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PE RSIS TÊ NC IA DO S HE RB IC ID AS IM AZ AQ UI N E IM AZ ET HA PY R NO SO LO

E OS EFEITOS SOBRE PLANTAS DE MILHO E PEPINO1.

DIONÍSIO L. P. GAZZIERO2 , DÉCTO KARAN2, ELEMAR VOLL2 c ADOLFO ULBRICH 3

RESUMO

Dois experimentos foram instalados em milho e da hiomassa seca e altura das plantas de
Londrina, PR, com o objetivo de avaliar a pepino. A fitotoxicidade de imazaquin e de
persistência dos herbicidas imazaquin e imazethapyr imazethapyr não foi considerada prejudicial às
no solo, aplicados eM pré emergência e pré e pós plantas de milho. quando a semeadura ocorreu 90
emergência. respectivamente. Nas subparcelas foram dias após as suas aplicações, respectivamente em pré
usados imazaquin nas doses de 0,12: 0,15 (normal) e e pós-emergência. As plantas de pepino mostraram-
0,30 kg/ha e imazethapyr nas doses de 0,1 (normal) e se mais sensíveis aos herbicidas do que as plantas de
0,2 kg/ha. Nos blocos foram distribuídos seis épocas milho, especialmente ao imazaquin. Para imazaquin,
de semeadura: 0, 30, 60, 90, 120 e 150 dias após a nas doses normais, os sintomas desapareceram aos
aplicação (DAA). A atividade residual foi avaliada 120 dias após aplicação. No mesmo período, para
com a semeadura do milho Pioneer 3072, no campo, imazethapyr, na menor dose, ocorreu recuperação da
e do pepino em casa de vegetação. Os resultados altura das plantas de pepino, mas não do seu peso.
foram descritos com base nas avaliações visuais de Palavras chaves: Resíduo. bioensaio,
fitotoxicidade e hiomassa seca das plantas de fitotoxicidade, Zea mays, Cucumis sativus.

ABSTRACT

Pe rs is te nc e of im az aq ui n an d im az et ha py r in th e so il , an d th ei r ef fe ct s on co rn an d cu cu mb er
plants

The persistence of imazaquin (pre- 3072) was evaluated in the field, and for cucumber
emergence) and imazethapyr (pre and post- in a bioassay, in greenhouse. Corn plant
emergence) in the soil, and their effects on corn phythotoxicity was visually evaluated and dry
and cucumber plants were evaluated in two weight were recorded as well as dry weight and
expriments in Londrina, Paraná State. Treatments height for cucumber plants. Imazaquin (pre-
of imazaquin 0,12, 0,15 (normal) and 0,30 kg./ha, emergence) and imazethapyr (pre and post-
and imazethapyr 0,1 (normal) and 0,2 kg/ha were emergence) phytotoxicity were not considered to
arranged in a split-plot design. Six sowing dates be harmful to corn plants, when sowing occurred
(plots), including 0, 30, 60, 90 120 and 150 days 90 DAA. Cucumber plants showed to be more
after herbicide application (DAA) were arranged sensitive to the herbicides than corn plants,
in blocks. Residual activity for corn (Pioneer especially to imazaquin. Symptoms disappeared

1Aceito para publicação em 20/01/97 e na forma revisada em 13/10/97.


2 Engo Agr o. Pesquisador da tmbrapa Soja. Caixa postal 231. CEP 86001-970. Londrina/PR
3 Engo Agr o. Mestrando da UEL. Caixa Postal 6001. CEP 86051-970. Londrina/PR

162 Planta Daninha, v. 15, n. 2, 1997.


P
D. L. P. Gazziero et al.

120 DAA for imazaquin, at normal dosis. After the dosis, but not its weight.
same period, cucumber plant height recovered Ke y wo rds : Resi due, bioassay,
from imazethapyr phytotoxicity at the lowest phytotoxicity, Zea mays, Cucumis sativus.

INTRODUÇÃO em comparação com a aplicação em pré-plantio e


incorporado.
Os herbicidas ima zaqu in e ima zet hap yr Reco mend a -se um inte rvalo de 300 dias
tem sido utilizados com frequência, no controle de entre a aplicação de imazaquin ou imazethapyr e a
plantas daninhas da cultura da soja. A absorção semeadura do milho em rotação, por questões de
des tes pro dut os oco rre tan to por via rad icu lar segurança, uma vez que não existem informações,
como foliar e a translocação se dá pelo floema e sobre o assunto, no Brasil. No entanto, quando se
xi le ma , ac um ul an do -se no s me ri st em as de cu lt iv a o mi lh o "s af ri nh a" , es te in te rv al o é
cr es ci me nt o da s in va so ra s, on de pr ov oc am reduzido para, aproximadamente, 120-150 dias.
necrose. A pr eo cu pa çã o qu e se co lo ca é se a
Esses herbicidas possuem característica de persistência dos produtos pode afetar e a que nível
persistir no solo. Se por um lado isto é favorável, a produção do milho "safrinha". O objetivo do
por proporcionar controle residual durante todo o pr es en te tr ab al ho fo i de te rm in ar a cu rv a de
ciclo da soja, por outro pode constituir-se em risco d e g r a d a ç ã o d o s h e r b i c i d a s i ma z a q u i n e
para culturas sucessivas. Essa característica, no im az at ha py r, be m co mo a in fl uê nc ia de ss es
entanto, tem causado preocupação aos agricultores produtos sobre as plantas de milho (Pioneer-3072)
que praticam a rotação de culturas, e e de pepino.
princ ipal men te aqu ele s que cul ti vam o mil ho
safrinha, em sucessão à soja. Para Vidal e Fleck MATERIAL E MÉTODOS
(1994), os prod utos apre sent am pote ncia lida de
para causar danos também ao girassol, cultivado Dois experimentos foram instalados na
em rotação com a soja, sendo seu maior efeito na faze nda da Embr apa-Soj a em Lond rin a, PR, na
red uçã o do núm ero de pla nta s (Fl eck e Vid al, safra 1993 /94. Um expe rime nto foi instal ado a
1994). ca mp o, on de f or am ap li ca do s os pr od ut os
Em estudos de dis sip ação, Lou x et al. imazaquin e imazethapyr na cultura da soja e em
(1989) verificaram que aproximadamente 80% do se gu id a, de ac or do co m ca da tr at am en to , fo i
ing red ien te ati vo des ses pro dut os é deg rad ado se mea do o mil ho hí bri do Pi on eer 30 72 co mo
co m ce rc a de 60 di as e qu e o re st an te po de esp éci e rea gen te, em sei s dif ere nte s épo cas . O
exced er a 160 dias. Em solos argil osos com alto ou tr o ex pe ri me nt o fo i in st al ad o em ca sa de
teor de maté ria orgâ nica, a dissipação é meno r vegetação, utilizando o solo coletado no primeiro
Loux et al. (1989) Vários são os fatores que ex pe ri me nt o us an do pl an ta s de pe pi no co mo
in fl ue nc ia m a pe rs is tê nc ia de im az aq ui n e espécie reagente.
im az et ha py r. So lo s co m bo as co nd iç õe s de O so lo fo i de sc ri to co mo te rr a ro xa
umidade promovem dissipação mais rápida (Loux e estruturada com 75% de argila e 2,7% de matéria
Reese, 1993), assim como raios ultra-violeta e orgânica. Foi utilizado o delineamento
inf ra-ver mel ho tam bém pro voc am deg rad açã o experimental de blocos ao acaso, arranjados em
mais rápida (Bashan e Lavy 1987 e Curran et al., par cel as sub -div idi das , med ind o 2,5 m x 5,0 m,
1982). Isto pode explicar a menor persistência co m qu at ro re pe ti çõ es . Na s pa rc el as fo ra m
quando o produto é aplicado em pré-emergência distribuídos os produtos imazaquin nas doses de

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Persistência dos herbicidas imazaquin e imazethapyr no solo e os efeitos sobre plantas de milho e pepino.

0,12; 0,15 (normal) e 0,30 kg/ha, aplicado em pré- de ca mp o. Ut il iz ou -se a cu lt ur a do pe pi no


eme rgê nci a, e ima zet hap yr, nas dos es de 0,1 0 (C uc um is sa ti vu s) co mo pl an ta re ag en te . As
(normal) e 0,20 kg/ha, aplicado em pré e pós avaliações constaram da observação da altura e da
emergência. Nas subparcelas foram distribuídas, biomassa seca das plantas aos 14 e 28 dias da
al eat ori ame nt e, sei s ép oca s de sem ea du ra de se me ad ur a. Em am bo s os ex pe ri me nt os as
mil ho, de 0, 30, 60, 90, 120 e 150 dia s apó s a variáveis foram analisadas estatisticamente.
aplicação de cada produto.
O preparo de solo utilizado foi na forma RESULTADOS E DISCUSSÃO
convencional (aração + gradagem). Foi semeada a
so ja cu lt iv ar BR -29 , ad ub ad a co m 25 0k g da O balanço hídrico decendial realizado no
fór mula 0 - 20 - 20 e apl ica dos os herbicidas e período de instal ação do expe rime nto à camp o
doses já descritas. De 30 em 30 dias, a partir da mostra ter ocorrido excedente hídrico a partir do
ap li ca çã o (z er o di a) a so ja fo i el im in ad a e final de novembro até o inicio de março, mês em
semeado o milho híbrido Pioneer 3072. Para cada que se registrou déficit hídrico. Este déficit voltou
ép oc a de se me ad ur a fo ra m re al iz ad as tr ês a ser registrado entre o final de abril e o final de
avaliações de fitotoxicidade: 14, 28 e 42 dias após maio, a partir do qual houve novamente excedente
a se me ad ur a (D AS ) e da bio ma ss a se ca da s hídrico.
Das três avaliações (14, 28 e 42 DAS)
pl an ta s de mi lh o. A es ca la ut il iz ad a fo i a
r e al i za d as e m c a d a ép o c a de se me a d u r a ,
po rc en tu al (0 - 10 0% ), on de ze ro si gn if ic ou
considerou-se que a dos 28 DAS foi a mais
ne nh um a si nt om a e 10 0% a mort e to ta l da s
representativa dos resultados obtidos, por melhor
plantas. Estabeleceu-se 30% como o limite crítico, ex pr es sa r a in te rf er ên ci a do s pr od ut os no
a pa rt ir do qu al fo i es ti ma do qu e os da no s desenvolvimento das plantas. Dessa forma serão
p r o v o c a d o s p o d e r i a m r e f l e t i r , d e f o r ma ap re se nt ad os e di sc ut id os os gr áf ic os de ss a
irreversível, na produção. a v a l i a ç ã o . E mb o r a a d o s e d e i ma z a q u i n
A aplicação dos produtos foi feita com recomendada seja de 0,15 kg/ha, os agricultores
pulverizador de precisão a CO,, com volume de utilizam, com frequência, a dose de 0,12 kg/ha,
calda de 250 litros/ha. A temperatura do ar variou vi sa nd o re du zi r en tr e ou tr os fa to re s a su a
de 30°C a 33°C durante as aplicações e a umidade persistência no solo.
relati va do ar de 68% a 74%. A umidade do solo No primeiro experimento, aos 28 DAS, foi
era adequ ada. Os trata mentos com imazet hapyr, observado que quando o milho foi semeado no dia
em pós-mergência, foram aplicados 11 dias após a da apli caçã o de imaz aqui n na dosa gem de 0,12
semeadura. kg/ha, o percentua l de fitotoxici dade foi próximo
a 75%. Nas semeaduras realizadas posteriormente
O segundo experimento foi conduzido em
a fitotoxicidade foi gradativamente menor com o
casa de vege taçã o, util izan do como subs trat o o
passar do tempo. Aos 90 DAA o dano registrado
solo cole tado no dia da semeadur a do milho de
foi inferior a 30%, com os sintomas
cada tratamento. Com o auxílio de um trado, oito desaparecendo totalmente aos 120 dias (Figura 1).
subamostras foram coletadas a 5cm de Comparativament e, na dose normal de 0,15kg/ha,
pr of und idad e, par a a com po si çã o da amo st ra a fit otoxicidade ati ngiu 90%, port anto supe rio r
principal. O solo foi congelado e conservado até o àquela registrada com a dose 0,12 kg/ha, com os
final do primeiro experimento, quando foram sintomas desaparecendo em aproximadamente 120
col oca dos em vas os plá sti cos de 200 ml. Ess es di as . O do br o da do se no rm al pr ov oc ou na s
vasos foram dispostos no mesmo delineamento e plantas fitotoxic idade ainda maior, e aos 150 dias
número de repetições utilizadas no experimento os sintomas também desapareceram. Resultados

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Persistência dos herbicidas imazaquin e imazethapyr no solo e os efeitos sobre plantas de milho e pepino.

FIGURA 2. Avaliação do efeito da persistê ncia de imazethapyr aplicado em pré e pós-emergência, sobre
a cult ura do milh o híbr ido P-3072 , cult ivad o em safr inha . Real izad a aos 28 dias após a
semeadura. Embrapa Soja. Londrina - PR, 1997.

As médias da biomassa seca por planta de sugere-se intervalo mínimo de 90 a 120 DAA para
mi l h o na s ci nc o ép o ca s de a va l i a çã o s ão o pla nti o do mil ho, por que stã o de seg ura nça .
ap re se nt ad as na Ta be la L A se xt a ép oc a fo i De ve -se re ss al ta r qu e a di fe re nç a de pe so
afetada por ocorrência de geadas o que observada nas colunas de 0 a 120 DAS é devida
in viab il iz ou a av al ia çã o. Ve ri fi co u -se ef ei to ao efeito época de semeadura que tende a reduzir
severo de todas as doses de imazaquin sobre as à partir de 15 de outubro. O baixo peso obtido no
plantas de milho quando semeadas imediatamente tratamento com o dobro da dose de imaze thap yr
após a aplica ção do produt o (0 dias). Na maio r aos 120 dias em pós-emergência é provavelmente
dose, os efeit os severos ainda persistiam aos 30 devido a outros fatores não ligados ao tratamento
di as . Es ta ti st ic am en te nã o fo ra m ob se rvad as aplicado.
diferenças na biomassa seca aos 60 DAA, mas

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D. L. P. Gazziero et al.

TABE LA 1. Média da biomassa seca por plan ta de milh o, sob dife rent es époc as de seme adur a, em
resposta à aplicação dos produtos imazaquin e imazethapyr. Embrapa Soja. Londrina PR,
1997.

FIGURA 3. Bio mass a sec a e alt ura de plantas de pepi no, qua ndo sub meti das a dif erentes dose s de
imazaquin, comparado com a testemunha. Embrapa Soja. Londrina - PR, 1997.

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Persistência dos herbicidas imazaquin e imazethapyr no solo e os efeitos sobre plantas de milho e pepino.

No segund o experimento, nas avalia ções das plantas (Figura 4). Na aplicação de
da biomassa seca e altura das plantas de pepino, im az et ha py r em pr é-em er gê nc ia , co m a do se
semeadas em solos tratados com diferentes doses normal , a altura das plantas não foi mais afeta da
de imazaquin, foram necessários 120 dias para pelo produto persistente no solo aos 90 dias da
eliminar qualquer efeito do produto sobre a planta apli caçã o, mas fora m nece ssár ios 150 dias para
re ag en te co m as do se s de 0, 12 e 0, 15 kg /h a que a biomassa seca fosse igual ao da testemunha.
(Figura 3). Com o dob ro da dose recomen dada Com o dobr o da dose (0,2 kg/h a), tant o a altu ra
(0,3 kg/ha), aos 120 dias, não foi detectado efeito como a biomassa seca foram inferiores aos da
sobre altura, mas a biomassa seca baixa indicava te st emun ha ap ós 15 0 di as da ap li ca çã o. Es te
haver persistência do produto. res ult ado mos tra que as pla nta s de pep ino são
Co m ima ze tha py r ap li ca do em pó s - mais sensíveis ao imazethapyr que as plantas de
emergência tanto na dose normal, 0,1 kg/ha, como milho, uma vez que mesmo não havendo sintomas
na dose dobrada, foram necessários 150 dias para de fitotoxicidade no milho aos 150 dias após a
desaparecerem os efeitos sobre a altura das plantas ap li ca ção (0 ,2 kg/ ha - pr é) aind a se ob servou
de pepin o. No entanto, este mesmo perí odo não efeit o do produto sobre a altur a e bioma ssa seca
foi suficiente para a recuperação da biomassa seca das plantas de pepino na mesma época.

FIGURA 4. Biomassa seca e altura de plantas de pepino, quando submetidas a diferentes doses e épocas
de aplicação de imazethapyr, comparado com a testemunha. Embrapa Soja. Londrina - PR,
1997.

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D. L. P. Gazziero et al

AGRADECIMENTOS FLECK, N.G., VIDAL, R.A. Injúria potencial de


herbicidas de solo ao giras sol. III - imaz aquin e
Os au to re s ag ra de ce m ao s té cn ic os ima zethap yr. Plant a Dan inh a, v.1 2, p. 39 43,
agrícolas Mario Naka no e Rein aldo Moriyama 1994.
pela dedicação.
LOUX, M.M., REESE, K.D. Effect of soil pH on
ad so r p tio n and p er si st e nc e o f i ma zaq ui n.
LITERATURA CITADA Weed Sci., v.40, p.490-496, 1993.

LOUX, M.M., LIEBL, R.A., SLIFE, F.W.


BASHAN, G.W., LAVY T.L. Microbial and Av ai la bi li ty an d pe rs is te nc e of im az aq ui n,
ph ot ol yt ic di ss ip at io n of im az aq ui n in so il im az et ha py r an d cl om az on e in so il . We ed
Weed Sci., v.35, p.865-870, 1987. Sci., v.37, p.259-267, 1989.

CURRAN, W'.S., KNAKE, E.L., LIEBL, R.A. VIDAL, R.A., FLECK, N.G. Injúria potencial de
Co rn (Z ea ma is ) inj ur y fo llo wi ng us e o f herbicida de solo ao girassol IV -
c l o ma z o n e , c h lo r i mu r o n , i ma z a q u i n a n d Rendimento de aquênios e componentes do
imazethapyr. Weed Tecnol., v.5, p.539-544, rendimento. Planta Daninha, v.12, p.44-51,
1982. 1994.

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