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DISCERNIR AS CIRCUNSTÂNCIAS

Após ficar sabendo da morte de João Batista, a Bíblia diz que Jesus
retirou-se do local em que estava num barco, para um lugar deserto, à
parte (Mateus 14:12,13). O anúncio da morte de Seu precursor foi
suficiente para Jesus interromper o que estava fazendo entre as
pessoas ali e ir para um lugar deserto. Podemos dizer que isso era como
se estivesse dando uma parada em suas atividades para poder refletir.
Ao tomar conhecimento de um óbito naquelas circunstâncias, seria
estranho não sentir qualquer coisa a respeito. A multidão e os discípulos
certamente tinham muito a dizer e muito a perguntar. Afinal, saber que
o precursor de Jesus teve a cabeça decapitada e apresentada sobre
uma bandeja em uma festa de aniversário não é fácil de assimilar. Eis
uma circunstância que precisava ser discernida. Quando nossa vida é
arrebatada por algum tipo de situação drástica, geralmente perdemos a
capacidade de nos manter sóbrios e equilibrados. Nossa identidade de
cristãos cede espaço para inúmeras opiniões naturais e limitadas, que
surgem na tentativa de achar um motivo para os acontecimentos.
Entretanto, após o desaparecimento da esfera agitada em que fomos
envolvidos, percebemos que fizemos e dissemos muitas tolices, além
de ferir diversas pessoas e, em muitos casos, até mesmo ofender e
acusar o próprio Deus, alegando falta de amor e de justiça da parte
Dele.
É bem possível que cada pessoa ali tivesse um parecer para o
caso. As circunstâncias despertam, de pronto e invariavelmente, um
monte de idéias e considerações em cada um de nós. A nós não
interessa se nossas conclusões a respeito de determinado assunto são
plausíveis ou não. O que importa, mesmo, é que nesses momentos
desabafemos, a fim de que nossa tristeza seja, aparentemente,
escoada, nossas dúvidas maquiadas, produzindo uma sensação
temporária de alívio por termos obtido uma resposta, até mesmo para
não sermos considerados ignorantes perante a opinião pública, uma vez
que muitos não têm, sequer, o que comentar.
O Senhor Jesus não ficou ali esperando para ouvir o que as
pessoas achavam, como não se importou em retirar-se, mesmo
sabendo que, posteriormente, poderia ser interrogado por todos. Jesus
achou por bem não ouvir as opiniões das pessoas, nem falar-lhes algo a
respeito. Para Ele, somente o Pai poderia discernir aquele incidente tão
horrível. Não seria exagero dizer que Ele retirou-se para buscar uma
comunhão mais íntima com o Pai. Que belo exemplo o Senhor deixou
para nós! Se não fosse um homem de oração, não arriscaríamos inferir
que Ele deixou tudo e todos e foi para o deserto a fim de contatar o Pai,
em oração.

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Quando paramos de ficar tentando encontrar justificativas para as
coisas que acontecem conosco e a nossa volta e passamos a dar
ouvidos ao que Deus tem a dizer, nosso coração é verdadeiramente
aliviado e, pela oração, seremos capazes de discernir melhor as
situações.
O texto bíblico é claro quando diz que: "Jesus, ouvindo isto (sobre a
morte de João Batista), retirou-se dali num barco, para um lugar deser-
to, aparte" (v. 13). Sua reclusão, que pode aparentar uma fuga, foi, na
verdade, uma atitude sábia em buscar resposta junto à Pessoa correta.
Deus é o único que sabe explicar a razão de todos os acontecimentos
que sobrevêm a Seus filhos, diariamente. Desde às mais simples às
mais graves situações, em Deus encontramos os esclarecimentos de
todas elas. Em vez de ouvir ou arrazoar, Jesus preferiu não perder
tempo com conjecturas e tratou de buscar, logo, Aquele que sabe
quantos cabelos temos em nossa cabeça (Mateus 10:30), o soberano de
toda a terra.
Quantas vezes perdemos coisas como casa, carro, dinheiro e até
entes queridos e ficamos atónitos e confusos? Em vez de buscarmos o
Senhor em oração para falar conosco e nos consolar, refugiamo-nos por
dias, semanas, meses em conclusões ou em respostas de outros ou,
simplesmente, silenciamos como se estivéssemos omitindo-nos diante
dos fatos. Sempre que um filho de Deus nutre tais sentimentos, ele
entra em uma esfera triste, paralisante e sem esperança. Watchman
Nee chama esse estado de introspecção. A pessoa numa situação
dessa, não vê mais a graça e a soberania de Deus e, ainda, se esquece
da preciosidade do sangue de Cristo. Antes, só vê perdas e injustiças.
Quem aproveita para alojar-se nessas situações de desespero das
pessoas é Satanás, o acusador de nossos irmãos (Apocalipse 12:10).
Como resultado, a obra de de Deus sofre, pois os famintos deixam de
supridos com a Palavra de Deus. Esse estado de letargia prejudica a
pessoa por ele afetada e outros que precisam da ajuda de alguém que
sabe como retirar-se para buscar a Deus e discernir as circunstâncias.
Quando buscamos a Deus em oração, podemós extrair preciosas
lições a despeito das dificuldades que estivermos enfrentando. O efeito
de buscarmos o Senhor será consolo e compreensão para nós e para
aqueles que vierem a nós em busca de discernimento mais claro do que
acontece com eles.
Quando você for assaltado por algo inusitado, esteja certo de que
precisa retirar-se, urgentemente, para ter uma comunhão mais íntima
com Deus, aparte.

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