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UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SÃO JOÃO DEL-REI

ENERGIAS RENOVÁVEIS – TE

PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Professor: Eduardo Moreira Vicente


Sumário
Sumário
1. Introdução

2. Desenvolvimento das pequenas usinas hidrelétricas

3. Classificação das pequenas usinas hidrelétricas

4. Potencial hidrelétrico aproveitável

5. Estudo do recurso hidráulico

6. Bibliografia

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Introdução
Pretende-se apresentar os fundamentos teóricos
relativos ao estudo de um aproveitamento hidrelétrico em um
determinado local, bem como revelar as diferentes tipologias
de pequenas usinas hidrelétricas e seus componentes; da obra
civil ao equipamento eletromecânico.

Dentre as energias renováveis, a energia hidrelétrica é a


principal aliada na geração limpa, autóctone e inesgotável,
constituindo uma das principais fontes de eletricidade.

A energia hidráulica é a energia cinética do movimento


de massas de água e a energia potencial da água disponível a
uma altura determinada. Indiretamente, provém da radiação
solar, no que se conhece como ciclo hidrológico (Figura 1).

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Introdução

Figura 1 – A energia hidráulica no ciclo hidrológico.


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Introdução
A produção mundial anual foi de 3288 TWh em 2008,
equivalente a 16,3% da produção total de eletricidade global.
Em alguns países da América Latina, a fração da energia elétrica
gerada com as usinas hidrelétricas alcança um alto nível:
Equador 85%, Peru 79%, Brasil 78,2%, Colômbia 77%.

Em outros países, a fração da energia elétrica com usinas


hidrelétricas é consideravelmente menor: nos Estados Unidos,
por exemplo, é somente de 10%; no Japão, 12,2%; na Espanha,
20%, etc.

Estes dados justificam-se a partir do ponto de vista de


que a energia elétrica nesses países é obtida, principalmente,
através da exploração de centrais térmicas (de carvão e gás
natural) e nucleares. Na Tabela 1 é possível observar a evolução
dessa fonte de energia.
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Introdução
Tabela 1 – Produção de energia hidráulica no mundo.

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Introdução
Em grande escala esta fonte de energia tem um campo
de expansão limitado devido a aspectos de caráter financeiros,
ambientais e sociais. Em pequena escala (na maior parte dos
países com uma potência instalada menor ou igual a 10 MW), a
geração hidrelétrica com pequenas usinas oferece
possibilidades de crescimento, em razão da diversidade de
vazões que ainda são suscetíveis de aproveitamento.

Existem inúmeras vantagens que são compartilhadas


entre as pequenas e grandes usinas hidrelétricas. As vantagens
gerais são:

 Constitui uma fonte de energia renovável;

 É uma tecnologia madura, consolidada e com alto nível de


confiança e rendimento;
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Introdução

 Os custos da energia gerada são praticamente independentes


dos efeitos inflacionários. Constituem uma fonte de energia
autóctone e, portanto, seu aproveitamento reduz a
vulnerabilidade energética do país com relação aos mercados
internacionais de combustíveis fósseis;

 Seus custos de operação e manutenção são relativamente


baixos;

 Têm uma vida relativamente longa;

 Possui um alto grau de disponibilidade operativa.

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Desenvolvimento das pequenas usinas
hidrelétricas

A princípios do século XX ocorreu uma intensa


construção de pequenas usinas hidrelétricas na América do
Norte, Europa e Ásia [1]. Nos anos 1920, a energia hidrelétrica
gerada constituía 40% do total produzido mundialmente pelas
usinas em seu conjunto.

Depois, durante um longo período (50 anos), houve uma


queda na construção de pequenas usinas hidrelétricas, dando
lugar às grandes usinas hidráulicas que possuíam um maior
rendimento econômico.

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Desenvolvimento das pequenas usinas
hidrelétricas
Durante a década dos anos 70, em muitos países
desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, devido à crise
energética mundial, as usinas hidrelétricas de pequena
potência atraíram novamente a atenção com o auxílio das
seguintes razões:

 Brusco aumento dos preços do petróleo;

 Aumento dos requerimentos ecológicos durante a


construção;

 Necessidade de eletricidade nas regiões distantes e de difícil


acesso;

 Tendência ao uso múltiplo dos recursos hidráulicos.


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Classificação das pequenas usinas hidrelétricas
As pequenas usinas hidrelétricas podem ser classificadas
por distintos parâmetros, tais como: potência, altura de carga e
regime de trabalho, dentre outros. Na grande maioria dos países
toma-se como base a potência instalada em kW ou MW (Tabela
2). Em alguns países consideram-se pequenas usinas
hidrelétricas aquelas com um potencial de até 5.000 kW
(Áustria, Índia, França, Canadá, Alemanha). Em outros países,
consideram esta potência até 30.000 kW (Estados Unidos e CEI)

Esta diversidade na classificação das pequenas usinas


hidrelétricas resulta dos diferentes níveis de desenvolvimento
alcançados nos distintos países, das particularidades das
condições naturais, dos diferentes procedimentos de
reconhecimento dos projetos de aproveitamento hidrelétrico,
assim como de outros fatores.
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Classificação das pequenas usinas hidrelétricas
Tabela 2 – Classificação das pequenas usinas hidrelétricas.

Brasil

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Potencial hidrelétrico aproveitável
Para determinar o potencial hidrelétrico aproveitável é
necessário avaliar os recursos potenciais que podem ser
aproveitados em cursos pequenos, médios e grandes dos rios.

Esta classificação, de acordo com seu tamanho, pode ser


feita com base em diferentes critérios: por vazão, potencia,
comprimento do rio e área da bacia, dentre outros. Podemos
distinguir três tipos de potencial hidrelétrico:

 Teórico (bruto): energia teórica do curso de água sem


considerar perdas;

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Potencial hidrelétrico aproveitável

 De exploração: energia do curso de água que tecnicamente


pode ser aproveitada considerando perdas. Mundialmente
esta magnitude é avaliada em uma média de 60%.

 Econômico: energia do curso de água cuja utilização resulta


economicamente efetiva. Mundialmente representa 47% do
potencial de exploração e 26% com relação ao teórico.

O potencial hidrelétrico econômico, diferentemente do


teórico e técnico, varia com relação ao tempo e utilização,
dependendo das condições energéticas e econômicas.

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Estudo do recurso hidráulico
O processo de gestação de um projeto de uma pequena
usina hidrelétrica pode ter várias origens. As mais frequentes
são:

 Projeto que faz parte de um desenvolvimento em âmbito


nacional ou regional, no qual geralmente são realizados
estudos prévios ou existe informação básica preliminar
suficiente;
 Projeto proposto por uma comunidade ou prefeitura diante
da necessidade de abastecimento energético de uma
população ou região;
 Projeto proposto por entidades privadas para usos da energia
em processos industriais ou comerciais para a venda a
populações ou às redes elétricas nacionais.
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Estudo do recurso hidráulico
São vários os recursos que a natureza disponibiliza para
a realização, conservação e exploração dos aproveitamentos
hidrelétricos, ainda que, por sua importância, é possível citar
três:

 Altura da queda;
 Hidrologia;
 Vazão sólida: elementos que a água carrega com seu
movimento.

Os dois primeiros permitem a execução e


funcionamento do aproveitamento, enquanto o terceiro,
consistente na entrada de elementos estranhos, que deve ser
evitada pois resultaria em problemas diversos.

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Estudo do recurso hidráulico
- Estudos prévios

É necessário dispor de suficiente informação através de


diversos estudos do meio físico da área ou região onde se
pretende instalar a usina hidrelétrica. Isso permite conhecer
com detalhes as características morfológicas, hidrológicas,
socioeconômicas e de impacto ambiental para poder definir as
alternativas tecnicamente e economicamente viáveis.

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Introdução

Figura 2 – Fluxograma
dos estudos para um
aproveitamento
hidrelétrico.

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Estudo do recurso hidráulico
- Estudos da demanda

Este tipo de estudo é muito importante, principalmente


quando se trata de fornecer energia elétrica a pequenas
populações ou comunidades rurais isoladas da rede elétrica
nacional. Utiliza-se para avaliar qual é a demanda de energia
elétrica dos potenciais clientes da central e a forma do perfil de
demanda diário.

- Estudo socioeconômico

Neste se realiza a avaliação econômica do projeto, sua


organização e desenvolvimento, além do impacto social que
causaria na comunidade ou região, como a compra de terras, a
relocação de comunidades inteiras, etc. Abrange o
desenvolvimento, construção e operação da usina.
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Estudo do recurso hidráulico
- Estudos de impacto ambiental

As obras a serem construídas e a operação da usina


implicam um grande impacto ambiental, pois se inunda uma
grande extensão de terra, resultando em perdas agrícolas, de
flora e fauna.

Uma das barreiras mais importantes para o


desenvolvimento desta tecnologia é o impacto ambiental que
pode provocar. Na Tabela 3 estão presentes alguns destes
impactos e as medidas corretoras a serem utilizadas.

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Introdução

Tabela 3 – Impacto ambiental e medidas corretoras. 21


Estudo do recurso hidráulico
- Estudos geológicos e geotécnicos

Os estudos geológicos e geotécnicos indicam as


condições e propriedades dos terrenos. Permitem obter uma
boa informação sobre o subsolo. Realiza-se a localização e
adequação das obras com relação à estabilidade dos terrenos.
Os estudos das possíveis falhas geológicas é essencial para o
projeto e construção da usina, já que permite aos desenhadores
ter uma ideia de quais riscos geológicos devem considerar no
momento de projetar a usina.

Um estudo completo deverá obter os conhecimentos da


Geologia Histórica, Geomorfologia, Estratigrafia e Geologia
Estrutural da área.
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Estudo do recurso hidráulico
Normalmente nos projetos são analisados os seguintes
pontos:

 Disponibilidade de materiais de construção;

 Permeabilidade dos terrenos;

 Estabilidade das encostas;

 Métodos construtivos.

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Estudo do recurso hidráulico

O conflito enfrentado pelo planejador de pequenas


usinas hidrelétricas consiste em ter que escolher entre:

 Custo elevado dos estudos detalhados geotécnicos e


hidrotécnicos para cada projeto;

 Elevação de custos de construção ao desenhar obras com


fatores de segurança elevados.

As falhas mais frequentes correspondem a problemas


geotécnicos (40%) e hidrológicos (40%).

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Estudo do recurso hidráulico
- Estudos cartográficos e topográficos

A cartografia necessária é obtida através dos Institutos


Cartográficos existentes nas diferentes comunidades ou regiões
e permite fixar as coordenadas geográficas da área do projeto:

 Altitude;

 Latitude;

 Longitude.

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Estudo do recurso hidráulico
A partir da informação topográfica, elabora-se um perfil
do comprimento do rio (Figura 3) que mostra, ao longo do seu
curso, quais são as inclinações existentes em seu transcurso
segundo a área de estudo, definindo os trechos com potenciais
mais interessantes.

Figura 3 – Perfil longitudinal de um rio. 26


Estudo do recurso hidráulico
Com este perfil é possível conhecer fatores
fundamentais: a altura bruta da queda (Hb), a localização do
canal, do conduto forçado e do lugar físico das máquinas em
que será realizado o retorno das água ao seu curso natural
através do canal de escoamento.

Figura 4 – Esquema geral de uma queda. 27


Estudo do recurso hidráulico

Por outro lado, a informação cartográfica e topográfica


permite obter a superfície da bacia de drenagem em km2,
chamada bacia hidrográfica ou topográfica (a) (Figura 5), e que
desemboca na captação de água ou, em outras palavras, na área
na qual a chuva coletada pode ser aproveitada.

Pode ser definida como a superfície na qual todas as


águas procedentes das precipitações produzidas (em Hm3) (b),
desembocarão no rio na área de coleta de água. Equivale à
drenagem superficial desta superfície.

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Estudo do recurso hidráulico

Figura 5 – Detalhe de uma bacia hidrográfica. 29


Estudo do recurso hidráulico
- Estudos hidrológicos e pluviométricos

Estes estudos são os responsáveis pelos recursos hídricos


disponíveis e determinam a vazão do projeto da usina. A
determinação da quantidade de água existente em um rio em
um ponto determinado está vinculada às condições físicas de
sua bacia de drenagem e às condições meteorológicas
presentes na região.
Quando se dispõe de estações meteorológicas e de
medições dentro da bacia de drenagem, a informação estatística
permite determinar a curva de precipitação média, bem como a
curva de vazões médias classificadas. Caso contrário, será
necessário avaliar a quantidade de água que passa por uma
determinada seção de um rio, interpretando a correlação
destas condições. 30
Bibliografia
1. Arcesio Palacios, Jairo. Optimización del diseño de pequeñas centrales
hidroeléctricas de agua fluyente mediante sistemas expertos. Tesis
Doctoral, ETSII- Madrid 1998. Universidad del Valle en Santiago de
Cali.Colombia.
2. De Juana, José Mª. Energías Renovables para el desarrollo. Editorial
THOMSON. Paraninfo.2003
3. Creus Solé, Antonio. Energías renovables. Editorial CEYSA. 2004
4. Carta González, José Antonio y otros. Centrales de energías renovables.
Editorial UNED- Pearson Prentice Hall. 2009.
5. IDAE .Manuales de energías renovables. Minicentrales
hidroeléctricas.1996
6. ESHA, European Small Hydropower Association. Guide on How to
Develop a Small Hydropower Plant. 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO JOÃO DEL-REI

ENERGIAS RENOVÁVEIS – TE

PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Professor: Eduardo Moreira Vicente

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