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História

da

Arte

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Organização: Prof. David de Jesus Cassimiro

Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita


As habilidades necessárias à leitura e apreciação das artes visuais.
Jô Oliveira e Lucília Garcez

1. Observação

Observar é uma habilidade que depende de olhar com interesse dirigido, examinar minuciosamente,
focalizar a atenção, concentrar o pensamento e os sentidos com vontade de ver, de aprender, de
perceber os detalhes significativos. É como usar uma lente de aumento sobre algum objeto. Um fator
frequente que dirige a nossa observação é o nosso interesse especial, o nosso ponto de vista, às
vezes determinado pela profissão.

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2. Memorização

A memória visual é a capacidade de registrar com certa precisão aquilo que foi observado, de forma
que, passado algum tempo, seja possível relembrar o que foi visto. Sem ela não adianta viajar e
conhecer outros lugares, pois quando voltar não vai poder relatar o que viu para os amigos, nem vai
guardar para si mesmo as lembranças agradáveis do que conheceu.

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3. Análise e síntese

Analisar é desenvolver a aprofundar a observação. De uma percepção mais geral, o analista segue
para a decomposição das partes do objeto observado. Para isso utiliza-se de um método apropriado
a cada objetivo. O método é uma espécie de roteiro a ser seguido na análise dos elementos que
compõem o objeto. Para escolher uma roupa, por exemplo, usamos observar a cor, o tecido, a
qualidade do corte, acabamento das costuras e detalhes, modelo conforme a moda, adaptação ao
corpo, conforto, durabilidade, adequação à situação em que será usada... Essas categorias se
combinam na escolha e servem de argumento para justificá-la. Essa análise leva à conclusão que se
chama síntese, que é a essência da observação do objeto. Neste ponto escolhemos se queremos
ou não a roupa em questão.

4. Orientação espacial e sentido de dimensão

Para utilizar a orientação espacial tão necessária precisamos observar os espaços, memorizar
direções e posições relativas a outras, bem como fixar pontos de referência para facilitar a
localização. Outra habilidade associada à orientação espacial é a percepção das dimensões, dos
volumes, ou seja, do tamanho dos objetos. É a capacidade de avaliar a olho nu as dimensões dos
espaços, das construções, dos objetos e de confrontá-los, considerando as suas proporções.

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Fernando Botero. Mulher caindo da sacada, 1994

5. Pensamento lógico e pensamento criativo

Nossa observação também pode ser associada à imaginação para percebermos certas imagens.
Algumas práticas de auxílio são: olhar fixamente para as nuvens e tentar associá-las a desenhos
conhecidos; observar as fibras da madeira e tentar associá-las a desenhos conhecidos; fixar a
atenção num espelho de água e criar figuras; acompanhar uma fumaça qualquer e ver como ela
sugere figuras e cenas; observar as chamas de uma fogueira e imaginar figuras e formas que o fogo
toma; ouvir música clássica de olhos fechados e tentar imaginar cenas que combinem com os
diversos ritmos que a compõem; ouvir a trilha sonora de um desenho ou filme e tentar imaginar as
cenas. Nosso pensamento criativo caminha por trajetos diferentes dos percursos do nosso
pensamento lógico, mas isso não quer dizer que a imaginação seja autônoma, que não precise de
informação. Quanto mais conhecemos, mais a imaginação tem material para trabalhar. Usar a
criatividade é, muitas vezes, trabalhar por amplificação, multiplicação, substituição, reordenação,
mistura, intensificação ou redução. Isto quer dizer que quando eu trabalho com a imaginação estou
também trabalhando sobre as informações que tenho da realidade e de alguma forma fazendo
alterações.

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A Pré-História

Considerado um dos períodos mais fascinantes da história humana, a Pré-História não foi registrada
por nenhum documento escrito, pois é a época anterior à escrita. O que se sabe desse período é
resultado de pesquisas de antropólogos, arqueólogos e historiadores que reconstruíram a cultura do
homem da Idade da Pedra a partir de objetos encontrados em várias partes do mundo e de pinturas
encontradas no interior de muitas cavernas da Europa, Norte da África e Ásia.

Este período histórico, a Pré-História, por ser muito longo, é dividido pelos historiadores em três
períodos: Paleolítico Inferior (cerca de 50.0000 a.C.), Paleolítico Superior (aprox. 30.000 a.C) e
Neolítico (por volta do ano 10.000 a.C.).

Os pesquisadores registraram as primeiras manifestações artísticas no chamado Paleolítico


Superior, como é o caso das pinturas pré-históricas encontradas principalmente nas cavernas de
Niaux, Font-de-Gaume e Lascaux, na França e Altamira na Espanha. As primeiras expressões de
arte eram muito simples: consistiam em traços feitos nas paredes de argila das cavernas ou das
“mãos em negativo”. Somente muito depois de dominarem essa técnica é que os artistas pré-
históricos passaram a pintar e desenhar animais. A principal característica dos desenhos desse
período que também é conhecido como Idade da Pedra Lascada é o naturalismo (o artista pinta os
seres como os via de uma determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal qual a sua vista
capturava).

Dessa maneira, o homem desse período retrata apenas o que vê e seus desenhos já mostravam
certa elaboração, o que nos impede de compará-los a desenhos infantis. Aceita-se como hipótese
mais forte a ideia de que as pinturas foram feitas por caçadores e estas faziam parte de um processo
de magia. O pintor - caçador supunha que teria poder sobre o animal se possuísse a sua imagem, o
que nos leva a entender que para eles, retratar a caça ferida mortalmente era ter poder sobre ela.
Assim, a representação da caça ferida era a própria caça e não apenas uma representação.

As pinturas eram feitas a partir de óxidos minerais, ossos carbonizados, carvão, vegetais e sangue
de animais. Os elementos sólidos eram esmagados e dissolvidos na gordura dos animais caçados.
Como pincel se pode afirmar que, com certeza, usaram primeiro o dedo, mas há indícios de terem
empregado também pincéis feitos de penas e pêlos. A técnica da mão em negativo era usada
soprando-se sobre a mão do pintor - caçador um pó obtido da trituração de rochas através de um
canudo. A região da mão pousada na parede da caverna ficava colorida e a parte coberta, não.
Obtinha-se então, a silhueta da mão como num filme em negativo.

Os artistas desse período também realizaram trabalhos em esculturas e tanto nestes como nas
pinturas, nota-se a ausência de figuras masculinas, predominando, pois, as femininas, com a cabeça

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surgindo como prolongamento do pescoço, seios volumosos, ventres saltados e grandes nádegas.

Lascaux, França. Reprodução do teto de Altamira, Espanha.

Vênus de Willendorf, Áustria Mãos em negativo.

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O chamado Período Neolítico é também conhecido como Idade da Pedra Polida, nome este
adotado por causa da técnica de construir armas e instrumentos com pedras polidas por meio de
atrito. Mas apesar desse desenvolvimento, os pontos fortes desse período são o início da agricultura
e da domesticação de animais, o que deu início à substituição da vida nômade por uma mais
estabilizada. Todos estes fatos proporcionaram crescimento da população, desenvolvimento de
instituições (como a família) e a divisão do trabalho. Aqui também se desenvolve a técnica de tecer
panos, fabricar cerâmica e se constroem as primeiras moradias, aprende a produzir fogo através do
atrito e inicia partindo daí, o trabalho com metais.

Por se tornar estabilizado, aos poucos o homem abandona os sentidos apurados de caçador e seu
poder de observação passa a ser substituído pela abstração e racionalização. A consequência
imediata foi o abandono do estilo naturalista para surgir o estilo simplificador e geometrizante, que
leva à substituição das representações fiéis da natureza pelos sinais e figuras que mais sugerem do
que reproduzem os seres.

Começa-se a representar cenas da vida coletiva, o que desperta no artista a necessidade de


transmitir a ideia de movimentação através da imagem fixa. Isso os leva a criarem figuras leves,
ágeis, pequenas e de pouca cor. Os traços se tornam mais finos, com linhas simples, mas sempre
comunicando algo e disso vai surgir a escrita pictográfica (representação de seres e ideias pelo
desenho).

As primeiras esculturas em metal foram feitas a partir da utilização de fôrmas de barro para moldar
uma nova fôrma com o metal. Este era derretido em fornos e despejado na forma de barro; quando
esfriava tomava a forma dada pela Fôrma de barro, que era quebrada. Os artistas que usavam a
técnica de escultura com cera faziam um modelo em cera e o revestiam com barro aquecido. Este
derretia a cera, que saía por um orifício que era deixado na peça de cerâmica. Este objeto oco que
restava após o processo era preenchido com metal fundido e, após o resfriamento, quebrava-se este
molde de barro, restando apenas a escultura em metal fundido.

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Fontes:  Explicando a Arte, Jô Oliveira e Lucília Garcez.
 História da Arte, Graça Proença.

 Internet – Google Imagens

 Prof. Rodolfo Neves

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Egito: a civilização mais próspera da antiguidade.

Encravado no coração do deserto africano, o Egito foi a maior potência do mundo e o mais rico país
da Terra, desde 5.000 a.C até ser conquistado por Alexandre Magno no ano 332 a.C. As razões
desse poderio fabuloso podem ser atribuídas a dois fatores principais: em primeiro lugar, à sua
vantajosa situação estratégica, no ponto de contato entre a Europa, a Ásia e a África, dominando as
rotas comerciais do mundo antigo; em segundo lugar, ao fato de ter conseguido, desde época muito
afastada, uma organização estatal perfeita e sólida.

O Egito sempre pareceu uma terra de mistérios desde os tempos mais antigos, mas hoje exerce
sobre nós uma atração por motivos mais tangíveis: a grande Esfinge, as pirâmides, as estátuas
colossais que os egípcios talharam na rocha viva, seus templos e obeliscos, as coloridas pinturas em
que aparecem deuses com cabeças de animais e as múmias, que foram conservadas por dezenas
de séculos. Grande parte desse mistério se deve à nossa ignorância em relação a esta civilização
perfeitamente organizada, onde tudo girava em torno ou, em função da religiosidade. Não
precisamos atribuir poderes mágicos aos egípcios para admirar o povo que inventou ou ajudou a
inventar o nosso calendário, realizou obras fantásticas de engenharia e criou uma arquitetura de
monumental grandeza.

Templo de Karnak: a bela arte do Egito Antigo Grande pirâmide do faraó Djoser (séc. XXVIII); Planície de Sakara, Egito.

Tudo isso vem nos mostrar a grande complexidade organizacional da civilização egípcia tanto no
aspecto social como na sua riquíssima cultura. Além de tudo isso, produziram uma escrita bem

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estruturada, o que nos leva hoje a ter um conhecimento bastante completo dessa cultura. Vale
reforçar o que foi dito acima: tudo no Egito girava em torno da religião. Ela invadiu a vida egípcia,
interpretando o universo, justificando sua organização social e política, determinando o papel de
cada classe social e, conseqüentemente, orientando toda a produção artística do povo.

Além de crer em deuses que poderiam interferir na história humana, os egípcios acreditavam
também numa vida após a morte e achavam que essa vida era mais importante do que a que viviam
no presente. Inevitavelmente, a arte criada por esse povo refletiu suas crenças fundamentais e,
dessa forma, a arte egípcia concretizou-se, desde o início, nos túmulos, nas estatuetas e nos vasos
deixados junto aos mortos. Por isso então a arquitetura egípcia se concentrou, sobretudo, nas
construções mortuárias. As tumbas dos faraós eram réplicas das casas em que moravam, enquanto
as pessoas comuns eram sepultadas em construções retangulares muito simples, chamadas mas
tabas. Apesar de sua simplicidade, essa construção é que serviu de base para as grandes pirâmides
feitas posteriormente. As mais famosas são as três do deserto de Gizé, construídas no Antigo
Império: Quéops, Quéfren e Miquerinos.

A maior delas, a de Quéops, tem 146 metros de altura e ocupa uma superfície de 54300 metros
quadrados, o que revela o domínio que os egípcios demonstravam em sua técnica de construção,
pois não existe nenhuma espécie de argamassa entre os blocos de pedra que formam suas imensas
paredes. Junto a essas pirâmides está a esfinge mais famosa do Egito, que representa o faraó
Quéfren. Suas medidas são 20 metros de altura por 74 metros de comprimento.

Toda essa manifestação artística servia de veículo para a difusão dos preceitos e das crenças
religiosas, sendo por isso uma arte bastante padronizada, não dando margem para a criatividade ou
imaginação pessoal. Os artistas egípcios foram criadores de uma arte anônima, pois a obra
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deveria revelar um perfeito domínio das técnicas de execução e não um estilo próprio.

Na pintura e nos baixos-relevos existiam muitas regras a serem seguidas, dentre elas a Lei da
Frontalidade, que é característica marcante da arte egípcia e era rigidamente obrigatória. Por ela se
determinava que o tronco da pessoa fosse representado sempre de frente, enquanto sua cabeça,
suas pernas e seus pés eram vistos de perfil. Recentes pesquisas mostravam que eles mantinham
esse padrão também utilizando para isso a divisão da superfície a ser pintada em pequenos
quadrados de medidas iguais e com isso sempre obtinham as medidas perfeitas.

Por essa convenção se fazia valer a regra: a arte não deveria apresentar uma reprodução naturalista
que sugerisse a ilusão de realidade. Assim, diante de uma figura humana retratada frontalmente, o
observador não poderia confundi-la com o próprio ser humano, reconhecendo claramente se tratar
de uma representação.

No Antigo Império, a manifestação artística que ganha mais ênfase e as mais belas representações

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é a escultura, apesar de nessa arte também existirem muitas convenções. Desenvolveu uma
expressividade que surpreende o observador, revelando dados particulares do retratado, como sua
fisionomia, seus traços raciais e sua condição social. Uma boa representação do que ora foi dito é a
estátua do Escriba Sentado (2500 a.C.), encontrado em um sepulcro da necrópole em Sacará. No
Médio Império (2000 – 1085 a.C.), no entanto, o conservadorismo e o convencionalismo das
técnicas de criação voltaram a produzir esculturas e retratos estereotipados que representam a
aparência ideal dos seres – principalmente dos reis – e não seu aspecto real.

No Novo Império, o Egito vive o apogeu de seu poderio e de sua cultura, tendo os faraós desse
período reiniciado grandes construções como o templo de Karnak e Luxor.

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O templo de Luxor (acima), na margem leste do rio Nilo, foi iniciado no ano de 1200 a.C. e foi concluído durante as
dinastias seguintes. Esteve unido ao templo de Karnak por uma avenida de 3,5 km de extensão, adornada com centenas
de esfinges. Uma vez por ano, a imagem do deus Amon era transportada por barco de Karnak a Luxor, como parte de
um enorme festival.

Na pintura surgem criações mais leves e de cores mais variadas que as dos períodos anteriores,
sendo também abandonada a postura rígida das figuras, fazendo com que elas pareçam ganhar
movimentos, chegando a ocorrer até certa desobediência à lei da frontalidade. Isso se deve à
neutralização do poder que os sacerdotes tinham sobre os faraós, que retornaria posteriormente.

O Egito foi invadido sucessivamente pelos etíopes, persas, gregos, e, finalmente, pelos romanos, o
que desestabilizou pouco a pouco o Império e o fez definhar gradativamente, até que perdesse suas
características e se desorganizasse política e artisticamente.

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O gigantesco templo de Abu Simbel (acima) na Núbia, Baixo Egito, foi construído por ordem de Ramsés II, faraó do Egito
entre 1279 e 1212a.C. A obra foi talhada na banda íngreme da montanha e sua entrada é assinalada por quatro estátuas
de Ramsés II, também esculpidas na própria rocha. IV d.C.

Peitoral egípcio - Esta joia egípcia foi encontrada na tumba do faraó Tutankhamon, que reinou durante a XVIII dinastia
(c.1330 a.C.). É uma peça de ouro com forma de abutre, esmalte aplicado e pedras preciosas.

Fonte: Internet; História da Arte (Graça Proença); meus trabalhos de faculdade.

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As civilizações da antiguidade oriental

O Vale da Mesopotâmia, entre os rios Tigres e Eufrates, era composto por cinco povos que
habitaram nessa região por muito tempo. Junto à Mesopotâmia devemos citar o Vale do Rio Nilo –
que gera o Egito - e o Vale do Rio Jordão – que gera os Palestinos, que são os Hebreus e os
Fenícios - que juntos formaram o chamado Crescente Fértil. São as chamadas sociedades de
regadio ou sociedades hidráulicas, pois precisavam de rios para desenvolver sua agricultura
irrigada, utilizando os canais de irrigação. Nesta condição situamos os Sumérios, os Acádios, os
Amoritas ou Babilônios, os Assírios, os Caudeus, os Hebreus, os Fenícios e os Persas.

O primeiro povo, em ordem cronológica, foram os Sumérios, a aproximadamente 3700 a.C. e se não
são o povo mais antigo da região, estão entre os mais antigos. A principal característica que eles
desenvolvem na cultura mesopotâmica é a chamada escrita cuneiforme, ou seja, escrita que
possuía características em forma de cone e não possuíam valor fonético, pautada em ideogramas
(foto abaixo). É a primeira escrita da qual se tem notícia. Alguns historiadores defendem a teoria de
que esta escrita surgiu antes dos hieróglifos egípcios, sendo, portanto considerada como a primeira
escrita e que serviu de base para todas as culturas da Mesopotâmia.

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Costuma-se propor paralelamente ao estudo dos Sumérios, os Acádios, povo que teria surgido na
mesma época e que aperfeiçoou o conceito de cidades-estados, não se organizando inicialmente
em grandes impérios de poder centralizado, mas sim numa estrutura de cidades-estados. Uma
cidade-estado era uma cidade com autonomia política, econômica e militar, mas possuindo apesar
disso uma mesma base cultural em relação às cidades mais próximas. Apesar de toda a diferença
entre Acádios e Sumérios, o elo cultural permite que juntemos essas cidades-estados dentro da
mesma civilização. “Toda Pólis é uma cidade-estado, mas nem toda cidade-estado é uma Pólis”. A
pólis é a cidade-estado grega e somente lá ela – cidade-estado – receberá esse nome. Cultuavam
Ishtar (foto abaixo), entre outros deuses.

Após Sumérios e Acádios vem os Amoritas ou Babilônios, o primeiro império babilônico cujo
imperador mais famoso foi Hamurabi. Este tem o seu código exposto no Museu do Louvre em Paris,
na ala que trata das civilizações da Mesopotâmia. Pode ser seu código considerado um dos mais
antigos códigos de leis escritas na história. É a primeira vez na história em que as leis são escritas
como um código, tendo como núcleo uma lei central, portanto, um conjunto de leis. Esta lei central
era a “Lei de Talião” que ditava: “olho por olho, dente por dente”. Em outras palavras, esta lei
buscava causar no criminoso o mesmo dano que ele causasse à sua vítima, um código que legislava
tendo em vista a punição. Ex: se um filho bater com as mãos em seu pai, sua mão será cortada; se
um arquiteto errar nos seus cálculos e o telhado projetado por ele cair sobre os filhos de um
contratante seu, seus filhos também serão mortos como castigo; se o dono da casa morrer neste
acidente, o arquiteto poderá ser morto; se um homem furar o olho de um homem livre, terá seu olho
furado; se furar o olho de um escravo, pagará a metade do valor do escravo; se um homem arrancar
os dentes de um outro homem livre seus próprios dentes serão arrancados; etc.

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Um outro povo são os Assírios, um povo militarmente desenvolvido, povo que desenvolve o primeiro
exército permanente na história, os exércitos profissionais, criando uma estrutura que é usada até
hoje. Antes deles, numa guerra, os camponeses eram chamados para lutar nas guerras, mas após
seus avanços, essa realidade é modificada. Outra grande contribuição dos Assírios foi a criação da
mais importante biblioteca da Mesopotâmia, a Biblioteca de Nínive. Vangloriavam-se por serem
sangrentos e agressivos e não costumavam exercitar a piedade para com os conquistados

Após a queda dos Assírios, vem os Caudeus, o segundo império babilônio. O grande nome deste
império é Nabucodonosor, que procede à construção dos grandes ziguratis, pirâmides escalonadas
presentes nas citações bíblicas do Antigo Testamento, como por exemplo, os Jardins Suspensos da
Babilônia e a Torre de Babel, dois exemplos de pirâmides escalonadas (ou ziguratis). É nesse
segundo império babilônico que os Hebreus são escravizados. Com a invasão da Mesopotâmia pelo
imperador persa Ciro I, os Hebreus são libertados, sendo este o fim do cativeiro da Babilônia.

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Falando-se dos Hebreus, que habitaram depois da libertação a Palestina e o vale do Rio Jordão,
precisamos frisar que são eles que rompem com o politeísmo da antiguidade e desenvolvem uma
religião monoteísta. Foram nômades em certo período de sua história e se organizaram por muito
tempo em três etapas políticas: uma primeira foi a do governo exercido pelos Patriarcas, depois o
governo dos Juízes e por fim o governo dos Reis. Toda essa história se encontra com detalhes na
Bíblia.

Mas também há, no norte da Palestina, um povo de extrema importância que precisa ser citada que
são os Fenícios. Eles são os que se aproveitam da imensa floresta de cedros libaneses que os
cercam e, a partir do corte dessas árvores, constroem barcos e navegam o mediterrâneo e se
tornam a grande exceção entre os impérios orientais quando, desta navegação, desenvolvem o
comércio marítimo com principal atividade econômica. Não desenvolvem a agricultura e se
organizam em torno de um governo dirigido por comerciantes, ao que se chama talassocracia.
Organizam-se em cidades-estados, coloniza-se a costa mediterrânea com suas feitorias e
desenvolve-se o primeiro alfabeto fonético da história.

Ainda falando das civilizações da antiguidade oriental, é preciso citar os Persas, que formaram o
maior império do oriente antigo, unificando vários povos do crescente fértil. Suas fronteiras se
estendiam do mar mediterrâneo até o oceano Índico. Habitavam o planalto semi-árido a leste da
Mesopotâmia, com montanhas ricas em minerais, desertos e poucos vales férteis, de clima seco e
com grandes oscilações de temperatura.

O grande imperador dos Persas foi Ciro I, que liderou a rebelião de libertação da Pérsia das mãos
dos Medos e unificou as tribos que habitavam o planalto iraniano, dando origem a uma expansão
crescente e solucionando problemas como a população crescente e a baixa produção agrícola.
Nessa expansão, Ciro, o Grande, incorporou a Palestina, a Mesopotâmia e a Fenícia. O governo
persa era uma monarquia absoluta teocrática. Já sob o governo de Dario I que toma o poder
assassinando o filho de Ciro, a Pérsia se expande administrativamente, com a construção de
estradas – a mais famosa era a real, que tinha 2500 km, – com a divisão do grande império em
províncias, as Satrápias, organizam um eficiente sistema de correios e é criada uma moeda oficial,
cunhada em prata e ouro, para facilitar o comércio, o dárico.

Como no Egito, a agricultura era a base de sua economia e dependia diretamente da cheia dos rios
Tigres e Eufrates. Eles produziam centeio, cevada e trigo. O comércio era uma atividade muito
rentável, o que gerou no império uma camada de ricos comerciantes e, por meio destes, houve um
grande impulso na indústria de tecidos de luxo, joias, mosaicos e tapetes de rara beleza. Suas
criações artísticas e intelectuais sofreram influências dos povos vizinhos. Os persas optaram a
princípio pela escrita cuneiforme, inventada pelos sumérios, mas depois foi substituída pela escrita
alfabética. Na arquitetura, os persas usaram como modelo as construções babilônicas e
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egípcias, embora os grandes monumentos persas não fossem templos e sim, palácios.

A grande herança cultural deixada por eles é a religião, diferente de todas as existentes no oriente
próximo. O profeta Zoroastro, ou Zaratustra criou uma religião dualista que afirmava que o universo
era dividido entre um deus mau e um deus bom que lutavam até a vitória do deus bom. Zaratustra
influenciou os persas, que também criam em dois deuses. Eram esses dois deuses: Aura-Mazda – o
Bem, deus da luz e criador de todas as coisas boas da Terra – e Arimã – o Mal, responsável pelas
doenças a pelas desgraças no mundo, um deus das trevas. A vitória final seria de Aura-Mazda, que
lançaria Arimã num precipício. Os persas acreditavam na imortalidade da alma, na ressurreição dos
mortos e no juízo final.

Cobranças dos impostos – imagem encontrada O exército Persa

num palácio persa

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Urnas do séc. VI a.C. Túmulo de Ciro I.

Cilindro de Ciro – 1ª decl. De Direitos Humanos Placa de prata de Dario I – Elamita, persa antigo e babilônio.

A Arte da Civilização Egéia.

Antes de falarmos dos gregos, se faz necessário conhecer um pouco da realidade artística que,
segundo estudos, foi também formadora e suporte da arte grega. A civilização Egéia é formada pelos
povos que habitaram as ilhas do Mar Egeu. Podemos citar, dentre elas, a Ilha de Creta e a Ilha de
Micenas, como as principais. A história e descoberta dos povos que habitaram as ilhas do Mar Egeu
antes do florescimento da civilização grega é recente, dando-se em 1870, quando o pesquisador
alemão Henrich Schliemann encontrou vestígios da cidade de Tróia e em 1876 encontro vestígios
das cidades de Trento e Micenas. Ainda no início do século XX, foi encontrado na Ilha de Creta o
que ainda restava do Palácio de Cnosso. Com essas descobertas tornou-se claro que a chamada
civilização egéia teve origem nessa ilha, pois a arte desenvolvida no continente e em outras regiões

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do Mar Egeu foi nitidamente influenciada pela arte dessa ilha.

Palácio de Cnosso, 1700-1500 a.C Creta Afresco de uma parede do Palácio de Cnosso, aprox. 1600 a.C

Copo de Vafio, cerca de 1600 a.C Tumba dos Átridas, em Micenas – XIV a.C Corte esq. da Tumba dos Átridas

A planta arquitetônica do Palácio de Cnosso apresentava uma idéia muito evoluída de edificações:
em torno de um pátio central encontram-se muitas salas dispostas, sendo algumas delas agrupadas
de tal forma que de uma se vai à outra. os construtores precisavam resolver problemas como
posicionamento das escadas, de colunas e iluminação, o que vem revelar um grande avanço na
arquitetura da época.

Mas é na pintura que o povo cretense revela com mais clareza seu espírito dinâmico, pois esta se
apresentava menos rígida e mais móvel que a pintura egípcia, contemporânea a esta. E há mais: as
cores das pinturas cretenses são vivas e contrastantes, tons de vermelho, azul e branco, marrom
amarelo e verde. Na escultura se vêm pequenas peças, como a Deusa com as Serpentes (foto
abaixo), que possui 17 cm e foi esculpida em marfim, tendo os mamilos, os detalhes da saia e as
serpentes em ouro. Na ourivessaria os cretenses também revelaram um grande domínio técnico,
como podemos verificar nos Copos de Vafio (foto acima), duas peças muito delicadas, onde estão

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representados, em baixo-relevo, touros e elementos da natureza. Recebem esse nome por causa do
nome da cidade onde foram encontrados.

Toda a influência cretense se percebe em regiões do Mar Egeu por causa do domínio que esta ilha
exerceu nessa região, mas depois do seu período de apogeu, esta foi invadida e dominada pelos
Aqueus, povos vindos do norte. No início deste texto falamos da ilha de Micenas, que em muito se
assemelhou à civilização cretense, tendo também muitas semelhanças artísticas, mas de
destacando de maneira diferenciada na arquitetura, com um fazer próprio. Suas construções são
longas e retangulares e com a seguinte divisão interna: um vestíbulo, uma antecâmara e um grande
salão – o megaron – que era a sala principal do palácio.

A Tumba dos Átridas - mais célebre família dos aqueus - é uma construção de pedras feita no
interior de uma colina e apresenta uma imponência severa. Possui um corredor que conduz a uma
sala circular coberta por uma grande cúpula com 14 metros de diâmetro e 13 metros de altura. Esta
sala se comunica com um compartimento retangular, onde eram deixados os restos mortais dos
príncipes micênicos. O aspécto mais interessante dessa construção é, sem dúvida, sua cúpula, pois
não há arcos para sustentá-la; as pedras foram colocadas horizontalmente, de forma que uma fique
um pouco mais saliente em relação à anterior, provocando um afunilamento até o encontro total das
fileiras concêntricas de pedras.

Em relação às suas pinturas, estes decoravam suas paredes com motivos diferentes dos cretenses,
utilizando figuras de guerreiros, cenas de caça, desfiles de carros, e não mais de figuras leves e
ágeis. Na escultura destaca-se a presença de dois leões colocados no alto da entrada principal da
muralha que cercava Micenas, chamada Porta dos Leões (foto abaixo), que sugere os valores
daquela civilização: a força e a agressividade. À partir do século XII, outros povos invadem o
Peloponeso: os Dórios, os Jônios, e os Eólios, mas estes vão encontrar sua expressão artística
muitos séculos depois.

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A Arte na Grécia.

Os gregos são os povos da antiguidade que apresentaram mais liberdade na produção cultural, pois
não se submetiam às imposições dos sacerdotes ou reis autoritários e valorizavam as ações
humanas, crendo que homem era a criatura mais importante do universo. Dessa forma, o
conhecimento através da razão sempre esteve acima da fé em divindades. No séc. XII a.C. os
gregos eram constituídos por Jônios, Aqueus, Dórios e Eólios, mas com o passar do tempo estes
passam a ter a mesma cultura. Por volta do séc.X a.C., estes estavam reunidos em comunidades
essencialmente pobres e distantes umas das outras e algumas delas se transformaram em cidades-
Estados, a pólis grega.

Devido às relações comerciais exercidas por essas comunidades, começaram a prosperar, entrando
em contato com o Egito e Oriente Próximo e, sem dúvida, o fazer artístico dessas civilizações deve
tê-los impressionado muito a ponte de influenciá-los em alguns aspéctos, mas posteriormente eles
se desvencilharam dessa influência e criaram um fazer artístico completamente diferente de tudo e
de todos, movidos por concepções outras que não aquelas dos egípcios e demais povos do oriente.

Historicamente podemos dividir a civilização grega em três períodos muitos distintos: o período
arcaico – meados de VII a.C. até V a.C., marcado pelas Guerras Pérsicas - o período clássico –
tem início no V a.C. e vai até o final da Guerra do Peloponeso, por volta de IV a.C. – e o período
helenístico – de Alexandre até a conuista final por Roma. Nos períodos iniciais, o foco é o séc.V
a.C., pois este é o período em que as atividades intelectuais, artísticas e políticas manifestaram o
esplendor da cultura helênica.

Por volta do VII a.C., os gregos começam a esculpir em mármore grandes figuras de homens,
ficando evidente a influência da técnica egípcia de se esculpir grandes blocos. Os gregos
acreditavam que a escultura precisava representar o homem na semelhança e também ser um
objeto belo em si mesmo. Os escultores arcaicos apreciavam a simetria natural do corpo humano,
fato evidente nas esculturas de homens nus, de pé em vigorosa posição frontal e com o peso do
corpo igualmente distribuído sobre as duas pernas, tipo de estátua chamada Kouros, que significa
homem jovem.

Não havia convenções rígidas, pois as esculturas não tinham uma função religiosa, podendo assim
se desenvolver livremente. Isto leva o escultor grego a não mais se satisfazer com a postura rígida e
forçada do Kouros e nessa superação da rigidez o mármore não se mostrava eficiente, pois era
pesado demais e se quegrava sob seu próprio peso quando determinadas partes do corpo não
estavam apoiadas. Os braços estendidos, por exemplo poderiam se quebrar facilmente. Nas firuras
abaixo notamos claramante essa mudança de postura e movimentação. Dessa situação vai surgir a
escultura em bronze, material mais resistente e que permitia ao artista criar figuras que
27
expressassem melhor o movimento. A escultura de Zeus de Artemízio traduz bem tudo isso, tendo
um tronco imovél, mas com braços que traduzem uma atividade extremamente vigorosa.

Kouros, final do VII a.C. 184 cm Efebo de Crítios, cerca de 480 a.C. 86 cm Zeus de Artemísio, cerca de 470 a.C. 209 cm

O problema da imobilidade do tronco presiste ainda, como vemos na estátua Discóbulo (foto
abaixo) – 125 cm - de Mirón, feita na mesma época de Zeus de Artemísio. Mas Policleto vem dar a
solução para isso na sua escultura Doríforo (que significa lanceiro – foto abaixo) de 199 cm, onde se
vê um homem caminhando, pronto para dar mais um passo, notando-se ainda uma alternância de
membros tensos e relaxados. Vale dizer que ambas são cópias romanas, pois os originais em
bronze se perderam.

28
Na arquiterura grega, as obras de maior interesse são os templos, não tendo sido erguidas para
receber os fiéis dentro delas, mas para proteger do sol excessivo e da chuva as esculturas dos seus
deuses e deusas, sendo característica mais evidente nestes a simentria existente entre o pórtico de
entrada e o dos fundos. Os templos eram formados pelos pórticos ( pronau e opistódomo) e pelo
naos, recinto onde ficava a imagem da divindade. Os telhados eram inclinados para as laterais do
templo, gerando um espaço denominado frontão, que era intensamente ornamentado com esculturas
retratando diversos temas. As colunas seguiam três estilos específicos e muito bem delineados e
definidos, como se vê a seguir. Ainda abaixo, um mapa da Grécia Antiga.

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Curiosidade:

O Retângulo de Ouro é um objeto matemático muito interessante e de grande valor estético que
existe para além do reino da matemática, nomeadamente na arte, na arquitetura e na natureza.

A relação entre o comprimento e a largura do Retângulo de Ouro é precisamente a Razão de Ouro,


que se define como se segue:

Considerando um segmento de reta AB e um ponto intermédio C, a razão de ouro é igual à relação


AB/AC, quando se verifica a igualdade AB/AC = AC/CB.

E o seu valor é

Se um matemático da Grécia Antiga fosse transportado para os nossos dias, adoraria pagar as suas
compras com os tão usados cartões de multibanco. Esse fascínio dever-se-ia às dimensões desses
cartões, que se aproximam muito das do Retângulo de Ouro. Os gregos da antiguidade conheciam a
Razão de Ouro, como obtê-la, como conseguir uma aproximação conveniente e como a utilizar na
construção do Retângulo de Ouro.

Os arquitetos da Grécia Antiga, no século V a.C. tinham consciência do seu efeito harmonioso. O Parthenon,
templo à deusa Atena no centro de Atenas, construído em cerca de 430 ou 440 a.C. é um exemplo de uma
das primeiras utilizações do Retângulo de Ouro na arquitetura. É ao escultor grego Fídias que se deve a
designação (fi) para a Razão de Ouro.

Como em outras culturas do mundo, na Grécia também a pintura apareceu como elemento

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decorativo da arquitetura, com vastos painéis que recobriam as paredes das construções e, em
alguns casos, substituíam as esculturas nos templos. A pintura na Grécia encontra também uma
forma de realização na arte da cerâmica, sendo os vasos gregos não só conhecidos pelo equilíbrio
de sua forma, mas também pela harmonia entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a
ornamentação. Estes eram usados em rituais religiosos e também para guardar água, vinho, azeite e
mantimentos, mas na medida em que passaram a revelar uma forma equilibrada e uma pintura
harmoniosa, tornaram-se também objetos artísticos. As pinturas destes vasos representavam
pessoas em suas atividades diárias e cenas da mitologia grega. O artista pintava inicialmente a
silhueta das figuras em negro; depois gravava o contorno e as marcas interiores dos corpos com um
instrumento pontiagudo, que retirava a tinta preta, deixando linhas nítidas. Tudo isso pode ser
percebido no Vaso François, de Clítias.

O maior expoente dessa arte foi Exéquias, que retratou Aquiles e Ajax jogando e teve o cuidado de
detalhar o manto e o escudo dos heróis e ainda fazer coincidir a curvatura das costas deles com a
curvatura da ânfora. Além disso tudo, as lanças conduzem o nosso olhar para as alças da ânfora e
dessas para os escudos colocados atrás dos personagens. Mas por volta de 530 a.C., um dos
discípulos de Exéquias faz uma mudança de grande significado nessa arte: ele mantém as figuras na
cor natural, do barro cozido da ânfora e pinta o fundo de negro, invertendo o esquema de cores até
então utilizado e dando início à série de figuras vermelhas. Esta inversão deu maior vivacidade às
figuras.

Com a invasão da Grécia por Felipe II, rei da Macedônia em V a.C., sua morte e sucessão por seu
filho Alexandre e a morte deste, o império fragmentou-se em vários reinos. A estes reinos os
historiadores dão o nome de Helenístico – termo usado para designar sua cultura, semelhante à dos
gregos e que se estende até a conquista por Roma.

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A escultura desse período sofre transformações no sentido de retratarem o ser humano não só de
acordo com idade e personalidade, mas também de acordo com seu estado de espírito de um
momento. Outro ponto é a representação, sob forma humana, de conceitos e sentimentos, como a
paz, o amor, a liberdade, a vitória, etc. Um terceiro traço é o surgimento do nu feminino que não
existia nos períodos arcaico e clássico. Aqui se destaca a Afrodite de Cnido, esculpida por
Praxíteles, que depois se tornou sua obra mais famosa. Nela se observa o princípio utilizado por
Policleto de opor membros tensos e relaxados, combinando-os com o tronco, que reflete tais
movimentos. Mas as formas arredondadas femininas acrescentaram sensualidade à escultura.

É também no IV a.C. que vão surgir outras representações de Afrodite, como a de Cápua – possui o
tronco despido, segurando um escudo no qual admira o reflexo de sua própria beleza. No século II
aparece a célebre Afrodite de Melos – Vênus de Milo, em Roma – que combina a nudez parcial da
Afrodite de Cápua com o princípio de Policleto aplicado à Afrodite de Cnido.

O grande desafio, e consequente conquista da escultura desse período, foi a representação de não
uma figura apenas, mas de grupos de figuras que mantivessem a sugestão de mobilidade e fossem
bonitos de todos os ângulos que pudessem ser observados. Um bom exemplo é o do Soldado
Gálata e sua Mulher, do século III a.C, que foi esculpido para um monumento de guerra em
Pérgamo, cidade helenística da Ásia Menor, mas se perdeu, existindo apenas a cópia romana.

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Na arquitetura desse período, a mudança se dá no conceito pessoal em relação às construções das
moradias. No século V a.C. elas eram modestas e apenas os prédios públicos eram suntuosos, mas
no século IV a.C. isso muda, como resultado da vida nos vastos reinos e não mais em cidades-
Estados, que faz substituir o sentimento de cidadão por um sentimento individualista. A
consequência é que as casa passam a receber um cuidado especial, passando a ganhar mais
espaço e conforto. Essa troca dos sentimentos reflete também no teatro, onde o coro – papel muito
valorizado que desempenhava a ação do povo ou grupos humanos – passa para o segundo plano,
sendo agora dada à atuação dos atores uma ênfase maior.

Na Grécia clássica, os teatros eram constituídos de três partes bem delimitadas: o espaço circular
chamado orquestra, local para danças e onde o coro e os atores representavam; o espaço
reservado para os espectadores, uma espécie de arquibancada construída em semicírculo na
encosta de uma colina; e o palco, lugar onde os atores se preparavam para entrar em cena e onde
se guardavam os figurinos e cenários. O teatro grego é, ainda hoje, tomado como um dos grandes
expoentes quando se quer falar de textura coral e fusão, encontro entre as manifestações artísticas
diversas num mesmo espaço. Neste o artista encenava, cantava, por vezes dançava, o que nos
mostra o quão completo precisava ser este artista.

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Com o passar do tempo, o teatro teve de sofrer alterações como um reflexo da relevância que os
atores ganharam e esta mudança principal se dá no palco. Este passa a ser estendido até o telhado
do proscênio, que passa a ser piso de atuação dos atores e atrás deste são criadas fachadas com
grandes aberturas para se fixar o cenário. Há uma aproximação do espaço dos espectadores com o
palco, o que já ressalta a ideia do teatro como um espaço arquitetônico unitário e não mais dividido
em três partes. Essa concepção atinge seu desenvolvimento pleno entre os romanos.

Fontes: História da Arte, Graça Proença; Internet.

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A Arte no Império Romano.

Sabe-se que a formação cultural dos romanos deveu-se principalmente aos gregos e etruscos, que
ocuparam diferentes regiões da Itália entre os séculos XII e VI a.C. A arte romana sofre, portanto,
estas duas fortes influência: a da arte Etrusca, popular, voltada para a expressão da realidade vivida,
e a da Greco - helenística, orientada para a expressão de um ideal de beleza.

O aparecimento da cidade de Roma é envolto em mistérios e lendas, mas tradicionalmente se indica


para sua fundação a data de 753 a.C.

Império Romano em 395 d.C. sobreposto às fronteiras modernas

A arquitetura.

Um dos legados mais importantes deixados aos romanos pelos etruscos foi o uso do arco e da
abóboda nas construções. Esses dois elementos permitiram aos romanos criar amplos espaços
internos, livres do excesso de colunas, próprio dos templos gregos. Vale ressaltar que estes
elementos arquitetônicos citados são desconhecidos na Grécia. O arco é a conquista que permite
ampliar o vão entre uma coluna e outra e, com isso, ganhar mais espaço, pois no arco o centro da
viga não se sobrecarrega mais do que nas extremidades, o que distribui as tensões de forma mais
homogênea. Em relação às moradias romanas, estas seguiam o rigoroso e invariável desenho
retangular basicamente, mas ao entrar em contato com os gregos no período helenístico, os
romanos apreciam a flexibilidade e elegância das moradias gregas.

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Como eram zelosos com suas tradições, não quiseram incorporar muitos elementos gregos em suas
construções, mas encontraram uma forma para fazê-lo: acrescentaram um peristilo (espaço como
que se assemelha a um jardim interno) nos fundos da casa, em torno do qual se dispunham vários
cômodos. Os templos romanos eram erigidos num plano mais alto e a entrada só era alcançado por
escadarias construídas diante da fachada principal, o que distinguia a entrada das laterais,
diferentemente do que faziam os gregos. Mas nem todos os templos romanos foram a somatória das
tradições romanas e dos ornamentos gregos.

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O Panteão, construído em Roma durante o império de Adriano é o melhor exemplo dessa diferença.
Foi planejado para reunir uma grande quantidade de deuses de todo o Império, possuindo uma
planta circular fechada por uma cúpula, criando um local isolado do exterior onde o povo se reunia
para o culto. Esse modelo arquitetônico é o mesmo que será usado pelos cristãos na construção de
seus templos e explica porque o Panteão é um dos únicos templos pagãos que hoje é ocupado por
uma igreja cristã.

O Maison Carré (XVI a.C.); Nîmes, França

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O Panteão, vista frontal/lateral Vista interna

Graças a esse conhecimento dos arcos e abóbodas herdado dos etruscos, os romanos construíram
edifícios – sobretudo anfiteatros - muito mais amplos do que teria permitido a simples influência
grega. Esses anfiteatros alteram basicamente a planta do teatro grego, pois abrigavam muitas
pessoas. Os construtores romanos utilizavam filas sobrepostas de arcos para construir o local
destinado ao público e, com isso, ganhavam o apoio e a sustentação que lhes permitia construir em
qualquer lugar que desejassem, independentemente de sua topografia. O anfiteatro romano
caracterizava-se por um espaço central elíptico, onde se dava o espetáculo, e circulando este
espaço, um auditório, composto por um grande número de filas de assentos, formando uma
arquibancada.

Assim era o Coliseu, certamente o mais belo dos anfiteatros romanos. Externamente o edifício era
ornamentado por esculturas que ficavam dentro dos arcos e por três ordens de colunas gregas.
Eram na verdade meias colunas, pois estas ficavam presas à estrutura das arcadas. Portanto, não
tinham a função de sustentar a construção, apenas ornamentá-la.

38
A pintura.

A maior parte das pinturas Romanas conhecidas hoje provém das cidades de Herculano e Pompéia,
cidades que foram soterradas pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. São elencados quatro estilos de
decoração de paredes provenientes dessas cidades. O primeiro estilo na verdade é proveniente do
séc. II a.C.: era costume recobrir as paredes de uma sala com uma camada de gesso pintado, o que
dava a impressão de placas de mármore, mas os pintores percebem depois que essa ilusão poderia
ser dada apenas com a pintura, o que conduz a um novo estilo. Os artistas percebem que se é
possível criar a ilusão da saliência, é possível também criar a ilusão da profundidade e se põem a
pintar painéis que criavam a ilusão de janelas abertas e estas com diversas propostas de cenário. No
fim do séc. I este estilo chega ao fim e surge o terceiro, que põe fim ao interesse por representações
fiéis da realidade e passa a valorizar a delicadeza dos pequenos detalhes.

Mas os romanos ainda vão abandonar essa tendência e voltar às pinturas que simulam ampliação do
espaço, mas nesse retorno com a delicadeza do terceiro estilo. A essa fusão chamou-se de quarto
estilo. Ora de maneira tosca e alegre, ora de maneira segura e brilhante, os pintores romanos
misturavam realismo e imaginação e suas obras ocuparam grandes espaços nas construções.

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A escultura.

É sabido que os romanos eram grandes admiradores da arte grega, mas eram diferentes no
temperamento e por serem realistas e práticos, suas esculturas são uma cópia fiel das pessoas e
não a de um ideal de beleza humana. Os artistas romanos foram sim influenciados pelas
características gregas, mas não abdicaram da ideia de retratar os traços particularizadores de uma
pessoa. Ocorre aqui então uma acomodação entre as ideias grega e romana. A estátua de Augusto,
o primeiro imperador romano retrata bem essa realidade. Apesar do artista utilizar o Doríforo (de
Policleto) como referência, foram feitas as devidas alterações ao gosto romano e o artista buscou
captar a real feição do imperador, vestindo-o ainda com uma couraça e uma capa, ambas romanas.
Alterou ainda a posição da cabeça e do braço do imperador, deixando transparecer a ideia de que
este estava a dar uma ordem a seus súditos.

Nos relevos esculpidos em monumentos se observa também essa tendência de representar de


maneira bem determinada os elementos romanos. Os relevos romanos, ao contrário dos gregos,
representavam fatos históricos reais em suas esculturas e apresentavam os personagens do fato
histórico ali narrado. Aqui vão se destacar a Coluna de Trajano (construída no séc. I da era cristã e
narra as lutas do imperador e dos exércitos na Dácia, um importante documento histórico em pedra)
e a Coluna de Marco Aurélio (celebra o êxito dos romanos contra um povo da Alemanha do Norte;
mais emotivo e profundo).

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A Idade Média.

Vale recordarmos aqui que as artes mudam de acordo com os períodos em que estão inseridas e a
velocidade dessa mudança é ditada pelo tempo, pelo correr dos dias e anos. Geralmente os
períodos musicais não coincidem perfeitamente com os períodos de tempos das outras artes, fato
que o filósofo Nietzsche já observava. O tempo em questão (Idade Média) tem o seu início marcado
pela queda do Império Romano, com a tomada de Roma pelos Bárbaros no ano de 476, quando esta
cai nas mãos dos Godos. Estas invasões vão se seguir até por volta do ano 1050 e por todo esse
tempo a Europa será constantemente devastada por invasões, o que leva ao crescimento do
Feudalismo, sendo os castelos a única maneira de proteção, pois já não havia as cidades.
Considera-se comumente a Idade Média até meados do séc. XIV, onde terá início o Renascimento.

A chamada Alta Idade Média é um período que se prolonga por cerca de 900 anos. Neste período
imenso, o único agente estabilizante desses povos é a religião e a vida das pessoas girava em torno
de Deus. Em decorrência das guerras, doenças e estagnação econômica, muitas cidades tiveram
suas populações reduzidas drasticamente e algumas foram até abandonadas. É nesse meio que
prospera o Feudalismo, sistema basicamente organizado entre os donos das terras – os senhores
– e os camponeses responsáveis por cultivar estas terras - os vassalos - prestando em troca desse
cultivo determinados serviços e pagamentos aos proprietários destas terras. É preciso recordar que
estes senhores possuíam os bens materiais, mas eram desprovidos de quaisquer conhecimentos e
interesses no campo artístico.

Como única forma de manutenção da estabilidade era a religião, esta ganha força através da Igreja
Católica que é a única instituição que sobrevive a estes períodos de invasão, sendo, como afirma o
historiador francês Daniel Rops, “a única depositária dos valores da inteligência durante a época
obscura e prepara em seu seio o próprio desabrochar desses valores”. A única escola que existia era
a dos mosteiros e era dentro destes que se produzia toda a arte.

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As Artes na Idade Média.

Na arte chamada bárbara, também presente na Idade Média, é preciso destacar o desenvolvimento
da ourivesaria em pequenas peças, sendo seus valores culturais e expressões artísticas
radicalmente diferentes dos desenvolvidos pelos gregos e romanos. Estes esculpiam seus deuses
com forma humana, seus líderes políticos e militares. É notável, porém, na arte bárbara, a ausência
quase total da representação de figuras humanas, revelando apenas uma preocupação decorativa.
Este caráter é uma consequência do nomadismo destes povos, pois em virtude de estarem sempre
mudando de lugar, destacaram-se na criação das pequenas peças, como colares, pulseiras, brincos
fivelas e fechos.

Sabe-se que, nessa época, não foi muito cultivada a escultura, que quase se limitou a pequenas
peças e estatuetas. Mas uma forma de arte que tem grande crescimento e força nesse período são
as iluminuras (decoração manual de livros e documentos). Através dos desenhos que compunham
essas preciosas ornamentações, registrava-se todo o saber da época, isso também em relação à
música. Os valiosos manuscritos que continham essas iluminuras eram cuidadosamente guardados
em lugares de difícil acesso, em bibliotecas que eram verdadeiros labirintos. Era uma arte privativa
dos monges, mas segundo os historiadores, teria se iniciado nas oficinas da corte de Carlos Magno,
por volta do século VII, início do VIII.

Primeiro, era necessário curtir de modo especial e pele de cordeiros e/ou vitelas, que era então
chamada de velino e era usada no lugar do papel dos livros atuais. Estas “folhas” eram cortadas nas
oficinas já no tamanho em que seria o livro. A seguir vinham os copistas e sobre o velino
transcreviam os textos a serem utilizados em cada livro, mas deixavam sempre um espaço para que
os artistas depois fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos e as letras maiúsculas com que
se iniciavam os textos. Esse processo todo leva à iluminura.

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Na arquitetura, um novo tipo de estilo para a edificação, principalmente das igrejas recebeu o nome
de Românico, nome dado para representar as realizações arquitetônicas no final dos séculos XI e
XII na Europa, cujas estruturas eram semelhantes aos antigos romanos. A característica mais
significativa desse estilo é a utilização de abóbadas, dos pilares maciços que as sustentam e das
paredes espessas com aberturas estreitas usadas como janelas. A abóbada das igrejas era de dois
tipos: abóbada de berço ou abóbada de arestas.

A primeira era mais simples e consistia num semicírculo, o arco pleno, que possuía duas
desvantagens: o excesso de peso sobre o teto provocava vários desabamentos e gerava ainda uma
baixa luminosidade resultante das janelas estreitas. A segunda consistia na intersecção de duas
abobadas de berço em ângulo reto apoiadas sobre pilares, com a qual conseguiram certa leveza e
maior luminosidade. Este estilo de construção é um estilo essencialmente clerical, pois não adveio
do gosto da nobreza e nem das idéias desenvolvidas em centros urbanos, sendo a arte desse
período tratada como uma “extensão do serviço divino (...) e uma oferenda à divindade”. (G.
Dehio)

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No ano de 910 foi fundado o mosteiro beneditino de Cluny, na França, onde a arquitetura românica
pôde encontrar grande crescimento com a construção de portais, tímpanos e adornos nos capitéis
das colunas. Infelizmente, parte desse grande acervo foi destruído no final do século XVIII, pouco
sobrando dos seus edifícios. Na Itália, o grande modelo de arquitetura românica é a Torre de Pisa e
sua Catedral, sendo o campanário (torre) o mais conhecido do conjunto.

No começo do XII, a arquitetura predominante ainda é a românica, mas já começam a aparecer as


primeiras mudanças, tendo em vista que agora a economia já passa a fundamentar-se no comércio e
isso faz com que a vida social se desloque do campo para as cidades, aparecendo aqui a burguesia
urbana. No século XVI esse estilo novo de construção iniciado por volta do século XII foi chamado
pelo nome depreciativo de Gótico, pois era considerado bárbaro e podendo ser uma influência dos
Godos (povos bárbaros). Mais tarde o nome perde esse caráter e passa a ser definitivamente ligado
à arquitetura dos arcos ogivais. Essa nova maneira de construir aparece na França pela primeira
vez, na edificação da abadia de Saint Denis, por volta de 1140.

A primeira diferença em relação ao estilo anterior está na fachada, pois no românico havia apenas
um único portal e no gótico há mais, variando entre dois, três, ou mais. O estilo gótico possui
também a rosácea, que é um elemento arquitetônico muito característico. Era uma grande janela
redonda, no alto do portal central. A característica mais marcante, entretanto, é a abóbada de
nervura, que difere muito da abóbada de aresta (característica do românico), pois deixa visíveis os
arcos que formam sua estrutura. O grande destaque desse período em questão é o Portal Régio,
portal principal da Catedral de Notre Dame de Chartres, na França, que é considerado pelos
44
historiadores um dos conjuntos escultóricos mais belos do mundo.

A Catedral de Notre Dame de Paris introduz uma nova mudança estrutural que é o arcobotante. Este
arco transmite a pressão de uma abóbada da parte superior de uma parede para os contrafortes
externos. Assim, as paredes laterais não tem mais a função de sustentar as abóbadas, deixando
aberta a possibilidade de empregar-se grandes aberturas preenchidas com belíssimos vitrais. Estes
estão para as construções góticas como estão os mosaicos para as basílicas bizantinas, deixando
passar a luz do sol pelos pequenos pedaços de vidro de cores diversas, criando um ambiente sereno
e multicolorido.

Para se fazer um vitral, a primeira etapa é colorir o vidro e isso era feito adicionando-se diversos
produtos químicos ao vidro derretido e ainda na fornalha, ficando este colorido e translúcido. Depois
eram produzidas as placas de vidro chamadas antique (o artesão acumulava uma pequena
quantidade de vidro fundido na extremidade de um tudo e imediatamente começava a soprar até
formar uma bolha de vidro de forma cilíndrica). A seguir cortava suas extremidades, como se tirasse
uma tampa de cada lado, obtendo um cilindro oco.

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Depois cortava esse cilindro de maneira longitudinal e o achatava até conseguir uma placa. Esta era
cortada no formato previamente estabelecido que o vitral teria e depois se procedia à pintura com
tinta opaca preta os detalhes de uma figura, como os traços fisionômicos. Depois se encaixava
essas placas umas às outras por uma moldura metálica chamada “perfil de chumbo” e juntas
formavam grandes composições e vitrais.

A pintura românica desenvolveu-se, sobretudo, nas grandes decorações murais, através da técnica
do afresco – técnica de pintar sobre a parede úmida. Aplicava-se uma camada de reboco à base de
cal e sobre esta uma camada fina e lisa de gesso, sobre a qual o pintor trabalhava. Era preciso que
essa argamassa estivesse ainda úmida, pois com a evaporação da água a cor adere ao gesso, o gás
carbônico do ar combina-se com a cal e a transforma em carbonato de cálcio, completando-se assim
a adesão do pigmento á parede. Essa é a distinção do afresco em relação ás outras pinturas: uma
vez seca a argamassa, a pintura se incorpora ao reboco, tornando-se parte integrante dele.

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O grande expoente deste período é, sem dúvida, o arquiteto e pintor italiano Giotto (1266-1337)
caracterizado pelo naturalismo e ainda considerado o “pai da pintura”. Giotto identificava a figura dos
santos como seres humanos de aparência comum, vindo de encontro a uma visão humanista do
mundo.

Na música, adotou-se como uso na liturgia o canto gregoriano. Vale ressaltar que a música mais
antiga de que temos notícia constituía-se numa monofonia = uma única melodia, destituída de
qualquer espécie de harmonia. Por volta do ano 590 o papa Gregório I compilou cantos de diversos
lugares e os sintetizou, estabelecendo, com base nesses cantos recolhidos, o canto oficial da Igreja.
Em sua primeira fase, tal música religiosa foi conhecida como cantochão, este não possuindo
acompanhamento. As melodias fluíam livremente, de acordo com as palavras, permanecendo dentro
de uma oitava e se desenvolvendo com suavidade, através de intervalos de 1 tom.

Alguns tipos de sinais foram adotados para facilitar a representação dessa música por escrito, a fim
de que se gerasse uma unidade de culto e cânticos em toda parte. Estes sinais eram os “neumas”,
inicialmente inventados e utilizados pelos gregos. Estabeleceu-se como sendo essa a primeira
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escrita musical de nossa era, muito rudimentar ainda e muito distante da escrita atual, mas suficiente
para se conhecer a música que se fazia. Segue-se daí para a chamada “notação quadrática” e por
fim desenvolve-se a notação de nossos dias como descrito no quadro abaixo.

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A música medieval, precisamente aquela que vai até o século XII, emprega um sistema especial de
escalas intitulado modos, que consistia em duas formas: autêntica (uma oitava completa) e plagal
(a mesma oitava, porém começando com uma quarta abaixo). Eram os modos: Jônico ou Jônio,
Dório ou Dórico, Frígio, Lídio, Mixolídio e Eólio. Quando estavam sendo usados na forma plagal,
acrescentava-se o prefixo Hipo antes dos nomes (Hipodórico, Hipolídio, etc).

Também na música virá o desenvolvimento e este se dará à partir do momento em que os


compositores passam a acrescentar outras linhas melódicas ao cantochão, dando origem à música
organal. Esta possuía algumas variações de acordo com a quantidade de vozes acrescentadas e de
acordo com o estilo. À partir do século IX surge o Organum Paralelo (conservava o cantochão e
acrescentava uma quarta ou quinta abaixo deste); outros passos foram dados e nos dois séculos
seguintes já se costumava usar variações na voz organal, como os movimentos oblíquos,
movimentos contrários e paralelos e à partir do XI usa-se o Organum Livre (a voz vem escrita acima
do cantochão). Já no começo do século XII, a voz principal (cantochão) passa a ser chamada de
tenor e acima desta, uma voz mais alta, longamente sustentada, se movia livremente, expressa por
notas de menor valor. A esse grupo de notas cantando uma única sílaba deu-se o nome de melisma
49
e daí o nome Organum Melismático. Em Paris, importante centro musical do século XII,
desenvolve-se o Organum Notre Dame, na chamada “Escola de Notre Dame”, onde se destacaram
dois compositores: Léonin e Pérotin.

Ainda é preciso ressaltar que neste período existiu um intervalo que era evitado por uma norma da
liturgia católica denominado “diabolos in musica” que era o efeito do trítono (quarta aumentada ou
quinta diminuta) tão característico do acorde chamado de Dominante (quinto acorde de um campo
harmônico) na nossa música ocidental e responsável pela sensação Tensão / Relaxamento nos
nossos dias.

No século XIII essas vozes extras que foram sendo acrescentadas ao longo dos séculos começaram
a receber palavras independentes do texto. Isso deu origem ao tipo de música popular chamada
moteto, várias delas compostas para serem cantadas fora das igrejas. Essa construção musical feita
em camadas de vozes é típica da Idade Média e por
vezes resultava do trabalho de vários compositores, o
que também gerava conflitos dos mais dissonantes, pois
cada voz se ajustava á linha melódica que quisesse.
Outro tipo de música que se popularizou em Notre Dame
foi o conductus, um cântico de procissão usado para
acompanhar o padre na igreja. Este estilo composicional
traz consigo uma outra interessante inovação:
fragmentos de uma mesma melodia ou frases inteiras
são trocadas pelas vozes (enquanto uma voz canta AB,
por exemplo, outra canta BA). Este tal qual o moteto,
saiu do interior das igrejas para se tornar música popular.

Já no final da Idade Média, um estilo de composição que


vai surgir paralelo aos motetos é a forma Missa (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Benedictus,
Agnus Dei), que vem para se aliar ao culto já existente. As músicas do culto já eram entoadas, nas
suas diversas partes, mas estas eram de diversos compositores. Quando se fala da forma missa,
fala-se de uma seqüência de músicas compostas por um mesmo autor para a celebração litúrgica. A
primeira de que se tem notícia foi composta por Guillaume de Machaut (1300-1377), o maior
compositor francês da Ars Nova (nome utilizado para descrever a música feita à partir do século
XIV, sendo a anterior chamada de Ars Antiqua).

Vale ressaltar que as artes começam a se deslocar da Igreja para a sociedade, deixando ela de ser a
única patrocinadora das artes, levando o saber que outrora era monopolizado a se diluir. Assim, os
temas das artes também deixam de ser exclusivamente religiosos.

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Aqui temos as Cruzadas, que tendo estimulado o espírito de aventura da época, vão impulsionar o
surgimento das novelas, ou romances de cavalaria, com seus ideais de amor cortês, valentia e
lealdade. Também a ânsia de conhecer outros mundos e de buscar outras respostas para uma vida
cheia de frustrações e descontentamentos leva o homem medieval (da baixa Idade Média
precisamente) a alienar-se da realidade e a partir para a fantasia.

Assim é dada forma literária a numerosas lendas, tais como a do Rei Arthur e da Távola Redonda,
do Santo Graal, a do Lancelot, entre outras. A poesia ganha grande impulso com os Trovadores,
músicos itinerantes que se deslocavam de cidade em cidade para se apresentarem. Suas
composições eram designadas com o nome francês “chansons”, dado que sugere que os
trovadores se originaram na França. Propagaram-se por vários países e contribuíram muito para o
progresso da música e da poesia, sendo seus temas mais comuns o amor nobre e cortês que o
cavaleiro dedicava á sua dama. Chegando a Portugal, estes trovadores vão cantar suas “cantigas
de amor e cantigas de amigo” (chamadas Cantigas Líricas) e ainda um tipo de poesia que
ironizava os costumes da época, as “cantigas de escárnio e maldizer” (conhecidas como Cantigas
Satíricas).

O mais elevado nível de poesia medieval é alcançado nos seus finais por Dante (1265-1321) com a
Divina Comédia, cujos poemas serviram de inspiração para músicas de vários compositores. Por seu
vasto conhecimento dos filósofos da Antiguidade Clássica, costuma-se dizer que ele estava na Idade
Média, mas com o pé no Renascimento, por ser esta uma das características deste período que virá
a seguir.

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A escultura deste período, de um modo geral, estava associada á arquitetura. Nos tímpanos dos
portais, nos umbrais ou no interior das grandes igrejas, os trabalhos de escultura enriqueceram
artisticamente as construções e documentaram, na pedra, os aspectos da vida humana que as
pessoas mais valorizavam na época. Algumas obras presentes em igrejas alemãs nos dão uma boa
idéia da escultura da época. Uma delas é O Cavaleiro, que revela o vigor e o equilíbrio na
composição do volume dos corpos do cavalo e do cavaleiro. Essa estátua também revela a cultura
da cavalaria medieval, uma organização que estabeleceu uma nova estrutura social nas cortes
européias e assumiu a liderança da vida intelectual, até então restrita aos monges nos mosteiros.

No século XIII, encontramos algumas obras de escultura com autor identificado, como as do escultor
italiano Giovanni Pisano (1245-1315). É mais conhecido pelas esculturas em baixo-relevo do púlpito

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da igreja de Santo André, em Pistóia, e uma imagem de Maria, Mãe de Jesus Cristo. Nos baixos-
relevos retrata a crusfixão e outras cenas religiosas, conseguindo por meio delas comunicar ao
observador, com intensidade dramática, os sentimentos de dor e sofrimento.

Paralelamente a todo esse desenvolvimento artístico ainda encontramos dentro da Idade Média a
Arte Bizantina, desenvolvida no Império Romano do Oriente, desde a transição da capital
Constantinopla à sua conquista em 1453 pelos turcos. Nessa manifestação artística percebemos
influências da Arte Romana e da arte oriental, tendo uma maior projeção na arquitetura religiosa
(cúpula), pintura e mosaico com caráter bidimensional e simbólico (ícones).

Aqui também incluímos a Arte Religiosa Islâmica que se espalhou por um extenso território (Pérsia,
Turquia, Egito, Norte da África, Sicília, Península Ibérica). As influências desta manifestação artística
encontramos em palácios e mesquitas, ambos contendo uma arquitetura com base na geometria e
matemática utilizando-se de materiais como o mármore, os mosaicos, o azulejo, a cerâmica, o metal
e as iluminuras.

A ornamentação de tudo isso era feita com base em citações do Corão (arabescos) e se percebe um
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espiritualismo, ausência da figura humana, abstracionismo, geometrização, padrões, motivos florais
e vegetais.

Temos ainda a arte dos povos germânicos que se espalharam por toda a Europa medieval por conta
das chamadas invasões bárbaras. Citamos a Arte Visigótica, que nos remete ao período das
invasões da Península Ibérica pelos Visigodos entre 415 e 711 d.C.

A arte hibérico-saxônica e arte anglo-saxônica – Irlanda e Grã-Bretanha do século V ao século


XII. Temos também uma fusão artística céltico-germânica pela influência das tribos germânicas
entre 600 e 800 d.C. Tais influências são perceptíveis nos mosteiros, nas jóias, artefatos em metal,
madeira, pedra de estilo animalista imaginativo (abstracionismo e organicismo), iluminuras de carater
ornamental, ausência de representação humana, geometrismo e elementos zoomórficos.

A Arte Merovíngia, que se mantém durante a dinastia franca dos merovíngios de 500 a 750 d.C.

A Arte Carolíngia, que se incere na história com Carlos Magno e seus sucessores. Nesta
encontramos uma arquitetura religiosa com pinturas, murais, mosaicos, baixos-relevos (Catedral de
Aachen – capela palatina), surge a cripta com deambulatório, mosteiros. Dentro deste contexto
também encontramos uma rica arte decorativa utilizando marfins, joalherias, iluminuras de forte
dinamismo de traço e energia rítmica.

A Arte Otoniana se desenvolve na Alemanha do século X ao início do século XI, durante o império
romano-germânico com Otão I e seus sucessores. Este estilo sucede ao carolíngio, do qual recebe
grande inluência e antecipa formalmente o estilo românico. Possui arquitetura vigorosa, maciça e de
equilibradas proporções, portas de bronze em relevo. Sua escultura é realista e expressiva.
Iluminuras de grande força e intensidade, com variedade de matizes, clarificação da mensagem,
hierarquia das figuras se percebem neste estilo. Seguem-se a este, já na Alta Idade Média, o estilo
Românico e o Gótico.

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