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O fato de eu sair do Rio de Janeiro para estudar em Maceió, lugar de nascimento de Nise, não passa de
uma mera coincidência.
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O nome Colônia Juliano Moreira foi dado em homenagem ao médico negro, baiano e considerado
fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil. Na faculdade, foi aluno de Nina Rodrigues, de quem rebateu
as teses sobre a inferioridade do(a) negro(a). Ver mais sobre a Colônia Juliano Moreira em:
https://museubispodorosario.com/colonia-juliano-moreira/ e também no documentário de 2016,
chamado Holocausto Brasileiro. Direção de Armando Mendz e Daniela Arbex.
Levando em consideração a importância que Bourdieu confere ao ambiente
familiar para a formação do habitus, do ethos, isto é, das disposições dos sujeitos
em pensar sentir e agir no mundo, seria razoável afirmar que meu interesse, meu
gosto em torno da temática racial e também da educação não passam de um mero
Amor fati (Nietzsche, 2006, p. 162), expressão latina que significa amor ao destino
e que segundo Rubira (2008), está associada à noção de eterno retorno. Bourdieu
toma emprestado de Nietzsche a expressão Amor fati, para explicar a tendência
das pessoas em gostarem daquilo que as conectam com o ambiente familiar da
infância, fazendo-as “retornarem eternamente” a esse ambiente. Sendo assim,
reforço que meu interesse temático por esse trabalho se constitui como uma
posição ética e política. Como diz Bourdieu (2020, p.47), “sempre fazemos política
quando fazemos sociologia”. Nesse contexto, tenho gravado em minha identidade,
em meu habitus, apesar deste não se constituir como uma coisa fixa, um
compromisso para com a luta e a resistência dos povos de terreiro3, com a
população negra, os indígenas, os loucos e todos os excluídos que foram, no
passado e que ainda são alvos de discriminações constantes. Desse modo,
constituo-me como um aliado dessa causa e também como objeto de minha
própria análise, pois em concordância com Bourdieu (2005), acredito que no
processo de uma investigação científica, o pesquisador também está em situação,
quer dizer, ao mesmo tempo em que realiza sua pesquisa, o pesquisador é,
também, além de sujeito, o objeto da sua própria análise, e sendo assim,
elementos de sua subjetividade, constituem o modo único sem o qual não seria
possível esse pesquisador perceber e interpretar o mundo social.
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Não só por conta da minha trajetória familiar tão próxima da cultura e da religião de matriz africana,
mas em decorrência do presente. Atualmente minha irmã caçula, a única entre as novas gerações da
família do meu pai, tornou-se Ialorixá da nação Ketu (candomblé) e se dedica, com muito compromisso,
assim como outras pessoas que formam a grande comunidade de candomblecistas brasileiras, a manter
viva as práticas e a memória da cultura africana por meio da religiosidade e como forma de resistência
contra o racismo e os preconceitos tão vivos ainda em nossa cultura em relação a população negra.