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IMERSÃO PREGAI MULHERES

Aula 001 - Mulheres no Antigo Testamento

Professor Julio Ribeiro

Quando o assunto é o papel da figura feminina na bíblia e no antigo


testamento, existem dois grandes grupos que nós iremos apresentar agora, e junto
deles uma solução harmoniosa para o problema que eles apresentam. São dois
pólos incomunicáveis, que criam dificuldades no processo de entendimento correto
sobre a bíblia, e sobre aquilo que a bíblia diz a respeito das mulheres.

O primeiro grande grupo tem o seu lema na carta de Paulo aos Gálatas no
capítulo três nos versos que dizem:

Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.


Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus.

Gálatas 3:27,28

Este grupo defende que Jesus tinha discípulas entre os seus seguidores.
Gostam de falar sobre Febe em Romanos capítulo 16, sobre Lídia em Atos Capítulo
16, Priscila em Atos Capítulo 18, o exemplo de Maria e as filhas de Filipe que
profetizavam.

Entretanto, eles ignoram (deliberadamente ou inconscientemente) outros


textos, como por exemplo os escritos de Paulo a Tito, Timóteo e à igreja de Corinto,
que falam especificamente sobre o procedimento das mulheres, como por exemplo:

A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.


Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o
marido, mas que esteja em silêncio.
Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.
E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão.

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1 Timóteo 2:11-14

As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido
falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios
maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.

1 Coríntios 14:34,35

Para eles, o texto aos Gálatas que foi citado é um texto legítimo do apóstolo
Paulo, enquanto os textos escritos a Tito, Timóteo e Corinto são escritos
“deuteropaulinos”, ou seja, foram escritos por outra pessoa que registrou-os como
sendo de Paulo. Os trechos da carta aos Coríntios que falam sobre as mulheres
são, para eles, acréscimos feitos por editores ao texto de Paulo.

Em seu comentário bíblico sobre a carta de Paulo a Timóteo, o pastor


brasileiro Hernandes Dias Lopes enumera os ataques feitos à autenticidade das
epístolas pastorais (1 e 2 Timóteo e Tito). Segundo ele, 4 argumentos normalmente
são usados por aqueles que pensam desta maneira. Em primeiro lugar, está a
dificuldade em ajustar a narrativa das cartas pastorais à carreira de Paulo, conforme
a literatura do novo testamento. Em segundo lugar, dizem que o quadro
organizacional das igrejas descrito nas cartas pastorais é incompatível com o das
igrejas daquela época. Em terceiro lugar, alegam que os temas doutrinários
presentes nestas cartas diferem radicalmente dos ensinos presentes nas outras
epístolas de Paulo. Em quarto lugar, levantam suspeitas quanto à comparação do
vocabulário existente nas epístolas pastorais e nas cartas de Paulo às igrejas. Os
ataques são, portanto, de natureza histórica, eclesiástica, doutrinária e linguística.

Em sua obra, o Pastor Hernandes apresenta os contra-argumentos para cada


uma destas acusações, provando que as cartas pastorais são textos legitimamente
paulinos, assim como são as cartas às igrejas .

O segundo grupo está inversamente disposto, quando comparado ao


primeiro grupo. Eles aceitam os textos das cartas pastorais e os trechos da carta
aos Coríntios que falam sobre a mulher, porém ignoram todas as notáveis mulheres
de destaque presentes no Novo Testamento.

Como fugir destas duas visões antagônicas, e que não abrem espaço para
um debate saudável?

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Começaremos hoje a apresentar este caminho que consideramos ser o mais
bíblico e fiel doutrinariamente para todos os alunos da nossa imersão.

O primeiro passo para isto se encontra em um termo teológico muito


importante para todos nós hoje, e para todos aqueles que desejam estudar a bíblia
da maneira correta. estamos falando sobre entender corretamente os
antropomorfismos que existem nela.

Antropomorfismo consiste em usar características físicas humanas para


retratar ou revelar ações e representações que Deus faz de si mesmo. Um exemplo
disso são os textos que falam sobre os olhos de Deus, o braço de Deus, a mão de
Deus, etc.

Temos muita facilidade para aceitar aqueles textos nos quais Deus se revela
como uma figura masculina, trazendo características físicas e comportamentais de
um homem. Entretanto, temos dificuldade de aceitar e até perceber que Deus não é
retratado ao longo do texto sagrado apenas com imagens e características
masculinas. O antigo testamento, por exemplo, está repleto de situações que trazem
Deus representado por ações e figuras femininas. Nós sabemos que Deus não tem
gênero, ou seja, Deus não é homem nem mulher. Deus é espírito (João 4), e os
antropomorfismos são apenas auxílios para aumentar e melhorar nossa
compreensão acerca de Deus. Vamos à análise de alguns textos:

A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do orvalho?


De que ventre procedeu o gelo? E quem gerou a geada do céu?

Jó 38:28,29

Assim como os olhos dos servos atentam para as mãos dos seus senhores,
e os olhos da serva para as mãos de sua senhora, assim os nossos olhos atentam
para o SENHOR nosso Deus, até que tenha piedade de nós.

Salmos 123:2

Certamente que me tenho portado e sossegado como uma criança


desmamada de sua mãe; a minha alma está como uma criança desmamada.

Salmos 131:2

O Senhor sairá como poderoso, como homem de guerra despertará o zelo;


clamará, e fará grande ruído, e prevalecerá contra seus inimigos.

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Por muito tempo me calei; estive em silêncio, e me contive; mas agora darei
gritos como a que está de parto, e a todos os assolarei e juntamente devorarei.

Isaías 42:13,14

Ouvi-me, ó casa de Jacó, e todo o restante da casa de Israel; vós a quem


trouxe nos braços desde o ventre, e sois levados desde a madre.
E até à velhice eu serei o mesmo, e ainda até às cãs eu vos carregarei; eu
vos fiz, e eu vos levarei, e eu vos trarei, e vos livrarei.

Isaías 46:3,4

Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que
não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse
dele, contudo eu não me esquecerei de ti.

Isaías 49:15

Concebi eu porventura todo este povo? Dei-o eu à luz? para que me


dissesses: leva-o ao teu colo, como a ama leva a criança que mama, à terra que
juraste a seus pais?

Números 11:12

Se nós analisarmos de maneira justa todos estes textos que usam figuras
femininas para demonstrar algo sobre Deus, ou para exemplificar a maneira como
Deus age em determinada situação, ou que dizem alguma coisa sobre a relação do
escritor com o Criador, começamos a desconstruir a imagem que foi formada no
imaginário social de muitas pessoas acerca da mulher nos tempos do Antigo
Testamento.

Se hoje eu e você temos em nossa mente essa figura da mulher banalizada,


desvalorizada, quase como um “ser inferior” nos tempos da velha aliança,
precisamos nos perguntar como é que chegamos até este ponto, visto que até o
próprio Deus, durante o processo de inspiração das escrituras Se usou de
representações femininas para dar-Se a conhecer ao seu povo.

Ainda dentro desta linha de resgate da figura feminina, um ótimo texto para
estudarmos esteja em Provérbios 31. A ideia de “mulher virtuosa'' que eu e você
temos hoje está muito distante da ideia original. Nós veremos que, diferente daquilo
que muitos pensam, a mulher virtuosa não é aquela figura “angelical, feita de

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porcelana”, que serve apenas para os cuidados da casa, marido e filhos. Me
acompanhe na leitura e estudo detalhado de alguns trechos deste capítulo que
certamente mudarão a nossa concepção sobre o tema:

Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor excede ao de rubis.


O coração do seu marido está nela confiado; assim ele não necessitará de
despojo.
Ela só lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida.
Busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com suas mãos.
Como o navio mercante, ela traz de longe o seu pão.
Levanta-se, mesmo à noite, para dar de comer aos da casa, e distribuir a
tarefa das servas.
Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com o fruto de suas
mãos.
Cinge os seus lombos de força, e fortalece os seus braços.
Vê que é boa a sua mercadoria; e a sua lâmpada não se apaga de noite.
Estende as suas mãos ao fuso, e suas mãos pegam na roca.
Abre a sua mão ao pobre, e estende as suas mãos ao necessitado.
Não teme a neve na sua casa, porque toda a sua família está vestida de
escarlata.
Faz para si cobertas de tapeçaria; seu vestido é de seda e de púrpura.
Seu marido é conhecido nas portas, e assenta-se entre os anciãos da terra.
Faz panos de linho fino e vende-os, e entrega cintos aos mercadores.
A força e a honra são seu vestido, e se alegrará com o dia futuro.
Abre a sua boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua.
Está atenta ao andamento da casa, e não come o pão da preguiça.
Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada; seu marido também,
e ele a louva.
Muitas filhas têm procedido virtuosamente, mas tu és, de todas, a mais
excelente!
Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor,
essa sim será louvada.
Dai-lhe o fruto das suas mãos, e deixe o seu próprio trabalho louvá-la nas
portas.

Provérbios 31:10-31

Busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com suas mãos.Talvez o


primeiro conceito comece a ser quebrado com este verso. A bíblia diz que a mulher
virtuosa trabalha com as próprias mãos. Ela não é uma madame que gasta todo o
seu tempo com procedimentos de beleza (ainda que seja bela) ou entretenimento.

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Pelo contrário: sua virtude se encontra em sua disposição para trabalhar, em suas
mãos sujas pelo labor, em seus pés empoeirados pelo andar, em suas roupas
suadas pelo calor, e no cansaço físico depois de um longo e produtivo dia.

Examina uma propriedade e adquire-a; Além disso, a mulher virtuosa


também trata de assuntos imobiliários, coisa que muita gente considera ser “assunto
de homem”. Ela tem autonomia, condições financeiras e sabedoria para escolher e
negociar propriedades.

Cinge os seus lombos de força, e fortalece os seus braços. Se as


ativistas do feminismo querem retratar uma mulher forte, está aqui o melhor
exemplo que elas podem usar.

Vê que é boa a sua mercadoria; A mulher virtuosa é uma empreendedora.


Ela faz negócios, e negócios lucrativos. Ela não é do tipo de mulher que depende
financeiramente de seu marido - pelo contrário, ela ajuda com as contas dentro de
casa. Nela, encontram-se sabedoria e disposição para o trabalho que gera lucro e
uma boa reputação.

Abre a sua mão ao pobre, e estende as suas mãos ao necessitado. Ela é


generosa e julga bem quando é necessário dar ao necessitado. Ela percebe o
momento oportuno para fazer o bem e faz, sem hesitar.

Seu marido é conhecido nas portas, e assenta-se entre os anciãos da


terra. O bom procedimento da mulher virtuosa traz honra e reconhecimento ao seu
marido. Ou seja, aquele homem é conhecido por ser marido daquela mulher que se
destaca entre as outras. Ela não é um peso e nem uma vergonha para a sua família,
pois suas características e atitudes são verdadeiramente louváveis. Ela tem uma
ótima reputação.

Faz panos de linho fino e vende-os, e entrega cintos aos mercadores. A


palavra mais importante aqui é “entrega”. Ela não fica em casa, ela não se priva dos
espaços públicos e nem da agitação de um mercado de negócios. Ela pessoalmente
vende sua mercadoria e trata com os seus compradores.Ela não se restringe ao
espaço particular, mas também tem acesso aos espaços públicos, e sabe muito
bem como administrar seu empreendimento.

Abre a sua boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua


língua. Ela é sábia e ensina outras pessoas. Sua língua não é usada para fofocas e
mexericos. Pelo contrário, ela tem sempre uma boa palavra para compartilhar. De

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acordo com o professor Ken Bailey podemos entender através desse texto que ela
também era uma professora.

Dai-lhe o fruto das suas mãos, e deixe o seu próprio trabalho louvá-la
nas portas. Duas ideias aqui são muito importantes: Pagamento igualitário e
reconhecimento por seu bom trabalho. A mulher virtuosa sabe quanto ela deve
receber por aquilo que faz e luta por isso. Além disso, ela deve ser reconhecida por
seu esforço de modo que outras pessoas não levem o crédito por seu trabalho. Ela
fez, alcançou os resultados e agora deve colher integralmente tudo aquilo que
plantou.

Pois bem. Depois de todos estes exemplos parece que estamos em


contradição. Se por um lado temos diversos antropomorfismos femininos usados
pelos autores do Antigo Testamento para auxiliar na revelação pessoal de Deus, e
se temos um quadro tão bem pintado sobre a mulher nos tempos da antiga aliança,
como é possível que exista essa imagem tão deturpada no imaginário social, de
uma mulher incapaz, sem voz, sem personalidade, e cujo único objetivo é cuidar da
casa e dos filhos ?

Como é possível que toda sabedoria, capacidade e bom testemunho de


mulheres como Sara, Tamar, Ana, Débora, Rute, Hulda, Abigail e tantas outras
tenha ficado para trás e tenha sido propositalmente ignorado pelas autoridades
religiosas dos dias de Cristo e também durante os anos de domínio da Igreja
Católica Romana até o advento da Reforma?

Acredito que a resposta não esteja antes de Malaquias e nem depois de


Mateus, mas exatamente entre estes dois livros, naquilo que ficou conhecido como
o período intertestamentário.

Ao analisar alguns versos do livro apócrifo de “Eclesiástico”, escrito por Ben


Sirach, é possível observar como a figura da mulher virtuosa de Provérbios 31 vai
se perdendo, e a figura de uma nova mulher vai surgindo, totalmente diferente de
tudo aquilo que estudamos até agora:

1.Meu espírito se compraz em três coisas que têm a aprovação de Deus e


dos homens:
2.a união entre os irmãos, o amor entre os parentes, e um marido que vive
bem com sua mulher.
3.Mas há três espécies de gente que minha alma detesta, e cuja vida me é
insuportável:
4.um pobre orgulhoso, um rico mentiroso e um ancião louco e insensato.

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5.Como acharás na velhice aquilo que não tiveres acumulado na juventude?
6.Quão belo é para a velhice o saber julgar, e para os anciãos o saber
aconselhar!
7.Quão bela é a sabedoria nas pessoas de idade avançada, e a inteligência
com a prudência nas pessoas honradas!
8.A experiência consumada é a coroa dos anciãos; o temor a Deus é a sua
glória.
9.Nove coisas se apresentam ao meu espírito, as quais considero felizes, e
uma décima que anunciarei aos homens:
10.um homem que encontra a sua alegria em seus filhos; um homem que
vive o bastante para ver a ruína de seus inimigos;
11.aquele – feliz dele! – que vive com uma mulher sensata, e que não pecou
pela língua, nem teve de servir a pessoas indignas dele.
12.Feliz aquele que encontrou um amigo verdadeiro, e que fala da justiça a
um ouvido atento.
13.Como é grande aquele que encontrou sabedoria e ciência! Mas nada é tão
grande como aquele que teme o Senhor:
14.o temor a Deus coloca-o acima de tudo.
15.Feliz o homem que recebeu o dom do temor a Deus.
16.O temor a Deus é o começo de seu amor, e a ele é preciso acrescentar
um princípio de fé.
17.A tristeza do coração é uma chaga universal, e a maldade feminina é
uma malícia consumada.
18.Toda chaga, não, porém, a chaga do coração;
19.toda malícia, não, porém, a malícia da mulher;
20.toda vingança, não, porém, a que nos causam nossos adversários;
21.toda vingança, não, porém, a de nossos inimigos.
22.Não há veneno pior que o das serpentes;*
23.não há cólera que vença a da mulher. É melhor viver com um leão e
um dragão que morar com uma mulher maldosa.
24.A malícia de uma mulher transtorna-lhe as feições, obscurece-lhe o
olhar como o de um urso, e dá-lhe uma tez com a aparência de saco.
25.Entre seus parentes, queixa-se o seu marido, e, ouvindo-os, suspira
amargamente.*
26.Toda malícia é leve, comparada com a malícia de uma mulher; que a
sorte dos pecadores caia sobre ela!
27.Como uma ladeira arenosa aos pés de um ancião, assim é a mulher
tagarela para um marido pacato.
28.Não contemples a beleza de uma mulher, não cobices uma mulher pela
sua beleza.
29.Grandes são a cólera de uma mulher, sua audácia, sua desordem.

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30.Se a mulher tiver o mando, ela se erguerá contra o marido.*
31.Coração abatido, semblante triste e chaga de coração: eis o que faz
uma mulher maldosa.
32.Mãos lânguidas, joelhos que se dobram: eis o que faz uma mulher
que não traz felicidade ao seu marido.
33.Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos
morremos.
34.Não dês à tua água a mais ligeira abertura, nem à mulher maldosa a
liberdade de sair a público.
35.Se ela não andar sob a direção de tuas mãos, ela te cobrirá de
vergonha na presença de teus inimigos.
36.Separa-te do seu corpo, a fim de que não abuse sempre de ti."

Eclesiástico, 25 - bíblia Católica Online

Não precisamos tecer muitos comentários para entender como a mentalidade


do período intertestamentário naquilo que diz respeito à mulher sofreu uma forte
mudança, se comparada a mentalidade presente nas linhas do Antigo Testamento,
com seu ápice em Provérbios 31.

A partir disto, vamos estudar, na próxima aula, a maneira como Jesus e os


escritores do novo testamento devolvem à mulher a boa reputação e o lugar de
honra que elas perderam durante este período de transição entre a Antiga e a Nova
Aliança.

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IMERSÃO PREGAI MULHERES
Aula 002 - Mulheres Líderes no Novo Testamento

Professor Julio Ribeiro

Aqui estamos nós dando continuidade ao nosso conteúdo sobre as mulheres


ao longo da narrativa da bíblia. Nós vimos na primeira aula que a mulher tinha uma
posição de destaque nos dias do antigo testamento, e que essa posição foi se
perdendo ao longo do período intertestamentário, culminando no cenário social que
nós encontramos nos textos e nos dias do novo testamento. Antes de analisar a
maneira pela qual Jesus devolve essa posição de honra para as mulheres, é válido
analisar o texto de Gênesis capítulo 3 e, a partir desta análise, formular uma
pergunta que servirá como base para todo o nosso raciocínio daqui em diante.

Ao fazer esta pergunta, ficaremos mais confortáveis com algumas das


posições que serão apresentadas, visto que elas podem parecer conflitantes com
tudo aquilo que nos foi ensinado acerca das mulheres na igreja, das mulheres e na
Bíblia, etc.

E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e


mulher os criou.
E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei
a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e
sobre todo o animal que se move sobre a terra.

Gênesis 1:27,28

O texto acima é o registro da criação fica nítido então que Deus criou
juntamente tanto o homem quanto a mulher. A ordem de frutificar, multiplicar, encher
a terra e dominar sobre ela não foi dada somente ao homem, e sim ao casal.

Entretanto, quando falamos sobre Eva existe um detalhe que faz toda a
diferença. Quando Deus vê que o homem está só, a Bíblia diz que seria criada uma
auxiliadora; nas traduções em inglês da bíblia, “helper” - literalmente “ajudadora”.
Precisamos entender que este conceito de ajudante não era uma simples
quebra-galho. Não era uma “forcinha” que Deus estava dando para Adão. O termo
hebraico traduzido como “ajudadora” aparece outras vezes no antigo testamento,
como por exemplo nos livros de Êxodo, Deuteronômio e Salmos. Em todas estas
ocasiões a palavra é usada para descrever o próprio Deus como o ajudador - ou

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salvador de Israel. Quando Deus interfere na história em favor de seu povo, a Bíblia
usa a mesma palavra que foi usada para descrever o tipo de ajuda que Eva
representava para Adão.

E o outro se chamava Eliézer; porque disse: O Deus de meu pai foi por minha
ajuda, e me livrou da espada de Faraó.

Êxodo 18:4

A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo.

Salmos 33:20

E isto é o que disse de Judá: Ouve, ó Senhor, a voz de Judá, e introduze-o


no seu povo; as suas mãos lhe bastem, e tu lhe sejas em ajuda contra os seus
inimigos.

Deuteronômio 33:7

Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus, que cavalga sobre os céus


para a tua ajuda, e com a sua majestade sobre as mais altas nuvens.

Deuteronômio 33:26

Não era uma ajuda pequena ou dispensável. A criação da mulher possibilitou


que o homem cumprisse todas as ordens dadas por Deus e pudesse viver a
plenitude de vida que estava reservada para ele dentro dos limites do jardim.
Resumidamente, o homem precisava da mulher.

Adão e Eva receberam da boca de Deus o decreto para exercer domínio


sobre o restante da criação. À esta altura alguns de vocês já devem estar pensando
sobre a questão do domínio. Quando é que o homem começou a “dominar” a
mulher?

E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com


dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.

Gênesis 3:16

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O fato de o homem dominar sobre a mulher é uma consequência direta da
queda. Esta ordem que Deus dá no capítulo 3 de Gênesis não estava presente no
capítulo 1. Ou seja, não fazia parte do primeiro projeto de Deus para o primeiro
casal. Eles eram iguais, andavam lado a lado e haviam recebido as mesmas ordens
do Criador. Foi o advento da queda que quebrou este equilíbrio.

A pergunta que nós precisamos ter em mente para que o nosso cérebro
aceite melhor algumas das coisas que serão ensinadas é: Quando os efeitos da
queda deixam de valer, visto que, em Cristo, temos o início de uma nova era e
de um novo momento para toda a criação?

Agora sim podemos seguir em frente com o nosso conteúdo. Veremos que a
bíblia é clara ao registrar que as mulheres ocupavam, pelo menos seis posições de
importância na Igreja Primitiva e nos dias de Jesus:

1 - Mulheres como discípulas: Existem três textos super importantes que


trazem mulheres entre os discípulos de Jesus:

E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em


aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com
ele,
E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de
enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios;
E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras
que o serviam com seus bens.

Lucas 8:1-3

Lucas está registrando a caravana evangelística de Jesus e fica claro que


haviam mulheres dentro daquele grupo. Além disso, as mulheres não só seguiam a
caravana, como também patrocinavam todo aquele movimento. Ben Sirach, que nós
já estudamos antes, em alguns dos seus escritos deixa claro que era uma grande
vergonha para um homem ser sustentado por uma mulher. Vemos aqui Jesus não
somente sendo custeado por mulheres, como também vemos a divina inspiração
permitindo que Lucas registre isso em seu evangelho.

Outro fator importante é que na cultura do Oriente Médio daqueles dias (e


ainda nos dias de hoje) mulheres não podem dormir fora de casa, ou fora da casa
de um parente. Na caravana de Jesus é óbvio que homens e mulheres dormiam
separadamente, mas ainda assim as mulheres não retornavam para suas casas
para dormir. Elas faziam parte do grupo, e onde o grupo dormia, elas dormiam

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também. A única explicação possível para não existir nenhum registro de Jesus
sendo censurado pelos fariseus por aceitar mulheres em suas caravanas seria o
fato de, conforme acredita o professor Kenneth Bailey, Jesus se referir ao seu grupo
como uma família. A família é um dos termos usados para descrever a igreja, e
sendo assim, caso alguém censurasse Jesus e ele respondesse dizendo que todos
naquela caravana eram uma só família, então o assunto estaria esclarecido.

Finalizando este argumento, antes de seguir para o próximo, precisamos falar


algo sobre a questão dos 12, pois sei que certamente alguns de vocês já estão
pensando o seguinte: Por que não havia nenhuma mulher entre os 12?

Concordo com o professor Kenneth Bailey quando ele diz que a resposta
para esta pergunta é simples: É tudo uma questão de simbologia. Os 12 discípulos
eram um apontamento claro de um símbolo maior. Obviamente estamos falando dos
12 filhos de Jacó que deram origem às doze tribos de Israel. Dentro do contexto
judaico dos dias do ministério terreno de Jesus, Cristo queria apontar para algo
novo que tinha um correspondente na antiga aliança. Paulo escreve dizendo que
nós somos o Israel espiritual e os seguidores de Jesus são os verdadeiros israelitas,
aqueles cuja circuncisão está no coração. Assim sendo, se a Nação de Israel
tivesse sido gerada a partir de seis homens e seis mulheres, Jesus certamente teria
escolhido seis homens e seis mulheres para serem seus discípulos principais. A
questão dos 12 se explica a partir deste entendimento sobre qual símbolo Jesus
estava fazendo alusão quando inicia o seu movimento e consequentemente sua
igreja.

E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos
pés de Jesus, ouvia a sua palavra.

Lucas 10:39

Nosso próximo texto é bem conhecido e bem famoso. estamos falando


daquela passagem que traz Marta e Maria no cenário junto com Cristo. eu e você já
Lemos Este texto milhares de vezes mas nunca nos atentamos para um detalhe
super importante. veja o texto abaixo:

Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado
aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zelador de
Deus, como todos vós hoje sois.

Atos 22:3

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O termo “ assentar aos pés de alguém ” quer dizer literalmente “tornar-se
discípulo de alguém”. O pastor e escritor brasileiro Ed René Kivitz, em seu livro
chamado “Talmidim” diz que “o discípulo deve ficar coberto com a poeira que o seu
mestre levanta enquanto anda, pois deve estar sempre aos pés do rabi”. Agora, se
nós pegarmos este mesmo entendimento para aplicar ao texto de Lucas 10
conseguimos entender corretamente o que estava acontecendo e o motivo
verdadeiro da insatisfação de Marta.

Marta não estava chateada por estar sobrecarregada na cozinha, ou pelo


fato de Maria estar literalmente sentada aos pés de Jesus. O grande problema
nesta cena é que Jesus aceitava que as mulheres fizessem parte do seu
discipulado, e Maria estava inscrita naquela primeira turma. Quando Jesus diz que
Marta estava ocupada com muitas coisas, porém somente uma era necessária, e
que Maria havia escolhido “a melhor parte”, essa “melhor parte” significa o fato de
Maria ter decidido se tornar uma discípula de Cristo. Ao invés dos cuidados
domésticos, ou da preparação para um possível casamento ou algo do tipo, Maria
tornou-se uma estudante de teologia no seminário de Jesus.

Para finalizar esta primeira parte nós vamos ler dois textos que provam
claramente a existência de mulheres dentro do grupo dos discípulos de Jesus abra
a sua Bíblia em Mateus 12:

E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem
falar-te.
Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E
quem são meus irmãos?
E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe
e meus irmãos;

Mateus 12:47-49

O cenário é este: a mãe e os irmãos biológicos de Cristo se apresentam e


pedem para falar com ele. Jesus então responde com uma pergunta dizendo “
quem é minha mãe? e quem são os meus irmãos”? Depois disso, o texto é bem
claro quando diz que Jesus estende sua mão para os seus discípulos e diz: “ Eis
aqui minha mãe e meus irmãos”.

Bom, na cultura ocidental dos dias de hoje ninguém julgaria como coerente
estender a mão sobre um grupo de homens e dizer coisas do tipo: “Eis aqui minha
mãe, meus irmãos, minhas tias, meus primos e minhas primas”. Se estamos falando
de um grupo composto apenas por homens, precisamos usar apenas palavras

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masculinas (como por exemplo “pai, irmão, tio”, etc). Se isso é verdade para o
século 21, é ainda mais verdade para a sociedade da Palestina no primeiro século.
Jesus nunca iria dizer tais palavras se não houvesse mulheres dentro daquele
grupo. Quando Jesus estendeu a mão sobre os seus discípulos e disse que ali
estavam sua mãe e seus irmãos, não existe outra interpretação cabível a não ser
reconhecer o fato de que homens e mulheres faziam parte do grupo de discípulos
de Jesus. As discípulas de Cristo existiram (e existem até os dias de hoje).

Finalmente, Atos 9:

E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz


Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia.

Atos 9:36

2 - Mulheres como professoras: Diferente daquilo que muitas pessoas


acreditam, na igreja dos primeiros dias as mulheres também ensinavam, e
ensinavam inclusive os homens. A primeira ocorrência que vamos estudar está em
Atos 18:

E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria,


homem eloqüente e poderoso nas Escrituras.
Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e
ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de
João.
Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila
e Aqüila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de
Deus.

Atos 18:24-26

O cenário aqui é o seguinte: Eis que para problema pregar na Cidade de


Éfeso. Seu nome é Apolo e ele vem de Alexandria. Apesar da boa pregação que
ele tinha, sua teologia ainda apresentava algumas debilidades. a Bíblia diz, por
exemplo, que ele só conhecia o batismo de João, mas ainda não entendia o
batismo com o Espírito Santo. Neste momento Priscila e Áquila lhe explicaram mais
precisamente sobre o caminho de Deus, que pode ser entendido como o
evangelho.

Note a ordem das palavras. O nome de Priscila vem antes do nome de


Áquila, e isso não é um acaso. Nas passagens das escrituras as ordens em que os

15
nomes são apresentados fazem toda a diferença. Isto é, inclusive, um dos fatores
relevantes sempre que nós estivermos estudando qualquer livro da Bíblia. Quem
ensina Apolo não são Áquila e Priscila, mas sim Priscila e Áquila. O poderoso
pregador de Alexandria precisou de uma aula de teologia da professora Priscila para
conseguir compreender melhor o desenvolvimento do Evangelho de Deus naqueles
dias.

Quando olhamos para um texto como esse a noção de que as mulheres não
podiam ensinar os homens torna-se totalmente inviável, porque o fato não só
aconteceu como também foi registrado por Lucas na narrativa do livro de Atos dos
Apóstolos. Entre os mestres da Igreja Primitiva também existiam mulheres.

O professor Kenneth Bailey tem um segundo argumento para defender a tese


de mulheres como professoras. Para ele, no momento em que Lucas registra o
cântico de Maria, cujo conteúdo é teologicamente riquíssimo, Lucas está fazendo
com que Maria também se torne uma professora dentro da igreja. Mediante o
registro do “Magnificat” (que é o cântico de Maria) muitos crentes ao redor do
mundo, em diversos séculos são edificados e ensinados.

Finalmente, também existe um último texto que podemos usar para defender
esta tese. O texto em questão torna-se especial porque se trata de um registro da
ressurreição. O foco aqui está nas palavras que saíram da boca do próprio Cristo
ressurreto:

Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni, que quer dizer:
Mestre.
Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai,
mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai,
meu Deus e vosso Deus.

João 20:16,17

Jesus aparece para Maria e dá um comando. Esse tipo de linguagem era


usado no Oriente Médio durante o primeiro século, e ainda é usado nos dias de hoje
nas regiões mais rurais da Palestina onde uma mensagem precisa ser transmitida
oralmente.

De maneira semelhante, os profetas do Antigo Testamento iniciavam os seus


discursos dizendo: “Assim diz o Senhor”. Depois disso, eles falavam em primeira
pessoa, porque a ideia era de que o próprio Deus estaria ali naquele momento,
falando através da boca do profeta. Essa mesma forma profética de transmissão de

16
mensagem foi seguida por Maria. Foi uma mulher que anunciou aos outros
discípulos o advento da ressurreição.

A Comunidade Judaica diz que o testemunho de uma mulher não é confiável.


O cristianismo não compra essa ideia. Para nós, o testemunho de uma mulher é
confiável, ao ponto de eu próprio Jesus ter transmitido a mensagem de sua
ressurreição através dos lábios de Maria.

3 - Mulheres como profetizas: Também existiam profetizas nos dias do novo


testamento. Um dos textos mais conhecidos sobre o assunto é certamente o
capítulo 21 do livro de Atos dos Apóstolos que fala sobre as 4 filhas de Filipe que
profetizavam. Além disso, deixamos passar um detalhe super importante na carta de
Paulo aos Coríntios, mas especificamente no capítulo 11:

Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua
própria cabeça.
Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a
sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.

1 Coríntios 11:4,5

Normalmente eu e você damos tanta atenção às instruções de Paulo sobre o


modo como os homens e as mulheres devem se vestir, que não percebemos
quando o apóstolo deixa bem claro que na igreja de Corinto tanto homens quanto
mulheres oravam e profetizavam.

4 - Mulheres como diaconisas / ministras: Caminhando para o final da nossa


segunda aula vemos que o diaconato também não era exclusividade dos homens.
Na carta de Paulo aos romanos no Capítulo 16, lemos sobre certa mulher chamada
Febe:

Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em
Cencréia,

Romanos 16:1

O termo grego usado aqui e que foi traduzido pela palavra “serve” é
“diakonos”, o mesmo termo que deu origem às palavras “diácono” e também
“ministro”:

17
Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo,
criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.

1 Timóteo 4:6

Aqui na carta de Paulo a Timóteo o jovem pastor da cidade de Éfeso também


é chamado de “diákonos”. O próprio Paulo, em outros textos, se identifica como um
“diákonos”. O grande problema é que eu e você temos a tendência de aceitar muito
bem que quando este termo é usado para homens, ele pode ser traduzido pela
palavra “ministro”. Entretanto, quando usado para mulheres significa apenas uma
“serva” comum, como qualquer outra.

Febe era uma diaconisa da Igreja Primitiva. Ela era uma ministra do
Evangelho, uma oficial da noiva de Cristo, e nós não podemos deixar que a nossa
mente condicione os textos e as interpretações da Bíblia de acordo com aquilo que
a nossa cultura aceita ou deixa de aceitar. Precisamos ler a bíblia por ela própria, e
não por aquilo que parece mais ou menos compatível com o contexto social em que
vivemos ou em que fomos ensinados.

5 - Mulheres no apostolado: Talvez este seja o ponto que cause mais


desconforto em todos aqueles que assistirem essa aula. Eu também achei a ideia
de mulheres exercendo o apostolado bem estranha, mas depois eu percebi que isso
só me pareceu estranho por conta dos escândalos e da bagunça que acontece no
Brasil nos dias de hoje com aquelas que se auto-intitulam “apóstolas”, e fazem todo
tipo de loucura, como por exemplo pedir que os fiéis de sua igreja beijem seus pés.

Então, antes de mergulhar nas próximas linhas, eu e você precisamos


esvaziar nossa mente de tudo aquilo que nós captamos do contexto em que
vivemos, e deixar que a bíblia diga aquilo que ela quer comunicar, livremente:

Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros na


prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em
Cristo.

Romanos 16:7

Nesta passagem somos apresentados a duas pessoas que, segundo Paulo,


se distinguiram entre os apóstolos seus nomes são Andrônico e Junias. Se
analisarmos porém algumas outras versões bíblicas, vamos notar uma pequena
(grande) diferença:

18
“Salute Andronicus and Junias, my kinsmen, and my fellow-prisoners, who are
of note among the apostles, who also have been in Christ before me.”

A versão em inglês que eu acabei de mencionar é a English Revised Version.


Assim como muitas outras versões, ela interpreta que essas duas pessoas eram
homens, e também que eram notáveis entre os apóstolos. O motivo para isso é que
em algum momento da história da igreja o nome Junia (feminino) passou a ser
traduzido como Junias (masculino). Algum estudioso tradutor da Bíblia em algum
momento das eras passadas considerou que não era aceitável uma mulher de
destaque entre os apóstolos, ainda mais com o reconhecimento de Paulo. Portanto,
este tradutor acrescentou a letra “s” ao nome Junia, fazendo com que ela “se
tornasse um homem”. O primeiro comentário bíblico feito sobre Romanos que
descreve Junia como Junias data do século 13.

Felizmente os primeiros pais da igreja não compraram essa ideia. Quando


analisamos o comentário bíblico de João Crisóstomo (século 4) sobre esse texto,
temos a seguinte informação:

“But they were of note owing to their works, to their achievements. Oh! How
great is the devotion (φιλοσοφία) of this woman, that she should be even counted
worthy of the appellation of apostle!

Traduzindo para o português:

Mas eles foram notados por suas obras, por suas realizações. Oh! Quão grande
é a devoção (φιλοσοφία) desta mulher, que ela deveria ser considerada digna do
apelido de apóstolo!

Para Crisóstomo, a ideia era clara e de fácil aceitação. Junia exercia o


apostolado, e exercia com excelência. Ser considerado um apóstolo já era uma
grande honra (concedida, por exemplo, a Tiago, que não era um dos 12 e também
não era Paulo, mas tinha sua autoridade reconhecida nos primeiros dias da Igreja).
Honra ainda maior é ser reconhecida como alguém “notável entre os apóstolos”.

Precisamos entender que durante o início do ministério de Cristo Ele suscita


doze homens para serem seus discípulos. Já explicamos anteriormente que esta
escolha está particularmente ligada ao símbolo que Jesus queria ressaltar na mente
dos judeus, ou seja, os 12 filhos de Jacó que deram origem às 12 tribos de Israel.
Porém, depois deste primeiro momento, quando a igreja e o evangelho rompem as

19
barreiras de Israel e começam a alcançar novos povos e novas culturas, o símbolo
perde o seu valor. Os gregos, por exemplo, não davam importância ou nem sequer
conheciam as 12 tribos de Israel. Portanto já não havia mais a necessidade de
manter o símbolo intacto pois aquele primeiro momento já havia passado. A partir
disso a liderança da igreja podia contar com mulheres, e foi exatamente isso que
aconteceu.

6 - Mulheres no presbitério: Fechamos o nosso raciocínio agora com a


questão do presbitério:

NÃO repreendas asperamente o ancião, mas admoesta-o como a pai; aos


moços como a irmãos;
As mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza.

1 Timóteo 5:1,2

O professor Kenneth Bailey analisa o texto da seguinte maneira: Aqui Paulo


está dando diretrizes a Timóteo sobre o modo como ele deve tratar cada classe de
pessoas da igreja. A palavra que foi traduzida como ancião é o termo grego
“presbýteros”.

Porém no Versículo 2, o termo original que foi traduzido como “mulheres


idosas” é “ presbyteras “, que vem da mesma raiz. A partir disso seria possível
afirmar que o quadro de anciãos da igreja, ou seja, o presbitério, era composto tanto
de homens como de mulheres. Infelizmente quando a Bíblia faz menção às
mulheres do presbitério a tradução não ajuda muito, pois descreve estas mulheres
apenas como mulheres idosas, como se elas não desempenhassem nenhuma
função oficial na igreja.

20
IMERSÃO PREGAI MULHERES
Aula 003 - Maria, mãe de Jesus

Professor Julio Ribeiro

Sejam bem-vindos à mais uma parte da nossa Imersão Pregai Mulheres. Na


aula de hoje nossa proposta é analisar de maneira mais profunda os textos que
falam sobre Maria, a mãe de Jesus. Vamos analisar suas falas, atitudes e
principalmente a teologia presente nas narrativas em que ela aparece. Queremos
que, ao final desta aula, a nossa percepção sobre esta mulher mude. Maria não era
uma simples jovem camponesa, escolhida “por acaso” para ser a mãe do filho de
Deus. Pelo contrário, ela era uma mulher cheia de fé, conhecimento e coragem que
seriam muito úteis para todos nós nos dias de hoje.

Vamos iniciar com o relato dos nascimentos no evangelho de Lucas:

E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua


turma,
Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor
para oferecer o incenso.
E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso.
E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele.
Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e
Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João.
E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento,
Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e
será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus,
E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos
pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor
um povo bem disposto.
Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha
mulher avançada em idade.
E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e
fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.

21
E eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas
aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de
cumprir.
E o povo estava esperando a Zacarias, e maravilhava-se de que tanto se
demorasse no templo.
E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tinha tido uma visão no
templo. E falava por acenos, e ficou mudo.
E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa.

Lucas 1:8-23

Vamos começar estudando a narrativa do primeiro Nascimento anunciado no


Evangelho de Lucas. O que temos aqui é mais uma série de textos espelhados, coisa
que é comum nas escrituras mas que nós deixamos passar despercebido porque
normalmente lemos a Bíblia de maneira superficial. São cinco cenas, onde a terceira
cena (que é a cena central) demonstra uma falha grave de Zacarias e que não
aconteceu com Maria:

1º: o anjo aparece;


2º: há o anúncio de um milagre (a gravidez de Isabel, que já havia passado da
idade de gerar filhos);
3º: a resposta de Zacarias: incredulidade mediante a anunciação do anjo;
4º: o anjo então anuncia um segundo milagre: Zacarias ficou mudo por conta
de não ter acreditado naquilo que o anjo havia falado;
5º: o anjo se retira.

A primeira e última cena são espelhadas, ou seja, a aparição do anjo introduz


o episódio em questão, e quando o anjo desaparece, ele acaba. Na segunda cena o
anjo anuncia o milagre da concepção de Isabel. Zacarias não teve capacidade de
acreditar no que estava sendo anunciado (essa é a terceira cena). Como resultado
disso, o anjo anuncia um segundo milagre, que vem como castigo pela incredulidade
de Zacarias. Depois disso, ele se vai.

A mesma situação aconteceu com Maria. Entretanto, a reação dela foi


totalmente diferente, quando comparada à reação de Zacarias:

E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo;
bendita és tu entre as mulheres.
E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que
saudação seria esta.

22
Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de
Deus.
E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome
de Jesus.
Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o
trono de Davi, seu pai;
E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.
E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem
algum?
E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude
do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de
nascer, será chamado Filho de Deus.
E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este
o sexto mês para aquela que era chamada estéril;
Porque para Deus nada é impossível.
Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a
tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.

Lucas 1:28-38

Ainda no primeiro Capítulo de Lucas temos a narrativa de outra anunciação


de um nascimento. Agora o Anjo se dirige à Maria para dizer que ela geraria um filho,
e aquela criança seria chamada de “filho de Deus”. A estrutura deste episódio é
muito parecida com o episódio no qual o anjo apareceu para Zacarias. Entretanto, a
atitude de Maria é muito diferente, e isso faz com que todos aqueles que buscam
mais profundidade na compreensão da Bíblia consigam identificar alguns traços
bem peculiares desta mulher.

O ponto crucial está na cena 3. Quando o Anjo entrega a mensagem para


Maria, a resposta dela não é de incredulidade, como fez Zacarias. Ao ouvir
atentamente as palavras que lhe foram proferidas, ela simplesmente pergunta como
aquilo iria acontecer. Ela não duvidou. Pelo contrário, buscou entender melhor o que
estava prestes a acontecer.

Diante da resposta de Maria, o Anjo então prossegue com a sua fala


anunciando um segundo milagre. Não se tratava de um castigo para Maria, visto que
ela não duvidou. Se tratava de uma boa notícia: ela ficou sabendo que Isabel, sua
prima, também geraria um filho.

23
E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no
seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo.
E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito
o fruto do teu ventre.
E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha
saltou de alegria no meu ventre.
Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do
Senhor lhe foram ditas.

Lucas 1:41-45

Depois, o Evangelho de Lucas narra o encontro entre Isabel e Maria. Dentro


desta conversa, existe outro fator muito importante para entendermos que Maria
deve ser lembrada por sua fé e coragem e não superestimada pelo fato de ter sido a
mãe de Jesus, como muitos fazem até hoje, chegando ao ponto de venerada lá e
orarem a Deus em nome de Maria, e depositar em sua confiança na (suposta)
intercessão dela.

Acima estão destacados dois termos: Bendita e bem-aventurada. O termo


grego usado na primeira frase, e que foi traduzido como “Bendita” é uma palavra
comum. Este é o vocábulo usado quando falamos de bênçãos em geral, ou oramos
pedindo a Deus que abençoe alguém ou alguma situação. Não se trata de uma
benção extraordinária, ou algo fora da curva, mas trata-se de um pedido feito a Deus
para que derrame a sua benção.

Quando Isabel elogia Maria por causa de sua gravidez ela usa exatamente
este termo do qual falamos no parágrafo acima. Entretanto, ao final de sua
saudação, quando ela elogia Maria pelo fato de ter crido na palavra proferida pelo
anjo acerca daquilo que Deus iria fazer, o termo que ela usa é totalmente diferente.
Do grego, “makaria”. Indica um nível raro de espiritualidade, e está diretamente
ligado à fé e ao posicionamento de Maria.

Estas duas palavras fazem com que eu e você estejamos diante de uma
decisão a ser tomada acerca de Maria. ela deve ser lembrada e reconhecida por
conta do filho que ela gerou, ou por conta da fé extraordinária que ela teve na palavra
que foi liberada? Ele deve ser lembrada por causa de Cristo, ou deve ser lembrada
por causa de quem ela é nas escrituras? Para Isabel, a resposta era clara: Maria foi
considerada digna de ser chamada de “makaria” por causa de sua fé.

24
Entretanto, não é isso que acontece ao longo das linhas da história da igreja,
onde costumam colocar Maria em um patamar muito mais elevado do que lhe é de
direito por ter sido a mãe de Jesus, e esquecem-se de ressaltar sua fé e sua
coragem, mesmo quando um sacerdote (Zacarias) recebeu as mesmas palavras que
ela e não conseguiu acreditar.

1 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,


2 E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;

3 Porque atentou na baixeza de sua serva;


3’ Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão
bem-aventurada,

2 Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome.


1 E a sua misericórdia é de geração em geração Sobre os que o temem.

A Com o seu braço agiu valorosamente;


Dissipou os soberbos no pensamento de seus corações.

B Depôs dos tronos os poderosos,


E elevou os humildes.

C Encheu de bens os famintos,


C’ E despediu vazios os ricos.

B’ Auxiliou a Israel seu servo,


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx ???

A’ Recordando-se da sua misericórdia;


Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.

Lucas 1:46-55

O que nós temos agora diante de nós é o cântico de Maria. Ao longo da


história da igreja este cântico ficou conhecido pelo nome de “Magnificat”, devido ao
início do cântico (“minha alma engrandece ao Senhor”). Ao estudarmos o cântico de
Maria conseguimos entender algumas coisas que não ficam tão claras numa leitura

25
superficial da Bíblia. A primeira coisa que nós entendemos é o fato de que Maria
não era uma simples jovem, camponesa, escolhida meio que ao acaso por Deus.
Pelo contrário, além da fé e da coragem que nós já estudamos, Maria também tinha
conhecimento teológico. Isto fica evidente porque seu cântico segue as diretrizes do
cântico de Moisés, registrado no capítulo 15 do livro do Êxodo. Se Maria não
conhecesse bem as escrituras ela não conseguiria redigir um Cântico tão parecido
com o cântico entoado pelo grande legislador.

O segundo ponto que fica evidente é que Maria reconhecia que ela mesma
precisava de um Salvador, e aquela criança seria este Salvador tão desejado. Ao
começar o seu cântico qualificando Deus como o seu Salvador, Maria se coloca ao
lado das incontáveis fileiras de seres humanos comuns, ordinários e igualmente
pecadores, todos dependentes da manifestação Graciosa do Senhor. Maria não é
uma espécie de quarta pessoa da Trindade, ou uma outra mediadora entre Deus e
os homens. Maria é carne e osso como eu e você somos. Tão pecadora como nós,
porém com uma clara consciência de seus pecados, como tão poucos de nós. As
declarações que Maria faz acerca de si mesma anulam qualquer tipo de doutrina de
mediação, intercessão ou depósito de confiança em sua pessoa, pois ela não está
acima de nós.

Por fim, o cântico de Maria é um prenúncio do evangelho e, mais


especificamente, da extensão da salvação aos gentios. Ao final do cântico onde ela
começa a fazer uma série de comparações entre bons exemplos e maus exemplos,
e que nestas situações Deus exalta e abençoa os bons exemplos, e castiga os
maus exemplos, os leitores da Bíblia se deparam com um verso onde Maria
menciona Israel, ou seja o próprio povo de Deus.

Seguindo a lógica do cântico, logo depois de anunciar a benção de Deus


sobre Israel Maria deveria escrever alguma coisa relacionada ao castigo de Deus
sobre os gentios. Entretanto esta linha não existe no cântico de Maria, como se
tivesse sido propositalmente deixada de fora, por conta da Divina inspiração deste
texto.

Esta simples linha que foi especificamente omitida pela sabedoria divina é
uma lacuna que se preenche quando o evangelho rompe as barreiras da nação de
Israel, e então o Espírito Santo enche aqueles que não faziam parte da Nação
Judaica. Neste Cântico temos a “deixa” para a abertura do leque da salvação
àqueles que estavam fora do “Povo de Deus” estabelecido a partir de Abraão,
Isaque e Jacó .

26
E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a multidão,
levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado (“makaria”) o ventre que te trouxe e os
peitos em que mamaste.
Mas ele disse: Antes bem-aventurados (“makaria”) os que ouvem a palavra
de Deus e a guardam.

Lucas 11:27,28

Por fim, analisaremos um texto que foi dito pelo próprio Jesus quando alguém
propôs uma benção superior a Maria pelo fato de ela ter sido a mãe biológica de
Jesus.

O diálogo é claro: uma mulher que estava no meio da multidão diz que o
ventre que gerou Jesus e os seios que o amamentaram eram “makaria”.

Jesus prontamente inverte a ordem, quase corrigindo aquela frase e dizendo


que a verdadeira bem-aventurança não estava relacionada ao fato de ter ou não ter
gerado Jesus biologicamente, ou ter amamentado durante a infância. A verdadeira
bem-aventurança consistia no fato de ouvir a palavra de Deus e guardá-la.

A pergunta que fica é a seguinte: quem foi a pessoa que, nos Evangelhos,
ouviu e acreditou na palavra liberada por Deus antes de todas as outras pessoas?
A resposta poderia ser Zacarias, entretanto ele duvidou. Assim sendo, nós sabemos
que a primeira pessoa a cumprir o que Jesus havia indicado como o sinal da
bem-aventurança foi Maria, que recebeu uma palavra direta de Deus e não duvidou.

27
IMERSÃO PREGAI MULHERES
Aula 004 - Mulheres e a Profecia

Professor Julio Ribeiro

Dando continuidade aos nossos estudos sobre as mulheres, vamos começar


essa aula ressaltando 8 verdades bíblicas e neotestamentárias que o prof. Ken
Bailey faz questão de relembrar:

1) A mulher de maior destaque dos evangelhos é, sem dúvida, Maria, a


mãe de Jesus. Isso se deve por sua fé, obediência e coragem
mediante a Palavra de Deus
2) Existem outras mulheres líderes e que se destacam no novo
testamento, deixando claro que a figura feminina também ocupava
posições de liderança nos primeiros dias da igreja.
3) Nos evangelhos, uma mulher dá uma das declarações mais profundas
e teológicas acerca de Cristo. Costumamos dar bastante atenção ao
texto de Mateus 16 e a afirmação de Pedro, dizendo sobre Jesus: “Tu
és o Cristo, o filho do Deus vivo”. Entretanto, existe outra citação tão
importante e talvez até mais rica de conteúdo teológico do que essa.
Se encontra em João, capítulo 11, verso 27:

Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de
vir ao mundo.

João 11:27

Neste texto temos Marta proferindo algo acerca de Cristo que é digno de
atenção. Ela diz que Jesus é aquele que “havia de vir ao mundo”. Entretanto,
algumas traduções em inglês chegam mais perto dos termos originais:

New International Version


“Yes, Lord,” she replied, “I believe that you are the Messiah, the Son of God,
who is to come into the world.”

English Standard Version


She said to him, “Yes, Lord; I believe that you are the Christ, the Son of God,
who is coming into the world.”

28
Berean Literal Bible
She says to Him, "Yes, Lord; I have believed that You are the Christ, the Son
of God, the One coming into the world."

A ideia aqui expressa por Marta se aproxima da ideia paulina acerca do


Messias. Para Marta, Jesus não era apenas aquele homem encarnado - era algo
muito maior que aquilo. Era uma realidade que estava sendo inaugurada, um novo
reino de um novo rei, que estava progressivamente vindo ao mundo. Marta tinha
essa ideia da progressão messiânica, da revelação cada vez mais clara do reino de
Deus e da pessoa de Cristo. O advento da encarnação marcava a inauguração
desta nova era, mas era apenas isso. A encarnação não era tudo, mas o início de
algo bem maior.

Vemos essa mesma mentalidade em Paulo, quando ele afirma que Cristo é
aquele através do qual todas as coisas foram criadas, e no qual todas as coisas
existem, e por quem toda a criação é sustentada. Existe imanência em Cristo, sim,
mas para ter a noção correta das coisas é preciso ter em mente também sua
transcendência.

O prof Ken Bailey termina essa exposição com a seguinte pergunta: por que
damos tanta ênfase à frase dita por Pedro, e quase não somos ensinados sobre
esta declaração que saiu da boca de Marta? Existe menos teologia aqui, ou algum
erro, ou alguma heresia? Certamente não. A resposta, para o professor Ken Bailey,
é o simples fato de tratar-se de uma frase dita por uma mulher.

4) Genealogia de Jesus, diferente das outras genealogias do Oriente


Médio existem cinco mulheres. Estas cinco mulheres são personagens
improváveis que estão em uma das listas mais seletas de toda a
história. A presença destas mulheres indica claramente para qual tipo
de pessoa o Messias veio e se manifestou: Aos santos e profanos;
ímpios e justos; piedosos e pecadores. Essas mulheres são, a saber,
Tamar, Raabe, Rute, Bate Seba e Maria.
5) Jesus mostra compaixão e interesse por todos os tipos de mulheres:
desde as mais piedosas como Marta e Maria, até as mais pecadores
como a mulher na casa de Simão em Lucas 7, e a mulher que foi pega
em adultério e estava prestes a ser apedrejada.
6) Os ensinamentos de Jesus são projetados com o objetivo de atingir,
igualmente, os públicos masculino e feminino. Homens e mulheres são
o alvo da pregação de Jesus. Temos, por exemplo, em Lucas 15 uma
história que parece “repetida”: a parábola da ovelha perdida seguida
da parábola da dracma perdida. Qual seria o sentido de contar

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praticamente a mesma história duas vezes, mudando apenas alguns
objetos, mas mantendo a essência? A resposta é, entre outras, que
em cada uma delas um público está sendo representado. Na parábola
da ovelha perdida temos o universo masculino daqueles dias sendo
retratado através da figura do pastor e do trabalho no campo. Já na
segunda parábola, o espaço geográfico e a personagem principal
refletem o universo feminino. Em Mateus 13:31 lemos sobre um
homem, e em Mateus 13:33 lemos sobre uma mulher, e a mensagem
é praticamente a mesma. Outro exemplo do princípio que estamos
tentando ilustrar.
7) Na manhã de páscoa foram as mulheres que trouxeram a mensagem
da ressurreição aos homens.
8) Em João 12:1-8 temos uma narrativa onde a capacidade de
administração dos recursos de uma mulher é questionada por Judas.
A divisão de cenas é basicamente a seguinte:

- A mulher se apresenta trazendo nardo puro


- Ela derrama o nardo aos pés de Jesus
- Judas repreende-a, dizendo que aquilo era um tremendo desperdício.
- Jesus então contradiz Judas dando motivos significativos para que a atitude
daquela mulher fosse considerada digna de louvor.
- Aos olhos de Jesus, ela estava usando seus recursos da maneira correta, e
investindo em seu processo de discipulado. Não era desperdício, e sim
investir na pessoa certa.

Depois de visitar estes 8 pontos, vamos analisar alguns textos paulinos que
falam sobre o lugar da mulher na comunidade do novo testamento. O primeiro texto
está em 1 Coríntios 11:2-12:

E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os


preceitos como vo-los entreguei.
Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a
cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.
Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua
própria cabeça.
Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a
sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.
Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se
para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu.
O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de
Deus, mas a mulher é a glória do homem.

30
Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem.
Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher
por causa do homem.
Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos
anjos.
Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no
Senhor.
Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém
da mulher, mas tudo vem de Deus.

1 Coríntios 11:2-12

Este é um dos textos de compreensão mais complicada do novo testamento.


Entretanto, uma boa dose de contexto e informações culturais sobre o autor e os
destinatários da carta vão ajudar a resolver o problema.

Primeiramente precisamos entender o que estava acontecendo. Deixamos


passar um detalhe super importante: Paulo diz que tanto homens quanto mulheres
oravam e profetizavam. A questão é que aquela comunidade de crentes em Corinto,
formada por judeus e gentios, estava experimentando os dons espirituais que eram
derramados sobre homens e mulheres. Quando homens e mulheres se colocavam
de pé para orar e profetizar os judeus se sentiam incomodados com a cena, pois
não estavam acostumados com aquilo. Eles nunca haviam vivenciado a liderança
feminina e não sabiam a maneira certa que os homens e as mulheres deviam se
vestir nestes momentos.

Portanto eles escrevem para Paulo sobre este e outros assuntos, e o


apóstolo traz o ensinamento correto sobre tudo aquilo que foi levantado:

O início da explicação de Paulo é o argumento da criação:

Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça (fonte, origem) de todo o
homem,
e o homem a cabeça (fonte, origem) da mulher;
e Deus a cabeça (fonte, origem) de Cristo.

1 Coríntios 11:3

A palavra grega traduzida como “cabeça” tem o sentido de origem, fonte, ou


o lugar onde algo se inicia. E esse termo grego vem da palavra hebraica “Rosh”,
que tem a mesma ideia.

31
Quando os judeus comemoram o Rosh Hashanah, que é o ano novo, quer
dizer que aquele primeiro dia do ano tem autoridade sobre todos os outros dias do
ano? Certamente que não. Quer simplesmente dizer que o ano inicia ali, e aquele
dia marca o começo de algo. Esta é a ideia da palavra “cabeça” que está escrita em
1 Coríntios 11.

Quando o antigo testamento diz que “o princípio da sabedoria é o temor do


Senhor”, o termo original é o mesmo “Rosh”.

Paulo está explicando que a origem de todos os homens é Cristo. Cristo é a


Palavra de Deus através do qual tudo mais foi criado. Ele também diz que a origem,
a fonte da mulher é o homem, obviamente por conta do relato da criação que diz
que a mulher foi criada a partir das costelas do homem. Finalmente, a origem de
Cristo é o próprio Deus, pois Ele é a Palavra de Deus. O primeiro argumento é
basicamente este: cada um de nós tem um “rosh”, uma origem, uma fonte.

O segundo argumento tem a ver com uma mentalidade bastante específica: a


mentalidade rabínica dos judeus do primeiro século. Se nós não entendermos essa
mentalidade, não entendemos o argumento.

Na mentalidade do oriente médio, todas as pessoas, necessariamente


refletem sua origem. E não precisamos nem citar que a nossa origem é muito
importante, pois diz quem somos, de onde viemos, e fala sobre a honra de nossa
família, etc. Todo ser reflete sua fonte, sua origem, em tudo o que você faz, por
todos os lugares que você passar.

Na mente dos judeus então, havia um problema com a situação da igreja de


Corinto. Quando os homens se colocavam de pé para orar e profetizar, a
comunidade judaica olhava e dizia: ele está refletindo a glória de Deus. Devido a
isso, o homem devia (como um espelho), de cabeça descoberta, refletir a glória de
Deus.

Entretanto, a mulher é criada a partir do homem, então ela reflete a glória do


homem. Assim sendo, alguns pensavam, “como nós podemos ter uma mulher
liderando a adoração? Ela também é como um espelho, mas ela reflete a glória do
HOMEM, e não a glória de Deus. Queremos líderes que reflitam a glória de Deus
para o culto! Como podemos ter essa situação?”

Paulo então resolve esse “problema” de uma maneira bem simples. O


apóstolo diz que os homens devem manter a cabeça descoberta enquanto oram e
profetizam, pois assim eles vão refletir a glória de Deus diretamente, e as mulheres

32
devem cobrir a cabeça quando orarem e profetizarem, e assim elas NÃO vão refletir
a glória do HOMEM, e sim a glória de Deus. Ambos oram e profetizam (tanto
homens quanto mulheres), mas o vestuário de cada um deles deve ser diferente por
conta da questão de refletirem a glória de Deus.

Existe um outro ponto no texto que é bastante crítico. Paulo diz que o homem
reflete a imagem e a glória de Deus. Mas ele não diz que a mulher reflete a imagem
e a glória do homem. Não, a primeira palavra está faltando. A mulher reflete a glória
do homem, mas Paulo não diz que ela reflete a imagem do homem. Por que será? A
resposta é que ela TAMBÉM reflete a imagem de Deus. Está em Gênesis 1:27.

O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de


Deus, mas a mulher é a glória do homem.

1 Coríntios 11:7

Paulo está tentando trazer à memória os primeiros versos de Gênesis (mais


especificamente do capítulo 1) para explicar que a mulher, assim como o homem,
também é criada à imagem de Deus. Assim, se ela cobrir sua cabeça enquanto ora
e profetiza, ela pode estar liderando junto com os homens porque assim ela não vai
refletir a glória do homem, e sim a glória de Deus.

Normalmente deixamos passar despercebido que a intenção teológica de


Paulo ao ensinar tudo isso é trazer direcionamento para os LÍDERES - aqueles que
oram e profetizam em público. A mensagem é clara: vistam-se de maneira a refletir
a glória de Deus e não a glória dos homens. Nossas roupas devem servir para
refletir a glória de Deus somente, pois ambos são criados à imagem de Deus, e não
à imagem do homem.

33
IMERSÃO PREGAI MULHERES
Aula 005 - 1 Coríntios 14 e 1 Timóteo 2

Professor Julio Ribeiro

Finalmente chegamos na penúltima aula da nossa Imersão Pregai Mulheres.


Nosso foco hoje será observar melhor o cenário sociocultural do primeiro século,
especialmente daquelas cidades nas quais o evangelho era pregado e onde nós
temos relato bíblico da passagem dos Apóstolos e dos Evangelistas. A partir disso
vamos conseguir compreender melhor os dois textos que serão o foco do nosso
estudo hoje: Primeiramente, o texto da primeira carta de Paulo aos Coríntios no
capítulo 14. Depois, o texto da primeira carta de Paulo a Timóteo no capítulo 2
Vocês verão que sem um panorama sociocultural é impossível chegar ao
entendimento correto do texto. Todos aqueles que tentam entender a bíblia sem
antes mergulhar no contexto em que ela foi escrita acabam fatalmente produzindo
heresias e enganos.

Para isso, vamos começar com uma história do livro de Atos dos Apóstolos
que nos ajuda a entender melhor a mente de Paulo no que diz respeito à igreja e,
especificamente, à liderança feminina da igreja. O texto em questão se encontra no
capítulo 16, e narra o estabelecimento da igreja na cidade de Filipos.

Todos conhecemos bem o relato que diz que Paulo chegou até aquela cidade
e procurou por um lugar de adoração. Ele então encontra um grupo de mulheres
que se reunia para orar às margens de um rio. Dentre estas mulheres Deus abriu o
coração de Lídia para compreender aquilo que Paulo estava pregando. Lídia era
natural da cidade de Tiatira e a Bíblia diz que ela era vendedora de púrpura.
Entende-se a partir disso que ela era uma mulher de condição social confortável.
Prova disso é que, mais à frente, a Bíblia também diz que quando Lídia levou Paulo
e Silas até sua casa, havia servos que trabalhavam ali.

Na sequência, os dois Evangelistas se deparam com uma jovem


endemoninhada e escrava. seria difícil achar alguém que estivesse mais no fundo
do poço do que aquela jovem. Ela era mulher, endemoniada, e se já não bastasse
tudo isso, escrava. Quando Paulo então expulsa o demônio daquela garota, seus
senhores se enfurecem, já que a perspectiva de lucro financeiro havia ido embora
junto com aqueles espíritos que mantinham a jovem cativa. Uma grande confusão é
formada, Paulo e Silas são espancados e jogados na prisão.

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Porém, existe um detalhe neste texto que não faz o menor sentido ponto se
nós analisarmos a nossa Bíblia, no livro de Atos dos Apóstolos, do capítulo 22
Veremos que Paulo estava prestes a ser açoitado quando ergueu sua voz e disse
em alto e bom som que ele era um cidadão Romano, e portanto não podia receber
tal castigo sem um julgamento digno, e muito menos ser mantido preso ponto
quando seus acusadores recebem esta informação, eles ficam atemorizados Por
que fazer aquilo que eles estavam fazendo com um cidadão Romano era passível
até de crucificação. Paulo depois de dar esta declaração foi solto da prisão em que
estava.

A pergunta que precisamos fazer é a seguinte: Por que Paulo não disse que
era romano quando foi açoitado e levado até a prisão em Atos capítulo 16?

Para o professor Ken Bailey, existe um motivo bastante peculiar.

Nós sabemos que enquanto Paulo e Silas estavam na prisão, perto da


meia-noite, enquanto eles oravam e cantavam louvores houve um grande terremoto,
e as correntes de todos os presos se soltaram, e todas as celas se abriram, e o
carcereiro que estava encarregado naquela noite quase tirou a própria vida com
medo de que todos os presos fugissem. Naquele momento, Paulo ergue a voz e
pede que ele se acalme, pois todos os presos ainda estavam ali. Depois disso,
aquele homem é batizado junto com toda a sua casa, e mais à frente no texto Paulo
e Silas recebem a notícia de que os magistrados da cidade haviam autorizado que
eles fossem livres e podiam sair da prisão.

Paulo então não sai do lugar onde estava, mas exige que aqueles
magistrados viessem pessoalmente libertá-lo. Depois de saberem que Paulo era
romano, os magistrados temeram e então foram até ele e pediram que ele se
retirasse da cidade. O texto é claro quando diz que antes de sair da cidade todos
eles, ou seja, tanto Paulo e Silas como os magistrados vão até a casa de Lídia, e só
depois disso Paulo e Silas deixam a cidade.

Por que é que Paulo fez questão de passar na casa de Lídia antes de sair da
cidade? E por que é que ele fez questão de que aqueles magistrados da cidade de
Filipos estivessem junto com eles dentro da casa daquela mulher? Entendemos aqui
que Paulo estava usando o seu sofrimento corporal e o seu direito de denunciar
aqueles magistrados como moeda de troca para garantir a segurança de Lidia e da
igreja que se reunia na casa dela. Mesmo sem proferir palavras o acordo era claro.
A atitude de Paulo dizia mais ou menos o seguinte: “Eu estou saindo da cidade, mas
estou deixando um grupo de irmãos que se reúnem nesta casa para adorar e louvar
o mesmo Deus que eu prego. Se acontecer alguma coisa com estes irmãos ou com

35
esta casa, eu não hesitarei em contar às autoridades tudo aquilo que aconteceu
comigo, ou seja, o modo como eu fui espancado e preso, mesmo sendo um cidadão
romano. Tenho certeza que seria muito ruim para os senhores se isso acontecesse,
certo? Portanto, deixem estes irmãos em paz e não façam nada contra eles, para
que a nossa situação não precise vir à tona”.

Paulo se posiciona como alguém que reconhece a legitimidade da igreja que


se reunia na casa de Lídia, e que reconhece o modo como Lídia liderava aqueles
irmãos, a ponto de abrir mão de seu direito de justiça para que aquela igreja vivesse
em paz.

A partir disso, estudaremos 1 Coríntios 14:26-36 :

Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo,
tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para
edificação.
E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando
muito três, e por sua vez, e haja intérprete.
Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo,
e com Deus.
E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o
primeiro.
Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos
aprendam, e todos sejam consolados.
E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as
igrejas dos santos.
As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido
falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios
maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para
vós?

1 Coríntios 14:26-36

O texto está posto para que agora possamos estudá-lo. Precisamos começar
dizendo que seria no mínimo injusto, para não dizer covarde o fato de alguém pegar
este texto, escrito há tanto tempo e tentar aplicá-lo sem nenhuma transposição aos
dias atuais, especialmente isolando os versos que falam sobre a recomendação de

36
Paulo para que as mulheres fiquem caladas durante os cultos públicos, e que
perguntem aos seus maridos em casa se tiverem dúvidas. Qualquer pregador ou
professor que fizer isso está comprovando o quão incapacitado e deficiente ele é
para cumprir uma tarefa tão preciosa quanto ensinar a palavra de Deus.

A igreja de Corinto tinha sérios problemas e entre eles estava a falta de


ordem na condução dos custos dos cultos e na ministração dos sacramentos, como
por exemplo a ceia do senhor. Mediante isto Paulo se esforça para implementar
mudanças na igreja que traga um benefício geral para todos aqueles crentes.
Acabar com a bagunça e o caos era um dos itens da lista do apóstolo.

Nós vemos que Paulo está a todo momento tentando trazer a igreja para
certo nível de ordem e organização. Ele diz que se falarem em línguas estranhas,
que sejam no máximo 2 ou 3. Se não houverem intérpretes, então que não falem.
Que se alguém estiver falando alguma coisa, os outros esperem para que a reunião
permaneça organizada. Todas as recomendações do apóstolo são feitas neste
sentido.

Dentro deste grande objetivo de trazer ordem aos cultos de Corinto, a


questão das mulheres precisava ser tratada de maneira bastante específica, por
conta de fatores culturais também bastante específicos. Nesta questão, a
experiência do professor Ken Bailey nos ajuda muito a entender que tipo de
mulheres eram aquelas que Paulo estava citando, e que tipo de comportamento ele
queria evitar.

Ele disse que já teve a oportunidade de ensinar mulheres camponesas que


viviam em regiões remotas do Egito, e que nunca tiveram contato com o celular,
rádio, televisão ou qualquer tipo de coisa parecida com isso. Mulheres que viviam
de modo recluso, e cujos espaços geográficos se limitavam ao tamanho de suas
casas. Mulheres que nunca participaram de uma aula formal, e nunca foram à
escola. Segundo ele, o tempo máximo que estas mulheres conseguem manter o
foco em qualquer coisa é de 15 segundos, pois estar fora de casa, em um ambiente
diferente do ambiente domiciliar é como fazer uma viagem a um lugar novo, com
atrações novas, e onde qualquer coisa é forte o suficiente para tomar sua atenção.

Enquanto ele tentava ensinar alguma coisa para uma destas mulheres, todas
as outras estavam conversando no fundo da classe, falando sobre os mais diversos
assuntos e aproveitando a oportunidade de estarem fora de casa para colocar o
papo em dia, pois não sabiam quando aquilo iria se repetir. Então, se ele chamasse
uma daquelas que estava conversando para explicar alguma coisa para ela, então
aquela primeira mulher que teve a sua explicação interrompida já havia perdido tudo

37
o que ele havia ensinado. E se ele tentar se voltar para ela, então aquela outra e
todas as outras já estavam conversando novamente. Deste modo, segundo o
professor Ken Bailey, dar aula para aquelas mulheres se tornou simplesmente
impossível, pois elas não conseguiram manter o foco no que estava sendo
ensinado, e sempre que tinham dúvidas começavam a perguntar umas às outras,
paralelamente, tornando aquele momento ainda mais confuso e ainda mais
estressante.

Vale ressaltar que nós não estamos falando de mulheres que viveram no
primeiro século, e sim no final do século 20. Agora a grande pergunta é: Se este é o
cenário atual, será que conseguimos imaginar como era o cenário nos dias de
Paulo? Se prender a atenção de mulheres camponesas hoje, no contexto do Oriente
Médio já é uma missão super difícil, será que durante o primeiro século não era uma
missão ainda mais inviável? Se considerarmos que mesmo usando microfones,
quadros, apostilas e tantos outros recursos, este público já é um público super difícil
de trabalhar é razoável considerar que nos dias do apóstolo Paulo não havia outra
alternativa senão recomendar que as mulheres ficassem caladas durante o culto
público, e que no caso de dúvidas perguntar sem aos seus maridos quando
chegassem em casa.

Existe outro fator que nós não podemos ignorar. Corinto era um grande
entreposto comercial, e sua sociedade era uma sociedade multicultural, sua língua
comum era o grego, mas isso não queria dizer que todos os moradores de Corinto
eram familiares com esta língua. Aqueles que estavam frequentemente nas cidades,
nos espaços públicos, nas sinagogas e nas praças certamente conseguiram
desenvolver sua fala e audição do grego. Entretanto, aquelas outras pessoas que
ficavam mais reclusas dentro de casa e não tinham muita interação social não
conseguiam entender o grego corretamente. Imagine agora Paulo pregando, em
grego, para um público que ficava separado ( pois as mulheres ficavam de um lado
e os homens ficavam de um do outro ), e então aquelas mulheres além de terem
bastante dificuldade de manter o foco em qualquer assunto que estivesse sendo
tratado, E além de começarem a conversar paralelamente quase que todo momento
sobre assuntos aleatórios, ainda traziam consigo a alta possibilidade de não
entenderem perfeitamente bem a língua grega. Assim sendo, era normal que elas
interrompessem a pregação com bastante frequência porque não haviam entendido
aquilo que o pregador tinha falado. Paulo sabiamente aconselha que, se as
mulheres tivessem dúvidas elas deviam perguntar aos seus maridos quando
chegassem em casa, pois o momento do culto público não poderia ser usado para
tirar todas as dúvidas de todas aquelas mulheres, dentre as quais a maioria
provavelmente tinha problemas para entender a língua geral do povo.

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Todas as recomendações do apóstolo são dadas tendo em vista o avanço,
crescimento e organização da igreja. Nenhuma de suas recomendações tinha a ver
com qualquer senso de que o homem é superior e a mulher inferior, ou de que o
homem é mais capaz e a mulher é menos capaz, ou de que o homem era mais
importante e a mulher menos importante. Pelo contrário, o apóstolo entrega os
melhores conselhos para obter os melhores resultados mediante o cenário
complicado que estava diante dele.

Nosso próximo texto à ser analisado é 1 Timóteo 2:11-15 :

A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.


Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o
marido, mas que esteja em silêncio.
Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.
E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão.
Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé,
no amor e na santificação.

1 Timóteo 2:11-15

Novamente utilizaremos aqui o conceito mais básico para uma interpretação


correta do texto: analisar o contexto e todos os aspectos relevantes dentro dele.
Uma análise correta de contexto começa com perguntas do tipo: quem, para quem,
onde, quando, sob quais circunstâncias. Ao fazer isso encontraremos certo sentido
em todas as palavras que o apóstolo Paulo disse.

A carta foi escrita a Timóteo. Eu e você bem sabemos que o jovem Timóteo
era o líder da igreja da cidade de Éfeso também sabemos, através dos textos das
sagradas escrituras que haviam três características marcantes sobre este homem:
ele era jovem, doente e tímido. Além disso, a cidade na qual Timóteo estava se
destacava entre todas as outras cidades por conta de um prédio específico e um
culto a uma deusa específica. Em Éfeso ficava o Templo da deusa Ártemis, também
conhecida como Diana, ou então a “Grande Diana dos Efésios”. Este templo era
uma das sete maravilhas do mundo antigo ele se destacava por seu tamanho e
imponência, além de ser a engrenagem econômica da cidade, junto com a atividade
portuária. A adoração de Diana é o centro da vida social e religiosa de Éfeso. Se já
não bastassem todas estas informações, ainda existe mais um fator que faz toda a
diferença para a nossa análise Justa e coerente do texto: em Éfeso, as mulheres
eram responsáveis por toda a adoração e serviço dentro do templo da deusa Diana.

39
Ou seja, estamos falando de uma cidade onde a religião pagã é regida e
tocada pelas mulheres. Os homens que faziam serviços no templo eram eunucos, e
todos os rituais de adoração a Diana tinham a ver com o conceito de fertilidade. A
própria estátua de Diana trazia uma deusa composta de cerca de 25 seios
descobertos em sua dianteira.

Em Éfeso, as mulheres não estavam por baixo. Pelo contrário, elas exerciam
a atividade religiosa e, consequentemente isso lhes conferia prestígio social e certo
grau de influência na vida econômica. A sociedade de Éfeso estava acostumada a
ter mulheres no comando, e as mulheres de Éfeso estavam acostumadas a
governar.

Entretanto, o problema começa quando estas mulheres tentam infiltrar sua


doutrina e sua autoridade dentro da igreja. Sabemos através da história que grande
parte da liderança e dos grandes personagens do gnosticismo eram mulheres.
Sabemos também através do conteúdo da carta de Paulo a Timóteo que haviam
heresias gnósticas infiltrando na igreja daquela cidade. Sabemos de igual modo que
Timóteo era um jovem doente e tímido, e cuja autoridade poderia ser facilmente
usurpada por este grupo que apresentava uma séria ameaça à pureza da doutrina
Cristã dos primeiros dias.

Tendo em vista este panorama, começamos a entender mais corretamente


por que o apóstolo Paulo disse especificamente para Timóteo que não permitia que
a mulher usurpasse a autoridade sobre o homem. Ensino e autoridade são duas
coisas que andam juntas, portanto ele também proíbe que as mulheres de Éfeso
ensinassem. As sacerdotisas de Diana lideravam adoração dentro do templo da
deusa, e por conta disso também está escrito que a mulher deve permanecer em
silêncio. As heresias daqueles dias condenavam coisas como a geração de filhos e
a ingestão de determinados alimentos, além de também pregar contra o casamento.
Assim sendo o grande Apóstolo também pontua que as mulheres iriam prosperar ( e
essa é a tradução mais correta para o verbo “salvar” em 1 Timóteo 2:15 ) gerando
filhos.

Olhando o texto desta maneira tudo faz mais sentido. A recomendação de


Paula acerca das mulheres que nós encontramos na primeira carta a Timóteo não é
um princípio geral que deve ser seguido por todos os cristãos em todos os séculos
de todos os lugares. Pelo contrário, trata-se de uma advertência específica, para
uma igreja específica que estava em uma cidade específica que tinha um contexto
social, religioso e cultural bastante específico, e que estava sendo liderada por um
pastor como Timóteo, cujas debilidades são de conhecimento geral.

40
Se nós começarmos a interpretar a Bíblia sem levar em consideração o
contexto, ou os contextos nos quais ela foi escrita, vamos começar a implementar
ensinamentos e recomendações bastante específicas que deveriam ser usadas e
seguidas em conjunturas bem particulares em algumas outras conjunturas que não
pedem determinadas medidas. Se usarmos este texto nos dias de hoje para
defender que as mulheres não podem ensinar e nem falar durante os cultos
públicos, estamos colocando Paulo em contradição, e portanto, a Bíblia como um
todo também.

41
IMERSÃO PREGAI MULHERES
Aula 006 - Tito e 1 Coríntios 6

Professor Julio Ribeiro

Chegamos à nossa última aula desta imersão, que será dividida da seguinte
maneira:

Quem ensina quem? Tito 2:1-6


Sexualidade humana - 1 Coríntios 6:12-20
Submissão mútua - Efésios 5

Vamos começar com o texto de Tito:

Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.


Os velhos, que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, no amor, e na
paciência;
As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como
convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem;
Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus
maridos, a amarem seus filhos,
A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a
fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada.
Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados.

Tito 2:1-6

O grande problema aqui é que muitas pessoas usam este texto para
defender que as mulheres só podem ensinar outras mulheres. Nós vemos aqui que
Paulo ordena que Tito ensine aos homens idosos, as mulheres idosas e aos jovens
porém, quando chega a hora de ensinar as mulheres mais jovens o apóstolo diz que
as mulheres mais idosas devem ser suas professoras. Novamente a solução é
super simples. Basta que analisemos o contexto sociocultural do Oriente Médio para
entendermos que o texto não está defendendo esta ideia, antes, está apenas
levando em consideração os costumes que eram de conhecimento geral naqueles
dias.

Veja a tabela abaixo:

42
PROFESSOR ALUNO

TITO HOMENS IDOSOS

TITO MULHERES IDOSAS

?????? MULHERES JOVENS

TITO HOMENS JOVENS

A grande pergunta que precisamos responder é por qual motivo o apóstolo


Paulo não sugere que Tito deveria ensinar as mulheres mais jovens. Seria por falta
de capacidade? seria porque os apóstolos haviam combinado que apenas mulheres
ensinariam mulheres? seria por algum outro motivo semelhante a estes?

A grande resposta é que seria inapropriado que Tito, um jovem pastor fosse o
professor e tivesse contato direto com as mulheres jovens da igreja, visto que dentro
da tradição do Oriente Médio esta regra de comportamento é amplamente
conhecida. Até os dias atuais os pastores jovens não ensinam as meninas mais
novas, pois é inadequado.

Quem usa deste texto para defender que as mulheres não podem ensinar os
homens certamente Precisa cortar de sua Bíblia os textos que falam sobre Priscila
ensinando Apolo, ou o texto onde Maria Madalena é a porta-voz da Ressurreição e
ensina aos discípulos de Cristo que o Mestre havia ressuscitado, e também precisa
remover o cântico de Maria registrado pelo Evangelista Lucas, Pois existe grande
teor teológico naquele texto.

O texto de Tito não é uma diretriz sobre quem deve ensinar quem baseado
em uma regra Apostólica ou teológica. Ele apenas reflete o contexto social dentro
do qual foi escrito, respeitando as regras de relacionamento que estavam em
vigência naqueles dias. Se o contexto mudar, ou se as regras de relacionamento
não se aplicarem para determinada sociedade, logo não há lógica e nem
necessidade de replicar esse modelo de aprendizado, visto que ele só existe devido
ao seu contexto específico.

Depois de analisar o texto de Tito, vamos ao texto de 1Coríntios 6:

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as
coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.

43
Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus,
porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a fornicação,
senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.
Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo
seu poder.
Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois,
os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? Não, por certo.
Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela?
Porque serão, disse, dois numa só carne.
Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.
Fugi da fornicação. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo;
mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo.
Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita
em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso
corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

1 Coríntios 6:12-20

Para entender bem o objetivo do apóstolo aqui, é válido que eu e você


passemos um pouco também pelo contexto cultural de Corinto. A cidade de Corinto
era sexualmente depravada, e dentro dela havia um grande templo a deusa do amor
e do sexo, cujas sacerdotisas agiam livremente, especialmente durante a noite
deitando-se com todos os marinheiros e viajantes que pudessem encontrar. Na
teoria, sempre que algum homem se deitava com estas mulheres eles estariam
compactuando e participando do culto a essa deusa. Trata-se então de uma cidade
que estava mergulhada na idolatria, imoralidade sexual e muitas das pessoas que
viviam nesta vida foram alcançadas pela graça de Deus e agora fazem parte da
igreja.

A prova de que as pessoas da cidade, consequentemente os integrantes


daquela igreja não tinham as questões de sexualidade bem definidas e ainda
precisavam ser ensinadas a cerca da maneira correta de levar o sexo e o
casamento é o fato de a própria Bíblia relatar um incidente onde o pai e o filho se
deitavam com a mesma mulher:

Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem
ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem possua a mulher de seu pai.

1 Coríntios 5:1

44
Mediante isto o apóstolo Paulo se vê forçado a escrever àqueles irmãos com
o intuito de consertar muitas coisas que estavam acontecendo de errado naquela
igreja, mas também de passar diretrizes acerca de como a sexualidade devia ser
corretamente administrada, segundo os preceitos divinos. Precisamos olhar 1
Coríntios 6 desta maneira, e tudo ficará mais fácil.

Todas as coisas me são lícitas,


mas nem todas as coisas convêm.
Todas as coisas me são lícitas,
mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.

Os alimentos são para o estômago


e o estômago para os alimentos;
Deus, porém, aniquilará tanto um
como os outros.

Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor,


e o Senhor para o corpo.
Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor,
nos ressuscitará a nós pelo seu poder.

1 Coríntios 6:12-14

O primeiro argumento que o apóstolo Paulo constrói tem a ver com o


conceito deturpado que algumas pessoas tinham acerca do sexo. Paulo compara
comida e sexo de maneira proposital. A mentalidade daqueles dias na cidade de
Corinto era que, quando alguém tinha fome, ele só precisava pagar a comida, comer
e satisfazer sua vontade. O sexo era visto da mesma forma. Haviam pessoas
oferecendo sexo então, quando alguém sentisse vontade sexual bastava pagar,
consumir e satisfazer seu desejo.

O ponto de virada para esclarecer aos cidadãos de Corinto a maneira certa


de encarar a sexualidade era a ressurreição. Paulo diz que os alimentos são para o
estômago e o estômago para os alimentos, e no final ambos serão destruídos por
Deus.
Entretanto, quando se trata da sexualidade, o corpo não foi feito para a
fornicação, porque, no final, ele não será destruído por Deus. Nosso corpo será
glorificado e nós seremos ressuscitados, assim como também aconteceu com
Jesus.

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Diante disso, não fazia sentido encarar a sexualidade da mesma maneira
banal que necessidades como comida e bebida eram encaradas. Apesar de o sexo
ser oferecido de maneira tão ampla e descarada quanto frutas e verduras em uma
feira, o cristão não deveria se conformar a este cenário, pois a grande esperança da
vida cristã é a ressurreição. Paulo diz que aquilo que nós fizermos nesta vida irá
afetar diretamente o corpo da nossa ressurreição.

Depois disto temos a segunda parte do argumento de Paulo, que é um pouco


mais amplo e teológico. Analise os textos abaixo:

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1 - Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor,
e o Senhor para o corpo.
Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor,
nos ressuscitará a nós pelo seu poder.

2 - Não sabeis vós


que os vossos corpos
são membros de Cristo?

3 - Tomarei, pois, os membros de Cristo,


e os farei membros de uma meretriz?
Não, por certo.

4 - Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz,


Faz-se um corpo com ela?

5 - Porque serão, disse,


dois numa só carne.

4’ - Mas o que se ajunta com o Senhor


é um mesmo espírito.

3’ - Fugi da fornicação.
Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo;
mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo.

2’ - Ou não sabeis
que o vosso corpo
é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus,

1’ - e que não sois de vós mesmos?


Porque fostes comprados por bom preço;
glorificai, pois, a Deus no vosso corpo,

1 Coríntios 6:13-20

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O primeiro ponto importante e relevante para nós é entender onde está o
centro da teologia de Paulo que diz respeito à sexualidade. Para o apóstolo,
precisamos olhar para a sexualidade tendo em vista duas coisas: a ressurreição e a
cruz. É isto que está escrito no primeiro e no último argumento dos textos que nós
colocamos acima. Paulo começa falando da ressurreição e termina falando da cruz.
Nenhuma ideia será mais relevante do que estes para convencer o cristão de que
ele deve andar em santidade e fugir da imoralidade sexual.

.Depois disto, temos o segundo argumento e o penúltimo argumento que são


correspondentes entre si. No primeiro destes, Paulo diz que o cristão está em
Cristo, e no segundo, ele disse que dentro do cristão está o Espírito Santo.
Podemos visualizar a teologia de Paulo na figura abaixo:

Segundo o nosso professor o cristão deve entender-se corretamente como se


estivesse no centro do coração da Trindade. Ao mesmo tempo que ele é parte do
corpo de Cristo, seu próprio corpo também é templo do Espírito Santo, de modo que
Deus ocupa todos os espaços tanto do lado de fora quanto do lado de dentro

Quando chegamos no centro do argumento que o apóstolo constrói nestes


versículos temos a ideia de união essencial entre duas partes que se relacionam.
Primeiro ele diz que aquele que se deita com uma prostituta torna-se um com ela.
Depois disso ele também afirma que aquele que se une a Deus torna-se um espírito
com ele.

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Tudo isto está respaldado pelo versículo do livro de Gênesis que ele cita: os
dois se tornarão uma só carne.

Paulo queria que os cristãos de Corinto entendessem que o relacionamento


sexual não é algo tão banal quanto comer uma maçã ou desfrutar de uma refeição
ou tomar um copo de água. Na verdade, o relacionamento sexual evidencia uma
aliança firmada entre duas partes e, na vida do cristão, essa aliança só deve ser
permitida entre ele e seu cônjuge e obviamente entre ele e Deus.

Terminaremos esta aula analisando o texto de Efésios 5:

Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.

Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;


Porque o marido é a cabeça
da mulher,
como também Cristo é a cabeça
da igreja,
sendo ele próprio o salvador do corpo.
De sorte que, assim como a igreja
está sujeita a Cristo,
assim também as mulheres
sejam em tudo sujeitas a seus maridos.

Vós, maridos, amai vossas mulheres,


como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,

Para a santificar, purificando-a


com a lavagem da água, pela palavra,

Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa,


sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante,

mas santa
e irrepreensível.

Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres,


como a seus próprios corpos.

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1- Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a
sua própria carne; antes a alimenta e sustenta,
2- como também o Senhor à igreja;
3- Porque somos membros do seu corpo,
‘ Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe,
‘ e se unirá a sua mulher;
‘ e serão dois numa carne.
3’ - Grande é este mistério;
2’ - digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.
1’ - Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si
mesmo,

e a mulher reverencie o marido.

Efésios 5:21-33

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