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Produção e caracterização geomecânica de rochas carbonáticas sintéticas

Production and geomechanical characterization of synthetic carbonate rocks


DOI: 10.55905/revconv.16n.12-126

Recebimento dos originais: 06/11/2023


Aceitação para publicação: 12/12/2023

Yago Ryan Pinheiro dos Santos


Mestre em Engenharia Civil e Ambiental
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Endereço: Recife - PE, Brasil
E-mail: yago.pinheiro@ufpe.br

Igor Fernandes Gomes


Doutor em Engenharia Civil
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Endereço: Recife - PE, Brasil
E-mail: igor.fernandes@ufpe.br

Analice Lima
Doutora em Ingeniería del Terreno
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Endereço: Recife - PE, Brasil
E-mail: analice.amorim@ufpe.br

RESUMO
Com a crescente demanda energética mundial, torna-se necessário o estudo do comportamento
de rochas-reservatório de petróleo (arenitos e carbonatos), para exploração de novas áreas e
aumento na produção de óleo e gás. Embora haja o interesse, análises em rochas naturais são
complexas, devido ao alto custo de sua extração, como também por apresentar alta
heterogeneidade em suas características. Com isso, o desenvolvimento de rochas sintéticas que
apresentem similaridades no comportamento geomecânico e petrofísico desses materiais torna-
se uma alternativa, a fim de analisar seu comportamento. Esta pesquisa tem como objetivo
apresentar um protocolo de preparação e caracterização geomecânica de rochas sintéticas de
matriz carbonática, produzidas a partir da consolidação por compactação da combinação entre
pó de rocha calcária e resina epóxi, seguido de tratamento térmico em estufa. Diferentes
proporções de materiais foram dosadas até se chegar a um quantitativo suficiente para que ela
atingisse dimensões de 8 cm de altura e 4 cm de diâmetro, aspecto uniforme e alta resistência
mecânica, cujas características foram avaliadas através dos ensaios de microtomografia
computadorizada de Raios-X e resistência à compressão simples (UCS). As rochas carbonáticas
sintéticas produzidas apresentaram aspecto uniforme, com valores de UCS entre 71,00 e 86,92
MPa, sendo classificada como uma rocha dura, indicando comportamento tensão x deformação
semelhante para as amostras avaliadas. Diante dos aspectos observados, o protocolo de produção
das rochas mostra repetibilidade na preparação das amostras, indicando aspecto consolidado,
uniforme, homogêneo e comportamento geomecânico semelhante dentre os exemplares

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produzidos, desejável quando se produzem rochas sintéticas, podendo ser aplicado em estudos
da engenharia de petróleo que visem avaliar o comportamento de rochas-reservatório com
características semelhantes destas obtidas nesta pesquisa.

Palavras-chave: rochas carbonáticas sintéticas, microtomografia computadorizada de raios-x,


resistência à compressão simples, parâmetros geomecânicos.

ABSTRACT
With growing global energy demand, it is becoming necessary to study the behavior of oil
reservoir rocks (sandstones and carbonates) in order to explore new areas and increase oil and
gas production. Despite the interest, analysis of natural rocks is complex due to the high cost of
extracting them, as well as their highly heterogeneous characteristics. Therefore, the
development of synthetic rocks that present similarities in the geomechanical and petrophysical
properties of these materials becomes an alternative in order to analyze their behavior. The aim
of this research is to present the protocol for the preparation and geomechanical characterization
of carbonate matrix synthetic rocks produced from the consolidation by compaction of a
combination of limestone powder and epoxy resin, followed by heat treatment in an oven.
Different proportions of materials were dosed until a sufficient quantity was reached so that it
reached dimensions of 8 cm in height and 4 cm in diameter, a uniform structure and high
mechanical strength, verified through X-ray computed microtomography and simple
compressive strength (UCS) tests. The synthetic carbonate rocks produced are homogeneus, with
UCS values between 71.00 and 86.92 MPa, being classified as a hard rock, indicating similar
stress x strain behavior for the samples evaluated. In view of the aspects observed, the rock
production protocol shows repeatability in sample preparation, indicating a consolidated,
uniform, homogeneous structure and similar geomechanical behavior among the samples
produced, which is desirable when producing synthetic rocks, and can be applied in petroleum
engineering studies aimed at evaluating the behavior of reservoirs with characteristics similar to
those obtained in this research.

Keywords: synthetic carbonate rocks, x-ray computed microtomography, unconfined


compressive strength, geomechanical parameters.

1 INTRODUÇÃO
A acumulação de petróleo ocorre principalmente em rochas sedimentares clásticas e não
clásticas, destacando-se como principais tipos de rocha-reservatório os arenitos e as rochas
carbonáticas. Segundo Yang et al. (2018), os reservatórios carbonáticos contribuem com
aproximadamente 70% dos recursos de óleo e gás mundiais, e cerca de 50% do petróleo
recuperável global, onde cerca de 96,8% da produção de hidrocarbonetos que são advindos de
rochas carbonáticas partem das regiões do Oriente Médio, América do Norte e Ásia Central,
sendo de suma importância sua análise e caracterização para a engenharia de petróleo.

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Apesar do interesse em se conhecer cada vez mais o comportamento das rochas de
reservatório e todos os mecanismos envolvendo produção e exploração de poços, a extração de
testemunhos de rochas naturais que abrigam esses materiais é um tanto quanto complexa,
apresentando alto custo para sua obtenção; além disso, devido à alta complexidade do sistema
poroso e alta heterogeneidade, torna-se difícil obter um número suficiente de amostras para a
quantificação desses sistemas (FEDRIZZI et al., 2018).
Com isso, faz-se necessário o desenvolvimento de meios porosos sintéticos em
laboratório, representando analogamente as características das rochas naturais de interesse. A
combinação de metodologias adequadas associadas a materiais que reproduzam as características
de rochas sintéticas permitem o controle de propriedades petrofísicas e resistência mecânica
(UCS e resistência à tração), auxiliando no entendimento das inter-relações entre os parâmetros
petrofísicos e geomecânicos dos reservatórios.
Os materiais utilizados para a representação da matriz sólida das rochas carbonáticas
envolvem geralmente um agente cimentante para a aglutinação das partículas, sendo o cimento
Portland um dos principais aglomerantes utilizados, o qual pode combinar-se com areia, calcita
e água (Fedrizzi et al., 2018), grãos de halimeda (Husseiny e Vanorio, 2015) e caulinita e areia
(Shakiba et al., 2020) para a fabricação de amostras. Outros estudos utilizam resinas epóxi
combinadas com grãos de calcita (Wang et al., 2017) e grãos de halimeda (Miranda, 2022) para
a representação da matriz sólida das amostras.
Quanto às metodologias empregadas para a preparação e consolidação de rochas
sintéticas, o mecanismo utilizando uma tensão de compressão é a mais utilizada, onde o material
é compactado e moldado sob diferentes geometrias, seguido de tratamento térmico em estufa ou
mufla de acordo com o material empregado (Wang et al., 2015; Santos et al., 2017; Yu et al.,
2020). Outros processos também são utilizados para a aglutinação das partículas, e envolvem
precipitação e sinterização utilizando, por exemplo, hidróxido de cálcio combinado com CO 2
(MELO, 2012; OLIVEIRA, 2016; GALINDO et al., 2021).
Quanto ao propósito para o desenvolvimento das rochas sintéticas, estudos relacionados
estão focados em estabelecer informações acerca das propriedades petrofísicas, como porosidade
e permeabilidade (SANTOS et al., 2017; FEDRIZZI et al., 2018; SHAKIBA et al., 2020);
condutividade elétrica (MOHAMMED E SCHMITT, 2020), anisotropia dielétrica (DING et al.,
2017), propriedades mecânicas antes e após efeitos de dissolução química (SHAKIBA et al.,

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2020; GALINDO et al., 2021), mudanças no módulo de cisalhamento (G) (WANG et al., 2017)
e molhabilidade (YU et al., 2020).
Este trabalho apresenta um protocolo de fabricação de rochas carbonáticas sintéticas com
o objetivo de reproduzir o comportamento geomecânico de rochas carbonáticas naturais. Para
isso, pó de rocha calcária e resina epóxi foram combinados e consolidados através de
compactação e tratamento térmico para a produção de amostras, sendo posteriormente
caracterizadas mecanicamente para fins de aplicação em estudos envolvendo rochas reservatório
com características similares às produzidas neste estudo.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 MATERIAIS UTILIZADOS
As rochas carbonáticas sintéticas produzidas neste trabalho utilizou, como matriz sólida,
uma mistura de pó de rocha de base carbonática e resina epóxi como agente
cimentante/aglomerante.
O pó de base carbonática é proveniente de afloramentos de calcários laminados (depósitos
carbonáticos) de coloração cinza-escuro, localizados na borda norte da Bacia do Araripe, entre
as cidades de Santana do Cariri e Nova Olinda, no estado do Ceará, pertencente à Formação
Crato. Estes depósitos podem ser considerados como rochas análogas ao intervalo carbonático
do reservatório do pré-sal das bacias marginais do sudeste do Brasil, em termos petrofísicos,
deposicionais e geocronológicos (SANTOS et al., 2015). O material, segundo Assine (2007),
apresenta origem fossilífera, composto por aracnídeos, peixes ósseos, crustáceos e plantas, com
dominância de um sistema continental ou transicional de formação, tendo sua matriz composta
predominantemente por calcita micrítica, com ocorrência de dolomita e sílica, apresentando
tamanho dos grãos na sua maioria inferior a 20 µm (MIRANDA et al., 2018). Devido à sua
composição e características, adotou-se o material como base para a produção das amostras.
Fragmentos do afloramento foram coletados e fragmentados em pedaços menores com o
auxílio do britador de mandíbulas (Figura 1 (a)). Em seguida, o material foi pulverizado e
peneirado com o auxílio da série de peneiras e agitador, até atingir a granulometria desejada,
passante na peneira de abertura de 425 µm (Figura 1(b)); o material preparado foi, então,
denominado neste trabalho, como pó calcário.

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Figura 1: Preparação do pó calcário: (a) fragmentação do calcário utilizando britador de mandíbulas; (b) pó
calcário (< 425 µm)

Fonte: Autores (2023).

Como material cimentante/aglomerante, utilizou-se a resina epóxi transparente 2004 de


baixa viscosidade com endurecedor 3154 da fabricante Redelease®, com utilização em
proporção 2:1 (resina:endurecedor). Segundo a fabricante, o produto apresenta alta resistência
química e mecânica, possui baixa contração, boa adesão, estabilidade a ciclos térmicos e
impactos, boa fluidez e não libera subprodutos na sua utilização. A literatura apresenta resultados
satisfatórios na utilização deste material para síntese de rochas reservatório como material
aglomerante.

2.2 PROCESSO DE FABRICAÇÃO DAS ROCHAS CARBONÁTICAS SINTÉTICAS


As rochas sintéticas foram preparadas através do processo de compactação, comumente
utilizado na literatura para fabricação de amostras artificiais e que consiste na aplicação de um
carregamento no material preparado que é posto no interior de um molde metálico até a sua
consolidação.
As quantidades de resina epóxi utilizadas como material aglomerante/aglutinante para a
fabricação de amostras em relação à quantidade total de materiais utilizados indicadas na
literatura variam entre 10% e 20%; escolheu-se, então, uma proporção de 85%:15%, sendo 85%
de pó calcário e 15% de epóxi para a fabricação de um exemplar em um molde cilíndrico
composto por base, corpo e colarinho (Figura 2(a)) com as dimensões especificadas de 4 cm de
diâmetro e 8 cm de altura (volume de 100,53 cm³), variando-se quantitativos diferentes de
materiais, de modo a ajustar e estabelecer um valor de peso específico aparente que fosse possível
fabricar amostras homogêneas, com altura inicial estabelecida e aspecto consolidado.

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Misturou-se previamente a resina e o endurecedor segundo recomendações de seu
fabricante, e em seguida, a mistura foi colocada em um recipiente junto com o pó calcário,
misturando-se até tornar o preparo homogêneo e uniforme.
O preparo foi colocado em uma única camada no molde cilíndrico para sua compactação,
utilizando uma prensa de compressão (Figura 2(b)) de capacidade de 50 kiloNewtons (kN) à 20
MPa durante 10 minutos.

Figura 2: Processo de compactação das amostras sintéticas: (a) molde cilíndrico com base e colarinho e; (b) prensa
de compressão de capacidade de 50 kN para compactação das amostras

Fonte: Autores (2023).

Após este período, as amostras foram retiradas do molde e levadas para a estufa a uma
temperatura de 60ºC durante um período de 24 horas, para completar seu processo de
consolidação e ganho de rigidez. Tal procedimento foi realizado para todas as amostras
produzidas nesta pesquisa.

2.3 MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE RAIOS-X


Escaneamentos tomográficos foram realizados para a análise qualitativa não-destrutiva e
verificação da morfologia interna das rochas sintéticas produzidas. Utilizou-se o tomógrafo
industrial XT H 225, fabricado pela Nikon Metrology®, com resolução de 70 uA, tensão de 150
kV, corrente 63 uA e tempo de exposição de 500 ms, para o escaneamento da amostra AM-01
(Figura 3), tomada como representativa das demais rochas.

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Figura 3: Escaneamento tomográfico da amostra AM-01

Fonte: Autores (2023).

Os escaneamentos subdividiram a estrutura da amostra em 1490 fatias, as quais suas


imagens foram reconstruídas utilizando o software CT PRO 3D XT 3.0.3 com resolução de 55
µm; para visualização das imagens, utilizou-se o software ImageJ, o qual possibilitou uma
melhor verificação da porção interna da rocha.

2.4 CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA


O ensaio de resistência à compressão simples, denominado, neste trabalho, pela sigla
UCS (do inglês, Unconfined Compressive Strength), foi realizado para avaliar a resistência
mecânica das amostras produzidas para posterior caracterização geomecânica. O teste consiste
na aplicação de um carregamento uniaxial de compressão na direção longitudinal das amostras
até a sua ruptura, e seguiu os procedimentos descritos pela norma ASTM D2938-95 (2002).
Para isso, amostras cilíndricas de dimensões 8 x 4 cm foram moldadas respeitando-se a
razão altura:diâmetro mínima recomendada de 2:1, e ensaiadas em uma prensa de compressão
servocontrolada de capacidade de 1000 kN (Figura 4(a)).
Durante o ensaio, registrou-se as medidas de deslocamentos axial e radial das amostras
através de instrumentação, utilizando-se extensômetros instalados em posições apropriadas para
tais leituras (Figura 4(b)), para a determinação das deformações axial e radial da rocha sintética,

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além de avaliar o comportamento tensão versus deformação axial específica apresentado pelas
amostras ao longo da execução dos ensaios.

Figura 4: Aparato para ensaio de resistência à compressão simples: (a) prensa de compressão simples de
capacidade de 1000 kN e; (b) instrumentação da amostra para o ensaio de compressão simples, com extensômetros
para determinação dos deslocamentos radial e axial.

Fonte: Autores (2023)

Com os dados da força máxima aplicada, e da área da seção transversal da amostra, foi
possível determinar sua resistência à compressão simples máxima, através da Equação 1:

𝐹 (01)
𝑈𝐶𝑆 =
𝐴

Em que:

UCS (MPa) = Resistência à compressão simples;


F (kN) = Força máxima aplicada;
A (cm²) = Área da seção transversal.

Correlacionando as dimensões da amostra com os dados de sua deformação axial e radial,


determinou-se o Coeficiente de Poisson (ʋ) da rocha, através da Equação 2:

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∆𝑒⁄ (02)
𝑒0
ʋ= −
∆𝑙⁄
𝑙0

Em que:

ʋ = Coeficiente de Poisson;
∆𝑒 (mm) = Variação de dimensão transversal (deslocamento radial total);
𝑒0 (mm) = Dimensão transversal inicial (diâmetro inicial);
∆𝑙 (mm) = Variação de deslocamento longitudinal (deslocamento longitudinal total);
𝑙0 (mm) = Dimensão longitudinal inicial (altura inicial).

A partir das curvas do comportamento tensão versus deformação, foi possível determinar
o Módulo de Elasticidade médio (E), correspondente ao trecho elástico da curva (igual à
declividade da reta secante entre a origem e o ponto de ruptura), de acordo com a Equação 03:

𝜎𝑎𝑥𝑖𝑎𝑙 (03)
𝐸=
𝜀

Em que:

E (Pa) = Módulo de Elasticidade;


𝜎𝑎𝑥𝑖𝑎𝑙 (Pa) = Tensão axial aplicada;
𝜀 = Deformação axial sofrida pela amostra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 DOSAGEM PARA DEFINIÇÃO DAS ROCHAS CARBONÁTICAS SINTÉTICAS
O processo de síntese de rochas carbonáticas partiu-se de um peso específico aparente de
19 kN/m³, relacionando o peso do material necessário para ocupar o volume do molde, de modo
a atingir as dimensões especificadas; entretanto, percebeu-se que, para a energia de compactação
empregada, as amostras apresentavam altura inferior a 8 cm e irregularidades em sua superfície,
sendo necessário adicionar maior quantidade de material para que estas atingissem as
especificações de referência adotadas neste trabalho.
Nesta fase, confeccionou-se nove amostras (Tabela 1) em que foram realizados ajustes na
sua dosagem (adicionando-se pó calcário e epóxi para um volume fixo do molde), com
incrementos de 1 kN/m³ no peso específico aparente a partir do valor inicial adotado de 19 kN/m³,

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até atingir valores superiores a 22 kN/m³, quando, então, as amostras atenderam aos critérios
adotados, apresentando-se uniforme à energia de compactação empregada de 20 MPa, com altura
e diâmetro fixo igual ao do molde metálico utilizado para sua compactação, ausente de
irregularidades e vazios ao longo de sua superfície.

Tabela 1: Peso específico aparente e UCS das amostras durante o processo de dosagem
Amostra ρ (kN/m³) UCS (MPa)
S-1 18,56 26,94
S-2 19,73 34,04
S-3 19,78 43,93
S-4 20,04 45,59
S-5 20,15 43,37
S-6 20,79 58,60
S-7 21,61 60,30
S-8 21,89 75,30
S-9 22,32 85,96
Fonte: Autores (2023).

A Figura 5 apresenta a relação entre o peso específico aparente e a resistência mecânica


(UCS) das amostras produzidas durante o processo de dosagem para definição da rocha
carbonática sintética. Observa-se uma tendência de potência, com R² igual à 0,95, com o aumento
do UCS à medida em que são adicionadas maiores quantidades de material para a fabricação da
rocha, mantendo-se o mesmo volume considerado. Tal comportamento indica que há o
preenchimento de vazios da estrutura, tornando o material mais compacto e denso, alcançando,
assim, uma maior resistência mecânica, sendo capaz de suportar maiores solicitações mecânicas
sem sofrer ruptura.

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Figura 5: Relação peso específico aparente x UCS

Fonte: Autores (2023).

Diante dos resultados descritos anteriormente, definiu-se as seguintes características para


a rocha carbonática sintética (Figura 6): peso específico aparente de 23 kN/m³, com proporções
em porcentagem de 85% de pó análogo e 15% de aglomerante, e em massa iguais a 196,54 g de
pó análogo e 34,68 g de mistura de epóxi com uma proporção de 2:1 (sendo 23,12 g de resina e
11,56 g de endurecedor). Tais quantidades são suficientes para que possam ser moldados, com a
energia de compactação pré-estabelecida, exemplares de rochas sintéticas com as dimensões do
molde utilizado, sem que hajam irregularidades e vazios aparentes em suas faces com elevados
valores de UCS. Estas características foram adotadas para a fabricação de amostras para os testes
de caracterização geomecânica.

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Figura 6: Amostra carbonática sintética produzida

Fonte: Autores (2023).

3.2 ANÁLISE QUALITATIVA VIA MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE


RAIOS-X
A Figura 7 apresenta a reprodução da morfologia interna da rocha AM-1 obtida através
do escaneamento tomográfico de Raios-X com resolução de 55 µm, obtido do plano longitudinal
e transversal da porção central da amostra.
Observa-se que sua estrutura se mantém uniforme do topo até sua base, mostrando que o
processo de fabricação garante a reprodução de uma rocha carbonática homogênea, sem
irregularidades, garantindo sua reprodutibilidade, desejável ao se desenvolver meios porosos
sintéticos.
Além disso, devido ao processo de fabricação e ao quantitativo de epóxi utilizado, não
foi observado um volume de poros identificável para as condições de ensaio empregados,
mostrando-se que a mesma apresenta baixa porosidade; a ausência de grande volume de poros
favorece a resistência mecânica da amostra, o que se objetiva ao desenvolver a rocha desta
pesquisa.

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Figura 7: Escaneamentos tomográficos da porção central da amostra: seção longitudinal e transversal

Fonte: Autores (2023)

3.3 COMPORTAMENTO GEOMECÂNICO DAS ROCHAS CARBONÁTICAS


SINTÉTICAS
A partir da definição da dosagem e metodologia adotada para a fabricação das rochas
carbonáticas sintéticas, foram fabricadas oito amostras para a determinação dos seus parâmetros
geomecânicos, nomeadas de AM-01 a AM-08. A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos pelo
ensaio de compressão simples, como os valores de UCS e dos parâmetros elásticos de Módulo
de Elasticidade (E) e Coeficiente de Poisson (ʋ). A Figura 8 apresenta as curvas tensão x
deformação específica axial das amostras ensaiadas durante os testes de UCS.

Tabela 2: UCS, Módulo de Elasticidade e Coeficiente de Poisson das amostras


Amostra UCS (MPa) E (GPa) ʋ
AM-01 75,56 6,62 0,32
AM-02 71,00 6,66 0,28
AM-03 82,41 7,19 0,34
AM-04 86,92 7,84 0,29
AM-05 79,75 7,24 0,34
AM-06 84,46 7,79 0,35
AM-07 81,25 7,54 0,42
AM-08 73,40 7,34 0,37
UCSméd = 80,20 Eméd = 7,28 ʋméd = 0,34
Fonte: Autores (2023).

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Figura 8: Curvas tensão x deformação específica axial das rochas carbonáticas sintéticas
100
90
80 AM-01
70 AM-02
Tensão (MPa)

60 AM-03
50 AM-04
40 AM-05
30 AM-06
20 AM-07

10 AM-08

0
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50
Deformação Específica Axial (%)

Fonte: Autores (2023).

Observou-se valores de UCS entre 71 MPa e 86,92 MPa, com UCS médio igual a 80,20
MPa; tais resultados classificam a rocha como dura, de acordo com a classificação proposta pela
ISRM (1981), por apresentarem valores de resistência à compressão simples entre 50 e 100 MPa.
No término do ensaio, observou-se que as amostras apresentavam plano de ruptura definido em
sua porção central, como mostra a Figura 9.

Figura 9: Rocha carbonática sintética após ensaio de resistência à compressão simples com plano de ruptura
definido

Fonte: Autores (2023).

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Quanto às curvas tensão x deformação axial específica obtidas, observa-se um
comportamento elastoplástico, apresentando inicialmente o trecho elástico linear seguido pelo
trecho da curva com deformação plástica antes de sofrer ruptura; pode-se também observar o
comportamento pós pico das rochas, mesmo após a sua ruptura, indicando que estas não
apresentam rompimento brusco ao atingir os seus valores de UCS máximos.
Nota-se ainda uma manutenção na tendência do comportamento no trecho elástico das
curvas com inclinações semelhantes, o que se reflete na pequena variação entre os valores dos
Módulos de Elasticidade (E) obtidos, gerando-se valores próximos para esta propriedade (entre
6,62 e 7,84 GPa). Em relação ao coeficiente de Poisson (ʋ), este apresenta valor médio de 0,34
próximo ao observado para rochas carbonáticas calcárias, que se encontram na faixa de 0,12 a
0,33.
A Tabela 3 relaciona valores de UCS obtidos em rochas sintéticas presentes na literatura
com os valores obtidos neste trabalho. Comparando tais resultados, ressalta-se que as rochas
sintéticas produzidas na presente pesquisa apresentam resistência muito superiores em relação às
demais; isso se deve ao processo de consolidação associado à energia de compactação aplicada
e materiais utilizados, incluindo o potencial aglomerante do epóxi, deixando o sistema compacto
e denso, com os grãos unidos entre si.

Tabela 3: Comparativo entre valores de UCS presentes na literatura


Autores UCS – Rochas Sintéticas (MPa)
Oliveira (2016) 1,92 – 2,07
Shakiba et al. (2020) 4,70 – 14,42
Galindo et al. (2021) 3,65 - 11,74
Miranda (2022) 30,77 – 37,63
Este trabalho 71,00 – 86,52
Fonte: Autores (2023).

Isso mostra que o protocolo de preparação das amostras contribui, do ponto de vista
geomecânico, para a reprodução do comportamento de rochas naturais duras, com resistência
mecânica elevada, adequado quando se deseja analisar tais aspectos em rochas de reservatórios
de petróleo com estas similaridades. Além disso, o procedimento descrito fornece amostras
homogêneas e uniformes tanto na sua estrutura, quanto em relação às propriedades geomecânicas
descritas, indicando repetibilidade, desejáveis quando se produz rochas sintéticas para esta
finalidade.

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4 CONCLUSÕES
A metodologia utilizada para a fabricação das amostras carbonáticas sintéticas mostrou-
se, sob o ponto de vista morfológico e geomecânico, adequada, evidenciada pela consolidação e
uniformidade dos exemplares produzidos observados pelos escaneamentos tomográficos, além
da semelhança no comportamento das curvas tensão versus deformação axial específica e pela
proximidade entre os valores de UCS, Módulo de Elasticidade e Coeficiente de Poisson obtidos,
desejável na síntese de rochas. As proporções adotadas entre o pó calcário e o epóxi como
material aglomerante para a fabricação das amostras mostraram-se favoráveis para resistência
mecânica do meio poroso sintético, representando uma rocha dura ao atingir valores na faixa
entre 71,00 e 86,92 MPa, resistências mecânicas superiores aos valores comumente encontrados
na literatura para rochas sintéticas. Com isso, o protocolo de preparação mostra-se adequado para
a reprodução de rochas para fins de aplicação em estudos da engenharia de petróleo, voltadas
para análises de rochas-reservatório com características geomecânicas semelhantes às obtidas
nesta pesquisa.

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