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Revista do Líder, volume 4, número 8, janeiro a abril de 2022

ISSN 2676-0258
www.revistadolider.com
A Revista do Líder é uma publicação gratuita que permite acesso
livre aos seus conteúdos. Aborda temas vinculados ao Ministério dos
Desbravadores, especificamente, os voltados ao exercício da
liderança e do serviço nesse ministério.

Ser uma publicação que oriente e fomente a liderança e o serviço no


Ministério dos Desbravadores, fazendo circular conhecimentos
pertinentes à formação de líderes de desbravadores.
■■■

COMISSÃO EDITORIAL
Victor José Machado de Oliveira (Editor Chefe).
Pr. Ivay Pereira Araújo (Editor Consultivo).
Djeison Cesar Batista (Editor Associado – Conteúdo).
Marcos Paulo Leitzke (Editor Associado – Forma).
Marcus Vinícius Lopes Gouveia (Editor Assistente – Conteúdo).
Thauane Martins Lima (Editora Assistente – Forma).
Lídia Valadares do Nascimento Campos (Secretária Executiva).
Éttore Favarato de Oliveira (Diretor de Marketing).

PROJETO GRÁFICO
Lucas Pereira de Freitas.
Novo Regulamento de Uniformes 2020

CORREÇÃO ORTOGRÁFICA E ESTILÍSTICA


Camila Perrud (Jornalista).
Camila Souza (Licenciada em Letras-Português). Tyler Nix, artista digital de Los Angeles, EUA.
Luciana da Silva Alecrim (Licenciada em Letras-Português).
Página: https://unsplash.com/@nixcreative
CAPA E FOTOS
Imagem da capa: Tyler Nix.
Fotos com licença de uso gratuita: Pixabay | https://pixabay.com/pt/ e
Unsplash | https://unsplash.com/
Fotos com créditos de seus autores.
Fotos recuperadas da internet.
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Casandra Ponce de Leon (Mestre em Enfermagem), Djeison Cesar Batista
(Doutor em Engenharia Florestal), Eveline Andrade Ferreira (Doutora em O texto deve ser inédito e estar de acordo com as políticas
Educação), Marcus Vinícius Lopes Gouveia (Bacharel em Farmácia), Pablo
Rios (Especialista em Literatura e Linguística), Victor José Machado de de seções.
Oliveira (Doutor em Educação Física), Vinícius Dias Kümpel (Mestre em
Biociências). Os artigos enviados à Revista do Líder são de total respon-
sabilidade dos autores.
COLABORADORES DESTE NÚMERO
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A autoria mantém os direitos autorais e concede à Revista
do Líder o direito de primeira publicação.
CONTATO
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pensamento dos autores.
O que você encontrará nesta edição

EDITORIAL
4 anos de Revista do Líder! ........................................................................................... e-0052 03
Marcos Paulo Leitzke

MENSAGEM MINISTERIAL
Quando a oposição vem daqueles que estão ao seu lado .............................................. e-0053 04
Diego Oliveira da Costa

SALVAÇÃO E SERVIÇO
“Fazem a diferença”: João 13 ....................................................................................... e-0054 05
René Roald Graf Maiorov

OLHAR DO ESPECIALISTA
O Clube de Desbravadores entre a modernidade sólida e a modernidade líquida:
uma análise sociológica ................................................................................................ e-0055 07
Victor José Machado de Oliveira

PROJETOS E MATERIAIS
Cerimônia do Fogo ....................................................................................................... e-0056 10
Clube de Líderes Monte Everest

ARTIGO
O processo de escrita como parte da formação do líder de desbravadores .................... e-0057 12
Victor José Machado de Oliveira

INOVAÇÃO E ENSINO
A importância do orientador na formação de líderes de desbravadores ........................ e-0058 18
Bruno Batista Coutinho da Silva

ENTREVISTA
Super Desbravador: Entrevista com Silas Silva ............................................................. e-0059 22
Revista do Líder

TESTEMUNHO
Como é bom fazer as coisas corretamente! ................................................................... e-0060 26
Marcos Paulo Leitzke

COMENTÁRIO CRÍTICO
Análise das especialidades da área de Habilidades Domésticas..................................... e-0061 27
Djeison Cesar Batista
marcospauloleitzke@hotmail.com
Editor Associado – Revista do Líder
Líder de Desbravadores – Associação Sul
Espírito Santense, USEB/DSA

Temos também um Testemunho escrito por mim e


vivido pelo meu clube, o Clube Portadores da Histó-
ria. Após passar pela experiência que passamos, senti
“Como é bom fazer as coisas corretamente!”. Você faz
aranata, líderes! É com muita alegria que lan- as coisas corretamente em seu clube? Leia e entenda
çamos o oitavo número da Revista do Líder, a como isso é importante!
revista que eleva a sua liderança! Estamos muito feli- Por último, no Comentário Crítico, é apresentada
zes e gratos por que estamos completando 4 anos de uma “Análise das especialidades da área de Habilida-
Revista do Líder. “Até aqui nos ajudou o Senhor”. des Domésticas”. Reflexões são apontadas para um
Neste número, temos nove textos, a começar pela momento de revisão do Manual de Especialidades.
Mensagem Ministerial em que se aborda uma difícil Espero que você, amigo leitor, aprecie os artigos
questão que todo líder passa ou passará, que é: desta edição e aprenda com eles. A propósito, não
“quando a oposição vem daqueles que estão do seu poderia terminar este editorial sem te fazer um convi-
lado”. Você já passou por isso? te: você tem alguma experiência legal, que deu certo
Na seção Salvação e Serviço, temos uma reflexão em seu clube ou região? Escreveu algo interessante
sobre o texto de João 13 sobre o exemplo da liderança em uma de suas classes de liderança? Tem algum tes-
de Jesus, pautada em quatro pontos: o poder do temunho marcante?
exemplo, a humildade, o serviço e o amor. Não guarde isso só para você. Escreva para a Re-
Na seção Olhar do Especialista, é apresentada uma vista do Líder e ajude a elevar a liderança dos nossos
análise sociológica sobre o “Clube de Desbravadores leitores!
entre a modernidade sólida e a modernidade líquida”. Espero que tenha uma ótima leitura e que Deus te
É abordado o estilo de liderança “sólido” com uma abençoe!
geração de liderados que apresenta uma identidade
Maranata!
“líquida”.
A seção Projetos e Materiais desta edição traz um
artigo escrito pelo Clube de Líderes Monte Everest Guarapari, ES, abril de 2022.
sobre a “Cerimônia do Fogo”. O que podemos apren-
der com essa experiência? Vale a pena conferir!
O Artigo de capa dessa edição tem como título: “O
processo de escrita como parte da formação do Líder
de Desbravadores” e trata da temática da formação no
Clube e como tem sido necessário que jovens desen-
volvam o dom da escrita para a obra.
Na seção Inovação e Ensino, o tema da formação
continua com um texto sobre “A importância do ori-
entador na formação de Líderes de Desbravadores”.
Saiba mais o que é e o que faz um orientador para a
formação de novos líderes.
Nossa Entrevista desta edição é com o Silas Silva,
da página @superdesbravador. Vamos conhecer um
pouco do seu dia a dia na produção de conteúdos pa-
ra essa página que tem contribuído para o ministério.
Você já segue a página @superdesbravador no Insta-
gram? Eu sigo!
diego.costat@adventistas.org
Pastor do Distrito do Pedra 90
Associação Leste Mato-Grossense, UCOB/DSA

liderança de Moisés bateu à porta. O texto bíblico diz


que “falaram Miriã e Arão contra Moisés” (Nm 12:1). O
motivo? O relato diz que era devido ao seu casamento
com uma mulher estrangeira.
Se sofrer oposição de desconhecidos já é difícil, ima-
gina dentro da própria casa? O texto diz que também
havia um questionamento deles sobre Deus ter escolhi-
do Moisés para se relacionar com Ele. Em resumo, a
indagação e revolta dos irmãos de Moisés, principal-
mente de Miriã, envolvia o poder da liderança.
Muitas vezes em nossos clubes há uma disputa de
liderança traz muitas alegrias para os que estão
poder entre os líderes e entre os desbravadores. Esse
envolvidos, mas também pode trazer alguns dis-
sentimento aconteceu na história de Moisés e também
sabores. Ao mesmo tempo em que é um privilégio, tam-
com os discípulos, quando fizeram um pedido que en-
bém é um fardo em alguns momentos. Quando se trata
volvia poder, ou seja, quem se sentaria ao lado do Mes-
de desenvolver a liderança para conduzir um grupo que
tre (Mc 10:35-45).
está cada vez mais ativo e descobrindo novas coisas por
meio de um clique, pode-se dizer que é um desafio ain- A oposição muitas vezes vem carregada de críticas
da maior. sobre a nossa forma de liderar, nosso jeito de falar, nos-
sa maneira de conduzir os problemas e de tomar deci-
Sempre iremos encontrar pessoas com as quais é
sões. O fato é que quanto mais liderarmos, mais suscetí-
difícil se relacionar. Às vezes nem precisamos ir muito
veis estaremos a receber oposição por parte dos lidera-
longe, nós mesmo somos difíceis em várias situações e é
dos.
sábio reconhecer nossa fragilidade. Porém, dentro des-
se processo de liderança, em que é necessário gerenci- Voltando à história de Moisés, podemos extrair algu-
ar, resolver conflitos e aconselhar, vem algo que tira o mas lições para nossa liderança quando enfrentarmos
sono de muitos líderes: a oposição. oposições.
O dicionário Unesp do Português Contemporâneo 1. Lembrar de que o Senhor está conduzindo Sua
define a oposição como “objeção, resistência, contesta- obra e Ele está atento aos Seus servos. “O SENHOR o
ção, diferenciação e contraste”. Para nossa reflexão, ouviu” (Nm 12:2).
iremos focar na primeira ação destacada pelo dicioná- 2. Lembrar de que a obra do Senhor é valiosa para o
rio, que é objeção. Céu, assim Ele irá se manifestar em sua defesa. “E a ira
A liderança envolve vários aspectos, um deles é a do Senhor contra eles se acendeu” (Nm 12:9).
aceitação dos liderados frente às ideias e iniciativas do 3. Devemos orar pelas pessoas que se opõem a nossa
líder. A oposição vinda dos liderados causa em muitos liderança. “Moisés clamou ao Senhor” (Nm 12:13).
desânimo, raiva, ira e até mesmo, em algumas situações
4. Por fim, devemos ter um relacionamento tão pro-
extremas, saídas repentinas do cargo devido à pressão.
fundo com o Espírito a ponto de que cada um de nós
Assim, devemos refletir sobre qual tem sido a nossa ati-
seja chamado de “muito manso, mais do que todos os
tude frente às oposições que sofremos em relação a nos-
homens que havia na sobre a terra” (Nm 12:3).
sa “liderança”.
Querido líder, em algum momento as oposições irão
Interessante notar que Deus não nos deixou na escu-
bater à porta de sua liderança. O desejo de Deus é que
ridão quanto à oposição que os servos dEle enfrentam
você esteja tão ligado à Ele que seu primeiro impulso
quando ocupando cargos de liderança. Aqui quero des-
seja restaurar o relacionamento com o opositor e de-
tacar a história de Moisés e de como ele enfrentou opo-
monstrar mansidão perante suas queixas.
sição daqueles que estavam ao seu lado, ou seja, em seu
seio familiar. Que o Senhor te capacite diariamente pelo poder do
Espírito Santo!
Moisés, Arão e Miriã formavam um núcleo de ir-
mãos extremamente envolvidos na obra do Senhor, po- Maranata!
rém em um momento de suas vidas, a oposição contra a Cuiabá, MT, abril de 2022.
Imagem: falco por Pixabay

rrgraf@hotmail.com
stavam jantando tranquilamente, porém,
Licenciado em Administração
suas mentes não estavam tranquilas. Dis- Tesoureiro assistente – Associação Argentina
frutavam a presença de seu Mestre, mas alguns do Sul, UA/DSA
pensamentos interferiam em seu estado de felici-
dade. Por um lado, viam o rosto de Jesus angustia- mente em poucas horas.
do. Isso não era normal. Sentiam simpatia por seu Não havia tempo a perder. Jesus desejava dei-
Mestre, apesar de não ousarem dizer nada. Por xar alguns ensinamentos gravados de forma inde-
outro lado, a discussão sobre quem seria o maior lével nas mentes de seus seguidores. Ele se levan-
no suposto novo reino que acreditavam que Jesus tou do jantar, removeu os elementos que poderi-
estava prestes a estabelecer havia vindo à tona am atrapalhá-lo, pôs água em uma vasilha e, para
com a falta de servos para lavar os seus pés ali no espanto (e possivelmente terror) de seus discípu-
cenáculo. Os olhares receosos entre si buscavam los, começou a lavar os seus pés e secá-los com
evitar para ser eleitos para essa tarefa “servil”. uma toalha.
Jesus olhava seus discípulos e percebia com O capítulo 13 de João nos deixa pelo menos
tristeza que não estavam espiritualmente prepara- quatro assuntos bem claros:
dos para o que estava por desencadear-se furiosa-
1) O poder do exemplo (v. 14, 15): Somente pala- culpas para não servir aos outros só porque não são
vras não teriam tanto poder e influência. Jesus fez e pessoas das quais não nos agradamos ou porque pare-
exemplificou o que pregou. Isso é o que lhe dava tan- ce que não nos amam e, muito menos, porque não
ta autoridade. Isso é o que lhe tornava irresistível. merecem. Jesus serviu a todos igualmente.
Isso é o que fazia que nada e ninguém pudesse discu- 4) O amor: Jesus deu “um novo mandamento” (v.
tir com Ele. Vocês e eu precisamos dar o exemplo pri- 34). E qual seria o novo? Em Levítico 19:18 já estava
meiro e, se for estritamente essencial, falar depois. escrito: “amarás ao seu próximo como a ti mesmo”.
Queremos enfatizar a outros a necessidade de com- Pois bem, o novo mandamento, que não é outra coisa
partilhar o evangelho? Pois bem, primeiro devemos senão a ampliação do “antigo” mandamento, estabele-
ser exemplos de pessoas que evangelizam. Queremos ce que devemos amar aos outros já não como a nós
falar sobre a necessidade de ser humildes? Então de- mesmos, mas como Jesus os amou. O versículo 1 diz
vemos primeiro ser humildes nas nossas relações que Ele amou aos seus “até o fim”. E o exemplo imedi-
com os demais. Queremos falar sobre o amor e a uni- ato subsequente de Jesus amplia o conceito para que
dade na igreja? Bem, então devemos dar o exemplo, entendamos que “o fim” é a própria morte. Jesus mor-
vivendo uma vida de amor e longanimidade para com reu por amar você e eu. Deixou o céu e doou sua vida,
os demais e sendo fatores de unidade e não de críticas por amor morreu na cruz (Filipenses 2:5-8). Agora “o
e divisão. sarrafo” está mais alto. Porque antes de sua primeira
2) A humildade: Jesus quebrou as aspirações de vinda não tínhamos o exemplo do amor supremo de
seus discípulos e os sentimentos de superioridade ao Cristo demonstrado em ações concretas. E a demons-
lavar os seus pés. Seu Mestre, seu amado Mestre, es- tração prática do seu amor infinito por você e eu des-
tava realizando um trabalho de servo. Com frequên- de a manjedoura até a cruz também nos motiva de
cia, acreditamos que somos melhores que os demais, forma diferente. Neste ponto, Jesus foi incisivo: o
especialmente quando nos detemos em ver seus er- amor é a marca distintiva que os demais verão em
ros. A humildade impede-nos de buscar fazer só as seus discípulos. Se não há amor, não há discípulo.
coisas que são mais importantes ou as que recebem Será que podemos estar falhando neste ponto?
maior reconhecimento e/ou visibilidade. Jesus, embo- Para nós, cristãos do século XXI, estes quatro pon-
ra fosse o Rei do universo, nos mostrou com seu tos inseparáveis FAZEM A DIFERENÇA. Nada mudou
exemplo que aquele que tem um conceito equilibrado sobre isso desde os tempos de Jesus. Entretanto, hoje
de si mesmo e dos outros é mais feliz (v. 17). Ele chama você e eu para sermos servos humildes e
3) O serviço: Está fortemente ligado a humildade. cheios de amor. Um amor prático. Um amor visível.
Quem é humilde não tem problema nenhum em ser- Não importa o nível de estudo que tenha. Não impor-
vir ao seu próximo, sem distinção de posição social, ta o dinheiro que tenha. Não importa o trabalho que
cargo, sexo, nacionalidade etc. Quem vive uma vida tenha. Não importa a idade que tenha. Não importa.
de serviço está disposto a fazer tarefas mais simples Só importa que sua vida seja um exemplo de amor,
em favor de outros. Nós, como discípulos de Cristo humildade e serviço.
(que foi um líder servidor e modelo de humildade), Está disposto a refletir com sua vida os ensinamen-
não somos superiores a Ele (v. 16). Por isso, é natural tos daquela noite tão especial? Está disposto a pagar o
que sejamos felizes em servir ao nosso próximo e a preço de levar aquelas marcas que te diferenciam co-
Deus como Ele serviu. Quem vive uma vida de serviço mo um fiel seguidor do Mestre?
sempre pensa nos outros e em como ajudá-los. Tam-
Deus te abençoe!
bém é necessário ressaltar que Jesus lavou os pés de
Judas, que estava ao ponto de traí-lo. Jesus sabia e,
mesmo assim, lavou seus pés. Não podemos dar des-

Imagem: LouiseTsaraph por Pixabay


Imagem: quimono por Pixabay
Podemos melhorar nossa
liderança se considerarmos as oliveiravjm@gmail.com

novas gerações e suas Doutor em Educação Física


Líder Máster de Desbravadores – Associação

peculiaridades
Central Amazonas, UNOB/DSA

Vamos entendê-las, pois serão importantes para com-


preendermos as próximas partes desse texto.

este texto, estou propondo um ensaio teórico A modernidade sólida é reconhecida como aquela
para analisar o trabalho da liderança do Clube em que transformações sociais estão acontecendo,
de Desbravadores nos tempos atuais. Cada geração é/ por exemplo, a revolução industrial. A imagem da
foi influenciada por acontecimentos e conformações fábrica e da linha de produção representam bem os
sociais que “moldam” as relações sociais. É muito co- ideais da modernidade sólida. Bauman vai dizer que
mum se ouvir: “na minha época não era assim” ou essa sociedade é percebida como de produtores, ou
“hoje é tudo muito diferente”. Há explicações para seja, de pessoas que estão fortemente vinculadas ao
isso. E elas podem nos ajudar a desenvolver nossa trabalho como produção de suas identidades.
liderança para conduzir a juventude (a nova geração)
Há uma forte influência da solidez moderna na
que está hoje sob nossos cuidados.
educação. Nesse período, as pessoas esperavam por
Quando proponho refletir sobre os tempos atuais, um conhecimento que pudessem levar para toda a
lembro do sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017). vida. E era muito comum, que projetos de vida fos-
Bauman nasceu na Polônia e era descendente de ju- sem estabelecidos com o estudo para conseguir um
deus. Dado isso, sofreu perseguições durante momen- diploma, conseguir um bom emprego e se aposentar
tos de sua vida, tendo que se refugiar em outros paí- nele. Ou seja, os projetos de vida tinham essa pers-
ses como Israel. Depois, tornou-se professor de Socio- pectiva de estabilidade e solidez. E tudo que atacasse
logia na Universidade de Leeds na Inglaterra essa ordem, era considerado fora do padrão e deveria
(REZENDE, s/d). ser eliminado.
O seu trabalho intelectual ficou bem conhecido Ainda mais, o poder está centrado em poucos que
pelas metáforas que cunhou. Dentre elas, citamos as são considerados “legisladores”. Esses, fazem um tra-
de “modernidade sólida” e “modernidade líquida”. balho de educar, cuidar e punir seus seguidores
quando desviam de suas ordens. Logo temos o fenô-
meno do panóptico (um ou poucos vigiando a mui-
tos), para conduzir suas ações. O exemplo clássico
desse modelo é o Estado Nação (também apelidado de Se considerarmos a explicação acima e operarmos
Big Brother = O Grande Irmão). com ela pensando a liderança no Clube de Desbrava-
dores, podemos observar duas gerações que estão em
choque hoje.
Com o passar do tempo, as transformações sociais De um lado, os “antigos”, hoje parte da liderança.
foram afetadas por fenômenos contundentes como a Que receberam uma “educação sólida”, pensando na
globalização. A imagem da fábrica é substituída pela continuidade e na fixidez do mundo. Para esses, ge-
da empresa, que agora pode se situar em qualquer ralmente, há um único modo de fazer algo e um co-
lugar, ou lugar nenhum (basta pensarmos nas empre- nhecimento válido para toda a vida. Provavelmente,
sas online). A sociedade de produtores, agora passa a seja por isso que ouvimos tantas vezes as famigeradas
se identificar com o consumo (sociedade de consumi- lembranças: “Ah! Mas, na minha época éramos ‘raiz’.
dores). Ou seja, o que importa é consumir novas sen- Hoje, essa geração é ‘Nutella’”.
sações a todo o momento – o que vai influenciar a
De outro lado, os “novos”, que são os liderados.
construção das identidades.
Uma geração fortemente influenciada por uma
A educação também é afetada. O conhecimento “educação líquida”, cujo conhecimento é a informa-
para toda a vida, agora é mudado pela informação ção que logo vai se tornar obsoleta. Essa geração tam-
instantânea, que deve ser rapidamente consumida e bém é influenciada pelas informações das redes digi-
descartada. Nada é fixo e as coisas podem rapidamen- tais e busca viver o aqui-agora apenas, sem pensar no
te mudar de lugar. Os projetos de vida tornam-se fle- futuro.
xíveis e agora, por exemplo, não mais se espera que
Podemos, então, falar que temos uma “liderança
alguém entre em um emprego e fique a vida toda nele
sólida” buscando trabalhar com um “liderado líqui-
até a aposentadoria. O diploma de um curso, logo se
do”. Diante disso, o que podemos fazer? Como Clube,
torna obsoleto, fazendo com que o sujeito tenha que
imbuídos pelo nosso objetivo de salvar do pecado e
sempre buscar novos cursos e especializações.
guiar no serviço, como podemos liderar as novas ge-
Se antes existiam poucos legisladores que ditavam rações em um contexto tão complexo? Como atrair
as normas, agora há uma proliferação de essa geração cada vez mais fluída e que não pensa
“conselheiros”. Os conselheiros são especialistas nas muito no futuro, para uma verdade presente e uma
mais variadas áreas que dão conselhos de como as base espiritual centrada na Bíblia?
pessoas devem viver. Nesse sentido, agora temos mui-
tos vigiando a poucos (sinóptico) – por exemplo, nos
programas de reality show que passam na TV. Assim,
há uma privatização da vida, lançando as responsabi-
lidades para as próprias pessoas que precisam resol- O sociólogo Bauman já chamava a atenção para
ver seus problemas buscando os mais variados conse- como podemos educar as novas gerações nesses con-
lhos por sua conta e risco. Temos como exemplo de textos cada vez mais fluídos e flexíveis. Um primeiro
conselheiros os blogueiros, as revistas (de saúde, de conselho que podemos extrair de sua sociologia é que
economia, de fofoca etc.), os programas etc. devemos, primeiramente, aprender a viver nesse
mundo líquido para depois buscar ensinar (e no nos-
so caso, liderar) as novas gerações.
Percebam que em ambos os casos o projeto de mo- O líder sólido precisa abrir-se para novas ideias e
dernidade continua, mas com ênfases diferentes. perspectivas, para assim compreender melhor o seu
Uma não elimina a outra. Porém, hoje, podemos ver liderado líquido. Vejamos o exemplo de Paulo ao pre-
muito mais influências líquidas nas relações sociais gar em Atenas. Ele utilizou uma linguagem próxima
do que antes. E isso gera uma reflexão profunda sobre das pessoas para apresentar verdades eternas (Atos
como trabalhar com os jovens e juvenis desta gera- 17:16-34). Em nossos dias, precisamos reconhecer,
ção. Afinal de contas, estamos em um momento que a por exemplo, que a tecnologia e as redes digitais estão
geração da modernidade sólida está liderando a gera- aí para ficar; e que precisamos nos apropriar delas
ção da modernidade líquida. Quais implicações há para dialogar com nossos liderados de forma a cha-
nisso? mar a atenção deles.
Nós precisamos ser um contraponto diante de tan-
tas “vozes” (de conselheiros) que nossos liderados ou dez mil “seguidores” nas redes sociais. Sendo que,
possuem ao alcance das mãos (em um smartphone, essa relação online retira o contato presencial (cara a
por exemplo). Precisamos guiá-los nesse mundo cara) e o aprofundamento das relações sociais, impor-
“saturado de informações”, fazendo com que usufru- tante para o desenvolvimento humano. Na rede soci-
am daquelas que realmente valha a pena e que edifi- al, por exemplo, quando não se gosta de algo, basta
quem suas vidas para a eternidade. Precisamos apre- apenas clicar em “deixar de seguir” e fugir do assun-
sentar a verdadeira religião, conforme Tiago 1:27. to. Presencialmente, isso não é possível, fazendo com
Mas, não adianta tentar fazer isso dentro de um que as pessoas tenham que aprender a conviver e
Clube da modernidade sólida. Ou seja, um Clube que chegar em consensos.
não está aberto para o novo; ou que rechaça aqueles Em vez de “mil amigos” que mal se sabe quem é, o
que considera “Nutella”. A roupagem precisa mudar, Clube oferece amizades daquelas que se pode “contar
mantendo os princípios. Ellen White (2004, p. 11) de- no dedo” e que são, de fato, oportunidades de apro-
clara que é na oração que recebemos luz de Deus para fundar os laços. São amizades que possibilitam o
discernir “entre o certo e o errado, o bem e o mal”. E, cumprimento do objetivo de “salvar do pecado e guiar
para isso, os líderes precisam de estudar mais, em no serviço”. Nesse sentido, temos um poderoso siste-
espírito de oração, para compreender essa nova gera- ma de unidade que facilita esse processo de constru-
ção e como trabalhar com ela. ção de amizades duradouras. E são essas amizades,
Diante dessa geração, que aprende, praticamente inclusive, aquela estabelecida entre líder e liderado
“ao nascer”, a operar um smartphone ou um tablet, que produz o discipulado e o fortalecimento da obra
temos, como liderança, a missão de apresentar a eles do Mestre de pregar o evangelho ao mundo.
Imagem: Ester Souza - @estersnow_

um mundo de cores para além da tela. Só que, esse


não é o nosso mundo (aquele que vivemos e que achá-
vamos tão “raiz”). Esse mundo, da natureza, do acam-
Esse texto não é um ponto final no assunto, mas
pamento, das habilidades manuais, das atividades
traz uma reflexão para que você possa pensar em co-
missionárias e comunitárias, precisa ter a “roupagem”
mo está a sua liderança frente aos seus liderados.
para que nossos liderados se apropriem deles e o ve-
Aqui, colocamos a necessidade de nos atualizarmos
jam como algo seu.
com novas roupagens para alcançar as novas gera-
Um problema dessa nova geração, segundo Bau- ções. Nesse sentido, não podemos ter um Clube fun-
man, é ter experiências superficiais. Por exemplo, o damentado na modernidade sólida, que já passou.
que vale é a selfie e as curtidas na rede social. Pode- Também, não podemos sucumbir a uma modernida-
mos mostrar para eles a profundidade da experiência de líquida com suas relações superficiais. Precisamos
que podem ter ao acampar e ao viver ao ar livre, por encontrar o equilíbrio e estarmos fundamentados na
exemplo, sem precisarem de se limitar a “farelos digi- Palavra de Deus.
tais”. Por isso, eles precisam ser motivados a fazerem
Para isso, devemos buscar o novo, orando, estu-
as atividades, mesmo que do jeito deles (talvez sem
dando e nos qualificando. E, principalmente, seguin-
muito jeito, pois muitos estão apenas acostumados
do o exemplo de Cristo e cumprindo o seu manda-
com a tela e o que foge dela se torna um grande desa-
mento de amar aos outros como Ele nos amou (João
fio).
13:34). Ao olharmos essa geração que lideramos, mes-
Um último ponto para esse texto, com base nos mo que seja diferente por conta das novas ênfases
conselhos de Bauman, está em fazer do Clube um sociais, que possamos olhá-la com o amor de Cristo,
lugar em que as amizades sejam construídas e fortale- considerando cada um como candidato ao Reino.
cidas. Hoje, muitos se orgulham de ter mil “amigos”

ALMEIDA, Felipe Quintão; GOMES, Ivan Marcelo; BRACHT, Valter. Bauman & a educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Zygmunt. Legisladores e intérpretes: sobre modernidade, pós-modernidade e intelectuais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2013a.
BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2013b.
REZENDE, Milka de Oliveira. "Zygmunt Bauman"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/zygmunt-
bauman.htm. Acesso em 23 de maio de 2021.
WHITE, Ellen G. Liderança Cristã. Ellen G. White Estate, Inc. 2004. Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/
Lideran%C3%A7a%20Crist%C3%A3.pdf. Acesso em 12 de fevereiro de 2022.
odo acampamento tem fogueira. E os
desbravadores sempre aguardam por
uma fogueira em especial: o fogo do conselho.
Porém, o fogo do conselho é feito de formas
diferentes nos clubes e regiões. O próprio Ma-
nual Administrativo diz que o fogo do conse-
lho deve ser feito todas as noites do acampa-
mento. E se não for possível, pelo menos, deve
ser feito na última noite. O Manual também
faz referências a vários tipos de fogo do conse-
lho: espiritual, cultural, temático, cerimonial,
administrativo ou liderança e relações públi-
cas (DIVISÃO SUL-AMERICANA, 2020).
Neste texto vamos focar na experiência de-
senvolvida na Região Tupi, da Associação Sul
Espírito Santense, localizada no município de
Vila Velha (ES). Há mais de uma década, é de-
senvolvida a “Cerimônia do Fogo” no acampa-
mento da região chamado de CCAD (Curso de
Capacitação e Aperfeiçoamento de Desbrava-
dores). A cerimônia resguarda algumas peculi-
aridades que a diferencia das demais pratica-
das em outras regiões e localidades.
Imagem: Stella Lima de Freitas - @little_b027

falecom.monteeverest@gmail.com
Região Tupi, Vila Velha/ES – Associação Sul
Espírito Santense, USEB/DSA
O nome “Cerimônia do Fogo” foi adotado como um com o sobrenatural. Alguns participantes expressa-
diferencial da metodologia utilizada. Diferentemente ram em palavras suas experiências com a Cerimônia
do que apregoa o Manual Administrativo com respei- do Fogo.
to ao fogo do conselho, a Cerimônia do Fogo tem um
ritual a ser realizado com o foco totalmente espiritu-
al. Nesse caso, podemos dizer que a Cerimônia do “O momento da minha vida em
Fogo é um tipo de fogo do conselho, mas nem todo que me senti ao lado de Deus pela
fogo do conselho é uma Cerimônia do Fogo. primeira vez”
Com o objetivo de ampliar e orientar essa prática,
a região Tupi, em conjunto com o Clube de Líderes
Monte Everest, lançará em breve o Manual da Ceri- “É um dos encontros mais lindos
mônia do Fogo. Trata-se de uma publicação que visa que você pode ter com Deus”
ensinar a filosofia, a organização e a execução da ceri-
mônia no acampamento. Como principais pontos da
Cerimônia do Fogo, temos: “Deus faz além do que a gente
▷ A cerimônia é realizada na última noite de possa imaginar naquele lugar. As
acampamento. pessoas são usadas por Deus!”
▷ O tema da mensagem deve ser sempre espiritu-
al. Para que resultados como esses sejam alcançados,
é necessário que a Cerimônia do Fogo seja conduzida
▷ A cerimônia se inicia às 2h da manhã, com o
com muito zelo e dedicação por parte de quem o orga-
limite máximo de 60 minutos de duração.
niza. Os desbravadores devem ser levados a compre-
▷ Os desbravadores devem ser despertados cuida- ender a importância desta cerimônia solene. Nada de
dosamente para a cerimônia. bagunça ou algazarra. Nada de fogos ou artefatos pi-
rotécnicos. O foco deve ser a elevação do pensamento
▷ As músicas devem ser calmas e edificantes para
a Deus. Durante a cerimônia há o grande potencial de
elevar o pensamento a Deus. se resgatar princípios, ensinamentos e testemunhos.
▷ A fogueira utilizada é exclusiva da cerimônia O fogo na Bíblia tem passagens importantes: Elias
(não pode ser usada para nenhuma outra finali- no monte Carmelo, a nuvem de fogo que protegia Is-
dade). rael no deserto, Moisés e a Sarça Ardente, as línguas
de fogo que repousaram sobre os discípulos, João Ba-
▷ Quando todos estiverem ao redor da fogueira, o
tista quando disse que Aquele que viria após ele
diretor (ou alguém designado por ele) deve con- (Jesus) batizaria com Espírito e Fogo. Vale frisar, no-
tar a história da origem da cerimônia vamente, que muitas decisões com peso eterno serão
(introdução). tomadas à beira do fogo. Portanto, esta é uma cerimô-
nia em que reside a sagrada e vigorosa reafirmação do
▷ Após a introdução, entra em cena o responsá-
nosso compromisso como desbravadores, servos de
vel por contar a história principal, com pala- Deus e herdeiros do Reino.
vras assertivas e amáveis para elevar o pensa-
Quer saber mais sobre a cerimônia e como realizá-
mento a Deus. la? Acesse o site www.clmonteeverest.org e veja em
Esta cerimônia, praticada há mais de uma década, breve o Manual da Cerimônia do Fogo, entre outros
já teve inúmeros resultados. Os participantes sempre materiais.
relatam que os momentos vividos ao redor do fogo Maranata!
foram significativos. Inclusive, à beira do fogo, mui-
tos decidiram sobre os caminhos espirituais de suas
vidas. Há relatos de pessoas que tiveram experiências

DIVISÃO SUL-AMERICANA. Manual Administrativo do Clube de Desbravadores. Brasília: Divisão Sul-Americana, 2020. Acessado em:
https://deptos.adventistas.org/desbravadores/ManualAdministrativoDesbravadores.pdf. Data de acesso: 14 de abr. 2022.
Deus tem chamado a juventude para uma obra elevada,
na qual necessita-se de jovens com habilidades comuni-
cativas, em especial a de escrever

Foto: Tyler Nix por Unsplash

oliveiravjm@gmail.com
Doutor em Educação Física
Líder Máster de Desbravadores – Associação
Central Amazonas, UNOB/DSA
os 10 anos de idade, ao ingressar no clube, é um líder
potencial em formação devido aos conhecimentos
relacionados à liderança que desenvolverá nas classes
Dicionário Online de Português define escrita
(inclusive na seção Organização e Liderança).
como: “ação ou efeito de escrever, de repre-
sentar algo por sinais gráficos”. Essa definição está No entanto, vamos utilizar a definição de líder em
alinhada com o Trésor de la Langue Française que diz formação inicial como aquele que completou suas
que “a escrita é um sistema de representação gráfica classes, ou está fazendo as classes agrupadas, e inici-
de uma língua” (BACHELOT, 2020, p. 226). ou a classe de Líder. Após a investidura em Líder, o
processo de formação não acabou, como alguns pen-
Essa ideia contribuiu para que a escrita estivesse
sam de forma equivocada. Inicia-se o processo de for-
subordinada a língua falada, ou seja, como um aces-
mação continuada do líder com a realização das de-
sório do que se fala. No entanto, Bachelot (2020) apre-
mais classes de liderança (Líder Máster e Líder Más-
senta argumentos que recuperam a escrita para além
ter Avançado). Ambas as formações têm base no ser-
dessa relação de subordinação: tanto a fala quanto a
viço ao Clube e à Igreja.
escrita são manifestações da atividade simbólica.
Antes de prosseguirmos, é necessário considerar
Sem nos preocuparmos, no momento, em realizar
que a formação do líder não se limita às classes. A
um aprofundamento no estudo de Bachelot (2020),
formação humana não tem fim. A formação escolar,
apenas indicamos dois argumentos que nos ajudarão
profissional, familiar, cultural, social etc., são ele-
a refletir no presente texto. 1) A escrita, tal qual a co-
mentos que interferem na liderança. Além disso, exis-
nhecemos, é um elemento indispensável para a co-
te a formação no serviço, seja nas ocupações secula-
municação e preservação da informação, o que anti-
res que o líder desenvolve ou no próprio trabalho co-
gamente se fazia por meio da tradição oral. 2) Porém,
tidiano do clube em que atua.
em nossa cultura contemporânea, a escrita tradicio-
nal está cada vez mais obsoleta diante das tecnologias As ideias que sustentam esse texto não vieram do
que utilizam de forma crescente o reconhecimento de zero. Fizemos a opção por um texto do tipo ensaio, no
voz. Por exemplo, o uso de smartphones e tablets es- qual tomamos a liberdade de refletir sobre alguns
tão tomando o lugar dos livros e cadernos textos que acessamos sobre a temática da escrita. Ini-
(BACHELOT, 2020). Porém, é interessante ressaltar cialmente, nos apoiamos em conselhos bíblicos e do
que mesmo com as novas tecnologias, uma nova for- Espírito de Profecia. Em segundo lugar, fizemos uma
ma de escrita é praticada: a escrita digitada. busca no Google Acadêmico (portal de busca do Goo-
gle para trabalhos acadêmicos) sobre estudos na área
É diante desse cenário paradoxal da escrita (tão
da formação de professores que consideram o proces-
essencial, mas se tornando cada vez mais obsoleta)
so de escrita. Selecionamos alguns desses textos após
que buscamos responder à questão: como o processo
leitura prévia do título e resumo e os apresentamos
de escrita pode influenciar na formação do líder de
no decorrer do artigo para fundamentar nossa pro-
Desbravadores? Uma primeira ideia que vem à mente
posta.
é a necessidade de escrever os relatórios das classes
de liderança. No entanto, pretendemos ir além da Apesar da característica mais ampla que a escrita
escrita padrão como mera tarefa de produzir um rela- possui, por uma questão de delimitação de ideias e
tório que, depois, pode vir a virar poeira em algum conceitos, nesse texto trataremos com maior ênfase a
depósito. escrita na formação do líder com base no que consta
nas classes. No entanto, consideramos que esse ponto
Também vemos a escrita intimamente ligada na
inicial coloca possibilidades para que o leitor reflita
comunicação dos líderes com seus liderados. Por
sobre os usos da escrita em outros momentos e con-
exemplo, em trocas de mensagens por aplicativos,
textos.
organização de escalas, divulgação de atividades, con-
vites e propagandas, pesquisas e sistematizações de
informações e conteúdo para ensino de uma classe ou
especialidade etc.
Objetivamos tratar a escrita como um processo Para irmos de encontro ao nosso objetivo, que é
comunicativo, criativo e formativo, que, inclusive, compreender como a escrita pode influenciar na for-
tem o poder de transformar. A escrita é algo vivo, pu- mação do líder de Desbravadores, queremos lançar a
jante, que deve fazer parte da prática cotidiana do base nos conselhos de Ellen White. A pena inspirada
líder que está em formação inicial ou continuada. Em diz:
primeiro lugar, entendemos que todo juvenil, desde
1) “Temos hoje em dia um exército de jovens que dores. Era de se esperar que um pescador não soubes-
podem fazer muito, se devidamente dirigidos e ani- se muito de escrita, mas vemos cartas desses homens
mados” (WHITE, 2007, p. 27). que hoje compõem o cânone sagrado. Por outro lado,
2) “Os jovens devem ter ideias amplas e planos sá- observamos o pioneiro adventista Thiago White. A
bios, para poderem tirar o maior proveito de suas escrita desse jovem contribuiu significativamente pa-
oportunidades e captar a inspiração e a coragem que ra a organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
animaram os apóstolos” (WHITE, 2004, p. 27). Deus pretende usar a juventude em sua obra por
3) “A causa de Deus requer as mais elevadas facul- meio da escrita. Portanto, independentemente do
dades do ser e, em muitos campos, há urgente neces- grau de estudo, conclamamos os líderes desse Minis-
sidade de jovens com a habilidade de escre- tério a desenvolver a escrita como um processo de
ver” (WHITE, 2004, p. 26). formação para o seu avanço. Você pode escrever pe-
quenas mensagens informativas, inspiradoras e ins-
A escrita é algo importante e deverá estar aliada a
trutivas para o informativo de sua igreja e/ou clube.
um compromisso com Cristo e à sua Palavra. O Minis-
Também pode fazer textos mais elaborados para com-
tério dos Desbravadores necessita de jovens líderes
por uma apostila de ensino de uma especialidade ou
que desenvolvam um “espírito zeloso”, que estejam
um artigo para uma aula de liderança. Até mesmo
“preparados para a ação” e “aptos a assumir responsa-
participar da elaboração de um manual que orientará
bilidades” (WHITE, 2004, p. 25).
ações como ordem unida, planejamento e administra-
Os conselhos de Ellen White estão de acordo com ção etc.
a Bíblia. Vejamos o conselho do apóstolo Paulo ao
jovem Timóteo: “Portanto, você, meu filho, fortifique-
se na graça que há em Cristo Jesus. E as coisas que me
ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, con-
fie a homens fiéis que sejam também capazes de ensi- Desta forma, entendemos que toda pessoa que
nar a outros” (2 Timóteo 2:1,2). atua com Desbravadores (juvenis e jovens em forma-
Vemos aqui a formação de um jovem líder da Igre- ção) necessita, minimamente, de competências e ha-
ja Primitiva, o qual deveria formar a outros para o bilidades para desenvolver seu trabalho. Esse enten-
ministério do ensino. Entendemos que hoje, o Clube dimento toma como base a ideia de que o Clube de
de Desbravadores necessita de jovens preparados pa- Desbravadores é um espaço de educação não formal
ra o ensino e a escrita é um dos talentos que precisam (MARTINS; SOUZA, 2017).
desenvolver para o avanço da obra de Cristo. Ou seja, se um professor necessita passar por um
O próprio apóstolo Paulo utilizou a escrita para processo de formação profissional para atuar (e por-
ensinar as igrejas através de cartas. Essas cartas, além tar um diploma reconhecido), precisamos nos preo-
de uma ação educativa pontual para a comunidade a cupar com a formação de nossos líderes que irão tra-
qual foram endereçadas, se tornaram parte do cânone balhar com pessoas em formação. Podemos acrescen-
sagrado e hoje continuam ensinando a todos os que tar, inclusive, que a educação que o Clube de Desbra-
as leem. Registram ideias, conceitos, orientações e vadores oferece tem consequências eternas, pois, “a
admoestações que, mesmo na ausência (ou, na morte) educação na Terra é a iniciação nos princípios do
de seu autor, poderão educar a muitos. Céu” (WHITE, 2008, p. 245).

A base do estudo e da escrita, deve ser, sem som- Uma vez considerado que o líder de Desbravado-
bra de dúvida, o “Assim diz o Senhor”. “Toda a Escri- res precisa de uma formação à altura de sua atuação,
tura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a passamos a ponderar sobre a escrita. Autores no cam-
repreensão, para a correção e para a instrução na jus- po da educação apontam que a escrita é um fator pri-
tiça, para que o homem de Deus seja apto e plena- mordial na formação de professores, pois lhes permi-
mente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo te fortalecer a identidade docente e a capacidade críti-
3:16,17). De forma complementar, temos outras litera- ca-reflexiva necessária para a prática profissional
turas que estão em conformidade com a Bíblia e que (DOMINGO; SIMAS, 2018; FIORAVANTE; GOMES,
também devem ser lidas para a ampliação de vocabu- 2017; MAGALHÃES; REIS, 2017). No entanto, no con-
lário e ideias. texto brasileiro, é observado que muitos dos alunos
dos cursos de Licenciatura e Pedagogia (formação de
Por fim, para ilustrar a importância da escrita no
professores) ingressam com reais dificuldades de es-
avanço da obra, vemos os apóstolos como grande
crita, por exemplo, na produção de trabalhos e relató-
exemplo. Temos desde doutores e médicos até pesca-
rios (MAGALHÃES; REIS, 2017).
Tomando o contexto citado anteriormente, pode- (MAGALHÃES; REIS, 2017). No entanto, tal processo
mos levantar a hipótese de que muitos de nossos líde- permitirá ao próprio líder compreender a si mesmo
res, incluindo os mais jovens que estão finalizando o tanto quanto suas ideias sobre a educação e a vida
ensino médio, também devem ter dificuldades com a (DOMINGO; SIMAS, 2018).
escrita. No entanto, os autores acima citados conside-
ram que promover a escrita durante a formação des-
ses sujeitos é fundamental, inclusive, para fortalecer No processo de escrita, o líder constrói uma me-
a identidade docente (DOMINGO; SIMAS, 2018; MA- mória em forma de registro, na qual poderá sempre
GALHÃES; REIS, 2017; FIORAVANTE; GOMES, 2017). revisitar as práticas já vivenciadas sempre que neces-
Podemos comparar a estrutura do Clube de Desbrava- sário para poder reutilizá-las ou reelaborá-las
dores com a de uma escola. E nesse sentido, conside- (FIORAVANTE; GOMES, 2017).
ramos que seria benéfico para o Ministério que seus
líderes tivessem uma formação pedagógica.
Ora, a identidade docente não é apenas uma prer-
Escrever não remete apenas a um passado, mas
rogativa do professor, mas, de todos os que, de algu-
permite que se perceba como essas experiências in-
ma forma, se dispõem a ensinar a outros nos mais
fluenciam o presente. Além disso, as reflexões origi-
variados espaços. Logo, observamos que é necessário
nadas nesse processo permitem projeções futuras
compreender que o líder de Desbravadores precisa
sobre perspectivas, possibilidades e caminhos
desenvolver uma identidade docente para atuar com
(DOMINGO; SIMAS, 2018). No processo de escrita, o
juvenis. Tal identidade pode ser fortalecida pelo pro-
líder poderá: a) se perceber no tempo e no espaço,
cesso de escrita.
identificando boas ou más práticas vivenciadas en-
É importante esclarecer que não se trata de se cri- quanto desbravador; b) refletir como elas influenciam
ar um “curso em nível superior” para formação de o seu modo de ser e agir no presente; c) projetar sua
líderes de Desbravadores, mas necessitamos refletir atuação de liderança, buscando superar as más práti-
com maior atenção como estamos formando nossos cas e implementar as boas. Esse processo, não apenas
líderes e, assim, elaborar propostas de formação cada desenvolve a identidade docente, como também for-
vez mais condizentes com a função social que o líder talece o compromisso social (DOMINGO; SIMAS,
desempenha na comunidade. Nesse sentido, devería- 2018). Ou seja, não se trata apenas de uma formação
mos também contemplar os aspectos didático- técnica, mas de uma formação de atitudes frente ao
pedagógicos nessa formação. objetivo de “salvar do pecado e guiar no serviço”.
A seguir, apontamos alguns elementos extraídos
dos estudos já referidos para apoiar o desenvolvimen-
to de uma cultura de escrita na formação dos líderes
de desbravadores e o fortalecimento de sua identida- A prática da escrita em si não é suficiente, sendo
de docente: necessária a mediação de um orientador que dê um
feedback constante sobre esse processo
(MAGALHÃES; REIS, 2017). O Manual Administrativo
Observa-se que os relatórios de liderança têm uma do Clube de Desbravadores (2013) faz referência à
tendência descritiva, ou seja, de apenas relatar o que figura do líder orientador. Cabe a esse auxiliar como
foi feito. Logo, a escrita se expressa de forma mecâni- mediador, tanto no cumprimento da classe como no
ca e acrítica (sem reflexão). Contrário a isso está a processo de aperfeiçoamento da escrita. Nesse senti-
perspectiva de que, mesmo considerando a importân- do, o orientador precisará compreender as fases da
cia da descrição, é necessário ir além dela, refletindo escrita: o planejamento (criação de um esboço), a es-
sobre a prática descrita. Desse modo, a descrição é crita (propriamente dita) e a reescrita (com leituras e
um alimento para a reflexão (FIORAVANTE; GOMES, releituras no processo de orientação) (MAGALHÃES;
2017). REIS, 2017).

Escrever não é apenas replicar uma teoria, ou seja, O que mais observamos são relatórios colocados
o processo de escrita não se trata apenas de ideias e em depósitos ou estantes. Ao contrário dessa perspec-
conceitos teóricos, mas da relação desses com as prá- tiva, a escrita precisa circular em espaços de divulga-
ticas vivenciadas. A escrita precisa fomentar interpre- ção (MAGALHÃES; REIS, 2017). A escrita não pode ser
tações críticas sobre o próprio fazer do líder apenas uma tarefa, ela precisa ser tomada como um
processo formativo com potencial comunicação em vidas nos relatórios das classes de liderança)
cursos, revistas, blogs, websites etc. Isso, inclusive, precisam estar em uma base de dados. O acú-
permitiria que os conteúdos de cursos de liderança mulo de conhecimento e a circulação dele po-
fossem renovados periodicamente, com assuntos con-
derão fomentar novas pesquisas e, assim, fazer
textualizados e que façam o Ministério avançar.
avançar ideias, conceitos e até teorias sobre
Magalhães e Reis (2017, p. 221) afirmam que “é
questões vinculadas ao Ministério dos Desbra-
necessário criar espaços e situações para fazer circu-
vadores.
lar o discurso escrito”. O projeto da Revista do Líder
busca, no Ministério dos Desbravadores, colaborar na 2. A escrita dos líderes tem caráter formativo. Lí-
criação de um espaço para veiculação das escritas dos deres em formação poderão utilizar as pesqui-
líderes em formação e dos já investidos. Esse projeto sas produzidas e materializadas nos relatórios
compreende que a circulação do conhecimento de
para melhor compreender sua formação como
forma aberta e gratuita auxilia no avanço do Ministé-
rio. líder de desbravadores.
3. Os dois pontos acima também indicam algu-
mas funções da escrita dos líderes: 1) o acúmu-
Uma vez que a escrita é considerada importante
lo de conhecimento; 2) a formação de outros
no processo de formação inicial do líder, ela precisa
compor o cotidiano do trabalho dos líderes já investi- líderes e do próprio líder que escreve. Também
dos (FIORAVANTE; GOMES, 2017). Com essa base, são funções possíveis da escrita o caráter infor-
podemos considerar que o líder investido deverá dar mativo, inspirador, formador e transformador.
continuidade a sua formação continuada lançando Como já dito, o líder precisa saber escrever pa-
mão da escrita como processo reflexivo, já apontado ra lidar com diversas ações no cotidiano do clu-
anteriormente. A reflexão constante do seu contexto e
be, desde a simples comunicação até a produ-
práticas se faz necessário, pois os sujeitos sempre es-
ção de materiais de instrução.
tão em desenvolvimento. Diante disso, o líder investi-
do, além de continuar seu processo de escrita, precisa 4. Apostamos que o local para o líder desenvolver
ensinar os líderes em formação a se constituírem nes- sua escrita é a Escola de Líderes (ou Clube de
se mesmo processo. Líderes, como alguns conhecem). É necessário
Os sete elementos extraídos dos estudos que to- que os que coordenam esse espaço de formação
mam a formação de professores indicam as possibili- compreendam que a escrita é um fator impor-
dades para repensarmos a formação dos líderes de
tante na formação dos líderes e na produção de
desbravadores a partir de uma perspectiva da escrita.
conhecimentos para o Ministério dos Desbrava-
Uma escrita que não é mecânica e nem uma simples
tarefa descritiva. Mas, uma escrita que é autoral, con- dores.
textualizada e capaz de fazer o líder refletir sobre suas 5. Reconhecemos que é na Escola de Líderes que
práticas, inclusive, fortalecendo o senso de compro- pessoas mais experientes (inclusive em relação
misso com o Ministério.
à escrita, produção e aplicação do conhecimen-
to) poderão avaliar as produções dos líderes em
formação. Isso se chama avaliação por pares,
quando um igual analisa a pertinência e a apli-
Os elementos teóricos apresentados nos permitem cabilidade de uma produção. Precisamos que
considerar algumas consequências práticas que pode- os relatórios de liderança passem por momen-
rão orientar a formação dos líderes no Ministério dos
tos de avaliação por pares, que auxiliarão no
Desbravadores. Nesse sentido, enumeramos uma lista
que pode responder às questões: Quem serão as pes- amadurecimento do trabalho. Ou seja, além do
soas que irão ler a escrita dos líderes? Qual a função líder orientador, existirá uma banca (que pode
dessa escrita? Onde o líder poderá desenvolver essa ser de dois outros líderes experientes) que fa-
escrita? Como essa escrita poderá ser compartilhada? rão essa análise do trabalho apresentado.
1. Basicamente, o líder precisa escrever para ou- 6. Como já dito, as escritas dos líderes precisam
tros líderes. Os textos produzidos ser compartilhadas. A Divisão Sul-Americana
(principalmente aqueles de pesquisas desenvol-
passará a compartilhar os relatórios de lideran- O líder que se permite desenvolver sua escrita não
ça no Sistema de Gerenciamento de Clubes apenas escreverá para si, mas produzirá reflexões
(SGC). Só que não basta apenas compartilhar o capazes de mudar suas formas de pensar e agir, fa-
zendo, assim, com que avance no Ministério. É neces-
relatório, ele precisa passar por um crivo de
sário que a escrita passe de uma perspectiva mecâni-
avaliação por pares para atestar sua qualidade
ca e descritiva para uma orientação reflexiva e con-
e aplicabilidade (quando for o caso). textualizada. Nesse sentido, os líderes orientadores
7. Outros espaços para compartilhamento são as são fundamentais para a implementação de uma nova
publicações, que podem ser blogs, apostilas, cultura de formação que tem a escrita como parte
essencial.
guias, informativos, livros e revistas. Mais uma
vez, é necessário que em qualquer desses espa- Por fim, textos produzidos não podem ficar ape-
nas em depósitos ou prateleiras se empoeirando. É
ços o material publicado seja revisado por pa-
necessário a criação de espaços para a veiculação
res para garantir a qualidade. Nessa perspecti- dessas escritas. Consideramos importante que os cur-
va, a Revista do Líder tem buscado contribuir sos de liderança absorvam essas escritas como reno-
com o Ministério dos Desbravadores. vação de seus conteúdos. Também compreendemos
que outros espaços são necessários, como websites,
blogs e revistas. Nesse sentido, a Revista do Líder
vem colaborando como um veículo online e gratuito
Após as reflexões apresentadas, podemos conside- para a publicação dessas escritas. Convidamos você a
rar que a escrita é um processo essencial (dentre tan- escrever e submeter seu texto.
tos outros) para a formação do líder de Desbravado-
res, uma vez que Deus tem chamado jovens para atu-
ar em frentes que envolvem, também, o ministério da
escrita. A escrita permite a reflexão e o desenvolvi-
mento das faculdades mentais e reflexivas, tanto
quanto permite o fortalecimento do compromisso
social.

BACHELOT, Luc. Aventuras e desventuras da escrita. A propósito da interpretação do nascimento da escrita na Mesopotâmia. Cadernos
do LEPAARQ, v. 17, n. 33, p. 223-250, jan/jun 2020. Acessado em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/lepaarq/article/
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WHITE, Ellen G. Educação. Ellen G. White Estate, 2008. Acessado em: http://www.centrowhite.org.br/files/audiobooks/Educacao/Educa%
C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o.pdf. Data de acesso: 03 de out. 2020.
Imagem: nugroho dwi hartawan por Pixabay

uem está concluindo um curso técnico


ou universitário, precisa de um orienta-
dor educacional para ajudar no desenvolvimen-
to de seu trabalho de conclusão de curso. No
mont26@gmail.com
Clube de Desbravadores, na classe de Líder
Subtenente Bombeiro Militar - RJ Master Avançado, o requisito 2 da seção II –
Líder Máster Avançado de Desbravadores –
Associação Rio Sul, USEB/DSA
Serviço ao Clube, dispõe: “servir como orienta-
dor a um candidato à Classe de Líder ou Líder
Máster por, no mínimo, um ano ou até a inves-
tidura” (DIVISÃO SUL-AMERICANA, 2020a, p.
25).
Para o aspirante a Líder Master Avançado, ser ori- sua investidura, certamente estará mais preocupado
entador é assumir a responsabilidade de ajudar al- em buscar atualizações, que farão não somente o ori-
guém que precisa ser conduzido para crescer em sua entando crescer, mas, por conseguinte, o próprio ori-
liderança. Para o candidato a Líder ou Líder Máster, é entador.
uma ajuda de grande valia, porque o orientador já
passou pelas classes pretendidas e, espera-se, que
tenha maior experiência. Trata-se de um ciclo virtuo-
so de cooperação mútua, que ajuda líderes mais jo- Não é desejável diminuir a importância dos clu-
vens e/ou inexperientes no desenvolvimento de suas bes/escolas/fábricas de líderes1. Pelo contrário, é im-
lideranças. Também contribui para a formação de portante destacar a importância deles na instrução e
líderes mais capacitados para assumir funções de en- capacitação de líderes investidos e aspirantes às clas-
sino/instrução, assim como para fundar e dirigir no- ses de liderança. Mas, os espaços formativos para lí-
vos clubes. deres, por mais eficientes que possam ser, não conse-
guem acompanhar todos os candidatos de perto, tra-
No entanto, quando não recebe a devida atenção, a
balhando suas dificuldades, destacando seus pontos
orientação pode ser vista apenas como mais um re-
fortes e melhorando conhecimentos e habilidades
quisito demorado, um formalismo burocrático pro-
que não foram muito bem desenvolvidos nos cursos
posto pela classe e que, inevitavelmente, vai resultar
ou durante a vida de desbravador do aspirante.
no relativismo desta nobre missão. A orientação deve
ser encarada não apenas como um requisito ou tare- É aí que se destaca o orientador: um líder que, em
fa, visto que o próprio Manual Administrativo do Clu- tese, já viveu as experiências de desenvolver sua lide-
be de Desbravadores (MAD) estabelece que o aspiran- rança, às vezes com a dor de aprender sozinho, erran-
te a uma classe de liderança deve escolher um orien- do, caindo e se levantando, mas hoje, chegando a um
tador. Como diz o MAD: patamar com muitas experiências. Em alguns casos,
esses líderes não têm a oportunidade de dividir suas
Para iniciar o estudo e treinamento em uma experiências, com o objetivo de ajudar na formação
das Classes de Liderança o aspirante deve de líderes mais jovens a compreenderem os desafios
escolher um Líder já investido para orientá- de salvar do pecado e guiar em um serviço maior que
lo. Na falta de um Líder investido no Clube, todos nós. Um serviço entranhado em nosso “DNA
ele será orientado pelo Regional. Mas inde- missional”: O Ide!
pendente do orientador, o Regional é o ava- O MAD não detalha o papel do orientador, o que
liador perante a Associação/Missão. nos coloca a necessidade de refletirmos em como am-
O instrutor deve ajudar o aspirante a não pliar esse assunto. Cremos que, se observamos as
apenas cumprir os requisitos do cartão, e muitas realidades de nossa liderança, ainda veremos
sim expô-lo a diversas situações no Clube vários aspirantes às classes de liderança em uma
para que ele aprenda a lidar com elas e as- “carreira solo”. Esse processo formativo individualiza-
sim desenvolva a sua capacidade de lideran- do pode se tornar mecanizado ou uma mera atividade
ça (DIVISÃO SUL-AMERICANA, 2020b, p. “tarefeira” (de apenas cumprir requisitos). Sem um
113). orientador que se envolva de fato no processo forma-
tivo, os requisitos podem ser apenas cumpridos fria-
Seja qual for a visão que se tenha do papel do ori-
mente, sem o desenvolvimento de valores, habilida-
entador, será que não estamos deixando passar a
des e capacidades que vão além do relatório.
oportunidade de usar essa importante personagem
como um potencializador de resultados, que pode Como já mencionado na Introdução, a orientação
colaborar na formação de líderes ainda melhores e deve ser realizada por líderes já investidos ou, na falta
eficientes? deles, pelo Coordenador Regional. Essa orientação
não se resume apenas em ensinar requisitos, pois,
Este texto visa, antes de tudo, alertar a todos os
“um cartão não faz um Líder, a experiência é que
líderes que, de alguma forma, estejam envolvidos na
faz” (DIVISÃO SUL-AMERICANA, 2020b, p. 113). Os
formação de outros aspirantes nas classes de lideran-
requisitos são uma espécie de “ponte” para que o aspi-
ça. É necessário estarem atentos para a importância
rante tenha maior facilidade para vir a se tornar um
desse papel que deveria ser uma preocupação pre-
líder de fato. Logo, o foco da orientação precisa se
ponderante de cada líder investido. O líder que não
concentrar em possibilitar que o aspirante se torne
está preocupado em formar novos líderes precisa ser
um líder melhor que o próprio orientador, não impor-
estimulado a isso. Além disso, um líder que esteja
tando com a classe de liderança do orientador. Os
imbuído do compromisso de conduzir alguém até a
requisitos não podem ser apenas uma simples forma- Sem a intenção de criar um quadro comparativo
lidade, mas, uma necessidade-oportunidade de de- sobre quem é mais eficaz, observamos que existem
senvolvimento mútuo, em que orientador e orientan- casos em que a orientação de um líder resultou em
do irão se beneficiar diretamente. E, nesse processo, mais investiduras em Classes de Liderança do que a
os benefícios se estenderão para o clube, a região e a de Clubes de Líderes no mesmo ano. A intenção não é
Associação/Missão. sobrepor o orientador ao clube/escola/fábrica de líde-
Algumas Associações/Missões carecem de compre- res, mas que esta figura deveria ser uma extensão de
ender melhor a figura e as funções do orientador, sua organização. Engana-se quem pensa que a quali-
pois, este acaba se restringindo apenas aos candidatos dade do trabalho de um orientador pode ser menor,
a Líder Máster Avançado. Ou seja, a uma minoria ab- pois um trabalho personalizado consegue atuar em
soluta dentre os membros de uma Associação/Missão. uma dimensão na qual o coletivo não consegue che-
Destaca-se que a quantidade de aspirantes das classes gar. Reforça-se que o trabalho do orientador pode
de Líder e Líder Máster é sempre maior do que os da acontecer mesmo que não haja um clube/escola/
Classe de Líder Máster Avançado. Comumente, os fábrica de Líderes formalizado em determinada regi-
candidatos a Líder e Líder Máster carecem de experi- ão geográfica. Nesses casos, o papel coordenado de
ência e boas referências, o que pode aumentar ainda orientadores pode provocar resultados surpreenden-
mais o desânimo, culminando em desistência ao lon- tes, tanto em quantidade quanto na qualidade forma-
go da conclusão da classe. Ainda, isso pode levar a tiva de novos líderes.
motivações equivocadas na busca pela investidura
nas classes de liderança.
Essas dificuldades podem ser melhor diagnostica-
das pelo orientador, um líder experiente e que enten- Ainda não existem manuais sobre o papel do ori-
de que ser líder não é uma posição envolta de glória entador de líderes de desbravadores. Mas, gostaria de
ou poder. Pelo contrário, a liderança é uma posição contribuir com alguns apontamentos para todas as
de servidão, humildade e de permanente necessidade partes envolvidas.
de aprendizado. Infelizmente, muitos líderes só des-
 O orientador precisa estar em permanente par-
cobrem essa realidade depois de investidos e abando-
ceria com seu Coordenador Regional. Imaginar
nam a liderança e até a fé por decepção. Por isso, não
que o Coordenador Regional tenha em seus
seria positivo, a orientação de um líder mais experi-
líderes a disponibilidade para serem orientado-
ente, percebendo esses desvios e se preocupando em
res irá potencializar a formação de líderes nas
ajudar esses aspirantes para um azimute mais evange-
regiões. O Coordenador Regional pode criar
lístico e missionário?
oportunidades de capacitação para essa respon-
Clubes/escolas/fábricas de Líderes, quando não sabilidade, bem como para os candidatos das
possuem uma estrutura de acompanhamento dentro Classes de Liderança.
do seu escopo de planejamento, não são capazes de
 Um orientador não deve ser um escudo, prote-
acompanhar todos os seus candidatos. Ainda mais,
gendo seu orientando de errar. Pelo contrário,
esses espaços de formação acabam centralizados pela
o orientador deve promover oportunidades pa-
falta de líderes investidos ou por peculiaridades geo-
ra que a Classe de Liderança não seja apenas
gráficas e culturais. Geralmente, encontramos essas
um “aglomerado de requisitos”, mas sim mui-
organizações em nível de distrito, região ou área
tas oportunidades para o desenvolvimento de
(conjunto de regiões dentro de uma Associação/
valores, habilidades e capacidades que são de-
Missão).
senvolvidos nos cotidianos do serviço ao Minis-
Em muitos casos, infelizmente, não existe um clu- tério nos clubes e regiões. O MAD deixa claro
be/escola/fábrica de Líderes para atender determina- que “um cartão não faz um Líder, a experiência
da região geográfica. Por isso, com ou sem esses espa- é que faz” (DIVISÃO SUL-AMERICANA,2020, p.
ços formativos, todo líder investido deveria buscar ser 113).
um orientador por excelência à disposição de seu Co-
 O orientador deve conhecer seu orientando.
ordenador Regional para ajudar na formação de aspi-
Visite-o, saiba a rotina dele, vá ao clube dele,
rantes às classes de liderança. Sua oração deveria ser
conheça os aspectos da vida do aspirante a lí-
pelo derramamento do dom do ensino dado pelo Espí-
der. Isso o ajudará a identificar pontos fortes
rito Santo. E suas ações deveriam ser pela busca cons-
que podem ser explorados e, talvez, diagnosti-
tante de qualificação conceitual e técnica, desenvol-
car pontos que precisam ser melhorados. Essa
vendo as habilidades de liderança.
fase de diagnóstico deve acontecer no começo to, atualização e expansão da Associação/
do acompanhamento, para que o orientador Missão. Além disso, uma capacitação com os
crie um plano de desenvolvimento próprio para Coordenadores Regionais para entenderem
cada candidato. como usar esse material humano potente na
 O orientador não pode ser apenas um revisor formação de líderes poderá trazer resultados
de relatórios ou alguém que apenas pergunta em curto e médio prazo.
como está o “andamento” da classe. O orienta-  Candidatos, por mais que não se tenha orienta-
dor deve caminhar junto com seus orientandos dores que sejam líderes investidos ou dispostos
e sorrir, chorar, orar e estudar com eles. perto de você, olhe para aquele líder que você
 Um orientador, em um plano ideal em que haja gosta, mesmo aquele que esteja um pouco es-
muitos líderes investidos, não deveria acompa- quecido, e convide-o para o ajudar. Às vezes,
nhar mais do que três candidatos por vez. O essa pessoa só precisa se sentir útil para iniciar
papel do orientador é de proximidade e, se ori- e pode fazer um grande trabalho.
entar mais do que três candidatos, a orientação
não será tão próxima e perderá a sua finalida-
de. Além disso, limitar o número de candidatos
Não é difícil perceber e lembrar na Bíblia e na his-
por orientador criará oportunidades para ou-
tória dos pioneiros adventistas a relação de mentoria
tros orientadores. Por isso, também é impor-
que um líder tinha sobre outros. Podemos citar o
tante que o Coordenador Regional saiba quem
exemplo de Moisés e Josué (Êxodo 24:13; Deuteronô-
está orientando quem. Bons orientadores atra-
mio 31:7-8), lembrar dos muitos ensinamentos de Eli-
em mais orientandos e, se não houver um cui-
as a Eliseu (2 Reis: 2:7, 8) e aprender com Cristo a pe-
dado com isso, pode haver sobrecarga e dimi-
dagogia de liderança aplicada a cada um dos discípu-
nuição da eficiência (NORTH AMERICAN DIVI-
los (Mateus 16:21-23). Em todas as relações, um ponto
SION, 2014).
se destaca: relacionamento. Esse ponto é a chave do
 Preferencialmente, o orientador deve ser esco- sucesso da orientação, em que o orientador e o orien-
lhido pelo candidato (NORTH AMERICAN DI- tando devem ter um relacionamento íntimo com Cris-
VISION, 2014). O orientador também pode ser to. Consequentemente, isso resultará em uma parce-
indicado pelo Coordenador Regional ou, talvez, ria de discipulado, promovendo um ciclo mútuo de
o próprio orientador se disponha a orientar crescimento físico, mental e espiritual que favorecerá
alguém. Sabe aquele candidato que desistiu? a formação e o crescimento de líderes ainda melhores
Talvez uma orientação mais próxima pode ani- para o trabalho do Senhor. Eis a missão!
má-lo a retomar as atividades da Classe de Li-
derança.
 Departamentais, pensem que talvez esteja na
hora de uma aula nos cursos de liderança sobre
a importância do orientador no desenvolvimen-

1
Não entraremos no mérito de discutir a terminologia a ser utilizada: clube, escola ou fábrica. Apenas cita-
mos os três termos que temos observado circular no Ministério dos Desbravadores.

DIVISÃO SUL-AMERICANA. Desbravadores - Cartão de Liderança: Líder, Líder Máster, Líder Máster Avançado. Brasília: Ministério de
Desbravadores, Divisão Sul-Americana, 2020a.
DIVISÃO SUL-AMERICANA. Manual Administrativo do Clube de Desbravadores. Brasília: Ministério de Desbravadores, Divisão Sul-
Americana, 2020b. Acessado em: https://deptos.adventistas.org/desbravadores/ManualAdministrativoDesbravadores.pdf. Data de acesso: 13
de mar. 2022.
NORTH AMERICAN DIVISION. Teen Leadership Training: Director’s Guide. Ed. 2. Columbia: North American Division Office of Pathfin-
der Ministries, 2014. Acessado em: http://clubministries.org/wp-content/uploads/TLT_DirectorsGuide.pdf. Data de acesso: 13 de mar. 2022.
Entrevista com Silas Silva

uem não conhece a página do


Instagram Super Desbravador
(@superdesbravador_)? Uma pá-
gina que traz informações, conte-
údos de classes e especialidades
e, claro, memes para nossa diver-
são. Nesta edição da Revista do
Imagem: Cedido por Silas Silva

Líder, entrevistamos seu idealiza-


dor e produtor, Silas Silva. Des-
bravador desde 2006, atualmente
é diretor associado, conselheiro e
instrutor da classe de guia do clu-
be Ômega da Segunda Região da
APSe (Associação Paulista Sudes-
te).
REVISTA DO LÍDER: Nos conte um pouco sobre você: O primeiro passo foi arriscar e fazer um tipo de conte-
nome, formação, atuação no Clube de Desbravadores údo que nenhuma página grande de desbravadores
e na Igreja Adventista do Sétimo Dia. fazia, pois, elas somente repostavam fotos ou memes.
SILAS SILVA: Olá, me chamo Silas Pedro da Silva. Sou Iniciei a página mesclando entre posts de conteúdos
líder máster, investido no campori online da UCB simples de cada classe e memes, para poder atrair
(União Central Brasileira) em 2021. Também sou estu- mais desbravadores. Então, fui me aprimorando nes-
dante do 5º ano do curso de Medicina da Universida- se mesmo foco de misturar humor com conteúdo dos
de Municipal de São Caetano do Sul. Sou batizado na desbravadores.
IASD desde agosto de 2011. RL: Qual o principal objetivo do IG Super Desbrava-
Conheci a IASD por conta de um clube de desbrava- dor?
dores que um professor do meu irmão estava inician- SS: Tornar o assunto Desbravadores mais relevante
do em 2006, o clube Guepardos Reais. Depois de mui- no Instagram, trazendo mais adeptos para o nosso
to insistir, foi permitido que eu participasse do clube. ministério. E ajudar os desbravadores a se tornarem
Mesmo com 9 anos, fui admitido em lenço em abril “super desbravadores”. Essa é uma brincadeira com o
daquele ano. Permaneci nos desbravadores até 2010, nome da página, mas trabalho para sanar as dúvidas
quando fui retirado do clube pelos meus pais (que dos desbravadores, ajudá-los a fazer suas classes e
não são adventistas), por conta de um problema com especialidades e refletir sobre alguns temas polêmi-
a direção do clube. Em 2016, retor- cos para o clube.
nei para os Desbravadores, mas RL: Como é desenvolver o IG Su-
agora em outro clube, o Ômega, no per Desbravador e equilibrar os
qual continuo até hoje. conteúdos instrutivos, reflexivos e
No Ômega, sou diretor associado os memes (parte mais descontraí-
desde 2019. Também já atuei como da)?
conselheiro (2016, 2019 e 2020), SS: Uma coisa que aprendi no Clu-
instrutor de classe (2017, 2021) e be de Desbravadores é que não dá
instrutor de nós (2018). Em 2018, para ser extremo. Se for muito exi-
atuei como distrital da 2ª região da gente e ríspido, os desbravadores
APSe. vão se desinteressar. Se for muito
Atualmente estou sem cargo fora brincalhão, as crianças não vão te
dos Desbravadores, pois quis dar uma descansada. respeitar quando necessário. Por isso decidi fazer co-
Porém, já fui responsável pela Escola Sabatina dos mo faço no clube, mesclar as brincadeiras com os
Adolescentes (2014-2016), líder do Geração 148 (2016- conteúdos para que os desbravadores se interessem
2018), professor da Escola Sabatina dos Juvenis (2019) em seguir a página.
e diácono (2013-2018). Essas diferenças de conteúdos são boas para abranger
RL: Como surgiu a ideia de criar o IG Super Desbrava- públicos diferentes. Se for só conteúdo, só vão procu-
dor? Como foram os primeiros passos? rar a página quando precisarem achar algo ou estudar
SS: Durante a pandemia, minha unidade, que era a para alguma especialidade. Se for só humor, não pas-
maior do meu clube, foi desanimando e faltando em sa a seriedade da qual o Clube de Desbravadores pre-
algumas reuniões. Aí iniciei uma competição no Can- cisa em alguns momentos.
tinho da Unidade para ver se animava meus desbrava- Para mim, é muito boa essa mescla de conteúdos,
dores, porém, sem sucesso, e eles continuavam a fal- pois não fica tudo igual o tempo todo. Todo dia tenho
tar nas reuniões online. Aí me veio a ideia de fazer que fazer algo diferente e não vira uma rotina de todo
um canal do Youtube, para conseguir gravar algumas dia fazer a mesma coisa, pois, dessa forma, eu me
aulas e informações que eu ia passar na reunião para cansaria com certeza.
que meus desbravadores conseguissem acompanhar RL: Além de você mais alguém ajuda a desenvolver o
se quisessem, mesmo sem participar das reuniões. IG Super Desbravador?
Após um tempo, percebi que poderia ajudar muitos
SS: Na produção de conteúdo, faço tudo sozinho. Só
desbravadores, não somente os do meu clube. E nu-
tenho ajuda de um amigo, o Emanuel, para quem al-
ma tentativa de alcançar mais público, criei o Insta-
gumas vezes eu mando os conteúdos de humor antes
gram e me dei muito melhor com a plataforma, trans-
de postar para ver se está realmente engraçado. Do
formando essa rede social no meu foco para postar os
restante, só alguns seguidores que mandam ideias de
conteúdos.
temas e ou dúvidas. zado, tinha que correr demais para fazer as coisas e
RL: Como você observa o retorno dos seguidores do acabava esquecendo algo importante. Mas agora já
IG Super Desbravador e a interação com eles? me acostumei e comprei uma lousa para anotar as
minhas tarefas e compromissos. Nessa lousa tenho
SS: É muito bom esse retorno dos seguidores, porque
anotado qual conteúdo vou postar em cada dia. Se
quando você posta um conteúdo, não sabe como as
tiver algum compromisso ou evento da igreja, anoto
pessoas vão reagir. Muitas vezes, tenho medo de ser
nesse quadro a data e o horário. As coisas da faculda-
mal interpretado e o retorno dos
de são mais fáceis de lembrar,
seguidores me dá um alívio, pois
pois como já estou no internato,
consigo saber se estou ajudando-os
não tenho aulas. É somente o está-
de verdade.
gio no hospital, então é só ir para
Diversos seguidores sempre intera- o local correto e estudar quando
gem com a página, seja nos stories, chegar em casa.
no direct ou nos comentários. Tem
RL: Em algumas postagens você
algumas pessoas que, de tanto inte-
trouxe o tema Desbravadores X
ragirem com a página, já são mi-
Escoteiros. Inclusive, você chegou
nhas amigas e conversamos quan-
a fazer uma Live com uma escotei-
do têm alguma dúvida. A página
ra sobre o tema. Qual foi a inten-
também me fez entrar em contato
ção desse movimento? Nos conte
com pessoas de todo o Brasil, da
um pouco de como foi essa experi-
República Dominicana, da Argenti-
ência para você.
na, da Colômbia e do Chile.
SS: Há um tempo, em 2019, con-
RL: Como é o dia a dia do trabalho
versando com um amigo, estáva-
para produzir conteúdo para o IG
mos falando sobre os escoteiros.
Super Desbravador? Como você concilia estudo/
Ele conhecia mais sobre os escoteiros do que eu e fa-
trabalho, igreja, atividades pessoais e o IG Super Des-
lou algumas coisas que fizeram eu reavaliar o que eu
bravador?
pensava sobre os escoteiros.
SS: O grande problema da produção de conteúdo é
Em 2020, fiz um vídeo no TikTok que teve uma reper-
escolher os temas. Quando é um post sobre conteúdo,
cussão bem ruim. O vídeo era uma reclamação sobre
passo muito tempo tentando pensar em um tema que
as pessoas que ficam chamando desbravadores de
seja relevante. E quando decido esse tema, faço bem
escoteiros. E, infelizmente, isso deixou alguns esco-
rápido a parte escrita, pois como já estou no clube há
teiros chateados comigo e recebi várias críticas por
bastante tempo, consigo me lembrar das coisas rapi-
conta disso, pois, eles entenderam que eu estava fa-
damente. Já nos reels (vídeos curtos de até 60 segun-
lando que os desbravadores eram melhores que eles.
dos), o problema é fazer algo do momento. Os vídeos
com mais relevância precisam estar com temas atuais Um bom tempo depois desse vídeo, uma escoteira
ou usar as músicas que populares no momento. Por entrou em contato comigo com a ideia de falar sobre
conta disso, preciso consumir muito esse tipo de con- as diferenças e semelhanças dos dois movimentos, de
teúdo para fazer algo que alcance muitas pessoas. A forma que ambos conhecessem e respeitassem o ou-
parte mais tro movimento. Depois desta primeira live, fiz mais
fácil são os uma para tirar algumas dúvidas sobre os escoteiros e,
memes, pego desde então, venho fazendo alguns conteúdos para
vídeos que já que os desbravadores aprendam mais sobre os esco-
são engraça- teiros e para que o público em geral saiba as diferen-
dos por si só ças entre os dois movimentos.
e coloco uma RL: Outras pessoas podem colaborar com o IG Super
legenda liga- Desbravador? Se sim, como elas podem fazer contato?
da ao Clube SS: Para colaborar com a página, basta entrar em con-
de Desbrava- tato pelo direct do Instagram. Elas podem colaborar
dores. fazendo alguma pergunta ou mandando alguma ideia
Imagem: Silas Silva

No início, de tema que achem interessante e/ou importante para


por ser mui- os desbravadores. Podem ajudar mandando críticas e/
to desorgani- ou elogios sobre algo que gostaram ou não na nossa
página, um feedback é sempre muito importante. Se de “influenciadores gospel” e desbravadores para ten-
quiserem ajudar mais ainda, podem compartilhar tar tornar as redes sociais mais focadas no evangelho
nosso perfil para seus clubes e amigos. e fazer com que esses apps se tornem uma nova for-
RL: Quais os planos futuros para o IG Super Desbra- ma de evangelizar.
vador? Há outros projetos que você também gostaria RL: Qual conselho você pode dar para nossos leitores
de desenvolver? sobre como exercer sua liderança a partir de projetos
SS: Penso em lançar um curso de inovadores como o IG Super Desbravador?
liderança pela página e um ebook SS: Independentemente do projeto
para ajudar os desbravadores a que você deseja iniciar, é impor-
cumprir suas classes de forma tante sempre lembrar do exemplo.
mais fácil. Devemos sempre liderar por meio
Um desejo que tenho é conseguir dele e, dessa forma, levar os nos-
criar produtos da minha página. sos desbravadores a darem o me-
Assim como já tenho a caneca, lhor deles.
quero fazer camisetas e outros Sobre o início do projeto, creio
itens. Já entrei em contato com que são duas dicas principais: não
uma loja que faz produtos para ter medo de errar e não desistir.
desbravadores e, possivelmente, No início, você vai ter muitas idei-
estes produtos serão lançados no as, mas o importante é não desis-
primeiro semestre de 2022. tir se elas derem errado. Às vezes, colocamos metas
E o meu maior desejo é conseguir fazer projetos a ní- muito absurdas logo no começo e nos frustramos
vel de associação e união, participando de camporis e quando não as atingimos. O importante é continuar e
cursos e assim poder ser considerado por eles uma não desanimar, pois o que importa é levar mais pes-
boa influência para os desbravadores. Aqui na minha soas para Cristo e fazer com que os desbravadores se
associação, as pessoas que fazem conteúdo para a sintam motivados a participar do clube.
internet não são valorizadas e são vistas como desbra-
vadores “Nutella”. Estou aqui para provar o contrário.
RL: O que você pensa da relação dos desbravadores Que tal se tornar um super desbravador? Siga a pági-
com as redes sociais? Até que ponto elas podem aju- na do Instagram @superdesbravador_ e compartilhe
dar ou atrapalhar o desenvolvimento deles? com seus amigos. Faça como o Silas, use seus dons
SS: Esse é um tema bem delicado. Na internet é muito para este ministério. Encontre o equilíbrio e busque
fácil encontrar coisas que, além de não edificar, só sempre ser uma boa influência para aqueles que estão
distanciam os jovens de Deus. As redes sociais em si ao seu redor. Não tenha medo de errar e estabeleça
não são o problema. O problema são as contas que os metas possíveis de serem alcançadas. E, principal-
nossos jovens podem acabar encontrando por aí e que mente, tenha a Cristo como seu amigo e companheiro
só trazem maus exemplos para eles. O lado bom des- para ser mais do que um super desbravador.
sas redes é que estamos com uma grande quantidade Maranata!
Imagem: Cedido por Silas Silva
xperiência vivida no dia 05/02/2022, num per-
noite na Praia dos Padres do Clube de Desbra-
vadores Portadores da História, da Igreja Adventista
do Sétimo Dia de Perocão, distrito de Setiba, Associa-
ção Sul Espírito Santense – Guarapari/ES.
Perto das 22h, estávamos com o clube em forma,
prontos para iniciar uma atividade noturna, quando
fomos surpreendidos por quatro policiais militares.
Eles alegaram que alguém denunciou, pasme, a pre-
sença de pessoas armadas na praia com crianças (por
isso, eles chegaram de surpresa, atentos, com armas
em punho).
No mesmo instante, me apresentei como responsá-
vel pelo grupo e disse que se tratava de um equívoco.
Apresentei uma autorização da Prefeitura Municipal
de Guarapari que já tinha em mãos para a realização
do evento.
Avisei que 100% dos menores de idade estavam
com autorização dos pais (um dos PM's fez questão de
conferir autorização por autorização, nome por nome,
desbravador por desbravador). Reforçamos também
que temos um seguro para atividades externas.
Além disso, falei que passamos por treinamentos
para fazer esse tipo de atividade (como curso do Esta-
tuto da Criança e do Adolescente, treinamentos de
liderança etc.).
marcospauloleitzke@hotmail.com
Falei do cuidado que temos em relação à água e às
Líder de Desbravadores e Diretor do Clube de pedras. Inclusive, apresentei Geovane Souza, nosso
Desbravadores Portadores da História, Asso-
ciação Sul Espírito Santense, USEB/DSA diretor associado, que é guarda-vidas pela prefeitura
de Vila Velha/ES, e que estava conosco no local.
Fiz questão de mostrar que tomamos todos os cui-
dados (ficha médica atualizada, caixa de primeiros
socorros, fogueira sendo feita dentro de um latão para
seguir a lei que proíbe fogueiras na praia etc.).
Por fim, o PM que estava no comando dos outros,
me tranquilizou e viu que se tratava de um equívoco.
Disse para tomarmos cuidado e deixaram o local.
Estou compartilhando esse testemunho com vocês
para reforçar: Precisamos andar na linha! Não dá para
fazer “gambiarra!” Contamos com a proteção de Deus,
mas, precisamos fazer a nossa parte!
Por fim, peço que orem pelo nosso ministério.
“Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso
estamos alegres” (Salmos 126:3). Que Ele continue à
frente de tudo nos guardando e nos protegendo.
Marcos Paulo Leitzke
Diretor do Clube de Desbravadores Portadores da
História
Nota: As fotos utilizadas neste artigo foram cedidas por © DRONAR (Copyright 2020).
As fotos são da Praia do Frade, Guarapari/ES.
Imagem: mohamed_hassan por Pixabay

ste artigo foi elaborado com base em um artigo


anterior, que identificou a necessidade de se esta-
belecer critérios de classificação para as especialidades
das diferentes áreas. Tal necessidade derivou da consta-
tação de que o manual de especialidades do Clube de
Desbravadores da Divisão Sul-Americana não estabelece
qualquer critério, tampouco o manual da Associação
Geral (BATISTA, 2020).
Inicialmente, cabe relembrar que as especialidades
estão classificadas em nove áreas (MINISTÉRIO DE DES-
BRAVADORES E AVENTUREIROS DA DIVISÃO SUL-
AMERICANA, 2012):
▷ ADRA – 9 especialidades;
▷ Artes e Habilidades Manuais (HM) – 88 especiali-
dades;
▷ Atividades Agrícolas e Afins (AA) – 15 especialida-
des;
▷ Atividades Missionárias e Comunitárias (AM) – 48
especialidades;
djeison1984@gmail.com
▷ Atividades Profissionais (AP) – 64 especialidades;
Doutor em Engenharia Florestal
Líder Master de Desbravadores. Coordenador ▷ Atividades Recreativas (AR) – 110 especialidades;
Distrital de Coramara. Associação Sul Espírito
-Santense, USEB/DSA ▷ Ciência e Saúde (CS) – 34 especialidades;
▷ Estudo da Natureza (EN) – 95 especialidades;
▷ Habilidades Domésticas (HD) – 12 especialidades.
Nota-se a grande disparidade na quantidade de Cuidado de Bebês, da extinta área de
especialidades entre as áreas, em que ADRA tem a “Especialidades Regionais”. A insígnia da espe-
menor (9, ou 1,9 %) e Atividades Recreativas tem a cialidade foi totalmente modificada: ER-07 era
maior quantidade (110, ou 23,2 %). Isso não é um pro-
representada por uma mamadeira (fundo azul
blema em si, mas indica a necessidade da criação de
escuro), passando a HD003, representada por
mais especialidades nas áreas com menor quantidade
(tanto quanto possível), buscando-se a diversidade do um bebê envolto em um cueiro (fundo ama-
programa do clube, bem como a possibilidade da cri- relo);
ação de novos mestrados. ▷ Ingressou HD006 Orçamento Familiar (não
Para simplificar a tarefa da elaboração dos crité- constava no manual anterior da DSA).
rios, as áreas serão analisadas em diferentes artigos,
de acordo com a quantidade. Assim, o objetivo deste As informações acima nos levam a concluir que,
artigo foi analisar as especialidades da área de Habili- no processo de revisão do manual de especialidades,
dades Domésticas, com os seguintes enfoques: I) ela- uma especialidade pode mudar de área, bem como
borar uma proposta de critérios de classificação para ter o nome e a insígnia modificados e o conteúdo re-
as especialidades dessa área; II) analisar se as especi- formulado, conforme ocorreu com a especialidade
alidades existentes atendem aos critérios sugeridos. HD-01 Acolchoamento, que passou a HM056
Patchwork. Isso reforça a abordagem de Batista
(2020), que motivou a redação deste artigo. Menciona-
se que a especialidade HD-15 Técnica de Lavanderia
As especialidades da área de Habilidades Domésti- teve o nome sutilmente alterado para HD002 Técnicas
cas (HD) são identificadas pela cor amarela e esta de Lavanderia.
área possui a segunda menor quantidade de especiali-
dades (12 ou 2,5%), ficando à frente apenas da área de
ADRA (9). A área de HD foi a única com redução da
quantidade (15) de especialidades do manual de 2002
(MINISTÉRIO JOVEM DA DIVISÃO SUL-AMERICANA, Passemos à análise do nome da área. A palavra
2002) para o de 2012 (MINISTÉRIO DE DESBRAVADO- habilidade significa “capacidade ou aptidão para al-
RES E AVENTUREIROS DA DIVISÃO SUL- go”, ao passo que a palavra doméstica significa “da,
AMERICANA, 2012), resultado do ingresso de três es- ou referente à casa, à vida familiar”. Com base no sig-
pecialidades novas, mas com a reclassificação de seis nificado das palavras, as especialidades de HD refe-
especialidades em outras áreas. Abaixo encontra-se rem-se ao desenvolvimento de capacidades para a
um resumo dessas mudanças: realização de atividades da casa, conhecidas popular-
mente como “tarefas domésticas”. Dessa forma, o no-
▷ HD-01 Acolchoamento passou a HM056
me da área é bastante claro e objetivo e exemplifica
Patchwork, mantendo-se o desenho da insíg-
um caso típico em que o nome serve de critério para a
nia; classificação das especialidades da área (BATISTA,
▷ HD-06 Corte e Costura passou a AP008 Corte e 2020). Menciona-se que o nome da área não foi altera-
Costura; do da versão anterior (2002) do manual para a atual
(2012).
▷ HD-07 Corte e Costura – avançado passou a
Com base no exposto acima, sugerem-se os seguin-
AP025 Corte e Costura –avançado; tes critérios básicos para uma especialidade ser clas-
▷ HD-10 Nutrição passou a CS008 Nutrição; sificada na área HD:

▷ HD-11 Nutrição – avançado passou a CS010 Nu- ▷ Os requisitos devem ser prioritariamente práti-
trição – avançado; cos, proporcionando ao desbravador o desen-
volvimento de habilidades, como o nome da
▷ HD-12 Ofício de Alfaiate passou a AP020 Ofício
área indica;
de Alfaiate;
▷ Os requisitos práticos devem ser realizados no
▷ Ingressou HD010 Comidas Típicas (não consta-
âmbito da casa, no sentido de lar. Ou seja, as
va no manual anterior da DSA);
especialidades devem beneficiar a vida domés-
▷ Ingressou HD003 Cuidado de Bebês, oriunda do tica familiar;
manual de 2002, onde constava como ER-07
▷ Deve-se dar prioridade à realização das práticas ▷ Todas as especialidades deveriam conter algu-
dos requisitos na própria casa do desbravador, ma aplicação espiritual para estarem em har-
promovendo-se o envolvimento da família com monia com o tripé de atividades do Clube de
as atividades. De fato, na maioria dos casos, os Desbravadores: físico, mental e espiritual. Con-
pais/responsáveis serão os instrutores das ativi- forme a análise apresentada no Quadro 2, ape-
dades práticas. Isso também proporcionará à nas as especialidades HD006 Orçamento Fami-
família o envolvimento com o clube e a identifi- liar e HD 007 Panificação têm algum requisito
cação de um benefício da participação do juve- com aplicação espiritual e as demais não. Suge-
nil no Clube; re-se, inclusive, que esse critério deveria cons-
▷ Algumas especialidades dessa área podem ser tar no manual de especialidades na seção das
confundidas com as da área de Atividades Pro- orientações para novas especialidades. Por
fissionais, pela sobreposição das áreas do co- exemplo, na especialidade HD004 Cuidados da
nhecimento. Vide, por exemplo, HD009 Costu- Casa, poderia haver algum requisito sobre a
ra Básica e AP008 Corte e Costura ou AP020 Ofí- parábola da dracma perdida (Lucas 15: 8-10);
cio de Alfaiate. Para evitar problemas na corre- na especialidade HD003 Cuidado de Bebês, po-
ta classificação, sugere-se que as especialidades deria ser recapitulada a história de como a filha
de HD tenham um viés menos técnico e teóri- do Faraó encontrou um bebê hebreu (Moisés)
co, com foco sempre o benefício doméstico da em um cesto no rio (Êxodo 2: 1-10).
atividade. Por outro lado, as especialidades de
Atividades Profissionais devem ser mais técni-
cas, com um viés mais relacionado com a quali-
ficação para a prática profissional. As especiali- Por ser uma área com poucas especialidades, foi
dades da área de Atividades Profissionais serão possível analisar cada especialidade individualmente.
analisadas em outro artigo. A análise foi feita com base nos critérios expostos na
seção anterior e sumarizada no Quadro 1.

Especialidade Observação
HD001 Arte Culi- Incluir requisito com aplicação espiritual.
nária
HD008 Arte Culi- A especialidade contempla todos os critérios sugeridos. Como a culinária é uma área vasta e popular,
nária – avançado e que demanda grande atenção entre as atividades domésticas (pela importância, tempo despendido
diariamente e custos no orçamento), sugere-se a criação de outras especialidades nessa temática. Por
exemplo, “culinária vegetariana” e “culinária internacional”.
HD010 Comidas Incluir requisito com aplicação espiritual.
Típicas
HD011 Congela- Incluir requisito com aplicação espiritual.
mento de Alimen-
tos
HD009 Costura Incluir requisito com aplicação espiritual.
Básica
HD003 Cuidado Incluir requisito com aplicação espiritual.
de Bebês Como cuidar de um bebê é algo complexo e de muita responsabilidade, sugere-se a divisão da especi-
alidade em nível básico e avançado e a concomitante adequação dos requisitos.
HD004 Cuidados Incluir requisito com aplicação espiritual.
da Casa Também se sugere a eliminação do requisito 1 “Ter a especialidade de Técnicas de Lavande-
ria” (HD002), por dois motivos: primeiro, o conhecimento adquirido em HD002 não é fundamental para
a realização da especialidade HD004; segundo, a especialidade HD002, da forma como está apresenta-
da hoje, possui uma grande quantidade de requisitos (vide comentário sobre HD002 abaixo), o que a
torna difícil de ser executada pelos juvenis, implicando na não realização da HD004. Destaca-se que as
habilidades desenvolvidas em ambas as especialidades são fundamentais para a vida de qualquer
pessoa e que o clube deveria promovê-las entre os juvenis e suas famílias.
Especialidade Observação
HD012 Desidrata- Incluir requisito com aplicação espiritual
ção de Alimentos
HD006 Orçamento Incluir requisito com aplicação espiritual.
Familiar Trata-se de uma especialidade com grande quantidade de requisitos e elevado nível de dificuldade.
Acredita-se que isso tenha motivado a emissão da OMD 001/2013 (MINISTÉRIO DE DESBRAVADORES
DA DIVISÃO SUL-AMERICANA, 2013), que a transferiu da Classe de Guia para a Classe de Guia de Explo-
ração. Assim, sugere-se a divisão da especialidade em nível básico e avançado e a adequação dos re-
quisitos.
HD007 Panifica- Incluir requisito com aplicação espiritual.
ção Da mesma forma que a “arte culinária”, a panificação é uma área muito vasta e popular. A especialida-
de em si tem grande quantidade de requisitos e poderia facilmente ser dividida em nível básico e
avançado. Poderia ainda ser dividida em especialidades diferentes conforme os diferentes produtos
da panificação, por exemplo, pães, bolos e tortas e biscoitos.
HD005 Técnicas Incluir requisito com aplicação espiritual
de Fazer Conser-
vas
HD002 Técnicas Incluir requisito com aplicação espiritual.
de Lavanderia Propõe-se a divisão desta especialidade em duas, uma abordando as habilidades de lavar roupa e
outra com as habilidades de passar roupa. Isso tornaria as especialidades mais fáceis de serem reali-
zadas e resultaria em aumento das especialidades da área.

nizer, por exemplo.


Notou-se um déficit significativo de aplicações Atualmente há apenas um mestrado em HD, devi-
espirituais nas especialidades de Habilidades Domés- do à existência de poucas especialidades disponíveis
ticas. Na ocasião da revisão do manual de especialida- para a realização. Por causa da redução da quantida-
des, sugere-se que seja incluído o seguinte na seção de de especialidades em relação ao manual de 2002, o
das orientações para novas especialidades: todas as Mestrado em Habilidades Domésticas foi simplifica-
novas especialidades deverão conter em seus requisi- do: ter sete especialidades em HD.
tos, pelo menos, uma aplicação espiritual. Sugere-se o Em um cenário com mais especialidades, inicial-
mesmo para as especialidades antigas no ato da revi- mente, propõe-se um mestrado com especialidades
são. mais gerais da área HD e um mestrado em culinária,
As especialidades de HD são muito práticas e deve- uma vez que existem sete especialidades com alguma
riam ser mais valorizadas no programa do Clube de conexão com a preparação de alimentos.
Desbravadores, haja vista o treinamento prático de Há ainda algumas especialidades que estão em
habilidades que serão úteis para os desbravadores por outras áreas e que são passíveis de revisão para verifi-
toda a vida. cação de adequação de área e que, talvez, poderiam
As 12 especialidades atuais têm potencial para ser ser mais bem enquadradas na área de Habilidades
facilmente divididas em nível básico e avançado, o Domésticas: HM027 Construção Nativa, HM042 Deco-
que resultaria em dobrar a quantidade de especialida- ração de Bolos, HM052 Telhados, AR070 Cozinha com
des disponíveis. Ainda buscando-se aumentar a quan- Forno Holandês e EN049 Plantas Caseiras.
tidade de especialidades da área, sugere-se a criação Recomenda-se a revisão do Manual de Especialida-
de especialidades (além das mencionadas no Quadro des, com a agregação dos critérios básicos sugeridos.
1) com os temas segurança doméstica, cuidado de Também, que sejam observadas as sugestões aponta-
idosos, pequenos reparos domésticos e personal orga- das no Quadro 1.

BATISTA, D. C. Análise geral dos critérios das áreas das especialidades do Clube de Desbravadores. Revista do Líder, Manaus, v. 2, n. 4, e-
0024, jul/dez 2020. Disponível em: https://revistadolider.com/?p=908. Acesso em: 24/05/2021.
MINISTÉRIO DE DESBRAVADORES DA DIVISÃO SUL-AMERICANA. Orientação do Ministério de Desbravadores 001/2013. Brasília, 2013.
1p. Disponível em: https://deptos.adventistas.org/desbravadores/Normativas/OMDs/OMD_001-2013.pdf. Acesso em: 26/05/2021.
MINISTÉRIO DE DESBRAVADORES E AVENTUREIROS DA DIVISÃO SUL-AMERICANA. Manual de especialidades. Brasília: Ministério
Jovem, Divisão Sul-Americana, 2012.
MINISTÉRIO JOVEM DA DIVISÃO SUL-AMERICANA. Manual de especialidades. 2. ed. Brasília: Ministério Jovem, Divisão Sul-Americana,
2002.

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