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O perdido pirata
Confesso-lhes, que durante este admirável marejo que se espraia
aqui, encontrei-me diante
E que se há uma forma que possa definir o marulho que estou a
ouvir, é imensidão
Julgo, que no entrementes de toda a viagem não me trovei além
dum parecer pequeno
E que tais versos, não definiram a vastidão donde os escrevia,
mas do ínfimo interno
Quando imagino, pois, onde navego, me decorre amiúde o espanto
de ser assaz miúdo
Porém ao encontrar na minha posse tanto vela quanto remo,
compacto com a maior das loucuras
Enlouqueço, deveras, ao desbravar pelas ondas, me pintando de
pirata, quem dirá argonauta
Se há uma direção, é ao dessaber inata, e meu sulcar, se faz tão
maravilhoso quanto vão
Entre esse tanto de coisas que amo e odeio fazer, há uma que se
destaca por ter uma dose extremamente bem balançada das duas.
Contar. É que desde que sou diminuto, tanto em tamanho como em
pensamento – não que agora me considere maior no segundo – tive
esta pueril megalomania de abordar tanto o eu quanto o outro,
por historias. Agora, já que este se parece como algum tipo de
introdução a algo que provavelmente nem vou concluir, pois nisto
se distinguem a maioria das índoles dos contadores de historia –
não terminar a porra da historia – vou confessar que, caso isto
passe da metade, e me torne assim, um destes contadores que
coloca no conto, a paciência astronômica de chegar a algum
lugar, que muito provavelmente, tal historia não chegará a lugar
nenhum. Como já mencionei, esta é minha maior característica:
amo contar, odeio TER QUE terminar a historia. Contudo, antes
que você me abandone por imaginar que esta lendo os relatos
destes tipos de loucos que adoram prender a multidão nos seus
circunlóquios e sofismas, por não saber como dialogar, e se
enfunam de uma astuta fala que tem como maior primor, não dizer
nada; eu gostaria de lhe pontuar duas coisas: Primeiro – posso
fazer parte destes homens, mas isto não os tornam menos dignos
de serem escutados, pois de narrativas que não levam a lugar
algum, temos a vida como maior contadora, e que isto não torna
suas historias “ruins”; mas só, propriamente, viajadas. E
segundo – o único motivo que pelo qual, sequer me interessei de
lhe contar esta historia, é que, além de ser viajada, termina na
metade. Isto mesmo. Se o deixei confuso, confere de novo, pois
foi o que falei. Agora, alguém questionaria, provavelmente os
que de tantos estudos sabem da impossibilidade de tal feitio,
que não existem historias que terminam na metade. Elas ou
terminam no final, ou não terminam. Ao que minha resposta é:
beleza. Agora, se ao invés de descartar a óbvia colisão ilógica
que essa minha historia lhe propõe, se deixa dominar pelo primor
que constitui o ser humano, a curiosidade, irei lhe contar uma
historia, mas já vou avisando, para aqueles que leem
apressadamente, ou escutam ao avesso, que tal historia não é a
convencional. Tal, minha, historia termina na metade.