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10 out 2016
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Pergunta – Sabemos, por experiência cotidiana que, ao acordarmos, o mundo de repente aparece. De
onde vem ele?
Maharaj – Antes que algo possa vir a existir, tem que haver alguém a quem esse algo venha. Toda
aparição e desaparição pressupõe uma mudança que acontece sobre um fundo imutável.
P – Sou sempre alguém com lembranças e hábitos. Não conheço outro “eu sou”.
M – Não haveria alguma coisa impedindo que você conheça? Quando você não conhece algo que
outros conhecem, o que você faz?
M – Não é importante para você saber se é meramente um corpo, ou algo mais? Ou nada, talvez? Você
não vê que todos os seus problemas são problemas do seu corpo – comida, roupa, abrigo, família,
amigos, nome, fama, segurança, sobrevivência? Tudo isso perde o sentido no momento em que você
se dá conta de que talvez você não seja um mero corpo.
M – Até mesmo dizer que você não é o corpo não é bem verdade. De certo modo, você é todos os
corpos, corações e mentes e muito mais. Vá fundo no senso de “eu sou” e você descobrirá. Como você
faz para encontrar uma coisa que você não sabe onde está, ou esqueceu onde colocou? Você pensa
nela até lembrar. O sentimento de ser, de “eu sou”, é o que surge primeiro. Pergunte-se de onde ele
vem, ou apenas observe-o em silêncio. Quando a mente permanece no “eu sou”, sem se mover, você
entra num estado que não pode ser verbalizado, mas pode ser objeto de experiência. Tudo o que você
tem a fazer é tentar, vez após vez. Afinal de contas, o senso de “eu sou” está sempre com você, só que
você atou uma porção de coisas a ele – corpo, sentimentos, pensamentos, ideias, posses etc. Todas
essas identificações são enganosas. Por causa delas, você pensa ser quem não é.
M – Basta saber o que você não é. Você não precisa saber o que é. Porque na medida em que
conhecimento significa descrição em termos do que já é conhecido, perceptiva ou conceitualmente, o
autoconhecimento não é possível, porque o que você é não pode ser descrito, a não ser em termos de
negação total. Tudo o que se pode dizer é “eu não sou isso, eu não sou aquilo”. Não se pode dizer, com
um mínimo de sentido: “isto é o que eu sou”. Simplesmente não faz sentido. O que você consegue
apontar como sendo “isso” ou “aquilo” não pode ser você. É claro que você não pode ser “algo” mais.
Você não é algo que possa ser percebido ou imaginado. Entretanto, sem você, não pode haver nem
percepção nem imaginação. Você observa o coração sentindo, a mente pensando, o corpo agindo; o
simples ato de perceber mostra que você não é aquilo que você percebe. Pode haver percepção ou
experiência sem você? Uma experiência tem que “ser” de alguém. Alguém tem que vir e declarar que a
experiência é dele. Sem um experienciador, a experiência não é real. É o experienciador que confere
realidade à experiência. Uma experiência que você não pode ter, que valor teria ela para você?
P – O senso de ser um experienciador, o senso de “eu sou”, não é também uma experiência?
M – É óbvio que sim. Qualquer coisa que tenha sido objeto de experiência é uma experiência. E em
cada experiência surge seu experienciador. A memória cria a ilusão de continuidade. Na verdade, cada
experiência tem seu próprio experienciador, o sentido de continuidade se deve ao fator comum na raiz
de todas as relações experienciador-experiência. Identidade e continuidade não são a mesma coisa.
Da mesma forma como todas as flores têm sua própria cor, mas todas as cores são causadas pela
mesma luz, muitas experiências surgem na consciência indivisa e indivisível, cada uma delas distinta na
memória, mas todas idênticas em sua essência. Essa essência é a raiz, a base, a possibilidade fora do
tempo e do espaço de todas as experiências.
M – Não é preciso chegar até ela, pois ela é o que você é. Ela chegará até você, se você lhe der uma
chance. Livre-se de seu apego ao irreal, e o real, rápida e suavemente, tomará o lugar que lhe é de
direito. Pare de se imaginar sendo ou fazendo isso ou aquilo, e a realização de que você é a fonte e o
coração de tudo despontará em você. Com isso, virá um imenso amor que não é escolha, nem
predileção, nem apego, mas um poder que torna todas as coisas adoráveis e dignas de amor.
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No entanto, existe algo que você deve reconhecer para deixar de ser aquilo que você não é: investigue
quem você é.
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