Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISBN mS·85-7618-222- 1
l' Edi\'ão - 2011
DESCONHECIDAS
• Impresso no Brasil • en Brazilo
FRANÇO IS ARAGO
VICTOR HuGO
\VILLIA.\1 THm,jSO"
Sumário
7
Esclarecimento ao leitor
8 CamiUe Flammarion
há nisso de tão importante? Mesas que se elevam, móveis que se O mesmo acontece aqui, mas com um pouco mais de pai- xão. De
mexem, poltronas que se deslocam, pianos que saltam, cortinas um lado, os céticos não abrem mão de suas objeções, convencidos
que se agitam, pancadas dadas sem causa conhecida, respostas a de que eles conhecem todas as forças da natureza, que todos os
questões mentais, frases ditadas ao contrário, aparições de mãos, médiuns são farsantes e que os experimentadores não sabem
de cabeças ou de fantasmas, tudo isso não passa de banalidades ou observar. Por outro lado, os espíritas crédulos que imaginam
de bobagens indignas de ocupar a atenção de um cientista. E o que haver constantemente espíritos à sua disposição em
isso provaria, se fosse verdade? Isso não nos interessa". uma mesinha redonda2 e evocam, sem pestanejar, Platão, Zo-
Há pessoas incapazes de se abalarem, mesmo que o céu lhes caia roastro, Jesus Cristo, Santo Agostinho, Carlos Magno, Shakes-
sobre a cabeça. peare, Newton ou Napoleão, eles irão me lapidar pela décima vez,
Eu responderei: Mas como? Nada significa saber, constatar, declarando que me vendi ao Instituto por uma ambição inveterada,
reconhecer que existem forças desconhecidas ao nosso redor? e que não ouso concluir em favor da identidade dos espíritos, para
Nada significa estudar nossa própria natureza e nossas próprias não contrariar os amigos ilustres. Eles não esta-
faculdades? Tais problemas não merecem ser incluídos no pro- rão mais satisfeitos do que os primeiros. Tanto pior! Obstino-me
grama das pesquisas e que lhes dediquemos horas de atenção? a somente dizer aquilo que sei,
Certamente, ninguém reconhece os esforços dos pesquisadores mas o digo. E se aquilo que sei pode desagradar, tanto pior para
independentes. Mas o que isso importa? Trabalha-se pelo prazer os pre-
de trabalhar, de escrutar os segredos da natureza, de se instruir. conceitos, a ignorância geral e o bom-tom das pessoas distintas,
Quando, ao observar as estrelas duplas no Observatório de Pa- ris para as quais o máximo da felicidade consiste no aumento da
e ao catalogar esses pares celestes, elaborei, pela primeira vez, fortuna, na caça às posições lucrativas, nos prazeres materiais,
uma classificação natural desses astros longínquos; quan- do nas corridas de automóvel, no camarote da ópera ou no flue o'
descobri os sistemas estelares compostos de várias estrelas oclock tea no restaurante da moda, e cuja vida se dissipa ao lado
arrastadas na imensidão por um movimento próprio comum; das satisfações ideais do espírito e do coração, ao lado dos
quando estudei o planeta Marte e comparei todas as observa- ções prazeres da inteligência e do sentimento.
feitas em duzentos anos, para obter, ao mesmo tempo, uma análise Quanto a mim, humilde estudante do prodigioso problema do
e uma síntese desse mundo vizinho; quando, ao exami- universo, eu pesquiso, interrogo as esfinges. O que somos nós?
nar o efeito das radiações solares, criei o novo ramo da física ao Sobre esse aspecto, não sabemos nada além do que se sa- bia na
qual se deu o nome de radiocultura, e fiz variar completamente época em que Sócrates colocava como princípio a máxi- ma:
as dimensões, as formas e as cores das plantas; quando descobri Conhece-te a ti mesmo, muito embora tenhamos medido a distância
como um gafanhoto eviscerado e empalhado não está morto, e das estrelas, analisado o sol e pesado os mundos. Será que o
que esses ortópteros podem viver quinze dias após lhe ter sido conhecimento de nós mesmos nos interessaria menos que o
cortada a cabeça; quando plantei em uma estufa do Muséum conhecimento do mundo exterior? Não é provável. Estude- mos,
d'histoire naturelle de Paris (Museu de História Natural de Pa- ris) pois, com a convicção de que toda pesquisa sincera é útil
um carvalho comum de nossos bosques (Quercus robur) ao progresso da humanidade. Observatório de Juvisy, dezembro
pensando que, não mais sob a influência das estações, ele sem-
pre teria as folhas verdes (o que todo mundo pode constatar) etc. de 1906.
etc., eu trabalhei por meu próprio prazer, o que não impede que
esses estudos tenham sido úteis ao avanço das ciências e tenham 2 N. da T - Em francês guéridon, uma a mesinha de salão redonda, com um eixo central
entrado no domínio prático dos especialistas. como pé, de cuja extremidade inferior saem três pés curvos. Muito usada nos
salões parisienses para a experiência das mesas girantes.
i I
30 Camille Flmillllarion As Forças Naturais Desconhecidas 31
"SÓ acreditarei nos fogos-fátuos quando eu os vir durante o dia", a nós, e a hipótese dos espíritos se apresenta bem naturalmen- te.
que pensaríamos nós de sua sanidade? Quase a mesma coisa que Uma palavra é iniciada. Pensamos poder adivinhar seu fim.
dela pensaríamos se ele acrescentasse que a existência das estre- Escrevemo-la para perder menos tempo. A mesa reage, agita-se,
las não é muito certa, porque elas se mostram somente à noite. impacienta-se: não é nada disso. É outra palavra que está sendo
Existem, em todas as observações e experiências de físi- ditada. Portanto, há nisso um elemento psíquico que nós somos
ca, condições a serem aceitas. Nas que aqui citamos, uma luz obrigados a reconhecer, qualquer que seja, aliás, sua natureza. O
muito viva parece, geralmente, prejudicar a produção intensa dos sucesso das experiências nem sempre depende da vonta- de do
fenômenos. Mas nem é preciso dizer que as precauções de garantia médium. Certamente, ela constitui o principal elemento, mas certas
contra a trapaça devem aumentar na razão direta da diminuição da condições independentes do médium são necessá- rias. O ambiente
visibilidade e de outros meios de controle. Mas voltemos às nossas físico criado pelas pessoas presentes tem uma ação não
experiências. negligenciável. O estado de saúde do médium tam- pouco deixa de
influenciar. Se ele estiver cansado, mesmo com a melhor boa-
6 - Pancadas se fazem ouvir dentro da mesa e ela se move, se vontade do mundo, o valor dos resultados será afetado. Tive uma
levanta, torna a cair, bate o pé. Dentro da madeira produz-se uma nova prova desse fato, tantas vezes observa- do, no dia 30 de maio
espécie de trabalho interior por vezes bastante violento para de 1906, em minha casa, com Eusapia Paladino. Havia mais de um.
rompê-la. A mesinha redonda que aqui utilizei, entre ou- tras, foi mês que ela estava sofrendo de uma afecção muito dolorosa nos
deslocada e consertada mais de uma vez, e não foi abso- lutamente olhos e, além do mais, estava com as pernas inchadas. Éramos sete,
a pressão das mãos colocadas em cima dela que teria provocado entre os quais dois obser- vadores bastante incrédulos. Os resultados
esses deslocamentos. Mas há algo a mais do que essa força física, foram quase nulos: a elevação, de apenas dois segundos, de uma
há, nas ações do móvel, a intervenção mental da qual já falamos. mesinha redonda pesando, aproximadamente, seis quilos; o
levantamento de um
Interrogamos a mesa por meio dos sinais convencionados só lado de uma mesa de quatro pés, e algumas pancadas. Entre-
resumidos anteriormente, e ela responde. Frases são batidas, ge- tanto, a médium parecia animada por um desejo real de obter
ralmente banais e sem qualquer valor literário, científico ou filo- alguma coisa. Ela me confessou, todavia, que o que mais havia
sófico. Mas, enfim, palavras são batidas, frases são ditadas. Es- sas paralisado suas faculdades, fora o espírito cético e sarcástico de
frases não são todas formadas sozinhas e não é, tampouco, o um dos dois incrédulos, de quem eu conhecia o ceticismo abso-
médium que as bate ... conscientemente, seja com seu pé, seja com luto, que, contudo, não se manifestara de nenhum modo, mas que
sua mão, seja com a ajuda de um músculo estalante, pois nós as Eusapia havia adivinhado imediatamente.
obtemos em sessões realizadas sem médiuns profissio- nais e em O estado de espírito dos espectadores, simpático ou anti- pático,
reuniões científicas onde qualquer fraude seria o últi- mo dos age sobre a produção dos fenômenos. Este é um fato incontestável
absurdos. A mente do médium e dos experimenta dores certamente de observação. E não se trata aqui apenas de um
têm alguma coisa a ver com isso: as respostas obti- das médium ardiloso, impossibilitado de agir em consequência de
correspondem, geralmente, ao seu estado intelectual, como se as uma inspeção crítica atenta, mas também de uma força con- trária
faculdades mentais das pessoas presentes se exteriorizas- sem de que pode neutralizar mais ou menos as faculdades mais sinceras.
seus cérebros e agissem na mesa, numa total inconsci- ência dos Aliás, não acontece a mesma coisa nas assembleias, numerosas ou
experimentadores. Como esse fato pode se produzir? Como restritas, nas conferências, nos salões etc.? Não vemos seres de
podemos construir e ditar frases sem sabê-lo? Por vezes, as ideias influência funesta interromper repentinamente a
emitidas parecem vir de uma personalidade estranha realização das melhores intenções?
40 Camille FlaITllllarion 41
escrevessem. Qualificavam-nas de "médiuns escreventes". Essas mos, então, que Júpiter era habitado por uma raça superior:
dissertações eram lidas, a seguir, para um auditório atento. Não aquelas comunicações eram, portanto, o reflexo das ideias ge-
se fazia nenhuma experiência física de mesa girante, movente ou rais. Hoje, não imaginaríamos nada de semelhante neste glo- bo e,
falante. O presidente, Allan Kardec, declarava não dar ne- aliás, nunca as sessões espíritas nos ensinaram qualquer coisa sobre
nhum valor a elas. Parecia que, para ele, os "ensinamentos dos astronomia. Tais resultados não provam de forma
Espíritos" deviam formar a base de uma nova doutrina, de uma alguma a intervenção dos espíritos. Os médiuns escreventes de-
espécie de religião. ram sobre isso alguma prova mais convincente? É o que tere- mos
Na mesma época, e já há vários anos, meu ilustre amigo, Victorien de examinar, sem qualquer parcialidade.
Sardou J que tinha sido um ocasional frequentador do Eu também tentei ver se, me concentrando, minha mão
Observatório, escrevera, como médium, páginas curiosas sobre abandonada passivamente e dócil escreveria. Não tardei a cons-
os habitantes do planeta Júpiter e produziu desenhos pitorescos e tatar que, após ter traçado barras, "os", linhas sinuosas mais ou
surpreendentes, cujo intuito era o de representar as coisas e seres menos entrelaçadas, como poderia fazê-lo a mão de uma crian- ça
daquele mundo gigante. Ele desenhara as habitações de Júpiter. de quatro anos que começava a escrever, minha mão acabou
Uma de suas habitações coloca sob nossos olhos a casa por dar origem a palavras e a frases.
de Mozart, outras, as casas de Zoroastro e de Bernard Palissy/ que
seriam vizinhos rurais naquele imenso planeta. Essas ha- bitações
são etéreas e de uma requintada leveza. Poderemos julgá-las pelas
duas figuras aqui reproduzidas (Pranchas II e III). A primeira
representa a casa de Zoroastro e, a segunda,
"o espaço dos animais", na residência do mesmo filósofo. Nele
" podemos encontrar fiores, redes, balanços, seres voadores e,
embaixo, animais inteligentes que estão jogando um tipo espe- cial
de boliche, que consiste não em derrubar os pinos, mas em encaixá-
los, como no bilboquê etc.
Esses curiosos desenhos provam, indubitavelmente, que a Prancha II - Casa imaginária de zoroastro, emjúpiter - (Desenho mediúnico do senhor
assinatura "Bernard Palissy, em Júpiter" é apócrifa e que não Victorien Sardou)
foi um Espírito habitante desse planeta que dirigiu a mão de
Victorien Sardou. Não foi, tampouco, o espiritual autor que
concebeu previamente esses croquis e executou -os seguindo um
plano determinado. Ele se encontrava, então, em um es-
tado especial de "mediunidade". Nesse estado, não somos nem
magnetizados, nem hipnotizados, nem adormecidos de modo
algum. Mas nosso cérebro não ignora o que produzimos, suas
células funcionam e agem, certamente por meio de um movi-
mento reflexo sobre os nervos motores. Todos nós acreditáva-
1 N. da T. - Escritor dramático francês. 2 l". da T. - Um dos mais famosos ceramistas Prancha m - Cena imaginária em júpiter (Espaço dos animais na casa de
Zomastro). Victorien Sardou Médium (ass.) Palissy
franceses, foi também artesão,
decorador, engenheiro, agrônomo, naturalista, geólogo, quími co e escritor.
ordinariamente das reuniões do salão da rua Mont-Thabor e , seu humor negro. E considerado o pai da crítica gaslronômic a. Publicou vários almanaques
sobre gastronomia.
fazer. O autor pretende que "quando o polo norte de Urano está descoberta. Ora, em 1781, o sistema de Urano ocupava, relati-
voltado para a Terra, seus satélites percorrem sua trajetória da vamente a nós, quase a mesma posição que em 1862,já que sua
direita para a esquerda, ou seja, do ocidente para o oriente". O revolução é de 84 anos. Vemos na figura que o planeta, naquela
espírito declara que os astrônomos estão errados e que os sa- télites época, apresentava-nos seu polo mais elevado acima da eclípti-
de Urano giram ao redor do seu planeta do oeste para o ca, ou seja, seu polo norte. O general Drayson deixou-se induzir em
leste, no mesmo sentido que a Lua gira ao redor da Terra. erro ao adotar, sem
Para percebemos exatamente a posição e o sentido dos movimentos controlá-las, essas premissas paradoxais. Efetivamente, se Urano nos
desse sistema, construímos wna figura geométrica especial, clara e tivesse apresentado seu polo sul em 1781, o movimento dos satélites
precisa. Representamos sobre um plano a aparência da órbita de seria direto. Mas as observações do ângulo de posição das órbitas
Urano e de seus satélites vistos do hemisfério norte da esfera quando de suas passagens para os nós mostram-nos, com muita
celeste (figura A). evidência, que era realmente o polo norte que estava naque- le
momento voltado para o Sol e para a Terra, o que torna o mo-
A parte da órbita dos satélites acima do plano da órbita de Urano vimento direto impossível e o movimento retrógrado indubitável.
foi desenhada em traço contínuo e hachuras e a parte abaixo, Para maior clareza, acrescentei na figura A, exteriormente
somente em traço pontilhado. Vemos, pela direção das setas, que à orbita, o aspecto do sistema de Urano visto da Terra, nas qua- tro
o movimento de revo- lução dos satélites, projetado sobre o plano principais épocas da revolução daquele planeta longínquo. Vemos
da órbita, é bem retrógrado. Qualquer afirmação dogmática que o sentido aparente do movimento era análogo ao dos ponteiros
contrária é absolu- tamente errônea. Esses satélites giram no de um relógio, em 1781 e 1862, e inverso em 1818 e 1902.
sentido do movimento dos pontei- ros de um relógio, da esquerda Naquelas épocas, as órbitas aparentes dos satélites eram quase
para a direita, considerando-se a parte superior dos círculos. O circulares, ao passo que em 1798, 1840 e 1882, elas se reduzem a
erro do médium provém do fato de que ele pretendeu que o polo linhas retas quando das passagens para os nós. A figura B
sul de Urano teria estado voltado para nós na época da completa esses dados, apresentando o aspecto das órbitas e o
sentido do movimento para todas as posições do
planeta e até nossa época.
/ (
I
'
I'
/
J
/
A ser citado como uma descoberta devida aos espíritos. Eis os
para
sfatos de observação das experiências mediúnicas. Não
::'/ I '. faço
t com eles uma generalização estranha à sua esfera de ação.
r , ..
-
.... ( rEles não provam que em detenninadas circunstâncias, pensado-
.i- /AI'\ 2.i res,
o poetas, sonhadores e pesquisadores não possam ser inspira- dos
1. npor influências externas aos seus cérebros, por seres amados, por
I,
,
\'
"
\'
1
\
'
\
oamigos desaparecidos. Mas isso é outra questão, assunto di-
(.
I\.. "
&
I
'
, ,\
,
ferente
m das experiências com as quais nos ocupamos neste livro. O
\1. _ á
- , I a imesmo autor, aliás, geralmente muito judicioso, cita vá- rios
;I
._ =
. •
o
exemplos de línguas estrangeiras faladas pelos médiuns. Não pude
.
' .
- . • ,
a
(/
1
.0
I .
- . 0
i".
.
-!
' -
.
.
verificá-los - e me pediram que aqui eu só citasse as coisas das
/.r ,
Pquais tenho certeza.
"0
-
.
,
JÇ ' -
• /
- .
,
1\ :, oDe acordo com minhas observações pessoais, essas experi- ências
\' 1
c ;'
\.. _. ;.
'
.
.
f
t
;
/
pconstantemente nos colocam diante de nós mesmos, de nossas
.n I
.
.
upróprias mentes. Eu poderia citar mil exemplos.
".
\ . M &
Figura 13 - Órbitas dos satélites
/. '
de Urano vistas da Terra a partir da época de sua descoberta
" r
p
(1781), <
.
l
.
-
>
$
U A
. » ,
aCerto dia, recebi um "aerólito" descoberto em um bosque, nas
).
)O
. r
i
1
\
Fiz questão de elucidar completamente esse assunto um pouco
l
l
'
6
rproximidades de Etrepagny (Eure). A senhora J L., que teve a
técnico. Para meu grande pesar, os espíritos nada nos
t
t
s
p
o )delicadeza de enviá-lo, acrescenta que ela perguntou a sua
'
ensinaram, e esse exemplo, ao qual se dá
d
e
q
Gtanta importância, ,proveniência a um espírito e que ele respondeu-lhe que ele
2 e
reduz-se a um erro.0 d ,
provinha de uma estrela chamada Golda. Ora, em primeiro lu- gar
Aksakof cita, nesse mesmo capítulo (p. 343), o anúncio da
u
. t
e
pnão existe estrela com esse nome e, em segundo, não era um
descoberta de dois satélites
l
e
del
l
í
Marte, também feito a Drayson por .aerólito, mas um pedaço de escória proveniente de uma antiga
um médium, em 1859, arou seja, dezoito anos antes de sua
l
C
:
fundição. (Carta 662 de minha pesquisa de 1899, cujas primei- ras
descoberta, em 1877. Essa
d descoberta, que não foi publicada na
6
5cartas, relativas à telepatia, foram publicadas no meu traba-
é
época, permanece duvidosa.
t
e
o
Além disso, após Kepler ter apontado
Í
"
0lho L'Inconnu (O Desconhecido).
a probabilidade de sua neexistência, o assunto dos dois satélites de
!
.
i
1 D
Marte foi muitas vezes n.discutido, particularmente, por Swift e por
r
u
u
) e
Voltaire (vide meu livroe
Astronomie Populaire
s
. Suas conclusõ es talvez diminuam a certos olhos o pres- tígio
v / do espiritismo. Mas como o prestígio pode l evar à superstiç
u
s
l M ã o, é bom se esclarecer sobre o assunto. Quanto a mim, o
2 '
01 d 7
8
P o que o senhor observou está de acordo com o que eu própria
e
t8 1 o n pude observar. Eis o procedimento que empreguei, ajudada
th
A 8 l )
a
h
ec8
a
.
.
r t por uma
n
ea,
d r t p a
estar13
o a 29° 25' 47" do pala
e da rotaç. ã o diLlrna, cerca de 270" de ascensão reta, e rea m
E
E
b
a
liz3l'se-ia
sE em 32.682 anos. nO autor tenta explicar por meio dessa rotaçã o os perío dos a e
a
op e i
u
d
glaciais
a
rbizarras e e as variaç õe s climáticas. Ylas a obra está repleta de confusõe s n l g
T e até imperdoá veis para um homem versado em estudos astronômic os, O general aE
d
rtdl
eDrayson, morto há alguns an os, nã o era astrõnomo, t l a
p
u
a
th
ero
h
'
o i e.
p
rh
,se6 , e g
d
á
a C As Forças Naturais
a
inu r a Desconhecidas 69
ig
8
,sO
p
ct a ziv
tu n ,
a
o
o
E r a
in
manobra habitual: ""Cm espírito quer se comwl1car?". outra da qual não tem consciência e que ele atribui a
Resposta: - Sim. seres invisíveis. O cérebro hwnano é, então, um teatro
Pergw1ta: - Você pode ver o livro que acabo de olhar? onde se representam, simultaneamente, várias peças
Resposta: - Sim. diferentes, em diversos planos, dos quais um só é visí-
- Há quantos algarismos na página que olhei? - vel. Nada mais digno de estudo do que essa pluralidade
Três. essencial do eu. Vi uma pessoa que, enquanto conversa
- Indique o número da centena. ou canta, escreve, sem olhar o papel, frases consecuti-
-Um.
vas e até mesmo páginas inteiras, sem ter consciência
- Indique o valor da dezena. - do que escreve. Aos meus olhos, sua sinceridade é per-
Três. feita: ora, ela declara que ao fim da página, não tem a
- Indique o valor da unidade. - mínima ideia do que traçou sobre o papel; quando o
Dois. lê, ela fica surpresa, às vezes alarmada. A caligrafia é
Essas indicações davam exatamente o número cento e diferente de sua caligrafia habituaI. O movimento dos
trinta e dois. dedos e do lápis é rígido e parece automático. O texto
Era admirável. Mas, pegando o livro fechado e sem abri- sempre termina com uma assinatura, a de uma pes- soa
lo, deslizando morta, e traz a marca de pensamentos íntimos, de
entre suas páginas uma espátula para papel, eu retoma- um plano de fundo mental que o autor não gostaria de
va o diálogo ... e o resuJtado com este último procedi- divulgar. - Certamente, constatamos aqlú um desdo-
mento sempre foi inexato. bramento do eu, a presença simultânea de duas séries de
Repeti, com frequência, essa pequena experiência ideias paralelas e independentes, de dois centros de
(curiosa, apesar de tudo) e todas as vezes, tive respos- tas ação ou, se assim o desejarmos, de duas pessoas ju-
exatas quando eu as sabia, e inexatas, quando eu as rídicas justapostas no mesmo cérebro, cada qual com
ignorava. (Carta 657 de minha pesquisa). sua obra, e cada qual com wna obra diferente, uma no
palco e a outra nos bastidores; a segwlda tão completa
Esses exemplos poderiam ser multiplicados ad infinitum. quanto a primeira, já que sozinha e fora dos olhares da
Tudo nos leva a pensar que somos nós que agimos. Mas não é assim outra, ela constrói ideias consecutivas e alinha frases
tão simples como poderíamos acreditar e existe outra coisa agindo nas quais a outra não toma parte.
ao mesmo tempo em que nós. Certas transmissões
inexplicáveis se produzem. Em sua notável obra, De l'Intelligence Essa hipótese é admissível, tendo em vista as numerosas
2:
(Da Inteligência), observações
Ela sobre
é aplicável a umdupla consciência.
grande número de casos,
J
mas não o é para
21
explica
Taine as comunicações mediúnicas como sendo uma espécie de todos. Ela explica a escrita automática. Mas é ainda preciso
desdobramento inconsciente da nossa mente, como ampliá-la conside-
eu dizia mais acima. Ele escreveu: 22 ravelmente para levá-la a explicar as pancadas (pois quem as
produz?) e ela não explica absolutamente as elevações da mesa,
Quanto mais bizarro é um fato, mais ele é instrutivo. A nem os deslocamentos de objetos dos quais falamos no primeiro
esse respeito, as próprias manifestações espíritas capítulo, e nem vejo muito bem como ela poderia explicar as
colocam-nos no camin ho de descobeltas, mostrando- nos frases ditadas em ordem inversa ou em combinações bizarras
a coexistência, no mesmo momento, no mesmo 23 Todos aqueles que se ocupam,dessas questões conhecem, entre outras, a história de
indivíduo, de dois pensamentos, de duas vontades, de Félida (estudada pelo doutor Etienne Eugene Azam, médico e cirurgião francês) na qual
duas ações distintas: uma, da qual ele tem consciência, essa jovem mostrou-se dotada de duas personalidades distintas a tal ponto que, no estado
=- :- :- : -- :- -: : :- -= -= -- - ,- segundo (expressão criada por Azam para designar a personalidade secundária observada
21
22 N.
Deda T. - Hippolyte
I'lntelligence, Taine,
tomo crítico, filósofo
l, prefácio, e historiador
p. 16, edição de 1897.francês.
A primeira edição data de 1868. nos estados histéricos), ela apaixonou-se e ... engravidou,
sem que tivesse conhecimento disso em seu estado normal. Esses estados de dupla
personalidade foram metodicamente observados h;í cerc.a de trinta anos.
I
[
desejarmos
s
ultrapassar
m
personalidade
e
generalizá-la e fazê-la tudo explicar: isso já é
os limites. Que os atos subconscientes de uma
anormal
ne que, está em preparação desde a redação desse livro (1899). As
p
lt
irc n
,
implantados momentaneamente em nossa personalidade nor- mal cio p ó
!
expliquem p a maioria das comunicações mediúnicas pela escrita, alserão p
m s nele tratados em8capítulo s espe- ciais, bem como o problema,
o
nós s podemos admitir. Podemos ver nisso, também, efei- çoerutambém bastante importante, da pluralidade das existências. Não me
ty ãqcabe ln naqui estender-me sobre esses aspectos da questão geral. O que
o
lc uV
o ipretendo ã estabelecer neste livro é que exis- tem em nós e ao nosso
: sh
ó
Todos nós temos uma tendência a querer tudo explicar pelo estado iscredor, o força s desconhecidas capazes de colocar a matéria em
1 go
atual dos nossos conhecimentos. Diante de certos fato s, sacmovimento, como o faz nossa vontade. Devo, portanto, limitar-me
iel nós dizemos: isso é sugestão, isso é hipnotismo, é isso, é
hoje aaos ftç fenômenos c físicos . O quadro já é imenso, e as "comunicações"
cvo
aquilo. Não teríamos falado assim há meio século, pois essas teorias teao õdas quais o acabamos de falar estão fora desse quadro. Mas como esse
não aig tinham sido inventadas. Não falaremos da mesma maneira iassunto lre m está em perpétuo contato com as experimentaç ões psíquica
daquisdi a meio século, a um século, pois teremos inven- tado outras sas, erap necessário resumi-lo aqui. Voltemos, agora, aos fenômenos
eq
palavras. Mas não nos contentemos apenas com pa- fn H produzidos
r pelos médiuns de efeitos fí sicos, assim como à quilo
lavras;
nu não sejamos tão apressados. Seria preciso que atsu m que eu
e mesmo constatei
ãte
soubéssemos explicar de que modo no s- rtg e e
sos e pensamentos, conscientes, inconscientes ou subconscientes,
o aeo
ó d n
podem s( produzir pancadas em uma mesa, movê-la, levantá -la. rpc,i d
Como sO essa questão é bastante embaraçosa, o senhor Pierre Ja- iao ú e
2
net
trata-aad 5 como "personalidade secundária" e é obrigado a in- vocar o açm n m
p
teA
movimento dos artelhos, o músculo estalante do tendão .an ei26 L'Automatisme
o psychologique, p.40 1·402. 27 N. da T. - Literato francês, autor de
iouovo
24 N. da T. - Em Viagens de Cultiver, os Big·endians eram os partidários do modo de cortar
pela extremidade mais grossa e os Little·endians, do modo de cortar E
C1.1Oses
cl s de l'autre monde (Coisas do
o
sat dOu sa
oo
fu0\'0 pela extremidade mais fina. 25 N. da T. -
Neurologista e psicólogo francês. eu2ts/f8 c
atm as, o
ra
7o za clN
o
p
eaAs Forças
m
t C . Naturais Desconhecidas 73
2e- a oM in
n
u
o
si
m m ash
sd n
m
us
Capítu lo 3 de Rochas sobre Extériorisation de la Motricité (Exterioriza-
ção da Motricidade), assim como de inúmeros artigos nas re-
vistas especializadas.
A impressão resultante da leitura do conjunto dos relató- rios
não é absolutamente satisfatória e deixa, aliás, margem à
curiosidade. Por outro lado, posso dizer, como já tive ocasião de
observar, que, durante os últimos quarenta anos, quase todos os
Minhas experiências com Eusapia Paladino médiuns célebres passaram por meu salão da Avenida do
vatoire,
Obser- em Paris, e que a quase todos surpreendi blefando. Não
quero dizer que eles estejam sempre enganando, e aqueles que
afirmam isso estão errados. Mas, consciente ou inconsciente-
mente, eles trazem em si um elemento suspeito do qual devemos
constantemente desconfiar, e que coloca o experimentador em
condições diametralmente opostas às da observação científica.
A propósito de Eusapia, recebi do meu colega, o senhor
Vimos, nas primeiras páginas deste livro, algumas das mi- nhas Schiaparelli, Diretor do Observatório de Milão, do qual a ciên-
últimas experiências com a médium napolitana Eusapia cia é devedora devido a tantas descobertas importantes, urna
Paladino. Iremos voltar às primeiras. Minha primeira sessão de longa carta da qual destacarei algumas passagens:
estudos com essa médium fa-
mosa ocorreu no dia 27 de julho de 1897. A convite de uma Durante o outono de 1892, fui convidado pelo senhor
excelente e honrada família , a família Blech, cujo nome está, Aksakof para assistir a um determinado número de ses-
há muito tempo, favoravelmente associado às pesquisas moder- sões espíritas realizadas sob sua direç ão e responsab i-
nas de teosofia, de ocultismo e de psiquismo experimental, fui lidade, com a médium Eusapia Paladino, de Nápoles.
Nessas sessões, vi coisas muito surpreendentes, das
a Montfort-l'Amaury conhecer pessoalmente essa médium, já quais, urna parte poderia, na verdade, ser explicada por
estudada em várias circunstâncias pelos senhores Lombroso,l meios muito comuns. Mas há outras, das quais eu não
Charles Richet, Ochorowicz,2 Aksakof, Schiaparelli, Myers, :l saberia explicar a produção com os princípio s conheci-
Lodge,4 A. de Rochas,5 Dariex, J. Maxwell,li Sabatier,7 de Watte- dos pela nossa física. Acrescento, sem nenhuma hesi-
ville e um grande número de outros cientistas de grande valor, e tação , que se tivesse sido possível excluir inteiramente
cujas faculdades tinham até sido assunto de uma obra do conde qualquer suspeita de embuste, deveríamos reconhecer
ness es fatos o início de uma nova ciência muito fecun-
I "\". da T. - Cesare Lombroso, médico e criminologista italiano, foi um dos fundadores da
criminologia moderna. da em consequências da mais alta importân cia. Mas é
2 N. da T. - Julian Ochoro .... icz - psicólogo e filósofo polaco. 3 da T. - Fredrich William
preciso, rea lmente, reconhecer que essas experiências
foram feitas de uma maneira pouco apropriada para
Henry ·Yleyers, literato inglês, célebre pelos seus
estudos sobre os fenômenos espíritas. 4 N. da T. - Oliver Joseph Lodge, físico britânico convencer os homens imparciais sobre sua sinceridade.
conhecido por seu trabalho Em todas elas, eram-nos impostas circunstâncias que
pioneiro sobre radiorreceptores. 5 "\". da T. - Eugene AugusteAlbett de Rochas d'Aiglun, impediam que compreendêssemos bem o que realme nte
engenheiro militar francês, se passava. Quando propúnhamos modificações pró-
administrador da Escola Politécnica de Paris, historiador e pesquisador dos fenômeno s
psíquicos. prias para dar às experiências o caráter de clareza e
6 "\". da T. - Joseph "'laxwell, jurista e médico francês. 7 N. da T. - Auguste Sebatier, de evidência que estaV<l faltando, a médium declarava,
teólogo protestante, um dos fundadores da faculdade invariavelmente, que as mesmas tornavam o sucesso
de teologia protestante de Paris.
14 Os relatórios das sessões de Montfort-l' Amaury foram objeto de uma importante obra 15 Os lugares nã o foram sempre os mesmos que aparecem nas Assim, quando da
do senhor Guillaume de Fontenay: A pmpos d'Eusapia Paladino (A respeito produção da ímpr essão , o sellhor G. de Fontenay estava a dIreIta de
de Eusapia Paladino). Lm vol., in-8° , ilustrado, Paris, 1898. Eusapia, e o se nhor B1ech nesta extremidadl' <! ;l lllesa.
No momento, não tenho nenhum comentário a fazer sobre esses ma da mesa de, aproxima- f \ \ i
relatórios das pessoas presentes. O essencial, parece-me, damente, 20 ou 25 centí- . , metros. Essa figura foi
é deixar a cada um sua exposição e sua apreciação pessoais. O visível durante alguns segundos.
5°) Ouvimos por trás da cortina, o ruído de um móvel
mesmo ocorrerá com os relatórios transcritos a seguir. Repro- rolando sobre o assoalho; num primeiro impulso, ele
duzirei os principais. Apesar de algumas repetições inevitáveis, eles chegou perto de mim; um segundo impulso demiliou-o
!
serão lidos, certamente, com um vivo interesse, tendo em com as pernas para o ar, nesta posição: Era uma pesada
vista o grande valor intelectual dos observadores. cadeira estofada. Outros impulsos fize-
ram-na mexer-se, elevar-se e estremecer; finalmente, ela
i·1
Ir; ficou quase no mesmo lugar onde tinha caído.
6°) Ouvimos o ruído de dois ou três objetos caindo no
RELATÓRIO DO SENHOR ADOLPHE BRISSON
./
Após essa nota, o senhor Gustave Le Bon declarou-me verbalmente que, para ele, 35 N. da T. - Eugime MichaelAntoniadi.
nessas experiências tudo é fraude. 36 N. da T. - Henry Antoine Jules-Bois. eS(Titor fr;lllcês.
descobrir a verdadeira causa ou, ao menos, as verdadei- ras enquanto a médium conservava as pernas estendidas e batia
condições de todos os fatos. Ora, é precisamente sob esse ponto os pés um contra o outro. Exercendo, com a mão,
de vista que nossas experiências parecem- uma pressão sobre o lado levantado da mesa, nós senti- mos
nos ainda muito incompletas. um resistência elástica considerável.
É bem verdade que, com frequência, a médium, para Um dos lados menores da mesa foi suspenso a um di-
provar sua boa-fé, propunha espontaneamente mudar alguma namômetro amarrado com uma corda, fixado a uma trave
particularidade de uma ou outra experiência, apoiada em dois armários. Nessas condições,
e, muitas vezes, ela própria tomava a iniciativa dessas estando a extremidade da mesa elevada a 15 centí- metros, o
mudanças. Mas isso se aplicava, sobretudo, a circuns- tâncias dinamômetro marcou trinta e cinco quilos. A médium
aparentemente indiferentes, segundo nossa ma- sentou-se ao referido lado menor, com as mãos totalmente
neira de ver. Ao contrário, as mudanças que nos pare- ciam colocadas sobre a mesa, à direita e à
necessárias para colocar fora de dúvida o verda- deiro caráter esquerda do ponto de união do dinamômetro. Nossas mãos
dos resultados, ou não foram aceitos como possíveis, ou formavam a corrente sobre a mesa, sem pressão:
proporcionaram resultados incertos. em nenhum caso elas poderiam agir para aumentar
Kão nos julgamos no direito de explicar esses fatos com a a pressão exercida sobre a mesa. Ao contrário, ex- pressamos
ajuda dessas suposições ofensivas que muitos julgam ainda o desejo de que a pressão diminuísse e,
serem as mais simples explicações, e das quais os logo, a mesa começou a elevar-se do lado do dinamô- metro.
jornais tornaram-se campeões. O senhor Gerosa, que acompanhava as indica-
Nós pensamos, ao contrário, que são fenômenos de ções do aparelho, anunciou essa diminuição, expressa por
uma natureza desconhecida, e confessamos que não algarismos sucessivos: 3, 2, 1, O quilos. A seguir, a elevação
conhecemos as condições necessárias para que eles se foi tamanha que o dinamômetro repousou
produzam. Querer fixar essas condições por nossa pró- pria horizontalmente sobre a mesa. Então, nós mudamos as
iniciativa seria, portanto, tão extravagante quanto pretender condições, colocando as mãos sob a mesa. A médium,
fazer a experiência do barômetro de Torricelli particularmente, colo-
com um tubo fechado em baixo, ou experiências ele- cou as suas, não sob a borda, onde ela poderia atingir a
trostáticas em uma atmosfera saturada de umidade, ou, ainda, cornija e exercer uma tração para baixo, mas sob
produzir fotografias expondo a placa sensível à a própria corni:ia que une as pernas da mesa, to-
luz antes de colocá-la na câmara escura. :vias, todavia, não é cando-a não com a palma, mas com o dorso da mão,
menos verdade que a impossibilidade de variar as Assim, todas as mãos só poderiam diminuir a tração sobre o
experiências a nosso modo diminuiu o valor e o interes- dinamômetro. Atendendo ao desejo de ver- mos essa tração
se dos resultados obtidos, suprimindo-lhes o rigor de aumentar, ela aumentou, realmente,
demonstração que temos o direito de exigir, ou melhor, de 3,5 kg a 5,6 kg. Durante todas essas experiências, cada um
ao qual devemos aspirar, para fatos dessa natureza. dos pés da médium permaneceu sob o pé do seu vizinho, da
Seguem os principais fenômenos observados.
direita e da esquerda, mais próximo.
Levitação de um lado da mesa Em plena luz, nós deixamos a
Levitação completa da mesa
médium sozinha à mesa,
as duas mãos colocadas sobre sua face superior, as mangas Seria natural concluir que, se a mesa, por uma contradi- ção
erguidas até os cotovelos. Ficamos de pé ao seu redor e os aparente com as leis da gravidade, pudesse elevar-
espaços sobre e sob se em parte, ela poderia, também, elevar-se totalmente. Foi,
a mesa estavam bem iluminados. ;'-Jessas condições, a mesa realmente, o que aconteceu, e essa levitação, um
ergueu-se, formando um ângulo de vinte a qua- renta graus, e dos fenômenos mais frequentes com Eusapia, prestou- se
manteve-se assim por alguns minutos, a um exame satisfatório,
sugestão, e a ordem para ir até um ponto visado é dada pelo mínimo esforço nesse sentido.
seu cérebro, simultaneamente, à mão dinâmica e 2°) Provaram a fraude inconsciente em proporções muito
à mão corporal, já que no estado nonnal elas formam apenas maiores do que em todas as experimentações
uma. E como imediatamente após a hiperestesia inicial, sua precedentes.
sensação muscular se atenua e a mão torna- 3°) Esse resultado negativo é justificado por um método
se entorpecida, acontece, sobretudo quando a médium procede inábil, pouco adequado à natureza dos fenômenos.
negligentemente e não governa suficientemente
seus movimentos, que a mão dinãmica permaneça no lugar,
ao passo que é sua própria mão que segue a di-
Essa é também a opinião do doutor Joseph Maxwell e de todos os
reção indicada. A primeira, não estando materializada, homens competentes no assunto. Em resumo, vemos que a
produz apenas um simulacro de pressão, e outra pes- influência das ideias preconcebi- das, das opiniões, dos sentimentos
soa, capaz de enxergar um pouco no escuro, nada verá e até sobre a produção dos fenô- menos é incontestável. Quando todos os
poderá constatar, pelo tato, a ausência da mão da médium sobre experimentadores têm quase a mesma disposição de espírito
a do controlador. Ao mesmo tempo, a mão da médium segue na
direção do objeto - e pode até
simpática a esse tipo de pesquisas, e que, estando bem decididos a
ser que ela não () alcance realmente, agindo à exercerem um contro-
distân- cia por um prolongamento dinâmico. le suficiente para não serem vítimas de nenhuma mistificação,
É dessa forma que eu explico os casos em que a mão, tendo se concordam em aceitar as lamentáveis condições de escuridão,
soltado, não pôde, entretanto, atingir o ponto visado, necessárias à atividade dessas radiações desconhecidas e a não
fisicamente inacessível , como também explico as inúmeras perturbar em nada as aparentes exigências do médium, os fenô-
experiências realizadas em Varsóvia, em plena luz, com uma
sineta suspensa de várias formas, menos obtidos atingem um grau de intensidade extraordinário. 2:1
com bússolas de formas diferentes, com uma mesinha etc., Mas se reinar a discordância, se um ou vários assistentes espio-
experiências nas quais os dedos de Eusapia esta- vam muito narem insistentemente os atos do médium, convictos de que ele
i, próximos , mas não tocavam o objeto. Ve- vai trapacear, os resultados assemelham-se ao percurso de um
,I rifiquei que lá não estava agindo nenhuma força elétri- ca, barco a velas, sobre os qual estariam soprando vários ventos
mas que as coisas se passavam como se os braços da médium
contrários. Andamos em círculo sem avançar e o tempo passa
se alongassem, agindo de modo invisível,
I. mas mecanicamente. quase esterilmente. As forças psíquicas não são menos reais do
Em Varsóvia , quando um amigo, o senhor Glowacki, co- que as forças físicas, químicas e mecânicas. Apesar do desejo que
locou na cabeça "que deveríamos deixar a médium agir para poderíamos ter de convencermos os incrédulos de opinião formada,
descoblir seu método", tivemos uma sessão inteira- mente seria útil só convidar um de cada vez, e colocá-lo pró- ximo ao
fraudulenta, e perdemos nosso tempo inutilmente. médium a fim de que ele seja imediatamente atingido, abalado,
Ao contrário, em uma péssima sessão na Ilha Roubaud, nós convencido. Mas, em geral, isso não vale a pena. No mês de
obtivemos algwls bons fenômenos , após termos dito
francamente à médium que ela estava trapaceando. setembro de 1895, uma nova série de experi- ências foi realizada
em Agnelas na Villa do coronel de Rochas, administrador da Escola
E eis as conclusões do autor sobre"as trapaças de Cambridge": Politécnica, com o concurso do doutor Dariex, diretor dos Annales
des sciences psychiques, do conde
1 0) Em Cambridge, não somente não provaram a frau- de
consciente de Eusapia, como também não fizeram o
23 Acrescentarei, para aqueles que desejarem praticar essas experiências, que a melhor
condição para se obter êxito, é a formação de um grupo homogêneo,
pode ser produzido tanto espontaneamente corno por meios técnicos, no qual a pessoa que o imparcial, sincer,o, livre de qualquer ideia preconcebida e que não ultrapasse cinco ou seis
executa tem a capacidade de adivinhar os pensamentos de outras pessoas. O nome provém de pessoas. E absurdo objetar que, paril :1 obtenção dos fenômenos, é preciso ter
Stuart Curnberland, tido corno seu descobridor. fé. )Jão. Mas é conveniente que não se eXl'n;:1 IH'llllllma força contrária.
I
I Ela não deu maiores explicações, mas acrescentou, des- sa vez eos gracejos irreverentes dos jornais cômicos, é preciso
tsg
em italiano: - Para mostrar que não é o corpo da médium, vocês concluir que o elo entre a ciência do céu e a da alma humana é
tu emais profundo do que parece. Eis a
irão l ver um homem com barba, atenção! Eu nada vi, mas o
ro sexplicação mais provável. Trata-se de fenômenos que se
doutor as Dariex sentiu seu rosto sendo bem longamente
acariciado por uma barba. cmanifestam em condições totalmente especiais e ain- da
lr o
e indeterminadas, em conformidade com leis quase
,n l
es desconhecidas e, em todo caso, de um caráter tal que a vontade
h
do experimentador tem apenas pouca influ- ência sobre as
Novas experiências g realizadas em Gênova, em 1901, às quais
m e
vontades autônomas e muitas vezes con- trárias que se revelam
assistiu o senhorrea, Enrico Morselli, professor de psicologia ra qualquer momento. Ninguém
so a
da Universidade,sde Gênova, tiveram como relator meu sábio está mais bem preparado por uma educação científica
m
amigo, o astrônomo s Porro,:J! sucessivamente diretor dos obser- adaptada a tais condições do que um astrônomo. Re-
vatórios de Gênova eo e de Turim, hoje diretor do Observatório ualmente, na observação sistemática dos movimentos celestes,
Nacional da República rb
m Argentina, em La Plata. Eis alguns tre- mo astrônomo adquire o hábito de permanecer
chos desse relatório. ar
b :J2 espectador vigilante e paciente dos fatos, sem procurar deter
eo
m aou ativar seu desdobramento fatal. .. Em outras
rt palavras,
s o estudo desses fenômenos está antes rela- cionado
Aproximadamente u
ab dez anos se passaram depois que Eusapia com a ciência da observação do que com a
Paladino debutou, por meio das memoráveis t
d
u r
sso i 33 François Arago, em 1846, com a moça elétrica; Flammarion, em 1861, com Allan Kardec, e,
e,m ô
a seguir, com diversos médiuns; Zrellner, em 1882, com Slade;
t
31 N. da T. - Francesco
sp Porra de Somenzi. 32 Publicado por C. de VESc\lE, na sua Schiaparelli, em 1882,ncom Eusapia; Porro, em 1901, com a mesma médium (Revue des
Revue des Études Psychiques,
o 1901. Études Psychiques). o
srs
õeu m
o
182 Camille Flammarion
ecd a As Forças Naturais Desconhecidas 183
sei
p
se a
ds
ciência da experimentação. convictos até os mais incorrigívei s céticos. Além disso, seu pa- pel
não era o de escrever um relatório oficial, aprovado por
A seguir, o professor Porro expõe a situação atual da ques- tão dos todos os experimentadores, mas unicamente o de relatar fiel-
fenômenos mediúni cos: mente suas próprias impre ssões .
Eis suas principais impressões, escolhidas nas diversas sessões.
A explicação fundamentada na fraude, consciente ou
inconsciente - diz ele - está, hoje, quase abandonada, Eu vi, e muito bem, a mesa de pinho tosco, de quatro per-
como também aquela que supunha uma alucinaçã o. Com nas, com um metro de comprimento, levantar-se do chão um
efeito, nem uma, nem outra são suficientes para grande número de vezes e ficar suspensa no ar, sem
esclarecer-nos todos os fatos observados. A hipótese da ação qualquer contato com os objetos visíveis , a alguns decí-
automática inconsciente do médium não obteve metros do assoallio, por dois, três e até quatro segundos.
melhor sorte, já que os mais rigorosos controles prova- ram- Esse fenômeno repetiu-se em Plena luz, sem que as mãos
nos que o médium se encontra impossibililado de da médium e das cinco pessoas que formavam
provocar um efeito dinâmico direto. A fisiopsicologia viu-se, a corrente ao redor da mesa a tocassem. As mãos de Eusapia
e ntão, obrigada, nestes últimos anos, a recorrer a uma se conservaram seguras por seus vizinhos, que
suprema hipót ese, aceitando as teorias do senh or lhe controlavam igualmente os pés e as pernas, de modo que
de Rochas, contra as quais ela dirigira, até então, suas mais nenhuma parte de seu corpo pudesse exercer a mí-
severas críticas. Ela se resignou a admitir que um nima pressão para levantar ou manter no ar o móvel
médium, cujos órgãos veem-se obrigados à imobilidade bastante pesado em questão. Foi nessas condições
por um controle rigoroso, pode, em certas condiçõe s, totalmente seguras que pude ver
projetar para fora de si, e à distância d e alguns metros, inflar-se um lenço l preto, bastante espesso e cortinas
uma força suficiente para produzir determinados fenô - vermellias que estavam atrás da médium e que serviam
menos de movimento so bre os corpos inanimados. para fechar o vão da janela. A janela estava cuidadosame
Os partidários mais ferrenhos dessa hipót ese chegam até a nte fechada, não havia no
aceit ar a criação efêmera de membros pseudo-hu-
cômodo nenhuma corrente de ar, e seria absurdo supor que
manos - braços , pernas, cabeças - para cuja formação devem indivíduos se encontrassem escondidos no vão da
provavelmente cooperar, com as energias do m é- janela. Portanto, creio poder afirmar com toda seguran- ça
dium, as energias das outras pessoas presentes, e que, a que umaforça análoga à que produzira a levitação da mesa
seguir, não tardam a desaparecer, dissolvendo-se. tivesse se manifestado nas cortinas, inflando- as,
Com isso, não chegamos ainda a admitir a existência de agitando-as e empurrando-as de modo que elas to-
seres a utônomos, aos quais os organismos humanos dariam cassem ora um, ora outro dos experimentadores.
somente o meio de exercer sua ação - e bem menos ainda Naquele momento, produziu-se um fato que merece ser
admitimos a existência de espíritos que considerado como uma prova, ou ao menos, como mil
possam ter animado os seres humanos ... indício do caráter inteligente da forç a em questão.
I
o senhor Porro declara abertamente que ele não é nem
materialista, nem espiritualista: diz que não está pronto para
Encontrando-me diante da se nhora Paladino, no local mais
afastado dela, queixei-me de não ter sido tocado, como o
tinham sido as quatro outras pessoas que for- mavam o
aceitar, a priori, nem as negações da psicofisiologia, nem a círculo. Imediatamente, eu vi a pesada cor-
tina erguer-se e vir bater sobre o meu rosto, com sua
fé dos espíritas. Ele acrescenta que as nove pessoas que assistiam, borda inferior, ao mesmo tempo em que eu sentia um leve
junta- mente com ele, às sessões, representavam as mais diferentes
.j choque sobre as falanges dos dedos, como se fosse
lUll corpo de madeirél. Illllito frágil e delicado. U ma
gradações de opiniões sobre o assunto, desde os espíritos mais pancada formidável - um verdadeiro soco de atle-
ta - foi desferida no centro da mesa. A pessoa sentada à voo no ar ... Um buquê de flores que se encontrava no
direita da médium sentiu estar sendo agarrada nos gargalo de urna garrafa, sobre a mesa maior, chegou sobre a
flancos; tiram-lhe a cadeira em que estava sentada, co- nossa
locando-a sobre a mesa, de onde ela voltou, a seguir, ao seu mesa, precedido por uma agradável sensação de per- fume.
lugar, sem que ninguém a tenha tocado. O experi- mentador Os caules de algumas flores se introduziram na
em questão, que continuara de pé, pôde nela sentar -se b
novamente. O controle desse fenômeno nada ourna bala de borracha que ricocheteou sobre a mesa. A
d cgarrafa foi juntar-se às flores sobre a mesa; a seguir, elevo u-
e pancadas repetiram-se, tão violentas que poderia- mos
As ase e chegou até a boca da médium, fazendo-a be- ber duas
i
pensar que fossem quebrar a mesa. Começa mos a sent ir mão vezes. Entre urna e a outra vez, ela se colocou
sx que se elevavam e inflavam as cortinas e que avançavam dde pé sobre a mesa. Ouvimos, distintamente, o som da
o tocarem um ou outro dos assis- tentes, acariciando-os,
até odeglutiç ão da água, e depois, a senhora Paladino pediu que
u
apertando-lh es a mão, puxando- lh es delicadamente urna alguém lhe secasse a boca com o lenço. Finalmente,
orelha ou alegremente dando na garrafa retornou à grande mesa. Mas eis que se realizou
a
tapas no ar, acima de nossas cabeças. Sempre achei muito úum transporte de característi-
singular e bastante intencional o contraste entre esses toqu es m ca inteiramente diferente. Eu me queixara, várias ve- zes,
d vezes enérgicos e ner-
às eque minha posição na corrente, longe da médium, impedira-
e rme de ser tocado durante a sessão. Imediata- mente, ouvi um
vosos, outras vezes delicados e suaves, mas constante-
s oruído na parede do cômodo, seguido do
mente amáveis, e as pancadas ensurdecedoras, violen-
e
tas, brutais desferidas sobre a mesa. Um só desses socos, som das cordas do violão que vibravam como se alguém
j c
desferido nas costas, bastaria para tivesse tentado arrancar o instrumento da parede onde
a i
quebrar
r a coluna vertebral. Eram mãos grandes e fortes de ne
homens,
. mãos mais de- licadas de mulher, mãozinhas cçl
minúsculas de crianças . Diminuímos um pouco a obscuridade, ooeEu o vi distintamente chegar entre mim e o número oito, com
e imediatamente a cadeira do número 5 (a do professor ,
,urna rapidez que tomava seu choque pouco desejá- ve l. Não
Morsell i), que já epodendo, de início, me dar conta daquela massa
dera um salto de lado, foi retirada, enquanto urna mão eo sescurecida que chegava sobre mim, esquivei-me para a direita
f t número oito estava sentado à minha esquerda): então, o
(o
so ov aviolão, mudando de direção, desferiu-me com seu braço, com
ui
versas oscilações no sentido vertical e no sentido hori- zontal, iv
certa força, três pancadas na testa (que conti- nuou um pouco
b se colocar sobre a cabeça do professor que permanecia de
foi no acontundida durante dois ou três dias). A seguir, ele colocou-
ic Ela aí permaneceu alguns minutos, em urna posição muito
pé. úlse delicadamente sobre a mesa. Ele a li não permaneceu por
uo
instável de equilíbrio . m p
ã
muito tempo e começou a girar ao redor da sala, bem alto
l pancadas violentas e os toques delicados de mão s grandes eo esobre nossas cabeças, com rotações à direita e em alta
As
no pequenas continuaram sem interrupção,
ou rnvelocidade. Convém observar que, nessa rotação do violão,
ac modo que, sem que pudéssemos provar matemati-
de oadcuja vi-
a u
v
camente a simultaneidade de diferentes fenômenos, ela bração das cordas foi acompanhada pelo som do pan- deiro
md quase certa em alguns casos. Enquanto nossas
era oratocado ora de um lado, ora do outro, no ar, o
einstâncias
a a
n
igrande instrumento nunca esbarrou no lus tre central a luz
aumentavam para que ob-
s
tivéssemos um argumento tão precioso de demonstra- tçdelétrica, nem nas três lâmpad as a gás fixadas nas paredes
as
ção, a simultaneidade que pedíamos foi-nos finalmen- oodo côm odo. Tendo em vista a estreiteza do lo-
,o .
u
te concedida, pois a mesa bateu, a campai nha tocou, o cal, era muito difícil evitar esses obstáculos, já que o
b fespaço livre era muito limitado.
pandeiro foi levado ao redor da sala, tilintando sobre F
o
dr o
nossas cabeças, pousou sobre a mesa e retomou seu iDuas vezes seguidas. () violã o executou seu voo circular,
ee ib
s ln
cs aia
1 eu tq l
C As Forças Naturais Desconhecidas 187
8 ua iu m
a
6 s nea
m n
m
sendo que no intervalo, ele ia se repousar no centro da mesa, corpo e com a cadeira.
onde enfim parou, definitivamente. Com um esforço supremo,
Eusapia virou-se à esquer- da, onde se encontrava, sobre uma o senhor Porra julga que esse fenômeno é um dos mais difíceis de
explicar sem se recorrer à hipótese espírita. Parece- se um pouco
mesa, uma máquina de escrever, pesando seis quilos. Devido com o caso do homem que, tendo caído na água, pensava que poderia
ao esforço, a médium caiu esgotada, sem forças, sobre o sair puxando a si próprio pelos cabelos. Ele acrescenta:
assoalho.
No entanto, a máquina levantou-se do seu lugar e foi
pousar no meio da nossa mesa, perto do violão. Em plena
luz, Eusapia chamou o senhor Morselli e,
controlada pelos dois vizinhos, levou-o com ela até a mesa Eusapia desceu sem solavancos, pouco a pouco, sempre com
sobre a qual se encontrava um bloco de massa as mãos seguras por mim e pelo número cinco. A cadeira, que
para modelar. Ela pegou-lhe a mão aberta e empUITOU- estava um pouco mais acima, virou e foi se colocar sobre
a três vezes sobre o bloco de massa, como se quisesse nele minha cabeça , de onde ela voltou espon- taneamente ao
afundá-la e deixar ali uma inlpressão. A mão do assoalho.
senhor Morselli ficou a uma distân cia de mais de dez O fenôm eno se repetiu. Eusapia e a cadeira foram no-
centímetros do bloco. Entretanto, ao final da sessão, os vamente transportadas sobre a mesa, com a diferença de que,
experimentadores verificaram que o bloco trazia a im- pressão dessa vez, o resultado do cansaço suportado pela médium era
de três dedos - impressões mais profundas do tamanho, que a pobre mulher caiu
que aquelas que nos é possível obter diretamente, por meio de desmaiada sobre a mesa, de onde nós a retiramos com todos
uma pressão voluntária. os cuidados necessários.
A médium ergueu as duas mãos , sempre seguras pelas minhas Os experimenta dores quiseram saber se esses fenôme- nos,
e as do número cinco (Morselli), e, continuan- cujo sucesso depende em tão grande parte das con- dições de
do a soltar gemidos, gritos e a proferir exortações, foi luz, não podiam encontrar uma ajuda na luz branca e tranquila
levantada, juntamente com a cadeira, até conseguir colocar que vem do nosso satélite. Eles tivefanl que se persuadir que
seus dois pés e as extremidades das duas pernas anteriores não havia tUlla diferença apreciável entre a luz ltll1ar e as
da cadeira na prancha superior da mesa. outras. Mas a mesa ao
Foi um momento de grande ansiedade. A levitação reali- redor da qual eles formavam a corrente deixou a varanda onde se
1 zou-se sem choques, sem abalos, rapidamente, mas sem realizava a sessão e, apesar dos desejos fortemente
sobressaltos. Em outros termos, se quiséssemos, em um es-
1I forço de desconfiança suprema, imaginar um artifício para a
expressos pelos assistentes e pela própria médium, trans-
portou-se para o cômodo vizinho, onde a sessão continuou.
obtenção do mesmo resultado, deveríamo s antes pensar Esse cômodo era uma pequena sala cheia de móveis elegantes
em uma tração vinda de cima (por meio de uma corda e de uma e de frágeis objetos de arte como lustres de cristal, vasos de
roldana), do que em um impulso vindo de baixo. porcelana, bibelôs etc. Os experimen-
?vlas nenhuma dessas duas hipóteses sustenta o exanle mais tadores temeram muito que tudo aquilo fosse sofrer algum
elementar dos fatos ... dano no turbilhão da sessão, mas nenhum dos objetos foi
Ainda não é tudo. Eusapia elevou-se outra vez, jtll1tamen- te danificado. A senhora Paladino, perfeitanlente acordada,
com a cadeira, da parte superior da mesa, de modo que o pegou a
número 11 de um lado e eu, do outro, pudemos passar a mão mão do número 11 e colocou-a delicadamente no encos- to
sob os pés da médium e sob as pernas da mesa. Além disso, o de uma cadeira, colocando sua mão por cima. Então, ao
fato de que as duas pernas posteriores da cadeira tenham ficado erguer sua mão e a do número 11, a cadeira seguiu o mesmo
fora da mesa, sem qualquer movimento de ascensão várias vezes.
apoio visível, torna ainda mais inconciliáveis os efeitos O fenômeno repetiu-se em plena luz.
dessa levitação com a suposição de que Eusapia tenha Tanto o número cinco romo os outros experimenta- dores
se elevado por meio de um salto que teria dado com o perceberam, dp modo indubitável, uma figura
vaga, indistinta, que se projetou no vão de uma porta que Luzes começaram a aparecer, primeiramente sobre a mão
dava p ara a antecâmara , fracamente iluminada. direita do número cinco, depois em difere ntes pontos da
Eram silhuetas fugidias e mutáveis, ora com um perfil sala: elas foram percebidas por todos os
de cabeça e de corpo humanos, ora como mãos que saíam das experimentadores.
cortinas. Seu caráter objetivo foi demons- trado pela A cortina inflou-se, como se estivesse sendo empurra- da
concordância das impressõe s, controladas, por um vento muito forte, e foi tocar o número 11
por sua vez, por meio de enquetes contínuas. Estava fora de que estava sentado em uma pequena poltrona, a um
questão tratar-se de sombras projetadas vo- metro e meio da médium. A mesma pessoa foi tocada por uma
luntária ou involuntariamente pelos corpos, já que nos mão , enquanto outra mão pegou um leque do bolso interno do
vigiávamos mutuamente. seu paletó, levou-o ao número cinco e,
A décima sessão, a última, foi uma das mais completas, tal depois, novamente ao número 11.
vez a mais interessante de todas. Logo o leque foi tirado do seu proprietário e agitado so- bre
:\1al fora apagada a luz elétrica, notamos um movimen- to nossas cabeças, para grande satisfação de todos nó s.
automático da cadeira sobre a qual tinha sido coloca- Do bolso do número três, foi tirada uma bolsa para taba-
do um bloco de gesso, enquanto as mã os e os pés de Eu- co, que foi esvaziada sobre a mesa e entregue ao número
sapia estavam atentame nte controlados por mim e pelo 10. Diversos caules de planta chegaram sobre a mesa.
número três. Em todo caso, como se tratava de prevenir a objeç As passagens do leque pelas mãos recomeçaram. En- tão, o
ão dos crí ticos, ou seja, que os fenôm enos se pro- número 11 achou que deveria informar que o
duziam no escuro, a mesa pediu tiptologicamente luz e leque lhe tinha sido oferecido por uma jovenzinha que lhe
os experimentadores acenderam a luz elétrica. expressara o desejo que ele fosse tirado do número
Imediatamente, todos os assistentes viram a cadeira 11 , depois devolvido ao número cinco. Ninguém sabia disso, a
que trazia o bloco de gesso, nada leve, mover-se entre não ser o número 11.
mim e a médium, sem que pudéssemos compreender o que O número cinco, que no momento ocupava a pequena
determinava esse movimento. poltrona onde antes se encontrava o número 11, a um
A senhora Paladino colocou minha mão estendida so- metro e meio da médium, sentiu chegar a borda da cortina e
bre o encosto da cadeira e sua mão esquerda por cima. Quando percebeu, a seguir, a presença de um corpo de
nossas mãos se ergueram, a cadeira fez o mes- mo, sem mulher, cujos cabelos apoiavam-se em sua cabeça. Encerramos
contato, chegando a aproximadamente quinze a sessão em torno de uma hora da madrugada.
centím etros de altura. O fenôm eno se repetiu várias vezes, No momento de partirmos, Eusapia viu uma campai- nha
igualmente com a sobre o piano: estendeu a mão . A campainha desli- zou sobre
intervenção da mão do número cinco, em condições de o piano, virou e caiu sobre o assoalho. Repetimos a
luz e de controle que nada deixavam a desejar. experiência, sempre em plena lu z, e com a mão da médium
Voltamos à escuridão quase completa ... permanecendo a vários decímetros da campainha ...
Uma corrente de ar frio sobre a mesa precedeu a chega- da de
um pequeno ramo com duas folhas verdes; todos
nó s reconhecemos que não havia vegetais nas imedia- ções
Como podemos ver, esses fatos são mais extraordinários ainda do
do Cír culo. Parece, então , que se tratava de um
fenôm eno de transporte do exterior. O número três estava
que os precedentes, sob certos aspectos.
esgotado devido ao calor. Eis que Eis, a seguir, as conclusões do Relatório do professor Porro.
uma mão tirou-lhe o lenço do pescoço e enxugou-lhe o suor do
rosto. Ele tentou segurar o lenço com os den- Os fenômeno s são reais. Eles não podem ser explicados nem
tes, mas o mesmo lhe foi arrancado. Uma grande mão ergueu- pela fraude, nem pela alucinação. Encontrarão eles sua
lhe a mão esque rda e fez com que desse várias explicação em celtas camadas do inconsciente, em alguma
pancadas sobre a mesa. faculdade latente ela alma humana, ou então
eles revelarão a existência dt' outras entidades que vi-
)\
í
i',1.1
"·i!
j
I
I d
colocados entre duas lousas amarradas; oscilações de agulhas 12 de novembro de 1898 - Naquela tarde, Eusapia e eu
imantadas,
o deslocamentos de móveis, lança- mentos automáticos fizemos um passeio de landau, em companhia do senhor e da
de objetos etc. Ele dispôs -se a realizar uma sessão por semana, senhora Pallotti, do Cairo, e visitamos, entre outras coisas, a ex-
durante
d seis semanas, às segundas-feiras, das onze ao meio-dia, na posição de crisântemos nas Tulherias. Eusapia estava
Rua
u Beaujon, número 21. Mas nada obtive de concreto. Em caso encantada. Voltamos para casa lá pelas seis horas. Minha
I
r sucesso,
de
sível. Cansado a substituição das lousas
de.'isas perdas era combinei
de tempo, pos- com o almirante esposa sentou- se ao piano e Eusapia cantou algumas árias
a
Mouchez,l diretor do Observatório de Paris, de confiar a Slade uma napolitanas,
como bemtrechos de óperas italianas. A seguir, nós três
pequenos
n
lousa dupla preparada por nós dois, com as precauções necessá- conversamos intimamente. Ela estava bem disposta e contou-
t para não sermos pegos. As duas lousas estavam coladas de tal
rias nos que, às vezes, nos dias de tempestade, ela sentia na
e
forma com o papel do Observatório que, caso ele as separasse, não cabeleira, notadamente sobre um ferimento antigo que recebeu
poderia reparar a fraude. Ele aceitara as condições da experiência. no crânio, crepitações elétricas e faíscas . Disse-nos também que
,
c
Levei-lhe as lousas em casa. Elas ficaram não apenas quinze minu- cava muito
quando fi- tempo sem realizar uma sessão, irritava-se e sentia a
.
i nem meia hora, nem uma hora, mas dez dias em sua própria
tos, necessidade de descarregar o fluido que a saturava. Essa con-
n
casa, e quando nos foram devolvidas, não possuíam o mínimo fissão me surpreendeu, pois ela antes parecia aborrecida e triste
c
vestí- gio de escrita interna, como ele oferecia quando tinha no início de cada sessão, dando a impressão que ela a aceitava a
2
o
oportUllidade de transfonnar as peças preparadas antecipadamente. contragosto. Eusapia acrescentou que tinha, com frequência,
1 alongamentos fluídicos da extremidade dos dedos: colocou as
2s duas mãos com as palmas para cima sobre os meus joelhos, afas-
(trabalhos força dos) e morreu em uma casa de saúde no Estado de Michigan, em setembro
N 1905.
de
S.
e tou os dedos e colocou-os uns diante dos outros, aproximando e
lm
ada
d2
a As Forças Naturais Desconhecidas 201
e0n
0a
T
afastando alternativamente uma mão da outra, dizendo-nos que via olhos, sempre atingindo o máximo quan-
de vez em quando aquelas radiações que alongariam seus dedos, do chamei o camareiro, que passava para
formando em suas extremidades uma espécie de auréola luminosa. tratar de assuntos de serviço, e pedi-lhe
Minha esposa achou que estava vendo algumas delas. Não para ficar e observar. Eusapia recomeçou e
consegui ver nada, apesar de todos os meus esforços e de tentar não conseguiu. Esperou um instante,
todas as combinações de luz e a sombra. Naquele mo- mento, a esfregou as mãos, recomeçou, e o mesmo
:í sala estava iluminada por dois bicos Auer bem fortes. Passamos ao movimento sem contato se produziu pela
I'
quarto de dormir, iluminado apenas por velas, e também não vi sétima vez, diante de três testemunhas, uma
nada. Apaguei as velas, supondo que talvez pu- desse haver um mais surpresa do que a outra. Suas mãos Balança pesa-cartas
r fenômeno de fosforescência, e continuei a não perceber nada. resfriaram-se sensivelmente. Pensei
Voltamos à sala. Eusapia estendeu um xale de lã preta sobre sua no truque do fio de cabelo, passei a mão entre as duas mãos dela,
saia de seda e mostrou-me os eflúvios. Continuei a não perceber mas não encontrei nada; eu não o vi. Além disso, não pare- cia que
nada, exceto, em um momento, uma espécie de raio pálido na ela tivesse tocado na cabeça, e suas mãos permaneceram diante de
ponta do indicador da mão direita. A hora do jantar se aproximava. nós desde o começo da experiência, livres e intatas. Supondo que
Eram sete horas. Uma balança pesa-cartas, que eu comprara para pudesse haver alguma força elétrica em jogo, pedi-lhe para dirigir
repetir a curiosa ex- periência do senhor de Rochas, estava sobre a seus dedos sobre uma bússola extrema- mente sensível. De
mesa. Perguntei a Eusapia se ela se lembrava de ter feito abaixar qualquer maneira que ela a segurasse, o pon-
'r um apare- lho análogo colocando suas mãos de cada lado, à teiro não se mexia. Sentamo-nos à mesa. Pedi-lhe para erguer um
distância, e realizando espécies de passes magnéticos. Ela não garfo de so-
pareceu se lembrar e cantarolou um pequeno refrão de Santa Lucia. bremesa, como ela havia feito em Montfort. Ela conseguiu na
Pedi- lhe que tentasse e ela aquiesceu. Nada se mexeu. Ela pediu- quarta tentativa ... e sem cabelo, ao menos aparentemente.
me para colocar as mãos sobre as suas. Fizemos os mesmos passes
e, para minha estupefação, porque eu não esperava absoluta- 11
mente nada, o pequeno prato abaixou-se até o ponto em que ele 16 de novembro - Ontem à noite, para distrair Eusapia, Adol-
encontra a alavanca, produzindo o ruído seco do contato. phe Brlsson ofereceu-lhe um camarote no Folies-Bergere, onde Lale
Esse ponto está além da graduação que termina em 50 gramas e Fullei! apresentava suas magníficas exibições ópticas. Nós a
pode ir a 60, representando, no mínimo, 70 gramas. O prato vol- acompanhamos. Ela voltou encantada, e hoje estava muito alegre e
tou a subir imediatamente. Nós recomeçamos . Nada. Terceira animada, falando de seu caráter franco e leal e criticando as comé-
vez: mesmo abaixamento e mesmo retorno ao equilíbrio. Então, dias da vida social. Durante o jantar, contou-nos parte de sua vida!
pedi que recomeçasse a experiência sozinha. Eusapia esfregou as Nove horas - O senhor e a senhora Lévy e o senhor G. Ma-
mãos e fez os mesmos passes. A balança pesa-cartas desceu até o thieu chegaram. Conversamos. Colocando suas mãos sobre uma
mesmo ponto máximo. Estávamos todos próximos, em plena luz perna do
dos bicos Auer. Ela repetiu os mesmos gestos durante cinco senhor Mathieu no escuro, ela mostrou-lhe as radiações emana-
minutos aproximadamente. O movimento não se produ- das dos seus dedos, aliás, apenas aparentes para nós.
ziu imediatamente, havia, às vezes, três, quatro tentativas sem Foi depois de me ter mostrado essas radiações, outro dia,
sucesso, como se a força tivesse se esgotado devido ao êxito 3 !'<. da T. - Marie Louise Fuller, atriz e dançaril1,' ,l1nericana, que combinava suas
anterior. A balança já se abaixara quatro vezes diante de nossos coreografias com roupas de seda iluminadas por IlIzes coloridas.
I :i
percebido a fraude.
III
Repliquei: - A senhora tem confiança na senhora Fourton. Muito
bem. Mas reflita, por um momento, que vários milhares de pesso-
I
!i
senhor me conheceu? - Na casa do almirante Mouchez. - É noutubro de 1899, desejando controlar as experiências, eu
impossível. Só conheci o almirante Mouchez quando de mandei
g pregar quatro pranchas verticais, com as quais cerquei,
I
j
sua nomeação para diretor do Observatório de Paris: ele suce-
deu Le Verrier em 1877, dois anos após sua morte. A mesa
como
o um quadro, a pequena mesa des-
tinada à sessão. Se ela se elevasse apesar dessa moldura que
eimpedia os pés dos experimentadores de passar por baixo dela,
. agitou-se e ditou algumas palavras. - Diga o seu nome. - seria porque sua levitação devia-se a uma força desconhecida.
m
l
J
Witold. Marquesa, eu sempre a amei. As reflexões da senhora X, ao avistar aquela moldura,
Jimediatamente fizeram-me pensar que a mesa não se ergueria:
i
.
: - É feliz? - Não. Portei-me mal com a senhora. - O senhor u"Essa faculdade é caprichosa: um dia obtemos muito, outra
I
bem sabe que eu o perdoo e que guardei do senhor as melhores vez
v nada, sem causa aparente". - Mas será que obteremos
lembranças. - A senhora é muito boa. Etc. Esses pensamentos ipancadas? - Certamente. Não devemos julgar antecipadamente
estavam, evidentemente, na nada.
s Podemos sempre tentar.
y
D
mente da senhora. Também nesse caso, nenhuma prova de te u
identidade. a Nenhuma a levitação se produziu. Foi o que eu suspeitava
S rt que s fosse acontecer. Desejava
f u e
ardentemente o contrário, e empregamos nisso toda a nossa
-oOh!b O que ele vai nos dizer? Transcrevo sua frase, n h de vontade possível. Propositalmente, compareceram
força
u
i
envergonhado,
i pedindo desculpas às minhas leitoras. Ei-Ia, em ostm mesmoso experimentadores presentes à sessão realizada
sua descomedida
t crueza: - Grandes cretinos, suas imundas a r ze dias antes, na qual tudo se passou admiravelmente
quin-
d a estão ainda cheias dos odores do festim. - Senhor
cabeças (senhora
bemr a X, senhor e senhora Cail e eu), os mesmos lugares,
i
Ravachol,
m é sutil sua linguagem. O senhor não as e mesmass cadeiras, a mesma sala, a mesma temperatura, o
t e mesmo
m
x horário etc. Pancadas indicaram que um espírito
a algo
tem n mais distinto para nos dizer? - queria
p a falar. Percebi que as pancadas correspondiam a um
d t
Dane-se! movimento
n
e p muscular da perna da senhora X. - Quem é você?
o e ro ó
9 1'<. da T. - Franç ois Claudius Krenigstein, conhecido como Ravachol. Anarquista
: , que se i.nsurgiu contra a Terceira República.
francês, iv s
êa
"216 CamilJe
a Flammarion sAs Forças
n o Naturais Desconhecidas 217
R c
A m ie a
- Na biblioteca do dono da casa: meu nome está dentro de um A senhora X, não conseguindo erguer a mesa, escolhera as
livro. pancadas. A evocação do profeta indiano era, todavia, de uma
- Como encontrá-lo? - Ele está escrito em bela audácia. A hipótese mais simples é que ela fora à minha
um pedaço de papel. - Em que livro? biblioteca colocar aquele pedaço de papel. Realmente, ela lá
fora vista. Mas mesmo que ninguém a tivesse visto, a
- Astmnomia. conclusão não teria sido menos decisiva, pois aquele cô modo
- De que época? estava aberto e a se nhora X passara cerca de
Sem resposta.
- De que cor? uma hora no cômodo vizinho, retida por uma "enxaqueca".
-Amarela. Como já disse, entre centenas de outros, estou citando esse
- Encadernado? exemplo de fraude. Realmente, é preciso ser dotado de uma
-Não. per- severança a toda prova para continuar a dedicar a essas
- Brochura? - Sim. - inves- tigações horas que seriam muito mais bem empregadas,
Em que prateleira? - mesmo a não fazer absolutamente nada. Entretanto, quando
Procurem. sabemos que existe alguma coisa, vol- tamos sempre, apesar
dos logros intermináveis.
- É impossível procurá-lo no meio de milhares de volumes. Em 1901, em maio, a princesa Karadja apresentou-me
E depois, não há brochuras nesta biblioteca. Sem resposta. Após uma médium profissional, uma alemã, frau Anna Rothe, cuja
uma série de questões, conseguimos saber que aquele livro estava especialidade era a de fazer com que flores entrassem em uma
na sexta prateleira do corpo da biblioteca, à direita da pOlta. sala bem fechada, em pleno dia. Aceitei realizar uma sessão
em meu apartamento, em Paris. Buquês de flores, de todos os
Mas antes, fomos naquele cômodo constatar que não havia tamanhos, chegaram, realmente, mas sempre vindos de uma
brochuras. - Então, o volume é cartonado? - Sim, ele contém direção oposta à qual a senhora Rothe e seu empresário Max
quatro livros. Ientsch nos convidavam a olhar. Quase convencido da fraude,
Voltamos à biblioteca e realmente encontramos, em um vo- mas não tendo tempo para
lume intitulado Anatomia Celeste, Veneza, 1573, um pedaço de me dedicar a essas sessões, pedi ao senhor Cail assistir,
papel no qual estava escrito a lápis o nome KRISHNA. sempre que possível, às reuniões que seriam realizadas em
Retornamos à mesa. - diversos salões de Paris.
Você é Krishna? Meu correspondente consentiu de bom grado e conseguiu ser
-Sim. convidado ao hotel Clément Marot, onde uma sessão deveria
- Em que século você vivia? - Na época de Jesus. ser realizada. Colocando-se um pouco atrás, ele viu a médium
- Em que região? - Nas proximidades do das flores deslizando habilmente a mão por baixo de sua saia e
Himalaia. - E como você escreveu seu nome neste de lá retirar os ramos que ela lançava na sala. Ele também a viu
papel? - Passando pelo pensamento da minha pegar laranjas de dentro de seu corpete e constatou que elas
médium. Etc. etc. Penso que teria sido supérfluo estavam quentes. A impostura era flagrante. Ele desmascarou-a
insistir. imediatamen- te, para o grande escândalo dos assistentes, que o
injuriaram. Uma última sessão tinha sido organizada em minha
casa, na
li\ seus pés ou sobre sua cadeira anulam igualmente sua Julgo conveniente acrescentar a essa nota alguns trechos dos outros
propriedade elétrica .
relatórios. Eis urna passagem do relatório do senhor Hébert.
I': Durante o paroxismo, a menina não pode tocar quase
nada com sua mão esquerda, s em que ela jogue o objeto ao
' I
· Pi longe como se estivesse sendo queimada; quando Em 17 de janeiro, ou seja , no segundo dia da aparição dos
fenômenos, tesouras suspensas à sua cintura, por
suas roupas tocam os móveis, ela os atrai, os desloca ,
meio de uma faixa de linha, foram lanç a das sem que o
os derruba. cordão fosse rompido e sem que pudéssemos saber
I s so pode ser entendido mais facilmente, se explicar- mos
que a cada descarga elétrica, ela foge para eVitar
como ele fora desatado. Esse fato, o mai s incrível por sua
analogia com os efeitos do raio, fez-nos pensar, ime-
a dor. Então, ela diz que "isso a pica" no punho e na dobra
do cotovelo. Ao tentar sentir-lhe o pulso na ar - téria
temporal, poi s não conseguia localizá-lo no braço diatamente, que a eletricidade devia representar um im-
portante papel na produção desses efeitos surpreenden-
tes. Mas essa via de observação foi de curta duração, pois
esquerdo , por aca s o meus dedos tocaram a nuca: na esse fato produziu-se apenas duas vezes, das quais uma na
presença do senhor vigário que, jurando sobre sua homa,
mesma hor a ela gritou e afastou-se rapidamente d e garantiu-me a veracidade. Os efeitos, quase nulos na metade
mim . Angélique possui , na região do cerebelo (várias vezes do dia , redobraram-se
certifiquei-me
disso), no local em que os múscu- los da parte superior do
pescoço se inserem no crânio, um ponto tão sensível que ela
não permite que sej a à noite, à hora costumeira. Então, ocorreu a ação sem contato
e efeitos foram produzidos sobre corpos orgânicos vivos ,
ações essas que se iniciaram por violentos espasmos que uma
tocado , e no qual ecoam todas as sensações que ela sente operária , sentada diante de Angélique, sentiu nas pan-
no braço esquerdo. turrilhas, sendo que as pontas dos seus tamancos esta- vam à
distância de um decímetro da menina.
As emanações elétricas dessa criança parecem acon-
tecer em ondas, de modo intermitente
e sucessiva- mente através de diferentes pontos da parte
anterior
do seu corpo.
:v1as seja como for, elas acontecem por meio de Por sua vez, o doutor Beaumont Chardon, médico de Mor-
corrente gasosa que produz a sensação de frio; s enb tagne, publicou, entre outras, as seguintes observações
nitidamente sobre a mão um sopro instantâneo pareci- análogas.
do com aquele que produzimos com os lábios. Cada
fenômeno produzido por essa menina é marcado
Repulsão e, também, atração, pulos, deslocamento de
pelo terror, pela fuga e por um ar de pânico. Quando ela uma mesa bem maciça -, de outra mesa de três metros por
aproxinla a ponta do dedo do polo norte de um dois, colocada sobre rodinhas , - de outra mesa de
carvalho , quadrada, de um metro e meio , de uma pol- trona
imantado, ela recebe um forte choque: o polo sul nao produz em mogno maciço. Todos esses deslocamentos
nenhum efeito . Tentamos alter a r o ferro, a fim
de que não conseguíssemos reconhecer o polo nort e , aconteceram com o contato voluntário ou involuntá-
rio das roupas da menina Cottin.
mas a menina soube muito bem indicá-lo.
Essa menina tem treze anos e ainda não atingiu a idade Sensação de violentas picad a s quando nos colocávamos
da puberdade. Eu s oube, por sua mãe , que ainda em contato com a dobra do seu braço esquerdo ou com sua
cabeça, ou simplesmente,
não surgiu nada análogo à menstruação . Ela é muito forte e quando aproximávamos, à pequena distância , um bastão de
saudável. Sua inteligência é pou- cera para lacrar ou
É uma aldeã na completa acepção da palavra . Contudo , ela um tubo de vidro , anilios convenientemente esfregados.
co desenvolvida.
sabe ler e escrever. Ocupa-se em Quando não os esfregávamos ou quando os enxugáva-
mos ou molhávamos , o efeito cessava. Os pelos dos bra- ços,
fazer luvas de linha para as senhoras . Os primeiros fe- assentados com um pouco de saliva, eriçavam-se à
nômenos datam de um mês.
aproximação do bra ç o e s querdo da menina.
I:
I
}
I
li Uma das mais importantes séries de experiências que fo-
(
! ram feitas com as mesas moventes é a do conde Agénor de Gas-
parin, em Valleyres (Suíça), em setembro, outubro, novembro e
dezembro de 1853, cujos relatórios ele publicou em sua grande
obra, em dois volumes, sobre esse assunto. I Essas sessões po-
dem ser qualificadas de nitidamente científicas, pois elas foram
conduzidas com todos os cuidados necessários e sob o mais rígi-
do controle. A mesa que geralmente foi usada compunha-se de
um tampo de freixo, de 80 centímetros de diâmetro, montado
sobre uma pesada colwla, com três pés distantes de 55 centí-
metros entre si. Os experimentadores eram, ordinariamente, em
número de dez a doze, e eles formavam a corrente sobre a mesa,
tocando-se pelos dedos mínimos, de tal forma que o polegar da
mão esquerda de cada operador tocava o de sua mão direita e o
dedo mínimo da mão direita tocava o da mão esquerda do vizinho.
Segundo o autor, essa corrente era útil, mas não absolu- tamente
necessária. A rotação manifestava-se, ordinariamente, após cinco
ou dez minuto s. A mesa elevava um pé até uma al-
tura variável e, a seguir, voltava a cair. Essa elevação acontecia
mesmo quando um homem muito pesado se colocava sobre a
mesa. Foram assim obtidas rotações e elevações sem o contato
das mãos. Escutemos, além disso, o próprio autor.
1 Des Tabtes tournantes, du Surnaturel em f.:é1/{'l'lIle des Esprits, do conde Agénor de
Gasparin, Paris, Dentu, 1854.
I
i
empUlTavam deixavam de poder agir (supondo-se um
caso de fraude) e quando as mãos que puxavam ainda não
podiam agir. Mas voltemos à nossa mesa habitual. Nós
tentamos produzir rotações e levitações sem contato e
obtivemos
passar sobre toda a mesa. Isso tinha um duplo in-
conveniente: em primeiro lugar, termos que suspendê- la
durante muito tempo e, consequentemente, anular a ação
dos operadores e, em segundo lugar, o fato de precisarmos
espalhar uma camada de farinha muito mais espessa. O
- p arrebatamento das vontades tinha ar-
I
:
l r
1
1! e e
nada funcionava. O efeito foi tal que a mesa não ape- nas
1 Tais relatórios têm
n
mais valor do que todas as dissertações. Eles
fnos recusava as levitações e as rotações sem con- tato, como
mostram a inegável
o realidade da levitação, não total, mas parcial, e
também quase nos recusava as levitações e as rotações
da mesa que permanecia na posição oblíqua, sustenta- da por cordinárias.
apenas duas pernas.
ê Eles também mostram as rotações e as iEntão , um de nós teve uma ideia luminosa. Possuíamos um
x
levitações sem contato, assim como os deslizamentos sob a d desses foles utilizados para sulfurar as vinhas ata- cadas pelo
i o
oídio. No lugar de flor de enxofre, colocamos farinha, e
influência de uma
t força natural desconhecida. ,recomeçamos a operação.
Levitações oda mesa pesada, carregando, além do mais,
As condições eram as mais favoráveis. O tempo estava quente
um homem pesando. 87 quilos, ou tinas cheias de areia e pe- ae seco, a mesa saltava sob nossos dedos, e até mesmo antes que
dras pesando 75 quilos. Não podemos admitir nenhuma con- a ordem de levantar as mãos fosse
a
testação dessas observações. O mesmo é verdadeiro para os dada, a maioria já havia deixado espontaneamente de tocar o
ç
movimentos da mesa dan- çando de acordo com o ritmo de certas tampo. Então, o comando soou, a COlTente
ã
árias, de suas quedas, de sua obediência às ordens dadas. Esses i
o
nrecobllu-a totalmente com uma leve nuvem de farinha. Nem
fatos foram observados precisamente como os fatos mecânicos, tum segundo fora perdido; a levitação sem contato
físicos, químicos, mete- orológicos e astronômicos foram f
ejá acontecera e, para não deixar nenhuma dúvida, isso se
l
I observados. A esses relatórios, acrescentarei ainda uma irepetiu três vezes seguidas. Isso feito, a mesa foi
u
experiência su- plementar descrita no prefácio do livro do conde rescrupulosamente examinada: ne-
í
an
de Gasparin. d
Oh i medo de roçar sem querer a farinha era tão grande, que as
smãos
u tinham agido fiuidicamente a uma altura
Alguns eminentes cientistas aos quais eu tinha comu- nicado c
emuito
m mais considerável do que nas sessões anteriores. Cada
os resultados obtidos, concordaram em me res- ponder que as a
pum de nós pensara que não poderia se afastar
levitações sem contato teriam caráter de ad
prova totalmente confirmada, se conseguíssemos cons- tatá-las muito,
p e essas mãos tão afastadas do tampo não pu- deram
re
por meio de um procedimento material. Eles reCOlTer
r a nenhuma manobra, a nenhum dos passes dos
od
me disseram: - Espalhem farinha sobre a mesa no momento quais
e tínhamos feito uso das outras vezes. Pennanecendo em
uo
em que suas mãos se separarem dela. A seguir, produzam uma seu
j lugar, acima do móvel que deve- ria ser erguido, a
-
ou mais levitações. Finalmente, celtifiquem-se de que sobre a COlTente
u havia conservado sua forma; ela apenas moveu-se
sa
camada de farinha não há qualquer traço de e
d
ligeiramente no sentido do movi- mento que ela produzira à
i
distância.
tc
toques, e não haverá mais nenhuma palavra de objeção. Pois Devo
do acrescentar, finalmente, que não nos contentamos com
uma a única experiência. Sempre, logo após várias le-
bem, essa era precisamente a experiência que vá- rias vezes ac
d
vitações sucessivas, uma inspeção cuidadosa mostrou que a
havíamos realizado com suces so. Permitam- me citar alguns a
a
nuvem de farinha, da qual não escapara nenhuma por- ção do
pormenores: Nossas primeiras tentativas foram um fracasso. m r,
l\ós etampo
a da mesa, continuava perfeitamente intacta.
s
o
an
2 C A
em
et
4 a s ,
a
m
8 r
Como veremos a seguir, o próprio autor analisa os resulta- dos frente esteja interessado não somente em não lhe forne- cer os
registrados nesses relatórios: últimos movimentos, como também em pará-los.
Eu sei que esse assunto de adivinhação de números pensados
não tem boa reputação. Falta-lhe certo estilo
Os fenômenos observados se confinnam e se elucidam.
As grandes mesas de quatro pernas competem com as mesas pedante e científico. Entretanto, não hesitei em insistir nele,
de três pernas. Os pesos inertes substituem as pois há poucas experiências nas quais se manifes-
pessoas suspeitas de ajudar o móvel encalTegado de erguê-las. ta melhor o caráter misto do fenômeno, a força física
Por sua vez, a grande descoberta finalmente acontece. desenvolvida e aplicada fora de nós pelo efeito de nossa
Iniciamos os movimentos continuando sem contato; acabamos vontade. Como tal fato provoca um grande escândalo, não
por produzi-los; conseguimos até quero me envergonhar disso. Aliás, continuo sus- tentando que
tudo isso é tão científico como qualquer outra coisa. A
criar, de algum modo, o processo para que tais fatos ex-
verdadeira ciência não está ligada ao em-
traordinários se manifestem, às vezes, em séries ininter- ruptas
de quinze ou de trinta. Os deslizamentos acabam por deixar prego de tal procedimento ou de tal instrumento. Aqui-
explícito um dos lados da ação exercida à distância; eles lo que um Huidímetro poderia mostrar não seria mais
demonstram que ela é incapaz de erguer cientificamente demonstrado do que aquilo que é visto pelos
a mesa e capaz de arrastá-la. Tal é o breve histórico dos olhos e apreciado pela razão.
nossos progressos. Por si só Entretanto, avancemos. Ainda não chegamos ao fim
ele constitui uma prova sólida, cujo exame eu recomen- de nossas provas. Há uma que particularmente me im-
pressionou: é a prova derivada de nossos fracassos. Alguns
do aos homens sérios. Não é assim que o erro procede.
asseveram que os movimentos são produzidos pela ação dos
As ilusões originadas por acaso não resistem, assim, a um
nossos músculos, por nossa pressão in- voluntária! Ora, eis os
longo estudo, e não atravessam toda uma série de
mesmos operadores que, ontem,
experiências que se justificam cada vez mais. A reprodução
dos números pensados e o equilíbrio de forças merecem uma obtinham da mesa a realização de todos os seus ca-
consideração especial. Quando, à exceção de um, todos os prichos; seus músculos continuam tão fortes, sua ani- mação
operadores igno- continua tão grande, sua vontade de conseguir talvez esteja
ram completamente o número que deverá ser repro- duzido ainda mais viva e, entretanto, nada! Abso- lutamente nada!
por meio de pancadas, a execução (se ela não for Huídica) Uma hora inteira se passará sem que a mínima rotação se
deve proceder ou da pessoa que sabe o número e que fornece, manifeste ou, se houver rotação, as levitações são impossíveis.
ao mesmo tempo, o movimento O pouco que a mesa execu-
e a parada, ou de uma relação que se estabelece instin- ta, é executado fracamente, miseravelmente, e como se fosse
tivamente entre essa pessoa que determina a parada e seus com relutância. Repito mais uma vez: os músculos não
vis-à-vis que fornecem o movimento. Examine- mos ambas as mudaram. Qual o motivo dessa incapacidade súbi- ta? A causa
hipóteses. A primeira é insustentável, pois no caso em que permanecendo a mesma, o que leva o efeito a variar a esse
esco- lhemos uma perna sobre a qual o operador que conhece ponto? - Ah! - dirão - é que o senhor está falando de pressões
o número não pode exercer nenhuma ação muscular, a perna, involuntárias, e não fala nada sobre as pressões volun- tárias,
assim designada, não se ergue ao seu comando. da fraude, em resumo. Não está percebendo que
A seglmda é insustentável, pois, no caso em que o número os trapaceiros podem assistir a uma sessão e faltar a ou- tra, que
indicado é o zero, o movimento que deveria acontecer não eles podem agir um dia e não se dar ao trabalho de agirem no
acontece. E bem mais, se colocarmos em confronto duas dia seguinte? Responderei de maneira muito simples, e por
pessoas situadas nos dois lados opostos meio de fatos.
da mesa e encarregadas de obterem a reprodução de Os trapaceiros estão ausentes quando não conseguimos! Mas
já aconteceu, muitas vezes, de o nosso pessoal ter
dois números, o operador mais forte obtém a execução
permanecido completamente inalterado. As mesmas
do número principal, embora o que está sentado à sua
I t
rar
r o que é mecanicamente impossíve l? Eu aconselho às
pessoas
i
girantes,
u
que fazem questão de ridicula- rizar as mesas
a não as investigarem minucio-
ro. Se há um fluido propriamente dito, eu não posso
absolutamente afirmar. Afirmo que há um agente e que
esse agente não é sob1·enatural, que ele é físico e que
transmite aos objetos físicos os movimentos que nossa
samente
n e, sobretudo, a não dar muita atenção à nossa vontade determina. Nossa vontade, como eu já disse. E
última
f prova, a dos movimentos sem contato, porque ela ela é, de fato, a ob-
não deixará o mínimo pretexto para a incredulidade. servação fundamental que nós fizemos a respeito desse
o
Assim o fato está estabelecido. Múltiplas experiên- agente; é o que o caracteriza e é, também, o que o com-
?
cias, diversas e irrefutáveis provas unidas, aliás, pela promete aos olhos de muitas pessoas. Talvez possamos
mais estreita solidariedade, dão à ação fluídica uma nos resignar a um novo agente, se ele fosse o produto
P
credibilidade total. Os que tiveram a paciência de me necessário e exclusivo das mãos que formam a corren- te,
o
acompanharem até aqui, terão sentido suas descon- se certas posições ou certas ações garantissem sua
r
fianças progressivamente desaparecerem e sua fé no m
novo fenômeno afirmar-se progressivamente. Eles te- rão físico
a devem se combinar para que ele nasça . Há mãos
q
constatado a mesma coisa que nós constatamos, pois que
n se esgotam para formar a corrente e que não obtêm
u
ninguém mais do que nós opôs dificuldades às mesas nenhum
i movimento; a vontade não interveio. É uma
e
girantes, ninguém se mostrou mais curioso e mais vontade
f que comanda em vão; as mãos não se coloca-
,
exigente a seu respeito. Não temos culpa se os resultados ram
e em uma posição conveniente.
foram concludentes Nós evidenciamos esses dois lados do fenômeno.
s
(e
o cada vez mais), se eles se confirmaram reciproca- Notamos outro fato que deve entrar na descrição do
t
mente,
r se eles acabaram por tomar corpo e por adqui- agente físico em questão. Ele é inerente às pessoas e não
a
rir
d um caráter de perfeita evidência. Estudar, com- à mesa. Se os operadores, quando estiverem em
parar, recomeçar e recomeçar ainda, excluir, enfim, tudo çcomunicação, se colocarem ao redor de uma nova mesa,
i ãimediatamente eles exercerão sobre ela toda a
o que permanecia contestável de alguma forma,
n osua autoridade; sua vontade continuará a dispor do
eis o que era o nosso dever. Não deixamos de realizar
a .agente físico e se servirá dele para reproduzir, por meio
isso. Aqui eu não afirmo nada que não tenha consta-
r de pancadas, os números pensados ou para operar os
tado repetidas vezes.
i Mmovimentos sem contato. Tais são os fatos. A
a aexplicação virá mais tarde. Entretanto, é bem natural
F
m sprocurá-la desde agora e
o
Gasparin, cujo valor
e
será apreciado por todos os leitores. Fiz elaborar hipóteses , não como verdadeiras, mas ao me-
r de reproduzir
questão esses relatórios tão cuidadosos, porque
I n nn
i
eles aestabelecem, por seu lado, a realidade absoluta e inegável
t ãdo.
o Não era preciso provar aos adversários que eles não
'
m movimentos
desses e contrários à lei da gravidade. O conde de tinham
os nem mesmo o pretexto de uma impossibi- lidade
G , científica? As hipóteses têm sua legitimidade e
a e sua utilidade, m esmo se forem inexatas. Se elas forem
éc
s O s leitor deve ter notado o cuidado que eu tive para me admissíveis
o em si, já basta, pois isso defende os fatos aos
s
restringir
ó à constatação dos fatos, sem aventurar ne- quais
m elas se aplicam contra a acusação de mons-
p s o
n truosidade. Os críticos não têm mais o direito de exigir a
o
a a fluido foi para evitar as perífrases . O rigor científico questão prévia.
hc qVendo que essa qu estão era exigida de todas as partes,
r s teria
uo exigido que eu sempre escrevesse "o fluido, a for- up
i çm arrisquei-me a dizer o seguinte:
n a
n eo
aas s
s ,e s
2 C a
As Forças Katurais Desconhecidas 255
e tg cí
5
x m o
eu a
ov
4
p e u
oi m e
I
:
Vocês pretendem que nossas asserções são falsas pela
simples raz ão de que elas não podem ser verdadeiras!
Contentamo-nos em afirmar que quanto o fluido emite e
imprime um impulso ou uma atração lateral a um
1 Pois bem, permitam-me propor ao acaso algumas su- móvel que se apoia sobre pernas, uma lei de mecâ nica
I posições. Suponham, primeiramente, que vocês n ão muito simples transforma a ação lateral em rotação. Eu n
I
I sabem tudo, que a natureza moral e a própl; a natu- r eza ão estou dizendo: "as mesas giram porque meu flui-
!
1
material apresentam obscuridades para vocês. d
l
1
I Suponham que a menor erva que cresce em um cam- po, quando o recebem um impulso ou sofrem uma atração, elas
i
,
r que o menor grão que reproduz sua planta e que n ão podem não girar". É um pouco menos ingê-
o menor membro que se move sob a ordem que vocês lhes nuo. é Consequentemente, ninguém me obrigaria a tomar
dã o, encerram mistérios que ultrapassam o alcance das a meu cargo a causa daquele pobre aspirante a médico
academias, os quais elas considerariam absurdos se n ão dr
fossem compelidas a reconhecê-los como reais. Suponham O
oo
a seguir, que homens que desejam fazer isso e c ujas mão s (
p
iD t
estão em comunicação de certa forma, valo
O Entretanto, é mais forte do que eu, devo confessar, eu
ge"am um fluido ou uma força particular. estou pedindo u a
acho a resposta excelente. Duvido que os cientistas
o
que admitam que tal força exista; só que con- m
tenham
eó
t encontrado uma melhor desde então , e eu os
cordem comigo que ela é possível. !'\ão há lei natural que aconselho
n i a se r esignarem a raciocinar, algumas vezes,
p
se oponha a ela, que eu saiba. Agora, avancemos mais Jassim: v O ópio faz dormir porque ele faz dormir; as coisas
ita
esão o
um passo. A vontade dispõe desse fluido. Ele apenas dá o porque elas são. Em outras palavras, eu vejo os fatos
impul so aos objetos exter- ec" não sei as causas, eu ignoro. Eu ignoro! Expressão
nos quando assim o desejamos, e nas partes que que- iIterrível , que temos dificuldade em pronunciar! Ora, des-
tfm
confio muito que a malíci a de Moliere foi dirigida aos
remos. O impossíve l estaria aqui? É inaudito o fato de
transmitirmos um movim ento à m atéria que está fora de adoutor es que, pretendendo tudo compreender, imagi-
a
d m
n ós? Mas fazemos isso a cada dia, a cada instante e nossa zn
g
o a
ação mecâ nica não é outra coisa. O horrível é, sem io
ars
n
d
Mas
sm ainda não terminamos. A hipótes e do fluido (mera
dúvida, o fato de não agirmos mecanicamente! Mas a ação m
á
o
hipót ese, não esqueçamos) precisa ainda provar que ela
mecân ica não é a única ação neste mundo. Há rire
o réfeiu conciliável com as diversas circunstân cias do fenôm e-
un no.
meo A mesa não apenas gira, ela ergue as pernas, ela
ax
uma
ti dilatação, ou seja, um movimento universal; o ím ã ,itp reproduz, por meio de pancadas, os números mental-
m d
colocado
rc perto de um pedaço de fe no o atrai e o faz rle
o
transpor
aa a distânc ia. Sim, vocês responderão, não àeqi vontade, e obedece-lhe tão bem que a supressão do
sig
teríamo
s. s nada a objetar, contato
n
u não suprime sua obediência. O impulso ou a
cp
d
contanto que o seu pretenso fluido não obed eça a uma too
iatração lateral, que explica as rotações, não poderia ex-
direção no seu percurso. Se ele seguisse em frente, em plicar ea: as levitaçõ es!
fO a
er
f fn
çMas por quê? Porque a vontade dirige o fluido tanto a
o q
q
õ
euma
q
o iu " perna quanto a qualquer outra. Porque, de alguma
nc semelhante ao imã que atrai indiscriminadamente e
seria u
ena
u
r smaneir
n a, a mesa se identifica conosco, torna-se um de
a
ateç um ponto único todas as partícul as de fenos situ- adas etnossos
asds
d membros e opera os movimentos pensados por
e l nós n
ei da mesma forma que nosso braço o faria. Porque nó s
nasa suas vizinhanças. Vocês inventam uma teoria
do só fluido rotativo e essa teoria lembra perfeitamente a itp
q
não
rcm temos consciência da direção transmitida ao fluido
d
r
explicação d as propriedades soporífi cas do ópio. o porque nós governamos a mesa, mesmo sem imaginar-
n
eo
u
ic asmos e
fli
Seria impossíve l enganar-se mais completamente so- es que qualquer fluido ou força esteja em ação. Em
e d
es
bíc todos eua os nossos atos, em todos, sem exceç ão, nó s
ag o
rso u
sn
ass
ta
ei ip
av
a,
2 cq C As Forç as Naturais fpg Desconhecidas 257
ied
5 au a ru
ai
tp atam
se m
6 u
e m
r
não temos consciência da direç ão transmitida por nossa são conhecidas há mais de meio século e é reahnente incom-
vontade. Quando vocês tiverem me explicado como ergo preensí vel que o próprio fato da levitação das mesas e de seus
a mã o, eu explicarei como eu faç o com que a perna da mesa
se erga. Eu quis erguer a mão! Sim, e eu também quis erguer movimentos continue a ser negado. Se as mesas às vezes são leves,
essa perna da mesa. Quanto à execuç ã o, é preciso reconhecer que a espécie humana é realmente
quanto à e ntrada em aç ã o dos músculos necessários ao uma raç a um pouco pesada. Quanto à teoria, à hipótese do
primeiro ato, eu nã o tenho nenhuma con sciência do que fluido ... felix qui potuit re-
se passa em mim a r espeito disso. Estranho mistério, que rum cognoscere causas (feliz o homem que pode conhecer a
deveria nos inspirar um pouco de mod éstia! Há em mim um
poder executivo, um poder qu e, quando desejei
causa das coisas). Voltaremos ao assunto no capítulo sobre as
esse ou aquele movimento, dirigiu as ordens detalhadas aos teorias explicativas. Mas é incontestável que nós agimos, nes- sas
difere ntes músculos e fez executar cem movimentos experiências, por meio de uma força que emana de nós . É
complicados para l evar ao resultado final que é mera- mente preciso ser cego para não admitir isso.
pensado e merame nte desejado: isso se opera em Apó s uma série de experiências tão admiravelmente condu- zidas,
mim e nada co mpreendo e nunca compreenderei nada diss o! podemos entender porque o autor tenha se permitido a rir um
Vocês nã o admitiriam que o mesmo poder exe- cutivo pode
indicar ao fluido as direções que ele indica aos músculos? Eu
pouco dos opositores tendenciosos. Terminando este capítu - lo,
quis executar uma sonata, e alguma não posso resistir de citar o conde de Gasparin a respeito das
coisa em mim, sem meu conhecimento, comandou cen- tenas refutações de Babinee e de seus êmulos do Instituto:
de milhares de aç ões musculares. Eu quis que essa perna da
mesa se ergu esse, e alguma coisa em mim, sem meu Os cientistas não sã o os únicos a ter sua dignidade. Eu
conhecimento, comandou as atraçõ es ou impulsos do fluido também tenho a minha e tenho orgulho de pensar que um
para o local designado. certificado assinado por mim nã o será considerado
A hipóte se do fluido é, portanto, sustentável. Ela está de por ninguém como um produto de impostura, nem de
acordo com a na tureza das coisas e com a natureza do leviandade. Todos sabem que tenho o hábito de pesar minhas
homem. Não tenho a pretensã o de ir mais longe e palavras; todos sabem que anlO a verdade e que não a
dar, a partir de ag ora, uma explicação de finitiva. Mas eu sacrificaria a nenhuma consideração. Todos sabem
estou tranquilo. Uma vez admitidos os fatos, as ex- plicaçõ es que sempre preferirei reconhecer um erro a persistir nele e
nã o tardarão a surgir. Então , o que parece que, quando, ap ós um longo exame, eu persisto com uma
impossív el parecerá muito simples. Às coisas incontes- convicção mais profunda e mais firme, ninguém se enganará
táveis não aprese ntamos obstáculos. Somos feitos de tal sobre o alcance da minha declaraçã o.
maneira que, passando de um extremo ao outro, depois de Eu responderei, a seguir, que o testemunho dos olhos tem,
termos proclamado ser impossív el tudo o que n ão em minha opiniã o, um valor científico . Indepe n-
compreendíamo s, declaramos ser compreensí vel tudo o que dentemente dos instrumentos e dos números, aos quais dou
reconhecemos como real. Só enco ntramos pessoas que dã o grande valor, eu penso que a visão pode servir.
de ombros quando lhes falamos sobre as mesas girant es e que, Penso que ela também é um instrumento. Se uma quaJl-
a seguir, acham muito simples o fato de o tidade convenie nte de bons pares de olhos constalou dez,
circuito do tel égrafo elétrico terminar, infalivelmente seu vinte, cem vezes que uma mesa foi colocada em movimento
ciclo a través da terra em uma fração de minuto, ou que sem co ntato; se ainda por cima, a explica- ção do fato por
as semelhanças fí sicas e mentais se transmitam dos pais meio de fraudulentos ou involuntários
para os filhos! O fenômeno das mesas não poderia es- capar contatos ultra passa os limites nos quais se encontra
da sorte comum: absurdo hoje, evide nte amanhã . forçosamente a incredulidade, a conclusão é clara. Nin-
guém está autorizado a protestar: "Vocês não possuem
Essas experiências do conde de Gasparin e de seu grupo
5 N. da T. - Jacques Babinet, fí sico e astrônomo francês.
!
físico dentro da garrafa; vocês não descrevem ramente eu o seria pela leitura de semelhante refutação.
sua ação sobre uma coluna de mercúrio ou sobre a inc li- Na opinião do senhor Babinet, esse fenômeno não oferece
nação de uma agulha. Nós não acreditamos em vocês, porque nenhuma dificuldade. Feliz física! Feliz mecânica que pos- sui
c vocês não fizeram nada além de ver!". Eu não acredito em resposta para tudo! Nós, pobres ignorantes, pensáva- mos que
vocês, pois vocês nada fazem além tínhamos detectado alguma coisa extraordinária
' de ver! Eu não acredito em vocês, porque eu mesmo não vi! e não sabíamos que obedecíamos às duas leis mais elemen- tares
I
Tantos sábios, tantas objeções . Eles não se pre- ocupam nem do mundo, a lei dos movimentos inconscientes e, so-
!
í
um pouco de entrarem de acordo entre si; bretudo, à lei dos movimentos nascentes, movimentos cujo poder
i
I
para eles, se for contra as mesas, tudo é válido. Kão posso parece ultrapassar o dos movimentos desenvolvidos.
esquecer que os cientistas só falavam de rota- Quanto aos movimentos inconscientes, o senhor Babi- net
ções no momento em que Faraday inventou seus discos. Em nada acrescenta às expEcações anteriores, nada que a
presença de um fenômeno tão inadequado e, admi- tamos, tão história daquele lorde (um lorde Inglês, segundo ele), cujo
suspeito, podemos entender porque os cien- cavalo era tão admiravelmente adestrado que pa-
tistas mostraram-se tão céticos e se contentaram com recia que bastava que se pensasse no movimento que ele
refutações pouco sólidas. Eles proporcionaram suas armas de deveria executar, para que ele o realizasse imediata- mente.
acordo com a aparência do inimigo. Aquele Estou perfeitamente convencido, como o senhor Babinet, que
que entre eles mostrou mais penetração e que propôs a o lorde em questão dava um impulso sobre
explicação mais plausível foi, seguramente, o senhor a rédea sem perceber, e não estou menos convencido de que
Chevreul.
Sua
H
teoria sobre a tendência ao movimento é os experimentadores cujas mãos tocam uma mesa possam
incontestavelmente verdadeira. Ela basta para expli- car exercer uma pressão da qual eles não têm cons- ciência.
como os objetos que suspendemos com nosso dedo Penso, apenas, que entre a causa e o efeito deve haver alguma
acabam por adquirir uma vibração no sentido indicado por proporção. Mesmo que os movimentos sejam inconscientes,
nossa vontade. Eu não me surpreendo que algumas pessoas eles não serão mais fortes por isso.
tenham pensado que essa teoria era também Resta-nos, pois, provar que os mesmos dedos que se
suficiente para explicar como os experimentadores ter- retesando não conseguem erguer um peso de 40 quilos,
minavam por conseguir proporcionar uma rotação à mesa e conseguirão erguer o dobro desse peso, apenas pelo fato de
por participarem eles próprios do movimento. Não preciso não terem consciência do esforço que estão fazendo. Meu
acrescentar que os levantamentos de peso honrado e sábio oponente não deseja que lhe fale-
e os movimentos sem contato não permitem, ainda, que mos dos movimentos obtidos sem contato. "Devemos relegar
recorramos a uma explicação semelhante. Todas as ten- dên ao campo da ficção tudo o que foi dito sobre ações exercidas à
cias ao movimento reunidas não produzirão sequer um distância ". A sentença é sumária. Os
impulso à distância , nem farão mover uma massa que a ação movimentos sem contato são uma ficç ão, primeiramen- te
mecânica não seria capaz de fazer mover. porque eles são impossívei s, e depois, porque o talco
O em pó impediu a rotação de uma mesa e, finalmente, porque
splicações que nada explicam. Eles deveriam começar a o movimento perpétuo não poderia existir. Os movimentos à
trabalhar e mostrar-nos, de fato, como fazer para erguer direta distância são impossíveis! Para se
ec mecanicamente um peso de 100 quilos sem nele aplicar uma ater à lógica estrita, o senhor Babinet deveria parar por aí e
iforça de 100 quilos. lembrar-se da resposta dada por Henrique IV aos
:e magistrados que assim tinham iniciado a sua arenga: - Não
n
ria
\ qualquer, cujo único defeito é o de não se sustentar. O disparamos a salva de canhão à aproximação de Sua
!t
recente artigo do senhor Babinet na Revue des Deu.\' Majestade, e isso por três bons motivos. Em pri- meiro
M il lugar, porque não tínhamos canhões ...
osa - Esse motivo já basta, respondeu o rei.
6 nst
da
d
a2 ees
sl A
1 6
T
n
e s
I
\
ésã
.0
i
,
!
1
:
; Somos levados a acreditar que o próprio senhor Babinet duvida produzem. Seria a mesma coisa se disséssemos ao homem que
1\
iI
1
1 um pouco de sua "impossibilidade". Quanto a isso, ele agiu viu a colheita de cevada ser realizada em janeiro, no Alto Egito:
\ sabiamente, pois essa pretensa impossibili- "Eu acreditarei nisso quando a mesma coi-
I dade repousa inteiramente em um círculo vicioso. "Exis- te um sa for feita diante dos meus olhos na Borgonha". Nesse caso,
único exemplo de movimento produzido sem a ação de uma trata-se, naturalmente, da dúvida que sempre surge
força extema? Não. Ora, o movimento à distância se operaria diante de um relato de viagem. Mas as experiências têm um
sem a ação de uma força extema, caráter diferente. Em presença de fatos tâo evidentes, é quase
:
·
,
1
. portanto o movimento à distância é impossível". Realmente, inacreditável que queiram impor-nos instrumen- tos, agulhas e
1
I
j sinto vontade de dizer ao senhor Babinet, dispositivos mecânicos. Introduzir os já que e os portanto em
i
·
- uma pesquisa
em linguagem didática, que sua premissa maior é ver- dadeira
i'
: e que sua conclusão seria legítima se sua pre- missa menor em que a natureza real do agente é um mistério para
h não fosse pura e simplesmente uma peti- ção de princípio. O t
senhor pretende que não há força exterior atuando na mesa Os
o testes de refutação não são estudos e, normalmen- te, é
que se ergue sem contato das exatamente
d o contrário. Quando pessoas que nada
mão s. Mas é precisamente o que é debatido entre nó s. o
viram, que não dedicaram às experiências nenhuma porção
U considerável de sua energia e do seu tempo, que talvez não
m
modo começar estabelecendo esse axioma. Não existe fluido otenham assistido senão a algumas rotações
(ou agente físico análogo), para acrescentar: logo d
fn m e
põem a expor teorias ou a censurar os experimentado- res, eu
ãl
O u
não penso que elas estejam estudando. Acredito que as pessoas
u
so
mitam às objeções derivadas dos movimentos nascentes ou n m
nunca estudam realmente o que elas declaram ser estúpido a
iinconscientes, pequenas causas que produzem gran- de
príol'í. Se os ataques
d efeitos; eles têm ainda outro método de procedi- mento.
ch
des osão
s estudos, então os estudos não faltam e, acrescen- to ainda,
áo
i uma experiência deu certo, ela não tem mais qualquer
Se !ique eles nunca faltarão. Na época em que a Academia de
e
valor. Oh, se conseguirmos obter o mesmo êxito em outra nMedicina enterrava o relatório do senhor Husson
éexperiência,
e
n tanto melhor! O que não eh proclamava 7 o que todo mundo na Europa persistiu em
tfimpede que, uma vez operada, a nova experiência se tome, a
chamar de recusa de exame, todas as ma- nhãs aparecia um
ieu
por sua vez, insignificante e ceda lugar a novo de- s
artigo contra o magnetismo; todas as
m
sis manhãs declaravam que os partidários do magnetismo eram
a rimbecis, e propunham sistemas explicativ os.
it
o e
da Vocês estâo fazendo tais e tais coisas. Isso é ótimo , m as Se vocês chamam a isso de estudar, hei de convir que nós
f d
es façam uma coisa diferente. Vocês empregam estudamos as mesas girantes, pois não lhes poupa- ram nem
o o
r,p tais ou tais procedimentos, queiram contentar-se como injúrias, nem teorias. Elas receberam toda a
r n
a aqueles que lhe prescreve mos. Obter êxito à sua atenção possível, salvo o favor de olhar, experimentar, escutar
ço d
tt maneira, não é obter êxito, é preciso obter êxito à nossa
ad ae ler.
o maneira. A maneira de vocês não é Duas vezes, a um mês de distância, o Instituto anunciou (sem o
s
.iu científica, ela contraria as tradições. Fecharemos a porta protesto de ninguém) aos experimentadores que estava
esz
x
i aos fatos se eles não estiverem de acordo com os rarquivando as comunicações relativas às mesas; que não era
E princípio s estabelecidos. Nem prestare- mos atenção às obrigado a se ocupar com b esteiras, que tinha um lugar
t
d i
ic suas experiências se nossos apa-
e
o dreservado às elucubrações dessa natu-
srelhos experimentais não figurarem nelas. Estranha maneira de reza, ou seja, o lugar para onde vão os artigos sobre o
.
m í
ao cmovimento perpétuo.
m
constatar o resultado das experiên- Oh,
u Moliere! Por que você não está aqui? Mas na re-
a
cF a l
i
ita 7 a
s
ari s
sv N ,
2 oa C .As Forças Naturais Desconhecidas 263
!d a
6 u a
a. d
p
2 Ey
m m a e
alidade, você está aqui. Seu gênio marcou com traços com um perfeito desdém quando lhe pedem a opmrao so- bre os
indeléveis essa eterna doença das corporações especiais:
o desdém aos leigos, o respeito aos colegas, a idolatria aos
fenômenos de levitação das mesas, os movimentos de objetos
antigos. Doença estranha que se reproduz em todos sem causa visível, os ruídos inexplicáveis nas casas assombradas,
os séculos, sob todas as formas e no seio de todos os as comunicações de pensamento à distância, os sonhos
ramos da atividade humana, ora em nome da religião, ora premonitórios, as manifestações dos moribundos. Embora esses
em nome da medicina, ora em nome da ciência ou fatos inexplicáveis sejam inegavelmente cons- tatados, esses
da arte. Sim, mesmo através das revoluções, que nada
doutos espíritos continuam convencidos de que
poupam, mesmo entre as paredes das Academias que se
associam ao grande movimento das inovações mo- dernas,
"essas coisas são impossíveis".
uma coisa permanecerá, o corporativismo, a
tradição, a superstição das formas. Podemos dizer,
realmente, que se alastram um pouco por toda a parte
juramentos que se assemelham à ceri- mônia do Doente
Imaginário.
O senhor Foucault gosta muito dessa cena e, assim, ele não se
incomodará que eu lhe lembre uma passagem:
Essere in omnibus
Consultationibus
Ancieni aviso.
Aut mauvaiso.
- juro!
De non jamais te servire
De remediis alcunis
Quam de ceux seulement doctce faculta tis,
Maladus dut-il crevare,
Et mori de suo mala.
-Juro!>
8 N. da T. - Jura que em todas as consultas acatará a opinião dos mais velhos, seja ela boa
ou má? - Juro. - Jura nunca fazer uso de nenhum remédio, exceto daqueles
prescritos pela faculdade de medicina, mesmo que o paciente exploda e morra da sua própria
doença? - Juro.
II
;' 272 Camille Flammar10n As Forças Naturais Desconhecidas 273
",I,i
1t
de piano, quando um ruído surdo ressoou no instru- mento De acordo com nossas medidas, para operar o levanta- mento
que tremeu e foi deslocado de tal forma que o que ocorreu, seria necessária uma força de apro- ximadame
aluno e a profe ssora fecharam-no rapidamente e aban- nte 75 quilos aplicada na borda da caixa, abaixo do teclado. O
donaram a sal a. No dia seguinte, o senhor K, avisado instrumento do primeiro andar era um pesado piano Erard, de
do que se passara, foi assistir à aula que se realizava no cinco barras, pesando, jun- tamente com a caixa na qual foi
mesmo horálio, ao cair da noite. Passados cinco a dez enviado, 370 quilos,
J
. minutos, ele ouviu do interior do piano sair um ruído difí cil de acordo com a declaração de expedição que tivemos diante
de ser definido, mas que era muito semelhante os olhos. Segundo nossas medidas aproximati- vas, seria
a necessário um esforço de 200 quilos para er- guer esse piano,
possuíao algo de musical e de metálico. Logo depois, as duas nas mesmas condições que o primeiro. Nós não pensamos que
pernas anteriores do piano, que pesava mais de alguém esteja tentado a atri- buir ao esforço muscular direto de
3q uma criança de onze
0lu Uma
anos osenhora,
levantamento
que tinha
de um
explicado
peso deo200
efeito produzido3 pela ação
quilos.
0eo tentava levantar. Ora o piano possuía seu peso nor- mal,
ele dos joelhos, passou a mã o entre a borda do piano e
que c ultrapassava o limite das forças do senhor N.,
qo
ora d ele produzia o efeito de não possuir mais nenhum peso e os joelhos da criança e pôd e assim convencer-se de que s ua
u
não eu opunha mais qualquer resistência. Como os ruídos interior explicação não tinha fundamento; mesmo quando a própri a
i-v tornavam-se cada vez mais intensos,
es criança pôs-se de joelhos sobre o tamborete para tocar, não viu
leles is resolveram encerrar a aula, temendo que o piano pudesse cessar as perturbaçõ es que ela temia.
o
sofrer ea algmn dano. Transferiram a aula para a manhã seguinte
se para outra sala situada no andar térreo. Os mesmos fenôm
,enos p
a se produziram e o piano,
Essas constataçõe s do professorThury são ao mesmo tem- po
r
q precisas e formidáveis. Dois pianos que se erguem do chão e que
so u
u seja, vários centímetros). O senhor N. e um rapaz de saltam! Que coisa! O que é preciso, pois, aos físicos, aos químicos,
(ou
em d
e
dezenove anos tentaram, com todas as suas força s, exercer, aos sábios do funcionalismo oficial, para despertar
au
junto s, uma resistência sobre os ângulos que se erguiam. Ora
eze seu torpor, sacudir suas orelhas, abrir seus olhos, excitar sua
sua resistência era inútil e o instrumento nobre e farisaica indolência?
rd i
rcontinuava a se elevar, ora o tamborete no qual a crian- ça
rga
a E
uestava s
sentada recuava em grande velocidade.
do, além n de raros pesquisadores, libertos do medo do ridículo,
em Se
u tais fatos tivessem ocorrido apen as uma vez, poderí- amos
recrer m em alguma ilusão da criança ou das pesso as t o que vale a raça humana, no particular e no geral. Mas
sabendo
a escutemos r ainda o narrador. A seguir, ele discute a ex-
aa x
il
rante
m it
s
i
quinze dias seguidos, em presença de diversas tes- p e
temunhas. rn Então, certo dia, uma manifestação violenta l t
usp
se el produziu, e desde então nenhum fato extraordinário ocorreu a A
tr casa. Primeiramente, foram de manhã e à
i
m
na m
e como deveríamo s admitir pela teoria do senhor de Gas- parin?
c n
tarde eirv que essas perturbações ocorreram; depois, a qual- quer cSegundo o t estemunho dela, que consideramos
phora, u
sed constantemente, todas as vezes que a criança a t r
oam
se e punha ao piano, apó s cinco ou dez minutos que ele ç o i
uen
começava d a tocar. Isso só acontecia à quela criança, em- bora lá 3
d ãeminutos , a
cen
houvesse to outros músicos, e isso lhe acontecia em que a criança
n datocou o instrumento, não poderia ultrapassar, por outro
lado,
o
lA o limite das forças criança , ficando, até mesmo, abaixo. Em geral, nos
oest
independentemente do piano em que estivesse. ç
af
fenômenos n es,das mesas, a força despendida, se a julgarmos pelo grau de fadiga dos
.l\ós o
s vimos esses instnunentos: o menor, que se encon- u'ava operador ultrapassa
a muitonãoa que seria necessária para produzir mecanicamente
q o
os mesmos efeitos. Portanto, há a esse respeito nenhuma raz ão para
no d
;u térreo, era um piano horizontal e retangular. p
admitirmos
tr
i a intervenção de uma força estranha (THURY ).
O d
o çe n -
e e
em a
l
n g
saio e
2 en m C adA u
h
s ai s
7 nsú o a n
s é c
4 hseu t r "sâ m r
totalmente verdadeiro, ela não queria. Ela parecia visi- pa-se bem rapidamente, sobretudo quando a corrente dos
velmente contrariada com essas coisas, que perturba- riam seus operadores é interrompida.
hábitos de assiduidade às suas aulas e seus gostos de Disposições internas dos operadores - É somente de- pois de
regularidade e de ordem, bem conhecidos por um determinado tempo de espera que os opera- dores, que
seus próximos. Nossa convicção pessoal é que não po- não agiram previamente, determinam o mo-
deríamos absolutamente admitir, por parte dessa crian- ça, vimento mais fácil, ou seja, o da rotação com contato.
uma vontade consciente, um propósito decidido de É ao longo desse tempo que a força ou as condições de
produzir aqueles fenômenos estranhos. Mas sabemos que, por manifestação da força se desenvolvem: a partir de então, a
vezes, nosso ser se desdobra, conversa consigo força desenvolvida só tem que aumentar. Por- tanto, é muito
mesmo (como nos sonhos), deseja incon scientemente o que ele importante considerarmos o que se passa nesse momento de
não quer, e que entre a vontade e o desejo há somente diferença espera. Nós já sabemos que são os
de mais ou de menos. Seria preciso recorrer a explicações desse operadores que se modificam: mas o que se passa neles?
gênero, talvez muito sutis, para adaptar esses fatos à teoria do É preciso que seja exercida uma ação particular no
senhor de Gasparin, orgaIÚsmo, ação para a qual a intervenção da vontade é
e ainda seria necessário modificar e ampliar essas expli- ordinariamente necessária. Essa ação, esse trabalho
cações, admitindo que o desejo, mesmo inconsciente, é é acompanhado de uma determinada fadiga, ele não se realiza
suficiente na falta da vontade expressa. Portanto, sobre esse de uma maneira igualmente fácil ou rápida em todos os
ponto essencial há motivo para dúvida: é a única dedução que operadores; há mesmo pessoas (o autor ava lia que seja uma
queremos tirar dos fatos que relatamos. em dez), nas quais parece que ele
Essa levitação equivalente a um esforço de 200 quilos tem seu não pode se produzir. Em meio a essa grande diversidade,
valor cientifico. Mas como a vontade, consciente ou observamos que crianças "se fazem obedecer como pessoas
inconsciente, ergueria um móvel com tal peso? Por uma força adultas", contudo as crianças não magnetizam. Assim, embora
desconhecida que estamos bem longe de admitir. vários fatos pareçam estabelecer que, frequentemente,
Ação prévia - A força desenvolve-se pela ação. As ro- tações os magnetiza dores possuem um poder enérgico sobre as
preparam as oscilações e as levitações . As rota- mesas, não podemos admitir a identidade entre o poder
I ções e as oscilações com contato parecem desenvolver a força magnetizador e a ação sobre as mesas, pois um não é a medida
I. necessária para operar as rotações e as oscilações sem contato. do outro. Apenas a força magnetizadora consti- tuiria ou
Por sua vez, as rotações e as oscilações suporia uma condição favorável. Uma vontade simples e
sem contato preparam a produção das verdadeiras le- firme, a inspiração, o entusias- mo; a concentração dos
vitações , como as da mesa de balanço; e as pessoas que pensamentos no trabalho a ser realizado, um bom estado de
despertaram em si essa força latente estão mais aptas a saúde, talvez a ação física de girar ao redor da mesa. E
chamá-la novamente. Há, pOltanto, uma preparação gradual também, tudo o que pode
necessária ao contribuir para a unidade de vontade en tre os operado- res. É
menos para a maioria dos operadores. Essa opera- ção nesse sentido que as ordens pronunciadas com força e a
consistilia em uma modificação ocorrida no ope- rador ou no autoridade são eficazes.
corpo inerte sobre o qual e le age, ou em As mesas - diz o senhor de Gasparin - "querem ser seguradas
ambos? A fim de resolver esse problema, operadores que alegremente, lestamente, com entusiasmo e
tinham praticado com uma mesa, foram para ou- confiança; elas querem, no início , exercícios divertidos e fáceis.
tra mesa, sobre a qual eles reencontraram toda a força Só governamos firmemente a mesa com as con-
de sua ação. A preparação consiste, portanto, em uma uma hora e meia, e depois sentadas ao redor de uma mesa, sem obter o mínimo movimento.
modificação oconida nos indivíduos e não em um corpo inerte. Dois ou três dias depois, na sua segunda tentativa, as mesmas pessoas, após dez minutos de
4 Essa modificação advinda nos indivíduos dissi-
espera, faziam uma mesinh3 redonda girar. Finalmente, em 04
de maio de 1853, na terceira ou quarta tentativa, as mesas mais pesadas agitaram- se quase
imediatamente.
4 -"as primeiras tentativas de Thury, oito pessoas permaneceram de pé durante
recorrer às explicações desse gênero quando todas as outras A tarefa da ciência - escreve ele - é de testemunhar a verdade.
explicações forem decididamente insuficientes. Ela não poderá fazê-lo se tomar emprestados
30) Enfim, por meio de considerações fisicas. Considerando uma parte dos seus dados da Revelação (divina) ou da
aqui a questão unicamente sob o ponto tradição, pois haveria petição de princípio, e o testemu-
de vista da fisica geral, não seguiremos o autor (Gas- parin), no nho da ciência tornar-se-ia nulo.
primeiro tipo de consideração . Quanto ao Os fatos de ordem natural estão ligados a duas
segundo, queremos apenas observar que a suficiência das rias de forças: umas necessárias e as outras livres. A primeira
explicações meramente fisicas não deve, rigorosa- mente, categoria pertencem as forças gerais de gravi- dade, de calor,
estender-se senão às experiências realizadas em Valleyres, onde de luz, de eletricidade e a força vegeta- tiva. É possível que
nada, na verdade, testemunha uma in- um dia descubramos outras
tervenção de vontades diferentes da vontade humana. A mas atuahnente, essas são as únicas que conhecemos. A
questão da intervenção dos espíritos pode ser deci- dida pelo segunda categoria de forças pertencem, apenas, a mente dos
conteúdo das revelações, caso esse conteú- animais e a mente do homem: elas são, realmente,
do fosse tal que não pudesse, evidentemente, ter sido forças , já que são as causas de movimentos e de fenô-
originado na mente humana. Não é nossa intenção menos variados no mundo fisico. A experiência nos ensina que
discutir essa questão. Nosso estudo atual diz respei- to essas forças se manifes-
unicamente aos movimentos dos corpos inertes, e tam por intermédio de organismos especiais, muito
temos somente que considerar, entre os argumentos complicados nos animais superiores e no homem, mas
do senhor de Gasparin, apenas os que estão incluídos nesse simples nos animais mais inferiores, nos quais a mente não
ponto de vista. precisa de músculos e de nervos para se manifes- tar
Ora, esses argumentos parecem-nos resumidos nestas linhas externamente e nos quais ela parece agir sobre uma matéria
um pouco irônicas: "Estranhos espíritos ... que homogênea cujos movimentos ela determina (a
são esses cuja presença dependeria, de uma rotação, de- ameba de Ehrenberg). É nessas organizações elementa- res
penderia do frio ou do calor, da saúde ou da doença, do que o problema da ação da mente sobre o corpo se encontra,
entusiasmo ou do desânimo, de uma trupe de mágicos sem o de algum modo, estabelecido nos seus mais simples termos,
saberem. Estou com dor de cabeça ou com gripe, reduzido à sua mais simples expressão. A partir do momento
portanto hoje os demônios não poderão vir". O senhor de que admitimos a existência da
Mirville ,8 que acredita nos espíritos que se vontade como distinta, pelo menos em princípio, do
manifestam por meio dos fluidos, poderia, entretanto, corpo material, torna-se unicamente uma questão de
responder ao senhor de Gasparin que as condições da experiência constatar se outras vontades, além das vontades
manifestação ostensiva dos espíritos são, talvez, pre- do homem e dos animais, desempenham um
cisamente o estado fluídico ; que, se fosse assim, nas sessões, papel qualquer, frequente ou raro, no mundo em que vivemos.
poderia muito bem haver manifestação fluídi- ca sem Essas vontades, se elas existirem, terão um
intervenção de espíritos, mas não intervenção meio qualquer de manifestações que apenas a experi-
de espíritos sem manifestação fluí dica prévia e que, então, ência pode fazer-nos conhecer. Com efeito, tudo o que é
só poderíamos provocar tais manifestações por possível afirmar a priori, é que a matéria será o meio
nossa conta e risco. necessário de sua manifestação. Mas atribuirmos a essa
matéria uma organização necessária de músculos, de
nervos etc. seria uma ideia muito estreita e já desmen- tida
8 N. da T. - :\1arquês Jules Eudes de Catteville de Mirville - escritor erudito, iluminista e pela observação das categorias inferiores do reino animal.
médium.
Enquanto não conhecermos o elo que liga a
gadas de comprimento por quatro pés de largura e, a maior, das de distância , aproximadamente. Todos ajoelharam sobre
nove pés e três polegadas por quatro pés e meio, com um peso suas cadeiras, colocando os braços sobre a parte superior dos
proporcional. Todas as vezes, o cômodo, as mesas e o encostos. Nessa posição , seus pés ficavam, necessariamente,
mobiliário fo- voltados para o lado oposto à mesa e
ram submetidos a wn exame minucioso antes e após as impossibilitados de se colocarem sob a mesa ou de tocar o
experiências, para nos assegurarmos de que eles não assoalho. As mãos de cada assistente estavam estendi- das
escondiam nem equipamento, nem instrumento, nem acima da mesa, a aproximadamente quatro polega- das de sua
qualquer outro dispositivo que pudesse produzir os superfície. Portanto, o contato com qualquer parte da mesa não
s poderia ocorrer sem ser descoberto. Em menos de wn minuto,
o experiências foram feitas à luz do gás, salvo em al- guns
As a mesa, sem ser tocada, mexeu-
ncasos anotados nos relatórios. s
s vossa Comissão evitou o emprego de médiuns profis-
A w
e
sionais ou remunerados; a única mediunidade era a dos n oposto; a terceira, novamente quatro polegadas num sentido
do
emembros, pessoas de uma boa posição social, de rigorosa q finalmente, seis polegadas no outro sentido.
e,
integridade, que não esperavam obter nenhuma recom- pensa su mãos de todos os assistentes foram, a seguir, coloca- das
As
o pecuniária, nem nada ganhar com wna impostura. Quatro ea
sobre os encostos das cadeiras a, aproximadamen- te, um pé da
squintos dos membros estavam, no início das ex- periências, n
t
mesa que, novamente, fez, como acima descrito, cinco
totalmente céticos a respeito da realidade dos tr
movimentos, variando de quatro a seis
m io
fenômenos . Eles estavam convencidos de que esses fenô- p
o
m d
doze
o polegadas da mesa, e todos se ajoelharam sobre sua
v
e da ação muscular inconsciente. Foi somente dian- te da o
v
cadeira
l como precedentemente, salvo que, dessa vez, as
seja
in ;eemãos estavam nas costas e o corpo encontrava-
evidência indiscutível, em condições que excluíam qualquer
m
o zse, assim a dezoito polegadas da mesa, e o encosto da cadeira
possibilidade de admitir uma daquelas soluções , e após testes e g
es aeestava
a
provas muitas vezes repetidos, que os mais céticos chegaram interposto entre ele e a mesa. Esta se mexeu
n snovamente
d
gradativamente e como contra vontade quatro vezes em diferentes direções. Assim, ao
t s:longo
àeo convicção de que os fenômenos observados no desenro- lar de a
es
dessa experiência conclusiva, a mesa,
sua r longa pesquisa eram fatos incontestáveis. em menos de meia hora, deslocou-se treze vezes sem
sa g
.anenhum contato, nem possibilidade de contato com o que
m u
fosse. Os movimentos ocorreram em todos os senti-
c 0 n
p
T
ir rdos,
d e vários deles de acordo com o pedido de diversos
te 0 o
membros
aid da Comissão. A mesa foi, então, minuciosamente
A
foi
as 0
conduzida mostrará com que cuidado e precauções vossa
examinada,
,m
anão foi
vira- da de cabeça para baixo e desmontada, mas
du d es
Comissão prosseguiu suas investigações.
eEnquantoo
l descoberto
ci nada que pudesse explicar o fenômeno . A
houvesse contato ou até possibilidade de contato
sst eraexperiência foi realizada o tempo todo em plena luz do
entre
.ca as mãos ou os pés de uma das pessoas presentes com o
gás
ras acima da mesa. A Comissão constatou mais de cinquenta
objeto em movimento, não tínhamos
rcertezad c,movimentos desse tipo, sem contato, em oito sessões
absoluta de que os ruídos e os movimentos não eram acdiferentes, nas residências dos seus membros, e todas as
iproduzidos
o pela pessoa que estivesse em contato. Fizemos
çentão a seguinte experiência: Certo dia em que onze membros cavezes as mais
ãestavam
s d
ed
sérias precauções foram tomadas. Em todas as experiências
sentados ha- ere
oe dessa natureza, a possibilidade de uma ação mecânica ou de
via quarenta minutos ao redor de uma das mesas de jantar ciqualquer outro tipo de es-
acima j descritas e que foram produzidos ruídos e movimentos
d a o
atratagema
r foi descartada devido ao fato de os movimen- tos
variados, eles viraram, para testar, os n
e terem
a ocorrido em todas as direções, ora de um lado,
e zd
d s
n e
ua
c
m f
2 o
ai C co Desconhecidas 293
As Forças Naturais
p
9 s a o
ir
m
t ln
2 ep m a
I
ora de outro, uma vez em uma extremidade da peça , outra vez movimento considerável; 2
\1
em outra. Tais movimentos teriam exigido a 0 ) Eles mantiveram as mãos a uma distância de várias
ij intervenção de várias mãos ou de vários pés. Tendo em polegadas acima da mesa, sem que ninguém a tocasse, e
•
vista as grandes dimensões e o peso das mesas, os mo- ela realizou um deslocamento de mais de um pé;
vimentos só poderiam ter ocorrido sob a ação visí vel de 30) Para tornar a experiência totalmente conclusiva, to-
uma força muscular. Cada mão e cada pé estavam perfei- dos os assistentes mantiveram-se claramente afastados da
tamente à vista e não teriam conseguido fazer o mínimo mesa e colocaram suas mãos estendidas acima dela,
movimento sem ser imediatamente descobertos. sem tocá-la, e ela se deslocou como anteriormente, à mesma
Os movimentos se produziram com tanta frequência, em distânci a. Durante esse tempo, um dos mem- bros, acocorado
tantas e tão diversas condições; eles foram cercados de tantas no assoalho, olhava atentamente por
precauções contra o erro ou a ilusão e deram re- sob a mesa, enquanto outros, postados fora do círculo ,
sultados tão invariáveis, que os membros de vossa Sub- comiss observavam se ninguém se aproximava da mesa. Nes- sas
ão , que acompanharam as expeliências, embora tenham condições, ela executou inúmeros movimentos, sem
iniciado, em sua maioria, com um ceticismo possibilidade de contato com qualquer pessoa presente; 4 °)
absoluto, ficaram plenamente convencidos de que existe Enquanto os membros se mantinham, assim, à dis- tância da
uma força capaz de mover corpos pesados, sem con- tato mesa, mas com as pontas dos dedos pousadas nela, a um sinal
material, e que essa força depende, de um modo dado, todos levantaram as mão s ao
ainda desconhecido, da presença de seres humanos. mesmo tempo, e a mesa, repetidas vezes, elevou-se do
assoalho até cerca de uma polegada de altura;
Tal foi O primeiro veredicto da ciência sobre as práticas do 5°) Todos mantiveram as mãos a uma curta distância acima da
mesa, mas sem tocá-la. Dado o comando,
espiritismo na Inglaterra, veredicto exarado por físicos, químicos , todos as levantaram bruscamente, e a mesa elevou-se
astrônomos, naturalistas, muitos deles membros da Sociedade Real como anteriormente. O membro agachado levantou-se do chão
de Londres. Esses estudos foram feitos parti- cularmente pelo e os que observavam fora do círculo continu- aram a vigiar
professor Augustus de Morgan, presidente da Sociedade atentame nte, e todos constataram que o fenômeno era
Matemática de Londres, Cromwell Varley, engenheiro chefe dos incontestáve l.
telégrafos, Russell Wallace, naturalista e outros. Vários membros
da Sociedade Dialética recusaram-se a endossar essas conclusões e 000
declararam que elas deveriam ser verificadas por outro cientista
15 de abril-Oito membros presentes. Sessão às oito ho- ras.
como, por exemplo, o químico William Crookes. Este aceitou a
Após cinco minuto s, foram percebidas pancadas na aba da
proposta e foi essa a origem de suas experiências, das quais mesa. V árias qu estões , do tipo, que lugar os as- sistentes
trataremos mais adiante. Mas antes de apresentar essas experiências deviam ocupar, foram feitas, e respondidas por meio de
do eminente químico, devo expor aos meus leitores os principais pancadas. O alfabeto foi solicitado e a palavra
fatos cons- tatados pela Comissão de estudos da qual acabamos de "rir" foi soletrada. Perguntaram se isso significava que
falar. devíamos rir. A resposta foi afirmativa, e os assistentes
desataram a rir. Diante disso, a mesa deu uma série de
pancadas vigorosas e fez movimentos parecendo imitar e
Observações especiais formar o acompanhamento de nossa risada, e isso de
modo tão cômico que soltamos uma verdadeira garga- lhada
09 de março de 1869 - :"Jove membros presentes. Reu- diante da qual a mesa sacudiu-se, enquanto as
nião à s oito horas. Os seguintes fenômeno s se produziram: 1 pancadas foram ritmadas, de modo a nos acompanhar. 4
CAlV1.ILLE FLA.t\!LV1.ARION
Paris, 8 de maio de 1870
\
1
, acordeão, devido à sua facilidade de transporte) sem in- cador auto-registrador, de modo a indicar o máximo do peso
I tervenç ão humana direta, e em condiçõ es que tomaram marcado pelo ponteiro. O aparelho era ajustado
impossíve l qualquer contato ou qualquer manipulação das de tal modo que a prancha de mogno ficava na posição
chaves. Foi somente depois de ter sido frequente- mente horizontal e seu pé repousava reto sobre o suporte. Nes- sa
testemunha desses fatos e de tê-los escrutado com todo o rigor posiç ão, seu peso era de três libras,6 indicado pelo indicador
de qual sou capaz, que me convenci de da balança. Antes que o senhor Home entrasse no cômodo, o
sua verdadeira realidade. Minhas experiências foram apare- lho foi instalado e, antes de se sentar, não lhe
realizadas em minha casa, explicamos
à nem mesmo o destino de qualquer uma de suas partes. Talvez
Os aparelhos preparados com a finalidade de constatar os seja útil acrescentar que, à tarde, eu tinha ido até ele, em seu
movimentos
n do acordeão consistiam em uma gaiola, formada apartamento, e lá ele me disse que, como precisava mudar de
por
o dois arcos de madeira, com um diâmetro roupas, certamente eu não me opo- ria que continuássemos
ide, respectivamente, um pé e dez polegadas e de dois pés," nossa conversa no seu quarto de
t
unidos por doze ripas estreitas de um pé e dez po- dormir. A ssim, posso afirmar positivamente que nenhu- ma
e
legadas de comprimento cada uma, de modo a formar a máquina, nem aparelho, nem artifício de qualquer espécie foi
,estrutura de uma espécie de tambor, aberto em cima colocado secretanlente sobre ele.
e em baixo. Ao redor do mesmo, cinquenta metros de E
ef rei:
n um cientista eminente, ocupando um posto de desta- que na
m
i e quatro voltas, sendo que cada uma dessas voltas
te tSociedade Real,7 um reputado doutor em direito,8
o
encontrava-se a menos de uma polegada de distânci a da volta rmeu irmão Walter e meu assistente químico , Williams. O
u
s
mais próxim a. Esses fios de ferro horizontais foram, então, e
senhor Home sentou-se ao lado da mesa, em uma chai-
m solidamente amarrados com barbante, de se-longue. Diante dele, sob a mesa, encontrava-se a gaiola da
d
modo a formar malhas fechadas. A altura dessa gaiola era tal o acabo de falar. Sentei-me perto dela, à sua esquer-
qual
ae s e alguns assistentes sentaram- se ao redor da mesa. Durante
que ela podia deslizar sob a mesa da minha sala de jantar, mas da
m
pela altura, ela estava muito próxima da a maior parte da noite e, particularmente, quando um fenômeno
p
cm i
importante acontecia, os obser- vadores que estavam de cada
lo nlado do médium, manti- veram os p és do mesmo sob os seus,
seo
b v
de modo a poder descobrir o seu mais leve movimento.
ces
rô
u
ac e
v
em s temperatura do cômodo era, comumente, de 20 a 21
eô
jantar, para estabelecer a comunicação, se houvesse ne· A
ip t
,o
cessidade,
m com aqueles que estavam próximos da gaiol a. graus centígrados. O senhor Home pegou o acordeão com
in
aO i
d
o acordeão era novo, eu mesmo o havia comprado, para essas uma das mãos , segurando-o entre o polegar e o dedo médio,
so
trexperiências, g
d
d em um bazar. O senhor Home não havia visto e pelo lado
o
eaoou tocado o instrumento antes do início a
lr oposto
d às chaves (vide a figura 1). Depois de ter aberto
v
dos previamente com minhas mãos a chave de baixo, a gaiola foi
aip nossos testes. Em outra parte do cômodo, um aparelho o
io
fora
d disposto puxada de sob a mesa, o suficiente para ser nela introduzido o
zo
elp r
n acordeão com o
o
irud e
sa lado
s das chaves voltado para baixo. A gaiola foi depois
,m
renilegadas
i, de comprimento por nove polegadas e meia de largura empurrada para baixo da mesa, tanto quanto permitiu
ia
h
esn uma de espessura. Uma das extremidades da prancha o
p braço do senhor Home, mas sem lhe ocultar a mão aos que
trepousava sobre uma mesa só lida, enquanto a outra era
o
p
tq
a restavam perto de le (vide a figura 2). Imediata-
a,u
isustentada
itu
d por uma balança de molas suspen- sa a um forte
rotripé. e
aee A balança era munida de um indi- 6 A libra inglesa equivale a 450 gramas. 7 N. da T. Sir \\ -illiam Huggins, astrôno mo
eq s
st célebre por suas descobertas em análise
espec tral. e
q
iu
à
td
5 feu 8 n
aae
o
elr t
O h
m :
ru
u e
3 au C \A
av
z
m
q s
p0 afm a .s
é
6 iu
a
d
p
a m a
m estabeleceu a comunicação com os fios que vinham das pilhas
e
cada lado viram o acor- deão de Grove. Novamente, o senhor Home segurou
1 nbalançando-se de o instrumento dentro da gaiola, do mesmo modo como já
1
' t
maneira curiosa; depois alguns descrito anteriormente, e imediatamente ele ressoou, agitando-
1 e desprende- ram-se dele, e,
sons se vigorosamente de um a outro lado. Mas me é impossível
:
1
.
i
'
,
,
finalmen- te, muitas notas dizer se a corrente elétrica que passou ao
L
i
!
1
foram tocadas sucessivamente.
o
Enquanto isso acontecia; meu
redor da gaiola veio em auxílio da força que se mani- festava
no interior.
s
assistente agachou-
i
I.
'
.
"
i
Após essa experiência, o acordeão, sempre seguro por uma só
mão, começou a tocar, primeiramente, acordes e arpejos, e, a
:HI, q seguir, uma doce e melancólica melodia, muito conhecida, que
1I
. se sob a mesa e constatou Figura 1 que o
' : u
acordeão abria-se e foi executada de modo perfeito e muito bonito. Enquanto essa
e ária era tocada, segurei o
1 fechava. A mão com a qual o senhor Home segurava o
1" acordeão estava completamente imóvel e a outra repou- sava braço do senhor Home, abaixo do cotovelo e deslizei
I
:
I
e
sobre a mesa.
s
levemente a minha mão, até que ela tocasse a parte su- perior
do acordeão. Não se movia nenhum músculo. A outra mão do
I Depois, os que estavam dos dois lados do senhor Home viram o
t senhor Home estava sobre a mesa, visível
acordeão mover -se, oscilar, girar em torno
a
I da
v gaiola e tocar ao mesmo tempo. Então, o doutor William a todos os olhos, e seus pés conservavam-se sob os pés dos que
I Huggins olhou para baixo da mesa e afirmou estavam ao seu lado.
a
i
,
que
m a mão do senhor Home permanecia completamen- te
imóvel, enquanto o acordeão movia-se, produzindo
Tendo obtido resultados tão surpreendentes durante nossas
experiências com o acordeão dentro da gaiola,
!
I sons
d distintos. Ouvimos notas distintas e separadas ressoando voltamo-nos para o aparelho da balança já descrito. O senhor
sucessi-
e Home colocou levemente a ponta dos seus dedos sobre a
I vamente, e depois uma ária simples foi tocada. Como tal extremidade da prancha de mogno que repousa- va no suporte,
I enquanto o doutor e eu, cada um de nó s sentado de um lado,
resultado só podia ser produzido pelas diferentes cha-
ves do instrumento postas em ação de maneira harmo- niosa, espiamos os efeitos que poderiam
todos os que estavam presentes consideraram-na uma se produzir. Quase imediatamente, vimos que o pontei- ro da
experiência decisiva. Mas o que se seguiu foi ainda mais balança descia. Após alguns segundos, e le subiu.
surpreendente: o senhor Home afastou totalmente a mão do Esse movimento repetiu-se várias vezes, como se esti-
acordeão, retirou-a completamente da gaiola e segurou a mão vesse sob as emissões sucessivas da Força Psíquica. Nós
da pessoa que estava perto dele. En- tão, o instrumento observamos que, durante a experiência, a extremidade da
continuou a tocar sozinho, sem que nenhuma mão o segurasse. prancha oscilou suavemente, subindo e descendo. Depoi s, o
senhor Home, por iniciativa própri a, pegou
Novamente, o senhor Home deixou o instrumento e pousou as uma pequena campainha e uma pequena caixa de fó s-
duas mãos sobre a mes a. Dois assistentes e eu percebemos foros, de papelão, que se encontravam perto dele, e colocou
distintamen- te o acordeão flutuar no interior da gaio- cada um desses objetos em cada uma de suas mão s, para
mostrar-nos que ele não exercia sobre eles
la, sem nenhum supOlte visível. Após um curto nenhuma pressão (vide a figura 3 abaixo). A oscilação muito
intervalo, esse fato repetiu-se uma segunda vez. leve da balança de molas tomou-se mais marca- da, e o doutor,
olhando o indicador, constatou que o estava vendo abaixar a
E seis libras e meia. Como o peso
u nó s produziríamos ao passar a corren- te
to normal da prancha assim suspensa era de três libras,
elétrica da bateria em tomo do fio iso- lado da poderíamos deduzir que o impulso suplementar fora de
qgaiola. Para tanto, meu ajudante t
F u r
i i ê
g s s
3
u , C A 3
r0 a s l 0
a a m i
8 9
automático, vimos que, em determi- nado Acabo de fazer uma exposição dos fatos, completa e sem ma-
momento, o indicador descera quiagem, extraída de inúmeras notas escritas no momento das
a nove libras, o que mostrava que o peso
normal de uma prancha, que era de três
experiências, e redigidas completamente logo após sua realização.
libras, atingira uma gra- vidade máxima Quanto à causa desses fenômenos, quanto à natureza da
de seis libras a mais. força, quanto à correlação existente entre ela e as outras forças
A fim de verificarmos se era possível da natureza, eu não me aventuraria a emitir a mínima hipótese.
produzir um efeito notável sobre a balança Nas pesquisas ligadas tão intimamente com condições raríssi-
de molas, exercendo uma pressão no local mas de fisiologia e de psicologia, é dever do investigador abster-
em que o senhor Home havia colocado os
dedos, subi se completamente de qualquer sistema de teorias, até que ele
Figura 3 à mesa e mantive-me apoiado sobre um pé na extremi- dade da tenha reunido um número de fatos suficiente para formar uma
prancha. O doutor Huggins, que observava o indicador da base sólida sobre a qual ele possa raciocinar. Em presença dos
balança , disse que a ação do peso inteiro estranhos fenômenos até o presente inexplorados e inexplica-
do meu corpo (140 libras) só fazia oscilar o indicador de dos, que se sucedem de um modo tão rápido, confesso que é
uma libra e meia - ou duas libras quando eu dava um so- difícil não descrevê-los em uma linguagem que traz a marca das
lavanco. Ora, como o senhor Homes ficara sentado sobre uma
chaise-longue, ele não poderia, mesmo que tivesse feito todos os sensações recebidas. - Mas, para ser coroada de êxito, uma
esforços possíveis , exercer nenhuma influ- ência material sobre pesquisa desse gênero deve ser empreendida pelo filósofo, sem
esses resultados. Preciso, apenas, acrescentar que tanto seus pés preconceitos nem sentimentalismos. É preciso banir completa-
como suas mãos estavam mente as ideias romanescas e supersticiosas; os passos do inves-
sendo controlados de perto. Essa experiência parece-me ainda tigador devem ser guiados por uma razão tão fria e tão pouco
mais conclusiva, tal-
apaixonada quanto os instrumentos dos quais ele faz uso. A esse
vez, que a do acordeão. Como vimos, a prancha fora colocada
horizontalmente, e é preciso notar que em respeito, o senhor Cox escreve ao senhor Crookes:
nenhum momento os dedos do senhor Home avança- ram a
mais de uma polegada e meia da extremidade da prancha, o Os resultados parecem-me estabelecer de uma maneira
que foi demonstrado por uma marca a lápis que eu fiz naquele concludente este fato importante: há uma força que pro- cede
momento. - Ora, como pé de madeira também tinha a largura do sistema nervoso e que é capaz, na esfera de sua influência,
de uma polegada e meia e repousava reto sobre a mesa, é de dar movimento e peso aos corpos sólidos. Constatei que
evidente que um aumento de pressão muscular exercido nesse essa força era emitida por pulsações in- termitentes e não sob
espaço forma de uma pressão fixa e con- tínua, pois o indicador subia
e descia incessantemente durante a experiência. Esse fato me
de uma polegada e meia não podia produzir nenhuma ação parece de grande importância, porque ele tende a confirmar a
sobre a balança. opinião que lhe dá por fonte a organização nervosa, e ele
Consequentemente, a disposição era a de uma alavan- ca de contri- bui muito para apoiar a importante descoberta do dou-
trinta e seis polegadas de comprimento, cujo ponto de apoio
encontrava-se a uma polegada e meia
de uma das extremidades. Portanto, se o senhor Home tor Richardson, ou seja, a de uma atmosfera nervosa de
tivesse exercido uma pressão para baixo, ela teria es- intensidade variável envolvendo o corpo humano. Suas
tado em oposição com a força que fazia descer a outra experiências confirmam inteiramente a conclusão
extremidade da prancha. a que chegou a Comissão de pesquisas da Dialectical 50-
A leve pressão vertical indicada pela balança quando eu estava ciety, após mais de quarenta sessões de ensaios e provas.
de pé sobre a prancha, era devida, provavelmen- te, ao fato de Permita-me acrescentar que não vejo nada que possa
meu pé ultrapassar esse ponto de apoio. fazer pensar que essa força seja outra coisa além de
uma força que emana do organismo bumano ou ao
:1
.
.1
pode ser acrescentado aos corpos sólidos , sem contato efetivo. nhecidas a não ser por rumores e relatos de caráter vago
,.
i!·!1
Agora que pude observar mais o senhor Home, creio ter e pouco exato; assim eu, por quatro anos, venho ocu-
i descoberto o que essa força física emprega para se desenvolver.
pando-me assiduamente das pesquisas em uma região
das ciências naturais que oferece ao homem de ciência
1,.1'
Servindo-me dos termos força vital e energia nervosa, sei que um terreno quase virgem.
I estou empregando palavras que, Da mesma forma que o viajante percebe nos fenôme-
para muitos investigadores, se nos naturais, dos quais pode ser testemunha, a ação
prestam a significados diferen-
tes; mas após ter sido testemu- Figura 12 12 N. da T. - Termo que, genericamente, define todos os pesquisadores da mente
humana.
(Como sempre, a histeria!). Mas as investigações de Crookes fo- ainda não atrai o interesse da maioria dos cientistas, meus
ram conduzidas com tal cuidado e com tal competência que nos é colegas, embora ela não seja absolutamente in- digna de
fazer parte das discussões de um congresso
muito difícil recusarmo-nos a admiti-las. como este. Silenciar sobre o assunto seria um ato de
Além disso, esse cientista não foi o único a estudar a me- covardia que não sinto nenhuma tentação de cometer.
diunidade de Florence Cook. Sobre esse assunto, podemos con- a pesquisador não tem outra coisa a fazer senão seguir em
frente, "explorar em todos os sentidos, polegada por
sultar, entre outras, uma obra contendo um grande número de
testemunhos, e várias das fotografias das quais falamos ante- polegada, com sua razão por guia", seguir a luz em todos
os lugares em que ela poderá conduzi-lo, mesmo que essa luz
riormente. I;) Esses testemunhos formam um conjunto de do-
pareça, em alguns momentos, um fogo-fátuo.
cumentos cujo estudo é dos mais instrutivos. Sem sombra de Nada tenho de que me retratar. Confirmo minhas de-
dúvida, o do grande químico é o mais notável de todos, mas ele clarações anteriormente publicadas. Eu poderia, até,
não diminui o valor intrínseco de cada um deles. As observações acrescentar muitas outras. Nos meus primeiros relatos, só
concordam e se confirmam mutuamente. Quanto à explicação, lamento uma determinada crueza que, sem dúvi-
Crookes não pensa que possamos encontrá-la. Seria essa aparição da, foi justamente uma das causas que levou o mun- do
científico a recusar-se a aceitá-los. Tudo o que eu sabia
o que ela dizia ser? Nada prova. Não seria um duplo da médium, naquela época limitava-se à certeza de que cer- tos
uma produção de sua for- fenômenos novos para a ciência tinham realmente
ça psíquica? O erudito químico não mudou de opinião, como acontecido, constatados pelos meus sentidos com toda
alegaram, sobre a autenticidade dos fenômenos por ele estudados. calma e, melhor ainda, registrados automaticamente
Em um por instrumentos. Eu parecia, então, um ser de duas
discurso proferido no Congresso da Associação Britânica para o dimensões que teria chegado ao ponto singular de uma
Progresso das Ciências, realizado em Bristol, em 1898, e da qual superfície de Riemann, e que, de uma maneira inex-
plicável, se encontrasse em contato com um plano de
era presidente, ele expressou-se como segue: existência diferente do seu. Hoje eu penso estar vendo um
pouco mais longe. En-
Nenhum incidente em minha carreira cientifica é mais uni- trevejo certa coerência nesses estranhos e decepcionan- tes
versalmente conhecido do que a parte que tomei em certas fenômenos; entrevejo certa conexidade entre essas forças
pesquisas psíquicas. Já se passaram trinta anos desde que desconhecidas e as leis já conhecidas. Esse pro- gresso é
publiquei meus primeiros relatórios das experiências que devido, em sua grande maioria, a uma socie- dade da qual,
tendem a demonstrar que fora do nosso conhecimento existe este ano, tenho a honra de também ser o presidente: a
uma força utilizada por Inteligências que diferem das comuns Sociedade de Pesquisas Psíquicas. Se hoje eu apresentasse,
inteligências humanas. Esse episódio da mi- pela primeira vez essas pesquisas ao
nha vida é naturalmente bem conhecido daqueles que me mundo científico, eu escolheria um ponto de partida di-
fizeram a honra de convidar-me para ser vosso presidente, ferente daquele que outrora eu escolhi. Seria convenien- te
Talvez haja no meu auditório válias pessoas que se per- começar pela telepatia,17 admitindo, o que creio ser
guntam, com curiosidade, se eu falarei sobre esse as- uma lei fundamental, que os pensamentos e as imagens
sunto ou se guardarei o silêncio. Eu falarei, embora bre- podem ser transportados de uma mente a outra sem
vemente. Não tenho o direito de insistir aqui sobre uma o emprego dos sentidos; que os conhecimentos podem
matéria ainda sujeita à controvérsia, sobre uma matéria penetrar na mente humana sem passarem por nenhum
que, como Wallace, Lodge e Barrete" já mostraram, dos caminhos até hoje conhecidos. Embora essa pesquisa
nova tenha feito com que vies-
15 Katie King, histoire de ses apparitions, Paris, Ley'Illarie, 1899. - Eu não pensei em
reproduzir aqui essas fotografias, porque elas não me parecem vir do próprio senhor Crookes.
- Florence Cook faleceu, em Londres, no dia 22 de abril de 1904. 17 Quanto a mim, foi o que fiz, ao publicar, primeiramente (1900) minha obra
16 N, da T - William Barrett, professor de física da Universidade de Dublin. I'Inconnu et les Problemes psychiques,
li
i
Por tudo o que foi exposto precedentemente, com certe- za a prova foi
dada. Os fenômenos mediúnicos proclamam a existência de forças
desconhecidas. Acumular ainda aqui novos documentos seria quase
supérfluo. Entretanto, esses fatos são tão extraordinários, tão incom-
preensíveis , tão difíceis de admitir, que a quantidade de tes-
temunhos não deve ser desprezada, sobretudo quando são fornecidos
por homens de saber incontestáve l. O antigo adágio
municação , tomei o cuidado particular de evitar dar qualquer Agora vou citar um fenômeno que necessita, ao mesmo tempo,
indicação: percorri as letras com uma regu- laridade constante; de força e inteligência: - A mesa foi examinada
todavia, foi soletrado conetamen- previamente e uma folha de papel de carta foi marcada,
te, em primeiro lugar, o local onde meu irmão moneu, Pará; secretamente, por mim e colocada com uma grafite sob a
depois seu nome de batismo, Herbert e, enfim, a meu pedido, perna central do móvel. Todos os assistentes estavam com
o nome do amigo comum que foi o último a vê-lo, Henri suas mãos sobre a mesa. Passados alguns minutos,
Walter Bates. Nosso grupo de seis pes- soas visitava a senhora pancadas foram ouvidas e, pegando o papel, encontrei nele,
Marshall pela primeira vez, e nossos nomes, o meu e o dos escrita com uma letra fina, a palavra William.
outros assistentes, eram desconhecidos dessa senhora, exceto Outra vez, um amigo da província - completamente
um, o da minha desconhecido da médium e cujo nome nunca fora men-
irmã casada, cujo sobrenome não era, pois, uma pista para se cionado - acompanhou-me. Quando ele recebeu o que parecia
chegar ao meu. ser uma comunicação do seu filho, um papel
Na mesma reunião, wna jovem, parente do senhor R, foi colocado sob a mesa, e após pouquíssimos minu- tos, nele
foi avisada que lhe seria feita uma comunicação. Ela tomou o encontramos escrito: Charley T Dodd, o nome
alfabeto e, em vez de apontar as letras sepa- exato. Não havia nenhum maquinismo sob o móvel e resta-
radamente, ela deslizou suavemente o lápis pelas linhas com a nos, simplesmente, a dúvida: se seria possível à
mais perfeita continuidade. Eu a acompanhava
2 Vide mais acima, p. 55, as frases que me foram transmitidas do mesmo modo.
9 Annales des Sciences Psychiques, 1902. 10 N. da T. - Medida russa de comprimento, equivalente a 0,7112 m.
Desde essa época, venho recebendo novos documentos. Esse Eu realizava visitas de inspeção das escolas de música
compartimento da minha biblioteca manuscrita contém, hoje, mais da província, em uma cidade cujo nome eu não posso
de um milhar de cartas, com cerca de 1.500 obser- vações que, revelar pelos motivos já citados. Eu estava saindo da
sucursal do nosso Conservatório, após ter examinado o
escrupulosamente examinadas, parecem sinceras e autênticas. As curso de piano, quando fui abordado por uma senhora
duvidosas foram eliminadas. Em geral, essas narrativas provêm de que me perguntou o que eu pensava de sua filha, e se eu
pessoas surpresas que desejam receber, achava que ela deveria seguir a carreira artística.
se possível, uma explicação para esses fatos tão estranhos e, Após uma conversa bastante longa, na qual prometi ir
com frequência, muito impressionantes. Todos os relatos que pude ouvir a jovem artista, eu me comprometi a comparecer
verificar foram considerados fundamentalmente exatos, naquela mesma noite (pois partiria no dia seguinte) à
casa de um dos seus amigos, alto funcionário de Esta- do,
às vezes posteriormente modificados em sua forma, por uma e a assistir a uma sessão de espiritismo.
memória mais ou menos confusa. No meu livro L'Inconnu eu O dono da casa recebeu-me com uma extrema cordia-
publiquei uma parte desses relatórios. Mas excluí dessa obra I os lidade, lembrando-me da promessa que eu lhe fizera de
fenômenos não propria- mente incluídos no plano principal, que manter em segredo seu nome, bem como o da cidade em
que ele mora. Apresentou-me sua sobrinha, a médium,
era a demonstração das faculdades desconhecidas da alma. à qual ele atribui os fenômeno s que acontecem em sua
casa. Foi, de fato, depois que essa jovem veio morar
Como disse, eu exclui os "movimentos de objetos sem causa com ele, após a morte de sua mãe, que eles começaram.
aparente", as "portas fechadas à chave que se abrem sozinhas", "as No início, eram ruídos insólitos nas paredes e nos as-
casas assombradas", as "experiências de espiritismo", ou soalhos; móveis que se deslocavam sem que ninguém
seja, precisamente os fatos estudados na presente obra, na qual os tocasse e gorjeios de pássaros. O senhor X pensou,
inicialmente, que se tratava de alguma farsa organiza-
1 Várias observações publicadas naquele livro relacionam·se, entretanto a este. da, tanto por um dos seus, tanto por um de seus empre-
Assim: um piano que toca sozinho (p. 108), uma porta que se abre sozinha (p. 112), gados. No entanto, apesar de sua mais ativa vigilância ,
cortinas que se agitam (p. 125), saltos desordenados (p. 133), pancadas (p. 146),
campainhas tilintando (p. 168), e numerosos exemplos de tumultos inexplicados, coincidindo ele não descobriu nenhuma impostura, e acabou por
com mort es. convencer-se de que os fenômenos eram produzidos por
várias O professor Charles Richet pensa que a hipótese espírita está longe
teorias de experimenta dores científicos dignas de atenção. de ser demonstrada, que os fatos observados dizem respeito a uma
Primeiramente, vamos resumi-las. inteiramente diferente ordem de causas ainda difíceis de distinguir,
Para o conde de Gasparin, esses movimentos inexplicados são e que, no estado atual de nossos conhe- cimentos, nenhuma
produzidos por um fluido que emana de nós sob a ação da conclusão definitiva pode ser estabelecida. O naturalista Wallace, o
nossa vontade. Para o professor Thury, esse fluido, por ele chamado professor de Morgan e o enge- nheiro Varley declaram, ao
de contrário, que estão suficientemente documentados para aceitarem,
psicode, é uma substância que uniria a alma ao corpo; mas também sem reservas, a doutrina espírita das almas desencarnadas.
pode haver certas vontades externas e de natureza
desconhecida que agem ao nosso lado. O químico Crookes atribui os O professor James H. Hyslop, da Universidade de Colúmbia, que
fatos à força psíquica, que é o realizou um estudo especial sobre esses fenômenos nos
agente pelo qual os fenômenos se produzem. Mas ele acrescenta Proceedings of the London Society for Psychical Research
que essa força bem poderia ser, em determinados casos, capta- da e e em suas obras Science and a Future Life (A Ciência e a Vida
dirigida por qualquer outra inteligência. "A diferença entre Futura) e Enigmas of psychical Research (Enigmas da Pesquisa
os partidários da força psíquica e os do espiritismo - escreve ele - Psíquica), pensa que as constatações rigorosas não são ainda
consiste nisto: - nós afirmamos que não foi ainda provado suficientes para autorizar qualquer teoria. O doutor Joseph Grasset,
que exista um agente de direção que não seja a inteligência do discípulo de Pierre Janet, não admite como provados os
médium, nem que sejam os espíritos dos mortos que estejam agindo, deslocamentos de objetos sem con- tato, nem a levitação, nem a
ao passo que os espíritas aceitam como artigo de fé, maioria dos fatos expostos neste livro, e proclama que o chamado
sem exigirem mais provas, que esses espíritos são os únicos agentes espiritismo é uma questão médica de biologia humana, de
da produção dos fatos observados". "fisiopatologia dos centros nervosos", na qual um célebre polígono
Albert de Rochas define esses fenômenos como "uma exte- cerebral, com um maestro chamado O, desempenha um papel
riorização da motricidade", considerando que são produzidos pelo automático dos mais curiosos. O doutor Maxwell conclui de suas
duplo fluídico, o "corpo astral" do médium, fluido nervoso que pode observações que a maio- ria dos fenômenos, cuja realidade é
agir e sentir à distância. Lombroso declara que a explicação deve indubitável, é produzida por uma força existente em nós, que essa
ser buscada sim- plesmente no sistema nervoso do médium, e que força é inteligente e que a inteligência manifestada vem dos
nos fenômenos experimentadores. Isso seria uma espécie de consciência coletiva. O
temos transformações de forças. senhor Marcel Mangin não adota essa "consciência
O doutor Ochorowicz afirma que não encontrou provas em favor da
hipótese espírita, nem também em favor da interven- ção de
inteligências externas, e que a causa dos fenômenos é um
1 Os adeptos sabem que, segundo essa doutrina, o ser humano terreno seria composto de
duplo fluídico liberado pelo organismo do médium. O astrônomo cinco entidades: o corpo físico , - o duplo etérico, um pouco menos
Porro está inclinado a admitir a possível ação de espíritos grosseiro, sobrevivendo algum tempo ao primeiro, - o corpo astral, ainda mais sutil, - o corpo
desconhecidos, de formas de vida diferentes mental ou a inteligência, sobrevivendo aos três precedentes, - e, enfim, o
Ego ou alma indestrutível.
Se quisermos obter, após esse feixe de constatações, uma explicação Nada é mais simples. A pressão das mãos sobre uma mesi- nha
racional satisfatória, parece-me que precisamos proceder redonda de três pernas é suficiente para operar a elevação da perna
gradualmente, classificar os fatos, analisá-los, só afastada e para assim bater todas as letras do alfabeto. O
admiti-los à medida que for demonstrada sua certeza absoluta. movimento é menos fácil para uma mesa de quatro per- nas. Mas
Viajamos, aqui, através de um mundo extremamente complexo, e ele é igualmente obtido. Esses três movimentos são os únicos,
as mais singulares confusões foram feitas entre fenômenos parece-me, que podem ser explicados sem o menor mistério.
muito distintos uns dos outros. Como eu já dizia em 1869, junto ao Todavia, o terceiro só é explicado se a mesa não for muito pesada.
túmulo de Allan Kardec, "as causas em ação são de espécies diversas
e mais numerosas do que supomos". Podemos explicar os fenômenos
observados ou, ao menos, uma parte deles? Nosso dever é tentar. 4°) Animação da mesa Com vários experimentadores sentados
Com esse intuito, eu os classificarei por ordem crescente de
dificuldades. É sempre conveniente ao redor de uma
mesa e formando a corrente com o desejo de vê-la elevar-se,
começar pelo começo. Peço ao leitor ter sempre presentes na mente constatamos certos estremecimentos, de início, leves, percor- rendo a
todas as experiências e observações expostas nesta obra, pois seria madeira. Depois, observamos balanços, dos quais vários podem ser
um pouco insípido fazer referência, a cada vez, às páginas em que devidos a impulsos musculares. Mas aqui, já há algo a mais. A mesa
parece agitar-se sozinha. Por vezes ela se eleva, não mais pelo efeito
os fenômenos foram descritos. de urna alavanca, de uma pressão sobre um lado, mas sob as mãos,
corno se houvesse aderência. Essa elevação é contrária à gravidade.
1°) Rotação da mesa com contato das mãos de um deter- mindo Portanto, nela é libera- da urna força. Essa força emana do nosso
númeto de operadores organismo. Não há
nenhum motivo suficiente para procurarmos outra coisa. Mas isso
Essa rotação pode ser explicada por um impulso incons- ciente. é, contudo, um fato capital.
Basta que cada um empurre um pouco no mesmo senti-
do, para que o movimento se produza.
gO) Aumento do peso de uma mesa ou de outros objetos. Pressões ordem que o precedente. O médium
exercidas pode elevar-se, juntamente com sua cadeira, e ser colocado sobre a
mesa, às vezes em equilíbrio instável. Ele pode também
As experiências dinamométricas que acabamos de lembrar ser elevado sozinho.2
já mostram esse aumento. Nesse caso, a Força desconhecida não mais parece simplesmen- te
Eu vi, mais de uma vez, em outras circunstâncias, uma mesa mecânica: a ela se mistura uma intenção, ideias de precauções, que só
tornar-se tão pesada, que seria absolutamente impossível a dois podem provir, aliás, da mentalidade do próprio médium, ajudada,
homens levantá-la do assoalho. Quando conseguíamos fazer isso, talvez, pela dos assistentes. Esse fato nos parece contrário às leis
por meio de solavancos, ela parecia estar presa por cola ou científicas conhecidas. É o mesmo caso daquele do gato que, caindo
borracha, que a fazia voltar instantaneamente ao chão. do teto, sabe girar o corpo sozinho, sem apoio externo, caindo sempre
Em todas essas experiências, constatamos a ação de uma sobre as patas: é um fato contrário aos princípios de
força natural desconhecida que emana do experimentador mecânica ensinados em todas as universidades do mundo.
principal ou de todo o grupo, força orgânica sob a influência
da vontade. Não é necessário imaginarmos a obra de espíri- 12°) Elevação de móveis muito pesados Um piano pesando
tos estranhos.
mais de trezentos quilos eleva seus dois
10°) Elevação completa de uma mesa ou levitação Como pés anteriores, e constatamos que seu peso varia. A força com
2 Podemos comparar essas observações com um pequeno jogo de salão, bastante
pode haver confusão se aplicarmos a palavra eleva- conhecido, que é citado, notadamente, em uma das primeiras obras de sir David Brewster
(Cm·tas a Walter Scott sobre a Magía Natural) nos seguintes termos:
ção a uma mesa que só se levanta de um lado sob um deter-
minado ângulo, permanecendo apoiada no chão, é conveniente A pessoa mais pesada do grupo deita-se sobre duas cadeiras, os
ombros repousando sobre uma e as pernas sobre a outra. Quatro pessoas,
aplicarmos a palavra levitação nos casos em que ela deixa uma a cada ombro e a cada pé, procuram erguê-la e constatam,
completamente o chão. Geralmente, ela se eleva, assim, a quinze primeiramente, que a ação é difícil de ser realizad a. Então ,
a pessoa deitada dá dois sinais, batendo as mãos , duas vezes. Ao
ou vinte centíme- tros do chão, durante alguns segundos apenas, e primeiro sinal, ela e as quatro outras aspiram fortemente: quando as cinco
depois torna pessoas estão cheias de ar, ela dá um segundo sinal para a elevação, que se
a cair. Ela se eleva balançando, ondulando, hesitando, fazendo realiza sem a menor dificuldade, como se a pessoa
que se elevou fosse tão leve quanto uma pluma. Muitas vezes vi realizarem a mesma
esforços, para tornar a cair, a seguir, de uma só vez. Apoiando
experiência com um homem sentado, colocando
as mãos sobre ela, nós sentimos a sensação de uma resistência dois dedos sob suas pernas e dois sob suas axilas, com todos os operadores aspirando juntos,
fluídica, como se estivesse dentro da água, sensação fluídica que uniformemente.
Indubitavelmente, há aí uma ação biológica. Mas qual é a essência da gravidade? Faraday
nós sentimos igualmente quando colocamos um pedaço de ferro no considerava-a uma força "eletromagnética". \Veber explica os movimentos
campo de atividade de um imã. U ma mesa, uma cadeira e um dos planetas ao redor do sol pelo"eletrodinamismo". As caudas dos cometas, sempre opostas
ao sol, indicam uma repulsão solar coincidindo com a atração. Hoje, nós não sabemos, mais
móvel elevam-se, às vezes, do que na época de Newton, em que consiste realmente a gravidade.
Duas hipóteses se nos apresentam inelutavelmente. Ou somos nós psicólogos estão tentando, há séculos, determinar o mecanismo
que produzimos esses fenômenos , ou são os espíri- tos. Mas do sonho sem ainda terem obtido a solução do problema. Mas o fato
entendamos bem: esses espíritos não são necessaria- mente almas dos constatado de que às vezes vemos em sonho acontecimen- tos que
mortos, pois podem existir outras espécies de seres espirituais, e o ocorrem à distância e que prevemos acontecimentos futuros prova
espaço poderia estar cheio delas sem que jamais tivéssemos que há em nós faculdades desconhecidas.
conhecimento disso, exceto em circuns- Por outro lado, não é raro para cada um de nós sentirmos, em plena
tâncias excepcionais. Não encontramos, em literaturas antigas vigília de todas as nossas faculdades, a ação de uma influência
diversas, os demônios, os anjos, os gnomos, os diabretes, as larvas, interna, distinta de nossa razão dominante. Estamos prestes a
os trasgos, os elementais etc. etc.? Talvez essas lendas não sejam pronunciarmos palavras que não pertencem ao nosso vocabulário
sem fundamento. Por outro lado, nós não podemos deixar de notar habitual. Ideias súbitas vêm atravessar e interrom- per o curso de
que nas nossas reflexões. Durante a leitura de um livro
Esses fenôm enos supranormais, - escreve esse pesquisa- Os espíritas atribuem os movimentos e os ditados à ação de
dor tão documentado e competente-, são devidos "não inteligências desencarnadas, mas se uma mesa exec u-
à ação de espír itos de pessoas falecidas, como Wallace ta movimentos sem que ninguém a toque, nã o há razão
acredita, mas, em sua maioria, à ação de espírito s en- para que eu atribua esses movimentos à intervenção do meu
carnados, seja do próprio indivíduo , seja de um agente falecido avô, mais do que à minha própria interven- ção, pois
qualquer. (; A palavra subliminar significa o que está se nã o vemos como eu poderia tê-la colocado
abaixo do limiar (limen) da consciência, as sensações, os em movimento, não vemos tampouco como esse efeito
pensamentos, as lembranças que permanecem no poderia ter sido produzido pela ação do meu avô . Quan- to
fundo, e representariam uma espécie de eu adormecido. aos ditados, a explicação mais plausível me parece ser a
pretendo afirmar - acrescenta o autor - que sem- pre exista admissão de que eles são realizados não pelo eu cons- ciente,
em nó s dois eus correlatos e paralelos: desig- mas por essa região profunda e escondida onde os
naria melhor por eu subtiminar essa parte do eu que sonhos fragmentários e incoerentes são elaborados.
permanece ordinariamente latente, e admito que possa
haver não somente cooperação entre esses duas corren- Essa hipótese explicativa é compartilhada, com uma importante
tes de pensamento quase independentes, como também modificação, por um célebre cientista, a quem deve-
mudanças
A observaçdeãonível
médicae alternâncias prova que há em 7nós
da personalidade.
(Fétida, Alma)
mos também longas e pacientes pesquisas sobre os fenômenos
um rudimento de faculdade supranormal, de algo que é obscuros de psicologia anormal, o doutor Gustav Geley, que
provavelmente sem utilidade para nós , mas que indica a resume, ele próprio, assim suas conclusões:
existência, abaixo do nível de nossa consciência, de
uma reserva de faculdades latentes insuspeitáveis. 8 Uma porção da força, da inteligência e da matéria pode ser
exteriorizada do organismo, e agir, perceber, orga-
Além disso, na verdade, quem age nos fenômenos de tele- patia? nizar e pen sar independentemente dos músculos, dos
órgãos , dos sentidos e do cérebro. Ela não é outra coisa
Lembremos, por exemplo, o caso do senhor Thomas Garrison senão a porção subconsciente elevada do Ser. Ela cons-
(Society for Psychical Research, VIII, p. 125) que, assistindo com sua titui, verdadeirame nte, um ser subconsciente exteriori-
esposa a um ofício religioso, levantou-se subitamente no meio de zável, coexistente no eu com o ser consciente normal. 10
um sermão, saiu do templo, e como
empurrado por um impulso irresistível, percorreu 29 quilôme- tros Esse ser subconsciente não dependeria do organismo. Ele lhe seria
a pé a fim de ir ver sua mãe, a qual encontrou morta ao anterior e sobreviveria a ele. Ele lhe seria superior, dotado de
faculdades e conhecimentos muito diferentes das
6 p. 11.
7 La
La Personnalité
Personnalité Humaine,
bumaine, p.23. 8
Idem, p.63. 9 Idem, p. 313.
10 ['ltre subconscient, (O Ser Subconsciente), p.82.
Uma força nervosa que produz, fora do corpo humano, efeitos Todavia, o agente parece, por vezes, ser independente. Crookes
mecânicos e plásticos. menciona ter visto a senhorita Fox escrever automati- camente
Alucinações duplas dessa mesma força nervosa e que produz,
igualmente, efeitos físicos e plásticos. Uma consciência uma comunicação para um dos assistentes, enquanto outra
sonambúlica latente, capaz - achan- do-se o indivíduo no seu comunicação sobre outro assunto lhe era dada por uma
estado normal - de ler, no segunda pessoa, por meio do alfabeto e de pancadas, e enquan- to
fundo intelectual de outro homem, seu presente e seu passado ela conversava com uma terceira pessoa sobre outro assunto
- e que pode até adivinhar o futuro. completamente diferente dos dois outros. Esse fato notável
provaria com certeza a ação de um espírito estranho? O mesmo
Aksakof tentou ver se essas hipóteses, das quais a última é bastante cientista menciona que, durante uma de suas sessões, uma pequena
ousada, são suficientes para explicar tudo, e concluiu régua atravessou a mesa, em plena luz, para vir bater-lhe na mão, e
que elas não são. Essa é também dar-lhe uma comunicação seguindo as letras do alfabeto soletradas
minha opinião. por ele. A outra extremidade da régua repousava sobre a mesa, a
Mas há ainda outra coisa. Essa outra coisa, esse resíduo no certa dis- tância das mãos de Home.
fundo do cadinho de
experiência, é um elemento psíquico, cuja natureza nos resta ainda Esse caso me parece, como também a Crookes, mais con- clusivo
inteiramente oculta. em favor de um espírito exterior, ainda mais porque, quando o
Eu penso que todos os leitores desta obra compartilharão da minha experimentador pediu que as pancadas fossem
convicção.
11 Vide o que eu já disse sobre isso no l'Inconnu, pp. 290-291.
14 Prejulgando o que deve ser demonstrado, a palavra médium é completamente foco do espelho do telescópio é incorporal e intangível, mas que
imprópri a; ela supõe que a pessoa dotada dessas faculdades seja uma intermediária podemos recolhê-la em um espelho plano e estudá-la, amplificando-
entre os espírito s e os experimentadores. Ora, admitindo-se que algumas vezes
seja esse osua
elevação, caso, não é o,
levitaçã o que habitualmente
o deslocamento deocorre. A rotaç
um móvel, ão de uma
a enfunação demesa, sua
uma cortina a pelo microscópio da ocular, talvez se aproxime mais do que
são causados por uma forç a que emana dessa pessoa ou do conjunto dos assistentes.
::\ão podemos realmente supor que sempre haja um espírito para responder às parece ser produzido pela concentração de várias energias
nossas fantasias. E a hipótese é tão menos necessária quanto esses espíritos não nos psíquicas. Criamos um ser imaginário, falamos com ele, quase
ensinam nada. Nossa força psíquica age certamente a maior parte do tempo.
sempre ele responde, refletindo, no mais das vezes, a mentalidade
A pessoa que exerce a principal influência nessas manifestações d everia ser mais
justamente chamada de "dinam6geno", pois que engendm 100·ça. Parece-me que esse
seria o termo mais apropriado a esse estado. E le expressa o que é constatado em
dos experimentadores. E da mesma forma que com a ajuda de
todas as observações. Conhe ci médiuns que muito se orgulham desse título, e que espelhos nós podemos concentrar a luz, o calor, as ondas etéreas,
eram um pouco
elétricas em um foco, parece, às vezes, que os assistentes
ciumentos dos seus colegas, estando convencidos de que foram escolhidos por
Santo Agostinho, São Paulo e até por Jesus Cristo. Eles acreditavam em uma acrescentam suas forças psíquicas às do médium, do dinamógeno ,
graça do Todo Poderoso, e pretendiam, aliás, não sem razão , que sob outras mãos condensando as ondas e ajudando a produzir uma espécie de ser
essas assinaturas eram equívocas. Essas rivalidades não têm nenhum sentido.
fugitivo mais ou menos material.
O
espíritismo constitui-se de um
conjunto de doutrinas filosó - ficas
reveladas por inteligên-
cias desencarnadas que habitaram a Terra.
Esses conhecimentos nos aju- daram a
desvendar e a compreender
uma série de fenômenos psicológicos e psíquicos antes contestados.
Portanto, o espiritismo chegou em
boa hor a, e trouxe consigo a convicção da sobrevivência da alma,
mostrando sua composição, ao tornar tangível sua porção fluídica.
Assim, projetou viva luz sobre a impossibilidade da compreen-
são humana a respeito da "imortalidade", e, numa vasta síntese, abrangeu
todos os fatos da vida corporal e intectual, e explicou
suas mútuas relações. Em Evolução Anímica, Gabriel Delanne nos
apresenta um generoso estudo sobre o espírito durante a encarna-
ção terrestre, levando em consideração os ensinamentos lógicos do
espiritismo e as descobertas da ciência de seu tempo sobre temas como: a
vida (entendida organicamente), a memória , as personali-
dades múltiplas, a loucur a, a hereditariedade e o Universo. E nos afirma
categoricamente que ela (a ciência), embora ampl a, não
basta para explicar o que se manifesta em território etéreo, mas terá de se
render cedo ou tarde.
Embora antiga, Evolução Anímica é indiscutivelmente uma obra tão
atual que subsistiu ao tempo e à própria ciência, tornan- do-se uma
pérola que vale a pena ser reapresentada ao público
a través desta série '\1emór ias do Espiritismo.
I
788576 182
9