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Sumário

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 4

VOCÊ JÁ PENSOU EM SER DIPLOMATA? CONHEÇA DETALHES SOBRE A


CARREIRA NO ITAMARATY.................................................................................................... 7

VOU SER DIPLOMATA! R$ 19 MIL + UM PROJETO DE VIDA!............................................. 9

QUANTO GANHA UM DIPLOMATA AO LONGO DA CARREIRA?...................................... 11

O QUE FAZ UM DIPLOMATA EM UMA EMBAIXADA?........................................................ 13

COMO SE DEFINE O DESTINO DE UM DIPLOMATA NO EXTERIOR?.............................. 15

COMO UM DIPLOMATA VAI DE TERCEIRO-SECRETÁRIO A EMBAIXADOR................... 18

O QUE FAZ UM DIPLOMATA?.............................................................................................. 21

O MOVIMENTO CONSTANTE DA CARREIRA DIPLOMÁTICA:.......................................... 23

UMA VISÃO PESSOAL.......................................................................................................... 23

POR QUE ÁFRICA, E NÃO EUROPA?.................................................................................. 25

CONHEÇA A ESTRUTURA DO ITAMARATY........................................................................ 27

OS ESCRITÓRIOS DE REPRESENTAÇÃO DO MRE PELO BRASIL.................................. 29

O SERVIÇO CONSULAR BRASILEIRO................................................................................ 31

DIPLOMATA TAMBÉM FAZ TRABALHO ADMINISTRATIVO............................................... 33

CONHEÇA AS CARREIRAS DO SERVIÇO EXTERIOR BRASILEIRO................................ 35

ENTENDA COMO FUNCIONA A COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL NO


ITAMARATY............................................................................................................................ 37

A ATUAÇÃO BRASILEIRA NO COMBATE A ILÍCITOS TRANSNACIONAIS...................... 40

DIPLOMACIA CULTURAL...................................................................................................... 42

O CERIMONIAL NA DIPLOMACIA........................................................................................ 44

O ACOMPANHAMENTO DE TEMAS POLÍTICOS NA DIPLOMACIA................................... 46

O TRABALHO DIPLOMÁTICO MULTILATERAL.................................................................. 48

A DIPLOMACIA E A PROMOÇÃO COMERCIAL.................................................................. 50

AS NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS ECONÔMICAS......................................................... 52

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TEMAS DIPLOMÁTICOS ESPECIAIS: MEIO AMBIENTE, ENERGIA E C&T...................... 54

O INSTITUTO RIO BRANCO E A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS DIPLOMATAS........... 55

O LADO ACADÊMICO DO ITAMARATY: PESQUISAS E PUBLICAÇÕES.......................... 57

VOCÊ CONHECE A PRIMEIRA PROVA DO CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA


DE DIPLOMATA (CACD)?...................................................................................................... 59

COMO VENCER O CACD?.................................................................................................... 61

OS TRÊS PASSOS FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO NA SEGUNDA FASE DO


CACD!..................................................................................................................................... 63

O CURSO DE FORMAÇÃO DO IRBR................................................................................... 65

EM QUE MOMENTO DEVO ME PREOCUPAR COM A 2ª ................................................... 67

FASE DO CACD?................................................................................................................... 67

QUANTO TEMPO É NECESSÁRIO ESTUDAR PARA PASSAR NO CACD?...................... 69

COMO ESTUDAR PARA A PROVA DE POLÍTICA INTERNACIONAL................................. 71

COMO ESTUDAR PARA AS PROVAS DE DIREITO DO CACD........................................... 73

RECOMENDAÇÕES DE LEITURA AOS CANDIDATOS....................................................... 76

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Jean Marcel
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em
Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado
no Instituto Rio Branco, como chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em
Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004.
Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção
da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Promovido a
Primeiro-Secretário em junho de 2006. Concluiu o Curso de Aperfeiçoamento em Diplomacia do Instituto Rio
Branco em março de 2007. Concluiu o Curso de Doutorado em Direito Internacional pela Universidade de
Buenos Aires, Argentina, em julho de 2007. Serviu na Embaixada do Brasil em Washington, nos setores
Econômico e de Promoção Comercial (chefe), entre 2007 e 2010. Publicou o livro “La Corte Penal Interna-
cional. Soberanía versus justicia universal”, Editoriales Reus/Zavalía/Temis/UBIJUS, Madrid/Buenos Aires/
Bogotá/México, D.F., em novembro de 2008. Condecorado com a Ordem do Rio Branco, Grau de Oficial, em
abril de 2010. Assessor do Embaixador Antonio Patriota, na Secretaria-Geral das Relações Exteriores, em
junho de 2010. Diretor do Departamento de Financiamento e Promoção de Investimentos no Turismo (DFPIT
– Ministério do Turismo) de 2013 a 2014. Foi presidente da Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília
(TCB), em 2015. Publicou o romance “Como ser malandro parecendo mané”, Giostri Editora, em fevereiro de
2016. Promovido a Conselheiro em junho de 2016. Foi Chefe da Assessoria Internacional da Secretaria do
Programa de Parcerias de Investimentos (SPPI) da Presidência da República e cônsul do Brasil em Havana,
Cuba. Atualmente é o Diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

INTRODUÇÃO

Olá, futuro(a) colega!

É com imenso prazer que me dirijo a você, a quem desejo chamar de colega em futuro
muito próximo! Este e-book reúne artigos sobre o Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-
mata (CACD), assim como sobre a formação e as principais áreas de atuação dos profissio-
nais do Ministério das Relações Exteriores.
Muitos dizem que a carreira diplomática é como um sacerdócio, por conta da enorme
dedicação pessoal que ela requer de seus integrantes, desde o início da preparação para o
concurso até a aposentadoria. Apesar do aparente exagero, a afirmação tem seu fundo de
verdade, o que não quer dizer, porém, que o esforço não valha a pena. O que não se deve
fazer, em hipótese alguma, é entrar nessa jornada sem informação e conhecimento sobre
cada passo do caminho que se pretende percorrer.
Este e-book traz preciosas informações sobre os bastidores da carreira diplo- mática,
indispensáveis para quem quer conhecer bem o que faz um diplomata e sua rotina de tra-
balho. Quanto mais você souber sobre o que irá fazer no futuro, menor será a possibilidade
de você se decepcionar. Lembre-se de que o tempo médio de carreira de um diplomata é de
aproximadamente 40 anos. Ninguém será feliz se passar boa parte da vida fazendo o que
não gosta, não é? Melhor, portanto, saber bem onde está se metendo.

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Após mais de 20 anos de carreira, dos prováveis 45 que deverei permanecer no Itama-
raty, posso afirmar com segurança que há poucas carreiras no serviço público brasileiro que
se comparem à carreira diplomática, em termos de satisfação profissional e pessoal. Se o
Ministério das Relações Exteriores certamente vai exigir muito de você, saiba que também
te dará muito em troca.
Aqui, neste e-book, você irá conhecer, entre diversos exemplos da rotina de um diplo-
mata, um pouco de minha própria trajetória profissional. Além de meu tempo de carreira, que
iniciei aos 25 anos de idade, eu decidira ingressar no Itamaraty aos 14. Somado todo esse
período, estou envolvido de alguma forma com o mundo da diplomacia há mais de 30 anos.
E posso afirmar que até hoje sigo encantado com o que faço.
Quando comecei, recortava de jornais e revistas tudo o que encontrava sobre a car-
reira diplomática, a trajetória dos diplomatas que apareciam na imprensa, além de notícias
sobre nossa política externa. Hoje, você tem, na tela de seu computador, tablet ou celular, um
e-book com boa parte do que levei todo esse tempo para viver e descobrir.
Se gostar do que vai ler (e espero que goste), você poderá ter, também nos mes- mos
aparelhos eletrônicos, a melhor e mais atualizada preparação on-line para a aprovação no
CACD: o curso do Projeto Vou Ser Diplomata do Gran Cursos Online, que também tem
módulo de preparação personalizada igualmente para as provas da segunda e terceira fases
do concurso.
Mas por que afirmo, sem medo de errar, que o Gran Cursos Online oferece a melhor
preparação para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata? Primeiro, porque é o
curso mais democrático do mercado. Ainda que o CACD seja um exame de âmbito nacional,
com provas realizadas em todas as capitais brasileiras, a oferta de cursos pelo Brasil é desi-
gual, tanto em quantidade como em qualidade. Ao estudar pela Internet, não importa o local
onde o(a) candidato(a) se encontra, ele tem acesso aos mesmos materiais que os demais.
Em segundo lugar, trata-se de excelente custo-benefício. Basta comparar as despesas
de um curso presencial com o nosso on-line para se constatar a diferença, pois o primeiro
requer mais em relação a deslocamentos, tempo e mensalidade, entre outros gastos.
E como terceiro argumento, apenas para citarmos alguns, nossos professores, a maio-
ria deles jovens diplomatas, reúnem as melhores condições para preparar candidatos de
modo mais eficaz porque:

1) são especialistas nas disciplinas que ensinam;


2) sabem como estudar para o CACD, pois foram aprovados recentemente no concurso;
3) conhecem o atual formato das provas como ninguém.

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Para ser aprovado em um concurso, é necessário você ter conhecimento e metodologia


(planejamento, foco e disciplina). Se isso pode ser afirmado sobre qualquer exame, no caso
do CACD, essa premissa torna-se ainda mais verdadeira porque esse concurso é um con-
junto de provas que exigem preparação específica. Essa preparação não é como uma corrida
de 100 metros rasos, mas uma maratona, que requer preparo e paciência.
Para enfrentar os mais de 42 quilômetros de uma maratona, é necessário iniciar o desa-
fio com um primeiro passo. Para quem não conhece a carreira diplomática, este e-book pode
ser um bom primeiro passo. Se já conhece um pouco, ou muito, também poderá aperfeiçoar
seus conhecimentos. Com ele, espero, você irá adquirir noção adequada do que faz um
diplomata e, quando se tornar meu colega, num futuro próximo, iniciará sua carreira sabendo
o que te espera.

Boa leitura!

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VOCÊ JÁ PENSOU EM SER DIPLOMATA? CONHEÇA DETALHES SOBRE


A CARREIRA NO ITAMARATY

Eu tinha apenas 14 anos de idade. Voltava de uma aula de francês, quando me deparei
com a seguinte pergunta: “você já pensou em ser diplomata”? Era uma colega que estudava
comigo o idioma de Proust.
Já tinha ouvido falar, claro, da carreira diplomática, mas não tinha muita ideia de como
seria a rotina de um profissional do Serviço Exterior Brasileiro. É verdade que eu tomara
gosto por aprender línguas – tinha alguma fluência em inglês e iniciava o estudo de fran-
cês porque a disciplina era ensinada na nova escola em que ingressara – e foi exatamente
por isso que veio a sugestão daquela minha colega. “Diplomata ganha em dólar, conhece o
mundo todo e vive em festas!”, dizia ela. Fiquei encantado, porém eu não dispunha do fácil
acesso às informações que nos proporciona hoje a Internet para comprovar se o que ela dizia
era verdade. Comecei a pesquisar tudo o que achava em jornais e revistas sobre a carreira.
Montei uma pasta volumosa que guardo até hoje.
A realidade que conheci muitos anos mais tarde me fez ver que há, sim, certo exagero
em dizer que o diplomata vive cercado de glamour. O respeito que a sociedade brasileira tem
pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) vem do resultado do bom trabalho que lá é
produzido por seus profissionais.
Todo diplomata do Brasil tem a responsabilidade de manter uma longa tradição de
excelência, mas o trabalho que enfrenta para isso é bastante árduo. Em média, demora cerca
de 30 anos para sair do cargo inicial de Terceiro-Secretário até chegar ao último – Ministro
de Primeira Classe, mais conhecido como Embaixador. A escada de ascensão profissional
tem como degraus intermediários as funções de Segundo-Secretário, Primeiro-Secretário,
Conselheiro e Ministro (de Segundo Classe).
Obviamente, não é necessário ser Embaixador para exercer papel relevante no Itama-
raty, apelido que ganhou o Ministério por conta do negociante português Francisco José da
Rocha Leão, que recebera o título de Conde de Itamarati e foi proprietário do palácio no Rio
de Janeiro batizado com seu nome e que, entre 1899 e 1970, foi sede do MRE.
Não cheguei ainda à metade de minha carreira e já tive a oportunidade de fa- zer muita
coisa interessante: servi durante três anos na Embaixada do Brasil em Buenos Aires e por
iguais períodos em Washington e em Havana, fiz missões transitórias de alguns meses em
Paris e em Montevidéu, missões eventuais (de poucos dias) em países de todos os continen-
tes e ainda trabalhei no Brasil com temas acadêmicos, promoção comercial, turismo e até
transporte coletivo (em período de empréstimo para o Governo do Distrito Federal).
Para chegar lá, porém, a caminhada começa com o concurso público. Difícil para o
aspirante a diplomata pensar que será um dos 20 ou 30 aprovados entre milhares de can-
didatos, como costuma ocorrer nos processos seletivos anuais, mas a recompensa será ter

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a certeza de que os vitoriosos estarão entre os que mais estudarem e, mesmo em caso de
reprovação, diferentemente da seleção para outras carreiras, sabe-se de antemão que, no
ano seguinte, haverá novos exames. Além disso, todos os que passarem serão nomeados e
tomarão posse imediatamente.
Quase R$ 20 mil de salário inicial, dois anos de preparação acadêmica e profissiona-
lizante, já ganhando como Terceiro-Secretário, apartamento funcional em Brasília e pers-
pectiva de ter, durante décadas, vários empregos em uma única carreira. Rodar o mundo,
conhecer novos lugares e pessoas e ganhar em dólar quando estiver trabalhando no exterior
fazem, sem dúvida alguma, o esforço de estudar para esse concurso tão difícil valer a pena.
A boa notícia é que, com o objetivo de preparar os candidatos para o Concurso de
Admissão à Carreira de Diplomata, um dos mais difíceis do país, o Gran Cursos Online tem o
curso de preparação extensiva para o CACD desde 2016, composto por teoria e exercícios.
Nosso objetivo é te ajudar na consolidação de seu conhecimento e, consequentemente, na
realização de excelente preparação para o próximo processo seletivo. Além das orientações
de equipe altamente qualificada (diplomatas e especialistas), que irão destacar e desvelar
os principais tópicos de cada disciplina, você contará, ainda, com preciosas dicas sobre as
particularidades da banca, um ano de acesso ao conteúdo, visualizações ilimitadas e outros
diferenciais. Com esse curso, você se preparará de forma antecipada e eficaz!

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VOU SER DIPLOMATA! R$ 19 MIL + UM PROJETO DE VIDA!

O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é realizado anualmente,


e todos os candidatos aprovados são, em seguida, nomeados para o cargo inicial da car-
reira (Terceiro-Secretário) e passam a receber salário bruto de R$ 19.199,06, além de outros
benefícios, que veremos a seguir. Esse número por si só já é bastante atraente, mas o CACD
é bem mais do que um simples concurso; trata-se de um projeto de vida que muda o destino
não apenas do(a) aprovado(a), mas de toda a família que o(a) acompanha. Por isso, ao deci-
dir prestar o exame, torna-se imprescindível conhecer não apenas seu formato, mas todos os
detalhes da formação e da rotina de trabalho dos diplomatas.
Comecemos com uma excelente notícia: se você chegou até a leitura destas palavras,
saiba que está no lugar certo! Com toda sua tradição e excelência acadêmica, o Gran Cursos
Online é a melhor escolha para a preparação ao CACD e como fonte de informações sobre a
carreira diplomática. Nosso corpo docente é formado, em sua grande maioria, por diplomatas
recém-aprovados no concurso e especialistas em suas respectivas áreas de ensino.
Com isso, você aprenderá conosco como identificar os conteúdos mais importantes, já
que não é possível estudar tudo. Ressalto que os professores têm fresco na cabeça também
o formato das provas em que foram aprovados recentemente, e essas provas são semelhan-
tes àquelas com as que você irá se deparará. Eis nossa receita de sucesso!
O CACD é um concurso bastante previsível, pois é realizado uma vez por ano na mesma
época e com o mesmo formato. Assim, levam vantagem os candidatos que se preparam com
mais foco para essa disputa, em detrimento daqueles que não veem a diplomacia como pri-
meira opção. O exame de âmbito nacional é organizado pelo Instituto Rio Branco (IRBr), em
parceria com o IADES (Instituto Americano de Desenvolvimento).
O IRBr tem por tradição lançar o edital do CACD até o fim do primeiro semestre de cada
ano, ou seja, até julho de 2022, deveremos ter mais uma edição, como ocorre anualmente,
desde 1946. O concurso é composto por três Fases. Na Pri- meira, os concorrentes passa-
rão por prova objetiva composta por 73 questões: 12 de Política Internacional, 11 de História
Mundial, 11 de História do Brasil, 10 de Língua Portuguesa, nove de Língua Inglesa, oito de
Economia, seis de Direito e seis de Geografia.
Na Segunda Fase, os candidatos se submetem a provas escritas de língua portuguesa
e língua inglesa, de caráter eliminatório e classificatório. Já na Terceira, ocorrem seis avalia-
ções discursivas de: 1) História do Brasil; 2) Geografia; 3) Política Internacional; 4) Economia;
5) Direito; e 6) noções de Língua Espanhola e de Língua Francesa.
Os aprovados no CACD farão, já como Terceiros-Secretários, o Curso de Forma- ção
do IRBr, com dois anos de duração e aulas regulares de disciplinas de línguas e de conteúdo,
como História do Brasil e História Mundial, Política Internacional, Teoria Política, Direito Inter-
nacional e Economia, além de módulos profissionalizantes e palestras com a participação de

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autoridades e especialistas em áreas e temas relevantes para a política externa brasileira.


Ao longo da carreira, os diplomatas ainda passam pelo IRBr como requisito obrigatório para
a ascensão de Segundo a Primeiro-Secretário (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas –
CAD) e de Conselheiro a Ministro de Segunda-Classe (Curso de Altos Estudos – CAE) 1. Ao
terminarem o Curso de Formação, os jovens diplomatas trabalham algum tempo em Brasília
(em geral, durantepelo menos dois anos), antes da primeira saída (remoção) ao exterior. As
opções de áreas de trabalho são muitas: temas políticos (bilaterais ou multilaterais), econô-
micos, culturais, promoção comercial, meio ambiente, ciência e tecnologia, energia, consular,
administração etc.
No exterior, os diplomatas trabalham em Embaixadas (representações políticas do
Brasil localizadas nas capitais dos países com os quais temos relações diplomáticas), Con-
sulados (postos de assistência a brasileiros) e Missões Junto a Organismos Internacionais
(como ONU, OMC, OEA, entre outras tantas).
No Brasil, além do salário entre R$ 19.199,06 (Terceiro-Secretário) e R$ 27.368,67
(Ministro de Primeira-Classe – ou Embaixador), os diplomatas ocupam os cargos de con-
fiança (DAS) do Itamaraty, o que aumenta a remuneração, e apartamentos funcionais. Já no
exterior, a remuneração é em dólar, de acordo com o custo de vida do país onde se vive, e
também há benefícios como auxílio-moradia e desconto de pagamento de imposto de renda.

1 Existe a previsão legal também de um curso para Primeiros-Secretários, chamado Curso de Atualização em Política Externa – CAP, mas ainda não foi imple-
mentado.

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QUANTO GANHA UM DIPLOMATA AO LONGO DA CARREIRA?

Toda vez que é publicado um edital para um concurso público, a primeira informação
que se busca – antes mesmo do prazo, da taxa de inscrição, das datas de provas ou do
número de vagas – é a remuneração inicial dos cargos em disputa. No caso do Concurso de
Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), quando o Gran Cursos Online fez o anúncio do
exame de 2020 – realizado apenas em 2021, por conta da pandemia –, foi anunciado que o
salário de um Terceiro-Secretário, cargo para o qual seriam nomeados os aprovados no con-
curso, era de R$ 19.199,06.
A diferença entre a remuneração inicial da carreira diplomática (Terceiro-Secretário) e
a final (Ministro de Primeira-Classe, mais conhecido como Embaixador), é de cerca de 40%:
Segundo-Secretário (R$ 21.226,79), Primeiro-Secretário (R$ 22.802,63), Conselheiro (R$
24.500,44), Ministro de Segunda-Classe (R$ 26.319,29) e Ministro de Primeira-Classe (R$
27.368,67).
Esses valores são a remuneração bruta, sem descontos como imposto de renda e segu-
ridade social, quando o diplomata está lotado no Brasil e sem exercer cargo de confiança, seja
no próprio Ministério das Relações Exteriores (MRE) ou em outro órgão do Governo Federal
ou em outro nível (estadual ou municipal) e mesmo nos Poderes Legislativo e Judiciário.
Os diplomatas podem e com frequência são cedidos pelo Itamaraty para traba- lhar
temporariamente fora do Ministério. As regras para a cessão de um diplomata são definidas
pela Lei n. 11.890, de 24 de dezembro de 2008:

Art. 32. Os integrantes da Carreira de Diplomata somente poderão ser cedidos ou


ter exercício fora do respectivo órgão de lotação nas seguintes situações:
I – requisição prevista em lei para órgãos e entidades da União 2;
II – cessões para o exercício de cargo de Natureza Especial ou cargos em comissão
de nível igual ou superior a DAS-4 do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores,
ou equivalentes, em outros órgãos da União, em autarquias ou em fundações públi-
cas federais;
III – exercício de cargo de diretor ou de presidente de empresa pública ou sociedade
de economia mista federal;
IV – exercício dos cargos de Secretário de Estado ou do Distrito Federal, de cargos
em comissão de nível equivalente ou superior ao de DAS-4 ou de dirigente máximo de
entidade da administração pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, de pre-
feitura de capital ou de município com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes;
V – cessão para o exercício de cargos em comissão em Secretarias de Assuntos
Inter- nacionais e órgãos equivalentes da administração direta do Poder Executivo.

2 A requisição é distinta da cessão, pois não pode ser recusada pelo órgão cedente (Itamaraty), e o órgão que recebe o diplomata não necessita oferecer-lhe
cargo. É o caso dos diplomatas que trabalham na Presidência da República.

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Todos os DAS (cargos de Direção e Assessoramento Superiores) do Ministério das


Relações Exteriores são reservados aos diplomatas de carreira. Os DAS do MRE vão do
2 ao 6, passando pelos DAS-3, DAS-4 3 e DAS-5. A titularidade das Secretarias, cargos de
terceiro escalão, são DAS-6, ocupados sempre por Embaixadores (Ministros de Primeira-
-Classe). Em seguida, vêm os Diretores de Departamentos (DAS-5), normalmente ocupados
por Embaixadores ou Ministros (de Segunda-Classe), e as Chefias de Divisão (DAS-4), em
geral a cargo dos Conselheiros, ainda que haja, excepcionalmente, Primeiros-Secretários e
Ministros nes sas chefias.
Os DAS 2 e 3 são de Subchefia de Divisão ou de Assessor de Se cretário ou de Dire-
tor de Departamento, usualmente ocupados por Secretários 4. Ao ocupar um DAS ou cargo
equivalente, o diplomata normalmente opta por receber 60% da remuneração do cargo 5.
Assim, por exemplo, um Ministro de Segunda-Classe que esteja nomeado como Diretor de
um Departamento do Itamaraty ganhará: R$ 26.319,29 + R$ 8.174,34 – que corresponde a
60% de R$ 13.623,39 (valor do DAS 101.5 6) –, ou seja, R$ 34.493,63.
Em outros Ministérios do Governo Federal, vale exatamente a mesma conta. Em outros
Poderes ou em governos estaduais ou municipais, os cargos não são denominados DAS, e
os valores e percentuais são distintos. Mas, para trabalhar nesses órgãos, conforme vimos,
é necessário que a remuneração do cargo a ser ocupado pelo diplomata cedido seja equiva-
lente a, no mínimo, R$ 10.373,30 (valor bruto do DAS-4).
No exterior, a lógica da remuneração dos diplomatas é distinta. Os integrantes da car-
reira são remunerados de acordo com o custo de vida do país para o qual foram designa-
dos, além de ajuda de custo e auxílio-moradia, que cobrem parcialmente as despesas com
mudança e habitação. Os valores são pagos em dólares norte-americanos, em conta na
agência do Banco do Brasil em Miami.

3 Os DAS até 4 também podem ser do tipo FCPE (Função Comissionada do Poder Executivo), que só pode ser ocupada por servidores públicos, mas o valor
da remuneração é o mesmo.
4 O cargo de Secretário-Geral das Relações Exteriores (Vice-Chanceler) também é reservado a diplomatas de carreira, mas não é DAS e, sim, Cargo de Natu-
reza Especial. Trata-se da maior posição a que deve aspirar um diplomata, pois a de Ministro das Relações Exteriores, ainda que possa ser ocupada por
alguém da carreira, é de livre escolha do Presidente da República.
5 Quando investido em cargo em comissão, um servidor público pode optar entre três fórmulas distintas de remuneração: receber a remuneração da tabela
do cargo em comissão, acrescida dos anuênios; receber a remuneração do seu cargo efetivo, posto, graduação ou emprego, acrescida da diferença desta
remuneração com a do cargo em comissão; ou receber a remuneração do seu cargo efetivo, posto, graduação ou emprego, acrescida do percentual de 60%
da remuneração do cargo em comissão. Os diplomatas normalmente optam pela terceira opção, por ser mais vantajosa financeiramente.
6 Os DAS 1 a 6 podem ser 101 ou 102. Os primeiros são cargos de Direção, e os segundos, de Assessoramento, daí a sigla Direção e Assessoramento Supe-
rior (DAS).

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O QUE FAZ UM DIPLOMATA EM UMA EMBAIXADA?

Quando se fala em diplomacia, logo vem à mente o trabalho de representação no exte-


rior. Nenhuma pessoa de bom senso pensará em ser diplomata se não achar interessante
a ideia de morar fora do Brasil para representar nosso país. Isso parece óbvio, pois talvez
seja o grande diferencial dessa carreira comparada às demais do serviço público 7. Não é só
isso que se faz no Ministério das Relações Exteriores (MRE); há outras numerosas funções
desempenhadas também no Brasil, seja em Brasília, sede do Ministério das Relações Exte-
riores, seja em escritórios de representação do Itamaraty em outros estados, ou mesmo em
casos de cessão (empréstimo) a outros órgãos do governo, seja no plano federal, estadual
ou municipal.
A rotina de um profissional da diplomacia em uma embaixada depende do setor em que
atua. Antes, nunca é demais repetir, vamos recordar a diferença entre o trabalho diplomático
e o consular. Em uma embaixada ou em representações (missões) junto a organismos inter-
nacionais como a ONU, os diplomatas representam o Estado brasileiro. Já em um consulado,
a tarefa é dar assistência aos brasileiros no exterior com incumbências como emitir passa-
portes, visitar presos, realizar casamentos ou registrar nascimentos.
Em uma embaixada, os principais setores são o político, o econômico (dentro do qual
está o de promoção comercial), o cultural (inclusive o educacional) e o administrativo. Anali-
semos um a um.
O Setor Político é responsável pelo acompanhamento das políticas governamentais do
país onde está localizada a embaixada, assim como de outras que represente. Isso porque
não é necessário ter uma representação na capital de um país com o qual se tem relações
diplomáticas. Por exemplo, em Riga, capital da Letônia, não temos representação diplomá-
tica, mas nossa embaixada em Estocolmo responde pelo Brasil na República Báltica. Assim,
os diplomatas do Setor Político de nossa embaixada na capital sueca acompanham a polí-
tica interna dos governos das duas nações e se reportam diariamente ao MRE, em Brasília,
sobre o que se decide lá e interessa ao nosso país. Para esses relatórios, interagem com
interlocutores locais e buscam interpretar as decisões do governo com base na experiência
de vida no local.
Já o Setor Econômico faz trabalho semelhante, porém sobre os temas da economia,
evidentemente. Um diplomata dessa área na Embaixada do Brasil em Washington, por exem-
plo, tentará entender e informar, se possível antecipar, as decisões do Sistema de Reserva
Federal dos Estados Unidos, mais conhecido como FED, que é o banco central norte-ameri-
cano, responsável pela definição das taxas de juros do país. Esse assunto obviamente inte-
ressa muito ao Brasil, na medida em que o rumo da maior economia do mundo afeta todas
as demais, inclusive a nossa.

7 Algumas carreiras públicas também oferecem a possibilidade de trabalho temporário no exterior, como as das Forças Armadas, Polícia Federal, Receita
Federal e Ministério da Agricultura, que têm adidos no exterior. Trata-se, no entanto, de exceção à regra do exercício prioritariamente no Brasil, diretamente
das carreiras do Serviço Exterior Brasileiro.

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A parte do Setor Econômico, o Setor de Promoção Comercial, também chamado sim-


plesmente de SECOM, ocupa-se de promover as exportações brasileiras para aquele mer-
cado, bem como atrair investimentos dos países em que atua para o Brasil. Se o governo
brasileiro resolve lançar um programa de concessões em infraestrutura e quer estimular a
participação de fundos de investimento e empresas estrangeiras para investirem no Brasil,
os diplomatas dos SECOMs divulgarão os respectivos editais junto a potenciais interessados
em seus locais de atuação.
O Setor Cultural promove a cultura brasileira no país de representação da embaixada,
assim como eventuais cooperações acadêmicas. Se um artista brasileiro vai se apresentar
em uma casa de shows no exterior, os diplomatas desse setor da embaixada poderão ajudar
a abrir portas locais para viabilizar a apresentação. Em outros casos, as instalações da repre-
sentação brasileira abrigam exposições de pintores brasileiros. Ainda em outros, o cultural
promove a vinda de estudantes estrangeiros para estudarem no Brasil.
Finalmente, o Setor da Administração da embaixada cuida da contabilidade, da contra-
tação de funcionários locais, alocação de recursos, como os veículos oficiais, pagamentos
etc. Uma embaixada precisa ser administrada como uma empresa, talvez ainda com mais
zelo, por lidar com recursos públicos. Ainda que interaja com autoridades do governo e par-
ticipe de eventos que muitos consideram glamorosos, não podemos perder de vista que um
diplomata é, antes de tudo, um funcionário do Estado.

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COMO SE DEFINE O DESTINO DE UM DIPLOMATA NO EXTERIOR?

Sempre que converso com candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplo-


mata (CACD), surge inevitavelmente a pergunta: um diplomata pode ser obrigado a ir morar
em algum país? A resposta é não, desde que excluamos do contexto o próprio Brasil, nos
casos em que o diplomata esteja no exterior e, dependendo da situação, deva retornar ao
Brasil. Isso traz alívio a muita gente – como é natural – e nos leva à curiosidade de entender
as regras que definem a movimentação de pessoal do quadro funcional do Ministério das
Relações Exteriores.
Antes de qualquer coisa, vamos diferenciar os Embaixadores, Cônsules-Gerais e Minis-
tros Conselheiros dos demais diplomatas e pessoal de apoio administrativo do Itamaraty. No
caso de uma Embaixada, uma Missão Junto a Organismos Internacionais (como a ONU) ou
Consulados-Gerais, o (a) dirigente dessa representação brasileira, chamado (a) de Chefe de
Posto, será qualquer brasileira ou brasileiro nato designado pelo Presidente da República.
Quase sempre, por se tratar de função que exige considerável preparo técnico, o (a) esco-
lhido (a) é um diplomata experiente, que esteja em um dos dois últimos estágios da carreira
diplomática (Ministro de Primeira Classe ou Ministro de Segunda Classe).
Assim, por exemplo, quando nosso Embaixador em Tóquio é escolhido pelo Presidente
da República, ocorre a seguinte ordem de eventos: a) o governo brasileiro pede ao japonês
agréement (de acordo) ao nome proposto; b) aceito o agréement, o candidato passa por
sabatina no Senado Federal; c) em seguida, é removido para nossa Embaixada na capital
japonesa, assumindo a chefia do Posto; d) após sua chegada, pede autorização para entrega
de credenciais (espécie de carta de apresentação) ao Imperador do Japão, que é o Chefe
de Estado.
Do mesmo modo, o diplomata que assumirá o cargo de Cônsul-Geral do Brasil
em Miami, geralmente um Ministro de Primeira Classe – informalmente chamado de
Embaixador, ainda que não vá exercer as funções de Embaixador –, passará pelo mesmo
processo, sem a necessidade, no entanto, de sabatina, nem de entrega de credenciais, por
não se tratar da máxima representação do Brasil junto ao governo dos Estados Unidos.
No caso do cargo de Ministro-Conselheiro, que é o diplomata número 2 de uma Embai-
xada, aquele que substitui o Embaixador em suas ausências e é responsável pela supervisão
do pessoal lotado no Posto (sinônimo de qualquer representação brasileira no exterior), o
Presidente da República não pode designar qualquer brasileiro, pois a função é de exercício
exclusivo dos membros da carreira diplomática, assim como todas as demais. Normalmente,
quem escolhe o Ministro-Conselheiro é o próprio Embaixador que irá chefiá-lo. O prazo de
permanência desse profissional em cada Embaixada é de, no máximo, cinco anos (mesmo
prazo dos Embaixadores e dos Cônsules-Gerais).

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Quanto aos demais diplomatas e funcionários administrativos do quadro funcional do


Itamaraty, a movimentação do Brasil para o exterior e de um Posto a outro fora do país é
regulada pelos chamados Planos de Remoções. Os Planos de Remoções são as regras
definidas, a cada semestre, para designar o destino de cada funcionário. Publicado o Plano
no Boletim de Serviço do Itamaraty (espécie de Diário Oficial interno do Ministério), todos
aqueles que desejam ser removidos ou que são obrigados a se movimentar por cumprirem
o prazo máximo de permanência no Posto em que servem inscrevem-se para se candidatar
às vagas disponíveis.
A definição das vagas em cada Posto ocorre apenas após o período de inscrições,
exatamente para que se tenha conhecimento sobre quem se movimentará e, consequente-
mente, abrirá uma vaga no exterior. O Plano de Remoções dos diplomatas, por exemplo – e
o mesmo vale para os Oficiais de Chancelaria, Assistentes de Chancelaria e outros funcioná-
rios de apoio –, define as movimentações dos Terceiros-Secretários, Segundos-Secretários,
Primeiros-Secretários e Conselheiros. Os Ministros (de Segunda Classe) e os Ministros de
Primeira Classe (também chamados de Embaixadores) não participam dos Planos de Remo-
ções, pois suas transferências ocorrem pelo modo descrito anteriormente.
As representações brasileiras no exterior são classificadas pelas letras A, B, C e D,
em que A é o melhor Posto, tanto em termos de qualidade de vida quanto de importância do
país para o Brasil, e D é o mais difícil, ficando os Postos B e C em níveis intermediários. São
exemplos de Posto A: os Estados Unidos da América, a Argentina e a França; Posto B: o
Canadá e a Austrália; Posto C: a Rússia e a China; e Posto D: o Suriname e a Guiné-Bissau.
Se um diplomata está lotado em um Posto A, por exemplo, ele não pode se candidatar
a outro Posto A, precisa escolher um de outra letra. O tempo de permanência máxima nesse
país é de três anos. Ao sair de um B, a mesma regra se aplicará se seu Posto imediatamente
anterior, antes de retornar a Brasília, foi A ou outro B. Assim, somente lhe restam as opções
C e D. Seu prazo para movimentação também se esgota após três anos.
Ao sair de Postos classificados como C ou D, nos quais não necessita permanecer por
mais de dois anos (ainda que possa preferir ficar), o diplomata não só pode, como tem o
direito de escolher um Posto A como destino. Claro que dispõe igualmente da liberdade de
escolher outro Posto mais difícil, porém, a decisão é dele.
Voltando agora à questão inicial, ninguém é obrigado a ser removido para um determi-
nado país que não escolheu. Se está em Brasília querendo sair para o exterior e não conse-
guiu que lhe oferecessem o Posto de seu interesse, pode desistir do Plano de Remoções e
permanecer em nossa capital. Caso esteja no exterior e queira outro destino, mas não acei-
tou o que lhe foi oferecido, só lhe resta a opção de retornar a Brasília. Em virtude disso, essa
pode ser a única opção obrigatória.

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Para concluir, todo diplomata que está no exterior deve retornar ao Brasil após 10 anos
consecutivos de permanência fora do país. A única exceção a essa regra aplica-se aos Con-
selheiros, que podem permanecer por mais tempo, desde que respeitem o rodízio entre
as diversas categorias de Postos e permaneçam em cada um pelo prazo máximo descrito
anteriormente.

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COMO UM DIPLOMATA VAI DE TERCEIRO-SECRETÁRIO A


EMBAIXADOR

Todos os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) imagi-


nam-se não apenas como parte do corpo diplomático brasileiro, mas principalmente, um dia,
como embaixador(a) do Brasil em Paris, em Washington ou em alguma embaixada impor-
tante. Claro que a pessoa que irá ocupar um desses cargos daqui a 40 anos, por exemplo,
provavelmente ainda não ingressou na carreira e poderá até ser você ou algum concorrente
seu no CACD, mas é necessário saber que o caminho não é fácil, e o funil, apertado. Enten-
damos como funciona.
As promoções na Carreira de Diplomata obedecem a critérios legais, especialmente os
estabelecidos nas Seções V e VI da Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, que instituiu
o Regime Jurídico dos Servidores do Serviço Exterior Brasileiro, aí incluídos os diplomatas.
Com certeza, como em toda carreira, nem toda promoção é automática (por antiguidade),
assim que obedecidos os requisitos previstos na Lei, aliás, no caso do Itamaraty, apenas a
primeira é assim. Das cinco promoções a que aspiram os diplomatas, as quatro últimas ocor-
rem também a partir de avaliações subjetivas, chamadas de promoção por merecimento 8.
A promoção por antiguidade significa que a ascensão funcional ocorre pela ordem de
ingresso na carreira, logo após a aprovação no CACD. É desse modo que um diplomata
sobe o primeiro degrau de sua trajetória, ou seja, é promovido de Terceiro-Secretário (cargo
inicial) a Segundo-Secretário. Os aprovados no CACD são dispostos em uma fila, de acordo
com a colocação em que passaram. O primeiro colocado no Concurso será o primeiro da fila,
e assim por diante. O primeiro da fila do CACD de 2022, por exemplo, estará logo atrás do
último colocado do CACD de 2021.
Para ser promovido a Segundo-Secretário, o diplomata não precisa jamais ter servido
no exterior. Como os primeiros anos de exercício profissional ocorrem necessariamente em
Brasília, inclusive porque o período do Curso de Formação do Instituto Rio Branco (IRBr) o
obriga a morar na capital do país, em geral, essa promoção ocorre antes da primeira missão
permanente ao exterior, ou durante sua estada no primeiro posto (embaixada, consulado ou
missão junto a algum organismo internacional). Atualmente, o tempo médio para que isso
ocorra tem sido de seis a sete anos, incluído aí o período de curso no IRBr.
Para a promoção de Segundo a Primeiro-Secretário, o diplomata necessita haver con-
cluído o CAD (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas) 9, ter ao menos dois anos de serviço
prestado no exterior e haver completado três anos de exercício profissional como Segundo-

8 Isso é exatamente o estabelecido no art. 51 da referida Lei:


Art. 51. As promoções na Carreira de Diplomata obedecerão aos seguintes critérios: I – promoção a Ministro de Primeira Classe, Ministro de Segunda Classe,
Conselheiro e Primeiro-Secretário, por merecimento; e
II – promoção a Segundo-Secretário, obedecida a antiguidade na classe e a ordem de classificação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata – CACD,
cumprido o requisito previsto no art. 53 desta Lei.
9 Conforme afirmado anteriormente, o CAD, apesar de previsto na Lei, ainda não foi instituído.

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-Secretário, que é o tempo de interstício mínimo entre cada classe da carreira. Como se
trata de uma promoção por merecimento, no entanto, como afirmei, não basta cumprir esses
requisitos, pois a escolha é da alta direção do Ministério, sendo a última palavra a do Presi-
dente da República, com quem o Ministro das Relações Exteriores (Chanceler) despacha a
lista de promovidos em todas as classes.
Para ser um dos escolhidos a qualquer promoção por merecimento, além de cumprir
os requisitos mínimos de promoção em sua respectiva classe, o diplomata precisa entrar no
chamado Quadro de Acesso (QA). Trata-se de lista elaborada a partir de votação de todos
os diplomatas sobre quais candidatos à promo ção acham que merecem recebê-la. Os diplo-
matas votam nos candidatos de sua própria classe (votação horizontal) e das classes inferio-
res à sua (votação vertical). Os resultados das votações são examinados em três diferentes
câmaras de avaliação formadas por chefes de divisão, diretores de departamento e Secre-
tários. As listas começam maiores na câmara hierarquicamente menor e vão diminuindo na
medida em que sobem para as câmaras mais altas. Após essa triagem, o chanceler decide
quem entra no Quadro de Acesso de cada classe. O número de ingres santes no QA é o
mesmo dos promovidos, que obviamente deixam o Quadro ao mudarem de classe.
As condições para a promoção de diplomatas nas demais classes estão previstas no
artigo 52 da Lei n. 11.440/2006:

Art. 52. Poderão ser promovidos somente os diplomatas que satisfaçam os seguintes
requisitos específicos:
I – no caso de promoção a Ministro de Primeira Classe, contar o Ministro de Segun-
da Classe, no mínimo:
a. 20 (vinte) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da
classe inicial da carreira, dos quais pelo menos 10 (dez) anos de serviços prestados
no exterior; e
b. 3 (três) anos de exercício, como titular, de funções de chefia equivalentes a nível
igual ou superior a DAS-4 ou em posto no exterior, de acordo com o disposto em
regulamento;
II – no caso de promoção a Ministro de Segunda Classe, haver o conselheiro conclu-
ído o Curso de Altos Estudos – CAE e contar pelo menos 15 (quinze) anos de efetivo
exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos
quais um mínimo de 7 (sete) anos e 6 (seis) meses de serviços prestados no exterior;
III – no caso de promoção a conselheiro, haver o Primeiro-Secretário concluído o
Curso de Atualização em Política Externa – CAP e contar pelo menos 10 (dez) anos
de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da
carreira, dos quais um mínimo de 5 (cinco) anos de serviços prestados no exterior.

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O tempo mínimo de exercício do diplomata no exterior, exigência legal a partir da pro-


moção de segundo a Primeiro-Secretário, é contado somente quando a missão é perma-
nente ou transitória ininterrupta de duração igual ou superior a um ano. O período de serviço
prestado em postos do grupo D é computado em triplo, e o prestado no grupo C, em dobro.
Com todas essas exigências, a carreira diplomática torna-se, como costumo afirmar,
uma maratona, não uma corrida de 100 metros rasos. Pior: nessa maratona, ao contrário
do que ocorre com a competição olímpica, há barreiras, e muitas. É reconfortante saber, no
entanto, que o tempo pode ser cruel com a promoção de alguns diplomatas a curto prazo,
que muitas vezes não têm seu merecimento reconhecido como acham que deveriam, mas,
a longo prazo, todos os que trabalham bem e seriamente acabam ascendendo na carreira.
Poucos conseguem, no entanto, chegar ao último degrau – o de Ministro de Primeira Classe,
também chamado de Embaixador – sem esperar ao menos 30 anos. É necessário, pois, ter
paciência, trabalhar com seriedade e não achar que a satisfação profissional ocorre somente
quando se chega ao topo da carreira.

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O QUE FAZ UM DIPLOMATA? 10

Muitos candidatos à carreira diplomática costumam fazer a pergunta: “Mas, afinal, o


que faz um diplomata?”. A questão pode parecer simples, mas a resposta é, na realidade,
complexa. Para apresentar uma visão inicial, bastante mo desta, é oportuno, primeiramente,
identificar os dois principais espaços nos quais o diplomata brasileiro costuma exercer suas
atividades: a Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), em Brasília, e os Postos,
no exterior.
Na SERE, os principais vetores aos quais o diplomata pode dedicar seu trabalho são,
basicamente: geográfico, multilateral, consular e administrativo. As atividades das áreas geo-
gráficas correspondem àquelas vinculadas ao amplo campo das relações bilaterais entre o
Brasil e os demais países do globo. A Divisão de Ásia Central, por exemplo, tem responsabi-
lidade sobre as relações com os seguintes países: Irã, Turcomenistão, Uzbequistão, Caza-
quistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Afeganistão, Paquistão, Índia, Butão, Nepal, Bangladesh,
Sri Lanka e Ilhas Maldivas. Todos os assuntos referentes a esses países são tramitados, em
nível diplomático, por esse setor, no qual são diretamente tratados ou, eventualmente, enca-
minhados para outras áreas do Itamaraty, sobre os quais te nham competência específica.
As áreas multilaterais, por sua vez, estão vinculadas a temas específicos ou aos dife-
rentes foros internacionais a eles vinculados. Todos os temas relacionados, por exemplo, a
desarmamento, não proliferação e tecnologia nuclear — envolvendo quaisquer países ou
regimes internacionais — serão tratados pela Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sen-
síveis; já aqueles vinculados à ONU serão tramitados pela respectiva Divisão. Isso também
se aplica quando se tratar, para citar, de mudança do clima, defesa, espaço, ciência e tecno-
logia. Assim, cada assunto é tratado pela respectiva área temática.
A área consular, por sua vez, é uma das mais importantes do Itamaraty, pois atende
diretamente, de maneira ponderável, o cidadão brasileiro. Tanto as comunidades no exterior
quanto as nacionais que estão viajando a outros países são de responsabilidade dos diver-
sos setores vinculados a essas atividades, sob os mais diferentes aspectos, como o jurídico,
o legal e o humanitário.
O vetor administrativo, por fim, é a espinha dorsal do Ministério, sem o qual tanto a
SERE quanto os Postos no exterior não teriam como viabilizar seu trabalho. Não é tarefa
trivial, efetivamente, realizar todas as rotinas legais e administrativas do Itamaraty, ou seja,
da SERE, dos Escritórios Regionais localizados no Brasil e, sobretudo, da extensa rede de
Postos que o Brasil mantém nos cinco continentes. O segundo espaço de trabalho do diplo-
mata corresponde, como referido, aos Postos no exterior. Os mesmos vetores de trabalho
da SERE são contemplados nesses Postos, com maior ou menor ênfase, de acordo com
o tipo de representação e suas realidades específicas. Em uma Embaixada, por exemplo,

10 Artigo de autoria do Secretário Victor Hugo Toniolo Silva.

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desenvolvem-se as múltiplas atividades vetoriais; em um Consulado, por sua vez, o trabalho


se concentra na respectiva área consular; em uma Missão Permanente junto a um organismo
internacional, por fim, as atividades multilaterais certamente dominam a agenda.
Um interessante exemplo da multiplicidade de vetores dos vários tipos de postos encon-
tra-se na cidade de Nova Iorque: ali há a Missão Permanente do Brasil junto à ONU, que se
dedica à extensa e diversificada agenda multilateral desse órgão; há, também, o Consulado-
-Geral do Brasil, que atende aos interesses da numerosa comunidade brasileira ali presente,
bem como analisa os pedidos de concessão de visto por parte de cidadãos estrangeiros que
desejam ingressar no Brasil; finalmente, há o Escritório Financeiro, que é responsável pela
coordenação da gestão orçamentária, financeira e patrimonial da maior parte dos postos
no exterior.
Essa plêiade de possibilidades de trabalho oferecida ao diplomata brasileiro apresenta,
de igual modo, uma multiplicidade de desafios. Haverá atividades mais brilhantes, outras um
pouco menos; trabalhos burocráticos e rotineiros, atividades mais dinâmicas e imprevisíveis;
tarefas de grande projeção, outras de certa discrição. Em todas, porém, o diplomata poderá
cumprir seu dever público de negociar, informar e representar, na qualidade de membro do
Serviço Exterior Brasileiro.
O horizonte de trabalho de um diplomata – e, em perspectiva, do candidato à carreira
– pode remeter à navegação: há vários oceanos a serem cruzados e diferentes mares a
serem singrados. Dos caminhos exatos que serão percorridos, somente o destino e as cir-
cunstâncias, exógenas e endógenas, poderão determinar. É necessário ter coragem e deter-
minação; no diapasão do grande poeta Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, se a alma não
é pequena!”.

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O MOVIMENTO CONSTANTE DA CARREIRA DIPLOMÁTICA:


UMA VISÃO PESSOAL 11

O filósofo grego Heráclito de Éfeso (c. 535 a.C. – c. 475 a.C.), ao se referir à essência
de todas as coisas, dizia que “nada é permanente, exceto a mudança”. A frase do ilustre pré-
-socrático aplica-se perfeitamente à carreira típica de um diplomata: para nós, a mudança
constante é, talvez, a única certeza!
Quando se pensa na vida diplomática, uma das primeiras coisas que vêm à cabeça
seguramente é o fato de que grande parte da carreira se desenvolve fora do país. De modo
geral, um diplomata brasileiro passa cerca de metade de sua vida profissional atuando no
exterior, em países dos mais diversos. Trata-se de uma experiência riquíssima e de um dos
ingredientes que tornam a nossa carreira especial, mas o leitor pode estar certo de que essa
característica da carreira também é bastante demandante em termos pessoais e profissio-
nais, pela necessidade de que o diplomata e seus familiares se adaptem, forçosamente, a
ambientes e culturas totalmente diferentes a cada três ou quatro anos, em média.
A necessidade de adaptação às mudanças físicas frequentes é, portanto, uma certeza
– e, ademais, um dado quase óbvio – da vida diplomática. Menos óbvia, porém igualmente
demandante e, a meu ver, atraente, é a necessidade de adaptação constante a atividades
diferentes. Quando se pensa nas tarefas tradicionais da diplomacia (quais sejam, as de infor-
mar, negociar e representar), à primeira vista, fica pouco evidente a infinidade de diferen-
tes funções que o cumprimento dessas tarefas exige que sejam desempenhadas em uma
Chancelaria.
A grande variedade de funções envolvidas no trabalho diplomático torna muito difícil, se
não impossível, prever qual será o percurso profissional que percorrerá um Terceiro-Secretá-
rio recém-ingressado no Itamaraty. Muito se fala na dicotomia ou tensão entre generalismo e
especialização em diplomacia, sem que se chegue a conclusões definitivas. Há Chancelarias
que priorizam a formação de especialistas, nas quais um diplomata que se tenha tornado
“expert” em África, por exemplo, dificilmente será removido para algum país fora daquele
continente ou trabalhará em área que dele não trate. Algumas delas procuram estabelecer
caminhos ou “tracks” diferentes, nos quais os seus diplomatas podem ingressar e nos quais
deverão, em princípio, permanecer: em áreas como Diplomacia Econômica, Administração,
Diplomacia Pública, Política ou Consular.
E o Brasil? Em nossa Chancelaria, não existe exigência legal ou prática administrativa
no sentido de priorizar a formação de especialistas. Isso não quer dizer, evidentemente, que
não os haja: trabalham no Itamaraty brilhantes diplomatas que fizeram todas ou quase todas
as suas carreiras em áreas específicas. Temos grandes especialistas em comércio, exce-
lentes administradores, competentíssimos negocia dores e profissionais que entendem pro-

11 Artigo de autoria do Conselheiro Leonardo Enge.

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fundamente de dadas áreas geográficas ou países, por exemplo. Ao ingressar na Carreira,


porém, é muito difícil de se prever onde se vai chegar e por quais “mares” profissionais se vai
“navegar” ao longo das várias décadas que ela costuma durar.
Isso significa que aquele plano de trabalhar na Delegação do Brasil junto à FAO pode
acabar virando uma remoção para Tóquio, dependendo das oportunidades que se apre-
sentem e do interesse da Administração, e que quem acalenta o sonho de trabalhar com
Diplomacia Cultural por vezes pode se descobrir negociando acordos de comércio. Mais do
que isso: quem descobriu que gosta mesmo é de Administração pode trabalhar na área por
alguns anos, mas, na primeira remoção para o exterior, pode ser aproveitado na área de
Promoção Comercial (e depois voltar à Administração, por que não?). Outros profissionais,
que nem sequer cogitaram, no início de suas carreiras, tornarem-se especialistas nesta ou
naquela atividade, acabaram se destacando e se vendo alçados à condição de referências
em áreas específicas do Ministério das Relações Exteriores. A verdade é que temos de estar
preparados para assumir qualquer função dentre as muitas existentes dentro do Itamaraty,
seja na Secretaria de Estado ou nos Postos no exterior: a mudança, como queria Heráclito,
é provavelmente a única certeza em nossa carreira.
A dinâmica da carreira diplomática envolve mudanças periódicas recorrentes e, em
muitos casos, imprevisíveis, com muita antecedência. Ao terminar o Curso de Formação de
Diplomatas do Instituto Rio Branco, este escriba estava dando batente no Grupo de Trabalho
que organizava a UNCTAD 2004 em São Paulo quando foi informado de que fora selecio-
nado para estágio de um ano em Buenos Aires, a fim de participar de programa de intercâm-
bio do IRBr com o ISEN, a Academia Diplomática argentina. Foi uma transformação e tanto
no meu dia a dia, que exigiu total readaptação a um lugar e atividade diferentes, mudando-
-me pela primeira vez para outro país e levando nos braços uma filha recém-nascida. E foi
uma experiência maravilhosa!
O desempenho de múltiplas e diferentes funções é mais regra do que exceção em nossa
carreira, e a minha própria experiência, creio, o ilustra bem: depois do estágio na Argentina,
trabalhei, ao longo da carreira e em diferen tes países, nas áreas de Promoção Comercial, de
Formação de Diplomatas, de Política Multilateral e na Área Consular, além de ter-me desem-
penhado como Assessor do Secretário-Geral e do Ministro de Estado das Relações Exterio-
res para temas tão diversos, como Política Africana ou Assuntos Parlamentares. Cada uma
dessas ati vidades exigiu de mim esforços no sentido de “reinventar-me” profissionalmente,
estudando assuntos novos, construindo redes de contatos, desenvolvendo habilidades dife-
rentes. Desfrutei imensamente de cada uma dessas experiências. Esse gosto pelo novo, por
reinventar-se, por estar sempre em movimento, é para mim um dos grandes charmes e um
dos maiores atrativos da carreira.

LEONARDO ENGE

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POR QUE ÁFRICA, E NÃO EUROPA?

Um dos mitos da carreira diplomática é a dúvida sobre a existência de designação


obrigatória de diplomata para trabalhar em determinado país. Trata-se da pergunta mais fre-
quente entre as que me fazem os CACDistas (candidatos ao Con curso de Admissão à Car-
reira de Diplomata – CACD).
De cara, a resposta é não. Aliás, as regras de movimentação de diplomatas entre o
Brasil e o exterior são objeto de outro texto deste guia. Os leitores devem ficar em dúvida,
entretanto, sobre como o Itamaraty faz para lotar (designar) profissionais, não apenas diplo-
máticos, para trabalhar em algumas Embaixadas ou Consulados localizados em países com
baixa qualidade de vida.
Mas se ninguém é obrigado a ir morar em nenhum país, o que fazer para tornar uma
cidade africana ou asiática tão atraente como uma europeia ou norte-americana? Antes de
mais nada, é necessário pontuar que a recusa de movimentação (remoção) de qualquer
diplomata é permitida, porém, pode gerar consequências.
O principal critério para mudar um diplomata de um destino para outro é o do rodízio
entre Postos (representações brasileiras no exterior) de classificações distintas. As Embai-
xadas, os Consulados e as Missões do Brasil são classificados com as letras A, B, C e D.
Os Postos A são os melhores, em termos de qualidade de vida e importância política para
nossas relações bilaterais, enquanto os D são os piores, segundo os mesmos critérios.
Ao sair de um Posto A, o diplomata não pode ir imediatamente para outro A. Deverá
escolher, portanto, entre B, C ou D. Logo, seu segundo destino será necessariamente em
país de qualidade de vida inferior. Ainda assim, é verdade, pode escolher um B, que é melhor
que os demais, em termos de conforto. Mas para aqueles que escolherem os C ou D, são
oferecidas algumas vantagens exclusivas.
A primeira vantagem é a do tempo de exterior. Para ascender profissionalmente, o
diplomata precisa atender a algumas condições. Apenas aqueles que cumprem essas condi-
ções podem ser candidatos à promoção. Entre esses pré-requisitos está o tempo de serviço
no exterior, ou seja, o tempo que um diplomata serviu (não valem viagens eventuais), morou
fora do país trabalhando em um Posto. Os tempos mínimos necessários são: a) dois anos
(promoção de Segundo a Primeiro-Secretário); b) cinco anos (promoção de Primeiro-Secre-
tário a Conselheiro); c) sete anos e meio (promoção de Conselheiro a Ministro de Segunda
Classe); e d) dez anos (promoção de Ministro de Segunda Classe a Ministro de Primeira
Classe, informalmente chamado de Embaixador). Em Postos C, o diplomata ganha o dobro
de tempo de exterior e, nos D, o triplo. Assim, os dois anos de permanência nesses destinos
(tempo médio) valem quatro, se o Posto for C; e seis, se o Posto for D.

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A segunda vantagem é o auxílio-moradia. Certo percentual do valor do aluguel pago


por um diplomata no exterior é reembolsado pelo Ministério das Relações Exteriores, até um
certo limite predeterminado. Nos Postos A e B, em geral, esse percentual varia de 60 a 80%.
Nos C e D, 100%.
A terceira vantagem é o salário, que é mais elevado nos Postos mais difíceis. Além disso,
como normalmente se gasta menos nesses países, a economia é ainda maior. Lembrando
que os salários dos diplomatas no exterior são pagos em dólar norte-americano, em valor
definido caso a caso, inclusive se levando em conta o custo de vida e as condições do país.
A quarta vantagem são os afastamentos e vindas periódicas ao Brasil. Nos Postos C e
D, o diplomata tem direito a vir com a família a Brasília uma vez por ano, viagem paga pelo
Itamaraty. E a cada quatro meses, ganha 10 dias de licença a cada trimestre ou 15 dias a
cada quadrimestre para se ausentar do país em que está vivendo.
Finalmente, os diplomatas que servem em Postos C e D têm direito a pleitear um Posto
A (ou B, se preferirem) ao final do período de dois anos de permanência. Essa escolha ocorre
a partir de opções oferecidas pelo MRE antes ou após esse período, a depender das regras
aplicadas no momento de sua remoção.
Com todas as vantagens elencadas acima, torna-se interessante optar-se por destino
um país mais difícil. Além disso, há fatores menos subjetivos, como o próprio desejo de servir
em um desses países ou o aumento da chance de ser promovido por conta do esforço pes-
soal e familiar.
Mas e as consequências da recusa? Se estiver no exterior e o diplomata não quiser ir
a um dos destinos que lhe for oferecido, fica obrigado a retornar a Brasília. Se já estiver em
nosso país, simplesmente cancela-se sua inscrição no plano de remoções. E, claro, as van-
tagens subjetivas, como o aumento da chance de ser promovido, tornam-se desvantagens.

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CONHEÇA A ESTRUTURA DO ITAMARATY

Os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) costumam


imaginar que a rotina de um diplomata é essa pessoa viver cercada de autoridades em coque-
téis realizados em residências de embaixadores no exterior, ou sentada atrás de um prisma
(aquelas plaquinhas de acrílico) em que esteja escrito “Brasil” em uma reunião da ONU, ou,
ainda, acompanhando o discurso do Presidente da República em uma viagem inter nacional.
Tudo isso existe e faz parte da realidade de muitos diplomatas, e a maioria deles acaba
passando por isso em algum momento da carreira. Comigo mesmo já aconteceu algumas
vezes. É preciso saber, no entanto, como é o dia a dia dos profissionais que trabalham em
Brasília e como está hoje a estrutura funcional do Ministério das Relações Exteriores (MRE),
mais conhecido como Itamaraty. Será em alguma das unidades no Brasil que, após a apro-
vação no CACD e o término do curso no Instituto Rio Branco, todos trabalharão por algum
tempo antes da primeira saída para missão permanente no exterior.
O MRE, atualmente chefiado pelo Ministro Carlos Alberto Franco França, também cha-
mado de Chanceler (designação tradicional para o chefe da diplomacia brasileira), tem hoje
a seguinte organização estrutural: unidades no Brasil e unidades no exterior.
As primeiras são a sede do Ministério em Brasília – conhecida internamente como
Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), onde são tomadas as principais deci-
sões de execução da política externa definida pelo Presidente da República –, além de nove
Escritórios de Representação em diversos estados brasileiros, que fazem a interlocução do
Itamaraty com os Governos estaduais e as Pre feituras, e as Comissões Brasileiras Demar-
cadoras de Limites, que se ocupam de assuntos relativos às fronteiras do Brasil com os
países vizinhos.
No exterior, temos uma rede de representações, chamadas de “postos”, que abrange
132 Embaixadas, 70 Repartições Consulares (entre Consulados-Gerais, Consulados e Vice-
-Consulados), 11 Missões ou Delegações e três Escritórios, que somam 216 representações
no exterior. Às Embaixadas competem funções de representação e negociação de interesses
do governo brasileiro em relação ao país onde estão localizadas, enquanto cabe aos Consu-
lados atender à comunidade brasileira no exterior, bem como à comunidade local.
Assim, se um brasileiro está viajando de férias a Chicago, por exemplo, e perde seu
passaporte, deverá buscar o Consulado-Geral do Brasil localizado naquela cidade para soli-
citar a emissão de um documento que o autorize a retornar ao Brasil. Já quando uma auto-
ridade do Governo brasileiro vai aos Estados Unidos da América para participar de uma reu-
nião oficial com autoridades norte-americanas, será a Embaixada do Brasil em Washington
que acompanhará as discussões.

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Quanto à Secretaria de Estado das Relações Exteriores, que é o órgão decisório prin-
cipal do Itamaraty, a organização é hierárquica, o que não ocorre no exterior, onde os postos
têm independência funcional. A unidade de maior hierarquia da SERE é o Gabinete (do
Chanceler). Diretamente vinculada ao Gabinete estão a Assessoria de Imprensa, a Assesso-
ria Especial de Assuntos Federativos e Parlamentares, a Secretaria de Planejamento Diplo-
mático, a Consultoria Jurídica e a Secretaria de Controle Interno.
Abaixo do Gabinete, está a Secretaria-Geral (SG). O Chefe da SG é o Secretário-Geral
das Relações Exteriores, que externamente é chamado de Vice-Ministro, por ser o número
2 da estrutura funcional do Ministério. Esse é o maior cargo a que um diplomata brasileiro
pode aspirar, pois é de ocupação exclusiva dos integrantes da carreira, já que o Chanceler
pode não ser diplomata, como alguns que já desempenharam a função recentemente. À SG
também estão subordinadas unidades como o Cerimonial, a Inspetoria-Geral e a Corregedo-
ria do Serviço Exterior.
Finalmente, vêm as Secretarias temáticas (hoje são sete), com seus respectivos Depar-
tamentos, Divisões e Coordenações. Assim, por exemplo, o trabalho de promoção comercial,
que é o estímulo às exportações brasileiras e à atração de investimentos estrangeiros ao
Brasil, é cuidado por vários Departamentos e Divisões, cada um especializado em um grupo
de atividades. O respectivo Secretário, sempre um Embaixador, responde ao Secretário-
-Geral das Relações Exteriores.
Veja o tamanho e a complexidade da estrutura que permite que nosso país possa ser
tão bem representado no exterior!

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OS ESCRITÓRIOS DE REPRESENTAÇÃO DO MRE PELO BRASIL

É comum os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) se


imaginarem trabalhando em Brasília ou no exterior. Isso desagrada alguns, que prefeririam
morar em outras cidades brasileiras, achando que precisariam necessariamente se adaptar
à vida na capital. Normalmente, é isso mesmo o que ocorre, mas, como toda regra, há exce-
ções. Há diplomatas também trabalhando, pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE),
nos escritórios de representação do Itamaraty em todas as regiões do país. São as chama-
das unidades descentralizadas.
Como já afirmado anteriormente, a sede do MRE em Brasília é denominada Secreta-
ria de Estado das Relações Exteriores (SERE). É na SERE que se deliberam as diretrizes
de execução da política externa brasileira definidas pelo Presidente da República, chefe
de nossa diplomacia. E é a Brasília, igualmente, que todas as nossas representações no
exterior (Embaixadas, Consulados e Representações Junto a Organismos Internacionais) se
reportam. Mas o Ministério tem também interesses a serem defendidos e atividades a serem
desempenhadas no Brasil fora da capital.
São nove os Escritórios de Representação do Itamaraty pelo país afora: 1) em Manaus-
-AM, o Escritório de Representação na Região Norte (ERENOR); 2) em Recife-PE, o Escri-
tório de Representação no Nordeste (ERENE); 3) ainda no Nordeste, em Salvador-BA, o
Escritório de Representação na Bahia (EREBAHIA); 4) em Porto Alegre-RS, o Escritório de
Representação na Região Sul (ERESUL); 5) em Florianópolis-SC, o Escritório de Repre-
sentação em Santa Catarina (ERESC); em Curitiba-PR, o Escritório de Representação no
Paraná (EREPAR); 7) em Belo Horizonte-MG, Escritório de Representação em Minas Gerais
(EREMINAS); 8) em São Paulo-SP, o Escritório de Representação em São Paulo (ERESP);
9) por fim, no Rio de Janeiro-RJ, o Escritório de Representação no Rio de Janeiro (ERERIO),
onde também funcionam, no Palácio do Itamaraty, o Museu Histórico e Diplomático, o Arquivo
Histórico, a Mapoteca e a Biblioteca do Itamaraty.
A primeira das atribuições das unidades descentralizadas do Ministério das Relações
Exteriores é política. Apresentemos um exemplo: digamos que o Governo português resolva
assinar um Memorando de Entendimento com o Governo do estado de Minas Gerais para
preservação do patrimônio histórico em Ouro Preto. Tecnicamente, esse documento assinado
não será um tratado, pois os governos estaduais não têm personalidade jurídica internacio-
nal. Haverá, no entanto, envolvimento do EREMINAS nas conversas com os portugueses.
Outra das atividades dos Escritórios de Representação do MRE é a interlocução com
o setor privado. Assim, por exemplo, se o Departamento de Promoção Comercial do Itama-
raty decide organizar, em parceria com a Federação das Indústrias do estado de São Paulo

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(FIESP), um encontro empresarial com setores industriais da Argentina, o ERESP poderá


entrar em ação. Do mesmo modo, o Escritório em SP dá apoio às autoridades brasileiras que
participam de reuniões na capital brasileira dos negócios.
Já os Setores Consulares dos Escritórios de Representação são responsáveis, entre
outras funções, pela assistência às famílias de brasileiros que se encontram detidos ou desa-
parecidos no exterior, repassando informações oriundas dos Consulados brasileiros e auxi-
liando, quando possível, na obtenção de documentos consulares de nacionais residentes no
estrangeiro. Além disso, incumbem-se por emitir passaportes diplomáticos e oficiais, bem
como retificar vistos brasileiros concedidos no exterior e, em casos especiais, solicitar a 2ª
via de formulário de pedido de visto. Esses serviços estão disponíveis para os habitantes das
cidades onde funcionam essas unidades descentralizadas.
Há, ainda, a atividade de promoção cultural, que busca o estabelecimento de parcerias
e convênios com instituições municipais e estaduais, visando ao estímulo da produção artís-
tica e divulgação cultural, bem como do fomento da cultura brasileira junto às representações
diplomáticas e comunidades estrangeiras existentes nessas cidades. Os Escritórios podem
conceder apoio institucional, além de apoio logístico, a artistas e a eventos, tendo em vista
os critérios de qualidade, diversidade e potencial artístico dos proponentes.
Finalmente, o serviço de legalização é o processo pelo qual o Ministério das Relações
Exteriores reconhece assinaturas em documentos feitos no Brasil para posterior consulariza-
ção nas representações diplomáticas e consulares estrangeiras dos países a que tais docu-
mentos se destinam. A legalização é uma exigência feita por governos estrangeiros.
E são diplomatas os responsáveis pela direção e condução dos trabalhos dos Escritó-
rios de Representação do MRE pelo Brasil. Assim, você, que se prepara para o CACD, saiba
que poderá, por um tempo, eventualmente trabalhar no Brasil sem estar em Brasília, ainda
que a capital seja o local de trabalho da maioria dos diplomatas lotados em nosso país.

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O SERVIÇO CONSULAR BRASILEIRO

O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) seleciona candidatos que,


aprovados, ingressarão em uma única carreira, mas poderão exercer funções também na
área consular – que, tecnicamente, é distinta da diplomática. Enquanto o trabalho diplomático
é realizado em Embaixadas e Missões do Brasil junto a Organismos Internacionais, como a
Organização das Nações Unidas – ONU, a atividade consular é exercida nos Consulados.
As Embaixadas e Missões são representações do Governo. Por esse motivo, sua loca-
lização é sempre na capital dos países com os quais se têm relações diplomáticas (Embai-
xadas) ou nas cidades-sede das Organizações Internacionais (Missões), como é o caso
de nossa Representação junto à Organização Mundial do Comércio – OMC, localizada em
Genebra, na Suíça.
Já os Consulados servem, principalmente, para dar assistência aos brasileiros e, por
isso, estão onde há nacionais a serem atendidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde
há uma grande concentração de imigrantes de nosso país, existem Consulados brasileiros
em oito cidades.
Em alguns países – e mesmo no Brasil, até 1938 –, as carreiras consular e diplomá-
tica são exercidas por profissionais distintos. Atualmente, em nosso país, os profissionais
do Serviço Exterior brasileiro podem trabalhar tanto em representações diplomáticas como
em consulares. Ainda que persista a distinção técnica entre as duas atividades, a decisão
de unificar as carreiras na década de 1930 foi acertada, pois, além de exigirem qualificações
profissionais similares, há muitos pontos de convergência entre essas funções e, do ponto de
vista administrativo, não faz muito sentido separá-las.
Quando não existe um Consulado brasileiro em alguma cidade onde haja Embaixada,
nenhum brasileiro que por ali passe fica desassistido. Isso porque, nesse caso, há sempre
um setor consular dentro da Embaixada que funciona como se um Consulado fosse. Além
disso, atividades como a divulgação cultural do Brasil e a promoção comercial de nossas
empresas são exercidas nas Embaixadas e também nos Consulados.
Quanto aos privilégios e imunidades, embora distintos, os regimes são equivalentes,
sendo absolutos em relação aos diplomatas e vinculados ao exercício das funções em rela-
ção aos membros consulares 12. As imunidades de ambas as carreiras só são oponíveis contra
o Estado que recebe o membro de representação. Assim, o Diplomata ou Cônsul brasileiro,
quando em território nacional, despido estará de qualquer imunidade, podendo, inclusive, ser
preso por cometimento de crime comum. Mas se está a serviço de nosso país no exterior,
estará imune às penalidades da lei local. Já o Embaixador (o chefe da missão diplomática)
possui foro privilegiado caso venha a figurar como réu em uma ação penal, por exemplo. Até
a supracitada decisão do Governo brasileiro de unificação das carreiras, no início do século

12 Sobre privilégios e imunidades, sugere-se a leitura das Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961, e sobre Relações Consulares, de
1963.

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XX, a atividade consular era considerada inferior à diplomática. Hoje, além de não haver essa
distinção em nível de importância – tanto é que os mesmos profissionais as exercem indis-
tintamente –, o serviço consular brasileiro tem recebido crescente atenção da alta chefia do
Ministério das Relações Exteriores.
Em 2007, por exemplo, o Itamaraty lançou o Portal Consular 13, com o objetivo de moder-
nizar e desburocratizar a assistência consular brasileira. Em seus quase 15 anos de existên-
cia, o Portal foi aperfeiçoado e expandido, sendo hoje excelente fonte de informações aos
cidadãos brasileiros no exterior, de uma forma geral. No Portal, há informes sobre emissão
de documentos, orientações jurídicas, dicas sobre viagem, costumes e legislação local de
cada país, entre outras informações.
Ao ser removido para um Consulado, o diplomata brasileiro exerce o cargo de cônsul.
Nossos cônsules desempenham, basicamente, duas funções de interesse dos brasileiros no
exterior: a função notarial (ou de registro) e a função consular propriamente dita. Na primeira,
funciona como um tabelião, realizando registros de nascimentos, óbito, procurações, con-
tratos, autenticações de documentos, celebração de casamentos etc. Na segunda, promove
auxílio àqueles nacionais em situações de vulnerabilidade, especialmente as pessoas presas
e doentes.
As funções consulares consistem, de acordo com a Convenção de Viena de 1963, em:
a. proteger, no Estado receptor, os interesses do Estado que envia e de seus nacionais,
pessoas físicas ou jurídicas, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional;
b. fomentar o desenvolvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e cien-
tíficas entre o Estado que envia e o Estado receptor e promover, ainda, relações amistosas
entre eles, de conformidade com as disposições da presente Convenção;
c. informar-se, por todos os meios lícitos, das condições e da evolução da vida comer-
cial, econômica, cultural e científica do Estado receptor, informar a respeito o governo do
Estado que envia e fornecer dados às pessoas interessadas;
d. expedir passaporte e documentos de viagem aos nacionais do Estado que envia,
bem como visto e documentos apropriados às pessoas que desejarem viajar para o refe-
rido Estado;
e. prestar ajuda e assistência aos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, do Estado
que envia.
Aos candidatos ao CACD, vejam que é aberto o leque de opções profissionais dentro
do Ministério das Relações Exteriores. Portanto, ao estudo!

13 Cf.: http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br.

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DIPLOMATA TAMBÉM FAZ TRABALHO ADMINISTRATIVO

Nem todo diplomata que deixa o Instituto Rio Branco (IRBr) é aproveitado de cara em
áreas fins do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou seja, em atividades mais relacio-
nadas com as matérias cobradas no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD),
como temas políticos, econômicos, de promoção comercial ou consulares. Por escolha ou
necessidade do Itamaraty, muitos diplomatas têm por responsabilidade funções administrati-
vas, para lidar com recursos humanos ou financeiros.
A Secretaria de Gestão Administrativa (SGAD) é a unidade, dentro da estrutura do
MRE, encarregada de lidar com os temas administrativos, de acordo com a nova estrutura
regimental do Ministério das Relações Exteriores (MRE), aprovada pelo Decreto n. 9.683, de
09/01/2019.

À SGAD compete, conforme o disposto no artigo 42 do referido Decreto:

I - assessorar o Secretário-Geral das Relações Exteriores em todos os aspectos


administrativos relacionados com a execução da política externa; e
II - exercer o papel de órgão setorial dos Sistemas de Pessoal Civil da Administra-
ção Federal - SIPEC, de Administração dos Recursos de Informação e Informática
- SISP, de Serviços Gerais - SISG, de Planejamento e de Orçamento Federal, de
Contabilidade Federal e de Administração Financeira Federal.

O nome escolhido para essa Secretaria foi bastante apropriado. Recordo-me que,
quando cheguei ao Itamaraty, logo após a aprovação no Concurso de Admissão à Carreira
de Diplomata (CACD), fui tomar posse, juntamente com meus colegas de turma, na sala do
então Subsecretário do Serviço Exterior, título da unidade que se ocupava dos temas admi-
nistrativos do Ministério. Sem saber disso, obviamente, um colega perguntou-me em tom de
brincadeira: “Ué, mas eu pensei que o MRE inteiro era responsável pelo Serviço Exterior!”
Três departamentos respondem pelos temas da Secretaria: o Departamento de Adminis-
tração e Logística, o Departamento de Serviço Exterior e o Departamento de Tecnologia e
Gestão da Informação. O primeiro acompanha a contratação de pessoal local no exterior;
planeja e supervisiona as atividades de administração de material e de patrimônio dos órgãos
do Ministério, no país e no exterior; coordena o processo de licitações; e supervisiona os
serviços gerais de apoio administrativo. Quatro divisões o apoiam: a Divisão de Licitações, a
Divisão de Acompanhamento e Coordenação Administrativa dos Postos no Exterior, a Divi-
são de Recursos Logísticos I e a Divisão de Recursos Logísticos II.

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Art. 45. Ao Departamento do Serviço Exterior compete planejar, coordenar e super-


visionar as atividades de formulação e execução da política de pessoal, os proces-
sos de remoção e lotação, inclusive em seus aspectos de pagamentos e de assis-
tência médica e social, observando a orientação do órgão central do SIPEC, ao qual
se vincula tecnicamente como órgão setorial.

Sua estrutura comporta a Divisão do Pessoal, a Divisão de Pagamentos e a Divisão de


Treinamento e Aperfeiçoamento. A piada de meu colega sobre a atribuição do serviço exterior
ainda se aplicaria a esse Departamento.
Finalmente, o Departamento de Tecnologia e Gestão da Informação é o responsável
por planejar, supervisionar e coordenar as atividades referentes a transmissão, guarda, recu-
peração, circulação e disseminação de informações e documentos, bem como à informatiza-
ção das comunicações, observando a orientação do órgão central do SISP, ao qual se vin-
cula tecnicamente como órgão setorial. A esse Departamento estão subordinadas apenas a
Divisão de Políticas de Tecnologia e Segurança da Informação e a Divisão de Comunicações
e Arquivo.
O objetivo deste texto não foi o de assustar candidatos do Concurso de Admissão à
Carreira de Diplomata (CACD), que, a essa altura, podem estar preocupados por terem de
se dedicar à preparação de um exame de difícil aprovação para eventualmente serem lota-
dos em uma área administrativa, para cuidar de temas que, na aparência, são menores que
outros que tratamos neste Guia Prático.
Meu objetivo, ao dividir com você essas informações, foi reforçar argumento que utilizo
sempre, que é o da diversidade de temas com os quais pode trabalhar um diplomata. Utilizo,
com frequência, a frase que mais me atraiu e atrai até hoje no Itamaraty: a carreira diplomá-
tica abrange a possibilidade de uma pessoa ter diversos empregos em uma única carreira.
Se você, após aprovação do CACD e conclusão do curso de formação do IRBr, vier a ser
aproveitada(o) em uma área administrativa do MRE, saiba que:
1) nada será permanente em sua carreira (em pouco tempo, terá a oportunidade de ir
trabalhar em outra área);
2) você poderá gostar desse trabalho e até se especializar, como já ocorreu com muitos
e muitos diplomatas.
Comigo mesmo ocorreu algo parecido: o tema de que mais gostei de tratar em minha
carreira foi o da promoção comercial, área pouco cobiçada dentro do Itamaraty. Portanto, é
importante e positivo ter opções profissionais, e isso não falta na carreira diplomática.

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CONHEÇA AS CARREIRAS DO SERVIÇO EXTERIOR BRASILEIRO

“O Serviço Exterior Brasileiro, essencial à execução da política exterior do Brasil, cons-


titui-se do corpo de servidores, ocupantes de cargos de provimento efetivo, capacitados pro-
fissionalmente como agentes do Ministério das Relações Exteriores (MRE), no Brasil e no
exterior, organizados em carreiras definidas e hierarquizadas” 14.
O texto acima consta do artigo 1º da Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, que
instituiu o Regime Jurídico dos Servidores do Serviço Exterior Brasileiro. Os servidores do
Serviço Exterior Brasileiro, que são os ocupantes de cargos de provimento efetivo do Itama-
raty, enquadram-se em três diferentes carreiras: os Diplomatas, os Oficiais de Chancelaria
(OFCHANs) e os Assistentes de Chancelaria (ACHANS).
A carreira de Oficial de Chancelaria é de nível superior. Seus ocupantes, servidores
integrantes da Carreira de OFCHAN, de nível superior, têm por atribuição formular, imple-
mentar e executar “atos de análise técnica e gestão administrativa necessários ao desenvol-
vimento da política externa brasileira”. Já os ACHANs têm nível médio e executam “tarefas
de apoio técnico e administrativo” 15.
As Carreiras de Oficiais e Assistentes de Chancelaria foram criadas pela Lei
n. 8.829, de 22 de dezembro de 1993. Assim como os diplomatas, OFCHANs e ACHANs
ingressam no MRE por concurso público. Diferentemente do Concurso para Admissão à Car-
reira de Diplomata (CACD), que ocorre todo ano, os exames para as demais carreiras do
Serviço Exterior Brasileiro são intermitentes. O último concurso para selecionar Assistentes
de Chancelaria ocorreu em 2008 (100 vagas), enquanto
o de Oficial de Chancelaria foi realizado em 2015 (60 vagas).
A ascensão profissional de OFCHANs e ACHANs ocorre por progressão e promoção.
A progressão é a passagem do servidor de um padrão 16 para o seguinte, dentro da mesma
classe 17, obedecidos os critérios especificados para a avaliação de desempenho e o tempo
de efetiva permanência no cargo. Já a promoção é a passagem do servidor de uma classe
para a imediatamente superior da respectiva carreira. Para ocorrer a progressão funcional,
é necessário o interstício mínimo de 12 me ses, enquanto a promoção somente ocorre após
cumpridas outras condições, como a conclusão de cursos de aperfeiçoamento e a avaliação
de bom desempenho – além, claro, da existência de vaga.
As movimentações desses profissionais na Secretaria de Estado (lotação) e no Exterior
(remoção) seguem critérios similares aos aplicados à Carreira Diplomática. Além da neces-
sidade funcional e da abertura de vagas decorrentes do rodízio entre integrantes da mesma
carreira, é necessário o respeito a um revezamento entre Postos (representações no exterior)

14 Cf. Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, art. 1º.


15 Cf. Lei n. 11.440, de 29 de dezembro de 2006, art. 4º e 5º.
16 Padrão é o nível de vencimento correspondente à posição do servidor na classe.
17 Classe é a unidade básica da carreira, integrada por cargos com atribuições e responsabilidades assemelhadas.

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de categorias A, B, C e D. O prazo de permanência em cada destino, no entanto, é maior: os


profissionais podem permanecer até cinco anos em cada Embaixada, Consulado ou Missão
junto a organismos internacionais para os quais sejam designados(as), desde que a soma do
tempo do serviço prestado fora do Brasil não ultrapasse 10 anos 18.
Essas carreiras não diplomáticas do Itamaraty, especialmente a de OFCHAN, costu-
mam despertar também o interesse de muitos candidatos ao CACD. A cada edição dos con-
cursos para a seleção de Oficiais de Chancelaria, muitos aspirantes à carreira diplomática
são aprovados e continuam a se preparar para o CACD enquanto exercem as funções téc-
nicas e administrativas para as quais foram selecionados. Isso é legítimo, mas é necessário
deixar claro que se tornar OFCHAN não deixará ninguém mais próximo do ingresso na car-
reira diplomática. Às vezes, isso até cria uma dificuldade, pois pode gerar a acomodação de
bons candidatos e até certa frustração, porque muitos acham que poderão ter funções simi-
lares em carreiras distintas. O ideal, portanto, é deixar tais concursos para os candidatos que
realmente desejam seguir essas carreiras, que são tão respeitáveis quanto a de diplomata.

18 Mais detalhes sobre essas regras no art. 22 da Lei n. 8.829/1993.

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ENTENDA COMO FUNCIONA A COOPERAÇÃO TÉCNICA


INTERNACIONAL NO ITAMARATY

O ano de 2012 marcará as comemorações dos 35 anos de criação da Agência Brasileira


de Cooperação (ABC), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) respon-
sável por “planejar, coordenar, negociar, aprovar, executar, acompanhar e avaliar, em âmbito
nacional, programas, projetos e atividades de cooperação para o desenvolvimento em todas
as áreas do conhecimento, recebida de outros países e organismos internacionais e aquela
prestada pelo Brasil a países em desenvolvimento, incluindo ações correlatas no campo da
capacitação para a gestão da cooperação técnica e disseminação de informações”[1].
Diferentemente de outros países, a cooperação técnica é tema da política externa e,
portanto, faz parte das atribuições do Itamaraty e é administrada por diplomatas. Antes da
criação da ABC, o Brasil já possuía programas de cooperação técnica internacional com
outros países, com a participação do MRE, em coordenação com Ministérios setoriais, como
ocorre até hoje. Para sistematizar essas iniciativas, especialmente acordos de transferência
de tecnologia sob a forma de cooperação, o Governo brasileiro estabeleceu, em 1950, a
Comissão Nacional de Assistência Técnica (CNAT), que coordenava as ações hoje geren-
ciadas pela ABC. A cooperação técnica internacional possibilita maior interação entre os paí-
ses, na medida em que permite que se transfira, de uma nação a outra, o conhecimento
produzido nacionalmente. Assim, por exemplo, uma política pública bem-sucedida ou uma
inovação tecnológica desenvolvida em um determinado país pode ser replicada em outro por
meio de um acordo de cooperação técnica, que eventualmente pode envolver até uma ter-
ceira parte, seja outro governo ou
um organismo internacional.
Do ponto de vista brasileiro, houve sensível mudança das características da cooperação
que mantemos com outros países ou organizações internacionais. Nos primórdios de nossa
política de cooperação, na época da CNAT, o Brasil basicamente apenas recebia o que era
produzido no exterior, a chamada “cooperação recebida”. Hoje, o cenário é completamente
distinto, sendo fundamental a cooperação oferecida por nosso país a nações menos desen-
volvidas, assim como a troca de experiências, o que se chama de cooperação horizontal.
Dentro da estrutura do MRE, a ABC está vinculada à Secretaria de Política Externa
Comercial e Econômica, ainda que possua certa autonomia administrativa. “À Agência Brasi-
leira de Cooperação compete coordenar, negociar, aprovar, acompanhar e avaliar, em âmbito
nacional, a cooperação humanitária e técnica para o desenvolvimento em todas as áreas do
conhecimento, recebida de outros países e organismos internacionais e aquela entre o Brasil
e países em desenvolvimento” 19.

19 Cf. texto do Decreto no 9.683, de 9/1/19, art. 30 em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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O trabalho é dividido por assuntos, nas seguintes coordenações temáticas:

• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica - África, Ásia e Oceania;


• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica - América Latina, Caribe e Europa;
• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica Multilateral;
• Coordenação-Geral de Cooperação Técnica e Parcerias com Países Desenvolvidos;
• Coordenação-Geral de Cooperação Humanitária; e
• Coordenação-Geral de Planejamento, Administração, Orçamento e Comunicação.

O Brasil entende a cooperação técnica internacional como uma opção estra- tégica de
parceria, que representa um instrumento capaz de produzir impactos positivos sobre popula-
ções, alterar e elevar níveis de vida, modificar realidades, promover o crescimento sustentá-
vel e contribuir para o desenvolvimento social.
Nesse contexto, a cooperação brasileira com países em desenvolvimento, a chamada
cooperação Sul-Sul, ou Horizontal, ganhou muito impulso a partir de 1987 e ainda mais nos
últimos anos. A cooperação Sul-Sul contribui para o adensamento das relações do Brasil
com os países em desenvolvimento, para a ampliação dos seus intercâmbios, geração, dis-
seminação e utilização de conhecimentos técnicos, capacitação de seus recursos humanos
e para o fortalecimento de suas instituições.
A cooperação técnica recebida bilateral pode ser considerada um instrumento propulsor
de mudanças estruturais, por ter como objetivo a transferência de tecnologia e absorção de
conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico do país. É realizada
por meio de consultorias de alto nível, capacitação e treinamento de técnicos brasileiros e,
em alguns casos, pela doação de equipamentos de alta tecnologia, com o objetivo final de
transferir novos conhecimentos às instituições brasileiras. Entre os principais países parcei-
ros do Brasil nesse tipo de cooperação estão Alemanha, Japão, França e Espanha.
Finalmente, a cooperação técnica multilateral é a desenvolvida entre o Brasil e organis-
mos internacionais com mandato para atuar em programas e projetos de desenvolvimento
social, econômico e ambiental. O objetivo desse relacionamento é o de gerar e/ou transferir
conhecimentos, técnicas e experiências que contribuam para o desenvolvimento de capaci-
dades nacionais em temas elencados como prioritários pelo Governo brasileiro e sociedade
civil, assumindo-se como horizonte de trabalho a autossuficiência nacional em termos dos
conhecimentos requeridos para conceber e operacionalizar políticas e programas públicos
com repercussão sobre o desenvolvimento socioeconômico do país.
Ainda que a cooperação técnica seja considerada, por alguns, tema de menor importân-
cia ou interesse profissional, os diplomatas que trabalham na área cos- tumam apaixonar-se
pelos resultados obtidos pelos projetos levados a cabo pela ABC. Trata-se, portanto, de inte-
ressante opção de carreira, sendo uma das atividades em que se vê resultado mais imediato
dentro da diplomacia, que costuma lidar com assuntos mais abstratos.

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[1] Cf. Art. 42 do Decreto n. 8.817, de 21 de julho de 2016, que aprovou a Estrutura
Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Con-
fiança do Ministério das Relações Exteriores.

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A ATUAÇÃO BRASILEIRA NO COMBATE A ILÍCITOS TRANSNACIONAIS

Uma das áreas mais fascinantes, atuais e dinâmicas de atuação dentro da carreira
diplomática é a da política externa para a prevenção e combate aos ilícitos transnacionais e
cooperação em foros bilaterais e multilaterais na matéria. Os diplomatas que acompanham
esses temas no Itamaraty interagem não apenas com interlocutores estrangeiros de gover-
nos e organismos internacionais, mas também com membros de diversos órgãos do Governo
brasileiro, especialmente no plano federal.
Dentro da atual estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE), de acordo com
o que dispõe o Decreto n. 9.683, de 09/01/2019 20, o Departamento de Defesa é o responsá-
vel por propor e executar diretrizes de política externa em temas relacionados à política de
defesa e à participação brasileira em reuniões bilaterais, regionais e multilaterais, relacio-
nadas à Defesa e ao desarmamento e tecnologias sensíveis; além de cuidar dos assuntos
relativos a mar, Antártida e espaço. O Departamento conta com o apoio de quatro divisões:
Divisão de Assuntos de Defesa, Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis, Divisão
do Mar, da Antártida e do Espaço e Divisão de Produtos de Defesa.
O Departamento de Defesa está subordinado à Secretaria de Assuntos de Soberania
Nacional e Cidadania, unida de de terceiro escalão do MRE. Os diplomatas lotados nesse
Departamento coordenam a participação brasileira em reuniões internacionais, tanto em
foros bilaterais como multilaterais, que tratem da prevenção e combate ao crime organizado
transnacional e da cooperação internacional com relação aos delitos supracitados.
A coordenação do Itamaraty com órgãos do Governo brasileiro sobre temas relaciona-
dos ao combate a ilícitos transnacionais ocorre em especial com os Ministérios da Justiça e da
Defesa, no que tange à intersecção entre as competências do Departamento de Polícia Fede-
ral e das três Forças Singulares na prevenção e no combate aos crimes que ultrapassam as
fronteiras nacionais. Além disso, o Departamento de Defesa representa o MRE em diversas
instâncias governamentais colegiadas, como o Conselho Nacional sobre Drogas (CONAD), do
Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN); o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(COAF), do Ministério da Fazenda; o Conselho da Transparência da Controladoria-Geral da
União; a Comissão Nacional de Vias e Portos Navegáveis (CONPORTOS), do Ministério da
Justiça; a Comissão Nacional de Segurança da Aviação Civil (CONSAC), da Agência Nacional
de Aviação Civil (ANAC); entre outros mecanismos ou grupos formais e informais.
O leque temático do Departamento de Defesa é bem aberto e variado. Essa agenda tem
temas como a prevenção do crime e a segurança pública; o problema mundial das drogas; o
tráfico de pessoas; o terrorismo; o contrabando de migrantes; o tráfico de armas; o combate
à corrupção e ao suborno transnacional; o combate à lavagem de dinheiro; a segurança por-
tuária e aeropor tuária; e o combate a crimes cibernéticos.

20 Cf. texto do Decreto em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm.

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O mundo está cada dia mais conectado. Se, de um lado, o avanço da tecnologia faci-
lita as comunicações internacionais e diminui a distância entre os países, de outro, facilita o
cometimento de crimes que desrespeitam fronteiras e o poder dos Estados. Nesse contexto,
a atuação dos diplomatas torna-se imprescindível para facilitar o intercâmbio de informações
entre os governos, com vistas à elaboração de políticas públicas nacionais que combatam
esses ilícitos.
Veja a complexidade do trabalho diplomático escondido sob o guarda-chuva de um
único tema. Não é à toa que muitos defendem que o diplomata, mesmo quando se especia-
liza e dedica boa parte da carreira a uma única área, precisa ser também um bom generalista
e estar sempre preparado para lidar com os mais diversos assuntos.

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DIPLOMACIA CULTURAL

A diplomacia cultural brasileira – ou seja, a política de divulgação de nossos valores


culturais e educacionais em outros países – é definida pelo Presidente da República e exe-
cutada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE). No Itamaraty, cabe ao Departamento
Educacional e Cultural, subordinado à Secretaria de Comunicação e Cultura, coordenar as
ações dessa política. Nesse contexto, compete ao Departamento executar e propor diretrizes
da política exterior brasileira no âmbito das relações culturais e educacionais, assim como a
promoção da língua portuguesa, a negociação de acordos internacionais sobre esses temas
e a difusão no exterior de informações sobre a arte e a cultura brasileiras.
O Departamento Educacional e Cultural do Itamaraty é importante instrumento da diplo-
macia brasileira e desempenha uma variedade de atribuições que contribuem para a maior
aproximação do Brasil a outras nações. No âmbito das relações bilaterais, cabe-lhe negociar,
nas comissões mistas periódicas, os programas de trabalho para a implementação dos acor-
dos culturais existentes. Também são da sua competência o acompanhamento e a orienta-
ção da rede de Institutos Culturais e Centros de Estudos Brasileiros no exterior e o repasse
dos recursos necessários às atividades de divulgação cultural. No âmbito multilateral, des-
taca-se a atuação brasileira na Unesco.
Por meio de suas Divisões, o Departamento negocia acordos, desempenha ativida-
des de organização e estabelece contatos com vista à realização de eventos culturais. Com
base em sugestões da rede de Embaixadas e Consulados, uma programação de iniciativas
no exterior é examinada e definida no início de cada ano, levando-se em conta, entre outros
fatores, as prioridades da política externa brasileira. O Departamento presta também apoio a
eventos realizados no Brasil, tais como festivais e bienais.
O Departamento Educacional e Cultural é composto de três divisões: a) Divisão de
Promoção da Cultura Brasileira; b) Divisão de Assuntos Educacionais; e c) Divisão de Ações
Culturais. Entre suas atribuições estão as tarefas de “propor, em coordenação com os depar-
tamentos geográficos, diretrizes de política externa no âmbito das relações culturais e educa-
cionais, promover a língua portuguesa, negociar acordos, difundir externamente informações
sobre a arte e a cultura brasileiras e divulgar o Brasil no exterior” 21.
Entre outras atribuições, assegura a orientação, coordenação e execução da política
cultural ex terna do Brasil por meio da difusão da língua portuguesa, da literatura e da cultura
brasileiras. Acompanha projetos fundamentais de nossa diplomacia cultural relacionados à
Rede Brasil Cultural. A Rede Brasil Cultural está presente em dezenas de países, em cinco
continentes, e é formada por diversos Centros Culturais Brasileiros (CCBs), Leitorados e
Núcleos de Estudos Brasi leiros (NEBs). Os CCBs são extensões de embaixadas em que se
oferecem cursos de língua portuguesa, bem como de dança, música, culinária, artes plásti-

21 Cf. art. 39 do referido Decreto.

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cas e outros. O Programa Leitorado financia professores interessados em divulgar a cul tura
brasileira em instituições universitárias estrangeiras. Já os NEBs são unidades menores de
promoção cultural em algumas embaixadas e consulados brasileiros.
Também é responsável pela promoção e difusão da cultura brasileira no exterior em
diversas áreas, como arquitetura, design, artes cênicas, artes plásticas, dança, capoeira,
fotografia, literatura, música, teatro e gastronomia. Participa da elaboração de acordos cul-
turais e acompanha sua implementação. Por meio de diplomacia cultural, o Departamento
proporciona maior compreensão da realidade brasileira, afinidade com seus valores e pecu-
liaridades, redução de estereótipos nocivos sobre o país e, em última análise, relações mais
cooperativas e harmoniosas com os demais países.
Igualmente, há o acompanhamento de temas de cultura tratados no âmbito de organis-
mos multilaterais. Negocia-se o conteúdo e a forma dos acordos multilaterais culturais, além
do acompanhamento de sua tramitação até a ratificação. Também se coordena a participa-
ção do Brasil nos programas relacionados à Convenção do Patrimônio Mundial e nas demais
Convenções Culturais no âmbito da Unesco, como a de Diversidade Cultural e Economia da
Cultura (Convenção de 2005) e as de Pa trimônio Material (Convenção de 1972) e Imaterial
(Convenção de 2003).
Lida-se, ademais, com demandas de natureza cultural surgidas nos demais organismos
multilaterais, incluindo os regionais, como o Mercosul, a Unasul, a OEA, a Cúpula Ibero-
-Americana e a CPLP.
Na área de temas educacionais, as principais atribuições são tratar dos assuntos relati-
vos à cooperação educacional oferecida pelo Brasil, inclusive por meio da resposta a consul-
tas relacionadas aos temas. Acompanha-se, ainda, a cooperação educacional recebida pelo
Brasil de outros países, organismos internacionais ou agências estrangeiras e participação
da negociação de acordos, programas executivos de trabalho e demais atos internacionais
referentes à cooperação educacional no plano internacional.
O papel do Itamaraty na promoção do audiovisual brasileiro como ferramen ta de difu-
são cultural no exterior possui raízes históricas. Há significativo envolvimento do Ministério
nas políticas públicas relacionadas ao audiovisual e o reconhecimento de suas peculiarida-
des como indústria. Na atividade de promoção das obras audiovisuais brasileiras no exterior,
convergem a diplomacia cultural de caráter mais tradicional, focada na difusão da cultura
brasileira prioritariamente pelo seu valor simbólico, e postura mais associada à diplomacia
comercial, voltada à atividade econômica envolvida na sua produção, geradora de renda
e emprego.
A Diplomacia Cultural brasileira é uma das áreas mais tradicionais de atuação do Minis-
tério das Relações Exteriores. A riqueza de nossa cultura justifica a importância atribuída ao
tema. Não é à toa que se trata de uma área consideravelmente disputada entre os jovens
diplomatas recém-egressos do Instituto Rio Branco no momento em que terminam o curso de
formação e decidem sua primeira lotação (ocupação funcional) dentro do Itamaraty.

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O CERIMONIAL NA DIPLOMACIA

O trabalho de cerimonial no Itamaraty – ou em outros órgãos em que essa função


também é exercida por diplomatas, como na Presidência da República – assemelha-se ao
ofício de árbitro de futebol. Quando o juiz de uma partida exerce bem suas tarefas, sem com-
prometer o resultado da partida, nenhum torcedor percebe ou se lembra posteriormente de
sua atuação. Assim ocorre também com a ingrata, e ao mesmo tempo fascinante, atividade
cerimonialista.
Muitos enxergam o cerimonial como um trabalho menor, de pouca exigência intelectual
e caracterizado por funções operacionais que não deveriam estar a cargo de diplomatas.
Quem tem essa visão normalmente conhece pouco essa atividade e enxerga apenas a sua
superfície. Contudo, nos bastidores de cada cerimônia, há muito esforço e planejamento, o
que exige ampla visão para antecipar possíveis problemas, além de enorme controle emo-
cional para lidar com o estresse e para saber improvisar sem perder o domínio da situação.
Imaginemos, por exemplo, que o Presidente da República esteja em viagem internacio-
nal e decida inaugurar, com outro Presidente, uma ponte que ligue o Brasil a um país vizinho.
A cerimônia de inauguração, a ser acompanhada por considerável público, ocorre em um dia
de forte chuva, mas os Presidentes decidem realizá-la mesmo assim. As autoridades locais
não providenciam policiais em quantidade suficiente para fazer a segurança adequada e,
minutos antes da inauguração, ninguém sabe onde está a fita a ser cortada.
O cenário descrito acima é fictício, mas poderia perfeitamente ocorrer; além disso, muitas
situações similares surgem com frequência na rotina de um diplomata lotado no Cerimonial.
Fácil perceber, portanto, a necessidade de que os profissionais que exerçam essa função
sejam dotados de extremo controle emocional e capacidade de improvisação. E a ingratidão
do trabalho está no fato de que, caso tudo ocorra bem, ninguém o perceberá; no entanto, se
algo acontecer fora do previsto, a responsabilidade recairá sobre os organizadores.
Dentro da estrutura do Itamaraty, o Cerimonial está subordinado diretamente à Secreta-
ria-Geral das Relações Exteriores. O Chefe do Cerimonial é sempre um Embaixador (Minis-
tro de Primeira Classe) cercado de um número elevado de diplomatas mais modernos (que
entraram na carreira depois). Isso se justifica pela necessidade de organização de diversas
cerimônias ou eventos concomitantes ou próximos.
Quando o Ministro das Relações Exteriores (Chanceler) precisa viajar ao exterior, o que
ocorre frequentemente, diplomatas deslocam-se com antecedência ao destino a ser visitado,
a fim de organizar a logística dos encontros que serão realizados. Normalmente, o Chanceler
vai a mais de um país na mesma viagem e, assim, cada grupo de diplomatas do Cerimonial
se ocupa de um trecho do percurso. Daí a necessidade de o contingente de profissionais da
área ser considerável. Ao mesmo tempo, o Cerimonial é, das lotações, a que mais propor-
ciona viagens aos diplomatas que lá trabalham, tendo em conta a enorme quantidade de

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encontros que autoridades brasileiras realizam fora do país. No caso do Cerimonial da Pre-
sidência da República, são muito frequentes os deslocamentos de diplo matas também por
todo o território brasileiro. Por esse motivo, trata-se de atribuição bastante cobiçada pelos
jovens diplomatas quando saem do Instituto Rio Branco.

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O ACOMPANHAMENTO DE TEMAS POLÍTICOS NA DIPLOMACIA

Dos assuntos mais cobiçados entre os novos integrantes da carreira diplomática estão
os de natureza política. Em teoria, todo tema que envolve o relacionamento entre os gover-
nos é político, mas a chamada Área Política do Itamaraty diz respeito, especialmente, ao
acompanhamento das questões de política interna, quando se serve no exterior; e os de
externa, no Brasil. Comecemos pelo exterior.
Quando um diplomata serve em um setor político de uma embaixada brasileira, sua
principal função é a de informar 22. Para tanto, ele precisa se informar e, evidentemente,
buscar acesso a informações, especialmente as não disponíveis ao público geral.
Costumo comparar um diplomata no exterior a um repórter de campo de futebol. Ima-
gine uma partida de seu time, que você acompanha pela televisão. O jornalista que fica à
beira do gramado assiste ao mesmo jogo que todos estão vendo, mas a posição dele é privi-
legiada e, por isso, ele pode conversar com os jogadores, além de enxergar e ouvir detalhes
que não aparecem na TV.
A mesma situação ocorre com o acompanhamento de temas políticos por diploma-
tas em uma embaixada. Esses profissionais acompanham a política local do mesmo modo
como qualquer interessado lê as notícias desse país estrangeiro pela imprensa, mas sua
experiência, localização e acesso a autoridades governamentais, empresários, acadêmicos,
jornalistas etc. lhe permitem fazer uma avaliação diferenciada – o que é fundamental para a
definição da política externa brasileira.
É por isso que o desenvolvimento tecnológico e o avanço das telecomunicações não
acabarão com a diplomacia como profissão. A Internet facilita o acompanhamento das notí-
cias internacionais, mas a análise diplomática sensível e as informações que mais interes-
sam às chancelarias não estão nos portais de notícias.
Isso não quer dizer que um diplomata no exterior não tenha de ler os jornais de onde
viva. Sua primeira responsabilidade é estar bem informado, até para entender o que acon-
tece. Depois, precisa ir atrás de informações complementares às que leu. Com tal intuito,
deve frequentar seminários, ligar para pessoas e ir a eventos sociais, por exemplo.
Muitos imaginam que o trabalho de um diplomata fora do Brasil é ir a festas e coquetéis
e acham que a vida dele é divertida e que sua mão esquerda tem formato de “C”, de tanto
segurar copos de uísque. Eu, particularmente, acho essa a pior parte da atividade diplomá-
tica. Imagine o que é trabalhar o dia inteiro e à noite ainda ir a um evento social para ficar em
pé, conversando sobre trabalho com um desconhecido? Trata-se, portanto, de trabalho, não
diversão – mas é essencial para o desempenho da tarefa de informar.

22 Essa, aliás, é uma das três principais tarefas de um diplomata, sendo as outras duas representar e negociar. Alguns acrescentam à lista a função de assistir
(os brasileiros no exterior), mas, tecnicamente, assistir é trabalho consular, não diplomático, ainda que, no caso brasileiro, sejam os mesmos profissionais
a exercerem ambas as atribuições.

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Produzida a informação, que é transmitida pelas embaixadas brasileiras ao Ministério


das Relações Exteriores por documentos denominados telegramas 23, as unidades do Itama-
raty – responsáveis pelo processamento de tais informações e pela formulação da política
externa brasileira para as relações bilaterais com aquele país – passam a preparar documen-
tos, chamados “maços”, que servem de subsídio às conversas das autoridades brasileiras,
inclusive ao Presidente da República, chefe de nossa diplomacia, com suas contrapartes
estrangeiras.
Assim, por exemplo, um diplomata brasileiro lotado no setor político de nossa embai-
xada em Buenos Aires envia diariamente informações estratégicas ao Itamaraty, em Brasília,
as quais são lidas e avaliadas em uma Divisão que cuida de nosso relacionamento político
com a Argentina. Os maços, então produzidos, preparam os diplomatas hierarquicamente
superiores a dialogarem politicamente com os ar gentinos, em diversos mecanismos de diálo-
gos temáticos que ajudam a aprofundar o desenvolvimento de temas das relações bilaterais.
Isso é a base para a definição de decisões mais práticas, como a negociação de tra-
tados internacionais. Do abstrato, portanto, se vai ao concreto. É assim que a diplomacia
afeta a vida das pessoas, mesmo quando trata de questões mais abstratas, como os temas
políticos.

23 Os telegramas hoje são uma espécie de e-mail, mas permaneceu a designação dessa forma mais antiga de se comunicar.

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O TRABALHO DIPLOMÁTICO MULTILATERAL

Em setembro de 2021, o Presidente da República Jair Bolsonaro deverá abrir o debate


geral da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque,
Estados Unidos. Desde 1947, quando o então Chanceler brasileiro Oswaldo Aranha teve a
honra de ser o primeiro a falar nesse importante evento, o Brasil sempre abre o encontro que
reúne os 193 Estados-membros da maior organização internacional política do mundo, fun-
dada em 1945. Isso mostra o respeito a nosso país no cenário internacional e a importância
do trabalho do diplomata brasileiro.
Dentro do Itamaraty, o trabalho de acompanhamento dos temas tratados na ONU,
assim como em outras organizações internacionais, é conhecido como política multilateral.
Em Brasília, essa tarefa cabe aos diplomatas lotados em unidades para tratar de assuntos
como energia, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, coopera-
ção científica e tecnológica, combate a ilícitos transnacionais, erradicação da pobreza, desar-
mamento e tecnologias sensíveis, paz e segurança internacional, direitos humanos e temas
sociais, entre tantos outros. Por aí é possível ter uma ideia do quão diversificado pode ser o
trabalho diplomático.
Já no exterior, o Brasil tem representação não apenas junto aos países com os quais
mantém relações diplomáticas – todos os 193 membros da Organização das Nações Unidas
e mais alguns que não são –, mas também em organismos internacionais como a ONU,
a Organização Mundial do Comércio (OMC), a União Europeia (UE), a Organização dos
Estados Americanos (OEA), o Mercosul etc. Em todos esses casos, há escritórios brasilei-
ros chefiados normalmente por um Embaixador (profissional no topo da carreira) e diversos
diplomatas menos graduados e pessoal administrativo (Oficiais de Chancelaria, Assistentes
de Chancelaria e contratados locais).
O trabalho do diplomata brasileiro lotado em uma dessas representações consiste em
acompanhar os debates lá realizados durante todo o ano, não apenas em períodos de reu-
niões especiais, como é o caso da sessão ordinária anual da Assembleia-Geral da ONU,
sempre iniciada em setembro. Assim, por exemplo, com o encerramento do debate geral,
a Assembleia inicia a consideração das questões em sua agenda. Por causa do grande
número de temas que é chamada – mais de 150 itens na pauta de cada sessão –, a Assem-
bleia aloca para suas seis comissões principais os tópicos relevantes para seu trabalho. As
Comissões discutem os assuntos, buscando sempre que possível a harmonização das várias
abordagens dos Estados, e apresentam as suas recomendações, geralmente sob a forma de
projetos de resolução e de decisão, para o Plenário da Assembleia, com o intuito de aprecia-
ção e ação.

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Para se ter uma ideia dos temas discutidos, as seis Comissões Principais são: Comis-
são de Desarmamento e Segurança Internacional (Primeira Comissão), que trata sobre
desarmamento e questões de segurança internacional relacionadas; Comissão Econômica
e Financeira (Segunda Comissão), que trata sobre questões econômicas; Comissão Huma-
nitária, Social e Cultural (Terceira Comissão), que trata de questões humanitárias e sociais;
Comissão Política Especial de Descolonização (Quarta Comissão), que lida com uma varie-
dade de assuntos políticos não abrangidos por qualquer outra Comissão, ou pelo Plenário,
inclusive a descolonização, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados
Palestinos (UNRWA) e os direitos humanos do povo palestino; a Comissão Administrativa e
de Orçamento (Quinta Comissão), encarregada da administração e orçamento da ONU; e a
Comissão Jurídica (Sexta Comissão), que lida com questões legais internacionais. Em certo
número de itens da agenda, no entanto, como a questão da Palestina e a situação no Oriente
Médio, a Assembleia age diretamente nas suas reuniões plenárias.
Quando você, candidata(o) do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)
vê um representante do Brasil na televisão ou em um jornal sentado atrás de uma plaqueta
com o nome de nosso país defendendo nossos interesses em uma reunião para tratar de um
dos temas descritos supracitados, saiba que, para seguir esse mesmo caminho, caso decida,
depois de aprovada(o), trabalhar com temas políticos multilaterais, é preciso conhecer pro-
fundamente esses assuntos. Trata-se, portanto, de uma atividade bastante técnica e muito
desejada dentro do Itamaraty.
Como costumo dizer, a aprovação no CACD permite ingressar em uma carreira na qual
é possível ter dezenas de empregos diferentes, lidando com novas pessoas, em qualquer
lugar do mundo e trabalhando com os mais variados temas durante décadas. A área da polí-
tica externa multilateral é apenas uma delas. Em breve, você conhecerá muitas outras.

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A DIPLOMACIA E A PROMOÇÃO COMERCIAL

O senso comum associa a diplomacia ao mundo político. Isso está correto, já que o
Ministério das Relações Exteriores, órgão dono do “passe” dos diplomatas, é o principal exe-
cutor e auxiliar de elaboração da política externa brasileira. Mas o relacionamento do Brasil
com outras nações envolve muito mais do que o contato entre governos. Os setores priva-
dos dos países podem e devem contar com apoio governamental para realizar negócios no
exterior. Essa área de atuação dentro do Itamaraty é imensamente gratificante, pois se vê de
perto e em curto prazo o resultado de um trabalho que traz desenvolvimento econômico e,
consequentemente, melhora da qualidade de vida para muitos brasileiros.
Pensemos em um exemplo concreto para descrever como ocorre esse trabalho. Muitos
órgãos do governo e do setor privado realizam a tarefa de promover nosso comércio, especial-
mente nossas exportações e também a atração de investimentos estrangeiros para o Brasil.
Assim, quando uma empresa decide tentar vender seu produto no exterior, nem sempre, ou
raramente, procurará o Itamaraty de cara. Em geral, os primeiros contatos são feitos com
associações setoriais ou com uma agência de promoção de desenvolvimento.
Imagine que sou um pequeno fabricante de calçados em Franca/SP e decido tentar
vender meu produto nos Estados Unidos. Vou à Associação Brasileira das Indústrias de Cal-
çados (Abicalçados) e peço ajuda para exportar ao mercado norte-americano, no qual acre-
dito que haverá boa demanda para minha produção. O representante da Abicalçados poderá
sugerir que eu participe de uma feira setorial como a “Sole Commerce”, na cidade de Nova
Iorque. Ou então ele sugere que eu me junte a uma delegação empresarial do setor que a
Câmara Americana de Comércio Brasil-EUA esteja organizando, para visitar potenciais com-
pradores naquele país.
Para viabilizar minha participação nessa feira ou em outra missão empresarial, a Abical-
çados poderá, ainda, coordenar-se com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações
e Investimentos (Apex-Brasil) ou com a Agência Paulista de Promoção de Investimentos e
Competitividade (Investe São Paulo).
Veja que, até esse momento, não conversei com o Itamaraty, nem com nenhum diplo-
mata. Mas nenhuma dessas instituições brasileiras que estão me ajudando fez ainda qual-
quer contato com potenciais importadores do meu produto. Aí entra uma estrutura de mais
de 100 setores de promoção comercial (SECOM) em embaixadas e consulados brasileiros à
minha disposição. No caso específico de meu interesse de participação na “Sole Commerce”,
o SECOM do consulado-geral do Brasil em Nova Iorque poderá, em coordenação com minha
associação setorial, negociar espaço na referida feira, onde eu poderei expor meus calçados
e fazer contatos com potenciais importadores.

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Em outra hipótese, em maior escala, pensemos no exemplo de uma grande empresa


brasileira, como a Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões civis e militares do mundo.
Em um país para o qual a Embraer queira vender suas aeronaves, pode ser imprescindível
uma gestão política do Itamaraty junto ao governo local, para que a decisão política de inves-
tir milhões de dólares nessa aquisição seja tomada. Nesse caso, o tema pode envolver altas
instâncias dos dois governos, e a atuação dos diplomatas brasileiros será fundamental.
Para a realização do trabalho de promoção comercial e atração de investimentos, o
Ministério das Relações Exteriores conta com o envolvimento de diversos diplomatas em
dedicação exclusiva. A área é chefiada sempre por um embaixador, responsável pela Secre-
taria de Política Externa Comercial e Econômica. A essa Secretaria estão subordinados diver-
sos departamentos que, de alguma forma, se ocupam do trabalho de promoção comercial
no Itamaraty, com destaque para dois: o Departamento de Promoção do Agronegócio e o
Departamento de Promoção de Serviços e de Indústria.
Ao Departamento de Promoção do Agronegócio, novidade da nova gestão do MRE,
compete tratar das negociações relativas à promoção do Agronegócio e dos acordos corres-
pondentes; trabalho que realiza com o apoio igualmente de duas divisões: a Divisão de Pro-
moção do Agronegócio I e a Divisão de Promoção do Agronegócio II.
Já o Departamento de Promoção de Serviços e de Indústria assumiu boa parte das atri-
buições do tradicional Departamento de Promoção Comercial. Trata “das negociações rela-
tivas à promoção dos serviços e indústria e dos acordos correspondentes”, com o auxílio da
Divisão de Promoção de Serviços e da Divisão de Promoção da Indústria.
Quando um diplomata atua no Brasil ou no exterior, na área de promoção comercial, é
comum ver o resultado de seu trabalho muito rapidamente quando uma empresa brasileira
consegue realizar negócios no exterior. A exportação ou atração de investimentos estrangei-
ros traz recursos financeiros ao nosso país. Esses recursos são transformados em emprego
e bem-estar à população brasileira. Eis, portanto, um produto da atividade diplomática brasi-
leira, cujo resultado é muito concreto e, portanto, extremamente gratificante.

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AS NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS ECONÔMICAS

O trato das questões relacionadas com os temas de economia e finanças internacio-


nais é de responsabilidade, dentro do Ministério das Relações Exteriores, da Secretaria de
Política Externa Comercial e Econômica, que é unidade subordinada à Secretaria-Geral das
Relações Exteriores. À Secretaria cabe coordenar a participação do Brasil em diversos orga-
nismos e foros internacionais, entre os quais G-20 Financeiro, OMC, OMPI, OCDE, OACI e
Clube de Paris. O Secretário de Política Externa Comercial e Econômica, sempre um embai-
xador, é também Sherpa do Brasil no G-20.
A Secretaria tem, entre suas principais atribuições, a tarefa de coordenar as posições
do Brasil nas negociações comerciais da OMC, abrangendo temas como acesso a merca-
dos, bens agrícolas e não agrícolas, subsídios agrícolas, serviços, regras de defesa comer-
cial, propriedade intelectual e questões de desenvolvimento. Na qualidade de negociador
oficial brasileiro, participa de discussões sobre esses te mas na OMC propriamente dita ou
em grupos e mecanismos informais de consulta.
No exterior, o acompanhamento dos assuntos econômicos e financeiros é de respon-
sabilidade dos Setores Econômicos das Embaixadas. No caso dos temas de investimentos
e comerciais, a unidade responsável é o Setor de Promoção Comercial (SECOM), presente
tanto em embaixadas como em consulados-gerais. Enquanto os primeiros acompanham os
temas, produzem relatórios e acompanham autoridades em reuniões, os SECOMs fazem
análise de mercado (inclusive o comércio bilateral) e organizam missões empresariais.
Do mesmo modo como os diplomatas lotados nos Setores Políticos das Embaixadas
buscam informações privilegiadas junto a autoridades e formadores de opinião da sociedade
que servem para ajudar o Itamaraty a entender a política local, os diplomatas do Setor Eco-
nômico precisam estar atentos ao que se passa com a economia local.
Assim, por exemplo, uma reunião do FED (Banco Central dos EUA), que irá definir a
taxa de juros norte-americana, é assunto que interessa profundamente ao governo brasileiro,
pois é algo que afeta também nossa economia. Aos diplomatas que acompanham o tema
em nossa embaixada em Washington não basta ler o que sai na imprensa sobre o assunto.
É necessário acompanhar a posição de especialistas, frequentar eventos e conversar com
pessoas bem informadas e/ou influentes do governo, da imprensa, do empresariado e da
academia, para antecipar tendências de alta, baixa ou manutenção da referida taxa.
Quanto aos temas relacionados a organismos internacionais, como a OMC (Organiza-
ção Mundial do Comércio) ou a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), há missões ou setores específicos para o acompanhamento. No primeiro caso,
o Brasil tem uma representação permanente junto ao organismo. No caso da OCDE, cuja
sede está em Paris, como o país ainda não finalizou o processo de adesão, acompanhamos
os assuntos discutidos na organização sem representação permanente.

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Finalmente, observa-se que os diplomatas da área econômica do Itamaraty são os res-


ponsáveis pelas negociações comerciais de nosso país. São, portanto, aqueles que nego-
ciam eventuais acordos de livre comércio, como ocorreu com o Mercosul na década de 1990.
Eis, portanto, um tema de muito interesse dos recém-ingressos na carreira e que certamente
estará entre suas primeiras opções de lotação, após sua aprovação no Concurso de Admis-
são à Carreira de Diplomata (CACD) e término do curso de formação do Instituto Rio Branco.

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TEMAS DIPLOMÁTICOS ESPECIAIS: MEIO AMBIENTE, ENERGIA E C&T

A escolha dos temas que um diplomata acompanha, especialmente quando trabalha em


Brasília, não é tão simples quanto a decisão entre os de natureza político e os econômicos.
Alguns assuntos não se enquadram exatamente em nenhuma dessas duas grandes cate-
gorias ou mesmo têm um pouco de ambas. Esse é o caso de três que são particularmente
importantes para os países em geral e para o Brasil em especial: meio ambiente, energia e
ciência e tecnologia (C&T) 24.
Os temas ambientais são acompanhados pelo Departamento de Meio Ambiente, subor-
dinado à Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania, conforme dispõe o
Decreto n. 9.683, de 09/01/2019. Essa unidade propõe diretrizes de política externa no
âmbito internacional relativas ao meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável, à prote-
ção da atmosfera, à Antártida, ao espaço exterior, à ordenação jurídica do mar e seu regime,
à utilização econômica dos fundos marinhos e oceânicos e ao regime jurídico da pesca.
Conta com o apoio de apenas duas divisões: Divisão de Meio Ambiente I e Divisão de Meio
Ambiente II.
Já os assuntos energéticos são de responsabilidade do Departamento de Promoção de
Energia, Recursos Minerais e Infraestrutura, que cuida das diretrizes de política externa no
âmbito das relações bilaterais, regionais e nos foros internacionais relativos a recursos ener-
géticos renováveis e não renováveis; negocia aspectos externos das políticas públicas rela-
tivas à utilização dos recursos energéticos (renováveis e não renováveis); e trata das nego-
ciações internacionais na área geológica, mineral e de infraestrutura, inclusive acordos para
importação e exportação de minérios. Nessa estrutura estão também apenas duas divisões:
Divisão de Promoção de Energia e Divisão de Recursos Minerais e Infraestrutura.
Finalmente, o Departamento de Promoção Tecnológica (DPT) tem entre suas atribui-
ções “propor diretrizes da política externa no âmbito das relações bilaterais, regionais e nos
foros internacionais relativos à ciência, tecnologia e inovação”, de acordo com o texto do refe-
rido Decreto. Igualmente com estrutura enxuta, tem duas divisões que lhe são subordinadas:
a Divisão de Promoção Tecnológica I e a Divisão de Promoção Tecnológica II.

24 Esses três são temas de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Nossas políticas internas para essas áreas contribuem para
o prestígio internacional das posições defendidas pelo Itamaraty no exterior.

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O INSTITUTO RIO BRANCO E A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS


DIPLOMATAS

O Instituto Rio Branco (IRBr) é responsável por boa parte do prestígio de que desfruta a
diplomacia brasileira. Isso porque todos os diplomatas da ativa foram selecionados, formados
ou ao menos aperfeiçoados em cursos oferecidos pela instituição há mais de 70 anos. Com
isso, a linguagem utilizada pelo ministério, assim como a tradição de saber defender posições
ou aperfeiçoá-las, segue um padrão respeitado tanto por Embaixadores antigos como por Ter-
ceiros-Secretários recém-ingressados na carreira. O que eles têm em comum? Basicamente
a mesma capacitação. Em suma: todos já esquentaram cadeiras nas salas de aula do IRBr.
O nome da academia diplomática brasileira, respeitada internacionalmente, é homena-
gem a patrono de nossa diplomacia, o Barão do Rio Branco, que foi o negociador do Brasil
na maior parte das negociações de nossas fronteiras com os vizinhos, assim como o Chan-
celer que modernizou o serviço diplomático brasileiro, já então respeitado pelo legado da
tradicional Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros da Corte portuguesa. O ano da
fundação do IRBR, 1945, não foi escolhido por acaso: comemorava-se nessa data o cente-
nário de nascimento do Barão. A partir de 1946, o Instituto Rio Branco ganhou a atribuição de
organizar o processo seletivo para a Carreira Diplomática, e assim ocorre até hoje 25. Naquela
época, o concurso selecionava candidatos para frequentar o Curso de Preparação à Carreira
de Diplomata (CPCD) e, somente após a conclusão desse curso, com duração de dois anos,
o aluno era nomeado Terceiro-Secretário. A exigência para a seleção era apenas a conclusão
do ensino médio. Depois passou-se a exigir curso superior incompleto.
Nos anos de maior necessidade funcional do Ministério das Relações Exteriores, o Ins-
tituto Rio Branco organizava o chamado Exame de Ingresso Direto. Esse concurso exigia
curso superior completo e era de aprovação mais difícil que o processo seletivo convencio-
nal. Os aprovados eram nomeados Terceiros-Secretários, sem a necessidade de conclusão
do CPCD. Ainda assim, passavam por capacitação mais curta no IRBr, antes de iniciar sua
atividade profissional.
Ao completar 50 anos de fundação, o Instituto Rio Branco passou a exigir curso supe-
rior de todos os candidatos e nomear os aprovados como Terceiros-Secretários. Acabou,
assim, tanto o CPCD como o Exame de Ingresso Direto. O curso inicial da carreira passou a
se chamar PROFA (Programa de Formação e Aperfeiçoamento), também com dois anos de
duração. Em 2003, a formação inicial do Instituto Rio Branco foi reconhecida pelo Ministério
da Educação como Mestrado em Diplomacia, e o PROFA passou a ser chamado de Curso
de Formação 26.

25 O IADES – Instituto Americano de Desenvolvimento é contratado pelo IRBr para cuidar da logística do processo seletivo, mas cabe ao Instituto a adminis-
tração do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata – CACD.
26 O Curso de Formação deixou de conceder título de Mestrado em Diplomacia em 2010.

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Atualmente, o Curso de Formação do IRBr tem duração de três a quatro semestres e


tem por objetivo a capacitação acadêmica dos jovens diplomatas, sua profissiona lização e
igualmente socialização com os diplomatas mais antigos, que frequentemente dão palestras
no Instituto aos alunos. Na parte acadêmica, há aulas de História do Brasil e Mundial, Política
Internacional, Teoria Política, Direito Internacional, Economia, Linguagem Diplomática, lín-
guas estrangeiras, entre outras. Da profissionalizante, palestras com diplomatas, autoridades
e formadores de opinião sobre os mais diversos temas de política externa brasileira.
Depois de formado, o diplomata deve retornar ao Rio Branco, antes da promoção a
Primeiro-Secretário, para frequentar o CAD (Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas). O
CAD tem por objetivo aprofundar e atualizar os conhecimentos necessários ao desempenho
das funções exercidas por Primeiros-Secretários, sendo a requisito necessário à progressão.
O alunos do Curso participam de conferências ministradas por Chefes de Divisão do Ministé-
rio das Relações Exteriores – sobre temas de interesse da política externa brasileira – e por
professores universitários – sobre tópicos da atualidade política e econômica brasileira. Além
disso, prestam exames em matérias de política, economia e direito público internacional.
Finalmente, o IRBr oferece o Curso de Altos Estudos (CAE), condição para a promoção
da Classe de Conselheiro à de Ministro de Segunda Classe. O CAE consiste na elaboração
de uma tese analítica e propositiva, com relevância funcional e utilidade para a diplomacia
brasileira ou, ainda, que represente contribuição para a historiografia ou o pensamento diplo-
mático brasileiros. O candidato ao CAE – nesse caso não é chamado de “aluno” – deve apre-
sentar um projeto de tese que, uma vez aprovado por comissão de consultores, autoriza o
preparo e a apresentação da tese, que deverá ter entre 100 e 150 páginas, não computados
a bibliografia e os anexos.
A tese é avaliada por uma banca examinadora composta por ministros de primeira classe
e subsidiada por pareceres elaborados por dois relatores. A banca examinadora decide se
o trabalho está apto a passar à fase de defesa, quando seus autores são convocados para
a arguição. Nessa fase, o candidato expõe e defende oralmente sua tese e assiste às argui-
ções dos demais candidatos.
Aprovada a tese, a banca examinadora recomenda a publicação dos trabalhos aprova-
dos que, a seu juízo, mereçam tal distinção. A publicação é feita, normalmente, pela Funda-
ção Alexandre de Gusmão. A avaliação dos trabalhos é feita no mais completo sigilo de auto-
ria. Os examinadores não são informados sobre a identificação dos autores dos trabalhos,
e esses não são informados sobre a identidade dos examinadores até a fase de arguições.

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O LADO ACADÊMICO DO ITAMARATY: PESQUISAS E PUBLICAÇÕES

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) é responsável não apenas pela execução
da política externa brasileira, mas também por pensá-la academicamente e por tornar públi-
cos os debates sobre temas internacionais de interesse do Brasil. A vertente acadêmica do
Itamaraty é representada por dois órgãos vinculados ao Ministério, um que se ocupa da for-
mação inicial e continuada dos diplomatas, o Instituto Rio Branco – conforme vimos anterior-
mente – e outro, a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), à qual cabe promover debates
e publicações.
A FUNAG foi instituída pela Lei n. 5.717, de 26 de outubro de 1971. Trata-se de uma
fundação pública (científica e educativa) vinculada ao Ministério das Relações Exteriores
e foi batizada em homenagem ao diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão, nascido em
Santos, na época do Brasil colônia (em 1695). Gusmão é considerado um dos patronos da
diplomacia brasileira, ao lado do Barão do Rio Branco, por ter concedido a doutrina do uti
possidetis, princípio segundo o qual os países colonizadores deveriam manter os territórios
que já teriam ocupado, não os que haviam negociado anteriormente. Com isso, o Tratado de
Madri (negociado entre Portugal e Espanha em 1750), embasado por esse princípio, permitiu
que os portugueses mantivessem, nas Américas, uma área territorial muito superior ao que
havia sido definido pelo Tratado de Tordesilhas de 1494.
Segundo o artigo 1º da Lei n. 5.717/1971, a Fundação Alexandre de Gusmão tem como
objetivos básicos:
I – realizar e promover atividades culturais e pedagógicas no campo das relações
internacionais;
II – realizar e promover estudos e pesquisas sobre problemas atinentes às relações
internacionais;
III – divulgar a política externa brasileira em seus aspectos gerais;
IV – contribuir para a formação no Brasil de uma opinião pública sensível aos problemas
da convivência internacional; e
V – outras atividades compatíveis com suas finalidades e estatutos.
Para realizar as atividades que lhe cabe desempenhar, a FUNAG conta com o apoio
de duas entidades vinculadas: o Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI) e
o Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD). O IPRI trabalha para a amplia-
ção e o aprofundamento dos canais de diálogo entre o Ministério das Relações Exteriores e
a comunidade acadêmica sobre temas de interesse para a política externa brasileira. Suas
finalidades são:
a. desenvolver e divulgar estudos e pesquisas sobre temas atinentes às relações
internacionais;
b. promover a coleta e a sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação;

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c. fomentar o intercâmbio científico com instituições congêneres nacionais e


estrangeiras; e
d. realizar cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações
internacionais.
Já o CHDD, criado em 2002, tem sido responsável pelo levantamento, pela pesquisa e
pela edição de livros que trazem à luz documentação primária, fonte inestimável para pes-
quisadores e profissionais da área acadêmica. O Centro realiza pesquisas, sobretudo a partir
dos documentos depositados no Arquivo Histórico e na Mapoteca do Itamaraty, no Rio de
Janeiro, que contém o mais rico acervo documental sobre a História Diplomata do país. O
Arquivo possui correspondência oficial do Ministério das Relações Exteriores desde o Impé-
rio até a transferência da chancelaria para Brasília, em 1970.
O Centro de História e Documentação Diplomática é responsável por:
a. promover e divulgar estudos e pesquisas sobre a história diplomática e sobre as rela-
ções internacionais do Brasil;
b. criar e difundir instrumentos de pesquisa, incentivar e promover a edição de livros e
de periódicos sobre temas de sua competência;
c. promover a realização de atividades de natureza acadêmica no campo da história
diplomática; e
d. publicar, semestralmente, os “Cadernos do CHDD”, que divulgam pesquisas efetua-
das nos arquivos do Itamaraty.
Como resultado dos trabalhos desenvolvidos pela FUNAG, com apoio do IPRI e do
CHDD, é possível destacar a edição e a reedição de livros sobre a história diplomática do
Brasil, sobre a política externa brasileira e sobre os temas de relações internacionais rele-
vantes para a diplomacia brasileira; a compilação dos textos produzidos para fomentar dis-
cussões nos seminários, conferências e cursos promovidos pela FUNAG; a edição de teses
do Instituto Rio Branco e dos Cursos de Altos Estudos, elaboradas por diplomatas em seus
cursos de capacitação; a disponibilização para download das publicações editadas pela
FUNAG, por meio de sua página na Internet e sem qualquer custo para o usuário; e a reali-
zação de cursos para Diplomatas estrangeiros.
Em síntese, o objetivo maior da FUNAG consiste na realização de debates e na difusão
de conhecimentos sobre a política externa brasileira, sobre os temas de relações internacio-
nais e sobre a história da diplomacia brasileira, com vistas, em especial, à formação de opi-
nião pública a respeito dos grandes temas da agenda internacional contemporânea.
Além de representar excelente opção de trabalho para diplomatas com perfil acadê-
mico, a FUNAG promove eventos e publicações que são fonte imprescindível de preparação
aos candidatos do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), especialmente
para as provas de Política Internacional, tanto do TPS quanto da Terceira Fase. Recomenda-
-se, portanto, uma visita presencial aos que passarem por Brasília ou pelo Rio de Janeiro, e
virtual a todos os candidatos por meio do endereço: www.funag.gov.br.

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VOCÊ CONHECE A PRIMEIRA PROVA DO CONCURSO DE ADMISSÃO À


CARREIRA DE DIPLOMATA (CACD)?

Quando alguém diz que está estudando para o Concurso de Admissão à Carreira de
Diplomata (CACD), logo imaginamos uma pessoa que estuda muito, está antenada em tudo
o que acontece pelo mundo e é capaz de conversar sobre quase qualquer assunto. Esse é
mesmo o perfil de um bom candidato para esse exame, mas será o suficiente? Provavel-
mente, não. Sem conhecer bem como será avaliado, até o bom concorrente terá dificuldade
de mostrar seu conteúdo.
Como já disse anteriormente, o CACD é uma maratona, não uma corrida de 100 metros
rasos. E o primeiro quilômetro dessa longa competição – que terá três fases e nove provas
– é, talvez, o mais cansativo e difícil. Se não pela dificuldade – por se tratar de um exame
objetivo –, certamente pela variabilidade e grau de exigência da prova, pois esse é o fator
que mais elimina.
Estamos falando do famoso Teste de Pré-Seleção (TPS), prova da Primeira Fase do
CACD, composta de questões do tipo CERTO ou ERRADO de Língua Portuguesa, Língua
Inglesa, Política Internacional, História Mundial, História do Brasil, Noções de Direito e Direito
Internacional Público, Noções de Economia e Geografia. O TPS tem caráter eliminatório e
somente 300 candidatos, dos cerca de 5.000 inscritos (6%), serão habilitados a se submete-
rem às fases seguintes.
Essas informações não devem servir para assustar, mas para alertar os candidatos
a prestarem atenção ao formato dessa prova e sobre como encará-la. Comecemos pelo
começo: o peso de cada uma das oito disciplinas.
O TPS tem 73 questões: 12 de Política Internacional, 11 de História Mundial, 11 de His-
tória do Brasil, 10 de Língua Portuguesa, nove de Língua Inglesa, oito de Economia, seis de
Direito e seis de Geografia.
Como cada questão equivale a 1,0 ponto, Língua Portuguesa vale mais do que Língua
Inglesa, que vale mais do que Economia, e assim por diante. História Mundial – que não cai
na Terceira Fase do CACD – no TPS, entretanto, pesa quase o dobro de Geografia, disciplina
que tem prova discursiva própria na etapa final do concurso.
Isso quer dizer que é necessário estudar mais História do que Direito? Durante o ano
de preparação, certamente, mas a menos de uma semana do TPS, sugiro prestar atenção a
outros detalhes.
Antes de mais nada, a ordem de tratamento das questões. Se toda prova deve ser
resolvida primeiro pelas questões fáceis para depois encararmos as difíceis, em um exame
longo e desgastante como o TPS, isso é ainda mais importante.

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Ao abrirem a prova, na manhã de um domingo, os candidatos verão, de cara, as ques-


tões de Língua Portuguesa. Pela lógica, sendo esta a disciplina de maior peso, esse deve-
ria ser o primeiro desafio a ser enfrenta do, certo? Depende do perfil de cada um; eu não
faria isso.
A prova de Língua Portuguesa é composta de extensos e complexos textos que, em
geral, são literários. É preciso ler e reler cada palavra com extrema atenção, antes mesmo de
se tomar conhecimento do que será demandado sobre essa leitura. Fazer isso de cara – em
momento de tensão pelo início do exame – é um belo convite ao desespero
Necessário é, pois, colocar os nervos no lugar. E nada melhor para relaxar do que se
defrontar com as questões de Economia, se você é economista; ou de Direito, se estudou
melhor as leis, por exemplo. Você perderá menos tempo e conquistará a tranquilidade ao
perceber que começou bem a prova, largou na frente.
Outro tema importante, muito discutido pelos que conhecem bem o exame, é a dúvida
sobre chutar ou não.
Cada questão do TPS será composta de quatro itens para julgar CERTO ou ERRADO.
Toda vez que você resolver marcar uma das duas opções, ganhará 0,25 ou perderá 0,125
ponto, caso sua resposta corresponda ao gabarito oficial ou não. Se deixar em branco, obvia-
mente não perde ou ganha pontuação.
Daí vem a pergunta: caso não saiba a resposta, deve-se chutar ou não? Sendo duas as
alternativas, mesmo que você não tenha a menor ideia da resposta, ainda assim terá 50% de
chance de acertar. Parece tentador.
Pensando apenas em probabilidade, é como se imaginar em um cassino, diante de uma
roleta, apostando seu suado dinheiro em números pares ou ímpares. Mesmo que acerte de
vez em quando, no longo prazo, quem costuma ganhar é a casa, e você normalmente sai de
bolsos vazios.
Só que não, nem sempre é assim. Fosse eu, não me arriscaria a chutar uma resposta
sem qualquer noção de meu palpite, porém se eu tiver alguma informação sobre aquele
tema, mesmo em dúvida, aumentarei meu percentual de acerto. É como encontrar um desco-
nhecido todo molhado em um dia de chuva. Se você apostar que ele saiu à rua desprevenido,
terá boa chance de acertar.
Por fim, sugiro que visite o site do IADES e leia as provas anteriores. De preferência,
faça ao menos um simulado com uma das últimas três edições, nas mesmas condições de
aplicação do TPS: tente resolver o exame matutino em 2 horas e 30 minutos, começando às
10 horas da manhã e, às 15 horas do mesmo dia, inicie a segunda etapa, para a qual terá 3
horas e 30 minutos.

No link https://www.iades.com.br/inscricao/ProcessoSeletivo.aspx?id=12007ee1, você encontrará


as provas e gabaritos do último CACD. Bons estudos!

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COMO VENCER O CACD? 27

No melhor dos casos, a ideia costuma surgir cedo – cedo o suficiente para que o aspi-
rante incorpore à sua formação alguns interesses e leituras que o ajudarão a, mais adiante,
tornar-se diplomata. No meu caso, como no de tantos colegas, foi decorrência de uma relativa
facilidade no aprendizado de idiomas (ou, ao menos, de uma facilidade que ainda estava lá na
juventude). Naquela altura, em fins dos anos oitenta, começo dos noventa, esse era o cami-
nho natural: num país ainda bastante fechado, e num mundo em que a internet era apanágio
de uns poucos militares e pesquisadores americanos, aprender bem e cedo o inglês nos con-
dicionava a interessar-nos antes dos demais pelo que se passava fora das nossas fronteiras.
Depois do inglês, veio o francês, que, até meados dos anos noventa, era considerado
tão importante quanto o inglês para o ingresso no Instituto Rio Branco. E, com o francês,
abriam-se possibilidades insuspeitas. Para além da Times e da Newsweek, de repente se
tornavam acessíveis e inteligíveis l’Express e o Nouvel Observateur, que chegavam com
algum atraso à biblioteca da Aliança Francesa. Para além do cinema americano, da Guerra
do Vietnã e da nostalgia pela América do pós-guerra, descortinava-se uma sensibilidade
europeia, em que as guerras eram mais trágicas e os bons tempos fadados a acabar mais
cedo do que tarde (em compensação, havia Emmanuelle Béart e Isabelle Adjani).
Aos dezessete anos, já pensando em seguir a carreira diplomática, prestei vestibular para
Direito. Era o caminho óbvio, ou assim parecia. Não havia ainda no Brasil os cursos de Rela-
ções Internacionais, mas já se operava uma mudança substantiva no perfil dos futuros diploma-
tas: dentre os que ingressaram comigo no Rio Branco, ainda havia um predomínio de advoga-
dos, mas começavam a tornar-se mais numerosos os economistas, jornalistas, historiadores.
Nesse ponto, o importante era não perder de vista o objetivo último, mas tampouco
descartar as outras possibilidades. Ao longo de cinco anos, creio que estudei a sério o Direito
Civil, o Penal e o Processual, para o caso de, no final das contas, acabar optando por ganhar
o pão advogando. Mas era natural que, já sugestionado desde a infância, acabasse dedi-
cando maior atenção àquelas matérias que guardavam alguma relação mais próxima com a
diplomacia ou, ao menos, com o formato e o funcionamento das instituições: a Teoria Geral
do Estado, o Direito Constitucional, os dois ramos do Direito Internacional.
Paralelamente, convinha preservar algo daquela curiosidade ecumênica adquirida com
os idiomas estrangeiros. Para manter a diplomacia, ao menos, no terreno das possibilidades,
era necessário continuar a ler e a interessar-me por temas que iam além do currículo: polí-
tica internacional, evidentemente, e a atualidade política nos Estados Unidos, na Europa, na
América Latina; história do Brasil e do mundo; literatura brasileira e universal; e o que mais
ajudasse a preparar o ingresso numa carreira de generalistas, de gente da qual se esperava
que conhecesse um pouco de tudo (mas talvez — contrapartida óbvia — muito de pouco, ao
menos no momento do ingresso).
27 Artigo de autoria do Ministro Pablo Duarte Cardoso.

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Dito assim, parece haver no processo muito mais método do que de fato havia. O
fato é que, ao menos para mim, a receita foi cursar a sério uma faculdade que, tudo o mais
dando certo, havia de ter um valor adjetivo, e continuar aprendendo por conta própria o que
mais fosse útil para ingressar na diplomacia. Evidentemente que, a certa altura, e tomada
a decisão, é preciso, sim, estudar com muito mais foco e método tudo aquilo que se exige
no exame de ingresso. Para mim, foi o momento de sistematizar o que aprendera meio de
orelhada, com o diletantismo natural do processo que descrevi. E foi, sobretudo, a hora de
superar as carências que, por formação ou inclinação, foram se acumulando ao longo dos
anos. Noutras palavras, foi preciso investir tempo, dinheiro e esforço num aprendizado prá-
tico voltado especificamente para o concurso de ingresso.
Tudo isso já faz algum tempo e, de lá para cá, o Itamaraty mudou um tanto, e o con-
curso de ingresso, outro tanto. Mas acho que boa parte desse receituário continua válida
para quem, ainda na escola ou já na universidade, pensa com carinho na carreira de diplo-
mata. A esses aspirantes a futuros colegas, queria ainda dizer que a maior vantagem da car-
reira está no fato de o aprendizado não terminar quando do ingresso no Itamaraty. Para mim,
sem nenhuma dose de cabotinismo, o Instituto Rio Branco foi uma experiência genuinamente
enriquecedora, de um ponto de vista intelectual. Ali, pela primeira vez, li em primeira mão
alguns clássicos que conhecia de segunda: de Tucídides a Schumpeter, passando por Kant
e Gilberto Freyre. Ali tomamos consciência de que, mesmo na modéstia de nossas funções
cotidianas, agíamos como depositários de um legado histórico, construído com vícios e virtu-
des por uma infinidade de agentes, dos bandeirantes aos negociadores comerciais de hoje,
passando por Alexandre de Gusmão, José Bonifácio, pelo Visconde e pelo Barão do Rio
Branco, por Osvaldo Aranha e por uns tantos nomes de colegas que aprendemos a declinar
com respeito e até com uma dose de devoção: João Augusto de Araújo Castro, Mario Gibson
Barbosa, Antonio Francisco Azeredo da Silveira, Ramiro Saraiva Guerreiro, Luiz Felipe Lam-
preia ou Luiz Felipe de Seixas Corrêa.
No Instituto, aprendemos que, para ser bem-sucedido, o diplomata não pode nunca
perder aquela curiosidade ecumênica que o levou a buscar uma carreira de generalista. Pela
força das circunstâncias ou de suas inclinações, o estudante começará a se interessar mais
por este ou aquele domínio, de forma que entre nós sempre haverá quem discorra com maior
autoridade sobre a proibição de bombas de fragmentação, a Convenção relativa à Supressão
da Exigência da Legalização de Atos Públicos Estrangeiros ou, para citar uma professora e
negociadora muito querida na Casa, sobre o “discreto charme das regras de origem”. Mas
deve estar pronto para, a cada três ou quatro anos, voltar a aprender com humildade e inte-
resse genuínos sobre uma cultura e um país inteiramente diversos.
E este é, de todos, o maior dos privilégios da carreira.

Pablo Duarte Cardoso

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OS TRÊS PASSOS FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO NA SEGUNDA


FASE DO CACD!

Se você já está se preparando para a segunda fase do Concurso de Admissão à Car-


reira Diplomática (CACD), é mais do que hora de pensar na prova de Língua Portuguesa.
Como estudar para essa etapa? O primeiro passo é conhecer o formato dela e o que se cobra
dos candidatos.
A prova escrita de Português é dividida em duas partes: uma redação com extensão de
65 a 70 linhas, para a qual será atribuída nota de zero a 60 pontos; exercício de interpreta-
ção, análise ou comentário de textos, com extensão de 15 a 20 linhas, que valerá 20 pontos,
e elaboração de resumo de 35% e 50% do texto a ser resumido, valendo os restantes 20
pontos da prova, de nota máxima 100.
Sobre a redação, o cuidado inicial é com a extensão. Como saber se seu texto terá de
65 a 70 linhas? Sem dúvida, o melhor é contar. Mas, para poupar um tempo preciosíssimo na
hora da prova e ter uma composição equilibrada entre argumentos coerentes bem distribuí-
dos nos parágrafos, o ideal é desenvolver a noção do espaço de que você disporá, de acordo
com o tamanho de sua escrita cursiva. Isso só se consegue com treino.
A distância entre a extensão mínima e a máxima é muito curta. Complicado, pois, impro-
visar na hora. Se você – ao produzir redações treinando para a prova de Língua Portuguesa,
que é a melhor maneira de estudar – tiver sempre em seu radar a necessidade de encai-
xar seu texto no espaço de que dispõe, depois de pouco tempo, cinco ou seis treinos, no
máximo, fará isso automaticamente. Daí você já ganha uma vantagem comparativa contra os
concorrentes que não o fizeram e elimina a chance de ser penalizado de bobeira.
Pense, antes de mais nada, em parágrafos e, dentro deles, nas linhas. Se você pre-
tende produzir uma redação com seis parágrafos, por exemplo, já sabe que cada um deverá
ter entre 10 e 12 linhas. Se forem cinco, entre 13 e 14. Com o tempo, baterá o olho em sua
produção total e saberá, sem precisar contar, que sua redação está equilibrada e no tama-
nho correto. Se sobrar tempo no final da prova, conte; caso contrário, dificilmente irá errar,
mesmo porque a banca examinadora também terá essa mesma noção. Ao olhar a prova,
eles sabem se a produção está na extensão correta, assim como sugiro que aprenda a fazer.
E o que mais? Bem, você deve saber que um terço do total da redação – ou seja, 20
pontos – serão atribuídos à correção gramatical e à propriedade da linguagem. Veja que
ainda não estamos falando do conteúdo do texto, mas de sua forma, que, se correta, dará a
você boa parte do valor da redação, além de 20% de toda a prova de Português. Se somar-
mos a isso os 10 pontos da apresentação/im pressão geral do texto, legibilidade, estilo e
coerência e os 20 pontos da correção e linguagem dos exercícios da segunda parte, tere-

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mos 50% da avaliação de seu exame apenas na parte formal. Conclusão: podemos também
dividir essa prova em 50% para forma e 50% para conteúdo. Ao evitar erros de gramática e
linguagem, você terá percorrido metade do caminho!
Para completar os comentários dessa parte formal, o exercício de interpretação, aná-
lise ou comentário de textos, que vale 20 pontos, também têm como critérios de avaliação a
correção gramatical e propriedade da linguagem (10 pontos) e a apresentação e desenvol-
vimento do tema (10 pontos). Diferentemente da redação, esse exercício exige menos cria-
tividade e mais atenção para que você compreenda bem o texto. Aqui sugiro com bastante
ênfase a revisão das aulas de interpretação de texto da Professora Vânia Araújo, assim como
as de gramática do Professor Elias Santana, ambos do time de preparação para o CACD do
Gran Cursos Online (acesse: www.grancursosonline.com.br/concurso/diplomata-cacd).
Finalmente, o resumo, que também vale 20 pontos, é avaliado de acordo com a corre-
ção gramatical e a propriedade da linguagem (10 pontos) 28 e capacidade de síntese e conci-
são (10 pontos restantes). Igualmente aqui, assim como no exercício que acabei de mencio-
nar, vale mais a técnica – e treino, portanto – do que a criatividade.
Ou seja, os três passos do roteiro que sugiro para você ser bem-sucedida(o) na prova
de Língua Portuguesa são: 1) extrema atenção ao formato da prova, pois isso é fundamen-
tal para não perder pontos por falta de cuidado e para ganhar tempo de resposta; 2) rever
as aulas de nossos professores, aproveitando em especial seus horários de maior rendi-
mento intelectual em locais mais tranquilos, já que pode fazer isso de qualquer aparelho com
acesso à Internet; 3) treinar, treinar e treinar, simulando a produção e compreensão de textos
nas extensões exigidas no Concurso e dentro do tempo de que você disporá, que é de até
cinco horas.

28 Observa-se que, assim como no exercício, há penalização de 0,35 ponto por erro cometido nessa seção.

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O CURSO DE FORMAÇÃO DO IRBR

O segundo assunto de maior interesse dos candidatos ao Concurso de Admissão à Car-


reira de Diplomata (CACD) – depois, obviamente, das notícias sobre o exame – é o Curso
de Formação do Instituto Rio Branco (IRBr). Para os que não sabem, todos os aprovados
no CACD são empossados, tão logo encerrado o período de seleção, no cargo de Terceiro-
-Secretário (primeiro degrau da carreira diplomática) e automaticamente matriculados no
Curso de Formação do IRBr, que é o primeiro dos três cursos fundamentais da formação
continuada dos diplomatas 29.
Como uma das três principais funções de um diplomata é informar (além de represen-
tar e negociar), sugiro aos candidatos fazerem, desde já, um exercício que será fundamen-
tal em suas carreiras no futuro: avaliar as in formações comparando-as com outras fontes
e fazer uma análise da situação para tirar suas próprias conclusões sobre o tema, em vez
de simplesmente reproduzir o que ouvem sem qualquer reflexão. Fuja, portanto, da famosa
frase “vendi pelo mesmo preço que comprei”. Vá direto às fontes primárias e venda pelo
preço justo!
Tomo a liberdade, portanto, de reproduzir aqui o conteúdo que consta na página do IRBr
sobre o Curso de Formação de diplomatas (disponível em: http://www.institutoriobranco.ita-
maraty.gov.br/curso-de-formacao):

O Curso de Formação de Diplomatas, em seu formato atual, destina-se aos servido-


res nomeados para o cargo de terceiro-secretário da carreira diplomática. O curso poderá
ter duração de três ou quatro períodos letivos e constitui, nos termos da Portaria nº 919, de
2019, condição para a confirmação do servidor como diplomata no Serviço Exterior Brasileiro.
O Curso de Formação de Diplomação tem, atualmente, a duração de 15 meses e contem-
pla aulas regulares, seminários, conferências e viagens de estudos. O currículo estrutura-se
em torno de núcleo clássico de disciplinas, como política internacional, direito internacional,
economia e história da política externa brasileira. A fim de responder aos desafios impostos
pelas necessidades presentes da prática diplomática, o curso contempla, também, matérias
como administração pública, técnicas de negociação, ciberdiplomacia e diplomacia pública.
São oferecidas, adicionalmente, disciplinas e módulos de corte profissionalizante, como pla-
nejamento diplomático, prática consular, promoção comercial e linguagem diplomática.
As disciplinas são ministradas, principalmente, por meio de aulas expositivas, sendo
também feito recurso a outras técnicas pedagógicas, como seminários e discussões em
grupo, tanto nas disciplinas conceituais como nas aulas de idiomas. Atribui-se alta relevân-
cia e reserva-se importante carga horária ao aperfeiçoamento do domínio de línguas estran-

29 Ao longo da carreira, todo diplomata deve, necessariamente, passar por três cursos para que possa progredir na profissão: 1) Curso de Formação (para
os Terceiros-Secretários que acabam de ser aprovados no CACD), sem o qual não se pode ser confirmado no serviço público nem começar a trabalhar
no Itamaraty; 2) Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas (CAD), que os Segundos-Secretários devem cursar para se habilitarem à promoção à Primeiro-
-Secretário; 3) Curso de Altos Estudos (CAE), destinado a Conselheiros que desejam ser promovidos a Ministro de Segunda Classe.

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geiras, sendo oferecidos cursos das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas –
árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo. As aulas de espanhol, francês e inglês são
obrigatórias. Cada aluno deverá optar, ainda, por um curso de árabe, chinês ou russo.
Durante o último período letivo do curso cada aluno realiza, adicionalmente, uma série
de estágios na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, em campos diversos, como
administração, área econômica, área política (bilateral, regional e multilateral) e serviço
consular.
A convivência com os colegas de turma e o contato com diplomatas mais experientes
em aulas e palestras durante o período de formação no Instituto constitui, finalmente, impor-
tante processo de socialização nas normas de conduta e técnicas de gestão do Itamaraty e
na formulação e desenvolvimento da política externa brasileira.

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EM QUE MOMENTO DEVO ME PREOCUPAR COM A 2ª


FASE DO CACD?

Por melhor que seja a preparação de um candidato a um concurso, suas chances de


aprovação serão drasticamente reduzidas se não tiver uma boa estratégia de estudos, foco e
disciplina. No caso do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), isso é ainda
mais importante, por se tratar de uma longa maratona, e não de uma corrida de 100 metros
rasos. Costumo afirmar ainda, sem medo de errar, que essa maratona tem barreiras, ao con-
trário da competição atlética da vida real. Ninguém consegue chegar entre os primeiros de
uma maratona, ou mesmo completar o percurso, se resolver se preparar do dia para a noite.
Para quem está fora de forma e acima do peso, por exemplo, é preciso emagrecer, come-
çar a caminhar, fortalecer a musculatura, cuidar da alimentação e ir aumentando o ritmo aos
poucos. Se pular etapas, corre risco de sofrer um infarto ou lesões musculares.
Pois bem. Quis traçar esse paralelo com o CACD, nem com tanto exagero, porque con-
sidero que a analogia se aplica perfeitamente ao exame, especialmente à Segunda Fase,
constituída da terrível prova escrita de Língua Portuguesa, a mais difícil do Concurso. E se é
a mais complicada, consequentemente uma boa estratégia de preparação deve dar atenção
a esse exame logo no início dos estudos.
Em geral, os CACDistas (candidatos à carreira diplomática) em início de preparação
concentram todo ou quase todo seu foco no Teste de Pré-Seleção (TPS), que é a prova
objetiva da Primeira Fase do Concurso. Acham, erroneamente, que ao estudar para esse
exame inicial, que cobra conteúdo de todas as disciplinas do CACD, estão automaticamente
se preparando para as etapas posteriores, todas discursivas, com exceção da avaliação de
Francês e Espanhol, que não caem no TPS.
Ao cometerem esse erro comum, já vi bons candidatos serem aprovados entre os pri-
meiros colocados no TPS e depois caírem com uma nota baixa da Segunda Fase. Isso
porque não basta saber gramática ou até escrever bem para passar nas provas de Língua
Portuguesa e Língua Inglesa. Os critérios de correção são rigorosos, o formato do exame,
bem específico, e o nível dos candidatos, altíssimo. Nesse contexto, a diferença está, na
maioria das vezes, nos detalhes.
Assim como a maratona exige preparação paciente e de longo prazo, os bem aprova-
dos nas provas de Português e Inglês são quase sempre os que não esperam o TPS passar
para se preparem. E como deve ser a preparação? Do mesmo modo como você se prepara-
ria para correr uma maratona: 1) treino; 2) treino; 3) treino.
Não adianta apenas saber o percurso da maratona e que é necessário correr 42,195
metros para enfrentar bem o desafio. Se, durante meses, você não sair quase diariamente
para se exercitar, seguindo um plano de preparação, não será bem-sucedido. Para as provas

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escritas de Português e de Inglês, vale exatamente o mesmo. Leia o edital do último con-
curso, porque o formato das provas não costuma mudar muito (ou nada) de um ano para
outro e comece desde já a treinar redações e exercícios no formato exigido no CACD.
Mas o que fazer com os textos que você produzir? Como receber retorno e orientação
adequada para melhorar sua produção textual até chegar ao nível exigido para aprovação
no Concurso? E se você morar em cidade onde não exista nenhum professor capaz de te
ajudar? E se lhe faltarem recursos financeiros e tempo para viajar a locais onde possa encon-
trar algum desses professores?
Agora vem a excelente notícia, que dará resposta a todas as perguntas acima, com
custo-benefício inigualável, sem a necessidade de qualquer deslocamento. O Gran Cursos
Online também possui módulo de preparação para a Segunda Fase do CACD.
Com esse curso, único no mercado nesse formato, você poderá conhecer o formato
das provas de Língua Portuguesa e de Língua Inglesa e receber dicas de preparação, inclu-
sive leituras, por intermédio de videoaulas, ter acesso a materiais escritos, interagir com
nossos professores ao vivo (durante os aulões) ou por meio do fórum de dúvidas, além de
enviar seus textos escaneados, que serão corrigidos um a um e comentados de acordo com
os mesmos critérios de avaliação utilizados pelas bancas de Língua Portuguesa e Língua
Inglesa do CACD. Assim, você poderá progredir aos poucos e estar em plena forma para
encarar a mais difícil barreira dessa maratona, logo após sua aprovação no TPS, facilitada
também pelo módulo para a Primeira Fase.
Tenho muita satisfação de participar desse projeto porque sei o quanto ele pode ajudar
a democratizar o acesso a uma boa preparação para o CACD, especialmente a candidatos
com excelente potencial e que não conseguiam ser aprovados por estarem distantes dos
grandes centros urbanos – como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília – ou por não disporem
de recursos para investirem numa preparação muito custosa. Vinte e um anos após minha
aprovação nesse mesmo concurso, fico feliz em ver lançada uma ferramenta inédita que
colocará a carreira diplomática ao alcance de todos. Boa sorte!

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QUANTO TEMPO É NECESSÁRIO ESTUDAR PARA PASSAR NO CACD?

A dúvida acima costuma afastar bons potenciais candidatos ao Concurso de Admissão


à Carreira de Diplomata – CACD, mesmo antes do início da preparação para as provas. Isso
porque o conteúdo programático apresentado no edital assusta os menos avisados. Além
disso, é notória a informação de que as provas são difíceis e a média de preparo dos can-
didatos, alta. Não deixe o desconhecimento te assustar. Em geral, temos medo do que não
sabemos e nossa tendência inicial é querer fugir ou ao menos evitar desafios que nos pare-
cem um tiro no escuro.
Os aprovados no CACD prestam o exame, em média, três vezes. Seguindo o perfil
padrão dos jovens diplomatas, têm um pouco menos de 30 anos de idade, vêm em geral da
região sudeste (com exceção dos muitos de Brasília) e são graduados na área de humanas
(especialmente em Direito, em Relações Internacionais e em Economia). Muito bem. Você
começa a ler essas linhas e vê que não se enquadra no perfil acima. Para piorar, acha que
já passou da idade, que tentar o CACD três vezes é bastante e mora em cidade distante dos
grandes centros que costumam produzir aprovados. Assim, sente o desejo inicial de desistir
antes de tentar.
Analisemos cada uma dessas questões. Antes de mais nada, não é porque a maioria
dos aprovados tenta o CACD três vezes que você também precisará desse número de tenta-
tivas para obter aprovação. Mas ainda que você necessite desse tempo, estamos falando de
apenas três anos de espera, o que, para um concurso público, não chega a ser muito.
A maioria dos processos seletivos para o serviço público não chama os aprovados de
cara, como ocorre com aqueles que passam no CACD. Enquanto o exame para a carreira
diplomática convoca os aprovados imediatamente após a aprovação, a maioria das outras
seleções coloca os que passaram em uma lista de espera que pode demorar quatro anos e,
mesmo assim, nem todos os aprovados serão chamados.
Além disso, o tempo entre um concurso e outro pode chegar a vários anos, mas o Con-
curso de Admissão à Carreira Diplomática ocorre anualmente. Ou seja, o que você estuda
para uma edição do concurso será aproveitado no ano seguinte, sendo o formato das provas
e o conteúdo programático o mesmo. Assim, você começará sua preparação em vantagem
em relação à tentativa anterior.
Sobre a idade, ainda que você já tenha passado dos 30 anos quando decidiu prestar
o exame, terá ainda uma longa carreira pela frente, pois a aposentadoria compulsória atual-
mente ocorre apenas aos 75 anos. E, mesmo depois de aposentado, um diplomata pode ser
escolhido pelo Presidente da República para representar o Brasil, como Chefe de Posto, em
quaisquer de nossas representações no exterior.

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Finalmente, quanto a você eventualmente viver longe de Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília, cidades de onde saem a maioria dos aprovados no CACD, a boa notícia é existir
hoje, ao alcance de seu bolso e de seus dispositivos eletrônicos com acesso à Internet, o
curso online para o CACD do Projeto Vou Ser Diplomata, do Gran Cursos Online 30. Trata-se
do curso preparatório mais acessível, democrático e de melhor custo-benefício disponível no
mercado, feito por diplomatas que recentemente passaram pelo mesmo desafio e conhecem
o caminho para a aprovação. Não se prenda a números, estude conosco e reserve seu lugar
no Ministério das Relações Exteriores!

30 Cf. https://www.grancursosonline.com.br/concurso/diplomata-cacd.

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COMO ESTUDAR PARA A PROVA DE POLÍTICA INTERNACIONAL 31

Muitos alunos vêm me perguntando, nos últimos tempos, a respeito de uma suposta
“redução de perfil” na prova de Política Internacional (PI). Responderei aqui lo que respondo
a todos eles: nossa prova continua tão importante quanto sempre foi – e, logo, tão difí-
cil quanto.
Temos que olhar, contudo, para a “big picture”, ou seja, para o fato de tratar-se de uma
matéria cobrada, diretamente, em nada menos do que DOZE questões da prova de primeira
fase (Teste de Pré-Seleção, o temido TPS), ademais, das duas da terceira fase já mencio-
nadas. Quando se atenta para o que eu chamo de “cobrança indireta” – questões de outras
disciplinas que, tangencialmente, abordam temas de PI –, então vemos que nossa matéria
é, sem sombra de dúvida, das mais importantes do concurso – talvez só podendo ser equi-
parada ao Português.
Em um concurso para a carreira diplomática, a onipresença da política internacional
não deveria chegar a surpreender. Independentemente da prova realizada, o candidato está,
em última instância, sendo testado em sua capacidade de reflexão a respeito de temas glo-
bais – tal como será dele exigido uma vez empossado como membro do Serviço Exterior
Brasileiro. São exemplos disso a cobrança de temas como OMC e Comércio Internacional,
na prova de Economia; Mercosul e União Europeia, em Direito Internacional; conflitos geopo-
líticos, em Geografia. Todos os temas, em maior ou menor medida, de Política Internacional.
Daí a importância, sempre frisada em nossas aulas do Gran Cursos Online, de um estudo
profundo, rotineiro e sistemático dos principais temas de política internacional.
Estabelecer uma rotina de estudos é condição fundamental para um bom desempe-
nho nas provas de PI. A leitura – preferencialmente diária – de jornais, sites, blogs e demais
fontes de notícia é indispensável, uma vez que somente assim se poderá formar um quadro
mental dos “temas quentes” para a prova. Uma coisa que se não pode perder de mente é
que a prova de PI é uma prova de ATUALIDADES. Estamos falando, muitas vezes, de even-
tos literalmente ocorridos na semana da prova. É preciso, portanto, manter o olho aberto
para conferências realizadas; acordos recentemente assinados; efemérides e demais even-
tos relevantes, especialmente aqueles de maior interesse para o Brasil.
Ainda a respeito da importância de se manter a par dos últimos desdobramentos da
disciplina, note que estes não são cobrados somente de maneira objetiva, como ocorre no
TPS. As questões de terceira fase, embora mais conceituais e “abertas”, também costumam
se basear, de forma mais ou menos direta, naquilo que está ocorrendo no mundo na época
do exame. Em um determinado ano, por exemplo, uma das questões de terceira fase pedia
um exame “das relações sino-japonesas nas últimas décadas e suas implicações para o for-
talecimento do sistema multilateral”. O candidato bem preparado, atento às tensões entre

31 Artigo de autoria do Secretário Guilherme Sorgine.

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China e Japão pelo controle das ilhas Senkaku – que então atingiam um novo patamar após
a aprovação, naquele ano, de lei que permitia o envio de soldados japoneses para lutar no
exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial – certamente não teve dificul-
dades para redigir uma boa resposta, mesmo em se tratando de tema não tão próximo da
Política Externa Brasileira.
Em outro exame, a primeira questão da prova discursiva de PI pedia ao candidato para
discorrer sobre “a evolução e as perspectivas da cláusula democrática do MERCOSUL”.
Questão inesperada? Muito específica? Não para aqueles que acompanhavam os debates,
então em seu momento auge, a respeito da suspensão da Venezuela do grupamento sul-
-americano, com base – que surpresa! – na suposta violação de standards democráticos pelo
então Governo de Nicolás Maduro.
Uma vez estabelecida uma rotina diária de leituras a respeito dos principais temas da
política internacional, é necessário sistematizá-las. Sabe aquele professor chato que fica exi-
gindo resumos, fichamentos, avaliações críticas etc.? Pois bem, acostume-se com ele. Por
mais maçante, trabalhoso e demorado que possa parecer, a confecção de resumos ajuda
o candidato a organizar tamanho volume de informações, que, de outra forma, tenderia a
“desorganizar a cabeça” do aluno. É somente tirando a “gordura” dos textos que o estu-
dante consegue focar nas informações essenciais, aquelas que de fato serão importantes na
hora do exame.
Aos que me perguntam se a confecção de resumos compensaria o tempo dispendido,
respondo, com toda a convicção, que sim. E muito. O tempo que parece estar sendo perdido
ao fazer os resumos será reavido, com sobras, no momento em que realmente importa – o
das provas. Ao sistematizar suas informações de forma concisa e objetiva, o candidato terá
um material completo e de fácil acesso para ler às vésperas do exame – quando há tempo
de menos e tensão de sobra.
O segredo para a aprovação em um concurso tão competitivo quanto o CACD é manter-
-se sempre um passo à frente da concorrência, pelo que o estudante deve, sempre que pos-
sível, otimizar seu tempo de estudo. Não basta ler muito, é preciso ler certo. A equipe do Gran
Cursos Online está pronta para auxiliar o candidato nessa empreitada, por meio de nosso
blog e de nossos cursos online. Não há tempo a perder!

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COMO ESTUDAR PARA AS PROVAS DE DIREITO DO CACD

Direito é matéria cobrada no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)


tanto na Primeira Fase (mais conhecida como Teste de Pré-Seleção – TPS) como na Ter-
ceira, etapa das provas discursivas a que se submetem os aprovados no TPS. Ainda que
tenham as provas da Terceira Fase corrigidas apenas os aprovados nas provas escritas de
Língua Portuguesa e Língua Inglesa (Segunda Fase), todos os que passam da Primeira Fase
encaram os exames escritos.
As provas de Direito da Primeira e Terceira Fases são também chamadas de Noções
de Direito e Direito Internacional Público. Ainda que a palavra “noções” seja empregada para
designar uma avaliação que pretende cobrar – conhecimento superficial da matéria –, os
candidatos não familiarizados com as Ciências Jurídicas costumam assustar-se. Isso acaba
prejudicando aqueles que são fortes em outras disciplinas e encaram essas provas como um
bicho-papão.
Não é para tanto! Coloquemos a bola no chão para tocá-la com calma, sem afobação.
Algumas poucas leituras vão te deixar pronto para contornar esse pequeno obstáculo sem
medo. Analisemos primeiramente o programa para depois falarmos de bibliografia e das
provas em si.
Sobre o conteúdo programático, sugiro subdividir o estudo em duas grandes áreas
do Direito. A primeira, do direito interno, “Noções de Direito”, compreende: a) Introdução ao
Estudo do Direito, conhecida pelos bacharéis como IED (itens 1 e 2); b) Direito Constitucional
(itens 3 a 8); e c) Direito Administrativo (9 e 14). Note que os pesos dessas matérias dentro
dessa parte são desiguais.
A segunda (“Direito Internacional Público”) compreende: a) Direito Internacional Público
propriamente dito (itens 15 a 25 e 27); b) Direito da Integração (item 26); c) Direitos Humanos
(item 28 a 30); e d) Temas diversos (itens 31 a 35). De novo, veja certa desigualdade: são 20
itens para o Direito Internacional e 15 para o interno.
Essa divisão é importante para que se possa separar as fontes de estudo, especial-
mente os livros básicos, e também, evidentemente, para estabelecer prioridades. A partir
dessa classificação temática, você verá que qualquer questão cobrada sobre Direito, em
qualquer fase, se enquadrará necessariamente em uma dessas áreas de estudo. Como
sempre digo, concurso é estratégia, foco e disciplina. Se te faltar tempo para estudar a fundo
todo o conteúdo de Direito, seu plano de estudo deve se concentrar em Direito Constitucional
e Direito Internacional Público propriamente dito. Vamos, então, à bibliografia. O CACD de
2010 foi o último concurso em que o Instituto Rio Branco publicou o famoso Guia de Estudos.
Desse documento constavam, além do edital do certame, orientações para o estudo de cada

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disciplina, com exemplos de provas e respostas de edições anteriores e sugestões bibliográ


ficas – que a maioria encarava como “bibliografia oficial”, ainda que se dissesse no Guia que
a bibliografia era “meramente indicativa”.
A bibliografia indicada em 2010, mesmo que não muito extensa, confundiria os CACDis-
tas que conhecem menos o Concurso e não são da área jurídica ou nunca estudaram Direito.
Havia ali muitos livros que entram em detalhes de disciplinas que dificilmente seriam cobra-
das nas provas. É o caso, por exemplo, do livro O ABC do Direito Comunitário (BORCHARDT,
Klaus-Dieter. Bruxelas: Comissão Europeia, 2000). Essa obra, apesar de boa, trata apenas
de parte do item 6 da Parte II. Muito pouco para quem tem tanto a estudar.

Recomendo, assim, a concentração em poucas obras, por ordem de importância:

• Direito Constitucional: FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito


Constitucional. Brasil: Saraiva, 2015. Outras opções: BONAVIDES, Paulo. Curso de
Direito Constitucional. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002; MORAES, Alexandre de.
Direito Constitucional. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2004. Esses são menos objetivos
que o primeiro, na minha avaliação. E, se quiser um pouco mais sobre Teoria Geral
do Estado: DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. São
Paulo: Saraiva, 2016.
• Direito Internacional Público propriamente dito: REZEK, José Francisco. Direito
Internacional Público: curso elementar. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. Opções:
ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento. Manual de Direito
Internacional Público. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004; MELLO, Celso de Albuquer-
que. Curso de Direito Internacional Público. 14ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
Esses são melhores, porém mais extensos e desatualizados.
• Direitos Humanos: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos (Volume I). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997.
O livro é muito extenso. Procure concentrar-se apenas na leitura dos temas cobra-
dos no CACD. Opções: FERNANDES, Jean Marcel. A Promoção da Paz pelo Direito
Internacional Humanitário. Porto Alegre: Fabris, 2006; FERNANDES, Jean Marcel.
La Corte Penal Internacional. Soberanía versus justicia universal. Madrid/Buenos
Aires/Bogotá/México, D.F.: Editoriales Reus/Zavalía/Temis/UBIJUS, 2008. Mesmo
sem ter resistido à tentação de citar meus próprios livros, fugirei da autopropaganda,
até porque Cançado Trindade foi meu professor e orientador, além de meu amigo.
• Comércio Internacional: CASELLA, Paulo Borba; LIQUIDATO, Vera Lúcia Viegas.
Direito da Integração. São Paulo: Quartier Latin, 2006. Opção (na verdade, um com-
plemento): THORSTENSEN, Vera. OMC: Organização Mundial do Comércio: as
regras do comércio internacional e a nova rodada de negociações multilaterais. 2ª
ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001.

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• Introdução ao Estudo do Direito (IED): REALE, Miguel. Lições preliminares de direito.


27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Opções: o livro do Miguel Reale foi escrito há
muito tempo, mas, como ele é conceitual, a desatualização não compromete o conte-
údo. Se você não for da área de Direito, fuja de autores como Noberto Bobbio, Hans
Kelsen ou Tercio Sampaio Ferraz Júnior. Apesar de excelentes, são complexos e não
recomendados para iniciantes.
• Direito Administrativo: MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Adminis-
trativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002. Opção: MAZZA, Alexandre. Manual de
Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2012.

Quanto às provas, o peso de Direito no TPS é pequeno: seis questões em 73 (8,2%


do exame). Logo, a dedicação ao estudo da disciplina deve ser proporcional, a não ser que
você saiba muito das demais matérias e precise tirar a diferença nesta. Já a prova escrita
é constituída de quatro questões discursivas. Normalmente, é a penúlti ma prova, realizada
pela manhã, sendo o exame de noções básicas de Espanhol e Francês apresentado na tarde
do mesmo dia.
A preparação para as provas da Primeira e da Terceira Fases é bem distinta, ainda que
o conteúdo cobrado seja o mesmo. Para o TPS, invista em leituras. É o período de absorção
de conteúdo. Logrado o sucesso na etapa inicial, sugiro começar a exercitar-se, tentando
registrar por escrito os conceitos adquiridos no início da preparação. Um bom exercício seria
fazer as provas escritas dos últimos anos.
E, claro, em qualquer situação, não deixe de seguir nossas aulas no Gran Cursos Online!

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RECOMENDAÇÕES DE LEITURA AOS CANDIDATOS 32

Num mundo ideal, o candidato a ingressar no Instituto Rio Branco teria à disposição
quantidades ilimitadas do recurso mais precioso de que pode dispor: tempo. Na vida real,
nunca será esse o caso, e os que terminarem aprovados só muito depois travarão contato
com obras que os teriam ajudado a passar pelo concurso com muito mais facilidade.
Paciência: as coisas são como são. Eu mesmo me recordo de como, já lá se vão 17
anos, na minha prova oral sobre Questões Internacionais Contemporâneas, fiz uma apresen-
tação factualmente sólida sobre as guerras iugoslavas, para depois embaralhar-me todo com
uma pergunta singela do examinador (ele próprio um dos melhores quadros da carreira): que
interesse têm os Estados Unidos em intervir no Kossovo?
Saí-me dessa, acho que mais bem do que mal, com referência às pressões domés-
ticas de uma opinião pública ainda sob o impacto das atrocidades cometidas na Bósnia,
alguns anos antes. Mas teria feito bem — e o examinador não deixou de assinalá-lo — em
fazer alguma observação sobre a expansão da área de influência ocidental às expensas
da Rússia, num momento em que já três antigos satélites soviéticos tinham ingressado na
OTAN, e outros sete o fariam em breve.
Talvez eu tivesse chegado a essa resposta espontaneamente se tivesse lido, antes
do concurso, o já clássico Diplomacy, de Henry Kissinger, de 1994 (há uma versão em por-
tuguês, da Saraiva, mas quem puder deveria ler o livro no original, e com isso desfrutar da
clareza do texto de Kissinger). Para além de tudo o que é óbvio e recorrente nas bibliogra-
fias recomendadas — da excelente História da Política Exterior do Brasil, de Amado Cervo
e Clodoaldo Bueno, ao clássico Direito Internacional Público, de José Francisco Rezek —,
esse é o primeiro livro que eu colocaria no topo da pilha. Ajudaria o candidato a familiarizar-
-se muito com conceitos que aí se expressam com muito mais graça e erudição do que
no acervo bibliográfico de Teoria das Relações Internacionais, que costuma ter a aridez de
três desertos.
Diplomacy é o óbvio, e o candidato que o digerir sem dificuldade talvez ache tempo
e interesse em ler os livros mais recentes do ex-Secretário de Estado americano (World
Order, de 2015, ou o mais pontual, On China, de 2012). E, se o realismo gélido do autor
ofender a sua sensibilidade, você poderá contrabalançar com duas obras de referência de
uma diplomacia mais ancorada em valores (e, no caso da segunda, mais voltada à promo-
ção de valores). À esquerda, se é que a descrição se aplica, A Problem from Hell: America
in the Age of Genocide, de Samantha Power, um dos expoentes do internacionalismo liberal
no governo de Barack Obama. À direita, Toward a Neo-Reaganite Foreign Policy, dos neo-
conservadores William Kristol e Robert Kagan (por sua vez, muito associados ao governo de
George W. Bush).

32 Artigo de autoria do Ministro Pablo Duarte Cardoso.

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GUIA PRÁTICO PARA FUTUROS DIPLOMATAS
Professor: Jean Marcel

Com isso, estarão cobertas as três principais escolas de pensamento em matéria de


formulação de política exterior, e o candidato que ler com atenção entenderá os fundamentos
filosóficos de conceitos correntes, como o das já referidas “esferas de influência”, ou outros
mais obscuros, como o de “hegemonia benevolente”.
Fora desses textos mais clássicos, o candidato que, como era o meu caso, tenha menos
familiaridade com os temas econômicos faria bem em debruçar-se sobre qualquer dos manu-
ais que por aí andam, como os de Paul Krugman ou de Paul Samuelson (ao menos eram
as obras de referência quando eu fiz o concurso). Mas, se te sobrar tempo e disposição
para ler algo muito mais denso, aprenderá muita coisa sobre os usos políticos da economia
internacional se encarar o também clássico The Political Economy in International Relations,
de Robert Gilpin (ou, talvez, Global Political Economy, do mesmo autor, publicado 15 anos
depois, em 2001) (full disclaimer: não li nenhum dos dois e só folheei o primeiro. Mas teria
apreciado a dica que acabo de dar, quando me preparava para o concurso).
Outra dica que me permito dar é que você olhe com carinho o acervo da Fundação Ale-
xandre de Gusmão, quase todo ele disponível gratuitamente, em formato eletrônico, no site
da FUNAG. Ali, o candidato encontrará obras clássicas e — coisa que eu muito teria apre-
ciado, há 17 anos — teses e obras de divulgação de diplomatas brasileiros sobre os mais
variados assuntos da pauta internacional. Entre as primeiras, destaques para Paz e Guerra
entre as Nações (Raymond Aron), Vinte Anos de Crise (E.H. Carr), A Política entre as Nações
(Hans Morgenthau) e As Consequências Econômicas da Paz (John Maynard Keynes).
Entre as outras, as obras de colegas diplomatas, o problema é um de embarras du choix.
Dentre elas, são particularmente recomendáveis as obras da coleção Em Poucas Palavras.
São livrinhos curtinhos, todos eles escritos em linguagem didática, a maior parte por diplo-
matas que são especialistas reconhecidos nos assuntos de que tratam. Destaques para A
Organização Mundial do Comércio, de Paulo Estivallet de Mesquita; Instituições de Bretton
Woods, de Carlos Márcio Cozendey; O Brasil e as Nações Unidas, de Ronaldo Sardenberg;
e Conferências de Desenvolvi mento Sustentável, de André Corrêa do Lago.
Há, por fim, as teses do Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, que a FUNAG
houve por bem publicar em livro (às vezes, expurgando passagens que tornavam a tese ori-
ginal de circulação restrita). Ali haverá algo para cada gosto, mas o candidato não perderá,
absolutamente, o seu tempo se ao menos folhear A Amé rica do Sul no Discurso Diplomático
Brasileiro, de Luís Cláudio Villafañe; Ordem, Hegemonia e Transgressão, de Georges Lama-
zière; A Ascensão da China como Potência, de Mauricio Carvalho Lyrio; A Ordem Injusta,
de Alexandre Parola; e O Conselho de Segurança e a Inserção do Brasil no Mecanismo de
Segurança Coletiva das Nações Unidas, de Eduardo Uziel.
Tudo isso, eu sei, é muito mais do que jamais se poderá ler na preparação para qual-
quer concurso. Mas fazer recomendações não custa, e o candidato poderá segui-las na
medida justa do seu tempo e interesse neste ou naquele tema.

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