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e Lilian Campelo
ARENAS
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AMAZÔNICAS
ARENAS ARENAS
negros, mulheres, periferia, cultura e resistências
Editora
BALAIO
Rogerio Almeida, Daniel Leite
e Lilian Campelo
ARENAS
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AMAZÔNICAS
ARENAS ARENAS
negros, mulheres, periferia, cultura e resistências
1ª Edição
Editora
BALAIO
Santarém-PA
2017
Copyrigth © 2017 by Rogerio Almeida
Autores
Rogerio Almeida
Lilian Campelo
Daniel Leite
Revisão
Maria de Nazaré Barreto Trindade
Fotos
Caio Romano – Traumas Vídeos
Lilian Campelo
Rosa Rocha
Thiane Neves
Nega Suh
Anselmo Bentes de Oliveira
Laís Tavares
93 p. (Arenas amazônicas, 1)
Ficha Catalográfica
ISBN 978-85-913900-2-1
Inclui bibliografias.
AGRADECIMENTOS
Malungos , malungas....um monte de gente. Um cata-
AGRADECIMENTOS
tau de manos/manas embarcaram nesta viagem, dentre os quais terei
dívida eterna no campo da cessão de fotos com: Caio Romano - Trau-
mas Vídeos, Lilian Campelo, Nega Suh, Thiane Neves, Rosa Rocha, An-
selmo Bentes de Oliveira e Laís Tavares.
E ainda à Marluze Pastor, pelo prefácio. Uma baita mulher. Raio de luz
em minha deformação humana.
DEDICAT
DEDICATÓRIA
DEDICATÓRIA
Saravá!
PREFÁ
PREFÁCIO
Marluze Pastor*
PREFÁCIO
O Delza,
Teu menino desceu São Luís
Pegou um sonho e partiu
Pensava que era um guerreiro
Com terras e gentes a conquistar
Havia um fogo em seus olhos
Um fogo de não se apagar
Thiago de Mello
SUMÁRIO
Rua dos Pretos
O Maranhão dentro de Belém
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Terra Firme
Um quilombo urbano em Belém
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Sobre os autores
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Rua dos Pretos - O Maranhão dentro de Belém
01
Rua dos Pretos
O Maranhão dentro
de Belém[1]
Rogerio Almeida e Lilian Campelo[2]
[1]
Trabalho publicado no site da Agência Carta Maior, no dia 17 de março de 2013.
[2]
Lilian Campelo é jornalista freelance.
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Rua dos Pretos - O Maranhão dentro de Belém
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Rua dos Pretos - O Maranhão dentro de Belém
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Guedes é uma das muitas maranhenses que povoa o local. É uma se-
nhora negra de 60 anos de idade. Como ela, a maioria dos moradores tem a
mesma cor. Daí a designação pelos vizinhos de Rua dos Pretos ou Rua dos
Maranhenses. Às 16 h de uma tarde ensolarada acordamos a franzina senho-
ra, dona de raros cabelos grisalhos. Ela é mãe de 10 filhos e adotou mais qua-
tro crianças, fruto de relações extraconjugais do falecido marido. Ao todo são
19 netos. Metade dos filhos é evangélica. Ana conta que eles pedem que ela
abandone as manifestações católicas e de matriz africana. Ela resiste.
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Rua dos Pretos - O Maranhão dentro de Belém
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◉ O Tambor de Crioula ◉
A percussão se impõe na
manifestação de matriz africa-
na, natural dos quilombos do
Maranhão. Escravos arranca-
dos da África, provenientes do
Guiné, Costa da Mina, Congo
e Angola ajudaram a compor
as matrizes culturais do estado.
Os três tambores feitos a partir
da madeira do mangue, do pau
d’arco, do soró ou do angelin
são cobertos com couro de ani-
mal. Quando das celebrações
por promessa, festa ou entre
amigos, o tambor é afinado a
fogo e tocado com as mãos. O
conjunto de tambores é conhe-
Grafite do bar Escolinha do Reggae. cido como parelha.
Foto: Lilian Campelo
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Rua dos Pretos - O Maranhão dentro de Belém
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Rua dos Pretos - O Maranhão dentro de Belém
◉ A Escolinha do Reggae ◉
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◉ As raízes ◉
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Terra Firme - Um quilombo urbano em Belém
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Terra Firme
Um quilombo
urbano em Belém[1]
Daniel Leite e Rogerio Almeida[2]
[2]
Na época Daniel Leite era estudante do 3º período de Jornalismo da Universidade da
Amazônia (Unama) e bolsista da Agência Unama pelo Direito da Criança e do Adolescente
(Agência Unama). Rogerio Almeida na época professor da Unama e coordenava o projeto de
extensão Agência Unama.
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Terra Firme - Um quilombo urbano em Belém
mundo das águas. A sufocar tudo que foi possível em nome da especulação
imobiliária. Um riomar de gentes inunda a região.
O Tucunduba corta vários bairros de Belém, entre eles, a Terra Firme.
Nascido na década de 1950, o bairro ganhou corpo a partir da ocupação de
terras públicas em áreas aqui tratadas de baixadas (favelas), onde predo-
mina a arquitetura da palafita. O bairro que tem cerca de 60 mil habitantes
acumulou áreas da Universidade Federal do Pará (UFPA), da antiga Facul-
dade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), e do Museu Paraense Emílio Goeldi. Boa parte da
população da área é composta por migrantes internos ou do Nordeste, em
particular do Maranhão.
No território estigmatizado pela violência, os serviços elementares
inexistem ou são precários: saneamento (drenagem e tratamento dos esgo-
tos domiciliares, industriais e comerciais), fornecimento de água, coleta e
tratamento de lixo. O mesmo canal que aproxima os produtores de hortifru-
tigranjeiros do arquipélago de Marajó, e outras regiões, possibilita também
o tráfico de drogas.
Desde a década de 1990, o Tucunduba passa por um projeto de macro-
drenagem. No começo da década de 2000 o projeto foi laureado com o prêmio
“Caixa Melhores Práticas em Gestão Local”, e foi apresentado como exemplo
de novas práticas de gestão da cidade na Conferência Habitat, da Organização
das Nações Unidas (ONU). A política de saneamento básico integrou várias
dimensões: geração de renda, sustentabilidade, empoderamento local, gênero
e multiculturalismo. Além da Terra Firme, o Tucunduba atravessa os bairros
do Marco, Guamá e Canudos, um perímetro da cidade considerado zona ver-
melha pelos órgãos de segurança do estado.
Em 2009, a região integrou o Território do Fórum Social Mundial. A
relação entre a coordenação do evento e a população do bairro foi tensa. Jaime
Soares, na época mestrando em Ciências Sociais na Universidade de São Pau-
lo (USP), refletiu sobre o assunto. Soares avalia que a coordenação do FSM de
Belém tentou ocultar a situação delicada em que vive o entorno do território
escolhido para a realização do Fórum.
Sobre a situação de conflito o autor alerta para a tentativa de ocultação
da região, e a não participação das pessoas do entorno na agenda de ações
do FSM. O artigo registra que nos mapas divulgados pela organização do
evento e dos órgãos públicos, a periferia é apresentada como área verde. O
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Rap, grafite, trançado de cabelo afro são algumas expressões que dão vida aos mutirões culturais
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Terra Firme - Um quilombo urbano em Belém
As oficinas ocorrem por cerca de duas horas, duas vezes por semana.
Sempre no início das noites de terça e quinta, e aglutinam uns 15 jovens, en-
tre 12 a 22 anos. Yasmin Minami soma 18 anos, faz o curso médio na escola
pública Mário Barbosa. Tem feição indígena. É uma das meninas que tocam
a alfaia, um instrumento típico do maracatu de Pernambuco. A adolescente
lembra que reconheceu em si outras culturas, outras pessoas que não ima-
ginaria. “O projeto ajuda a estimular os valores culturais da pessoa que sou.
Passei a reconhecer o espaço em que nasci e vivo de outra maneira,” avalia
a jovem. No mês de abril ela e mais duas adolescentes participaram de um
encontro cultural em Minas Gerais. Foi a primeira vez que viajaram de avião.
O Polo São Pedro cede espaço para as oficinas do Casa Preta. Nele
ocorrem desde 2006, um cipoal de atividades culturais que visam incrementar
a autoestima da juventude do bairro. Tem o status de ponto de cultura onde
são realizadas agendas culturais no campo do teatro, canto coral, violão, flau-
ta, percussão e dança. Um dos grupos surgidos foi o Sementes da Terra.
O casal Odiléia e Edson Lima é responsável pelos projetos do polo, que
demoraram cerca de seis meses para serem formatados. Ele buscava, via cul-
tura, uma forma diferente de evangelizar e debater a cidadania num território
marcado pela violência e o tráfico de drogas. Os oito oficineiros são volun-
tários. No ano de 2011 as experiências chegaram a mobilizar perto de 300
pessoas.
Mas, no ano de 2012 as atividades ainda não foram iniciadas. Odiléia
Lima informa que o Ponto de Cultura deveria ter recursos para três anos.
No entanto, o polo recebeu somente durante um ano. A coordenação ainda
aguarda recursos do governo federal e pleiteia, via projetos, colaboração de
outras fontes.
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Tela Firme - Faz três anos que sete jovens contraporam-se à mídia
hegemônica e produziram seus próprios conteúdos sobre a “quebrada” onde
moram. Assim nasceu, com a mediação do Instituto Universidade Popular
(Unipop), o canal da web Tela Firme.
Matéria do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário do Pará e Amapá
(Sindjuf), de setembro de 2014, conta que o carnaval no bairro foi o primeiro
episódio. A mesma matéria narra que o jornal Canal do Tucunduba e a Rádio
Cidadania precederam a iniciativa na grande rede.
Os jovens envolvidos no projeto são Mailson Sousa (direção); Thalisson
Assis e Fraan Silva (reportagens); Vanessa Alves; Harisson Lopes e Adriano
Carneiro (roteiro e produção) e Francisco Batista (apresentação).
A iniciativa do coletivo de jovens já ganhou notoriedade para além de
suas paragens e socializa as experiências em escolas, faculdades, e projetos
sociais da cidade. Conforme a mesma matéria do Sindjuf, o Tela Firme conta
com correspondentes em outros bairros da cidade.
No melhor espírito colaborativo, os equipamentos foram adquiridos
por meio de colaborações e coletas. Sem fins lucrativos, o projeto visibiliza
uma agenda positiva da Terra Firme.
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Amazônia - Jovens da Região Metropolitana de Belém usam a
cultura como formade ação política
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Amazônia - Jovens da Região
Metropolitana de Belém usam
a cultura como forma de ação
política[1]
Crianças ocuparam a
quadra esportiva do
bairro da Guanabara no
dia do mutirão.
[1]
Material publicado no site Agência Carta Maior, no dia 06 de abril de 2012.
[2]
Na época era professor da Universidade da Amazônia (Unama) e coordenava o projeto de exten-
são Agência Unama pelo Direito da Criança e do Adolescente
[3]
Na época era estudante de do 3º período de jornalismo da Unama e extensionista da Agência
Unama pelo Direito da Criança
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cultura como formade ação política
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cultura como formade ação política
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Faz 10 anos que Preto Michel milita como educador social. O nome de
batismo é Michel Sarmento, tem 35 anos, é pai de um adolescente de 17. O
nome foi uma homenagem ao ídolo pop Michael Jackson. Traja bermuda, tê-
nis e camisa larga, como indica a etiqueta da cultura hip hop. Na noite anterior
havia recebido uma homenagem de uma ONG de Belém pela primeira década
dedicada à ação popular. Parecia cansado.
Na mochila os sprays. Na outra mão o balde com tinta branca. Ajudo a
carregar o balde. Ele divide o grupo em equipes de cinco. A gurizada parece
ansiosa para iniciar os trabalhos. “Tio, quando a gente começa a pichar, inter-
roga um mais afoito”? Michel esclarece: primeira lição - grafite não é pichação.
O sol era forte. Mas, a meninada não arredou o pé. Tudo é muito rápido. O
educador indica os passos iniciais, como retirar o gás do spray. Demonstra a
técnica. Depois pede para que cada um pegue um suporte e faça o mesmo.
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cultura como formade ação política
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O mais novo tem 11 anos. É negro. Tem quatro irmãos. O irmão mais
velho de Bruno de Oliveira tem 18 anos e desistiu de estudar. O caçula tem
seis anos. Ele mora numa ocupação chamada Mariguela, referência ao ativista
comunista nascido na Bahia. O pai é pedreiro e a mãe é diarista. A região é
considerada barra pesada. O educador Domingos conta que o local onde o
garoto mora é de risco, marcada pela presença do tráfico. E que a situação da
moradia é precária.
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cultura como formade ação política
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A Amazônia é “Coisas de Negro”: rodas de carimbó contam uma parte da (re)
existência cultural no Distrito de Icoaraci
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A Amazônia é “Coisas de Negro”[1]:
rodas de carimbó contam uma
parte da (re) existência
cultural no Distrito de Icoaraci
[1]
Trabalho publicado no site da Agência Carta Maior, no dia 03 de fevereiro de 2013.
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A Amazônia é “Coisas de Negro”: rodas de carimbó contam uma parte da (re)
existência cultural no Distrito de Icoaraci
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A percussão é a espinha dorsal do carimbó - Espaço Cultura Coisas de Negro, no bairro de Icoaraci.
Foto: Lilian Campelo
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existência cultural no Distrito de Icoaraci
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As rodas de carimbó são transmitidas via internet - Espaço Coisas de Negro. Foto: Lilian Campelo
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existência cultural no Distrito de Icoaraci
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A Amazônia é “Coisas de Negro”: rodas de carimbó contam uma parte da (re)
existência cultural no Distrito de Icoaraci
ver e Los Hermanos Cover. Além dessa apresentação, antes teremos no dia
primeiro de fevereiro o Buscapé Blues, com uma apresentação de música
autoral” explica Ray.
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existência cultural no Distrito de Icoaraci
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Amazônia – Mulheres negras protagonizam a luta popular
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Amazônia – Mulheres
negras protagonizam a
luta popular[1]
[1]
Publicado no site da Agência Carta Maior, em 12 de julho de 2013.
[2]
Lilian Campelo é jornalista freelance.
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Amazônia – Mulheres negras protagonizam a luta popular
Ela não é bijagó como afirmava a avó, é jita, corpo franzino. Os bijagós –
grupo étnico que habitava o arquipélago da costa da Guiné Bissau – possuem
corpo forte. A rebeldia a acompanha desde menina, também sendo filha de
Nanã, como poderia deixar de ser. Orixá da chuva e da lama, na religião de
matriz africana, e mãe de todos os orixás determina a personalidade forte.
Uma das características de Zélia Amador de Deus.
Talvez seja por isso que a professora da Universidade Federal do Pará
(UFPA), e uma das fundadoras do Centro de Estudos de Defesa do Negro no
Pará (Cedenpa) tenha dado um puxão de orelha no aluno estrangeiro com
quem conversava. “Deixa dessas brasilidades! A tua namorada não tem nome?
Então, que negócio é esse de chamá-la de ‘minha morena’. Eu sei o que há por
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trás desses argumentos e você também”. Ele rebate, “Mas no meu país todos
são negros, aqui não professora”. E a conversa prolonga-se ainda mais, e envol-
ve as questões de identidade do negro no Brasil.
De acordo com antropólogo Kabengele Munanga, professor-titular
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo (USP), no Brasil desenvolveu-se o desejo de branqueamento por
algumas pessoas negras, assim não é fácil definir quem é negro ou não, o
que torna a questão da identidade do negro um processo doloroso. Para
o pesquisador, os conceitos de negro e branco têm por base fundamentos
etnossemânticos, políticos e ideológicos, mas não biológicos. Nos EUA
não existe pardo, mulato, ou mestiço. Pessoas descendentes de negros se
declaram negras, por mais que tenham uma aparência de branco, o que
não ocorre no Brasil.
Entre um argumento e outro, o resumo do debate é que o estudante
originário da República Democrática do Congo veio ao Brasil para estudar, e
assim galgar melhores oportunidades. Ao conhecer a Universidade de Cam-
pinas (Unicamp) tenta convencer a professora para que seja transferido, e ar-
gumenta: “A universidade de lá professora tem outra estrutura, comparada
com as faculdades de primeiro mundo. Acredito que lá posso ter melhores
oportunidades do que aqui”. Ela, com ar paciente e sereno, mas com voz firme
mostra mais uma vez de quem é filha: “Falando assim você agora nos coloca
como uma universidade de terceiro mundo! É isso mesmo? Não pode. Veja no
que você está falando”, diz com rispidez.
Nos dias atuais as oportunidades são outras. No entanto, os percal-
ços ainda existem. E eram bem maiores quando a professora Zélia Ama-
dor, ainda nos tempos do Marajó do romancista Dalcídio Jurandir (1909-
1979) rememora a história dos avós, Manuel Faustino de Deus e Francisca
Amador de Deus, “Meus avós saíram do Marajó depois que a minha mãe
engravidou. Quando eu nasci ela tinha acabado de festejar 16 anos. Eles fi-
caram muito desgostosos porque não era isso que eles desejavam para ela.
Assim, partiram para Belém, para que eu pudesse ter outra sorte, diferente
do destino da minha mãe”.
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Em 1974 a menina jita que não participou da peça da escola fez o curso
de formação de ator, se fez atriz e diretora de teatro. Escreveu as próprias pe-
ças depois de adulta. As memórias que encenam a vida de Zélia se concentram
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Nilma Bentes - milita há mais de 30 anos junto ao Cedenpa. Foto: Laís Tavares
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Amazônia – Mulheres negras protagonizam a luta popular
Nega Suh e sua arte foram para além das fronteiras de Belém. Fotos: arquivo de Suh
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Coletivo Rádio Cipó – A inquietação cultural na quebrada da Amazônia
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Coletivo Rádio Cipó –
A inquietação cultural
na quebrada da Amazônia[1]
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), em outubro de 2008 e posterior-
mente no site Overmundo.
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◉ Primeiros passos ◉
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Coletivo Rádio Cipó – A inquietação cultural na quebrada da Amazônia
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Coletivo Rádio Cipó – A inquietação cultural na quebrada da Amazônia
Neto de escravizados vindos para o Marajó alcançou o sucesso somente após os 70 anos de
vida, quando passa a integrar o Coletivo Rádio Cipó.
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Coletivo Rádio Cipó – A inquietação cultural na quebrada da Amazônia
◉ O mestre em detalhes ◉
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Ditadura na Amazônia – Hecilda Veiga e a memória de
uma mulher do front
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Ditadura na Amazônia –
Hecilda Veiga e a memória
de uma mulher do front[1]
[1]
Trabalho publicado no site da Agência Carta Maior, no dia 17 de março de 2013. Lilian Campelo
é jornalista. Entrevista – Lilian Campelo e Luena Barros (jornalistas) Dilermano Gadelha (estu-
dante de jornalismo da UFPA).
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◉ Amazônia Integrada ◉
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Ditadura na Amazônia – Hecilda Veiga e a memória de
uma mulher do front
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Ela tem pouco mais de um metro e meio. Corpo franzino e cabelos ra-
los. O físico frágil não a impediu de integrar um grupo de ativistas em defesa
dos direitos humanos em Belém, capital do Pará, no período conhecido como
de exceção na história política brasileira (1964-1985). O raciocínio articulado
que recompõe com entusiasmo fatos históricos, ganha forma a partir de uma
voz suave.
Ao lado de outras mulheres como Marga Rothe, Eneida Guimarães, Ro-
saly Brito, Regina Lima, Ana Célia Pinheiro, Isabel Cunha, a professora do
Instituto de Filosofia e de Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará
(UFPA), Hecilda Mary Ferreira Veiga ajudou a fundar a Sociedade de Defesa
de Direitos Humanos (SDDH), e militou no PC do B e na Ação Popular (AP).
Num instante em que o PC do B e a AP rivalizavam a hegemonia da esquerda
com o PCB.
Além de Hecilda e seus pares mais próximos, é conhecida na história do
Pará a atuação do ex-deputado e escritor Benedito Monteiro, do professor e
escritor João de Jesus Paes Loureiro, Cláudio Barradas, Ronaldo e Ruy Barata
e Raimundo Jinkings contra o regime. A pessoa que se depara com a educado-
ra nos corredores da UFPA não imagina as agruras que a mesma passou nos
cárceres durante a ditadura militar.
“Eu acho que meu coração ainda é de estudante, como diz a música de
Milton Nascimento”. Assim a professora começa a narrar a experiência que
vivenciou durante o período de exceção. Antes, tira da bolsa um lenço branco
decorado nas bordas com pequenas flores coloridas. Põe em seu colo, lugar
mais acessível às mãos, que livres poderá usá-lo caso precise.
O narrar da história se faz a partir da reconstrução de fatos. É um de-
senrolar de lembranças de homens, mulheres e crianças que fazem parte desse
enredo, mas o que se observa é que o protagonista da memória oficial, ao lon-
go de muito tempo, teve um narrador, a figura masculina.
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uma mulher do front
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◉ O Lenço branco ◉
Contar o que foi 1968 faz parte da memória coletiva. Enfrentar o pas-
sado é o primeiro passo para que a sociedade entenda os fatos ocorridos e,
assim, não permita que crimes contra a humanidade voltem a acontecer, ar-
gumenta Hecilda.
“Eu tinha certa dificuldade de falar sobre isso, mas já passou aquela fase
mais difícil dos primeiros tempos. Mas eu acho que é preciso que a gente conte
tudo isso para que não se repita mais. Poxa, quantas vidas interrompidas! A
vida de uma geração. Até hoje fico muito comovida quando ouço a música
‘Coração de estudante’: ‘Podaram seus momentos, desfiaram seus destinos’.
A sensação que eu tenho até hoje é essa, de que eu estou correndo contra o
tempo, por que eu tive a minha vida acadêmica interrompida. Eu concluí meu
curso depois de 15 anos. E, apesar disso, eu ainda posso dizer ‘ah, eu sobrevivi’,
mas quantos outros não sobreviveram?”
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uma mulher do front
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◉ Sobre os autores ◉
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