza
educativa, poderia ser tão necessária para a transmissão de novos conhecimentos. Portanto,
fica registrado aqui o meu pesar, por ver colegas pesquisadores monopolizando objetos dignos
de estudo, que deveriam estar acessíveis a toda a Humanidade.

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ENTREVISTAS

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1. TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DIA 04 DE JULHO DE 2023

Giselle Dubois: − Desde quando iniciou o seu interesse pelos petróglifos?

Emerson Velloso: − Isso aconteceu logo depois de descobrir que a Pedra de Caiacanga Mirim
podia se alinhar com o pôr do sol do solstício de verão (figura 1). Por acaso, certos traços
daquela cena, onde observara os raios solares adentrando a gruta, lembraram-me daquela
inscrição petroglífica famosa, que existe gravada numa rocha da Ilha do Campeche.

Giselle Dubois: − Você me disse, noutra ocasião, que achava o formato da pedra semelhante a
um ouistiti...

Emerson Velloso: − Perdão?

Giselle Dubois: − Um marmoset.

Emerson Velloso: − Ah, sim, mas não fui exatamente eu quem criou essa associação: veja que,
há muito tempo atrás, a pedra foi chamada de Kai Akanga Mirim. Mirim significa pequeno,
Akanga significa cabeça e Kai significa macaco (figura 2)! Além disso, pedras deste tipo não
são singulares na região da Ilha. Há uma pedra assim no Parque Arqueoastronômico da Galheta
e há outra numa praia próxima à Barra da Lagoa.

Giselle Dubois: − Fiquei curiosa para saber como você relaciona as duas coisas (a pedra e o
petróglifo) e como tem tanta certeza de que não seja apenas a imaginação tomando conta dos
seus pensamentos.

FIGURA 1 – Pôr do Sol do Solstício de Verão, presenciado


dentro da gruta das pedras de Caiacanga Mirim.

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Emerson Velloso: − Primeiramente, gostaria de dizer que não acho a imaginação uma coisa tão
ruim para a ciência. A metafísica, as especulações hipotéticas, o próprio raciocínio abdutivo,
que foi tão necessário ao Charles Darwin e ao Albert Einstein, por exemplo, contava muito com
a imaginação.

FIGURA 2 – Caiacanga Mirim.

Sobre a correlação que faço, ela não é tão sofisticada, é bem elementar. Em ambas as
coisas, há a presença de um astro. No petróglifo da Ilha do Campeche (figura 3), há esculpido
um símbolo, no alto, consistindo de dois círculos concêntricos. Esta forma de representação
era bastante comum nas culturas ancestrais, porque basicamente se refere ao sol em si e à
coroa solar.

FIGURA 3 – O petróglifo da Ilha do Campeche

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Giselle Dubois: − E aquelas linhas que formam V’s e V’s virados, de cima pra baixo?

Emerson Velloso: − Deixe-me esclarecer isto: não sou especialista em coisa alguma, não espere
de mim um diploma de Arqueologia. Mas, eu costumo pesquisar bastante. Não é novidade
alguma que a intersecção entre os morros forma um V ou, pelo menos, algo parecido com um
U. Já viu alguma vez aquele símbolo egípcio chamado de Akhet? Porém, há um duplo sentido
naquilo, alguns o chamam de Os Chifres Minoanos da Consagração.

FIGURA 4 – Acima, o símbolo egípcio Akhet.

Giselle Dubois: − E os V’s virados, de cima pra baixo?

Emerson Velloso: − Veja, imprimi do computador esta ilustração (figura 5) para você entender
melhor.

Giselle Dubois: − Dólmen ou Menir?

Emerson Velloso: − Também, mas é mais comum ser achado, na forma unitária, representando
um morro, um pico ou uma montanha. Todavia, quando dois se juntam, formam aquele V de
que falávamos há pouco. A forma mais primitiva de identificar a posição de um astro num
equinócio ou num solstício era essa: aguardando esse astro nascer ou se pôr bem no centro da
concavidade formada entre os morros.

FIGURA 5

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Como você bem sabe, o movimento da Terra em torno do sol, inclinada
aproximadamente 23 graus, causa esse efeito visual de deslocamento do nascer e do pôr do sol
de um lado para o outro (figuras 6 e 7) . E a inclinação da Terra é responsável pelas estações
climáticas do ano, outono, inverno, primavera e verão (figura 8). Dependendo da posição em
que a Terra se encontra em relação ao Sol, um hemisfério pode ser mais contemplado com a
exposição aos raios solares ou não, fica mais quente ou mais frio, a duração dos dias se alonga
ou se encurta!

FIGURA 6

FIGURA 7

Giselle Dubois: − Isto deveria ser muito importante para nossos ancestrais mais primitivos, não?

Emerson Velloso: − De fato, como explicava o arqueoastrônomo Adnir Ramos, saber com
exatidão quando começam e quando terminam as estações climáticas era bastante necessário
a esses povos ancestrais, porque, com estes conhecimentos, poderiam determinar qual o

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melhor momento para pescar uma espécie de peixe, caçar um animal específico, plantar ou
colher certo tipo de alimento e até qual o período ideal para iniciar uma gestação humana. Sem
dúvida alguma, seria melhor nascer durante a primavera do que durante o inverno!

FIGURA 8

Giselle Dubois: − Há algum tempo atrás, você comentou comigo sobre a similaridade deste
acontecimento, de decifração do petróglifo, com o conceito de letra, de Jacques Lacan, ou de
traço unário, como chamava Sigmund Freud e mais tarde, Jacques Derrida. Pode comentar
mais sobre isso?

Emerson Velloso: − Sim, um petróglifo é como o caractère , da letra da canção de Joyce


Jonathan: em princípio, um significante sozinho nada significa, ele precisa de outros para
adquirir significação. Então, estaria Joyce Jonathan se referindo a um caractere, a uma letra,
ou ao caráter do sujeito? Portanto, a experiência em Caiacanga Mirim produziu em mim este
caractère , os traços do petróglifo estão, indubitavelmente, presentes, no astro solar, no topo
da “cabeça do ouistiti”, que tem o contorno em forma de V invertido para baixo, no solstício
entre os morros!

Nota: Ouistiti é uma palavra francófona que significa sagüi. Esta, por sua vez, procede da língua tupi-guarani,
/Ça Kai/, significando macaco agitado.

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2. TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DIA 05 DE JULHO DE 2023

Giselle Dubois: − Qual o caráter científico ou acadêmico de suas pesquisas?

Emerson Velloso: − A princípio, nenhum! A posteriori, pode ser considerado uma crítica ou uma
sugestão aos acadêmicos, tão restritos aos paradigmas deles, que perderam a oportunidade de
considerar novas hipóteses!
Podem até afirmar que eu não sou científico, mas, jamais, me acusar de ser
pseudocientífico. Sou mais parecido com um jovem Erich von Däniken do que com um velho
Zecharia Sitchin, sou mais o sujeito da gute wissenschaftliche hypothese, não sou o escritor de
romances de ficção científica, revisionando a História de forma fantástica.

Giselle Dubois: − Você não gosta de Zecharia Sitchin?

Emerson Velloso: − Eu invejo Zecharia Sitchin! Como não invejar um escritor de ficção científica
que vendeu milhões de cópias, de dezenas de livros publicados por ele, ao mundo todo, sendo
traduzidos para 25 idiomas!

Não me interprete mal, Giselle, eu odeio outra coisa: eu odeio a inundação


sensacionalista de informações sobre a fantasia de Sitchin, tirando o espaço de publicação para
a verdadeira história dos povos mesopotâmicos. O tamanho da coisa adquiriu uma dimensão
tão grotesca que não se conseguia mais diferenciar pós-verdades de fatos históricos! Até que
o PHD em línguas semíticas Michael S. Heiser apareceu, refutando as interpretações de Sitchin,
sobre o selo acádio, inscrito no cilindro VA243. Nem o fato de eu mesmo ter caído na pegadinha
da suposta inscrição do sistema solar, naquele selo, me fez odiar Sitchin, embora isto tenha me
custado alguma frustração anos mais tarde.

O doutor Heiser fez uma brilhante observação, notando que os acádios não
representavam o sol como uma estrela e representavam estrelas como pontos ou círculos,
todavia equivocou-se ao afirmar que a cena do selo VA243 não continha importância
arqueoastronômica. Em contato com ele pelo Facebook, contestei esta afirmação e apresentei
a minha própria interpretação. Os astros, ali representados, referiam-se, não a um
hipermoderno sistema solar, mas a uma clássica conjuntura astrológica, muito conhecida por
povos ancestrais (figura 9).

Giselle Dubois: − Espero que não tenhamos nos desviado muito do assunto, podemos voltar aos
petróglifos da Ilha?

Emerson Velloso: − E eu espero que os leitores do livro não se sintam trapaceados com isto.
Acho que este pequeno desvio foi pertinente de qualquer maneira, no sentido de ilustrar a
natureza dos meus trabalhos teóricos ou, se preferirem, hipotéticos.

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FIGURA 9 – Imagens enviadas a Michael S. Heiser.

FIGURA 10 – Ilustrações da série As Duas Faces de Ninurta,


publicada no site Reddit (https://www.reddit.com/r/VA243/), onde
explico com mais detalhes a minha tese.

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3. TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DIA 06 DE JULHO DE 2023

Giselle Dubois: − Hoje, gostaria que você falasse sobre o outro petróglifo, aquele que há no
Costão do Santinho.

Emerson Velloso: − A decifração daquele lá decorreu de uma extraordinária coincidência. Por


acaso, encontrei, na internet, um calendário lunar moderno e ímpar, do ano de 2017, que, por
sorte, iniciava o ano em lunação.

Giselle Dubois: − O que é lunação?

Emerson Velloso: − Lunação é o ciclo lunar que começa com a (des)aparição da lua nova e que
se completa na lua nova (figura 11 e figura 12). Durante o ano, não ocorrem mais do que 12
ciclos lunares completos e coincidiu que, neste calendário, os ciclos começavam na lua nova.

FIGURA 11

FIGURA 12

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Giselle Dubois: − E o que havia de tão extraordinário nisso?

Emerson Velloso: − Acontece que, além desses 12 ciclos completos, há um 13° que não se
completa e isto coincidia com a contagem das partes de um dos símbolos que compõem o
petróglifo. Aqui eu tenho comigo o quadro de uma ilustração para lhe mostrar (figura 13).

FIGURA 13

Giselle Dubois: − Ali, onde aparece um asterisco amarelo, está indicando o ciclo incompleto? O
13°, o que seria realizável, se tivesse chegado a completar-se no mesmo ano em que se iniciou.

Emerson Velloso: − Parabéns, você sacou rápido mesmo!

Giselle Dubois: − E o que significam os triângulos?

Emerson Velloso: − Acredito que eles sejam representações aproximadas dos meses, pois cada
ciclo de lunação dura, em média 29,5 dias. Veja que dias, semanas, meses e anos não são
medidas de tempo convencionalmente arbitrárias. A humanidade copiou isso dos ciclos de
rotação e translação da Terra e da Lua. Cada fase lunar dura, em média, 7 dias, isto é
aproximadamente uma semana. As 4 fases da lua, nova, crescente, cheia e minguante, juntas,
somam 28 dias, quase um mês (figuras 14 e 15)!

Giselle Dubois: − E você alega que os outros símbolos que compõem este petróglifo sejam
semelhantes aquele da Ilha do Campeche?

Emerson Velloso: − Sim, um pode ser considerado uma derivação do outro (figura 16). Podemos
parar por aqui hoje?

Giselle Dubois: − Sim, continuemos amanhã.

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FIGURA 14

FIGURA 15

FIGURA 16

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4. TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DIA 07 DE JULHO DE 2023

Giselle Dubois: − Continuemos desde onde paramos, na entrevista do dia anterior: Você
poderia explicar o que poderia ser este símbolo que se assemelha a uma gravata?

Emerson Velloso: − E não uma simples gravata, uma gravata tripla... por que isso?
Diferentemente do sol, há 3 tipos de lunistícios: lunistício mínimo, máximo e mediano (pois
está no meio dos outros dois). E é por isso que o símbolo encontra-se triplicado, por 3 linhas
(figuras 17 e 18). A passagem do lunistício mínimo ao máximo leva aproximadamente 9,3 anos.
Ou seja, quem nasceu durante um lunistício mínimo só irá ver o próximo quando estiver se
tornando adulto!

FIGURA 17

FIGURA 18

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Giselle Dubois: − A sua explicação é fascinante, tudo parece se encaixar, mas você não tem
nenhum receio de estar enganado?

Emerson Velloso: − Não e vou lhe explicar por quê. Em 2018, encontrei o famoso petróglifo do
Costão Ocidental de Ingleses (ou Santinho Norte) e, mais adiante, descobri a Pedra Partida
(figuras 19 e 20). Então, entendi que o petróglifo poderia estar indicando um local de
observação de equinócios, tanto lunares quanto solares. O petróglifo aparece orientado de
forma semelhante à da pedra, indicando o sentido da direção oeste-leste, tal o sentido na
partição da pedra.

FIGURA 19

FIGURA 20

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Não sei se é correto chamá-los de equinócios lunares, porque são irregulares e, com rara
exceção, podem ocorrer bem no meio, entre os lunistícios. E deve ser por isso que a janela de
observação da Pedra Partida não é estreita, mas ampla.

Então, Giselle, diante de tantas evidências, sinto-me um tanto seguro, apesar de não
possuir provas definitivas. Mas, parece que, quando a ciência carece de provas, ela adota a
hipótese mais plausível como teoria, não é mesmo?

Giselle Dubois: − É verdade: há teorias que são prováveis e há teorias que são apenas as
hipóteses mais consistentes.

Emerson Velloso: − Certamente! Então, digo aos arqueólogos, aos geólogos, aos historiadores,
aos cientistas em geral: Se não gostam das minhas conclusões, tentem me refutar, apresentem
os fatos ou teorias mais consistentes, mas não duvidem da minha seriedade, da minha vontade
de encontrar explicações verdadeiramente plausíveis!

Giselle Dubois: − E você chegou realmente a registrar algum equinócio naquela pedra?

Emerson Velloso: − Tenho algumas fotos aqui comigo (figura 21 e 22).

FOTO 21 – Equinócio lunar.

FOTO 22 – Equinócio de Outono.


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5. TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO DIA 08 DE JULHO DE 2023

Giselle Dubois: − Além destes dois, que são os petróglifos considerados os mais populares da
Ilha, há algum outro que você tenha tentado decifrar?

Emerson Velloso: − Só mais um atraiu a minha atenção. Aquele encontrado na Ilha do Arvoredo
me fez ter idéias.

Giselle Dubois: − Como assim?

Emerson Velloso: − Tenho uma forte suspeita de que aquilo seja uma representação espaço-
temporal do movimento aparente dos astros. Por exemplo, se vejo a lua nascer no horizonte,
às 15:00h do dia de hoje, na posição 90°, amanhã, certamente, não irá acontecer o mesmo. No
dia seguinte, poderei ver a lua nascer quase uma hora depois, na posição 81° (aprox.)! Todavia,
reconheço que esta interpretação seja fraca demais, quase arbitrária (figura 23).

Giselle Dubois: − Isso me intriga! Porque tanto interesse nesses alinhamentos com os astros?

Emerson Velloso: − Sabemos que havia o interesse em calendários anuais confiáveis. Mas, há,
certamente, outros motivos. A necessidade de se acreditar num sistema duradouro, com
verdades imutáveis, garantias de que a realidade não irá simplesmente ruir caoticamente,
quando menos se espera que aconteça. Numa cultura de solstícios e equinócios, há a garantia
de que o inverno não será eterno, há a garantia de que o sol e a lua jamais deixarão de
reaparecer nos céus!
Para além disso, talvez, haja a crença mística de que solstícios e equinócios sejam
portais, para que o espírito dos mortos viagem para fora de seus corpos e cheguem ao mundo
celestial do pós-vida.

Giselle Dubois: − O que mais há para além dos petróglifos?

Emerson Velloso: − Há os megálitos!

Giselle Dubois: − Você quer continuar a entrevista falando deles?

Emerson Velloso: − Talvez, seja melhor incluí-los no livro como extras. Gostaria muito de
agradecer a sua participação. Mande um abraço para os seus conterrâneos!

Giselle Dubois: − Quem sabe, algum dia, você venha pra cá, conhecer a França.

Emerson Velloso: − Hahaha, não creio que o livreto faça tanto sucesso a ponto de eu poder
gastar a grana das vendas numa viagem dessas! Au revoir, Giselle, et merci beaucoup!

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FIGURA 23 – Note que o movimento aparente do astro se desenvolve, ao
longo do dia, verticalmente, enquanto ao longo de vários dias, ele parece
se deslocar de forma oblíqua, diagonal, transversalmente!

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EXTRAS

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6. OS BONECOS DE ITAGUAÇU

Conta-nos o pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, antropólogo,


gravurista e escritor brasileiro Franklin Joaquim Cascaes que, segundo a lenda da Festa das
Bruxas de Itaguaçu, um diabo desconvidado, vingativo, transformou os participantes da festa
em pedras. Contudo, décadas depois, o Mago Julio Pithon, publicou, no blog dele, uma matéria
instigante, sugerindo que os Bonecos da praia de Itaguaçu poderiam ser menires! Da língua
céltica da Bretanha, maen hir significa, nesta ordem, pedra longa.
Após ler esta matéria, decidi pôr à prova a alegação mística e acabei descobrindo que
os dois únicos bonecos de pedra, de fato, pareciam se alinhar com a eclíptica, no mês de
dezembro, e com a constelação de escorpião. A eclíptica é a marcação astronômica da via por
onde passam os planetas. Então, resolvi aguardar a data do solstício de verão para verificar se
os bonecos de pedra se alinhariam com o sol.
Meses depois, quando estava registrando o pôr do sol, durante o solstício de verão,
percebi uma leve discrepância de um a dois graus no alinhamento e isto me frustrou bastante.
Porém, anos mais tarde, assisti a um programa chamado As Origens Misteriosas da Humanidade
(1996), apresentado pelo ator Charlton Heston, que contava a história do arqueólogo
explorador do templo de Tiwuanaku, na Bolívia, Arthur Posnansky, e isto me fez compreender
o fenômeno da discrepância de outra forma. Posnansky, também, notara discrepâncias nos
alinhamentos do templo, contudo ele explicou que elas se deviam à mudança da posição do
solstício, ao longo dos milênios, causadas por um fenômeno físico-astronômico chamado de
Ciclos de Milankovitch. Segundo esta teoria científica, o sol poderia se pôr mais à esquerda ou
mais à direita do solstício atual!

Finalmente, após 7 anos de espera, em 04 de junho de 2023, realizei uma experiência


para simular, com a lua, como teria sido o solstício há milênios atrás, quando o pôr do sol
poderia, realmente, se alinhar aos bonecos (figura 24) e foi bem sucedida!

FIGURA 24
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Permanece um mistério: se os bonecos são menires, quem os ergueu? Os povos de
sambaqui? Ancestrais pré-históricos que viveram no final do Pleistoceno ou no início do
Holoceno?

Os meus cálculos, no programa astronômico Stellarium, indicam que eles poderiam ter
sido erguidos por volta de 8.500 aC, há aproximadamente 10 mil anos atrás, quando os níveis
do mar estavam mais baixos e a praia de Itaguaçu não estava submersa (figura 25)!

FIGURA 25

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7. O MONTE DA SERPENTE OU
SERÁ QUE, DESTA VEZ, FUI LONGE DEMAIS?

Graham Hancock é um desses autores que desafiam a História Oficial com teses
polêmicas. Pode-se dizer que ele reinventou o mito da Atlântida. Segundo ele, há mais de
10.000 anos atrás, houve uma catástrofe global que fez desaparecer civilizações muito
avançadas, mais avançadas do que a do Antigo Egito. Até esta civilização, inclusive, teria sido
fundada pelos sobreviventes de outra, mais avançada ainda. E por que não se tem nenhum
registro dessas ancestrais e mais avançadas civilizações? Diz ele que a Humanidade sofre de
amnésia!
Por outro lado, as minhas pesquisas começaram a gerar especulações sobre a
possibilidade de terem havido outras culturas anteriores às reconhecidas historicamente e um
conhecido escritor francês, bastante simpático, chamado Hervé-Léonard Marie, criticou-me,
citando um de seus aforismas: L’Atlantide est un rêve enseveli au fond de l’océan de nos illusions
perdues. – Non? Então, eu lhe respondi: – Oui! Mas, e somado a esse sonho, todas as cidades,
vilas e aldeias submersas que, outrora, verdadeiramente, já existiram!

Não acredito em Atlântida, não acredito em Lemúria, não acredito em Hiperbórea, não
acredito na Cidade Z, não acredito em Paititi, não acredito em Ratanabá. Mas, tenho convicção
de que civilizações antigas desapareceram, após sofrerem algum tipo de catástrofe causada
pela própria natureza. Pesquisadores dizem que a erupção do monte Vesúvio poderia ter
aniquilado os habitantes de Pompéia em apenas 17 minutos! Um maremoto, entre 1.650 e
1.450 aC, teria iniciado o colapso dos minóicos até a extinção! E, além disso, a elevação dos
níveis dos mares, após a última era glacial, fez grandes porções de terra firme submergirem no
mar! Pense quantas cidades podem ter desaparecido assim, dessa forma semidiluviana!

Ultimamente, sinto que suplantei o Graham Hancock em termos de maluquice anti-


academicista. Vi uma senhora postar, numa rede social, um artigo do autor afirmando que a
Serpent Mound não teria sido construída em 1.000 aC, mas antes de 10.000 aC! Hahahaha,
nem Hopwell, nem Fort Ancient Culture, nem Andena Culture... não, não estou rindo por achar
absurdo. Pelo contrário, vocês vão ver o que respondi a essa senhora...

Coisa de arqueoastrônomo! Não me formei nisso, porque essa disciplina nem bem
chegou ao Brasil ainda. Nem a Arqueoastronomia e nem Estudos Megalíticos. Os arqueólogos
brasileiros ainda estão brincando de “lascas de pedra” em Calçoene! Todavia, não precisei ir
estudar no exterior. Como dizem por aí (e não acho muito verdadeiro), “já nasci com o dom!”
Bastou eu olhar para a Serpent Mound e eu já estava vendo constelações nela! Reconheci, de
cara, Escorpião, Hidra e Touro (figura 26). E, dentro de Touro, as Híades! Ou pode ser que
aquela constelação do meio não seja a Hidra, mas um conjunto de constelações unidas que
atravessam, de lado a lado, o oceano da redoma celeste. Todavia, existe uma boa evidência de
que seja ela, pois ela está, temporalmente, equidistante de Antares e de Aldebaran.

Nota: A tradução do aforisma francês é “A Atlântida é um sonho submerso, na profundeza do oceano, de nossas
ilusões perdidas!”.

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FIGURA 26

Outra coisa que eu percebi imediatamente é que a cabeça da serpente aponta de forma
bífida, como a língua das cobras, para duas direções diferentes. E duvido muito que o Graham
Hancock tenha notado ou se questionado sobre o porquê disto! É só seguir a lógica do desenho
(figura 27): a elipse é o sol enquadrado entre os chifres da constelação de Touro e a forma
triangular são as Híades. Ou seja, uma linha aponta para o pôr do sol do solstício de verão (à
direita, porque estamos no hemisfério norte) e a que atravessa a seta aponta para onde se
põem as Híades, nas proximidades do horizonte.
Então, só o que precisava fazer era retroceder no tempo e descobrir quando o sol do
solstício se posicionava entre os “chifres” da constelação de Touro. E foi bem isto que eu
respondi àquela senhora: 23.500 aC! E aqui temos duas hipóteses: ou quem construiu o Monte
da Serpente viveu há mais de 25.000 anos atrás, ou a tradição astrológica, de quem construiu
o Monte da Serpente, remonta à culturas milenarmente mais antigas. Esta idéia não lhe
parecerá tão absurda quando constatar que a Astrologia moderna está 500 anos
astronomicamente defasada. Sim, eu nasci sob o signo de Escorpião e os astrólogos modernos
lêem o meu horóscopo como se eu fosse do signo de Sagitário. Eles mantiveram uma tradição
obsoleta da era em que os últimos reis ainda consultavam astrônomos-astrológicos e nunca
mais se atualizaram!

FIGURA 27

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8. AS PEDRAS DE PEABIRU

Entre a Tapera e o Carianos, na mesma praia onde se encontram Caiacanga Mirim e a


Pedra dos Feiticeiros, há um dólmen e dois menires que apelidei de As Pedras de Peabiru. Dol
maen , dólmen, é uma palavra de origem bretã que significa mesa de pedra e maen hir , menir,
significa pedra alongada. Chamei-as de Pedras de Peabiru porque, além de estarem alinhadas
ao pôr do sol do solstício de inverno, seguindo a direção do sol, a linha encontraria Machu
Picchu, com uma exatidão inacreditável. E os Incas construíram estradas que chegavam ao
litoral brasileiro, chamadas de caminhos de Peabiru. Da língua Tupi, pe significa caminho e
abiru significa gramado amassado.
Sabemos que os Incas já conheciam o oceano atlântico, bem como a Ilha de
Florianópolis, mas, será que teriam conhecimento para fazer um alinhamento desses com
tamanha precisão?

FIGURA 29

FIGURA 30

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9. AS PEDRAS DA MÃO

Existe um costão, à direita da praia da Barra da Lagoa, onde se esconde o que


costumaram chamar de Pedra do Frade. Porém, lamento informar que nunca irei me referir
àquelas pedras com este nome, pois não vejo nada de frade naquilo. O que vejo lá é,
claramente, uma mão apontando para o horizonte. Consigo até mesmo ver as ranhuras, que
separam os dedos, sulcadas na pedra. Consigo ver a falange distal do dedo indicador, acima
dos outros dedos, consigo ver o polegar ao lado...

FIGURA 31 – Solstício de Verão nas Pedras da Mão.

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10. O MEGÁLITO DE MARIANA PIMENTEL - RS

À 60 km de Porto Alegre, existe uma cidadezinha, bem pequenininha, chamada de


Mariana Pimentel e, nas cercania dela, afastada à uns 8 km, há uma pedra bem grande, muito
grande, que parece estar se equilibrando sobre outra. Embora os cidadãos desse pequeno
vilarejo, perdão, cidade, a chamem de grande maravilha da natureza e de ponto turístico,
acredito que ela possa não ser tão natural quanto eles imaginam.

Tenho uma hipótese bastante interessante sobre ela. Se a formatação dela fosse
antrópica, poderia estar apontando para alguma direção. Se ela estivesse apontando para uma
direção, seria, a princípio, para Porto Alegre. Se Porto Alegre não fosse tudo que ela estivesse
destinada a indicar, seria para a região sudeste do estado de Santa Catarina. E nesta região
sudeste de Santa Catarina, encontram-se as quatro maiores anomalias rochosas, fora de
Florianópolis, que os arqueoastrônomos, como eu, acreditam tratar-se de megálitos! Essas 4
anomalias são o Ídolo, de Garopaba; a Pedra de Jararacuçu, de Gravatal; a Pedra do Equilíbrio,
de Tubarão; e a Pedra do Frade, de Laguna. Todavia, destas quatro, escolhi a que, baseada nos
meus cálculos e fotos de satélite, deve ser a mais provável:

FIGURA 32 – A Pedra do Equilíbrio, de Tubarão - SC e a Pedra Equilibrada, de


Mariana Pimentel - RS.

A Pedra do Equilíbrio, de Tubarão, se assemelha aqueles crânios alongados, cultuados


em culturas ancestrais ou civilizações mais antigas, de quase todos os continentes.

E só o que lamento foi não ter tido apoio da UFRGS, nem da prefeitura de Mariana
Pimentel, em ceder imagens de drone sobre a pedra, para eu poder ter mais certeza sobre o
que estou dizendo. Pois, se eu estiver correto, este será o achado arqueoastronômico mais
importante da história deste país!

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POSFÁCIO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É uma pena observar que a Arqueologia brasileira não ouse dar mais crédito ao
megalitismo em nosso país. Não é possível que todas essas evidências gritantes sejam apenas
“coincidências”, “acidentes naturais”!

Espero que o meu trabalho de decifração não seja interpretado como uma pretensão de
conhecimento, pois nem os nossos ancestrais atribuíam significados únicos, exclusivos, aos
símbolos. É apenas uma referência que pode explicar hipoteticamente a forma como tais
caracteres enigmáticos possam ter surgido.

A minha jornada arqueoastronômica se iniciou numa fase difícil de minha vida,


enquanto prestava serviço de carreira militar. As adversidades causaram em mim um efeito
colateral de expansão da consciência, a começar a observar coisas que, antes, não teria
condição mental ou intelectual de fazer.

Acho que nunca conseguirei expressar o quanto sou e sempre serei grato à vida militar
por ter me dado tanta força, coragem e honestidade para buscar a verdade. E é certo que, se
não fosse a existência da Base Aérea de Florianópolis, não haveria tanta preservação desses
sítios arqueológicos que foram escavados e estudados pelo Padre João Alfredo Rohr. E, lá,
ainda estão Caiacanga Mirim, as Pedras de Peabiru, as Pedras dos Feiticeiros e quem sabe
outros mistérios.

E, agora, despeço-me de você, prezada(o) leitor(a), desejando que meus escritos


tenham acrescentado algo de bom a sua vida, nem que tenha sido um breve e agradável
entretenimento!

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( CRÍTICAS DOS PRIMEIROS LEITORES )

“Demasiado pretensioso e hipotético,


ainda assim, valeu a tentativa!”
Renomado pesquisador de petróglifos

“Parabéns! Agora, também, os astrólogos


e os arqueólogos virão atrás de você!”
Amigo e militar aposentado

“Estou em prova na faculdade,


tenho muita coisa pra estudar. Depois o leio!”
Um velho amigo

“Legal!”
O mesmo velho amigo (de cima),
depois de saber que outro conhecido leu e adorou.

“Bem interessante! Fico impressionado com


o conhecimento que já tinham há milhares de anos!”
Primo de primeiro grau

“Vou começar a ler semana que vem,


quando sobrar tempo!”
Tia, mãe do primo de primeiro grau

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POSTERIORMENTE

Após escrever o livro, no dia 09 de julho de 2023, tive uma epifânia, sobre uma velha
suspeita, e a interpretação a seguir veio a constituir uma nova evidência de que a Pedra Partida
tenha sido realmente um local de observação dos irregulares equinócios lunares. Entre a pedra
de Santinho Norte (figura 19) e a Pedra Partida (figura 20), existe um painel com diferentes
gravuras circulares agrupadas.

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Sabe aquele petróglifo, que
os membros das comunidades
de pescadores cultuavam e que,
depois do Pe. Rohr levá-lo para
um museu, extraviou-se para
sempre?

Por assemelhar-se à imagem


medieval de um santo, a praia,
em que se encontrava, teria
sido batizada com o nome
Praia do Santinho.

Mas, sei lá, pode ser − e isto é só uma suposição – que ela,
realmente, não tenha sido perdida...

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E sigo sonhando com Kai Akanga Mirim !

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